Ética Clássica. Apostila I - Sócrates

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GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO


SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE COLATINA

EEEFM “GERALDO VARGAS NOGUEIRA”

Nome do aluno: Série/Turma: 3ª M0

Disciplina: Filosofia Turno: Matutino


Professor(a): Suzana de Alvarenga Lourete Data:

CÓDIGOS BNCC

EM13CHS101 - Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com
vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos,
sociais, ambientais e culturais.
EM13CHS103 - Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos,
econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de
diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos e geográficos,
gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).
EM13CHS104 - Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identificar conhecimentos,
valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas
no tempo e no espaço.
EM13CHS501 - Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identificando processos
que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o
empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.

Como a mitologia grega deu origem à democracia e ao pensamento


racional

O que chamamos de mitologia grega era a religião oficial das cidades-


Estado da Grécia Antiga, da mesma forma que o cristianismo é a crença
religiosa majoritária dos países ocidentais.

Atualmente acredita-se que a mitologia grega é apenas um conjunto de


crenças fantasiosas e sobrenaturais, porém, foi ela que proporcionou o
surgimento da democracia, da filosofia e do pensamento racional.

Isso ocorreu porque a mitologia já carregava uma racionalidade


intrínseca, além do conjunto de ideias que formaram a base das sociedades
democráticas. Por isso a Grécia foi o berço da democracia e deu origem aos
primeiros filósofos.

1. O pensamento racional na mitologia grega

O poeta grego Homero (928 a.C. – 898 a.C) é considerado um dos fundadores da civilização grega. Suas obras Ilíada
e Odisséia tornaram-se uma das principais referências da cultura e dos costumes gregos, ao lado da obra Teogonia do
poeta grego Hesíodo.
A mitologia registrada nas obras da antiguidade era a tradição oral de séculos
de histórias contadas pelos gregos em forma de cantos e poemas.

Os poemas de Homero, que são a transcrição das lendas e histórias do povo


grego nas obras Ilíada e Odisséia, já possuíam um pensamento lógico-causal.

Na Obra Teogonia, do poeta Hesíodo, encontramos a árvore genealógica dos


deuses gregos desde os primeiros deuses até o apogeu e comando final de
Zeus. Expressas mitologicamente em termos de procriação e
consanguinidade, as ideias de dedução e associação permeiam todo o texto do
poeta.

Através dos mitos, os gregos já estavam habituados à relação de causa e


efeito que permitiu o surgimento do pensamento puramente racional (que
tornou-se a base da filosofia).

O surgimento da escrita e o registro da tradição oral (os mitos e as


lendas) criaram uma literatura rica e sofisticada que permitiu o desenvolvimento
intelectual dos povos gregos. O próprio ato de registrar os mitos já exigia uma
ordenação e uma sequência lógica da narrativa.

As investigações dos primeiros filósofos eram o questionamento dessas


associações, como por exemplo, se os raios eram gerados por Zeus ou teriam
outra origem. Assim, as relações de causa e efeito da mitologia foram as
provocações iniciais da filosofia.

2. Democracia e mitologia grega

A democracia grega, que recebeu influência das obras de Homero, pressupõe igualdade entre cidadãos (que não é o
mesmo que igualdade entre os homens). Esse ambiente democrático foi responsável pelo florescimento intelectual da
Grécia Antiga, pois permitia o debate de ideias.

Se nas obras de Homero temos a concepção de sociedade aristocrática, nas


obras de Hesíodo, especificamente no poema Os trabalhos e os dias, a virtude
é resultado do esforço, do trabalho empreendido pelo indivíduo, não mais
questão de hereditariedade.

Assim, qualquer homem pode ser virtuoso, contanto que se esforce para
isso. Tanto em Homero quanto em Hesíodo existem as ideias de cidadania e
igualdade, seja entre deuses, nobres ou cidadãos.

Na Ilíada – poema de Homero que relata a Guerra de Tróia – quando os


guerreiros se reúnem para decidir, o voto de cada um conta de maneira igual.
Mas é necessário convencer os outros de suas ideias. Torna-se então
necessário desenvolver a argumentação, que não é apenas instrumento
político, mas também forma de desenvolvimento intelectual.
A experiência com os princípios democráticos explica os avanços que
ocorreram na Grécia em diversas áreas do pensamento humano, como a
filosofia, o teatro, a ética, a matemática e a lógica, pois a democracia grega
permitia a livre circulação de ideias.

