Contrarrazões de RR

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL

VICE PRESIDENTE JUDICIAL DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO


DA 5ª REGIÃO.

Autos do processo n° 0000182-87.2019.5.05.0023

VALCILENE OLIVEIRA SIMAS, por seus


advogados e procuradores ao final assinando, nos autos do processo
em epígrafe movido em face de ATAKAREJO DISTRIBUIDOR DE
ALIMENTOS E BEBIDAS S.A, vem perante Vossa Excelência, para,
tempestivamente, apresentar CONTRARRAZÕES ao RECURSO DE
REVISTA, pelas razões de fato e de direito em anexo aduzidas.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Salvador, 23 de agosto de 2022.

GABRIEL DA CUNHA BOMFIM


OAB/BA 33.864
CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE REVISTA

RECORRENTE: ATAKAREJO DISTRIBUIDOR DE ALIMENTOS E


BEBIDAS S.A
RECORRIDO: VALCILENE OLIVEIRA SIMAS

3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região


Relatora Desembargadora Federal LÉA NUNES

EGRÉGIO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO


COLENDA TURMA

DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A Corte Regional deu parcial provimento ao recurso


ordinário interposto pelo recorrido, nos seguintes termos: “DOENÇA
OCUPACIONAL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. A
reclamante pede a reforma da sentença que não reconheceu o
nexo causal entre a doença da qual é portadora e o labor
desenvolvido na Reclamada e, por conseguinte, indeferiu seu
pedido de pagamento de indenização por dano moral. Aduz
que no exercício da função de confeiteira, desempenhada na
reclamada, batia cerca de 36kg de massa para salgados
diariamente, puxava e colocava as pesadas assadeiras no
forno, além de ser responsável pela limpeza do local, o que lhe
ocasionou uma lesão do manguito rotador do ombro direito.
Tem razão. É incontroverso nos autos que a Autora foi
contratada no dia 15 de outubro de 2014 e despedida, sem
justo motivo, em 14 de agosto de 2018. No presente caso, a
responsabilidade é subjetiva e pressupõe a presença de três
elementos: o dano suportado pelo trabalhador, o nexo entre a
doença e o trabalho desenvolvido na empresa e a culpa/dolo
do empregador. Pois bem; a perícia produzida no feito, datada
de 12/07/2019, comprovou, satisfatoriamente,
que a Reclamante é portadora de doença incapacitante , a
qual guarda concausalidade com as atividades laborativas
desempenhadas em favor da empresa Ré. Nesse sentido, vale
conferir a conclusão explicitada no laudo pericial de ID
11ce1ac: HISTORIA DA DOENÇA. A Periciada em 2016
começou a sentir dor no ombro (Direito), mas somente em
2018, quando conseguiu realizar uma Ressonância Magnética
é que foi identificada uma rotura no manguito (28.02.2018).
Em 24.09.2018 foi operada por Dr. Raimundo Lisboa, nesse
período já tinha sido desligada. Após a cirurgia, foi
encaminhada para Fisioterapia. Relata a Periciada que no
ultimo periódico da empresa, a médica sugeriu que a Periciada
procurasse um especialista em ombro, informou também a
Periciada que após a cirurgia, as dores do ombro reduziram
em torno de 50%. Tentou afastamento pelo INSS mais, foi
indeferido o pedido. Entrou com ação judicial. EXAME FÍSICO
ORTOPEDICO: Observa-se cicatriz na região anterior do ombro
(Direito) de + de 6 cm, fato que demostra que o ato da
cirurgia foi pelo método aberto e não por artoscopia. Não
tivemos acesso ao relatório da cirurgia. A Periciada não
consegue elevar o M.S.D para passar por cima da cabeça. Só
conseguindo elevar o OMBRO até a altura de 90º Observamos
também hipotrofia muscular do braço (DIREITO). CONCLUSÃO
A Periciada é portadora de sequela de lesão do Manguito
Rotador do OMBRO (Direito), em fase de reabilitação de
cirurgia, realizada para reparo cirurgico de rotura do
Manguito. Como se não bastasse a conclusão firme adotada
pelo Perito do Juízo, Dr. Flavio Robert Sant'Ana, acerca da
concausalidade, a primeira testemunha ouvida no feito
corroborou, a não mais poder, a tese da reclamante; senão
