Mafia Captive - Kitty Thomas
Mafia Captive - Kitty Thomas
Mafia Captive - Kitty Thomas
(Mafia Captive)
By Kitty Thomas
Equipe Pégasus Lançamentos
Disponibilização: Soryu
Tradução: Maristela
Revisão Inicial: Renata Godoi
1ª Revisão Final: Virginia
2ª Revisão Final: Niquevenen
Leitura Final: Elizabeth Bernardo
Verificação: Lyli Cunha
Formatação e Layout: Luisinha Almeida
Sinopse
Leo evitava participar dos negócios da família, mas isso não fazia dele
um santo. Preocupado e envergonhado por seus desejos sexuais mais obscuros,
um dos quais era o de possuir uma escrava. Mas quando seu irmão lança Faith
aos seus pés. Ele redesenha um cenário para que Leo a resgate de uma morte
certa e coloque a prova sua força moral. Se Faith tivesse os mesmos gostos
sexuais que ele, seria fácil viver sua fantasia, mas não, ela não os tinha
nem sequer um pouco. Mesmo um açoite mais suave despertava nela um terror
que Leo não poderia suportar.
Ela não teve ânimo suficiente para pegar o spray antes que ele
agarrasse sua bolsa. Mesmo por que da forma como o vento soprava
naquela noite, teria as mesmas probabilidades de espirrar nos olhos
dele que nos próprios. E então, como ela estaria?
Outro cadáver.
Os passos se detiveram. Uma respiração forte ecoava como se
estivesse soprando em seus ouvidos. Um perfume penetrou no estreito e
escuro espaço até ela, sobrepujando o aroma da comida podre e álcool.
Era um profissional, não um assaltante de rua casual. Pessoas pobres e
desesperadas não usavam bons perfumes. E se o fizessem, não seria de
uma marca tão cara.
Reprimiu um grito que a fez tremer toda e ecoou tão forte em sua
mente que ela temeu que ele ouvisse. Houve um estalo de um
acendedor e logo a fumaça de cigarro encheu o ar.
Soltar a bolsa fora necessário para poder correr, agora ele sabia
quem era e onde vivia. Por um momento conseguiu imaginar que ele
não sabia que estava atrás do contêiner de lixo. Tentou pensar aonde
poderia ir, e como poderia manter-se a salvo de alguém que, sem
dúvida, estava perseguindo implacavelmente a única testemunha do
seu crime.
— Muito bem, vamos, saia. Se você me fizer ir até você, eu vou ter
— Sinto muito, não posso fazer isso. Tem muita informação nessa
cabeça bonita.
— Eu não sei nada. Não sei quem é você. E não me importa. Não
quero me envolver. Juro por Deus. Afaste-se. Por favor, o que eu vi, não
é assunto meu. Não me preocupo com ele. — Tudo o que Faith queria
era estar a salvo na cama com o seu gato.
— Merda que vai. Atiro em você ai no lixo, e não tenho que limpar
— O que eu disse foi para tirar a sua linda bunda para fora do lixo
— Por favor...
— S... Sim.
— Mostre.
Ela se virou para correr de novo, mas ele foi muito rápido. Apertou-
a contra a parede, puxou sua calcinha para baixo enquanto puxava a
saia para cima e torpemente dirigiu seu corpo para a luz. Ela se
retorceu e lutou contra ele. Esperava que a derrubasse e a estuprasse,
mas ele depois de que encontrou provas do que havia dito a verdade,
cobriu-a de novo.
— Leo! — disse.
Faith pegou o sabonete, muito assustada para não fazer o que ele
mandou. Tentou ignorar a nudez, concentrada na conversa do homem.
— Calma caralho. Olha o que fazer com ela, uma vez que a tenha
depende de você. Mas se não a pegar, ela está morta. Se a deixar sair,
você sabe que a encontrarei outra vez e estará morta. Sua vida está em
suas mãos, e uma vez que a vir, sei que irá querê-la. Estou fazendo um
favor, dando o que você quer e salvando a vida dela. Sou um santo
normal. Poderia ter disparado na puta... Sim, estou em casa... Sim,
bom, não quer ter as mãos sujas. Não quer estar no negócio da família,
mas já sabe de onde vem o dinheiro. Não esqueça isso... Negócio
honesto minha bunda... Não poderia ter começado esse negócio sem a
sua família. Venha agora mesmo.
— Oh!
Leo ficou olhando o telefone na mão, sem saber que pensar. Uma
infinidade de emoções o atravessava, desgosto, culpa, excitação. A
culpa era prematura. O desgosto estava justificado. A excitação era um
problema. Embora recusasse o retorcido presente do seu irmão, seu
pênis se ergueu em suas calças no momento que o cenário foi
desenvolvido através do telefone. Não a havia visto ainda e já estava
fantasiando-a como sua própria escrava, existindo só para obedecer e
saciar seus caprichos sexuais.
É mais fácil dizer do que fazer. Quando ela estivesse sob seus
cuidados, dependendo dele e totalmente vulnerável, seria ele capaz de
resistir e não treiná-la? Não tomá-la? Duvidava que tivesse tal
autocontrole. Dirigir-se para a casa de seu irmão garantia se converter
em uma pessoa tão imoral quanto Angelo. Mas se não fosse, ela estaria
morta antes do amanhecer.
— Ela lutou. Eu passei o diabo com ela e a cortei, mas sabia que
não iria gostar. Olha bem e veja se a quer. Não há diferença para mim
de uma maneira ou de outra.
Iria lhe fazer mal? Não sabia ainda. Tudo dentro dele estremecia,
em sinal de triunfo diante do que tinha. Uma escrava real. Uma mulher
a sua completa mercê. E ainda, não foi ele que a capturou. Seu irmão
orquestrou o cenário, e assim interpretaria o papel de herói,
resgatando-a da morte certa.
Leo sempre foi consciente da sua cicatriz, mas talvez não fosse tão
óbvia. Ou possivelmente ela estava tão assustada, que a ideia de um
gêmeo não tivesse ocorrido.
— Não queria esbanjar meu tempo se não fosse ficar com ela. Vai
levá-la?
Angelo sorriu.
— Bem, se não a achar atraente, se não for tudo o que sempre quis
para amarrar e dominar, então tudo o que tem a fazer é me dizer uma
palavra, e ela desaparece.
Ele não tiraria a mordaça. Não com plateia. Depois, a sós no carro
o faria, mas não ali. Quaisquer que fossem as palavras trocadas entre
eles não seriam presenciadas por Angelo e seu amante. Dali em diante,
o que passasse entre eles seria privado.
Seu irmão retornou um momento depois com o estojo de primeiros
socorros, e Leo pôs as pernas da garota no colo. Não importava o
sangue manchando sua calça. Tudo que o preocupava era enfaixá-la e
sair dali.
— Posso entender sua reação, mas disse que não queria machucá-
la. Forçou-me a fazê-lo.
Faith lhe arranhou e a mão dele apertou mais ainda. Ela queria
suplicar, mas nenhuma palavra saia da sua boca, enquanto ele a
estrangulava. Leo não era menos letal que seu irmão.
— Ficou claro?
— F-Faith.
— Não.
— N-Não, Amo.
— Não posso soltá-la e não serei capaz de resistir a você. Mas vou
ser bom com você se deixar, Faith. Vai deixar?
Cada vez que ele pronunciava seu nome, era como se uma parte
dela se rompesse e saísse flutuando. Queria discutir sobre pertencer a
ele, mas sabia que não era o caminho para obter a amabilidade que ele
oferecia. Concordou com a cabeça, para assim não ter que chamá-lo de
Amo outra vez. Ele deixou passar.
— Não.
— Faith... Vou parar o carro e vai ser muito pior. Sou seu Amo. É
minha propriedade. Agora diga corretamente. Não, o quê?
— Amigos?
— Tem pouco para deixar. Assim será mais fácil para você.
Ele não sabia do que estava falando. Mesmo não tendo nada para
deixar nunca era fácil. Ela foi introduzida no sistema de amparo ao
menor de Miami quando tinha doze anos. Seu pai adotivo havia lhe
batido, e quando se transformou em uma adolescente ele tentou outras
coisas.
Ela não sabia o que era estar rodeada de gente. Como conversar de
maneira real, ter amigos próximos. Nunca aprendeu como funcionava a
confiança. Agora tudo o que ela deixaria para trás era um apartamento
muito pequeno e poucas amizades superficiais. As lágrimas corriam por
seu rosto e pensou que nunca fosse esgotar seu suprimento delas.
O único ser que sentiria falta e dependia dela para sobreviver. Não
suportava a ideia de seu gato Squish sofrendo e morrendo sozinho em
seu apartamento. O gato passou com ela o último ano de colégio e viu
como conseguiu seu primeiro trabalho real, como adulta.
— Já disse que posso fazer sua vida fácil ou difícil. Dê-me o que
quero, e farei com que seja fácil. Quando chegarmos em casa, pode
escrever seu endereço e faça uma lista de tudo que precisa onde
morava. — Ele destacou a palavra.
Leo concordou.
Faith tentou não pensar no preço que ele exigiria por toda
amabilidade. Fora colocada uma etiqueta nela e não havia nenhuma
dúvida que ele a tiraria o pagamento do seu corpo. Mesmo assim, não
conseguia evitar o instinto que a fazia querer agarrar-se ao amparo que
ele oferecia, por mais irracional ou louco que fosse.
Ele alisou o cão pela última vez e se endireitou, com o rosto sério.
— Vai me machucar?
Tinha a intenção de que fosse tão fácil para ela quanto fosse
possível, se ela o permitisse. Cada passo pequeno para a completa
submissão seria recompensado. Cada engano castigado. No momento
em que acabasse com ela, o ansiaria tão profundamente, que não
recordaria que tudo isto começou com sua forçada perda de liberdade.
— Faith.
Leo sorriu por ela ter usado o título. Ela era muito doce. Apesar da
intenção de brigar com ele e seu irmão, estava surpreso quando tão
poucas ameaças e dor resultaram em obediência. Esperava mais atitude
e rebeldia, mas ela o estava surpreendendo. Mesmo que não a
classificasse como pervertida, havia uma corrente submissa que corria
através dela como eletricidade, uma profunda necessidade de satisfazer
uma parte mais forte dela, que felizmente ele o faria.
— Sim, Amo. P... Por favor, não me faça mal. — Arriscou olhá-lo
nos olhos. — Por favor.
— Não, Amo.
— Entre.
Quando a porta abriu, um gato cinza com uma cara que parecia
como se tivesse sido achatada, entrou apressadamente no quarto,
miando, incomodado ao ver outro animal recostado contra os pés de
sua dona. Apesar da cara achatada típica da sua raça, era lindo.
— Squish.
— Squish?
— Não o quê?
— Não recordo ter dito que pudesses usar pijama na cama. Quero-
a nua.
— Amo. Qui... Quis dizer Amo, por favor... Não posso... — Como
poderia despir-se na frente dele? Não conseguiria se obrigar a fazê-lo.
Não era como se quisesse enfurecê-lo ou receber castigo, só não
conseguia. Pensamentos giravam em sua cabeça, lembrando-se de seu
pai adotivo com uísque em seu hálito, encurralando-a em um quarto em
uma festa, tentando tirar sua blusa momentos antes de serem
maravilhosamente interrompidos.
Não podia contestar uma vez que ele continuou batendo. Era
doloroso, é obvio, mas a dor era difícil de processar ante a humilhação e
o choque do acontecimento. Não podia crer que fora tola em pensar que
ele continuaria sendo amável. Acaso todos os homens no mundo só
queriam bater e extrair vantagem dela?