3. O surgimento da filosofia

A experiência democrática criou ambiente fértil para o surgimento das


investigações racionais da natureza, feitas pelos primeiros filósofos, também
chamados de filósofos da physis ou pré-socráticos.

Porém, mesmo eles eram devotos dos deuses gregos, e o surgimento da


filosofia não representou uma ruptura imediata com os mitos.

Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo, além de astrônomo e


investigador da natureza, mesclava sua filosofia com a mitologia. Isso lhe
deu recurso linguístico para expressar de forma poética o maravilhamento
filosófico.

Diante da grandiosidade e do mistério da natureza, Tales buscou respostas


racionais, porém, expressou seu encantamento nesta frase: “Tudo está cheio
de deuses“. Será o posterior desenvolvimento dessa forma racional de pensar
que irá influenciar o surgimento da investigação científica.

Para o filósofo Friedrich Nietzsche, os mitos eram um poderoso recurso dos


primeiros filósofos, além de considerar a dualidade razão x imaginação uma
característica do espírito humano (na imagem acima, uma representação do
deus Apolo). Albert Einstein declarou que “a imaginação é mais importante que
a inteligência”, e sua teoria da relatividade nasceu no dia em que se imaginou
cavalgando um raio de luz.

Nietzsche (1844-1900) considerava os filósofos da physis os verdadeiros


filósofos, pois mesclavam mitos, imaginação e razão. Acreditava que os mitos
eram fonte de inspiração que dá especial colorido à razão, afirmando também
que essa dualidade entre razão e imaginação é um traço fundamental da alma
humana.

Segundo Nietzsche, a ruptura com os mitos representou o início da


decadência que empobreceu o pensamento do homem ocidental, tornando-
o fraco e sem vontade de viver com plenitude.
4. A mitologia e seus mistérios

Considerar a mitologia um pensamento irracional que antecedeu o surgimento


das explicações racionais é o mesmo que acreditar que as coisas surgem do
nada, sem base ou origem alguma.

A mitologia foi capaz de inspirar grandes pensadores do passado e


possivelmente pode ter mais segredos para nos revelar. Freud foi um dos
pensadores modernos que encontrou nos mitos um poderoso recurso para
investigar a mente. Parece que, de forma misteriosa e poética, os mitos
revelam seus segredos somente para aqueles que lhes prestam reverência.

5. Sócrates e o Oráculo de Delfos: a origem da frase “Só sei que nada


sei”

Uma pergunta feita ao Oráculo de Delfos marcou o início da filosofia de


Sócrates e definiu os rumos da filosofia ocidental. Seu amigo Querofonte viajou
até a cidade de Delfos, na Antiga Grécia, para consultar a Pitonisa, uma
sacerdotisa inspirada pelo deus Apolo que respondia às perguntas dos
visitantes.

O templo de Delfos foi construído em homenagem a este deus sobre uma


fenda que emanava vapores do solo. Esses vapores causavam um transe na
sacerdotisa, quando então fazia suas profecias.

