Sim, Eles São S

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Sim, eles são seres pensantes

Para Marc Hauser, professor de psicologia da Universidade de Harvard, os animais são seres pensantes.
É claro que tudo depende de como o pensamento é definido. É por isso que os cientistas preferem usar
o termo habilidades cognitivas no lugar de pensamentos. Seja como for, os bichos na natureza
conseguem entender o ambiente onde vivem.

Hauser tem muita base científica para sua afirmação, afinal, ele estuda a cognição dos animais desde
1980. Para o professor e pesquisador, a forma como os bichos encaram o mundo é bem parecida com a
dos seres humanos. Ele aponta os chimpanzés como um bom exemplo disso, especialmente devido à
vida social agitada e rica desses primatas.

Outra linha de pesquisa conduzida por Hauser e sua equipe é sobre como definir quais os processos de
raciocínio são únicos dos seres humanos e quais compartilhamos com os animais. Nesse sentido, o
pesquisador ressalta que os animais têm pensamentos estimulantes, mas que a única forma por meio da
qual podem transmiti-los é via gestos, grunhidos e vocalizações estranhas.

Sendo assim, a linguagem surge como um fator muito importante para o raciocínio: o ser humano, por
exemplo, conseguiu desenvolver mais as suas funções cognitivas e a própria autoconsciência graças ao
feedback entre o pensamento e a linguagem.

Mais semelhanças que diferenças

Para o renomado professor e ecologista marinho, Carl Safina — autor de vários livros sobre o reino
animal, incluindo Além das palavras: o que os animais pensam e sentem —, os animais desenvolveram
processos de cognição, sentimentos e conexões sociais que são tão importantes para eles quanto para
nós.

Por exemplo, em várias situações eles sabem quem são seus rivais na natureza, os seus amigos e,
principalmente, quem eles próprios são. No livro citado, Safina ainda aponta outras correlações entre a
forma de pensar e agir de um animal e a do ser humano, como o fato de terem ambições e sempre
buscarem um status mais elevado em seu grupo.

Tal como nós, os animais têm um “plano de carreira” e pensam nos melhores caminhos para atingirem
seus objetivos. Em palavras mais simples, tentam permanecer vivos, obter comida e abrigo, além de
preparar alguns jovens para a próxima geração passando os conhecimentos adquiridos. Interessante,
não é?
Sentimentos próprios, mas nem tanto

Devido à capacidade de pensar e até analisar situações, os animais desenvolvem sentimentos e emoções
próprios, por exemplo, ficando tristes ou alegres. Porém, eles também são influenciados e até podem
copiar atitudes dos humanos.

Um estudo publicado no periódico Plos One, intitulado Dogs' Social Referencing towards Owners and
Strangers, apontou que cães e gatos tendem a observar seus donos antes de decidirem por uma
resposta emocional.

Aliás, essa forma de agir é ainda mais evidente e importante para os bichos quando eles são
apresentados ou colocados diante de uma situação desconhecida.

A química por trás dos pensamentos e emoções dos animais

Como acontece com os humanos, pensar, sentir e agir depende muito da química cerebral. Isso significa
que os comportamentos que unem pessoas, assim como aqueles que unem os animais, são baseados
em uma variedade de moléculas absorvidas de diversas formas pelo cérebro.

A oxitocina, popularmente conhecida como hormônio do amor, é um exemplo que vale a pena ser
comentado. Em todos os mamíferos, incluindo nos humanos, seus níveis aumentam no organismo
diante de situações específicas como, por exemplo, no parto, na amamentação e na excitação sexual.

Por isso, entender como determinados hormônios influenciam na forma como os animais pensam e
agem é algo fundamental para ampliar nosso conhecimento sobre o tema e, quem sabe, até mudar a
maneira como tratamos e observamos o reino animal.

Foram as pesquisas nessa linha que nos permitiram saber que os cães não somente têm um aumento
significativo de oxitocina quando estão com outros de sua espécie, mas também quando interagem com
os seres humanos.