— Por favor...
Não pôde conter-se por mais tempo. Todas suas resoluções em ser
agradável e obediente esperando por misericórdia se evaporaram frente
a recente humilhação.
— Já está me machucando. Trouxe-me aqui contra a minha
vontade e sem nenhuma esperança de liberdade e agora me despe e me
bate. É muito tarde para pretender ser bom. Tenta me violar e espera
que concorde feliz com isso!
A única diferença entre seu pai adotivo e Leo era a aparência. Leo
foi amável ao sugerir lhe dar um pouco de tempo, e ela se viu indo
espontaneamente para os braços dele, mas essa fantasia havia
desaparecido.
Antes que ele ficasse irado conforme prometeu, ela tirou a blusa a
calça e cobriu os seios com os braços.
Queria suplicar outra vez, mas o olhar dele dizia que não
adiantaria. Tirou a última peça de roupa e fechou os olhos fortemente,
esperando pelo inevitável.
— Deite-se na cama.
— Dormiu bem?
Uma mentira óbvia. Ela estava muito assustada para confiar nele.
A luz do dia acentuou sua ansiedade. Os olhos estavam avermelhados.
Isto não estava indo bem. Ela se sentia violada só de estar nua na
sua presença. Mesmo sem tacá-la. Foi uma longa noite, ela despida, um
pênis duro e ela atuava como uma refugiada atormentada. Se ele a
pressionasse mais forte, talvez ela se retirasse dentro de si e nunca
voltasse a sair. A ideia de que a estava afetando com ações tão
pequenas foi outro prego no seu ataúde pervertido.
Ficou zangado, não só com seu irmão, mas também com Faith.
Como se fosse sua culpa não ser extrovertida. Como se pudesse culpá-
la por estar assustada com ele. O sentimento era irracional, mas mesmo
assim, a fúria se construiu enquanto se sacudia e gozava. Depois do
banho, retornou ao quarto para encontrá-la na borda da cama enrolada
como um animal, sem nenhum lugar aonde ir. Sua fúria sumiu,
superada pelo medo no centro do peito. Fiz isto a ela. Em uma só noite.
Ela vestia jeans e uma camiseta. Os pés descalços, exceto pela gaze
molhada do banho. Leo foi ao banheiro e pegou o kit de primeiros
socorros do armário.
Ele se perguntou se ela seria alguma vez capaz de falar com ele
sem gagueira, tremor nas mãos e sempre abalada na companhia dele.
— Com lasanha?
Ela lançou o olhar sobre ele e o medo voltou mais forte. Leo tentou
ignorá-lo.
— Faith?
— Estarei lá em um minuto.
Ela deu-lhe uma olhada, suplicante, mas fez o lhe havia dito.
Recolheu os pratos e logo os pôs na lava-louça, subiu.
— P... Por favor, não faça... — O terror em seus olhos foi demais
para ele. Não era isto que queria.
Diante disso, seu corpo ficou rígido, e ele soube o que ela tinha
medo sem verbalizar. Se isto não estava funcionando, ele a mataria?
Devido ao que ela suspeitava a respeito da sua família, não era
nenhuma surpresa, mas ele não estava no negócio de matar mulheres.
— Não vou feri-la, mas você está muito assustada. Não tem as
mesmas necessidades e desejos que eu tenho, e mesmo pensando que
seja possível treinar um corpo para querer essas coisas, não sou um
bastardo doente o suficiente para fazê-lo sem seu consentimento.
Levante-se.
Sabiam que seu chefe era sexualmente pervertido? Sabiam que ela
estava destinada a ser sua escrava e servir essas necessidades? O que
pensariam dela sendo transferida para a outra ala da casa? Eles
pensariam que ele viu suas carências ou que teve piedade dela? Por que
se preocupava com o que eles pensavam?
Ficou fora do caminho até que eles se foram sem dizer uma
palavra.
Ela imaginou que seu chefe ficaria zangado a princípio, com planos
de despedi-la quando retornasse, e logo, com o passar do tempo,
compreenderia que ela não retornaria mais. Perceberiam quando seu
último cheque não fosse descontado? Ficariam preocupados ou não se
importariam? Alguém preencheria um formulário de pessoa
desaparecida?
Haviam se passado três dias completos antes que Leo visse Faith
outra vez. Foi cuidadoso em evitá-la, sabia que ela queria se esquivar
dele. Mas era inevitável que se encontrassem eventualmente. Ambos
foram à cozinha certa tarde ao mesmo tempo para um almoço tardio.
Tinha visto-a nua uma vez. Tocou em seus seios. Uma vez. E havia
golpeado ela. Uma vez. Nada dessas coisas deveriam causar tanta
ansiedade e sobressaltos, não importava quem fosse sua família. Sentiu
sua ereção e imaginou que ela também deveria ter notado.
Ela girou e voltou para o seu quarto. Ela deveria estar com fome,
então ele fez para ambos um sanduíche. Comeu o seu na cozinha, e o
dela levou até o quarto. Não havia por que, mas bateu em sua porta.
— Que... Quem é? — Ela sabia muito bem quem era. Seu senhor e
Amo. O homem a quem pertencia a quem devia a vida e que era o dono
de seu corpo.
— Obrigada. — Resmungou.
Deu-se conta que ela não queria conversar. Mas a quem enganava?
Se não podia subjugá-la e treiná-la, não podia mudar a maneira como
se dirigia a ele. Descobriu que sentia falta de escutar as palavras saírem
de sua doce boca.
— Olá, Ma. — Leo não conseguiu dizer mais nada, pois ela
começou a choramingar emocionada em um rápido fluxo de frases.
Algumas delas terminavam onde outras começavam.
— Angelo me disse que tem uma garota agora. Disse que vai se
casar. Quando iria contar para sua pobre mãe? Quando todos nós
estivéssemos ai? Toda a família está ansiosa para conhecê-la. Qual o
nome dela? Faith? É católica? É uma boa garota, Leo?
—Ma. — Disse Leo, querendo acalmá-la. Isto não era bom. Sua
família logo chegaria para ficar durante uma semana para o Natal. Ele
ainda não havia decidido o que ia fazer com Faith. Seria horrível para
ela, mas pensou em prendê-la no calabouço durante a semana e
Demetri levaria a comida. Ao menos dessa forma evitaria ser
questionado. Quem sabe no próximo ano pudesse confiar nela o
suficiente para deixá-la estar com sua família sob um pretexto
qualquer, possivelmente como uma nova governanta, faxineira ou
enfermeira para auxiliá-lo no trabalho.
Suprimiu um rosnado.
— Sem ter nos apresentado? O criamos melhor que isso! Não posso
acreditar que ficou comprometido sem sequer ter chamado sua pobre
mãe! Ela é católica? Por favor, me diga que ao menos ela é católica.
Não tinha a menor ideia se era ou não, mas o que era uma mentira
juntada a mais um monte delas?
— Oh, pobre garota. Bom, agora ela terá uma grande família.
— É irlandesa? Sei que saiu antes com ruivas, mas seu tio Sal não
gostará de ter sangue irlandês na família. Por favor, me diga que não é
irlandesa.
Tentou dizer que pagaria pelo quarto e a comida, ao menos até que
seu dinheiro acabasse, queria apaziguá-lo. Não era como se o seu pouco
dinheiro lhe atraísse, tendo em vista que era rico. Mas quando o viu
parado na cozinha, a realidade bateu forte. Era tão alto e forte! Havia
sentido a evidência de sua força quando ele a agarrou e bateu nela na
primeira noite. A intensidade dos olhos e a severa linha constante dos
lábios a assustavam. E aquela cicatriz em seu rosto...
Apesar de que havia sido mais amável com ela do que seu gêmeo, a
cicatriz dava um toque de escuridão e dureza, bem menos acessível.
Ele deu uns passos dentro do quarto, tão rapidamente que ela não
pôde deter a si mesma de encolher-se. Quando chegou até ela, colocou
uma pequena caixa sobre a escrivaninha. Parecia uma caixa de
joalheria.
O que tinha nessa caixa? A resposta óbvia era uma joia, mas Faith
não pensava em uma única razão pela qual seu captor lhe desse de
presente uma joia.
Sua mão tremia quando pegou e abriu a caixa. Ela não pôde
ocultar sua surpresa. Um anel. Que pedra!
— Eu...
— Ponha o anel. Agora.
— Claro que tem outra opção. Se não quiser fingir ser o amor da
minha vida, ou não parecer bastante convincente, ficará presa no
calabouço até eles irem embora.
— Por favor, não! — Suas palavras saíram com muita força, o que
a envergonhou. Mas a ideia de ficar presa em um... Calabouço... Era
demais. Não lhe ocorreu que a casa teria tal coisa, mas agora que
mencionou, não duvidava da veracidade.
— S... Sim.
Por três dias ele a deixou em paz. Não tentou nada. Não a matou.
Ninguém fez nada para machucá-la. Mas a ameaça do calabouço
encontrava-se latente. Se ela se afastasse dele varias vezes, a prenderia
no calabouço? Não podia evitar que estava acostumada com homens
menos intimidantes, homens que a deixavam tomar as decisões mesmo
se eles não gostassem muito. Não havia termos médios para os
homens? Mesmo para um homem que tomasse o controle, porém não
fosse tão cruel e tão aterrador?
Era estranho que lhe tenham dado este nome, quando ela nunca
teve muita fé em ninguém, nem em nada. Inclusive mesmo a religião
havia lhe inspirado mais dúvidas. Cada vez que seu nome era
mencionado, zombava de sua incapacidade de confiar.
— Não, p... Por favor, A... Amo. Tratarei de fazer o melhor. Por
favor, me dê uma oportunidade.
Desta vez, foi Leo quem ficou tenso e quieto. Faith nem percebeu
por que o chamou assim. Ela estava muito confusa. Desde que ele
mencionou o calabouço e a possibilidade de ser presa ali, já não podia
ver a si mesma como hospede, se alguma vez acreditou nesta ilusão.
Queria acalmá-lo, o fazendo suficientemente feliz para permanecer viva
e segura.
— Mas?
— Seu irmão.
Leo meditava sobre o enigma que vivia em sua casa. Tinha que ser
uma submissa. Em algum lugar bem profundo. Ficou surpreso com a
resposta de que ela não era virgem. Seu medo por ele o fez acreditar que
fosse. Na verdade teve vários namorados na universidade, era
certamente experiente. Mesmo assim, ela não se sentia experiente com
ele. De nenhuma forma. Imaginou que os garotos com quem estivera
foram somente isso... Garotos. Possivelmente não estava pronta ainda
para um homem maduro com uma vida estabelecida e poder
perceptível.
Tentou ver as coisas sob sua perspectiva, e admitiu que pudesse se
sentir como ela, mas nunca encontrou uma mulher que se comportasse
assim. Claro, tampouco havia tido uma como refém.
4É baunilha: expressão utilizada para quando uma mulher é não pervertida, com uma reduzida
vida sexual.
Capítulo 6
— Diga o que sabe sobre o meu trabalho. — Ele disse, enquanto cortava
seu churrasco de picanha.
Ela respirou profundamente.
— Faith?
Leo colocou uma mão sobre as dela, ela retirou a mão e olhou para
o prato.
— Não quero fazer isso. Se quisesse, não perderia tempo com você.
Mas cuido da minha família. As mulheres não precisam saber sobre
este negócio licencioso. Entende?
Ela concordou.