vejamos: Testemunha do reclamante: Genilson Santos do
Nascimento: "que trabalhou para a Reclamada de setembro de
2012 até maio de 2016 (...) que já ouviu a Reclamante se
queixar que estava sendo prejudicada no braço, em razão de
esforço físico, mas não viu nenhum afastamento da
Reclamante no curso do vínculo; que outras pessoas tinham
queixas parecidas, mas não tem conhecimento de
afastamentos e sequer retorno com restrição; que nem a
confeiteira nem as auxiliares criavam nenhuma receita, que as
receitas eram mandadas pela própria loja. (ID. 8Ab02a3;
grifos aditados). Por outro lado, a Testemunha arrolada pelo
Reclamado nada soube informar sobre a questão ora
examinada. Não adoto, como razão de decidir, o laudo do
Assistente Técnico da Reclamada, Dr Roberto Charles Goés
(ID nº 5451479), pois as provas produzidas no processo me
convencem da existência de concausa na doença da Autora.
Desse modo, não restam dúvidas de que a atividade laboral da
Reclamante foi um agente contributivo da patologia de ombro
da qual é portadora, sendo que o Perito do Juízo foi categórico
ao declarar que, no momento da perícia, a Reclamante ainda
apresentava limitações funcionais em torno de 50%. Ainda
que se admitisse que a Reclamada adotava medidas de
controle visando evitar e minimizar os riscos de acidentes de
trabalho e doenças ocupacionais, conforme alegado, tais
medidas não foram eficazes, já que as patologias da Autora
foram agravadas, progressivamente, durante o vínculo,
culminando com a realização de cirurgia no ombro. Desta
forma, analisando o caderno probatório dos autos, inclusive e
principalmente a prova pericial realizada, constato que as
provas neles produzidas não respaldam o entendimento
adotado em primeira instância. Ora, é certo que o Julgador
não está adstrito às conclusões extraídas de laudo pericial,
como dispõe o art. 479, do novo Código de Processo Civil, uma
vez que, como destinatário da prova, a ele cabe apreciá-la
livremente, desde que apresente os motivos do seu
convencimento. Contudo, em se tratando de questão
estritamente técnica, onde o Juiz padece de conhecimentos
específicos para apurar os fatos, deve decidir com base na
perícia técnica realizada, principalmente quando o laudo é
produzido por profissional competente e probo, cuja
conclusão emitida pautou-se em análise minuciosa das
condições de trabalho a que estava submetida a reclamante. O
dano também ficou comprovado, haja vista que o Perito do
Juízo foi categórico ao declarar que a Reclamante está
incapacitada para o exercício das atividades antes
desempenhadas. De igual sorte, entendo que está
caracterizada a culpa da empresa Ré no momento em que esta
não foi diligente com a saúde da trabalhadora, haja vista que
não proporcionou um ambiente de trabalho saudável, tanto
assim que agravou e/ou desencadeou a patologia
incapacitante da qual a Reclamante é portadora. Presentes,
portanto, os requisitos ensejadores da responsabilização civil
da Reclamada (dano, nexo concausal e culpa), sendo devida a
indenização por danos morais postulada. Em relação ao valor
da indenização a título de danos morais, entendo que esta
deve se mostrar condizente em face da lesão que acometeu o
empregado, harmonizando-se com os propósitos do instituto
jurídico da reparação civil, que não tem o objetivo de ressarcir
ao trabalhador prejuízo de todo incomensurável, mas,
enquanto pena pecuniária e pedagógica que é, impor sanção
ao agressor para que este, atingido no seu patrimônio, possa
se redimir do ato faltoso praticado, além de compensar o
ofendido em pecúnia pelo prejuízo moralmente
experimentado. Verifico, pois, que o valor da indenização deve
ser razoável, não representando enriquecimento sem causa
para o ofendido, mas sim uma forma de dissuadir o causador
do dano à continuidade ou repetição do mesmo procedimento.
Assim sendo, levando em consideração a incapacidade apenas
parcial do Reclamante, e que o trabalho atuou apenas como
concausa para o agravamento de doença preexistente, defiro
