dEWEY E ANISIO TEIXEIRA

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AS CONTRIBUIÇÕES DE JOHN DEWEY E ANÍSIO TEIXEIRA PARA UMA

ESCOLA PÚBLICA DE QUALIDADE PARA OS BRASILEIROS

Kurlan Frey 1

RESUMO
Estudar John Dewey revela-se fundamental para compreender as bases da luta por uma escola
pública de qualidade para todos os brasileiros, luta fortemente empreendida por Anísio
Spínola Teixeira após período de estudos junto a Dewey nos Estados Unidos. Elementos
basilares e que perpassam pelo pensamento deweyano como a experiência, a ciência e a
democracia ajudam a compreender o caminho da educação pública brasileira, especialmente a
escola em tempo integral. Os avanços da educação brasileira a partir de 1930 se devem, em
grande parte, a vinda dos escritos provocativos de Dewey. O artigo tem por objetivo fazer um
percorrido desde os fundamentos de Dewey, passando especialmente pela Escola Nova com
contribuições de Anísio Teixeira até chegar as primeiras experiências de escola pública em
tempo integral no Brasil.

Palavras-chave: Educação; Escola Nova; Escola Pública; Tempo Integral;

ABSTRACT
Studying John Dewey proves to be fundamental to understanding the basis of the struggle for
a quality public school for all Brazilians, a fight strongly undertaken by Anísio Spínola
Teixeira after a period of study with Dewey in the United States. Basic elements that
permeate the thinking of Dewey as experience, science and democracy help understand the
path of Brazilian public education, especially full-time school. The advances of Brazilian
education since 1930 are due, in large part, to the coming of Dewey's provocative writings.
The article aims to make a journey from the foundations of Dewey, passing especially by the
New School with contributions of Anísio Teixeira until arriving the first experiences of public
school full time in Brazil.

Keywords: Education; New school; Public school; Full-time;

INTRODUÇÃO

O tema que se pretende trazer ao longo do artigo tem uma relevância muito grande
quando no campo educacional brasileiro uma vez que durante muito tempo na história do
país, a educação pública ficou às margens de políticas que garantissem uma qualidade
mínima, uma atenção as estruturas, aos professores, aos alunos.

1
Professor do Curso de Pedagogia da FAI Faculdades, mestrando em Educação na Universidade Comunitária da
Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ e bolsista CAPES. E-mail: kurlanfrey@yahoo.com.br
O objetivo é realizar um percorrido pelos escritos de Anísio Teixeira, identificando a
sua forte influência para com a educação pública brasileira, bem como identificar a base que
traz do seu mestre, professor, o filósofo pragmatista, norte americano, John Dewey. Com este
percorrido acredita-se que se chegará a um dos movimentos mais fortes na educação
brasileira, ou seja, a Escola Nova, que teve forte influência dos ideais dos dois pesquisadores
citados.
A presente escrita, pesquisa tem uma relevância muito grande justamente por
acompanhar a trajetória de vida, mas muito mais, a pesquisa e as contribuições, o legado
deixado por Anísio Teixeira para a educação pública e a escola de tempo integral pública
brasileira. Sua forma de pensar, sua luta pela educação de qualidade para todos os brasileiros
tem deixado marcas e contribuições que se repercutem até os dias atuais. As pesquisas de
Anísio Teixeira embasadas na filosofia de John Dewey interessa a acadêmicos, especialmente
os dos cursos de Pedagogia, aos professores que seguem sua luta pela qualidade na educação
pública e a comunidade em geral também por que, afinal, somos todos frutos, em grande
parte, do que a escola nos permitiu ser.

