Lições de Procedimento e Processo Tributário - 7 Edição
Lições de Procedimento e Processo Tributário - 7 Edição
Lições de Procedimento e Processo Tributário - 7 Edição
e Processo Tributário
Lições de Procedimento
e Processo Tributário
2019 • 7.ª Edição
__________________________________________________
biblioteca nacional de portugal – catalogação na publicação
ROCHA, Joaquim
Lições de procedimento e processo
tributário. – 7ª ed. - (Manuais universitários)
ISBN 978-972-40-8869-3
CDU 336
AGRADECIMENTOS
5
PLANO DAS LIÇÕES
INTRODUÇÃO
1. O Direito tributário substantivo e o Direito tributário adjetivo
2. A atividade administrativa tributária
3. A jurisdição tributária
4. A privatização da atividade tributária. A desadministrativização e a interven-
ção dos privados
5. As garantias dos contribuintes (primeira abordagem)
6. Caracteres essenciais do Direito tributário adjetivo
7. O sistema português de Direito Tributário adjetivo
PARTE I
O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
1. A noção de procedimento
2. As fases do procedimento, em geral
3. Princípios aplicáveis ao procedimento tributário
4. Os atores do procedimento
5. Os procedimentos tributários em especial
PARTE II
O PROCESSO TRIBUTÁRIO
1. Enquadramento do processo tributário
1. Princípios estruturantes do processo tributário
2. Os atores do processo tributário
3. O objeto do processo tributário (remissão)
4. O formalismo processual
5. Os meios processuais (contencioso tributário)
7
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
6. Contencioso cautelar
7. Os recursos das decisões dos tribunais tributários (recursos jurisdicionais)
PARTE III
RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
1. Desjurisdicionalização, matéria tributária e princípios constitucionais
2. Quadro tipológico dos meios alternativos de resolução da litigiosidade tri-
butária
3. Em particular, a arbitragem tributária
PARTE IV
PRAZOS
(a relevância do tempo na prática de atos no procedimento
e processo tributário)
§ único: sequência
1. A exigência de limitação temporal das situações jurídicas
2. Prescrição
3. Caducidade
8
NOTAS IMPORTANTES
1 – Objetivo
Esta é uma obra destinada, em primeiro lugar, a alunos, investigadores e estu
diosos, não se pretendendo, muito longe disso, um manual de funciona
lismo ou um guia para a resolução de casos. A prática e a técnica não cons
tituem missão da Universidade.
Sem prejuízo, a mesma pode ser útil para quem já exerce funções
práticas, pois o estudo e o conhecimento – e não outros fatores como o
“copy-paste”, a mera antiguidade, a ajuda do colega, ou o desembaraço, –
permitem sempre (sempre!) um melhor desempenho.
2 – Referências bibliográficas
As referências bibliográficas apenas abrangem obras e textos que foram efe-
tivamente utilizados e que influíram decisivamente na construção do pen-
samento do autor e, tirando situações muito excecionais e perfeitamente
justificadas – como, por exemplo, aquelas em que se entendem necessárias
remissões imediatas para desenvolvimentos efetuados por outros –, não são
vertidas ao longo do discurso, mas apenas numa listagem final. O propósito
é sempre o mesmo – tornar o discurso escorreito e deixá-lo ser o que ele
pretende ser: Lições, como reflexo de um edifício científico-analítico de pen-
samento (e não o mostruário de um pretensioso repositório de erudição).
3 – Jurisprudência
Os muitos acórdãos referidos ou citados poderão ser consultados em www.
dgsi.pt. (acórdãos dos Tribunais da jurisdição administrativa e tributária),
ou em www.tribunalconstitucional.pt. (acórdãos do Tribunal constitucio-
nal), quando outra fonte não se encontrar indicada.
9
Introdução
1
Adverte-se que, para efeitos meramente pedagógicos (e apenas estes), quando utilizada
nesse sentido amplo, a Administração tributária será referida frequentemente sob a sigla
“AT”; diversamente, quando utilizada num sentido mais restrito, de aparato organizatório
integrado no Ministério das Finanças, será utilizada a sigla “ATA” (Autoridade tributária e
aduaneira). V., infra, I., 4.3.1.1..
11
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
2
V., por exemplo, acórdãos do STA de 17 de maio de 2017, processo n.º 01174/16; de 25 de
junho de 2015, processo n.º 045/14; de 28 de outubro de 2015, processo n.º 0125/14; de 4 de
novembro de 2015, processo n.º 0124/14; e de 10 de abril de 2013, processo n.º 015/12 e infra
II, 6.5.1. e ss.
12
INTRODUÇÃO
13
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
3
Cfr., a respeito, art.º 4.º da LGT.
4
V., infra, II., 6.5.5.1. e 6.5.2..
14
INTRODUÇÃO
15
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
e no CPPT [art.º 148.º, n.º 1, alínea a)] refere-se que esse mesmo pro-
cesso se aplica a todos os tributos. A conclusão parece-nos, deste
modo, óbvia: os Tribunais tributários exercem a sua atividade juris-
dicional no âmbito, não apenas dos impostos em particular, mas dos
tributos em geral.
16
INTRODUÇÃO
***
5
Importa salientar que a expressão “atos” utilizada no texto tem subjacente um sentido
amplo e genérico, significando, quer verdadeiros atos jurídicos, quer simples operações
materiais (como a entrega de declarações, a prestação de informações, a mera arrecadação e
entrega de um imposto ou taxa, etc.).
17
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
tária (ponto 2.1.); depois, procurando averiguar que tipo de atos pode
ela praticar (ponto 2.2.).
É o que faremos de seguida.
6
Importa observar que as “tesourarias” cessaram a sua existência com o DL 237/2004, di-
ploma que determinou a sua integração nos serviços de finanças, como mais uma secção
(Secção de Cobrança).
7
Assim, art.º 1.º, n.º 3, da LGT.
8
Cfr., para especificações, o DL n.º 118/2011, que aprova a orgânica da Autoridade Tributária
e Aduaneira.
18
INTRODUÇÃO
19
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
20
INTRODUÇÃO
9
Cfr., por exemplo, art.os 67.º, n.º 1, 69.º, alínea f ) e 103.º, n.º 4 do CPPT.
10
Cfr. art.os 733.º e ss. do Código civil.
11
Cfr. art.º 162.º do CPPT.
12
Cfr. art.º 148.º do CPPT.
13
Cfr. art.º 177.º do CPPT.
14
V. art.º 64.º-C da LGT. Esta especial qualificação poderá ser relevante, por exemplo, para
efeitos de subsunção ao tipo criminal de desobediência, previsto no art.º 348.º do Código
penal.
21
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
15
Sobre o problema, e em geral, v. a excelente abordagem de Gonçalves, Pedro, O ato admi-
nistrativo informático, in Scientia Iuridica, tomo XLVI, 1997, n.º 265/267, 47 e ss.
16
Em termos conceptuais precisos, essa Administração automatizada não se confundirá com a
Administração desmaterializada, na medida em que o conceito de “desmaterialização” está ligado
intrinsecamente à substituição do suporte de arquivo e fluxo de informação. Na verdade, po-
derá haver automação com pouquíssima desmaterialização (caso os processos se desenrolem
na sua quase totalidade em papel, mas os atos resultem de processos informáticos automati-
zados), do mesmo modo que poderá existir desmaterialização sem qualquer automação.
22
INTRODUÇÃO
17
V. acórdão STA de 9 de janeiro de 2013, processo n.º 0745/12.
23
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
18
Cfr. art.º 77.º, n.º 1, da LGT.
24
INTRODUÇÃO
19
Cfr., a respeito, art.os 55.º e 56.º do CPPT.
25
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
20
Cfr. art.º 30.º, n.º 2, da LGT.
21
A LGT admite (v. art.º 37.º, n.º 2) que os contratos fiscais possam ser celebrados desde que
sejam respeitados os princípios da legalidade, igualdade, boa fé e indisponibilidade.
22
Cfr. art.os 91.º e, particularmente, 92.º, n.º 1 da LGT, onde se pode ler que “o procedimento
de revisão (...) assenta num debate contraditório (...) e visa o estabelecimento de um acordo
(...)”.
23
Cfr. art.º 138.º do CIRC.
24
Cfr. art.º 60.º da LGT.
26
INTRODUÇÃO
25
V., por exemplo, art.º 86.º, n.º 4, da LGT.
27
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
26
V., a respeito, acórdão do STA de 5 de abril de 2006, processo n.º 01286/05. Quanto à
abordagem doutrinal, remete-se para as referências de base administrativista constantes
da listagem bibliográfica final, particularmente para as obras de Marcello Caetano e de
Freitas do Amaral.
27
O art.º 60.º do CPPT parece querer referir-se a esta primeira espécie de definitividade ao
prescrever que “os atos tributários praticados por autoridade fiscal competente em razão da
matéria são definitivos quanto à fixação dos direitos dos contribuintes, sem prejuízo da sua
eventual revisão ou impugnação nos termos da lei”.
28
Cfr., por exemplo, art.º 102.º do CIRS.
29
Cfr. por exemplo, art.os 98.º e ss. do CIRS.
28
INTRODUÇÃO
30
Cfr., a respeito, art.º 77.º, n.º 6, da LGT.
29
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
31
V. art.º 54.º do CPPT. De resto, nos casos em que o contribuinte ou lesado pode atacar
diretamente o ato intermédio (porque o legislador em concreto o prevê), tal deve ser en-
tendido como o exercício de uma simples ou mera faculdade e não de um dever efetivo,
pois, como refere o Tribunal constitucional, está-se aqui em presença de uma possibilida-
de do destinatário do ato lesivo, que poderá ou não utilizá-la, “sem quaisquer repercus-
sões futuras”, isto é, sem que a sua não utilização inviabilize a impugnação da decisão final
do procedimento, com base em vícios próprios daquele ato. V., a respeito, acórdão do TC
n.º 410/2015. Neste acórdão, o órgão máximo da jurisdição constitucional portuguesa foi
perentório (se bem que num processo de controlo concreto da constitucionalidade) ao con-
siderar que “ao impedir que a impugnação do ato de liquidação do imposto se funde em ví-
cios próprios do ato de cessação do benefício fiscal, a interpretação que a decisão recorrida
fez do artigo 54.º do CPPT desprotege gravemente os direitos do contribuinte, assim ofen-
dendo princípio da tutela judicial efetiva e o princípio da justiça, inscritos nos artigos 20.º e
268.º, n.º 4, da CRP”. Por conseguinte, decidiu “[j]ulgar inconstitucional a interpretação do
artigo 54.º do Código de Procedimento e Processo Tributário que, qualificando como um
ónus e não como uma faculdade do contribuinte a impugnação judicial dos atos interlocu-
tórios imediatamente lesivos dos seus direitos, impede a impugnação judicial das decisões
finais de liquidação do imposto com fundamento em vícios daqueles (...)”.
Cfr. ainda acórdãos do STA de 14 de julho de 2010, processo n.º 0375/10, e do TCA–N de 12
de maiode 2010, processo n.º 01534/09.7BEBRG.
32
Cfr., por exemplo, art.os 131.º e ss. do CPPT, onde se admite, designadamente, a impugna-
ção da liquidação administrativa dos pagamentos por conta.
33
Cfr., por exemplo, art.os 86.º, n.º 5, da LGT e 117.º do CPPT.
30
INTRODUÇÃO
31
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
35
V. art.º 57.º, n.º 5 da LGT.
32
INTRODUÇÃO
36
A respeito do tema, cfr. acórdão do STA de 12 de julho de 2006, processo n.º 01003/05.
37
No mesmo sentido, art.º 60.º, n.º 2, do RCPITA.
33
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
38
V., a propósito, o significativo acórdão do STA de 27 de novembro de 2013, processo
n.º 01159/09, de 27.11.2013, no qual, em referência ao conceito de “razões económicas váli-
das” se pode ler: “[n]o preenchimento e concretização de conceitos indeterminados, a admi
nistração está obrigada a desenvolver uma atividade vinculada de interpretação da norma e
há-de chegar, em princípio, a uma única solução para o caso concreto, não lhe sendo possí-
vel guiar-se por uma liberdade subjetiva ou por critérios de oportunidade. A indetermina-
ção do enunciado não se traduz numa indeterminação de suas aplicações, e ao intérprete
administrativo caberá identificar se a situação fáctica está ou não abrangida pelo conceito
indeterminado contido na norma. Pelo que, também nesta medida, está em causa um poder
vinculado, que o tribunal tem de poder sindicar”. Adiante: “ (...) o próprio processo de con-
cretização do juízo administrativo e os parâmetros de avaliação utilizados não são inteira-
mente livres, na medida em que têm de se revelar como apropriados, coerentes e razoáveis,
estando a administração legalmente vinculada a respeitar as regras técnicas para que a lei re-
mete. E, nessa perspetiva, o tribunal não pode eximir-se ao controlo judicial desse processo”.
34
INTRODUÇÃO
39
Cfr., respetivamente, art.os 57.º e 58.º do CPPT. Embora tenhamos oportunidade de referir
este aspeto adiante, será conveniente realçar a ideia de que a própria contrariedade entre
determinado ato administrativo e um ato administrativo anterior que o enquadra poderá,
para efeitos tributários, caber no conceito de ilegalidade. Pense-se na situação em que, a pe-
dido do contribuinte, a Administração emana uma informação vinculativa dizendo que ele
tem direito a determinado regime de tributação mais favorável, e a posterior liquidação é
efetuada submetendo-o ao regime geral. Neste caso, o ato de liquidação poderá ser conside-
rado ilegal por violação do ato administrativo anterior de informação vinculativa.
35
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
40
Cfr., por exemplo, acórdãos do STA de 3 de maio de 2017, processo n.º 0924/16; de 14 de
fevereiro de 2013, processo n.º 049/13; e de 18 de janeiro de 2006, processo n.º 0901/05.
V., com interesse, SILVA, Hugo Flores da, O impacto da reforma do CPTA e do CPA no processo e
procedimento tributário, in Procedimento e processo tributário 2016, Centro de estudos judi
ciários, Lisboa, 2016, http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/Administrativo_fiscal/eb_
Procedimento_Processo_Tributario2016.pdf , pp. 51 e ss.
41
Assim, acórdão do STA de 23 de novembro de 2005, processo n.º 0612/05.
42
Quanto às anulações parciais, v. acórdãos do STA de 19 de abril de 2017, processo
n.º 0100/17, e de 10 de abril de 2013, processo n.º 0298/12.
36
INTRODUÇÃO
43
Assim, art.º 77.º, n.º 6, da LGT.
44
Não de definição (abstrata) desse sujeito passivo! Como se sabe, tal tarefa (substantiva) de
desenho dos obrigados tributários encontra-se nas mãos do legislador ou criador normativo,
37
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
através das denominadas “normas de incidência pessoal”. Cfr., em matéria de impostos, art.º
103.º, n.º 2, da CRP.
45
Cfr. art.os 26.º, alínea c), e 38.º, alínea b).
46
V. art.º 57.º do CPPT.
47
V. art.º 58.º do CPPT.
48
V. art.º 65.º do CPPT.
49
V. art.º 89.º do CPPT.
50
V. art.os 42.º da LGT e 196.º e ss. do CPPT.
38
INTRODUÇÃO
Esquematicamente:
Atos tributários stricto sensu (liquidação)
Atos tributários
lato sensu
Atos administrativos em matéria tributária
3. A jurisdição tributária
51
Cfr. art.º 68.ºdo CPPT.
52
Cfr. art.º 97.º, n.º 2, do CPPT.
39
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
Agora, a resolução desse litígio poderá ser feita, numa segunda linha
de reflexão, convocando uma postura objetivista ou uma postura subje-
tivista.
A este propósito, e aproveitando a lição da melhor doutrina – refe-
rente às finalidades da justiça administrativa, mas possível de transposi-
ção para este discurso –, podemos apontar duas teses:
i) Em primeiro lugar, pode ser afirmado que os esquemas organiza-
tórios e formais de justiça tributária estão orientados à proteção
do Interesse público globalmente considerado e de certos valores
ou bens jurídicos valiosos, tais como a estabilidade das situação
financeira pública, a legalidade da atuação dos agentes da Admi-
nistração tributária, a justiça tributária em sentido substantivo ou
material (reconduzida à ideia de igualdade tributária), a correta
execução da política orçamental pública, entre outros;
ii) Em segundo lugar, pode ser afirmado que a orientação que preside
à justiça tributária é a tutela ou proteção das posições jurídicas sub-
jetivas dos contribuintes e outros obrigados tributários, evitando
que os seus direitos fundamentais sejam violados ou restringidos
ilegal ou inconstitucionalmente.
40
INTRODUÇÃO
53
Cfr., por exemplo, acórdão do STA de 17 de novembro de 2010, processo n.º 0624/10.
41
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
42
INTRODUÇÃO
a) O princípio da constitucionalidade
O estudo dos princípios estruturantes da justiça tributária não pode dei-
xar de começar por ser feito com a referência ao princípio da constitu-
cionalidade.
Como é sabido, tal princípio afirma a subordinação de todos os ór-
gãos do Estado, e dos correspondentes atos, à Constituição56, devendo-
-se retirar do ordenamento jurídico, ou pelo menos não aplicar, os atos
com esta desconformes.
Os Tribunais desempenham, neste particular ponto, um importantís-
simo papel de guardiães das normas fundamentais. Ao contrário do que
acontece com os órgãos administrativos – que, em regra, não se podem
recusar a aplicar uma norma com “simples” fundamento em inconsti-
tucionalidade57 –, impende sobre aqueles um verdadeiro dever ex officio
de desaplicação da norma inconstitucional pois, nos termos da própria
CRP “nos feitos submetidos a julgamento não podem os tribunais apli-
car normas que infrinjam o disposto na Constituição ou os princípios
nela consignados”58. Em consonância com este preceito, o art.º 1.º, n.º 2,
do ETAF vem precisar este dever para os Tribunais da jurisdição admi-
nistrativa e fiscal.
Daqui resultam duas importantes consequências:
i) O Tribunal não está – não pode estar – dependente da arguição da
inconstitucionalidade por parte dos outros atores processuais (v.g.,
partes no processo); constatando que tem diante de si uma norma
inconstitucional, deve, sem mais, desaplicá-la;
ii) A questão da inconstitucionalidade nunca surgirá diante de si a
título principal, mas apenas a título incidental. Significa isto que
o problema da conformidade de uma norma com a Constituição
apenas será por si analisado porque suscitado no decurso de um
processo em andamento, que, esse sim, levou as partes a Tribunal
e no qual se está a discutir uma questão jurídica (tributária) di-
versa.
43
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
59
Adiantando um pouco do que teremos ocasião de referir num momento mais avançado,
pode-se dizer que uma das expressões ou consequências práticas dessa independência dos
Tribunais em relação ao poder administrativo se materializa na não obrigatoriedade de
acompanhamento das informações vinculativas prestadas pela Administração tributária aos
contribuintes (cfr. art.º 68.º, n.º 14 in fine da LGT).
44
INTRODUÇÃO
60
Cfr. art.º 3.º, n.º 1, do ETAF.
61
Cfr. art.os 216.º, n.º 2 da CRP e 3.º, n.º 2 do ETAF.
45
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
62
Cfr. acórdão do TC n.º 449/93, disponível em http://www.tribunalconstitucional.pt.
46
INTRODUÇÃO
63
V. supra, II, apartado 6.5.4.
47
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
64
V. acórdão do STA de 19 de fevereiro de 2014, processo n.º 096/14, a respeito da inadmis-
sibilidade de “proibições absolutas” (no caso, de prova testemunhal).
65
V. art.º 268.º, n.º 4, da CRP. Quanto às dificuldades inerentes à salvaguarda dessas posi-
ções jurídicas subjetivas junto do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH), v.
Palma, Rui Camacho, Jurisprudência recente do tribunal europeu dos direitos do homem em matéria
tributária, in Temas de Direito Tributário 2017: insolvência, taxas, jurisprudência do TEDH e do TJ
(ebook), CEJ, Lisboa, 2017, pp. 43 e ss, disponível em formato digital em http://www.cej.
mj.pt/cej/recursos/ebooks/Administrativo_fiscal/eb_TemasDireitoTributario2017_II.pdf
(último acesso em 08 de abril de 2019).
66
V., por exemplo, art.os 99.º e ss. do CPPT.
67
V., respetivamente, art.os 145.º e 147.º do CPPT.
48
INTRODUÇÃO
68
V. art.os 21.º e 103.º, n.º 3, da CRP.
49
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
69
Cf. supra apartado 2.1. [Noção de Administração tributária (AT) e enquadramento da sua
atividade].
50
INTRODUÇÃO
70
Cf. art.º 158.º, n.º 2, do CPTA. V., ainda, art.º 161.º, n.º 2, alínea i) do Código de Procedi-
mento Administrativo (CPA).
71
Cf. art.º 159.º, n.º 2, do CPTA.
72
Poderá porém, em determinadas situações – quando existam vícios materiais, formais ou
procedimentais – praticar um ato equivalente expurgado dos vícios – o que não será possível
em casos de vícios orgânicos –, desde que os prazos legais que balizam a sua atuação (como
51
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
o prazo geral de caducidade da liquidação dos tributos, constante do art.º 45.º da LGT) o
permitam.
73
Cfr. art.º 43.º da LGT
74
Assim, art.º 146.º, n.º 3, do CPPT.
75
V., acórdão de 15 de maiode 2013, processo n.º 01317/12.
52
INTRODUÇÃO
76
Cf. art.os 162.º, n.º 1 (sentenças condenatórias à prestação de factos ou à entrega de coisas),
170.º, n.º 1 (sentenças condenatórias ao pagamento de quantia certa) e 175.º, n.º 1 (sentenças
anulatórias de atos administrativos) do CPTA.
77
Cf. art.os 164.º, n.º 1, 170.º, n.º 2, e 176.º, n.º 1, do CPTA.
53
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
78
Nos termos do art.º 169.º do CPTA, uma sanção pecuniária compulsória materializa-se na
imposição ao agente administrativo de uma quantia pecuniária – fixada “segundo critérios
de razoabilidade” e dentro de determinadas balizas legais (entre 5% e 10% do salário míni-
mo nacional mais elevado em vigor) – por cada dia de atraso relativamente ao prazo estabe-
lecido para a execução.
79
Cf. art.os 165.º e 171.º do CPTA.
80
V. art.º 163.º, n.º 1 do CPTA. Nos termos do n.º 3 deste preceito legal, a invocação de causa
legítima de inexecução deve ser fundamentada e notificada ao interessado, com os respeti-
vos fundamentos, e só pode reportar-se a circunstâncias supervenientes ou que a Adminis
tração não estivesse em condições de invocar no momento oportuno do processo (cf.,
porém, art.º 175.º, n.º 2).
81
Cf. art.os 162.º, n.º 1, e 175.º, n.º 1, do CPTA.
82
Assim, art.º 175.º, n.º 3, do CPTA.
83
Assim, art.º 171.º, n.º 5, do CPTA. Em todo o caso, no Orçamento do Estado é anualmente
inscrita uma dotação à ordem do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais,
afeta ao pagamento de quantias devidas a título de cumprimento de decisões jurisdicionais,
54
INTRODUÇÃO
55
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
88
Cfr. art.os 119.º e 120.º do CIRS.
89
V., por exemplo, art.os 52.º e ss. do Código do imposto de selo (CIS).
90
Assim, art.º 37.º do CIMI.
91
V. art.º 59.º, n.º 2, da LGT.
92
Cfr. art.º 75.º, n.º 1, da LGT.
56
INTRODUÇÃO
poderá deixar de ser perspetivada como uma relação complexa, sob vá-
rios pontos de vista:
– De um ponto de vista subjetivo, não se reduz ao binómio tradicional
sujeito ativo/sujeito passivo, antes convoca toda uma série de outros
atores que nela tomam assento e participam, podendo falar-se a res-
peito na natureza poligonar ou multipolar da relação;
– De um ponto de vista objetivo, não se circunscreve à tradicional e
frequentemente referida obrigação de pagamento (obrigação princi-
pal), mas antes abrange um vasto feixe de outros vínculos de diversa
natureza, pecuniária (v.g., juros) ou não (apresentação de declara-
ções, emissão de recibos, faturas, etc.)93.
93
V. art.º 31.º da LGT.
94
Além de tais instrumentos, .ºé pacífico que integra igualmente o conceito amplo de “garan
tias dos contribuintes” os institutos da prescrição e da caducidade. V., a respeito, acórdão do
TC n.º 557/2018.
57
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
a) Direito à informação
Partindo das normas constantes do texto constitucional – nomeadamente
do n.º 1 do art.º 268.º da CRP, nos termos do qual “os cidadãos têm o
direito de ser informados (…) sobre o andamento dos processos em que
sejam diretamente interessados, bem como o de conhecer as resoluções
definitivas que sobre eles forem tomadas”–, o legislador adjetivo e as prá-
ticas administrativas erigiram o direito à informação (indubitavelmente,
um direito análogo a um direito liberdade e garantia95) à categoria de
pilar essencial do edifício de salvaguarda das posições subjetivas e colo
caram ao dispor dos interessados um amplo conjunto de meios de o
efetivar. Assim, para que tal direito seja efetivamente assegurado é-lhes
facultado:
– O direito de arquivo aberto ou de open file, que se materializa no
acesso aos processos (no sentido de acervo documental ou dossiers),
arquivos e registos administrativos que lhes digam respeito96;
– O direito ao esclarecimento em tempo útil das dúvidas que possam
ter acerca da interpretação, integração e aplicação das normas tri-
butárias97;
95
Cf. art.º 17.º da CRP.
96
Cfr. art.º 268.º, n.o 2, da CRP. Naturalmente que tal direito deve ser sujeito a restrições,
uma vez que devem ser ressalvadas as disposições respeitantes a matérias de segurança, de
investigação criminal e de intimidade das pessoas.
97
V. art.º 59.º, n.º 3, alínea f ), da LGT.
58
INTRODUÇÃO
98
V. art.º 67.º, n.º 1, alínea a), da LGT.
99
Cfr. art.os 67.º, n.º 1, alínea b) e 70, n.º 3 da LGT. V. também acórdão do TCA-Norte de
29 de outubro de 2015, processo n.º 01126/15.6BELRS.
100
Cfr. art.º 268.º, n.º 3, da CRP.
101
Cfr. art.º 268.º, n.º 3, in fine da CRP.
102
Cfr. art.º 24.º do CPPT. Saliente-se que a não obtenção de tais certidões no prazo legal-
mente prescrito (demasiado curto, dir-se-ia) pode dar origem a um processo de intimação
(art.º 104.º, n.º 1 do CPTA, ex vi 146.º do CPPT).
103
Cfr. art.os 68.º da LGT e 57.º do CPPT. Acerca da consideração de uma brochura como
uma informação escrita vinculativa prestada pela Administração tributária aos contribuintes
sobre o cumprimento dos seus deveres, cfr. acórdão do STA de 14 de março de 2007, pro
cesso n.º 01154/06.
104
V., com interesse, acórdão do STA de 25 de julho de 2016, processo n.º 09820/16.
59
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
b) Direito de participação
Outra importante garantia não impugnatória é o direito de participação,
também se podendo dizer que se encontra prevista no texto da Consti-
tuição (art.º 267.º, n.º 1), embora de uma forma um tanto ambígua.
No âmbito do nosso estudo, significa tal direito a efetiva possibilida-
de de os interessados terem a faculdade de intervir no procedimento
tributário ou, utilizando as palavras do legislador, de participar “na for-
mação das decisões que lhes digam respeito”105.
Neste particular, poder-se-ia desconsiderar o papel que, no procedi-
mento, tal direito teria a desempenhar, por dois motivos:
– Em primeiro lugar, atento o carácter não jurisdicional do procedi-
mento, e tendo presente uma tradição mais enraizada que aponta
para a exigibilidade de participação apenas no âmbito de processos
que decorram em Tribunal;
– Em segundo lugar, em face do papel de destaque que no proce-
dimento tributário desempenha o princípio do inquisitório, nos
termos do qual a Administração tributária deve realizar todas as
diligências necessárias à satisfação do interesse público e à desco-
berta da verdade material, sem necessidade de estar subordinada a
qualquer pedido106.
105
Cfr. art.º 60.º, n.º 1, da LGT.
106
Cfr. art.º 58 da LGT.
107
Cfr. art.º 63.º, n.º 4, do CPPT.
108
Cfr. art.º 92.º, n.º 1, da LGT.
109
V., uma vez mais, art.º 60.º, n.º 1, da LGT.
60
INTRODUÇÃO
Tal direito poderá ser dispensado nos casos em que (i) a liquidação
do tributo se efetuar com base na declaração do próprio sujeito passivo,
uma vez que, por um lado, ele já “participou” na feitura do ato em causa
e, por outro lado, já serão absolutamente previsíveis os seus efeitos110;
(ii) quando a decisão final do procedimento relativo a pedido, recla-
mação, recurso ou petição lhe for favorável, casos em que de nada ser-
viria ouvi-lo, pois o ato a praticar satisfaz por inteiro a sua pretensão; e
(iii) a liquidação se efetuar oficiosamente com base em valores objeti-
vos previstos na lei, desde que o contribuinte tenha sido notificado para
apresentação da declaração em falta, sem que o tenha feito111. O que se
procura nestes casos é evitar que a audição se transforme num momento
meramente dilatório e inútil, e que, por causa disso, viole o princípio da
celeridade e economia dos atos procedimentais.
Parece inegável que está subjacente a todos estes esquemas partici-
pativos uma certa ideia de co-responsabilização das decisões, em termos
de estas poderem ser consideradas como tomadas pelos vários sujeitos
envolvidos no procedimento e não apenas pela Administração tribu
tária. Neste sentido, pode-se afirmar que estamos em presença de um
110
Para que se possa falar numa liquidação efetuada com base na declaração do contribuinte
será necessário que essa declaração contenha todos os elementos que, à face da respetiva
lei de tributação, tornem possível a prática do ato de liquidação, sem necessidade de lançar
mão de outros elementos que ela não refira (v. acórdãos do STA de 13 de novembro de 2002,
processo n.º 0977/02; ou de 20 de janeiro de 2016, processo n.º 0658/15). Além disso, se a
liquidação for elaborada com base em elementos factuais constantes da declaração do con-
tribuinte, mas com diferente enquadramento jurídico, já não se poderá dispensar a audição
(assim, acórdãos do STA de 15 de novembro de 2006, processo n.º 0759/06; ou do TCA-S de
4 de junho de 2015, processo n.º 02994/09).
111
Cfr. art.º 60.º, n.º 2 da LGT.
61
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
112
V. art.º 60.º, n.º 7 da LGT. Cfr. acórdão do STA de 07 de dezembro de 2005, processo
n.º 01245/03.
113
Cfr. art.º 99.º, alínea d) do CPPT.
114
Neste sentido, v., por exemplo acórdão do STA de 29 de maiode 2013, processo n.º 0480/13.
V., ainda, acórdão do STA de 10 de abril de 2013, Processo n.º 0441/13.
62
INTRODUÇÃO
a) Direito de reclamação
O caso mais comum de reclamação em matéria tributária é a denominada
“reclamação graciosa”. Trata-se de um meio impugnatório mediante o
qual o sujeito passivo solicita, junto de uma entidade superior, a anu-
lação de um ato tributário, com fundamento em qualquer ilegalidade.
A maior parte das vezes, tal reclamação é facultativa, não consistindo
num meio necessário e prévio de acesso a Tribunal, podendo até o su-
115
Cfr., por exemplo, art.º 75.º do CPPT.
116
V., por exemplo, art.º 76.º, n.º 1, do CPPT.
63
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
117
V. art.os 131.º e ss. do CPPT.
118
Cfr. art.º 117.º, n.º 1, do CPPT.
119
Embora nem sempre tal aconteça. Pense-se, por exemplo, nos casos de “recurso tutelar”.
120
Cfr. art.os 47.º, n.º 1 e 66.º, n.º 2, do CPPT.
64
INTRODUÇÃO
b) Direito de oposição
Uma segunda garantia jurisdicional consubstancia-se no direito de opo-
sição. Ora, na medida em que estamos a proceder ao estudo das “garan-
tias dos contribuintes”, interessar-nos-ão principalmente os casos em
que tal oposição será efetuada por estes124.
121
Assim, art.º 96.º, n.º 1, da LGT.
122
Naturalmente que este direito depende da existência de prazos razoáveis para o seu exer-
cício, sendo inconstitucionais (por violação do art.º 20.º da CRP) a imposição de prazos de
propositura exíguos.
123
V. art.º 147.º do CPPT.
124
Não será o caso, designadamente, do processo de impugnação judicial, em que o direito
de oposição é exercido pelo Representante da Fazenda Pública (v. art.º 110.º do CPPT).
65
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
66
INTRODUÇÃO
67
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
125
Cfr., por exemplo, art.os 67.º, n.º 1; 69.º, alínea f ); 103.º, n.º 4, e 169.º, n.º 1, do CPPT (estes
três últimos lidos a contrario sensu).
126
A respeito do segundo grupo, v. art.º 195.º do CPPT. Para desenvolvimentos a respeito
da matéria, v. Barbosa, Andreia, A Prestação e a Constituição de Garantias no Procedimento e no
68
INTRODUÇÃO
69
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Note-se que, num caso e no outro, não se pretende que seja apresen-
tada uma garantia absoluta do crédito tributário, mas apenas uma garan-
tia adequada ou idónea, a qual, atendendo aos dados fornecidos pelo art.º
199.º do CPPT – que, indubitavelmente, não deve ser interpretado no
sentido de conter ou encerrar qualquer espécie de preferência ou hie-
rarquia dos meios –, poderá consistir em:
– Garantia bancária;
– Caução;
– Seguro-caução; ou
– Qualquer meio suscetível de assegurar os créditos da Administra-
ção tributária.
130
Cfr. art.os 169.º, n.º 7, e 199.º, n.º 8, do CPPT.
70
INTRODUÇÃO
131
Neste sentido, v. o importante acórdão do STA de 14 de fevereiro de 2013, processo
n.º 0108/13, onde se refere expressamente que “a fiança constitui em abstrato um meio
idóneo de assegurar o pagamento da dívida e do acrescido”. V., ainda, acórdão do STA de
18 de junho de 2014, processo n.º 0507/14.
132
A locação financeira consiste num contrato pelo qual uma das partes se obriga, mediante
retribuição, a ceder à outra o gozo temporário de uma coisa, que o locatário poderá comprar,
decorrido o período acordado (cfr. DL 149/95).
133
Neste sentido se compreende que os bens e direitos em causa se encontrem “livres e
desembaraçados”. Cfr. acórdão do STA de 27 de agosto de 2014, processo n.º 0874/14.
71
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
134
Quanto à indemnização em caso de prestação de garantia indevida, v. art.º 171.º do CPPT.
135
Assim, art.º 199.º, n.º 6 do CPPT
72
INTRODUÇÃO
***
***
136
Cfr. art.os 183.º-A do CPPT. A verificação da caducidade cabe ao órgão com competên-
cia para decidir a reclamação, mediante requerimento do interessado, devendo a decisão ser
proferida no prazo de 30 dias, e, não o sendo, considera-se o requerimento tacitamente de-
ferido (n.os 3 e 4 do artigo 183.º-A). Em caso de deferimento expresso ou tácito, o órgão da
execução fiscal deverá promover, no prazo de cinco dias, o cancelamento da garantia (n.º 5
do art.º 183.º-A). A este respeito, parece ser de entender que não é pelo simples facto de a
letra da lei mencionar apenas a reclamação, que se de deve desconsiderar o recurso hierár-
quico ou outros modos de sindicância administrativa, devendo antes efetuar-se uma inter-
pretação extensiva que os abarque. Em todo o caso, esta interpretação extensiva não poderá
ser feita em termos de abranger o processo de impugnação judicial. V. acórdão do STA de 6
de fevereiro de 2013, processo n.º 01479/12.
137
Cf. art.º 183.º-B do CPPT. Aqui, o cancelamento da garantia cabe ex officio ao órgão de
execução fiscal, no prazo de 45 dias após a notificação da decisão jurisdicional.
138
Cfr., uma vez mais, art.º 69.º, alínea f ), e 103.º, n.º 4 do CPPT.
139
Cfr. art.ºs 169.º, n.º 8 e 199.º, n.º 5 do CPPT.
73
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
74
INTRODUÇÃO
assumirá que o pagamento ou sujeição em causa têm mesmo que ser efe-
tivados, mas pode encontrar meios de o fazer de modo menos custoso
ou em momento posterior (permitindo-lhe, designadamente, ganhar
tempo e arranjar liquidez ou outra disponibilidade financeira). Assim
sucederá se, por exemplo, impugnar judicialmente e prestar uma garan-
tia idónea, transferindo para meses ou anos depois o desembolso finan-
ceiro que no momento atual se poderia revelar extremamente oneroso.
As garantias como modo de planeamento assumem uma importância
ainda maior se for tido em consideração que a sua utilização dentro dos
limites legais e de acordo com as regras da boa-fé levam o legislador a
considerar a respetiva situação como “situação tributária regularizada”,
o que pode ser importante para diversíssimos fins (como, por exem-
plo, candidaturas a empregos, a financiamentos, subsídios ou concursos
públicos).
Neste seguimento, considera-se que o contribuinte tem a respetiva
situação tributária regularizada quando esteja numa das seguintes situa-
ções (além, obviamente, daquelas em que não seja devedor de quaisquer
impostos ou outras prestações tributárias e respetivos juros)141:
– Esteja autorizado ao pagamento da dívida em prestações, desde que
exista garantia constituída, nos termos legais;
– Tenha pendente meio contencioso adequado à discussão da legali-
dade da dívida exequenda (como a impugnação judicial) e o processo
de execução fiscal tenha garantia constituída, nos termos legais;
– Tenha a execução fiscal suspensa, havendo garantia constituída, nos
termos legais.
141
Cfr. art.º 177.º-A do CPPT.
142
Cfr. art.º 177.º-B do CPPT.
75
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
76
INTRODUÇÃO
77
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
(i) A primeira fase era, então, caracterizada pela dispersão, e esta era
reflexo de idêntico fenómeno que caracterizava as normas de Direito
tributário substantivo, quando estas existiam, pois até se dava frequen-
temente a circunstância de não haver enquadramento normativo para
muitas matérias. Paralelamente, e sob o ponto de vista orgânico, um
sistema de cariz corporativo (inicialmente com a criação dos vedores da
fazenda, no séc. XV, mais tarde transformados em vedorias propriamente
ditas no séc. XVI e, depois substituídos pelo Conselho da Fazenda no séc.
XVII) pouco incentivava ao enquadramento jurídico da atividade tribu-
tária.
Compreende-se, de facto, que, neste contexto, as tentativas de uni-
ficação dos vários diplomas respeitantes a matérias fiscais não tivesse
grande sucesso. Por exemplo, no séc. XIX, a um incipiente sistema
estadual de liquidação e cobrança de tributos, juntava-se um deficitá-
rio sistema garantístico, presumindo-se quase sempre como válidas as
atuações dos órgãos públicos. Além disso, a própria doutrina tributária
e fiscal estava a dar os primeiros passos e não se conseguia libertar das
amarras de outros ramos de Direito, não se afirmando sob o ponto de
vista da sua autonomia, o que também contribuiu para que raramente
se questionassem as atuações dos órgãos tributários, pois não haveria
“especialistas” competentes para tal.
Contudo, o aprofundamento do movimento de constitucionaliza-
ção – com a introdução na consciência jurídica dominante de princípios
como a tipicidade ou a proibição do excesso –, a evolução do Direito
administrativo num sentido mais garantístico e a própria tentativa de
autonomização do Direito tributário alertou para a necessidade de cria-
ção de instrumentos de regulamentação das atuações dos sujeitos que
cobravam os tributos. Um grande marco neste sentido foi a conhecida
Abgabenordungsgesetze alemã de 1919.
78
INTRODUÇÃO
143
V., a este respeito, o preâmbulo do diploma referido.
79
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
80
INTRODUÇÃO
81
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
82
INTRODUÇÃO
83
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
84
INTRODUÇÃO
7.2.3. Interpretação
85
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
86
INTRODUÇÃO
87
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
147
V. art.º 68.º do CPPT.
88
INTRODUÇÃO
7.2.4. Integração
Diferente da situação em que existe polissemia de significados num
conceito utilizado numa norma, é aquela em que nem sequer há norma.
A ausência normativa, só por si, pode não significar uma patologia no
ordenamento jurídico, se a matéria não disciplinada for entendida como
matéria extrajurídica o que, em muitos casos, apela para considerações
vagas que caem no âmbito da denominada discricionariedade legislativa.
Contudo, quando a ausência normativa atinge um determinado grau
de relevância e se entende que a matéria em causa deve ser objeto de
disciplina normativa não o tendo sido por manifesto lapso legislativo,
diz-se que existe uma lacuna e reconhece-se a necessidade de preen-
chimento, falando-se, a tal propósito, em integração. As tarefas inter-
pretativa e integrativa são ambas formas de realização do Direito vigente
embora se distingam, entre outros aspetos, pela circunstância de, no
primeiro caso, ainda haver uma norma e, no segundo, tal não acontecer.
Como proceder, então, em face de uma lacuna normativa?
De acordo com próprio CPPT148, em caso de lacunas, aplica-se suces-
sivamente149:
– As normas (materialmente) procedimentais e processuais con-
sagradas nos outros códigos e leis tributárias (LGT, CIRS, CIRC,
CIVA, etc.);
– As normas sobre organização e funcionamento da Administração
tributária (v.g., “Lei orgânica” do Ministério das finanças);
148
Cfr. art.º 2.º. V., também, acórdão do STA de 17 de abril de 2013, processo n.º 0199/13.
149
Cf., a propósito da convocação do Código de procedimento administrativo (CPA) para
integrar uma lacuna respeitante à dilação de prazos aplicáveis a não residentes, acórdão do
acórdão do STA de 30 de janeiro de 2019, processo n.º 01576/15.3BELRS 0700/18. Conside-
ra-se neste aresto que, tratando-se de um cidadão residente num outro Estado-Membro da
UE que não está obrigado a ter, para efeitos fiscais, um representante em Portugal, o exercí-
cio dos seus direitos pode mostrar-se dificultado, em comparação com os contribuintes re-
sidentes, potenciando as dificuldades de organizar a sua defesa. Nesta medida, a dilação do
prazo de impugnação permite mitigar “a maior dificuldade com que se defrontará num país
distante”. Ora, não contendo nem a LGT nem o CPPT norma sobre a matéria de dilação,
impõe-se, no entendimento do acórdão, a aplicação das regras gerais constantes do CPA.