o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização
por danos morais, visto que atende perfeitamente aos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Reformo.
REINTEGRAÇÃO NO EMPREGO OU INDENIZAÇÃO
SUBSTITUTIVA Pretende a Recorrente seja declarada a
nulidade de sua despedida e determinada a sua reintegração
ou, se assim não entender, que seja deferido o pagamento da
indenização substitutiva. Tem razão. Inicialmente, esclareço
que embora o art. 118 da Lei nº 8.213/91 estabeleça como
condição para reconhecimento do direito à estabilidade
provisória que o empregado esteja em gozo ou tenha gozado
de auxílio-doença acidentário, tais requisitos não são exigidos
para as situações de incapacidade laboral que tenha sido
comprovadamente desencadeada e/ou agravada pelo
ambiente de trabalho. Isso porque a doença relacionada ao
trabalho tem natureza, em regra, lenta, insidiosa e de gradual
aquisição e manifestação, razão pela qual o não afastamento
legal do empregado por prazo superior a 15 dias, como
também a não-concessão do benefício previdenciário no curso
do contrato de trabalho não excluem o direito previsto no art.
118 da Lei nº 8.213/91, haja vista que estes elementos são
meros acessórios da existência do acidente do trabalho, ou
doença ocupacional devidamente diagnosticada. Ressalto que
a mais alta Corte Trabalhista já pacificou a matéria em
destaque, conforme se infere do item II de sua Súmula nº
378, segundo o qual "São pressupostos para a concessão da
estabilidade o afastamento superior a 15 dias e a conseqüente
percepção do auxílio doença acidentário, salvo se constatada,
após a despedida, doença profissional que guarde relação de
causalidade com a execução do contrato de emprego". Pois
bem; no caso em exame, toda a prova produzida nos autos
demonstrou que a Autora é portadora de lesão do Manguito
Rotador do ombro direito, tendo o trabalho desempenhado em
favor da empresa Ré agravado a referida patologia
(concausa). Fez cirurgia e ainda faz fisioterapia. As limitações
funcionais do ombro direito chega a 50%, como afirmou o Sr
Perito. Mas, como já citado, trata-se de concausa e não ação
direta do trabalho na Reclamada, até porque a Reclamante
laborou antes em outras empresas como confeiteira e auxiliar
de confeitaria. Quando da despedida na Reclamada não estava
recebendo qualquer benefício previdenciário. Assim, entendo
que inexiste estabilidade no emprego, pelo que fica indeferido
o pedido de reintegração ou indenização equivalente.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. PENSÃO MENSAL.
LUCROS CESSANTES Pugna a Reclamante pela reforma da
decisão de primeiro grau no capítulo que indeferiu o
pagamento de indenização a título de danos materiais.
Assiste-lhe parcial razão. Inicialmente, vale conferir a regra
inserta nos artigos 949 e 950 do Código Civil de 2002: "Art.
949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor
indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos
lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum
outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido". "Art. 950.
Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa
exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a
capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença,
incluirá pensão correspondente à importância do trabalho
para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que
a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez". Pois bem;
a indenização por dano material corresponde aos danos
emergentes (despesas com o tratamento) e lucros cessantes
(o que deixou de ganhar), conforme dispõe o artigo 949 do
Código Civil, incluindo a pensão mensal ou paga de uma só
vez, isso porque a reparação deste tipo de dano é a efetiva
reposição da perda material (CC, artigo 950). A obrigação de
indenizar encontra assento no artigo 927 do Código Civil
("Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo"). Dito isso, esclareço que
