Antro Polo Gia
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Antro Polo Gia
Introdução
O interesse pelo estudo da Teologia tem despertado muitas pessoas
a uma verdadeira cognição de Deus, do homem e do mundo. A verdadeira
natureza e o papel da teologia, tanto mais que isso nos consentirá
descobrir quais as funções e as tarefas da parte da teologia que mais nos
interessa a Antropologia Teológica.
A Antropologia Teológica tem a ver com o esforço do homem para
compreender a fé e aquilo que precisa crê, o intellectus fidei, é problema do
homem, da sua faculdade de pensar e de compreender. E, a teologia sendo
o esforço em relação à fé, não pode se desenvolver paralelamente à
própria fé; é uma forma intensiva de realizar o próprio ato de fé, que não
exige somente o fato de crer, mas também a inteligência da fé, e isso
porque a fé abrange o homem todo, inteiro.
No campo da experiência humana tudo se transforma, e sobre a
transformação antropológica na teologia, constata-se que vem se
prolongando por muitos séculos. O interesse é abrangente nas seguintes
esferas: política, ciência e filosofia. Bem mais tarde, penetrou também no
terreno da moral e da religião.
Nesse sentido a Antropologia Teológica tem o objetivo de empenhar
todas as faculdades humanas, e, portanto, necessariamente, o espírito, o
poder de interrogar e de pensar.
A reflexão sobre o homem, que é a Antropologia Teológica, trata da
doutrina do homem quanto a sua origem e sua natureza, atividade,
deveres e destino. É deste modo, porque ele é a realidade mais profunda
e mais complexa que conhecemos no âmbito do universo natural.
O homem é um ser multidimensional e não pode ser visto apenas sob
um ou outro ângulo, como se uma angulação fosse expressão total de seu
conteúdo. O homem apresenta dimensões somáticas, psíquicas, racionais,
individuais, sociais, econômica, política, sapiencial, erótica, estética,
histórica, técnica, ética. Estas são faces complementares e não
excludentes.
Diante da multi-dimensionalidade que envolve a estrutura do homem
há que evitar o reducionismo antropológico, hipertrofiando uma dimensão
e atrofiando as demais. No caso de uma redução, no âmbito somático, ou
psíquico, ou econômico, ou religioso, não se pode refletir sobre sua
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constituição e natureza. E para tratar desse ser com precisão, há de se
excluir quaisquer hipertrofias.
O homem só será suficientemente compreendido se as diversas
dimensões antropológicas forem vistas com espírito conjuntivo e não
disjuntivo, se forem contempladas com olhar de simultaneidade que
mantenha a multi-dimensionalidade humana.
O ponto de partida para a compreensão do homem é a revelação
divina, pois Deus é o seu criador. Mas, é preciso entender que existe uma
interdisciplinaridade nessa dimensão. Isso quer dizer que as ciências que
estudam o homem são tremendamente importantes ao lado da revelação.
O naturalismo filosófico
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O naturalismo que nega a existência de qualquer realidade espiritual,
afirma que o ser humano é apenas matéria. Vários estudos de eruditos
têm proposto a idéia de que o homem é produto do acaso, num universo
sem Deus. Para Demócrito, filósofo grego, o homem tanto no que
concerne à alma quanto ao corpo, é apenas uma combinação de átomos,
reunidos por acaso, que se separam depois da morte. Assim, o ser humano
não continua a sua existência após a morte.
Além de Demócrito, segue uma relação de alguns outros naturalistas:
O Panteísmo
Propõe que o homem é resultado de um processo espiritual, mas,
ainda assim, impessoal. Os panteístas normalmente aceitam a teoria da
evolução biológica, e dizem que os homens estão relacionados aos
animais, espiritual e biologicamente. As religiões panteístas normalmente
têm em comum a idéia de que o ser humano que se originou do Uno
impessoal, está fazendo uma grande viagem, para voltar ao Uno através
da evolução. O hinduísmo e o budismo recomendam processos de
meditação e disciplinas espirituais para alcançar o alvo de fugir do corpo
físico, que é considerado mau. Os sistemas comuns à maioria dos sistemas
panteístas são: a divinização do ser humano, a negação do pecado original,
a idéia de que o corpo é mau e também a noção da reencarnação.
O islamismo
O islamismo ensina que a raça humana foi criada por Alá, mas visto
que Alá é completamente transcendente, a noção de uma criação à
imagem de Deus está ausente. Alá não pode compartilhar seus atributos
com as criaturas. Adão, o primeiro homem, foi criado do pó da terra. Alá
criou a mulher do mesmo ser do homem, para seu conforto. A mulher deve
ser valorizada, e o homem, sendo superior a ela, de protegê-la. Ao homem
é permitido ter até quatro esposas. Ele tem autoridade sobre elas e até o
direito de lhes aplicar castigo físico, no caso de desobediência obstinada.