89
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
7.2.5. Aplicação
150
v. art.º 8.º, n.º 2, alínea e), LGT.
90
INTRODUÇÃO
91
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
151
V., ainda, por exemplo, art.º 13.º da Lei 118/2019.
92
INTRODUÇÃO
Pense-se, por exemplo, no Direito internacional tributário, em que, muitas vezes, os Esta-
152
93
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
94
INTRODUÇÃO
153
Cfr., por exemplo, art.º 26.º da Convenção Modelo da OCDE em matéria de impostos
sobre o rendimento e sobre o património (CMOCDE).
154
Em todo o caso, v. acórdão do STA de 5 de janeiro de 2015 (ou 7 de janeiro do mesmo
ano, atendendo à discrepância na versão publicada), processo n.º 01570/13. A respeito,
com interesse e indicações jurisprudenciais, Neto, Dulce, A competência internacional dos
tribunais tributários ao abrigo do mecanismo de assistência mútua entre Estados-membros da UE em
matéria de cobrança de créditos fiscais, in Contraordenações tributárias e temas de direito processual
tributário, Centro de Estudos Judiciários, Lisboa, 2016, disponível em http://www.cej.mj.pt/
cej/recursos/ebooks/Administrativo_fiscal/eb_contraordenacoes_tributarias_e_temas_de_
direito_processual_tributario.pdf, pp. 47 e ss. (último acesso em junho de 2019).
95
Parte I
O procedimento tributário
1. A noção de procedimento
97
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
98
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
99
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Quer uma, quer outra das visões apontadas não está isenta de crí
ticas, pois:
i) A conceção formal é extremamente redutora, uma vez que trata
o procedimento como uma mera sucessão de momentos ou fases,
sem o encarar como uma realidade autónoma e merecedora de
tutela jurídica própria. Dando autonomia a todas as fases de um
determinado caminho a percorrer, parece indiciar a ideia de que
todas essas fases assumem relevância jurídica em termos de os res-
petivos atos poderem ser destacados e, eventualmente, atacáveis de
per si, o que não acontece.
ii) A conceção substancial incorre no erro oposto, na medida em que
trata os diferentes atos como fazendo parte de um único agregado
e como que dissolve a importância de cada um deles no ato final,
procurando inculcar a ideia de que nenhum dos atos é autonoma-
mente valorado – e, logo, seria insuscetível de controlo autónomo
– o que também, em rigor, não corresponde à verdade.
Uma visão adequada desta questão passará pelo “meio termo” de-
vendo-se falar a este propósito em fattispecie procedimental com duas
vertentes: uma vertente formal, em que todos os momentos seriam
100
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
155
O ato complexo, como a própria designação pretende indiciar, traduz-se num único ato,
embora se trate de um ato que apresenta especificidades ao nível da relevância que o tempo
assume na sua constituição. Por outro lado, afirmar que o procedimento é um complexo de
atos pode ter importância ao próprio nível da questão da busca de sentido da atuação admi
nistrativa-tributária, pois significa realçar a estrutura, o elemento intencional de tais atos,
que têm subjacente uma finalidade pré-determinada, e não uma finalidade que seja deter-
minada pela sua marcha, pelo “durante”.
101
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
102
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
103
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Por fim, ambos são perpassados por uma ideia permanente de estru-
tura dialética, em que o princípio do contraditório assume uma importância
inegável, mediante o binómio ação/reação. Basta fazer referência, a este
propósito ao direito de contestação do representante da fazenda pública
em processo de impugnação judicial ou ao direito de oposição do exe
cutado no âmbito do processo de execução fiscal.
104
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
Pela nossa parte, e sem embargo da valia dos contributos acima men-
cionados, a distinção entre procedimento e processo – para já apenas
uma distinção geral, que será direcionada posteriormente para o âm
bito tributário – será feita tendo em atenção uma ideia de exteriorização
156
Cfr. art.os 57.º e 65.º do CPPT.
157
V. art.º 60.º da LGT.
105
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
158
Assim, art.º 170.º da CRP.
159
Como resulta do que já foi dito, talvez também se possa vislumbrar uma referência às
finalidades do procedimento tributário na alínea i) do n.º 1 do art.º 44.º do CPPT, ao ser feita
alusão a todos os demais atos dirigidos à declaração dos direitos tributários.. V., ainda art.º
54.º da LGT.
160
O que vai dito no texto pressupõe uma correta distinção entre as funções administrativa
e jurisdicional, e um pleno respeito pelo princípio constitucional da reserva da função juris-
dicional (art.º 202.º da CRP). Não cabe aqui referência àquelas situações (inconstitucionais,
de resto) em que órgãos de natureza administrativa praticam atos que, materialmente, são
verdadeiros atos típicos da função jurisdicional.
106
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
107
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
161
V. art.º 55.º do CPPT.
162
Assim, art.º 68.º do CPPT.
108
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
Oficiosa
Administrativa
Provocada
Iniciativa Não oficiosa
Não provocada
Não administrativa
163
Cfr. art.º 78.º da LGT.
164
Cfr. art.º 70.º da LGT.
109
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
165
Como teremos ocasião de referir, o problema de saber se determinada questão é uma
questão de facto ou uma questão de Direito não é um problema meramente teórico – em-
bora tal não seja só por si censurável a um nível académico e científico –, mas assume uma
importância prática assinalável em vista das regras de interposição de recursos jurisdicio-
nais. Isto porque, como salientaremos, se um recurso de uma sentença tiver por fundamento
exclusivo matéria de Direito deverá ser interposto diretamente para o Supremo Tribunal
Administrativo (STA – secção de contencioso tributário), enquanto que se tiver por fun-
damento matéria de facto, acompanhada ou não de matéria de Direito, o mesmo já deverá
ser dirigido ao Tribunal Central Administrativo (TCA). Contudo, como se disse, esta é uma
questão que apenas se coloca ao nível jurisdicional, portanto num momento bem mais avan-
çado do que aquele que presentemente nos ocupa. Cfr., a propósito, e em antecipação, a alí-
nea b) do art.º 26.º do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais (ETAF), nos termos
da qual “Compete à Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo
conhecer (…) dos recursos interpostos de decisões dos tribunais tributários com exclusivo
fundamento em matéria de direito”.
110
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
111
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166
Cfr. art.º 71.º, n.os 1 e 2, da LGT.
112
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
167
Cfr. art.º 75.º, n.º 1 da LGT. Embora também se deva assinalar que essa presunção cessa,
nos termos do n.º 2 do mesmo artigo quando:
“a) as declarações, contabilidade ou escrita revelarem omissões, erros, inexatidões ou indí-
cios fundados de que não refletem ou impeçam o conhecimento da matéria tributável real
do sujeito passivo;
b) o contribuinte não cumprir os deveres que lhe couberem de esclarecimento da sua situa-
ção tributária, salvo quando nos termos da presente lei, for legítima a recusa da prestação de
informações;
c) a matéria tributável do sujeito passivo se afastar significativamente para menos, sem ra-
zão justificada, dos indicadores objetivos da atividade de base técnico-científica previstos na
presente lei”
d) Os rendimentos declarados em sede de IRS se afastarem significativamente para menos,
sem razão justificativa, dos padrões de rendimento que razoavelmente possam permitir as
manifestações de fortuna evidenciadas pelo sujeito passivo nos termos do artigo 89.º-A”.
168
V., a propósito, acórdão do TCA-S de 09 de março de 2017, processo n.º 08955/15.
113
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
169
Assim, art.º 74.º, n.º 2, da LGT.
170
Assim, art.º 74.º, n.º 3, da LGT.
171
Assim, art.º 14.º, n.º 2, da LGT.
172
Cfr. art.º 89.º-A, n.º 3, da LGT.
114
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
***
173
V. art.º 53.º do CPPT.
115
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
116
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
174
Cfr. art.º 126.º do Código de processo penal.
117
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
175
Cfr., por todos, acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 20 de janeiro de 2014,
processo n.º 97/06.0IDBRG.G2.
176
V. acórdão do TC n.º 340/2013 e, com proveito, acórdãos do Tribunal europeu dos direi
tos do homem aí citados e atinentes a núcleos temáticos conexos. Porém, mais recentemente,
acórdão do TC n.º 298/2019.
118
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
177
Cfr. art.º 56.º, n.os 1 e 2, da LGT.
119
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
178
Cfr. art.º 60.º, n.os 4, 5, 6 e 7 da LGT.
179
Ou, utilizando a expressão do STA (acórdão de 23 de maio de 2002, processo n.º 0311/02,
e vasta jurisprudência aí referida), se verifique a univocidade de uma conduta que permita
concluir que existe um nexo incindível entre os efeitos expressamente enunciados e os não
expressamente declarados.
120
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
180
A existência de um dever de decidir é fundamental. Como refere o próprio STA (cfr., uma
vez mais, acórdão de acórdão de 23 de maio de 2002, processo n.º 0311/02) a omissão ou
inércia, apenas será relevante se, no caso, não se contemplar algo que tivesse que ser con-
siderado. Em todas as outras situações, ela não tem por significado nenhuma decisão, não
representa nenhum ato administrativo, devendo ter-se em atenção que, em abstrato, um si-
lêncio pode levar a muitas conclusões: que a entidade decisora não concorda com o pedido,
que entende que esse pedido é intempestivo, que inexiste uma obrigação de pronúncia, etc.
Quanto à problemática situação de omissão da AT que não encerra (alegadamente, devendo-
-o) um procedimento de inspeção, v. acórdão do STA de 31 de janeiro de 2018, processo
n.º 099/17.
121
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
181
Cfr. art.º 57.º, n.os 1 e 5 da LGT. V. acórdãos do STA de 9 de janeiro de 2013, processo
n.º 10415/12 e de 30 de abril de 2013, Processo n.º 0122/13.
182
Neste sentido, acórdãos do STA de 7 de março de 2007, processo n.º 06/07, e de 31 de
março de 2016, processo n.º 0411/15.
183
Situação que parece ter algum paralelismo com as agora analisadas está presente no art.º
183.º-A, n.os 4 e 5 do CPPT, embora aí referida ao processo tributário.
184
V. art.º 64.º do CPPT.
185
V. art.º 73.º da LGT.
186
Ressalvam-se os casos em que a falta de resposta é imputável ao contribuinte. Neste qua-
dro, levanta-se o problema de saber se devem ser considerados os 6 meses literalmente pre-
vistos no próprio artigo ou os 4 meses previstos no art.º 57.º, n.º 1 da LGT (considerando-se
que o legislador se haja “esquecido” de proceder a atualização do preceito aquando da al-
teração introduzida neste último). Embora o bom senso prático aponte para o segundo dos
sentidos (considerar os 4 meses), a verdade é que, juridico-normativamente, deve presumir-
-se a bondade do pensamento legislativo, de modo que a norma especial do CPPT deve ter
preferência aplicativa face à norma geral da LGT.
122
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
187
V. art.º 133.º, n.º 4 do CPPT.
188
Cfr. art.º 183.º-A, n.º 4, do CPPT.
189
Assim, art.º 68.º, n.º 8 da LGT.
190
V. art.º 64.º, n.º 3 do RCPITA. Cfr. o que dissemos algumas notas atrás, neste mesmo apar-
tado, a propósito do procedimento de ilisão de presunções.
191
Cfr. art.º 77.º, n.º 1 da LGT. Essa fundamentação, de resto como refere o próprio artigo,
pode consistir em mera declaração de concordância com os fundamentos de anteriores
pareceres, informações ou propostas, incluindo os que integrem o relatório da fiscalização
tributária. É de salientar que a falta de fundamentação ou a fundamentação viciada constitui
uma ilegalidade e pode conduzir à anulação do ato mediante a interposição de uma
reclamação graciosa ou de uma impugnação judicial [cfr. art.os 99.º, alínea c) e 70.º, n.º 1 do
CPPT].
123
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
192
V. infra apartado 3.13.
193
V. art.º 35.º, n.º 1, do CPPT. Diferente da notificação é a citação – cujo âmbito de aplicação
se circunscreve ao processo de execução fiscal –, que consiste no ato destinado a dar conhe-
cimento ao executado de que foi proposta contra ele determinada execução ou a chamar a
esta, pela primeira vez, pessoa interessada.
194
Um exemplo de tal publicação pode ser encontrado no art.º 56.º do CPPT, a propósito das
circulares emanadas no âmbito do procedimento de orientações genéricas.
124
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
195
Cf. o nosso Constituição, Ordenamento e conflitos normativos. Esboço de uma teoria analítica da
ordenação normativa, Coimbra editora, Coimbra, 2008, pp. 154 e ss.
125
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
126
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
a) Enunciação
O objetivo fundamental de toda a atuação procedimental tributária
deverá ser sempre a descoberta da verdade material, parecendo esta
exigência estar plasmada naquilo que a LGT (art.º 55.º) designa por
“princípio da justiça”. Com efeito, esta justiça (material) apenas será
conseguida se todos os atos em que o procedimento se decompõe – atos
esses, praticados quer por entidades públicas (v.g., liquidação de um
tributo, decisão de uma reclamação), quer por entidades privadas (v.g.,
cobrança de um imposto mediante retenção na fonte, sujeição a ações
inspetivas, apresentação de documentos) – a tiverem como coordenada
essencial, não sendo de admitir nem (i) condutas da Administração tri-
butária que procurem, a todo o custo, a tributação dos rendimentos dos
contribuintes, nem (ii) condutas destes que procurem, por todas as for-
mas, obstaculizar essa tributação.
A verdade material em matéria tributária implica o conhecimento e
aceitação total do princípio da igualdade (justiça) na tributação, na sua
dimensão estruturante de respeito pela efetiva capacidade contributiva
dos sujeitos, pois apenas o conhecimento desta permite atingir aquela.
As atuações procedimentais, neste sentido, apenas deverão ter por fina-
lidade averiguar tal capacidade contributiva e concluir pela tributação
ou não tributação em função dos resultados de tal averiguação. Por con-
seguinte, quer a Administração, quer os contribuintes estão obrigados a
cooperar no sentido referido.
A aceitação desta ideia terá como consequência, por exemplo, que,
num caso de reconhecimento de benefícios fiscais, se o órgão adminis-
trativo tiver acesso a elementos que o contribuinte não tenha e que per-
mitam concluir pela isenção de tributação, deverá carrear tais elementos
nalconstitucional.pt.
127
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
b) Sub-princípio da cooperação
Por aqui já se vê que este princípio da verdade material tem como im-
portante corolário o sub-princípio da cooperação (latamente entendido
como sinónimo de “colaboração”, embora se tenha presente que podem
ser apontados traços distintivos), nos termos do qual “os órgãos da Admi-
nistração tributária e os contribuintes estão sujeitos a um dever de colabo-
ração recíproco”, presumindo-se sempre a boa fé das suas atuações197.
Tal dever de cooperação implica, por parte da Administração tributá-
ria, designadamente, que ela “esclarecerá os contribuintes e outros obri-
gados tributários sobre a necessidade de apresentação de declarações,
reclamações e petições e a prática de quaisquer outros atos necessários
ao exercício dos seus direitos, incluindo a correção dos erros ou omis-
sões manifestas que se observem”, do mesmo modo que deverá proce-
der à convolação dos procedimentos para a forma adequada quando seja
apresentada uma tramitação inexata198.
Do lado do contribuinte, este “cooperará de boa-fé na instrução do
procedimento, esclarecendo de modo completo e verdadeiro os factos
de que tenha conhecimento e oferecendo os meios de prova a que tenha
acesso”199, nomeadamente mediante “o cumprimento das obrigações
acessórias previstas na lei e a prestação dos esclarecimentos que esta
lhes solicitar sobre a sua situação tributária, bem como sobre as relações
económicas que mantenham com terceiros”200.
Por exemplo, a propósito do dever de prestação de esclarecimentos,
e numa matéria extremamente sensível e muito propícia à existência
197
Cfr. art.º 59.º, n.os 1 e 2, da LGT.
198
Cfr. art.os 48.º, n.º 1, e 52.º do CPPT e, ainda, art.º 59.º, n.º 3, da LGT.
199
Cfr. art.º 48.º, n.º 2, do CPPT.
200
V. art.º 59.º, n.º 4, da LGT. Contudo, deve-se salientar que tal dever de cooperação não
vincula apenas as partes procedimentais. Nos termos do art.º 49.º do CPPT também “estão
sujeitos a um dever geral de cooperação no procedimento os serviços, estabelecimentos e
organismos, ainda que personalizados, do Estado, das Regiões Autónomas e das Autarquias
locais, as associações públicas, as empresas públicas ou de capital exclusivamente público, as
instituições particulares de solidariedade social e as pessoas coletivas de utilidade pública”.
128
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
de inverdades, o EBF prescreve no seu art.º 9.º que “as pessoas titulares
do direito aos benefícios fiscais são obrigadas a declarar, no prazo de 30
dias, que cessou a situação de facto ou de direito em que se baseava o
benefício, salvo quando essa cessação for de conhecimento oficioso”201.
Por outro lado, importa colocar em evidência que estamos a falar de
um verdadeiro dever de cooperar e não de uma mera faculdade que sim-
plesmente esteja na disponibilidade do sujeito em questão. A enfatizar
tal conclusão podem-se apontar as diversas consequências que o orde-
namento jurídico faz desencadear quando tal colaboração, sendo exi
gida ou exigível, não é prestada, nomeadamente:
– A sujeição a inspeções tributárias;
– A suspensão dos prazos de imposição de celeridade administrativa
e a consequente impossibilidade de exigir o seu respeito202;
– A aplicação de métodos indiretos de avaliação, designadamente
mediante a tributação através de indícios ou presunções203;
– A perda de benefícios fiscais204;
– A derrogação do sigilo bancário sem dependência de autorização
do Tribunal205;
– A aplicação de agravamentos à coleta206;
– A manutenção das garantias prestadas para suspender o processo
de execução fiscal207;
201
Já a LGT (art.º 14.º, n.º 1) havia determinado que “a atribuição de benefícios fiscais ou
outras vantagens de natureza social concedidas em função dos rendimentos do beneficiário
ou do seu agregado familiar depende (…) do conhecimento da situação tributária global do
interessado” .
202
Cfr. art.º 57.º, n.º 4, da LGT.
203
Cfr. art.os 87.º, alíneas b) e ss.; 88.º, 89.º e 89.º-A da LGT.
204
Cfr., a propósito, art.os 14.º, n.º 2, da LGT e art.º 14.º, n.º 2 e n.º 4, do EBF.
205
Cfr. art.º 63.º-B, n.º 1, da LGT
206
Cfr. art.º 77.º do CPPT ou 91.º, n.º 9, da LGT. A determinação em concreto do montante
deste agravamento, dentro dos limites legalmente estabelecidos, sendo deixada ao critério
da entidade administrativa, não deixa de estar balizada pelos limites impostos pelo princípio
constitucional da proporcionalidade. Particularmente, deve ter em consideração (i) o grau
de censura que aos seus olhos merece a atuação do sujeito em causa e (ii) a dimensão da
atividade procedimental que ele tiver provocado (o “trabalho causado”). Cfr. a respeito,
acórdão do TCA-N de 11 de novembro de 2004, processo n.º 00035/04.
207
Cfr. art.º 183.º-A n.º 2, do CPPT.
129
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
c) Desvios
Contudo, o princípio da verdade material, em Direito tributário, não é
um princípio absoluto, pois admite alguns desvios211.
Entende-se que, por vezes, quando estamos a falar de normas tri
butárias e de sujeição ou não a imposição, não é necessário um rigoroso
juízo de certeza (que se traduziria na efetiva e real verdade material),
mas pode bastar um mero juízo de verosimilhança ou verdade material
aproximada. Será o que se passa, designadamente, com a fixação da maté-
ria tributável recorrendo a indícios ou presunções, no âmbito da deno-
minada “avaliação indireta”.
Nestes casos, como se disse, formula-se um juízo de verosimilhança
– distinto do juízo de verdade que, por princípio, exclui a verdade con-
trária, o que não acontece com aquele – que permita ao órgão da Admi-
nistração tributária “presumir”, v.g., a capacidade contributiva de deter-
minado sujeito passivo e, se for caso disso, tributá-la em conformidade.
Tal sujeito, desta forma, vai ser alvo de tributação, não com base na ri-
queza que efetivamente auferiu, mas com base num valor que, de acordo
com critérios vários, se julga que lhe é aproximado.
208
Neste particular, estamos a referimo-nos, obviamente, aos “funcionários públicos”, e nos
termos das normas de Direito administrativo que sejam aplicáveis.
209
Cfr. art.º s 113.º e 116.º e ss. do RGIT.
210
Cfr., por exemplo, art.º 103.º, n.º 1, alíneas a) e b) do RGIT.
211
Será preferível a expressão “desvios” e não exceções uma vez que, em rigor, o objetivo do
procedimento continua a ser a descoberta da verdade material, apenas mudando, por razões
várias (v.g., violação dos deveres contabilísticos ou declarativos, declaração de valores que
se afastam de determinados padrões tidos como “normais”) o instrumento adequado para a
atingir.
130
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
212
V., infra apartado 5.2.3.
213
V. art.º 54.º, n.º 3, da LGT.
214
Cfr. art.os 60.º, n.º 6 da LGT e 45.º, n.º 2 do CPPT, nos termos do qual “o contribuinte é
ouvido oralmente ou por escrito, conforme o objetivo do procedimento” (sublinhado nosso).
De toda a forma, no caso de audição oral, as declarações do contribuinte serão reduzidas a
termo (art.º 45.º, n.º 3 do CPPT).
215
Cfr. art.os 91.º, n.º 3 e 92.º, n.º 1 da LGT.
216
Cfr. art.º 70.º, n.º 6 do CPPT.
131
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
217
Cfr. art.º 132.º, n.º 1 do CIMI.
218
V. art.º 57.º, n.º 1 da LGT . Cfr. também art.º 69.º, alíneas a) e b) do CPPT.
219
V. art.º 53.º, n.º 1 do CPPT.
220
Cfr. art.º 57.º, n.º 1 da LGT. Esse prazo, contudo, não é absoluto, pois situações existem
em que outro pode ser previsto pelo legislador. Cfr., por exemplo, o art.º 66.º, n.º 5 do CPPT,
nos termos do qual “os recursos hierárquicos serão decididos no prazo máximo de 60 dias”,
ou o art.º 92.º, n.º 2 da LGT, nos termos do qual o procedimento de revisão da matéria tribu-
tável fixada por métodos indiretos “(…) deve ser concluído no prazo de 30 dias contados do
seu início (…)”. Cfr., ainda, art.º 36.º, n.os 2 e 3 do RCPITA.
221
V. art.º 57.º, n.º 2 da LGT.
132
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
222
Assim, art.º 57.º, n.º s 3 e 4 da LGT.
223
V. art.º 57.º, n.º 5 da LGT. Todavia, e como se sabe, nem sempre tal acontece, pois estão
igualmente previstos alguns casos de deferimento tácito. Cfr., por exemplo, art.º 64.º, n.º 3
do CPPT.
224
Entre muitos outros, v., por exemplo, acórdão do Tribunal Constitucional n.º 532/2017.
133
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
225
V., a respeito das inspeções, o preceituado no art.º 63.º, n.º 4 da LGT, onde, nomeada-
mente, se fixa a regra da tendencial proibição de inspeções sucessivas.
* Neste particular ponto, seguiremos de perto o nosso Proteção da confiança, procedimento e pro-
cesso tributários, in Segurança e confiança legítima do contribuinte (coord. Manuel Pires e Rita Cal-
çada Pires), Ed. Universidade Lusíada, Lisboa, 2013, 349 e ss., para onde remetemos maiores
desenvolvimentos.
134
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
V., a propósito, art.os 167.º do Código de procedimento administrativo (CPA) e 14.º, n.º 4,
227
135
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
a) Princípio da disponibilidade
Se estivermos a falar dos contribuintes, ou outros obrigados tributários,
naturalmente que valerá o princípio da disponibilidade, o que significa
que aqueles apenas atuarão no procedimento – apresentando petições,
opondo-se, juntando elementos de prova, etc.– se assim o entenderem
(“as partes dispõem do procedimento”). Trata-se de deixar nas mãos
daqueles a decisão acerca do rumo que o procedimento deve tomar, até
porque – ao contrário do que acontece com a Administração – não es-
tão, constitucional ou legalmente, obrigados a prosseguir qualquer Inte-
resse público, valendo uma ideia de auto-responsabilização dos interes-
sados. As principais consequências serão:
i) Ao nível da iniciativa, muitos procedimentos apenas se iniciam se
existir um impulso voluntário da parte dos interessados. Pense-se,
228
Cfr. art.º 30.º, n.º 2, da LGT.
136
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
229
Cfr. art.º 57.º do CPPT.
230
Cfr. art.º 65.º do CPPT.
231
Cfr. art.º 68.º do CPPT.
232
Cfr. art.os 91.º e 92.º da LGT.
233
É o que se passa, nomeadamente, em sede de procedimento de revisão da matéria coletá-
vel fixada por métodos indiretos, no âmbito do qual vale como desistência do pedido a não
comparência injustificada do perito designado pelo contribuinte (art.º 91.º, n.º 6, da LGT).
137
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
b) Princípio do inquisitório
Se estivermos a falar da Administração tributária, as coisas serão, natu-
ralmente, diferentes. Prescreve a este propósito o art.º 58.º da LGT que
“a Administração tributária deve, no procedimento, realizar todas as
diligências necessárias à satisfação do interesse público e à descoberta
da verdade material, não estando subordinada à iniciativa do autor do
pedido”.
Os órgãos que integram a Administração tributária estão, por in-
cumbência constitucional e legal234, obrigados a tudo fazer no sentido
de assegurar a melhor realização possível do Interesse público, pelo que
dificilmente se poderia aceitar que a marcha do procedimento pudesse
estar ao sabor de uma vontade não vinculada.
As principais consequências da existência deste verdadeiro dever de
agir são:
i) Ao nível da iniciativa, alguns procedimentos são instaurados ex
officio. Será o que se passa, nomeadamente, no procedimento de
fixação da matéria tributável por métodos indiretos235.
ii) Ao nível da instrução, sendo certo que a indicação dos elementos
de prova deve ser efetuada pelos interessados – designadamente
mediante a aplicação das regras do ónus da prova –, a Administra-
ção não se deve cingir aos elementos apresentados, mas antes deve
diligenciar no sentido de trazer para o procedimento todos aque-
les que lhe pareçam indispensáveis à descoberta da verdade mate-
rial, mesmo que desfavoráveis à atividade de arrecadação. Como já
atrás se fez notar, de modo algum se pode considerar que a AT está
dispensada de considerar os meios de prova que tenha em seu po-
der e que beneficiem a outra parte quando esta os não apresenta,
do mesmo modo que é de exigir que sempre que existam dúvidas,
existe igualmente um dever de investigar236.
234
Cfr. art.º 266.º da CRP.
235
V. art.os 87.º e ss. da LGT.
236
Cfr. acórdão do STA de 3 de abril de 2013, processo n.º 0393/13 e acórdão do TCA-S de
17 de março de 2016, processo n.º 06178/12.
138
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
237
Problemas delicados poderão surgir nos casos de iniciativa não administrativa, nos quais
se levanta a questão de saber se pode a Administração tributária decidir sobre matéria não
mencionada nas peças dos interessados, v.g., decidir sobre coisa mais ampla ou diversa da
pedida quando o Interesse público assim o exigir.
238
Cfr. acórdão do STA de 29 de abril de 2004, processo n.º 0191/03.
239
Assim, art.º 74.º, n.º 1, da LGT.
139
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
140
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
241
V. art.º 268.º da CRP.
242
V. art.º 26.º da CRP.
141
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
É que, se por um lado, “os cidadãos têm (...) o direito de acesso aos
arquivos e registos administrativos”, por outro, a todos é reconhecidos o
direito à reserva da intimidade da vida privada e familiar243. Assim sendo,
quid juris se alguém (como uma entidade policial, um magistrado judi-
cial, um advogado, um familiar ou um simples “interessado”) solicita à
Administração tributária informações sobre a situação de uma determi-
nada pessoa perante o Fisco, ou dados relativos às suas declarações para
efeitos de imposto? Deverá ela, ao abrigo do art.º 268.º da CRP244, solici-
tar a informação prestada? Ou, pelo contrário, e dando cumprimento ao
art.º 26.º, deverá recusar-se a prestá-la?
Como dissemos, tudo passa pela compatibilização dos direitos em
conflito, e o próprio legislador constituinte aponta nesse sentido ao uti-
lizar a expressão “sem prejuízo do disposto na lei em matérias relativas à
segurança interna e externa, à investigação criminal e à intimidade das
pessoas”. Como proceder, então, a essa compatibilização?
Mediante a figura jurídica do sigilo.
Em inúmeras situações, o ordenamento jurídico obriga determinadas
pessoas a guardar segredo relativamente a factos não públicos que to-
maram conhecimento no (e por causa do) desempenho das suas fun-
243
Parece indiscutível que o direito fundamental de reserva de intimidade da vida privada e
familiar (art.os 26.º da CRP e 80.º do CC) – que é sustentado por outras garantias constitu-
cionais (como os direitos à inviolabilidade do domicílio e da correspondência e à proteção
dos dados informáticos) e legais (art.os 75.º a 78.º do CC) – não diz respeito a todas as esferas
de atuação da vida pessoal, mas apenas às esferas privada (que abrange a vida familiar, rela-
ções de amizade, relações económicas e financeiras) e confidencial (respeitante àquilo que
normalmente se quer ocultar da curiosidade alheia). Ficará assim de fora da sua abrangên-
cia a denominada esfera pública. Cfr. acórdão do TC n.º 278/95, disponível em http://www.
tribunalconstitucional.pt.
244
Em rigor, e como é sabido, o art.º 268.º da CRP consagra, quanto a esta matéria, dois dis-
tintos direitos:
– no seu n.º 1 consagra o direito de informação procedimental, titulado pelo próprio sujeito
do procedimento e relativo a dados quer lhe dizem respeito. Neste caso, não poderá a
Administração recusar qualquer informação solicitada, sob pena de o interessado (o pró-
prio ator procedimental, repita-se) a poder acionar judicialmente mediante a intimação
para um comportamento;
– já no seu n.º 2, vem previsto o direito de acesso ao procedimento da parte de terceiros,
domínio onde, compreensivelmente, poderão existir restrições.
Naturalmente que no texto nos estamos a referir a este último sentido. Cfr., ainda, art.º 59.º,
n.º 3, alínea g), da LGT.
142
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
245
Contudo, não apenas os funcionários da Administração tributária estão vinculados ao
dever de sigilo. Este também abrange (embora sob a forma de dever de confidencialidade, pois
o dever de sigilo tem um cunho marcadamente “profissional”, obrigando apenas agentes e
funcionários) qualquer outra pessoa que tenha acesso a dados protegidos (art.º 64.º, n.º 3,
da LGT).
246
Cfr. art.º 64.º, n.º 1, da LGT
143
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
que sejam livremente cognoscíveis por outras vias (v.g., registos civil,
comercial, predial, etc.)247.
Se o dever de sigilo for violado – ou o mesmo é dizer: se a Adminis-
tração tributária divulgar dados relativamente aos quais deveria guardar
segredo – o ordenamento jurídico reage de forma violenta, através da
punição da conduta respetiva como crime, sujeita a pena de prisão ou
multa248.
Contudo, este dever de sigilo cessa – devendo a Administração tribu-
tária prestar as informações solicitadas aos devidos órgãos competentes –,
nos termos do n.º 2 do art.º 64.º da LGT, nos casos de:
i) Autorização do contribuinte para a revelação da sua situação tri-
butária (um caso legalmente previsto de renúncia a um direito
fundamental);
ii) Cooperação legal da Administração tributária com outras enti-
dades públicas (v.g., Ministério Público, Procuradoria geral da
república, Assembleia da república, Ministérios, Ordem dos advo
gados, etc.);
iii) Assistência mútua e cooperação da Administração tributária com
as Administrações tributárias de outros países, desde que tal re-
sulte de convenção internacional a que o Estado Português esteja
vinculado, e esteja assegurado o princípio da reciprocidade (i. é,
em condições análogas, a Administração tributária do outro Es
tado contratante também esteja obrigada a prestar informações);
iv) Colaboração com a justiça nos termos do Código de Processo Civil
e Código de Processo Penal, mediante despacho de uma autori
dade judiciária;
v) Confirmação do número de identificação fiscal e domicílio fiscal
às entidades legalmente competentes para a realização do registo
comercial, predial ou automóvel.
247
V. acórdão do STA de 20 de maiode 2003, processo n.º 0786/03. V., ainda, acórdão do
TCA-S de 17 de abril de 2012, processo n.º 05200/11.
248
Cfr. art.º 91.º do RGIT.
144
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
249
Assim, art.º 64.º, n.os 5 e 6, da LGT. Sobre o que se deve considerar “situação tributária
regularizada” para estes efeitos, v. art.º 177.º-A do CPPT.
250
A respeito das várias espécies de sigilo, cfr. acórdãos do STA de 20 de agosto de 2008,
processo n.º 0715/08, e de 29 de setembro de 2010, processo n.º 0668/10.
251
Não obstante, ver-se-á infra que a tendência atual do ordenamento é para a afirmação de
uma certa desjurisdicionalização e para o aumento das situações em que a Administração
pode aceder diretamente a essa informação.
252
Cfr. art.º 55.º da LGT.
145
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
253
V., uma vez mais, acórdão de 3 de abril de 2013, processo n.º 0393/13.
146
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
254
V. art.º 56.º, n.º 2, alínea a), da LGT.
255
Cfr. art.º 147.º do CPPT.
147
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
256
Cfr. art.º 77.º, n.º 1, da LGT.
257
A título de exemplo, v., as apertadíssimas exigências em matéria de fundamentação dos
atos de correção ou de aplicação de métodos indiretos (respetivamente, n.os 3 e 4 do art.º
77.º da LGT). Cfr. ainda art.º 92.º, n.º 7, da LGT.
148
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
258
V., a respeito, acórdão do STA de 6 de fevereiro de 2013, processo n.º 0581/12, no qual,
no contexto de um ato de quantificação, se exige que se esteja em presença de um “discurso
claro e racional que dê a conhecer a um destinatário normal (colocado na situação concreta
do real destinatário e no contexto circunstancial que rodeou a prática do ato) os critérios de
avaliação/determinação utilizados, e as razões por que foram alcançados os valores conside-
rados para a liquidação e não outros, tudo de forma suficientemente reveladora do percurso
cognoscitivo e valorativo. Perante a flexibilidade fundamentadora não é necessário reportar,
por princípio, todos os factos considerados, todas as reflexões feitas ou todas as vicissitudes
ocorridas durante a deliberação. A determinação do âmbito da declaração fundamentadora
pressupõe, pois a efetivação de um conteúdo adequado, que seja, o suficiente para suportar
formalmente a decisão administrativa/tributária”.
149
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
v) Expressa, o que quer dizer que deverá ser emitida de modo direto
e concludente, não podendo ser implícita ou tácita. Contudo, pode
ser feita por remissão – cautelosa e esclarecedora – para anteriores
atos (v.g., pareceres, relatórios, antecedente informação prestada
pelos serviços)259.
259
V., com interesse, acórdão do STA de 5 de junho de 2013, processo n.º 0867/13. A propó-
sito do dever de fundamentação do cálculo de juros, v. acórdão do STA de 14 de fevereiro
de 2013, processo n.º 0645/12: “...reconhecendo embora que a fundamentação da liquidação
dos juros se tornaria imediatamente mais esclarecedora se contivesse não a remissão para a
taxa de juro legal, mas a expressa e direta indicação desta (...), não nos convence a alegação
da recorrente de que a remissão para a taxa de juro legal constante das notas de liquidação
a tenha impedido de conhecer o (iter) cognoscitivo e valorativo percorrido pela Adminis-
tração Tributária no cálculo dos juros compensatórios e menos ainda que tenha de algum
modo obstaculizado os seus direitos de defesa, razão pela qual não procede a invocação do
vício de falta de fundamentação da liquidação dos juros compensatórios, que se não verifica”.
Adiante:
“A lei tributária, na concretização a que procede do direito constitucionalmente garantido
à fundamentação dos atos administrativos (artigo 268.º n.º 3 da Constituição da República),
admite especificamente que esta se faça de forma sumária...”.
260
Cfr. acórdãos do STA de 15 de novembro de 2006, processo n.º 0875/06 e de 3 de maio
de 2017, processo n.º 0427/17. Cf., ainda, acórdão do TCA-N de 11 de novembro de 2004,
processo n.º 00035/04 e vasta jurisprudência aí citada.
261
Cfr. art.º 99.º, alínea c), do CPPT.
150
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
dos os seus efeitos jurídicos, apenas o podendo fazer quando esta última
fase estiver concluída.
A maior parte das vezes, o ato integrativo de eficácia é somente um
ato de publicidade, destinado a dar conhecimento ao(s) interessado(s)
do conteúdo da decisão procedimental. Assim, o princípio em análise
pretende significar, tão somente, o seguinte: todos os atos administrati-
vos e tributários devem ser publicitados, pelo que nenhuma decisão do
procedimento poderá produzir efeitos sem que o seu destinatário tenha,
ou possa ter, dela conhecimento.
O referido ato de publicidade pode consistir quer num ato geral (pu-
blicação), quer num ato individual (notificação).
Vejamos separadamente cada uma das hipóteses.
262
Cfr., a propósito, art.os 55.º e 56.º do CPPT.
263
V. art.º 68.º, n.º 17, da LGT.
151
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
264
Porém, importa observar que o ordenamento jurídico prevê e tolera, com cobertura juris-
prudencial, situações nas quais a aludida comunicação individual não tem que se verificar de
modo expresso. Tal acontece, designadamente, em matéria de taxas de propina, considerando-
-se que o valor respetivo terá fixado em momento anterior e que será possível ao obrigado
aceder a tal informação – de resto, disponível no acto de inscrição – e proceder ao atem-
pado pagamento. V. acórdão do TCA-Norte de 13 de julho de 2017 (ou 29 de julho de 2017
– o acórdão disponibilizado na base de dados www.dgsi.pt refere-se a duas datas), processo
n.º 00206/16.0BECBR.
265
Cfr. art.os 19.º, n.os 3 e 4 , da LGT e 43.º, n.º 2, do CPPT.
152
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
266
Cfr. art.os 19.º, n.º 5 da LGT 124.º do RGIT. Todavia, nos termos do n.º 8, essa imposi-
ção não é aplicável em relação a não residentes em Estados membros da União Europeia ou
certos Estados do Espaço Económico Europeu, pois nestes casos a designação de represen-
tante é facultativa (o mesmo acontecendo com os residentes que se ausentem para aqueles
Estados).
267
Cfr. art.º 38.º, n.º 9, do CPPT e art.º 19.º, n.º 10, da LGT.
153
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
268
Cfr. art.º s 38.º, n.os 5 e 6, do CPPT. A respeito das diferentes formas de comunicação pos-
tal, v.g “carta registada” e respetivos contornos, v. acórdãos do STA de 29 de maiode 2013,
processo n.º 0472/13 e de 15 de fevereiro de 2017, processo n.º 0329/15. Quanto às exigên-
cias constitucionais na matéria, v. acórdão do Tribunal Constitucional n.º 130/02.
269
Quanto às notificações em matéria tributária feitas a mandatários (v.g., advogados) e a
pessoas coletivas, cfr., respetivamente, art.os 40.º e 41.º do CPPT.
270
V. art.º 38.º, n.º 1, do CPPT.
154
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
271
V. art.º 39.º, n.º 3, do CPPT. Quanto às situações de devolução ou não assinatura do aviso
de receção, vale o n.º 5 do mesmo artigo, nos termos do qual: “Em caso de o aviso de receção
ser devolvido ou não vier assinado por o destinatário se ter recusado a recebê-lo ou não o ter
levantado no prazo previsto no regulamento dos serviços postais e não se comprovar que
entretanto o contribuinte comunicou a alteração do seu domicílio fiscal, a notificação será
efetuada nos 15 dias seguintes à devolução por nova carta registada com aviso de receção,
presumindo-se a notificação se a carta não tiver sido recebida ou levantada, sem prejuízo de
o notificando poder provar justo impedimento ou a impossibilidade de comunicação da mu-
dança de residência no prazo legal”. V., a respeito, acórdão do TCA-S de 10 de novembro de
2016, processo n.º 09865/16.
272
Assim, art.º 38.º, n.º 4, do CPPT.
273
V. art.º 38.º, n.º 3, do CPPT. Neste caso, no da liquidação de impostos periódicos feita no
prazo previsto legalmente, e no processo de execução fiscal, as notificações ainda poderão
ser feitas por via eletrónica, (art.º 38.º, n.º 9, CPPT).
274
Cfr. art.º 39.º, n.º 1, do CPPT.
155
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
275
Cfr. art.º 37.º do CPPT.
276
Neste sentido, acórdãos do STA de 15 de setembro de 2010, processo n.º 0407/10, e de 7
de junho de 2017, processo n.º 0557/14.
277
Assim, acórdão do STA de 13 de outubro de 2010, processo n.º 0493/10.
278
V. acórdão do de 12 de setembro de 2012, processo n.º 0899/12.
156
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
apenas terão uma proteção suficiente e justa se lhes for dada a possi-
bilidade de acesso aos Tribunais com o intuito de sindicar as decisões
administrativas. Contudo, podem procurar essa sindicância igualmente
ao nível administrativo, através das figuras de reclamação e recurso le-
galmente previstas.
Ora, ao nível da sindicância administrativa dos atos da própria Admi-
nistração – e como forma de assegurar, na medida do possível, alguma
celeridade para obter a última palavra – vigora uma importante limi-
tação: a mesma pretensão do contribuinte não pode ser apreciada por
mais de dois órgãos integrando a mesma cadeia hierárquica. Trata-se do
princípio do duplo grau de decisão, cujo significado passa pelas ideias de
que:
i) Apenas se poderá recorrer administrativamente uma vez;
ii) Após uma segunda decisão administrativa desfavorável, o ato tri-
butário considera-se verticalmente definitivo e está aberta a porta
para o controlo jurisdicional279.