No templo existiam também sacerdotes que interpretavam as mensagens da


sacerdotisa. Na entrada estava escrito uma das frases mais conhecidas da
filosofia: “Conhece-te a ti mesmo“.
Querofonte perguntou ao oráculo: “Quem era o homem mais sábio de Atenas?”
A sacerdotisa declarou que o homem mais sábio de Atenas era Sócrates.
Querofonte voltou para Atenas e levou a novidade até Sócrates.
Ao saber disso, Sócrates não aceitou a afirmação do Oráculo, pois não se
acreditava sábio. Seguiu então dialogando, por toda a sua vida, com muitas
personalidades de Atenas. Percebeu então que todos caiam em contradição.
Sócrates concluiu então que ele era o mais sábio, não por saber mais, mas por
saber que nada sabia, ao contrário dos “sábios” da cidade. Esta frase ilustra
sua conclusão: “Ninguém de nós sabe nada de belo e de bom, mas aquele
homem acredita saber alguma coisa sem sabê-la, enquanto eu, como não sei
nada, estou certo de não saber“.
Daí vem sua máxima: “Só sei que nada sei“. O deus Apolo, portanto, estava
certo.
Sócrates relatou esta história perante o tribunal de Atenas quando se defendeu
das acusações que lhe condenaram à morte. Entre as acusações estava o
desrespeito aos deuses da cidade. Sócrates se defende afirmando que foi o
deus (Apolo) que lhe condenou a filosofar, e que ele vivia apenas para cumprir
o desejo desse deus.
Declarou diante do tribunal que não iria se calar, que preferia cumprir a vontade
do deus, não a vontade dos homens, pois “calar a filosofia seria calar a voz da
própria vida”.
Por fim, após condenado, o homem mais sábio de Atenas despede-se: “Já é
hora de partir: eu, para morrer, e vocês, para viver. Mas, quem vai para melhor
sorte, isso é segredo, exceto para o deus”.

6. Os sofistas e Sócrates: a virada antropológica

Toda a sabedoria prática esboçada no período pré-socrático preparou o


surgimento da ética, assim como a mitologia preparou o surgimento da
cosmologia. Os grandes personagens dessa nova perspectiva, que resultou na
elaboração da filosofia voltada para as questões humanas, foram os filósofos
sofistas e Sócrates.

Entretanto, apenas Sócrates conseguiu elevar a filosofia a uma ampla ciência


do homem e da conduta humana. Este novo período é chamado de “virada
antropológica”, pois volta a reflexão filosófica para o homem.

A filosofia dos pré-socráticos preocupou-se essencialmente com questões de


natureza cosmológica e ontológica ao tentar determinar a origem dos seres.
Junto com essas questões, surgiram problemas relativos ao conhecimento
humano que, em certa medida, também foram pesquisados por alguns deles.

Contudo, nesse período houve pouco espaço para o desenvolvimento de uma


reflexão filosófica acerca do homem, da sua essência e do seu modo de agir.

As poucas considerações antropológicas e éticas dos pré-socráticos se


mantiveram muito próximas do orfismo e, portanto, eram considerações de
fundo religioso. Foi o caso do pitagorismo, da filosofia de Heráclito e
Empédocles com as suas afirmações acerca da imortalidade da alma, da
transmigração e das recompensas e punições para as suas ações. O grande
problema não foi a vinculação com determinadas crenças, mas a falta de uma
fundamentação racional.

7. A tradição mitológica e religiosa da Grécia Antiga


Homero, graças as suas obras Ilíada e Odisséia, é o grande poeta que influenciou decisivamente a cultura grega e
direcionou grande parte do comportamento ético dos gregos antigos.

Os gregos, antes do surgimento de uma filosofia voltada para questões éticas e


políticas, foram moldados pelos valores transmitidos pelos chamados sete
sábios, pelos poetas gnômicos, e pelas obras de Homero e Hesíodo. Suas
sentenças veicularam determinados valores como o conhecimento de si
mesmo, a medida e o limite e a rejeição de atitudes extremas.

Porém, essas considerações têm como pano de fundo a religiosidade, a


mitologia e a cultura dos gregos antigos. Isso significa, como dissemos, que
não existia uma ciência da conduta humana pautada em bases racionais.
Assim, o debate filosófico acerca da ética estava reduzido às culturas locais e
suas religiões, impedindo que ela se tornasse um debate universal.

8. Os Sofistas e Sócrates

Foi apenas com os sofistas e, principalmente com Sócrates e a obra de Platão,


que a filosofia se volta para as questões humanas, tornando-se efetivamente
as bases filosóficas de toda a cultura do ocidente.

Aqui ocorre a virada antropológica. Os sofistas mais representativos desse


período foram Górgias e Protágoras. Górgias ficou conhecido como pai da
retórica e Protágoras ficou conhecido pela seguinte máxima: “O homem é a
medida de todas as coisas”.