são absolutamente distintas e autônomas a indenização
acidentária, a cargo da Previdência Social (seguro social
obrigatório), a qual é concedida ao acidentado
independentemente de prova de ato ilícito praticado pelo
empregador, e a indenização prevista no direito comum, na
qual a parte Reclamada foi condenada, sendo que uma não
exclui a outra.Com efeito, o benefício pago pela Previdência
Social está fundamentado na teoria objetiva, pelo que não
depende da caracterização da culpa. Contudo, nada obsta que
o empregado receba, também, a indenização resultante da
responsabilidade civil do empregador, esta, sim, decorrente
de dolo ou culpa. O que se evidencia, portanto, é que se trata
de reparações distintas: uma decorre da teoria do risco, é de
responsabilidade da Previdência Social e tem natureza
compensatória; outra, a responsabilidade civil do empregador,
tem natureza indenizatória e se fundamenta na existência de
dolo ou culpa. Concluo, portanto, que o seguro social
obrigatório, o qual, ressalte-se, também é financiado com as
contribuições do próprio trabalhador, não exonera o
empregador do dever de indenizar o prejuízo causado, quando
concorreu para o resultado, por ação ou omissão.
Ultrapassada tal questão, depuro que o labor desempenhado
pela Reclamante em favor da parte Reclamada atuou como
concausa para o agravamento da doença da qual é portadora,
que a torna parcialmente incapacitada para as atividades
laborais antes desempenhadas, em face das limitações
ocasionadas pela referida patologia. Como consta do laudo
pericial, a Autora apresenta limitações funcionais em torno de
50% do ombro direito. Indefiro o pedido de indenização
material na modalidade de lucros cessantes porque a
Reclamante não se afastou do trabalho no curso do seu
vínculo empregatício, nem recebeu benefício previdenciário. A
indenização material na modalidade de pensão será
proporcional ao dano físico efetivamente sofrido e a concausa
do trabalho, eis que a incapacidade da Autora é relativa e se
dá apenas em relação ao braço direito. Mas, defiro o
pagamento de pensão, em parcela única, nos termos do art.
950 do Código Civil, que ora fixo no valor correspondente a
20% da maior remuneração percebida pela Reclamante. O
Calculo será da data da despedida, em 14/08/2018, até os 75
anos de idade da Autora, média brasileira, com o deságio de
30%, diante do adiantamento do pagamento. Atualização
monetária nos termos da decisão do Supremo Tribunal
Federal. DANOS EMERGENTES Não assiste razão à Reclamante
quando requer o deferimento do pleito em destaque. Esclareço
que a matéria atinente aos danos emergentes, porque era
objeto de dissenso entre as Turmas deste Regional, foi objeto
de incidente de uniformização de jurisprudência, solvido por
intermédio da Súmula nº 37, que dispõe o seguinte: "DANOS
EMERGENTES. INDENIZAÇÃO DAS DESPESAS ATUAIS E
FUTURAS INDISPENSÁVEIS AO TRATAMENTO DA VÍTIMA DE
DOENÇA OCUPACIONAL. NECESSIDADE DE PROVA NOS
AUTOS DO EFETIVO PREJUÍZO MATERIAL. ARTIGOS 402 E 949
DO CÓDIGO CIVIL" (grifos aditados).Assim, porque a situação
em exame se subsume perfeitamente ao que foi decidido
sobre a matéria ora controvertida por este Regional na sua
composição plenária, que vincula os seus integrantes, entendo
que não é possível a prova dos gastos futuros com despesas,
sendo que o seu deferimento imprescinde de prova nos autos
dos gastos realizados pela Reclamante decorrentes do seu
tratamento para recuperação da patologia da qual é
portadora. Como não há prova nos autos das despesas
mencionadas pela trabalhadora, indevido o deferimento do
pleito em destaque. Mantenho. ACÚMULO DE FUNÇÃO. A
Reclamante mostra-se insatisfeita com o indeferimento do
pedido de diferenças salariais decorrente do acúmulo
funcional relatado na inicial. Sem razão. Tendo em vista que a
parte Ré negou o fato constitutivo alegado na inicial, passou a
ser da Autora o ônus de provar que exercia, além das
atividades inerentes ao cargo para o qual foi contratada, qual