AS CONTRIBUIÇÕES DE JOHN DEWEY E ANÍSIO TEIXEIRA PARA A


EDUCAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA

O presente artigo busca realizar um percorrido pelas teorias que fundamentaram e


fundamentam as práticas pedagógicas, especialmente considerando as contribuições de John
Dewey nos Estados Unidos e principalmente do seu discípulo Anísio Spíndola Teixeira na
realidade brasileira. Entende-se como Alfredo Veiga-Neto (2012), que é preciso ir aos porões
da casa, donde firmamos nossos pés para caminhar de forma segura. Este é um exercício
árduo e realizado por uma minoria quando refere-se aos profissionais da educação, os
professores. “[...] Poucos descem aos fundamentos nos quais se enraízam suas opções
epistemológicas e, consequentemente, poucos conhecem o subsolo em que alimentam suas
convicções acerca da salvação por obra da educação” (VEIGA-NETO, 2012, p. 276).
Considera-se assim como Veiga-Neto, fundamental realizar um percorrido pelos
fundamentos teóricos que dão base para as práticas e para repensar as mesmas na busca da
educação que responda aos desafios do contexto, da sociedade. Compreende-se, ainda, que
cada tendência pedagógica busca, através das suas práticas educacionais, responder ao grande
desafio de que ser humano se quer formar. Assim compreende-se que estas práticas são
realizadas dentro de um determinado contexto e para um determinado objetivo, ou seja, o
homem que se quer para a sociedade ou para o contexto que se tem.
O recorte que se pretende fazer neste texto não significa desconsiderar ou mesmo
reduzir a importância de toda a história educacional e pedagógica mundial e mesmo brasileira,
mas se deve muito mais ao fato de fazer parte importante do trabalho maior da pesquisa do
mestrado que investiga a escola de tempo integral que tem sua fundamentação inicial com
John Dewey e posteriormente com a experiência de Teixeira no Brasil.
Sabe-se que o próprio Anísio Teixeira tem sua trajetória de vida profundamente
marcada pela tradição Jesuíta sendo aluno no Colégio São Luiz Gonzaga e mais tarde do
Colégio Antônio Vieira em Salvador, nestes cresceu sua admiração para com o trabalho da
Companhia de Jesus (Nunes, 2010). Reconhece-se a importante contribuição dos jesuítas para
com a educação brasileira, mas também não pode desconsiderar-se que a escola jesuítica foi
para poucos, ou seja, para a elite e os índios para a catequização.
Da mesma forma respeita-se toda a história dos grandes educadores, filósofos e
pedagogos que ao longo dos anos desenvolveram diferentes correntes, teorias sempre na
busca por maior qualificação e respostas para os desafios da formação, educação do ser
humano e que continua-se a constituir com avanços a todo instante. Assim os Jesuítas
buscaram responder aos desafios de educar as elites para governar, administrar bem como a
Escola Nova, Anísio Teixeira, na luta pela educação pública de qualidade para todos.
Como frisado acima, Anísio Teixeira traz em si uma tensão entre a educação
vivenciada e aprendida e a tendência liberalista. Anísio participa da educação humanista dos
Jesuítas, mas com seus estudos junto a John Dewey2 nos Estados Unidos, busca introduzir
elementos da ciência trazendo a necessidade da educação em responder aos desafios do
contexto, do mundo. Até então a grande ênfase da educação era dada a literatura e muito
reduzidamente a ciência era contemplada. Quem provoca esta ruptura ou avanço, em grande
medida, é Anísio Teixeira, atualizando as leituras de Dewey.
Quando se volta o olhar sobre John Dewey, quer-se, logo trazer o conceito de
educação para fundamentar as reflexões que seguem. Para Dewey “Educar-se é crescer, não já
no sentido puramente fisiológico, mas no sentido espiritual, no sentido humano, no sentido de
uma vida cada vez mais larga, mais rica e mais bela, em um mundo cada vez mais adaptado,
mais propício, mais benfazejo para o homem” (DEWEY, 1973, p. 17). Neste sentido vamos

