Unidade 1 - Princípios Da Pesquisa
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PRINCÍPIOS DA PESQUISA
1 Considerações iniciais
vez, afirma que “a leitura de todos bons livros é como uma conversa com
os melhores espíritos dos séculos passados, que foram seus autores, e é uma
conversa estudada, na qual eles nos revelam seus melhores pensamentos”.
Em uma época de inovação tecnológica, com um destaque para a imagem
e para os vídeos, a leitura carece de uma prioridade cotidiana. Bill Gates,
reconhecido como o grande nome da tecnologia comunicacional, que
parece descredenciar a importância da leitura, afirma que “meus filhos
terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os
nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história”.
O desenvolvimento da reflexão a seguir tem um viés filosófico-
literário que busca apresentar o ato de ler, da pesquisa e da escrita como
um desvelamento de si mesmo de um sujeito, dos outros e do mundo. No
encontro demorado com o texto há uma convivência com a humanidade
em seus modos de ser, pensar e viver. O horizonte do percurso que
seguimos é justificar a necessidade da leitura de bons textos, pois apesar
de nossa época ler mais que qualquer outra em função das mídias sociais,
esse “mais” dá indícios de ser menos qualitativamente por ser apenas um
conjunto de informações em alta velocidade que esquecemos rapidamente.
tecnologias da informação.
Essas mudanças de formas de representação abrem, portanto,
questionamentos quanto ao lugar e o alcance que o ato de ler tem em
nosso meio. Tendo presente essa problemática, procuramos desenvolver
uma perspectiva de compreensão positiva do ato de ler, tendo como base
o pensamento do filósofo francês Ricoeur. A fim de satisfatoriamente
desenvolvê-la, o caminho de uma determinada compreensão de ser humano
às possibilidades do texto precisa ser percorrido. É essa proposta que está
em questão com a iniciativa de mobilizar os pesquisadores para a leitura a
partir de uma compreensão do seu sentido e de suas potencialidades.
Partimos da compreensão de que a posição do ser humano não
está dada, não é deduzida, nem é uma intuição de si a si, mas precisa ser
retomada através das suas obras. Se, na cultura moderna, o ser humano
se encontra no centro focal e tudo é percebido a partir do ver humano,
com a nova cultura visual, o sujeito perdeu suas forças. Onde quer que
o ser humano compreenda algo, compreende a partir do horizonte da
linguagem que marca o acesso a si, ao outros e ao mundo. É a partir dela
que se torna possível o conhecimento, valorações, tomada de posições no
mundo. A linguagem é muito mais que um código do qual nos utilizamos
para o exercício da comunicação, é todo um histórico de sentido no qual
os sujeitos emergem como tais e se tornam responsáveis pela renovação do
mundo.
Essa noção não se constitui na erradicação do sujeito, mas em
uma relativização; é assentado no plano da linguagem, deixando de ser
uma verdade primeira, de fundamento, para tornar-se tarefa, resultado.
É o desejo de uma transparência absoluta, de uma perfeita coincidência
de si consigo mesmo, que é transferido para um horizonte sempre mais
longínquo enquanto horizonte de sentido.
O sujeito, desse modo, somente se compreende “retomando o
sentido das palavras de todos os homens” (RICOEUR, 1986, p. 46).
Contudo, a retomada do sentido das palavras de todos os homens não pode
ser absolutizada. A compreensão, possibilitada pela exegese dos signos,
apenas pode produzir fragmentos, sabidamente parciais, dessa exegese de
si e do ser mediado. Procuramos tirar consequências metodológicas dessa
análise para a problemática aqui apresentada, pois a linguagem tem muitos
modos de ser e estar. Na hermenêutica, o texto é um modo privilegiado.
6 Fábio César Junges
Referências