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Religião e Política Magali Do Nascimento CUNHA

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RELIGIÃO E

POLÍTICA: RESSONÂNCIAS DO
NEOCONSERVADORISMO
EVANGÉLICO
NAS MÍDIAS BRASILEIRAS

Magali do Nascimento Cunha1

As transformações nos quadros socioculturais e políticos, em espe-


cial na última década e meia, têm intensificado estudos acadêmicos e cha-
mado atenção do público interessado nas questões que envolvem religião
no Brasil. Podemos identificar nesta transformação a articulação de quatro
fenômenos interligados entre si: (1) o fortalecimento do ramo Pentecostal,
com o surgimento de um sem-número de igrejas autônomas, autóctones, que
transformou o cenário do cristianismo, ao provocar um crescimento signi-
ficativo em termos numéricos e geográficos da população evangélica2 e uma
forte queda do número de católicos; (2) a ampiação da presença das igrejas
evangélicas, majoritariamente pentecostais, nas mídias tradicionais, e a ex-
tensa participação dos diferentes segmentos desse grupo nas mídias digitais;

Terceira Marcha para Jesus, ocorrida em Taguatinga-DF na


Avenida Comercial Norte. Foto: José Cruz/Fotos Públicas
(04/07/2015).
(3) maior ocupação de espaço pelos evangélicos na política partidária, com
a consequente consolidação da bancada evangélica, articulada como Frente
Parlamentar Evangélica (FPE), e aumento dos esforços, da parte de algumas
igrejas, por mais poder na esfera pública; (4) o crescimento do mercado da
religião e o avanço do marketing religioso, que torna os cristãos um segmento
de mercado, por meio da oferta de produtos e serviços especialmente dese-
nhados para atender às suas necessidades religiosas, sejam de consumo de
bens ou de lazer e entretenimento.
Descrever e interpretar a maior ocupação de espaço pelos evangélicos
na política partidária e como as grandes mídias tratam a questão é o objetivo
deste artigo. Para isso, são tomados por base três elementos que emergem da
observação do fenômeno: a reconfiguração do lugar dos evangélicos na polí-
tica; a emergência do neoconservadorismo evangélico; as transformações na
relação mídia-religião, e, por fim, são trazidos apontamentos acerca do debate
sobre a laicidade do Estado nacional brasileiro. O processo interpretativo está
ancorado nos estudos em mídia, religião e cultura, realizados pela autora do
trabalho, e também nos aportes de teóricos em comunicação e política, e em
sociologia da religião. Matérias noticiosas e analíticas, de jornais e revistas,
foram utilizadas como referências para o estudo do caso e seus desdobramen-
tos, tanto como fonte de dados quanto como corpus de discursos das perso-
nagens envolvidas.
Chama a atenção que, em especial na virada da primeira década do
século XXI, tem sido alcançada visibilidade mais intensa de lideranças defen-
soras de ideias e posturas explicitamente conservadoras e que se apresentam
como modernas, pertencentes aos novos tempos, em que a religião tem como
aliados o mercado e as tecnologias. Podemos identificar neste contexto uma
nova face do conservadorismo religioso, um neoconservadorismo, que emer-
ge como reação a transformações socioculturais que o Brasil tem experimen-
tado, em especial a partir dos anos 2002, com a abertura e a potencialização
de políticas públicas voltadas para direitos humanos e gênero. Este estudo
busca refletir sobre este processo, com ênfase em situações destacadas nos
últimos cinco anos em seus contextos midiatizados.

A reconfiguração do lugar dos evangélicos na política


Por “evangélicos” este estudo refere-se a todos os cristãos não católicos
ou ortodoxos, e que compõem o campo religioso brasileiro. Independente das
peculiaridades dos distintos grupos que formam o segmento, os evangélicos
brasileiros são identificados, nos estudos de religião, por: (1) uma predomi-
nante leitura fundamentalista (literalista) do texto sagrado cristão, a Bíblia3;

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(2) ênfase na piedade pessoal na busca da salvação da alma (influência do
puritanismo e do pietismo dos pioneiros missionários que vieram do sul dos
EUA do século XIX ao Brasil); (3) frequentes posturas de rejeição das mani-
festações culturais não cristãs do país (fruto da mesma ação de missioná-
rios); (4) um isolamento das demandas sociais (resultante da espiritualização
das questões da existência individual e social), entre elas a participação política.
Transformações na cultura evangélica, na passagem do século XX para o XXI,
têm provocado alterações deste quadro, mas essa configuração identitária, con-
servadora e fundamentalista deixou suas marcas na dinâmica que dá forma a
esse segmento religioso.
Uma dessas transformações contemporâneas pode ser identificada no
sepultamento da máxima “crente não se mete em política”4, especialmente a
partir do Congresso Constituinte de 1986, quando foi formada a primeira
bancada evangélica. A partir dali, pode-se dizer que a postura de isolamento
deste segmento com relação à participação política – até então interpretada
como algo “do mundo”, identificado a paixões terrenas – passou a conviver
com outros ideais, referentes à participação e visibilidade na vida pública,
que podem ser resumidos na formulação “irmão vota em irmão”5. Depois de
altos e baixos numéricos, decorrentes de casos de corrupção e fisiologismo,
a bancada evangélica se consolidou como força, o que resultou na criação da
Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em 2003. Até 2010, esses parlamentares
não eram identificados como conservadores do ponto de vista sociopolítico e
econômico. Seus projetos raramente interferiam na ordem social: se revertiam
em “praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer com os católicos,
benefícios para templos. O perfil dos partidos nos quais a maioria desses po-
líticos está afiliada reflete isto, bem como recorrentes casos de fisiologismo6.
Na legislatura iniciada em 2011, um forte conservadorismo moral pas-
sou a marcar a atuação da FPE, que trouxe para si o mandato da defesa da
família e da moral cristã contra a plataforma dos movimentos feministas e de
homossexuais, valendo-se de alianças até mesmo com parlamentares católi-
cos, diálogo historicamente impensável no campo eclesiástico.
Maior poder foi alcançado por este segmento religioso, avançando para
além de cadeiras no parlamento, incluindo ministérios e presidências de co-
missões importantes na Câmara dos Deputados: Marcelo Crivela foi nomeado
ministro da Pesca e Aquicultura em 2012, e George Hilton, ministro do Es-
porte em 2015 – ambos bispos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD),
vinculados ao Partido Republicano Brasileiro (PRB); além do emblemático
caso em que o deputado pastor Marcos Feliciano, do Partido Social Cristão
(PSC), foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias
(CDHM) da Câmara em 20137.