2
John Dewey (1859-1952), filósofo, psicólogo e pedagogo liberal norte-mericano, exerceu grande influência
sobre toda a pedagogia contemporânea. Ele foi o defensor da Escola Ativa, que propunha a aprendizagem
através da atividade pessoal do aluno. Sua filosofia da educação foi determinante para que a Escola Nova se
propagasse por quase todo o mundo (GADOTTI, 1999, p. 148).
começar a compreender a proposta de Dewey para a educação, ou seja, a educação que não é
para a vida, mas é sim a própria vida, o próprio desenvolvimento.
Para Dewey,

As escolas passam a constituir um mundo dentro do mundo, uma sociedade dentro


da sociedade. Isto, no melhor dos casos, que, no pior, elas se tornam simplesmente
livrescas, atulhando a cabeça da criança de coisas inúteis e estúpidas, não
relacionadas com a vida nem com a própria realidade (DEWEY, 1973, p. 21).

Dewey foi filósofo e profundo defensor da democracia e da liberdade em seu contexto,


mas querendo o mesmo para todos. Percebia na educação o papel de exercitar a democracia e
a liberdade. Para Dewey as ideias só tem seu valor e importância quando servem de
instrumento para a resolução de problemas reais e por isso foi denominado pragmatista, sendo
que preferia ser chamado de instrumentalista.
No campo específico da pedagogia, a teoria de Dewey se inscreve na chamada
educação progressista, profundamente influenciado pelo empirismo um dos principais
objetivos é educar a criança como um todo. O que importa é o crescimento físico, emocional e
intelectual. Rompe com o paradigma estabelecido de que a educação precisa dar conta,
unicamente do desenvolvimento intelectual. Aqui já pode perceber-se as bases para uma
educação diferente.
Quando compreende a educação como um processo que auxilia o desenvolvimento
integral, Dewey dedica à escola o papel de reproduzir a comunidade em miniatura, apresentar
o mundo de um modo simplificado e organizado. Segundo Dewey, a escola não deve educar,
ensinar a criança para a vida e sim ensinar as crianças a viver no mundo. Assim Dewey
formula um novo ideal pedagógico, ou seja, ensinar pela ação. A escola para Dewey é lugar
para a experiência concreta da vida.

Ora, se a vida não é mais que um tecido de experiências de toda a sorte, se não
podemos viver sem estar constantemente sofrendo e fazendo experiências, é que a
vida é toda ela uma longa aprendizagem. Vida, experiência, aprendizagem – não se
podem separar. Simultaneamente vivemos, experimentamos e aprendemos
(DEWEY, 1973, p. 16).

Quando Dewey escreve e considera a experiência como elemento fundamental para o


desenvolvimento não é de qualquer experiência que está falando. Para ele “A experiência
educativa é, pois, essa experiência inteligente, em que participa o pensamento, através do qual
se vêm a perceber relações e continuidades antes não percebidas (DEWEY, 1973, p. 17),
entendemos também que Dewey coloca a criança, o ser aprendente no centro do processo, das
experiências.
Podemos considerar que Dewey ajuda a compreender [...] “A criança não mais como
um meio, mas como um final em si mesma. A personalidade infantil aceita, respeitada,
ouvida, e não mais ignorada ou, conscientemente, reprimida” (TEIXEIRA, 2000, p. 56). Ou
seja,

[...] Trata-se de uma transformação, diz ele, que se compara com a de Copérnico em
nosso sistema planetário. O eixo da escola se desloca para a criança. Não é mais o
adulto, com os seus interesses, a sua ciência, a sua sociedade, que governa a escola,
mas a criança, com as suas tendências, os seus impulsos, as suas atividades e os seus
projetos (TEIXEIRA, 2000, p. 56).

Desta forma compreende-se que John Dewey sinaliza a necessidade de uma revisão
crítica do passado, das tendências pedagógicas vigentes, uma vez que seus sistemas refletiam
uma visão pré-científica do mundo natural, pré-tecnológica da situação da indústria e pré-
democrática da situação política. Os ideias de Dewey tem grande relevância no sentido de
atualizar e chamar a atenção para o fato da educação estática, autoritária não conseguir mais
responder aos desafios de um novo mundo, de uma nova realidade. Todo o significado do
trabalho pedagógico, da relação professor e aluno precisa estar voltada para a experiência que
leve ao desenvolvimento da criança.
A escola, na concepção de Dewey, não está mais conseguindo acompanhar os avanços
e os contextos em constante mudança.