279
Tal não significa, contudo, que o ato não pudesse já anteriormente ser objeto de controlo
em Tribunal. Em matéria tributária, muitas vezes não se exige a definitividade vertical como
condição prévia de acesso ao controlo jurisdicional (pense-se, por exemplo, no ato de liqui-
dação, diretamente sujeito a tal controlo).
280
Cfr., por exemplo, art.os 86.º, n.º 5 da LGT, e 117.º do CPPT.
281
Cfr. art.os 67.º, n.º 1, e 76.º, n.º 1, do CPPT.
157
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
4. Os atores do procedimento
282
Cfr. ainda art.º 66.º, n.º 2, do CPPT.
283
Naturalmente que os sujeitos ativo e passivo da relação procedimental não se confundem
com os sujeitos ativo e passivo da relação tributária material controvertida. Por exemplo, o
sujeito passivo desta última (contribuinte) pode configurar-se como o sujeito ativo (propul-
sor) da relação procedimental que se constitui com a instauração de uma reclamação gra
ciosa. V., a respeito, acórdão do STA de 6 de fevereiro de 2013, processo n.º 0839/11.
158
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
284
V. art.º 16.º, n.º 2, da LGT. Quanto ao exercício de direito procedimentais tributários por
parte de incapazes e entidades sem personalidade jurídica, cfr. art.º 16.º, n.º 3, da LGT, e 3.º,
n.º 3, do CPPT. Quanto às manifestações de desconcentração das pessoas coletivas (v.g., su-
cursais, filiais), cfr. art.º 4.º do CPPT. V. acórdãos do STA de 07 de maiode 2008, processo
n.º 0200/08; de 21 de maio de 2008, processo n.º 0191/08, e de 15 de janeiro de 2014, pro
cesso n.º 0102/12.
285
Cfr. art.º 5.º do CPPT.
159
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
160
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
Quanto à natureza, missão e atribuições, órgãos, organização interna e outros aspetos juridi-
287
161
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
288
A questão da atuação administrativa em geral (necessariamente vinculada) não se con-
funde com a do exercício em concreto dos poderes em que uma determinada competência
se consubstancia. Aqui, convém recordar que duas hipóteses são possíveis:
a) ou o modo de exercício desses poderes está previsto e regulado na norma legal anterior,
não deixando ao aplicador qualquer margem de escolha, e falamos em (exercício de) poderes
vinculados;
b) ou o modo de exercício desses poderes não está previsto e regulado na norma legal ante-
rior, deixando-se ao órgão administrativo uma certa margem de liberdade na altura da apli-
cação da lei ao caso em concreto, e falamos em (exercício de) poderes discricionários em sentido
amplo. Naturalmente que no primeiro caso será mais eficaz um eventual controlo jurisdicio-
nal da atuação administrativa que, em princípio, deverá ser de excluir no segundo caso (res-
salvados, obviamente, os aspetos relacionados com a vinculação genérica à Constituição e
à lei).
162
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
289
Cfr. art.º 202.º da CRP
290
Cfr., todavia, art.º 271.º, n.º 3 da CRP.
291
A expressão “poderes funcionais” pretende significar que os poderes em causa não são
poderes do próprio titular do órgão, nem estão na sua disponibilidade, mas antes se tratam
de poderes da pessoa coletiva em que tal órgão está integrado.
163
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
292
V. art.º 10.º, n.º 5, do CPPT. Cfr. ainda art.º 5.º, n.º 1, do ETAF.
293
Contudo, tal regra parece não excluir a possível convalidação do ato que é emanado por
um órgão que não é competente no início, mas que o passa a ser posteriormente, ainda no
decurso do procedimento. Tal solução decorreria de um princípio jurídico geral de aproveita-
bilidade dos atos e da aplicação supletiva do art.º 37.º, n.º 3 do CPA in fine.
164
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
294
Cfr. art.º 10.º, n.º 1, alínea j), do CPPT.
295
Cfr. art.os 78.º e ss. do CPPT.
296
Cfr. art.º 78.º da LGT.
297
Cfr. art.os 68.º e ss. do CPPT.
298
Cfr. art.os 66.º e 67.º do CPPT.
299
Cfr. art.º 65.º do CPPT.
300
Cfr. art.os 103.º e ss. do CPPT.
301
Cfr. art.º 188.º do CPPT.
302
Cfr. art.º 10.º, n.º 2, do CPPT.
165
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
303
Tal verifica-se, nomeadamente, no que diz respeito à competência da Administração tri-
butária para a aplicação de coimas (o que pressupõe, naturalmente, uma infração tributária).
V. art.º 52.º, alínea b), do RGIT.
304
É o caso, por exemplo, da competência dos serviços de finanças em matéria de IVA (art.º
77.º do CIVA) ou da competência para a prática de atos de inspeção tributária (art.º 16.º do
RCPITA).
305
É o que se passa, ainda a título de exemplo, em sede de imposto municipal sobre imó-
veis (IMI) no que diz respeito à organização e conservação das matrizes (art.º 78.º, n.º 1, do
CIMI), à revisão oficiosa da liquidação (art.º 115.º, n.º 2, do CIMI) ou à apreciação de recla-
mações (art.º 131.º do CIMI).
306
Veja-se, por exemplo mais uma vez, o art.º 65.º, n.º 2 do CPPT, nos termos do qual “os
pedidos de reconhecimento [de benefícios fiscais] serão apresentados nos serviços compe-
tentes para a liquidação do tributo a que se refere o benefício…”.
166
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
307
V., por exemplo, art.os 75.º do CIRS e 113.º do CIMI.
308
Assim, art.os 131.º, n.º 1, e 132.º, n.º 3, do CPPT.
309
Cfr. art.º 133.º, n.º 2, do CPPT
167
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Titular Órgão
Ministro (das finanças) MINISTÉRIO (DAS FINANÇAS)
Secretário de Estado SECRETARIA DE ESTADO
(Sub- secretário de Estado) -
Diretor geral DIREÇÃO GERAL
(Sub- diretor geral) -
Diretor distrital (de finanças) ÓRGÃO PERIFÉRICO REGIONAL311
DIREÇÃO DE FINANÇAS
Chefe do serviço de finanças ÓRGÃO PERIFÉRICO LOCAL312
SERVIÇO DE FINANÇAS
310 311
310
Cfr., acerca de definição de órgão periférico regional, o art.º 6.º, n.º 3, do DL 433/99, de 26
de outubro (que aprova o CPPT), considerando-se como tal as direções de finanças e as al-
fândegas da AT.
311
Cfr., acerca de definição de órgão periférico local, o art.º 6.º, n.º 1, do DL 433/99, de 26 de
outubro, nos termos do qual aí se incluem os serviços de finanças, as delegações aduaneiras
e os postos aduaneiros da Autoridade Tributária e Aduaneira.
312
Cfr. atentamente DL 117/2011.
168
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
313
Cfr. Art.º 112.º, n.os 1 e 2 do CPPT.
314
Cfr. art.º 11.º do CPPT.
169
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
4.3.1.5. A incompetência
O desrespeito das regras de atribuição de competência acima referidas
desencadeia, naturalmente, uma reação adversa do ordenamento jurí
dico que, em casos normais, passará pela remessa das peças do procedi-
mento para o órgão competente ou pela consideração do ato em causa
como anulável.
Na verdade, pode acontecer que a entidade administrativa incompe-
tente não chegue sequer a praticar qualquer ato procedimental. Nos casos
de violação das regras atributivas de competência em função da maté-
ria ou do território – por exemplo, se o sujeito passivo apresentar uma
reclamação num serviço de finanças que não o da sua área de residên-
cia, quando esta seria a indicada – o órgão incompetente “é obrigado a
enviar as peças do procedimento para o órgão da Administração tribu-
tária competente no prazo de quarenta e oito horas após a declaração
de incompetência (…)”. Nestes casos, o requerimento considera-se apre-
sentado na data do primeiro registo e o interessado deverá ser devida-
mente notificado de tal remessa316.
Mas também pode acontecer que a entidade incompetente pratique
atos procedimentais, decidindo sem ter competência para tal. Nestas
situações, o ato em causa pode ser atacado quer administrativamente
(reclamação graciosa, recurso hierárquico, etc.), quer jurisdicionalmente
(impugnação judicial), pois entende-se que existe uma ilegalidade sus-
cetível de conduzir à sua anulação317.
315
Cfr. art.º 61.º, n.º 4, da LGT.
316
V. art.º 61.º, n.os 2 e 3, da LGT.
317
Cfr. art.os 70.º, n.º 1, e 99.º, alínea b), do CPPT. V., por exemplo, acórdão do STA de 22 de
março de 2017, processo n.º 0901/16.
170
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
318
Em todo o caso, a generalização do termo é de tal magnitude que o mais curial será, no
desenvolvimento das presentes Lições, e sem prejuízo de referência particular em sentido
contrário, considerar uma tendencial sinonímia. Ainda assim, em termos linguísticos ade-
quados, a expressão “contribuinte devedor” aplicar-se-á com mais propriedade no quadro
do incumprimento da obrigação principal (pagamento), enquanto que a expressão “contri-
buinte faltoso” tem usualmente aplicação no incumprimento de obrigações acessórias.
319
V. a respeito Rocha, Joaquim Freitas, e Silva, Hugo Flores, Teoria geral da relação jurí
dica tributária, Almedina, Coimbra, 2017, pp. 76 e ss..
171
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
§ único: sequência
Chegou agora o momento de nos debruçarmos sobre cada um dos pro-
cedimentos tributários em particular, procurando averiguar qual o seu
320
A título de exemplo, pode-se referir que o sujeito passivo direto, em regra, pode recla-
mar graciosamente da liquidação dos tributos que lhe digam respeito no prazo de 120 dias a
contar do termo do prazo de pagamento voluntário [art.os 70.º, n.º 1, e 102.º, n.º 1, alínea a),
do CPPT]; já o responsável subsidiário pode reclamar no mesmo prazo, contado a partir da
citação em processo de execução fiscal [cfr. art.º 102.º, n.º 1, alínea c), do CPPT e 22.º, n.º 5,
da LGT].
321
Cfr. art.º 37.º da LGT.
322
Cfr. 63.º-B, n.º 7 da LGT.
172
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
173
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
174
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
323
Cfr. art.º 55.º, n.º 3 do CPPT.
175
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
324
Cfr. art.º 56.º, n.os 1 e 2 do CPPT. Em rigor, contudo, existe ainda outra forma de conheci-
mento das orientações genéricas, ou das circulares em que elas se incorporam: mediante um
requerimento especificamente destinado a esse fim, formulado pelo interessado num proce-
dimento e dirigido ao dirigente máximo do serviço em causa (art.º 56.º, n.os 3 e 4 do CPPT).
Porém, podem surgir reservas quanto ao facto de saber se este procedimento se poderá apli-
car a todas as orientações (como é nossa opinião) ou apenas àquelas que não visem a uni-
formização da interpretação e aplicação das normas tributárias e tenham um carácter mais
pessoal (como parece indiciar uma primeira leitura dos preceitos atrás referidos, pois não fa-
ria sentido a menção à expurgação dos “elementos de carácter pessoal” e à “inclusão na base
de dados a que se refere o número 1” se estivéssemos a falar do mesmo tipo de orientações).
325
Cfr., a respeito, acórdãos do STA de 31 de maiode 2006, processo n.º 026622 e de 17 de
outubro de 2012, processo n.º 0583/12.
326
Cfr. art.º 68.º-A, n.º 1 da LGT.
327
Assim, art.º 43.º, n.º 1 e 2 da LGT. V., a propósito, acórdão do STA de 21 de março de
2007, processo n.º 01180/06.
176
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
328
Cfr. o importante acórdão do TC n.º 583/2009, disponível em http://www.tribunal
constitucional.pt.
329
Neste seguimento, prescreve o art.º 67.º, n.º 1, alínea c), da LGT, que “o contribuinte tem
direito à informação sobre (…) a sua concreta situação tributária”.
330
Deve-se desde já notar que, quando o despacho recair sobre os pressupostos de qualquer
benefício fiscal dependente de reconhecimento, os interessados não ficam dispensados de
o requerer autonomamente nos termos da lei (art.º 57.º, n.º 2, do CPPT). Além disso, apre-
sentado o pedido de reconhecimento de benefícios fiscais (cfr. art.º 65.º do CPPT) que te-
nha sido precedido do pedido de informação vinculativa, este ser-lhe-á apensado a requeri
mento do interessado, devendo a entidade competente para a decisão conformar-se com o
177
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
anterior despacho (na medida em que a situação hipotética objeto do pedido de informação
vinculativa coincida com a situação de facto objeto do pedido de reconhecimento – cfr. art.º
57.º, n.º 3, do CPPT).
331
V. art.º 68.º, n.º 1, da LGT. Para desenvolvimentos, v. portaria 972/2009, de 31 de agosto.
332
V. art.º 68.º, n.º 4, da LGT
333
Cfr. art.º 68.º, n.º 4, da LGT. V., abaixo, apartado 5.5.
334
Cfr. art.º 68.º, n.os 2, 6 e 7, da LGT.
178
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
pedido não for respondido no prazo referido (com efeitos restritos es-
pecificamente aos atos e factos identificados no pedido e ao período de
tributação em que os mesmos ocorram)335.
Saliente-se igualmente que o incumprimento do prazo de resposta
acima referido, quando o contribuinte atue com base numa interpreta-
ção plausível e de boa-fé da lei, limita a responsabilidade deste à dívida
do tributo, abrangendo essa exclusão de responsabilidade as coimas, os
juros e outros acréscimos legais336.
Do mesmo modo, um silêncio da AT nesta sede pode significar a im-
possibilidade de recurso à norma geral antiabuso (infra mencionada)337.
***
335
Assim, art.º 68.º, n.os 8 e 9, da LGT.
336
Idem, n.º 18.
337
Assim, art.º 63.º, n.º 8, do CPPT.
338
Cfr. art.º 57.º, n.º 1, CPPT.
179
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
339
Cfr. art.os 68.º, n.º 14, da LGT.
340
V. art.º 68.º, n.º 15 da LGT.
341
Assim, art.º 68.º-A, n.º 3, da LGT.
342
V. art.º 68.º, n.º 12 da LGT.
180
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
343
V. art.º 68.º, n.º 16 da LGT. Neste sentido, acórdão do STA de 08 de novembro de 2006,
processo n.º 0382/06.
344
Cfr. art.º 4.º do RCPITA.
345
Assim, art.º 2.º, n.º 1, do RCPITA.
181
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
182
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
349
Cfr. art.º 12.º do RCPITA.
350
Cfr. art.º 14.º do RCPITA.
351
V. art.º 47.º da LGT e 27.º, n.º 2, do RCPITA. Na economia das presentes Lições a aten-
ção primordial será dispensada ao primeiro tipo de procedimento inspetivo (de iniciativa
administrativa). Em todo o caso, sempre se poderá adiantar alguns tópicos orientadores do
regime jurídico das inspeções a pedido (iniciativa) do contribuinte, cujo regime jurídico
consta, no essencial, do Decreto-Lei n.º 6/99, de 08 de janeiro. No contexto deste diploma,
cumpre destacar:
– De um ponto de vista subjetivo, este tipo inspetivo tem por referência sujeitos passivos
que disponham de contabilidade organizada (art.º 1.º, n.º 2);
– A inspeção pode ser requerida ao Diretor-geral pelo próprio sujeito passivo ou, com auto
rização expressa deste, por terceiro (art.º 2.º, n.º 1), devendo invocar e provar “interesse
legítimo” (art.º 2.º, n.os 4 e 6);
– Trata-se de uma possibilidade onerosa, na medida em que é devido o pagamento de uma
taxa pelo serviço prestado (art.º 4.º);
– As conclusões do relatório da inspeção vinculam a Administração tributária, não podendo
esta proceder a novas inspeções com o mesmo objeto. Também não poderá praticar atos
de liquidação que não tenham por fundamento as conclusões do relatório de inspeção
(art.º 5.º, n.º 1 – v., também, art.º 47.º, n.º 1, da LGT). Todavia, a Administração tributária
183
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
184
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
a) A Administração tributária
Como sabemos, para poder praticar atos procedimentais válidos, e em
obediência os imperativos de legalidade e da precedência de lei, os ór-
gãos da Administração tributária necessitam de uma prévia atribuição
competencial. Tal atribuição, em matéria de inspeção tributária, consta
do art.º 16.º do RCPITA, nos termos do qual são competentes para a prá-
tica dos atos de inspeção tributária, os seguintes serviços da Autoridade
tributária e aduaneira359:
– A Unidade dos Grandes Contribuintes (por nós abordada, de modo
sumário, já de seguida), relativamente aos sujeitos passivos que de
acordo com os critérios definidos sejam considerados como grandes
contribuintes;
– As direções de serviços de inspeção tributária que, nos termos da
orgânica da Autoridade Tributária e Aduaneira, integram a área
356
V. art.º 46.º, n.os 1 e 2, do RCPITA.
357
Cfr. art.º 46.º, n.º 1, da LGT.
358
V. acórdão do TCA-Sul de 9 de março de 2017, processo n.º 05458/12.
359
Quanto a eventuais incompatibilidades, cfr. art.º 20.º.
185
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
186
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
das suas funções”. Este dever de sigilo não cessa com o termo das fun-
ções e transmite-se às entidades que tenham acesso, em virtude de de-
veres de comunicabilidade de dados, aos dados obtidos pela inspeção
tributária362.
b) Os sujeitos passivos
Embora o procedimento de inspeção tributária vise, em primeira linha
e em abstrato, os sujeitos passivos em sentido restrito (sujeitos passivos
diretos ou originários), são também atores do mesmo, além deles, os
demais obrigados tributários – como os substitutos e responsáveis soli-
dários ou subsidiários, as sociedades dominadas e integradas no regime
especial de tributação dos grupos de sociedades, e os sócios das socieda-
des transparentes – e quaisquer outras pessoas que tenham colaborado
nas infrações fiscais a investigar363.
Ora, no contexto desse universo alargado de potenciais visados,
quem pode ser, em concreto, inspecionado?
As pessoas ou entidades podem ser selecionadas na sequência de vá-
rios factos ou atos364:
i) Abrangência por critérios objetivos abstratamente fixados no Plano
Nacional de Atividades da Inspeção Tributária a Aduaneira
(PNAITA), que é um documento de natureza programática do
qual constam as grandes linhas de atuação da AT neste domínio;
ii) Abrangência por critérios objetivos, abstratamente definidos pelo
Diretor-geral, de acordo com necessidades conjunturais de pre-
venção e eficácia da inspeção tributária;
iii) Aplicação de métodos aleatórios;
iv) Existência de denúncia;
v) Verificação de desvios significativos ou de indícios de infração tri-
butária no comportamento fiscal dos sujeitos;
vi) Solicitação de autoridade estrangeira no âmbito da cooperação
internacional em matéria tributária;
vii) Iniciativa do próprio sujeito passivo ou de terceiro que prove inte-
resse legítimo.
362
Cfr. art.º 22.º do RCPITA.
363
Cfr. art.º 2.º, n.º 3 do RCPITA.
364
Cfr. art.º 27.º, n.os 1 e 2 do RCPITA. Quanto ao Plano Nacional de Atividades da Inspeção
Tributária e Aduaneira (PNAITA), v. art.os 23.º e ss.
187
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
365
Cfr. art.os art.º 32.º e 10.º do RCPITA.
366
Cfr. art.º 63.º, n.º 5, da LGT.
188
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
a) Fase preliminar
Desde logo, e antes de tudo o mais, uma fase preliminar, de natureza
abstrata e preparatória, que tem em vista traçar o círculo objetivo e sub-
jetivo dentro do qual todos os desenvolvimentos subsequentes se loca-
lizarão. Esta fase – que, em rigor, ainda não se pode verdadeiramente
Assim, art.º 6.º, n.º 4 do DL 433/99 (diploma de aprovação do CPPT, já acima referido).
368
189
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
b) Comunicação prévia
Após essa antecâmara ou fase prévia, surge a comunicação do início do
procedimento inspetivo ao visado. Trata-se de uma fase extremamente
importante, na medida em que é a partir deste momento que o contri-
buinte (ou um terceiro) fica a saber que vai ser alvo de investigação para
efeitos tributários e, além disso – e uma vez mais reiterando um aspeto
já salientado –, com esta notificação, suspende-se o prazo que a AT
tem para proceder à liquidação dos tributos (prazo de caducidade – 4
anos, em regra)372. Tal efeito suspensivo permitirá à AT dispor de mais
tempo para exercer os poderes liquidatórios, os quais se podem consi-
derar condicionados com a inspeção em curso, na medida em que ainda
estarão a ser recolhidos elementos probatórios relevantes.
Neste particular, importa acentuar que, em geral, o visado deverá ser
notificado com indicação da identificação do funcionário, dos elementos
pretendidos no âmbito do procedimento de inspeção, da fixação do pra-
zo, local e hora de realização dos atos de inspeção e da informação sobre
as consequências da violação do dever de cooperação373.
369
Cfr. art.os 23.º e ss. do RCPITA.
370
Cfr. art.º 27.º do RCPITA.
371
Cfr. art.º 44.º, n.º 2, do RCPITA.
372
Cfr. art.º 46.º, n.º 1, da LGT.
373
Cfr. art.os 38.º e 37.º, n.º 2, do RCPITA.
190
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
***
374
Assim, art.º 52.º do RCPITA.
375
Cfr. art.º 49.º, n.os 2 e 3, do RCPITA. A notificação ao contribuinte do despacho do início
da ação de inspeção externa faz, nos termos do art.º 46.º, n.º 1, da LGT, suspender o prazo
de caducidade da liquidação do tributo em causa (em princípio, 4 anos). Significa isto que,
suspendido o prazo – e retomado adiante no mesmo ponto da contagem –, a AT acabará por
ter mais tempo para liquidar os tributos. Contudo, nos casos em que a duração da inspeção
externa ultrapasse o prazo de 6 meses após a notificação, tal suspensão cessa, passando-se a
contar o prazo de caducidade desde o início.
376
Cf. acórdão do STA de 12 de outubro de 2016, processo n.º 0879/15.
377
Cf. art.º 36.º, n.º 2, do RCPITA. Quanto às possibilidades de prorrogação do prazo, v.
n.os 3 e ss. Quanto às problemáticas situações em que a AT não encerra (devendo-o) um
procedimento de inspeção, v. o já citado acórdão do STA de 31 de janeiro de 2018, processo
n.º 099/17.
191
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
378
V. também, art.os 42.º e ss.
192
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
379
Cfr. art.os 39.º do RCPITA e 35.º e ss. do CPPT.
380
Trata-se, este, de mais um conceito indeterminado, que suscita muitas dificuldades de
densificação mas que, em qualquer dos casos, há-de pressupor um nexo funcional e material
relativamente forte com a entidade inspecionada, não se incluindo, por exemplo, funcioná-
rios de limpeza, seguranças, vigilantes, etc.
381
Cfr. art.º 41.º do RCPITA.
193
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
194
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
195
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
383
Cfr. infra, II, 7.
384
V. art.os 28.º, alínea g), e 30.º, n.os 1 e 2, do RCPITA.
385
Note-se que as instalações seladas não deverão conter bens, documentos ou registos que
sejam indispensáveis para o exercício da atividade normal da empresa, nomeadamente bens
comercializáveis perecíveis no período em que presumivelmente a selagem se mantiver
(art.º 30.º, n.º 4, do RCPITA).
386
Cfr. art.º 31.º do RCPITA.
196
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
197
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
198
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
387
Cfr. art.º 60.º do RCPITA. Note-se que se tiver sido decretado na pendência de procedi-
mento de inspeção tributária um eventual arresto de bens, este fica sem efeito se a entidade
inspecionada não for notificada do relatório de inspeção no prazo de 90 dias a contar da data
do seu decretamento (art.º 137.º, n.º 2 do CPPT).
388
V. art.º 62.º, n.º 3, do RCPITA.
199
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
200
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
este prazo de 6 meses, tendo em vista a alteração para 4 meses do prazo “normal” de conclu-
são do procedimento e de consideração para efeitos de indeferimento tácito (art.º 57.º, n.os 1
e 5 da LGT). Em termos jurídico-aplicativos, a proposta de solução poderá não ser unívoca,
mas, pela nossa parte, prudentemente, aderimos à consideração dos 6 meses.
201
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
202
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
391
Cfr. acórdão do TC n.º 278/95, disponível em http://www.tribunalconstitucional.pt.
392
Pela sua importância para o estudo da matéria em análise, transcrevemos o disposto no
art.º 78.º do DL 298/92 (Regime geral das instituições de crédito e sociedades financeiras):
Artigo 78.º – Dever de segredo
1 – Os membros dos órgãos de administração ou fiscalização das instituições de crédito, os
seus colaboradores, mandatários, comissários e outras pessoas que lhes prestem serviços a
título permanente ou ocasional não podem revelar ou utilizar informações sobre factos ou
elementos respeitantes à vida da instituição ou às relações desta com os seus clientes cujo
conhecimento lhes advenha exclusivamente do exercício das suas funções ou da prestação
dos seus serviços.
2 – Estão, designadamente, sujeitos a segredo os nomes dos clientes, as contas de depósito e
seus movimentos e outras operações bancárias.
3 – O dever de segredo não cessa com o termo das funções ou serviços.
393
Para uma abordagem da evolução histórica da realidade, v. acórdão do STA de 26 de abril
de 2006, processo n.º 0280/06.
203
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
394
Para estes efeitos, e nos termos do n.º 10 do art.º 63.º-B da LGT, considera-se documento
bancário qualquer documento ou registo, independentemente do respetivo suporte, em que
se titulem, comprovem ou registem operações praticadas por instituições de crédito ou so-
ciedades financeiras no âmbito da respetiva atividade, incluindo os referentes a operações
realizadas mediante utilização de cartões de crédito.
204
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
395
Neste sentido, acórdãos do STA, de 26 de abril de 2007, processo n.º 0187/07 e de 29 de
setembro de 2010, processo n.º 0668/10. Quanto ao conceito de “familiar”, para os presentes
efeitos, v. acórdão do STA, de 09 de março de 2016, processo n.º 0138/16.
396
Cfr. art.º 63.º-B, n.º 2 da LGT.
397
V. art.º 75.º, n.º 1 da LGT.
398
Cfr. Acórdão do TCA – N (secção CT) de 04 de novembro de 2004, processo n.º 00353/04.
205
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
399
Cfr. art.º 63.º-B, n.º 7, da LGT.
400
Cfr. art.º 63.º-B, n.º 4, da LGT.
401
Cfr. art.º 63.º-B, n.º 5, da LGT.
402
Cfr. art.os 146.º A , n.º 2, alínea a), e 146.º-B do CPPT.
206
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
207
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
405
Acerca dos critérios de avaliação dos prédios, cfr. art.os 14.º e ss. do CIMI e acerca das
respetivas reclamações, art.os 130.º e ss. do mesmo diploma.
406
Cfr. art.º 58.º, n.os 2 e 3 do CPPT.
208
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
407
Cfr., uma vez mais, art.º 75.º, n.º 1 da LGT.
209
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
408
Cfr. art.º 85.º, n.º 1, LGT.
409
Assim, acórdão do STA de 2 de fevereiro de 2006, processo n.º 01011/05.
210
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
410
V. art.º 74.º, n.º 3 da LGT.
211
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
212
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
411
Cfr., embora referindo-se às normas de incidência stricto sensu mas materializando um
princípio geral, art.º 73.º da LGT.
412
A respeito do assunto, v. acórdão do TCA–N de 21 de outubro de 2004, processo
n.º 00063/04.
213
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
413
Para Maiores desenvolvimentos, cfr. Ribeiro, João Sérgio, “Reflexões sobre o regime simpli-
ficado; a sua suspensão no domínio do IRC”, in Scientia Iuridica, 320, Tomo LVIII, 2009, 669 e ss.
214
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
β) Situações patológicas
1) Impossibilidade de comprovação e quantificação direta e exata
dos elementos indispensáveis à correta determinação da maté
ria tributável de qualquer imposto
Este primeiro grupo de casos abrange as situações em que não é pos-
sível a comprovação nem direta – porque, por exemplo, não existe, de-
vendo, contabilidade ou declarações do sujeito em causa – nem exata
– porque, por exemplo, existindo elementos de contabilidade, tais ele-
mentos apresentam erros significativos – da base tributária.
Ora, na medida em que o legislador utiliza aqui vários conceitos in-
determinados, e uma vez que estamos perante matérias de reserva ab-
soluta de lei (no sentido de obrigatoriedade de fixação de todos os pres-
supostos de aplicação ao caso em concreto), sentiu-se a necessidade de
precisar o respetivo significado. Assim, prescreve o art.º 88.º da LGT
que a “impossibilidade de comprovação e quantificação direta e exata da
matéria tributável”, para efeitos de aplicação de métodos indiretos, pode
resultar das seguintes circunstâncias (todas elas, recorde-se, patológi-
cas, isto é que consubstanciam “anomalias e incorreções”), quando invia-
bilizem o apuramento da matéria tributável:
– Inexistência ou insuficiência de elementos de contabilidade ou
declaração, falta ou atraso de escrituração dos livros e registos ou ir-
regularidades na sua organização ou execução quando não supridas
no prazo legal, mesmo quando a ausência desses elementos se deva
a razões acidentais;
– Recusa de exibição da contabilidade e demais documentos legal-
mente exigidos, bem como a sua ocultação, destruição, inutilização,
falsificação ou viciação;
414
Cfr. art.º 28.º, n.º 2, do CIRS.
215
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
415
Neste sentido, cfr. acórdão do TCA – N de 21 de outubro de 2004, processo n.º 00063/04.
416
Cfr. art.º 90.º, n.º 1 da LGT.
216
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
417
Cfr. art.º 89.º, n.º 2 da LGT.
217
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
418
Cfr. art.º 87.º, n.º 1, alínea c) da LGT.
419
Neste sentido, acórdão do STA de 19 de maiode 2010, processo n.º 0734/09.
218
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
420
Para estes efeitos, devem-se ter em consideração (art.º 89.º-A, n.º 2 da LGT):
– Os bens adquiridos no ano em causa ou nos três anos anteriores pelo sujeito passivo ou
qualquer elemento do respetivo agregado familiar;
– Os bens de que frua no ano em causa o sujeito passivo ou qualquer elemento do respe
tivo agregado familiar, adquiridos, nesse ano ou nos três anos anteriores, por sociedade
na qual detenham, direta ou indiretamente, participação Maioritária, ou por entidade
sediada em território de fiscalidade privilegiada ou cujo regime não permita identificar o
titular respetivo.
– Os suprimentos e empréstimos efetuados pelo sócio à sociedade, no ano em causa, ou por
qualquer elemento do seu agregado familiar;
– A soma dos montantes transferidos de e para contas de depósito ou de títulos.
219
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
421
V. art.º 89.º-A, n.º 1, da LGT.
422
Idem, n.º 3. A propósito do afastamento desta presunção, poderão suscitar-se as ques-
tões problemáticas de saber se uma eventual justificação parcial da origem dos rendimentos
pode (i) afastar a aplicação deste método indireto de determinação e (ii) ser relevante no
momento da fixação presuntiva do montante do acréscimo patrimonial não justificado su-
jeito a imposto, podendo ser “descontado”. No que diz respeito ao primeiro dos problemas
apontados (i), entendeu o STA – tendo por base uma situação em que o contribuinte apenas
provou a proveniência de parte do preço que pagou por um imóvel e alegou que por via desta
justificação parcial que já não existiria desproporção entre os rendimentos declarados e o
rendimento padrão, inviabilizando-se a avaliação indireta – que “só deve dar-se relevância à
justificação total do montante que permitiu a manifestação de fortuna”, acrescentando que
“a justificação meramente parcial não afasta a aplicabilidade da determinação indireta dos
rendimentos globais (...)”. Quanto ao segundo (ii), todavia, já entendeu que a justificação
parcial há-de relevar para a fixação presuntiva do montante em causa, e que a quantificação
do rendimento tributável deve ser igual ao padrão legal deduzido do montante justificado
(no caso, o empréstimo bancário que o contribuinte demonstrou ter efetuado para a aqui
220
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
sição do imóvel em questão). Cfr., com mais desenvolvimentos – e com importante declara-
ção de voto –, acórdão do STA de 19 de maiode 2010, processo n.º 0734/09.
423
Cfr. art.os art.º 89.º-A, n.º 4, da LGT e 9.º, n.º 1, alínea d), do CIRS). Recorde-se que, nos
termos do art.º 42.º deste último diploma, tal rendimento (presumido) não é passível de
qualquer dedução, sendo englobado pelo sujeito passivo na sua totalidade.
424
Cfr. a propósito, acórdão do STA de 17 de abril de 2013, processo n.º 0433/13, nos ter-
mos do qual “a determinação do rendimento com base numa aquisição concreta de um bem
previsto na tabela do n.º 4 do art.º 89.º-A da LGT só pode ser feita uma vez, relativamente
ao ano em que se verificou ou em qualquer um dos três anos seguintes”. Em sentido discor-
dante v., o voto de vencido da Conselheira Fernanda Maçãs, que considera que tal modo de
ver as coisas “não encontra apoio nem na letra nem na razão de ser do preceito”. Com esta
solução – defende – “os contribuintes deixam de ter interesse em justificar as manifestações
de fortuna, uma vez que a consequência será uma única tributação de 20% sobre o valor da
aquisição do imóvel”. “(...) O contribuinte pode até não justificar a manifestação de fortuna
e nem declarar qualquer rendimento e acaba por ter um prémio: pagar imposto unicamen-
te sobre 20% do valor da aquisição. Sem prejuízo de se entender que o legislador poderia
eventualmente ter sido mais rigoroso, afigura-se que esta solução (...) esvazia por completo
o preceito favorecendo a fraude e a evasão fiscal”. V., ainda, acórdãos do STA de 23 de abril
de 2014, processo n.º 0400/14, e de 12 de julho de 2017, processo n.º 0849/14.
425
Cfr. art.º 89.º-A, n.º 6 da LGT.
221
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
426
Cfr. acórdão do STA de 15 de setembro de 2010, processo n.º 0660/10.
222
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
427
Cfr. art.os 60.º, n.º 1, alínea d), 82.º, n.os 3 e 4, e 91 da LGT.
428
Este procedimento impugnatório apenas não poderá ser utilizado nos casos de aplicação
do regime simplificado de tributação em que não sejam efetuadas correções (com base nou-
tro método indireto). Aqui, o mais adequado parece ser a reclamação graciosa da respetiva
liquidação.
223
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
No primeiro caso, uma vez que à avaliação indireta ainda se lhe vai
seguir um outro ato – que, esse sim, será horizontalmente definitivo – não
existe a possibilidade de impugnação contenciosa direta, apenas se
admitindo a impugnação deste segundo ato; já no segundo caso, uma
vez que ele se configura como o ato final da cadeia procedimental, tal
impugnação contenciosa, sob este ponto de vista, já é possível429.
Todavia, ainda importa averiguar se, verticalmente, tal definitividade
também existe. Igualmente aqui, duas situações devem ser distinguidas:
– Quando se pretende atacar o ato de fixação indireta de valor por
ter alegadamente havido um erro na quantificação ou nos pressu-
postos (acima referidos), o recurso a Tribunal ainda não é possível
(considerando-se que falta uma condição de procedibilidade, exis-
tindo uma exceção dilatória que obsta ao conhecimento do mérito
da causa), devendo previamente ser intentado pedido de revisão da
matéria tributável 430;
– Em todos os outros casos, o recurso a Tribunal será de imediato ad-
missível.
429
V. art.º 86.º, n.º 3, da LGT.
430
Assim, art.os 86.º, n.º 5, 91.º e ss. da LGT e 117.º CPPT. V., também, acórdãos do STA
de 27 de fevereiro de 2013, processo n.º 01216/12 e de 17 de junho de 2015, processo
n.º 01722/13.
431
Como é sabido, nos termos da lei, são benefícios fiscais as “medidas de carácter excecional
instituídas para tutela de interesses públicos extrafiscais relevantes que sejam superiores aos
da própria tributação que impedem” e, neste seguimento, consideram-se benefícios fiscais,
entre outros, as isenções, as reduções de taxas, as deduções à matéria coletável e à coleta, e as
amortizações e reintegrações aceleradas (art.º 2.º do EBF).
224
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
225
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
437
Cfr. 65.º, n.º 5, CPPT.
438
V. art.º 65.º, n.º 4, do CPPT.
439
Para estes efeitos, uma construção não é genuína quando não tiver na sua base por razões
económicas válidas que reflitam a respetiva substância económica [art.º 38.º, n.º 3, alínea a)].
226
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
440
Cf. art.º 63.º, n.º 7 do CPPT.
441
Cfr. art.º 63.º, n.º 3, do CPPT.
227
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
442
Assim, art.º 63.º, n.º 8, do CPPT.
443
Assim, art.º 6.º, n.º 2 do CIRS.
444
V. art.º 10.º, n.º 3, alínea a) do CIRS. Cfr. acórdãos do TCA–N de 21 de outubro de 2004,
processo n.º 00092/04 e do STA de 13 de julho de 2016, processo n.º 01624/15.
445
Cfr. art.º 86.º do CIVA.
446
Cfr. art.º 29.º, n.º 3, do CIMT.
228
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
447
Cfr. art.º 73.º da LGT.
448
V. art.º 64.º, n.os 2 e 3, do CPPT
229
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
449
O legislador utiliza quer um quer outro dos sentidos apontados. Assim, por exemplo,
quando, no art.º 59.º do CPPT, refere que “o procedimento de liquidação instaura-se com as
declarações dos contribuintes”, está a referir-se à liquidação em sentido amplo; Já quando,
no art.º 75.º do CIRS refere que ”a liquidação do IRS compete à ATA”, refere-se à liquidação
em sentido estrito. Cfr., ainda, art.os 89.º e ss. do CIRC; 19.º do CIVA; 113.º do CIMI e 19.º do
CIMT.
230
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
piciar receitas rápidas para os cofres do Estado, uma vez que pode dar
origem a um pagamento antecipado (pagamento por conta ou retenção
na fonte com a natureza de pagamento por conta). A liquidação defini-
tiva já é um verdadeiro ato (impugnável) da Administração tributária de
natureza definitiva, unilateral e positiva e que inicia e é pressuposto do
procedimento de cobrança. Por seu lado, a liquidação adicional surge
na sequência de uma revisão do ato tributário de liquidação definitiva
e pode ter como origem fundamentos diversos, como erros nas decla-
rações apresentadas, apuramento de imposto superior ao entregue, etc.
Finalmente, tendo em atenção os sujeitos que nela intervêm, pode-se
distinguir uma autoliquidação e uma heteroliquidação.
– No primeiro caso, estamos perante um ato típico da chamada “tri-
butação de massas” que é levado à prática pelo próprio sujeito pas-
sivo e que, em rigor, envolve dois passos: por um lado, a comunica-
ção da riqueza auferida e dos dados necessários à sua comprovação
(mediante declaração em modelo normativamente aprovado) e, por
outro lado, a quantificação da obrigação tributária propriamente
dita através de uma série de operações de cálculo que a lei pres-
creve. Nesta modalidade, a qualificação e quantificação da matéria
tributável está nas mãos do próprio que a aufere – ou de alguém que
com ele mantenha relações relevantes450 –, resultando o montante
de tributo a pagar ou a receber daquilo que ele próprio avalia e esti-
ma451.
– No segundo caso (heteroliquidação) estamos em face de um ato de
liquidação que é feito por entidade diversa do sujeito passivo (a Ad-
ministração tributária ou um terceiro).
450
V., neste sentido, acórdão do STA de 15 de fevereiro de 2006, processo n.º 026622,.
451
No âmbito do nosso ordenamento tributário, os casos mais visíveis de autoliquidação de
impostos estão consagrados em sede de IRC [art.º 89.º, alínea a) do CIRC], de IVA (art.º 27.º,
n.º 1 do CIVA) e de Imposto de selo (art.º 23.º, n.º 1 do respetivo Código). Já em matéria de
taxas, são inúmeros os diplomas que consagram este procedimento, fazendo impender sobre
os próprios devedores o encargo qualificativo e quantificativo da obrigação tributária. Ape-
nas a título exemplificativo, refira-se o caso da taxa de justiça (art.º 8.º, n.º 1, do Regulamento
das custas judiciais).
231
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
452
Cfr. art.º 30.º, n.º 1, alínea b) e 31.º, n.º 2 da LGT.
453
Cfr art.º 59.º, n.º 7 do CPPT, nos termos do qual “sempre que a entidade competente
tome conhecimento de factos tributários não declarados pelo sujeito passivo e do suporte
probatório necessário, o procedimento de liquidação é instaurado oficiosamente pelos com-
petentes serviços”.
454
Linguisticamente, parece-nos preferível a expressão “vícios” no lugar de “erros”. Se ou-
tras razões não houvesse, a primeira das expressões sempre seria suscetível de abarcar quer
as situações de vícios na formação da vontade (erro-vício) , quer as situações de divergência
entre a vontade e a declaração (reserva mental, simulação, etc.), enquanto a segunda não
parece possuir tal abrangência.
232
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
456
Em rigor, não se pode dizer que tenha sido esta a classificação acolhida pelo legislador.
Este, embora referindo-se ao pagamento, parece equiparar a cobrança voluntária à cobrança
dentro do prazo legal, supondo que toda a cobrança efetuada para além deste prazo é
coerciva. Cfr., a propósito, o art.º 84.º do CPPT: “Constitui pagamento voluntário de dívidas
233
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Pois bem. Dissemos acima que “em regra” à cobrança do tributo cor-
responde o pagamento, da parte do sujeito passivo. Contudo, nem sem-
pre assim acontece, pois:
– Por um lado, pode não se verificar um pagamento integral, mas ape-
nas um pagamento em prestações. Refere a este respeito o art.º 42.º,
n.º 1, da LGT que “o devedor que não possa cumprir integralmente
e de uma só vez a dívida tributária pode requerer o pagamento em
prestações, nos termos que a lei fixar”, acrescentando o art.º 86.º,
n.º 2, do CPPT que “o contribuinte pode, a partir do termo do prazo
de pagamento voluntário, requerer o pagamento em prestações nos
termos das leis tributárias”461;
de impostos e demais prestações tributárias o efetuado dentro do prazo estabelecido nas leis
tributárias”.
