Artigo-Fim-Estética Da Recepção
Artigo-Fim-Estética Da Recepção
Artigo-Fim-Estética Da Recepção
INTRODUÇÃO
O leitor Machadiano deve estar sempre preparado para um espetáculo em que ele
próprio atua, pois Machado de Assis escreveu para leitores ativos que viessem
reflitir sobre a narração sem passividade para que possam tirar suas próprias
conclusões. Em Esaú e Jacó, Machado apresenta o tipo de leitor que almeja: “O
leitor atento, verdadeiramente ruminante, tem quatro estômagos no cérebro, e por
eles faz passar e repassar os atos e os fatos, até que deduz a verdade, que estava,
ou parecia estar escondida” (ASSIS, 1987, p. 127).
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A Estética da Recepção surgiu nos anos 1960, na Alemanha Ocidental num período
marcado por revoltas estudantis e reforma nas universidades e está associada
sobretudo ao nome de Hans-Robert Jauss.
Por não compartilhar com orientações que não realizavam seus estudos com base
na convergência entre o aspecto histórico e o estético, Jauss retoma a problemática
da história da literatura. O desencontro do histórico com o estético resulta em
pesquisas que se preocupam somente com as obras e seus autores,
desconsiderando o leitor, que recebeu de Jauss a designação de o Terceiro Estado,
“seguidamente marginalizado, porém não menos importante, já que é condição da
vitalidade da literatura enquanto instituição social” (ZILBERMAN, 1989, p. 11)
Desse modo, Jauss também é contrário às correntes teóricas marxistas, uma vez
que essas apresentam a literatura apenas como reflexo social.
O objetivo de Jauss é propor uma história da arte que possa incluir a perspectiva do
Escritor , bem como a do leitor, e sua interação mútua. Zilberman esclarece que
“apenas esse enfoque tem meios de superar a abordagem exclusivamente mimética,
ao considerar dialeticamente a função da arte, ao mesmo tempo formadora e
modificadora da percepção” (ZILBERMAN, 1989: 32).
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A quarta tese consiste no exame das relações atuais do texto com a época de sua
publicação, averiguando qual era o horizonte de expectativas do leitor naquele
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momento e quais as necessidades desse período foram atendidas pela obra. Por
meio da releitura e do diálogo com a época anterior, a história da literatura recupera
a historicidade do texto literário.
As três últimas teses apresentam uma metodologia, por meio da qual, Jauss prevê o
estudo da obra literária; qual sejam, os aspectos diacrônico, sincrônico e
relacionados com a literatura e a vida. O aspecto diacrônico, exemplificado na quinta
tese, diz respeito à recepção da obra literária ao longo do tempo, e deve ser
analisado, não apenas no momento da leitura, mas no diálogo com as leituras
anteriores. Esse pressuposto demonstra que o valor de uma obra literária
transcende à época de sua aparição e o novo não é apenas uma categoria estética,
mas histórica, conduzindo à análise. A contemplação diacrônica somente alcança a
dimensão verdadeiramente histórica quando não deixa de considerar a relação da
obra com o contexto literário no qual ela, ao lado de outras obras de outros gêneros,
teve de se impor.
Assim, desde o início de Memórias Póstumas, fica claro que o leitor é de vital
importância para a obra. O diálogo que se estabelece entre narrador e leitor ocorre
logo no início da obra. Antecedendo a narração, o narrador constrói um prólogo a
um leitor que supostamente não seja nem “grave”, nem “frívolo”, e que possa
responder ao apelo do texto, evidenciando a importância desse leitor quando o
coloca em destaque na narrativa. O narrador dirige-se ao “fino leitor” esclarecendo-
lhe o método utilizado na construção de sua escrita, alertando para a importância de
uma nova leitura coerente com a sua condição de “defunto autor”.
O leitor de Brás Cubas, contudo, não deve ser visto somente como personagem. Ele
também é provocado a participar no processo de elaboração da narrativa, conforme
o trecho a seguir:
E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu a maior
transição deste livro. Vejam: o meu delírio começou em presença de
Virgília; Virgília foi o meu grão pecado da juventude; não há juventude
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Memórias Póstumas de Brás Cubas foi publicada há mais de cem anos e realiza um
diálogo que sobrevive até hoje e sustenta o interrogativo, o que garante sua
permanência e sua vitalidade.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Coleção
Clássicos da Literatura: Editorial Sol90, Espanha, Barcelona, 2004.