Arqueologia Brasileira EAD

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Arqueologia Brasileira

ARQUEOLOGIA
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
Núcleo de Ensino a Distância

Créditos e Copyright

D812ar DUARTE, Claudio W.G.

Arqueologia Brasileira / Claudio Walter Gomez Duarte – Santos, 2023.

132 f.

Universidade Metropolitana de Santos, Bacharelado em Arqueologia, 2021.

1. Arqueologia Brasileira. 2. Pré-História Brasileira. 3. Arqueologia


Histórica Brasileira.

CDD 913.56

Vanessa Laurentina Maia


Crb8 71/97
Bibliotecária UNIMES

Este curso foi concebido e produzido pela UNIMES Virtual. Eventuais marcas aqui
publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.

A UNIMES Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste


curso oriundo da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.

É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato.

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SUMÁRIO

Aula 01_Introdução à Arqueologia Brasileira ........................................................... 4


Aula 02_Historiografia da Arqueologia e Proteção ao Patrimônio Cultural Brasileiro
................................................................................................................................13
Aula 03_Teoria, Métodos e Técnicas em Arqueologia Brasileira ............................20
Aula 04_Arqueologias Regionais Brasileiras ...........................................................32
Aula 05_Temas Recorrentes em Arqueologia Brasileira .........................................40
Aula 06_Arqueologias Praticadas no Brasil .............................................................48
Aula 07_Descobertas mais Conhecidas em Arqueologia Brasileira ........................60
Aula 08_Relação da Arqueologia Brasileira com a Arqueologia Sul-Americana .....65
Aula 09_Arqueologia Pré-Colonial do Brasil............................................................75
Aula 10_Arqueologia Colonial do Brasil ..................................................................81
Aula 11_Arqueologia Imperial do Brasil...................................................................87
Aula 12_Arqueologia Republicana do Brasil ...........................................................92
Aula 13_Arqueologia e as Culturas Indígenas Brasileiras .....................................100
Aula 14_Arqueologia Urbana do Brasil..................................................................106
Aula 15_Arqueologia Subaquática e Marítima do Brasil........................................112
Aula 16_Dispositivos Legais de Preservação e Perspectivas e Desafios para o
Futuro da Arqueologia Brasileira ...........................................................................120

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Aula 01_Introdução à Arqueologia Brasileira


Palavras-chave: história do Brasil; metodologia; tipos de sítios; patrimônio cultural.

Figura 1 – Arqueólogos.

Fonte: Disponível em: https://circuitodasgrutas.com.br/luzia-a-primeira-brasileira-foi-


encontrada-no-circuito-das-grutas/ Acesso em 06 nov. 2023.

Descrição de imagem: À esquerda, a arqueóloga A. L. Emperaire e à direita, o arqueólogo e


antropólogo Walter Neves com o crânio de Luzia com cerca de 11.500 anos. Escavado em
Lapa Vermelha, Lagoa Santa, Minas Gerais.

1.1 Definição e Escopo da Disciplina

A Arqueologia Brasileira é uma disciplina multidisciplinar, interdisciplinar e


transdisciplinar que se dedica à investigação e compreensão da história e cultura do
Brasil por meio do estudo de vestígios materiais em contextos arqueológicos. Esta
área do conhecimento desempenha um papel fundamental na reconstrução da
trajetória do país, que abarca desde as culturas indígenas pré-coloniais até os

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tempos coloniais e mais recentemente republicanos. Nesta primeira aula,


abordaremos a definição e o escopo da Arqueologia Brasileira, oferecendo uma
visão panorâmica de seus principais objetivos e métodos de pesquisa.
A Arqueologia Brasileira é a disciplina que se dedica à investigação e
interpretação dos vestígios materiais deixados por sociedades passadas no território
brasileiro. Esses vestígios incluem artefatos, estruturas, sítios arqueológicos e outros
elementos que proporcionam insights valiosos sobre a cultura, tecnologia, economia
e estilo de vida das populações que habitaram o Brasil ao longo dos séculos.
O principal objetivo da Arqueologia Brasileira é acessar a história e a
diversidade cultural do Brasil, contribuindo para uma compreensão aprofundada das
raízes e identidades nacionais. Além disso, essa disciplina busca estabelecer
conexões entre diferentes grupos étnicos e culturais que coexistiram ou interagiram
no território brasileiro, analisando os processos de transformação ao longo do tempo.
A pesquisa arqueológica no Brasil é caracterizada pela sua complexidade
devido à sua grande diversidade cultural, à vasta extensão geográfica de um país
com dimensões continentais e à diversidade de paisagens e ecossistemas. A
Arqueologia Brasileira se divide em duas grandes áreas: a Arqueologia Pré-Histórica
ou Pré-Colonial e a Arqueologia Histórica, que compreende o período que vai desde
a colonização do Brasil até o presente. Cada uma dessas áreas se concentra em
períodos e contextos específicos, explorando os diferentes aspectos da história
brasileira.
A Arqueologia Brasileira desempenha um papel essencial na preservação do
patrimônio cultural e arqueológico do país. Através da identificação, documentação
e proteção de sítios arqueológicos, a disciplina contribui para a conservação do
legado histórico e cultural do Brasil, com o objetivo de garantir que as gerações
atuais e futuras tenham acesso de modo adequado à sua herança. A articulação de
abordagens científicas, como a datação por carbono-14 e as análises laboratoriais,
juntamente com investigações de campo minuciosas, permite aos arqueólogos
percorrer a trajetória das sociedades do passado e compreender como elas se
adaptaram e interagiram com o meio ambiente. O papel da Arqueologia Brasileira
não se limita apenas a aumentar o nosso conhecimento histórico, mas também tem
o potencial de contribuir para a construção de uma identidade nacional mais sólida.

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1.2 Objetivos da Disciplina

Na primeira aula do curso de graduação em Arqueologia Brasileira, ao


explorarmos os objetivos fundamentais desta disciplina, aprofundaremos em sua
finalidade e propósito. A Arqueologia Brasileira, além de buscar compreender a
história e a cultura do Brasil, desempenha um papel de suma importância no
desenvolvimento de habilidades críticas e analíticas, promovendo a cidadania e o
sentimento de preservação do patrimônio cultural (material e imaterial).
Um dos principais objetivos é enfatizar a necessidade de abordar questões
históricas e arqueológicas com rigor científico. Isso envolve a aplicação de métodos
e técnicas de pesquisa arqueológica, tais como escavações, análises laboratoriais e
datação de artefatos. A Arqueologia Brasileira promove a interpretação crítica das
evidências materiais e a construção de argumentos bem embasados, apoiados no
diálogo constante entre teoria, métodos e técnicas, articulados com os dados
empíricos.
Outro objetivo é proporcionar uma compreensão profunda da diversidade
cultural e histórica do Brasil. Ao estudarmos diferentes períodos, contextos e regiões,
temos a oportunidade de melhor entender a complexidade da formação da sociedade
brasileira e a influência das culturas indígenas, europeias, africanas e outras na
construção da identidade nacional. A Arqueologia Brasileira busca, assim, subsídios
para uma visão ampla e inclusiva da história do país.
A disciplina também objetiva estimular a reflexão e aprimorar a capacidade de
análise dos estudantes. Ao enfrentarem desafios interpretativos, como a
reconstituição de práticas culturais a partir de fragmentos materiais, os alunos
desenvolvem habilidades analíticas valiosas que são transferíveis para diversas
áreas de estudo e inclusive para a vida cotidiana.
A Arqueologia Brasileira lança as bases para a preservação do patrimônio
cultural e arqueológico do Brasil, conscientizando os alunos sobre a importância da
conservação de sítios arqueológicos e artefatos, a disciplina promove uma atitude
responsável em relação à herança histórica do país, garantindo que as gerações
atuais e futuras possam continuar a explorar e aprender com essas evidências do
passado.

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Ao longo deste curso, os objetivos da disciplina ‘Arqueologia Brasileira’


abrangem: investigação histórica e arqueológica, desenvolvimento de habilidades
críticas e interpretativas, o respeito pela diversidade cultural e a proteção do
patrimônio cultural do Brasil.

1.3 Importância da Arqueologia para a Compreensão da História


Brasileira

A arqueologia é uma disciplina que desempenha um papel fundamental na


compreensão da história do Brasil. A sua abordagem científica é valiosa para revelar
os vestígios antrópicos “enterrados” sob a superfície do nosso país, desvendando as
camadas do passado que na maioria das vezes não são registradas pelas fontes
escritas. É de suma importância a arqueologia para a compreensão da história
brasileira, e este texto tratará como essa disciplina contribui para a construção de
uma imagem mais completa e fidedigna do nosso passado.
A arqueologia, com seus métodos, nos permite acessar informações que não
estão disponíveis em documentos históricos. Enquanto os registros escritos muitas
vezes relatam eventos políticos, vidas de pessoas famosas e narrativas oficiais, a
arqueologia se volta também para a vida cotidiana, as práticas culturais e as
populações marginalizadas ao longo da história. Escavações arqueológicas revelam
artefatos, estruturas e vestígios materiais que oferecem dados importantes sobre a
vida das pessoas, suas crenças, suas tecnologias e suas práticas sociais.
É papel da arqueologia também questionar as narrativas históricas existentes.
Muitas vezes, a história oficial do Brasil ficou comprometida por vieses e ideologias
políticas. Através da pesquisa arqueológica, podemos questionar e expandir essas
narrativas, apresentando uma visão o mais verídica possível e ampla do passado.
Isso é particularmente relevante quando se trata de questões delicadas, como a
história dos povos indígenas, da escravidão e da resistência cultural.
Ao documentar e estudar sítios arqueológicos, a disciplina contribui para
proteger e conservar locais de significado histórico. Através de pesquisas
cuidadosas e da promoção da conscientização sobre a importância desses locais, a
arqueologia desempenha um papel fundamental na preservação da herança cultural
do Brasil.

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A arqueologia é uma ciência imprescindível para compreendermos a história


brasileira como um todo, tanto a pré-história como a história. Ela nos proporciona
uma visão mais abrangente sobre o passado, colocando em xeque narrativas
históricas tendenciosas e fornecendo um conhecimento valioso e mais acertado
sobre as vidas das pessoas comuns. A importância da arqueologia reside, sobretudo,
no compromisso dos arqueólogos em reconstituir um relato histórico autêntico e
desempenha um papel significativo em nossa compreensão da história brasileira.

1.4 Abordagens Metodológicas

A forma como abordamos a pesquisa arqueológica no Brasil é variada. Uma


das abordagens metodológicas é a pesquisa de campo extensiva. O Brasil tem
registrado milhares de sítios arqueológicos, que variam desde as mais antigas
aldeias indígenas a sítios urbanos e industriais. A pesquisa de campo envolve
escavações, levantamentos geofísicos e estudos de superfície em larga escala. Essa
abordagem tem sido fundamental para a construção de dados a partir de evidências
materiais sobre a ocupação e desenvolvimento das culturas no território brasileiro.
A arqueologia histórica tem uma abordagem metodológica importante. Ela se
concentra na análise de documentos históricos de todo tipo, registros coloniais e
fontes escritas para dialogar com os vestígios materiais. A combinação de evidências
materiais e documentos históricos permite uma compreensão mais abrangente e
contextualizada da história brasileira.
Outra abordagem metodológica é a da arqueologia subaquática, dada a
extensa costa brasileira e sua conexão com a história marítima e fluvial. Os sítios
subaquáticos revelam naufrágios, estruturas submersas e artefatos que oferecem
informações sobre a exploração, o comércio e as atividades marítimas ao longo dos
séculos. Diversos sítios pré-históricos também fazem parte dos estudos da
arqueologia subaquática, por exemplo, sambaquis e demais sítios que se encontram
debaixo d’água.
A arqueologia pública desempenha um papel significativo em termos
metodológicos, envolvendo as comunidades locais em programas de educação e
divulgação patrimonial. Essa abordagem permite que a arqueologia seja mais
acessível e relevante para a sociedade. Sem dúvida, é uma das mais promissoras

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ferramentas de que dispomos para a promoção da preservação do patrimônio


cultural.
Em suma, as abordagens metodológicas em arqueologia no contexto
brasileiro são diversas e complementares. Elas incluem pesquisa de campo
extensiva, intensiva, pesquisa de laboratório e gabinete. Diversas temáticas
compõem o amplo campo de estudos da arqueologia brasileira, tais como a
arqueologia pré-histórica, a arqueologia histórica, a arqueologia subaquática e a
arqueologia pública, para citar apenas algumas. A combinação dessas abordagens
metodológicas tem contribuído para uma maior compreensão da história
multifacetada do Brasil.

1.5 Tipos de Sítios Arqueológicos

Uma parte essencial da pesquisa arqueológica envolve a identificação de


diferentes tipos de sítios arqueológicos, que podem variar amplamente em termos
de idade, localização e conteúdo. Os mais comuns tipos de sítios arqueológicos
encontrados no Brasil são:
Sítios Pré-Históricos:
Sambaquis: Montes feitos de conchas ou concheiros, encontrados
principalmente na costa brasileira, mas também em contextos fluviais, são vestígios
de populações pré-históricas. Esses contêm artefatos de rocha, ossos e conchas
que fornecem informações sobre as práticas de subsistência e organização social.
Abrigos Rochosos: Esses sítios muitas vezes contêm pinturas rupestres,
como as encontradas na Serra da Capivara, que remontam a milhares de anos. As
pinturas evidenciam a expressão artística e cultural das populações antigas.
Sítios Históricos:
Engenhos e Fazendas: Sítios associados à colonização e à produção de
açúcar, café e outros produtos agrícolas. Esses locais oferecem informações sobre
as práticas agrícolas, sociais e econômicas durante o período colonial.
Fortalezas e Estruturas Militares: Estruturas como o Forte de São Marcelo em
Salvador são exemplos de sítios arqueológicos que remontam a conflitos históricos,
revelando estratégias de defesa e ocupação.

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Sítios Subaquáticos:
Naufrágios: O litoral brasileiro possui inúmeros naufrágios de navios coloniais
e mercantes que fornecem informações sobre o comércio marítimo e as rotas de
navegação do passado.

Sítios Funerários:
Sítios de Enterramentos Indígenas: Tais locais revelam práticas funerárias,
rituais religiosos e as crenças dessas populações que habitaram o Brasil antes e
depois da colonização.

Sítios Arqueológicos Urbanos:


Centros Históricos: Cidades coloniais como Ouro Preto e o centro antigo de
Salvador são considerados, em certo sentido, sítios arqueológicos. Normalmente,
associamos a palavra "sítio arqueológico" a locais que, pelo menos parcialmente,
foram abandonados, e essas cidades mencionadas como exemplo continuam em
uso. Eles apresentam uma mistura de arquitetura colonial e estruturas
arqueológicas, fornecendo informações sobre a vida urbana no Brasil colonial.

Sítios Industriais:
Fábricas e Estruturas de Produção: Sítios industriais, como engenhos de
açúcar e antigas fábricas têxteis, revelam as técnicas de produção e as condições
de trabalho do período colonial e pós-independência.
Esses são exemplos de tipos de sítios arqueológicos encontrados no Brasil.
Cada tipo de sítio oferece uma perspectiva singular sobre a história, cultura e modo
de vida das populações que moldaram a nação brasileira ao longo dos séculos. A
pesquisa desses sítios é essencial para o desenvolvimento da Arqueologia Brasileira
e para uma compreensão abrangente e profunda da nossa herança cultural.

1.6 Patrimônio Cultural segundo o IPHAN

O Patrimônio Cultural, como entendido e protegido pelo Instituto do Patrimônio


Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Brasil, é uma parte fundamental da

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identidade nacional e um reflexo da diversidade cultural do país. O IPHAN


desempenha um papel crucial na preservação e valorização do patrimônio cultural,
abrangendo bens materiais e imateriais que contam a história do Brasil.
O IPHAN entende o Patrimônio Cultural como o conjunto de bens culturais e
naturais que, referindo-se a uma vivência de tradição, são testemunhos de sua
evolução e revelam sua identidade cultural. Esses bens compreendem as formas de
expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e
tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais; e os conjuntos urbanos e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico.
Esse entendimento abrange uma ampla gama de elementos que são
fundamentais para a pesquisa arqueológica no Brasil:
Sítios Arqueológicos: Incluindo sambaquis, pinturas rupestres, enterramentos
indígenas e outros vestígios pré-históricos, são protegidos como parte do Patrimônio
Cultural do Brasil. Eles são testemunhos do desenvolvimento das sociedades que
habitaram o território ao longo dos milênios.
Bens Materiais: Artefatos arqueológicos, como cerâmica, ferramentas de
rocha e objetos de uso cotidiano, são considerados bens culturais e, como tal, são
protegidos pelo IPHAN.
Conjuntos Urbanos: Cidades históricas e centros urbanos coloniais, como
Ouro Preto e Paraty, são protegidos como parte do patrimônio cultural. Eles são
espaços que revelam a história da colonização e da ocupação do Brasil.
Bens Imateriais: Manifestações culturais e conhecimentos tradicionais,
incluindo práticas religiosas, rituais, danças, festivais e histórias, fazem parte do
Patrimônio Cultural Imaterial e são igualmente valorizados.
Documentos e Obras: Documentos históricos, como manuscritos e registros,
bem como obras de arte, são considerados parte do Patrimônio Cultural e são
protegidos e preservados.
O IPHAN desempenha um papel essencial na preservação desses elementos
do Patrimônio Cultural, garantindo que sejam estudados e mantidos para as
gerações futuras. Isso envolve a concessão de autorizações para pesquisas

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arqueológicas, a restauração e conservação de bens culturais e a promoção da


conscientização pública sobre a importância da herança cultural brasileira.
Para a Arqueologia Brasileira, como disciplina, compreender o que é
considerado Patrimônio Cultural segundo o IPHAN é fundamental. Essa definição
orienta o trabalho dos arqueólogos, ajudando a proteger e preservar as riquezas
culturais e históricas do Brasil.

REFERÊNCIAS

FUNARI, P. P. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2012.

Neves, E. G. Existe algo que se possa chamar de "arqueologia brasileira"?.


Estudos Avançados, 29, 83, p. 7-17, 2015.

PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Brasília: Editora UNB, 1992.

PROUS, A. Arqueologia Brasileira: a pré-história e os verdadeiros colonizadores.


Mato Grosso: Carlini e Caniato Editorial, 2019.

ROSSANO, L.B; SOUZA, M.C. de. (Org.). Normas e Gerenciamento do


Patrimônio Arqueológico. São Paulo: IPHAN, 2010.

SYMANSKI, L.C.P; SOUZA, M.A.T. (Org.). Arqueologia Histórica Brasileira. Belo


Horizonte: Editora UFMG, 2022.
Sites
Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
http://portal.iphan.gov.br/

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Aula 02_Historiografia da Arqueologia e Proteção ao Patrimônio


Cultural Brasileiro
Palavras-chave: marcos históricos; historiografia; formação da disciplina; IPHAN.

Figura 2 - Portal do IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Fonte: Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ Acesso em 06 nov. 2023.

2.1 Desenvolvimento da Arqueologia: Marcos Históricos

A historiografia da arqueologia no Brasil é um campo essencial para


compreender o desenvolvimento desta disciplina. Ao investigarmos os marcos
históricos que moldaram a arqueologia no Brasil, podemos traçar uma linha do tempo
que reflete não apenas o desenvolvimento científico, mas também as
transformações sociais e políticas que impactaram a pesquisa arqueológica no país.
A história da “arqueologia” no Brasil remonta aos primeiros exploradores
europeus que chegaram aqui no século XVI. Esses colonizadores já estavam
interessados nas culturas indígenas locais e nos vestígios arqueológicos que
encontravam. No entanto, a verdadeira consolidação da arqueologia como disciplina
científica ocorreu no século XIX, quando naturalistas e viajantes europeus
começaram a documentar e coletar artefatos e informações sobre as culturas
indígenas brasileiras.

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O século XX foi um período significativo no desenvolvimento da arqueologia


no Brasil. Durante as primeiras décadas, a pesquisa arqueológica estava
intimamente ligada à antropologia e à etnografia. Foi somente nas décadas de 1940
e 1950 que a arqueologia se estabeleceu como uma disciplina autônoma, com a
criação de instituições de pesquisa e a realização de escavações sistemáticas em
sítios arqueológicos.
Um dos marcos mais notáveis da arqueologia brasileira foi a criação do Museu
Paraense Emílio Goeldi, em Belém, em 1866, que desempenhou um papel crucial
na promoção e no desenvolvimento da pesquisa arqueológica na região amazônica.
Na década de 1950, o Museu Nacional no Rio de Janeiro se tornou uma instituição
de destaque para a pesquisa arqueológica no Brasil. Nas décadas seguintes, a
arqueologia brasileira beneficiou-se profissionalmente com colaboração
internacional.
A história da arqueologia no Brasil foi marcada por avanços significativos na
pesquisa e, mais recentemente, a partir da legislação rígida, por uma maior proteção
ao patrimônio arqueológico. Ela reflete o compromisso contínuo do país com a
compreensão e a preservação de suas raízes culturais e históricas, ao mesmo tempo
em que destaca os desafios que moldaram a disciplina ao longo dos anos.

2.2 Principais Abordagens na Historiografia

A historiografia da arqueologia no Brasil é uma área de estudo fundamental


para compreender como essa disciplina se desenvolveu ao longo do tempo. Nesse
contexto, é essencial explorar as principais abordagens que moldaram a
historiografia arqueológica brasileira e influenciaram a maneira como entendemos o
passado do país.
A abordagem histórico-crítica enfatiza a importância de analisar o contexto
social, político e econômico no qual a arqueologia se desenvolveu no Brasil. Os
historiadores da arqueologia investigam, por exemplo, de que maneira as
transformações políticas, como a ditadura militar, influenciaram a pesquisa
arqueológica e a proteção do patrimônio cultural. Além disso, essa abordagem
destaca como a arqueologia se relacionou com movimentos sociais e culturais, como
o movimento indígena e a conscientização ambiental.

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Outra abordagem significativa é a perspectiva regional. O Brasil é um país


vasto e diversificado, e as diferentes regiões possuem contextos arqueológicos
distintos. A historiografia da arqueologia brasileira muitas vezes considera as
especificidades regionais, examinando como a pesquisa arqueológica se
desenvolveu em áreas como o Norte, o Nordeste, o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul
do Brasil. Cada uma dessas regiões apresentam desafios e oportunidades para a
pesquisa arqueológica, e a abordagem regional permite uma compreensão mais
completa da disciplina no país.
A historiografia da arqueologia brasileira também inclui uma abordagem
voltada para a arqueologia pública e para a divulgação científica. Isso envolve a
análise de como a arqueologia se relaciona com o público em geral, promovendo a
conscientização sobre o patrimônio cultural e envolvendo comunidades locais na
pesquisa arqueológica.
A historiografia da arqueologia brasileira é uma área dinâmica de estudo que
continua a crescer à medida que novas perspectivas e abordagens são
desenvolvidas. Através da análise das principais abordagens, podemos obter uma
visão robusta de como a arqueologia no Brasil se encaixa na paisagem cultural e
histórica do país. Ela não apenas esclarece como a disciplina se desenvolveu, mas
também fornece subsídios sobre como a arqueologia brasileira pode continuar a
crescer e se adaptar no futuro.

2.3 Debates e Controvérsias na Formação da Disciplina

O estudo da historiografia da arqueologia no Brasil revela debates e


controvérsias que moldaram a formação dessa disciplina no país ao longo do tempo.
Esses debates refletem não apenas o crescimento da arqueologia brasileira, mas
também as questões sociais, políticas e culturais que influenciaram seu
desenvolvimento.
Um dos debates fundamentais na história da arqueologia brasileira diz
respeito à sua relação com a antropologia. Desde o início, a arqueologia esteve
estreitamente ligada à antropologia, compartilhando metodologias e teorias. No
entanto, houve momentos de tensão entre as duas disciplinas, com arqueólogos e
antropólogos debatendo sobre as fronteiras e os limites de seus campos de atuação.

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Essa relação complexa influenciou a formação da arqueologia brasileira e gerou


discussões sobre identidade disciplinar e métodos de pesquisa.
Outro ponto de controvérsia na historiografia da arqueologia brasileira envolve
a apropriação cultural. A pesquisa arqueológica muitas vezes envolve o estudo de
culturas indígenas e de povos tradicionais, levantando questões éticas e políticas
sobre quem tem o direito de pesquisar e representar essas culturas. Os debates em
torno da apropriação cultural e da representação justa e respeitosa desses grupos
têm sido uma parte importante da formação da disciplina no Brasil.
A discussão sobre a legislação e a proteção do patrimônio arqueológico
também é uma questão significativa na historiografia da arqueologia brasileira. A
criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1937 e
a promulgação da Lei de Proteção ao Patrimônio Arqueológico em 1961 foram
marcos importantes para a proteção do patrimônio arqueológico no Brasil. No
entanto, as políticas de preservação e as regulamentações enfrentaram críticas e
desafios ao longo dos anos, gerando debates sobre como conciliar a pesquisa
arqueológica com a conservação do patrimônio.
A historiografia da arqueologia brasileira também destaca as controvérsias
relacionadas à representatividade de gênero na disciplina. À medida que a
arqueologia brasileira se diversificou e incorporou vozes de diferentes origens e
perspectivas, questões de gênero, etnia e inclusão se tornaram centrais nos debates
sobre a formação da disciplina.
Podemos dizer que os debates e controvérsias na historiografia da
arqueologia brasileira refletem o dinamismo e a complexidade do desenvolvimento
dessa disciplina no país. Eles não apenas moldaram a arqueologia brasileira, mas
também a pluralizaram, tornando-a mais consciente das questões sociais e culturais
que fazem parte da pesquisa arqueológica no Brasil. Esses debates continuam a
desempenhar um papel de destaque no desenvolvimento da disciplina e na busca
por uma arqueologia mais inclusiva e ética no Brasil.

2.4 Contribuições de Pesquisadores Notáveis

A história da arqueologia no Brasil é marcada por contribuições de


pesquisadores notáveis que desempenharam papéis cruciais no desenvolvimento e

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reconhecimento dessa disciplina no país. Suas pesquisas, descobertas e esforços


exerceram uma influência significativa sobre a nossa compreensão do passado
brasileiro. Dentre esses renomados pesquisadores da arqueologia brasileira,
destacam-se:
Betty Meggers (1921-2012): Arqueóloga norte-americana famosa por seu
trabalho nas áreas de arqueologia amazônica e arqueologia pré-colombiana no
Brasil. Na década de 1960, a criação do PRONAPA (Projeto Nacional de Pesquisas
Arqueológicas) e do PRONAPABA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas na
Bacia Amazônica) envolveu Betty Meggers, Clifford Evans (seu marido) e outros
arqueólogos brasileiros, resultando na formação de uma nova geração de
arqueólogos em todo o país.
Annette Laming-Emperaire (1917-1977): Arqueóloga francesa que
desempenhou um papel significativo na pesquisa arqueológica no Brasil. Ela
investigou diversos tipos de sítios pré-históricos e é amplamente reconhecida por
suas escavações em Lagoa Santa, Minas Gerais, onde foi descoberto o
remanescente humano mais antigo do Brasil, datado de cerca de 11.500 anos.
André Prous: Este pesquisador notável contribuiu substancialmente para a
arqueologia brasileira, concentrando-se no estudo das populações pré-coloniais.
Autor dos dois manuais mais importantes e mais completos de Arqueologia Brasileira
de que dispomos, estudou os povos indígenas, desvendando aspectos da vida
cotidiana, crenças e interações sociais das antigas culturas brasileiras.
Niède Guidon: Deixou a sua marca na arqueologia brasileira devido ao
compromisso com a preservação do patrimônio cultural e pesquisas inovadoras.
Especialmente conhecida por seu trabalho no sítio arqueológico Pedra Furada, no
Piauí, trouxe à tona informações polêmicas sobre as ocupações humanas mais
antigas, não só da região, como das Américas.
Walter Alves Neves: Contribuiu para a compreensão da pré-história humana
no Brasil e a dispersão do homem nas Américas, notadamente por meio da análise
de restos humanos.
Estes são apenas alguns exemplos das inúmeras contribuições de
pesquisadores notáveis para a arqueologia brasileira. Seus incansáveis esforços,
inovações metodológicas e comprometimento com a preservação do patrimônio
cultural deixaram um legado duradouro na disciplina. Suas pesquisas e descobertas

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continuam a inspirar gerações de arqueólogos no Brasil, enriquecendo nossa


compreensão do passado do país e da diversidade de suas culturas.