457
Nos casos em que as leis tributárias não estabeleçam prazo de pagamento, este será de 30
dias após a notificação para pagamento efetuada pelos serviços competentes (art.º 85.º, n.º 2
do CPPT).
458
Quanto à cobrança de receitas por entidades diferentes da Administração tributária,
v. art.º 95.º do CPPT.
459
Cfr., art.º 20.º da LGT.
460
Assim, art.º 79.º do CPPT.
461
Contudo, tal possibilidade de pagamento em prestações não se aplica às dívidas de recur-
sos próprios comunitários e, nos termos da lei, às quantias retidas na fonte ou legalmente
repercutidas a terceiros ou ainda quando o pagamento do imposto seja condição da entrega
234
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
ou transmissão dos bens (art.º 42.º, n.º 2 da LGT). Situação parecida com a do texto é aquela
em que o sujeito passivo solicita a possibilidade de efetuar pagamentos por conta da dívida
que tem com a Fazenda Nacional. V., a propósito, art.º 86.º, n.os 4, 5 e 6, do CPPT.
462
V. art.os 87.º e 201.º do CPPT.
463
Cfr. art.º 91.º, n.os 1 e 2, da LGT.
235
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
464
Cfr. art.º 91.º, n. os 8, 9 e 10, da LGT.
465
V. art.º 91.º, n.º 2, da LGT. Este efeito suspensivo verifica-se até à decisão do procedi
mento de revisão, “pois com esta e independentemente de qualquer outra diligência ou
formalidade (...) se torna definitiva a quantificação da matéria coletável necessária à conse-
quente e até então suspensa liquidação do imposto em causa”. Cfr. acórdãos do STA de 30
de outubro de 2002, processo n.º 01073/02 e de 19 de abril de 2012, processo n.º 0964/11.
466
Cfr. art.os 92.º, n.º 1, LGT e 117.º do CPPT.
467
Cfr. art.os 91.º, n.º 14, da LGT a contrario e 117.º do CPPT.
468
Assim, art.º 91.º, n.º 14, da LGT.
469
V. art.º 117.º, n.º 1, CPPT
236
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
470
Assim, v., por exemplo, acórdão do TCA-Sul de 18 de junho de 2015, processo n.º 07452/14.
Não obstante esse inequívoco nesso de representação, salienta-se neste acórdão (em con-
sonância com anterior jurisprudência) que “(...) não pode considerar-se o sujeito passivo
vinculado pelo acordo que seja obtido em sede de procedimento de revisão da matéria
colectável, sempre que se demonstre que o representante não agiu dentro dos limites dos
seus poderes de representação ou que agiu em sentido contrário a estes poderes”.
471
Assim, art.º 91.º, n.º 4, da LGT. Quanto ao regime de faltas à reunião referida e às even-
tuais reuniões subsequentes, v. art.º 91.º, n.os 5, 6 e 7 da LGT. Acerca da constitucionalidade
do n.º 5 (que consagra um “regime de desistência”), cfr. acórdão do STA de 06 de junho de
2007, processo n.º 00190/04.
472
Tais peritos são escolhidos nos termos do art.º 91.º, n.º s 11, 12 e 13 (peritos da Adminis-
tração tributária) e 93.º e 94.º (peritos independentes), da LGT. A este propósito, refere o
TCA–S, num acórdão datado de 16 de novembro de 2004, processo n.º 0615/04: “A não in-
tervenção do perito independente reconduz-se a um vício de forma, por preterição de uma
formalidade essencial, estando essa formalidade instituída para assegurar as garantias de
defesa dos interessados contribuinte e AT, por forma a garantir a justeza e correção do ato
final do procedimento”. Contudo, “havendo acordo, e tratando-se de um trâmite destinado
a assegurar os interesses de ambas as partes é possível a sua degradação em formalidade não
essencial, quer dizer que a preterição não implica necessariamente a invalidade do ato final”.
V. igualmente, acórdão do STA de 19 de novembro de 2015, processo n.º 08241/14 (onde se
reitera a ideia da preterição de formalidade essencial, nos casos de falta da nomeação de pe-
rito independente, requerida pelo contribuinte).
473
Cfr. art.º 92.º, n.os 3 e 4 da LGT.
474
Assim, art.º 86.º, n.º 4 da LGT. V., também, acórdão do STA de 15 de setembro de 2010,
processo n.º 062/10. Todavia, como aí se refere, “não quer isto dizer que seja proibida,
em absoluto, a impugnação da liquidação efetuada com base no acordo, pois este regime
pressupõe, naturalmente, a validade do acordo e a sua oponibilidade ao contribuinte. Ficará
237
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
238
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
476
Cfr., por exemplo, art.os 89.º do CIRS, 99.º do CIRC, 92.º do CIVA ou 31.º do CIMT.
477
V., também, art.os 93.º do CIRS, 103.º do CIRC e 98.º do CIVA.
478
Assim, art.º 78.º, n.º 1, da LGT.
239
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
479
V., a propósito, acórdão do STA de 5 de dezembro de 2018, processo n.º 0261/18.9BEVIS.
480
A expressão “a todo o tempo” deve ser entendida como respeitante a qualquer momento
até ao termo do prazo de prescrição da obrigação tributária. Cfr. acórdão do STA de 18 de
novembro de 2015, processo n.º 01509/13.
481
Cfr. art.º 78.º, n.º 4, da LGT.
240
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
482
V., uma vez mais, acórdão do STA de 5 de dezembro de 2018, processo n.º 0261/18.9BEVIS.
483
Cfr., por exemplo, art.º 93.º, n.º 3, do CIRS.
484
V. art.º 43.º, n.º 3, alínea b), da LGT. A contrario, conclui-se que nas situações em que a
Administração proceda à revisão oficiosa e anule um ato tributário, restituindo o tributo de
seguida, não há lugar a juros indemnizatórios. Saliente-se que a jurisprudência tem enten-
dido – e parece-nos que bem – que a revogação efetuada pela Administração ao abrigo do
241
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
tuar mais de um ano após o seu pedido (salvo se o atraso não for imputá-
vel à Administração)485.
a) Enquadramento jurídico
O procedimento de reclamação graciosa constitui o procedimento
impugnatório por excelência, uma vez que tem por objetivo a anulação
total ou parcial dos atos tributários (sendo este o pedido principal: art.º
68.º do CPPT486), com fundamento em ilegalidade dos mesmos. Vale
isto por dizer que sempre que o contribuinte tenha diante de si um ato
tributário (de natureza unilateral, definitiva e impositiva, um ato de li-
quidação) que considere desconforme com o ordenamento jurídico,
deve lançar mão deste expediente administrativo.
Deve-se alertar desde já para o facto de que, em princípio, este pro-
cedimento não tem efeito suspensivo da liquidação que se está a recla-
mar487, o que quer dizer que o contribuinte, mesmo reclamando, deve
proceder ao pagamento do tributo em causa, sob pena de, daí a algum
tempo, se poder confrontar com um processo de execução fiscal contra
si instaurado. Porém, e como já se observou em momento anterior das
Lições, tal efeito suspensivo pode ser conseguido se for prestada garantia
adequada, a qual deve (i) ser requerida pelo contribuinte juntamente
com reclamação, e (ii) prestada no prazo de 10 dias após a notificação
para o efeito pelo órgão periférico local competente. Nestes casos, pode
defender-se que a simples apresentação do requerimento com a garantia
artigo 112.º do CPPT, na sequência de uma impugnação judicial deduzida pelo contribuinte,
não pode considerar-se como sendo efetuada por iniciativa da Administração, por ter antes
resultado de iniciativa deste. Isto porque, caso contrário, conferir-se-ia a essa mesma Admi-
nistração a possibilidade de evitar o pagamento de juros indemnizatórios nos casos em que
ocorre um erro que lhe é imputável, bastando para tal limitar-se a revogar o ato no prazo da
sua contestação. Assim, acórdão de 17 de novembro de 2010, processo n.º 0467/10.
485
V. art.º 43.º, n.º 3, alínea c) da LGT. Neste caso, são devidos juros indemnizatórios ape-
nas decorrido um ano após o pedido respetivo e não desde a data do pagamento da quantia
liquidada [assim, acórdão do STA, de 6 de junho de 2007, processo n.º 0606/06]. De resto,
se a revisão se efetuar no prazo de um ano, ou após isso quando o atraso não for imputável à
Administração, não serão devidos juros indemnizatórios.
486
Quanto à cumulação de pedidos, v. art.os 71.º e 74.º do CPPT.
487
V. cfr. art.º 69.º, alínea f ), do CPPT.
242
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
***
Nos casos mais comuns, a reclamação deve ser apresentada pelo con-
tribuinte, pelos substitutos ou pelos responsáveis489, sob forma escrita
(embora, em casos de manifesta simplicidade, o possa ser oralmente490)
junto do serviço periférico local (serviço de finanças) da área do domicí-
lio ou sede do contribuinte, da situação dos bens ou da liquidação, em-
bora seja dirigida ao órgão periférico regional (direção de finanças)491,
cujo dirigente é competente para decidir. Verifica-se, assim, uma duali-
dade competencial quanto ao órgão a quem entregar e quanto ao órgão
que vai decidir a reclamação.
De salientar ainda que pode haver apresentação mediante transmis-
são eletrónica de dados (n.º 7 do art.º 70.º do CPPT).
A instauração da reclamação faz interromper o prazo de prescrição
da obrigação tributária492.
b) Fundamentos da reclamação
Como dissemos, a reclamação graciosa visa a anulação de atos tributários.
Pois bem, com que fundamentos podem os atos tributários ser anula-
dos em sede de reclamação?
Nos termos do art.º 70.º do CPPT, “a reclamação graciosa pode ser
deduzida com os mesmos fundamentos previstos para a impugnação
judicial”, estando estes últimos previstos, de forma não exaustiva, no
art.º 99.º do mesmo código. De acordo com este artigo, constitui fun-
damento de reclamação “qualquer ilegalidade”. Trata-se aqui – como já
tivemos oportunidade de mencionar quando nos referimos à classifica-
ção dos atos da administração tributária – de um conceito operativo de
488
Cfr. acórdão do STA de 8 de fevereiro de 2017, processo n.º 0177/15.
489
Quanto à possibilidade de coligação, v. art.os 72.º e 74.º do CPPT.
490
Cfr. art.º 70.º, n.º 6, do CPPT.
491
Cfr. art.º 73.º, n.º 1, do CPPT.
492
Cfr. art.º 49.º, n.º 1, da LGT.
243
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
244
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
493
V., por exemplo, acórdão do STA de 11 de dezembro de 1996, processo n.º 018956, nos
termos do qual a falta de notificação do vogal “tem como consequência que a comissão não
pode reunir nem deliberar” e “constitui preterição de formalidades legais, inquinando de
ilegalidade a deliberação saída da reunião da Comissão que também não se mostra regular
na sua composição e funcionamento”. Mas já a falta de notificação do ato tributário não se
poderá aqui incluir. A este propósito, refere o mesmo STA (acórdão de 08/10/97, processo
n.º 019886) que a notificação de um ato tributário é um ato exterior a este, e por isso, os
vícios que afetem a notificação, podem determinar a invalidade desta e a consequente inefi-
cácia do ato (tributário) mas não afetam a sua validade, como constitui jurisprudência cor-
rente, nunca podendo por isso, ao seu arrimo, anularem-se as liquidações em causa. V., por
fim, acórdão do TCA-S de 27 de abril de 2017, processo n.º 1284/08.1BESNT.
494
V. acórdão do TCA–S de 16 de novembro de 2004, processo n.º 0615/04 (já supra citado),
no âmbito o qual se aduz que a não intervenção do perito independente requerido pelo con-
tribuinte reconduz-se a uma preterição de uma formalidade essencial, embora a mesma, em
certas situações, se possa degradar em não essencial. V. igualmente, e uma vez mais, acórdão
do STA de 19 de novembro de 2015, processo n.º 08241/14.
495
V. art.º 205.º do CPPT e acórdãos do STA de 12 de janeiro de 2005, processo n.º 0949/04;
do TCA-N de 8 de novembro de 2012, processo n.º 01128/05.6BEPRT, e do TCA-S de 10 de
novembro de 2016, processo n.º 09190/15.
245
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
c) Tempestividade
No que diz respeito ao prazo, podemos dizer que existe um prazo-regra
para a interposição da reclamação graciosa e vários prazos excecionais.
O prazo-regra é de 120 dias a contar do termo do prazo para paga-
mento voluntário497. Trata-se, naturalmente, de um prazo de natureza
procedimental ou extraprocessual, contando-se de modo corrido e nos
termos da LGT498.
Excecionalmente, a reclamação poderá ser interposta no prazo que
estiver fixado em alguma outra norma que regule as reclamações, apli-
cando-se o princípio “lex specialis derogat generali”499.
De salientar que a interposição da reclamação graciosa não prejudica
um posterior prazo para a interposição da impugnação judicial, uma vez
que é possível usar esse meio processual após o indeferimento da pri-
meira.
d) Tramitação do procedimento
Quanto à tramitação, a reclamação é, como dissemos, apresentada no
órgão periférico local, que instaurará o respetivo procedimento. Após
isso, esse mesmo órgão procederá à instrução500 , em prazo não superior
a 90 dias, com os elementos que tiver ao seu dispor – que, em princípio,
se reduzirão a provas de base documental501 – e será elaborada proposta
fundamentada da decisão.
Salvo quando a lei estabeleça em sentido diferente, a entidade com-
petente para a decisão da reclamação graciosa é o dirigente do órgão peri-
496
Cfr. acórdão do STA de 12 de dezembro de 1990, processo n.º 012991.
497
Cfr. art.º 70.º, n.º 1 e 102.º, n.º 1, alínea a) do CPPT.
498
Cfr. art.º 57.º, n.º 3 da LGT
499
Cfr., por exemplo, art.os 131.º, n.º 1; 132.º, n.º 3, e 133.º, n.º 2, do CPPT.
500
Cfr. art.º 73.º, n.º 2, do CPPT.
501
Cfr. art.º 69.º, alínea e), do CPPT.
246
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
502
Assim, art.º 75.º, n.º 1, do CPPT.
503
V. art.º 60.º, n.º 1, alínea b), e n.º 6, da LGT.
504
Cfr. art.º 69.º, alínea c), do CPPT.
505
Cfr. art.os 43, n.º 1, da LGT e 61.º, n.º 3, do CPPT. Cfr., ainda, acórdão do STA, de 6 de
junho de 2007, processo n.º 0606/06. Por outro lado, como se refere no acórdão do STA
de 18 de novembro de 2015, processo n.º 0699/15, “O ato tributário, enquanto ato divisível,
tanto por natureza como por definição legal, é suscetível de anulação parcial. O critério para
determinar se o ato deve ser total ou parcialmente anulado passa por determinar se a ilegali-
dade afeta o ato tributário no seu todo, caso em que o ato deve ser integralmente anulado ou
apenas em parte, caso em que se justifica a anulação parcial”.
506
Cfr. art.º 77.º do CPPT.
247
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
e) Impugnação da decisão
A via normal de colocar em crise a decisão administrativa de indefe-
rimento da reclamação graciosa será a impugnação judicial, que, em
regra, deverá ser apresentada no prazo 3 meses nos casos de indeferi-
mento, expresso ou tácito508. Porém, podem prever-se prazos espe-
ciais, como sucede nos casos de reclamação prévia necessária por erro
nos pagamentos por conta (situação na qual se determina um prazo de
30 dias509).
Contudo, o interessado poderá igualmente recorrer hierarquica
mente, no prazo de 30 dias, do indeferimento da reclamação, e da deci-
são desfavorável do recurso hierárquico pode ser interposto – utilizando
507
V. art.º 133.º, n.º 4, do CPPT.
508
V. art.º 102.º, n.º 1, alíneas b) e d) do CPPT.
509
Cfr. art.º 133.º, n.º 3 do CPPT.
248
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
510
Cfr. art.º 76.º, n.º 1 e 2 do CPPT.
511
Cfr. art.º 97.º, n.º 1, alínea d), do CPPT. V., também, acórdãos do STA de 21 de março 2007
(processo n.º 01073/96), 30 de maiode 2007 (processo n.º 0340/07), e 12 de junho de 2007
(processo n.º 0288/07).
512
Assim, art.º 102.º, n.º l, alínea e), do C.P.P.T.
513
Assim, art.º 102.º, n.º l, alínea d), do C.P.P.T.
514
Cfr. art.º 53.º do CPTA.
249
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
515
Com tais reclamações necessárias não se confundem as formalidades necessárias prévias
à apresentação das próprias reclamações, como sucede, por exemplo, em matéria de IVA,
âmbito no qual se exige que, antes da impugnação administrativa, sejam apresentadas as de-
clarações corretivas pertinentes (art.º 97.º, n.º 2 do CIVA). Porém, sobre as devidas caute-
las com que tais exigências devem ser interpretadas – designadamente, com o sentido de
que não se deve impor ao contribuinte a apresentação de uma “liquidação a zeros” quando
o mesmo impugna precisamente com base no argumento de que não há liquidação de IVA a
efetuar – v. acórdão do STA de 8 de março de 2015 (ou 8 de abril, atendendo à discrepância
na versão publicada eletronicamente), processo n.º 01920/13.
516
Na verdade, vários outros casos de reclamações necessárias existem, como, por exemplo, o
previsto no art.º 140.º, n.º 2, do CIRS.
517
Para desenvolvimentos, cfr. Carvalho, Cláudio, As reclamações prévias em matéria tributária,
in Scientia Iuridica, LVII, 314, Braga, 2008, 285 e ss.
250
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
Sucede que o legislador não lhe permite o acesso direto à via con-
tenciosa, obrigando-o a esgotar primeiro os canais administrativos, im
pondo-lhe a utilização da reclamação graciosa. Refere o art.º 131.º, n.º 1,
do CPPT: em caso de erro na autoliquidação, a impugnação será obri-
gatoriamente precedida de reclamação graciosa dirigida ao dirigente
do órgão periférico regional da Administração tributária, no prazo de 2
anos após a apresentação da declaração.
Porquê a consagração desta solução e porque não permitir, desde
logo, a impugnação judicial?
Parece que se pode encontrar um argumento convincente na ideia
de que, nestas situações, em rigor, ainda não existe propriamente um
conflito de pretensões entre o credor tributário e o sujeito passivo que
justifique a entrada em cena de um órgão jurisdicional. Com efeito, até
ao momento da autoliquidação, se as coisas decorrerem de acordo com
a normalidade, a Administração ainda não manifestou por forma alguma
a sua vontade e, consequentemente, ainda nada fez que possa even
tualmente lesar o contribuinte. Assim sendo, justifica-se que, antes de
ingressar em Tribunal, esta questão mereça uma apreciação por parte
daquela e, porventura, a liquidação feita seja alvo de uma correção que sa-
tisfaça as pretensões do interessado. Desta forma, dá-se também operati-
vidade ao princípio da economia dos meios processuais, não inundando
o Tribunal com questões que podem ser resolvidas em outras sedes.
Apenas assim não será se o fundamento impugnatório consistir ex-
clusivamente em matéria de Direito (v.g., interpretação de conceitos
indeterminados) e a autoliquidação tiver sido efetuada de acordo com
orientações genéricas emitidas pela Administração tributária. Nestes ca-
sos, a reclamação já terá natureza facultativa, pois os argumentos acima
expostos não terão aqui aplicabilidade (a Administração já se “pronun-
ciou” sobre a matéria)518.
Em qualquer dos casos, havendo indeferimento da reclamação, o
contribuinte pode sempre intentar a impugnação judicial subsequente-
mente.
Cfr. o que dissemos atrás acerca do procedimento de orientações genéricas (art.os 55.º e
518
56.º do CPPT). V., ainda, acórdão do STA de 31 de maiode 2006, processo n.º 026622.
251
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
519
Cfr. art.º 132.º, n.º 3, do CPPT.
252
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
também quer num caso quer no outro, a reclamação não apresenta ca-
rácter necessário se os atos houverem sido praticados em consonância
com as orientações genéricas da Administração520.
253
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
ε) Taxas locais
Finalmente, cumpre mencionar, igualmente de modo sumário, uma
outra matéria na qual se exige reclamação graciosa prévia necessária:
as taxas criadas pelas Autarquias locais. A este respeito, vale o prescrito
no art.º 16.º, n.º 5 do Regime geral das taxas das Autarquias locais (Lei
53-E/2006).
Em termos práticos, o contribuinte, munícipe ou freguês que tenha
intenções de impugnar judicialmente, por exemplo, a liquidação de uma
taxa exigida pelo Município pela instalação de uma banca num merca-
do, ou uma taxa de publicidade, ou uma taxa devida pelo licenciamento
de uma atividade ou pela utilização de uma parcela do domínio público
para instalar uma esplanada ou um quiosque, não se pode dirigir direta-
mente a Tribunal, antes deve esgotar a via administrativa de reclamação,
nos termos do referido art.º 16.º.
523
Cfr. art.os 56.º e ss. do Código aduaneiro da União.
254
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
de tal recurso tanto poderá ser (i) a anulação do ato, como (ii) a sua re-
vogação.
Quanto às suas relações com a posterior possibilidade de controlo
jurisdicional, o recurso hierárquico – de resto, tal como a reclamação
graciosa – pode ser necessário ou facultativo:
– O recurso hierárquico será necessário quando seja indispensável
para atingir a via contenciosa, ou seja, quando o interessado não
puder recorrer a Tribunal sem, previamente, ter interposto o recurso.
Trata-se de exigir ao contribuinte uma segunda audição adminis-
trativa, de modo a chegar até uma autoridade cujos atos sejam, esses
sim, sujeitos a controlo em Tribunal524;
– Diferentemente, o recurso hierárquico será facultativo quando não
seja indispensável para atingir a via contenciosa, podendo o interes-
sado recorrer a Tribunal, mesmo que não recorra hierarquicamente.
524
Deve-se ter presente que a exigência de recurso hierárquico necessário para abrir a via
contenciosa pode, em certa perspetiva, ser entendida como inconstitucional, na medida em
que (i) se estaria a violar os direitos de acesso aos Tribunais e de recurso contencioso e (ii) a
Constituição, atualmente, não exige a definitividade dos atos para que estes possam ser su-
jeitos a controlo em Tribunal. Quem assim pensa, advoga que cabe sempre recurso conten-
cioso do ato administrativo (tributário) com eficácia externa, mesmo que não verticalmente
definitivo, e assenta tal raciocínio nos seguintes argumentos:
1) A supressão do recurso hierárquico necessário favorecerá a celeridade processual;
2) A supressão do recurso hierárquico necessário assegura o máximo respeito pelas garan-
tias dos particulares, que, para além de se poderem prevalecer imediatamente da via con-
tenciosa, continuarão a poder interpor recurso hierárquico (facultativo).
Em sentido oposto, pode-se entender que a exigência de que o recurso contencioso seja
precedido de recurso hierárquico necessário – tendo em vista a formação de um ato ad-
ministrativo verticalmente definitivo – não viola a Constituição, até porque a exigência de
recurso hierárquico necessário proporciona à Administração Pública a possibilidade de re-
vogar atos com base em juízos de mérito, o que beneficia os administrados, pois o recurso
contencioso é de mera legalidade.
Pela nossa parte, a pedra de toque residirá na circunstância de não se fechar a porta da possi-
bilidade futura de recurso a Tribunal. Se após a interposição do recurso hierárquico, mesmo
que necessário, é possível o acesso a Tribunal, então a exigência de recurso necessário e defi-
nitividade vertical não será inconstitucional. V., a propósito, acórdão do TC n.º 499/96.
255
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
525
Como exemplo de um recurso hierárquico com efeito suspensivo, pode apontar-se o pre-
visto no art.º 83.º, n.º 2 do CIVA. Para um caso de recurso hierárquico necessário, v. art.º 67.º,
n.º 3 do CPPT.
526
V. acórdão do TCA – Sul, de 8 de abril de 2003, processo n.º 05366/01.
256
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
***
527
V. art.º 60.º, n.º 1, alínea b) e n.º 6 da LGT.
528
Para desenvolvimentos, v. Polónia-Gomes, Joana, A Colaboração dos Obrigados Fiscais no
Direito das Contraordenações Tributárias: Dispensa, atenuação e redução de coimas, Almedina,
Coimbra, 2018, pp. 153 e ss.
529
O procedimento contraordenacional tributário materializa o conjunto de atos, ordenados
sequencialmente, com vista à aplicação de uma sanção em decorrência da presumível prática
de uma infração tributária sob a forma de contraordenação (estas últimas, tipificadas nos
art.os 108.º e ss. do RGIT). Trata-se de um verdadeiro procedimento, com feição administra-
tiva, e cujas fases essenciais são as seguintes (de modo resumido e abreviado):
– Fase da iniciativa, a qual se consubstancia com o ato de instauração por parte da entidade
administrativo-tributária competente (art.º 67.º do RGIT). A instauração ocorre, natural-
mente, após o conhecimento da possível infração por parte da AT, conhecimento esse que
pode resultar de fontes ou proveniências diversas (art.os 56.º e ss. do RGIT) – denúncia
257
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
por pessoa ou entidade externa; auto de notícia elaborado pelo funcionário que tomou
pessoalmente o respetivo conhecimento; participação interna por outro funcionário, na
sequência de uma inspeção tributária ou outro procedimento (como o acesso a dados
bancários ou a liquidação); ou comunicação do próprio infrator.
– Fase instrutória (art.os 69.º e ss. do RGIT), no âmbito da qual se levarão à prática os atos de
investigação e de busca da verdade material que possam fundar ou não uma imputação
dos factos ao(s) autor(es). Neste passo, o “dirigente do serviço tributário competente”
– que é quem conduz esta fase – analisará os elementos de prova que repute adequados
(prova documental, testemunhal, pericial, etc.), devendo ser asseguradas ao arguido todas
as possibilidades de audição, defesa e contraprova. Importa sublinhar que o mesmo tem,
assim o entendendo, direito ao silêncio, não devendo o exercício deste direito ser entendido
como reconhecimento da prática dos factos.
– Fase decisória (art.os 76.º e ss. do RGIT), que, como se compreende, será o momento em
que o órgão administrativo-tributário competente emana a sua vontade, seja no sentido
de aplicação de uma coima ou outra sanção, seja no sentido do arquivamento do procedi-
mento.
O ato administrativo de aplicação de sanção contraordenacional pode ser objeto de recurso
contencioso (jurisdicional), no prazo de 20 dias após a respetiva notificação (art.º 80.º do
RGIT), iniciando-se então o denominado “processo contraordenacional tributário” (quanto
à suscetibilidade e necessidade de prestação de garantia para obter o respetivo efeito sus-
pensivo – eventualmente em violação do princípio da presunção de inocência –, v. acórdão do
TCA-Sul, de 15-11-2011, Processo n.º 04847/11).
530
Cf. art.º 30.º, n.º 3, do RGIT. Sempre que a regularização da situação tributária não de-
penda de tributo a liquidar pelos serviços, vale como pedido de redução a entrega da pres-
tação tributária ou do documento ou declaração em falta. Nestes casos, se o pagamento das
coimas com redução não for efetuado ao mesmo tempo que a entrega da prestação tributá-
ria ou do documento ou declaração em falta, o contribuinte é notificado para o efetuar no
prazo de 15 dias, sob pena de ser levantado auto de notícia e instaurado processo contraor-
denacional (assim, n.os 4 e 5 do art.º 30.º do RGIT).
258
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
531
V. art.º 30.º, n.os 1 e 4, do RGIT.
532
Cf. art.º 57.º da LGT.
533
Cf. art.º 29.º, n.º 4, do RGIT.
259
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
534
Questão controvertida pode ser a de saber se a apreensão de um veículo na sequência
da prática de uma contra-ordenação consubstancia um procedimento cautelar com vista à
satisfação de um crédito tributário cuja cobrança se julga duvidosa (regulado no CPPT) ou
um ato de apreensão praticado no âmbito de um processo contra-ordenacional (previsto no
RGIT). A diferença é assinalável: se for considerado um procedimento cautelar, a contagem
do prazo para a impugnação, conta-se nos termos do CPPT (onde o prazo é de 15 dias e se-
guido); já se for considerado um ato do processo de contra-ordenação, tal prazo conta-se
nos termos do RGIT (onde, atenta a aplicação subsidiária da disciplina geral das contra-
-ordenações – art.os 79.º e 80.º –, o prazo é de 20 dias e se suspende aos sábados, domingos
e feriados). O STA – acórdão de 13 de setembro de 2006, processo n.º 0736/06 – entendeu
que se está em presença de uma matéria à qual se aplica o CPPT.
535
Cfr. art.º 144.º do CPPT.
260
I. O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
536
Cfr. infra o apartado respeitante ao “Contencioso cautelar” (II, 7.).
261
Parte II
O processo tributário
537
Para uma noção diferente de processo (processo enquanto conjunto de documentos),
cfr., no âmbito da legislação tributária, os art.os 26 e ss. do CPPT.
263
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
264
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
265
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
266
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
538
Cfr., por exemplo, art.º 86.º, n.º 4, in fine da LGT.
539
Cfr., a propósito, art.º 54.º do CPPT, nos termos do qual “salvo quando forem imediata-
mente lesivos dos direitos do contribuinte ou disposição expressa em sentido diferente, não
são suscetíveis de impugnação contenciosa os atos interlocutórios do procedimento, sem prejuízo de
poder ser invocada na impugnação da decisão final qualquer ilegalidade anteriormente co-
metida” (sublinhado nosso).
267
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
540
Cfr., a respeito do tema, acórdãos do STA de 10 de janeiro de 2007, processo n.º 0722/06;
de 07 de março de 2007, processo n.º 06/07; de 17 de fevereiro de 2016, processo
n.º 0613/15, e do TCA-S de 10 de novembro de 2016, processo n.º 399/16.7BELLE.
541
Cfr. art.º 51.º da LGT.
268
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
269
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
542
V. o que supra referimos em Introdução, 2.3., g) (atos vinculados e atos discricionários),
particularmente no que concerne à distinção entre espaços discricionários e conceitos inde-
terminados.
543
Cf. art.º 97.º, n.º 1, alínea p), do CPPT.
270
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
2.1. Enquadramento
Já tivemos oportunidade de nos debruçar cuidadosamente sobre alguns
dos princípios que enquadram e moldam a atividade jurisdicional tri-
butária quando fizemos referência às dimensões constitucionais desta.
Então dissemos, entre outras coisas, que os Tribunais devem ex officio,
desaplicar normas inconstitucionais (princípio da constitucionalidade); que
são, e devem ser, em todas as ocasiões, órgãos objetiva e subjetivamente
independentes (princípio da independência); que são os únicos órgãos com
competência para dirimir litígios, proferindo a última palavra, em maté-
ria tributária (princípio da reserva da função jurisdicional); e que são o órgão
de salvaguarda e de garante por excelência das diversas garantias que
densificam o princípio da proteção jurídica.
Agora, tendo presente este enquadramento constitucional, chegou o
momento de analisar (brevemente) alguns dos princípios que então fi-
caram por analisar, observando, ainda, o seguinte:
– Alguns desses princípios já foram referidos a propósito do procedi-
mento, não sendo de acrescentar especificidades, senão as resultan-
tes da mudança de atores (o órgão decisor deixa de ser a Adminis-
tração e passa a ser o Tribunal) – é o que se passa, designadamente,
com o princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso;
– Outros princípios são já objeto de estudo exaustivo noutras sedes,
nomeadamente em Direito processual civil, pelo que a sua refe
rência exaustiva aqui seria repetitiva.
Façamos, então, uma breve referência a esses princípios.
271
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
544
V., por exemplo, acórdãos do STA de 16 de dezembro de 2015, processo n.º 01704/13, e
de 2 de junho de 2010, processo n.º 0118/10.
272
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
545
V. ainda art.º 13.º, n.º 2 do CPPT.
273
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
274
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
Por outro lado, prevê o art.º 177.º do CPPT que “a extinção da exe
cução [fiscal] verificar-se-á dentro de um ano contado da instauração,
salvo causas insuperáveis, devidamente justificadas”.
Não obstante, neste particular, entende a jurisprudência que a in-
fração ao princípio da celeridade processual não integra qualquer nuli
dade, apenas sendo suscetível de acarretar, em abstrato, responsabi-
lidade de carácter disciplinar546 (e – pergunta-se – eventual direito ao
ressarcimento de prejuízos decorrentes de incumprimentos temporais
injustificados?).
Ainda neste âmbito, deve ser enfatizado que alguns processos, aten-
dendo ao tipo de bens jurídicos ou interesses que subjazem ao respetivo
litígio, revestem-se de celeridade acrescida, e têm – sempre por determi-
nação legal – natureza necessariamente urgente, o que significa, entre
outras considerações, que os seus termos correm em férias judiciais e os
atos da secretaria são praticados no próprio dia com precedência sobre
quaisquer outros547. É o que se passa, por exemplo, com os processos de
impugnação das medidas cautelares (art.os 143.º, n.º 2, e 144.º, n.º 3, do
CPPT), os recursos em matéria de derrogação do sigilo bancário pela
AT (art.º 146.º – D), ou as reclamações dos atos do órgão de execução
fiscal (art.º 278.º, n.º 6).
Assim, art.º 36.º, n.º 2 do CPTA. Quanto aos recursos v. art.º 657.º, n.º 4, do CPC (dis
547
275
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
548
V. acórdão do TCA-S de 29 de junho de 2004, processo n.º 01261/03. V., ainda, acórdão
do TCA-N de 30 de março de 2017, processo n.º 00450/12.0BEVIS.
549
V. acórdãos do STA de 14 de fevereiro de 2013, processo n.º 049/13 e do TCA-S de 22 de
outubro de 2015, processo n.º 08843/15.
550
V. acórdão do TCA–S de 19 de fevereiro de 2002, processo n.º 4845/01.
276
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
mesmo modo que não está impedido de, na decisão, usar considerandos
por elas não produzidos551.
551
V. acórdão do STA de 21 de setembro de 2010, processo n.º 04203/10.
552
Cfr. acórdãos do STA de 6 de dezembro de 2000, processo n.º 024081 e do TCA-S de 28
de abril de 2016, processo n.º 09251/15.
553
V. acórdãos do TCA–S de 8 de maiode 2003, processo n.º 00290/03, e de 27 de janeiro de
2009, processo n.º 02543/08.
277
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
MESMO JUIZ
554
Para proveitosos desenvolvimentos, v. acórdão do STA de 03 de julho de 2019, processo
n.º 0499/04.6BECTB 01522/15.
278
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
555
Neste sentido, acórdão do STA de 26 de abril de 2007, processo n.º 0195/07.
279
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
556
Cfr. art.º s 105.º da LGT, 6.º do ETAF e 280.º, n.º 4 do CPPT.
280
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
557
V., a respeito, acórdão do STA de 15 de setembro de 2010, processo n.º 0407/10.
558
Assim, por exemplo, acórdão do STA de 17 de novembro de 2010, processo n.º 0624/10.
281
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
559
Cfr. art.º 2.º, n.º 2 do CIRC. V. também, acórdão do STA de 2 de junho de 2004, processo
n.º 01865/03.
282
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
560
Cfr. art.º 110.º, n.º 1, do CPPT.
561
V. art.º 112.º, n.º 4, do CPPT.
562
Cfr. art.º 136.º do CPPT.
563
Cfr. art.º 214.º do CPPT.
564
Cfr. art.º 140.º do CPPT.
565
V. art.º 210.º do CPPT.
566
V. art.º 280.º, n.º 1, do CPPT.
283
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
567
V. art.º 54.º, n.º 3, do ETAF.
568
V. art.º 15.º, n.º 3, do CPPT. Quanto à insuscetibilidade de o RFP representar em Tri-
bunal a Caixa Geral de Depósitos, v. acórdão do STA de 5 de dezembro de 2012, processo
n.º 0914/12. No que respeita ao Instituto da Vinha e do Vinho, ao Instituto do Emprego e
da Formação Profissional, e ao Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da
Agricultura e Pescas – IFADAP, v. acórdão de 6 de fevereiro de 2013, processo n.º 01155/11,
e jurisprudência aí referida (e, mais recentemente, de 13 de abril de 2016, processo
n.º 01068/14). Quanto à representação da APL – Administração do Porto de Lisboa, S. A.,
v., acórdão do STA de 16 de dezembro de 2015, processo n.º 01455/15. Por fim, defendendo
a possibilidade, por parte do RFP, de representação em juízo (oposição à execução fiscal) no
284
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
285
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
570
Cfr., a respeito, acórdão do TC n.º 1/96.
571
Cfr. art.º 14.º, n.º 1, in fine, do CPPT.
572
Cfr. art.os 14.º, n.º 2, e 121.º do CPPT. Uma questão que se poderia aqui suscitar é a de sa-
ber se a solução de conferir vista ao Ministério Público apenas antes de ser proferida a “deci-
são final” (art.º 14.º do CPPT) não se configura como demasiado restritiva. Nomeadamente,
poder-se-ia perguntar se tal vista não seria adequada para todas as questões controvertidas,
ainda que não se materializem em tal carácter finalístico. Por outro lado, importa sublinhar
que devem existir exceções à regra da obrigatoriedade de audição, a saber:
– Quando seja evidente o fundamento da decisão (particularmente nos casos de decisão
liminar); e
– Quando o princípio da igualdade das partes processuais impede uma dupla oportunidade
de pronúncia sobre o objeto do processo, o que acontece quando o Ministério Público
assume a representação de uma das partes (ausentes, incapazes, incertos) ou interpõe
recurso jurisdicional, adotando a veste de recorrente.
573
Cfr. art.º 127.º, n.º 3 do CPPT.
574
V. art.º 280.º, n.º 1 do CPPT.
286
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
3.3. O Tribunal
a) Jurisdição
A própria jurisprudência dos Tribunais tributários pode revelar-se ex-
tremamente útil neste domínio. O TCA refere que a jurisdição fiscal
(lato sensu = jurisdição tributária) abrangerá “todas as questões adminis-
trativas de natureza fiscal”, e estas são não só (i) as resultantes de reso-
luções autoritárias que imponham aos cidadãos o pagamento de quais-
quer prestações pecuniárias, com vista à obtenção de receitas destinadas
287
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
575
V. acórdão do TC n.º 372/94, e do TCA–S de 19 de janeiro de 1999, processo n.º 64019
288
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
576
V., a respeito, o nosso Modelos jurisdicionais tributários – uma abordagem de direito comparado,
in Scientia Jurídica, Tomo LXII – N.º 332 – Maio-agosto de 2013;
577
Assim, art.os 9.º, 9.º-A e 49.º-A do ETAF.
578
Quanto à sede e área de jurisdição dos Tribunais referidos, cfr. DL 325/2003, disponível
em http://dre.pt .
289
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
b) Competência
Contudo, para que uma lide possa ser julgada, é necessário que esteja-
mos, não só perante a ordem de Tribunais adequada, mas que estejamos
também, dentro desta, perante o Tribunal competente. Utilizando mais
uma vez a jurisprudência do TCA, podemos dizer que competência
dos Tribunais equivale aos limites dentro dos quais cada Tribunal pode
exercer a função jurisdicional – é o modo como entre todos os Tribunais
se reparte e divide o poder jurisdicional582.
Todavia, a competência de um Tribunal é uma realidade complexa
que pode ser aferida em função de vários critérios. Assim, falamos em
competência interna e em competência internacional e, dentro da pri-
meira, em competência interna em razão da matéria, em razão da hie-
rarquia, em razão do território e em razão do valor. Por razões de como-
didade didática, vamo-nos debruçar apenas sobre a competência interna
e vamos analisar sucessivamente cada um dos seus fatores aferidores.
Antes, porém, convém chamar a atenção para o facto de que esta
competência dos Tribunais da jurisdição administrativa e fiscal “fixa-
-se no momento da propositura da causa, sendo irrelevantes as modifi
cações de facto e de direito que ocorram posteriormente” (art.º 5.º,
579
V. art.º 46.º, n.º 1 do ETAF.
580
Cfr. art.º 49.º-A, n.º 4, a contrario, do ETAF.
581
Cfr. art.º 46.º, n.º 2 do ETAF.
582
V. acórdão do TCA–S de 19 de janeiro de 1999, processo n.º 64019.
290
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
n.º 1 do ETAF). A fixação é feita por lei e deve ter em atenção o princí-
pio da conveniência material, significativo da ideia de que o legislador deve
procurar “adaptar o órgão à função, assegurando a idoneidade funcional
do juiz, através de uma relação de pertinência o mais apropriada possí-
vel entre ele e a matéria da causa de que deve conhecer”583.
583
Cfr. acórdão do Tribunal de conflitos de 18 de dezembro de 2003 processo n.º 02/03.
584
Aqui, apesar de o ETAF apenas se referir aos “direitos ou interesses legalmente protegi-
dos em matéria fiscal”, será de entender que se quererá abranger todos os direitos ou inte-
resses legalmente protegidos em matéria tributária, uma vez que uma interpretação sintoni-
zada com o art.º 145.º (entre outros) do CPPT assim o impõe.
291
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
585
Cf. acórdão do STA de 9 de maio de 2012, processo n.º 0862/11 e declarações de voto
anexas.
586
Acerca da noção de serviço periférico local e de serviço periférico regional, v. art.º 6.º do
diploma de aprovação do CPPT (DL 433/99, de 26 de outubro) e quanto às regras de deter-
minação do serviço periférico local competente, v. o que dissemos supra acerca da compe-
tência territorial da Administração tributária.
292
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
587
Pela sua importância, transcrevemos um excerto de uma decisão do TCA–S de 11 de no-
vembro de 2003, processo n.º 00606/03.: “Porque o ato recorrido foi praticado pelo Sub-
diretor-Geral dos Impostos, o qual não é membro do Governo, a competência em razão da
hierarquia para conhecer do recurso também não é deste Tribunal Central Administrativo.