Os sofistas acreditavam que poderiam vencer qualquer debate, pois não


existiria de fato verdade absoluta. Platão, por sua vez (na voz de Sócrates)
acreditava na verdade absoluta como referência para as ações
humanas. Górgias é o tema principal do diálogo “Górgias”, de Platão, que
busca atacar esta postura retórica e relativista como imoral.

Apesar da má fama atribuída aos sofistas — principalmente devido às críticas


de Platão — eles foram os responsáveis pela introdução da retórica em Atenas
e também pelo relativismo que foi combatido por Sócrates, estimulando de
forma decisiva a virada antropológica.
O fruto deste debate foi o abandono das investigações sobre a natureza
(característica dos pré-socráticos) e a virada das investigações filosóficas para
as ações humanas, fundando assim a ética do ocidente em bases racionais,
não mais determinada por questões religiosas ou culturais.

Abaixo você irá encontrar vários links do netmundi referentes aos pré-
socráticos, os sofistas e Sócrates.

9. Apologia de Sócrates: o julgamento da “mosca de Atenas”

A obra Apologia de Sócrates, do filósofo grego Platão, é um relato do


julgamento de seu mestre Sócrates perante o tribunal de Atenas. Esse evento
aconteceu por volta de 400 a.C, quando Sócrates tinha 70 anos de idade. As
acusações feitas contra ele foram:

 Não aceitar os deuses da cidade


 Introduzir novos deuses
 Corromper a juventude.

Essas acusações foram feitas por Anito, Meleto e Licon, representantes das
classes dos políticos, poetas e oradores da cidade.

Sócrates, em seu discurso de defesa, refutou cada uma dessas acusações,


utilizando seu estilo racional e argumentativo que marcou o pensamento
ocidental, demonstrando as contradições de seus acusadores. Apesar disso,
foi injustamente condenado à morte, pois existiam motivações políticas e
pessoais de grande parte do júri, que queria se livrar da “mosca de Atenas”,
apelido que Sócrates recebeu por incomodar os cidadãos de Atenas com sua
argumentação criteriosa que sempre fazia seus interlocutores caírem em
contradição.

Durante o julgamento, Sócrates manteve a tranquilidade afirmando que


aceitaria a morte caso fosse esse o desejo da democracia ateniense, porém,
caso vivesse, declarou que não deixaria de fazer o que sempre fez: buscar a
verdade e destruir a ilusão daqueles que se achavam sábios. Para ele, calar
a filosofia seria calar a voz da própria vida.

Apesar da condenação à morte, Sócrates, como cidadão ateniense, tinha a


opção de escolher o exílio, saindo da cidade para nunca mais voltar. Todavia,
sendo coerente com seu próprio discurso de defesa e com seus
ensinamentos, o filósofo recusou essa opção. Sua escolha surpreendeu seus
acusadores, que esperavam que ele saísse da cidade.

Após receber a sentença de morte, o filósofo disse que não seria vergonhoso
para ele ser condenado, mas sim vergonhoso para o júri a decisão injusta. E
assim, se despediu: “Já é hora de partir, eu para morrer e vocês, para
viver. Quem vai para melhor sorte, isso é segredo, exceto para o deus”.

Sócrates foi condenado a beber um veneno chamado cicuta. A famosa


pintura “A morte de Sócrates”, feita em 1787 pelo pintor francês Jacques-
Louis David, retrata o momento em que o filósofo recebe a taça de cicuta
enquanto seus amigos e discípulos choram ao seu lado.

Apologia de Sócrates é uma das mais importantes obras filosóficas da


antiguidade. Durante o julgamento, fica evidente que Sócrates não está
preocupado com a defesa de sua vida, mas sim com a defesa da verdade. O
filósofo disse que já sabia que iria morrer, pois sua voz interior, que sempre
lhe acompanhou e lhe alertou, silenciou naquele dia. Para ele, isso seria um
sinal: sua missão chegara ao fim.

Depois da morte de seu mestre, Platão condenou a democracia, pois esse


julgamento lhe mostrou que a democracia pode calar a verdade tanto quanto
a tirania. Na obra A República, Platão apresenta sua proposta de governo
ideal: uma aristocracia liderada por reis filósofos que saberiam diferenciar o
justo do injusto.