O mormonismo
Joseph Smith levou a doutrina na imagem de Deus no ser humano a
um literal extremismo. Ele afirmou que Deus teria um corpo de carne e
osso e, assim, a imagem de Deus na humanidade também incluiria seu
corpo físico. Por outro lado, Deus não criou o homem do nada. Ele
começou como uma inteligência que existia eternamente, não como uma
entidade pessoal, mas como uma entidade potencial. O processo por meio
do qual as inteligências se tornaram deuses é um mistério, mas todas as
pessoas, segundo o mormonismo, nasceram como almas durante uma
vida anterior. Através das relações sexuais com suas muitas mulheres, a
divindade mórmon gerou filhos espíritos. E para que os espíritos se
tornassem deuses, eles precisavam ter corpos físicos. Por isso, a divindade
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organizou na terra a raça humana, Assim, um espírito se encarna num
corpo físico, cada vez que nasce um bebê na terra. O tipo de nascimento
depende do valor do espírito em sua existência anterior. Durante a
rebelião de Satanás no céu, alguns espíritos lutaram ao lado de Deus,
outros ao lado do diabo, e outros ficaram neutros. Os mais valentes
nascem como pessoas brancas, na terra. Os neutros, como pessoas
negras. Os que lutaram ao lado do diabo se tornaram demônios.
Na história da Igreja
Seguem diferentes posições que teólogos cristãos ofereceram sobre a
constituição e natureza da imagem de Deus no homem.
Tomás de Aquino, Séc. XIII – Ainda que admitisse alguma distinção entre
imagem e semelhança, como ensinada por Irineu, ele afirmou que estas
duas expressões são sinônimas: “Embora não seja inconveniente que
algo, segundo uma designação, seja chamada imagem, e segundo
outra, seja denominado semelhança”. No estado original do homem,
antes da queda, este foi originalmente criado com um dom da graça
sobrenatural, para capacitá-lo a controlar suas “forças inferiores”. E a
submissão da razão a Deus, assim como a submissão de suas “forças
inferiores” à razão, e a submissão do corpo à alma, eram um “ato de
graça”. A imagem de Deus está situada no intelecto humano, pois
somente as criaturas dotadas de inteligência são, falando
propriamente, à imagem de Deus. Por isto, esta imagem se encontra na
mente humana, enquanto nas outras partes pode-se encontrar por
modo de vestígio. É por isso que para Tomás de Aquino, o intelecto é a
mais divina das qualidades do homem. Ele argumenta que, num certo
sentido, todo ser humano carrega a imagem de Deus. Todavia, a
imagem de Deus nos não-cristãos se encontra “quase obscurecida”, “a
ponto de quase não existir”. Se mesmo antes da queda o homem
necessitava da graça, muito mais após a entrada do pecado na criação.
Cânones de Dort, Séc. XVII, III.1 – “1. No princípio o homem foi criado à
imagem de Deus. Foi adornado em seu entendimento com o verdadeiro
e salutar conhecimento de Deus e de todas as coisas espirituais. Sua
vontade e seu coração eram retos, todos os seus afetos puros; portanto,
era o homem completamente santo. Mas, desviando-se de Deus sob
instigação do diabo e pela sua própria livre vontade, ele se privou destes
dons excelentes. Em lugar disso trouxe sobre si cegueira, trevas
terríveis, leviano e perverso juízo em seu entendimento; malícia,
rebeldia e dureza em sua vontade e seu coração; também impureza em
todos os seus afetos.”
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enquanto obedeceram a este preceito, foram felizes em sua comunhão
com Deus e tiveram domínio sobre as criaturas. Gen. 1:27 e 2:7; Sal. 8:5;
Ecl. 12:7; Mat. 10:28; Rom. 2:14, 15; Col. 3:10; Gen. 3:6.”
Arminianismo, Séc. XVII – Os teólogos arminianos, a partir do Séc. XVII, de
modo geral, concordam com os reformados sobre a imagem de Deus,
a não ser na questão da liberdade da vontade. Os arminianos entendem
que ainda permanece, por causa da graça preveniente, algum tipo de
liberdade residual no ser humano, no sentido de uma capacidade de
agir sem qualquer predeterminação, seja ela divina ou natural, o que
seria um aspecto essencial da imagem de Deus no homem.