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Os números do Censo 2010 são fonte para a demanda de legitimidade
social entre os evangélicos e de conquista de mais espaço de influência8. O
levantamento do número de evangélicos no Parlamento (Câmara e Senado)
desde 2002, período da legislatura em que a FPE foi criada, até 2010, mostrou
que a cada eleição houve um aumento em torno de 30% do total anterior9. O
aumento projetado pela FPE, de mais 30% em 2014, não se confirmou, tendo
sido eleitos 72 deputados federais nessas eleições – apenas dois a mais com
relação à legislatura anterior. De qualquer forma, a Bancada Evangélica con-
tinua sendo grupo significativo na Câmara Federal: é a terceira em número,
atrás das Bancadas dos Empresários e dos Ruralistas. Estes parlamentares
estão ligados a 17 igrejas diferentes, sendo 13 delas pentecostais, o que mostra
a força desta parcela específica dentre os grupos evangélicos no que se refere
à atuação política10.
Não há, até o presente, um partido próprio dos evangélicos, mas pelo
menos quatro agremiações têm forte presença do segmento: o Partido Repu-
blicano Brasileiro (PRB), o Partido Social Democrático (PSD), o Partido Repu-
blicano da Ordem Social (PROS) e o Partido Social Cristão (PSC).
O PRB, fundado em 2003 por partidários do ex-vice-presidente da Re-
pública, José Alencar Gomes da Silva, é conhecido como “o braço político” da
IURD. Em sua primeira eleição majoritária, em 2006, o PRB elegeu apenas
um deputado federal – o pastor da IURD Léo Vivas (RJ), e reelegeu Alencar
na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). No
pleito de 2010, o número de deputados federais do partido saltou para nove, e
em 2014, elegeu 21, dos quais 14 compõem a bancada evangélica, tornando-
-se a maior representação neste grupo. No Senado, o representante do PRB é
o bispo da IURD Marcelo Crivella (RJ).
Fundado em 2011, o PSD, cujo presidente é o ex-prefeito de São Paulo
Gilberto Kassab, alcançou 38 deputados eleitos para a Câmara em 2014 (qua-
tro da bancada evangélica) e mais dois senadores. As lideranças do partido,
estimuladas por Arolde Oliveira (RJ), eleito em 2014, mas licenciado para as-
sumir secretaria no Estado do Rio, estão buscando cada vez mais aproxima-
ção com evangélicos não relacionados à IURD, reforçando no espaço político
as disputas do campo religioso11.
O Partido Republicano da Ordem Social (PROS), criado em 2010, ele-
geu sua primeira bancada na Câmara dos Deputados em 2014, com 11 parla-
mentares, sendo um integrante da bancada evangélica. É identificado como
“nascido evangélico”, já que o fundador-presidente, o ex-vereador de Planalti-
na (GO) Eurípedes Junior, se apresenta como evangélico e filho de pastora12.
O único partido que leva um nome religioso, o Partido Social Cristão
(PSC), tinha pouca expressão até a repercussão da controversa indicação do

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deputado pastor Marco Feliciano para presidência da CDHM da Câmara. Co-
nhecido como um “partido de aluguel”, por ter escasso número de filiados e/
ou parlamentares e abrigar candidaturas de políticos dispostos a pagar um
preço pela inscrição, foi ocupado pela igreja pentecostal Assembleia de Deus
(AD) a partir da eleição do presidente Lula, em 2002. O objetivo era competir
com o poder que a IURD adquiria no apoio ao governo, o que gerou um novo
fôlego à legenda. A AD “alocou [no partido] parcela de seus parlamentares e
fez crescer a importância desta sigla para eventuais composições futuras, que
a coloquem como parceira no poder, tanto em alianças regionais como nacio-
nal”13. A projeção alcançada por Marco Feliciano, a partir de sua indicação
à CDHM da Câmara, deu força política ao PSC que, com o apoio da FPE e
de lideranças evangélicas midiáticas, desvinculou-se da base do governo que
trabalhava pela reeleição de Dilma Rousseff à Presidência da República. O
partido lançou candidato próprio: o seu vice-presidente Pastor Everaldo, da
AD. O PSC tem um senador e oito deputados federais evangélicos (dos treze
eleitos), entre eles o pastor da Catedral do Avivamento, ligada à AD, Marco
Feliciano, vencedor do pleito em 2014 com quase 400 mil votos, o terceiro
entre os 70 deputados eleitos pelo estado de São Paulo. Isso mostra a força dos
assembleianos na ocupação do PSC.
Diante do fortalecimento do poder político dos evangélicos, particu-
larmente dos pentecostais, a AD decidiu pela criação de um novo partido, o
Partido Republicano Cristão (PRC). O projeto foi aprovado pela Convenção
Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), e mais de 40 mil pastores
foram mobilizados para recolher assinaturas dos fiéis para a formação do par-
tido, em aproximadamente 100 mil locais de culto em todo o país. A intenção
é registrar o partido para concorrer nas eleições municipais de 201614.
Personagem que deve ser mencionada neste processo é a ex-senadora
Marina Silva. Membro da AD, foi candidata à presidência da República em
2010 com expressiva votação, pelo Partido Verde (PV). Desvinculada do PV,
tentou criar o próprio partido, a Rede Sustentabilidade, mas não alcançou
o número mínimo de assinaturas. Tornou-se candidata a vice-presidente da
República na chapa de Eduardo Campos, do PSB (Partido Socialista Brasilei-
ro), em 2014. A fatalidade da morte de Eduardo Campos em acidente aéreo,
em plena campanha política, alçou Marina Silva como candidata à presidente
pelo PSB. Em boa posição nas pesquisas de voto, chegou a representar amea-
ça à polarização entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB), no entanto, diversos fatores determinaram a re-
tirada de apoio de eleitores à Marina Silva. Entre eles, controvérsias em torno
do fato de ser evangélica e de ter cedido a pressões de religiosos contrários à
inserção da temática dos direitos da população LGBT (Lésbicas, Gays, Bisse-

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xuais, Travestis e Transexuais) no seu plano de governo. Novamente ocupan-
do o terceiro lugar no pleito para presidente, com votação inferior à alcançada
em 2010, Marina Silva ainda é figura destacada na relação religião-política, e
recentemente teve autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o registro
do Partido Rede Sustentabilidade, que deverá integrar as eleições de 201615.
A mais significativa conquista de poder político dos evangélicos nos pri-
meiros meses da atual legislatura foi a ascensão do deputado Eduardo Cunha
(PMDB/RJ), eleito Presidente da Casa. Membro da AD, Cunha tem usado o
seu poder para facilitar a liderança e a atuação de deputados evangélicos em
comissões especiais, criadas e recriadas por ele, e para acelerar a tramitação
de projetos de lei e de emendas constitucionais, elaboradas por congressistas
do grupo16. Entre elas está a Comissão Especial do Estatuto da Família que se
revela com o objetivo de barrar os avanços nos direitos da população LGBT,
projeto que teve seu texto principal aprovado por esta comissão em setembro,
e segue tramitando17.

