Mod 2 Estruturas Políticas Do Estado Moderno
Mod 2 Estruturas Políticas Do Estado Moderno
Mod 2 Estruturas Políticas Do Estado Moderno
PROPÓSITO
Discutir as condições de surgimento do Estado moderno e os processos de formação de sua
organização política, objetos fundamentais para a compressão do funcionamento das instituições e do
conjunto de leis que regulam nossas vidas nas sociedades contemporâneas.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Relacionar o conceito de Estado moderno, a transição do absolutismo ao Estado liberal com a ascensão
e consolidação da burguesia no poder
MÓDULO 3
Reconhecer os poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) por meio da análise do seu
surgimento, suas capacidades específicas e mecanismos de independência
INTRODUÇÃO
Para início de conversa, podemos pensar que na sociedade contemporânea, como a nossa, vivemos
experiências e conflitos cotidianos (seja qual for nosso país, etnia, gênero ou classe social) que nos
relembram diariamente que precisamos agir conforme as leis, regras e/ou convenções para conviver da
forma mais harmoniosa possível. Não é à toa que, ao falar dos amplos conflitos sociais, normalmente
sintonizamos nosso discurso ao ente, com autoridade e legitimidade, capaz de dirimir, atenuar ou intervir
diretamente sobre os problemas que nos assolam. Esse é o momento em que evocamos quase
automaticamente a noção de Estado através de suas instituições, poderes ou representantes.
Neste tema, aprenderemos um pouco mais sobre a sociedade contemporânea, as instituições que a
compõem e seu surgimento na história. E, como, afinal, surgiu o Estado em que vivemos? Como
podemos defini-lo? Que poderes os governantes possuem? O que os regulam? Questões como estas
serão abordadas nos nossos estudos.
Partiremos a discussão sobre a nossa sociedade atual, seu surgimento e suas características. Depois,
entenderemos qual é a estrutura do Estado moderno. Por fim, veremos quais poderes atuam dentro
desse Estado, suas características e formas de controle mútuo. Também aprenderemos a encontrá-los
em nosso país.
MÓDULO 1
ATENÇÃO
A partir do momento que os problemas sociais são considerados passíveis de serem resolvidos — e
prevenidos —, tornam-se objetos de investigação científica. É nesse cenário que nasce a Sociologia.
Mas, antes dela, é Auguste Comte (1798-1857), filósofo francês que formulou a doutrina do Positivismo,
quem primeiro a toma como ciência, buscando compreender o funcionamento da nova sociedade para
prevenir que as desigualdades sociais não desestruturem a ordem social.
A partir desse período que podemos compreender a sociedade contemporânea como um produto,
resultado das condições históricas e políticas, fabricado pela ascensão da burguesia e o novo
modo de produção capitalista no final do século XVIII e início do século XIX. São essas condições
que modificam as relações sociais e concebem um homem, cidadão do mundo, desgarrado dos
antigos laços sociais. Basta lembrarmos que as sociedades antigas e medievais possuíam estruturas
assentadas em pertencimentos locais — cidade, vila — ou religiosos — o cristão, o islâmico, o judeu —,
ou ainda por profissão — agricultor, padre, nobre.
Não é à toa que a Sociologia nasce com a perspectiva de compreender essa nova sociedade e seus
efeitos. Karl Marx (1818-1883), com seu método, o materialismo histórico e dialético, chamou atenção
para o modo como a produção da vida material — os bens materiais que necessitamos para sobreviver,
como, por exemplo, mesa, cadeira, roupas etc. – determina uma nova relação de produção no sistema
capitalista: um grupo social – a burguesia – passa a dominar outro grupo social – o proletariado.
Retrato de Karl Marx, por John Jabez Edwin Paisley Mayall, 1875.
Se olharmos a passagem bem de perto, percebemos que Marx está nos contando uma história de
ruptura de uma velha ordem social. E é exatamente essa nova ordem social – burguesa – a geradora
das mudanças nos hábitos, costumes, relações familiares, concepções de vida etc.