Transforma-se a sociedade nos seus aspectos econômicos e sociais, graças ao


desenvolvimento da ciência, e com ela se transforma a escola, instituição
fundamental que lhe serve, ao mesmo tempo, de base para a sua estabilidade, como
de ponto de apoio para a sua projeção (TEIXEIRA, 2000, p. 25).

Não poderia, portanto, a escola permanecer ou preparar para um mundo que não
existia mais. Os avanços tecnológicos, da ciência, os novos mercados, as novas relações
desafiaram e continuam desafiando a escola. “Por tudo isso, a escola teve que deixar de ser a
instituição isolada, tranquila, do outro mundo, que era, para se impregnar do ritmo ambiente e
assumir a consciência de suas funções. Se depressa marcha a vida, mais depressa há de
marchar a escola” (TEIXEIRA, 2000, p. 111).

As escolas, propriamente ditas, eram casas pacíficas de cultura literária e artística,


destinadas a atuar na formação de um corpo de fiéis às tradições do estudo e saber. E
os problemas de reconstrução da vida humana se debatiam na própria vida,
concedendo todos um imenso crédito ao fatalismo e ao acidente do progresso
(TEIXEIRA, 2000, p. 112).

Isabel Alarcão nos ajuda a refletir neste mesmo sentido quando afirma que “a escola
também precisa mudar para acompanhar a evolução dos tempos e cumprir a sua missão na
atualidade” (ALARCÃO, 2001, p. 10). Passamos grande parte do tempo na escola, para que
ela se constitua num espaço de aprendizagem e desenvolvimento é imprescindível que
acompanhe os grandes desafios do contexto, da realidade.
Assim como Dewey, percebe-se Alarcão defendendo a escola como um espaço
dinâmico, de experiências. “A escola tem a função de preparar cidadãos, mas não pode ser
pensada apenas como tempo de preparação para a vida. Ela é a própria vida, um local de
vivência da cidadania” (ALARCÃO, 2001, p. 18).

Um dos grandes méritos da teoria de educação de Dewey foi o de restaurar o


equilíbrio entre a educação tácita e não formal recebida diretamente da vida, e a
educação direta e expressa das escolas, integrando a aprendizagem obtida através de
um exercício específico a isto destinado (escola), com a aprendizagem diretamente
absorvida nas experiências sociais (vida) (DEWEY, 1973, p. 21).

Evidencia-se cada vez mais que Dewey pensa uma educação que auxilia no
desenvolvimento da criança possibilitando, facilitando a sua vida na escola, na sociedade que
para o autor não se diferenciam em nada.
Percebe-se que Dewey e sua forma de pensar a educação causou grande impacto no
cenário norte americano, mas também em todo o mundo. Sua obra foi trazida ao Brasil
através do educador Anísio Spindola Teixeira. Teixeira, filho de um típico coronel do
nordeste realizou seus estudos em colégios jesuítas formando-se advogado. Em uma de suas
viagens teve contato com Dewey nos Estados Unidos. “A primeira viagem à América durou
sete meses e foi realizada em 1927. Nela Anísio Teixeira iniciou-se no pensamento de John
Dewey” [...] (TEIXEIRA, p. 18). A segunda viagem, mais prolongada foi realizada “em
meados de 1928 e 1929, quando teve oportunidade de estudar (NUNES, 2010, p. 18).

Escolher Dewey, de quem seria o primeiro tradutor no Brasil, era optar por uma
alternativa que substitui os velhos valores inspirados na religião católica e abraçados
com sofreguidão. Era apostar na possibilidade de integrar o que, nele, estava
cindido: o corpo e a mente, o sentimento e o pensamento, o sagrado e o secular.