Ressonâncias do neoconservadorismo evangélico


Não há elemento novo na identificação de posturas fundamentalistas
de lideranças religiosas – políticas e midiáticas – por parte de militantes de
esquerda, de movimentos sociais, e por analistas do contexto sociopolítico
do país. Isto se relaciona às abordagens teológicas difundidas por essas li-
deranças, e reproduzidas por parte do conjunto de fiéis, que justificam, por
exemplo, posições racistas embasadas na leitura fundamentalista de textos do
primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, que contêm a narrativa da descendência de
Noé – uma das acusações feitas ao deputado pastor Marco Feliciano por mili-
tantes de direitos humanos18 recentemente. Também faz parte deste contexto
que estas mesmas lideranças conduzam reflexões teológicas que defendem a
existência de um Deus guerreiro e belicoso, e incentivem a discriminação a
quem lhes faz oposição ou tenha posição diversa, como agentes do diabo19.
A novidade reside na visibilidade alcançada por essas lideranças na esfera
pública, seja por meio da mídia, ultrapassando os arraias evangélicos – como
o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, cantores
gospel e novas celebridades religiosas que tem se tornado amplamente co-
nhecidas – seja por meio de projetos de articulação e acúmulo de forças no
campo político.
O neoconservadorismo20 emerge, no Brasil, como reação a transforma-
ções socioculturais que o país tem experimentado, em especial a partir dos
anos 2002, com a abertura e a potencialização de políticas voltadas para di-
reitos humanos e gênero. O prefixo “neo” se deve à forma como as lideranças

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evangélicas se apresentam: como pertencentes aos novos tempos, em que a
religião tem como aliados o mercado, as mídias e as tecnologias – mas que se
revelam defensoras de um conservadorismo explícito e discursos de rigidez
moral, visando à conquista de poder na esfera pública21.
O neoconservadorismo evangélico não é, no entanto, um dado isola-
do, é parte de um contexto de fortalecimento de posturas conservadoras na
esfera pública brasileira em geral. Pesquisa eleitoral realizada pelo Datafolha
em outubro de 2013 revelou que a maior parte dos brasileiros se identifica
com valores de direita. A separação foi feita com base nas respostas dos entre-
vistados a perguntas sobre questões sociais, culturais e políticas, como a pena
de morte e o papel dos sindicatos na sociedade. Dos entrevistados, 38% foram
classificados como de centro-direita, 26% de centro-esquerda, 22% de centro,
11% de direita e 4% de esquerda22.
Foi nesse contexto que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), como suplen-
te da CDHM em 2013, afirmou: “Como capitão do Exército, sou um soldado
do Feliciano”, e acrescentou:

A agenda antes era outra, de uma minoria que não tinha nada a ver. Hoje,
representamos as verdadeiras minorias. Acredito no Feliciano, de coração.
Até parece que ele é meu irmão de muito tempo. Não sinto mais aquele
cheiro esquisito que tinha aqui dentro e aquele peso nas costas23.

Bolsonaro tem um histórico de posicionamentos racistas e de conflito


com ativistas sociais e militantes de movimentos LGBT24. Na mesma linha,
no campo das igrejas, o mencionado pastor Silas Malafaia tornou-se ampla-
mente conhecido por polêmicas midiáticas contra os direitos homossexuais
e o aborto, desde a campanha presidencial de 201025. Observa-se, portanto,
um contexto em que tem se fortalecido a articulação entre políticos conser-
vadores não vinculados às igrejas evangélicas, lideranças políticas evangélicas
e lideranças evangélicas midiáticas, compondo um quadro de reverberação
de pautas conservadoras, com amplo apoio do eleitorado nacional, como se
verificou nas últimas eleições.
Com discursos dentro do ideário da moral cristã (contra o aborto e o con-
trole da natalidade, e a favor da assistência psicológica a homossexuais, como se
a opção sexual fosse uma doença a ser tratada) aliado a princípios caros ao libe-
ralismo na política e na economia (Estado mínimo e elogios ao livre mercado),
essas personagens têm captado apoios para além do círculo religioso. Na visão
destas lideranças, a família está sob a ameaça dos movimentos civis de gênero e
enfrentamento da violência sexual, reforçados pela abertura a estas demandas no
campo político, intensificada a partir de 2002. Alguns apelos ainda tomam como

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ingrediente a ameaça do comunismo tomar conta do Brasil, o que,segundo esses
discursos, seria o verdadeiro propósito do governo do PT 26.
Todo este processo é corroborado pelas tradicionais empresas de mí-
dia brasileiras que, pelo menos na última década, em especial na cobertura
noticiosa, tem dado amplo espaço para analistas e comentaristas defende-
rem abertamente perspectivas e valores conservadores, como é o exemplo de
Arnaldo Jabor, Alexandre Garcia e Merval Pereira, nas Organizações Globo;
Reinaldo Azevedo, na revista Veja; José Luiz Datena e Boris Casoy, no Grupo
Bandeirantes; Marcelo Rezende, na Rede Record; Luiz Pondé, na TV Cultura;
e mais recentemente, Rachel Sheherazade, no SBT27.
No entanto, o Brasil não é um caso isolado, de acordo com estudos
sobre o fortalecimento de grupos conservadores nos Estados Unidos e na Eu-
ropa. Michael Löwy afirma sobre o caso europeu:

As eleições europeias confirmaram uma tendência observada já há alguns


anos na maior parte dos países do continente: o crescimento espetacular da
extrema direita. (...) Essa extrema direita é muito diversa, podendo-se observar
uma vasta gama que vai desde os partidos abertamente neonazistas – como o
Aurora Dourada grego – até as forças burguesas perfeitamente integradas no
jogo político institucional, como a suíça UDC (União Democrática de Centro).
O que eles têm em comum é o nacionalismo excessivo, a xenofobia, o racismo,
o ódio contra imigrantes – principalmente “extraeuropeus” – e contra ciganos
(o mais velho povo do continente), a islamofobia e o anticomunismo. A isso
pode-se acrescentar, em muitos casos, o antissemitismo, a homofobia, a mi-
soginia, o autoritarismo, o desprezo pela democracia e a eurofobia. Quanto
a outras questões – por exemplo, ser a favor ou contra o neoliberalismo ou a
laicidade – a corrente se mostra mais dividida. Seria um erro acreditar que o
fascismo e o antifascismo são fenômenos do passado28.