Origens
Quanto às origens, o início da transformação antropológica remonta
ao Renascimento. Naquele período o espírito humano abriu-se a um novo
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modo de viver e agir, em violento contraste com o precedente: enquanto
para o primeiro, o centro de todo interesse era Deus, agora o centro é o
homem. Na Idade Média a vida do espírito era orientada para o mundo
sobrenatural. A existência humana era preparação para aquele além, onde
o destino de cada um se realizava, e isto pela virtude sobrenatural da graça
de Deus. A natureza só era digna de interesse como espelho onde se
refletia e se revelava de algum modo a misteriosa e transcendente
realidade de Deus, na qual tem seu princípio e fim. A Igreja, como
depositária da verdade, era indispensável intermediária entre a terra e o
céu. Ela tinha o poder de atar e desatar; cabia-lhe o dever de formar as
almas e ordenar todas as esferas da atividade humana, individual e
socialmente.
O mundo moderno
O mundo moderno possui características exatamente opostas: não
mais teocentrismo nem autoritarismo eclesiástico, mas autonomia do
mundo da cultura em relação a todos os fins transcendentes; livre
explicação da atividade que o constitui; supremacia da evidência racional
na busca da verdade; consciência do absoluto valor da pessoa humana e
afirmação de seu poder soberano sobre o mundo. A cultura realiza-se
gradualmente. A vida e a natureza valem por si mesmas. O homem sente
que sua missão e seu destino é a posse cada vez mais plena deste mundo.
A infinita ampliação do universo só estimula a insaciável ambição de
conhecimento e poder, através da qual o eu se constitui e se enriquece, e
a vida social articula-se cada vez mais firme e variadamente.
A Filosofia
A filosofia é, ao mesmo tempo, testemunha fiel e artífice principal da
transição do teocentrismo. Aquela, a partir de 1500 (Séc. XVI) abandona a
posição cosmocêntrica dos gregos e a teocêntrica dos autores cristãos e
encaminha-se para o antropocentrismo, que segundo a nova posição, o
homem constitui o ponto de partida para o desenvolvimento da pesquisa
filosófica e em torno do qual esta se mantém continuamente polarizada. A
investigação crítica que, segundo Descartes, é o verdadeiro ponto de
partida do reto filosofar, tem por objeto o homem. Na sua Ethica, outro
não é o propósito de Spinoza senão estabelecer científica e
geometricamente a finalidade da vida humana e os meios de alcançá-la.
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Hume (no Treatise on Human Nature) quer oferecer um quadro definitivo
do homem como indivíduo e como ser social.
Mas é somente com Kant que a transformação antropológica da
filosofia atinge seu momento conclusivo. Para o autor da Crítica da Razão
Pura, o homem não é mais simplesmente o ponto de partida, mas também
o ponto de chegada da reflexão filosófica. Esta gira em torno do homem,
do começo ao fim e em todas as suas partes.
Na Lógica, querendo determinar o lugar devido à antropologia no
âmbito das disciplinas filosóficas, Kant distingue quatro perguntas
fundamentais: “O campo da filosofia pode ser resumido nas seguintes
perguntas: 1. Que posso saber? 2. Que devo fazer? 3. Que devo esperar? 4.
Que é o homem?”.
A primeira pergunta refere-se à metafísica, a segunda à moral, a
terceira à religião, a quarta à antropologia. No entanto, o próprio Kant
observa que as três primeiras podem reduzir-se à última pergunta: No
fundo, poder-se-ia reduzir tudo isso à antropologia, porque as primeiras
três perguntas referem-se à última.
A posição central e totalisante da antropologia no seio da filosofia, já
conhecida por Kant, torna-se o traço característico do pensamento
contemporâneo: Feuerbach, Marx, Comte e Nietzche (Séc. XIX), Freud,
Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, Lévi-Strasuss, etc. (Séc. XX). Estes
reduzem a filosofia à antropologia.
A Teologia
A última disciplina envolvida na transformação antropológica foi a
teologia. Enquanto no passado foi sempre sustentado que, ao menos
nesse estudo, o ponto de partida devesse ser Deus, sua Palavra e as
afirmações dos Padres e dos Concílios, apareceram numerosos teólogos
começaram a afirmar que a estrutura formal da pesquisa teológica não
pode ser diferente da das outras ciências; logo, mesmo em teologia é
necessário partir do homem.