Com grande esforço, ela impeliu as palavras para fora de sua boca,
tentando não gaguejar.
— S... Seu desenho promoveu uma considerável melhoria nas m...
Máquinas e obteve a patente, e agora as vende para hospitais e
cirurgiões de todo o país, que é de onde vem seu dinheiro. — Reuniu
coragem enquanto falava. — Ainda faz cirurgias duas vezes por semana.
E foi com o seu dinheiro que construiu a clínica particular aqui, em sua
casa.
— E? A respeito do sangue?
— Três.
Sua voz estava tão baixa quando ela falou que ele ficou em dúvida
sobre o que mais desejava: amarrá-la, açoitá-la, ou confortá-la.
Acreditava que seu gesto de deixá-la viver em outra ala era muito nobre,
mas não estava seguro de quanto seu autocontrole duraria. Quando
tomaria o que era dele?
— Diga-me como nos conhecemos.
Enquanto ela o olhava por baixo dos grossos cílios, soube que
queria acreditar que se desempenhasse bem seu papel, estaria a salvo.
— L... Leo?
— Sim, Faith?
A respiração dele era dura. Rogou que ele pudesse conter seu
temperamento sem descontrolar-se com nela.
— Venha aqui!
— Por favor...
— Venha! Aqui!
— Sinto muito. — Ele disse contra seu cabelo. — Não tenho outra
opção.
Faith colocou uma mão tremula na dele e lhe permitiu que levasse
de volta à cozinha. Ele colocou seu prato dentro do forno de micro-
ondas para aquecer por cerca de um minuto, então fez o mesmo com o
dele. Enquanto comiam, ele acariciava seu braço e ela tentou não fugir
mais.
Na metade do filme, Leo girou o rosto dela para ele, e seus lábios se
encontraram com os dela. Ela estava gelada, incapaz de relaxar sob seu
toque, naquela circunstância.
Ele se afastou.
— Relaxe, Faith. Tudo o que trocarei com você serão beijos castos.
Pode retribuir. Trocaremos muitos assim quando minha família chegar.
Seria melhor se acostumar ao meu beijo.
Ele tentou de novo, e desta vez ela se forçou a relaxar e fingir que
era um encontro com um homem a quem disse sim.
Não teria que pedir duas vezes. Não podia voltar para o quarto
suficientemente rápido, o único lugar onde se sentia segura.
— Faith?
Angelo era o verdadeiro perito em moda, mas Leo sabia algo, e sua
gente lhe assegurou que o vestido era simples e elegante e daria a
impressão certa para sua família de que a garota pertencia ao seu meio.
— Shhh! Está bem. Direi a eles que você é tímida. Vai funcionar.
Vou mantê-la a salvo.
Diante dessas palavras, ela relaxou contra ele. Talvez uma parte
dela acreditasse nele. Embora estivesse frustrado de ter uma bela cativa
que não se atrevia a violar, começou a se sentir estranhamente protetor
com ela. Podia acreditar que se necessário a mataria se tentasse
conseguir ajuda de sua família, sustentando-a em seus braços, sabia
que nunca seria capaz de fazê-lo ou deixar que alguém o fizesse.
Leo lembrou que algumas noites atrás, havia lhe perguntado o que
estava acostumada a fazer nas festas de final de ano. O olhar que lhe
deu foi em branco. Murmurou algo a respeito de beber algo com seus
amigos na véspera de Natal. E então algo sobre uma festa de Natal no
escritório com um bolo comprado na padaria e uma brincadeira que
envolvia amigo secreto.
— E esta deve ser a sua garota! — Gina soltou Leo e voltou sua
atenção para Faith, que havia dado um passo para trás do seu filho.
— Bom, ela vai ser da família, não é? — Sua mãe o lançou uma
olhada que ele já estava esperando. Diante do olhar, parou
imediatamente.
— Mas é a véspera de Natal. Não sei por que não chegamos aqui
alguns dias antes e cozinhamos todos juntos como antes. Toda a família
Brooklyn chega trazendo pratos e talheres, e eu fico sem fazer nada.
Quero cozinhar algo para o meu filho. Agora!
Era uma discussão sem sentido. Uma vez que Gina colocava uma
ideia na cabeça, pobre do homem ou mulher que tentasse detê-la! Leo a
levou para a segunda cozinha, mantendo um férreo controle sobre a
mão de Faith.
Netos.
Teve medo de olhar nos olhos de Leo depois disso. Mas ele tinha
que saber que isto não poderia funcionar agora. Prometeu que não
exigiria intimidade sexual dela. Em uma família grande que espera prole
numerosa, isto nunca funcionaria. Como manteriam afastada a ideia de
ter mini—Leo's?
Havia lhe dito que não a obrigaria, mas ele devia imaginar que
algum dia ela estaria disposta a ceder a ele, especialmente sob o ponto
de vista de como tinha começado a saborear seus muitos beijos. Ele
devia saber. O que diria ele quando se inteirasse de que poderia não ser
capaz de ter filhos? Seria o fim de tudo?
Cada vez que Leo dizia isso, soava admissível. Dizia-o com tal
prática, sem problemas, que não pensariam em pôr em dúvida a farsa.
O olhar que Caprice lançou a Faith. Ela não se incomodou em ocultar
seu desprezo e ciúme. Caprice se aproximou de Leo e lhe deixou um
demorado beijo na face, depois em seu pescoço. Os seios, que quase
saltavam do vestido, pressionavam provocativamente contra ele.
Faith se sentiu aliviada quando Leo pareceu mais incomodado que
excitado. Não era que ela estivesse com ciúmes da outra mulher, mas se
alguém chegasse e levasse Leo a cair a seus pés, o que significaria para
ele e sua segurança? Neste ponto mendigaria para ter os bebês do
homem se a mantivesse acima do solo, viva. Foi nesse momento que se
deu conta de como sua situação era potencialmente precária. Ela
precisava agradar a família dele. Especialmente a sua mãe. Gina era a
peça chave de tudo.
Não. Não. Não. Não me deixe sozinha com esta gente. Sobre tudo
com esta mulher. Caprice parecia como se pudesse comê-la viva. Mas
Faith fez um gesto agradável de concordância, com medo de lhe
envergonhar diante de seus amigos e familiares.
Ela sorriu.
— Deixe-me cuidar disso. Essa cadela não terá espaço. Ela é muito
agressiva para você. Quando vi a forma que Faith se apertava a você,
sabia que ela era a certa. Sempre se sentiu atraído por garotas mais
suaves. Não as meninas de fala dura do Brooklyn como Caprice.
Faith deu a volta, a princípio pensou que era Leo, mas os olhos do
homem estavam mortos, e não tinha uma cicatriz. Angelo. Era
impossível explicar como ele poderia parecer mais temível quando era
tão perfeito, e Leo poderia parecer mais seguro com a cicatriz em sua
face. Agarrou um dos fragmentos de vidro maiores, ignorando a dor
quando a borda lhe cortou a palma da mão. Daria a Angelo uma cicatriz
para que coincidisse com a do seu irmão se a tocasse.
— Fale por que não está sendo uma puta obediente para meu
irmão. Se for por falta de instrução, sei de meninos na prisão que
podem ensinar uma coisa ou duas a respeito de chupar um pau. — Sua
voz era letal, e recordou quanto aterrador Angelo poderia ser. Desde que
estava com Leo, encontrava-se assustada e insegura, esquecendo
quanto havia melhorado sua situação. Agora a intimidação à sua frente
era grande e ameaçadora.
Angelo suspirou.
— Sabe como Ma fica quando está perto do Davide. Queria que ela
se concentrasse em outra coisa, para variar. Queria dar um descanso.
— Então tudo isto... Com Faith... É sua culpa. Não interfira. Vou
treiná-la quando estiver bem e pronta.
— Está bem. — Rosnou Angelo. — Mas não lhe dei para que fosse
a rainha da casa.
— Dói?
— Sim.
Não sabia se era por humilhação, medo ou dor física que a fazia
chorar, mas os soluços despertavam ao mesmo tempo seus impulsos de
protegê-la e seu afã de dominá-la.
— Vira seu rosto para a luz para que eu possa ver onde ele bateu.
Não havia corte, mas era evidente que havia sido ferida. Desejou
não saber tanto sobre as marcas dos sinais de abuso, mas havia
ajudado a sua irmã a cobrir suas marcas mais vezes do que conseguia
contar.
Leo deixava marcas muito piores que está nas mulheres, mas
nunca no rosto, e não pela ira. Ele se controlava. Violência controlada
era melhor? Era algo que não gostava de pensar. Se fosse consensual,
não era melhor? A Igreja não fazia essas distinções, e Faith certamente
não pediu a mão de Angelo em sua face.
— Sei que está. Mas preciso que se esforce mais. — Manteve a voz
baixa para não assustá-la. — Não vou deixá-la sozinha com nenhum
deles. Sobre tudo depois do que aconteceu na cozinha.
— Vou usar um curativo líquido em lugar da gaze. Não vai ser tão
notável e não chamará a atenção.
— Srta. Jacobson?
— É claro, senhor.
— Encoste-se.
Havia batido no rosto de mulheres como Angelo fazia? Foi por isso
que não reagiu na cozinha? Era isto tão comum e aceitável para que o
fato de cobrir suas pistas se converteu em uma segunda natureza?
Havia dito que iria mantê-la segura, mas se referia aos outros.
Bateria nela se o zangasse? De que outra maneira ele estava tão certo
de que maquiagem usar e como? Custou tudo dentro dela não começar
a chorar outra vez, porém manteve o controle.
— O que acha?
— Olhe para mim. — Sua voz era severa e não admitia discussão.
Os olhos de Faith focaram os dele. Ela sentiu uma onda de calor diante
a bondade inesperada de sua expressão. — Ninguém vai tocá-la.
Ninguém vai feri-la. Não vou me afastar do seu lado outra vez. Não
antecipei o comportamento de Angelo, mas deveria saber que ele
suspeitaria que não estivéssemos se relacionando como ele queria. —
Leo a puxou para seus braços.
O interfone zumbiu.
— Senhor Raspallo?
— Sim, Demetri?
— Tio Sal. — Disse Leo que soou como uma advertência, mas não
havia nenhuma ameaça por traz disso. Nada como o encontro com o
Angelo mais cedo.
— Tem que começar com isso logo, Leo. Aos quarenta e um, não
está se tornando mais jovem. Graças a Deus não se uniu ao clero, ou
não haveria ninguém que continuasse com o nome da família. — Ela
desferiu um olhar feroz para o Angelo e fez o sinal da cruz. Fez questão
de deixar claro seu aborrecimento, uma oração contra a natureza
homossexual do seu outro filho, ou a culpa por menosprezar o
sacerdócio, Faith não estava certa. Talvez fosse uma mescla dos três.
Ela ficou surpresa quando Leo pôs a mão no seu braço. Era tão
quente, sólido e seguro. Ele não deveria ser seguro. Claro, não a tinha
machucado. Depois daquela primeira noite ele estava cuidadoso para
não assustá-la e manteve distância.
— Ótimo.
Faltava uma semana para Leo tomar seus votos finais e ser
introduzido na ordem sacerdotal quando encontrou Gemma, parada na
porta do seu pequeno apartamento, tremendo no meio de uma rigorosa
tempestade de inverno, com marcas de rímel descendo por sua face,
hematomas e a mandíbula fraturada. Ele a pegou e cuidou como a um
pássaro quebrado. Acolheu-a em seu santuário e a Emilio, também.