A Sociologia de Marx não é a única interpretação possível da sociedade contemporânea. Ao lado dele,
Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920) formam a base teórica clássica da Sociologia.
Por caminhos e métodos distintos, os três autores nos apresentam uma ciência ocupada com a relação
indivíduo-sociedade. Se repararmos bem, seus conceitos — classe social (Marx), fato social (Durkheim)
e ação social (Weber) —, só pelos nomes, já trazem o peso dos impactos sociais sobre a vida do
homem.
Você deve estar percebendo o curioso caminho que tomamos: o capitalismo e as ideias liberais são
as bases subjacentes à vida social contemporânea. Essas bases não são claras ou óbvias.
Precisamos fazer um exercício de reflexão para desvelar sua percepção.
Por exemplo, ao falarmos “eu tenho direitos trabalhistas”, “Sou livre para votar em quem eu quiser” ou
“com o meu dinheiro compro o que eu quiser” está implícita a ideia de que estes indivíduos foram
“fabricados” em sociedades dos nossos dias e que, por sua vez, são reguladas pelas noções de
liberdade e direitos. Dificilmente ouviríamos essas palavras de um homem da Antiguidade ou do período
medieval.
Pois, bem. São em sociedades como a nossa que o indivíduo se tornou um sujeito de direito, regulado
por um Estado. Podemos dizer que a sociedade contemporânea é uma Sociedade de Indivíduos, que
também é o título da obra de um sociólogo alemão chamado Norbert Elias. Para o autor, em sociedades
contemporâneas, não há como falarmos de uma separação entre indivíduo e sociedade, justamente
porque acredita numa relação de interdependência, processo de influência mútua.
MAS, SE É ASSIM, COMO CHEGAMOS ÀS IDEIAS
LIBERAIS? COMO ELAS SE FORMARAM?
Vamos analisar um pouco melhor as idéias embrionárias que, de certo modo, formaram a base de nossa
identidade sociopolítica atual.
(DESCARTES, 2001)
Esta ideia de indivíduo que surge no pensamento de Descartes, e que independe de fatores sociais para
sua definição, passa a ser alvo de indagações de filósofos posteriores. A questão principal é a seguinte:
Para responder essa questão, os filósofos passam a usar a ideia de um momento hipotético, no qual
as comunidades não existissem e os homens vivessem sozinhos, isolados uns dos outros. A essa ideia
damos o nome de estado de natureza.
O estado de natureza foi mobilizado por vários filósofos, os mais conhecidos são:
THOMAS HOBBES
(1588 – 1679)
JOHN LOCKE
(1632 – 1704)
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
(1712-1778)
Cada um desses autores lança hipóteses distintas sobre o estado de natureza. O ponto comum entre
eles é que, no estado de natureza, os indivíduos seriam completamente livres, viveriam
independentes, ou seja, agiriam de acordo com suas próprias regras, executariam suas
atividades da forma que quisessem, e, julgariam conforme seus interesses próprios. As únicas
limitações existentes seriam aquelas impostas pela natureza (tempestades, terremotos, enchentes etc.).
Como você já deve imaginar, nem tudo funciona tão bem quanto parece. Isso porque os seres humanos
possuem características naturais, físicas e intelectuais distintas que, consequentemente, os põem em
condição de desigualdade no estado de natureza. Por exemplo, alguns possuem mais força ou mais
rapidez, outros possuem uma visão mais aguçada e um raciocínio mais rápido. Como no estado de
natureza não existiriam leis gerais e muito menos alguém que aplicasse tais leis, a tendência é a
de que os mais fortes oprimissem os mais fracos. Por outro lado, os astutos poderiam oprimir os mais
fortes. Para esses teóricos, a percepção dos riscos do estado de natureza é o momento-chave para
nossa reflexão.
VAMOS REFLETIR...