Note-se que membros do Governo são, de acordo com o art.º 183.º n.º 1 da Constituição da
República Portuguesa [na versão de então], são o Primeiro Ministro, os Ministros, os Secre-
tários e os Subsecretários de Estado. É certo que, como realça a Recorrente, o ato recor
rido foi praticado no uso de poderes delegados pelo Ministro das Finanças que, inques-
tionavelmente, é membro do Governo. Não significa isso, no entanto e contrariamente ao
que pretende a Recorrente, que a competência seja deste Tribunal Central Administrativo.
Na verdade, nos termos do disposto no art.º 7.º do ETAF [de então], «A competência para o
conhecimento dos recursos contenciosos é determinada pela categoria da entidade que tiver
praticado o ato recorrido, ainda que no uso de delegação de poderes». Assim, não cabendo
a competência para conhecer do recurso nem ao Supremo Tribunal Administrativo nem ao
Tribunal Central Administrativo, a mesma está cometida aos tribunais tributários de 1.ª ins-
tância”.
293
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
588
V. art.º 6.º, n.º 1, do CPPT.
294
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
Neste particular, começa por referir o art.º 6.º do ETAF, no seu n.º 1,
que “os tribunais da jurisdição administrativa e fiscal têm alçada”.
Esta referência, aparentemente óbvia, merece saliência em virtude do
facto de o anterior ETAF prever exatamente a regra oposta, isto é a re-
gra de que os Tribunais desta ordem não teriam qualquer alçada.
295
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
589
Cfr. acórdãos do STA de 24 de fevereiro de 2016, processo n.º 01291/15 e de 05 de julho
de 2017, processo n.º 0445/17.
590
Importa igualmente referir que a alçada do Tribunal Central Administrativo corresponde
à que se encontra estabelecida para os Tribunais de relação e, nos processos em que exerçam
competências de 1.ª instância, a alçada do Tribunal Central Administrativo e do Supremo
Tribunal Administrativo corresponde, para cada uma das suas secções, respetivamente, à dos
Tribunais Administrativos de Círculo e à dos Tribunais Tributários (art.º 6.º, n.º 5 do ETAF).
A alçada dos tribunais administrativos de círculo corresponde àquela que se encontra esta-
belecida para os tribunais judiciais de 1.ª instância (art.º 6.º, n.º 3 do ETAF).
296
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
297
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
298
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
591
Cf. art.º 18.º, n.º 1, do CPPT.
592
Cfr. supra, I, 2.1., b).
593
Assim, art.º 212.º, n.º 3, da CRP.
594
A respeito do tema da ampliação do pedido em matéria tributária, v., por exemplo,
acórdão do STA de 15 de maiode 2013, processo n.º 01476/12. Aí se refere que em processo
de impugnação judicial é admissível a ampliação do pedido e da causa de pedir, nos termos
do disposto no artigo 63.º do CPTA, ex vi do artigo 2.º, alínea e), do CPPT, sempre que se
299
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
5. O formalismo processual
300
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
595
Cf., respetivamente, art.os 144.º, n.º 2, e 146.º-B, n.º 1, do CPPT.
596
Cf., respetivamente, art.os 207.º, n.º 1, e 277.º, n.º 2, do CPPT
597
Cf. art.º 103.º, n.º 1, do CPPT.
301
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
598
Cfr., a propósito, art.º 195.º do CPC.
599
Cfr. art.º 113.º do CPPT.
600
V. art.º 98.º, n.º 2, do CPPT.
601
V. art.º 98.º, n.º 1, do CPPT.
302
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.1. Introdução
602
Assim, art.º 98.º, n.º 3, do CPPT.
603
Cfr. 196.º do CPC , subsidiariamente aplicável por via do art.º 2.º do CPPT.
604
V. acórdãos do TCA–S de 19 de outubro de 2004, processo n.º 07203/02, e de 29 de
junho de 2010, processo n.º 4080/10.
605
V., por exemplo, acórdãos do STA de 5 de julho de 2012, processo n.º 873/11, de 5 de ju-
lho de 2017, processo n.º 0574/15, e de 17 de maio de 2017, processo n.º 0302/17.
303
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
606
Por razões de ordem didática, como se poderá facilmente compreender, não se pode, no
ensino universitário atual, proceder nem a um estudo muito detalhado de cada uma dessas
formas, nem tão pouco a um estudo exaustivo que as acolha a todas. Desta forma, tentare-
mos debruçar a nossa atenção apenas sobre aquelas que, do ponto de vista da incidência prá-
tica, nos parecem mais interessantes e úteis.
304
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
305
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
607
Cfr. art.º 131.º do CPPT.
608
Cfr., em geral, art.º 97.º, n.º 1, do CPPT.
609
Cfr. art.º 134.º do CPPT.
610
Cfr. art.º 76.º, n.º 2, do CPPT.
611
Cfr. art.º 77.º, n.º 3, do CPPT.
612
Cfr. art.º 132.º do CPPT.
613
Cfr. art.º 133.º do CPPT.
306
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
c) Recurso contencioso
Por outro lado, e uma vez que em muitos casos o chamamento do Tribu-
nal tributário pressupõe uma atuação administrativa prévia (com pon-
tuais exceções) a impugnação judicial configura-se como um recurso
do ato que resulta dessa atuação, falando-se, a tal propósito, em recurso
contencioso. Contudo, também aqui devem ser distinguidos um sentido
amplo e um sentido restrito:
– Em sentido amplo, recurso contencioso significa o meio processual
adequado para sindicar jurisdicionalmente um ato administrativo
(tributário), abrangendo todos os meios processuais em que tal
aconteça;
– Em sentido restrito, porém, deve ser entendido como o meio pro-
cessual adequado para sindicar um ato administrativo tributário,
mas em que não esteja em causa a apreciação da legalidade de um
ato de liquidação ou de um ato que comporta a apreciação da lega-
lidade de um ato de liquidação614, como será o que acontece, por
exemplo, quando o ato a impugnar seja um ato de indeferimento
ou de revogação de isenções ou outros benefícios fiscais, quando
dependentes de reconhecimento da Administração tributária.
Será, aqui, sinónimo de ação administrativa615.
307
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
616
Cfr. art.º 97.º, n.º 3 da LGT e art.º 98.º, n.º 4 do CPPT. V., ainda, acórdãos do STA de 08 de
julho de 2009, processo n.º 0530/09, e de 12 de outubro de 2016, processo n.º 0424/16.
308
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
617
Cfr., por exemplo, acórdão do STA de 6 de março de 2013, processo n.º 01234/12. Entre
outros, podem ainda referir-se os acórdãos do STA de 14 de fevereiro de 2013, processo
n.º 014/13; de 30 de janeiro de 2013, processo n.º 0820/12 e de 3 de maio de 2017, processo
n.º 0649/16.
618
Refere a respeito o STA (acórdão de 10 de abril de 2013, processo n.º 1159/12), que é pres-
suposto da convolação que toda a ação passe a tramitar segundo a nova forma processual e
não apenas quanto a algum dos seus fundamentos.
309
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
dois importantes aspetos deste processo: (i) a sua natureza e (ii) o seu
objeto.
i) Quanto à natureza do processo de impugnação judicial, pode-se le-
vantar a questão de saber se estamos perante uma verdadeira ação
ou um mero recurso. A consideração neste último sentido parte do
entendimento de que a impugnação judicial mais não seria do que
uma continuação do procedimento administrativo de liquidação e
cobrança dos tributos, acontecendo apenas a circunstância de que
tal procedimento teria culminado num ato supostamente inválido.
Contudo, este não parece ser o entendimento correto, uma vez
que, em rigor, com a impugnação judicial discute-se um verdadei-
ro conflito de interesses, e com a respetiva petição inicial nasce, de
facto, uma ação (um processo) autónoma(o).
ii) No que ao seu objeto diz respeito, levanta-se o problema de saber
se o processo de impugnação judicial tem por objeto a relação jurí
dica tributária, ou antes o ato tributário, maxime o ato de liquidação.
Embora do ponto de vista do contribuinte fosse mais vantajosa esta
última visão – pois “anulavam-se” todos os efeitos jurídicos produ-
zidos no âmbito daquela relação jurídica, e não apenas os efeitos de
um único ato em concreto – o certo é que, indubitavelmente, é o
ato de liquidação (ou equiparado) o seu objeto.
619
Cfr. art.º 68.º do CPPT.
310
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
311
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
622
V. art.º 96.º, n.º 2, do CPPT. Contudo, em alguns casos especiais, e como já observamos,
tal prazo é de 90 dias (cfr. art.º 96.º, n.º 3, do CPPT).
623
Por aqui já se vê que, por exemplo, se o contribuinte quiser anular um ato de liquidação e
o único meio probatório de que dispõe é o recurso a testemunhas, não poderá, em princípio,
utilizar a reclamação graciosa, mas sim o processo de impugnação judicial.
624
Cfr. art.º 122.º, n.º 2, do CPPT, nos termos do qual “o impugnante, se decair no todo ou
em parte e tiver dado origem à causa, será condenado em custas e poderá sê-lo, também, em
sanção pecuniária, como litigante de má fé”.
625
Sem prejuízo, também já o sabemos, do “agravamento da coleta”, aplicado a título de
custas (art.º 77.º do CPPT.
312
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
626
Apenas porque a questão tem sido recorrentemente colocada, saliente-se que a prescri-
ção da dívida não constitui vício invalidante do ato de liquidação e, por isso, não serve de
fundamento à impugnação. Assim, entre outros, acórdão do STA de 18 de junho de 2013,
313
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.2.4. Tempestividade
Embora também já tenhamos feito referência aos prazos em que a
impugnação judicial deve ser interposta – pelo menos alguns deles –
impõe-se, agora, uma análise mais pormenorizada dos mesmos.
De modo a melhor compreendermos as regras de tempestividade
que aqui relevam, talvez seja aconselhável distinguir duas situações: por
um lado, (i) aquelas em que a impugnação é intentada, por assim dizer,
ab initio, ou seja, como modo de reação inicial e primeiro contra o ato
tributário potencialmente inválido; por outro lado, (ii) as situações em
que a impugnação não é o primeiro meio de reação do contribuinte,
mas antes o segundo, surgindo no seguimento de uma reclamação gra-
ciosa indeferida.
Vejamos, então.
i) Quando o contribuinte decide, desde logo, atacar o ato potencial-
mente inválido e lesivo diretamente em Tribunal, mediante a apre-
processo n.º 0217/13. V., também, acórdão do TCA-N de 16 de março de 2017, processo
n.º 01892/15.4BEBRG.
314
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
627
Nos termos do art.º 102.º, n.º 4, do CPPT, o prazo referido no texto não prejudica a exis-
tência de outros. Deve-se salientar igualmente que se o fundamento for a nulidade, a im-
pugnação pode ser deduzida a todo o tempo (art.º 102.º, n.º 3, do CPPT).
628
Cfr. art.º 22.º, n.º 5, da LGT.
629
Cfr., por exemplo, art.º 131.º e ss. do CPPT.
630
Cfr. art.º 106.º do CPPT e 57.º, n.os 1 e 5, da LGT.
631
V. infra IV, 1.3.2., a).
632
Assim, art.º 20.º, n.º 1, do CPPT. Cfr., ainda, art.º 57.º, n.º 3 da LGT. Por último, v., por
exemplo, acórdãos do STA de 30 de janeiro de 2013, processo n.º 951/12 e de 22 de maiode
2013, processo n.º 0405/13 e acórdão do TCA-S de 19 de novembro de 2015, processo
n.º 09059/15.
315
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.2.5. A tramitação
633
Quanto à coligação (sujeitos) e à cumulação de pedidos, cfr. art.º 104.º e 105.º do CPPT.
É importante salientar que nos casos em que a cumulação se afigure inapropriada, não deve
o Tribunal rejeitar liminarmente a petição, mas antes ordenar a notificação do impugnante
para, nos termos do disposto nos art.º 4.º, n.º 3 do CPTA, ex vi art.º 2.º, alínea c), do CPPT, e
no prazo de dez dias, esclarecer o pedido que quer ver apreciado. Só no caso do impugnante
nada dizer, poderá o Tribunal absolver a Fazenda Pública da instância, sem prejuízo do im-
pugnante poder, nos termos do disposto no artigo 4.º, n.º 4 do CPTA, interpor nova impug-
nação no prazo de 30 dias, a contar do trânsito em julgado da decisão, considerando-se apre-
sentada na data de entrada da primeira. Assim, acórdão do STA de 24 de janeiro de 2007,
processo n.º 0667/06. V., ainda, a respeito do tema da coligação, acórdãos de 14 de fevereiro
de 2013, processo n.º 01067/12 e de 6 de março de 2013, processo n.º 01327/12
634
Cfr. art.º 49.º, n.º 1, da LGT.
635
Cfr. art.º 103.º do CPPT.
316
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
317
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
318
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
647
Cfr., em outro contexto todavia, acórdão do STA de 23 de abril de 2013, processo
n.º 0522/13.
648
Cfr. art.º 103.º, n.º 4, do CPPT. Para desenvolvimentos, v. supra, Introdução, 5.3.
649
Cfr. art.º 54.º do ETAF.
650
Cfr. art.º 110.º, n.º 1, do CPPT.
651
Cfr. art.º 110.º, n.º 7 do CPPT.
319
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
652
Assim, art.º 110.º, n.º 4, do CPPT. Sem prejuízo, o juiz pode, a todo o tempo, ordenar ao
serviço periférico local a remessa, por via eletrónica, do processo administrativo, mesmo na
falta de contestação do representante da Fazenda Pública (n.º 5).
653
Cfr. art.º 112.º, n.os 1 e 2 do CPPT. Note-se que, nos termos do n.º 3 do referido art.º 112.º,
se o ato impugnado for revogado parcialmente, o órgão que procede à revogação deve, em
3 dias, notificar o impugnante para, no prazo de 10 dias, se pronunciar, prosseguindo o pro-
cesso se o impugnante nada disser ou declarar que mantém a impugnação. Por outro lado,
nessa mesma situação (revogação parcial), deve o representante da Fazenda Pública ser no-
tificado, podendo este contestar no prazo de 30 dias. 112.º, n.º 5 do CPPT.
654
Cfr., por exemplo, acórdão do STA de 22 de março de 2006, processo n.º 0773/05. Re-
corde-se que esta revogação administrativa não pode ser considerada uma “anulação oficiosa
por iniciativa da Administração Tributária”, para efeitos do que dispõe a alínea b) do n.º 3
do artigo 43.º da LGT. Isto porque, tendo a anulação tido lugar apenas depois de apresen-
tada a impugnação judicial, tal significa que o ato tributário foi revogado já no âmbito pro-
cessual e não verdadeiramente por iniciativa administrativa. Admitir o contrário significaria
conferir ao autor do ato a possibilidade de evitar o pagamento de juros indemnizatórios nos
casos em que ocorre um erro que lhe é imputável, bastando para tal limitar-se a revogar o
320
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
ato no prazo da sua contestação. Cfr. acórdão do STA de 17 de novembro de 2010, processo
n.º 0467/10.
655
Cfr. acórdão do STA de 14 de fevereiro de 2002, processo n.º 022169.
656
Da mesma forma, prescreve o art.º 97.º, n.º e da LGT que “ordenar-se-á a correção do
processo quando o meio usado não for o adequado segundo a lei”.
657
V., a respeito, acórdão do TCA–S de 19 de outubro de 2004, processo n.º 07203/02, onde
se pode ler: “A lei não impõe qualquer despacho em que o juiz exprima o seu juízo sobre a
possibilidade ou impossibilidade de conhecimento imediato do pedido, juízo que fica implí-
cito na tramitação que imprimir ao processo: se ordenar a realização de qualquer diligência
de prova, quer ela tenha sido requerida pelo impugnante ou pela Fazenda Pública, quer o
faça ex officio, é porque entende que o processo ainda não reúne as condições para conhe-
cer do pedido; se proferir sentença de imediato, é porque entende desnecessária a produ-
ção de prova. (...). Aliás, qual seria a utilidade desse despacho? Se o juiz entende conhecer
imediatamente do pedido, não vemos por que há-de proferir despacho a anunciar que o vai
fazer e só depois conhecer do pedido, ao invés de fazê-lo de imediato. Tal despacho não te-
ria utilidade alguma, nem sequer a de dar a conhecer ao impugnante e à Fazenda Pública
que não houve lugar à produção de prova. É que as partes, logo que notificadas da sentença,
facilmente se podem aperceber de que não houve fase de instrução, quer porque não foram
notificadas da prática de quaisquer diligências instrutórias, quer porque não foram notifi-
cadas para alegar nos termos do art.º 120.º do CPPT, quer porque na sentença não existirá
qualquer referência àquelas diligências na apreciação crítica dos elementos de prova que o
juiz utilizou para formar a sua convicção”.
658
Cfr. art.º 113.º, n.º 1, do CPPT.
321
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.2.5.4. A instrução
A fase seguinte é a fase da instrução – aquela fase em que são carreados
para o processo os elementos de prova necessários para a tomada de de-
cisão por parte do juiz.
Como é sabido, as provas “têm por função a demonstração da reali-
dade dos factos”660 e, em função destes últimos, podem assumir natu
reza muito diversa (v.g., documentos, depoimentos, inspeções).
No que diz particularmente respeito ao arsenal probatório no pro-
cesso de impugnação judicial – e diferentemente do que acontece em
sede de reclamação graciosa – são admitidos os meios gerais de prova661,
merecendo particular destaque662:
i) A prova documental, seja mediante documentos autênticos (os
que são “exarados, com as formalidades legais, pelas autoridades
públicas nos limites da sua competência”), seja mediante do
cumentos particulares (os restantes), desde que o juiz lhe atribua
relevância probatória. Refira-se a este propósito que a genuinidade
de qualquer documento deve ser impugnada no prazo de 10 dias
após a sua apresentação ou junção ao processo663.
ii) A prova testemunhal, que resulta da transmissão ao Tribunal, por
certas pessoas – que não poderá exceder o número de 3 por cada
facto e 10 por cada ato tributário impugnado –, de informações de
facto que interessam à decisão da causa664.
659
Assim, acórdão do STA de 23 de novembro de 2005, processo n.º 0612/05. Acerca da
consideração do indeferimento liminar como um elemento de proteção em face da “litigân-
cia persecutória e aleatória” (“processos infundamentados ou mesmo absurdos”), v. acórdão
do TC n.º 160/2007.
660
Cfr. art.º 341.º do CC.
661
V. art.º 115.º, n.º 1, do CPPT.
662
Para especificidades de regime, cfr. os diversos números dos artigos 115.º a 119.º do CPPT.
663
V. art.º 115.º, n.º 4, do CPPT.
664
Cfr. art.º 118.º, n.º 1, do CPPT. V., a propósito, acórdão do TCA – N de 21 de outubro de
2004, processo n.º 00063/04.
322
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
iii) A prova pericial, que já diz respeito não à simples perceção de fac-
tos (como as testemunhas), mas também à apreciação ou valoração
dos mesmos. Neste caso, torna-se indispensável que a apreensão
dos factos assente sobre conhecimentos especiais de base científi-
ca, técnica ou experiencial que o Tribunal não possui, estando na
disponibilidade deste (oficiosamente ou a requerimento) recorrer
ou não a este tipo de prova665.
Como já foi referido, vale aqui, ou melhor vale também aqui, o prin-
cípio segundo o qual o juiz pode praticar e ordenar a prática das dili-
gências de produção de prova – diligências essas que serão efetuadas no
Tribunal666 – que entenda convenientes para o apuramento da verdade
material (princípio do inquisitório), não estando limitado ao material apre-
sentado pelas partes. De resto, o juiz pode mesmo entender não levar à
prática as diligências probatórias requeridas pelas partes (v.g., inquiri-
ção de testemunhas, audição de um perito) – e sem estar a incorrer em
nulidade processual –, na medida em que lhe incumbe avaliar se já tem
ao seu dispor todos os elementos relevantes para decidir e, sendo caso
disso, ter conhecimento já imediato da questão667.
Além disso, o juiz goza de prerrogativas de livre apreciação das provas,
o que significa que o mesmo pode valorá-las de modo amplo, conside-
rando o seu próprio modo de entender e percecionar a realidade – de-
signadamente, apelando a parâmetros de racionalidade e a regras da
experiência –, sem, contudo, introduzir na fundamentação aspetos abso
lutamente subjetivos ou respeitantes a convicções pessoais. Neste par-
ticular, têm os Tribunais entendido que “[s]e a decisão do julgador, de-
vidamente fundamentada, for uma das soluções plausíveis, segundo as
regras da lógica, da ciência e da experiência, ela será inatacável, visto ser
proferida em obediência à lei que impõe o julgamento segundo a livre
convicção”668. Por conseguinte, pode o juiz credibilizar ou não credibili-
zar determinado depoimento; atribuir maior ou menor preponderância
ao resultado de uma peritagem; ou interpretar certas atuações num sen-
665
Cfr. art.º 116.º, n.os 1 e 2, do CPPT.
666
Cfr. art.º 114.º do CPPT.
667
V. acórdão do STA de 14 de setembro de 2016, processo n.º 0946/16.
668
Assim, acórdão do TCA-N de 15 de outubro de 2015, processo n.º 00942/07.2BEPRT.
323
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.2.5.5. Alegações
Finda a produção da prova, segue-se uma fase que era tradicionalmente
obrigatória e que passou a eventual, fruto de recentes alterações legisla-
tivas: as alegações671.
Com efeito, nos termos do art.º 120.º do CPPT, a notificação para as
partes alegarem por escrito fica dependente da verificação de uma de
duas condições:
i) Haja sido produzida prova que não conste do processo (dossier) ad-
ministrativo; ou
ii) O Tribunal o entenda necessário.
669
V. art.º 114.º, in fine, do CPPT. V., supra, II., apartado 2.9.
670
V. art.º 100.º, n.º 1, do CPPT e acórdão do TCA-Sul de 18 de junho de 2015, processo
n.º 07452/14. Sobre as denominadas “provas diabólicas” (como as provas de factos negati-
vos) v. acórdãos do STA de 05 de julho de 2012, processo n.º 0286/12; do TCA-N de 14 de
março de 2013, processo n.º 00997/12.8BEPRT; ou do TCA-S de 19 de fevereiro de 2013,
processo n.º 06372/13.
671
Cfr. art.º 3.º da Lei 118/2019 que alterou, entre muitos outros, o art.º 120.º do CPPT.
324
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
672
Assim, acórdãos do STA de 17 de maio de 2017, processo n.º 0302/17, e do TCA – S de 19
de outubro de 2004.
673
Assim, acórdão do STA de 02 de junho de 2010, processo n.º 026/10
674
Assim, declaração de voto da Conselheira Ana Paula Lobo, anexa ao acórdão do STA de
03 de julho de 2019, processo n.º 0499/04.6BECTB 01522/15.
675
V., uma vez mais, acórdão do STA de 02 de junho de 2010, processo n.º 026/10.
325
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.2.5.7. Sentença
Finalmente, serão os autos conclusos para decisão do juiz, que profe
rirá sentença, que deverá ser posteriormente notificada (no prazo de
10 dias) ao Ministério Público, ao impugnante e ao representante da
Fazenda Pública682.
676
V. art.º 121.º, n.º 1, do CPPT.
677
V. acórdãos do STA de 6 de março de 2013, processo n.º 0842/12 e de 14 de setembro de
2016, processo n.º 0946/16.
678
Cfr. acórdão do STA de 4 de março de 1998, processo n.º 020830.
679
Assim, acórdão do STA de 18 de junho de 2003, processo n.º 0807/03.
680
Cf. acórdãos do STA de 31 de outubro de 2000, processo n.º 025516 e de 15 de maio de
2013, processo n.º 01021/12.
681
Neste sentido, acórdãos do STA de 5 de novembro de 1997, processo n.º 021043 e de 15 de
março de 1998, processo n.º 020830.
682
V. art.os 122.º, n.º 1, e 126.º do CPPT.
326
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
Esse juiz, de acordo com a jurisprudência, não tem que ser o mesmo
que presidiu à instrução683.
Nos termos do art.º 123.º, “a sentença identificará os interessados e
os factos objeto de litígio, sintetizará a pretensão do impugnante e res-
petivos fundamentos, bem como a posição do representante da Fazenda
Pública e do Ministério Público, e fixará as questões que ao tribunal
cumpre solucionar”. Além disso, deve o juiz discriminar, de uma forma
fundamentada, a matéria provada da não provada.
A sentença será nula se684:
– Faltar a assinatura do juiz;
– Não forem especificados os fundamentos (de facto e de Direito) da
decisão685;
– Houver oposição entre os fundamentos e a decisão686;
– O juiz não se pronunciar sobre questões que deva obrigatoriamente
fazê-lo (v.g., por serem de conhecimento oficioso);
– O juiz se pronunciar sobre questões que não deva conhecer (ex
cesso de pronúncia).
683
Assim, acórdão do TCA-S de 12 de julho de 2017, processo n.º 415/12.1BEBJA.
684
V. art.º 125.º, n.º 1, do CPPT.
685
Sobre o dever de fundamentação, v. acórdãos do STA de 16 de janeiro de 2013, processo
n.º 0343/12; de 6 de março de 2013, processo n.º 0828/12; de 6 de maio de 2015, processo
n.º 01340/14, e acórdãos do TCA-S de 19 de fevereiro de 2015, processo n.º 05336/12 e de
10 de novembro de 2016, processo n.º 09865/16. Neste particular (lê-se nesta última deci-
são), constitui jurisprudência reiterada e constante do STA, que “apenas a absoluta falta de
fundamentação” – e não também a fundamentação medíocre, insuficiente, incongruente ou
contraditória – é geradora de nulidade da decisão, sendo que “aqueles outros vícios poderão
afetar o seu valor doutrinal, sujeitando-a ao risco de ser revogada no recurso, mas não deter-
minando a respetiva nulidade”.
686
Em referência específica a estes casos refere o STA (acórdão de 28 de julho de 2010, pro-
cesso n.º 0477/10: “Entre os fundamentos e a decisão não pode haver contradição lógica; se,
na fundamentação da sentença, o julgador seguir determinada linha de raciocínio, apon
tando para determinada conclusão, e, em vez de a tirar, decidir noutro sentido, oposto ou
divergente, a oposição será causa de nulidade da sentença”. V. também, do mesmo Tribunal,
acórdão de 12 de maio de 2016, processo n.º 01441/15.
327
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
687
Cfr. art.º 125.º, n.º 2 do CPPT.
688
V. acórdão do STA de 6 de maio de 2015, processo n.º 01340/14.
689
Neste sentido, acórdãos do TCA-S de 12 de outubro de 2004, processo n.º 00093/04 e de
20 de outubro de 2009, processo n.º 03206/09.
690
Cfr. n.º 2 do artigo 576.º do CPC, aplicável ex vi da alínea e) do art.º 2.º do CPPT, e acór-
dãos do STA de 2 de junho de 2010, processo n.º 0154/10 e de 6 de novembro de 2014, pro-
cesso n.º 01751/13.
328
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
691
V., a respeito, acórdão do STA de 24 de janeiro de 2007, processo n.º 0159/06 e de 3 de
fevereiro de 2010, processo n.º 01018/19.
692
Cfr. acórdãos do STA de 20 de outubro de 2004, processo n.º 01076/03 e de 11 de outu-
bro de 2006, processo n.º 01121/05.
693
Cfr. art.os 205.º, n.º 2, da CRP e 100.º da LGT.
329
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
694
Assim, acórdão do STA de 11 de outubro de 2006, processo n.º 01121/05.
695
V. acórdão do STA de 30 de janeiro de 2019, processo n.º 0564/18.2BALSB.
696
V. art.º 43.º, n.º 1 da LGT. Saliente-se que muito embora o preceito refira as expressões
“reclamação graciosa” e “impugnação judicial” estas “não devem ser interpretadas literal-
mente, mas sim extensivamente, por forma a abranger outros meios administrativos e con-
tenciosos que os sujeitos passivos têm ao seu dispor para impugnação dos atos de liquida-
ção” (assim, acórdãos do STA de 03 de maiode 2006, processo n.º 0350/06 e TCA-S de 26
de junho de 2014, processo n.º 07726/14). Refira-se que, igualmente, pode haver lugar ao
pagamento de juros moratórios (art.º 102.º, n.º 2 da LGT); a respeito destes, v. acórdãos do
STA de 07 de março de 2007, processo n.º 01220/06 e do TCA-S de 28 de abril de 2016, pro-
cesso n.º 08784/15.
697
Quanto à possibilidade de cumulação de juros indemnizatórios e moratórios sobre a
mesma quantia e relativamente ao mesmo período de tempo, o STA inverteu aquela que
constituía a sua posição (por exemplo, ínsita no acórdão de 06 de fevereiro de 2013, pro
cesso n.º 01114/12), passando a admitir expressamente tal possibilidade – cfr. acórdão do
STA de 07 de junho 2017, processo n.º 0279/17.
330
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.2.7. Os incidentes
Após a análise da tramitação, por assim dizer, regular do processo de
impugnação judicial, impõe-se agora uma referência, ainda que breve, a
algumas tramitações acessórias ou laterais daquela, mas que nela podem
influir – os incidentes. Estes mais não são do que enxertos ou conjuntos
de atos destacáveis de um processo, resolvidos autonomamente.
Em qualquer processo, e no âmbito da tentativa de resolução da
questão principal – aquela que leva as partes a Tribunal (v.g., a aprecia-
ção da legalidade de um ato tributário) – pode surgir outra questão que
com ela se relaciona e que se assume como prejudicial, no sentido em
que a solução a dar àquela depende da prévia solução a dar a esta. Tal
questão prejudicial pode ser designada por questão “incidental” e, na
medida em que é resolvida autonomamente, convoca o nascimento de
uma tramitação própria que se designa por “incidente”. Deste modo, ca-
racterísticas marcantes de um incidente são (i) a acessoriedade em rela-
ção à questão principal e (ii) a autonomia da respetiva tramitação.
Embora a teoria geral do processo conheça outros700, o legislador,
em processo de impugnação judicial, autonomizou três incidentes (art.º
127.º, n.º 1 do CPPT):
i) O incidente de assistência. Trata-se aqui de permitir a intervenção
no processo de alguém que tem um interesse indireto na reso
698
Cfr. acórdão do TCA-S de 26 de outubro de 2004, processo n.º 02465/99.
699
V. o que dissemos surpa, Introdução, apartado 3.3. (A força das decisões jurisdicionais e a
execução de julgados).
700
Como, por exemplo, os incidentes de incompetência relativa, falsidade, ou verificação do
valor da causa.
331
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
701
Cfr., a propósito, acórdão do STA de 10 de janeiro de 2007, processo n.º 01001/06.
702
Como se sabe, tal princípio destina-se a promover que a ninguém seja dificultado ou
impedido, em razão da sua condição social ou cultural, ou por insuficiência de meios eco-
nómicos, de conhecer, fazer valer ou defender os seus direitos. A proteção jurídica daqui
resultante – que reveste as modalidades de consulta jurídica e de apoio judiciário – pode
ser requerida, em geral, pelas pessoas que demonstrem não dispor de meios económicos
bastantes para suportar os honorários dos profissionais forenses, e para custear os encargos
normais de uma causa judicial.
332
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
Após o incidente ter sido suscitado (por exemplo, mediante uma pe-
tição ou um requerimento), o juiz dispõe de um prazo de 15 dias para
responder, devendo o Ministério Público ser ouvido obrigatoriamente
antes da decisão (art.º 127.º, n.os 2 e 3 do CPPT).
Em tudo o resto, os incidentes serão processados e julgados nos ter-
mos do Código de Processo Civil (art.º 128.º do CPPT).
333
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
703
Cfr. art.º 76.º, n.º 2, do CPPT.
334
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
Por fim, não pode deixar passar-se em claro o facto de que também
são suscetíveis de impugnação judicial os atos de auto-liquidação706, de
retenção na fonte707, de pagamento por conta708, casos em que, como re-
gra, se exige o esgotamento da via de reclamação administrativa, motivo
pelo qual se remete para o que supra se disse a tal propósito709.
704
V., a respeito, art.º 13.º, n.º 3, do CIMI.
705
Cfr. art.os 77.º, n.º 3, do CPPT ou 91.º, n.º 7, da LGT.
706
Cfr. art.º 131.º do CPPT
707
Cfr. art.º 132.º do CPPT.
708
Cfr. art.º 133.º do CPPT.
709
Cfr. I, 5.8.3., f ).
335
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
710
Para maiores e profícuos desenvolvimentos, úteis na compreensão destas matérias e pres-
supostos na teleologia destas Lições, v. Almeida, Mário Aroso de, Manual de Processo Adminis-
trativo, Almedina, Coimbra, reimpressão da 3.ª edição, 2017; Brito, Wladimir, Lições de Direi-
to processual administrativo, 2.ª edição, Coimbra editora, Coimbra, 2008, 87 e ss.; e Fonseca,
Isabel Celeste, Direito processual administrativo – roteiro prático, 3.ª edição, Almeida & Leitão,
Lda, Porto, 2011, 101 e ss..
711
Cfr. art.º 97.º, n.º 1 alínea p) e n.º 2 do CPPT. V., a respeito, acórdãos do STA de 8 de
novembro de 2006, processo n.º 0382/06 e de 3 de maio de 2017, processo n.º 0777/16.
712
Cfr. acórdão do STA de 2 de maiode 2007, processo n.º 01128/06.
336
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
713
Cfr. art.os 37.º, n.º 1, e 50.º do CPTA.
714
Cfr. art.os 58.º, n.º 1, alínea b), do CPTA.
715
Cfr. art.os 78.º, n.os 1 e 2, do CPTA.
716
Cfr. art.os 81.º e 82.º do CPTA.
717
Cfr. art.º 83.º, n.º 4, do CPTA.
718
Cfr. art.º 87.º do CPTA.
337
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
719
Cfr. art. 87.º-A, do CPTA. Deve notar-se que, nos termos do art.º 87.º-B, tal audiência
pode não se realizar.
720
Assim, art.º 87.º-C, do CPTA.
721
Cfr. art.º 90.º do CPTA.
722
Cfr. art.os 91.º, n.º 1, e 91.º-A, do CPTA.
723
Cfr. art.º 94.º do CPTA.
338
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
Por aqui se vê que são três, entre outras, as notas distintivas deste
meio processual:
i) É uma autêntica ação, instaurada ex novum no Tribunal tributário,
não tendo, portanto, natureza recursiva, assumindo as caracterís-
ticas de uma verdadeira ação declarativa de simples apreciação (o
interessado não está a colocar em crise nenhum ato lesivo ante-
rior);
ii) Tem atrás de si um comportamento, positivo ou negativo (por ação
ou por omissão), de não reconhecimento administrativo;
iii) Tem por finalidade a definição futura de situações jurídicas seme-
lhantes.
724
A este propósito, cfr. acórdão do TC n.º 435/98, disponível em http://www.tribunal
constitucional.pt.
339
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
725
Refere, por exemplo, o STA, num acórdão de 17 de maiode 2006, processo n.º 01252/05:
“(…) Daí que se recuse a este meio processual a função de uma segunda garantia de recurso
aos tribunais, perdida a primeira pela preclusão do respetivo prazo”. V., ainda, acórdãos do
STA de 6 de maio de 2015, processo n.º 01949/13, e de 17 de outubro de 2012, processo
n.º 0295/12.
726
O referido no texto não prejudica, entende o STA, a cumulação de pretensões, designa-
damente, a possível utilização simultânea desta ação para apreciação de vários pedidos, v.g.,
de reconhecimento de um estatuto e de anulação de ato de tributação. De facto refere-se
no acórdão de 2 de junho de 2010, processo n.º 0118/10, que “quando justificadamente o
contribuinte pretende a definição judicial dos seus direitos em matéria tributária para além
da mera impugnação contenciosa de atos de liquidação, não há obstáculo a que utilize a ação
para reconhecimento de um direito ou interesse legítimo em matéria tributária, em que
cumule com o pedido de anulação de atos os pedidos que entender adequados. Esta adequa-
ção processual [prossegue-se adiante] da ação para reconhecimento de um direito ou inte-
resse legítimo em matéria tributária não implica, naturalmente, que os pedidos formulados
tenham viabilidade de procedência, nem significa que o interessado possa ganhar direitos de
impugnação que já tenham caducado, mas as questões de saber se esses pedidos devem ou
não proceder têm a ver com o mérito da ação e não com a forma de processo adequado para
os apreciar, que não pode deixar de ser a ação para reconhecimento de um direito ou inte-
resse legítimo em matéria tributária”.
727
Cfr. acórdão do TC n.º 435/98, e acórdão do STA de 29 de janeiro de 2003, processo
n.º 01514/02.
340
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
de impugnação judicial, deverá fazê-lo, pois, este sim, será o “meio ade-
quado” para tutelar a sua posição jurídica.
O impulso processual (propositura) está a cargo de “quem invoque
a titularidade do direito ou interesse a reconhecer” (art.º 145.º, n.º 1 do
CPPT), no prazo de 4 anos após a constituição do direito ou o conheci-
mento da lesão do interessado (n.º 2).
Quanto à tramitação, segue “os termos do processo de impugnação,
considerando-se na posição de entidade que praticou o ato a que tiver
competência para decidir o pedido” (n.º 4). Atenta a sistematização que
adotamos, e uma vez que já debruçamos a nossa atenção sobre tal maté-
ria, para lá remetemos, neste particular.
Apenas será de salientar que, na fase da iniciativa (petição inicial),
se torna indispensável a identificação da parte contra quem é proposta
a ação. Se tal não acontecer, não se sabe quem é que o autor pretende
que reconheça o direito ou interesse em causa, e estaremos perante uma
“ação sem partes”, devendo a petição ser indeferida por ineptidão728.
728
Neste sentido, acórdão do STA de 11 de junho de 1997, processo n.º 021386.
729
Cfr. o art.º 103.º, n.º 1 da LGT. Sobre as dificuldades inerentes à respetiva qualificação
jurídica, v. o nosso Sobre a natureza jurídica dos atos praticados em execução fiscal, in Execução fiscal
(e-book), Centro de Estudos Judiciários, Lisboa, 2019, pp. 35 e ss, disponível em http://www.
cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/Administrativo_fiscal/eb_ExecucaoFiscal.pdf
341
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
730
Respetivamente, art.os 204.º do CPPT e 728.º e ss. do CPC.
731
Cf. art.º 177.º do CPPT.
342
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
732
V. art.º 794.º, n.º 1 do CPC.
733
Acerca da conformidade constitucional do n.º e do art.º 218.º do CPPT, v. acórdão do STA
de 16 de dezembro de 2010, processo n.º 0806/10.
734
Cf. art.º 151.º do CPPT. Em termos de competência, considera-se investido o Tribunal
tributário da área do domicílio ou sede do devedor (mas, sede ou domicílio do devedor
originário, não dos eventuais devedores subsidiários – neste sentido, v. acórdão do STA de 21
de outubro de 2015, processo n.º 01131/14).
343
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
735
Quanto à cobrança coerciva de dívidas à Segurança social, v. DL n.º 42/2001.
344
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
736
Neste sentido, acórdãos do STA de 03 de fevereiro de 2010, processo n.º 01161/09 e de 26
de abril de 2012, processo n.º 0638/11.
737
Assim, acórdão do STA de 10 de abril de 2013, processo n.º 015/12. V. ainda, entre bastan-
tes outros, acórdãos do STA de 6 de fevereiro de 2013, processo n.º 01155/11 e jurisprudên-
cia aí referida; de 13 de março de 2013, processo n.º 080/13; de 3 de abril de 2013, processo
n.º 1262/12; de 10 de abril de 2013, processo n.º 1220/12; de 18 de junho de 2013, processo
n.º 1380/12; de 28 de outubro de 2015, processo n.º 0125/14; de 04 de novembro de 2015,
345
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
processos n.º 0124/14 ou n.º 0177/14; de 28 de outubro de 2015, processo n.º 0604/15; e de
11 de novembro de 2015, processo n.º 0898/15.
738
V. DL n.º 42/2001, que disciplina juridicamente o processo de execução de dividas à segu-
rança social.
739
Cf. art.º 8.º da Lei 98/97 (Lei de organização e processo do Tribunal de Contas –
LOPTC).
740
V. acórdãos do STA de 22 de abril de 2015, processo n.º 01957/13, e dfo TCA-N de 13 de
julho de 2017, processo n.º 00206/16.0BECBR.
741
V. DL 158/90. Cf., a respeito, acórdão do TC n.º 440/00 (disponível em www.tribunal-
constitucional.pt), onde é defendida a tese da “analogia substancial ( se não mesmo “iden-
tidade”) entre os subsídios do FSE e as comparticipações saídas do Orçamento do Estado”,
acrescentando-se, e bem, adiante: “É, porém, manifesto que o facto de certos créditos (...)
poderem ser cobrados através do processo mais expedito da execução fiscal não os converte
em impostos, nem sequer torna necessário que os mesmos sejam tratados como impostos”.
742
Cf., respetivamente, art.os 14.º do DL 266/2012 e art.º 13.º do DL 71/2012. A perplexidade
gráfica expressa no texto deriva do facto de não se vislumbrar nas referências legislativas res-
petivas qualquer restrição ao uso do processo de execução fiscal, principalmente tendo pre-
sente que entre tais “créditos” podem figurar importâncias que pouco ou nada têm de tribu-
tário ou sequer financeiro-público (v. os art.os 9.º dos referidos diplomas, nos quais constam
“o produto da venda de bens e serviços”, os “rendimentos de bens próprios”, “o produto re-
sultante da edição ou venda de publicações”, ou “ [q]uaisquer outras receitas que lhe sejam
346
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
atribuídas por lei, contrato ou outro título”). Pergunta-se se nestas situações, não será de
admitir alguma desconexão entre o meio processual e a quantia exequenda, utilizando-se
abusivamente o primeiro e, consequentemente, violando-se o princípio da adequação ma-
terial. De resto, situações houve nas quais o criador normativo teve o cuidado de separar e
identificar devidamente os créditos que poderiam ou não ser cobrados por via deste meio
processual, como aconteceu com o (entretanto extinto) Instituto Portuário e dos Transpor-
tes Marítimos – cf. DL 257/2002, no seu art.º 28.º, n.º 3.