Mas Emilio mudou esse plano. Leo o pegou só, nocauteou e levou-o
a um armazém onde passou as quarenta e oito horas seguinte
torturando-o. Leo havia se tornado um torturador poderoso e
transformou Emilio em uma massa tremula de terror que dificilmente
poderia dizer seu próprio nome. Finalmente o matou e desmembrou seu
corpo parte por parte com um tipo de alegria que lhe causou medo.
Depois que se livrou das evidências, trancou-se no seu apartamento.
Não mais tomaria seus votos. Não era um monstro em potencial, mas
não havia atacado antes. No entanto, poderia justificar, mas já havia
contaminado o preparo do sacerdócio. E nada o convenceria do
contrário. Demorou muitos anos para voltar a entrar em uma igreja.
Havia ido para a faculdade de medicina, tratando, curando em vez de
danificar. E pelo caminho, havia encontrado saídas saudáveis para seu
sadismo.
A maioria da família não acreditaria no que Leo tinha feito, mas
Gemma desvendou o seu olhar numa noite quando o procurou. Ela
soube, e não importava o que Emilio fizera ou o terror no qual a
submetia, ela nunca perdoaria o irmão por tirar a vida do seu marido e
pai dos seus filhos pequenos. Não a culpava muito. Se ela tivesse visto o
resultado da tortura que havia submetido ao homem antes de lhe
permitir a doce misericórdia da morte, ela absolutamente nunca seria
capaz de estar na mesma sala com seu irmão.
Faith foi diretamente para o quarto, Max a seguia. Era noite, mas
com os refletores ao ar livre, permitiam para ver nuvens gigantes de
neve flutuando em um padrão constante. Enquanto estavam jantando,
um dos criados acendeu a lareira. Momentos de uma realidade oculta
como se fosse uma visita da realeza em vez de uma prisioneira.
— Dói. Esta mentira. Fingir que sou sua noiva enquanto que sou
realmente sua prisioneira. Eles acham que tenho está uma grande vida
e está tudo é normal, mas eu sou como um animal em cativeiro. Não sei
se poderei suportar uma semana disto.
— Já disse isso, pode ter o que quiser aqui. Mas não posso deixá-la
ir. Não posso me arriscar que vá com a polícia atrás de Angelo.
Saiu e fechou a porta atrás dele. Leo tinha razão. Não devia nada a
ela, mas ainda assim doía. E ainda, se era apenas uma estranha e a
família significava tudo, por que a protegeu de Angelo na cozinha? Por
que deu este quarto? Por que se preocupava com seu conforto em tudo?
— Lily não era italiana. — Sal falou finalmente, como se ele tivesse
meditando sobre o sangue irlandês de Faith durante o jantar. E
provavelmente havia o feito.
Leo deu uma olhada em Lily pelo espelho retrovisor quando ela fez
um olhar incomodado e afastou o cabelo loiro.
A verdade era que, uma vez que tiveram filhos, e todos saíram do
ventre dela com olhos negros brilhantes, o cabelo e tez de oliva, seus
antecedentes haviam sido perdoados no ato. Entretanto, uma de suas
netas era loira como Lily. Rodeada por todas as que eram mais
morenas, Angélica parecia como se tivesse sido adotada. Mas se a
família se dava conta, não importava. Depois de tudo, o aspecto de Lily
estava longe de ser um ato criminoso.
Ele deu a volta para ajudar Faith a sair do carro como um noivo
carinhoso deveria fazer. Ela ruborizou e olhou para outro lado quando
ele a pegava pela mão e a ajudava a sair, amparando-a quando ela
tropeçou nos três centímetros de neve. Sentiu a faísca entre eles? Seria
mais seguro para ela se não o fizesse. Se desse alguma indicação de que
o desejava, iria estourar sua bolha protetora. Ele não seria capaz de
fazer promessas sobre o que faria ou não faria com ela então.
Faith olhou a sua direita e viu que o tio Sal não se moveu do seu
lugar. Seu olhar culpado encontrou com o dela brevemente, e logo
desviou rapidamente. O resto da família estava na fila à frente. Até
mesmo Angelo e Davide, que viviam em pecado de acordo com a Igreja.
Ela duvidava muito que estiveram no confessionário, tampouco.
Faith olhou Leo que negou com a cabeça. Não queria saber qual a
mentira que ele inventara para sua mãe para acalmá-la.
Ela deixou cair sua bolsa na neve e formou uma bola por sua conta
para devolver o tiro, atingindo Dante no ombro. A briga foi séria. Faith
se surpreendeu ao ver quão ágeis, Gina e o tio Sal poderiam ser quando
se tratava uma guerra de bolas de neve. A cruel cara de Sal derretia
com o jogo, e mesmo Angelo parecia menos grave e ameaçador. Por um
momento ela poderia pensar que estas eram pessoas normais, que
realmente só gostavam de espaguete.
— Eu... Um... — O que dizer sobre uma declaração como essa? Não
era como se Faith não entendesse o recado. Era possível que ela
soubesse mais do que a metade das mulheres na família, assistira ao
assassinato antes de ser apanhada por Angelo na noite em que se
conheceram. Mas Gemma não era um dos cordeiros ingênuo, nem ela
estava contente em participar do código de silêncio da família.
A irmã de Leo olhava Faith diretamente. Uma vez que ela viu o que
estava procurando, disse:
Antes que Gemma pudesse responder, Leo vagava por ali. Outro
sobrinho, Michael, o acertou na parte de atrás da cabeça com uma bola
de neve quando se voltou para o grupo.
— Não pode ser verdade. Meu Leo é um bom menino. Nunca faria
mal a uma mosca.
O que supunha que ela devia fazer? Fingir que não escutou o que
Gemma disse? Atuar de forma estúpida para retomar a encenação? Era
muito insultante fazer-se passar por essa idiotice rodeada por um grupo
de homens que pareciam como se tivessem saído do Goodfellas12.
A viagem de volta para casa foi tensa. Lily olhava pela janela
enquanto Gina chorava em silêncio. Ambas as mulheres estavam
tentando, a sua própria maneira, tornar-se invisível, devido à raiva
demoníaca que saia de tio Sal no assento traseiro.
12 File dirigido por Martin Scorsese, segue a ascensão e a queda de três gângsteres, ao longo de
três décadas.
Faith não se virou. Se havia pensado que não morreria nas mãos
de um membro desta família, estava brincando consigo mesma. Que
diferença fazia se fosse Angelo, ou tio Sal, Leo, ou algum capanga ao
acaso? Ela estaria morta sem importar o que acontecesse. Entretanto,
algo estúpido em seu interior queria obstinar-se à pequena esperança
que Leo a protegeria, estava preparado para a tarefa de salvá-la, que
havia algo nele que era bom e decente e não era como os outros. Algo do
nobre instinto que o moveu na direção da igreja e da oração, em lugar
do crime e da morte.
— Sal! — Sussurrou Gina. — É obvio que não vai ser uma carga.
Ela é a noiva de Leo. Ela é da família agora. Como pode dizer uma coisa
assim?
Já era bastante ruim que tivesse dito o que disse, admitiu que ela
não fosse uma flor ingênua como se supunha deveria. Mas Gemma
quase atirou a verdade na sua cara. Mesmo se não soubesse de nada,
seria ridículo pensar que agora não o fazia. Era preferível que a
considerassem uma possível responsabilidade do que uma possível
idiota.
Capítulo 10
Estava sendo o Natal mais fodido que Leo poderia ter tido alguma
vez. Apelou para todo seu autocontrole para não culpar Faith. As outras
mulheres da família provavelmente sabiam mais do que eles pensavam.
Não eram estúpidas. Assim mantinham os bate-papos em privado,
longe dos homens. Nunca em público. Era a separação e a divisão
necessária para que cada um deles mantivesse a sanidade. Negar e
fingir. E o agora teria acabado para sempre.
Mas então, por que estava furioso com Faith? Gemma foi a única a
rachar. Esteve brincando consigo mesmo desde Emilio. O consolava a
ideia de que sua irmã não suspeitava da verdade. Emilio esteve metido
em alguma merda. Criando uma grande quantidade de inimigos. A
surra recebida com antecedência no momento da sua morte seria
facilmente uma coincidência. Esta era a mentira que repetiu uma e
outra vez. Mas a tensão entre eles durante anos havia provado que sem
dúvidas que ela sabia. Depois desta noite não poderia mais negar.
— Espera...
— Quê?
— Está zangado comigo? Foi Gemma a única...
— Eu sei. Não estou zangado com você. Tenho que amenizar isto
com a minha família. Mantenha a porta fechada. Quero-a segura.
— Mama não me deixa em paz. Toda esta semana seria sobre mim
e Davide, e de como tenho que me comprometer com uma moça e lhe
dar netos que continuem com o sobrenome da família. Sabe que a
semana seria assim. É hora de parar de me atormentar e criticar.
— Digo o mesmo.
— Meu irmão pensa ser melhor do que nós. Sempre pensou assim.
— disse Angelo. — Também pode esfregar em nossos narizes esta
luxuosa casa, melhor do que qualquer um de nós tem, porque pode
justificá-la ante o Imposto de Renda. Tudo comprado com seu honesto
dinheiro de que faz alarde ante nós a cada Natal.
— Papi sim.
14É uma atitude cultural e código de honra que dá importância pesada em um "enraizado
código de silêncio”.
15FDA - órgão do governo dos Estados Unidos, com a função de controlar os alimentos, bebidas
e medicamentos.
— É claro que não pode. Suas mãos estão manchadas de sangue,
ainda assim é respeitável, mas não o que fazemos, não é assim? E nem
começamos a falar sobre o governo. O governo é máfia. As grandes
corporações são máfia. Fodem os menores, intimidam, ameaçam, e
causam danos. Fazem tudo por dinheiro e poder. A única diferença é a
tolerância pública. Queria que fôssemos honestos para estar sob a Lei,
mas isso nos fará honesto? Cada um dos que têm poder e dinheiro é
mafioso. Cada pessoa.
— Hum... — Ruborizou-se.
— Leo?
— Querem me matar?
— Sim, Faith?
— As coisas que faz no calabouço... É por isso que queria ser
sacerdote? — Isto era a única coisa que Faith pensava que Leo estivesse
tentando reprimir.
— Sim. Vá dormir.
— Isto. Tudo isto. Não podemos manter esta mentira para sempre.
A metade da sua família me quer morta, pois me considera uma
ameaça. A outra metade quer que eu tenha os seus bebês. Isto é uma
confusão. Lamento que Angelo não me desse um tiro e acabasse com
tudo.
Mas não era só sobre isso. Era como que uma isca estava sendo
pendurada diante dela, mas que não era real. Um atraente, idôneo
noivo. Uma bonita casa. Família. Apesar de confusa, a véspera de Natal,
foi como as verdadeiras férias em família, com tudo o que sonhou.
Comidas, risadas, calor.
Todas as coisas que sempre desejou e nunca pode ter
apresentadas ante ela como o ouro dos tolos17.
Leo saiu da cama sem dizer uma palavra e se vestiu. Antes de sair,
disse:
— Faith decidiu que não queria mais viver. Tem razão, esta
mentira não funcionará. Então segue adiante, Ange. Limpa sua
confusão. — Cruzou os braços e deu um passo como fazia seu irmão.
17A pirita é uma pedra também conhecida como o "ouro dos tolos" por sua cor dourada e
semelhança com o minério nobre.
— Não. Leo, por favor. Por favor. — O pânico começava a
borbulhar.
— Por favor, Leo, não o deixe fazer isto. Não quero morrer. Por
favor. Por favor. Por favor.