2.5 Papel do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional)

O IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, é a instituição


de maior relevância no contexto da proteção e preservação do patrimônio cultural do
Brasil. Fundado em 1937, tem desempenhado um papel fundamental na salvaguarda
da vasta herança cultural do país, que abrange desde sítios arqueológicos até
edifícios históricos e manifestações culturais. Abordamos o papel do IPHAN no
contexto da proteção do patrimônio cultural brasileiro, com ênfase em seu impacto
na arqueologia.
O IPHAN tem várias funções:
Tombamento e Registro de Bens Culturais: O tombamento envolve a
identificação e proteção legal de edifícios, sítios arqueológicos e outros bens
culturais que são considerados patrimônio nacional. Esse processo é fundamental
para evitar a destruição e a descaracterização de locais de importância histórica e
arqueológica.
Pesquisa e Monitoramento: O IPHAN também realiza pesquisas para
documentar e compreender o patrimônio cultural brasileiro. Isso inclui estudos
arqueológicos que ajudam a identificar, datar e contextualizar sítios arqueológicos.
Além disso, o IPHAN monitora o estado de conservação desses sítios para garantir
sua preservação a longo prazo.
Educação e Conscientização Pública: O IPHAN promove a valorização da
herança histórica e arqueológica do Brasil por meio de exposições, publicações e
programas educacionais.
Autorização e Fiscalização: Para qualquer pesquisa ou intervenção em sítios
arqueológicos e bens culturais protegidos, o IPHAN emite autorizações e licenças.
Isso garante que as atividades sejam realizadas de maneira responsável e de acordo
com as diretrizes de preservação.
Preservação de Áreas de Preservação Permanente: O IPHAN atua
protegendo tanto o patrimônio cultural quanto o ambiente natural.

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O IPHAN desempenha um papel central na proteção e preservação do


patrimônio arqueológico brasileiro. Sua atuação abrange desde a identificação de
sítios arqueológicos até a educação pública sobre a importância desses bens
culturais. Com suas ações, o IPHAN contribui significativamente para a arqueologia
brasileira, garantindo que as gerações atuais e futuras tenham acesso ao patrimônio
cultural e ambiental do Brasil.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, M. (Org.). Construindo a arqueologia no Brasil: a trajetória da


Sociedade de Arqueologia Brasileira. Belém: Gknoronha, 2009.

KERN, A.A. Arqueologia: o futuro do nosso passado. Rio Grande: Editora da


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PEREIRA, R. Arqueologia, patrimônio material e legislação: conceitos,


aplicações e perspectivas. 1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2017.
Sites
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
http://portal.iphan.gov.br/

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Aula 03_Teoria, Métodos e Técnicas em Arqueologia Brasileira


Palavras-chave: paradigmas teóricos; aplicações; datações; escavação.

Figura 3 - Escavação na Amazônia.

Fonte: Disponível em: https://oeco.org.br/reportagens/quem-nao-tem-piramides-olha-para-


terra-preta/ Acesso em 06 nov. 2023.

Descrição de imagem: À direita, o arqueólogo Eduardo Goes Neves em escavação na


Amazônia.

3.1 Paradigmas: Histórico-Cultural, Processual e Pós-Processual

É de grande importância utilizar teoria para se fazer arqueologia. Ela fornece


o alicerce intelectual para a pesquisa arqueológica, orientando a interpretação de
vestígios do passado. Através da teoria, os arqueólogos podem propor hipóteses,
estratégias de escavação e métodos de análise mais eficazes. Além disso, as teorias
ajudam a contextualizar as descobertas dentro de um quadro mais amplo de
compreensão histórica e cultural. A escolha da teoria para cada pesquisa impacta
diretamente a interpretação dos achados arqueológicos, permitindo que os
arqueólogos entendam de forma mais precisa as sociedades e culturas do passado.

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Sem uma base teórica sólida, a arqueologia correria o risco de se tornar uma mera
coleta de artefatos, perdendo a capacidade de contar histórias significativas sobre
as populações. Portanto, a teoria desempenha um papel capital na excelência da
pesquisa arqueológica. Os principais paradigmas ou abordagens do século XX são:
o Histórico-Cultural, o Processual e o Pós-Processual. No século XXI, novas
vertentes teóricas foram propostas.

Paradigma Histórico-Cultural:
Ênfase na cultura: Este paradigma tem suas raízes no início da arqueologia e
se concentra na cultura material e nas sociedades do passado. A principal
preocupação é reconstruir as culturas e os estilos de vida das sociedades antigas
com base nas evidências arqueológicas.
Abordagem descritiva: Os arqueólogos que seguem esse paradigma
frequentemente adotam uma abordagem descritiva para documentar e classificar
artefatos, estruturas e contextos arqueológicos.
Sincretismo cultural: Tende a enfatizar a uniformidade cultural e a evolução
linear das sociedades, muitas vezes retratando as mudanças culturais como
resultado da migração, da difusão cultural ou do contato entre grupos.
Paradigma Processual:
Abordagem científica: O paradigma Processual introduziu uma abordagem
mais científica na arqueologia. Os arqueólogos processuais buscam entender os
processos que moldam as mudanças culturais e sociais no passado.
Modelagem e previsão: Eles frequentemente usam modelos matemáticos e
teorias evolutivas para explicar o comportamento humano no passado e prever o
desenvolvimento de sociedades antigas.
Abordagem interdisciplinar: A arqueologia processual encoraja uma
abordagem interdisciplinar, incorporando conhecimentos de outras áreas, como
antropologia, ecologia e geologia.
Paradigma Pós-Processual:
Crítica do paradigma Processual: Os arqueólogos pós-processuais surgiram
como uma resposta crítica ao paradigma Processual, questionando a objetividade e
o determinismo cultural desse último.

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Ênfase na interpretação subjetiva: Os arqueólogos pós-processuais enfatizam


a subjetividade na interpretação dos dados arqueológicos, reconhecendo que as
interpretações são moldadas pelas perspectivas individuais e culturais.
Abordagem contextual: Eles também valorizam a importância do contexto
social e político na pesquisa arqueológica, examinando questões de poder, ideologia
e representação.
É importante observar que esses paradigmas não são mutuamente
exclusivos, e muitos arqueólogos adotam abordagens ecléticas que combinam
elementos de diferentes paradigmas. A arqueologia contemporânea é
frequentemente caracterizada por uma diversidade de perspectivas teóricas e
metodológicas, que enriquecem a compreensão do passado e da disciplina como
um todo.
O campo da arqueologia brasileira tem sido influenciado por uma variedade
de correntes teóricas ao longo de sua história. Três dessas correntes teóricas em
particular - a abordagem Histórico-Cultural, a Teoria Processual e a Teoria Pós-
Processual - tiveram um impacto significativo na forma como os arqueólogos
abordam a pesquisa e a interpretação do passado do Brasil.
A abordagem Histórico-Cultural, que ganhou destaque desde o início do
século XX, enfatiza a importância de considerar o contexto histórico e cultural das
sociedades passadas. No contexto brasileiro, essa abordagem teve influência na
interpretação de sítios arqueológicos, particularmente aqueles relacionados às
culturas indígenas pré-coloniais. Arqueólogos aplicaram essa abordagem para
compreender as práticas e tradições culturais de grupos indígenas brasileiros. No
entanto, a abordagem Histórico-Cultural também enfrentou críticas por simplificar
“demais” a complexidade das culturas passadas e por “ignorar” questões sociais e
políticas.
A Teoria Processual, que surgiu na década de 1960, nos Estados Unidos e
capitaneada por Lewis Binford, trouxe uma perspectiva mais “científica” e sistemática
para a arqueologia. No Brasil, essa abordagem enfatizou a necessidade de
desenvolver modelos e teorias que pudessem explicar processos sociais,
econômicos e tecnológicos. Trabalhos de arqueólogos brasileiros aplicaram a Teoria
Processual para analisar mudanças sociais e tecnológicas em sociedades antigas.

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No entanto, essa abordagem também gerou críticas por desconsiderar aspectos


simbólicos e culturais dessas sociedades.
A Teoria Pós-Processual, que ganhou força a partir da década de 1980, na
Inglaterra, desenvolvida por Ian Hodder e outros arqueólogos, trouxe uma
abordagem mais crítica e interpretativa para a arqueologia. No Brasil, essa corrente
teórica permitiu que os arqueólogos explorassem questões de poder, ideologia e
representação em suas pesquisas. Em contexto brasileiro, a Teoria Pós-Processual
foi aplicada para analisar as representações do passado e as interpretações
arqueológicas na cultura popular brasileira. Essa abordagem enriqueceu a
arqueologia brasileira ao considerar perspectivas múltiplas e questionar narrativas
tradicionais.
As correntes teóricas na arqueologia brasileira, incluindo a Abordagem
Histórico-Cultural, a Teoria Processual e a Teoria Pós-Processual, refletem a
diversidade interpretativa aplicada no país. Cada uma dessas abordagens trouxe
contribuições valiosas, ao mesmo tempo em que gerou debates e críticas. A
arqueologia brasileira continua a se beneficiar pela interação e aplicação dessas
correntes teóricas, permitindo uma compreensão rica e multifacetada do passado do
Brasil.

3.2 Teorias Contemporâneas e Abordagens Interpretativas

A arqueologia brasileira é um campo dinâmico que se desenvolveu ao longo


das décadas, incorporando uma variedade de correntes teóricas contemporâneas e
abordagens interpretativas. Essas teorias e abordagens desempenham um papel
fundamental na forma como os arqueólogos brasileiros investigam e interpretam o
passado do país.
Uma das correntes teóricas contemporâneas influentes na arqueologia
brasileira é o construtivismo social. Esta abordagem enfatiza a construção social do
conhecimento arqueológico e a importância de considerar como as interpretações
são influenciadas pelo contexto social, político e cultural. Os arqueólogos brasileiros
têm aplicado o construtivismo social para analisar as representações arqueológicas,
a apropriação cultural e a relação entre arqueologia e comunidades indígenas.

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Outra corrente teórica notável é a arqueologia pública, que se concentra em


envolver as comunidades na pesquisa arqueológica e na preservação do patrimônio.
No Brasil, essa abordagem ganhou destaque com o aumento da conscientização
sobre a importância do patrimônio cultural e a necessidade de compartilhar os
resultados da pesquisa com o público em geral. Arqueólogos brasileiros têm
promovido programas de educação patrimonial, exposições e atividades de
divulgação para aproximar a arqueologia das comunidades locais.
A abordagem pós-colonial também desempenha um papel significativo na
arqueologia brasileira contemporânea. Ela questiona as narrativas eurocêntricas e o
legado do colonialismo na pesquisa arqueológica. Os arqueólogos brasileiros têm
aplicado a perspectiva pós-colonial para desafiar representações estereotipadas de
povos indígenas e para considerar as vozes e perspectivas das comunidades locais
em suas pesquisas.
A hermenêutica, uma abordagem interpretativa que enfatiza a interpretação
crítica de textos e símbolos, também tem sido aplicada na arqueologia brasileira.
Essa abordagem permite uma análise mais profunda dos registros arqueológicos e
uma compreensão mais rica das práticas culturais e simbólicas das sociedades
passadas.
As teorias contemporâneas e abordagens interpretativas desempenham um
papel vital na arqueologia brasileira, permitindo uma compreensão mais ampla e
enriquecida do passado do país. Elas refletem o compromisso dos arqueólogos
brasileiros em desenvolver uma disciplina sensível às questões sociais e culturais e
em promover o envolvimento da comunidade e a divulgação do patrimônio
arqueológico. À medida que a arqueologia no Brasil continua a se desenvolver, essas
teorias e abordagens desempenharão um papel essencial na construção de
narrativas mais inclusivas sobre o passado do país.

3.3 Aplicações da Teoria Arqueológica

As correntes teóricas na arqueologia brasileira desempenham um papel


fundamental nas pesquisas arqueológicas, moldando a forma como os arqueólogos
conduzem suas investigações, interpretam os vestígios do passado e se relacionam
com as comunidades locais. A aplicação dessas correntes teóricas nas pesquisas

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arqueológicas tem resultado em avanços significativos e uma compreensão profícua


em relação ao passado do Brasil.
Uma das áreas em que as correntes teóricas têm sido amplamente aplicadas
é a pesquisa de sítios arqueológicos relacionados às culturas indígenas pré-
coloniais. Abordagens como o construtivismo social e o pós-colonialismo têm sido
imprescindíveis para analisar como a arqueologia influenciou a representação das
culturas indígenas e a apropriação cultural. Os arqueólogos brasileiros aplicam
essas abordagens para questionar as representações tradicionais e para considerar
as perspectivas das comunidades indígenas na pesquisa.
A arqueologia pública também desempenha um papel importante nas
pesquisas arqueológicas brasileiras. Arqueólogos têm aplicado essa abordagem
para envolver o público e as comunidades locais em projetos de pesquisa e
preservação do patrimônio.
A aplicação das teorias contemporâneas, como o construtivismo social, na
análise das representações arqueológicas tem permitido uma compreensão mais
aprofundada das complexas relações entre a arqueologia, a sociedade e a cultura
popular. Arqueólogos brasileiros têm explorado como as representações do passado
arqueológico são usadas na cultura popular, incluindo na mídia, no turismo e na
política. Isso contribui para uma compreensão mais completa das influências
culturais e políticas que moldam a interpretação do patrimônio arqueológico.
A aplicação das correntes teóricas na arqueologia brasileira tem resultado em
uma abordagem mais sensível, crítica e inclusiva para a pesquisa e interpretação do
patrimônio arqueológico do país. Essas abordagens permitem que os arqueólogos
considerem não apenas os vestígios materiais, mas também as implicações sociais,
políticas e culturais de suas pesquisas. Como resultado, a arqueologia brasileira
cresce e enriquece o nosso entendimento do passado e promove, em abordagens
como a da arqueologia pública, o envolvimento das comunidades locais.

3.4 Métodos e Técnicas de Escavação

A arqueologia é uma disciplina científica que busca compreender o passado


humano por meio da investigação de vestígios arqueológicos, como artefatos,
estruturas e contextos culturais. No contexto arqueológico brasileiro, a aplicação de

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métodos e técnicas de escavação desempenha um papel fundamental na coleta,


documentação e interpretação desses vestígios. Os métodos e técnicas de
escavação comumente utilizados na arqueologia brasileira são dois: escavação por
Superfícies Amplas (horizontal) e escavação por Níveis Arbitrários (vertical).
O método de escavação por superfícies amplas é uma abordagem
arqueológica que difere da escavação estratigráfica convencional, em que o foco é
a investigação de áreas culturais. Esse método busca examinar uma área mais
“ampla” de um sítio arqueológico para obter uma compreensão geral de sua
distribuição de vestígios e características.
Abordagem de Superfícies Amplas: Ao contrário da escavação estratigráfica,
em que os arqueólogos escavam verticalmente, o método de escavação por
superfícies amplas se concentra na investigação horizontal. Isso significa que os
arqueólogos examinam camadas culturais da área do sítio para identificar artefatos,
estruturas e outras evidências arqueológicas.
O método de escavação por níveis arbitrários é uma abordagem arqueológica
que envolve a divisão de um sítio arqueológico em unidades de escavação, cada
uma com uma profundidade pré-determinada. Diferentemente da escavação em
superfícies amplas, em que as camadas são escavadas de acordo com a
estratigrafia cultural do sítio, a escavação por níveis arbitrários é mais flexível em
relação à profundidade e é frequentemente utilizada para atender a objetivos
específicos de pesquisa. Aqui estão os principais pontos que explicam o método de
escavação por níveis arbitrários:
Definição de Níveis Arbitrários: Antes do início da escavação, os arqueólogos
definem níveis arbitrários, geralmente em intervalos regulares de profundidade (por
exemplo, a cada 10 centímetros). Cada nível representa uma unidade de escavação,
e as escavações são conduzidas até que o nível predeterminado seja atingido.
Flexibilidade: Diferentemente da escavação estratigráfica ou por superfícies
amplas, em que a sequência estratigráfica é escavada em ordem cronológica, a
escavação por níveis arbitrários não segue necessariamente uma ordem
estratigráfica rígida. Os arqueólogos podem escolher em que ordem desejam
escavar os níveis, com base em suas hipóteses de pesquisa e objetivos.

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3.5 Métodos de datação

A arqueologia brasileira é um campo de estudo que se dedica a compreender


a história e a cultura do Brasil por meio da análise de vestígios materiais. Para situar
esses vestígios no tempo, os arqueólogos utilizam uma variedade de métodos de
datação, que permitem determinar a idade dos sítios arqueológicos e dos artefatos
neles encontrados. Essa informação é de suma relevância para reconstruir a
cronologia das sociedades antigas do Brasil. A seguir, apresentamos alguns dos
principais métodos de datação utilizados na arqueologia brasileira.
Datação por Radiocarbono (C-14): Este é um dos métodos mais aplicados na
arqueologia brasileira. Ele se baseia na decomposição do carbono-14 em nitrogênio-
14 no momento da morte de um organismo. Medindo a quantidade de carbono-14
remanescente em materiais orgânicos, como ossos, carvão ou tecidos vegetais, os
arqueólogos podem estimar a idade do material com uma precisão razoável. Esse
método tem sido fundamental para datar sítios pré-históricos, como sambaquis e
vários outros, e se aplica a sítios históricos com menor precisão, pois o período
histórico no Brasil é de pouco mais de 500 anos.
Datação por Luminescência Opticamente Estimulada (OSL): Este método se
baseia na capacidade de minerais como o quartzo de acumular energia da radiação
ionizante ao longo do tempo. Quando esses minerais são expostos à luz, eles
emitem energia na forma de luminescência. Medindo a quantidade de luminescência
presente em sedimentos arqueológicos, é possível estimar a última vez que esses
sedimentos foram expostos à luz.
Datação por Termoluminescência (TL): Similar à OSL, a datação por TL
envolve a medição da luminescência em minerais como o quartzo e a datação de
cerâmica. Este método é útil para a datação de artefatos cerâmicos em sítios
arqueológicos brasileiros.
Datação por Estratigrafia: A análise estratigráfica dos sedimentos em um sítio
arqueológico é uma abordagem fundamental para a datação relativa. Através da
observação das camadas de solo e sedimento e da sequência de depósitos, os
arqueólogos podem determinar a sequência relativa dos eventos e estabelecer uma
cronologia relativa dos achados arqueológicos.

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Datação por Artefatos: Em alguns casos, os próprios artefatos podem ser


datados diretamente. Isso envolve a datação de materiais orgânicos encontrados em
associação com os artefatos, como resíduos de alimentos em cerâmica.
Datação por Isótopos: Este método envolve a análise de isótopos estáveis em
ossos, dentes ou outros materiais orgânicos para determinar a dieta e o ambiente
em que um indivíduo viveu. Isso pode fornecer informações valiosas sobre a
subsistência e a mobilidade das populações antigas.
A arqueologia brasileira utiliza uma variedade de métodos de datação,
incluindo a datação histórica a partir de documentos e diversos objetos, como
moedas, faiança, porcelana, vasilhames de vidro, entre outros, para estabelecer a
cronologia dos sítios arqueológicos e artefatos encontrados no país. Esses métodos
oferecem uma visão temporal fundamental, permitindo aos arqueólogos reconstruir
a história e a cultura das sociedades que habitaram o Brasil ao longo do tempo.

3.6 Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento

Sensoriamento Remoto:
A arqueologia brasileira está vivenciando uma revolução graças ao uso
crescente de tecnologia de sensoriamento remoto. Essa abordagem inovadora tem
transformado a forma como os arqueólogos investigam sítios arqueológicos e
paisagens, fornecendo novas perspectivas e informações valiosas sobre o passado
do Brasil.
O sensoriamento remoto envolve a coleta de informações sobre o terreno,
vegetação e recursos naturais usando uma variedade de tecnologias, incluindo
imagens de satélite, fotografias aéreas, drones e sistemas de georreferenciamento.
No contexto da arqueologia, essa tecnologia tem se mostrado fundamental para a
identificação, mapeamento e análise de sítios arqueológicos e vestígios culturais em
áreas extensas e de difícil acesso. O sensoriamento remoto frequentemente envolve
também a tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging). O LiDAR é um método
de sensoriamento remoto que utiliza pulsos de laser para medir a distância entre o
sensor e um objeto ou superfície. Ele é amplamente utilizado em aplicações de
mapeamento topográfico, modelagem 3D de terrenos, detecção de vegetação,
estudos de florestas, arqueologia, geologia e outras áreas.

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Uma das aplicações mais notáveis do sensoriamento remoto na arqueologia


brasileira é a detecção de geoglifos na região amazônica. Geoglifos são estruturas
geométricas feitas pelo homem, muitas vezes em grandes proporções, que podem
representar figuras estilizadas ou formas abstratas. O uso de imagens de satélite e
drones permitiu a identificação de geoglifos previamente desconhecidos na
Amazônia, lançando luz sobre as sociedades pré-coloniais que habitaram a região e
suas práticas culturais.
A tecnologia de sensoriamento remoto é fundamental na prospecção de sítios
arqueológicos em áreas de floresta densa, onde a visibilidade no solo é limitada. Ela
permite a identificação de padrões de assentamento, como plataformas, terraços e
trilhas, que podem estar ocultos sob a vegetação. Isso é particularmente importante
para a pesquisa arqueológica na Amazônia, onde muitos sítios arqueológicos estão
localizados em áreas de floresta tropical, aplica-se também a outros tipos de
vegetação.
Outra aplicação relevante é a análise de mudanças no uso da terra ao longo
do tempo. O sensoriamento remoto ajuda a documentar o desmatamento, a
expansão urbana e as alterações na paisagem que podem afetar sítios
arqueológicos e patrimônio cultural.
O uso de drones também se tornou uma ferramenta valiosa para a
documentação e análise de sítios arqueológicos de forma não invasiva. Eles
permitem a captura de imagens de alta resolução e a criação de modelos
tridimensionais, facilitando a documentação detalhada e a análise espacial.
O uso de tecnologia de sensoriamento remoto vem otimizando a arqueologia
brasileira, possibilitando a descoberta e análise de sítios arqueológicos de forma
mais eficiente e abrangente. Essas inovações tecnológicas estão enriquecendo
nossa compreensão do passado do Brasil e contribuindo para a preservação do
patrimônio cultural do país.
Geoprocessamento:
A incorporação de geoprocessamento nas pesquisas arqueológicas
brasileiras tem sido uma das mais significativas e inovadoras abordagens na
arqueologia contemporânea do país. O geoprocessamento refere-se à utilização de
sistemas de informações geográficas (SIG) e tecnologias relacionadas para coletar,

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analisar e interpretar dados geoespaciais, e tem desempenhado um papel


fundamental na transformação da pesquisa arqueológica no Brasil.
Uma das principais aplicações do geoprocessamento na arqueologia é a
prospecção e o mapeamento de sítios arqueológicos. Com o auxílio de dispositivos
de GPS, drones e softwares de SIG, os arqueólogos podem coletar dados precisos
de localização e criar mapas detalhados de sítios arqueológicos e vestígios culturais.
Isso facilita a identificação e o registro de sítios de maneira eficaz, permitindo uma
melhor preservação do patrimônio arqueológico.
O geoprocessamento é essencial na análise espacial de sítios arqueológicos,
possibilitando a investigação de padrões de assentamento, interações entre grupos
humanos e a relação entre sítios arqueológicos e recursos naturais. Os SIG
permitem a sobreposição de diferentes camadas de informações geográficas, o que
auxilia na interpretação das relações entre sítios arqueológicos e suas
características ambientais.
Outra aplicação relevante é a modelagem de dados arqueológicos. O
geoprocessamento permite criar modelos espaciais que auxiliam na análise de
aspectos como a mobilidade humana, áreas de influência de sítios arqueológicos e
a distribuição de artefatos em um determinado espaço geográfico. Isso contribui para
a compreensão das estratégias de subsistência, organização social e interações
culturais nas sociedades antigas do Brasil.
O geoprocessamento também desempenha um papel fundamental na gestão
do patrimônio arqueológico. A criação de bancos de dados georreferenciados
permite uma melhor administração de sítios arqueológicos, o monitoramento de
ameaças, como a expansão urbana e o desmatamento, e a definição de estratégias
de conservação e preservação.
Essas aplicações do geoprocessamento estão dinamizando a pesquisa
arqueológica no Brasil, tornando-a mais eficiente, precisa e abrangente. Além disso,
essa abordagem multidisciplinar abre portas para uma compreensão mais profunda
das sociedades passadas e de como essas sociedades interagiram com o ambiente
ao longo do tempo. O uso de tecnologias geoespaciais está otimizando nossa
compreensão do passado arqueológico do Brasil e contribuindo para a preservação
de seu excepcional patrimônio cultural.

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REFERÊNCIAS

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teoria e prática da mais interdisciplinar das disciplinas. Curitiba: Editora Prismas,
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DE RUBIN, J.C.R.; DA SILVA, R.T. (Org.). Geoarqueologia. Goiânia: Editora da
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MILLER Jr., T. O. Teoria Antropológica e Arqueológica: convergências e
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PALLESTRINI, L.; PERASSO, J.A. Arqueología: método y técnicas en superficies
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TRIGGER, B. G. História do pensamento arqueológico. 2. ed. São Paulo:
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Aula 04_Arqueologias Regionais Brasileiras


Palavras-chave: norte; nordeste; centro-oeste; sudeste; sul.

Figura 4 - Sambaqui Jabuticabeira II, localizado no litoral de Santa Catarina é um dos


maiores já encontrados e com centenas de esqueletos humanos.

Fonte: Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2023/09/sambaquis-as-


descobertas-sobre-as-monumentais-construcoes-de-8000-anos-no-litoral-do-brasil.shtml
Acesso em 06 nov. 2023.

4.1 Arqueologia da Região Norte

A região Norte do Brasil é uma área de grande relevância arqueológica, que


abriga uma rica diversidade de culturas e paisagens ao longo dos séculos. A
arqueologia nessa região desempenha um grande papel na reconstrução das
histórias das sociedades indígenas e na compreensão das mudanças ambientais
que afetaram seu modo de vida.
Estudos notáveis sobre a região Norte são pesquisas de sítios relacionados
aos povos indígenas pré-coloniais. A Amazônia, em particular, é um local de grande
interesse devido à sua complexa história ocupacional. Arqueólogos têm se dedicado
a investigar sítios com evidências de ocupação humana milenar, revelando
sociedades com grandes habilidades de manejo dos recursos naturais, por exemplo,
a agricultura. A pesquisa na região Norte tem contribuído significativamente para a

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compreensão das adaptações humanas às florestas tropicais e dos impactos das


mudanças ambientais nas populações indígenas.
Outra área de destaque na arqueologia da região Norte é o estudo de sítios
associados aos povos amazônicos, como os povos Marajoara e Tapajônico. As
investigações nesses sítios revelaram complexas sociedades que produziam
cerâmica sofisticada e viviam em ambientes fluviais. Essas descobertas mostraram
as redes de intercâmbio e as práticas culturais desses povos, mostrando que a
região Norte desempenhou um papel central nas interações culturais pré-coloniais.
A arqueologia na região Norte também tem abordado questões
contemporâneas, como o impacto das mudanças climáticas e da degradação
ambiental nas comunidades indígenas e suas estratégias de subsistência. Os
arqueólogos têm trabalhado em estreita colaboração com as comunidades locais
para entender as dinâmicas entre as sociedades indígenas e o meio ambiente, e
para contribuir com soluções para desafios contemporâneos.
A arqueologia na região Norte do Brasil é uma prática diversificada que tem
fornecido informações valiosas sobre as sociedades indígenas e as mudanças
ambientais ao longo do tempo. A pesquisa arqueológica na região contribui para uma
compreensão mais completa da história do Brasil, destacando a importância das
interações culturais e das adaptações humanas às diversas paisagens ecológicas.
Essa arqueologia regional continua a desenvolver-se, promovendo a preservação do
patrimônio e a colaboração com as comunidades locais.

4.2 Arqueologia da Região Nordeste

A região Nordeste do Brasil, com sua complexa história e diversidade cultural,


desempenha um papel fundamental na tradição de pesquisas arqueológicas no país.
A arqueologia nessa região tem evidenciado os vestígios de populações antigas e
as múltiplas camadas de ocupação ao longo dos séculos.
Uma das áreas mais estudadas na região Nordeste é o sertão nordestino. A
arqueologia sertaneja tem se concentrado na pesquisa de sítios que revelam as
estratégias de subsistência das populações que habitavam essa região árida. Isso
inclui a investigação de sítios pré-coloniais que testemunham a agricultura, a
tecnologia cerâmica e as práticas de caça e coleta dessas sociedades. A pesquisa

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arqueológica no sertão nordestino tem contribuído para uma compreensão mais


profunda das adaptações humanas em ambientes hostis.
Outra área de destaque é o litoral nordestino, que foi local de intensas
interações culturais durante a colonização portuguesa. A arqueologia costeira tem
investigado sítios relacionados às antigas plantações de cana-de-açúcar e engenhos
coloniais, mostrando aspectos da vida dos escravizados e das culturas materiais
desses locais. Além disso, os vestígios de comunidades indígenas pré-coloniais
também são objetos de estudo, fornecendo informações sobre as sociedades que
habitavam a região antes da chegada dos colonizadores.
A arqueologia histórica, que se concentra na investigação de sítios e vestígios
relacionados aos períodos colonial e pós-colonial, é uma parte essencial da tradição
arqueológica do Nordeste. Os pesquisadores têm escavado fortificações, cidades
coloniais, engenhos de açúcar e outros sítios que esclarecem sobre os processos de
colonização e a vida cotidiana nessa região. A pesquisa histórica também abrange
temas como a escravidão, a economia do açúcar e a arquitetura colonial.
A arqueologia na região Nordeste do Brasil tem aumentado o nosso
entendimento da diversidade cultural e histórica do país. Os pesquisadores têm se
dedicado a investigar as múltiplas questões sobre a região, com pesquisas que vão
desde o sertão árido até o litoral tropical. Estudos sobre a arqueologia nordestina
são essenciais para o entendimento do mosaico cultural do Brasil, destacando a
importância da região em nossa história.