Sem um controle, os indivíduos tenderiam a um confronto eterno, o que reduziria suas liberdades e seus
direitos. Para garantir esses direitos, eles apresentam a ideia de que os homens escolheriam
abandonar o estado de natureza para constituírem uma sociedade politicamente organizada,
através de uma espécie de contrato, no qual os indivíduos delegam parte — ou o todo — de seus
poderes no estado de natureza para um “outro”, tendo em vista que esse “outro” proteja seus direitos
naturais — ou parte deles.
Não podemos esquecer, entretanto, que estamos em uma situação hipotética e o contrato é uma
abstração. Mas com ela podemos prospectar que os indivíduos aceitam viver em sociedade para sua
própria proteção, segurança ou potencializar suas liberdades. Advém daí a percepção de que algo
externo e ao mesmo tempo comum aos homens deveria estabelecer regras que garantisse a vida
e a liberdade de todos.
Cabe mencionar que esses autores têm características específicas no desenvolvimento de suas
ideias sobre o contrato social.
Hobbes partia da noção de que homens tendem ao conflito por sua própria natureza e necessitariam de
um poder comum que os controlassem, ainda que para isso fosse um poder absoluto.
Locke propunha que deveria existir uma proteção à propriedade privada que, em sua concepção,
incluiria a vida e a liberdade, além da propriedade material em si, e para isso propõe as formas de
organização do governo civil nessa sociedade, reduzindo a possibilidade de opressão aos indivíduos.
Rousseau entendia que a instituição da propriedade corrompia o homem e que o poder comum deveria
surgir de uma sociedade política que representasse a vontade geral.
LIGANDO OS PONTOS
Os modelos hipotéticos dos contratualistas — cada qual a sua maneira — nos chamam a atenção para
um aspecto basilar: eles fazem emergir teorias que apresentam os indivíduos como detentores de
direitos naturais (fundamentais) invioláveis. Se violados, colocaríamos a vida humana em risco. Se
olharmos bem de perto, percebemos que os contratualistas nos dão os princípios das doutrinas
liberais que, alinhadas ao desenvolvimento do modo de produção capitalista — com a
emergência da classe burguesa —, nos fornecem o quadro político e econômico das sociedades
contemporâneas.
Podemos deduzir que esse “quem” ou “que” seria o Estado (Sobre ele discutiremos no próximo módulo).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Como vimos no módulo anterior, a noção de Estado tem a ver com algumas destas características.
Entretanto, precisamos dar especial atenção a alguns aspectos centrais para sua definição mais
rigorosas.
Devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de
determinado território — a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado —
reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física.
Com uma definição aparentemente simples, Weber nos convida a aprofundar os significados das
expressões “território” e “monopólio do uso legítimo da violência física”, palavras que saltam na
sua escrita e que terão seus significados aprofundados neste módulo.
Motim da Polícia Militar durante um protesto contra o estupro coletivo de uma garota de 16 anos em
uma favela no Rio de Janeiro, na Avenida Paulista em São Paulo, Brasil, 2016.
Sem muitos rodeios, percebemos com Weber que a configuração desta instituição política nem sempre
assumiu uma única forma ao longo da história. Longe de nos conduzir a um conceito universal,
independente das circunstâncias sociais, a definição do autor reporta à manutenção de uma estrutura
política determinada espacial e historicamente que se constituiu na Europa, entre os séculos XIII
e XIX.
A ascensão do que chamamos de Estado é produto de um contexto de guerras e revoluções que, por
sua vez, modelaram o desenvolvimento econômico, político, social e tecnológico de sociedades do
chamado Antigo Regime.
A substituição paulatina das diversas unidades políticas, os feudos — sob domínio da nobreza (os
senhores feudais) —, por uma estrutura de poder centralizada em torno das cidades — especialmente
motivada pela expansão comercial da burguesia —, forma o cenário propício para a configuração do
aparelho estatal e de uma nova ordem social. Neste processo, percebemos a expansão do poder
político, integrado a um único domínio territorial, mais amplo que as unidades feudais. E,
consequentemente, concentrando em torno de si, as relações políticas e comerciais.