Diante de tudo isso, é preciso atentar para a inevitabilidade da
colocação antropológica. Hoje não se pode mais evitar o posicionamento
antropológico da teologia, assim como na filosofia, depois de Descartes,
não se pode mais evitar a posição crítica. Descartes, ao demonstrar que
uma coisa é o pensamento e outra coisa é o ser, e que o ser se atinge
através do pensar, provou a prioridade do problema crítico em relação ao
problema metafísico: com efeito, se não se verifica a atitude do
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pensamento a reconhecer a realidade, qualquer solução do problema do
ser é precária.
Algo semelhante acontece também na teologia. O teólogo deu-se
conta de que qualquer interpretação da Palavra de Deus, inclusive a dos
autores sacros, implica numa pré-compreensão (do homem e do mundo);
que os elementos constitutivos de tal pré-compreensão são distintos dos
elementos constitutivos da Palavra de Deus; que, segundo a pré-
compreensão que se assume para exprimir a Palavra de Deus, esta se
configura de diversos modos; e, enfim, que muitas das dificuldades hoje
encontradas pela Palavra de Deus (a mensagem cristã) decorrem da pré-
compreensão na qual é expressa. Assim, o problema dos prolegômenos
antropológicos da teologia adquiriu hoje clareza e importância bem
maiores do que no passado.
Antropologia Antropologia
Científica Filosófica
Antropologia
Antropologia
Teológica
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Antropologia Filosófica: estuda o conhecimento filosófico do homem.
A filosofia estuda o homem, procurando perscrutar mais fundo do que
aquilo que é dito pela ciência;
Antropologia Teológica: é o estudo proposto.
Antes de entrarmos no estudo da Antropologia Teológica
propriamente dito, faz-se necessário verificar a análise de Battista
MONDIN, sobre as características e aspirações do homem moderno,
porque o teólogo precisa assumir responsabilidades em relação à Palavra
de Deus e sua mensagem, no mundo em que está vivendo.
A tarefa fundamental da Teologia é estabelecer uma clara sintonia
entre a mensagem da salvação, de um lado, e as instâncias, a mentalidade,
a visão das coisas, a linguagem, os problemas humanos de determinado
momento histórico e de um dado ambiente cultural, de outro. “A finalidade
de toda pregação, assim como de toda a teologia, é aproximar o Evangelho
do mundo moderno”, onde sempre volta a situar-se. Já no Século I, quando
o Evangelho fazia sua entrada no mundo, a missão dos apóstolos foi
pregar o Evangelho, que era um corpo estranho para o homem daquele
tempo – escândalo e loucura (1 Co 1.23) – e de tal modo que este
conseguisse compreendê-lo. Mas, cada século o mundo se transforma e,
ademais, as missões trazem constantemente para o cristianismo novos
territórios de culturas diversas, o problema permanece sempre aberto.
Cada época deve, portanto, formular de novo a profissão de fé, e a teologia
entrar em confronto com o mundo particular ao qual se dirige.”
Vejamos um resumo destas características do homem moderno:
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reconhece a Escritura como a sua fonte, e examina os ensinamentos da
experiência humana à luz da Palavra de Deus.
O próprio homem desfigurou essa imagem, e a redenção tem por
finalidade restaurá-la por meio do homem espiritual, uma realização das
dimensões espirituais. Isto tem de acontecer em função do problema do
sentido do homem que é mais escaldante hoje do que nunca. De fato, de
onde provêm tantas profanações à própria vida, tantas agressões à vida
do próximo, tantas injustiças, violências, vícios, maldades, senão do fato de
ter o homem perdido atualmente o sentido de sua própria existência? O
cristão sabe, graças à Palavra de Deus, com segurança o sentido do
homem. Mas será possível também para quem não tem fé em Cristo – em
outras palavras, será possível apenas com os recursos da razão humana –
obter conhecimentos seguros sobre o sentido do homem?
A Antropologia Teológica considera o homem um ser
transcendental, ou pelo menos está destinado a sê-lo. É preciso entender
o sentido metafísico do homem. Há uma experiência singular no que tange
ao homem que é sua autotranscendência, que é o movimento pelo qual
ele se supera. Mas, o que isso significa? É preciso entender que a nossa
vontade nunca se satisfaz com o que conseguiu e adquiriu.
Pergunta-se: para onde se dirige a autotranscendência do homem?
Aqui já são as perguntas levantadas pela Filosofia, segundo MONDIN.
Há três posições para se tentar responder a estas perguntas
levantadas pela Filosofia:
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Portanto, quando o homem responde positivamente à interpelação de
Deus criador-salvador, fica unificada a sua responsabilidade em relação ao
mundo da natureza e a sua responsabilidade pela própria humanização.