743
Assim, acórdão do Tribunal de Conflitos de 21 de janeiro de 2014, processo n.º 044/13.
347
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
348
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
745
A assinatura das certidões de dívida poderá ser efetuada por chancela ou outro meio de
reprodução devidamente autorizado por quem as emitir, podendo a autenticação ser efe
tuada por aposição do selo branco ou, mediante prévia autorização do membro do Governo
competente, por qualquer outra forma idónea de identificação da assinatura e do serviço
emitente (n.º 3 do art.º 88.º).
349
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
746
Cfr. n.º 3 do art.º 163.º do CPPT.
350
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
351
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
749
Por isso prescreve o art.º 151.º n.º 1 do CPPT que “[C]ompete ao tribunal tributário de 1.ª
instância da área do domicílio ou sede do devedor originário, depois de ouvido o Ministério
Público (...), decidir os incidentes, os embargos, a oposição, incluindo quando incida sobre
os pressupostos da responsabilidade subsidiária, e a reclamação dos atos praticados pelos ór-
gãos da execução fiscal”. Quando a execução deva correr nos Tribunais comuns, cabe a estes
o integral conhecimento das questões referidas (n.º 2).
750
Neste contexto, o Tribunal Constitucional, no seu acórdão n.º 80/2003 já teve ocasião de
se debruçar sobre o problema da (in)constitucionalidade das normas que, na legislação tri-
butária, atribuem à Administração tributária a competência para a instauração e prática de
outros atos no âmbito da execução fiscal. Começa por se salientar nesse acórdão, com refe-
rência a outra jurisprudência, que considerando-se o processo de execução fiscal “nuclear
mente jurisdicional”, ele envolve, na sua tramitação, a prática de muitos atos que não de-
vem ser necessariamente praticados por um juiz, podendo-o ser por um funcionário embora
sempre salvaguardando a possibilidade de recurso ou reclamação para aquele. Pode ler-se,
nomeadamente:
352
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
“O que a Constituição da república garante (art.º 103.º, n.º3) é que «ninguém pode ser obri-
gado a pagar impostos (…) cuja liquidação e cobrança se não façam nos termos da lei», nela
se compreendendo, evidentemente, tanto a cobrança voluntária como coerciva. Os atos de
cobrança têm, pois, de fazer-se a coberto da lei. Mas dessa exigência constitucional não re-
sulta que os atos que integram o processo de execução fiscal hajam de ser sempre praticados
por um juiz”.
353
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
751
V., numa abordagem exaustiva, Bastos, Nuno, O efeito suspensivo das reclamações das decisões
do órgão de execução fiscal à luz das recentes alterações ao respetivo regime, in Tutela cautelar no con-
tencioso tributário, Centro de estudos judiciários, Lisboa, 2016, pp. 39 e ss., e jurisprudência
aí referida, disponível em http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebook_administrativo_fiscal.
php. Do ponto de vista jurisprudencial v., com proveito, acórdão do STA n.º 5/2012 (uni-
formizador de jurisprudência), disponível em https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/sear-
ch/192415/details/maximized.
354
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
Seja como for, ganha clara saliência uma das notas marcantes do
processo de execução fiscal: a desjurisdicionalização, exigindo-se a inter
venção do juiz ou do Tribunal apenas para aquelas situações em que, em
geral, se está perante a existência de um litígio.
Isto assumido, terá chegado o momento de procurar perceber quem
é que pode “estar” no processo de execução fiscal, em cada um dos seus
lados, ativo e passivo. Por outras palavras: quem tem, no mesmo, legiti-
midade.
Para desenvolvimentos, v., uma vez mais, o nosso Sobre a natureza jurídica ..., cit., 35 e ss.
752
753
Convém ter presente, contudo, que nos casos de sub- rogação, a Fazenda Pública vê a sua
posição de credora ocupada por outra pessoa. Como se sabe, o terceiro que proceda ao paga
mento das dívidas tributárias de um determinado contribuinte pode passar a ocupar a posi-
ção da Fazenda, com todas as vantagens que tal implica. Tal terceiro pode, nomeadamente,
continuar a beneficiar das garantias e privilégios respeitantes à dívida e utilizar o processo
de execução fiscal para proceder à cobrança coerciva dessa dívida (art.º 92.º, n.º 1 do CPPT).
Para tal, deve ele, cumulativamente (art.º 41.º, n.º 2 da LGT): (i) requerer a declaração de
sub-rogação, e (ii) obter autorização do devedor ou provar interesse legítimo. Posterior
355
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
mente, “o despacho que autorizar a sub-rogação será notificado ao devedor e ao terceiro que
a tiver requerido” (art.º 91.º, n.º 4, do CPPT).
754
Cf. art.º 150.º, n.º 2, do CPPT. Cf., porém, o n.º 3, em referência aos casos em que não te-
nha existido tal designação. Quanto às possibilidades de delegação, v. n.º 5.
356
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
357
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
358
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
359
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
360
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
361
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
que figura no título ou seu sucessor ou, sendo o que nele figura, não ter
sido, durante o período a que respeita a dívida exequenda, o possuidor
dos bens que a originaram, ou por não figurar no título e não ser respon-
sável pelo pagamento da dívida”). Nestes casos – em que a execução ti-
nha sido instaurada contra um determinado contribuinte, e em que este
se opôs alegando que não era à data o possuidor dos bens –, verifica-se
como que uma “correção, por via executiva, do ato tributário, quanto ao
respetivo sujeito passivo”768.
768
V. acórdão do TC n.º 507/02, e bibliografia aí citada, disponível em http://www.
tribunalconstitucional.pt.
769
Cfr., por exemplo, art.º 151.º, n.º 1, do CPPT.
770
Cfr., por exemplo, acórdãos do STA de 27 de outubro de 2010, processo n.º 0328/10, e de
11 de maio de 2016, processo n.º 034/14.
362
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
363
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
771
Cfr. art.º 196.º, n.º 5, do CPPT.
772
Assim, art.º 179.º, n.º 3 do CPPT.
773
Cfr., por exemplo, acórdãos do STA de 14 de setembro 2011, de 21 de março de 2012, de
28 de novembro de 2012 e de 16 de janeiro de 2013, respetivamente, processos n.os 242/11,
867/11, 840/12 e 292/12.
364
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
365
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
a) Funções da citação
Nos termos do art.º 35.º, n.º 2 do CPPT, a citação é o ato destinado a dar
conhecimento ao executado de que foi proposta contra ele determina-
da execução ou a chamar a esta, pela primeira vez, pessoa interessada
(como, por exemplo, os responsáveis subsidiários). Trata-se de um dos
momentos fundamentais e nucleares em toda a dinâmica do processo de
execução fiscal, pois é a partir daqui que o executado vai poder reagir,
sendo que tal reação se pode consubstanciar, numa primeira aborda-
gem, em uma de três atitudes778: opor-se à execução, requerer o paga-
mento em prestações, ou requerer a dação em pagamento.
Do mesmo modo, em relação ao responsável subsidiário, a citação faz
também começar a correr o prazo para o pagamento da dívida (ficando
isento de juros de mora e custas), a dedução de oposição, a apresentação
de reclamação graciosa, de pedido de revisão da matéria tributável ou de
impugnação judicial779.
777
V., a respeito, acórdão do Tribunal Constitucional n.º 332/01.
778
Cfr. art.º 189.º, n.os 1, 2 e 3 do CPPT.
779
Cfr. art.os 23.º, n.º 5 e 22.º, n,.º 5 da LGT. Quanto ao pedido de revisão da matéria tributá-
vel (relativamente ao qual se podem suscitar dúvidas no respeitante à admissibilidade neste
366
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
α) Exigências formais
Sob o ponto de vista formal, em processo de execução fiscal, a citação –
que não tem necessariamente de ser feita na pessoa do executado pois,
como refere o art.º 190.º, n.º 5 do CPPT, poderá ser feita na pessoa do
seu legal representante – pode materializar-se num ato pessoal, pos-
tal ou edital. A este respeito, e em face da redação das disposições do
CPPT, nomeadamente dos artigos 190.º, 191.º e 192.º, quer parecer que
a regra será a citação pessoal, funcionando as citações postal e edital
como exceções, quer para aqueles casos ou em que o processo tem dimi-
nuto valor, quer para aqueles em que a pessoa a citar não é encontrada.
Vejamos, então, os casos em que cada uma das citações poderá ocor-
rer e, uma vez que a citação pessoal é determinada por exclusão de par-
tes, vejamos, em primeiro lugar, as outras situações.
i) Citação postal. Este tipo de citação verifica-se em todos os proces-
sos (exceto casos de responsabilidade subsidiária, em que a cita-
ção será sempre pessoal) cuja quantia exequenda não exceda 500
367
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
782
Cfr. art.º 191.º, n.º s 1 e 3, do CPPT.
783
V. art.º 191.º, n.º 4, do CPPT e acórdão do STA de 11/de outubro de 2017, processo
n.º 0203/17. A consideração da citação como pessoal é importante para vários fins, designa
damente para efeitos de início de contagem do prazo para oposição à execução (art.º 203.º,
n.º 1, do CPPT).
784
Cfr. art.º 191.º, n.os 6 e 7, do CPPT.
785
Cfr. art.º 193.º, n.os 1, 2 e 4 do CPPT.
368
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
369
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
β) Exigências substanciais
Sob o ponto de vista material ou substancial, a citação – que deverá ser
sempre acompanhada de cópia do título executivo – deve conter a nota
indicativa do prazo para a oposição ou para a dação em pagamento, bem
como a indicação de que a suspensão da execução e a regularização da
situação tributária dependem da efetiva existência de garantia idónea
ou da obtenção de autorização da sua dispensa790.
790
Assim, art.º 190.º do CPPT. Quanto à indicação dos meios de reação, v. acórdão do STA de
20 de fevereiro de 2013, processo n.º 01147/12.
791
V. art.º 189.º, n.º 1, do CPPT.
792
Cfr. art.º 189.º, n.os 4 e 5 do CPPT.
370
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
793
Cfr., nomeadamente, art.os 169.º, n.os 1 e 5, do CPPT e 52.º, n.os 1 e 2, da LGT.
794
Cfr. o que supra dissemos, Introdução, 6.3. (“A inexistência de efeito suspensivo e a ne-
cessidade de prestação de garantia adequada”).
795
Cfr. art.º 199.º, n.os 1 e 2, do CPPT.
796
Cfr. art.º 169.º, n.º 2, do CPPT.
797
Cfr. art.º 169.º, n.º 7, do CPPT.
798
V. art.º 199.º, n.º 3, do CPPT.
371
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
b) Requisitos da oposição
O ato jurídico de oposição, enquanto meio processual adequado para
concretização do direito de resistência constitucionalmente previsto
(art.º 103.º, n.º 3 da CRP), deve observar determinadas exigências. Veja-
mos sumariamente quais.
α) Requisitos materiais
A oposição à execução só pode ter por base os seguintes fundamentos
(tratando-se, portanto, de um elenco taxativo, embora não fechado, ao
menos numa primeira leitura)802:
– Inexistência do imposto, taxa ou contribuição nas leis em vigor à
data dos factos a que respeita a obrigação ou, se for o caso, não estar
autorizada a sua cobrança à data em que tiver ocorrido a respetiva
liquidação;
– Ilegitimidade da pessoa citada por esta não ser o próprio devedor
que figura no título ou seu sucessor ou, sendo o que nele figura,
não ter sido, durante o período a que respeita a dívida exequenda, o
possuidor dos bens que a originaram, ou por não figurar no título e
não ser responsável pelo pagamento da dívida803;
799
Cfr. art.º 52.º, n.º 4, da LGT.
800
Cfr. acórdão do STA de 8 de maiode 2013, processo n.º 0593/13.
801
Cfr. art.º 53.º, n.º 1, da LGT. O requisito dos três anos de manutenção da garantia não se
exige se houver erro imputável aos serviços. V., ainda, art.º 171.º do CPPT.
802
V. art.º 204.º, n.º 1, do CPPT. Cfr. acórdão do TC n.º 1171/96, disponível em http://www.
tribunalconstitucional.pt.
803
V., a respeito dos administradores e gerentes, art.º 208.º, n.º 2.
372
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
804
Cfr., a propósito, acórdãos do TCA-S de 26 de outubro de 2004, processo n.º 00227/04, e
de 17 de março de 2016, processo n.º 05361/12.
805
A este propósito, entende-se que haverá duplicação de coleta quando, estando pago por
inteiro um tributo, se exigir da mesma ou de diferente pessoa um outro de igual natureza,
referente ao mesmo facto tributário e ao mesmo período de tempo (art.º 205.º, n.º 1, do
CPPT).
373
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
374
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
β) Requisitos formais
A oposição é um ato formal. Deverá ser feita através de uma petição – a
ser apresentada no órgão da execução fiscal onde pender a execução811 –,
que será elaborada em triplicado, e juntamente com a qual o executado
oferecerá todos os documentos, arrolará testemunhas e requererá as de-
mais provas812/813.
Além disso, não pode ser esquecida a indicação do valor da causa ou
do processo, o qual deve ser certo e expresso em moeda legal, represen-
tando a utilidade económica imediata do pedido. Naturalmente que se
compreende esta exigência, pois é a partir desse valor que se determina
a recorribilidade da decisão a proferir pelo Tribunal tributário.
Ora, sendo certo que tal indicação deve ser feita por uma declaração
explícita nesse sentido, não o é menos que se houver afirmações de que
se deduza, com toda a probabilidade, qual o valor que o oponente atri-
bui à oposição, não haverá obstáculo a que seja este considerado, sendo
o que sucede, por exemplo, se é utilizada a fórmula “valor do processo: o
da quantia exequenda”. Neste caso, entende a jurisprudência que a exi-
gência no final da petição do número de Euros em questão seria impor
um “rigorismo formulário inadmissível”, sendo, portanto, redundante e
desnecessária nova declaração expressa sobre o valor da causa814.
375
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
γ) Requisitos temporais
Do ponto de vista temporal, há a assinalar que a petição de oposição à
execução fiscal deve, nos termos do art.º 203.º, n.º 1, do CPPT, ser inter-
posta no prazo de 30 dias, que serão contados da citação pessoal; da pri-
meira penhora; da data em que tiver ocorrido facto superveniente; ou
do conhecimento deste pelo executado815.
Trata-se, aquele, de um prazo processual816.
815
V. acórdãos do STA de 30 de janeiro de 2013, processo n.º 0820/12 e de 22 de fevereiro
de 2017, processo n.º 0706/16. É de salientar que, havendo vários executados, os prazos
correrão independentemente para cada um deles (art.º 203.º, n.º 2 do CPPT).
816
V. acórdão do STA de 5 de junho de 2013, processo n.º 0868/13.
817
Nesta fase, a lei confere a esse mesmo órgão da Administração fiscal a possibilidade de
revogar o ato em questão (art.º 208.º, n.º 2, CPPT).
818
V. art.os 209.º e 204.º, n.º 1, alínea i) do CPPT
819
Cfr. art.º 210.º do CPPT.
820
Sobre a eventual omissão de vista ao Ministério Público (nesta sede), v. acórdão do TCA-
-N de 29 de outubro de 2015, processo n.º 00585/11.6BEBRG.
376
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
Para que seja autorizada a dação, o art.º 201.º, n.º 1, do CPPT, exige
dois pressupostos essenciais (além, obviamente, do pressuposto básico
de estar a decorrer a execução823):
– Em primeiro lugar, o executado deverá oferecer uma descrição por-
menorizada dos bens dados em pagamento; e
– Em segundo lugar, os bens dados em pagamento não devem ser
de valor superior à dívida exequenda e acrescido (salvo os casos de
se demonstrar a possibilidade de imediata utilização dos referidos
bens para fins de interesse público ou social, ou de a dação se efe-
tuar no âmbito do processo conducente à celebração de acordo de
recuperação de créditos do Estado)824.
821
V. art.º 213.º do CPPT.
822
Sobre as possibilidades de suspensão em caso de deferimento da oposição, v. acórdão
do STA de 16 de dezembro de 2015, processo n.º 0361/14. V., ainda, declaração de voto da
Conselheira Dulce Neto, aposta ao acórdão do STA de 8 de fevereiro de 2017, processo
n.º 0177/15.
823
Não obstante, pode ser requerida a dação antes de instaurada a execução fiscal. Cfr., a
propósito, art.º 87.º do CPPT.
824
Em caso de aceitação da dação em pagamento de bens de valor superior à dívida exe
quenda e acrescido, o despacho que a autoriza constitui, a favor do devedor, um crédito – de
natureza intransmissível e impenhorável – no montante desse excesso, a utilizar eventual-
mente nas seguintes situações:
– Em futuros pagamentos de impostos ou outras prestações tributárias,
– Na aquisição de bens ou de serviços no prazo de 5 anos, ou
377
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
– No pagamento de rendas.
Em todos estes casos, apenas será possível a constituição do referido crédito desde que as
receitas correspondentes estejam sob a administração do Ministério ou órgão executivo por
onde corra o processo de dação (art.º 201.º, n.º 9, do CPPT).
825
Cfr. art.º 201.º, n.º 1, do CPPT.
826
V. art.º 201.º, n.os 3, 5 e 6, do CPPT.
827
Nesses precisos termos, acórdão do STA de 10 de abril de 2013, processo n.º 0441/13.
378
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
828
Assim, art.º 196.º, n.º 4 do CPPT.
829
Todavia, é excecionalmente admitida a possibilidade de pagamento em prestações de tais
dívidas, sem prejuízo da responsabilidade contra-ordenacional ou criminal que ao caso cou-
ber, quando (i) o pagamento em prestações se inclua em plano de recuperação no âmbito de
processo de insolvência ou de processo especial de revitalização, ou em acordo sujeito ao re-
gime extrajudicial de recuperação de empresas em execução ou em negociação, e decorra do
plano ou do acordo, consoante o caso, a imprescindibilidade da medida; ou (ii) quando se
demonstre a dificuldade financeira excecional e previsíveis consequências económicas gra-
vosas, não podendo o número das prestações mensais exceder 24 e o valor de qualquer delas
ser inferior a 1 unidade de conta no momento da autorização (art.º 196.º, n.º 3).
830
A unidade de conta processual (UC) é uma quantia em dinheiro, utilizada para fins pro-
cessuais da mais variada natureza.
379
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
831
Cfr. art.º 200.º, n.os 1 e 2 do CPPT.
832
V. art.os 197.º e 198.º do CPPT.
833
Tal garantia idónea poderá, nos termos do preceito referido no texto (e do n.º 2 do mesmo
artigo), assumir diversas formas como, por exemplo, garantia bancária, caução, seguro-cau-
ção, penhor ou hipoteca voluntária. De salientar que a entidade que prestar a garantia será
chamada a efetuar o pagamento, logo que falte qualquer uma das prestações (art.º 200.º,
n.º2).
380
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.5.7.4. Penhora
834
Neste contexto, valerá como garantia para efeitos de isenção, a penhora já feita sobre os
bens necessários para assegurar o pagamento da dívida exequenda e acrescido ou a efetuar
em bens nomeados para o efeito pelo executado (cfr. art.º 199.º, n.º 4 do CPPT).
835
Cfr. art.º 198.º, n.º 2 do CPPT.
836
Cfr., a respeito de tal ato, acórdão do Tribunal de conflitos de 18 de dezembro de 2003,
processo n.º 02/03.
381
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
382
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
840
Cfr. art.º 215.º, n.º 4 do CPPT.
841
V. art.º 217.º do CPPT.
842
V. art.º 218.º, n.º 3 do CPPT.
843
Cfr. art.º 219.º, n.os 1 e 2, do CPPT.
844
Assim, art.º 219.º, n.º 4, do CPPT.
845
Quanto ao estabelecimento comercial, enquanto bem suscetível de coisificação e de
penhora v. acórdão do STA de 14 de fevereiro de 2013, processo n.º 04/13.
383
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
846
Cf. art.os 735.º e ss. do CPC, ex vi, art.º 2.º do CPPT.
847
Quanto são modo de cálculo da “parte líquida” dos vencimentos insuscetível de penhora,
v. acórdão do STA, de 09 de janeiro de 2019, processo n.º 0969/18.9BELRS. No âmbito deste
processo, questionava-se se essa “parte líquida” se refere (i) à totalidade do rendimento
384
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
Uma nota importante nesta matéria deve ser reservada ao, já amiúde
referido, princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso.
A penhora, como ato intrusivo e restritivo que é, não pode deixar de
se limitar ao necessário, ao adequado e à medida certa para assegurar a
adequada coercibilidade do crédito tributário (ou equiparado) em causa.
Não pode ir além daquilo que se revela – face aos circunstancialismos
que rodeiam a situação em concreto – como a medida certa.
auferido, deduzida dos encargos legais (e.g., fiscais e contributivos), ou (ii) à totalidade do
rendimento auferido, deduzida de todos os encargos a que o executado se encontra vin
culado, incluindo também, e designadamente, encargos parentais e empréstimos contraídos.
O Tribunal decidiu – e bem, parece-nos – no primeiro dos sentidos apontados, defendendo
a tese de um valor líquido objetivo e não de um “valor líquido no plano pessoal”.
848
Sobre a (in)aplicabilidade desta regra às pessoas coletivas, v. acórdão do TCA-N de 12 de
novembro de 2015, processo n.º 01341/15.8BEPNF.
849
V., a respeito, acórdãos do STA de 17 de abril de 2013, processo n.º 0235/13, e de 16 de
dezembro de 2015, processo n.º 01704/13, nos quais se aborda a questão da omissão de noti-
ficação, por erro, de um credor que deveria ter sido notificado.
385
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Essas pessoas são, por um lado, certos credores especiais e, por ou-
tro, o cônjuge do executado.
Constata-se aqui que o CPPT rejeitou a ideia de que todos os credo-
res devem ser chamados, em posição paritária, ao processo de execução
para reclamar os seus créditos. Pelo contrário: não apenas se constata
que o exequente, por via da penhora efetuada, beneficia de uma prefe-
rência em relação aos demais, como também que apenas são chamados à
execução determinados credores “especiais”, e não os credores comuns.
Neste seguimento, o art.º 239.º, n.º 1, do CPPT determina que, feita a
penhora e junta a certidão de ónus, serão citados os credores com garantia
real, relativamente aos bens penhorados, podendo eles reclamar os seus
créditos no prazo de 15 dias após a citação (art.º 240.º n.º 1).
Além disso, também o cônjuge do executado o é, nos casos (i) em que
pode requerer a separação patrimonial (execução para cobrança de coima
fiscal ou com fundamento em responsabilidade tributária exclusiva de
um dos cônjuges) ou (ii) quando a penhora incida sobre bens imóveis
ou bens móveis sujeitos a registo.
Para além disso, os credores desconhecidos, bem como os sucessores
dos credores preferentes, serão citados por éditos de 10 dias850.
850
V. art.os 239.º, n.º 2 e 242.º do CPPT.
851
V. art.º 245.º, n.º 2, do CPPT.
852
Cfr. art.os 246.º e 245.º, n.º 1, do CPPT.
853
Assim, art.º 245.º, n.º 4 do CPPT.
386
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
854
Cfr. art.º 247.º, n.º 1, do CPPT.
855
Cfr. art.º 733.º do CC.
387
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Daí que se possa concluir que o art.º 240.º n.º 1 do CPPT “deve ser
interpretado amplamente, de modo a terem-se por abrangidos na sua
estatuição, não apenas os credores que gozam de garantia real, stricto
sensu, mas também aqueles a quem a lei substantiva atribui causas legíti-
mas de preferência, designadamente, privilégios creditórios”856.
Outro problema delicado que pode surgir nesta fase do processo é o
de saber se um credor que seja titular de um privilégio imobiliário geral,
tem preferência em relação a um outro que seja titular de uma hipoteca
sobre um determinado bem imóvel do mesmo devedor. Pense-se na si-
tuação hipotética em que determinado contribuinte está adstrito a duas
dívidas: por um lado, é devedor ao Estado de quantias tributárias que
gozam de privilégio imobiliário geral (por exemplo, dívidas de IRS857)
e, por outro lado, é devedor a um banco de uma quantia que se encontra
garantida por uma hipoteca sobre um bem imóvel abrangido por esse
privilégio (uma casa que adquiriu mediante o recurso ao crédito). Neste
caso, qual deve prevalecer e ser pago em primeiro lugar? O crédito do
Estado ou o crédito do banco? Será que o privilégio sacrifica os demais
direitos de garantia?
A questão coloca-se na medida em que o próprio Código civil deli-
mita a respeito um regime fragmentário e lacunoso, desadaptado da
realidade atual, pois assume que os privilégios creditórios imobiliários
são sempre especiais, o que não é verdadeiro. Com efeito, estabelece o
respetivo art.º 751.º que “os privilégios imobiliários são oponíveis a ter-
ceiros que adquiram o prédio ou um direito real sobre ele, e preferem à
consignação de rendimentos, à hipoteca ou ao direito de retenção, ainda
que estas garantias sejam anteriores”. Todavia, prescreve igualmente o
art.º 749.º, n.º 1, que “o privilégio geral não vale contra terceiros, titula-
res de direitos que, recaindo sobre as coisas abrangidos pelo privilégio,
sejam oponíveis ao exequente”. Ora, como acertadamente referiu o STA
“sendo o privilégio imobiliário geral previsto no artigo 111.º do CIRS, si-
multaneamente, um privilégio imobiliário e um privilégio geral, seriam,
à partida, potencialmente aplicáveis ambas as disposições”858.
856
Cfr. acórdão do STA de 13 de abril de 2005, processo n.º 0442/04. Em sentido contrário
(inadmissibilidade de reclamação de crédito que goze de privilégio), cfr. acórdão do STA
de 7 de julho de 2004, processo n.º 0612/04. Mais recentemente, acórdão do STA de 14 de
fevereiro de 2013, processo n.º 021/13.
857
Cfr. art.º 111.º do CIRS.
858
Cfr. acórdão do STA de 07 de julho de 2004, processo n.º 0612/04.
388
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
b) Cônjuge do executado
Como se referiu, também o cônjuge do executado deve ser chamado à
execução fiscal para, quando for caso disso – coimas ou dívidas tributá-
rias da responsabilidade tributária exclusiva de um dos cônjuges ou ain-
859
Cfr. acórdão n.º 362/2002, disponível em http://www.tribunalconstitucional.pt, relativo
à pretensa inconstitucionalidade de uma determinada interpretação do art.º 111.º do CIRS.
860
Ainda a propósito deste problema, v. acórdão do STA de 22 de novembro de 2006, pro-
cesso n.º 0354/06.
861
Acerca da questão de saber se os créditos que gozam de direito de retenção (por exem-
plo, por parte do beneficiário de uma promessa) devem ser graduados de forma prioritária
em relação a créditos hipotecários constituídos e registados anteriormente, e concluindo no
sentido afirmativo, cfr. acórdão do STA de 22 de novembro de 2006, processo n.º 0354/06.
V., ainda, art.º 759.º do CC.
389
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
390
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
865
Sob o ponto de vista da respetiva natureza jurídica, pode dizer-se que abstratamente é
possível considerar o ato de venda (i) como um ato de Direito privado, equiparado ao con-
trato de compra e venda, ou (ii) como um ato de Direito público, praticado no quadro do
exercício em concreto do poder jurisdicional. Em rigor, o mais acertado parece ser propen-
der para a segunda orientação (natureza publicista), atenta a falta de vontade do executado,
que obstaculiza a consideração privatística do ato translativo.
866
Cfr. art.º 244.º, n.º 1, do CPPT.
867
V. art.º 248.º, n.º 1, do CPPT.
868
Cfr., por exemplo, art.º 252.º, nos termos do qual
391
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
869
Assim, acórdão do STA de 22 de outubro de 2015, processo n.º 08978/15. V., ainda, acór-
dão do STA de 9 de maio de 2012, processo n.º 0862/11, onde se discute a responsabilidade
civil emergente de uma venda efetuada com preterição de formalidades.
870
Quanto às exigências do próprio ato de venda, cfr. art.º 256.º do CPPT.
871
Cfr. art.º 249.º, n.º 7 do CPPT.
392
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
872
V. art.º 244.º, n.º 2, do CPPT. Todavia, esta limitação da possibilidade de venda não é
aplicável aos imóveis cujo valor tributável se enquadre, no momento da penhora, na taxa
máxima prevista para a aquisição de prédio urbano ou de fração autónoma de prédio urbano
destinado exclusivamente a habitação própria e permanente, em sede de IMT (cfr. n.º 3 do
referido preceito normativo).
873
Para desenvolvimentos, v. Barbosa, Andreia, A proteção da casa de morada da família e da
casa de habitação efetiva no processo de execução fiscal, in Cadernos de Justiça Tributária, 14,
CEJUR, Braga, 2016, pp. 3 e ss.
874
Assim, art.º 244.º, n.º 6, do CPPT.
875
Cfr. art.º 49.º, n.º 4, alínea d), da LGT.
876
Cfr. art.º 257.º do CPPT.
393
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.5.8.1. Incidentes
Já a propósito do processo de impugnação judicial, nos referimos aos
incidentes (tramitações acessórias ou laterais – mas influentes – de um
877
Cfr., art.º 257.º, n.os 1 e 3 do CPPT. V., a respeito, acórdão do STA de 1 de setembro de
2010, processo n.º 0653/10.
878
Cfr. acórdãos do STA de 28 de março de 2007, processo n.º 026/07 e acórdão do pleno da
secção CT de 5 de julho de 2012, processo n.º 0873/11.
394
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
processo principal). Cumpre agora fazê-lo, ainda que de uma forma bre-
ve, em relação ao processo de execução fiscal.
Nos termos do art.º 166.º, n.º 1 do CPPT, são admitidos os seguintes
incidentes879:
– Embargos de terceiros, naquelas situações em que um ato judicial-
mente ordenado de apreensão ou entrega de bens (como a penhora
ou o arresto) ofender a posse ou qualquer outro direito incompatí-
vel de terceiro, entendido como aquele que não deva ser citado no
processo executivo880. Neste sentido, pessoas como, por exemplo,
os revertidos ou o cônjuge do executado não se devem considerar
“terceiros” para estes fins, pois são citados – ou devem sê-lo – no
âmbito do referido processo. Aos embargos aplicam-se, em regra, as
disposições que disciplinam a oposição à execução881, embora não
se deva considerar que haja suscetibilidade de efeito suspensivo,
atenta a literalidade dos artigos para os quais o art.º 212.º do CPPT
implicitamente remete (designadamente o art.º 199.º);
– Habilitação de herdeiros, nos casos em que haja necessidade de
uma alteração subjetiva da instância, por falecimento do sujeito
principal; e
– Apoio judiciário, nos termos gerais.
879
O incidente de falsidade de documentos, admitido, em termos gerais, no processo civil,
não é conhecido em processo de execução fiscal. Neste, a genuinidade de qualquer docu-
mento deve ser impugnada no prazo de 10 dias após a sua apresentação ou junção ao pro-
cesso, sendo no mesmo prazo feito o pedido de confronto com o original da certidão ou da
cópia com a certidão de que foi extraída (art.º 115.º, n.º 4 ex vi art.º 166.º, n.º 2 do CPPT).
880
Assim, acórdão do STA de 9 de abril de 2003, processo n.º 01838/02. Neste acórdão
conclui-se, designadamente, que “quem for citado no processo de execução fiscal não tem
a qualidade de terceiro para efeitos de embargos de terceiro”. V., ainda, acórdãos do STA de
29 de novembro de 2006, processo n.º 0174/06 e do TCA-S de 5 de fevereiro de 2013, pro-
cesso n.º 06153/12.
881
No sentido em que tal remissão apenas se limita ao formalismo processual e já não a
outras questões (v.g., legitimidade), cfr. acórdão do TCA-S de 16 de abril de 2002, processo
n.º 6301/02. De salientar que a decisão de mérito proferida nos embargos de terceiro
constitui caso julgado no processo de execução fiscal quanto à existência e titularidade dos
direitos invocados por embargante e embargado (art.º 238.º do CPPT).
395
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.5.8.2. Suspensão
A suspensão consiste, como o próprio conceito faz intuir, na paralisação
momentânea dos trâmites da execução. Trata-se, bem vistas as coisas, de
um importante “alívio” na esfera jurídica do executado que, assim, no
mínimo, vê os atos de oneração ou restrição retardados.
As causas de suspensão da execução – que não se confundem com as
causas de suspensão de um dos atos da execução, como a venda, por exem-
plo (art.º 264.º, n.º 4, do CPPT) – são várias e estão disseminadas ao
longo de várias disposições normativas, nem sempre harmonizadas en-
tre si, mas ainda assim é possível reconduzi-las a grupos abrangentes,
com características distintivas relevantes. Tais grupos são:
– Situações de regularização da situação tributária;
– Situações de contencioso associado à legalidade da dívida;
– Situações de contencioso associado à exigibilidade dívida;
– Situações de insuficiência patrimonial e insolvência.
882
Cfr., a propósito, acórdão do STA de 10 de janeiro de 2007, processo n.º 01001/06.
883
Pense-se, por exemplo, nas situações em previstas no art.º 23.º, n.º 3, da LGT (“Caso,
no momento da reversão, não seja possível determinar a suficiência dos bens penhorados
por não estar definido com precisão o montante a pagar pelo responsável subsidiário, o
processo de execução fiscal fica suspenso desde o termo do prazo de oposição até à completa
excussão do património do executado”).
884
Cf. art.º 85.º, n.os 3 e 4, do CPPT.
396
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
885
Assim, art.º 169.º, n.º 12, do CPPT.
886
Cfr. art.º 174.º, n.º 2, do CPPT.
887
Cfr. art.º 169.º, n.º 5 do CPPT.
397
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Cfr. art.º 169.º, n.os 1 e 11 do CPPT. Cfr. ainda art.os 195.º e 199.º. Pensa-se, nomeadamente,
888
nas situações em que, nesta fase, é um responsável subsidiário (v.g., administrador ou gerente
de uma sociedade) a interpor tal meio, nos termos do art.º 22.º, n.º 4 da LGT. Sublinhe-se
que se não houver garantia constituída ou prestada, nem penhora, ou os bens penhorados
não garantirem a dívida exequenda e acrescido, é ordenada a notificação do executado para
prestar a garantia dentro do prazo de 15 dias. Se essa garantia não for prestada procede-se de
imediato à penhora (n.os 6 e 7). Quanto à interposição de recurso hierárquico, v. acórdão do
STA de 6 de fevereiro de 2013, processo n.º 066/13.
398
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
889
Cfr. art.º 169.º, n.º 2 do CPPT. De notar que tal requerimento dá início a um procedi
mento, o qual é extinto se, no prazo legal, não for apresentado o correspondente meio pro-
cessual e comunicado esse facto ao órgão competente para a execução. Nesta situação, o su-
jeito passivo será citado para, no prazo de 30 dias, efetuar o pagamento da dívida e acrescido
até ao montante da garantia prestada, sob pena de prosseguir a execução (cfr. n.os 3 e 4 do
art.º 169.º do CPPT).
399
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
400
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
894
Para uma abordagem constitucional aos variadíssimos efeitos restritivos decorrentes da
insolvência (“situação de debilidade económica”), v. acórdão do Tribunal Constitucional
n.º 532/2017.
895
Cfr. art.os 18.º e ss. do CIRE. Importa salientar que em determinadas situações (titulares
de empresa com conhecimento da impossibilidade de cumprir as suas obrigações vencidas:
situação fáctica de insolvência) o próprio insolvente está obrigado a apresentar-se à insol-
vência.
896
O CPPT não deixa dúvidas ao prescrever um dever claro de comunicação ao represen
tante do Ministério Público competente das situações de inexistência ou fundada insuficiên-
cia patrimonial, de modo a que ele possa apresentar o pedido no Tribunal competente, sem
prejuízo da possibilidade de apresentação do pedido por mandatário especial (cfr. art.º 182.º,
n.º 2).
401
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
897
Cfr. art.os 27.º e 28.º do CIRE.
898
Cfr. art.os 29.º e 30.º do CIRE.
899
V. art.º 35.º do CIRE.
900
V. art.os 36.º e ss. do CIRE. V., ainda, art.os 52.º e ss. do CIRE. Reitera-se que o administra-
dor da insolvência não pode, sem mais, ser assimilado a um gerente ou administrador para
efeitos de responsabilidade tributária subsidiária (art. 24.º da LGT). Cfr. supra 6.5.5.2., b),
α).
402
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
403
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
-se aos agentes da AT (v.g., chefes dos serviços de finanças) o dever (não
escrito, mas que resulta do princípio do inquisitório) de consulta do
Diário da República e outros instrumentos, a fim de buscar anúncios de
declaração de insolvência.
Quanto à falta de citação, sendo certo que o CIRE – diferentemente
do que acontece com o CPPT – não a comina com nulidade, será de
aceitar a verificação dessa consequência e a consequente possibilidade
de arguição por parte da AT da invalidade dos posteriores atos de venda
ou de pagamentos.
***
Cfr. art.º 180.º, n.º 1 do CPPT. V., também, acórdãos do STA de 14 de fevereiro de 2013,
901
processo n.º 01011/12 e do TCA – Sul, de 27 de julho de 2017, processo n.º 1134/16.5BES.
Note-se que quanto aos créditos (tributários) vencidos após a declaração de insolvência, não
haverá suspensão da execução, seguindo esta os termos normais (n.º 6).
404
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
d) A reclamação de créditos
Após a tríade de efeitos processuais referidos, deve seguir-se o momento
no qual a AT procederá, a par dos demais credores, à reclamação dos
seus créditos, para posteriormente se seguir a respetiva graduação.
Aqui, em rigor, a competência para tal reclamação repousaria no re-
presentante do Ministério Público a exercer funções no Tribunal onde
corre termos o processo de insolvência. Para tal efeito, a AT – depois
de citada, nos termos supra referidos – deverá emitir e enviar-lhe uma
certidão contendo, além da natureza, montante e período de tempo de
cada um dos tributos, outros elementos legalmente exigidos (v.g., data a
partir da qual são devidos juros de mora)904.
Porém, o próprio legislador abre a possibilidade de a AT constituir
“mandatário especial” para o efeito de reclamação dos créditos (como,
de resto, já o havia feito para fins de apresentação do próprio pedido de
insolvência)905.
902
Cfr. art.º 180.º, n.º 2 do CPPT.
903
Assim, Dias, Sara Luís, PER, insolvência e execução fiscal, in Temas de Direito Tributário 2017:
insolvência, taxas, jurisprudência do TEDH e do TJ (ebook), CEJ, Lisboa, 2017, p. 13, disponível
em http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/Administrativo_fiscal/eb_TemasDireitoTri-
butario2017_II.pdf (última consulta em 08 deabril de 2019).
904
Cfr. art.º 80.º, n.º 3, do CPPT.
905
Cfr. art.º 180.º, n.º 2, in fine, do CPPT. A propósito, v., igualmente, 182.º, n.º 2, in fine.
405
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
906
A propósito desse tema, sempre se dirá que numa fase inicial, e sempre com forte opo-
sição da AT, a jurisprudência concebia a intervenção desta última como a de um qualquer
credor entre iguais, de modo que a mesma poderia ou deveria, como qualquer outro cre-
dor, perdoar ou reduzir os seus créditos. Posteriormente, o sentido decisório propendeu
para sentido diverso, sustentando que um plano de insolvência (recuperação) não poderia
colocar em causa os princípios fundamentais de Direito tributário, nomeadamente o princí-
pio da indisponibilidade do crédito respetivo. Por conseguinte, passou a ser entendido, que
os referidos planos não poderiam incorporar medidas que o reduzissem ou extinguissem.
Na prática, tal entendimento tinha como consequência a inviabilidade dos mesmos, na me-
dida em que em grande número de situações os créditos tributários eram bastante significa-
tivos.
Em termos legislativos, a Lei 55-A/2010 (que aprovou o Orçamento de Estado para 2012)
pretendeu introduzir alguma certeza nesta matéria, por via de uma cláusula de blindagem
e de supremacia normativa (art.º 30.º, n.º 3 da LGT), em termos de o referido princípio da
indisponibilidade prevalecer sobre qualquer “legislação especial”.
Contudo, entendemos, não o fez de modo absolutamente indiscutível, podendo inclusiva-
mente ser questionada a conformidade constitucional de uma tal cláusula.
907
Cfr. artigo 180.º, n.º 4 do CPPT.
908
Cfr. art.º 176.º, n.º 1, do CPPT.
909
Nos termos do art.º 23.º, n.º 5 da LGT, o responsável subsidiário fica isento de juros de
mora e de custas se, citado para cumprir a dívida tributária principal, efetuar o respetivo
pagamento no prazo de oposição. Contudo, tal pagamento não prejudica a manutenção da
obrigação do devedor principal ou do responsável solidário de pagarem os juros de mora e as
custas, no caso de lhe virem a ser encontrados bens (idem, n.º 6).
406
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
910
Cfr. art.º 176.º, n.º 2, do CPPT.
911
Cf. acórdão do STA de 21 de outubro de 2015, processo n.º 0610/15.
912
V. a respeito, acórdão do STA de 17 de abril de 2013, processo n.º 0235/13.
913
Cfr. supra, II., 5.2.
914
Assim, Silva, Hugo Flores, As nulidades do processo de execução fiscal, in (ebook), Lis-
boa, Centro de Estudos Judiciários, Lisboa, 2019, 88 e ss., em especial, 89, disponível em
407
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
6.5.11.1. Enquadramento
Após a digressão pelas várias fases do processo de execução fiscal, pode-
-se concluir que, em geral, se trata de um processo sui generis, na medida
em que muitos dos atos que o compõem são atos praticados, não pelo
Tribunal, mas por órgãos administrativos, nomeadamente pelo órgão da
execução fiscal (que, recorde-se, nos termos do art.º 149.º do CPPT, é o
serviço da Administração tributária onde deva legalmente correr a exe-
cução).
http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/Administrativo_fiscal/eb_ExecucaoFiscal.pdf.
Sobre o “trânsito em julgado”, v. a nota seguinte.