Aqui a reeleição de Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e tantos outros re-


presentantes dessa linha conservadora no pleito de 2014, denota o quanto
avança seu espaço e legitimidade. Portanto, a despeito de reações do tipo
“Marco Feliciano não me representa”, há quem se sinta representado, o que
indica a força destas articulações ideológicas em curso na sociedade brasilei-
ra. O deputado Arolde de Oliveira, em entrevista sobre os evangélicos no PSD,
declarou: “O PSD é reflexo da própria sociedade. Não é só o Estado do Rio, nós
somos uma nação conservadora”29. O perfil das manifestações de rua em oposição
à reeleição da presidenta da República Dilma Rousseff e às políticas do governo
federal, realizadas em 2015, também reflete esse quadro30.

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As transformações e as novas dimensões na
relação mídia-religião
As igrejas, em geral, nunca descartaram uma interação com as mídias,
pois estas tornavam possível publicidade e visibilidade de sua presença nos
espaços sociais. No Brasil, a presença mais intensa das igrejas nas mídias re-
monta aos anos 1950 do século passado, com o rádio. A partir dos anos 1990,
há um amplo empreendimento da presença cristã na TV e nas diferentes mí-
dias, e entre os evangélicos, mais precisamente os pentecostais, formaram-se
grupos marcadamente hegemônicos no segmento. A formação da bancada
evangélica no Congresso Nacional em 1986 foi determinante para a conquista
de concessões de rádio e TV31. Na última década, a expressiva representativi-
dade dos evangélicos no país, com o consequente declínio do catolicismo, e a
ampliação de sua presença nas mídias e na política, torna este grupo religioso
um segmento de mercado com produtos e serviços especialmente desenha-
dos para atender às suas necessidades religiosas, sejam de consumo de bens,
sejam de lazer e entretenimento.
Ao mesmo tempo, as grandes mídias seculares assimilam esta atmosfe-
ra e passam a produzir programas, ou parcelas deles, para disputar audiência
cristã: abrindo espaço para a música cristã contemporânea “gospel” e seus
artistas, patrocinando festivais e megaeventos de rua, veiculando programas
de entretenimento com temática religiosa, inclusive com a criação de perso-
nagens para telenovelas32.
O ano de 2013, com o “caso Marco Feliciano” e seus desdobramen-
tos, pode ser considerado paradigmático, pois nunca antes daquele período
evangélicos estiveram tão em evidência nas mídias não religiosas. O deputa-
do foi entrevistado, em 2013, por todos os grandes veículos de imprensa, e
participou dos mais variados programas de entretenimento – de talk-shows a
humorísticos e game shows. Foi tratado com simpatia em entrevista a Veja 33,
defendido pelo jornalista Alexandre Garcia 34 e pela apresentadora do Jornal
do SBT Rachel Sheherazade35, com o argumento de “liberdade de opinião”. Os
veículos não desprezaram a dimensão dos escândalos relacionados ao caso,
somada à atraente questão da homossexualidade que estimula emoções e pai-
xões humanas e expõe a vida íntima de celebridades.
De fato, as reações de grupos de oposição a Feliciano com manifestações
dentro e fora do Parlamento, até mesmo em igrejas frequentadas pelo pastor,
foram reduzidas pela cobertura das mídias a uma disputa entre o presidente da
CDHM, a aliada Frente Parlamentar Evangélica e seus “soldados”, e ativistas e
simpatizantes dos movimentos LGBT, negros e feministas, encabeçados pelo de-
putado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), declarado militante homossexual. A mí-

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dia noticiosa declarou a “guerra” entre Feliciano e Wyllys, ou, entre evangélicos
e os movimentos de minorias, com ênfase na dimensão da homossexualidade.
Toda a potência do caso também foi inflada nas redes sociais digitais36.
Declarações de Marco Feliciano, fartamente expostas nas mídias noti-
ciosas, alimentaram o imaginário evangélico da perseguição religiosa, e cir-
cularam amplamente pelas redes digitais. Os extratos a seguir de falas do
deputado são ilustrativos:

Existe uma ditadura chamada [...] “gaysista” Eles querem impor o seu estilo de
vida e a sua condição sobre mim. E eles lutam contra a minha liberdade de pen-
samento e de expressão. Eles lutam pela liberdade sexual deles. Só que antes da
liberdade sexual deles, que é secundária, tem que ser permitida a minha liber-
dade intelectual. A minha liberdade de expressão. Eu posso pensar. Se tirarem o
meu poder de pensar, eu não vivo. Eu vegeto e morro.37

O amplo espaço dado a Feliciano e seus aliados para a exposição de


seus argumentos, até mesmo em game shows e programas de humor, exibidos
com simpatia, evidenciou que estes personagens ganharam um tratamento
afável das mídias. O pastor Silas Malafaia ganhou até mesmo status de porta-
-voz dos evangélicos brasileiros, tamanha a incidência de sua presença em
espaços diversos em todas as grandes mídias38.
Venício Lima (2009) chama a atenção para o papel mais importante
que as mídias desempenham: o poder de longo prazo que elas têm na cons-
trução da realidade por meio da representação que faz dos diferentes aspectos
da vida humana e, particularmente, dos políticos e da política. “É através da
mídia – em sua centralidade - que a política é construída simbolicamente,
adquire um significado”39.
Portanto, retomando a constatação de que Feliciano, Malafaia e Bolsonaro
representam uma parcela conservadora da sociedade brasileira, é possível reco-
nhecer uma afinidade entre estes líderes e quem produz e emite conteúdos das
mídias. Isto explicaria o apagamento da discussão da origem do caso: a indica-
ção de Marco Feliciano à CDHM relacionadaàs afirmações racistas e homofóbi-
cas do deputado e seu nítido distanciamento da defesa dos direitos humanos.
No mesmo sentido, esta noção elucidaria a indiferença midiática às polêmicas
em torno de Silas Malafaia entre os próprios evangélicos40. É possível interpretar
ainda esta “boa-vontade” com o fato de os evangélicos terem se tornado mais
visíveis e tornarem-se um segmento de mercado a ser considerado e “agradado”.
Antonio Rubim contribui com a interpretação desta dinâmica quando
trata da midiatização da política41. O pesquisador chama a atenção para o fato
de muitos autores contemporâneos enfatizarem a ideia de que as mídias, mais