Lista de exercícis

1. (Ufpr 2022) No diálogo Hípias Maior, de Platão, Sócrates declara:


“Recentemente, alguém me pôs em grande apuro, numa discussão em que eu
rejeitava determinadas coisas como feias e elogiava outras por serem belas,
havendo me perguntado em tom sarcástico, o interlocutor: qual é o critério,
Sócrates, para reconheceres o que é belo e o que é feio? Vejamos, poderás
dizer-me o que seja o belo?”.

Considerando a passagem acima e a obra de que foi extraída, é correto afirmar


que, de acordo com Sócrates:
a) só é possível dizer o que é o belo depois de se ter identificado determinadas
coisas como belas.
b) a dificuldade se coloca para os juízos sobre a beleza, mas não para os
juízos de verdade, tais como “isto é uma mesa”.
c) para identificar algo como belo, é preciso antes conhecer o que é o belo.
d) o critério para distinguir entre o belo e o feio varia segundo as pessoas.
e) não há distinção entre o belo e as coisas belas.

2. (Ufu 2021) “Meti-me, então, a explicar-lhe que supunha ser sábio, mas não
o era. A consequência foi tornar-me odiado dele e de muitos dos circunstantes.
Ao retirar-me, ia concluindo de mim para comigo: ‘Mais sábio do que esse
homem eu sou; é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas
ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco
suponho saber”.

PLATÃO, Defesa de Sócrates, v. II. São Paulo: Abril Cultural, 1972, p. 15. Apud
ARANHA, M.L.A. e MARTINS, M.H.P. Filosofando. São Paulo, Moderna: 2009.
A partir do trecho, é correto afirmar que a sabedoria de Sócrates consiste em
a) reconhecer a própria ignorância e ver nisso uma grande virtude.
b) recusar-se a reconhecer a sabedoria alheia por pura vaidade.
c) atribuir valor ao conhecimento dos sábios sem lhes fazer críticas.
d) acreditar que ele e os outros são conhecedores de importantes verdades.

3. (Unesp 2021) Texto 1

O significado do termo kosmos para os gregos pré-socráticos liga-se


diretamente às ideias de ordem, harmonia e mesmo beleza. […] O cosmo é
assim o mundo natural, bem como o espaço celeste, enquanto realidade
ordenada de acordo com certos princípios racionais. A ideia básica de cosmo
é, portanto, a de uma ordenação racional, uma ordem hierárquica, em que
certos elementos são mais básicos, e que se constitui de forma determinada,
tendo a causalidade como lei principal.

(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2010.)

Texto 2

Quando a filosofia, pela mão de Sócrates, “desceu do céu à terra”, na sugestiva


expressão de Cícero, o homem passou a ser o centro das indagações dos
pensadores gregos. Platão atribui ao mestre a busca obsessiva do ser e do
saber humanos.
(João Pedro Mendes. “Considerações sobre humanismo”. Hvmanitas, vol.
XLVII, 1995.)

Os textos caracterizam uma mudança importante na história do pensamento


filosófico, trazida pela filosofia de Sócrates e que se expressou
a) na defesa dos princípios participativos da democracia ateniense.
b) na busca pela compreensão do princípio fundamental da natureza.
c) no questionamento da vida social e política dos seres humanos.
d) na crítica aos prazeres humanos como finalidade da vida.
e) no desenvolvimento de uma teoria da causalidade.

4. (Uel 2021) Leia o texto a seguir

Não devemos admitir que também o discurso permite uma técnica por meio da
qual se poderá levar aos ouvidos de jovens ainda separados por uma longa
distância da verdade das coisas, palavras mágicas, e apresentar, a propósito
de todas as coisas, ficções verbais, dando-lhes assim a ilusão de ser
verdadeiro tudo o que ouvem e de que, quem assim lhes fala, tudo conhece
melhor que ninguém?