Ao longo de sua importante trajetória como educador Anísio assume um


posicionamento radical, e aos poucos rompe com o paradigma estabelecido. Assim, [...]
“Anísio defende a necessidade da experiência, mas combinada com o ensino de matérias
regulares. Concebe a Escola Nova não como ruptura com a Escola Tradicional, mas como a
subsistência dos seus aspectos positivos e uma reformulação didática” (TEIXEIRA, 2010, p.
48).
O movimento da Escola Nova, pela sua importância, mereceria grande atenção, mas
como não é o maior objetivo, vamos passar brevemente, sem dizer com isso, que seja menos
importante.
A Escola Nova representa o mais vigoroso movimento de renovação da educação
depois da criação da escola pública burguesa. A ideia de fundamentar o ato
pedagógico na ação, na atividade da criança, já vinha se formando desde a “Escola
Alegre” de VITORINO DE FELTRE (1378-1446), seguindo pela pedagogia
romântica e naturalista de Rousseau. Mas foi só no início do século XX que tomou
forma concreta e teve consequências importantes sobre os sistemas educacionais e a
mentalidade dos professores. [...] A Escola Nova propunha que a educação fosse
instigadora da mudança social e, ao mesmo tempo, se transformasse porque a
sociedade estava em mudança (GADOTTI, 1999, p. 142).

Percebe-se que a Escola Nova efetivamente vêm com o propósito de sacudir as bases
da educação vigente que estava centrada no professor, favorecendo a dimensão intelectual,
estática e sem compromisso social. A educação ajudava, até então, a manter a sociedade da
forma como estava organizada, ou seja, elites concentrando as riquezas intelectuais, culturais
e econômicas.
É importante considerar que a Escola Nova não foi pensada ou liderada, no Brasil,
unicamente por Anísio Teixeira, e sim por um grupo de educadores brasileiros, especialmente
Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Anísio Teixeira, que lideraram, também o marco da
Escola Nova no Brasil, o Manifesto dos Pioneiros3.
A atuação de Anísio começa num contexto desafiador. A situação das escolas, da
educação como um todo é precária quando Anísio assume o cargo de Inspetor Geral do
Ensino o que o comprometia a dirigir a instrução pública da cidade de Salvador.

[...] O governo não oferecia mobiliário escolar, nem o professor a adquiria. Cabia ao
aluno fornecer cadeiras e mesas improvisadas com barricas, caixotes, pequenos
bancos de tábua, tripeças estreitas e mal equilibradas, cadeiras encouradas ou tecidos
de junco. Anísio chegou a presenciar que era comum os estudantes escreverem no
chão, estirados de bruços sobre papeis de jornal ou, então, fazerem seus exercícios
de joelhos, ao redor de bancos ou à volta das cadeiras (NUNES, 2010, p. 17).

3
O “Manifesto” apresenta-se, pois, como um instrumento político, como é próprio, aliás, desse “gênero
literário”. Expressa a posição de um grupo de educadores que se aglutinou na década de 1920 e que vislumbrou
na Revolução de 1930 a oportunidade de vir a exercer o controle da educação no país (SAVIANI, 2013, p. 254).
Anísio passa a ser precursor para avanços e mudanças na educação brasileira. Não se
conforma com a situação, muito pelo contrário, inicia uma longa luta pela melhoria da
educação no país. Não se conforma com a condição e começa a empreender uma longa
jornada em defesa por políticas públicas que colocam em evidência a necessidade de uma
educação de qualidade para todos os brasileiros.

[...] A reforma por ele conduzida empurrou a escola para fora de si mesma,
ampliando sua área de influência na cidade. Atravessou o espelho da cultura
europeia e norte-americana, articulando o saber popular ao acadêmico. Retirou o
problema da educação da tutela da Igreja e do governo federal [...] (NUNES, 2010,
p. 25).