Como você deve estar percebendo, nossa trajetória analítica em torno da aparição do Estado nos
conduz necessariamente às origens da chamada Idade Moderna, período que vai do século XV ao
século XVIII. Isso não é mera coincidência. Mas também não podemos simplificar a tal ponto de
concluir que o Estado recebe a nomeação de Moderno porque já nasce completo nos princípios
de nossa Idade Moderna.
ATENÇÃO
Estamos tratando de processos históricos e políticos e, portanto, são mudanças gradativas que
delineiam o que hoje consideramos como as estruturas políticas do “Moderno”.
É importante destacarmos que o adjetivo “moderno”, como sugere o próprio nome, integra um
conjunto de inovações nas instituições administrativas, no sistema de defesa nacional, na
gestação de códigos legais, na adoção de critérios fiscais e no exercício do poder.
Em primeiro lugar, devemos ter em mente que o conceito de Estado moderno, em si, já nos indica uma
separação entre o governante e o Estado, uma novidade quando comparada às formas anteriores de
organização política. E isso também acontece porque o próprio sentido ou significado da palavra Estado
se transformou ao longo da história. Segundo o historiador inglês Quentin Skinner (1996), do ponto de
vista conceitual, este processo tem início no século XIII e é concluído no século XVI quando os
elementos conceituais do Estado moderno existem no ideário histórico. O principal passo nesse sentido
é a transformação do significado da palavra estado, que antes tinha relação com a “conservação do
estado” de governante, para a ideia de uma ordem legal e constitucional, quando o papel do governante
é conservar “o” Estado.
Quando, por exemplo, Nicolau Maquiavel (1469-1527) fala sobre um príncipe que deseja manter seu
estado, ele se refere à posição social do príncipe e seus poderes. Ou seja, manter o estado, nessa
frase, significa manter a posição de poder como governante. Quando pensamos no conceito
moderno de Estado, a situação é bem diferente. Conservar o Estado significa proteger o reino de
ameaças, manter a unidade territorial, dentre outras funções, e, com isso, manter o governo sobre o
Estado. Antes o estado aparece como uma circunstância inerente ao governante e, depois, no conceito
moderno, como algo externo ao governante, que deve ser protegido e que temporariamente está sob
seu controle.
Nicolau Maquiavel, Roma, séc. XVI.
A esta noção moderna juntam-se transformações históricas, muitas das quais advindas da conformação
absolutista do Estado, uma das primeiras aparições do Estado moderno. A autonomia política e o
monopólio financeiro do Estado substituíram as diferentes moedas e tributos que existiam durante o
período feudal, no qual os senhores locais instituíam formas diversas de taxação e cobranças. Com as
unificações territoriais, onde antes existiam pequenos principados, passou a existir um reino unificado
sob o controle de um só rei. Para a proteção desse reino contra ameaças externas, são criados os
exércitos permanentes, que são remunerados e devem lealdade ao soberano único. Vale mencionar
que os exércitos, antes do absolutismo, não eram permanentes. Na verdade, os nobres possuíam
pequenos contingentes armados que se uniam sob o comando de um rei, todavia, esses exércitos não
eram estáveis e possuíam vários senhores.
ATENÇÃO
No contexto medieval, os reis possuíam um poder reduzido e dependiam da relação direta com outros
nobres. Com a unificação territorial, autonomia financeira e exército permanente, os reis do período
absolutista concentram em si grande poder. Além disto, esse rei e sua corte detinham a capacidade de
criar leis e julgar os crimes, dando ao soberano o monopólio da punição. Os nobres, que antes
detinham bastante poder em suas localidades, passam a aceitar os reis absolutos em troca de cargos no
governo central.