PLATÃO. Sofista. 234c. Trad. Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo:
Abril Cultural, 1972. p. 160. Coleção Os Pensadores

Com base no texto e nos conhecimentos da análise de Platão sobre a técnica


retórica dos sofistas, assinale a alternativa correta.
a) Ensinavam uma técnica argumentativa na qual os jovens facilmente
percebiam a verdade e a mentira nos discursos dos oradores.
b) Eram professores de oratória apreciados por Platão porque argumentavam
com rigor lógico e preocupação ética.
c) Ensinavam a validar com coerência lógica qualquer argumento válido e, por
isso, sua técnica discursiva habilitava a distinguir o falso do verdadeiro.
d) Tornavam qualquer opinião convincente com sua técnica discursiva, sem se
preocupar com a distinção do verdadeiro ou ético de seus contrários.
e) Eram sábios e mestres de uma técnica retórica que apresentava opiniões
persuasivas e, por isso, verdadeiras e éticas.

5. (Ufu 2020) “Tenho isto em comum com as parteiras: sou estéril em


sabedoria; e aquilo que há anos muitos censuram em mim, que interrogo os
outros, mas nunca respondo por mim porque não tenho pensamentos sábios a
expor, é censura justa”. (Teeteto, 15c).

O trecho acima é do livro Teeteto, de Platão, no qual Sócrates (469 – 399 a.C.)
descreve sua arte chamada de maiêutica, em grego, o parto, sendo que, pelo
que se entende pelo excerto, a principal caracterização da maiêutica é a
aporia, que pode ser entendida como um método de refletir filosoficamente que
a) reforça as hipóteses sem fundamentação.
b) desvela a ignorância dos interlocutores.
c) valoriza os pensamentos intransigentes.
d) aceita a opinião comum como sabedoria.

6. (Uece 2020) Entre as principais estruturas de pensamento, no alvorecer da


filosofia, encontra-se o pensamento socrático-platônico. Considerando as
referências históricas e as características do pensar dos dois filósofos da
antiguidade, atente para o que se afirma a seguir e assinale com V o que for
verdadeiro e com F o que for falso.

( ) Como principal discípulo de Sócrates, Platão seguiu, inicialmente, os


passos do mestre até romper com ele, ao optar por um pensamento mais
sistemático.
( ) Tanto Sócrates quanto Platão defendiam o poder do pensamento racional
como principal ferramenta de aproximação da verdade sobre o mundo
real.
( ) Sócrates, como um dos principais pensadores sofistas foi o iniciador do
pensamento filosófico cosmológico, dedicado à especulação sobre a
natureza, sobre o cosmo.
( ) A Alegoria da caverna, escrita por Platão, é uma representação, uma
metáfora sobre o mundo, concebida por ele para explicitar o modelo de um
mundo dual: um racional, verdadeiro, e outro sensível, falso.

A sequência correta, de cima para baixo, é:


a) V, F, V, F.
b) F, V, V, F.
c) F, V, F, V.
d) V, F, F, V.

7. (Uel 2018) Sócrates, Giordano Bruno e Galileu foram pensadores que


defenderam a liberdade de pensamento frente às restrições impostas pela
tradição. Na Apologia de Sócrates, a acusação contra o filósofo é assim
enunciada:
Sócrates [...] é culpado de corromper os moços e não acreditar nos deuses que
a cidade admite, além de aceitar divindades novas (24b-c).

Ao final do escrito de Platão, Sócrates diz aos juízes:

Mas, está na hora de nos irmos: eu, para morrer; vós, para viver. A quem tocou
a melhor parte, é o que nenhum de nós pode saber, exceto a divindade. (42a).

(PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA,


2001. p. 122-23; 147.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a disputa entre filosofia e


tradição presente na condenação de Sócrates, assinale a alternativa correta.
a) O desprezo socrático pela vida, implícito na resignação à sua pena, é
reforçado pelo reconhecimento da soberania do poder dos juízes.
b) A aceitação do veredito dos juízes que o condenaram à morte evidencia que
Sócrates consentiu com os argumentos dos acusadores.
c) A acusação a Sócrates pauta-se na identificação da insuficiência dos seus
argumentos, e a corrupção que provoca resulta das contradições do seu
pensamento.
d) A crítica de Sócrates à tradição sustenta-se no repúdio às instituições que
devem ser abandonadas em benefício da liberdade de pensamento.
e) A sentença de morte foi aceita por Sócrates porque morrer não é um mal em
si e o livre pensar permite apreender essa verdade.