É que este enfoque, na opinião de GARCIA RUBIO, é extremamente
necessário, e atual, dada a situação miserável e passiva da grande maioria
do povo brasileiro e latino-americano que foi sempre marginalizada e
desprezada pela pequena minoria dominante e para um povo que vive em
condições infra-humanas de vida, impedido de desenvolver a riqueza do
que significa ser humano, de poder decidir-se e também, de poder
responder concretamente em relação a si próprio, em relação a Deus, em
relação aos outros seres humanos e em relação ao mundo da natureza,
não podendo, portanto, assumir as suas relações que constituem o ser
humano criado à imagem de Deus.
Deve-se reconhecer que GARCIA RUBIO é muito competente ao
estruturar toda a sua interpretação da tradição mais antiga dos textos
bíblicos do Antigo Testamento, de uma maneira lógica e consistente,
fazendo com que estas diversas versões escritas:
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As difíceis circunstâncias políticas e religiosas em que viveu o Eloísta
explicam a história da salvação-perdição de Israel, e a constatação
reiterada da sua desobediência e infidelidade, limitando grandemente o
horizonte de compreensão da história da salvação.
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salvífico de Yahweh, em cada um dos casos particulares. Yahweh, todavia,
é sempre e soberanamente para recompor suas resoluções salvíficas.
E com esse raciocínio, o autor faz a transição para a abordagem da
interpretação profética da história da salvação afirmando que as antigas
tradições israelitas são também atualizadas e interpretadas pelos grandes
profetas individuais. Assim, a experiência de Deus vivida pelos profetas e
sua mensagem, afirma que Deus é o único e exclusivo salvador do homem
e fora da comunhão com ele, o homem se ilude com pseudo-salvações e
se encaminha para o desastre. Pois a salvação, resultante da união com a
vontade de Deus, não é algo imposto. O “sim” da fé e da obediência do
homem e a sua decisão são indispensáveis para a concretização da
salvação. E este é dado nos compromissos e nas situações do dia-a-dia.
Fica mais uma vez, a pergunta do autor: “Será que Israel como povo está
pronunciando este “sim”? Será que o julgamento e o castigo são inevitáveis?”.
Aborda-se a resposta agradecida do Israel fiel, mostrando-nos que
seria falso concluir da exposição anterior que Israel respondera sempre
negativamente à proposta salvífica de Yahweh. Houve, sem dúvida,
respostas positivas de indivíduos e grupos que seguiram o caminho da fé
e da confiança em Yahweh percorrido por Abraão e outros grandes
ancestrais.
Os salmos apresentam um material privilegiado para o estudo da
resposta do Israel fiel. E pergunta: Como não confiar num Deus que já fez
tantas maravilhas para auxiliar o povo da sua eleição? Ele continua fiel às
suas promessas nas circunstâncias do tempo em que orava o salmista.
E assim, Garcia Rubio analisando e expondo sobre cada aspecto da
literatura bíblica, sob o enfoque da criação/salvação, o homem como
criatura de decisão e resposta, nos dá toda uma visão panorâmica de todo
os escritos do Antigo Testamento, contemplando desde o Pentateuco, os
livros Sapienciais, os Proféticos, e os Históricos discorrendo sobre a
sabedoria, síntese do projeto salvífico de Yahweh; sobre a escatologia e
apocalíptica, onde mostra a tensão entre plenitude futura de salvação e
a situação miserável atual. Assim sucessivamente até chegar ao sábado
como conclusão-coroamento da criação do mundo e do ser humano (Gn
2.2-3), onde o escrito Sacerdotal vê a criação em função do sábado e não
o contrário.
Utilizando-se de Jürgen MOLTMANN, Rubio afirma que o mundo não é
apenas natureza, mas criação de Deus. E como tal deveria ser aceita e
celebrada, uma vez que Deus não só cria como também repousa. E assim,
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o sábado leva-nos a superar a perspectiva unilateral do mero “fazer”. O
Sábado deve ser tratado como coroamento da criação e como revelação
de Deus que repousa na sua criação apontando para a realidade da
salvação-redenção e, em última análise, para a “nova criação”.
Bibliografia
4. BEHE, M. A caixa preta de Darwin. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
10. FERREIRA, F.; MYATT, A. Teologia Sistemática, São Paulo, Vida Nova.
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23. SANTO TOMÁS DE AQUINO. Os Pensadores. Bauru-SP: Nova Cultural,
1996.
24. SEGUNDO, Juan Luis. Que mundo? Que homem? Que Deus? São Paulo:
Paulinas, 1995.
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