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especificamente a TV, tornaram-se espaço privilegiado na luta política do tempo
presente, tanto em tempo de eleições quanto no dia a dia. Por isso, a midiatiza-
ção da política representa de alguma forma “a absorção da lógica produtiva da
mídia, imediatamente identificada com a lógica produtiva do espetacular, em
detrimento de uma outra política. [...] A mídia então faz política”42.
Entretanto, Rubim também considera que a política midiatizada pode
ser entendida como a política “que transita na contemporânea dimensão pú-
blica da sociabilidade, buscando adequar-se a este espaço e as linguagens pró-
prias da mídia, sem com isto importar uma tal lógica produtiva que impeça a
política de se realizar e buscar suas pretensões”43. É preciso atentar, portanto,
para a política nas mídias e a política das mídias.
Desta forma, é possível afirmar que a relação entre religião e política no
tempo presente, no Brasil, é marcada por um processo de midiatização. Nesse
caso, a lógica produtiva das mídias, baseada na espetacularização, é assumida
pela religião e pela política em intercâmbio. Este intercâmbio dá-se também
no terreno da ideologia, marcada pelo conservadorismo religioso e midiático,
ocorrendo o que Max Weber nominou “afinidades eletivas”44. Segundo Weber,
para a consolidação do capitalismo foi fundamental o intercâmbio deste com
a cultura religiosa protestante puritana de matriz calvinista. Isto foi possível
pelo fato de o protestantismo possuir afinidades (simpatia, similaridades) ele-
tivas (escolhas) com o capitalismo. O protestantismo ascético era marcado
por forte tendência à racionalidade, ética baseada no trabalho um fim em si
mesmo, e era condescendente com a usura nas relações comerciais – valores
fortemente presentes no capitalismo.
Este intercâmbio possibilitado pela midiatização da religião e da política
pode ajudar na compreensão dos significados em torno da “boa vontade” das
mídias com Marco Feliciano, Silas Malafaia e, em 2014, com o candidato à Pre-
sidência da República pastor Everaldo, que ganhou até mesmo destaque entre
os entrevistados do Jornal Nacional, onde foi tratado como um dos principais
candidatos45.

Mídia, democracia e Estado laico


Se o neoconservadorismo evangélico tem suas marcas na política com
as reações aos avanços no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, o con-
servadorismo midiático se revela na forma como o noticiário despreza avanços
nas relações políticas com os movimentos sociais e reage à concessão de direitos
às classes desprivilegiadas, atuando pela manutenção do status quo46. Isto cor-
responde ao fato de que o sistema de mídia no Brasil é controlado por grupos
familiares vinculado às tradicionais oligarquias políticas regionais e locais.

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Consolidou-se, portanto, entre nós um sistema de mídia concentrado, lidera-
do pela televisão e, em boa parte, controlado por grupos familiares vincula-
dos às oligarquias políticas regionais e locais. Essas características específicas
é que fazem com que, no Brasil, o poder da mídia assuma, potencialmente,
proporções ainda maiores do que em outros sistemas políticos47.

Identificam-se, portanto, afinidades eletivas entre o jornalismo veiculado


pelas grandes mídias e as lideranças evangélicas em destaque na política. Exem-
plo destacado é a ampla campanha pela redução da maioridade penal assumida
pelas mídias noticiosas e liderada pelo senador evangélico Magno Malta (PR/ES)
com apoio do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha48.
Como este estudo transparece, não é mais possível estudar a relação
mídia e religião, tanto na perspectiva das mídias religiosas quanto na das mí-
dias seculares, sem se considerar a midiatização da religião e da política. Esse
é um fenômeno que marca o momento atual da política brasileira, em que os
evangélicos se colocam na arena como um bloco organicamente articulado.
Os evangélicos não são mais “os crentes” ou os grupos fechados de outrora.
A separação social, “do mundo”, deixa de ser um valor evangélico da tradi-
ção fundamentalista-puritana: são hoje um grupo que desenvolve a cultura
“da vida normal” combinada com a religião com presença nas mídias, moda
própria, artistas e celebridades, inserção no mundo do mercado e do entrete-
nimento. Além disso, esse segmento religioso se vê fortalecido como parcela
social que tem suas próprias reivindicações e pode eleger seus próprios repre-
sentantes para os espaços de poder público.
E aqui, não é possível criticar a presença de grupos religiosos na arena
política com a alegação de que o Brasil é um Estado laico. Por mais que o
racionalismo e o positivismo insistam em fazer valer as suas formas de dar
respostas como aquelas que devem ser levadas em conta numa prática demo-
crática coerente, não é mais possível ignorar o lugar das subjetividades e de
práticas coletivas delas decorrentes, como as religiões, na construção de novas
formas de reação às demandas tão diversas e plurais na contemporaneidade49.
Um Estado laico deve ser espaço de liberdade de crença, o que significa espaço
para a manifestação pública dos que têm algum tipo de crença e dos que não
têm. E aí está incluída a esfera política.
Importa destacar que um Estado laico no Brasil é uma busca não ple-
namente alcançada, desde que o Estado se desvinculou da Igreja Católica
com a República. Esta questão tornou-se mais intensificada com a presença
de uma bancada identificada como religiosa no Parlamento, cujas pautas só
estão mais evidenciadas por conta de alianças com segmentos conservadores,
fortalecidos no presente, no Brasil, como descrito acima. No entanto, não se
deve colocar apenas nos evangélicos o peso do comprometimento da laici-

158 Nº 11, Ano 7, 2016


dade do Estado. Há muitos anos, a fé católica romana interfere na dinâmica
social, política e cultural do país, a começar com a existência de feriados na-
cionais relacionados aos santos e às festas católicas, passando pelos crucifixos
em destaque nas paredes das repartições públicas e tribunais de Justiça até
chegar no Acordo Brasil-Vaticano, de 2009, que concede isenção tributária
a instituições católicas, privilegia a Igreja Católica no ensino religioso nas
escolas públicas, e garante cooperação para preservar e valorizar os bens cul-
turais católico-romanos50. A atuação dos evangélicos no Parlamento torna-se
ampliação do espaço que já vem sendo dado, há tempos, pelos poderes da
República ao Catolicismo. Questionar as posturas reacionárias da bancada
evangélica em evidência, que põem em risco conquistas históricas no campo
dos direitos humanos e de gênero, é imperativo, mas este questionamento
deve ser acompanhado da indagação das posturas referentes ao catolicismo
romano de igual modo.
Com tudo isto, a presença da religião cristã da vertente evangélica nas
mídias e na política não pode ser interpretada como ameaça, mas como fator
que é revelador do próprio avanço da democracia. O que se torna urgente é a
possibilidade do debate e de expressão das diferentes vozes. Isto é o que precisa
ser garantido neste contexto democrático, e é aqui que o lugar das mídias se
reveste de importância. Nesse caso, superando o tratamento dos evangélicos
como um grupo homogêneo, rechaçando tendências unificantes de um seg-
mento formado por uma expressiva variedade de grupos, de distintas origens,
práticas e doutrinas, mas tornando nítidas e públicas as diferentes posturas e
projetos deste segmento no campo político.
Em síntese, são movimentos da dinâmica sociopolítica e religiosa mi-
diatizada que marcam novas tendências no quadro sociopolítico e cultural e
devem ser devidamente investigados nos tempos por vir.