4.3 Arqueologia da Região Centro-Oeste

A região Centro-Oeste do Brasil ocupa um vasto território, onde a arqueologia


desempenha um papel fundamental no entendimento das populações do passado.
Essa região, conhecida por sua diversidade geográfica, incluindo o Planalto Central
e o Pantanal, tem sido objeto de inúmeras investigações arqueológicas que
contribuíram para um conhecimento maior sobre a complexidade das sociedades
que a habitaram ao longo dos séculos.
Uma das áreas mais significativas na arqueologia da região Centro-Oeste é a
pesquisa das antigas culturas indígenas que ocuparam o Planalto Central. A
arqueologia tem revelado sítios com vestígios de ocupação milenar, incluindo

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cerâmica, instrumentos de “pedra” (ou líticos) e estruturas de habitação. Isso


contribui para nossa compreensão das estratégias de subsistência, tecnologias e
sistemas sociais dessas sociedades, bem como sua relação com o meio ambiente.
Outro aspecto importante da arqueologia na região Centro-Oeste é a
investigação das sociedades que habitaram as margens do Rio Paraguai, no
Pantanal. Essa área é conhecida por sua rica biodiversidade e recursos aquáticos.
A pesquisa arqueológica tem se concentrado em sítios que testemunham a
ocupação humana ao longo de milhares de anos, com evidências de pesca,
agricultura e sistemas de manejo de recursos aquáticos. Os arqueólogos têm
estudado como essas sociedades adaptaram suas estratégias de subsistência às
condições singulares do Pantanal.
A arqueologia histórica também desempenha um papel importante na região
Centro-Oeste, com pesquisas focadas nos vestígios das missões jesuíticas e nos
impactos da colonização europeia. Sítios como as antigas reduções jesuíticas
oferecem importantes informações sobre as interações culturais e os processos de
conversão religiosa na região.
A pesquisa arqueológica da região Centro-Oeste tem contribuído também
para nossa compreensão da megafauna que habitou o território brasileiro no
passado e das interações entre os primeiros humanos e esses animais.
A arqueologia da região Centro-Oeste é um capítulo importante dentro da
Arqueologia Brasileira, pois fornece acesso à complexa história dessa região.

4.4 Arqueologia da Região Sudeste

A região Sudeste do Brasil, com uma história complexa e uma grande


diversidade de ambientes, tem sido objeto de pesquisas arqueológicas que discutem
a diversidade de culturas que a habitaram ao longo dos séculos.
Uma das áreas mais estudadas na arqueologia da região Sudeste é a
pesquisa de sítios relacionados aos povos indígenas pré-coloniais. A arqueologia
tem investigado sítios com evidências de ocupação muito recuada, incluindo
cerâmica, ferramentas líticas e estruturas de habitação. Esses estudos
proporcionaram informações sobre as estratégias de subsistência, a organização

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social e as práticas culturais das populações indígenas que habitavam a região antes
da chegada dos colonizadores.
A arqueologia histórica também desempenha um papel relevante na região
Sudeste, com pesquisas focadas em sítios relacionados aos períodos colonial e pós-
colonial. As escavações de engenhos de açúcar, cidades coloniais e fortificações
fornecem dados sobre os processos de colonização, a vida cotidiana na época
colonial e os desafios enfrentados pelos povos indígenas e africanos escravizados.
A região Sudeste foi chave para a colonização portuguesa, e a pesquisa
arqueológica tem contribuído para uma compreensão aprofundada desse período
histórico.
A arqueologia na região Sudeste também se concentra em temas
contemporâneos, como a preservação do patrimônio cultural, a gestão de sítios
arqueológicos e a interação com as comunidades locais. Os arqueólogos têm
desempenhado um papel ativo na preservação de sítios ameaçados pela
urbanização e na promoção da conscientização sobre a importância do patrimônio
arqueológico.

4.5 Arqueologia da Região Sul

A região Sul do Brasil, também com uma diversidade geográfica notável, que
inclui áreas costeiras, planaltos e terras altas, tem sido objeto de estudo de diversas
pesquisas arqueológicas que contribuem para a compreensão das culturas que a
habitaram ao longo dos séculos.
Uma das áreas mais estudadas na arqueologia da região Sul é a pesquisa de
sítios relacionados aos povos indígenas pré-coloniais. A arqueologia tem investigado
sítios com evidências de ocupação muito recuadas no tempo, incluindo cerâmica,
ferramentas líticas, estruturas de habitação e artefatos associados à caça, pesca e
agricultura. Esses estudos têm feito levantamentos de dados sobre as estratégias de
subsistência, a organização social e as práticas culturais das sociedades indígenas
que habitavam a região antes da chegada dos colonizadores.
A região Sul também possui vários estudos em arqueologia histórica, com
pesquisas focadas em sítios relacionados aos períodos colonial e pós-colonial. A
investigação de sítios, como as antigas missões jesuíticas e as estâncias de gado

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do século XIX, tem proporcionado uma compreensão aprofundada dos processos de


colonização, da interação cultural e das dinâmicas socioeconômicas dessa região.
A arqueologia na região Sul também tem abordado questões
contemporâneas, como a preservação do patrimônio cultural e a gestão de sítios
arqueológicos. Os arqueólogos têm trabalhado em estreita colaboração com as
comunidades locais para promover essa conscientização sobre a preservação.

REFERÊNCIAS

NEVES, E.G. Sob os tempos do equinócio: oito mil anos de história da


Amazônia. São Paulo: Ubu Editora/ EDUSP, 2022.

PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Brasília: Editora UNB, 1992.

PROUS, A. Arqueologia Brasileira: a pré-história e os verdadeiros colonizadores.


Mato Grosso: Carlini e Caniato Editorial, 2019.

SYMANSKI, L.C.P; SOUZA, M.A.T. (Org.). Arqueologia Histórica Brasileira. Belo


Horizonte: Editora UFMG, 2022.
Sites
Mapa e Banco de Dados de Datações do Brasil
https://sites.usp.br/levoc/bd-
datas/?fbclid=IwAR265RoJKtVrRNJ7N94PocB2VBvGDhDgIACPG2c1sMeXTbAnZ
YEvoF3PiU0

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Resumo – Unidade I

Nessa primeira unidade abordamos a arqueologia brasileira que possui um


papel fundamental em várias áreas-chave, contribuindo para o desenvolvimento da
disciplina e para a proteção do patrimônio cultural do Brasil. Neste contexto,
destacam-se cinco áreas de grande importância: a contribuição da arqueologia para
a própria Arqueologia Brasileira, a sua influência na Historiografia da Arqueologia e
Proteção ao Patrimônio Cultural, o avanço das Teorias, Métodos e Técnicas em
Arqueologia no Brasil, e o impacto das Arqueologias Regionais.
A arqueologia brasileira contribui significativamente para o desenvolvimento
da disciplina a nível nacional. As pesquisas arqueológicas no Brasil têm
proporcionado uma base sólida de conhecimento e formação de arqueólogos locais,
que se tornaram especialistas em temas específicos da arqueologia brasileira. O país
tem conquistado avanços em métodos e técnicas arqueológicas, bem como no
desenvolvimento de teorias arqueológicas que se aplicam a contextos locais.
No que diz respeito à Historiografia da Arqueologia e à Proteção ao Patrimônio
Cultural Brasileiro, a arqueologia desempenha um papel fundamental na
documentação e preservação de sítios e artefatos arqueológicos. Ela fornece
evidências materiais da história do país, contribuindo para uma narrativa mais
completa e precisa sobre o passado. Através da pesquisa arqueológica, é possível
entender as diferentes culturas e sociedades que habitaram o Brasil ao longo do
tempo, o que é relevante para a proteção do patrimônio cultural brasileiro.
A Teoria, Métodos e Técnicas em Arqueologia Brasileira têm crescido em
resposta aos desafios e oportunidades apresentados pelo ambiente brasileiro. A
pesquisa arqueológica em regiões variadas, como a Amazônia, o Pantanal, o
Cerrado e a Costa Litorânea, exigiu o desenvolvimento de métodos e técnicas
adaptadas às condições locais. Isso tem levado ao aprimoramento das abordagens
teóricas e metodológicas da arqueologia brasileira, contribuindo para o avanço da
disciplina.
As Arqueologias Regionais Brasileiras se beneficiam diretamente da pesquisa
e do conhecimento gerado pela arqueologia no país. Cada região brasileira possui
características únicas e desafios específicos, e a arqueologia regional tem se
desenvolvido de forma a abordar essas particularidades. A pesquisa arqueológica

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em diferentes estados e ecossistemas do Brasil permite a compreensão das


variações regionais na história e na cultura, enriquecendo as perspectivas regionais.
A importância da arqueologia brasileira se estende além das fronteiras
nacionais, impactando positivamente a própria disciplina da arqueologia, a
historiografia, a proteção do patrimônio cultural, as teorias e métodos em arqueologia
e as abordagens regionais. O compromisso contínuo com a pesquisa arqueológica
e a conscientização da importância da preservação do patrimônio cultural brasileiro
são essenciais para garantir que a arqueologia continue a desempenhar um papel
central no estudo e na valorização da história e da cultura do Brasil.

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Aula 05_Temas Recorrentes em Arqueologia Brasileira


Palavras-chave: arte rupestre; líticos; cerâmicas; práticas funerárias e alimentação.

Figura 5 - Arqueóloga Niède Guidon e arte rupestre.

Fonte: Disponível em:


https://www.oitomeia.com.br/entretenimento/cinema/2017/02/21/serra-da-capivara-ira-
ganhar-filme-e-niede-guidon-sera-homenageada/ Acesso em 06 nov. 2023.

Descrição de imagem: À esquerda a arqueóloga Niède Guidon e à direita arte rupestre no


Parque da Serra da Capivara.

5.1 Arte Rupestre

A arte rupestre representa uma das manifestações artísticas e culturais mais


notáveis na arqueologia brasileira. Oferece uma ideia das sociedades pré-coloniais
e revela a riqueza da expressão artística e simbólica dessas culturas ao longo do
tempo.
A arte rupestre, encontrada em todo o território brasileiro, é um dos estilos
artísticos mais antigos do país. Ela é caracterizada por pinturas e gravuras em
paredes de cavernas, abrigos rochosos e lajes de pedra. As imagens retratam uma
variedade de temas, desde cenas de caça e rituais religiosos até representações de
animais, seres humanos e figuras abstratas. A arte rupestre é um meio de
comunicação visual que permitia às sociedades pré-coloniais expressar suas
crenças, experiências e narrativas culturais. Ela também serve como uma importante

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fonte de informações sobre a fauna e flora do passado, bem como sobre a tecnologia
e a cosmologia das culturas indígenas.

5.2 Análise de Material Lítico

A análise de material lítico desempenha um papel fundamental na arqueologia


brasileira, proporcionando informações relevantes sobre as sociedades pré-coloniais
e suas tecnologias. Os artefatos líticos, como lâminas, raspadores e pontas de
flecha, eram essenciais para as atividades cotidianas, como caça, processamento
de alimentos e construção. Através de métodos avançados de análise, os
arqueólogos conseguem revelar as técnicas de produção, a funcionalidade e até
mesmo as fontes de matéria-prima desses artefatos de rocha.
Uma das técnicas mais utilizadas na análise de material lítico é a análise
tecnomorfológica, que envolve a descrição minuciosa dos artefatos, incluindo sua
forma, tamanho, retoques e características técnicas. Isso permite classificar os
artefatos em categorias funcionais, como ferramentas de corte, perfuração ou
raspagem. Além disso, a análise tecnomorfológica ajuda a identificar padrões de
produção, indicando se os artefatos foram talhados a partir de núcleos, lascas ou
seixos.
Outra técnica importante é a análise de resíduos orgânicos, que envolve a
identificação de vestígios de plantas, animais e outros materiais orgânicos presos
nos artefatos. Isso fornece informações sobre as atividades específicas em que os
artefatos foram usados, como o processamento de alimentos, a confecção de roupas
ou a produção de pigmentos para pintura.
A análise petrográfica é usada para determinar a origem das matérias-primas
líticas. Isso envolve a análise microscópica de seções finas de amostras de rocha,
permitindo a identificação das características mineralógicas e texturais que ajudam
a rastrear a proveniência das rochas usadas na produção de artefatos.
A análise de desgaste por uso examina essas marcas deixadas nos artefatos
líticos, revelando como foram utilizados e desgastados ao longo do tempo. Essa
análise proporciona informações valiosas sobre o comportamento humano, as
atividades econômicas e as estratégias de subsistência das sociedades antigas.

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A datação de material lítico é frequentemente realizada por meio de técnicas


como a datação por luminescência, que permite determinar a idade dos sedimentos
em que os artefatos foram encontrados. Isso é chave para estabelecer a cronologia
dos sítios arqueológicos e compreender a sequência temporal das atividades
humanas.
As técnicas de análise de material lítico desempenham um papel essencial na
arqueologia brasileira, permitindo uma compreensão mais profunda das tecnologias,
atividades e modos de vida das sociedades pré-coloniais. Elas contribuem para a
reconstituição dos modos de vida do passado e são fundamentais para a pesquisa
arqueológica no Brasil.

5.3 Análise de Material Cerâmico

A cerâmica é outra forma de expressão cultural que desempenhou um papel


significativo nas sociedades pré-coloniais e pós-coloniais do Brasil. Os estilos
cerâmicos variam de região para região, e a cerâmica era usada para uma variedade
de finalidades, desde utensílios cotidianos até objetos cerimoniais e funerários. A
cerâmica muitas vezes exibe padrões intrincados, formas elaboradas e decorações
que refletem a estética e a identidade cultural das sociedades que a produziram. A
análise da cerâmica arqueológica não apenas fornece dados sobre as tradições
estilísticas e técnicas, mas também ajuda a traçar a distribuição de bens e o comércio
entre diferentes grupos.
A análise de material cerâmico desempenha um papel de relevância na
arqueologia brasileira, oferecendo informações sobre as sociedades pré-coloniais e
suas práticas culturais. A cerâmica era uma parte fundamental da vida cotidiana
dessas sociedades, sendo usada para uma variedade de fins, como
armazenamento, culinária, rituais religiosos e expressão artística. As técnicas
avançadas de análise de material cerâmico permitem aos arqueólogos descobrir a
tecnologia de produção, a funcionalidade e o desenvolvimento estilístico desses
artefatos.
Uma das técnicas amplamente empregadas na análise de material cerâmico
é a análise tecnomorfológica, que envolve a descrição detalhada das características
físicas, como forma, tamanho, espessura e decoração das peças cerâmicas. Isso

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permite a categorização das cerâmicas em diferentes estilos, como cerâmica


utilitária, cerâmica ritual ou cerâmica decorativa. A análise tecnomorfológica permite
identificar os métodos de construção, como a modelagem manual, a técnica de rolo
e a impressão.
A análise petrográfica é uma técnica importante para determinar a
proveniência das matérias-primas cerâmicas. Isso envolve o estudo microscópico de
seções finas das amostras cerâmicas para identificar características mineralógicas
e texturais que ajudam a rastrear a origem das argilas e outros materiais usados na
produção das cerâmicas.
A análise de resíduos orgânicos é usada para identificar vestígios de
alimentos, plantas, pigmentos ou substâncias rituais presas às cerâmicas. Isso
fornece informações sobre as práticas culinárias, dietas alimentares, rituais e
atividades comerciais das populações antigas.
A análise de desgaste por uso é uma técnica que examina os desgastes nas
cerâmicas, revelando como foram usadas ao longo do tempo. Isso pode incluir
marcas de utensílios de cozinha, fogueiras ou o desgaste resultante de variadas
atividades. Essa análise proporciona dados ou informações significativas sobre as
atividades cotidianas e as práticas culturais.
A datação de material cerâmico é frequentemente realizada usando técnicas
como a datação por termoluminescência. Isso permite estabelecer a idade das
cerâmicas e, consequentemente, a cronologia dos sítios arqueológicos.
As técnicas de análise de material cerâmico desempenham um papel
essencial na arqueologia brasileira, permitindo uma compreensão profunda das
tecnologias, práticas culturais e estilos estilísticos das sociedades pré-coloniais e
pós-coloniais.
Os estilos artísticos em arte rupestre (período pré-histórico) e cerâmica
(períodos pré-histórico e histórico) são um campo fértil para a pesquisa arqueológica,
pois permitem uma análise profunda das preferências estilísticas, técnicas e
influências culturais ao longo do tempo. Essas manifestações artísticas
desempenharam um papel importante na preservação da memória cultural e na
transmissão de conhecimento entre gerações. Através da investigação desses
estilos artísticos, a arqueologia brasileira continua a ampliar a nossa compreensão

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das culturas pré-coloniais e pós-coloniais, da evolução estilística e das tradições


artísticas que fazem parte da história do Brasil.

5.4 Práticas Funerárias

Dentro da arqueologia brasileira, dois temas recorrentes e fundamentais são


as práticas funerárias e a alimentação das sociedades pré-coloniais. Esses temas
oferecem um panorama profundo da vida cotidiana, crenças religiosas e organização
social das culturas que habitavam o território brasileiro antes da chegada dos
colonizadores.
As práticas funerárias têm sido objeto de intensa pesquisa arqueológica. A
maneira como uma sociedade tratava seus mortos revela informações importantes
sobre as suas crenças religiosas e sistemas de parentesco. No Brasil, foram
encontrados uma variedade de rituais funerários ao longo de sua história pré-
colonial, desde o sepultamento dos mortos com oferendas e cerâmica até práticas
de cremação e enterro em urnas funerárias. As análises dos túmulos e sepulturas
fornecem dados sobre as crenças após a morte, a estratificação social e a
importância atribuída ao falecimento nas diferentes culturas.

5.5 Alimentação

A alimentação é outro tema central na arqueologia brasileira. Os artefatos


arqueológicos, como utensílios de cerâmica e rocha, restos de alimentos e
evidências de práticas culinárias, são fundamentais para os pesquisadores
reconstituir as dietas alimentares das sociedades pré-coloniais. Isso inclui a
identificação de quais espécies de plantas e animais eram consumidas, bem como
os métodos de processamento e preparação dos alimentos. A análise de resíduos
orgânicos em cerâmica também revela os tipos de alimentos armazenados e cozidos
em recipientes cerâmicos. Essas descobertas esclarecem sobre as práticas
culinárias e sobre o sistema de subsistência, a agricultura, a caça e a pesca das
culturas antigas.
O estudo da alimentação e das práticas funerárias frequentemente se
sobrepõe, pois, as oferendas alimentares eram comuns nos rituais funerários. Os

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artefatos alimentares colocados nos túmulos têm implicações profundas em relação


às crenças sobre a vida após a morte, a importância das relações familiares e a
expressão de devoção espiritual.
Temas recorrentes em arqueologia brasileira, como práticas funerárias e
alimentação, proporcionam uma compreensão essencial sobre as culturas pré-
coloniais e pós-coloniais que deram forma ao Brasil. Esses temas contribuem para
a construção de narrativas complexas sobre o passado do país, destacando as
crenças, a organização social e as estratégias de subsistência das sociedades que
habitaram essa vasta região antes e depois da colonização europeia.

5.6 Manifestações Culturais e Sociais Representadas em Artefatos

A arqueologia brasileira é um campo que se destaca pela diversidade de


manifestações culturais e sociais representadas em artefatos arqueológicos. Através
da análise desses vestígios materiais, os arqueólogos podem reconstituir aspectos
fundamentais das sociedades que habitaram o território brasileiro ao longo de
milênios.
Um dos elementos mais marcantes na arqueologia brasileira é a riqueza das
culturas indígenas que povoaram o país. Os artefatos indígenas, como cerâmica,
instrumentos de caça e pesca, utensílios domésticos e objetos rituais, fornecem uma
visão profunda das tradições culturais, práticas religiosas e modos de vida desses
povos. Através da análise da cerâmica, por exemplo, os arqueólogos podem
identificar padrões estilísticos, técnicas de produção e funções dos potes, muitas
vezes relacionados a aspectos simbólicos e rituais.
A arqueologia brasileira também se dedica ao estudo das culturas
quilombolas, cujos artefatos revelam estratégias de subsistência, tecnologia de
produção e resistência à escravidão. Os objetos encontrados em sítios quilombolas,
como fragmentos de cerâmica, ferramentas agrícolas e armas, documentam as lutas
e conquistas dessas comunidades.
Outro aspecto fundamental da arqueologia brasileira é a análise dos vestígios
deixados por povos pré-históricos, como os antigos habitantes da região Sudeste,
Nordeste e Sul. Os sambaquis, sítios com montes de conchas, contêm uma riqueza
de artefatos que indicam práticas funerárias, tecnologia lítica e relações sociais. Eles

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também representam a importância do ambiente marinho na subsistência dessas


populações.
A presença dos colonizadores europeus no Brasil também é documentada por
meio da arqueologia histórica. Os vestígios de engenhos de açúcar, casas coloniais,
objetos de uso cotidiano e cerâmica documentam as transformações nas práticas de
produção e vida cotidiana durante o período colonial. Os artefatos arqueológicos
brasileiros são testemunhos da diversidade cultural do país e de sua história
heterogênea.
REFERÊNCIAS

ALVES, M.A. Análise Cerâmica: Estudo Tecnotipológico. Tese (Doutorado). São


Paulo: FFLCH, 1988.

BUENO, L.; ISNARDIS, A. (Org.). Das Pedras aos Homens - Tecnologia Lítica na
Arqueologia Brasileira. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2007.

GASPAR, M.D. A Arte Rupestre no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

INIZAN, M.-L. et al. Tecnologia da Pedra Lascada. Belo Horizonte: Museu de


História Natural e Jardim Botânico da UFMG, 2017.

LA SALVIA, F.; BROCHADO, J.P. Cerâmica guarani. Porto Alegre: Posenato Arte
& Cultura, 1989.

MAGALHÃES, W. O emprego da microscopia petrográfica no estudo da


cerâmica arqueológica e de fontes de proveniência: um exemplo prático.
Cadernos do Ceom, 28, 43, 2015.

MORENO DE SOUSA, J. C. Tecnologia de ponta a ponta: em busca de


mudanças culturais durante o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do
Brasil. Revista de Arqueologia, [S. l.], v. 32, n. 1, p. 222–224, 2019.

NASCIMENTO, A.; LUNA, S. Procedimentos para a análise da cerâmica


arqueológica. Clio Arqueológica, p. 7-19, 1994.

PROUS, A. Arte Pré-Histórica do Brasil. Belo Horizonte: Arte. 2007.

PROUS, A. et al. Brasil rupestre: Arte Pré-histórica brasileira. Curitiba: Zenerane


Livros, 2007.

RIBEIRO, M. S. Arqueologia das Práticas Mortuárias: uma abordagem


historiográfica. São Paulo: Alameda, 2007.

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ROBRAHN-GONZÁLEZ, E. Teoria e métodos na análise cerâmica em


Arqueologia. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 8, p. 287-294, 1998.

SANTOS, I. T. dos. Alimentação de grupos humanos pré-históricos do sítio


arqueológico Furna do Estrago, Pernambuco – Brasil. Tese (Doutorado): Rio de
Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, 2014.

SILVA, S. F. S. M. da. Arqueologia Funerária: corpo, cultura e sociedade. Recife:


Editora da Universidade Federal de Pernambuco, 2014.

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Aula 06_Arqueologias Praticadas no Brasil


Palavras-chave: pré-histórica; histórica; experimental; urbana; repressão.

Figura 6 - Arqueólogo André Prous

Fonte: Disponível em:


https://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=308326&noticia=mt-vira-trilha-de-
pesquisador-de-renome-internacional-e-ganhara-capitulo-em-livro-veja-fotos- Acesso em 06
nov. 2023.
Descrição de imagem: Arqueólogo André Prous analisando fragmentos cerâmicos no Museu
de Pré-História Casa Dom Tomás Aquino em Cuiabá.

6.1 Arqueologia Pré-Histórica e Arqueologia Histórica

Arqueologia Pré-Histórica: É um campo fundamental na pesquisa


arqueológica brasileira, dedicado ao estudo das sociedades que habitaram o
território antes da chegada dos europeus em 1500. Este subcampo da arqueologia
estuda as complexas histórias das culturas pré-coloniais do Brasil explorando a
diversidade cultural, tecnológica e social que existia em todo o país.
Um dos aspectos mais marcantes da arqueologia pré-histórica brasileira é a
presença de grande diversidade de sociedades indígenas. As pesquisas
arqueológicas revelam a existência de centenas de grupos étnicos e culturas, cada
um com suas próprias línguas, tecnologias, práticas culturais e modos de

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subsistência. Essa diversidade é particularmente evidente na variedade de estilos


cerâmicos, ferramentas líticas e artefatos encontrados em todo o Brasil.
A arqueologia pré-histórica também se dedica ao estudo das estratégias de
subsistência das sociedades antigas. Os vestígios arqueológicos, como sementes,
ferramentas agrícolas, utensílios de caça e pesca, bem como a análise de resíduos
orgânicos em cerâmica, fornecem informações sobre os sistemas agrícolas, práticas
de caça e pesca, coleta de alimentos e métodos de preparação. Isso abre caminho
para entender como as sociedades pré-coloniais aproveitavam os recursos naturais
em diferentes ambientes ecológicos, desde a Floresta Amazônica até o Cerrado e o
Pantanal.
Outro destaque na arqueologia pré-histórica do Brasil é a pesquisa de sítios
de ocupação e assentamentos humanos. Os arqueólogos escavam áreas
residenciais, aldeias, sítios funerários e monumentos arqueológicos para entender
as estruturas sociais, as construções, a organização espacial e os rituais. A análise
das práticas funerárias e dos objetos associados às sepulturas também fornecem
elementos para entender as crenças e a cosmologia dessas populações.
A arqueologia pré-histórica desempenha um papel importante na datação e
cronologia dos sítios arqueológicos, permitindo a construção de sequências
temporais e a compreensão do desenvolvimento cultural das sociedades pré-
coloniais.
A arqueologia pré-histórica brasileira é um campo diversificado de estudos
que aborda a grande variabilidade cultural das sociedades que estruturaram o país
antes da colonização europeia. Essas pesquisas contínuas contribuem para nossa
compreensão da história antiga, diversidade cultural e patrimônio do Brasil.
Arqueologia Histórica: É um ramo da arqueologia que se concentra no estudo
das sociedades que habitaram o Brasil durante o período colonial e pós-colonial,
seus interesses de pesquisa são as interações culturais, econômicas e sociais. Este
subcampo é fundamental para entender a herança cultural e os legados do período
histórico, bem como interpretar as experiências de diferentes grupos étnicos, como
indígenas, africanos e europeus, que resultaram na formação da nação brasileira.
A arqueologia histórica do Brasil abrange uma ampla gama de temas e
abordagens. Uma das áreas de pesquisa que teve a atenção dos arqueólogos foi o
estudo de sítios arqueológicos relacionados à escravidão, como engenhos de

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açúcar, fazendas, quilombos e áreas urbanas associadas à presença africana. As


escavações desses sítios documentaram informações sobre as condições de vida
dos escravos, seu trabalho, resistência e cultura material, contribuindo para a
compreensão da história da escravidão no Brasil.
A arqueologia histórica se concentra também no estudo de sítios urbanos,
como cidades coloniais e imperiais, fornecendo dados imprescindíveis sobre a
organização espacial, estruturas arquitetônicas, práticas de consumo e vida
cotidiana das populações urbanas. A análise de artefatos, como cerâmica, vidro,
moedas e restos alimentares, são imprescindíveis para captar as dinâmicas sociais
e econômicas das áreas urbanas históricas.
A pesquisa arqueológica em sítios militares e fortificações também é uma
parte importante da arqueologia histórica do Brasil, permitindo a compreensão das
estratégias de defesa, conflitos e ocupação territorial durante o período colonial e
imperial.
Compõem os estudos em arqueologia histórica brasileira também os sítios
religiosos, incluindo igrejas, capelas e locais de culto, que fornecem informações
sobre as práticas religiosas, as crenças e as relações entre a Igreja e as
comunidades locais.
A arqueologia histórica do Brasil não apenas ajuda a preencher lacunas na
história escrita, mas também desempenha um papel vital na preservação do
patrimônio cultural do país. Ela contribui para uma compreensão das interações
culturais e da diversidade étnica que caracterizam a história do Brasil. A arqueologia
histórica destaca a importância de proteger e valorizar sítios arqueológicos como
parte integrante da herança cultural do país.