A modernização (racionalização) destas estruturas políticas teve íntima relação com a expansão
dos Estados Absolutos. Diferentemente do início da conversa neste módulo, a formação do Estado
moderno não se deu por um gesto benevolente dos seus fundadores para a proteção aos indivíduos
com leis que lhe assegurassem direitos e por preocupação com o bem-estar da população em geral. Ela
esteve intimamente ligada às disputas territoriais no continente europeu, e, mais que isso, à busca
incessante pelo monopólio da violência, como nos lembra a definição weberiana.
Devemos ter em mente que a concentração de poderes no Estado absolutista gerava insatisfação,
especialmente naqueles que não participavam do governo. Poderíamos enumerar uma série de
excluídos. Mas a título de nossa análise, vale destacar uma classe em plena ascensão: a burguesia.
Com o acúmulo de riquezas advindas das trocas comerciais, os burgueses possuíam um grande poder
econômico, mas eram sub-representados politicamente.
Os reis, para manterem-se no controle dos territórios, afastar as ameaças externas e formar seus
exércitos, eram tensionados a fazer concessões à burguesia — que, em troca, lhes dava dinheiro,
em forma de empréstimo ou de pagamento de impostos – para custear os gastos da coroa.
Algumas destas concessões, por exemplo, vinham em forma de leis para o estímulo do comércio e das
atividades manufatureiras e, consequentemente, da flexibilização de sua atuação sobre economia.
Ora, a negociação de interesses através das leis funcionava como um meio de impor limites
sobre o poder monárquico ao mesmo tempo que o autorizava a exercer o controle do Estado.
RELEMBRANDO
Neste ponto, precisamos voltar ao que aprendemos no Modulo I: as ideias liberais que vimos com os
contratualistas (direitos naturais) passam a ganhar importância quando falamos das leis. É nesse
momento que elas passam a ser reivindicadas pela burguesia.
VAMOS REFLETIR...
Mas nem sempre esse jogo tomou um rumo harmonioso. Podemos, por exemplo, entender os
movimentos revolucionários como uma situação limite de busca por legitimidade da classe burguesa. O
caso mais emblemático desta ideia é a Revolução Francesa.
Você já deve ter ouvido falar que a Revolução Francesa (1789 – 1799) marcou o declínio das grandes
monarquias absolutistas na Europa. O movimento de proporções continentais destituiu os privilégios da
nobreza e do clero na França.
O país vivia uma crise alimentar, além de um alto endividamento. A insatisfação de setores populares e
da ascendente burguesia com o governo de Luís XVI fomentou o movimento revolucionário que
culminou na sua decapitação e de sua esposa, Maria Antonieta, em 1792. As instabilidades políticas
duraram aproximadamente uma década até a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, em 1799.
A Execução de Luís XVI de França, a partir
de uma gravura alemã, 1793.
A Revolução Francesa estava imbuída de ideais do movimento filosófico conhecido como Iluminismo.
Para os iluministas, a razão passa ocupar lugar de destaque, assim como o homem, reduzindo a
importância das religiões. Este homem era visto como um indivíduo portador de direitos universais,
como nas doutrinas dos direitos naturais. Unem-se às ideias iluministas, as expectativas da classe
burguesa, motivada pelos interesses econômicos e políticos sobre o Estado.
REPÚBLICA
A república, diferentemente da monarquia, é uma forma de organização do governo que, por sua vez é
representada por uma autoridade que administra o Estado. Na República, a relação entre governantes e
governados é mediada pela eleição, em que o chefe de Estado é eleito e legitimado pela população.
Como já discutimos, do ponto de vista econômico, ergue-se um novo modo de produção que chamamos
de capitalista.