A contribuição de Anísio Teixeira para com a educação brasileira é gigantesca, uma


vez que defende uma educação pública de qualidade para todos. Neste aspecto vem atualizar o
que Comenius defendia, ou seja, “todos têm que saber tudo” é assim que os educadores
devem “ensinar tudo a todos” (NARODOWSKI, 2001, p. 26). Com a obra “Educação não é
privilégio” Anísio assume sua posição abertamente em defesa do direito de um ensino de
qualidade para todos, rompendo com o estabelecido, ou seja, escola de qualidade somente
para quem tinha condições de pagar, a elite.
Anísio defendeu firmemente a concepção de que [...] “a educação pela qual valeria a
pena lutar seria aquela que libertasse, num progressivo movimento, tal como ele o viveu, a
capacidade individual para fins sociais cada vez mais amplos, mais livres e mais frutíferos”
[...] (NUNES, 2010, p. 50). Anísio sonhava com

[...] uma escola pública com um Ensino Básico de qualidade para todos, onde a
pesquisa é assumida como componente do ensino, e em que os espaços e os tempos
da educação sejam significativos para cada sujeito dentro dela. Uma escola bonita,
moderna integral em que o trabalho pedagógico apaixona e compromete professores
e alunos. Uma escola que construa um solidário destino humano, histórico e social
[...] (NUNES, 2010, p. 31).

Todo o envolvimento e a luta pela escola pública de qualidade comum a todos os


brasileiros tem suas consequências na vida pública de Anísio. Essa luta e a publicação do
livro “Educação não é Privilégio”, em 1957, causa ira dos “bispos gaúchos, solicitando a
exoneração de Anísio Teixeira do INEP é uma consequência, dentre outras – colocou em
xeque uma vocação pública num país de ferozes interesses privatistas (NUNES, 2010, p. 29).
Assim como já foi afirmado anteriormente, percebe-se, na obra de Anísio Teixeira um
profundo comprometimento com uma educação de qualidade. Para que a mesma seja de
qualidade há que se cuidar e garantir uma série de fatores pedagógicos, estruturais, políticos.
Um exemplo da sua preocupação é a criação das Escolas-Parque, em 1950, que procurava
fornecer à criança uma educação integral, cuidando de sua alimentação, higiene, socialização
e preparação para o trabalho. As escolas-parque projetaram Anísio Teixeira nacional e
internacionalmente.
Na forma de escolas-parque Anísio buscava atualizar o que aprendera de Dewey
quando o mesmo afirmava que a escola precisa ser a representação da sociedade e não uma
preparação para a vida em sociedade. A escola integral proporciona a possibilidade de viver o
que se vive em sociedade, a democracia nas relações interpessoais, as experiências educativas
nas mais diversas atividades propostas que objetivavam o desenvolvimento humano.
Compreende-se que tanto para Dewey quanto para Teixeira a educação só pode ser
pensada e concebida a partir de dois conceitos, ou seja, a experiência e a democracia. A vida
na escola, ou na sociedade precisam considerar estes dois princípios, amparados na ciência e
nos avanços da sociedade.
Busca-se fazer uma espécie de recorrido pelos fundamentos teóricos que embasam a
ação de Dewey e mais tarde, no Brasil, de Anísio Teixeira. Voltamos ao movimento da Escola
Nova. Segundo Gadotti, [...] A teoria da Escola Nova propunha que a educação fosse
instigadora da mudança social e, ao mesmo tempo, se transformasse porque a sociedade
estava em mudança (1999, p. 142). O movimento de renovação, Escola Nova, buscava
romper, ou melhor, superar com as práticas pedagógicas da chamada educação tradicional.
Vimos anteriormente, neste mesmo texto, que Anísio Teixeira é um dos grandes
responsáveis, não o único, pelo movimento da Escola Nova, sendo ele um profundo
conhecedor da pedagogia tradicional uma vez que fez toda a sua trajetória formativa em
colégios dos Jesuítas que mantinham o ideal da pedagogia tradicional.
Um dos maiores desafios para a implantação da Escola Nova no Brasil foi o grande
investimento necessário para essa proposta pedagógica. “A escola idealizada por Dewey é
uma escola cara, de altos custos para o Estado e suas mantenedoras. Para que a educação
deweyana se desenvolva são necessários laboratórios para as ciências naturais e exatas,
espaço e estrutura física adequada” (SOUZA; MARTINELI, 2009, p. 164).
Outra grande dificuldade enfrentada para a efetiva implantação da Escola Nova foi a
rejeição dos jesuítas. Segundo Souza e Martineli, “o modelo jesuítico, mais tarde sendo
sucedido pelo positivista, contribuiu para uma estratificação social na educação, isto é, uma
educação para os pobres e ricos separados desde os primeiros anos escolares” (SOUZA;
MARTINELI, 2009, p. 164).
A Escola Nova é um dos mais importantes e vigorosos movimentos de renovação da
educação no Brasil. De modo bem especial Anísio Teixeira e Loureço Filho valendo-se da
filosofia e dos escritos de John Dewey buscam colocar [...] “o ato pedagógico na ação, na
atividade da criança”[...] (GADOTTI, 1999, p. 142) a exemplo de Dewey nos Estados Unidos.
Dai derivam as primeiras experiências de escolarização em tempo integral. Por que
seria necessário ampliar o tempo de permanência da criança na escola? A própria educação
nova , [...]“em resumo, a Escola Nova seria integral (intelectual, moral e física); ativa; prática
(com trabalhos manuais obrigatórios, individualizada); autônoma (campestre em regime de
internato e coeducação”. (GADOTTI, 1999, p. 143).
Para Esquinsani, “Pode-se buscar a gênese da escolarização em turno integral no
Brasil junto ao movimento escolanivista, influenciado pelo pragmatismo e pelo pensamento
de John Dewey (1859-1952). (ESQUINSANI,
Talvez exagera-se quando se afirma que o movimento da Escola Nova origina o
surgimento de escolas públicas em tempo integral. Segundo Giolo,