RESUMO
Descrever e interpretar a maior ocupação de espaço pelos evangélicos na po-
lítica partidária e como mídias tratam a questão é o objetivo deste artigo. Para
isso, são tomados por base três elementos que emergem da observação do
fenômeno: a reconfiguração do lugar dos evangélicos na política; a emergência
do neoconservadorismo evangélico; as transformações na relação mídia-reli-
gião. O processo interpretativo está ancorado nos estudos em mídia, religião
e cultura, pela autora do trabalho e nos aportes de teóricos em comunicação
e política e em sociologia da religião. Matérias noticiosas e analíticas de jor-
nais e revistas foram utilizadas como referências para o estudo do caso e seus
desdobramentos, tanto como fonte de dados quanto como corpus de discursos
das personagens envolvidas.

159
PALAVRAS-CHAVE
Política; religião; mídia; evangélicos; conservadorismo.

ABSTRACT
The objective of this article is to describe and interpret the larger space occu-
pation by Protestants in party politics and how mainstream media treat the
issue. For this, three elements that emerge from the observation of the phe-
nomenon are taken as a base: the reconfiguration of the place of Protestants
in politics; the emergence of a Protestant neo-conservatism; the changes in
the media-religion relationship. The interpretative process is anchored in stu-
dies on media religion and culture by the author of the work and theoretical
contributions in communications and politics and sociology of religion. News
and analytical articles in newspapers and magazines were used as references
for the case studyand its consequences, both as a source of data and as a cor-
pus of speeches by the characters involved.

KEYWORDS
Politics; religion; media; Protestants; conservatism

NOTAS
1. Doutora em Ciências da Comunicação, docente e pesquisadora da Universidade
Metodista de São Paulo, magali.cunha@metodista.br.
2. A complexidade dos estudos referentes aos evangélicos no Brasil, pela multiplicidade
de denominações que compõem este campo religioso na atualidade, tem levado estu-
diosos à tentativa de elaboração de tipologias, elas próprias múltiplas e, sem dúvida,
insatisfatórias. Os evangélicos são identificados por meio de uma miríade de igrejas,
por sua vez agrupadas, de forma sintética, como históricas (protestantes que se estabe-
leceram no país a partir da primeira metade do século XIX) e pentecostais (estabeleci-
dos no Brasil a partir do início do século XX, conhecidas como igrejas de cura divina).
No grupo de pentecostais encontram-se os denominados “neopentecostais”, grupos
relacionados a novos movimentos religiosos do final do século XX, identificados pela
pregação da busca de prosperidade material e de práticas de exorcismo. CUNHA, Ma-
gali do Nascimento. A Explosão Gospel. Um olhar das ciências humanas sobre o cenário
evangélico contemporâneo. Rio de Janeiro: Mauad, 2007.
3. O fundamentalismo é um movimento religioso e conservador, nascido entre os pro-
testantes dos EUA no início do século XX, que tem como princípio os Fundamentals
– elementos elencados como fundamentos da fé e da doutrina cristãs, baseados na inter-
pretação literal de narrativas e ensinamentos da Bíblia. Sobre o Fundamentalismo, suas
origens e ênfases, ver RIBEIRO, Claudio de Oliveira. “Por uma Teologia da Criação que
supere os fundamentalismos”. In: RUBIO, A. G., AMADO, J. P. Fé cristã e pensamento evo-
lucionista. Atualizações teológico-pastorais a um tema desafiador. São Paulo: Paulinas, 2012.
p. 133-154. Sobre fundamentalismo e identidade evangélica no Brasil ver CUNHA, idem.

160 Nº 11, Ano 7, 2016


4. O que está relacionado à característica (4) do parágrafo anterior.
5. FRESTON, Paul. Religião e política, sim; Igreja e Estado, não: os evangélicos e a par-
ticipação política. Viçosa: Ultimato, 2006.
6. Sobre isto ver CUNHA, Magali do Nascimento. Rebanho não tão unânime. O Estado
de S. Paulo (Caderno Aliás), 26 jul 2012. Disponível em http://www.estadao.com.br/noti-
cias/impresso,rebanho-nao-tao-unanime,907493,0.htm. Acesso em: 5 jul. 2015.
7. O famoso “Caso Marco Feliciano” diz respeito à indicação, em 2013, pelo Partido
Social Cristão (PSC), do membro de sua bancada na Câmara dos Deputados, o pastor
evangélico Marco Feliciano (SP) para presidente da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara Federal (CDHM). A indicação gerou reações de grupos pela causa
dos Direitos Humanos, que alegaram ser o deputado conhecido por veicular em mídias
religiosas declarações discriminatórias de pessoas negras e homossexuais. O partido
alegou estar seguindo protocolo que lhe dava o direito de indicar a presidência da-
quela comissão, como parte dos trâmites dos processos democráticos do Parlamento,
e o deputado foi mantido na função. Decorreu daí uma “bola de neve” com reações
em torno do caso, defesa do deputado da parte de grupos evangélicos e ampla cober-
tura das mídias. Sobre o caso ver: CUNHA, Magali do Nascimento. Entre verdades,
falácias e necessidades. O caso Marco Feliciano e a pauta dos direitos humanos. Le
Monde Diplomatique, n. 81, abr 2014. Disponível em: http://www.diplomatique.org.
br/artigo.php?id=1620. Acesso em 2 set 2015. Ver também CUNHA, Magali do Nas-
cimento. O lugar das mídias no processo de construção imaginária do “inimigo” no
caso Marco Feliciano. Comunicação, Mídia e Consumo, ano 10, v.10 n.29, p.51-74, set-
dez, 2013. Disponível em: http://revistacmc.espm.br/index.php/revistacmc/article/
view/607/pdf. Acesso em: 2 set. 2015.
8. De acordo com o Censo de 2010 (IBGE), os cristãos representam 86,8% da po-
pulação – quase nove em cada dez brasileiros se declaram cristãos. Dentro deste
agrupamento religioso encontram-se fundamentalmente dois segmentos: os católi-
co-romanos, 64,6% (queda de 9,27 em relação ao Censo de 2000), e os evangélicos,
22,2% (crescimento de 6,4 em relação ao censo anterior).
9. Sobre isto ver COUTINHO, Mateus. Evangélicos projetam aumento de 30% da
bancada na eleição do ano que vem. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 26 dez 2013.
Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,evangelicos-projetam-
-aumento-de-30-da-bancada-na-eleicao-do-ano-que-vem,1112414,0.htm. Acesso
em: 5 jul. 2015.
10. CUNHA, Magali do Nascimento. Evangélicos e as eleições 2014: primeiro balan-
ço pós-5 de outubro. Instituto Humanitas Unisinos, 15 out 2014. Disponível em http://
www.ihu.unisinos.br/noticias/536286-evangelicos-e-as-eleicoes-2014-primeiro-ba-
lanco-pos-5-de-outubro. Acesso em: 5 jul. 2015.
11. Sobre isto ver: LEAL, Luciana Nunes. No Rio, PSD vira ‘feudo’ de evangélicos. O
Estado de S. Paulo, 22 fev. 2012. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/