seja, Confeiteira, também desempenhava as atividades de
Cozinheira e Agente de Limpeza, na forma disposta nos arts.
818 da CLT e 373, I, do CPC. Ocorre que a Recorrente não se
desincumbiu do ônus probatório que lhe competia, haja vista
que nenhuma prova, seja documental ou testemunhal, foi
produzida nesse sentido. De fato, observe que as testemunhas
inquiridas em Juízo em nenhum momento comprovaram o
acúmulo de funções relatado na exordial. De mais a mais,
segundo disposição contida no parágrafo único do art. 456 da
CLT, "A falta de prova ou inexistindo cláusula expressa e tal
respeito, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e
qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal". Daí
se infere que o empregado se obriga a prestar qualquer
atividade compatível com a sua condição pessoal. O
empregado aliena a sua força de trabalho, cabendo ao
empregador, que assume os riscos inerentes à atividade
econômica, dirigir a prestação dos serviços. Trata-se de
consequência lógica do jus variandi. Desse modo, ainda que
fosse comprovado o exercício das funções relatadas na inicial,
seria imperiosa para a configuração do acúmulo funcional a
comprovação de que a função acometida ao empregado não
comporta a atividade atribuída a função diversa, de acordo
com a estrutura organizacional da empresa. Não havendo esta
comprovação e caso as atividades desenvolvidas sejam
congêneres, aplica-se o dispositivo legal acima transcrito,
presumindo-se que a trabalhadora se obrigou a todo e
qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal. Nada
a reformar. Pelo exposto, conheço e DOU PROVIMENTO
PARCIAL ao Recurso Ordinário para: 1) deferir o pagamento
de indenização por danos morais, fixando-a em R$ 10.000,00
(dez mil reais), com correção monetária a contar da data da
publicação desta decisão; 2) pensão, em parcela única, no
valor correspondente a 20% da maior remuneração percebida
pela Reclamante, calculado da data da despedida, em
14/08/2018, até os 75 anos de idade da Autora,com o deságio
de 30%, diante do adiantamento do pagamento; e 3)
Atualização monetária nos termos da decisão do Supremo
Tribunal Federal, na decisão das ADCs nºs 58 e 59 e ADINs
nºs 5.867 e 6.021, quando da liquidação do julgado. Invertido
o ônus da sucumbência, passando a ser da parte Ré o
pagamento das custas processuais, no valor de R$ 600,00,
calculadas sobre o valor da causa de R$ 30.000,00, ora
arbitrado apenas para esse fim. Acordam os Excelentíssimos
Desembargadores integrantes da Terceira Turma do Tribunal
Regional do Trabalho da 5ª Região, na 041ª Sessão
Extraordinária Virtual, aberta às 09 horas do dia 16.08.2021 e
encerrada às 09 horas do dia 20.08.2021, com pauta
divulgada no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, edição
do dia 04.08.2021, sob a Presidência, em exercício, do
Excelentíssimo Desembargador do Trabalho LUIZ TADEU
LEITE VIEIRA, com a participação das Excelentíssimas
Desembargadoras VÂNIA CHAVES e LÉA NUNES, bem como
do Excelentíssimo representante do Ministério Público do
Trabalho, por maioria, conhecer e DAR PROVIMENTO
PARCIAL ao Recurso Ordinário para: 1) deferir o pagamento
de indenização por danos morais, fixando-a em R$ 10.000,00
(dez mil reais), com correção monetária a contar da data da
publicação desta decisão; 2) pensão, em parcela única, no
valor correspondente a 20% da maior remuneração percebida
pela Reclamante, calculado da data da despedida, em
14/08/2018, até os 75 anos de idade da Autora,com o deságio
de 30%, diante do adiantamento do pagamento; e 3)
Atualização monetária nos termos da decisão do Supremo
Tribunal Federal, na decisão das ADCs nºs 58 e 59 e ADINs
nºs 5.867 e 6.021, quando da liquidação do julgado. Invertido
o ônus da sucumbência, passando a ser da parte Ré o
pagamento das custas processuais, no valor de R$ 600,00,
calculadas sobre o valor da causa de R$ 30.000,00, ora
arbitrado apenas para esse fim”.
O v. acórdão deve ser mantido nos termos acima
reproduzidos.