[...] No Brasil, a classe dominante sempre teve escola de tempo integral. Os colégios
jesuíticos do período colonial eram de tempo integral; os colégios e liceus onde
estudava a elite imperial eram também de tempo integral e, na maioria das vezes,
internatos; o mesmo pode-se dizer dos grandes colégios da República, dirigidos por
ordens religiosas ou por empresários laicos. [...] (GIOLO, 2012, p. 94).

Mesmo que não tenhamos a origem das escolas de tempo integral no movimento
escolanovista, temos certamente a tentativa de avançar com essa escola, de tempo integral,
como direito de todos os cidadãos, ou seja, escola em tempo integral pública. A escola de
qualidade que era para poucos começa a ser pensada para todos. A experiência que se destaca
é o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador, na Bahia. Assim outras experiência
foram surgindo, Ginásios Vocacionais em São Paulo, os Centros Integrados de Educação
Pública CIEPs, os Centros de Atenção integral à Criança e ao Adolescente - CIACs e os
Centros de Atenção Integral à Criança e aos Adolescentes – CAICs (ESQUINSANI,
Não objetiva-se adentrar em cada um destes por não ser o maior objetivo do presente
texto. Com estas iniciativas quer-se evidenciar que o movimento escolanovista teve grande
influência na oferta de educação pública em tempo integral com grande contribuição dos
escritos de John Dewey trazidos e atualizados, no Brasil, por Anísio Teixeira.
Durante o texto busca-se evidenciar a influência e a força do pensamento de John
Dewey, especialmente através das lutas empreendidas por Anísio Teixeira. Fundamentos
teóricos e características desta influência foram, especialmente, o conceito de experiência que
traz a criança para o centro das atenções no processo pedagógico, educativo e a democracia
entendida como uma aprendizagem na relação com as demais crianças facilitada pelo modelo
de escola em tempo integral.
Na democracia ainda quando nas lutas de Anísio se percebe uma busca incessante por
uma educação pública de qualidade para todos os brasileiros. Para as elites já havia escolas,
inclusive em tempo integral, mas para os demais brasileiros havia poucas escolas e em
péssimas condições o que levou Teixeira a uma luta pela causa da educação.
O propósito do presente texto é de iniciar as inserções nos escritos de Dewey e de
Teixeira na busca por fundamentos que ajudem a compreender o cenário educacional e, por
que não, ajudar a avançar atualizando a escola, a educação nas respostas aos desafios atuais.
Durante o texto vimos que o mundo está em constante evolução e por isso a escola não pode
parar, muito pelo contrário, precisa trazer elementos que ajudem a compreendê-la e intervir no
mesmo de forma precisa e atual.