8. (Pucpr 2017) Na primeira parte da Apologia de Sócrates, escrita por Platão,


Sócrates apresenta a sua defesa diante dos cidadãos atenienses, afirmando
que: “(...) considerai o seguinte e só prestai atenção a isto: se o que digo é
justo ou não. Essa de fato é a virtude do juiz, do orador (...)” (PLATÃO,
2000\2003, p.4). A partir da análise do fragmento, qual é, segundo Sócrates, a
virtude do juiz, do orador, a que se refere o texto em questão?
a) Lidar com a mentira.
b) Dizer a verdade.
c) Tergiversar a verdade.
d) Convencer-se das acusações.
e) É deixar-se guiar somente pela defesa.

9. (Pucpr 2015) Leia os enunciados abaixo a respeito do pensamento filosófico


de Sócrates.

I. O texto Apologia de Sócrates, cujo autor é Platão, apresenta a defesa de


Sócrates diante das acusações dos atenienses, especialmente, os sofistas,
entre os quais está Meleto.
II. Sócrates dispensa a ironia como método para refutar as acusações e
calúnias sofridas no processo de seu julgamento.
III. Entre as acusações que Sócrates recebe está a de “corromper a juventude”.
IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas celestes e terrenas, a não
acreditar nos deuses e a tornar mais forte a razão mais débil.
V. Sócrates nega que seus acusadores são ambiciosos e resolutos e, em
grande número, falam de forma persuasiva e persistente contra ele.

Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirmativas CORRETAS.


a) II, IV e V.
b) I, III e IV.
c) I, III e V.
d) II, III e V.
e) I, II e III.

10. (Unicamp 2013) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no


século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que nada sei”,
registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que
afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos,
políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos
demais por reconhecer a sua própria ignorância.
O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer
adquirir conhecimentos.
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma
vez que a função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos
gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que
estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas
concretos, preocupando-se apenas com causas abstratas.

11. (Unimontes 2011) Lembremos a figura de Sócrates. Dizem que era um


homem feio, mas, quando falava, exercia estranho fascínio. Podemos atribuir a
Sócrates duas maneiras de se chegar ao conhecimento. Essas duas maneiras
são denominadas de
a) doxa e ironia.
b) ironia e maiêutica.
c) maiêutica e doxa.
d) maiêutica e episteme.

12. (Ufu 2010) Em um importante trecho da sua obra Metafísica, Aristóteles se


refere a Sócrates nos seguintes termos:
Sócrates ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua
totalidade, mas buscava o universal no âmbito daquelas questões, tendo sido o
primeiro a fixar a atenção nas definições.

Aristóteles. Metafísica, A6, 987b 1-3. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo:
Loyola, 2002.

Com base na filosofia de Sócrates e no trecho supracitado, assinale a


alternativa correta.
a) O método utilizado por Sócrates consistia em um exercício dialético, cujo
objetivo era livrar o seu interlocutor do erro e do preconceito − com o prévio
reconhecimento da própria ignorância −, e levá-lo a formular conceitos de
validade universal (definições).
b) Sócrates era, na verdade, um filósofo da natureza. Para ele, a investigação
filosófica é a busca pela “Arché”, pelo princípio supremo do Cosmos. Por
isso, o método socrático era idêntico aos utilizados pelos filósofos que o
antecederam (Pré-socráticos).
c) O método socrático era empregado simplesmente para ridicularizar os
homens, colocando-os diante da própria ignorância. Para Sócrates, conceitos
universais são inatingíveis para o homem; por isso, para ele, as definições
são sempre relativas e subjetivas, algo que ele confirmou com a máxima “o
Homem é a medida de todas as coisas”.
d) Sócrates desejava melhorar os seus concidadãos por meio da investigação
filosófica. Para ele, isso implica não buscar “o que é”, mas aperfeiçoar “o que
parece ser”. Por isso, diz o filósofo, o fundamento da vida moral é, em última
instância, o egoísmo, ou seja, o que é o bem para o indivíduo num dado
momento de sua existência.