— Por favor, não o faça, Leo. Sinto muito. Por favor. Farei o que
quiser. Por favor. Por favor.
— L... Leo?
— Sim, Faith?
Leo pegou outra roupa e foi para o corredor para tomar banho,
tomando cuidado de fechar a porta do quarto atrás dele. Angelo
esperava no vestíbulo com os braços cruzados sobre o peito.
— Então, agora que recuperou uma parte do seu valor, vai tomar o
que é seu?
— Vi o modo que ela o olha — Disse Angelo. — Pode ser que não
saiba ainda, mas o quer. Isto poderia funcionar.
— É baunilha18.
— E daí?
18 É baunilha: expressão usada quando uma mulher não é pervertida, com vida sexual
reduzida.
— E daí, pode ser que me queira, mas me quer como uma princesa
da Disney, sob a suave luz das velas e em posição de missionário, amor
e doçura. Não me quer a prendendo no calabouço enquanto ponho
belas marcas no seu traseiro. Se ela fosse pervertida, tomaria e jogaria
meu corpo contra o dela, custasse o que custasse, embora não dissesse
que me queria. Não estou seguro de estar à altura do desafio com
alguém que não é feito do mesmo molde que eu.
19 Norman Rockwell: (1894-1978), pintor americano conhecido por suas clássicas cenas.
Custasse o que custasse estava dentro. Independentemente do que
na realidade fizesse ou não com ela, não mudava o fato de que se
quisesse poderia fazer tudo. Aquele ponto estava claro. Angelo poderia
atirar em qualquer momento. E agora ela sabia.
Faith elevou a vista, com temor nos olhos. Maquiou-se para reduzir
ao mínimo as provas do seu pranto, mas o duro olhar ainda estava ali.
Esperou que pensassem que estava agitada pelo drama da noite
anterior, em vez de saberem a verdade, que na realidade, agora, tinha
medo de Leo.
Soube imediatamente que Faith não teve sexo com seu irmão como
queria algo que Leo não queria que tivesse adivinhado.
20Capo regime ou chefe: é o nome para o capitão em uma família da máfia, a família consiste
em vários capitães e um chefe que é um chefe do crime.
Leo deu uma olhada para baixo para encontrar Angélica
avançando lentamente perto de seus pés com o papel de presente na
boca.
— Sobre o quê?
— Tudo bem.
Leo seguiu Caprice passando pelo vestíbulo até que eles chegaram
à parte oposta da casa. Ela abriu a porta de um quarto vazio e deslizou
dentro, sua intenção não foi sutil. Gesticulou com o dedo para ele, e ele
a seguiu. Tampouco queria repreendê-la em público.
— Como sabe?
— Presto atenção. Não desperta o seu desejo como eu. Pensa que
uma garota tão doce e virginal alguma vez dará o que necessita? — Caiu
sobre os joelhos a seus pés e elevou a vista, com toda sua recatada
tentação. — Por favor, senhor, me leve ao calabouço. Tem que se soltar,
Leo. Solte-se comigo.
— Que diferença faz? Não, você não me possui. Não sou submissa.
Mas eu gosto das coisas que me faz, e você gosta de fazê-las. Então
façamos. Não peço para ser sua alma gêmea. Só peço que me use. Você
me usa. E eu o uso. Aplacaremos nossos males, e logo partirei.
Prometo.
— Diga.
— Logo que o tenhamos feito, deixará esta casa. Não ficará para as
festas.
— Mas vim com o Vinny. — Ela fez bico tentando convencê-lo com
inúteis estratagemas.
Que dano faria isso? Não estava em uma verdadeira relação com
Faith. Deus sabia quando voltaria a satisfazer suas necessidades de
novo. Logo Caprice voltaria para Las Vegas, muito longe para causar
problema.
— Tem que entender que será algo em curto prazo. Não teremos
uma relação de novo. Não deixarei Faith. E partirá silenciosamente
quando eu disser.
Quando sua roupa estava no chão, Leo agarrou seu braço sem
nenhum cuidado e a empurrou sobre o banco de açoites.
— Sim, Amo.
— Boa garota. Imagino que não é uma frase que ouça muito. Deve
ser uma novidade, e possivelmente um tanto humilhante, considerando
as circunstâncias.
Gritou tão forte ao redor da mordaça que ele se alegrou por ter
amordaçado sua boca. Apesar do isolamento de som, não poderia se
descuidar com sua mãe e um monte de crianças pequenas acima. Por
que soou isso como se quisesse assassinar alguém? Não era uma
pergunta que queria meditar durante a manhã de Natal.
Não importava quem estava sob sua vara ou seu chicote. O efeito
sobre seu corpo sempre era o mesmo, um fato que o indignava.
— Se vista. — Rosnou.
Mas Leo não era seu homem, e tinha o direito de dormir com quem
ele quisesse.
Sacrificaria Leo sua vida pelo bem da sua própria libido? Já esteve
a ponto de deixar que Angelo a matasse essa manhã. E ele detalhou o
muito que se sacrificou, assim seguia fresco em sua mente.
A boca de Gina se torceu com desaprovação. A mãe de Leo não
gostava de Caprice tanto quanto Faith, se isso fosse possível. Os olhos
da mulher retinham sabedoria e conhecimento, isso era provavelmente
um efeito natural secundário por ser membro da família Raspallo por
muito tempo.
Leo fez um movimento para Faith para remarcar seu ponto, o que a
fez se sentir mais exposta e humilhada do que era óbvio para todos.
22 Telefone inteligente.
— Por que teria decidido isso? Por que ela iria querer ficar sozinha
para as festas? — Vinny entrecerrou os olhos.
— Vou e não há nada que possam dizer para fazer que eu fique. —
Caprice tinha o rosto determinado.
— Só espera um segundo.
— Ganhei um gatinho?
Ele sorriu.
— Adorei! Obrigada!
Leo olhou surpreso pela pura felicidade dela, e a ela ocorreu que
ele nunca a viu realmente feliz, até agora.
Mais tarde nessa noite, quando Leo saboreava café e cannoli, sua
mente recordou o calabouço. Queria ter tido mais tempo, fazer mais
vergões. Queria fazer que sua disposta vítima ficasse exposta para ele
enquanto tomava uma taça de vinho e admirava as marcas que havia
deixado. Queria desfrutar dela ao seu desejo, com a mordaça firme em
sua boca para que não falasse e arruinasse o momento. Ele queria que
fosse Faith. Por que não podia ter o masoquismo de Caprice e o doce
espírito de Faith combinado em uma só mulher?
A esta altura estava claro que Faith era uma submissa, mas não
era pervertida. Caprice era pervertida, mas não era submissa. O
universo estava fazendo uma jogada cruel com ele.
Logo depois do jantar, a família foi para a sala de jogos, onde havia
uma grande tela plana, assim como mesa de pôquer de bilhar, e duas
de máquinas com jogos de fliperama: Pac Man e Donkey Kong, os
únicos dois que Leo jamais usou. Sim, ele era das antigas.
Leo se aproximou.
Sua mãe lhe deu um olhar angustiado, enquanto ele guiava Faith
para o quarto. Suspeitava que ela soubesse algo do que aconteceu com
Caprice. Se soubesse os detalhes, teria um ataque cardíaco Natalino. Já
era bastante mau que ela pensasse que algo normal e tranquilo havia
acontecido.
— Não é estúpido. É muito pequena para Snowball, mas ela faz jus
ao nome.
Ela pareceu aliviada por ele não insistir em sua nudez e correu ao
banheiro para se trocar. Apesar da sua aventura com Caprice, estava
excitado de novo, assim não a culpava pelo medo. Tão doce e indefesa!
Ela sempre parecia haver saído de uma imagem suave.
23
Snowball: Bola de neve.
tecido. Max sabia que não podia subir na cama. O cão brevemente
levantou a cabeça da cadeira e apertou a si mesmo nela, a língua
balançou feliz, como se soubesse o que o gato não tinha direito de
dormir ali.
Acendeu o abajur.
— Tenho medo.
— De quê?
Ela se sentou.
— Aconteceu.
— Não sei. Sei que não me quer, mas esta mentira... Dói.
— Faith, me olhe.
O que ela disse a seguir foi muito suave, que ele teve que se
esforçar para ouvir.
— Eu... Um...
— Não esta noite, Faith. Pode me contar sua decisão logo depois
que minha família se for. Precisa de mais tempo para pensar sobre isso.
Confie em mim.
— Aonde vai?
Uma lágrima deslizou por sua face, e uma parte dele queria
castigá-la por isso, apesar de ainda não ter renunciado ao seu livre-
arbítrio. Mesmo sem malícia e propósito, as lágrimas poderiam ser
manipuladas, e ele não seria controlado por seus arrebatamentos
emocionais, não importa quão sincero fossem.
Leo não lhe deu a satisfação de uma resposta. Em seu lugar, pegou
a carteira e chaves da mesinha e apagou a luz.
— Vá dormir. Tranque a porta atrás de mim. Deixe-me entrar
quando retornar.
Era um filho de puta por fazer isso, mas Faith nunca poderia
consentir seus desejos. Não estava nela. Era meramente uma
negociação por sua vida. Caprice era sua última oportunidade de
satisfazer sua necessidade de conhecer alguém com quem ele não
estava em perigo de desenvolver um vínculo emocional ou lhe causar
um dano irreparável.
24Sr. Hyde e Jekyll: Personagem do conhecido livro "O estranho caso do doutor Jekyll e o
senhor Hyde".
— Você sabe que é uma má ideia.
Leo saltou ante o som da voz do seu irmão, e Angelo saiu do canto
em que estava rondando a casa. Deixou cair o cigarro na neve, que
assobiou quando a água o apagou, enviando uma espiral de fumaça
desde o chão.
— Existem graus. — Disse Leo. — Caprice sabe que isto não vai a
nenhuma parte. Ela não é uma vítima. Nunca foi nem um único dia em
sua vida. Faith é diferente. Ela está a minha mercê, e isto não é sua
escolha. Não posso suportar a ideia de lhe fazer mal.
— Estou bastante certo de que sua saída lhe fará mal. Vi a forma
que ela o olha. Ela está amadurecida para a colheita. — Angelo estava
determinado a se fazer de casamenteiro e ver que seu presente foi posto
em bom uso. Sua nova estratégia era a tentação. Leo se surpreendeu de
que seu irmão não os tivesse perseguido a ele e a Faith com visco.
— Sabe o que quero dizer. Refiro-me a danificá-la
permanentemente. Não estamos em uma relação. Somos duas pessoas
unidas pelas circunstâncias. Isso é tudo.
— Vá à merda.
Leo tinha pinta de estar ali para golpeá-la, assim não poderia
culpar o pessoal do hotel por se preocupar. E tinha a intenção de
golpeá-la, só que não do modo que eles provavelmente pensavam.
Soltou a bolsa e pegou a carteira, colocando a carteira de motorista e o
cartão de crédito sobre o mármore.
— Sim.
Por que complicar se ele pagava por seu quarto? Estava aqui para
tomar o que queria dela de todas as formas, por que fingir educação e
bater na porta quando tinha todos os direitos sobre seu corpo até que
ela subisse no avião?
— Como se chama?
— Vai ter que ser castigada por ser uma porca tão descortês e
travessa, certamente. — Isso teria deixado Faith acabada em um canto,
mas Caprice sorriu com satisfação. — A cena era necessária?
— Sim, Amo.
— Não, Amo.
— Leo!