CAPITALISTA
RESUMINDO
Quando tratamos de Estado moderno não temos uma precisão temporal de sua aparição. Por outro
lado, vimos que a conformação dos primeiros Estados-nações e, posteriormente, Estados absolutos
trazem processos históricos, mudanças político-institucionais, concepções de governo e, principalmente,
um novo modo de conceber a autoridade política e o comando do Estado. Por isso mesmo, tratamos
aqui como um processo de modernização, de racionalização, que atinge seu ápice no século XVIII,
especialmente com a queda da monarquia absolutista. E, sem dúvida, a Revolução Francesa é um
símbolo deste cenário.
Veja um quadro síntese do que consideramos Estado moderno:
O produto das nossas discussões nos convida a pensar que as características e a nova forma de
organização do Estado, alcançadas com a chegada da burguesia ao poder, erige o que chamamos de
Estado liberal.
O Estado liberal tem seu fundamento na ideia de que as liberdades individuais e a propriedade privada
devem ser garantidas. John Locke (1632-1704) é um dos primeiros autores a nos apresentá-la.
Com essas pistas, podemos inferir que o desenvolvimento do sistema capitalista no mundo
contemporâneo gerará sociedades cada vez mais complexas que, por sua vez, exigirão mecanismos e
formas de regulação do poder político igualmente complexas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Atualmente, como conter governos autoritários e como corrigir os problemas de abusos de poder?
RESPOSTA
Na prática, Napoleão concentrou poderes até ser coroado Imperador, em 1804. A França saíra de um
absolutismo monárquico, porém encontrava-se em um governo também autoritário e que concentrava
poderes. Assim, a Revolução Francesa lançou bases para o conceito de Estado de Direito, mas
não o realizou. Como descreve Modesto Florenzano:
Para entendermos o surgimento do Estado de Direto na história, devemos olhar para os acontecimentos
que ocorreram na Inglaterra cem anos antes da Revolução Francesa.
1688 – 1689
Foi promulgada a Declaração de Direitos (Bill of Rights). Neste documento, o parlamento aumenta seus
poderes em matérias como impostos, leis e exército. Além disso, a segurança religiosa é reforçada.
Também é possível enxergar uma primeira separação de poderes, na qual o monarca não pode alterar
ou suspender leis sem o consentimento do parlamento.
Montesquieu
Para que essa liberdade seja preservada, é necessário que os poderes do Estado sejam
separados, ou seja, não sejam exercidos por uma só pessoa ou conjunto de pessoas. Além disso,
é preciso que esses poderes sejam independentes, criando mecanismos que dificultem a tentativa
de concentração de poderes.
Montesquieu propõe a separação de poderes, os quais devem ser independentes uns dos outros, na
sua atuação e composição. Eles são conhecidos atualmente como:
EXECUTIVO
Ao Executivo caberia cuidar das relações do Estado com os outros Estados, algo que entenderíamos
atualmente como política externa.
LEGISLATIVO
JUDICIÁRIO
A seguir, temos uma figura que ilustra esse movimento de delegação, concentração e separação dos
poderes.
ESTADO DE NATUREZA
Insegurança por não existir leis gerais, juízes neutros e um poder comum.
ABSOLUTISMO MONÁRQUICO
ESTADO DE DIREITO
RELEMBRANDO
Durante os períodos absolutistas, já existiam instituições como o parlamento. A questão é que o poder
do parlamento era limitado e, além disso, frequentemente dissolvido por ordem dos monarcas,
justamente porque não existiam leis que estivessem acima de todos, como o caso das constituições, ou
seja, leis que até mesmo os reis estivessem obrigados a obedecer.
Como sabemos, não basta existir leis para que elas sejam obedecidas. Tendo em vista a separação de
poderes, Montesquieu salientou a necessidade de mecanismos que garantissem a independência dos
poderes. Um exemplo que o autor traz é a capacidade do Executivo vetar leis que sejam produzidas
pelo Legislativo. Todavia, a consolidação institucional, bem como a teorização, desse e de outros
mecanismos que garantissem o equilíbrio entre os poderes, ocorre em um contexto fora da
Europa.
FEDERALISTAS
Vamos analisar os acontecimentos relativos à constituição dos Estados Unidos da América.