E sabe o mais curioso? Isso é o oposto do que acontece no cérebro de quase todos os demais mamíferos
quando se aproximam de nós.

Talvez, não seja por acaso que costumamos dizer que o cachorro é o melhor amigo do homem, até
porque o que acontece no cérebro do nosso amigo de quatro patas sugere que ele pensa algo parecido
com relação a nós.
A imagem do chimpanzé acima nos lembra, com uma semelhança desconcertante, a famosa escultura
do "homem que pensa" de Auguste Rodin. Ela coloca uma questão muito forte aos estudiosos do
comportamento animal: será que os animais possuem uma mente? Eles são capazes de ter sentimentos
e pensamento? É verdade que alguns dos comportamentos dos animais indicam que eles têm uma
espécie de "modelo de mente" interior, ou seja, eles parecem ser guiados por um entendimento de que
os seus co-específicos (ou mesmo seres humanos) possuem motivos e estratégias para se comportarem
como o fazem? As respostas a tudo isso têm tremendas implicações, que vão da neurofilosofia à
zootecnia, do activismo pelos direitos animais à neurogenética evolutiva.

É claro que não devemos agrupar todas as espécies animais num só grupo, ao tentarmos responder
estas questões. Praticamente ninguém aceitaria a ideia de que as formas mais inferiores de vida, tais
como minhocas ou as moscas, sejam capazes de pensar e exibir consciência, planeamento a longo prazo
ou raciocínio abstracto, as marcas fundamentais de uma mente. Nem alguém duvidaria de que os
primatas antropóides, como gorilas, orangotangos e chimpanzés (estes últimos, recentemente
demonstrados como compartilhando a impressionante percentagem de 98% do seu genoma com os
seres humanos) possuam coisas que parecem ser pensamento e cultura. Assim, o Dr. Donald Griffin,
Professor Emérito da Universidade Rockefeller e autor de "Animal Thinking", afirma que "a consciência
não é uma entidade bem arrumadinha, do tipo tudo-ou-nada. Ela varia com a idade, a cultura, a
experiência e o sexo. Se os animais tiverem experiências conscientes, então elas presumivelmente
variam amplamente também".

Num artigo anterior sobre a evolução da inteligência humana, argumentei que a inteligência não é uma
propriedade única aos seres humanos. A inteligência humana parece ser composta de várias funções
neurais correlacionadas e que cooperam entre si, muitas das quais também estão presentes em outros
primatas, tais como destreza manual, visão colorida estereoscópica altamente sofisticada e precisa,
reconhecimento e uso de símbolos complexos (coisas abstractas que representam outras), memória de
longo prazo, etc., De facto, a visão científica corrente é que existem vários graus de complexidade da
inteligência presente em mamíferos e que nós compartilhamos com eles muitas das características que
previamente pensávamos ser exclusivas do ser humano, tal como linguagem simbólica, que se
comprovou também ser possível em antropóides. O estudo da evolução da inteligência humana
forneceu evidências de que parece haver uma "massa crítica" de neurónios de ordem a conseguir
consciência semelhante à dos humanos, linguagem e cognição, mas que estas propriedades da mente
parecem estar já presentes em outras espécies com cérebros altamente desenvolvidos, embora em
forma mais primitiva ou reduzida.
O problema é que os seres humanos sabem que outros humanos têm mentes iguais às suas, porque nós
podemos compartilhar essas experiências entre nós, através da linguagem simbólica. Outros animais são
incapazes de comunicar isso directamente a nós, porque eles não têm linguagem ou introspecção.
Entretanto, os estudiosos da comunicação simbólica dos antropóides, tais como os que fizeram
experimentos que foram capazes de ensinar orangotangos, gorilas e chimpanzés com a habilidade de
usar linguagens artificiais, são rápidos a afirmar que eles têm evidências fortes de que isso é verdade.
Experimentos com os chimpanzés Koko e Washoe, e com o gorila Kenzi, demonstraram que eles eram
capazes de inventar novas palavras, construir frases abstractas e expressar os seus sentimentos através
da Linguagem Americana de Sinais (para surdos-mudos) ou linguagens simbólicas baseadas em
computadores.