915
Cfr. art.º 165.º, n.os 2 e 4 do CPPT. V., ainda, acórdão do STA de 17 de abril de 2013, pro-
cesso n.º 0235/13. Como é fácil concluir, no processo de execução fiscal não existe pro-
priamente um “trânsito em julgado”, com exceção das situações em que o processo sobre a
tribunal e este último profere uma decisão jurisdicional. Nesta medida, e seguindo a orien-
tação de Hugo Flores da Silva, propugna-se uma “interpretação corretiva (...) no sentido
de admitir a arguição das referidas nulidades até ao momento em que deixe de ser possível
colocar em crise a decisão de extinção do processo de execução fiscal”. V., uma vez mais, do
autor, “As nulidades do processo de execução fiscal”, cit., 90.
916
Uma vez mais, e por último, Silva, Hugo Flores, “As nulidades do processo de execução
fiscal”, cit., 91 e ss.
408
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
409
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
918
V. art.º 276.º, n.º 1, do CPPT, e acórdão do STA de 23 de janeiro de 2013, processo
n.º 01498/12. V., ainda, acórdão do TCA-N de 31 de março de 2016, processo
n.º 02452/15.5BEPRT
919
V. art.º 278.º, n.º 6, do CPPT.
920
V. art.º 277.º, n.º 1, do CPPT.
921
Cfr. art.º 277.º, n.º 2, do CPPT. Caso o ato reclamado tenha sido proferido por entidade
diversa do órgão da execução fiscal, o prazo será de 30 dias (art.º 277.º, n.º3).
922
Cfr. art.º 278.º, n.º1 do CPPT. Quanto à eventual inconstitucionalidade deste regime, cfr.
acórdão do TC n.º 380/10, disponível em http://www.tribunalconstitucional.pt. e acórdãos
do STA de 14 de julho de 2010, processo n.º 0547/10 (no âmbito do qual o referido vício não
foi acolhido) e de 19 de abril de 2012, processo n.º 0293/12.
410
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
923
Cfr. art.º 278.º, n.º s 3 e 4 do CPPT. A respeito da invocação não expressa ou indireta, cfr.
acórdão do STA de 18 de agosto de 2010, processo n.º 0639/10, onde se pode ler: “embora
a reclamante não tenha expressamente invocado o prejuízo irreparável resultante da não
subida imediata da reclamação, ele extrai-se sem grande esforço de interpretação do teor da
petição”.
924
V. acórdãos do STA de 14 de julho de 2010, processo n.º 0547/10 e de 18 de agosto de
2010, processo n.º 0639/10 de 4 de maio de 2016, processo n.º 0304/16, , além do acórdão
do TCA-S de 31 de março de 2016, processo n.º 09455/16. Cfr. ainda, acórdão do STA de 9
411
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
de agosto de 2006, processo n.º 0229/06. Refere a propósito o STA: “(...) mal se entenderia
que a lei, admitindo alguém a rebelar-se contra uma decisão, permitindo a sua reapreciação
por outra entidade, só propiciasse a avaliação da pretensão do interessado quando desta
apreciação não pudesse resultar nenhum efeito útil. Seria o mesmo que dar com uma mão e
tirar com a outra – além de assim se consagrar um meio de reação inconsequente, porque de
todo desprovido de proveito”.
925
Cfr., uma vez mais, art.º 268.º, n.º 4 da CRP.
926
Assim, entre outros, acórdão do TCA-S de 21 de setembro de 2010, processo
n.º 04203/10. V., também, acórdão do TC n.º 380/10, disponível em http://www.tribunal-
constitucional.pt. Deste acórdão, entre outras conclusões, pode retirar-se que “o artigo 278.º
do Código de Procedimento e de Processo Tributário satisfaz as exigências de adequação,
necessidade e proporcionalidade, condicionando temporalmente – mas não sacrificando – a
efetividade da tutela jurisdicional contra atos lesivos, que é ressalvada pela subida imediata
da reclamação quando a subida diferida criar um prejuízo que não seja remediável pela anu-
lação dos atos processuais entretanto praticados”.
412
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
927
Cfr. acórdãos do STA de 28 de julho de 2010 e do TCA-S de 21 de setembro de 2010,
processos n.º 0596/10 e 04203/10, respetivamente.
928
Até porque o legislador cuidou de estabelecer o efeito suspensivo em determinadas situa-
ções especiais – cfr. art.º 245.º, n.º 4, do CPPT.
929
Cfr. art.º 97.º, n.º 1, alínea n) do CPPT. De igual modo, art.º 101.º, alínea d) da LGT.
930
V. art.os 278.º, n.º 6, do CPPT e art.º 36.º, n.º 2, do CPTA.
931
Assim, art.º 278.º, n.º 2 do CPPT.
413
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
932
V. art.º 268.º, n.º 4, da CRP e supra, II, 1.1., c). V. , por último, acórdãos do STA de 23 de
maio de 2007, processo n.º 0255/07 e de 31 de março de 2016, processo n.º 0411/15.
933
V. art.º 147.º, n.º 1, do CPPT.
934
V. acórdão do STA de 28 de outubro de 2015, processo n.º 01305/14.
935
V. art.º 147.º, n.º 3, do CPPT.
936
Cfr., por exemplo, acórdão do STA de 8 de maiode 2013, processo n.º 0666/12.
414
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
937
Cfr. acórdão do STA de 10 de janeiro de 2007, processo n.º 0722/06
938
Cfr. acórdão do STA de 23 de maiode 2007, processo n.º 0255/07.
939
V. acórdão de 15 de maiode 2013, processo n.º 1317/12.
415
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
940
Cfr. acórdão do STA de 7 de março de 2007, processo n.º 06/07.
941
Assim, acórdão do STA de 28 de julho de 2010, processo n.º 0477/10.
942
Cfr., a respeito, art.os 37.º, n.º 1 e 146.º, n.º 1 do CPPT. V., ainda, acórdão do STA de 17 de
maiode 2006, processo n.º 0422/06.
416
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
Para este tipo de casos, prevê o art.º 63.º-B, n.º 5, da LGT, que as deci
sões administrativas referidas são suscetíveis de recurso judicial. Em ar-
ticulação, o art.º 146.º-B do CPPT, vem densificar aquele preceito, pres-
crevendo as regras processuais que lhe dizem respeito.
Assim, começa por referir o n.º 1 que o recurso em causa é feito pelo
visado através de petição, que deve ser apresentada no Tribunal tribu-
tário de 1.ª instância da área do seu domicílio fiscal, no prazo de 10 dias
a contar da data em que foi notificado da decisão administrativa (n.º 2),
e onde deve justificar sumariamente as razões da sua discordância. Jun-
tamente com essa petição – e materializando uma restrição probatória
que tem sido considerada como inconstitucional943/944 –, prevê o legisla-
943
Com efeito, a questão da inconstitucionalidade do segmento final do art.º 146.º – B, n.º 3
do CPPT não parece oferecer dúvidas ao TC. Na verdade, o Tribunal constitucional julgou-
-o – portanto, em processo de controlo concreto e com eficácia inter-partes – desconforme
com a Constituição por violação do artigo 20.º, n.º 1, da Constituição, em conjugação com o
princípio da proporcionalidade.
No âmbito do processo que deu origem ao acórdão n.º 681/2006 (disponível em http://
www.tribunalconstitucional.pt), foi o órgão máximo da jurisdição constitucional confronta-
do com a questão de saber se tal preceito, na medida em que veda a possibilidade de o con-
tribuinte produzir prova testemunhal no recurso da decisão da Administração tributária que
determina o acesso à informação bancária para fins fiscais, viola ou não o direito de acesso
aos Tribunais, consagrado no artigo 20.º, n.º 1, da Constituição. A decisão de inconstitucio-
nalidade, que se aqui se acompanha, baseia-se, entre outros, nos seguintes tópicos argumen-
tativos:
– O direito de acesso aos Tribunais compreende o direito a ver solucionados os conflitos por
um órgão que ofereça garantias de imparcialidade e independência, e perante o qual as
partes se encontrem em condições de plena igualdade no que diz respeito à defesa dos
respetivos pontos de vista (direito a um processo equitativo);
– A vinculação do julgador ao princípio da igualdade, deve significar que as partes têm que
dispor de idênticos meios processuais para litigar (princípio da igualdade de armas);
– Particularmente no domínio do contencioso tributário, exige-se um “quadro razoável de
equilíbrio entre os poderes da administração tributária e os direitos dos contribuintes”.
Por estes motivos, entende o TC que a limitação à prova documental na norma em causa
importa uma lesão do direito à produção de prova ou do “direito constitucional à prova”.
É certo – e tal não deixa de ser reconhecido – que existe por parte do legislador uma liber-
dade de conformação processual, que lhe permite, em face das especificidades de cada tipo
de processo, estabelecer regras restritivas, atinentes, por exemplo, a prazos (encurtando-
-os) ou a meios de provas (limitando-os), principalmente tendo em vista objetivos de efi-
cácia, celeridade e economia processual. Contudo, tal liberdade não é absoluta e deve ser
temperada, designadamente, com o princípio da proporcionalidade e os seus subprincípios
da necessidade e adequação, o que leva a questionar se vedar em abstrato um meio de pro-
va que, in casu, se pode revelar adequado à aclaração dos factos que fazem parte do objeto
417
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
944
–, prevê o legisla
dor que deverá juntar os documentos (apenas estes) que suportam a sua
pretensão.
Posteriormente, será o órgão administrativo notificado para, que
rendo, deduzir oposição.
Em face do melindre destas situações, entende o legislador que se
trata de um “processo urgente” (art.º 146.º-D, n.º 1 do CPPT), devendo a
respetiva decisão judicial deve ser proferida no prazo de 3 meses a con-
tar da data de apresentação do requerimento inicial (n.º 2).
De referir que, nos casos de deferimento do recurso, os elementos de
prova entretanto obtidos não podem ser utilizados para qualquer efeito
em desfavor do contribuinte (art.º 63.º-B, n.º 6, da LGT).
Saliente-se, por fim, que apenas nos casos em que estejam em causa
documentos bancários relativos a familiares ou terceiros que se encon-
trem numa relação especial com o contribuinte este recurso terá efeito
suspensivo (em todos os outros casos, consequentemente, terá efeito
meramente devolutivo)945.
do processo não excede o necessário para a prossecução dos interesses em causa. Conclui-
-se que sim, pois “a impossibilidade de, em qualquer caso (sublinhado nosso), o contribuinte
contestar através de prova testemunhal a veracidade da prova recolhida pela administração
tributária não se encontra suficientemente ancorada com os referidos objetivos de eficácia,
celeridade e economia processual”. Acrescenta-se que se deve consagrar uma solução que
permita uma ponderação de interesses e que admita a possibilidade de o juiz avaliar e deci-
dir sobre a oportunidade de admissão de um determinado meio de prova no caso concreto
(recusando-a se for considerada impertinente ou desnecessária). Porém, uma solução que
não comporte uma restrição absoluta – “tratar-se-á, sempre, de uma limitação em concreto,
e não de uma exclusão absoluta, e em abstrato”.
944
Após o acórdão referido na nota anterior (e outros de igual sentido), foi proferido pelo
TC o acórdão n.º 759/2013, no qual foi declarada com força obrigatória geral a inconstitucio-
nalidade da norma constante da parte final do n.º 3 do artigo 146.º-B do CPPT, quando apli-
cável por força do disposto no n.º 8 do artigo 89.º-A da Lei Geral Tributária (e apenas nestes
casos), na medida em que exclui em absoluto a produção de prova testemunhal, nos casos
em que esta é, em geral, admissível. Trata-se de um acórdão extremamente interessante e
com proveitosa declaração de voto anexa (Conselheiro Pedro Machete).
945
Cfr. art.º 63.º-B, n.º 5 da LGT.
418
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
946
Recorde-se o acórdão do TC n.º 759/2013, acabado de citar no apartado sistemático
anterior.
419
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
São eles:
i) O já estudado recurso contencioso (ação administrativa) do indeferi-
mento ou revogação de isenções ou outros benefícios fiscais, bem
como de outros atos administrativos relativos a questões tributá-
rias que não comportem apreciação da legalidade do ato de liqui-
dação [art.º 97.º, n.º 1, alínea p) e n.º 2 do CPPT]947;
ii) Os denominados meios acessórios, como sejam os de:
– Intimação para consulta de processos ou documentos admi
nistrativos e passagem de certidões948;
– Produção antecipada de prova949; e
– Execução de julgados950.
iii) O processo de resolução de conflitos, particularmente os conflitos
de competências entre Tribunais tributários e Tribunais adminis-
trativos e entre órgãos da Administração tributária do Governo
central, dos Governos regionais e das Autarquias locais951.
947
Como já vimos, cabe impugnação judicial, quer da liquidação stricto sensu, quer dos atos
administrativos em matéria tributária que comportem a apreciação da legalidade daquele
primeiro ato. Já caberá recurso contencioso em sentido próprio (= ação administrativa) dos
demais atos tributários que não comportem a apreciação da legalidade do ato de liquidação,
sendo tal meio impugnatório “regulado pelas normas sobre processo nos tribunais adminis-
trativos”.
948
Cfr. art.os 97.º, n.º 1, alínea j) e 146.º, n.º 1, do CPPT. V., a respeito, o já referido acórdão do
de 12 de setembro de 2012, processo n.º 0899/12, onde se exara o entendimento de acordo
com o qual a intimação para a prestação de informações, consulta de processos ou passagem de certidões
será aplicável, no procedimento tributário, aos casos em que está em causa suprir as defi
ciências das notificações, quando a Administração tributária não der satisfação às pretensões
formuladas nesse sentido ao abrigo do art.º 37.º do CPPT. V., quando à divisão competencial
entre os Tribunais administrativos e os Tribunais tributários, acórdão do TCA-Sul de 12 de
março de 2015, processo n.º 11885/15.
949
Cfr. art. os 97.º, n.º 1, alínea l), e 146.º, n.º 1, do CPPT.
950
V. art. os 146.º, n.º 1, do CPPT e 157.º e ss do CPTA. Sobre a separação aplicativa entre a in-
timação para um comportamento e a ação para execução de julgado, v. acórdãos do STA de
15 de maiode 2013, processo n.º 01317/12 e de 9 de novembro de 2016, processo n.º 0829/16.
951
V. art.º 97.º, n.º 3 do CPPT.
420
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
7. Contencioso cautelar
Após a análise minimamente pormenorizada dos meios processuais,
pode assim dizer-se, mais extensos e pausados, chegou o momento de
debruçarmos a nossa atenção sobre outros instrumentos processuais
que, por razões várias, se devem configurar como vias mais céleres e agi-
lizadas, na medida em que são especificamente pensados para casos de
urgência ou premência, e que têm em vista a manutenção de determi
nada situação jurídica ou fáctica ou a antecipação dos efeitos de deter-
minada decisão.
Estamo-nos a referir aos denominados meios cautelares, que mais não
são do que meios de tutela que têm por objetivo garantir o efeito útil,
em tempo, de determinadas atuações procedimentais ou processuais, no
seguimento aliás da própria imposição constitucional nesse sentido952.
Procura-se evitar lesões graves e irrecuperáveis que provavelmente sur-
giriam se tivesse de se esperar pela decisão final da tramitação em causa,
por vezes necessariamente alongada e demorada.
Por exemplo, pense-se na situação em que a Administração tributá-
ria receia que, antes da instauração ou durante o processo de execução
fiscal, o contribuinte venda os seus bens a outra pessoa, os doe, ou os
destrua, de modo a não se encontrarem no seu património bens penho-
ráveis e, por esse modo, inviabilizar a penhora. Do mesmo modo, o con-
tribuinte ou um terceiro podem querer evitar o acesso imediato aos seus
dados pessoais, na sequência da apreensão de material informático no
âmbito de uma inspeção.
Compreender-se-á sem dificuldade que nestas situações o sujeito in-
tente paralisar os efeitos da atuação da contraparte, compreendendo-se
igualmente que, em face da celeridade que se exige, não se pode preten-
der efetuar desde logo a prova adequada e completa dos direitos invoca-
dos, bastando a mera aparência da existência dos mesmos e a antevisão,
em termos de prognose, do dano a que podem estar sujeitos.
952
Cfr., uma vez mais, art.º 286.º, n.º 4 da CRP.
421
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
953
Será conveniente realçar que, em rigor, na estrutura das presentes Lições, o estudo destes
meios de natureza cautelar deveria ser feito mediante a integração no ponto 6 (uma vez que
estamos a falar, ainda, de meios processuais). Sucede, porém, que por razões de simplici
dade expositiva e de comodidade pedagógica, se entende por bem abrir um apartado autó-
nomo.
422
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
423
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
954
Tem-se presente que o referido no texto divergirá do que pode resultar de uma interpre-
tação literal do art.º 147.º, n.º 6 do CPPT.
424
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
955
Cfr., art.os 112.º e ss. do CPTA e 364.º do CPC. Neste último caso, todavia, convém relevar
a importância da denominada “inversão do contencioso” (cfr. art.º 369.º do CPC).
425
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
426
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
956
V., a propósito, art.ºs 36.º, n.º 1, alínea f ) e n.º 2 do CPTA.
427
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
estes uma tutela jurídica plena dos seus direitos e interesses legalmente
protegidos – 7.3.2.). No âmbito dos primeiros (instrumentos a favor da
Administração tributária) cumpre distinguir, por um lado, os que reves-
tem natureza exclusivamente administrativa (7.3.1.1.) e os que revestem
natureza jurisdicional, exigindo a intervenção do Tribunal e juiz tribu
tário (7.3.1.2.).
957
Cfr. art. os 52.º, n.º 3 da LGT e 30.º, n.º 1 do RCPITA.
958
Cfr. art.º 73.º, n.º 1 do RGIT, nos termos do qual “a apreensão de bens que tenham consti-
tuído objeto de contra-ordenação pode ser efetuada no momento do levantamento do auto
de notícia ou no decurso do processo pela entidade competente para a aplicação da coima,
sempre que seja necessária para efeitos de prova ou de garantia da prestação tributária,
coima ou custas”. V., igualmente, os números seguintes do preceito (v.g., apreensão dos
meios de transporte utilizados na prática das contra-ordenações e apreensão de dinheiro).
Quanto ao controlo de bens em circulação, v. art.º 16.º do DL 147/2003. Quanto aos veículos,
cfr. art.º 22.º do Código do Imposto único de circulação (CIUC).
428
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
959
Cfr. art.os 51.º, n.º 3, da LGT e 30.º, n.º 1, alínea a), do RCPITA.
960
Sempre que se proceda à apreensão de bens será lavrado o respetivo termo e serão auten-
ticadas as fotocópias ou duplicados dos elementos apreendidos (art.º 30.º, n.º 3, do RCPITA).
961
Cfr. art.º 51.º, n.º 3, in fine da LGT.
962
Cfr. art.º 30.º, n.º 1, alínea b), do RCPITA. As instalações seladas não deverão conter bens,
documentos ou registos que sejam indispensáveis para o exercício da atividade normal da
empresa, nomeadamente bens comercializáveis perecíveis no período em que presumivel-
mente a selagem se mantiver. Além disso, sempre que for possível, os elementos com in-
teresse para selar serão reunidos em local que não perturbe a atividade empresarial ou
profissional, em divisão fixa ou em contentor, e fechados com dispositivo inviolável, desig-
429
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
a) O arresto
O arresto consiste na apreensão de um bem ou de um conjunto deter-
minado de bens, “congelando-os” temporariamente, com o objetivo de
evitar a sua oneração ou disposição. Tratando-se de um simples meio
de garantia patrimonial, resulta claro que com o arresto o sujeito visado
(arrestado) não perde o direito de propriedade sobre os bens em causa,
nadamente através de fio ou fita envolvente lacrada nas extremidades com o selo do serviço
que proceda à inspeção (n. os 4 e 5).
963
Cfr. art.º 30.º, n.º 1 , alínea c) do RCPITA.
964
Cfr. art.º 135.º, n.º 1 do CPPT. No mesmo sentido, art.º 31.º, n.º 1 do RCPITA.
430
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
965
Para efeitos de densificação do enunciado “em fase de liquidação” o legislador foi mani-
festamente infeliz e confuso. Na verdade, no n.º 2 do art.º 136.º do CPPT, começa por referir
que “nos tributos periódicos considera-se que o tributo está em fase de liquidação a par-
tir do final do ano civil ou de outro período de tributação a que os respetivos rendimentos
se reportem”. Ora, importa não esquecer que existem tributos periódicos que não incidem
sobre rendimentos (v.g., taxas devidas por certos serviços correntes). Nestes casos, pensa-
-se, impõe-se uma interpretação corretiva que dê efeito útil e pleno à norma, em termos
de se ler “factos tributários” onde se lê “rendimentos”. Como se não bastasse, no n.º 3, esse
mesmo (?) legislador parece ignorar as taxas e as contribuições, referindo que nos impostos
de obrigação única, o imposto considera-se em fase de liquidação a partir do momento da
ocorrência do facto tributário. Aqui, impõe-se corrigir “impostos” por “tributos”.
966
Este fundado receio presume-se no caso de dívidas por impostos que o devedor ou
responsável esteja obrigado a reter ou a repercutir a terceiros e não haja entregue nos prazos
legais (art.º 136.º, n.º 5 do CPPT).
967
A este propósito, v. acórdãos do TCA-S de 17 de dezembro de 2002, processo n.º 7471/02
e de 7 de abril de 2011, processo n.º 04668/11, nos termos dos quais o arresto constitui um
meio conservatório da garantia patrimonial para aquelas situações em que o comportamento
doloso ou negligente do devedor a faça perigar. Não poderá a Fazenda Pública requerer o
arresto só porque está convencida de que o património do devedor é insuficiente para sol-
ver os seus créditos, tornando-se necessário que alegue e demonstre, além do mais, que o
devedor teve um comportamento suscetível de provocar fundado receio de diminuição das
garantias de cobrança desses créditos.
431
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
968
Cfr. art.os 136.º, n.º 4, e 138.º do CPPT. Em tudo o resto, aplica-se o correspondentemente
disposto no CPC (art.os 391.º e ss.).
969
Cfr. art.º 137.º do CPPT.
432
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
b) O arrolamento
Além do arresto, a AT pode igualmente requerer o decretamento judi
cial da medida de arrolamento. O arrolamento consiste na descrição,
avaliação e depósito de bens ou documentos, com o objetivo de os con-
servar, evitando-se a sua perda ou extravio, destruição ou dissipação.
Para que tal aconteça, e uma vez mais, torna-se indispensável que,
em primeiro lugar exista uma aparência fundada do direito da AT.
É certo que o CPPT (art.º 140.º) não prevê expressamente esta exigên-
cia, mas uma leitura integrada com a restante legislação tributária não
deixa de a impor. Com efeito, prescreve o RCPITA que nestes casos, a
requerente deve apresentar “prova sumária do direito relativo aos bens
ou documentos que se pretendem arrolar”.
Igualmente se exige, em segundo lugar, a demonstração do “perigo”
em concreto, por via da exposição dos atos que fundamentem o receio
de perda, extravio, destruição ou dissipação973.
Procedimentalmente, o arrolamento pode ser requerido pelo re-
presentante da Fazenda Pública ao Tribunal tributário de primeira ins
970
O princípio da unidade do ordenamento jurídico imporá que neste contexto se exija a
verificação de uma situação de insolvência nos termos do Código da insolvência e da recu-
peração de empresas (CIRE), e não de um simples estado aparente de dificuldade de paga-
mentos.
971
Numa solução de conformidade constitucional duvidosa (por colocar em crise o princípio
da proporcionalidade, na sua vertente de adequação), o legislador determina que estas cir-
cunstâncias presumem-se no caso de dívidas por impostos que o executado tenha retido ou
repercutido a terceiros e não entregue nos prazos legais.
972
Assim, art.º 214.º, n.º 3, do CPPT.
973
Cfr. art.º 31.º, n.º 3, do RCPITA. V., ainda, art.º 29.º do CIS.
433
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
974
Cfr. art. os 140.º do CPPT e 141.º do CPPT.
975
Cfr. art.º 97.º, n.º 3, alínea a), do CPPT.
976
Cfr., uma vez mais, art.º 97.º, n.º 3, alínea a), do CPPT. V., ainda art.º 2.º do mesmo
diploma.
434
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
977
Cfr. art.º 112.º, n.º 2 do CPTA.
435
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
tário. Por isso, a reflexão acerca da admissibilidade deverá ter por refe-
rência apenas as medidas restantes (suspensão da eficácia de um ato ad-
ministrativo, suspensão da eficácia de uma norma, regulação provisória
de uma situação jurídica e intimação para a adoção ou abstenção de uma
conduta).
Por seu lado, o CPC – que também abre a possibilidade de existência
de medidas inominadas (“não especificadas”) – prevê os seguintes ins-
trumentos de natureza cautelar978:
– Restituição provisória de posse;
– Suspensão de deliberações sociais;
– Alimentos provisórios;
– Arbitramento de reparação provisória;
– Arresto;
– Embargo de obra nova;
– Arrolamento.
978
V. art.ºs 377.º e ss. do CPC.
436
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
979
Cfr.. art. 85.º, n.º 3 do CPPT.
980
Cfr. art.ºs 276.º e 278.º, n.º 3, do CPPT.
437
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
981
Lateralmente, pode questionar-se se será possível pedir a suspensão de eficácia dos
efeitos de uma norma – não de um ato! –, com eficácia concreta, ao abrigo do disposto no art.º
130.º do CPTA, aqui eventualmente aplicável de modo subsidiário.
982
V., literalmente, Bastos, Nuno, O efeito suspensivo das reclamações..., cit., p. 65.
983
Assim, art.º 128.º, n.º 1 do CPTA.
438
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
439
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
984
Cfr. art.º 135.º, n.º 2 do CPPT.
985
Cfr. art.os 96.º, n.º 3 e 97.º, n.º 1, alínea g) do CPPT. Cfr. ainda art.º 144.º, n.º 3.
986
Cfr. art.º 143.º, n.os 1, 2 e 5 do CPPT.
987
Cfr. art.º 143.º, n.º 4.
988
Cfr. art.º 143.º, n.º 3.
440
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
989
Cfr., por exemplo, art.º 73.º, n.º 7 do RGIT.
990
Assim, art.º 144.º, n.os 1 e 2 do CPPT.
991
Cfr. idem, n.ºs 4 e 6. Saliente-se que no decurso da tramitação a AT é obrigatoriamente
ouvida antes da decisão (n.º 5)
441
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
992
Assim, acórdãos do STA de 30 de janeiro de 2013, processo n.º 01152/12 e do TCA-S de 16
de dezembro de 2015, processo n.º 12585/15.
993
Cfr., por exemplo, acórdão do STA de 16 de janeiro de 2013, processo n.º 01041/12.
994
Importa observar que, de um ponto de vista abstrato, existem outros critérios para dis-
tinguir as espécies recursivas em questão, como, por exemplo, o critério do objeto de tutela
subjacente (os recursos ordinários teriam por finalidade tutelar posições jurídicas subjetivas
442
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
da parte lesada, enquanto que os recursos extraordinários teriam por finalidade tutelar bens
jurídicos superiores e objetivamente considerados, como a segurança jurídica ou outros
bens de ordem pública) ou o critério dos requisitos subjacentes (os recursos ordinários exi-
giriam apenas as correntes regras de sucumbência, ao passo que os recursos extraordinários
exigiriam a verificação de outros requisitos acrescidos). A verdade é que estes critérios, além
de não terem densidade teorética adequada – equivalendo antes a aspetos particulares de
regime – não encontram no Direito positivo qualquer arrimo efetivo.
Por tais motivos, entende-se que o melhor será, no contexto das presentes Lições, desconsi-
derá-los.
443
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
995
Cfr. art.º 279.º, n.º 2 do CPPT.
996
Cfr. art.os 279.º, n.º 1, alíneas a) e b), e 281.º do CPPT. Recorde-se que nos termos do ar-
tigo 4.º, n.º 1 do DL 303/2007 (que procede à revisão do regime de recursos em processo
civil), as referências ao agravo interposto na primeira instância consideram-se feitas ao re-
curso de apelação.
444
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
997
Cfr. art. os 630.º e 152.º, n.º 4, do CPC, aplicáveis subsidiariamente por força do art.º 2.º,
alínea e) do CPPT.
445
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
998
Quanto às regras de determinação do valor da causa em matéria tributária, v. art.º 97.º - A
do CPPT e supra, II, 3.3.2.4.
999
V. art.º 280.º, n.º 3, do CPPT
1000
Cfr. art.º 631.º, n.º 1, do CPC.
446
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
mos a referir – podem ser objeto de recurso apenas uma vez, em face do
princípio do duplo grau de jurisdição.
Tal recurso pode ser interposto, (i) ora para o TCA, (ii) ora para o
STA (recurso per saltum), consoante os casos.
i) Será interposto para o TCA (secção de contencioso tributário)
quando o seu fundamento consistir em matéria de facto, acompa-
nhada ou não de matéria de Direito. É o que resulta do disposto no
art.º 38.º, alínea a) do ETAF, nos termos do qual “compete à Secção
de Contencioso Tributário do Tribunal Central Administrativo co-
nhecer (…) dos recursos de decisões dos tribunais tributários [de
primeira instância], salvo o disposto na alínea b) do artigo 26.º”.
O TCA, naturalmente, poderá dar provimento ao recurso, aten-
dendo a pretensão do recorrente e, eventualmente, anulando a
decisão recorrida ou, poderá não dar provimento ao recurso, man-
tendo a decisão recorrida. Num caso ou no outro, o TCA apresenta-
-se como a última instância recursiva, não sendo de admitir outro
recurso, agora para o STA. Com efeito, refere a propósito o art.º
26.º, n.º 1 alínea a) do ETAF que “compete à Secção de Contencioso
Tributário do Supremo Tribunal Administrativo conhecer (…) dos
recursos dos acórdãos da Secção de Contencioso Tributário dos tri-
bunais centrais administrativos, proferidos em 1.º grau de jurisdição”
(sublinhado nosso).
ii) Será interposto para o STA (também para a secção de contencioso
tributário) quando o recurso tiver por exclusivo fundamento ma-
téria de Direito. Prescreve a este respeito a alínea b) do art.º 26.º
do ETAF que “compete à Secção de Contencioso Tributário do Su
premo Tribunal Administrativo conhecer (…) dos recursos inter-
postos de decisões dos tribunais tributários com exclusivo funda-
mento em matéria de direito”.
Também neste caso, o Tribunal poderá dar ou não provimento
ao recurso e funcionará como última instância.
447
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
c) Dimensão processual
O recurso das decisões referidas – que, em princípio, tem efeito mera-
mente devolutivo1002 –, e para uma das instâncias referidas, deverá ser
interposto pela parte vencida no processo, por meio de requerimento,
no prazo de 30 dias contados da data da notificação da decisão1003.
1001
Cfr. acórdãos do TCA-S de 04 de maiode 2004, processo n.º 01092/03, e do STA de
02 de agosto de 2006, processo n.º 0571/06, e de 19 de dezembro de 2012, processo n.º
01354/12.
1002
Cfr. art.º 286.º, n.º 2, do CPPT.
1003
Cfr. art.º 280.º, n.os 1 e 2, do CPPT. Os recursos jurisdicionais nos processos urgentes
serão apresentados por meio de requerimento juntamente com as alegações no prazo de 15
dias (art.º 283.º do CPPT).
448
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
1004
Assim, art.º 282.º, n.º 3, do CPPT.
1005
Assim, acórdão do STA de 3 de abril de 2013, processo n.º 0948/12.
449
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
ficar sem saber dos reais motivos pelos quais o recorrente se insurge
contra o conteúdo e sentido da decisão da instância inferior”1006.
Se não forem apresentadas conclusões, ou estas tiverem algum vício
de incompletude ou obscuridade, o relator deve convidar o recorrente
a apresentá-las, completá-las, esclarecê-las ou sintetizá-las, sob pena de
não se conhecer do recurso, na parte afetada.
1006
V. acórdão do TCA-S de 12 de outubro de 2004, processo n.º 00081/04.
450
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
1007
V., entre muitos outros, os seguintes acórdãos do STA: acórdão de 10 de abril de 2013,
processo n.º 01277/12; de 5 de junho de 2013, processo n.º 099/13; de 5 de junho de 2013,
processo n.º 01184/11; de 22 de fevereiro de 2017, processo n.º 01094/16; e de 5 de julho de
2017, processo n.º 01069/15.
1008
V. acórdãos referidos na nota anterior.
1009
Cfr. art.º 284.º, n.º 3, do CPPT.
451
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
qualquer decisão anterior àquela que tenha sido impugnada, nem as si-
tuações jurídicas ao seu abrigo constituídas1010.
Cfr. art.º 293.º, n.º 3 do CPPT. Se a revisão for requerida pelo Ministério Público, o prazo
1011
452
II. O PROCESSO TRIBUTÁRIO
1012
Cfr. art.º 701.º do CPC, ex vi, art.º 2.º do CPPT.
1013
V., por exemplo, e entre muitos outros, os seguintes acórdãos do STA (secção de conten-
cioso tributário):
– Acórdão de 16 de janeiro de 2013, processo n.º 01060/12;
– Acórdão de 30 de janeiro de 2013, processos n.º 01133/12 e 01283/12;
– Acórdãos de 6 de fevereiro de 2013, processos n.º 01033/12 e 01130/12;
– Acórdão de 14 de fevereiro de 2013, processo n.º 01046/12;
– Acórdãos de 6 de março de 2013, processos n.º 01091/12 e 01131/12;
– Acórdãos do STA de 11 de janeiro de 2017, processo n.º 0892/16;
– Acórdãos do STA de 8 de fevereiro de 2017, processo n.º 01326/16;
– Acórdãos do STA de 3 de maio de 2017, processo n.º 0121/17; ou
– Acórdãos do STA de 21 de junho de 2017, processos n.os 0404/17 e 0277/17.
1014
V. jurisprudência referida na nota anterior. A decisão quanto à questão de saber se, no
caso concreto, se preenchem os pressupostos referidos compete ao STA, devendo ser ob-
jeto de apreciação preliminar sumária, a cargo de uma formação constituída por três juízes
453
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
de entre os mais antigos da Secção de Contencioso Administrativo (cf. art.º 150.º, n.º 6 do
CPTA).
1015
V., por fim, acórdão do STA de 03 de julho de 2019, processo n.º 0499/04.6BECTB
01522/15.
454
Parte III
Resolução alternativa de litígios
em matéria tributária
§ único: sequência
Até ao momento, no quadro das denominadas garantias dos contribuintes,
temos centrado o discurso tendo por referência os meios tradicionais de
resolução de litígios em matéria tributária, entendendo-se por “tradi-
cionais” aqueles meios que apresentam uma base exclusivamente legal
e que se efetivam através de órgãos estaduais em sentido restrito, par-
ticularmente a própria Administração tributária e os Tribunais tributá-
rios ou fiscais. É o caso, como temos presente, das diversas reclamações,
recursos, pedidos de revisão ou impugnações que o contribuinte pode
lançar mão quando sente que os seus direitos ou interesses legalmente
protegidos em matéria tributária são negligenciados ou diretamente
violados.
Parece interessante, no presente momento, desviar ligeiramente
o curso da análise e indagar se, além de tais formas reativas, se podem
conceber meios alternativos de conhecimento e de resolução da liti-
giosidade tributária, entendendo-se estes, em oposição aos primeiros,
como aqueles que não têm base exclusivamente legal e que não se efe-
tivam através de órgãos estaduais stricto sensu. Por outras palavras, importa
apreciar a questão de saber se os dissídios ou conflitos de pretensões
emergentes das relações jurídicas tributárias podem ser solucionados (i)
455
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
456
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
1016
Com efeito, consegue-se sem esforço reparar que muitas tomadas de decisão normativas
são menos motivadas por critérios lógicos e racionais e mais por critérios de “emotividade”,
“medo”, ou análogos. Basta pensar nas subidas ou descidas das taxas dos impostos antes ou
depois dos períodos eleitorais ou na realização de determinadas despesas públicas em con-
sequência das reivindicações dos grupos de pressão e das represálias que estes possam levar
a cabo. Do mesmo modo, se podem incluir aqui as leis a pedido de determinado grupo. Em to-
dos estes casos, pode-se estar em presença de medidas que, do ponto de vista lógico, seriam
desaconselháveis, mas que, do ponto de vista emotivo, são fortemente recomendáveis. O Di-
reito pós-moderno pretende chamar a atenção exatamente para isso: a norma é cada vez me-
nos – na sua perspetiva, claro – uma ordenação racional dos poderes e da vida em sociedade.
457
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
1017
Cfr. n.º 1 e 2 do art.º 202.º da CRP.
458
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
1018
V. art.º 202.º, n.º 4 da CRP.
459
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
460
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
nidade jurídica e des-jurisdicionalização, in Scientia Iuridica, Tomo LVI, n.º 310, 2007
461
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
462
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
1020
V., por exemplo, as promessas (Zusage) vinculativas, previstas nos § 204 e ss. da Abgabe-
nordnung alemã; os closing agreements estabelecidos no Internal Revenue Code Norte-americano,
title 26, subtitle F (Procedure and Administration), chapter 74 (closing agreements and compromi-
ses), Sec. 7121; ou ainda as actas con acuerdo do art.º 155.º da Ley General Tributaria espanhola.
No contexto dos esquemas de “antecipação do conflito” – se bem que não incorporando
qualquer acordo –, pode ainda desempenhar um papel importante a denominada avaliação
prévia com efeitos vinculativos para a Administração tributária, prevista em Portugal no art.º 58.º
do CPPT (cfr., ainda, art.º 91.º da Ley General Tributaria espanhola, embora aqui, diferente-
mente do ordenamento português, se preveja a possibilidade de o contribuinte propor va-
lores e, por essa via, estabelecer um acordo). V., ainda o Decreto Legislativo de 19 de junho de
1997 (“Disposizioni in materia di accertamento con adesione e di conciliazione giudiziale”), disponível
em http://www.camera.it/parlam/leggi/deleghe/97218dl.htm.
1021
Trata-se de um acordo que tem por objetivo estabelecer, com carácter prévio, o método
ou métodos suscetíveis de assegurar a determinação dos termos e condições que seriam nor-
malmente acordados, aceites ou praticados entre entidades independentes nas operações
463
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
comerciais e financeiras. A sua eficácia jurídica é indubitável, pois não havendo alterações na
legislação aplicável nem variações significativas das circunstâncias económicas e operacio-
nais, a Direcção-Geral dos Impostos fica vinculada a atuar em conformidade com os termos
estabelecidos no acordo.
1022
V. art.º 92.º da Ley General Tributaria espanhola.
464
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
1023
Cfr., por exemplo, art.os 156.º – III e 171.º do Código Tributário Nacional Brasileiro.
1024
Cfr., respetivamente, art.º 92.º, n.º 5 e 86.º, n.º 4, da LGT.
465
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
1025
Cfr., por exemplo, Internal Revenue Code Norte-americano, title 26, subtitle F (Procedure
and Administration), chapter 74 (closing agreements and compromises), Sec. 7123, b) (alternative
dispute resolution procedures).
1026
À margem do referido no texto situam-se as possibilidades de resolução de litígio no
decurso de um processo em Tribunal, previstas, por exemplo, no art.º 112.º do CPPT, ou no
§ 79 da Finanzgerichtsordnung alemã (FGO). Em rigor, aqui, não se trata de des-jurisdiciona-
lização.
466
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
Avenças tributárias
Esquemas
preventivos
Convenções coletivas tributárias
Resolução alternativa
de litígios tributários
lato sensu
Durante procedimento – Transação pré-judicial
Esquemas
sucessivos
Transação para-judicial
Após procedimento
Arbitragem
tributária
Conciliação
Mediação
tributária
Resolução alternativa de litígios
tributários stricto sensu
467
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
468
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
1030
Cfr., respetivamente, art.º 99.º e 101.º do CIRS.
1031
V. art.º 102.º do CIRS.
469
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
a) Estrutura e composição
São competentes para a resolução do litígio tributário os Tribunais arbi-
trais que funcionam sob a organização do Centro de Arbitragem Admi-
nistrativa (CAAD)1032.
De um ponto de vista estrutural, os tribunais tributários arbitrais po-
dem funcionar de acordo com uma de duas composições1033:
– Árbitro singular, nos casos em que o valor do pedido não ultrapassa
duas vezes o valor da alçada do Tribunal Central Administrativo, e
o sujeito passivo opta por não designar árbitro. Nestas situações, o
árbitro é designado por uma entidade pública – o Conselho Deon-
tológico do Centro de Arbitragem Administrativa –, de entre a lista
dos árbitros que compõem o Centro de Arbitragem Administra
tiva1034;
– Tribunal coletivo, composto por três árbitros, nos restantes casos,
ou seja, quando o valor do pedido ultrapassa duas vezes o valor da
alçada do Tribunal Central Administrativo ou quando o sujeito pas-
sivo opta por designar árbitro (independentemente do valor do pe-
dido). Aqui, os árbitros já serão designados1035:
i) Pelo Conselho Deontológico do Centro de Arbitragem Admi-
nistrativa, de entre a lista dos árbitros que compõem o Centro de
Arbitragem Administrativa1036; ou
ii) Pelas partes, cabendo a designação do terceiro árbitro, que exer-
ce as funções de árbitro-presidente, aos árbitros designados
ou, na falta de acordo, ao Conselho Deontológico do Centro de
Arbitragem Administrativa, mediante requerimento de um ou
de ambos os árbitros.
1032
V. art.º 4.º, n.º 2 do RJAT. Cfr., a propósito, http://www.caad.org.pt
1033
V. art.º 5.º do RJAT.
1034
V. art.º 6.º, n.º 1 e 11.º, n.º 1 do RJAT. Quanto aos requisitos de designação dos árbitros, e
respetivos impedimentos e deveres específicos, v. art.os 7.º e ss. do RJAT.
1035
Cfr. art.º 6.º, n.º 2 do RJAT. Em caso de nomeação pelas próprias partes, os árbitros po-
dem não constar da lista dos árbitros que compõem o Centro de Arbitragem Administrativa
(idem, n.º 3).
1036
Quanto ao procedimento de designação dos árbitros, v. art.º 11.º, n.º 1 do RJAT.