Vejamos:

DA VIOLAÇÃO AO ARTIGO 896 §1º-A DA CLT – DA AUSÊNCIA


DE INDICAÇÃO DO TRECHO DO V. ACÓRDÃO PROFERIDO PELA
CORTE REGIONAL QUE CONSUBSTANCIA O
PREQUESTIONAMENTO DA CONTROVÉRSIA OBJETO DO
RECURSO DE REVISTA – MANUTENÇÃO DA R. DECISÃO.

O recorrente interpôs Recurso de Revista, alegando


violação à Súmula do TST e aos artigos 833 da CLT, artigo 458 do
CPC, artigo 93, IX da CF/88, artigos 141 e artigo 489, II e III/NCPC,
artigos 186 e 927 do CC/02, artigo 374, inciso II e artigo 389 do
CPC/15 e artigo 818 da CLT c/c 373, I do CPC, artigo 223-G da CLT,
artigo 884 do CC, inciso v do art. 5º da CF e artigos 944 e 945 do
Código Civil.

Inviável o processamento do recurso de revista que


se visa a destrancar quanto ao tema em apreço ante a ausência de
demonstração do prequestionamento, pressuposto de admissibilidade
estabelecido expressamente no art. 896, § 1º- A, I, da CLT, com
redação dada pela Lei nº 13.015/2014.

A Lei nº 13.015/2014 exacerbou os pressupostos


intrínsecos de admissibilidade do recurso de revista, como se extrai
do novel art. 896, § 1º-A, da CLT.
O pressuposto e ônus da recorrente consistente em
"indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o
prequestionamento" não se atende meramente por meio de menção
ou referência à folha do acórdão em que se situa, tampouco mediante
sinopse do acórdão, no particular.

A exigência em apreço traduz-se em apontar a


presença do prequestionamento (salvo vício nascido no próprio
julgamento) e comprová-lo mediante transcrição textual do tópico
nas razões recursais.

Somente assim se atinge a patente finalidade da lei:


propiciar ao relator do recurso de revista no TST maior presteza na
preparação do voto ao ensejar que, desde logo, confronte o trecho
transcrito com o aresto acaso apontado como divergente, ou com a
súmula cuja contrariedade acaso é alegada, ou a violação sustentada
de forma analítica pela recorrente.

De sorte que inadmissível recurso de revista


interposto sob a égide da Lei nº 13.015/2014 (decisões publicadas a
partir de 22/9/2014) em que a parte não cuida de transcrever o
trecho do acórdão regional em que repousa o prequestionamento da
controvérsia transferida à cognição do TST.