6.2 Arqueologia Experimental e Recriação de Tecnologias Antigas

A arqueologia experimental e a recriação de tecnologias antigas têm atraído


a atenção e tem pesquisas na arqueologia brasileira contemporânea. Essa
abordagem vai além da análise de artefatos e sítios arqueológicos, buscando recriar
as técnicas, práticas e tecnologias utilizadas pelas populações, proporcionando uma
compreensão aprofundada do passado.

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A arqueologia experimental envolve a tentativa de reproduzir processos e


produtos do passado com base em evidências arqueológicas, textos históricos e
etnográficos. No Brasil, essa abordagem tem sido aplicada em diversas áreas, desde
a produção de cerâmica e artefatos líticos até a construção de habitações pré-
históricas. Arqueólogos e especialistas trabalham em conjunto para experimentar e
compreender as técnicas de confecção, os materiais utilizados e os desafios
enfrentados pelas sociedades do passado.
A recriação de tecnologias antigas não se restringe à produção de artefatos.
Ela envolve a compreensão e experimentação de sistemas agrícolas, metalurgia,
técnicas de pesca, navegação e muitas outras. Essa abordagem tem sido aplicada
a culturas indígenas pré-coloniais, sociedades coloniais e grupos quilombolas,
proporcionando interpretações sobre suas habilidades tecnológicas e práticas
cotidianas.
Um exemplo notável é a recriação das cerâmicas marajoaras, que representa
uma das mais icônicas tradições cerâmicas da pré-história brasileira. Arqueólogos e
ceramistas têm trabalhado em conjunto para compreender os métodos de produção,
a composição dos materiais e os padrões de decoração, contribuindo para uma
interpretação mais precisa dessa cultura.
A arqueologia experimental e a recriação de tecnologias antigas também
desempenham um papel fundamental na educação e divulgação científica. Essas
práticas permitem que o público em geral vivencie de forma prática o passado,
contribuindo para um maior envolvimento e compreensão da arqueologia.
Essas abordagens têm aplicações práticas, como a preservação de técnicas
tradicionais em comunidades indígenas e rurais, bem como a promoção da
valorização do patrimônio cultural. Por meio da recriação e experimentação, é
possível manter vivas tradições e conhecimentos que, de outra forma, poderiam ser
perdidos ou esquecidos.
A arqueologia experimental e a recriação de tecnologias antigas representam
uma abordagem complementar e de suma importância para a arqueologia brasileira.
Elas permitem uma compreensão mais precisa das sociedades do passado, bem
como a promoção da educação, da divulgação científica e da preservação do
patrimônio cultural. Essa abordagem contribui com a pesquisa arqueológica e amplia
os nossos horizontes de conhecimento sobre o nosso passado.

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6.3 Arqueologia Urbana e Industrial

A arqueologia urbana e industrial é um campo dinâmico e interdisciplinar que


desempenha um papel fundamental na compreensão da história das cidades e da
industrialização no Brasil. Este subcampo tem como objetivo investigar as
transformações sociais, econômicas e culturais que ocorreram durante o processo
de urbanização e industrialização do país.
A arqueologia urbana ou arqueologia da cidade concentra-se na escavação e
análise de sítios arqueológicos localizados em áreas urbanas. Esses sítios podem
incluir vestígios de vários tipos de estruturas (edifícios, pontes, parques, praças,
casas, monumentos), infraestrutura (esgoto, abastecimento de água, saneamento,
eletricidade, gás), lixo doméstico, artefatos cotidianos e sepulturas. Através da
pesquisa desses vestígios, os arqueólogos podem entender o desenvolvimento das
cidades brasileiras, desde a época colonial até os dias atuais.
A arqueologia industrial se dedica ao estudo de sítios relacionados à
industrialização, incluindo fábricas, minas, ferrovias e instalações industriais. Esses
estudos, que nem sempre se fazem através de uma escavação, revelam informações
importantes sobre as tecnologias, processos de produção e condições de trabalho
durante o Período Industrial brasileiro. O estudo de sítios industriais também estuda
o impacto sobre as mudanças nas paisagens urbanas e rurais resultantes da
industrialização.
A arqueologia urbana e industrial fornece uma interessante perspectiva sobre
a vida cotidiana das pessoas que viveram nas cidades e trabalharam nas indústrias.
Os artefatos encontrados, como cerâmica, vidro, metal e resíduos alimentares,
permitem a reconstituição das práticas culturais, padrões de consumo e modos de
vida das populações urbanas e trabalhadoras.
A arqueologia urbana e industrial é uma abordagem recomendada para
compreender as dinâmicas de classe, gênero e etnia nas cidades brasileiras ao longo
do tempo. Ela lança luz sobre questões como habitação, transporte, lazer, religião e
migração.
Essas pesquisas contribuem para uma compreensão profunda da história das
cidades brasileiras e da industrialização no país. Ressaltam a importância da

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preservação do patrimônio arqueológico em áreas urbanas e industriais,


especialmente em um contexto de desenvolvimento urbano acelerado.
A arqueologia urbana e industrial se encarrega de narrar histórias mais
abrangentes e inclusivas do Brasil, destacando as mudanças sociais, econômicas e
culturais que transformaram as cidades em decorrência da industrialização ao longo
dos séculos.

6.4 Arqueologia da Repressão e da Resistência

Arqueologia da Repressão: É uma vertente da arqueologia brasileira que se


dedica ao estudo de sítios arqueológicos relacionados aos períodos de repressão,
opressão e violência ao longo da história do Brasil. Este subcampo se concentra nos
aspectos menos conhecidos e documentados do passado brasileiro, examinando as
estratégias de controle social, repressão política e impactos sobre as populações
afetadas.
Um dos tópicos mais significativos na arqueologia da repressão no Brasil é o
estudo de sítios relacionados aos períodos de escravidão e opressão, como
senzalas, prisões e locais de castigo. As escavações nesses locais documentam as
condições de vida das pessoas submetidas à escravidão, às práticas de punição e à
resistência que muitas vezes se fazia presente em meio à adversidade.
A arqueologia da repressão estuda sítios relacionados aos períodos de
repressão política, como a ditadura militar que ocorreu no Brasil entre 1964 e 1985.
Nesse contexto, os arqueólogos investigam sítios de detenção, locais de tortura e
enterros clandestinos de vítimas da repressão. Essas pesquisas contribuem para
documentar e compreender os abusos aos direitos humanos que ocorreram durante
esse período da história brasileira.
A arqueologia da repressão também se concentra na análise de artefatos e
vestígios associados aos movimentos sociais e resistência política. Por meio desses
materiais, como panfletos, cartazes, fotografias e objetos pessoais, os arqueólogos
podem traçar a história e as experiências de grupos que lutaram contra regimes
repressivos.

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Essas pesquisas são uma parte fundamental do processo de resgate da


memória coletiva do Brasil. Elas contribuem para dar voz às vítimas e aos grupos
marginalizados que sofreram com a repressão ao longo da história do país.
A arqueologia da repressão desempenha um papel importante na promoção
da justiça social, na responsabilização por violações dos direitos humanos e na
conscientização sobre os procedimentos da opressão. Ela ressalta a importância da
preservação do patrimônio arqueológico associado aos períodos de repressão, com
a intenção de manter viva a memória das vítimas e das lutas por justiça e liberdade.
Arqueologia da Resistência: É uma abordagem significativa na pesquisa
arqueológica brasileira, dedicada a compreender as estratégias de resistência de
grupos marginalizados e oprimidos ao longo da história do país. Este subcampo visa
dar voz às comunidades que, muitas vezes, não têm suas histórias registradas nos
relatos tradicionais, destacando suas lutas, conquistas e contribuições para a
construção da sociedade brasileira.
A resistência pode se manifestar de várias formas, desde a resistência à
opressão colonial e escravização até a luta por direitos políticos, sociais e culturais.
A arqueologia da resistência concentra-se em sítios arqueológicos que revelam
vestígios da resistência, como quilombos, acampamentos de sem-terra, locais de
resistência indígena e vestígios de movimentos sociais.
Um exemplo emblemático de pesquisa arqueológica da resistência no Brasil
é o estudo de quilombos, que eram comunidades formadas por escravizados
fugitivos. As escavações nesses sítios levantam informações sobre a organização
social, as estratégias de subsistência e as táticas de resistência utilizadas pelos
quilombolas. A arqueologia ajuda a validar as histórias orais dessas comunidades,
que há muito tempo são marginalizadas e desacreditadas.
A arqueologia da resistência também se concentra na recuperação de objetos
e artefatos associados a movimentos sociais e políticos. Esses artefatos, como
cartazes, panfletos, banners, símbolos e monumentos, contam histórias de protesto,
luta por direitos e mudanças sociais. Ao estudar esses materiais, os arqueólogos
podem delinear o percurso das pessoas envolvidas em tais movimentos.
Outro tópico relevante é o estudo da resistência indígena, que se estende por
séculos de conflitos com os colonizadores europeus. A arqueologia da resistência

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em sítios indígenas revela evidências de estratégias de defesa, fortificações e táticas


de resistência adotadas pelas comunidades indígenas.
A arqueologia da resistência contribui para o diálogo atual sobre questões de
justiça social, igualdade e reconhecimento das populações marginalizadas. Ela
destaca a importância de preservar e valorizar o patrimônio arqueológico dessas
comunidades e promove uma compreensão profunda da história do Brasil, incluindo
suas narrativas de resistência e superação.
A arqueologia da resistência é uma abordagem essencial na pesquisa
arqueológica brasileira, que busca ampliar a compreensão das lutas e conquistas de
grupos marginalizados ao longo da história do país. Tem por objetivo dar voz a essas
comunidades e a contar suas histórias, destacando a importância da preservação e
valorização do patrimônio arqueológico associado à resistência no Brasil.

6.5 Arqueologia de Gênero e Arqueologia do Presente

Arqueologia de Gênero: É uma vertente da arqueologia que se dedica a


analisar as relações de gênero e identidades de gênero nas sociedades passadas.
No contexto brasileiro, essa abordagem tem se tornado cada vez mais relevante,
pois oferece informações importantes sobre a forma como essas questões foram
vivenciadas e moldaram as culturas ao longo da história do país.
Esta abordagem busca compreender como as identidades de gênero, papéis
e relações foram construídos, mantidos e desafiados nas sociedades brasileiras do
passado. Ela examina como homens e mulheres desempenharam seus papéis
sociais, econômicos, políticos e culturais, e como suas experiências variaram ao
longo do tempo e em diferentes contextos regionais.
A arqueologia de gênero no Brasil concentra-se em uma ampla gama de
tópicos, incluindo práticas funerárias, divisão do trabalho, artefatos associados ao
gênero, padrões de assentamento e símbolos culturais relacionados às identidades
de gênero. A análise de vestígios arqueológicos e materiais culturais procura
respostas para entender as experiências de pessoas historicamente marginalizadas,
os desafios e conquistas das mulheres, LGBTQ+ e outros grupos relacionados ao
gênero.

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A arqueologia de gênero tem sido fundamental na reinterpretação de sítios


arqueológicos relacionados aos grupos indígenas e comunidades quilombolas,
destacando a importância de mulheres na economia, rituais e processos de tomada
de decisões. Essa abordagem tem sido aplicada em estudos de sambaquis, que são
montes de conchas associados às comunidades pré-históricas, revelando a divisão
do trabalho, sistemas de parentesco e práticas rituais relacionadas ao gênero.
Este subcampo também contribui para o debate contemporâneo sobre
igualdade de gênero, inclusão e direitos humanos. Destaca a importância de
reconhecer e valorizar as contribuições de pessoas de diferentes identidades de
gênero ao longo da história do Brasil. Promove uma compreensão mais completa e
inclusiva das sociedades passadas ajudando a combater estereótipos de gênero
arraigados.
A arqueologia de gênero desempenha um papel importante na pesquisa
arqueológica brasileira, ampliando nossa compreensão das relações de gênero e
identidades de gênero nas sociedades passadas. Ela contribui para a valorização
das experiências de grupos historicamente marginalizados e promove a igualdade
de gênero, tanto na pesquisa quanto na sociedade em geral.
Arqueologia do Presente: É uma abordagem que tem ganhado destaque na
pesquisa arqueológica brasileira. Enquanto a arqueologia tradicional se concentra
em investigar sociedades antigas e culturas do passado, a arqueologia do presente
busca entender e interpretar as camadas arqueológicas do presente, examinando os
vestígios e materiais deixados pelas sociedades contemporâneas.
No contexto brasileiro, a arqueologia do presente tem se mostrado
particularmente relevante para compreender as mudanças sociais, econômicas e
culturais que ocorrem no país. Ela aborda temas como o impacto ambiental, o
consumo, a produção de resíduos, as dinâmicas urbanas e os processos de
patrimonialização.
Um dos aspectos fundamentais da arqueologia do presente é a análise de
lixões e aterros sanitários. Esses locais são verdadeiros depósitos de informações
sobre o consumo, hábitos alimentares, tecnologia, descarte de produtos e padrões
de vida das sociedades contemporâneas. Os arqueólogos do presente investigam
os resíduos encontrados nesses locais para inferir sobre as práticas cotidianas e o
comportamento das pessoas.

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A arqueologia do presente contribui para o entendimento das mudanças


ambientais. Através da análise de sedimentos, poluentes e resíduos tóxicos, os
arqueólogos podem traçar a história da contaminação ambiental e suas implicações
para a saúde pública.
A arqueologia do presente também se preocupa com o patrimônio cultural
contemporâneo, como prédios, monumentos e áreas históricas. Ela busca entender
como esses locais são percebidos e valorizados pela sociedade e como suas
histórias estão sendo reinterpretadas e adaptadas para as necessidades atuais.
Essa abordagem desempenha um papel fundamental na promoção da
sustentabilidade, na compreensão das mudanças sociais e no estabelecimento de
políticas públicas relacionadas ao patrimônio e ao meio ambiente. Ela destaca a
importância de considerar o presente como uma camada arqueológica relevante e
oferece novos dados para enfrentar os desafios contemporâneos.
A arqueologia do presente é uma área de pesquisa dinâmica e multidisciplinar
que busca entender as sociedades contemporâneas e suas interações com o
ambiente e o patrimônio cultural. Ela contribui para a reflexão sobre o nosso papel
na construção do futuro e na preservação da memória do presente.

6.6 Arqueologia Forense

A arqueologia forense é uma disciplina interdisciplinar que desempenha um


papel crucial na resolução de questões legais e na investigação de cenas de crime
por meio de técnicas arqueológicas. No contexto brasileiro, a arqueologia forense
tem ganhado importância crescente em investigações criminais e na identificação de
vestígios humanos em situações desafiadoras.
Esta abordagem envolve a aplicação de métodos arqueológicos e
antropológicos para recuperar, analisar e interpretar vestígios humanos em
contextos forenses. Ela é frequentemente utilizada em casos de desaparecimentos,
homicídios, genocídios, identificação de restos mortais e situações de violência em
massa.
A arqueologia forense no Brasil desempenha um papel importante na
investigação de locais de sepultamento clandestinos e na identificação de vítimas de
violência. Ela contribui na determinação da causa da morte, na estimativa da data da

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morte, na análise de lesões e na identificação de características individuais, como


idade, sexo e ancestralidade.
Outro campo de pesquisa importante na arqueologia forense brasileira é a
identificação de vítimas de regimes autoritários, como a ditadura militar que ocorreu
no país entre 1964 e 1985. Através da recuperação de restos mortais em locais de
desaparecimentos forçados, a arqueologia forense contribui para a busca da
verdade e para a justiça em casos de violações dos direitos humanos.
A arqueologia forense pode ser aplicada em desastres naturais, como
deslizamentos de terra e enchentes, para identificar vítimas e auxiliar em operações
de resgate.
Essa disciplina também tem sido utilizada na identificação de vestígios
arqueológicos em cemitérios históricos, muitas vezes ameaçados por projetos de
desenvolvimento. Através de métodos arqueológicos, os pesquisadores podem
recuperar informações sobre a história, cultura e práticas funerárias das populações
do passado.
A arqueologia forense no Brasil contribui para a aplicação da justiça, a
preservação da memória e o respeito pelos direitos humanos. Ela destaca a
importância da ciência arqueológica na resolução de questões legais e na busca da
verdade em situações complexas. Enfatiza a necessidade de preservar
adequadamente os vestígios humanos e arqueológicos, respeitando a dignidade das
vítimas e contribuindo para a elaboração de relatos do passado mais completos.

REFERÊNCIAS

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história. Rio de Janeiro e São Paulo: Record, 2009.

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FUNARI, P.P.; NOELLI, F. S. Pré-história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2023.

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resistência na América Latina na era das ditaduras (décadas de 1960/1980).
São Paulo: Annablume, 2008.

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estabelecimento de modelo de potencial para a preservação de bens
arqueológicos. Dissertação (Mestrado). São Paulo: MAE-USP, 2018.

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deposições mortuárias em arqueologia: perspectivas forenses. Revista Do
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SYMANSKI, L.C.P; SOUZA, M.A.T. (Org.). Arqueologia Histórica Brasileira. Belo


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TESSARO, P.A.B. Arqueologia com a Cidade: um movimento através da


arqueologia no contexto urbano da cidade de São Paulo - SP. Revista de
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THIESEN, B. V. Arqueologia industrial ou arqueologia da industrialização?


Mais que uma questão de abrangência. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, v. 4, p. 1-6, 2006

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Aula 07_Descobertas mais Conhecidas em Arqueologia Brasileira


Palavras-chave: sítios relevantes; novas interpretações; cenário nacional; cenário
internacional.
Figura 7 - Sítio Lapa Vermelha, Lagoa Santa, Minas Gerais. Local onde foi encontrada
Luzia.

Fonte: Disponível em: https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/sitio-arqueologico-lapa-


vermelha-ameacado-por-fabrica-de-cerveja/ Acesso 06 nov. 2023.

7.1 Sítios Arqueológicos de Destaque no Brasil

A arqueologia brasileira tem sido marcada por descobertas que ampliaram o


nosso conhecimento sobre a história e diversidade cultural do país. Sítios
arqueológicos de destaque têm desempenhado um papel fundamental na ampliação
de nosso conhecimento sobre as sociedades que habitaram as terras brasileiras ao
longo dos milênios.
Entre essas descobertas, podemos citar o sítio arqueológico Lapa do Santo,
em Lagoa Santa, localizado no estado de Minas Gerais. Este sítio pré-histórico
possui vestígios que remontam a 12.485 anos atrás. Um dos aspectos que torna a

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Lapa do Santo particularmente significativa é a presença de sepultamentos rituais,


que oferecem dados sobre as crenças e práticas funerárias de seus habitantes.
Outra descoberta notável é o sítio arqueológico da Serra da Capivara,
localizado no Piauí. Este sítio contém uma impressionante concentração de arte
rupestre, com milhares de pinturas que representam a vida cotidiana, animais e
cenas rituais de antigas sociedades. As pinturas datam de milhares de anos e
mostram a complexidade cultural das populações que viveram na região.
O sítio arqueológico Pedra Furada, também no Piauí, tem sido objeto de
pesquisas que indicam ocupações humanas datadas de cerca de 50.000 anos atrás.
Isso desafia as ideias anteriores sobre a chegada dos primeiros habitantes da
América e aponta para uma presença humana mais antiga no continente sul-
americano.
O sítio arqueológico Toca da Tira Peia, dentro do Parque Nacional Serra da
Capivara, é outro exemplo de descoberta que tem atraído atenção. Este sítio
apresenta vestígios de uma antiga ocupação humana que remonta a cerca de 22.000
anos atrás e revela informações importantes sobre as estratégias de subsistência,
tecnologias de produção e práticas sociais das populações que ali viveram.
Essas descobertas na arqueologia brasileira têm desempenhado um papel
fundamental na revisão e ampliação de nossos conhecimentos sobre a história do
Brasil. Elas fornecem dados e muitas informações sobre as sociedades pré-
históricas que habitaram o país e contribuem para uma compreensão mais completa
de sua diversidade cultural, tradições e estilos de vida. Além disso, essas
descobertas destacam a importância contínua da pesquisa arqueológica no Brasil e
seu impacto na preservação do patrimônio cultural do país.

7.2 Novas Interpretações de Sítios Conhecidos

A arqueologia brasileira continua a surpreender e desafiar as concepções


prévias à medida que novas interpretações de sítios conhecidos revisam estudos
anteriores sobre o passado do país. Sítios arqueológicos previamente estudados
estão sendo reexaminados com tecnologias avançadas e novas abordagens
interpretativas, revelando aspectos desconhecidos de nossa história.

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Estudos atuais questionaram cronologias antes estabelecidas, sugerindo que


as evidências podem apontar para ocupações mais antigas ou mais recentes,
desafiando as teorias convencionais sobre a chegada dos primeiros habitantes às
Américas. A reavaliação de sítios históricos também tem sido uma tendência.
Sítios relacionados à produção de açúcar e aguardente no período colonial
têm sido reexaminados, com foco nas técnicas de produção, nas condições de
trabalho e nas implicações sociais e econômicas dessa indústria. A reinterpretação
de sítios conhecidos tem se estendido também à arqueologia urbana e industrial.
Essas novas interpretações de sítios conhecidos na arqueologia brasileira não
apenas enriquecem nossa compreensão do passado, mas também demonstram a
importância da pesquisa contínua e da aplicação de métodos avançados de análise.
Elas revisam discursos estabelecidos e nos incentivam a reconsiderar o que
achávamos que sabíamos sobre a história do Brasil. A arqueologia continua a ser
uma disciplina dinâmica e em constante desenvolvimento, trazendo novas
descobertas e interpretações que enriquecem nossa apreciação do patrimônio
cultural do país.

7.3 Contribuições para a Compreensão da História Brasileira


As recentes descobertas na arqueologia brasileira têm feito contribuições
significativas para a compreensão da história do Brasil, revelando a diversidade
cultural, as práticas sociais e as transformações ao longo dos séculos. Essas
contribuições têm o poder de redefinir narrativas históricas e proporcionar uma visão
mais abrangente do desenvolvimento das sociedades brasileiras. Descobertas
fornecem informações importantes sobre a resistência à escravidão, a formação de
comunidades quilombolas e a cultura afro-brasileira. Essas descobertas
arqueológicas têm enriquecido nossa compreensão da revolta e das condições da
época.
A arqueologia subaquática também desempenhou um papel importante na
compreensão da história brasileira, com a identificação de naufrágios de navios
negreiros usados no tráfico transatlântico de escravos. Esses sítios subaquáticos
têm fornecido evidências sobre a jornada dos africanos escravizados e das
condições a bordo desses navios.

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Essas descobertas recentes na arqueologia brasileira têm ampliado nossa


compreensão da história do país, destacando aspectos muitas vezes negligenciados
ou esquecidos. Elas iluminam a diversidade cultural do Brasil, as lutas e resistências
de diferentes grupos sociais e as complexas dinâmicas que moldaram a nação. A
arqueologia continua a ser uma abordagem vital para evidenciar as histórias
escondidas nas camadas do passado brasileiro e para tornar as mesmas acessíveis
a um público mais amplo, melhorando assim nossa compreensão da história do
Brasil.

7.4 Impacto das Descobertas em Cenário Nacional e Internacional

As descobertas recentes na arqueologia brasileira têm tido um impacto


profundo tanto no cenário nacional quanto internacional, reforçando a importância da
pesquisa arqueológica no contexto brasileiro e contribuindo para um entendimento
mais abrangente da história da América do Sul.
Em âmbito nacional, essas descobertas têm impulsionado o reconhecimento
da rica herança arqueológica do Brasil. O país é vasto e diverso, com uma história
que abrange milênios, e as novas descobertas têm destacado essa diversidade
cultural. A compreensão aprofundada das sociedades indígenas, as práticas rituais
e funerárias, as técnicas de produção e as relações sociais ao longo do tempo são
elementos fundamentais para conscientização histórica mais completa e inclusiva.
As descobertas têm reforçado a importância da preservação do patrimônio
cultural brasileiro. À medida que sítios arqueológicos são identificados e estudados,
cresce a conscientização sobre a necessidade de proteger esses locais contra a
degradação e o saque. Isso tem levado aos esforços mais intensivos de conservação
e à promulgação de leis de proteção do patrimônio arqueológico.
No cenário internacional, a arqueologia brasileira tem contribuído para o
entendimento global da história humana. As descobertas, como os vestígios do sítio
arqueológico Lapa do Santo, que remontam a cerca de 12.500 anos atrás, têm
implicações para as teorias sobre a colonização das américas e as rotas de migração
dos primeiros habitantes do continente.
A pesquisa em sítios subaquáticos relacionados ao tráfico transatlântico de
escravos tem fornecido um testemunho material importante da escravidão no Brasil

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e de suas conexões com o comércio global. Essas descobertas arqueológicas têm


sido fundamentais para dar voz às vítimas da escravidão e para contextualizar esse
capítulo da história brasileira em um contexto global mais amplo.
No contexto acadêmico, as descobertas têm despertado o interesse por parte
de pesquisadores internacionais e incentivado a colaboração entre arqueólogos de
diferentes partes do mundo. Isso tem contribuído para uma compreensão mais
abrangente das complexas interações humanas ao longo do tempo e do espaço.
As novas descobertas na arqueologia brasileira têm ampliado a história do
Brasil e têm gerado desdobramentos importantes para um entendimento mais amplo
em âmbito global.
REFERÊNCIAS

CAMPOS, J.B.; RODRIGUES, M.H. da S. G.; FUNARI, P.P. (Org.). A


multivocalidade da arqueologia pública no Brasil: comunidades, práticas e
direito. Criciúma, SC: UNESC, 2017.

PORTO GUIMARÃES VELOSO, Tânia; EUCLIDES ALHADAS CAVALCANTI,


José. O turismo em sítios arqueológicos: algumas modalidades de apresentação
do patrimônio arqueológico. Revista de Arqueologia, [S. l.], v. 20, n. 1, p. 155–168,
2007.

PROUS, A. Arqueologia Brasileira: a pré-história e os verdadeiros colonizadores.


Mato Grosso: Carlini e Caniato Editorial, 2019.

SYMANSKI, L.C.P; SOUZA, M.A.T. (Org.). Arqueologia Histórica Brasileira. Belo


Horizonte: Editora UFMG, 2022. Site Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos
(CNSA) Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico (SGPA)
http://portal.iphan.gov.br/sgpa/?consulta=cnsa

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Aula 08_Relação da Arqueologia Brasileira com a Arqueologia Sul-


Americana

Palavras-chave: cooperação; desafios; oportunidades; interdisciplinaridade.

Figura 8 – Alunos escavando em sítio arqueológico na Amazônia.

Fonte: Disponível em: https://mais.opovo.com.br/login Acesso em 06 nov. 2023.

8.1 Cooperação e Troca de Conhecimento na América do Sul

A arqueologia brasileira tem desempenhado um papel fundamental na


promoção da cooperação e troca de conhecimento na América do Sul, contribuindo
para a compreensão das culturas pré-hispânicas do continente e fortalecendo os
laços entre os pesquisadores da região. A colaboração internacional e o
compartilhamento de informações têm sido elementos-chave para o
desenvolvimento da arqueologia na América do Sul.
Um exemplo notável de cooperação na região é a pesquisa arqueológica na
região amazônica. As vastas extensões da Amazônia abrigam uma rica diversidade
de culturas pré-coloniais, cada uma com sua própria história e identidade.
Arqueólogos brasileiros têm colaborado estreitamente com seus colegas de países
vizinhos, como Peru, Colômbia e Venezuela, para investigar e documentar essas

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culturas. Essa cooperação tem permitido uma compreensão mais abrangente das
práticas sociais, econômicas e religiosas das sociedades amazônicas antigas.
Outro exemplo é a pesquisa em sítios arqueológicos na fronteira entre o Brasil
e o Paraguai. A cooperação entre arqueólogos brasileiros e paraguaios tem sido
importante para a interpretação desses sítios e para a reconstrução das complexas
dinâmicas culturais na região.
A arqueologia brasileira tem desempenhado um papel ativo em projetos de
pesquisa interdisciplinares que envolvem países vizinhos. Por exemplo, estudos
sobre as antigas rotas de migração humana e a troca de bens entre o Brasil e a
Argentina têm sido realizados em conjunto, envolvendo arqueólogos, antropólogos
e geólogos. Essas pesquisas têm ajudado a mapear as conexões históricas e as
interações culturais na região.
A colaboração e a troca de conhecimento na América do Sul também têm sido
facilitadas por organizações e conferências regionais que reúnem arqueólogos de
diferentes países. A participação ativa de pesquisadores brasileiros em diversos
eventos e congressos internacionais tem promovido o diálogo e a troca de
informações.
A arqueologia brasileira desempenha um papel vital na cooperação e troca de
conhecimento. Essa colaboração tem ampliado nossa compreensão das culturas
pré-hispânicas da região e fortalecido os laços entre os pesquisadores sul-
americanos. A arqueologia continua a ser uma disciplina que une fronteiras e
promove uma apreciação mais profunda da herança cultural compartilhada da
América do Sul.