161
impresso,no-rio-psd-vira-feudo-de-evangelicos,838912,0.htm. Acesso em: 5 jul. 2015.
12. Nos materiais informativos sobre o PROS, não foram encontrados registros
do nome específico da igreja à qual Eurípedes Júnior se vincula.
13. BAPTISTA, Saulo de Tarso Cerqueira. Cultura Política brasileira, práticas pen-
tecostais e neopentecostais: a presença da Assembleia de Deus e da Igreja Univer-
sal do Reino de Deus no Congresso Nacional (1999-2006). Tese (Doutorado em
Ciências da Religião). Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do
Campo, 2007, p. 303.
14. Fontes: Site do Partido Republicano Cristão. Disponível em http://www.prc.org.
br/), acesso em 30 mai 2015; Facebook/Partido Republicano Cristão. Disponível
em: https://www.facebook.com/pages/PRC-Partido-Republicano-Crist%C3%A3
o/1453322154927975?fref=ts. Acesso em: 30 mai. 2015.
15. CUNHA, Magali do Nascimento. Chaves teórico-interpretativas da intensa
aproximação das Organizações Globo com o segmento evangélico no Brasil: au-
diência, mercado, política e poder. Comunicação & Inovação, v. 16, n. 31, p. 59-75.
Disponível em: http://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_comunicacao_inova-
cao/article/view/3038/1763. Acesso em: 2 set. 2015.
16. Essas Comissões são a “Comissão Especial destinada a proferir parecer à Pro-
posta de Emenda à Constituição nº 171-A, de 1993, do Sr. Benedito Domingos
e outros, que “altera a redação do art. 228 da Constituição Federal” (imputabili-
dade penal do maior de dezesseis anos), e apensadas - PEC17193“ e a “Comissão
Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 6583, de 2013, do Sr.
Anderson Ferreira, que “dispõe sobre o Estatuto da Família e dá outras providên-
cias”, e apensado - PL658313”.
17. Sobre Eduardo Cunha e seu poder, ver os relevantes artigos: PHILLIPS, Dom.
Does Brazil’s new speaker of the lower house want the government to fall? The
Washington Post, 29 mai. 2014. Disponível em https://www.washingtonpost.com/
world/the_americas/brazilian-oppositon-leader-eduardo-cunha-has-his-sights-
-on-the-presidency/2015/05/28/37efa0c6-03d7-11e5-93f4-f24d4af7f97d_story.
html. Acesso em 5 jul. 2015. MARTÍN, M. Com tática de guerra relâmpago, ban-
cada conservadora ganha posições. El País, 5 jul. 2015. Disponível em http://brasil.
elpais.com/brasil/2015/07/03/politica/1435956374_637179.html. Acesso em 5 jul.
2015.
18. Marco Feliciano postou no Twitter (30 mar. 2011) afirmações como: “A maldi-
ção que Noé lança sobre seu neto, canaã, respinga sobre continente africano, daí
a fome, pestes, doenças, guerras étnicas!”. Sobre esta compreensão ver: PINAR,
William F. O corpo do pai e a raça do filho: Noé, Schreber e a maldição do pacto.
Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 13 n. 37 jan./abr. 2008. 35-44.
19. Estas afirmações podem ser encontradas em vídeos postados no Youtube com
pregações religiosas do pastor Marco Feliciano e registradas em matérias noti-
ciosas como: Em novo vídeo, Marco Feliciano diz que Caetano é do diabo. Veja,
10 abr 2013. Disponível em http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/em-mais-um-
-video-na-internet-marco-feliciano-diz-que-caetano-veloso-e-do-diabo. Acesso
em: 13 fev. 2014.
20. O termo conservadorismo é usado aqui no sentido da ciência política, refe-
rente a posições que visam à “manutenção do sistema político existente e dos
seus modos de funcionamento, apresentando-se como contraparte das forças
inovadoras”. BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola, PASQUINO, Gianfran-
co. Dicionário de Política. Brasília: Universidade de Brasília, 1998. p. 242. Houve
transformações nestas bases ao longo do século XX no que se refere aos evangéli-
cos: emergiram grupos abertos à atuação social e ao ecumenismo. No entanto, o
conservadorismo tem sido predominante entre os evangélicos, característica que
se verifica historicamente na omissão das igrejas frente à implantação da ditadura
militar no Brasil (1964-1985), postura associada ao isolamento de demandas so-
ciais e de participação política, como mencionado no primero parágrafo do item
A reconfiguração do lugar dos evangélicos na política, deste texto, e também tornou
possível o alinhamento de parte das lideranças evangélicas com o governo de
exceção. COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório: textos temáticos. V.
2. Brasília: CNV, 2014.
21. CUNHA, Magali do Nascimento. Gênero, religião e cultura: um olhar sobre
a investida neoconservadora dos evangélicos nas mídias no Brasil. In: SOUZA,
Sandra Duarte, SANTOS, Naira Pinheiro. Estudos feministas e religião: tendências e
debates. Curitiba: Prismas/Metodista, 2014. p. 101-126.
22. MENDONÇA, Ricardo. Ideologia interfere pouco na decisão de voto, diz Da-
tafolha. Folha de S.Paulo, 14 out 2013. Disponível em http://www1.folha.uol.com.
br/fsp/poder/133801-ideologia-interfere-pouco-na-decisao-de-voto-diz-datafo-
lha.shtml. Acesso em: 5 jul. 2015.
23. COSTA, Fabiano, PASSARINHO, Nathalia. ‘Sou um soldado do Feliciano’,
afirma deputado Jair Bolsonaro. G1, 27 mar 2013. Disponível em: http://g1.glo-
bo.com/politica/noticia/2013/03/sou-um-soldado-do-feliciano-afirma-deputado-
-jair-bolsonaro.html. Acesso em: 5 jul. 2015.
24. Em novembro de 2011, chegou a pedir à presidente Dilma Rousseff, da tribu-
na da Câmara, para que ela assumisse se gostava de homossexuais. Em março
do mesmo ano, respondeu que “não discutiria promiscuidade” ao ser questionado
em um programa de TV pela cantora Preta Gil sobre como reagiria caso o filho
namorasse uma mulher negra. Sobre o caso ver a matéria CASTRO, Juliana. Preta
Gil vai processar Jair Bolsonaro por declarações em programa de TV. O Globo, 29
mar. 2011. Disponível em http://oglobo.globo.com/politica/preta-gil-vai-processar-
-jair-bolsonaro-por-declaracoes-em-programa-de-tv-2803805#ixzz2tU4qowTO.
Acesso em: 5 jul. 2015.