Os Estados Unidos da América tornaram-se independentes do domínio inglês em 1776. Os conflitos não
terminaram nesse ano e o país ainda passou por guerras internas até sua estabilização política. Alguns
entraves existiam para a consolidação estadunidense após sua independência. Trata-se de um país de
dimensões continentais, composto por estados autônomos e que demandavam um governo que fosse
eleito e composto pelo povo.
Em uma série de artigos conhecidos como O Federalista (em inglês, The federalist papers), três autores
fizeram a defesa da Constituição dos Estados Unidos da América, de 1787.
JAMES MADISON
(1751 – 1836)
JOHN JAY
(1745 – 1829)
Esses autores partiam de uma percepção de que os homens são naturalmente ambiciosos.
SAIBA MAIS
Nos EUA, alguns cargos do Judiciário são compostos via eleição, enquanto aqui no Brasil isto só ocorre
por meio de concurso, e, em uma minoria dos casos, por indicação do Poder Executivo.
O ponto central dos federalistas era criar um sistema que equilibrasse os poderes, além de garantir a
autonomia dos estados federados.
O Legislativo era visto como o mais poderoso. Para conter este poder, os autores criaram mecanismos
que fortaleciam os demais poderes.
No caso do Executivo, o poder está na capacidade de vetar leis criadas pelo legislativo.
Para entender como esse sistema funciona no Brasil, vejamos um pouco da Ciência Política em
nosso país.
GOVERNOS AUTORITÁRIOS: ENTRE A
HISTÓRIA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Assista ao vídeo sobre o Brasil e a história dos seus regimes, com a professora Marina Garcia.
No caso brasileiro, para esses freios e contrapesos, possuímos uma separação de poderes e temos
mecanismos institucionais para garantir a independência entre Executivo, Legislativo e Judiciário.
Entenda melhor abaixo:
EXECUTIVO
LEGISLATIVO
JUDICIÁRIO
EXECUTIVO
Um deles é o veto do Executivo, como vimos em Montesquieu e nos Federalistas, e que existem em
nosso ordenamento jurídico.
Em cada uma das esferas, o Executivo recebe as leis aprovadas pelo Legislativo. O Executivo pode
aprová-las (sanção) ou reprová-las (veto), no todo ou em parte. Essas leis, quando reprovadas,
retornam ao Legislativo. Além disso, cabe ao Executivo a inciativa nas legislações relativas ao
orçamento.
LEGISLATIVO
O Legislativo pode promulgar leis vetadas pelo Executivo. É necessária uma votação expressiva
(maioria absoluta) do corpo legislativo para derrubar o veto, e promulgar a lei por meio de um decreto
legislativo. Cabe também ao Legislativo fiscalizar as contas do Executivo e abrir processos de
impeachment em caso de crimes de responsabilidade.
JUDICIÁRIO
O Judiciário obtém autonomia orçamentária — ou seja, os gastos do Judiciário são decididos por seus
órgãos — a inamovibilidade dos juízes e a guarda da Constituição no caso do Supremo Tribunal Federal
são mecanismos para garantir sua independência.
Sobre as esferas de atuação, temos a União (federal), os estados e o Distrito Federal, e os municípios.
Veja:
NA ESFERA FEDERAL
NA ESFERA ESTADUAL
NA ESFERA MUNICIPAL
NA ESFERA FEDERAL
O chefe do Poder Executivo é o presidente e o Legislativo é composto por duas casas: Câmara dos
Deputados e Senado Federal. O Congresso Nacional é a união dessas casas e seus parlamentares.
NA ESFERA ESTADUAL
O Executivo tem como chefe o governador, o Poder Legislativo consiste na assembleia dos deputados.