8.2 Estudos Comparativos entre as Culturas Sul-Americanas

A relação da arqueologia brasileira com a arqueologia sul-americana é


marcada por uma abordagem interdisciplinar que busca compreender as complexas
interações entre as diversas culturas do continente. Os estudos comparativos entre
as culturas sul-americanas têm se mostrado cruciais para traçar conexões culturais,
identificar padrões de desenvolvimento e ampliar o conhecimento sobre as
sociedades antigas do continente.

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A arqueologia brasileira tem realizado vários estudos comparativos, uma vez


que o Brasil abriga uma ampla diversidade de culturas pré-coloniais. Arqueólogos
brasileiros têm trabalhado em estreita colaboração com colegas de outros países
sul-americanos para analisar as semelhanças e diferenças nas práticas sociais,
econômicas e religiosas dessas populações. Isso tem permitido uma compreensão
mais abrangente da diversidade cultural da região amazônica.
Os estudos comparativos também têm sido aplicados em pesquisas sobre as
civilizações andinas. Arqueólogos brasileiros têm colaborado com pesquisadores do
Peru, Bolívia e Chile para investigar as antigas sociedades que habitaram as terras
altas dos Andes. Essas colaborações têm permitido uma análise mais profunda das
estruturas políticas, das práticas agrícolas e das crenças religiosas dessas
populações.
A arqueologia brasileira tem contribuído para a compreensão das conexões
transfronteiriças na América do Sul. A pesquisa em sítios arqueológicos na fronteira
com países como a Argentina e o Paraguai tem revelado vestígios das relações
interculturais e das redes de troca que se estendiam por vastas distâncias. A
colaboração entre arqueólogos de diferentes nações tem sido essencial para
documentar essas relações.
Os estudos comparativos também têm pesquisado as complexas rotas de
migração humana e os movimentos culturais na América do Sul. A análise de
padrões cerâmicos, estilos de arte e técnicas de construção tem fornecido pistas
sobre as influências culturais e as trocas entre diferentes regiões do continente.
Os estudos comparativos entre as culturas sul-americanas desempenham um
papel essencial na arqueologia brasileira, promovendo uma compreensão mais
profunda das sociedades antigas da região e enriquecendo o conhecimento sobre a
diversidade cultural do continente. A colaboração internacional e a abordagem
interdisciplinar são elementos-chave para a realização dessas pesquisas, e a
arqueologia continua a ser uma disciplina que transcende fronteiras geográficas e
temporais para revelar a riqueza da herança cultural da América do Sul.

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8.3 Perspectivas Futuras de Colaboração

As perspectivas futuras de colaboração entre a arqueologia brasileira e a


arqueologia sul-americana são promissoras e prometem expandir ainda mais o
conhecimento sobre as culturas pré-coloniais da região. À medida que a disciplina
continua a crescer, novas oportunidades surgem para fortalecer os laços entre os
pesquisadores e aprofundar a compreensão das sociedades pretéritas da América
do Sul.
Um dos caminhos para a colaboração futura reside na ampliação das
parcerias interinstitucionais. A formação de redes de pesquisa que envolvam
universidades, institutos de pesquisa e museus de diferentes países da América do
Sul pode proporcionar uma plataforma sólida para a troca de conhecimento e
recursos. Essas parcerias podem incluir projetos conjuntos de escavação, estudos
comparativos de coleções arqueológicas e colaborações em publicações científicas.
Dessa forma, os pesquisadores poderão abordar questões arqueológicas complexas
de forma mais abrangente.
A aplicação de abordagens interdisciplinares é uma tendência que ganha
força na arqueologia. A colaboração entre arqueólogos e pesquisadores de
disciplinas como antropologia, geologia, botânica e ecologia pode levar a uma
compreensão mais profunda das sociedades antigas e dos ambientes em que
viveram. Isso pode resultar em uma interpretação mais ampla das culturas pré-
coloniais e das paisagens que modificaram.
A tecnologia desempenhará um papel crucial na pesquisa arqueológica futura.
O uso de técnicas avançadas, como escaneamento a laser, a já tradicional datação
por radiocarbono e análise de isótopos, permitirá uma investigação mais precisa e
detalhada dos vestígios arqueológicos. A colaboração com especialistas em
tecnologia e ciências exatas é fundamental para a aplicação bem-sucedida dessas
técnicas.
Outra área de colaboração promissora é a educação e a divulgação. A
promoção do interesse pela arqueologia entre o público em geral e entre os jovens
estudantes é indispensável para garantir a continuidade da disciplina. A realização
de programas educacionais conjuntos, workshops e eventos públicos pode

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corroborar a disseminar o conhecimento arqueológico e incentivar a preservação do


patrimônio cultural.
As perspectivas futuras de colaboração entre a arqueologia brasileira e a
arqueologia sul-americana prometem abrir novos horizontes para a pesquisa e o
entendimento das culturas pré-coloniais da região. Com parcerias interinstitucionais,
abordagens interdisciplinares, tecnologia de ponta e um foco na educação e
divulgação, os pesquisadores estão bem posicionados para enfrentar os desafios e
oportunidades que o futuro reserva. A arqueologia continuará a ser uma disciplina
que une culturas e fortalece os laços entre as nações da América do Sul.

8.4 Desafios e Oportunidades da Arqueologia Regional

Os desafios e oportunidades da arqueologia regional na relação da


arqueologia brasileira com a arqueologia sul-americana são temas de grande
relevância para o desenvolvimento da disciplina. Como em qualquer campo da
arqueologia, a pesquisa regional apresenta oportunidades significativas, mas
também enfrenta desafios que precisam ser superados para alcançar resultados
substanciais.
Uma das oportunidades mais notáveis na arqueologia regional é a riqueza da
diversidade cultural que o continente sul-americano abriga. Cada região tem suas
próprias tradições e práticas culturais, o que oferece aos pesquisadores uma ampla
gama de sociedades antigas para estudar. Isso permite a construção de discursos
complexos sobre o desenvolvimento das culturas sul-americanas e a compreensão
das relações entre elas.
A colaboração entre pesquisadores de diferentes regiões é uma oportunidade
valiosa para superar a fragmentação do conhecimento. Ao unir forças, arqueólogos
de diferentes áreas geográficas podem compartilhar conhecimentos, metodologias e
experiências, aumentando assim a compreensão geral da arqueologia sul-
americana. Esse compartilhamento de informações pode ser facilitado por meio de
conferências, simpósios e projetos de pesquisa colaborativos.
Os desafios também são evidentes. A falta de financiamento adequado é um
obstáculo comum na arqueologia regional. Pesquisas em áreas remotas ou menos
exploradas podem ser caras e exigir recursos substanciais. A busca por

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financiamento é uma preocupação constante para muitos arqueólogos que desejam


realizar pesquisas de campo de alta qualidade.
A preservação do patrimônio arqueológico é uma preocupação fundamental.
À medida que as regiões sul-americanas enfrentam o desenvolvimento e a
urbanização, muitos sítios arqueológicos estão sob ameaça. A colaboração com
órgãos de preservação do patrimônio e a conscientização pública são ferramentas
essenciais para enfrentar esse desafio.
Outro desafio é a necessidade de formar e capacitar arqueólogos locais em
regiões menos exploradas. A falta de especialistas locais pode dificultar a
interpretação aprofundada das descobertas arqueológicas em contextos regionais
específicos.
A relação da arqueologia brasileira com a arqueologia sul-americana oferece
inúmeras oportunidades e desafios na pesquisa regional. A colaboração, o
financiamento adequado, a preservação do patrimônio e a formação de arqueólogos
locais são questões cruciais que os pesquisadores devem abordar para promover
um entendimento mais amplo e profundo das culturas antigas da América do Sul.

8.5 Interdisciplinaridade na Arqueologia Brasileira

A interdisciplinaridade na arqueologia brasileira tem se tornado uma tendência


cada vez mais marcante nas últimas décadas. Essa abordagem, que envolve a
colaboração entre arqueólogos e especialistas de diversas áreas, tem enriquecido e
ampliado significativamente o escopo da pesquisa arqueológica no país.
Uma das áreas em que a interdisciplinaridade tem se destacado é a
arqueologia ambiental. Nesse contexto, os arqueólogos trabalham em estreita
colaboração com geólogos, biólogos, botânicos e especialistas em ecologia para
entender as relações entre as sociedades passadas e o ambiente natural. Através
de análises de sedimentos, estudos paleoambientais e pesquisas botânicas, os
arqueólogos podem reconstituir as condições climáticas e ecológicas do passado,
bem como a influência das atividades humanas no ambiente.
Outro exemplo notável é a colaboração entre arqueologia e antropologia. A
antropologia fornece dados imprescindíveis sobre as práticas culturais, crenças e
estruturas sociais das sociedades contemporâneas. Ao integrar abordagens

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antropológicas às pesquisas arqueológicas, os arqueólogos podem interpretar de


forma mais abrangente os vestígios culturais encontrados nos sítios arqueológicos,
relacionando-os às tradições culturais e práticas sociais das sociedades passadas.
A interdisciplinaridade também tem se mostrado relevante na arqueologia
histórica. Arqueólogos e historiadores frequentemente trabalham juntos para
compreender as histórias das sociedades coloniais e pós-coloniais do Brasil. A
combinação de fontes documentais históricas e evidências arqueológicas oferece
uma visão mais completa do passado, permitindo a análise de transformações
sociais, econômicas e culturais.
A arqueologia subaquática é uma área em que a interdisciplinaridade
desempenha um papel capital. Essa subárea da arqueologia requer a colaboração
com mergulhadores, oceanógrafos e especialistas em conservação para investigar
naufrágios e sítios submersos. A interdisciplinaridade nesse contexto é essencial
para garantir a preservação e a documentação adequada desses sítios, bem como
a interpretação de suas descobertas.
A interdisciplinaridade na arqueologia brasileira tem enriquecido e ampliado o
campo de pesquisa, possibilitando uma compreensão mais completa e profunda das
sociedades passadas e de suas relações com o ambiente e outras culturas. A
colaboração entre arqueólogos e especialistas de diversas áreas tem gerado novas
perspectivas para a pesquisa arqueológica no Brasil. Essa abordagem
interdisciplinar é fundamental para o crescimento e o avanço contínuo da arqueologia
no país.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, L.M. Diálogos da arqueologia sul-americana: Hermann von Ihering,


o Museu Paulista e os museus argentinos no final do século XIX e início do XX.
Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 19, p. 63-78, 2009.

FUNARI, P.P. Desafios da arqueologia: depoimentos. Erechim: Habilis, 2009.

GUEDES, M.T.F. A Cooperação Intelectual no Fórum das Conferências Pan-


Americanas. Revista Memória em Rede, Pelotas, 3, 8, p. 1-14, 2013.

HORA, J.F.; PORTO, V.C. Patrimônio Cultural, Arqueologia Pública e


Educação Patrimonial: Multivocalidade e Interdisciplinaridade. Veredas - Revista
Interdisciplinar de Humanidades, 3, p. 141-156, 2020.

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LOURDEAU, A. A Serra da Capivara e os primeiros povoamentos sul-


americanos: uma revisão bibliográfica. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Ciências Humanas, Belém, 14, 2, p. 367-398, 2019.

NOELLI, F.S.; CORRÊA, Â.A. Arqueologia regional e a construção das


paisagens Guarani na margem esquerda do rio Paraná, Estado do Paraná,
Brasil. Estudos arqueológicos regionais, 29, 45, p. 87-112, 2016.

SCATAMACCHIA, M.C.M.; RAMBELLI, G. Arqueologia regional e o


gerenciamento do patrimônio arqueológico. Revista de Arqueologia Americana,
Instituto Panamericano de Geografia e História, p. 111-130, 2001.
Sites
Tratado Sul-Americano de Arqueologia
https://www.programajuntospelobrasil.com.br/eixo-3/soberania-nacional-defesa-e-
politica-externa/tratado-sul-americano-de-arqueologia/

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Resumo – Unidade II

Nessa segunda unidade vimos como a arqueologia brasileira desempenha um


papel de destaque em diversas áreas, contribuindo para a compreensão da riqueza
do passado do país e sua interação com as pesquisas realizadas na América do Sul.
Nesse contexto, destacam-se quatro aspectos de relevância: a contribuição da
arqueologia brasileira para os Temas Recorrentes em Arqueologia, a diversidade
das Arqueologias Praticadas no Brasil, as Descobertas Recentes que enriquecem o
conhecimento arqueológico e a relação estreita da arqueologia brasileira com a
Arqueologia Sul-Americana.
A arqueologia brasileira tem contribuído de forma significativa para a
abordagem de Temas Recorrentes na disciplina. O estudo da interação entre
sociedades indígenas e europeias, o desenvolvimento de pesquisas sobre
patrimônio subaquático, a investigação das ocupações pré-coloniais e as pesquisas
que exploram as relações culturais ao longo do tempo são exemplos de temas que
ganharam destaque na arqueologia brasileira. Essa contribuição é fundamental para
o entendimento da história e da cultura do Brasil.
A diversidade das Arqueologias Praticadas no Brasil é uma característica
marcante da disciplina no país. A vasta extensão territorial brasileira e sua riqueza
cultural resultam em abordagens variadas, que vão desde a arqueologia histórica
nas cidades coloniais até a arqueologia pré-histórica em áreas remotas da
Amazônia. Além disso, a arqueologia de resgate, a arqueologia pública e a
arqueologia acadêmica coexistem no cenário brasileiro, proporcionando uma
multiplicidade de perspectivas e métodos.
As Descobertas mais Conhecidas em Arqueologia Brasileira têm enriquecido
o conhecimento sobre o passado do país. Descobertas de sítios arqueológicos, como
a Lapa do Santo e o sítio arqueológico do Parque Nacional Serra da Capivara,
trouxeram à tona novas evidências que desafiam e expandem as concepções
convencionais da história brasileira. Essas descobertas têm o potencial de mudar a
narrativa histórica e cultural do Brasil.
A relação da arqueologia brasileira com a Arqueologia Sul-Americana é de
grande importância, uma vez que o Brasil faz parte do contexto sul-americano e
compartilha muitos traços culturais e históricos com outros países da região. A

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colaboração internacional entre arqueólogos brasileiros e sul-americanos tem


permitido uma visão mais ampla das práticas culturais e interações que moldaram o
continente ao longo dos séculos. Essa interconexão fortalece a pesquisa e enriquece
o entendimento das complexas relações humanas na América do Sul.
A arqueologia brasileira desempenha um papel vital ao contribuir para os
Temas Recorrentes em Arqueologia, ao promover uma diversidade de abordagens
na Arqueologia Praticada no Brasil, ao estudar também as descobertas mais
conhecidas que enriquecem o conhecimento e ao fortalecer a relação da arqueologia
brasileira com a Arqueologia Sul-Americana. Essa interação contínua entre a
arqueologia brasileira e a disciplina em escala regional e global é essencial para a
construção de uma compreensão mais completa do passado e da cultura do Brasil
e da América do Sul.

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Aula 09_Arqueologia Pré-Colonial do Brasil


Palavras-chave: indígenas; sítios; artefatos; história antiga brasileira.

Figura 9 - Artefatos utilizados pelo homem pré-histórico achados na Bacia de São José de
Itaboraí no sítio arqueológico Morro da Dinamite.

Fonte: Disponível em:


https://www.researchgate.net/publication/260991216_Percepcao_dos_professores_do_entor
no_do_Parque_Paleontologico_de_Sao_Jose_de_Itaborai_RJ_sobre_aspectos_geologicos
_paleontologicos_e_arqueologicos_locais/figures?lo=1 Acesso em 06 nov. 2023.

9.1 Arqueologia das Populações Indígenas Pré-Coloniais

A arqueologia das populações indígenas pré-coloniais no Brasil desempenha


um papel fundamental na composição da história das sociedades que habitaram
esse território antes da chegada dos europeus. Essa área de pesquisa oferece
importantes descobertas sobre as complexas culturas e modos de vida das
populações nativas, que fizeram parte da formação do que mais tarde veio a se
denominar Brasil.
Um dos aspectos que mais chama a atenção da arqueologia indígena pré-
colonial é a diversidade cultural e geográfica das sociedades que existiam antes do
contato com os europeus. Essas culturas variavam desde grupos nômades que
subsistiam da caça, coleta e pesca até sociedades agrícolas que desenvolveram
técnicas avançadas de cultivo, como os povos da região amazônica. Cada uma
dessas culturas deixou uma marca única em seu ambiente, criando sítios
arqueológicos distintos que contam histórias singulares.
A pesquisa arqueológica das populações indígenas pré-coloniais abrange
uma ampla gama de tópicos, desde a análise de artefatos, estruturas e restos mortais

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humanos até a investigação de sistemas agrícolas, práticas funerárias e sistemas de


parentesco. Esses estudos proporcionam uma visão detalhada das tecnologias,
crenças e relações sociais das populações nativas.
A arqueologia indígena pré-colonial desafia muitos estereótipos e visões
distorcidas que historicamente prevaleceram sobre as culturas indígenas. Ao
documentar as conquistas culturais e tecnológicas dessas sociedades, a pesquisa
arqueológica oferece uma perspectiva mais justa e respeitosa das populações
indígenas, contribuindo para sua valorização e reconhecimento.
A pesquisa arqueológica das populações indígenas pré-coloniais não está
isenta de desafios. A preservação do patrimônio arqueológico é uma preocupação
constante, especialmente em um país com uma história de ocupação extensa e
contínua. Também é essencial envolver as comunidades indígenas no processo de
pesquisa, respeitando suas perspectivas e conhecimentos tradicionais.
A arqueologia das populações indígenas pré-coloniais no Brasil é uma
disciplina que continua cada vez mais gerando dados e conhecimento. Oferece uma
visão ampla e diversificada das sociedades indígenas, destacando sua importância
na construção da história do Brasil e desafiando estereótipos históricos. A pesquisa
arqueológica nesse campo é um esforço interdisciplinar que contribui para um
entendimento profundo e inclusivo da pré-história brasileira.

9.2 Evidências de Sítios e Artefatos

No vasto território que hoje constitui o Brasil, uma rica história pré-colonial se
desenrolou ao longo de milênios. A aula "Arqueologia Pré-Colonial no Brasil" explora
essa jornada no tempo, e um dos tópicos centrais que merece atenção especial são
as evidências de sítios e artefatos sobre as sociedades que floresceram antes do
século XVI.
A primeira evidência que os arqueólogos encontram ao explorar a história pré-
colonial do Brasil são os sítios arqueológicos. Estes são lugares que testemunham
o cotidiano e os rituais de várias culturas que se desenvolveram em regiões tão
diversas quanto a Amazônia, o Pantanal, o Sertão nordestino e a Mata Atlântica. Os
sítios variam de pequenos acampamentos usados por grupos nômades a

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assentamentos de maior porte como os encontrados em território dos povos tupi-


guarani.
Entre as evidências mais notáveis encontradas nesses sítios estão os
artefatos. A cerâmica é um elemento essencial nesse contexto, demonstrando um
notável grau de habilidade e criatividade. Vasilhas, panelas e urnas funerárias
revelam não apenas a destreza técnica, mas também a importância do simbolismo
nas sociedades pré-coloniais.
Outras evidências incluem instrumentos líticos, como machados, facas e
pontas de flechas, que refletem as práticas cotidianas e de caça dos povos
indígenas.
A arqueologia também foca sobre os sítios funerários, que oferecem um
vislumbre das crenças espirituais e rituais dessas sociedades antigas. A presença
de túmulos, muitas vezes ricamente adornados, revela a importância dada ao culto
dos mortos.
O estudo das evidências de sítios e artefatos na arqueologia pré-colonial
brasileira não é apenas uma investigação do passado, mas uma maneira de
preservar a herança cultural dos povos que habitavam essa terra. Isso fornece uma
visão significativa sobre a história e identidade do Brasil como nação, destacando a
influência das raízes indígenas na formação do território e da cultura.

9.3 Estudo de Caso

O Brasil é um caldeirão de culturas, um país vasto e diverso que contém uma


herança arqueológica rica. Não podemos deixar de citar o caso da Amazônia, que
revela as complexidades e singularidades de sua história pré-colonial.
Os Mistérios da Amazônia:
A Amazônia é um dos biomas mais exuberantes e misteriosos do mundo, e a
arqueologia na região revelou uma história igualmente fascinante. Os povos pré-
coloniais da Amazônia não construíram monumentos de rocha como as pirâmides
maias ou os templos incas, mas suas cidades de terra, conhecidas como tesos,
intrigaram os arqueólogos. Através de escavações em sítios como Marajó, no Pará,
descobriu-se uma sociedade complexa que produzia cerâmica esculpida e mantinha
uma dieta rica em peixes da região. A complexa rede de canais aquáticos que

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conectava essas cidades é notável e um testemunho do conhecimento indígena


sobre o ambiente.
Estudos de caso são importantes amostras para entender a complexidade que
a arqueologia pré-colonial no Brasil tem a oferecer. Cada região do país guarda
'segredos' e histórias únicas, e a exploração desses sítios e períodos nos permite
traçar uma linha do tempo que nos leva a uma compreensão mais profunda das
raízes da nação brasileira. A arqueologia é uma janela para o passado, e em nossa
aula, abrimos essa janela para revelar algumas descobertas que moldam a nossa
compreensão da história pré-colonial do Brasil.

9.4 Contribuições para a Reconstituição da História Antiga do Brasil

A história pré-colonial do Brasil é um “quebra-cabeça”, com peças que vão


muito além do momento em que os europeus aportaram em terras indígenas. Neste
capítulo, mergulhamos na riqueza da arqueologia brasileira e nas contribuições que
essa disciplina singular oferece para a reconstrução da história antiga do país.
A arqueologia pré-colonial no Brasil desempenha um papel fundamental na
decifração das origens e evoluções das culturas indígenas que habitaram essa vasta
terra. Em nossa busca por compreender os primeiros povos, encontramos
evidências substanciais que oferecem valiosas contribuições para a narrativa da
história antiga do Brasil.
Os vestígios arqueológicos, como sítios, artefatos e estruturas, têm
desempenhado um papel fundamental. Sítios como o da Pedra Furada, no Piauí,
que remontam a cerca de 50.000-38.000 anos atrás, ainda que não seja consenso,
desafiam as noções tradicionais de quando os humanos chegaram às américas.
Essas descobertas não apenas antecedem a chegada dos europeus, mas também
evidenciam a antiguidade da presença humana no território brasileiro, ampliando
nossa compreensão das migrações humanas pré-históricas.
A cerâmica também desempenhou um papel de destaque nas contribuições
da arqueologia pré-colonial para a história antiga do Brasil. A diversidade de estilos,
técnicas e decorações encontradas em sítios de Santarém e Marajó no Pará, não
apenas revela a habilidade técnica das antigas populações, mas também permite a

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identificação de padrões de comércio e interação cultural que se estendiam por


vastas áreas geográficas.
A arqueologia submarina é outra vertente que tem oferecido dados
imprescindíveis, revelando naufrágios de embarcações indígenas pré-coloniais. Os
vestígios de naufrágios no Rio Amazonas atestam as complexas redes de
navegação e comércio que existiam antes da chegada dos colonizadores.
A arqueologia contribui para a compreensão das práticas funerárias e das
crenças dos povos pré-coloniais. Sítios funerários, como os encontrados na Serra da
Capivara, revelam rituais sofisticados e a veneração dos mortos, esclarecendo sobre
as visões de mundo dessas culturas.
A história antiga do Brasil é um arranjo complexo no qual a arqueologia tem
desempenhado um papel central na reconstituição. Cada descoberta é uma 'peça'
do 'quebra-cabeça' que contribui para a compreensão das origens e do
desenvolvimento das sociedades indígenas que moldaram o país, bem como a
riqueza das interações culturais que ocorreram antes da chegada dos portugueses.
Através das contribuições da arqueologia pré-colonial, continuamos a desvendar as
particularidades do Brasil ancestral.

REFERÊNCIAS

FUNARI, P. P.; NOELLI, F. S. Pré-história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2023.


GASPAR, M.D. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2004.
GOSDEN, C. Pré-história. Porto Alegre: L&PM Pocket Encyclopaedia, 2012.
NEVES, E.G. Arqueologia da Amazônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
PALLESTRINI, L.; MORAIS, J.L. de. Arqueologia Pré-Histórica Brasileira. São
Paulo: Universidade de São Paulo, Museu Paulista, Fundo de Pesquisas/ Edusp,
1982.
PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Brasília: Editora UNB, 1992.
PROUS, A. Arqueologia Brasileira: a pré-história e os verdadeiros colonizadores.
Mato Grosso: Carlini e Caniato Editorial, 2019.

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TENÓRIO, M.C. (Org.). Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ,


2000.
VILLAGRÁN, X. S. Estratigrafias que falam: geoarqueologia de um sambaqui
monumental. São Paulo: Annablume, 2010.

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Aula 10_Arqueologia Colonial do Brasil


Palavras-chave: colonização; cultura material; impacto; interpretação.

Figura 10 - Ruinas do Engenho São Jorge dos Erasmos, Santos, São Paulo.

Fonte: Disponível em: https://prceu.usp.br/centro/ruinas-do-engenho/ Acesso em 06 nov.


2023.

10.1 Vestígios Arqueológicos da Época Colonial

O período colonial brasileiro é uma época de intensa transformação que


moldou a nação e sua cultura de maneira profunda e complexa. A arqueologia
desempenha um papel fundamental na reconstituição desse capítulo da história do
Brasil, revelando vestígios arqueológicos que esclarecem sobre os aspectos
cotidianos e as interações culturais dessa época.
Durante a era colonial, o Brasil viu uma diversidade de povos e culturas
interagirem, resultando em um grande emaranhado de vestígios arqueológicos.
Entre as descobertas que se destacam está a presença de engenhos de açúcar, que
foram o centro da economia colonial. Essas estruturas, que incluem moinhos, fornos
e senzalas, são evidências do sistema de plantation que impulsionou a economia da
colônia. Escavações em engenhos oferecem importantes informações sobre as
condições de trabalho, a tecnologia utilizada e a vida cotidiana dos escravizados e
dos colonos.

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Outros vestígios incluem os fortes costeiros construídos para defender o litoral


brasileiro contra invasões estrangeiras. Estruturas como fortes atestam não apenas
a preocupação com a segurança colonial, mas também as influências arquitetônicas
europeias nas construções brasileiras.
A presença de cemitérios coloniais também é um campo de interesse para a
arqueologia. Além das descobertas de restos mortais e artefatos funerários, esses
sítios revelam detalhes sobre as crenças religiosas da época. Várias igrejas contém
um cemitério com sepulturas e lápides que proporcionam uma visão das práticas
funerárias e da identidade das comunidades afro-brasileiras.
A arqueologia tem contribuído para desvendar os vestígios de povos
indígenas que habitaram o Brasil durante o período colonial, como os Tupinambá,
os Tupiniquim e os Guaranis. Escavações em sítios, como o Sítio Arqueológico do
Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, permitem uma compreensão profunda das
complexas interações culturais entre os colonizadores e os africanos escravizados.
Os vestígios arqueológicos da época colonial brasileira evidenciam as
camadas de influências culturais, as condições de vida e o complexo social que
formaram o Brasil que conhecemos hoje. Eles não apenas ampliam a nossa
compreensão da história, mas também nos lembram da importância de preservar e
proteger esses sítios históricos de grande valor.