Na espécie, examinando-se as razões do recurso de


revista, constata-se que a recorrente efetuou a transcrição integral
do acórdão regional no tópico “Período sem registro” e a ausência de
transcrição do trecho da decisão regional que consubstancia a
controvérsia.
Nesse sentido, é de entendimento deste Egrégio
Tribunal: "AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM
RECURSO DE REVISTA. LICITUDE DA TERCEIRIZAÇÃO.
RECURSO DE REVISTA QUE NÃO ATENDE AO REQUISITO DO
ARTIGO 896, § 1º-A, I, DA CLT. LEI Nº 13.015/2014.
TRANSCRIÇÃO INTEGRAL DO ACÓRDÃO REGIONAL. A
jurisprudência desta colenda Corte Superior tem perfilhado o
entendimento de que, após a vigência da Lei nº 13.015/2014,
os recursos de revista tão somente serão conhecidos se
transcreverem o trecho da decisão regional impugnada. Com
efeito, tal requisito foi erguido à estatura de pressuposto
intrínseco de admissibilidade do recurso de revista. No caso
em tela, não foi atendido o requisito do artigo 896, § 1º-A, I,
da CLT, incluído pela Lei nº 13.015/14, porque a parte
agravante, nas razões de seu recurso de revista, não
transcreveu trecho da decisão recorrida com os fundamentos
do TRT para dirimir a controvérsia, mas sua transcrição
integral. Assim sendo, o recurso de revista não alcança
processamento, confirmando-se a decisão agravada.
APLICAÇÃO DA LEI Nº 13.429/2017. APELO
DESFUNDAMENTADO. SÚMULA Nº 422, I, DO TST. Caberia à
parte agravante em sua minuta combater, sobretudo, o óbice
imposto pela decisão agravada referente ao não cumprimento
do disposto no artigo 896, § 1º-A, I, da CLT, diante da
ausência de transcrição do trecho do acórdão regional que
consubstancia o prequestionamento da controvérsia que
busca dirimir. No entanto, em sede de agravo, a parte tão
somente reitera as suas razões de mérito. Dessa forma,
conclui-se que a parte não investe, de forma objetiva, contra
os fundamentos da decisão monocrática que negou
seguimento ao agravo de instrumento. Trata-se, por
conseguinte, de agravo totalmente desprovido de fundamento,
pressuposto extrínseco de admissibilidade de qualquer
recurso, cujo atendimento supõe necessariamente
argumentação visando a evidenciar o equívoco do despacho
denegatório, de modo a infirmá-lo. Incide, no caso, o óbice da
Súmula nº 422 deste Tribunal Superior do Trabalho. Agravo
conhecido e desprovido " (Ag-AIRR-1116-90.2015.5.06.0012, 3ª
Turma, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT
06/03/2020).

Ausente a demonstração do prequestionamento,


incide em óbice à admissibilidade do recurso de revista, devendo o v.
acórdão deve ser integralmente mantido.

DO NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO DE REVISTA - DA


AUSÊNCIA DE TRANSCENDÊNCIA DO RECURSO DE REVISTA -
INDICADOR NÃO DEMONSTRADO

O presente recurso de revista não deve ser


conhecido.

O recorrente não logra acessar a via recursal de


natureza extraordinária, pois a admissibilidade do recurso de revista
interposto na vigência da Lei nº 13.467/2017 está sujeita a
demonstração de transcendência do recurso de revista, conforme
previsto no art. 896-A da CLT e nos artigo 246 e 247 do RI do TST.
Verifica-se que os temas impugnados não oferecem
transcendência em relação aos reflexos gerais de natureza
econômica, política, social ou jurídica, por não constituir questão
nova em torno da interpretação da legislação trabalhista,

O recurso de revista interposto não tem


transcendência, na forma do artigo 896-A, §3º, da CLT.

Desta forma, diante da ausência de transcendência


da causa, nos termos dos artigos 896-A, § 5º, da CLT e 118 inciso X
do RI do TST, deve ser negado seguimento ao recurso de revista.

DA INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS DISPOSITIVOS


INDICADOS. ÓBICE DA SÚMULA Nº 126 DESTA EGRÉGIA
CORTE.

O recorrente pretende alterar o julgado sob o


fundamento que as provas produzidas no processo me convencem da
existência de concausa na doença da recorrida.

Narra que o presente caso se trata de patologia


classificada como ocupacional, tendo sido reconhecida a culpa da
reclamada e a inexistência de incapacidade laboral total e definitiva
da Reclamante.

Alega que fora comprovado nos autos que a


Recorrente não fora a causadora da patologia, que a lesão
identificada no laudo pericial se deu por força de procedimento
cirúrgico e que não há incapacidade total, muito menos permanente.

Dessa forma, afirma que houve violação aos artigos


833 da CLT, artigo 458 do CPC, artigo 93, IX da CF/88, artigos 141 e
artigo 489, II e III/NCPC, artigos 186 e 927 do CC/02, artigo 374,
inciso II e artigo 389 do CPC/15 e artigo 818 da CLT c/c 373, I do
CPC, artigo 223-G da CLT, artigo 884 do CC, inciso v do art. 5º da CF
e artigos 944 e 945 do Código Civil.