— Então por que está aqui comigo? Sua esposa baunilha não é
suficientemente valente para satisfazê-lo? A posição de missionário, o
acende. É melhor que isto? Não posso dar tudo, Leo, mas posso dar
algo.
Ele a liberou e pegou o bastão. Com uma mão, cobriu sua boca, e
com a outra, levantou o instrumento. Um brilho impreciso de prata
cortou pelo ar e se cravou em sua carne. Soltou um uivo surdo contra
sua mão. Quando se recompôs outra vez, liberou-a.
— Não, espera. Estarei bem. Sinto muito, Amo. Farei o que quiser.
Prometo.
Como antes, estar ali era somente uma satisfação débil, como a
masturbação que causa um péssimo orgasmo, onde os movimentos são
unicamente para obter o prazer rapidamente, sendo uma sombra tão
fraca que se pode considerar uma completa perda de tempo.
Assim foi como Leo permaneceu de pé na suíte de luxo no nono
andar do hotel Plaza. Dirigiu durante meia hora para chegar do outro
lado da cidade. Logo depois de outros quarenta e cinco minutos lutando
com o tráfego, ali estavam uma mulher amarrada e disposta, esperando
que a utilizasse de qualquer modo que o interessasse.
Faith pensava que estava a salvo com ele? Era idiota. Se não
pudesse manter a besta reprimida, averiguaria quão idiota era.
Desejava estar com ele? Não tinha nem ideia do que pedia. Nenhuma
mulher o fazia.
— Não deixei que ele visse. Posicionei-me em cima dele, assim não
doeriam e ele não notaria.
Leo tirou uma bolsa menor da outra maior e a abriu para revelar
ataduras e unguentos. Foi ao banheiro lavar as mãos, logo pulverizou o
medicamento sobre cada uma das marcas do bastão, vergões e feridas.
— Não quer estar comigo, Caprice. Você gosta da ideia que formou
de mim. A realidade nunca é boa o bastante.
— Sim, é.
Capítulo 14
— Espero que não acredite que pode fumar isso aqui em casa. —
Disse Leo, aparecendo do nada em um smoking clássico.
Faltava meia hora para a meia noite. Uma rede com balões
vermelhos, pretos e prateados fora pendurada no alto teto da sala de
jantar. Penduradas também no teto, porém um pouco mais afastadas,
bolsas cheias de confetes vermelho. Havia dois cordões para puxar, um
que liberaria os balões e outro soltaria os confetes.
Leo pegou sua taça depois que bebeu outro gole e a depositou na
mesa junto com a sua então lhe deu um beijo que Faith acreditou com
cada célula do seu ser. Sentiu-se encher de paixão, nostalgia e ternura.
Era a promessa de um novo começo. Era sua penitência. Era tudo o que
um beijo poderia transmitir em um instante de lábios apertados juntos.
Perguntou-se se o beijo de Leo falava em algo verdadeiro, tinha contexto
de ator. Pensava em Caprice enquanto estava perto de Faith? Era a
razão da sua intensidade?
— Bom isso é tudo o que está velha anciã aguenta. Vou para cama,
dormir. Leo, não me espere fora da porta amanhã. Vou sair logo depois
de ter um bom sono e uma boa comida. E talvez com um pouco de pelo
de cachorro. — Alba piscou os olhos e cambaleou sobre os pés. — Não
sonharia com isso, Grammie. — Leo recrutou Demetri para que a
ajudasse a chegar ao seu quarto. Papi estava se preparando para jogar
uma partida de cartas com um dos homens.
— Sim, Faith?
— Certo.
Talvez, não a quisesse mais. Tinha sentido o que poderia fazer com
uma mulher que pudesse dirigir e agora não se interessaria por uma
mulher que não era mais que uma menina. Faith afastou uma lágrima
que escapou. Por que teria que se importar de uma maneira ou de
outra? Nada disto era sua escolha. Não como se ele a tivesse açoitado
porque ela queria. Tinha-a levado a sua casa da mesma maneira que
trouxe a gatinha. Como uma mascote, um animal que não tinha escolha
aonde viver, ou nas condições nas qual viveria ou a bondade ou
maldade do seu Amo.
— V... Você disse que queria minha resposta logo que todos se
fossem.
Fechou o livro e girou em seu assento para olhá-la, com uma perna
apoiada na parte superior da outra, em uma postura relaxada. Se o
tema criou alguma emoção, ele não demonstrava.
— Está bem.
Esperou por algum tipo de instrução, lhe dizer o que fazer com o
resto da sua vida ou simplesmente este momento. Como teria que
chamá-lo? Teria que chamá-lo Amo, como insistiu na primeira noite? A
ideia seguia sendo estranha para ela, mas ao menos não era aterradora.
Não como as outras coisas piores que insistiria.
— Me siga.
Levou-a por vários corredores aos quais não havia ido porque lhe
foram proibidos. Eram estreitos e detestáveis, convidando seus
visitantes a se afastarem por sua falta de luz. No final de um dos
corredores havia uma grande porta de metal. Leo tirou uma chave do
bolso, abriu a porta e pressionou um interruptor na parede.
— Esses são chicotes. Por que não dá um bom golpe ao ar? — Não
começa realmente a entender até que o escuta.
Sua mão tremeu quando pegou um dos implementos. O som que
fez quando rompeu contra o ar a teria feito cair e correr se não fosse
pelas palavras do Leo cortando seu pânico.
Tentava afugentá-la. Não havia razão para dizer algo tão louco
quando se encontrava tão perto de lhe dar o que desejava.
— E... Eu o quero. E... Eu quero que seja real. Não posso viver
uma mentira todos os anos para a sua família, indefinidamente. Eu
despedaçaria. — Havia uma espécie de triste piedade em seu rosto.
Quando a pegou estudando-o, ela baixou o olhar. Não conseguia
encará-lo e ainda obrigar-se a dizer o resto.
— E você disse que não podia ser baunilha. V... Você disse algo
sobre ter o pacote completo.
— Viu-me enviar Caprice para longe. Está segura de que não tem
ligação com seus medos? Assegurei que ela e eu nunca seríamos um
casal. Não a quero na minha vida.
— Não acredito que seja essa a razão pela qual esteja me retendo.
— Quero você. — Apesar de ter suplicado para ser dele, parte dela
esperava que a enviasse longe e a liberasse.
Ela vacilou.
— Vai!
Mas ela era dele. Mesmo que nunca chegasse a acabar com sua
resistência e utilizá-la da maneira que desejava, acostumou-se a pensar
que era dele e a protegê-la. Mesmo que nunca a açoitasse, amarrasse
ou fodesse, era o proprietário dela mais que de qualquer mulher que já
esteve no calabouço, e não era capaz de deixá-la ir. Era toda promessa e
possibilidade, o único que se interpunha em seu caminho era ele
mesmo. E se algum dia essa barreira desmoronasse, estaria livre para
tê-la.
Era como ter um pássaro exótico. A ideia não era suficiente, uma
imagem não era suficiente, visitar um no zoológico não era suficiente.
Tinha que estar ali, em sua casa, em seu poder.
— Sim. Obrigada.
— Você sabe que não deve se preocupar com essas mulheres. Ele a
quer.
— O quê?
— Já vi o calabouço.
— Estou segura de que para Leo sou puritana e não estou apta a
servi-lo. Não é como se o perseguisse. Não permaneço aqui por vontade
própria.
E esta semana era pior, porque Miss Lin não era novidade. Era
uma exceção. E se começasse a vir todas as semanas? Faith não queria
deixar que isso acontecesse, mas não sabia como parar.
— Faith.
Levantou a vista, surpreendida ao ver Leo na escada, com um
bastão na mão. Seu pranto deve ter sido mais forte do que o normal, o
bastante para que ele escutasse. Estava tão envolta em seus
pensamentos que não percebeu que as coisas ficaram tranquilas e Leo
havia subido para investigar.
A outra mulher sabia que Faith estava ali. O que pensaria? Estaria
zangada por isso? Envergonhada?
Olhou para o bastão que Leo segurava firme entre as mãos. Este
poderia ser o momento em que ele perderia o controle. Ela se deixou
cair de joelhos, as pernas incapazes de suportar o peso do corpo para
enfrentar ao que pudesse vir. Levantou os braços na sua frente, na
defensiva.
— Por quê?
Ela o olhou com suplica nos olhos. — Leo, por favor, eu sinto
muito. Não voltarei a fazê-lo.
— Responda!
— Não posso.
— Não quero. Além disso, o que fará agora? Seu trabalho já faz
tempo que o perdeu.
— Demetri?
— Sim, senhor?
— Pode desamarrar Miss Lin? Não pode ficar muito tempo assim.
Diga que fique no calabouço e espere meu retorno.
— Que situação?
— Quero.
— Por que você não pode ser pervertida? É submissa, por que não
pode ser um pouco masoquista?
25A síndrome de Estocolmo é uma reação psicológica na qual a vítima de um sequestro, ou uma
pessoa retida contra sua vontade, desenvolve uma relação de cumplicidade, e de um forte
vínculo afetivo, com quem a sequestrou.
— Mei, ali abaixo, é submissa e masoquista. Sabe o que me custou
achar uma submissa e masoquista genuína? Alguém que não fingi ser
um ou o outro? Você não deveria estar feliz?
— Não, o homem que me mantém presa não deve ser feliz! Deixe-
me sair e viva feliz para sempre com ela. Diga a Angelo que não sou
uma ameaça e me libere. Por favor. Estou morrendo aqui. Por favor.
— Não.
— Forcei-a?
— Não.
— Não.
— Venha aqui.
Ela deu alguns passos, até estar ao seu alcance. Ele pegou-a em
seus braços e a atraiu para ele. Os dedos dele passaram através do seu
cabelo e seus lábios se encontraram com os dela, faminto, explorando, a
língua empurrou além da barreira de seus lábios. Não pôde evitar o
gemido involuntário que saiu dela.
Suas palavras eram duras e frias, mas ali existia muita intensidade
quente em seu tom, e a única coisa que conseguiu foi um fôlego.
— Tenho medo.
— Sei que tem. — Seu tom não fez nada por dissimular o bastante
que o excitava.
Levantou a vista quando ele entrou, Leo se sentiu culpado pelo que
estava a ponto de fazer. Mei Lin era o pacote completo, e se não fosse
por Faith, tentaria ver como poderia desenvolver uma relação com ela.
Mas levar a posse de Faith a um nível superior se converteu em uma
obsessão que o consumia totalmente.
— Não vou vê-lo outra vez, não é? — Perguntou Mei Lin. Escutar
Faith chorando na escada era o que ele precisava para acabar com
tudo. — Continuamos perdendo um ao outro. Ou eu estou com alguém
ou você está. Possivelmente em outra vida? — Em outra vida, sem
dúvida.
— Eu sei.
Ela se separou do seu Amo há seis anos durante as férias, um
homem que realmente amou. Leo ouviu falar dela através de um clube,
quando andava na caça de uma companheira de jogos. Este não era o
tempo deles. Como católico, não acreditava na reencarnação, mas se
Mei Lin tivesse razão, seu acordo para outra vida era sincero.
— Vire-se. Quero ver as marcas que deixei uma vez mais, antes
que saia.
— Tem uma pele linda. — Ele murmurou contra seu ombro. — Não
merece ser lesada por nenhum de nós dois.
Porque nesse caso, seria sua para fazer o que quisesse. Seria como
dobrar as páginas de seus próprios livros para marcá-los, mas nunca
um livro que não fosse dele.
— Sim, Mei?