10.2 Contribuições para a Compreensão da Colonização

O período colonial brasileiro foi uma era de intensas transformações, marcada


pela chegada dos europeus e o impacto que isso teve nas terras e nas culturas
indígenas e africanas. A arqueologia fornece contribuições significativas para a
compreensão da colonização e seus efeitos no Brasil.
Uma das contribuições mais notáveis da arqueologia ao estudo da
colonização é a revelação das estruturas de ocupação europeia e a análise das
modificações no ambiente. Através de escavações em locais como o Pelourinho, em
Salvador, foram descobertas as bases de construções coloniais, bem como vestígios
de infraestruturas urbanas e sistemas de saneamento. Isso oferece um
detalhamento sobre como os colonizadores europeus estabeleceram suas cidades

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e influenciaram o ambiente circundante, incluindo a introdução de novas plantas e


animais, como a cana-de-açúcar e o gado.
A arqueologia é essencial para se entender a vida cotidiana no período
colonial. Sítios como a Casa da Torre de Garcia D'Ávila, na Bahia, mostram detalhes
sobre a vida nas casas senhoriais, os hábitos alimentares, as práticas religiosas e
os sistemas de armazenamento de alimentos. Isso contribui para a construção de
um quadro mais abrangente das complexas relações sociais que surgiram durante a
colonização.
Os vestígios arqueológicos são testemunhos sobre a presença e o papel dos
africanos escravizados na sociedade colonial. As escavações em sítios como o
Cemitério dos Pretos Novos, no Rio de Janeiro, fornecem informações sobre as
condições de vida, as práticas funerárias e as crenças espirituais dessas
comunidades. Evidências de resistência e adaptação, como a presença de artefatos
religiosos afro-brasileiros, são particularmente reveladoras.
A arqueologia contribui para a compreensão das complexas interações
culturais que ocorreram durante a colonização. As descobertas em locais de
comércio, como o Porto de Sepetiba no Rio de Janeiro, demonstram a diversidade
de bens e mercadorias que eram trocados entre europeus, indígenas e africanos.
Isso destaca a influência mútua das culturas e a formação de uma sociedade única
e multicultural no Brasil colonial.
A arqueologia desempenha um papel fundamental na construção da história
da colonização do Brasil. Suas contribuições revelam não apenas os aspectos
materiais desse período, mas também as complexas relações culturais e sociais que
deram forma à nação brasileira. Ela nos dá subsídios para compreender as raízes
de nossa identidade e a importância de preservar e proteger esse valioso patrimônio
histórico.

10.3 Impacto da Colonização na Cultura Material

O período colonial brasileiro é de suma importância na história do Brasil, uma


era de encontros culturais e transformações profundas. A arqueologia desempenha
um papel fundamental na análise do impacto da colonização na cultura material do

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país, fornecendo uma visão rica e detalhada das mudanças que ocorreram nesse
período.
Uma das transformações mais evidentes na cultura material durante o período
colonial foi a introdução de novos materiais e técnicas de construção pelos
colonizadores europeus. Escavações em locais como o centro histórico de Olinda,
em Pernambuco, revelaram as bases de edifícios coloniais, incluindo estruturas de
rocha e tijolo que contrastam com as técnicas construtivas indígenas. Essas
descobertas demonstram como os europeus deixaram uma marca notável na
paisagem e na arquitetura brasileira.
O impacto da colonização também pode ser observado na cerâmica. A
arqueologia revela mudanças nas técnicas de produção e nos estilos decorativos
das peças cerâmicas utilizadas durante o período colonial. A cerâmica conhecida
como faiança de origem europeia, se tornou uma presença comum nas casas
coloniais, substituindo, em grande parte, a cerâmica indígena tradicional. A análise
de fragmentos de cerâmica permite rastrear as influências culturais e comerciais
entre diferentes regiões do Brasil e o Velho Mundo.
A arqueologia também levanta inúmeros dados sobre as práticas religiosas
durante o período colonial. A presença de igrejas e capelas em todo o Brasil é um
testemunho do esforço missionário dos colonizadores. Escavações em locais
religiosos, como a Igreja de São Francisco, em João Pessoa, mostram a riqueza da
arte sacra e a influência da estética barroca nas construções religiosas. A descoberta
de objetos de devoção, como ex-votos e imagens religiosas, mostram a importância
da fé na vida cotidiana da sociedade colonial.
Outro impacto notável da colonização na cultura material é observado na
indústria metalúrgica. Os europeus trouxeram técnicas avançadas de metalurgia
para o Brasil, resultando na produção de objetos de ferro, bronze e prata. Sítios
arqueológicos, como o Forte do Castelo, em Belém, revelam artefatos de metal que
serviam a fins militares, como armas e armaduras, bem como a usos cotidianos,
como utensílios de cozinha e objetos decorativos.
A arqueologia proporciona um entendimento sobre as complexas interações
culturais e mudanças que ocorreram durante o período colonial brasileiro. Ela nos
ajuda a entender não apenas o impacto da colonização na cultura material, mas
também as resiliências e adaptações das populações indígenas e africanas em face

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das influências europeias. As descobertas arqueológicas ampliam a nossa


compreensão da formação da identidade brasileira e da diversidade cultural que
caracteriza o país.

10.4 Desafios na Interpretação do Período Colonial

O estudo da arqueologia durante o período colonial brasileiro é repleto de


desafios e complexidades, pois envolve uma era de intensas transformações,
encontros culturais e camadas históricas sobrepostas. O entendimento desse
período intricado requer minuciosidade, análise crítica e consideração cuidadosa dos
desafios que surgem na interpretação desses vestígios arqueológicos.
Um dos principais desafios na interpretação do período colonial é a
sobreposição de camadas históricas. O Brasil colonial contemplou diversos eventos
ao longo de séculos, incluindo a colonização por portugueses, a resistência dos
povos indígenas, a introdução da escravidão africana, a exploração de recursos
naturais e as interações culturais. Isso resulta em sítios arqueológicos de estratigrafia
complexa com vestígios de diferentes épocas e culturas enterrados uns sobre os
outros. Os arqueólogos enfrentam o desafio de separar essas camadas e traçar a
história de maneira precisa.
A escassez de registros escritos é outro desafio significativo. Grande parte da
história colonial do Brasil foi documentada por colonizadores europeus,
frequentemente com viés eurocêntrico, negligenciando as perspectivas dos povos
indígenas e africanos. A arqueologia desempenha um papel importante ao adotar
uma perspectiva equilibrada e inclusiva, reconhecendo as vozes subalternas que
foram silenciadas.
A diversidade cultural e a amplitude geográfica do Brasil colonial representam
outro desafio. As diferentes regiões do país apresentam realidades distintas em
termos de economia, cultura e sociedade. Os vestígios arqueológicos variam
consideravelmente, e os arqueólogos precisam considerar essas diferenças
regionais ao interpretar as descobertas. Isso exige uma abordagem interdisciplinar,
envolvendo arqueólogos, historiadores, antropólogos e outros especialistas.
A falta de contextos claros é um desafio adicional. Muitos sítios arqueológicos
estão fragmentados e sem documentação histórica precisa. Isso torna a

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interpretação mais complexa, uma vez que os pesquisadores precisam criar


narrativas baseadas em evidências limitadas.
A arqueologia do período colonial brasileiro é repleta de desafios. No entanto,
esses desafios também representam oportunidades de descoberta e aprendizado. À
medida que os arqueólogos superam essas barreiras, eles não apenas iluminam a
história do Brasil colonial, mas também contribuem para uma compreensão mais
completa e inclusiva da formação da nação brasileira.

REFERÊNCIAS

CARLE, C. B. Arqueologia histórica brasileira e o estudo missioneiro de 50 anos


(1966-2016). Revista Arqueologia Pública, Campinas, SP, v. 11, n. 1[18], p. 106–
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GASPAR, M.D. História da Construção da Arqueologia Histórica Brasileira. Revista


do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 13, p. 269-301, 2003.

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complexidade dos processos de povoamento no passado. 1. ed. Porto Alegre:
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Livros, 1992.

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SYMANSKI, L.C.P; SOUZA, M.A.T. (Org.). Arqueologia Histórica Brasileira. Belo


Horizonte: Editora UFMG, 2022.

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Núcleo de Ensino a Distância

Aula 11_Arqueologia Imperial do Brasil


Palavras-chave: legados; monarquia; abordagens; contribuições.

Figura 11 - Paço de São Cristóvão, hoje Museu Nacional, Rio de Janeiro.

Fonte: Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%A7o_de_S%C3%A3o_Crist%C3%B3v%C3%A3o
Acesso 06 nov. 2023.

11.1 Sítios Arqueológicos Relevantes do Período Imperial

O Período Imperial brasileiro, que compreende o século XIX, é uma era


significativa na história do Brasil, marcada pela independência do país de Portugal e
pela consolidação de um império sob o comando de Dom Pedro I e Dom Pedro II. A
arqueologia desempenha um papel fundamental na reconstrução desse capítulo da
história, documentando sítios arqueológicos que ampliam o nosso conhecimento
sobre os aspectos culturais e materiais desse período.
Um dos sítios arqueológicos mais relevantes do período imperial é o Paço
Imperial, localizado no centro histórico do Rio de Janeiro. O Paço Imperial foi o centro
do poder político e administrativo durante o Império, servindo como residência dos
imperadores e local de eventos importantes. As escavações e pesquisas
arqueológicas realizadas nesse local trouxeram detalhes sobre a arquitetura,
decoração e a vida cotidiana da elite imperial. Os vestígios recuperados, como

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fragmentos de cerâmica, objetos pessoais e restos de estruturas, oferecem uma


visão particular da corte e das atividades que ocorreram ali.
Outro sítio de grande relevância é o Cais do Valongo, localizado no centro
histórico do Rio de Janeiro. Esse sítio tem grande importância devido ao seu papel
na história da escravidão. Foi o principal ponto de desembarque de africanos
escravizados no Brasil durante o fim do século XVIII e o início do XIX. As escavações
no Cais do Valongo revelaram evidências arqueológicas da chegada de milhares de
africanos escravizados, incluindo vestígios de alojamentos provisórios, objetos
pessoais e fragmentos de cerâmica. Esse sítio é um testemunho da história da
escravidão no Brasil e uma lembrança da resistência e resiliência daqueles que
foram trazidos à força para o país.
O Palácio Imperial de São Cristóvão, localizado no Rio de Janeiro, é outro
importante patrimônio cultural do período imperial. Foi a residência oficial da família
imperial brasileira e abrigou o Museu Nacional até o trágico incêndio de 2018. As
escavações no local têm revelado artefatos que refletem não apenas a vida da corte,
mas também a influência europeia na cultura material do período.
A arqueologia no período imperial tem sido importante para a compreensão
da cultura material, das práticas sociais e das transformações políticas que
marcaram essa era. Através de sítios arqueológicos como o Paço Imperial, o Cais
do Valongo e o Palácio Imperial de São Cristóvão, os pesquisadores têm
documentado os vestígios do Império, contribuindo para uma compreensão
aprofundada desse período importante na história brasileira.

11.2 Legados da Monarquia na Arqueologia Brasileira

O Período Imperial brasileiro foi um período de profunda transformação na


história do Brasil, marcado pela independência de Portugal e pela subsequente
instauração de uma monarquia. Os vestígios do Império e seus legados são
elementos de suma importância para a arqueologia brasileira.
A monarquia no Brasil deixou uma herança arquitetônica notável, que é alvo
de estudo e pesquisa arqueológica. Edifícios emblemáticos, como o Paço Imperial e
o Palácio Imperial de São Cristóvão são exemplos de locais que abrigaram a realeza
e que hoje são foco de investigações arqueológicas. As escavações nesses locais

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revelaram detalhes sobre a arquitetura, o design de interiores, a decoração e a vida


cotidiana das elites do Império. Isso permite que os pesquisadores e o público em
geral compreendam a sofisticação e o requinte da corte imperial.
Outro legado importante da monarquia na arqueologia brasileira é a
preservação de objetos pessoais e artefatos relacionados à vida da família imperial.
O Museu Imperial, em Petrópolis, abriga uma vasta coleção de objetos históricos,
desde roupas e joias até móveis e objetos de uso cotidiano da família real. Esses
artefatos fornecem uma visão abrangente da vida e das tradições da monarquia.
A monarquia também deixou marcas na paisagem urbana, com monumentos
e estruturas que são hoje objeto de pesquisas arqueológicas. O Arco do Teles, no
Rio de Janeiro, é um exemplo importante, pois representa a arquitetura da época e
é um local que tem trazido informações sobre a vida urbana no século XIX.
O período monárquico teve um papel importante relacionado à escravidão no
Brasil, e vestígios relacionados a essa instituição também são estudados pela
arqueologia. O Cais do Valongo, um ponto de desembarque de africanos
escravizados, é um sítio arqueológico relevante que remete a essa época. As
escavações no local têm fornecido inúmeras informações sobre a escravidão e a
resistência dos africanos trazidos para o país.
A arqueologia desempenha um papel relevante na compreensão dos legados
da monarquia no Brasil. Essa disciplina traz à luz não apenas os vestígios materiais,
mas também as histórias e as tradições que formaram a nação durante o Período
Imperial. O estudo desses legados amplia a nossa compreensão da história e da
identidade brasileira.

11.3 Contribuições para a História do Império Brasileiro

O Período Imperial brasileiro foi um momento decisivo na história do Brasil,


marcado pela independência de Portugal e pelo estabelecimento de um império sob
a liderança de Dom Pedro I e, posteriormente, Dom Pedro II. A arqueologia, por meio
de suas escavações e pesquisas meticulosas, tem contribuído para uma melhor
compreensão do Império brasileiro.
Um dos aportes da arqueologia para a história do Império Brasileiro é a
reconstrução da vida cotidiana nas diferentes camadas da sociedade. As

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escavações em sítios urbanos, como o Paço Imperial no Rio de Janeiro,


evidenciaram artefatos que documentam a vida da elite imperial. Tal pesquisa inclui
utensílios de cozinha, roupas, objetos de lazer e até mesmo restos de banquetes
reais. Esses achados não apenas destacam a sofisticação da corte imperial, mas
também ajudam a compor um retrato mais completo da sociedade da época.
A arqueologia também tem focado na arquitetura e na infraestrutura urbana
do período imperial. A análise de sítios como o Palácio Imperial de São Cristóvão
em Petrópolis proporciona informações sobre o design de interiores, decoração e
estilos arquitetônicos da época. A pesquisa em locais urbanos oferece um banco de
dados complexo sobre o planejamento urbano, sistemas de saneamento e
distribuição de água daquele período.
Através dessas contribuições, a arqueologia aumenta a nossa compreensão
do Império Brasileiro, permitindo-nos olhar além dos eventos políticos e das figuras
históricas proeminentes. Ela nos dá embasamento para entender aspectos da
sociedade, como a vida cotidiana e as influências culturais que formaram essa
importante fase da história do Brasil.

11.4 Abordagens Interdisciplinares no Estudo do Período Imperial

A pesquisa arqueológica no Período Imperial brasileiro, que engloba o século


XIX, é enriquecida por abordagens interdisciplinares que transcendem as
escavações e adentram em uma compreensão mais completa desse importante
período histórico. Ao incorporar diversas disciplinas, a arqueologia contribui para a
contextualização e uma mais precisa interpretação do Império.
A colaboração com a história é uma das abordagens interdisciplinares mais
evidentes na arqueologia do Período Imperial. Historiadores trabalham em estreita
cooperação com arqueólogos para contextualizar os achados materiais dentro do
cenário histórico mais amplo. Isso vai ao encontro de narrativas que vão além dos
vestígios materiais, conectando-os a eventos, figuras históricas e correntes políticas
e sociais da época.
A antropologia é outra disciplina de suma importância nas abordagens
interdisciplinares da arqueologia do Período Imperial. Os antropólogos podem
contribuir com uma compreensão mais profunda das práticas culturais, identidade

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étnica, religião e sistemas de crenças das populações da época. Eles contextualizam


objetos e artefatos dentro dos sistemas simbólicos da sociedade imperial.
A análise de materiais orgânicos, como restos humanos e alimentos, é uma
área de colaboração significativa entre a arqueologia e a biologia. Os métodos de
datação e as análises de isótopos oferecem informações sobre a dieta, mobilidade
e saúde das pessoas do Período Imperial. Os estudos paleopatológicos trazem
informações sobre as doenças e as condições de vida da época.
A geofísica é outra disciplina importante. Tecnologias como a prospecção
geofísica permitem mapear o subsolo e identificar características enterradas sem
escavação. Isso é particularmente útil para a localização de estruturas urbanas,
sistemas de saneamento e até mesmo cemitérios que podem fornecer informações
sobre a sociedade do Império.
A arqueologia no Período Imperial beneficia-se significativamente da
colaboração interdisciplinar, pois essas diversas perspectivas enriquecem a
compreensão do passado. Ao articular a arqueologia, história, antropologia, biologia
e geofísica, os pesquisadores conseguem proporcionar uma narrativa mais robusta
do Império Brasileiro. Isso não apenas amplia nosso conhecimento desse período,
mas também destaca a importância da colaboração e do compartilhamento de
conhecimento entre as disciplinas.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, F. da S. História, museus e arqueologia no Império do Brasil: uma


história da exposição antropológica de 1882 entre o Rio de Janeiro e Alagoas
(1872 – 1882). Revista Crítica Histórica, 12, 23, p. 378–398, 2021.

FERREIRA, L.M. Vestígios de civilização: a arqueologia no Brasil Imperial (1838-


1877). Dissertação (Mestrado). Campinas: UNICAMP, 2002.

LIMA, T. A. Arqueologia Histórica no Brasil: balanço bibliográfico (1960-1991).


Anais Do Museu Paulista: História E Cultura Material, 1, 1, p. 225-262, 1993.

LIMA, T. A. Os marcos teóricos da arqueologia histórica, suas possibilidades


e limites. Estudos Ibero-Americanos, 28(2), p. 7–23, 2002.

MATTOS, H. Diáspora negra e lugares de memória: A história oculta das


propriedades voltadas para o tráfico clandestino de escravos no Brasil imperial.
Niterói: Editora da UFF, 2012.

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Aula 12_Arqueologia Republicana do Brasil


Palavras-chave: contemporâneo; preservação; sociedade; política.

Figura 12 - Presídio da Ilha Anchieta, litoral Norte de São Paulo.

Fonte: Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Rebeli%C3%A3o_da_Ilha_Anchieta Acesso 06 nov. 2023.

12.1 Arqueologia Contemporânea e sua Relevância

A arqueologia brasileira passou por um desenvolvimento significativo durante


o período republicano, adaptando-se às mudanças sociais e culturais que
caracterizaram o Brasil após a Proclamação da República em 1889. A arqueologia
contemporânea, que engloba o estudo de sítios e vestígios desde a última década
do século XIX até o presente, desempenha um papel fundamental na compreensão
da história e da cultura do Brasil republicano.
A arqueologia em sítios contemporâneos se tornou relevante, uma vez que
contribui para a compreensão dos eventos e processos que transformaram Brasil na
era republicana. Documenta a vida cotidiana, as transformações urbanas, as práticas

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industriais e os conflitos sociais que caracterizaram esse período. Escavações em


sítios arqueológicos de fábricas, vilas operárias e locais de protesto mostram
detalhes sobre as condições de trabalho, a organização sindical e a resistência
popular.
A arqueologia em sítios republicanos permite uma análise minuciosa dos
impactos das transformações sociais, econômicas e tecnológicas na vida das
pessoas. Sítios arqueológicos relacionados à expansão das cidades, à eletrificação,
à industrialização e às mudanças na mobilidade urbana são de grande interesse.
Eles fornecem dados sobre como as mudanças tecnológicas e urbanas afetaram a
vida cotidiana das pessoas, suas casas, suas rotinas e sua relação com o ambiente.
A arqueologia de sítios contemporâneos também é relevante para entender
as questões ambientais e de sustentabilidade no Brasil. Sítios arqueológicos que
abrangem a história recente, como a ocupação de áreas urbanas e rurais, permitem
que os pesquisadores examinem as interações entre as sociedades humanas e o
meio ambiente. Isso é de suma importância para o desenvolvimento de políticas e
estratégias de preservação ambiental.
A arqueologia em sítios do período republicano desempenha um papel
importante na preservação do patrimônio histórico e cultural. Muitos sítios
arqueológicos desse período estão ameaçados pela expansão urbana e pelo
desenvolvimento. A pesquisa e a documentação arqueológica são essenciais para
garantir a conservação desses sítios e para promover a conscientização sobre a
importância do patrimônio cultural do Brasil. Pesquisar esses sítios amplia a nossa
compreensão da história, da cultura e dos desafios do período republicano.

12.2 Sítios e Achados Significativos do Brasil Republicano

O período republicano brasileiro, iniciado com a Proclamação da República


em 1889, marcou uma nova fase na história do Brasil. A arqueologia, nesse contexto,
tem chamado a atenção dos pesquisadores. Entre esses sítios e descobertas, vários
se destacam como significativos na compreensão da República brasileira.
Um dos sítios mais emblemáticos é a Vila Operária de Vila Maria Zélia, em
São Paulo. Esta vila operária foi construída na segunda metade do século XIX para
acomodar os trabalhadores da indústria têxtil, simbolizando a transição do país para

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uma economia industrial. As escavações revelaram os alicerces das casas, os


objetos do cotidiano dos operários e documentos que registram a vida na vila. Isso
proporciona uma visão ampliada das condições de trabalho e das mudanças sociais
ocorridas durante o período.
Outro sítio importante é o Cemitério dos Ingleses, localizado no bairro do
Botafogo, no Rio de Janeiro. Este cemitério abriga os restos mortais de imigrantes
ingleses que se estabeleceram no Brasil no século XIX. A pesquisa arqueológica
revelou não apenas informações sobre as práticas funerárias, mas também
evidências da presença britânica no país e das relações culturais entre imigrantes e
a sociedade brasileira.
A Vila Autódromo, no Rio de Janeiro, é um sítio que ganhou destaque devido
às transformações urbanas ocorridas em preparação para os Jogos Olímpicos de
2016. A arqueologia desempenhou um papel fundamental na documentação e
preservação da história dessa comunidade que enfrentou despejos e a destruição
de suas casas. As escavações revelaram objetos pessoais, estruturas arquitetônicas
e elementos culturais que demonstram a importância dessa vila como parte do tecido
social da cidade.
Os achados em locais como o Edifício Martinelli, em São Paulo, e o Presídio
da Ilha Anchieta, no litoral paulista, também são relevantes. O primeiro, um arranha-
céu icônico, revelou detalhes sobre a vida nas primeiras décadas do século XX,
enquanto o segundo oferece vislumbres da história do sistema penal no Brasil.
A arqueologia desempenha um papel fundamental na preservação e
interpretação desses locais e achados significativos do Brasil Republicano.

12.3 Aspectos Sociais, Políticos e Culturais da Arqueologia da República

A arqueologia do Brasil Republicano é um campo de estudo que se estende


além da escavação de sítios e objetos. Ela procura em várias fontes subsídios para
a compreensão dos aspectos sociais, políticos e culturais que caracterizaram a
República brasileira.
No âmbito social, a arqueologia da República brasileira investiga as
transformações na vida cotidiana das pessoas. Escavações em sítios urbanos, como
antigas casas e bairros, descobrem os hábitos e costumes das diferentes camadas

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da sociedade, destacando as mudanças nas práticas alimentares, nas vestimentas


e nas relações familiares ao longo do século XX. Além disso, estudos arqueológicos
em cemitérios fornecem informações sobre as práticas funerárias, a saúde e a
expectativa de vida das pessoas dessa época.
No âmbito político, a arqueologia contribui para a compreensão das mudanças
nas estruturas de poder durante a República. Locais como o Palácio do Catete, que
serviram como a sede do governo durante o governo de Getúlio Vargas, fornecem
informações sobre as decisões políticas e administrativas tomadas no período.
Documentos e objetos encontrados nesses sítios auxiliam na compreensão das
políticas governamentais, das relações diplomáticas e das estratégias de poder.
A dimensão cultural é outra faceta relevante da arqueologia da República
brasileira. A pesquisa em locais relacionados à cultura material, como cinemas,
teatros e lojas, ajuda a traçar a evolução das preferências estéticas, dos produtos de
consumo e das tendências culturais ao longo do século XX. A análise de objetos
pessoais, como roupas, joias e itens de beleza, revela detalhes sobre as identidades
individuais e coletivas da época.
A arqueologia da República brasileira tem desempenhado um papel
importante na revisão e reinterpretação da história oficial. Ela traz à tona vozes e
perspectivas que muitas vezes foram silenciadas, como a dos grupos étnicos
minoritários, dos povos indígenas e das comunidades marginalizadas. Isso amplia a
nossa compreensão da diversidade cultural e das lutas sociais que caracterizaram a
República.
A arqueologia da República brasileira vai além das escavações e dos objetos.
Ela se aprofunda nas complexas teias sociais, políticas e culturais que moldaram a
nação durante o século XX, enriquecendo nossa compreensão da história e da
identidade do Brasil republicano.

12.4 Preservação do Patrimônio Arqueológico no Contexto Atual

A preservação do patrimônio arqueológico no Brasil Republicano é uma tarefa


desafiadora e fundamental, dada a constante expansão das cidades, o
desenvolvimento urbano em curso e a crescente pressão sobre os recursos naturais.

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Um dos desafios mais prementes é a expansão urbana. À medida que as cidades


brasileiras crescem, sítios arqueológicos muitas vezes ficam ameaçados pela
construção de novas infraestruturas, edifícios e estradas. A arqueologia trabalha em
estreita colaboração com urbanistas, autoridades municipais e arquitetos para
identificar sítios arqueológicos em risco, buscando soluções que permitam a
coexistência entre o desenvolvimento urbano e a preservação do patrimônio.
Outro desafio é a conscientização pública. A sociedade brasileira não está
plenamente ciente da importância do patrimônio arqueológico. A arqueologia na
medida do possível envolve a comunidade local, promovendo a educação
patrimonial, organizando exposições e palestras, e incentivando a valorização dos
sítios arqueológicos como parte integrante da herança cultural do Brasil.
A legislação desempenha um papel importante na proteção do patrimônio
arqueológico. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) é
responsável por regulamentar e monitorar a pesquisa e a proteção dos sítios
arqueológicos no Brasil. A colaboração entre arqueólogos, órgãos governamentais
e a sociedade civil é fundamental para garantir a eficácia das leis de preservação.
A arqueologia também enfrenta desafios financeiros. A pesquisa e a
conservação de sítios arqueológicos exigem recursos substanciais, e os projetos
dependem de financiamento público e privado. A busca por recursos e parcerias é
uma parte importante da preservação do patrimônio arqueológico no Brasil
Republicano. É uma tarefa complexa que envolve desafios urbanos, conscientização
pública, legislação e financiamento. A arqueologia desempenha um papel chave ao
liderar esforços para proteger e promover o patrimônio cultural do país, garantindo
que as atuais e as futuras gerações possam usufruir e aprender com o passado do
Brasil.

REFERÊNCIAS

BARRETO, C. A construção de um passado pré-colonial: uma breve história da


arqueologia no Brasil. Revista USP, 1, p. 32-51, 1999-2000.

BEZERRA, M. (Org.). Construindo a arqueologia no Brasil: a trajetória da


Sociedade de Arqueologia Brasileira. Belém: Gknoronha, 2009.

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CAMPOS, J.B.; RODRIGUES, M.H. da S. G.; FUNARI, P.P. (Org.). A


multivocalidade da arqueologia pública no Brasil: comunidades, práticas e
direito. Criciúma, SC: UNESC, 2017.

DUARTE, A.L.B.; TEDESCHI, F. C. P. História indígena no período republicano


e os livros didáticos de História: uma reflexão necessária. História & Ensino, 23,
2, p. 85–108, 2017.

FUNARI, P. P. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2012.

KERN, A.A. Arqueologia: o futuro do nosso passado. Rio Grande: Editora da


FURG, 2022.

MENEZES, U.T.B de. A identidade da arqueologia brasileira. Estudos


Avançados, 29, 83, p. 19-23, 2015.

ROBRAHN-GONZÁLEZ, E.M. Arqueologia em Perspectiva: 150 anos de prática


e reflexão no estudo de nosso passado. Revista USP, 1, p. 10-31, 1999-2000.

TIRELLO, R. A. A arqueologia da arquitetura: um modo de entender e conservar


edifícios históricos. Revista CPC, 3, p. 145-165, 2007.

VILLELA, A. T. C. Arqueologia da Arquitetura (AA): a estratificação


tridimensional do tempo. Dissertação (Mestrado). Campinas: UNICAMP, 2015.