NA ESFERA MUNICIPAL
O organograma a seguir resume o arranjo institucional dos poderes compostos pelo voto:
Este arranjo institucional foi criado tendo em vista a defesa de nosso Estado Democrático de Direito,
pois nossos representantes são eleitos por meio do voto, com exceção do Poder Judiciário. Além
disso, o voto é um direito de todos os brasileiros, maiores de 16 anos, sem qualquer restrição de renda,
gênero, classe, raça ou religião.
VAMOS REFLETIR...
No Brasil, a democracia tem pouco mais de trinta anos. Temos um longo passado autoritário no qual os
poderes eram concentrados no Executivo.
A concentração de poderes, tão temida pelos filósofos que analisamos, parece ser um risco para
a democracia.
Todavia, na atualidade, isso não ocorreria na figura de um monarca, por exemplo. Tendo por base a
separação dos poderes e suas atribuições, a concentração de poder pode ocorrer quando um partido
político, por exemplo, domina o Poder Executivo e o Legislativo. Mas consideramos, de fato, um risco
democrático quando esse partido persegue seus opositores, cria leis que impeçam a oposição e limite
ou suprima as liberdades de expressão e de imprensa.
Frente a estes tipos de abusos, um mecanismo de defesa é a atuação do Poder Judiciário. Sendo um
poder que não tem sua composição feita por meio do voto, o seu controle por algum partido fica mais
difícil, embora possa ocorrer. O Judiciário deve ser politicamente neutro, como propôs Montesquieu.
Compete a esse poder defender o Estado Democrático de Direito frente a possíveis abusos que venham
dos poderes Executivo e Legislativo.
RESUMINDO
Neste módulo, vimos como se deu a institucionalização dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Discutimos a proposição clássica de Montesquieu e analisamos o que os federalistas propunham para
o país recém-criado Estados Unidos da América. A partir dos mecanismos de separação e equilíbrio dos
poderes, identificamos a sua presença na estrutura política brasileira dos dias atuais. Assim,
reconhecemos os mecanismos que nossas instituições têm com o objetivo defender o Estado
Democrático de Direito contra a concentração de poderes de um ator ou grupo político.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, abordamos questões fundamentais para a compreensão de nosso mundo. Entendemos as
características particulares de nossa sociedade e seu surgimento histórico, as bases do Estado no qual
vivemos, os poderes e seus controles, na teoria e na nossa realidade nacional. Deste modo, possuímos
agora uma visão mais apurada e embasada acerca dos nossos problemas atuais e das possíveis formas
de solução deles.
Nosso objetivo foi apresentar a você como os poderes políticos funcionam, suas atuações e restrições,
nas sociedades contemporâneas. Esse exercício possibilita que nós direcionemos nossas demandas,
além de entender o que é permitido e o que não é. Enfim, conhecer melhor o mundo e país no qual
vivemos, as influências e as origens históricas é, em si, um mecanismo de cidadania.
PODCAST
Ouça o podcast com os professores Rodrigo Rainha e Marina Garcia recuperando os pontos de
Estruturas Políticas do Estado Moderno.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Martin Fontes, 2001.
HAMILTON; MADISON; JAY. O Federalista. In: WEFFORT, Francisco C. (Org.). Jefferson, Federalistas,
Paine e Tocqueville. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 85-174.
HOBBES, Thomas. Leviatã. Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. 3. ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1983.
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Petrópolis: Vozes, 1994.
MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
MONTESQUIEU, Charles de Secondat Barão de. Do Espírito das Leis. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2012.
RODRIGUES, Paulo Joaquim da Silva. A importância do Poder Judiciário na tradição liberal: Locke,
Montesquieu e “O federalista”. Revista Ensaios, [S.I.], v. 11, p. 19-32, 2017. Consultado em meio
eletrônico em: 02 fev. 2021.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social ou princípios do direito político. São Paulo: Escala
Educacional, 2006.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996.
WEBER, Max. Ciência e política duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1997.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos abordados neste tema, pesquise:
Baixa Idade Média, do podcast História Online.
CONTEUDISTA
Marina de Freitas Garcia
CURRÍCULO LATTES