Muitos experimentos inteligentes foram imaginados com o objectivo de provar que os antropóides
realmente parecem ter modelos de mente e que são capazes de representações da realidade bastante
sofisticadas. Por exemplo, chimpanzés conseguem localizar rapidamente um objecto oculto num
ambiente complexo, quando lhes é mostrado, através de uma maquete miniaturizada, onde eles estão.
Na natureza, sabe-se que os chimpanzés são capazes de elaborar roteiros e estratégias complicadas com
o objectivo de enganar competidores e obter vantagens, mudar de lado ou atraiçoar-se mutuamente.
Sabe-se, inclusive, que eles são capazes de mentir e dissimular, uma qualidade que é a quinta-essência
da mente humana, que exige a capacidade de "observar a operação da sua própria mente", e de fazer
operações mentais indutivas, dedutivas e abdutivas com base em informação externa. Chimpanzés
reconhecem-se a si próprios num espelho, por exemplo, uma proeza de que nenhum outro animal é
capaz (como é exemplificado por um pássaro que faz o seu ninho no meu jardim, e que todas as manhãs
nos acorda com as suas lutas furiosas contra a sua imagem reflectida nos vidros das janelas...). Assim,
podemos dizer que eles são capazes de auto-percepção!

Os antropóides também são bastante aptos quanto à fabricação de ferramentas e ao seu uso para
resolver problemas de forma adaptativa, o que evidencia notáveis habilidades mentais, uma capacidade
para invenção e criatividade que anteriormente pensava-se ser uma exclusividade do Homo sapiens. Até
mesmo o "campo sagrado" da mais poderosa das operações simbólicas mentais, a aritmética e a
matemática, parecem não deter mais uma exclusividade humana. Experimentos com macacos rhesus
feitos por Herbert Terrace e Elizabeth Brannon demonstraram que os macacos conseguem entender
relações ordinais entre os números de 1 a 9.

Inteligência, comunicação, aprendizagem por imitação e consciência são necessários para outra
característica única da nossa espécie, a transmissão de conhecimentos culturais. Por exemplo, um grupo
de macacos do género Macaca, que habitam há séculos a ilha Koshima, no norte do Japão, adquiriram e
preservaram por várias gerações o hábito de lavar batatas doces e arroz na água do mar. O isolamento
populacional e cultural levam a uma variedade muito maior de comportamentos. Existem muitas
evidências para isso em comportamentos alimentares, de exploração de alimentos, caça e
comportamento social em diferentes populações de chimpanzés em África.

Existem muitas consequências para o reconhecimento da existência do que definimos como


"pensamento" e "consciência" entre os antropóides e outros animais. A primeira delas é ética, por
natureza. Um grupo de direitos animais da Nova Zelândia iniciou um projecto denominado "Grandes
Antropóides", que tem por objectivo atribuir a esses animais o status de "conscientes, sencientes e
pensantes", desta forma proibindo o seu uso na experimentação animal, encarceramento compulsório
(em zoológicos e circos), e assim por diante.

Na minha opinião, eles estão correctos, até certo ponto. Embora isso causaria uma grande redução na
investigação sobre muitas doenças, como hepatite, AIDS e outras, as quais aparecem de forma
semelhante em primatas humanos e não humanos, fazer experimentos cruéis e matar animais sensíveis
e inteligentes como os chimpanzés é problemático do ponto de vista ético, quanto mais sabemos sobre
as nossas diversas similaridades.

Talvez o futuro nos mostre novas maneiras de olhar para os cérebros de animais usando técnicas
avançadas como o PET e MRI, que nos permitam decidir se eles estão usando circuitos cerebrais
semelhantes aos nossos para desempenhar funções cerebrais superiores. A capacidade intelectual
humana não surgiu do nada. Nós herdamos, com certeza, uma parte considerável do processamento
perceptual e cognitivo de nossos predecessores primatas, de forma que não é nem um pouco
surpreendente

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