O pensamento de John Dewey está presente nos ideais de reforma educacional no


Brasil da década de 1930. Na compreensão de Franscisco Campos e Anísio Teixeira
esta a proposta deweyana de organizar a escola de acordo com a sociedade, e, em
sintonia, com ela. Nas palavras de Dewey, a escola organizada como “sociedade em
miniatura” (SOUZA; MARTINELI, 2009, p. 164).

Que as experiências vividas na escola tenham sempre grande relação com a vida.
Assim o aluno se motiva para envolver-se cada vez mais com a escola e com a vida
compreendendo que uma não pode ser sem a outra.

CONSIDERAÇÕES

Durante muitos anos na história da educação brasileira a educação foi pensada para as
elites, mais tarde, com a necessidade de escolarização por conta do desenvolvimento
industrial brasileiro as escolas passaram a ter mais importância para as classes trabalhadoras
do país. A escola que agora passava a fazer parte da vida da maioria dos brasileiros se
diferenciava e oferecia uma educação propedêutica, de qualidade para as elites e uma
educação basilar para as classes trabalhadoras.
Anísio Teixeira tem uma importância muito grande no tocante as políticas públicas
educacionais brasileiras porque passa a empreender uma luta para a qualidade da educação
pública para todos. Uma educação que passava a protagonizar o educando, que atualizava os
avanços científicos, tecnológicos, uma educação voltada à valorizar a democracia, as
experiências. Grande parte das lutas de Teixeira se justificam pela sua filosofia baseada nos
estudos junto ao filósofo norte-americano John Dewey.
Se temos, na atualidade, uma preocupação com a qualidade da educação pública
brasileira, grande parte se deve às provocações, escritos, lutas do educador Anísio Teixeira,
que durante sua vida se dedicou às políticas públicas na defesa de uma educação de qualidade
para todos os brasileiros.

REFERÊNCIAS

DEWEY, John. Vida e Educação. 8.ed. Tradução ANÍSIO S. TEIXEIRA. São Paulo: Edições
Melhoramentos, 1973.

ESQUINSANI, Rosimar Serena Siqueira. A trajetória da Escola de Tempo Integral: Revisão


histórica. [s.d]. Disponível em: <http:www.sbhe.org.br Ver

GADOTTI, Macir. Histórias das Ideias Pedagógicas. 8. Ed. Sã Paulo: Ática, 1999.

GIOLO, Jaime. Educação de tempo integral: resgatando elementos históricos e conceituais


para o debate. In: Caminhos da Educação Integral no Brasil: direito a outros tempos e espaços
educativos. MOLL, Jaqueline [et al.]. Porto Alegre: Penso, 2012.

NARODOWSKI, Mariano. Comenius & a Educação. Tradução de Alfredo Veiga-Neto – Belo


Horizonte: Autêntica, 2001.

NUNES, Clarice. Anísio Teixeira. Recife: Massangana – Fundação Joaquim Nabuco, 2010.
(Coleção Educadores).

SAVIANI, Dermeval. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. 4.ed. Campinas: Autores
Associados, 2013.

TEIXEIRA, Anísio. Pequena Introdução à Filosofia da Educação – A Escola Progressista, ou,


a Transformação da Escola. 6. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

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