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Resumo – Unidade III

Nessa terceira unidade, vimos como arqueologia brasileira desempenha um


papel crucial na compreensão da história do país em seus diferentes períodos. Ela
nos permite resgatar vestígios do passado e reconstruir as sociedades que
habitaram o território nacional, revelando informações valiosas sobre as diversas
fases da história do Brasil.
Para o período Pré-Colonial do Brasil, a arqueologia brasileira tem um papel
fundamental na documentação das culturas indígenas que habitavam o território
antes da chegada dos colonizadores europeus. As pesquisas arqueológicas
revelaram uma riqueza de evidências que mostram a diversidade e complexidade
das sociedades pré-coloniais, incluindo suas práticas agrícolas, tecnologia, religião
e organização social. Isso ajuda a desconstruir estereótipos e preconceitos sobre os
povos indígenas, contribuindo para um maior entendimento e respeito por suas
culturas.
Para o Período Colonial do Brasil, os estudos arqueológicos têm sido
essenciais para compreender a chegada dos portugueses e a construção das
primeiras cidades e engenhos. Eles nos ajudam a entender como as relações
sociais, econômicas e culturais se desenvolveram durante o período colonial,
incluindo os impactos da escravidão e do comércio de mercadorias. A arqueologia
também lança luz sobre a resistência e as culturas afro-brasileiras que se
desenvolveram nesse contexto.
A arqueologia que estuda o Período Imperial do Brasil nos permite explorar
as mudanças sociais e econômicas que ocorreram durante esse período. As
pesquisas arqueológicas em sítios urbanos, rurais e industriais mostram como a
sociedade brasileira estava se transformando, com a urbanização e industrialização.
Além disso, fornecem informações sobre a vida cotidiana das pessoas da época,
suas práticas religiosas e suas relações com a política do Império.
Na arqueologia sobre o Período Republicano do Brasil, os estudos
arqueológicos têm abordado a transição do Império para a República e as mudanças
sociais e políticas que ocorreram nesse período. Os arqueólogos também investigam

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as transformações urbanas e industriais que marcaram o início do século XX. Além


disso, a arqueologia tem desempenhado um papel importante na preservação do
patrimônio cultural, contribuindo para a proteção de sítios históricos e arqueológicos
em meio a processos de desenvolvimento urbano.
A arqueologia brasileira desempenha um papel fundamental em cada período
da história do país. Ela não apenas contribui para o conhecimento histórico, mas
também promove a valorização da diversidade cultural e o entendimento das
complexas relações sociais que transformaram o Brasil ao longo dos séculos. A
arqueologia desempenha um papel importante na preservação do patrimônio
cultural, contribuindo para garantir que as futuras gerações tenham acesso a essa
rica herança histórica. A importância da arqueologia brasileira é indiscutível em todos
os períodos de sua história.

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Aula 13_Arqueologia e as Culturas Indígenas Brasileiras


Palavras-chave: resgate; patrimônio; diálogo; parcerias.

Figura 13 - Yarang, mulheres coletoras de sementes saem em grupo para fazer coletas.

Fonte: Disponível em: https://site-antigo.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-xingu/parque-


indigena-do-xingu-comemora-57-anos Acesso em 06 nov. 2023.

13.1 Métodos de Pesquisa em Arqueologia Indígena

A pesquisa arqueológica relacionada às culturas indígenas brasileiras é uma


disciplina que requer abordagens especiais, sensibilidade cultural e colaboração
estreita com as comunidades. Métodos de pesquisa em arqueologia indígena são
projetados não apenas para descobrir e interpretar vestígios materiais, mas também
para respeitar as tradições e as perspectivas dessas comunidades.
Colaboração Comunidade-Academia: Um dos princípios fundamentais na
pesquisa arqueológica indígena é a colaboração, também denominada de
arqueologia colaborativa. Isso envolve o estabelecimento de parcerias e a consulta
regular aos líderes e membros das comunidades. A arqueologia é frequentemente
conduzida com a aprovação e orientação dessas comunidades para garantir que a
pesquisa respeite suas tradições e interesses.

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Mapeamento Etnográfico: Antes de iniciar as escavações, é essencial


conduzir esse tipo de mapeamento da área de estudo. Isso envolve a coleta de
informações sobre a história oral, mitos, rituais, práticas agrícolas, sistemas de
parentesco e outros aspectos culturais das comunidades indígenas locais. Esse
conhecimento etnográfico ajuda a direcionar as escavações e a interpretar os
achados arqueológicos dentro de um contexto cultural mais amplo.
Escavação Controlada: Durante as escavações, é fundamental seguir essa
prática que envolvem a remoção metódica do solo em camadas finas. Isso permite
a documentação precisa da posição e das relações dos artefatos no local, o que é
crucial para entender como eram usados e a que período pertencem.
Datação por Carbono-14: é uma ferramenta valiosa na arqueologia indígena
para determinar a idade de materiais orgânicos, como ossos, carvão e fibras
vegetais. Isso cria uma linha do tempo para os achados arqueológicos e quando
certas práticas ou eventos ocorreram.
Análise de Artefatos: Os artefatos indígenas, como cerâmica, instrumentos
líticos, cestaria e adornos, são cuidadosamente analisados. Isso inclui a identificação
de técnicas de produção, estilos decorativos e padrões de uso. Essas análises
permitem reconstruir a vida cotidiana e as práticas culturais das comunidades
indígenas do passado.
Preservação e Devolução de Achados: É um aspecto crítico da arqueologia
indígena com as comunidades de origem sempre que possível. Isso envolve o
respeito às reivindicações culturais e a promoção da autodeterminação das
comunidades indígenas na gestão de seu patrimônio cultural.
A arqueologia indígena é uma disciplina que se esforça para equilibrar a
pesquisa acadêmica com o respeito às tradições e ao conhecimento das
comunidades. Esses métodos de pesquisa promovem a colaboração, o
entendimento cultural e a preservação do patrimônio das culturas indígenas
brasileiras.

13.2 Resgate e Preservação do Patrimônio Cultural Indígena

A arqueologia desempenha um papel fundamental no resgate e na


preservação do patrimônio cultural das diversas culturas indígenas do Brasil. Este

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esforço é fundamental para a compreensão e a valorização da riqueza cultural,


histórica e material dessas comunidades, bem como para a promoção do respeito
às suas tradições.
O resgate do patrimônio cultural indígena começa com a identificação de sítios
arqueológicos que contenham vestígios materiais relevantes para essas culturas.
Isso muitas vezes envolve a colaboração entre arqueólogos e as próprias
comunidades, que possuem um profundo conhecimento de suas terras e tradições.
A identificação e a documentação cuidadosa desses sítios são os primeiros passos
para a preservação do patrimônio.
A pesquisa arqueológica se concentra em objetos e artefatos que são de
significado cultural para essas comunidades. Isso inclui cerâmica, ferramentas
líticas, artefatos rituais, adornos e restos de habitações. Esses achados
arqueológicos oferecem subsídios para a interpretação da vida cotidiana, crenças
espirituais e práticas culturais das comunidades indígenas no passado.
Um aspecto vital da arqueologia em relação às culturas indígenas é o respeito
às práticas e às crenças espirituais. Os arqueólogos trabalham em estreita
colaboração com as comunidades para garantir que as escavações e as análises
sejam realizadas de maneira culturalmente sensível. Isso inclui a realização de
cerimônias de respeito e o tratamento adequado dos artefatos sagrados.
A preservação do patrimônio cultural indígena vai além da pesquisa
arqueológica. Envolve ações para proteger e conservar sítios, objetos e tradições
culturais. A devolução de artefatos significativos às comunidades indígenas vem
crescendo e fortalecendo a conexão das comunidades com seu patrimônio. Através
da colaboração com as comunidades, da identificação de sítios, da análise de
artefatos e do respeito às tradições espirituais, a arqueologia contribui para a
valorização e a proteção das ricas culturas indígenas do país.

13.3 Diálogo e Parcerias com Comunidades Indígenas

O diálogo e as parcerias com as comunidades indígenas são uma realidade


na arqueologia brasileira, principalmente quando se trata de pesquisas relacionadas
a essas culturas do país. Essa abordagem respeitosa e colaborativa é essencial para

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garantir que a pesquisa arqueológica seja conduzida de maneira ética e que o


patrimônio cultural indígena seja preservado e valorizado.
O diálogo começa com a consulta às comunidades indígenas antes mesmo
do início das pesquisas arqueológicas. Os arqueólogos buscam aprovação e
orientação das lideranças e membros dessas comunidades, respeitando suas
tradições e perspectivas. Essa consulta é um processo contínuo, no qual as vozes
das comunidades indígenas devem ser ouvidas e respeitadas em todas as etapas
da pesquisa.
As parcerias entre arqueólogos e comunidades envolvem a colaboração ativa
na pesquisa. Isso pode incluir a participação de membros delas nas escavações,
análises de achados arqueológicos e discussões sobre os resultados. Essa
colaboração não apenas enriquece a pesquisa com conhecimentos tradicionais, mas
também empodera as comunidades no processo de preservação de seu patrimônio.
Um aspecto essencial dessa parceria é o respeito pelas práticas e crenças
das comunidades indígenas. Muitos sítios arqueológicos contêm vestígios de
significado cultural ou espiritual para essas comunidades. Os arqueólogos trabalham
em conjunto com os líderes indígenas para garantir que as práticas arqueológicas
respeitem as crenças religiosas e que os artefatos sagrados sejam tratados com o
devido respeito.
A devolução de achados arqueológicos significativos às comunidades
indígenas é outra parte importante do diálogo e das parcerias. Isso fortalece o vínculo
entre as comunidades e seu patrimônio cultural, permitindo que eles tenham acesso
a objetos que podem ser usados em cerimônias para manter viva sua herança
cultural.
O diálogo e as parcerias com as comunidades não se limitam apenas à
pesquisa arqueológica, mas também se estendem à preservação do patrimônio e ao
empoderamento das comunidades para gerenciar e proteger seu próprio patrimônio.
Essa abordagem colaborativa, também conhecida como arqueologia colaborativa,
contribui não apenas para a produção de conhecimento arqueológico, mas também
para a promoção do respeito, da preservação e da valorização das ricas culturas
ancestrais do Brasil.

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13.4 Contribuições para a Valorização da Diversidade Cultural

A arqueologia desempenha um papel significativo na valorização da


diversidade cultural das comunidades indígenas do Brasil. Por meio de suas
pesquisas e parcerias com essas comunidades, a disciplina contribui para a
preservação e valorização das tradições culturais que formaram o país.
Uma das principais contribuições da arqueologia é a reconstituição das
práticas e tradições das culturas indígenas ao longo do tempo. Os achados
arqueológicos, como cerâmica, ferramentas, adornos e estruturas habitacionais,
oferecem uma visão abrangente da vida cotidiana, das crenças religiosas e das
tecnologias utilizadas por essas comunidades. Essas descobertas não apenas
enriquecem nosso conhecimento sobre a história do Brasil, mas também chamam a
atenção para a complexidade dessas culturas.
A arqueologia contribui para a valorização das diferentes línguas e dialetos
indígenas. Por meio da análise de inscrições e símbolos em objetos arqueológicos,
os pesquisadores podem decifrar a linguagem e entender a desenvolvimento das
línguas ao longo do tempo. Isso é de extrema importância para a preservação das
mesmas e o fortalecimento da identidade cultural das populações.
A arqueologia também promove a valorização das práticas espirituais e
religiosas das culturas indígenas. Sítios arqueológicos frequentemente contêm
evidências de rituais, cerimônias e locais sagrados. Essas descobertas ajudam a
documentar e a respeitar as crenças das populações, contribuindo para a promoção
do respeito à diversidade religiosa.
A colaboração estreita entre arqueólogos e indígenas é um elemento
essencial na valorização da diversidade cultural. As parcerias permitem voz ativa nas
pesquisas arqueológicas, garantindo que suas perspectivas e desejos sejam
considerados.
A arqueologia valoriza a diversidade cultural das comunidades indígenas.
Através de suas pesquisas, parcerias, preservação e reverência às tradições, a
disciplina contribui para a promoção do respeito, da preservação e da celebração
das inúmeras culturas indígenas que são parte integrante da identidade do Brasil.

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REFERÊNCIAS

DE VASCONSELOS, M.L.C. Conservação de Coleções Indígenas: (Re)


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2008.

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Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia, 20, 2, p. 425–455, 2022.

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redemocratização. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 19, p. 87-102,
2009.

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Kayabi: reflexões sobre Arqueologia Comunitária e Gestão do Patrimônio
Arqueológico. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 19, p. 205-219,
2009.

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cultura material. MÉTIS: história & cultura, 8, 16, p. 121-139, 2009.

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Aula 14_Arqueologia Urbana do Brasil


Palavras-chave: cidade; planejamento; desafios; métodos.

Figura 14 - Cais do Valongo, Rio de Janeiro.

Fonte: Disponível em: https://blogdoarthurdacosta.blogspot.com/2018/06/cais-do-valongo-e-


o-utero-do-pais.html Acesso em 06 nov. 2023.

14.1 Exploração de Sítios Arqueológicos em Ambientes Urbanos

A arqueologia urbana no Brasil representa um desafio, pois envolve a


exploração de sítios arqueológicos em ambientes urbanos complexos. À medida que
as cidades crescem e se desenvolvem, os vestígios do passado muitas vezes se
encontram escondidos sob edifícios, ruas e infraestruturas modernas. A exploração
desses sítios é essencial para entender a história e o desenvolvimento das áreas
urbanas do país.
A identificação de sítios arqueológicos em ambientes urbanos geralmente
começa com a pesquisa documental, análises de mapas históricos e consultas a
registros antigos. Essas fontes conduzem os arqueólogos a determinar as áreas que
podem conter vestígios do passado. A colaboração com arquitetos e urbanistas é
fundamental para identificar locais potenciais de interesse arqueológico durante
projetos de construção e renovação urbana.
A escavação em ambientes urbanos apresenta desafios singulares. A falta de
espaço e as restrições logísticas podem tornar as escavações complexas, exigindo

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o uso de técnicas especializadas, como a escavação em trincheira, para maximizar


a coleta de dados arqueológicos. A preservação de vestígios arqueológicos durante
as escavações é fundamental, e os arqueólogos devem trabalhar em estreita
colaboração com as autoridades de preservação do patrimônio e com a comunidade
local para garantir a integridade dos sítios.
A análise dos achados em ambientes urbanos é essencial para compreender
a vida nas cidades ao longo do tempo. Artefatos, estruturas e vestígios humanos
revelam informações sobre as práticas culturais, as mudanças na sociedade e as
transformações urbanas. A datação dos achados arqueológicos ajuda a estabelecer
a cronologia dos eventos e a compreender as camadas históricas da cidade.
A arqueologia urbana também desempenha um papel importante na
educação e na conscientização da sociedade sobre a história de suas cidades.
Museus, exposições e programas educacionais baseados nos achados
arqueológicos ajudam a conectar as comunidades locais com seu passado e a
promover a preservação do patrimônio urbano.
A pesquisa de sítios arqueológicos em ambientes urbanos no Brasil é
essencial para compreender a evolução das cidades e a história do país. Apesar dos
desafios, a arqueologia urbana aponta caminhos para interpretação do passado nas
próprias áreas em que vivemos, ampliando nossa compreensão da cultura e da
sociedade urbana brasileira.

14.2 Descobertas e Desafios em Arqueologia Urbana

A arqueologia urbana no Brasil é um campo que revela inúmeras descobertas


e enfrenta desafios complexos à medida que escava as camadas do passado que
estão ocultas sob as cidades modernas.
Descobertas Arqueológicas na Cidade: Uma das descobertas mais
significativas na arqueologia urbana do Brasil é a revelação das origens e dos
desenvolvimentos históricos das cidades. Escavações em centros urbanos como
São Paulo, Rio de Janeiro e Recife têm trazido à luz vestígios de estruturas coloniais,
como edifícios, ruas de paralelepípedos e sistemas de esgoto. Essas descobertas
proporcionam uma visão detalhada da vida nas cidades ao longo dos séculos.

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A Presença Indígena nas Cidades: As escavações urbanas também têm


revelado a presença e a influência de populações indígenas nas cidades. Achados
como cerâmica indígena, instrumentos líticos e vestígios de habitações mostram
como as culturas indígenas desempenharam um papel importante na formação das
cidades brasileiras.
Africanos e Afrodescendentes na Arqueologia Urbana: A arqueologia urbana
tem contribuído para a compreensão das experiências dos africanos e seus
descendentes no Brasil. Vestígios de quilombos, locais de culto religioso afro-
brasileiro e objetos relacionados à cultura africana são evidências de como essas
populações influenciaram a cultura e a história das cidades.
Desafios da Arqueologia Urbana: A arqueologia urbana no Brasil enfrenta
desafios significativos, incluindo a pressão do desenvolvimento imobiliário e a falta
de espaço para escavações. A proteção do patrimônio arqueológico em áreas
urbanas é muitas vezes complicada, e os arqueólogos devem trabalhar em estreita
colaboração com as autoridades locais para garantir a preservação adequada.
Interpretação Pública e Educação: A divulgação das descobertas
arqueológicas nas cidades desempenha um papel importante na conscientização
pública e na educação. Museus e exposições dedicados à arqueologia urbana
permitem que as comunidades locais se identifiquem com seu passado e
compreendam a história de suas cidades.
A arqueologia urbana no Brasil lida com uma grande quantidade de
descobertas que ampliam nossa compreensão das origens e do desenvolvimento
das cidades do país. O campo enfrenta desafios significativos, destacando a
necessidade de equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação do
patrimônio arqueológico. A valorização e a proteção desses vestígios históricos são
essenciais para a compreensão e a promoção da herança cultural brasileira.

14.3 Arqueologia e Planejamento Urbano

A arqueologia urbana no Brasil desempenha um papel fundamental no


desenvolvimento de estratégias de planejamento urbano que respeitem e valorizem
o patrimônio histórico e cultural do país. A integração da arqueologia no

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planejamento urbano é essencial para garantir que as cidades cresçam de forma


sustentável, preservando sua história e identidade.
A colaboração entre arqueólogos e urbanistas é uma das chaves para o
sucesso dessa integração. Os arqueólogos trazem seu conhecimento sobre a
localização de sítios arqueológicos e a importância de sua preservação, enquanto
os urbanistas consideram essas informações ao planejar novos projetos de
construção e infraestrutura.
Uma etapa fundamental é a identificação de áreas potenciais para escavação
arqueológica. Isso pode ser feito por meio de pesquisas documentais, análise de
mapas históricos e consultas a registros antigos. A colaboração entre arqueólogos e
urbanistas otimiza a identificação de áreas onde a preservação do patrimônio
arqueológico pode ser integrada ao planejamento urbano, evitando a destruição
acidental desses sítios.
A escavação arqueológica em áreas urbanas exige abordagens especiais
devido às restrições logísticas. As técnicas de escavação controlada, que permitem
a remoção metódica do solo em camadas finas, são comuns para maximizar a coleta
de dados arqueológicos e minimizar o impacto nas áreas urbanas.
A análise dos achados arqueológicos é necessária para a integração da
arqueologia no planejamento urbano. Os artefatos, estruturas e vestígios humanos
descobertos contém informações importantes sobre a história da cidade, e as suas
mudanças ao longo do tempo. Essas informações dão subsídios aos urbanistas a
tomar decisões sobre o desenvolvimento urbano, considerando a história e a
identidade da cidade.
A integração da arqueologia no planejamento urbano é essencial para o
desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras. A colaboração interdisciplinar
entre arqueólogos, arquitetos e urbanistas ajuda a identificar, preservar e valorizar o
patrimônio histórico e cultural das cidades, contribuindo para a construção de
ambientes urbanos que respeitem sua história e identidade.

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14.4 Preservação do Patrimônio Arqueológico em Áreas Urbanas

A preservação do patrimônio arqueológico em áreas urbanas do Brasil


representa um desafio complexo, mas essencial. À medida que as cidades crescem
e se desenvolvem, os sítios arqueológicos muitas vezes se encontram ameaçados
pela expansão urbana. Agora apresentamos a importância da preservação do
patrimônio arqueológico em áreas urbanas e as estratégias utilizadas para garantir
sua integridade.
Valor do Patrimônio Arqueológico Urbano: O patrimônio arqueológico em
áreas urbanas é uma parte valiosa da história das cidades brasileiras. Esses sítios
revelam informações sobre a ocupação humana ao longo dos séculos, as mudanças
na paisagem urbana e as culturas que moldaram as cidades. A preservação desse
patrimônio é essencial para entender o passado e a identidade das cidades.
Legislação de Proteção: O Brasil possui leis de proteção do patrimônio cultural
que incluem sítios arqueológicos. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) desempenha um papel central na identificação, preservação e
regulamentação dos sítios arqueológicos em áreas urbanas. A legislação busca
equilibrar o desenvolvimento urbano com a conservação do patrimônio.
Integração com o Planejamento Urbano: A identificação precoce de áreas de
interesse arqueológico permite a integração da preservação nas estratégias de
planejamento urbano. Isso envolve a definição de zonas de proteção, que
consideram a história e a importância dos sítios.
Escavações Controladas e Documentação Cuidadosa: Quando a preservação
no local não é possível, a realização de escavações controladas e a documentação
detalhada dos sítios são etapas fundamentais. A remoção cuidadosa do solo em
camadas finas permite a coleta de dados arqueológicos, enquanto a documentação
inclui fotografias, mapeamento e registros precisos dos achados.
Museus e Centros de Interpretação: A valorização do patrimônio arqueológico
em áreas urbanas também envolve a criação de museus e centros de interpretação.
Esses locais permitem que as comunidades locais e visitantes estabeleçam um
vínculo com a história da cidade e compreendam a importância dos sítios
arqueológicos.

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A preservação do patrimônio arqueológico em áreas urbanas do Brasil é


fundamental para a compreensão da história e da identidade das cidades. A
legislação de proteção, a integração com o planejamento urbano e a documentação
cuidadosa são estratégias-chave para garantir a integridade desses sítios. A
valorização e a interpretação do patrimônio arqueológico contribuem para a
conscientização pública e o respeito pela história das cidades.

REFERÊNCIAS

BRITO, L.E.P.F. As Cidades na História: percursos críticos. Dimensões, 40, p. 39-


64, 2018.

COSTA, D.M. O Urbano e a Arqueologia: uma fronteira transdisciplinar. Revista


Latino-Americana de Arqueologia Histórica, 8, 2, p. 45-71, 2014.

GALINIE, H. Ciudad, Espacio Urbano y Arqueologia. La fábrica urbana.


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estabelecimento de modelo de potencial para a preservação de bens
arqueológicos. Dissertação (Mestrado). São Paulo: MAE-USP, 2018.

OLIVEIRA, A.T. de. Um estudo em Arqueologia Urbana: a Carta de Potencial


Arqueológico do Centro Histórico de Porto Alegre. Dissertação (Mestrado). Porto
Alegre: PUCRS, 2005.

ROSSANO, L.B; SOUZA, M.C. de. (Org.). Normas e Gerenciamento do


Patrimônio Arqueológico. São Paulo: IPHAN, 2010.

TESSARO, P. A. B. Arqueologia com a Cidade: um movimento através da


arqueologia no contexto urbano da cidade de São Paulo - SP. Revista de
Arqueologia Pública, v. 17, p. 01-18, 2022.

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Aula 15_Arqueologia Subaquática e Marítima do Brasil


Palavras-chave: exploração; naufrágios; tecnologias; Marinha do Brasil.

Figura 15 – Arqueólogos efetuando trabalho subaquático em sítio arqueológico de naufrágio


do galeão Utrecht, Salvador- BA.

Fonte: Disponível em:


https://www.researchgate.net/publication/369940974_O_PANORAMA_DA_ARQUEOLOGIA
_SUBAQUATICA_NO_NORDESTE_DO_BRASIL/figures?lo=1 Acesso em 06 nov. 2023.

15.1 Exploração de Sítios Submersos e Naufrágios

A arqueologia subaquática e marítima é de grande relevância na


compreensão da história do Brasil, pois o país tem uma extensa costa e uma notável
tradição náutica. Vamos tratar da exploração de sítios submersos e naufrágios,
destacando a importância dessas pesquisas para a arqueologia brasileira.
Riqueza Submersa na Costa Brasileira: As águas costeiras do Brasil
escondem uma enorme quantidade de sítios submersos e naufrágios que
representam diferentes períodos da história. Esses locais variam desde naufrágios

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de navios coloniais até sítios mais recentes, como submarinos afundados da


Segunda Guerra Mundial. Cada um deles conta uma história singular sobre o Brasil
e seu relacionamento com o mar.
Descobertas Arqueológicas Subaquáticas: A exploração de naufrágios
documenta uma variedade de objetos, incluindo cerâmica, âncoras, moedas,
garrafas e carga de navios, que fornecem informações sobre o comércio, a
tecnologia e a cultura das épocas em que esses navios naufragaram. Os naufrágios
muitas vezes contêm vestígios humanos que trazem informações sobre as vidas e
as circunstâncias das pessoas que padeceram a bordo.
Técnicas Específicas de Escavação: As técnicas incluem mergulho autônomo
e uso de equipamentos de levantamento subaquático. A remoção cuidadosa do
sedimento e a preservação dos achados subaquáticos são fundamentais para
garantir a integridade das descobertas.
Colaboração Interdisciplinar: Se dá entre arqueólogos, oceanógrafos,
biólogos marinhos e outros especialistas. É essencial para compreender as
condições subaquáticas, a preservação dos sítios e a ecologia marinha que pode
afetar os vestígios submersos.
Preservação e Proteção dos Sítios Submersos: São essenciais para garantir
que esses locais permaneçam intocados para as atuais e futuras gerações. A
legislação de proteção do patrimônio cultural no Brasil inclui diretrizes específicas
para a arqueologia subaquática, e a conscientização sobre a importância desses
sítios é promovida para o público em geral.
A pesquisa de sítios submersos e naufrágios tem um papel primordial na
arqueologia brasileira, permitindo que os pesquisadores reconstruam a história do
país a partir de seu relacionamento com o mar. A preservação, a proteção e a
documentação cuidadosa desses sítios subaquáticos são essenciais para garantir
que essas descobertas arqueológicas continuem a ampliar a nossa compreensão da
história marítima do Brasil.

15.2 Metodologias e Tecnologias em Arqueologia Subaquática

A arqueologia subaquática e marítima no Brasil tem se beneficiado


significativamente do avanço de metodologias e tecnologias especializadas que

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permitem a exploração e a pesquisa em ambientes aquáticos. Essas inovações têm


otimizado a forma como os arqueólogos acessam, estudam e preservam sítios
submersos e naufrágios ao longo da extensa costa brasileira.
Mergulho Científico e Equipamentos Especiais: É a técnica fundamental para
a arqueologia subaquática. Arqueólogos, devidamente treinados, usam
equipamentos de mergulho autônomo que lhes permitem explorar os sítios
subaquáticos de maneira segura. Mergulhadores científicos também podem usar
câmeras subaquáticas, luzes, sondas, GPS e outras ferramentas para documentar
os sítios e coletar dados.
ROVs (Veículos Operados Remotamente): São dispositivos controlados
remotamente que podem acessar áreas subaquáticas de difícil acesso e realizar
tarefas específicas. Eles são frequentemente usados para investigar naufrágios em
profundidades que seriam inacessíveis aos mergulhadores. Equipados com câmeras
de alta definição, braços robóticos e sensores, os ROVs são uma ferramenta muito
útil para a arqueologia subaquática.
Sonar de Varredura Lateral e Magnetômetros: Esses instrumentos são
fundamentais para a localização de sítios submersos. O sonar de varredura lateral
emite pulsos sonares que criam imagens detalhadas do fundo do mar, revelando
estruturas e objetos enterrados. Magnetômetros detectam anomalias no campo
magnético da Terra que podem indicar a presença de materiais ferrosos, como
naufrágios.
Mapeamento e Modelagem 3D: São técnicas utilizadas para criar
representações precisas dos sítios subaquáticos e naufrágios. Essas auxiliam os
arqueólogos a documentar os sítios de maneira detalhada, facilitando a análise e a
preservação futura.
Conservação Subaquática: É um momento crítico da arqueologia
subaquática. Técnicas de conservação incluem a higienização e a estabilização de
artefatos subaquáticos, para evitar sua deterioração após a recuperação.
Legislação de Proteção e Diretrizes Éticas: No Brasil, se aplica à arqueologia
subaquática, disciplinando a pesquisa, escavação e proteção dos sítios. As diretrizes
éticas, como o Código de Ética do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios
(ICOMOS), são fundamentais para garantir a preservação adequada e a conduta
responsável na arqueologia subaquática.

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As metodologias e tecnologias em arqueologia subaquática têm transformado


nossa capacidade de explorar e compreender os sítios submersos e naufrágios na
costa brasileira. Essas ferramentas avançadas ampliam a nossa compreensão da
história marítima do Brasil e contribuem para a preservação a longo prazo desse
patrimônio.