Concordou e subiu para ter outra conversa com a posse que por
fim adquiriu plenamente.
— Não.
— Então conversaremos.
— Não, Amo.
Sua cabeça levantou. Era uma das últimas coisas que esperava
ouvir e trouxe de volta os temores de que tentaria fazê-la ter bebês para
promover o casamento de conveniência. Depois de tudo, deu-lhe seu
consentimento para... Qualquer coisa?
— Disse que não a obrigaria a ter filhos se não os quiser. Acha que
minha palavra não vale nada?
— Pode voltar para seu quarto. Isso é tudo o que queria falar.
Faith se levantou para sair, confusa que nenhum dos seus medos
havia acontecido, e ele não a manteria naquela ala.
— Por favor, Faith, não chore. Não é o tipo de lágrimas que quero
de você.
— Shh.
Entretanto, sentia algo forte por ele e vê-lo com outras mulheres só
a mataria pouco a pouco. Quando esteve em seus braços, se sentiu a
pessoa mais segura do mundo. Quase esqueceu que ele era a causa da
sua angústia.
Sua voz havia mudado, adquiriu aquele tom que sempre ouvia às
escondidas. Continuaria com seu lado agradável? Era como se o Leo de
cima se afastasse para permitir reinar a besta das sombras embaixo.
Ele suspirou.
Não se equivocou.
— Machucam?
— Claro que sim, mas as de silicone não são muito ruins. Doem
mais quando são tiradas do que quando são colocadas.
— Por quê?
— Não sou tão forte quanto você. Não posso suportar o mesmo que
você. Por favor...
— Um chicote.
— Anotado.
— O que é isso?
Ele era novidade para ela, contudo não o enganou o suficiente para
fazê-lo acreditar que seu constrangimento era só pela novidade ou pelas
circunstâncias assombrosas em que se encontrava. Era algo inato que
ele queria explorar.
— Faith?
Tão confortável como ele se sentia com sua própria nudez, havia
vulnerabilidade nisso, e a meta dessa tarde era minimizar sua
Tinha que lhe dar pontos por sua coragem e determinação, eram
qualidades que faltavam nas outras mulheres que ele havia levado ao
seu covil. Afinal de contas, quanto de coragem ela necessitava para
enfrentá-lo?
Ele a levou pela mão até o espelho ficou atrás e tirou a camisa dela
pela cabeça. Jogou no chão, ela seguiu com os olhos ao item que caiu.
Leo dirigiu seu olhar para os olhos de Faith, ele percebeu que ela
calculara os riscos e escolhera fazer exercícios de respiração sobre
qualquer intuito de fuga. Garota inteligente. Um impulso predador
despertou dentro dele, se ela corresse o excitaria ainda mais.
Leo pegou um bastão de vime e ignorou quando ela ficou tensa. Ela
tinha que confiar nele para suas ações. Faith tinha enumerado o bastão
de vime como uma das piores coisas em sua lista, uma avaliação
bastante precisa especialmente nas mãos de Leo, mas logo não iria
reagir assim cada vez que o escolhesse. Ele percorreu o corpo de Faith
arrastando o bastão, da mesma forma que seus dedos fizeram
anteriormente. Continuou até que ela relaxou de novo. Logo, deu um
passo para trás e a obrigou a se ajoelhar.
— N... Não, Amo. P... Por favor, não me machuque. — Seus olhos
não voltaram para espelho, em seu lugar, continuaram em Leo...
Suplicantes. Quanto tempo demoraria antes que aprendesse que a
misericórdia vinha da obediência e não do rogar, ou do pedir?
Quanto se sacrificaria por ele? Quanto ela poderia lhe dar antes
que a esvaziasse?
— Era virgem?
Ele queria protegê-la. Acaso não havia uma correia que pudesse
afastá-lo?
— Faith?
Ele se ajoelhou atrás dela e a atraiu para seus braços. Ela não
lutou com ele, era como uma boneca de trapo, como se seu espírito
tivesse abandonado seu corpo.
Isto era pior que ser golpeado por um chicote que lhe cortasse a
pele. O tempo que Leo a segurava parecia eterno, acariciou o cabelo e
foi surpreendido com a forma como ela se agarrou a ele apesar do que
tinha acontecido. Contra seu melhor julgamento, ele encontrou-se a
beijando e ela correspondendo. Ele deveria lhe dar privacidade e espaço,
mas sabia que se a deixasse ela cairia em um buraco do qual não
haveria volta. Leo queria remediar os últimos minutos com ternura.
Corrigir. Corrigir. Corrigir.
Qualquer fantasia romântica que ela tinha sobre o amor entre eles
se foi. Por que tinha que ser assim?
Essas outras mulheres... Ela as viu felizes depois, e Mei Lin estava
feliz ao voltar. Outro soluço escapou de sua garganta e Leo o engoliu
com outro beijo que ela sentia como flores desabrochando depois da
tormenta.
Agora?
Sua voz era suave e amável e, embora sabendo que era uma
estúpida por isso, acreditou nele. Ele separou suas pernas e ela ficou
tensa. Leo a havia machucado ali embaixo, mas havia dito que não o
faria de novo... Porém seus dedos foram para seu clitóris. Estavam frios
e úmidos devido ao lubrificante e mesmo depois de tudo o que
aconteceu, ela se abriu para ele e despertou sob seu toque.
Ele podia lhe fazer algo, então mudar de rumo e agir e fazê-la atuar
como um cão bem treinado? Ela vacilou quando a boca gulosa de Leo
pegou seu mamilo e a percorreu com as mãos, avaliando sua
propriedade, sentindo cada curva e contorno do que tolamente lhe deu.
Ele avançou por seu corpo e com sua língua habilidosa a levou a
um segundo orgasmo em só mais alguns minutos. Todo o prazer suave
estava tirando de memória da violência com que a havia possuído. Se
ele pensava que podia apagar isso com orgasmos, estava equivocado.
Tudo mudou.
— Bom, aprendeu tudo o que tinha para ensinar, então, por que se
castiga?
— Essa é a última ordem que dará esta noite, Sr. Raspallo. Dispa-
se. Não queremos arruinar sua roupa cara. — A mordacidade estava de
volta.
Golpe. Grito. Golpe. Grito. Como um filme de terror. Cada vez que
ele gritava, Faith rezava para que fosse a última vez, mas continuava
acontecendo... Até que tudo o que restou foi o soluço de um homem
quebrado.
— Não posso fazer mais nada sem causar um dano que poderia
não se recuperar, e não sou esse tipo de sádica. — Disse ela. — Não
importa o que diga, pode não ter prazer sexual nisso, porém há poucas
coisas mais masoquistas do você pediu esta noite.
— Ficarei bem.
— Pode ir. — Disse ele. A voz era débil, como se precisasse das
últimas forças de sua vida para formar as palavras. — Demetri está com
seu cheque.
— Não há concerto.
Quando ela chegou ao fim das escadas, ofegou e chorou com mais
força. Ele estava sentado em um móvel cheio de correias, nu e de costas
para ela. O chicote havia cortado muitas tiras de sua carne. Só havia
carne viva e sangue. Ela estava surpresa de que não estivesse
inconsciente.
Faith lhe levou água com o propósito de ser útil em vez de só olhar
como se fosse um acidente automobilístico. Leo bebeu, as mãos
tremiam como as de um ancião. Então, ela notou os pulsos. As cordas o
cortaram quando ele tentou se soltar. Quando terminou a água,
devolveu o copo.
— Mais?
Ele sacudiu a cabeça e ficou olhando para o chão por muito tempo.
— Médico, não! — Sua voz soou agressiva. Ela encheu o copo com
mais água.
Não demorou muito tempo para encontrar a bolsa. Ela deu uma
olhada dentro para se assegurar de que era a correta e se apressou a
voltar para o calabouço. Faith alcançava a porta quando o escutou
gritar.
Era uma mesa de couro com anéis de metal nos lados para
amarrar as cordas ou as algemas. As cordas ainda estavam penduradas
nos anéis.
— Sim, Amo.
— Sim, Faith?
— Sim.
Ele poderia estar mentindo, mas pela maneira destroçada que saiu
a palavra, ela sabia que não mentia.
Ela não suportava a ideia dos lençóis irritando sua pele crua.
Havia sido suficientemente difícil se controlar para não vomitar
enquanto trabalhava em suas costas.
— Mas...
— Devo sofrer.
— Amo?
— Sim, Faith?
— De acordo.
Depois que acabou o guisado, ela se levantou para sair, mas ele a
pegou pelo braço com mais força do que parecia ter naquele momento.
— Nua.
O anel de Faith brilhou sob a luz da cozinha. Leo não impôs que o
usasse todo o tempo, mas ela usava. E cada vez que ele o via em sua
mão, se convencia cada vez mais de que ela queria que o compromisso
fosse verdadeiro.
Mas o final feliz tinha um preço sombrio... Um preço que faria Leo
se sentir culpado se lhe pedisse para pagar, não importava o quanto ele
queria mantê-la presa no quarto de cristal. Se aquela noite no
calabouço não houvesse acontecido, ele poderia introduzi-la em sua
perversão pouco a pouco, condicioná-la para que o quisesse... Sem
nenhuma outra razão que seu profundo desejo em agradá-lo.
— Por que não? Se é dinheiro, eu darei. Vou lhe dar um bom lugar.
Vou mexer alguns pauzinhos e vou arranjarei um bom emprego. — Ele
queria que cada palavra voltasse para sua boca.
Ela mudou a força do medo. Mas ele ainda precisava ouvir gritos,
gemidos, lágrimas, súplicas e ver, ouvir golpes e ver o vergão vermelho
sobre a pele. Ele precisava disso como um viciado por droga precisava
da sua metanfetamina.
— Não vou.
Ele sabia que desta vez ela falava sério. Se ele trouxesse seu irmão
com uma arma, ela não suplicaria a eles de novo.
— Sei que é um homem bom. O que fez por mim... Sei que não
falamos sobre isso, mas... O que era. Vi... Vi a gravidade do que
aconteceu e pagou um preço mais alto do que eu teria pedido apenas
por tentar fazer o correto.
— Quero estar com você. Quero agradá-lo. Serei sua escrava. Serei
o que você quiser que eu seja.
Faith estremeceu e ele sabia que ela estaria com suas coisas
empacotadas em uma hora.
Faith continuou ajoelhada no piso da cozinha enquanto os passos
de Leo se afastavam. Ela poderia voltar para sua vida. Não à vida como
era, mas uma melhor. Ela acreditou quando ele ofereceu um lindo
apartamento ou uma casa e que a ajudaria a encontrar um trabalho.
Mas a ideia de ficar só com os gatos, sem nenhuma família real a fez se
sentir fria por dentro. Se aceitasse a oferta, sabia que nunca voltaria a
ver Leo e, apesar de tudo, ela não suportava esse final. O deixaria matá-
la se ele não a quisesse. Mas, se afastaria depois de tudo?
Quando ela tivesse ido, chamaria Mei Lin. Se ela não houvesse
conseguido voltar com seu Amo, quem sabe poderiam construir algo
depois de tudo. Se acabasse sendo permanente, seria o ideal, também
aceitaria pequenas aparições para aliviarem-se mutuamente e ajudar a
curar suas feridas. Sentia que Faith lhe pertencia, como se fosse
responsabilidade dele cuidar dela e mantê-la a salvo, mas mantê-la a
salvo dele mesmo significava que ela não poderia ficar sob seu teto.
— Olá, Caprice.