470
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
b) Constituição
Enquanto modo alternativo de resolução conflitual, a arbitragem não
opera automaticamente, mas apenas por iniciativa ou impulso dos inte
ressados, especificamente dos contribuintes (o legislador refere-se a
este propósito, equivocamente, a um “procedimento arbitral”). Tal im-
pulso é feito mediante um “pedido de constituição de Tribunal arbitral”,
efetuado por requerimento, e materializa-se num direito potestativo
que se reflete inelutavelmente na esfera jurídica da Administração e ao
qual ela não se pode opor. Tal requerimento, para se considerar juridi-
camente aceitável, deve ser enviado por via eletrónica ao presidente do
Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD) e dele deve constar1037:
– A identificação do sujeito passivo, incluindo o número de identifica-
ção fiscal, e do serviço periférico local do seu domicílio ou sede;
– A identificação do ato ou atos objeto do pedido de pronúncia arbi-
tral;
– A identificação do pedido de pronúncia arbitral;
– A indicação dos fundamentos do pedido (qualquer ilegalidade, nos
termos do art.º 99.º do CPPT) e a exposição das questões de facto e
de Direito objeto do mesmo;
– A indicação dos meios de prova (documental, testemunhal, pericial,
etc.) e dos elementos de prova (documentos, declarações, pareceres,
etc.);
– A indicação do valor da utilidade económica do pedido;
– O comprovativo do pagamento da taxa de arbitragem inicial (nos
casos em que o sujeito passivo não tenha optado por designar árbi-
tro) ou o comprovativo do pagamento da taxa de arbitragem (caso o
sujeito passivo manifeste a intenção de designar o árbitro);
– A eventual intenção de designar árbitro.
1037
Cfr. art.º 10.º, n.º 2 do RJAT.
471
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
1038
Cfr. art.º 10.º, n.º 1 do RJAT.
1039
Assim, art.º 10.º, n.º 3, do RJAT.
1040
V. art.º 12.º do RJAT,
472
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
1041
V. art.º 13.º, n.º 5, do RJAT.
1042
V. art.º 13.º, n.º 4, do RJAT.
1043
Cfr. art.º 13.º do RJAT.
473
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
474
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
3.3.2. Tramitação
A tramitação do processo arbitral tributário, enquanto conjunto de fa-
ses que compõem o iter decisório respetivo, é marcado fortemente pela
informalidade e pela desregulação, na medida em que se valorizam as
ideias de autonomia e liberdade, em contraposição às de rigidez e de
vinculação. Contudo, importa enfatizar que tal não significa desjuridici-
zação, pois as coordenadas essenciais do processo têm natureza jurídica
e continuam a ser fixadas pelo Estado-legislador.
De um modo simples, pode afirmar-se que este processo é composto
pelas seguintes fases:
i) Iniciativa – o requerimento contendo o pedido constituição do Tri-
bunal arbitral, além de servir para isso mesmo (desencadear a sua
constituição), vai servir igualmente de “petição inicial”, pois como
já se referiu, nele devem ser indicados, o(s) ato(s) impugnado(s), o
pedido, os fundamentos e os meios de prova, entre outros elemen-
tos. No que particularmente diz respeito ao pedido, uma leitura
conjugada e integrada dos preceitos do RJAT relativos ao âmbito de-
cisório do Tribunal (art.º 2.º) e aos efeitos da decisão arbitral (art.º
475
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
476
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
477
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
478
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
1055
Cfr. art.º 23.º do RJAT.
1056
Assim, art.º 24.º, n.º 3 do RJAT.
1057
Para desenvolvimentos, v. Russo, Anabela, O regime de recurso e de impugnação da decisão ar-
bitral, in Contraordenações tributárias e temas de direito processual tributário, Centro de
Estudos Judiciários, Lisboa, 2016, in http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebook_adminis
trativo_fiscal.php., pp. 81 e ss.
479
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
a) Impugnação
A impugnação da decisão arbitral depende de pedido – deduzido no
prazo de 15 dias, contado da notificação daquela ou da notificação do
“arquivamento do processo” (art.º 23.º do RJAT) – no sentido da sua
anulação, dirigido ao Tribunal Central Administrativo (TCA), com base
em qualquer dos seguintes fundamentos1058:
– Não especificação dos fundamentos de facto e de Direito que justi-
ficam a decisão;
– Oposição dos fundamentos com a decisão;
– Pronúncia indevida ou na omissão de pronúncia;
– Violação dos princípios do contraditório e da igualdade das partes.
b) Recurso
Já o recurso da decisão arbitral tem em vista, como se disse, a sindicân-
cia do conteúdo da mesma.
Aqui, a regra é a da irrecorribilidade1061.
Duas exceções, porém, permitem temperar este regime aparente-
mente penalizador (que visará, acima de tudo, evitar a deslocalização da
pendência para jusante, o que aconteceria se os Tribunais administra
1058
V. art.º 28.º, n.º 1 do RJAT.
1059
Assim, art.º 26.º do RJAT, aplicável por remissão do art.º 28,.º, n.º 2, do mesmo diploma.
1060
Cfr. 27.º, n.º 2, do RJAT.
1061
Para que não subsistam dúvidas, v. o preâmbulo do diploma que aprova o RJAT (DL
10/201, de 20 de janeiro), onde se lê expressamente: “[e]m quarto lugar, acolhe-se como
regra geral a irrecorribilidade da decisão proferida pelos tribunais arbitrais”.
480
III. RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
tivos e tributários fossem inundados com litígios que, à partida, lhes ha-
viam sido propositadamente subtraídos):
– Em primeiro lugar, recurso para o Tribunal Constitucional nos ter-
mos gerais, isto é, na parte em que recuse a aplicação de qualquer
norma com fundamento na sua inconstitucionalidade ou que apli-
que norma cuja inconstitucionalidade haja sido suscitada1062;
– Em segundo lugar, recurso para o Supremo Tribunal Administra-
tivo (STA) quando a decisão esteja em oposição, quanto à mesma
questão fundamental de Direito, com acórdão proferido pelo Tri-
bunal Central Administrativo ou pelo Supremo Tribunal Adminis-
trativo (STA)1063.
1062
Cfr. art.os 25.º, n.º 1, do RJAT e 280,.º n.º 1 da CRP.
1063
Cfr. art.º 25.º, n.º 2, do RJAT. V., ainda, art.º 152.º do CPTA.
481
Parte IV
Prazos
(a relevância do tempo na prática de atos no procedimento
e processo tributário)
§ único: sequência
Quer tendo por referência a estabilidade do ordenamento normativo,
quer tendo por referência a tutela das posições jurídicas subjetivas, a
limitação temporal das situações com relevância jurídica apresenta-se
como uma necessidade incontornável, tanto ao nível do Direito público
como ao nível do Direito privado. Em termos práticos, a vida jurídica
dá a conhecer várias formas em que tal limitação se pode materializar
e que, de um modo genérico, perpassam todos os domínios, seja sob a
forma de imposição de prazos para a prática de atos, seja sob a forma de
determinação ab initio de um período para a vigência de uma lei, ou a
fixação de um termo até ao qual certo facto é relevante. Em todos os ca-
sos, uma ideia é comum: decorrido o lapso temporal pré-determinado,
a situação jurídica em causa, em princípio, deixa de estar a pairar num
estado de incerteza e passa a ser caracterizada pela segurança, seja do
ponto de vista negativo, extinguindo-se, seja do ponto de vista positivo,
estabelecendo-se definitivamente.
Em termos de linguagem jurídica, as dificuldades inerentes à pluri-
significatividade dos termos são assinaláveis, pois o legislador utiliza
frequentemente o mesmo enunciado linguístico atribuindo-lhe signi
ficados distintos – não apenas de um ramo de Direito para outro, mas,
483
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
484
IV. PRAZOS
485
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
486
IV. PRAZOS
487
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
488
IV. PRAZOS
1064
Cfr. art.º 20.º do CPPT. Convém referir que se nada se disser em sentido contrário – isto
é, se outros prazos não forem fixados – o prazo geral para a prática de atos (prazo supletivo)
é de 8 dias no procedimento, e de 10 dias no processo. Cfr., a respeito, art.os 57.º, n.º 2 da
LGT e 149.º do CPC.
489
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
1065
V. art.º 110.º do CPPT.
1066
V. art.º 116.º, n.º 3, do CPPT.
1067
Na medida em que a oposição funciona como uma espécie de contestação ao pedido
executivo que se pretende fazer valer na execução fiscal, o prazo respetivo tem um carácter
intraprocessual, sendo pois considerado de natureza judicial, porque desencadeado num
processo já pendente de cariz judicial.
1068
Cfr. art.º 91.º, n.º 3 da LGT.
1069
V. art.º 60.º, n.º 1, do RCPITA.
1070
Cfr. n.os 4 e 6, do art.º 60.º da LGT.
1071
V. art.º 70.º, n.º 1, do CPPT.
1072
Idem, art.º 66.º, n.º 2.
1073
Ibidem, art.º 102.º, n.º 1.
490
IV. PRAZOS
a) Prazos substantivos
O n.º 1 do art.º 20.º do CPPT determina que os prazos do procedimento tri-
butário e de impugnação judicial contam-se nos termos do artigo 279.º do Código
Civil.
Nestes casos, e na medida em que não está em causa a prática de atos
no processo judicial propriamente dito, mas sim fora dele, nomeada-
mente no foro da Administração tributária, o legislador entendeu sub-
meter as regras de contagem dos prazos respetivos ao regime previsto
no art.º 279.º do Código Civil.
De destacar que a referência ao prazo de impugnação judicial deve ser
entendida como respeitante ao prazo para a interposição/apresentação
da mesma (art.º 102.º do CPPT) e não para a prática de atos num pro-
cesso impugnatório já em curso. Neste último caso, e seguindo a orien-
tação discursiva por nós exposta, o modo de contagem temporal será o
previsto no CPC por se tratar de um prazo adjetivo ou intra-processual.
Já o referido prazo de interposição tem natureza substantiva e deve ser
contado nos termos do CC1074.
Juntamente com este art.º 20.º do CPPT deve ser referido o art.º 57.º
da LGT, particularmente o seu n.º 3, nos termos do qual “no procedi-
mento tributário, os prazos são contínuos e contam-se nos termos do
Código Civil”. Retiram-se destes enunciados normativos duas importan-
tes conclusões:
i) Em primeiro lugar, os prazos são contínuos, o que significa que
não se suspendem nos sábados, domingos, feriados ou férias judi-
ciais1075;
1074
Cfr., por exemplo, acórdãos do STA de 14 de março de 2007, processo n.º 0831/06 e do
TCA-S de 8 de junho de 2017, processo n.º 638/090.BECTB.
1075
Cfr., a propósito, art.º 28.º, da Lei da Organização do Sistema Judiciário – L 62/2013, de
26 de agosto –, nos termos do qual “as férias judiciais decorrem de 22 de dezembro a 3 de
janeiro, do domingo de Ramos à segunda-feira de Páscoa e de 16 de julho a 31 de agosto”.
A propósito da aplicabilidade deste preceito aos Tribunais tributários, cfr. art.º 7.º do ETAF
(“no que não esteja especialmente regulado, são subsidiariamente aplicáveis aos tribunais
da jurisdição administrativa e fiscal, com as devidas adaptações, as disposições relativas aos
tribunais judiciais”).
491
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
ii) Em segundo lugar, tais prazos contam-se nos termos do art.º 279.º
do CC. Destacando o que de mais relevante pode ser apontado,
esta remissão implica que:
– Na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora,
se o prazo for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o
prazo começa a correr [alínea b)]. Por exemplo, nos termos do n.º 2
do art.º 66.º do CPPT, o recurso hierárquico deve ser interposto
no prazo de 30 dias a contar da notificação do ato respetivo, pe-
rante o autor do ato recorrido. Ora, se o contribuinte tiver sido
notificado hoje, por carta registada com aviso de receção, de um
determinado ato de que pretenda interpor recurso hierárquico,
o prazo de 30 dias para interpor o recurso só se inicia amanhã
(quer seja um dia útil ou não), não contando o dia em que o even-
to ocorre (neste caso, a receção da notificação)1076;
– O prazo que termine em domingo ou dia feriado transfere-se
para o primeiro dia útil [primeira parte da alínea e)];
– Os domingos e dias feriados são equiparadas as férias judiciais,
se o ato sujeito a prazo tiver de ser praticado em juízo [segunda
parte da alínea e)], o que quer dizer que, se o termo do prazo
coincidir com um dia em que os Tribunais se encontrem encer-
rados por motivo de férias judiciais, o termo do prazo transfere-
-se para o primeiro dia útil seguinte ao fim das férias judiciais.
Por exemplo, a apresentação da petição inicial de impugnação
judicial está sujeita às regras de contagem do prazo previstas
no art.º 279.º do CC uma vez que, como vimos, se trata de um
1076
No entanto, se o contribuinte tiver sido notificado por carta registada nos termos do
n.º 3 do art.º 38.º do CPPT, antes do início da contagem do prazo temos de ter em atenção
a presunção quanto ao dia em que ocorreu a notificação à luz do n.º 1 do art.º 39.º do CPPT.
Com efeito, o legislador presume que a notificação se considera feita no 3.º dia posterior ao
do registo pelo que, se o contribuinte tiver sido notificado hoje, por carta registada, este só
se considera notificado (presunção Iuris tantum) de hoje a 3 dias. Nestes casos em que o le-
gislador presume que a notificação apenas se considera feita no 3.º dia posterior ao do regis-
to, como nos termos da alínea b), do art.º 279.º do CC, o dia em que o evento ocorre não se
conta, o prazo para praticar o ato (ex. prazo de 30 dias para a interposição do recurso hierár-
quico) só começa a correr no 1.º dia (útil ou não) seguinte ao dia em que se presume feita a
notificação. No entanto, e adiantando o que abordaremos de seguida no texto, se aquele 3.º
dia não for um dia útil (ex. Sábado, Domingo ou feriado), então considera-se o contribuinte
notificado no 1.º dia útil seguinte a este.
492
IV. PRAZOS
Resumindo:
– O dia em que o evento ocorre não se conta;
– O prazo começa a correr no dia seguinte ao da verificação do evento;
– O prazo conta-se de forma contínua;
– Se o prazo terminar em domingo ou dia feriado, o termo do prazo
transfere-se para o primeiro dia útil seguinte, pelo que o ato poderá
ser praticado até esse dia ;
– Se o ato tiver de ser praticado no Tribunal e o prazo terminar em dia
em que os Tribunais se encontrem encerrados em virtude do de
curso do período de férias judiciais, o termo do prazo transfere-se
para o primeiro dia útil seguinte ao fim das férias judiciais.
b) Prazos adjetivos
O n.º 2 do art.º 20.º do CPPT determina que os prazos para a prática de atos
no processo judicial contam-se nos termos do Código de Processo Civil.
Como resulta do que já referimos, a referência por parte do legis-
lador a um prazo para a prática de atos no processo judicial, significa que se
está em presença, não de um prazo substantivo, mas sim de um prazo
judicial ou processual, no sentido de intraprocessual, isto é surgido na
pendência de um processo. Por tal motivo, terá todo o sentido que se apli-
quem à sua contagem, não as regras do art.º 279.º do CC, mas sim as re-
gras dos art.os 137.º e ss. do CPC.
No essencial, essas regras são as seguintes:
i) Os prazos contam-se de forma contínua, suspendendo-se, no en-
tanto, durante as férias judiciais. Todavia, tal suspensão não se efe-
tiva (art.º 138.º, n.º 1):
493
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
494
IV. PRAZOS
1077
A doutrina jusprivatista tem ensaiado vários critérios distintivos, sendo que os mais cor-
rentemente apontados são (i) o critério do objeto – de acordo com o qual a prescrição inci-
diria sobre direitos substantivos (v.g., direito de crédito, em oposição ao não uso, típico dos
direitos reais) e a caducidade sobre direitos adjetivos (“direito de ação”) –; (ii) o critério te-
leológico – nos termos do qual a prescrição tem por finalidade pôr termo a um direito que se
supõe abandonado, ao passo que a caducidade visa preestabelecer o tempo a partir do qual
certo direito pode ser exercido; e (iii) o critério da invocação – em termos de a caducidade
poder ser conhecida oficiosamente, não carecendo de ser invocada pela parte a quem inte-
ressa, ao contrário da prescrição, que necessitaria sempre de invocação. Contudo, se bem re-
pararmos, estes critérios distintivos não se apresentam satisfatórios, seja porque se referem a
realidades que não são transponíveis para o Direito tributário (o abandono do direito, impe-
dido pela ideia de indisponibilidade do crédito tributário), seja porque se referem a aspetos
de regime, invertendo a análise lógica (está a denominar-se uma figura em face do regime
que se lhe aplica, quando se deve fazer exatamente o oposto: depois de identificar a figura, é
que saberemos qual o regime a aplicar).
495
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
1078
Assim, art.º 304.º, n.º 1 do CC.
496
IV. PRAZOS
2. Prescrição1080
1079
Neste particular, e em termos de Direito comparado, serão de atentar as soluções
mais claras acolhidas, por exemplo, pelo legislador tributário alemão e espanhol. O
primeiro, no § 169, número (1), da Abgabenordnung, refere-se a um prazo para a liquidação
(Festsetzungsfrist), considerando-o como sendo de prescrição (Festsetzungsverjährung); o
segundo estipula no mesmo sentido, ao referir-se, no art.º 66.º da Ley general tributaria, aos
plazos de prescripción, no âmbito dos quais se enquadram (i) el derecho de la Administración para
determinar la deuda tributaria mediante la oportuna liquidación e (ii) el derecho de la Administración
para exigir el pago de las deudas tributarias liquidadas y autoliquidadas..
1080
Para desenvolvimentos, e diversas referências bibliográficas, v. os diferentes textos inte
grados no e-book “Prescrição da obrigação tributária” (org. Margarida Reis), Centro de
Estudos Judiciários (CEJ), Lisboa, 2019, disponível em http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/
ebooks/Administrativo_fiscal/eb_PrescricaoTributario.pdf. (última consulta em 08 de abril
de 2019.)
497
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
poder ser pedido pelo titular é fundamental) ; (ii) a não atuação do titu-
lar; e (iii) o decurso do prazo prescricional1081. Por conseguinte, pode-se
afirmar que o facto prescricional é, simultaneamente, um facto negativo
e permanente: negativo, porque pressupõe um non facere, uma inação ou
inércia do titular do direito; permanente, porque pressupõe a perma-
nência de uma situação de facto (essa inércia ou inação).
O primeiro problema que pode ser levantado nesta sede é o de saber
quais são as prestações que são abrangidas pela prescrição da obrigação
tributária. Será que, decorrido o prazo de prescrição, se torna inexigí-
vel apenas o tributo devido? Ou, mais do que isso, será que a prescrição
abrange igualmente outras prestações, como sejam as prestações rela-
tivas a juros, a coimas ou a dívidas de natureza privada mas relaciona-
das com a obrigação tributária (por exemplo, o exercício de direito de
regresso por parte do devedor solidário que cumpre a obrigação “para
além da parte que lhe compete”)?
O problema é complexo e, na nossa perspetiva, apenas uma análise
analítica – que faça a distinção entre as diversas realidades – e que capte
os princípios essenciais de Direito tributário permite chegar a boas con-
clusões. Tal análise parece impor que o melhor critério continua a ser
o da dupla coatividade que utilizamos atrás para identificar a figura do
tributo, em termos de abranger na prescrição das obrigações tributá-
rias todas as prestações financeiras que tenham natureza duplamente
coativa, quer quanto ao modo de criação – prestações nascidas através
de ato normativo e não de acordo ou contrato –, quer quanto à modela-
ção do respetivo conteúdo – fixado imperativamente por ato normativo.
Por conseguinte, em termos substanciais, são abrangidas pela prescrição
tributária as seguintes situações:
– Os tributos propriamente ditos (impostos, taxas, contribuições);
– Os juros compensatórios1082;
– Os juros moratórios1083.
1081
Além dos elementos referidos no texto, exige-se ainda, como veremos, a não ocorrência
de atos interruptivos e a ausência de causas suspensivas.
1082
Cfr. art.º 35.º da LGT. V., a respeito, acórdão do STA de 12 de fevereiro de 2003, processo
n.º 02003/02, onde se pode retirar que, quanto aos juros compensatórios, comungando
eles da natureza da dívida do tributo, o seu prazo e regime de prescrição são os mesmos do
tributo a que disserem respeito.
1083
Cfr. art.º 44.º da LGT. A este respeito, no acórdão do STA de 22 de maiode 2002, pro-
cesso n.º 0126/02, pode ler-se: “a liquidação dos juros de mora está dependente do paga-
498
IV. PRAZOS
mento da obrigação principal quer quanto ao seu nascimento quer quanto ao período de
tempo relativamente ao qual serão devidos. (...) E na situação concreta dos presentes autos
encontrando-se prescrita a obrigação principal quando a executada foi notificada para pagar
os juros de mora não podia renascer esta obrigação de pagamento destes juros de mora uma
vez que já não existia a obrigação de pagamento da obrigação principal”. V., § 232 da Abgabe-
nordnung.
1084
Cfr., por exemplo, acórdão do STA de 01 de outubro de 2003, processo n.º 0470/03, que
se debruça sobre uma dívida respeitante ao pagamento de serviços telefónicos.
1085
Cfr., por exemplo, art.º 34.º do RGIT.
1086
Em termos de Direito comparado, v., por exemplo, § 228 da Abgabenordnung.
499
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
1087
Cfr., por exemplo, de modo indubitável, acórdão do TC n.º 557/2018. V., ainda, acórdãos
do TCA-S de 18 de março de 2003, processo n.º 07361/02, e 04 de julho de 2006, processo
n.º 02598/99, e do STA de 26 de outubro de 2011, processo n.º 0354/11.
1088
Naturalmente que se a liquidação ainda não se efetuou, não estamos perante um
problema de prescrição, mas sim um problema de caducidade do direito à liquidação.
500
IV. PRAZOS
1089
Nos termos do mesmo artigo, exceciona-se, quanto a este regime, o prazo de prescrição
das obrigações tributárias respeitantes ao IVA (caso em que o prazo se começa a contar a
partir do início do ano civil seguinte àquele em que se verificou a exigibilidade do imposto).
1090
Cfr. art.º 10.º, n.º 5, do CIRS.
501
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
502
IV. PRAZOS
a) Interrupção da prescrição
Cfr. o que dissemos supra, II. 6.5.7.7., a propósito da paralisação da venda, estando em
1091
503
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Quanto à questão de saber se a citação do executado tem somente efeito instantâneo (de
1092
504
IV. PRAZOS
505
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
2015, processo n.º 01012/15; V., também, acórdãos do TCA-S de 30 de outubro de 2001, pro-
cesso n.º 05853/01, e de 18 de março de 2003, processo n.º 07361/01.
506
IV. PRAZOS
Note-se que tal solução não fica prejudicada nas situações em que estão em causa im-
1095
pugnações de impostos cujo facto tributário abrange atuações tributárias diversificadas (v.g.,
IVA incidente sobre várias prestações de serviços efetuadas ao longo do ano), uma vez que,
nestes casos, a interrupção da prescrição se dá em relação a todas as obrigações surgidas no
mesmo período de liquidação.
507
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
b) Suspensão da prescrição
Diferente da interrupção da prescrição é a suspensão da mesma. Trata-
-se, também aqui, de uma paragem na contagem do prazo prescricional,
embora neste caso, cessando a causa suspensiva, se aproveite o tempo já
decorrido, não ficando este, como acontecia na interrupção, inutilizado.
Sem insistir em demasia nas razões justificativas de tal suspensão,
sempre é conveniente recordar que se está aqui em presença de rela-
ções em que o credor, por motivos não relacionados com a sua inércia,
não pode legitimamente exercer o seu direito. Prevêem-se aqui situa-
ções (i) em que está pendente uma discussão sobre a legitimidade ma-
terial do crédito – ou seja, em que não é ainda absolutamente certo que
aquela quantia seja devida e possa ser exigida –; (ii) situações em que os
direitos executivos (como direito a proceder à venda do imóvel penho-
rado) se encontram, eles próprios, impedidos de ser realizados; ou (iii)
situações em que o devedor está em fase de pagamento em prestações.
Compreende-se que aqui a Administração tributária não possa exercer
coativamente os seus poderes de cobrança da totalidade da dívida pois,
nuns casos não se sabe se esta é exigível; em outros, o legislador enten-
deu por bem proteger ou blindar a morada de família e, em outros, o de-
vedor já está a pagar. Ora, se a AT não pode atuar, é natural que não lhe
possa ser assacada a inércia, e não lhe possa ser oposta a prescrição da
dívida exatamente por não ter atuado. Em todo o caso, quando a causa
cessar (por exemplo, quando o processo em tribunal terminar com deci-
são transitada em julgado) o prazo recomeça a ser contado do ponto em
que parou.
Resta acrescentar um ponto fulcral: se a dívida estiver a ser discutida
em sede administrativa ou jurisdicional (primeiro grupo acima apon
tado), a prescrição apenas se suspende se esse meio tiver, ele próprio,
eficácia suspensiva em relação à cobrança da dívida, o que acontece
quando o contribuinte apresenta garantia idónea e adequada. Se não for
o caso, a prescrição continua a correr.
508
IV. PRAZOS
1096
Cfr. art.º 49.º, n.º 4 da LGT. A respeito da existência de causas de suspensão da prescri-
ção e da caducidade fora da LGT, cf. acórdão do TC n.º 557/2018, que declarou inconstitu-
cional, por violação do artigo 165.º, n.º 1, alínea i), da Constituição, a norma do artigo 100.º
do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas, interpretada no sentido de que a
declaração de insolvência suspende o prazo prescricional das dívidas tributárias imputáveis
ao responsável subsidiário no âmbito do processo tributário. Entendeu o órgão máximo da
jurisdição constitucional portuguesa que “... do ponto de vista do responsável subsidiário, a
norma em crise cria uma nova causa de suspensão da prescrição (a insolvência de outrem), decla-
rada em processo em que este não é parte e sem que o Governo haja sido para tal autorizado”.
Trata-se, portanto, de inconstitucionalidade orgânica e formal. Importa observar, como se
enfatiza no próprio acórdão, que não está em causa a suspensão da prescrição das dívidas
tributárias exigíveis ao próprio devedor insolvente no âmbito do processo tributário.
1097
Recorde-se o disposto no art.º 244.º, n.º 2, do CPPT.
509
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Finalmente, uma palavra para o âmbito subjetivo: tal como com a in-
terrupção, as causas de suspensão da prescrição aproveitam igualmente
ao devedor principal e aos responsáveis solidários ou subsidiários (art.º
48.º, n.º 2 da LGT).
1098
V., por exemplo, acórdãos do STA de 10 de julho de 2002, processo n.º 025933, de 10 de
dezembro de 2014, processo n.º 0341/12, e acórdão do TCA-S de 4 de fevereiro de 2016,
processo n.º 07214/13
1099
Cfr. art.º 103.º, n.º 2 e 165.º, n.º 1, alínea i) da CRP. A propósito do tema, cfr. acórdãos
do TCA-S de 18 de março de 2003, processo n.º 07361/02, e de 04 julho de 2006, processo
n.º 02598/99.
510
IV. PRAZOS
511
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
1101
Mesmo nas situações em que não se preveja qualquer disposição de Direito transitório,
entendemos que as disposições contidas no art.º 297.º do CC mantêm plena aplicabilidade.
Note-se que não se trata de aplicar analogicamente o regime civilístico a uma lacuna do Di-
reito tributário, até porque tal aplicação se encontra vedada por operância do princípio da
reserva absoluta de lei formal, mas tão somente de considerar que se trata de um conjunto
de preceitos que densificam o princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança
– de acordo com o qual os destinatários das normas devem, com razoabilidade, poder pre-
ver os seus efeitos típicos – e, por essa via, assumem valor materialmente constitucional.
Por isso, são aplicáveis a todo o ordenamento, na veste de solução material enformadora.
O que não se deve admitir, por juridicamente claudicante, é a solução que mande aplicar
determinado prazo porque beneficia o contribuinte. Além de o fim do procedimento e do
512
IV. PRAZOS
a) Conhecimento administrativo
A possibilidade de conhecimento administrativo poderia suscitar algu-
mas dúvidas se fosse entendido que a atividade da Administração tri-
butária tem por objetivo fundamental e estrito a tributação. Contudo,
já vimos que não é assim. Na verdade, configurando-se o princípio da
verdade material como o norteador de todos os objetivos da atuação
procedimental, não resta espaço para conceber que o fim administrativo
seja, neste domínio, “tributar a todo o custo”. Pelo contrário, tal princí-
pio, aliado ao princípio do inquisitório, obriga o agente administrativo
a trazer ao procedimento todos os elementos necessários à descoberta da
verdade material, mesmo que esses elementos obriguem a concluir em
sentido diverso dos interesses financeiros do Estado. Em poucas pala-
vras: a Administração não é defensora dos interesses financeiros públi-
cos – esse é o representante da Fazenda Pública –, mas uma aplicadora
da lei e defensora da verdade material que, nesta situação, não tem de
conduzir à arrecadação da receita, uma vez que a conflituar existe o va-
lor da segurança jurídica.
Como consequência, é de considerar que a prescrição deve ser ofi-
ciosamente conhecida por parte da Administração tributária – insisti-
mos: mesmo contra os interesses financeiros/patrimoniais do Estado –,
nomeadamente, em processo de impugnação judicial (por exemplo, no
âmbito do art.º 112.º do CPPT) e em processo de execução fiscal.
Naturalmente que também deverá ser conhecida se o interessado o
suscitar em sede de procedimento impugnatório.
processo tributário não ser proteger o contribuinte – como também não é tributá-lo a todo
o custo – mas descobrir a verdade material ou resolver adequadamente o litígio e obter a
paz jurídica, não deve ser perdido de vista que o benefício de um contribuinte pode prejudi-
car todos outros (contrariando o princípio constitucional da justa repartição dos encargos),
tendo em vista os objetivos que a tributação visa prosseguir: a obtenção de receitas para a
produção de bens públicos e bens semi-públicos. V., a propósito, acórdão do TCA-S 15 de
novembro de 2005, processo n.º 00220/03.
513
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
b) Conhecimento jurisdicional
Já no que diz respeito à apreciação jurisdicional, duas formas de conhe-
cimento do facto prescritivo podem ser perspetivadas: (i) por um lado, o
conhecimento suscitado pelo próprio Tribunal de modo oficioso e, (ii)
por outro lado, o conhecimento provocado pelas partes no decurso da
tramitação de um processo.
Debrucemo-nos separadamente sobre cada uma das situações.
i) Em primeiro lugar, não restam dúvidas de que a prescrição deve
ser conhecida oficiosamente pelo próprio julgador. Na verdade, tal
resulta do enunciado literal do art.º 175.º do CPPT, nos termos do
qual a prescrição será conhecida “oficiosamente pelo juiz se o órgão
da execução fiscal que anteriormente tenha intervido o não tiver
feito”. Significa isto, como facilmente se depreende, que, mesmo
que as partes (v.g., o contribuinte ou os responsáveis subsidiários)
não tenham levantado o problema no decurso do processo executivo,
o juiz, quando este último lhe chegue às mãos – nomeadamente
nos casos em que, na respetiva tramitação, surja um conflito de
pretensões, como uma oposição – deve ex officio suscitá-lo e, caso
conclua que a prescrição efetivamente se verifica, determinar a
extinção do direito do Estado à respetiva cobrança coerciva e con-
sequente extinção da execução1102.
ii) Mas, e em segundo lugar, também pode ser conhecida se suscitada
pelas partes do (e no) processo. Aqui, as maiores questões são le-
vantadas acerca da forma processual adequada no âmbito da qual
tal suscitação pode ser levada à prática, nomeadamente, pergunta-
-se: em sede de processo de impugnação judicial ou em sede de
execução fiscal1103?
1102
Cfr., a respeito, por exemplo, acórdãos do TCA-S de 18 de março de 2003, processo
n.º 07361/02, e do STA de 29 de junho de 2004, processo n.º 01194/03. Em sentido diverso,
v., art.º 303.º do CC (nos termos do qual “o tribunal não pode suprir, de ofício, a prescrição;
esta necessita, para ser eficaz, de ser invocada, judicial ou extrajudicialmente, por aquele a
quem aproveita, pelo seu representante ou, tratando-se de incapaz, pelo Ministério Público”).
1103
Na verdade, e em abstrato, um outro problema poderia ser levantado, que é o de saber se
a prescrição pode ser conhecida por via de ação – solicitando a declaração de que o crédito
está já extinto – ou por via de exceção – impugnando um crédito que se faz valer contra o
contribuinte. Contudo, apenas esta última via relevará, em face do carácter subsidiário da
ação para reconhecimento, prevista no art.º 145.º do CPPT, que não deve ser usada quando ou-
tros meios forem mais idóneos a conseguir o objetivo pretendido.
514
IV. PRAZOS
1104
V. acórdãos do TCA-S de 04 de julho de 2006, processo n.º 02598/99, e de 4 de junho de
2013, processo n.º 05799/12; e do STA de 31 de maiode 2006, processo n.º 0156/06; de 19 de
outubro de 2016, processo n.º 087/16; e de 4 de novembro de 2015, processo n.º 0234/15. V.,
ainda, acórdão do STA de 18 de dezembro de 2002, processo n.º 01577/02, e jurisprudência
aí referida.
1105
Cfr. art.º 204.º, n.º 1, alínea d), do CPPT.
1106
Assim, acórdãos do STA de 28 de maiode 2003, processo n.º 0426/03 e do TCA-S de 14
de abril de 2016, processo n.º 9494/16.
515
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
3. Caducidade
1107
Cfr. art.º 57.º, n.os 1 e 5, da LGT.
1108
Cfr. art.os 102.º e 203.º do CPPT.
1109
Cfr. art.º 110.º, n.º 1, do CPPT
516
IV. PRAZOS
1110
Cfr. art.º 45.º da LGT.
1111
Cfr. art.º 58.º, n.º 2 do CPPT.
517
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
1112
Como resulta do estudo já anteriormente efetuado, naturalmente que a liquidação não se
confunde com a fase seguinte do procedimento tributário lato sensu que é a cobrança. Após
a notificação daquela por parte da Administração tributária, o contribuinte dispõe de um
prazo para efetuar o respetivo pagamento (ou, então, querendo, impugnar administrativa-
mente ou jurisdicionalmente a liquidação).
1113
Cfr. acórdão do STA de 02 de novembro de 2005, processo n.º 0361/05, e do TCA-N de
14 de janeiro de 2016, processo n.º 01651/06.5BEBRG.
518
IV. PRAZOS
de selo, onde, no n.º 1 do art.º 39.º se prevê expressamente: “[s]ó pode ser liquidado imposto
nos prazos e termos previstos nos artigos 45.º e 46.º da LGT, salvo tratando-se das aquisi-
ções de bens tributadas pela verba 1.1 da Tabela Geral ou de transmissões gratuitas, em que
o prazo de liquidação é de oito anos contados da transmissão ou da data em que a isenção
ficou sem efeito, sem prejuízo do disposto nos números seguintes”.
519
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
***
520
IV. PRAZOS
1115
Cfr., a propósito, o art.º 306.º, n.º 1 do CC.
521
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
Numa posição que nos parece bastante acertada e razoável, a jurisprudência aderiu a esta
1116
ideia e temperou a solução legal. V., por exemplo, acórdão do TCA–N de 21 de outubro de
2004, processo n.º 00092/04, onde se pode ler:
“É que a caducidade do direito de liquidação, tal como a prescrição, constitui, de certo
modo uma “punição” para o não exercício atempado do direito. Porém, o exercício do direito
depende do conhecimento da sua existência por parte do seu titular. Ora, se a recorrente
522
IV. PRAZOS
523
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
1120
A respeito da existência de causas de suspensão da prescrição e da caducidade fora da
LGT, cf. acórdão do TC n.º 362/2015, que julgou inconstitucional, por violação do artigo
165.º, n.º 1, alínea i), da Constituição, a norma do artigo 100.º do Código da Insolvência e da
Recuperação de Empresas, interpretada no sentido de que a declaração de insolvência sus-
pende o prazo prescricional das dívidas tributárias imputáveis ao responsável subsidiário no
âmbito do processo tributário.
1121
Cfr. art.os 49.º e ss. do RCPITA.
524
IV. PRAZOS
525
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
a) Conhecimento administrativo
A este propósito, o que dissemos a respeito da exigência de conheci-
mento administrativo da prescrição continua a ter aqui plena aplicabili-
dade, pelo que para essa sede remetemos, insistindo apenas na relevân-
cia dos princípios da verdade material e do inquisitório.
Em termos práticos, significa esta ideia que, nas situações em que a
Administração liquida o tributo – ou, melhor dizendo: notifica tal liqui-
dação – após o prazo legalmente previsto, pode e deve, por sua própria
iniciativa e sem esperar por impulso do interessado – embora possa atu-
ar no seguimento deste –, revogar o ato exarado, nomeadamente através
do procedimento de revisão oficiosa dos atos tributários (ou, sendo caso
disso, anulando-o em reclamação graciosa).
b) Conhecimento jurisdicional
No que concerne à apreciação jurisdicional, sabemos que são dois os
problemas que devem ser analisados: (i) a suscetibilidade de conheci-
mento jurisdicional oficioso e (ii) o meio processual adequado para le-
vantar a questão.
i) A jurisprudência dominante tem entendido que a caducidade do
direito à liquidação gera mera anulabilidade, pelo que não é de co-
nhecimento oficioso, devendo, antes, ser invocada pelo contribuin-
te. Entende-se que se trata de uma ilegalidade, idêntica a outras
ilegalidades, a necessitar de alegação na petição inicial, sob pena
do seu conhecimento ficar precludido1124.
1124
Cfr. acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo de 18 de maiode 2005, processo
n.º 01178/04, e de 18 de janeiro de 2006, processo n.º 0680/05.
526
IV. PRAZOS
A este propósito, no último acórdão supra citado pode ler-se: “Certo que se poderia duvi-
1125
dar de que assim fosse face ao que dispõe o art.º 204.º, n.º 1, alínea e) do Código do Procedi-
mento e de Processo Tributário. Mas ainda assim caberia recordar que a falta de notificação
da liquidação ali prevista, apertis verbis, de resto, é a que se integra ainda no prazo de caduci-
dade do imposto e já não depois desta mesma ter ocorrido”. Cfr., ainda, acórdão do Supremo
Tribunal Administrativo de 31 de janeiro de 2001, processo n.º 025263.
527
PRINCIPAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS *1126
*
As referências bibliográficas apenas abrangem obras e textos que foram efetivamente utili-
zados e que influíram decisivamente na construção do pensamento do autor e, tirando situa
ções muito excecionais e perfeitamente justificadas – como, por exemplo, aquelas em que se
entendem necessárias remissões imediatas para desenvolvimentos efetuados por outros –,
não são vertidas ao longo do discurso, mas apenas nesta listagem final. O propósito é sempre
o mesmo – tornar o discurso escorreito e deixá-lo ser o que ele pretende ser: Lições, como
reflexo de um edifício científico-analítico de pensamento (e não o mostruário de um preten-
sioso repositório de erudição).
529
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
530
PRINCIPAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
531
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
532
PRINCIPAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Rodrigues, Benjamin, A prescrição no Direito tributário, in Vários AA, Proble-
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traordenações tributárias e temas de direito processual tributário, Cen-
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533
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
534
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS 5
PLANO DA LIÇÕES 7
NOTAS IMPORTANTES 9
INTRODUÇÃO 11
1. O Direito tributário substantivo e o Direito tributário adjetivo 11
1.1. Termos da distinção 11
1.2. Uma noção adequada de tributo 12
1.3. Importância da denominação: Direito tributário e jurisdição
tributária 14
1.4. O conteúdo do Direito Tributário adjetivo. Sequência 16
2. A atividade administrativa tributária 17
2.1. Noção de Administração tributária (AT) e enquadramento
da sua atividade 18
2.2. A automatização da vontade administrativa e a questão
dos “atos informáticos” 21
2.3. Noção e classificação dos atos da Administração tributária 23
a) Atos singulares (individuais) e atos gerais 24
b) Atos unilaterais e atos consensuais 25
c) Atos impositivos e atos não impositivos 27
d) Atos definitivos e atos não definitivos 28
e) Atos de primeiro grau e atos de segundo grau 30
f ) Atos expressos e atos tácitos 31
g) Atos vinculados e atos não vinculados (discricionários) 32
h) Atos válidos e atos inválidos. Atos eficazes e atos
ineficazes 34
535
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
536
ÍNDICE
537
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
a) Enunciação 127
b) Subprincípio da cooperação 128
c) Desvios 130
3.3. O princípio da vinculação de forma 131
3.4. O princípio da celeridade 132
3.5. O princípio da proibição do excesso 133
3.6. O princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança 134
3.7. O princípio da disponibilidade e do inquisitório 136
a) Princípio da disponibilidade 136
b) Princípio do inquisitório 138
3.8. Os princípios da participação e do contraditório 140
3.9. O princípio da confidencialidade 141
3.10. O princípio da imparcialidade – o dever de investigação
da Administração tributária 145
3.11. O princípio da obrigatoriedade de pronúncia e de decisão 146
3.12. O princípio da obrigatoriedade de fundamentação da decisão 148
3.13. O princípio da publicidade dos atos 150
a) Publicidade mediante publicação 151
b) Publicidade mediante notificação – o regime
das notificações em matéria tributária 152
a) Noção e tipos de notificação 152
b) O regime das notificações em matéria tributária 154
3.14. O princípio do duplo grau de decisão 156
4. Os atores do procedimento 158
4.1. Pressupostos procedimentais 158
4.2. Legitimidade no procedimento – a legitimidade em geral 159
4.3. As entidades com legitimidade procedimental tributária 161
4.3.1. A Administração tributária 161
4.3.1.1. Noção de “Administração tributária”
e enquadramento da sua atividade 161
4.3.1.2. A fixação da competência da Administração
tributária. A competência tributária 163
4.3.1.3. Os fatores atributivos de competência tributária 164
a) A competência tributária em razão da matéria 165
b) A competência tributária em razão
do território 165
c) A competência tributária em razão
da hierarquia 167
538
ÍNDICE
539
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
540
ÍNDICE
541
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
542
ÍNDICE
543
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
544
ÍNDICE
545
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
546
ÍNDICE
a) Impugnação 480
b) Recurso 480
547
LIÇÕES DE PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO
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