15.3 Contribuições para a História Marítima do Brasil

A arqueologia subaquática e marítima no Brasil tem um papel central na


reconstrução histórica marítima, contribuindo para o entendimento das relações
entre o Brasil e os oceanos e fornecendo informações sobre a exploração, o
comércio e os desafios enfrentados nas águas costeiras brasileiras. A seguir,
abordamos as contribuições significativas que a arqueologia subaquática trouxe à
história marítima do Brasil.
Naufrágios e Exploração Marítima: Cada naufrágio conta uma história única,
revelando aspectos da exploração e da colonização, do comércio internacional e das
condições de navegação nas diferentes épocas. Esses achados arqueológicos
fornecem evidências concretas das viagens marítimas e dos eventos históricos que
moldaram o país.
Rotas Comerciais e Intercâmbio Cultural: A análise de naufrágios e sítios
subaquáticos mostra detalhes sobre as rotas comerciais e os produtos
transportados. Isso esclarece sobre as conexões entre o Brasil e outras partes do
mundo, bem como o intercâmbio cultural que ocorreu por meio do comércio marítimo.
Por exemplo, a presença de cerâmica chinesa em naufrágios brasileiros testemunha
relações comerciais globais.
Desenvolvimento Tecnológico e Mudanças na Navegação: Esses estudos
incluem o aprimoramento de diferentes tipos de navios e a transição de métodos
tradicionais para técnicas mais avançadas de construção naval.
Histórias Humanas: Além de evidências materiais, os naufrágios também
revelam histórias dramáticas. Os vestígios de tripulações e passageiros, bem como
seus pertences, proporcionam uma visão particular das vidas das pessoas que
viajavam pelos mares. Isso inclui momentos de coragem, tragédia e resiliência, que

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aumentam nossa compreensão sobre as pessoas que fizeram parte da história


marítima do Brasil.
Promoção da Conscientização Pública: É feita através de museus, exposições
e programas educacionais baseados nos achados subaquáticos, que permitem que
as comunidades locais e visitantes estabeleçam um vínculo com o passado marítimo
do país.
A arqueologia subaquática e marítima tem proporcionado contribuições
significativas, trazendo luz para as complexas relações entre o Brasil e os oceanos,
e contando as histórias das pessoas que enfrentaram as águas costeiras brasileiras.

15.4 Desafios da Arqueologia Subaquática em Contexto Brasileiro

A arqueologia subaquática no Brasil enfrenta uma série de desafios que vão


desde as condições naturais adversas das águas costeiras até questões
relacionadas à legislação, financiamento e preservação. A seguir, apresentamos os
principais desafios que os arqueólogos subaquáticos enfrentam no contexto
brasileiro.
Ambientes Adversos: As águas costeiras brasileiras podem ser desafiadoras
para a arqueologia subaquática devido a fatores como marés, correntes fortes,
visibilidade limitada e mudanças sazonais nas condições do mar. Essas condições
dificultam as escavações e a documentação subaquática, exigindo que os
arqueólogos desenvolvam habilidades e estratégias especializadas.
Proteção e Preservação: É uma preocupação fundamental, mas a falta de
recursos financeiros e a escassez de pessoal especializado podem dificultar a
proteção adequada. A legislação de proteção do patrimônio cultural no Brasil é
abrangente, mas garantir sua aplicação eficaz em sítios subaquáticos requer
esforços contínuos.
Colaboração Interdisciplinar: A arqueologia subaquática dialoga com outras
áreas, como oceanografia, engenharia naval e biologia marinha. Embora essas
colaborações sejam imprescindíveis, podem ser desafiadoras devido às diferenças
de abordagem e à necessidade de coordenar esforços multidisciplinares.
Legislação Complexa: A legislação relacionada à arqueologia subaquática no
Brasil envolve diversas agências governamentais, incluindo o Instituto do Patrimônio

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Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a Marinha do Brasil (MB). A necessidade de


obter autorizações e licenças pode ser um processo demorado e burocrático.
Conscientização Pública: Mesmo sendo limitada, a educação e a divulgação
são fundamentais na sensibilização da sociedade e na promoção da valorização do
patrimônio subaquático.
Financiamento Limitado: A pesquisa e as escavações subaquáticas
frequentemente requerem um grande financiamento, incluindo equipamentos
especializados, embarcações e pessoal treinado. A busca de financiamento pode ser
um entrave, especialmente em um contexto de recursos limitados para a pesquisa
arqueológica.
Registro e Documentação Precisa: É essencial, mas a natureza corrosiva da
água salgada e a deterioração dos materiais submersos representam desafios
constantes para a preservação de achados arqueológicos subaquáticos.
A arqueologia subaquática no Brasil enfrenta uma série de desafios, desde as
condições naturais adversas até questões relacionadas à proteção, financiamento e
conscientização pública. Apesar de todos esses desafios, os arqueólogos
subaquáticos continuam trabalhando na pesquisa e na preservação do patrimônio
marítimo do Brasil.

15.5 Papel da Marinha do Brasil para a Proteção do Patrimônio Cultural


Subaquático

A Marinha do Brasil tem um papel de suma importância na proteção e


preservação do patrimônio cultural subaquático do país. A vasta extensão da costa
brasileira e suas águas cheias de histórias e vestígios arqueológicos tornam
fundamental a colaboração entre a Marinha e a comunidade arqueológica. A seguir,
elencamos como a Marinha do Brasil atua na proteção do patrimônio cultural
subaquático.
Patrulha e Fiscalização: A Marinha mantém um controle rigoroso sobre as
áreas costeiras e as águas territoriais do Brasil. Isso inclui a vigilância de locais com
potencial arqueológico subaquático, como naufrágios e sítios pré-históricos
submersos. A patrulha marítima tem por objetivo evitar a exploração não autorizada
de sítios arqueológicos e a preservação de vestígios culturais.

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Colaboração em Pesquisas Subaquáticas: A Marinha frequentemente


colabora com arqueólogos subaquáticos e instituições acadêmicas na realização de
pesquisas e explorações. Essa parceria é essencial para documentar naufrágios e
outros sítios submersos e para o resgate responsável de artefatos e recuperação de
informações.
Treinamento de Mergulhadores e Pesquisadores: A Marinha do Brasil mantém
programas de treinamento para operar em ambientes subaquáticos. Essa
capacitação garante que as investigações sejam realizadas com segurança e de
acordo com os padrões éticos e técnicos.
Salvaguarda de Naufrágios: A Marinha também atua quando esses
representam riscos ambientais ou à segurança da navegação. A proteção desses
naufrágios pode ser uma prioridade, especialmente em áreas de grande tráfego
marítimo.
Divulgação e Conscientização Pública: A Marinha do Brasil, em colaboração
com instituições e agências governamentais, realiza esse tipo de atividades
educando sobre a importância da preservação do patrimônio cultural subaquático.
Isso inclui exposições, palestras e programas educacionais.
Esse patrimônio é uma parte importante da história do Brasil, e a Marinha atua
em sua proteção e preservação. A colaboração entre a Marinha e a comunidade
arqueológica é essencial para garantir que esses vestígios sejam estudados e
mantidos para as atuais e futuras gerações. O compromisso da Marinha com a
salvaguarda do patrimônio cultural subaquático é um exemplo de como as
instituições nacionais podem desempenhar um papel ativo na proteção da herança
histórica do Brasil.

REFERÊNCIAS

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país aproveita mal sua capacidade científica? Cadernos do LEPAARQ, XIV, 27, p.
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brasileiro. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 1, p. 136-151,
2007.

ROSSANO, L.B; SOUZA, M.C. de. (Org.). Normas e Gerenciamento do


Patrimônio Arqueológico. São Paulo: IPHAN, 2010.
Sites
Marinha do Brasil (MB)
https://www.marinha.mil.br/

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Aula 16_Dispositivos Legais de Preservação e Perspectivas e


Desafios para o Futuro da Arqueologia Brasileira

Palavras-chave: legislação; desafios; oportunidades; ética.

Figura 16 - Trabalhos em Arqueologia Preventiva.

Fonte: Disponível em: https://www.espacoarqueologia.com.br/programa-de-arqueologia-


preventiva-e-realizado-no-litoral-norte-de-santa-catarina/ Acesso em 06 nov. 2023.

16.1 Legislação de Proteção ao Patrimônio Cultural

A proteção do patrimônio cultural é uma abordagem fundamental da


arqueologia brasileira. É por meio da legislação que o Brasil estabelece diretrizes e
regulamentos para preservar seu rico legado histórico e cultural. A seguir,
abordamos a legislação brasileira relevante para a proteção do patrimônio cultural e
arqueológico.
- Decreto-lei nº 25 de 30 de novembro de 1937: Organiza a proteção do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

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- Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961: Dispõe sobre os monumentos


arqueológicos e pré-históricos.
- Constituição Federal Brasileira de 1988. Artigo 216: Constituem patrimônio
cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - As formas de expressão;
II - Os modos de criar, fazer e viver;
III - As criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - As obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V - Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
- Lei Federal nº 9.605, 12 de fevereiro de 1998: Lei dos Crimes contra o
Patrimônio Cultural e Ambiental.
- Decreto nº 3.551, de 04 de agosto de 2000: Institui o Registro de Bens
Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o
Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá outras providências.
- Portaria nº 230, de 17 de dezembro de 2002: Estabelece as diretrizes para
a pesquisa arqueológica no país, incluindo os procedimentos de autorização para
escavações e pesquisas.
- Lei nº 11.483, de 31 de maio de 2007: Dispõe sobre a revitalização do setor
ferroviário.
Tratados Internacionais: O Brasil também é signatário de tratados como a
Convenção da UNESCO para a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático, que
estabelece diretrizes para a proteção de sítios arqueológicos submersos.
A legislação brasileira para a proteção do patrimônio cultural é um instrumento
fundamental do arcabouço legal que orienta a pesquisa e a preservação
arqueológica no país. Ela tem o objetivo de garantir que os sítios arqueológicos e
outros bens culturais sejam protegidos para as gerações futuras, além de fornecer
diretrizes para a pesquisa e a exploração responsável desses locais. Essa legislação
desempenha um papel crucial na manutenção da rica herança cultural e
arqueológica do Brasil.

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16.2 Arqueologia Preventiva

A arqueologia preventiva é uma abordagem essencial na disciplina


arqueológica, desempenhando um papel fundamental na proteção e preservação do
patrimônio cultural do Brasil. Ela se concentra em ações proativas para evitar a
destruição ou a perda de sítios arqueológicos e outros bens culturais antes que
danos irreparáveis possam ocorrer. A seguir, exploramos a importância da
arqueologia preventiva no contexto da arqueologia brasileira.
Antecipação de Impactos: A arqueologia preventiva busca antecipar os
impactos que atividades humanas, como construções, mineração, agricultura e
obras de infraestrutura, podem ter sobre sítios arqueológicos e bens culturais. Isso
permite a identificação de áreas de potencial importância arqueológica e a
implementação de medidas para evitar ou mitigar danos.
Consulta e Colaboração: Com diferentes partes interessadas, incluindo
comunidades locais, órgãos governamentais, empresas e desenvolvedores. Essa
colaboração ajuda a identificar preocupações e necessidades, bem como a
desenvolver estratégias para a proteção do patrimônio cultural.
Levantamentos e Mapeamento: De áreas com potencial arqueológico é uma
parte essencial da arqueologia preventiva. Isso permite identificar locais de interesse
arqueológico e determinar as melhores estratégias de preservação.
Avaliação de Impacto Ambiental: De projetos de desenvolvimento. Essa
avaliação ajuda a determinar os impactos que projetos futuros terão sobre o
patrimônio cultural e a desenvolver medidas de mitigação.
Implementação de Medidas de Proteção: Com base nas descobertas dos
levantamentos, restrições de atividades em áreas sensíveis e ações de educação
pública são estabelecidas para garantir a preservação do patrimônio cultural.
Legislação e Normas: A arqueologia preventiva opera dentro do contexto legal
e de regulamentações específicas para a proteção do patrimônio cultural. No Brasil,
o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desempenha um
papel fundamental na regulamentação e supervisão das ações de arqueologia
preventiva.

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A arqueologia preventiva tem um papel vital na proteção do rico patrimônio


arqueológico do Brasil. Ao antecipar e mitigar impactos adversos, essa imposição
legal contribui para a preservação das evidências do passado, permitindo que as
futuras gerações continuem a aprender com a multifacetada história do país. Ela
também promove a colaboração entre diferentes partes interessadas, fortalecendo a
conscientização sobre a importância da preservação do patrimônio cultural brasileiro.

16.3 O Futuro da Disciplina Arqueológica no Brasil

A arqueologia brasileira é uma disciplina em constante crescimento e


desenvolvimento, e sua perspectiva futura é marcada por desafios e oportunidades
significativas. À medida que o país continua a crescer e a se desenvolver, a
arqueologia ocupa um papel relevante na preservação da história e na compreensão
das culturas que formataram o Brasil. A seguir, elencamos algumas das perspectivas
futuras da disciplina arqueológica no Brasil e os desafios que precisam ser
enfrentados.
A preservação do patrimônio arqueológico é uma prioridade fundamental para
o futuro da arqueologia brasileira. À medida que o país se expande e se urbaniza, a
pressão sobre os sítios arqueológicos aumenta. O desenvolvimento sustentável e a
integração da arqueologia no planejamento urbano são essenciais para garantir a
preservação desses sítios.
O futuro da arqueologia brasileira é indissociável da colaboração
interdisciplinar. A integração com outras áreas, como antropologia, geologia, biologia
e história, é crucial para abordar questões complexas e realizar pesquisas
abrangentes.
O desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias desempenham um
papel central no futuro da arqueologia brasileira. Isso inclui a utilização de métodos
de datação mais precisos, análise de DNA antigo, mapeamento com drones,
escaneamento a laser e técnicas avançadas de análise de materiais. Essas
inovações ampliam as possibilidades de pesquisa e aprofundam nossa
compreensão da história brasileira.
A educação é fundamental para o futuro da disciplina. A formação de novos
arqueólogos, a promoção de programas educacionais e a divulgação do

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conhecimento arqueológico para o público em geral são estratégias importantes para


fortalecer a disciplina e criar conscientização pública sobre a importância da
arqueologia para a sociedade.
Desafios éticos e sociais, como a relação com comunidades indígenas e a
consideração das perspectivas de grupos sub-representados na pesquisa
arqueológica, são desafios que a disciplina enfrentará no futuro. A inclusão de
diferentes vozes e a sensibilidade cultural são aspectos importantes a serem
considerados.
Garantir o financiamento adequado e sustentabilidade para projetos de
pesquisa arqueológica é um desafio constante. É fundamental envolver o governo,
instituições acadêmicas e a iniciativa privada na promoção da pesquisa e da
preservação do patrimônio arqueológico.
A legislação relacionada à proteção do patrimônio cultural deve ser
continuamente revisada e reforçada para atender às necessidades da arqueologia
brasileira. Isso inclui também a atualização de regulamentações para sítios
subaquáticos, aprimoramento das diretrizes de proteção e aplicação eficaz da
legislação existente.
O futuro da arqueologia brasileira é promissor, com muitas oportunidades para
expandir nosso conhecimento sobre a história e a cultura do Brasil. No entanto, os
desafios são igualmente substanciais, e a disciplina deve enfrentá-los com
dedicação, inovação e um compromisso contínuo com a preservação e a pesquisa
de alta qualidade.

16.4 Desafios e Oportunidades para Pesquisadores e Profissionais

A arqueologia no Brasil tem enfrentado uma série de desafios e, ao mesmo


tempo, se deparado com oportunidades para os pesquisadores e profissionais da
área. À medida que a disciplina amadurece e se desenvolve no contexto brasileiro,
é importante refletir sobre as condições atuais e as perspectivas futuras para aqueles
que trabalham nesse campo.
Desafios para Pesquisadores e Profissionais:
Concorrência por Recursos Limitados: A busca por financiamento é um
desafio constante para os pesquisadores. A competição por recursos financeiros

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para projetos arqueológicos pode ser intensa, requerendo estratégias eficazes de


captação de recursos.
Legislação e Regularização: A complexidade da legislação brasileira
relacionada à arqueologia pode ser um desafio para os pesquisadores. Transitar pelo
processo de autorização e cumprir regulamentações é fundamental, mas pode ser
demorado.
Preservação e Proteção do Patrimônio: A degradação e o saque de sítios
representam ameaças à integridade do patrimônio arqueológico, exigindo ação
constante para sua proteção.
Conscientização Pública: A conscientização sobre a importância da
arqueologia e do patrimônio cultural é pequena. Os profissionais da arqueologia
enfrentam o desafio de educar o público e as partes interessadas sobre o valor da
disciplina.
Oportunidades para Pesquisadores e Profissionais:
Colaboração Interdisciplinar: A arqueologia é uma disciplina que se beneficia
da colaboração com outras áreas, como geologia, antropologia, biologia e história.
Essas parcerias interdisciplinares podem levar a descobertas significativas.
Inovações Tecnológicas: As novas tecnologias, como a análise de DNA
antigo, a datação por radiocarbono aprimorada e o mapeamento aéreo com drones,
abrem novas possibilidades de pesquisa e análise.
Difusão do Conhecimento: A crescente demanda por profissionais da
arqueologia em museus, instituições educacionais e consultoria cultural oferece
oportunidades para compartilhar conhecimentos com o público e os alunos.
Pesquisa em Tópicos Emergentes: A arqueologia pode se expandir para
tópicos emergentes, como arqueologia subaquática, arqueologia industrial e
arqueologia urbana. Isso amplia o leque de oportunidades para pesquisas
inovadoras.
Preservação e Advocacia: Profissionais da arqueologia desempenham um
papel importante na defesa da preservação do patrimônio cultural. Advocacia eficaz
pode influenciar políticas e regulamentos.
Formação e Educação Continuada: A formação contínua e a educação
continuada são cruciais para manter-se atualizado com as práticas e técnicas mais
recentes na arqueologia.

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A arqueologia brasileira oferece tanto desafios quanto oportunidades para


pesquisadores e profissionais. Ao enfrentar os desafios com determinação e
aproveitar as chances de colaboração, inovação e conscientização pública, a
disciplina pode continuar a desempenhar um papel essencial na preservação da
história e da cultura do Brasil.

16.5 Ética na Pesquisa Arqueológica Brasileira

A ética ocupa um papel central na pesquisa arqueológica brasileira, guiando


o comportamento dos pesquisadores, a conduta nas escavações e a relação com as
comunidades locais. Ao abordar a ética na pesquisa arqueológica, podemos
identificar tanto desafios quanto diretrizes para garantir que a disciplina continue
contribuindo positivamente para a sociedade.
Desafios Éticos na Pesquisa Arqueológica Brasileira:
Relações com Comunidades Locais: A consulta e a cooperação com as
comunidades locais são essenciais, especialmente quando os sítios arqueológicos
afetam diretamente suas vidas. O desafio está em estabelecer relações de confiança
e garantir que os benefícios da pesquisa se estendam às comunidades, respeitando
sua cultura e identidade.
Questões de Propriedade e Posse: A determinação de quem possui o
patrimônio arqueológico muitas vezes gera conflitos. É importante abordar questões
de propriedade e posse com sensibilidade, respeitando os direitos das comunidades
e cumprindo a legislação de proteção do patrimônio cultural.
Repatriação de Artefatos e Vestígios Humanos: A devolução desses materiais
arqueológicos por instituições de pesquisa e museus é uma questão ética
importante. O desafio reside em equilibrar a pesquisa científica com a
responsabilidade ética de respeitar os desejos e direitos das comunidades de
origem.
Ética na Publicação e Divulgação: Garantir que os resultados da pesquisa
arqueológica sejam comunicados de forma precisa e culturalmente sensível é um
desafio ético. A publicação e a divulgação de descobertas devem ser realizadas de
maneira apropriada e acessível ao público.

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Diretrizes Éticas para Pesquisa Arqueológica Brasileira: Consultar e Cooperar


com Comunidades Locais. A consulta precoce e a colaboração com comunidades
locais são fundamentais. Os pesquisadores devem envolver as partes interessadas
desde o início e considerar seus interesses, preocupações e desejos.
Cumprir as Leis e Regulamentações: Os pesquisadores devem seguir todas
as leis e regulamentações relacionadas à arqueologia e ao patrimônio cultural. Isso
inclui obter as autorizações necessárias e cumprir os requisitos legais.
Respeitar Direitos e Propriedade: Os direitos das comunidades locais e a
propriedade do patrimônio arqueológico devem ser respeitados. Qualquer
repatriação ou devolução de artefatos deve ser feita de forma ética e legal.
Transparência e Responsabilidade: Os pesquisadores devem ser
transparentes sobre seus métodos, descobertas e resultados. A responsabilidade
pela divulgação precisa é fundamental.
Educação Ética Contínua: A formação e a educação contínua em ética são
essenciais para os pesquisadores. Eles devem estar atualizados com as práticas
éticas e as abordagens mais adequadas à cultura.
Garantir a ética na pesquisa arqueológica brasileira é essencial para manter
a integridade da disciplina e para promover uma relação respeitosa com as
comunidades e o patrimônio cultural do Brasil. À medida que a arqueologia continua
a se desenvolver, a ética deve permanecer no centro de suas práticas e princípios.

16.6 Políticas de Preservação do Patrimônio Arqueológico Nacional

A preservação do patrimônio arqueológico nacional é fundamental para


garantir que as gerações presentes e futuras tenham acesso à rica história e cultura
do Brasil. Abordamos as perspectivas futuras e os desafios das políticas de
preservação do patrimônio arqueológico no país.
Perspectivas Futuras:
Integração com o Planejamento Urbano: Integrar a arqueologia nas
estratégias de planejamento urbano é uma perspectiva futura promissora.
Considerar sítios arqueológicos nas fases iniciais de desenvolvimento urbano pode
levar à preservação no local ou ao resgate arqueológico adequado.

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Investimento em Pesquisa: O aumento do investimento em pesquisa


arqueológica é uma perspectiva positiva. Maior financiamento permitirá a realização
de mais escavações, análises e estudos, ampliando o nosso conhecimento do
passado brasileiro.
Educação e Conscientização Pública: Políticas que promovam a educação e
a conscientização pública sobre a importância do patrimônio arqueológico são
fundamentais. Isso inclui programas educacionais, exposições em museus e a
divulgação de descobertas arqueológicas.
Repatriação Responsável: A repatriação de artefatos e vestígios humanos
para comunidades de origem continuará a ser uma perspectiva importante. Uma
abordagem responsável às questões éticas e culturais é fundamental.
Desafios para a Preservação do Patrimônio Arqueológico Nacional:
Desenvolvimento Urbano Desenfreado: O crescimento urbano descontrolado
é um grande desafio. A destruição de sítios arqueológicos devido ao
desenvolvimento sem planejamento ameaça o patrimônio arqueológico.
Fiscalização e Cumprimento das Leis: Garantir que as leis de proteção do
patrimônio cultural sejam cumpridas e fiscalizadas de forma eficaz é um desafio. Isso
requer recursos e coordenação entre diferentes agências governamentais.
Conscientização Limitada: A falta de conscientização pública sobre a
importância da arqueologia pode levar a uma falta de apoio e compreensão. Isso
pode dificultar a implementação de políticas de preservação.
Conflitos de Interesse: Entre o desenvolvimento econômico e a preservação
do patrimônio arqueológico são comuns. Encontrar soluções equilibradas que
atendam a ambas as necessidades é desafiador.
Recursos Limitados: O financiamento limitado para pesquisas e projetos de
preservação é um obstáculo constante. Sem recursos adequados, a capacidade de
proteger e estudar o patrimônio arqueológico fica comprometida.
O futuro da arqueologia brasileira depende do compromisso contínuo com
políticas de preservação eficazes e da superação dos desafios enfrentados. As
perspectivas futuras incluem uma abordagem integrada ao planejamento urbano,
mais investimentos em pesquisa, educação pública e repatriação responsável.
Enquanto isso, os desafios, como o desenvolvimento desenfreado e a falta de

128
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recursos, requerem atenção constante para proteger o patrimônio arqueológico do


Brasil.

REFERÊNCIAS

Brasil. Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961: Dispõe sobre os monumentos


arqueológicos e pré-históricos. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l3924.htm

Brasil. Decreto nº 3.551, de 04 de agosto de 2000: Institui o Registro de Bens


Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o
Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3551.htm

Brasil. Decreto-lei nº 25 de 30 de novembro de 1937: Organiza a proteção do


patrimônio histórico e artístico nacional. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm

Brasil. Lei nº 11.483, de 31 de maio de 2007: Dispõe sobre a revitalização do


setor ferroviário. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2007/lei/l11483.htm

CALDARELLI, S.B. Arqueologia em grandes empreendimentos: a importância e


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V, 9/10, p. 35-63, 2008.

DE SOUZA, M. C. (Org.). Arqueologia preventiva: Gestão e Mediação de


Conflitos. Estudos Comparativos. São Paulo: Superintendência do Iphan em São
Paulo, 2010.

FRONER, Y.A. Conservação preventiva e patrimônio arqueológico e


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Etnologia, p. 291-301, 1995.

IPHAN. Instrução Normativa nº 001, de 25 de março de 2015: Estabelece


procedimentos administrativos a serem observados pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional nos processos de licenciamento ambiental dos quais
participe. Disponível em: https://www.gov.br/iphan/pt-br/patrimonio-
cultural/licenciamento-ambiental/Instrucao_normativa_01_2015.pdf

IPHAN. Portaria Interministerial nº 60, de 24 de março de 2015: Estabelece


procedimentos administrativos que disciplinam a atuação dos órgãos e entidades
da administração pública federal em processos de licenciamento ambiental de
competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis-IBAMA. Disponível em: https://www.gov.br/iphan/pt-br/patrimonio-

129
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Núcleo de Ensino a Distância

cultural/licenciamento-
ambiental/Portaria_Interministerial_60_de_24_de_marco_de_2015.pdf

JACQUES, C.C.; DE CARVALHO, A.B. Campos de atuação e os desafios da


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2, p. 252-268, 2020.

KERN, A.A. Arqueologia: o futuro do nosso passado. Rio Grande: Editora da


FURG, 2022.

ROSSANO, L.B; SOUZA, M.C. de. (Org.). Normas e Gerenciamento do


Patrimônio Arqueológico. São Paulo: IPHAN, 2010.

ZANETTINI, P.; WICHERS, C.A. de M. Arqueologia Preventiva e o Ensino no


Brasil. HABITUS, Goiânia, 12, 2, p. 239-256, 2014.

130
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Núcleo de Ensino a Distância

Resumo – Unidade IV

Nessa quarta unidade, vimos como a arqueologia brasileira desempenha um


papel multifacetado e de grande relevância em várias áreas, contribuindo para uma
compreensão mais profunda da história e do patrimônio do país. Neste contexto,
destacam-se quatro áreas-chave: a importância da arqueologia para as Culturas
Indígenas Brasileiras, a Arqueologia Urbana, a Arqueologia Subaquática e Marítima,
e sua relação com os Dispositivos Legais de Preservação, bem como as
Perspectivas e Desafios para o Futuro da Arqueologia Brasileira.
A arqueologia brasileira possui um papel essencial na preservação e
promoção da cultura e história das populações indígenas brasileiras. Por meio de
escavações, pesquisas etnoarqueológicas e estudos de sítios arqueológicos, a
arqueologia contribui para documentar o conhecimento tradicional, a organização
social e as práticas culturais das comunidades indígenas. Isso é vital para a
valorização e preservação das identidades culturais, bem como para embasar
políticas de proteção e reconhecimento dos direitos indígenas.
Na Arqueologia Urbana do Brasil, a pesquisa arqueológica é fundamental para
o entendimento do desenvolvimento das cidades brasileiras, revelando aspectos da
ocupação humana ao longo do tempo. Através de escavações urbanas, é possível
resgatar vestígios de períodos pré-coloniais, coloniais, imperiais e republicanos,
além de investigar o desenvolvimento das áreas urbanas e seus impactos
socioeconômicos e culturais. Isso auxilia na preservação do patrimônio urbano e na
promoção de políticas de revitalização de áreas históricas.
A Arqueologia Subaquática e Marítima também desempenha um papel
importante, uma vez que o Brasil possui uma extensa costa e muitos sítios
subaquáticos significativos. Esses sítios incluem naufrágios, portos históricos e
vestígios de atividades humanas submersas. A arqueologia subaquática contribui
para a identificação, preservação e estudo desses sítios, revelando informações
importantes sobre a história marítima e a relação entre o homem e o mar.
No que diz respeito aos Dispositivos Legais de Preservação, a arqueologia é
essencial para a implementação e fiscalização de leis de proteção do patrimônio

131
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cultural. O registro e a documentação de sítios arqueológicos, juntamente com o


trabalho de arqueólogos e instituições especializadas, garantem que áreas de
interesse arqueológico sejam respeitadas em projetos de desenvolvimento e
construção. Além disso, a arqueologia auxilia na formulação de políticas de
preservação e na conscientização da importância da preservação do patrimônio.
Vimos também que, a arqueologia brasileira enfrenta desafios significativos
em relação à falta de financiamento, à destruição de sítios arqueológicos e à
necessidade de fortalecer a formação de profissionais. É fundamental que haja um
investimento contínuo na pesquisa arqueológica, na formação de arqueólogos e na
conscientização sobre a importância da preservação do patrimônio cultural.
A arqueologia brasileira desempenha um papel capital na promoção e
preservação das Culturas Indígenas, na pesquisa de áreas urbanas, na
documentação de sítios subaquáticos e na implementação de dispositivos legais de
preservação. Superar os desafios que enfrenta requer um compromisso contínuo
com o financiamento, a formação e a conscientização pública, a fim de garantir um
futuro próspero para a arqueologia no Brasil. Isso, por sua vez, contribuirá para uma
compreensão mais abrangente da história e do patrimônio do país.

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