13. (Unicentro 2010) Após as primeiras discussões dos filósofos “pré-


socráticos” no século VI a.C. (período cosmológico), surge outro movimento
muito importante na história da filosofia. Passa a ser abordado uma nova
modalidade de problemas e discussões (período antropológico), e assim
teremos não só as figuras principais do novo cenário da filosofia grega, mas de
toda a história da razão ocidental: Sócrates, Platão e Aristóteles. Com
Sócrates, a filosofia ganha uma nova “roupagem”. Sócrates viveu em Atenas
no momento de apogeu da cultura grega, o chamado período clássico (séculos
V e IV a.C.), fase de grande expressão na política, nas artes, na literatura e na
filosofia. O que há de mais forte na filosofia de Sócrates é o seu método e a
maneira pela qual ele buscava discutir os problemas relacionados à filosofia.

A partir desta informação, e de seus conhecimentos sobre a filosofia socrática,


analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas.

I. Sócrates sempre buscava pessoas em praça pública para dialogar e


questionar sobre a realidade de seu tempo.
II. A célebre frase de Sócrates, que caracterizava parte de seu método é: “só
sei que nada sei”, por isso questionava as ideias de seus interlocutores.
III. Sócrates oferecia grande importância às experiências sensíveis, o que
caracterizou fortemente o seu método filosófico.
IV. Para fazer com que os seus interlocutores enxergassem a verdade por si
próprios, Sócrates elaborou um método composto de duas partes centrais: a
ironia e a maiêutica.
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas I, II e IV estão corretas.
c) Apenas III e IV estão corretas.
d) Apenas I, II e III estão corretas.
e) Apenas I e IV estão corretas.

14. (Unioeste 2009) “A ignorância mais condenável não é essa de supor saber
o que não se sabe? É talvez nesse ponto, senhores, que difiro do comum dos
homens; se nalguma coisa me posso dizer mais sábio que alguém, é nisto de,
não sabendo o bastante sobre o Hades, não pensar que o saiba”. (Platão)
Neste texto, Platão apresenta a concepção socrática de Filosofia. Sobre ela,
seguem as seguintes afirmações:

I. A verdade torna o homem melhor, pois tem como resultado ultrapassar o


homem comum.
II. Saber que nada se sabe é o primeiro passo para se atingir a verdade.
III. O método socrático (a maiêutica) é irônico, porque pressupõe saber que
nada se sabe.
IV. O saber que nada se sabe permite ao indivíduo livrar-se dos preconceitos e
abrir caminho até o conhecimento verdadeiro.
V. O constante questionamento deve ser a atividade fundamental do filósofo.
Das proposições feitas acima
a) apenas II e IV são corretas.
b) I, II e V são corretas.
c) II, III e IV são corretas.
d) todas elas são corretas.
e) todas elas são incorretas.

15. (Ufu 2007) O trecho seguinte, do diálogo platônico Górgias, refere-se ao


modo de filosofar de Sócrates.

“Assim, Cálicles, desmanchas o nosso convênio e te desqualificas para


investigar comigo a verdade, se externares algo contra tua maneira de pensar.”

PLATÃO. Górgias. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2002, p.


198, 495a.

Marque a alternativa que expressa corretamente o procedimento filosófico


empregado por Sócrates.
a) A base da filosofia socrática é a educação mediante os discursos políticos e
jurídicos encenados nos tribunais atenienses. Sócrates parte das
proposições dos adversários para encontrar um discurso oposto que seja
retoricamente persuasivo.
b) A base da filosofia socrática é a procura da verdade acerca do conhecimento
da Natureza e da maneira de pensar sobre os princípios racionais que
governam o cosmos a partir do conhecimento acumulado pelos filósofos
anteriores.
c) A base da filosofia socrática é a refutação, a partir de um convênio em busca
da verdade, de todas as proposições de seus interlocutores com o intuito de
demonstrar que o conhecimento das questões morais é impossível.
d) A base da filosofia socrática é a procura da perfeição da alma, mediante o
exame de si mesmo e dos concidadãos, que é a condição da excelência
moral. A refutação socrática é, sobretudo, um modo de testar a verdade da
excelência da vida.

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