25. CUNHA, Magali do Nascimento. Gênero, religião e cultura.... Op. cit.
26. Sobre isto ver CASADO, José. A direta avança. O Globo, 8 jul 2104. Disponível em
http://oglobo.globo.com/opiniao/a-direita-avanca-13171346#ixzz376hEcRGH.
Acesso em: 5 jul. 2015.
27. COUTO, Aluízio. Preferências ideológicas e jornalismo tribal. Observatório da
Imprensa, n.753, 2 jul 2013. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.
com.br/news/view/_ed753_preferencias_ideologicas_e_jornalismo_tribal. Aces-
so em: 9 fev. 2014.
28. LÖWY, Michel. Dez teses sobre a ascensão da extrema direita europeia. Folha
de S.Paulo (Ilustríssima), 15 jun. 2014. Disponível em http://www1.folha.uol.com.
br/fsp/ilustrissima/171148-dez-teses-sobre-a-ascensao-da-extrema-direita-euro-
peia.shtml. Acesso em: 12 jul. 2014.
29. LEAL, Luciana Nunes. “No Rio, PSD vira ‘feudo’ de evangélicos”. O Estado
de S.Paulo, 22 fev 2012. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/
impresso,no-rio-psd-vira-feudo-de-evangelicos,838912,0.htm. Acesso em: 5
jul. 2015.
30. Entre as muitas publicações referentes a esta temática ver VETTORA-
ZO, Lucas. ‘2015 será o ano da direita nas ruas’, diz ativista que brigou com
petistas. Folha de S. Paulo, 27 fev 2015. Disponível em http://www1.folha.
uol.com.br/poder/2015/02/1595708-2015-sera-o-ano-da-direita-nas-ruas-
-diz-ativista-que-brigou-com-petistas.shtml. Acesso em: 2 set. 2015.
31. CUNHA, Magali do Nascimento. A Explosão Gospel. Op. cit.
32. CUNHA, Magali do Nascimento. Chaves .... Op. cit.
33. LINHARES, Juliana. “Eu acredito no diálogo”. Entrevista Marco Feliciano.
Veja, São Paulo, ano 46, ed. 2313, n. 12, 20 mar. 2013, p. 17-21.
34. GARCIA, Alexandre. Comentário na Rádio Metrópole, 5 abr 2013. Youtube.
Áudio (2’33). Disponível em: http://www.youtube.com/watch?feature=player_
embedded&v=vuCTZaUdGgo. Acesso em: 5 jul. 2015.
35. SHEHERAZADE, Rachel. Comentário no Jornal do SBT, 20 mar. 2013. Youtu-
be. Vídeo (2’48). Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ICzFac9jNlQ.
Acesso em: 5 jul. 2015.
36. CUNHA, Magali do Nascimento. O lugar das mídias... Op. cit.
37. RODRIGUES, Fernando. Entrevista de Marco Feliciano à Folha e ao UOL.
UOL/Poder e Política, 1 abr. 2013. Transcrição. Disponível em: http://noticias.uol.
com.br/politica/ultimas-noticias/2013/04/02/leia-a-transcricao-da-entrevista-
-de-marco-feliciano-a-folha-e-ao-uol.htm. Acesso em: 5 jul. 2015.
38. CUNHA, Magali do Nascimento. Quem tem moral entre os evangélicos? Obser-
vatório da Imprensa, n. 848, 28 abr. 2015. Disponível em: http://observatoriodaim-
prensa.com.br/tv-em-questao/quem-tem-moral-entre-os-evangelicos/. Acesso em: 5
jul. 2015.
39. LIMA, Venício. Revisitando as sete teses sobre mídia e política no Brasil. Co-
municação & Sociedade, n. 51, p. 13-37, jan-jun. 2009, p. 21.
40. Sobre a rejeição das posturas de Silas Malafaia ver o artigo do pastor evan-
gélico midiático Caio Fábio em reação à participação de Malafaia no Programa
De Frente com Gabi (SBT, 3 fev. 2013), repercutido em várias mídias religiosas:
Entrevista de Silas Malafaia à Gabi: muitos estão me perguntando o que penso.
Caio Fábio. Disponível em: http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=06382.
Acesso em: 2 set. 2015. Ver também o artigo repercutido em diversas mídias re-
ligiosas: SIQUEIRA, Paulo. Silas Malafaia não representa o povo evangélico bra-
sileiro. As pedras clamam. Disponível em: https://pedrasclamam.wordpress.
com/2012/10/12/silas-malafaia-nao-representa-o-povo-evangelico-brasileiro.
Acesso em: 2 set. 2015.
41. Aqui o conceito de midiatização tomado por Rubim é relacionado àquele
desenvolvido por José Luiz Braga, assumido neste trabalho: os novos processos
interacionais (de sociabilidade) que “se realizam de modos bastante diversos, em
sociedades específicas”, e que se desenvolvem segundo as lógicas das mídias.
BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia. Dispositivos sociais de crítica
midiática. São Paulo: Paulus, 2006.
42. RUBIM, Antonio Albino Canelas. Espetáculo, Política e Mídia. In: BIBLIOTE-
CA On-Line de Ciências da Comunicação. Covilhã: Universidade da Beira Interior,
2002. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/rubim-antonio-espetaculo-
-politica.pdf. Acesso em: 5 jul. 2015. p. 16.
43. Idem.
44. WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2004.
45. Sobre isto ver Pastor Everaldo é entrevistado no Jornal Nacional. Zero Hora,
19 ago 2015. Disponível em http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/08/
pastor-everaldo-e-entrevistado-no-jornal-nacional-4578993.html. Acesso em: 5
jul. 2015.
46. AZEVEDO, Fernando Antonio. Democracia e mídia no Brasil: um balanço
dos anos recentes. In: GOULART, Jefferson O. (org.). Mídia e Democracia. São
Paulo: Anablume, 2006, p. 23-46.
47. LIMA, Venício. Op. cit., p. 29.
48. CUNHA, Magali do Nascimento. Políticos evangélicos em campanha contra
avanços no campo dos direitos humanos e sociais: desinformação, confusão e
retórica do terror. Mídia, Religião e Política, 19 nov. 2013. Disponível em: http://
midiareligiaopolitica.blogspot.com.br/2013/11/politicos-evangelicos-em-campa-
nha.html. Acesso em: 13 fev. 2014.
49. O filósofo Jürgen Habermas contribui com esta temática nas obras: HABER-
MAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. 2. ed. Vol. II. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003; Idem, RATZINGER, Joseph. Dialética da Se-
cularização: sobre razão e religião. 3. ed. São Paulo: Ideias & Letras, 2007; Idem.
Teoria do Agir Comunicativo: racionalidade da ação e racionalização social. V. I.
São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012; Idem. Fé e Saber. São Paulo: Unesp, 2013.
50. Decreto 7107, de 11 de fevereiro de 2010. Disponível em http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7107.htm. Acesso em: 2 set.
2015.

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