Nesse contexto, não obstante a irresignação


da recorrente, incide o óbice da Súmula 126 do TST, pois
eventual alteração do entendimento do v. acórdão recorrido,
demandaria, inevitavelmente, a incursão na seara fático-
probatória dos autos.

O recurso não pode ser admitido, visto que o v.


acórdão Regional, ao analisar a matéria, baseou-se no
conjunto fático-probatório dos autos, e para se chegar a
entendimento diverso, necessário seria o revolvimento de
toda prova apresentada, fato obstaculizado pelos termos do
disposto na Súmula nº 126 desta Egrégia Corte.

Trata-se de acidente de trabalho típico em que as


condições de labor, contribuíram diretamente para a lesão sofrida
pela obreira durante o pacto laboral (quando você ergue os braços
sobre a cabeça ou puxa.
A recorrente por sua vez, quedou-se inerte,
quando deveria emitir a CAT nos termos da Lei de Benefícios.

NECESSÁRIO DIZER QUE O PERITO FOI


CATEGORICO AO AFIRMAR QUE "Se a lesão que a levou a cirurgia
não foi causada diretamente pelo labor exercido, na
Reclamada, este de qualquer forma, foi um fator contributivo
para o agravamento do quadro". Inclusive, em resposta aos
quesitos formulados pela própria Recorrida, continuou a
pontuar que:

18. Queira o Sr. Perito informar se o Reclamante


foi considerada apta nos exames ocupacionais a
que se submeteu com o médico do trabalho.

RESPOSTA: Os exames periódicos sempre são


apenas clínicos, mas no último periódico a própria
medica da empresa Reclamada, sugeriu que a
Periciada procurasse um profissional especialista
em OMBRO.

19.Informe o Sr. Perito, após realizar o exame


clínico, se a Reclamante está incapaz para o
trabalho.

RESPOSTA: Sim - uma vez que a Periciada ainda


não consegue fazer todos os movimentos do
ombro (Direito)."
Como se não bastasse a conclusão firme adotada
pelo Perito do Juízo, Dr. Flavio Robert Sant'Ana, acerca da
concausalidade, a primeira testemunha ouvida no feito corroborou, a
não mais poder, a tese da recorrida; senão vejamos:

Testemunha do reclamante: Genilson Santos do


Nascimento: "que trabalhou para a Reclamada de setembro de
2012 até maio de 2016 (...) que já ouviu a Reclamante se
queixar que estava sendo prejudicada no braço, em razão de
esforço físico, mas não viu nenhum afastamento da
Reclamante no curso do vínculo; que outras pessoas tinham
queixas parecidas, mas não tem conhecimento de
afastamentos e sequer retorno com restrição; que nem a
confeiteira nem as auxiliares criavam nenhuma receita, que as
receitas eram mandadas pela própria loja. (ID. 8Ab02a3; grifos
aditados).

Por outro lado, a Testemunha arrolada pelo


Reclamado nada soube informar sobre a questão ora examinada.

Conforme brilhantemente destacado pela I.


Relatora, a perícia produzida no feito, datada de 12/07/2019,
comprovou, satisfatoriamente, que a Reclamante é portadora de
doença incapacitante, a qual guarda concausalidade com as
atividades laborativas desempenhadas em favor da empresa
recorrente.

Portanto, pela análise detida da prova oral colhida


sob o crivo do contraditório, bem como a prova pericial juntada aos
autos, presentes, portanto, os requisitos ensejadores da
responsabilização civil da Reclamada

Dessa forma, eventual alteração do entendimento


do v. acórdão recorrido, demandaria, inevitavelmente, a incursão na
seara fático-probatória dos autos.

Portanto, deverá ser mantido o v. acórdão.

DO PEDIDO

Diante do exposto pede o recebimento e


processamento da presente, devendo o V. Acórdão proferido pela
Corte Regional ser integralmente mantido.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Salvador, 23 de agosto de 2022.

GABRIEL DA CUNHA BOMFIM


OAB/BA 33.864

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