Leo olhou o calendário. Já era hora de ela lhe ligar. Ele deveria
saber que algumas sessões rápidas durante as férias não terminariam
com ela voltando docilmente para Las Vegas e que nunca mais iria
contatá-lo. Mas seu pênis podia mentir de maneira convincente quando
queria.
Leo tomou seu tempo ao caminhar para o quarto dela. Não sabia se
suportaria vê-la sentada, esperando com as malas prontas.
Ele bateu na porta, mas não houve resposta. Virou o trinco e
entrou. Quando ele deu um passo dentro do quarto, Snowball e Squish
miaram e acariciaram suas pernas por um instante antes de saírem
disparados pela porta. Faith deve ter se esquecido de deixá-los sair.
Normalmente, eles estavam ali, mas em outras ocasiões saíam da casa.
— Faith?
Silêncio.
— Venha aqui.
Ela se arrastou pelo tapete até chegar aos seus pés enquanto ele
baixava a calça.
— Entendo seu medo, mas sabia o que havia aqui embaixo e lhe
dei a oportunidade de ser livre. Não ficar nesta casa e observar
enquanto possuo outras mulheres, ofereci liberdade verdadeira longe de
mim. E escolheu ficar. Não serei baunilha para você. Não posso. Não é o
que sou.
Faith não pensou que seria possível relaxar. Depois de que havia o
ouvido falar com as outras mulheres, e após da primeira noite como ele
perdeu o controle e a fodeu de uma forma tão fria, sem coração... Isto
era diferente.
Como Leo nesse momento. Ela havia visto a besta debaixo daquela
máscara, entretanto, o feitiço que ele lançava com suas palavras e
toques a faziam esquecer.
A mão pesada dele baixou na sua parte inferior, lançando seus
pensamentos à deriva de novo em um momento mais visceral. O golpe
doeu, mas não foi tão doloroso como na primeira noite que a açoitou
quando ela estava mais tensa, quando seus únicos pensamentos
envolvidos era quanto tempo poderia viver.
— Sim, Amo.
Leo esperou que sua pélvis baixasse à mesa, até que ela estivesse
estendida calmamente, tranquila e dócil, antes de deslizar o brinquedo
para dentro dela de novo em um ritmo sadicamente inativo. Sua buceta
palpitava contra o vidro. Faltava muito pouco para que ela gozasse. Se
ela fosse paciente e tranquila, então talvez...
Sim. Ela poderia ficar ali sozinha esta noite e se masturbar e lidar
com a dor que ele causou com brinquedos que a estava fodendo. Teria
seu orgasmo e seria salva de uma maior escalada de dor.
Os dois sabiam que não era a dor que causara a sua excitação,
mas se mesclava o todo dessa maneira com suficiente frequência,
tenderia o cérebro e seu corpo tornar-se tão chegado estar tão envolto
que não notaria a diferença? Sem dúvida seria um melhor desenlace
que simplesmente suportar a dor que ele originava. Pensou no aspecto
da satisfação e na paz nos rostos das mulheres ao sair do calabouço, e
se perguntou se esse olhar estaria algum dia no seu próprio rosto. Pela
primeira vez, sentiu como uma possibilidade real.
O aguilhão do açoite não era agradável, mas não era o tipo de dor
em que uma pessoa faz uma careta e se afasta. Era uma espécie de dor
que se movia mais perto, provando e empurrando, era mais a
curiosidade por experimentar a sensação sem julgar, porque não era o
suficientemente ruim para evitar imediatamente. Os hipnóticos e
repetitivos ataques criavam uma sensação de espaço ao redor dela, uma
solidão onde se permitia o resto de suas lágrimas fluírem de forma
segura.
Ela não tinha forças para se mexer. Ele procurou na bolsa preta e
pegou um bálsamo que esfregou nos seus pulsos e massageou
brandamente suas costas e a parte inferior. Quando terminou, ele a
abraçou e ela deitou em seu ombro, soluçando.
Ele virou o corpo dela para lhe mostrar as marcas que havia
deixado estrias na maioria com umas raias vermelhas devido ao açoite.
Ela passou os dedos sobre a pele ainda quente e as contemplou
fascinada. Sentiu a ausência dele quando ele se afastou para desligar o
som, mas logo ficou satisfeita quando pegou depois que a envolveu na
manta da cama e a puxou pelas escadas.
— Volto já.
A forma que a olhava... Ela decidiu que lhe permitiria fazer o que
ele quisesse sem se queixar, se isso significava que sempre a olharia
dessa maneira. Havia visto o desejo em seus olhos antes. Havia visto
bondade, ira e tristeza. Mas nunca havia visto esse olhar que mostrava
agora. Não queria ser tola e chamá-lo de amor, mas era um grande
carinho e afeto, do tipo que a fazia derreter por dentro por ser a
destinatária de tal olhar.
Leo retornou alguns minutos mais tarde, os gatos e Max
deslizaram atrás dele antes de fechar a porta. Trazia uma bandeja com
água, pedaços de queijo, biscoitos e frutas. Meteu-se na cama e
empurrou a comida para ela.
Ele a guiou para a sua ereção e ela o tomou em sua boca de novo,
lhe agradando até que foi satisfeito.
Capítulo 18
Leo deixou cair o bastão de vime uma vez mais, desta vez na parte
superior de suas coxas, o que a fez dar um coice como se tivesse
recebido uma descarga elétrica. Algum dia. Ele ainda não foi capaz de
usar a varinha violeta. O jogo elétrico poderia ser assustador. Ela não
estava preparada e não queria se arriscar a prejudicar sua confiança
nele. Tinham todo o tempo do mundo para chegar lá.
Ele se certificava de não ser intenso todos os dias, sem dúvida não
através da mesma extensão de pele. Às vezes era mais suave com ela,
mais gentil. Algumas noites só se tratava a humilhação, encontrar
formas de fazê-la sentir-se desconfortável pelo simples prazer dela
obedientemente cumprir suas demandas. Ele havia utilizado
brinquedos de todos os tipos: vibradores, consolos e plugues anais,
sentindo como grande diversão quando a fez usar o plugue por várias
horas durante o dia. Ele gostava de assistir o rubor chegando ao seu
rosto quando ela encontrou Demetri ou outro membro da equipe da
casa, com medo de que alguém pudesse perceber que havia uma peça
suave de vidro lubrificada preso dentro de sua bunda entre suas
nádegas.
Mas ela não estava bem. Levantou-lhe o queixo para olhá-la nos
olhos e ficou impressionado pela tristeza dolorosa que encontrou ali.
Ela estava arruinada. E, no entanto, seu corpo respondia. Ela estava
desesperada por fazê-lo feliz. Se ele lhe oferecesse a liberdade
novamente, só que ainda mais a perturbaria. Ela estava viciada nele,
incapaz de ficar sem ele, mas claramente desgostosa com o que se havia
convertido em suas mãos. Ele estava aborrecido com as coisas que fez
com ela. Porém... Não conseguiria parar. Quanto mais repugnância
sentia, mais desejo, mais inflexível era o impulso para seguir adiante e
nunca parar.
Leo havia planejado utilizar a boca dela, mas não poderia fazê-lo
agora, não com tanta dor e tristeza em seus olhos. Esse não era o
pranto catártico de uma boa sessão. Não era a dor agridoce que se
fundia no prazer. Era verdadeira angústia. Ele a desamarrou e esfregou
o bálsamo em seus pulsos e tornozelos e logo se sentou à mesa com ela,
sustentando-a em seus braços.
Leo se alegrava pela fortaleza dos móveis que permitiam aos dois
usá-los simultaneamente. Acariciou seu cabelo e lutou contra o impulso
de chorar com ela.
— N... Não, Amo. — A voz dela estava afogada em seu ombro, mas
ele a ouviu. E não acreditou. Uma parte dele queria castigá-la por sua
mentira, mas a tristeza era tão profunda que castigá-la ainda mais
poderia quebrá-la além do ponto que não poderia se recuperar.
— Pode se levantar?
— Não! V... Você quer cancelar? — Ela parecia tão frágil e triste,
como se ele estivesse fazendo outra coisa, e não tentando aliviar sua
dor. Como se ele fosse cancelar o casamento para lhe fazer mal de
algum jeito ou para usar como chantagem emocional para mantê-la a
limite.
Leo a atraiu para seus braços. Apertou os lábios contra sua face.
— Não cancelarei.
As cicatrizes.
Quando ele pediu a Esmeralda que o fizesse pagar pelo que tinha
feito a Faith, não pensou que as cicatrizes seriam uma lembrança
permanente, não só para ele, mas também para Faith, e não apenas
tinha feito para tentar fazer as coisas direito, mas tinha precipitado o
evento precisa fazer o necessário: aquela noite que nunca poderia ser
removida, não importa o quanto de sangue fluíra.
— Suas pobres costas. Como pôde deixar que alguém fizesse isto?
— Sei que meu irmão é encantador, mas sabe o que ele fez ao
Emilio. O que a faz pensar que está a salvo com ele?
Gemma se encolheu.
— Minha mãe?
Até onde entendia dar a ela aquele símbolo era uma formalidade.
Ela havia dado a ele de corpo e alma há muito tempo, e fiel a sua
palavra, a porta se fechou atrás dela depois dessa opção.
— Não quero ver seu pescoço nu outra vez. Use isto sempre. Pode
tirar para tomar banho ou nadar, mas assim que terminar, coloque de
novo.
O peso do colar ao redor da base do seu pescoço pareceria a mão
dele sobre ela. Não precisava se preocupar que ela o tirasse.
— Sim?
— Não quero... O quê? — Ele iria fazê-la dizer. Seu olhar fixo voltou
para a caixa vazia depositada sobre o véu.
— É isso o que quer? — Sua voz era suave quando perguntou, tão
suave que quase não ouviu com toda sua confusão interior.
Sim. Não. Talvez. Possivelmente. Não sei. Pense mais. Isto é uma
má ideia. Acontecerá cedo ou tarde, ou talvez não. Posso continuar com
ele se nunca acontecer? E se ele não quiser?
Ela choramingou contra sua boca quando ele pegou sua mão e a
levou para a cama.
— Todo mundo está lá fora, atrás da casa. Ninguém pode nos ver
aqui. — Ele movia a boca ao longo do pescoço dela.
Faith ruborizou com isto, mas ela tinha ido longe demais. Tinha
que acabar com isso. Não poderia ficar de pé diante de Deus e de todos
os convidados e se casar com Leo, custasse o que custasse, se a
cerimônia fosse verdadeira ou não, a não ser que ela soubesse.
Precisava saber se ela poderia fazer sexo com ele e não se sentir como
se estivesse morta por dentro.
— Sim.
— Imagino que sabe sobre esta família muito mais do que deveria.
Suas costas estavam rígidas. O tio Sal era o tipo de homem que lhe
daria um tiro em qualquer dia do ano, mesmo se fosse seu aniversário,
sua formatura, ou o dia do seu casamento. Assim, a ocasião não
poderia salvá-la.
30Composição barroca a duas ou mais vozes entoando uma mesma melodia, que se caracteriza
por essas vozes serem entoadas defasadas no tempo.
levavam margaridas. Elas foram seguidas por duas das sobrinhas de
Leo, Mariella e Noelle, em sedosos vestidos que as faziam parecer com
algodão de açúcar incolor. Tomaram seu tempo dispersando pétalas de
rosas brancas sobre o chão, fazendo a orquestra continuava a música.
Os pajens usavam smokings brancos e levavam um travesseiro de cetim
branco e sobre ele estavam as alianças.
Faith deu uma olhada para a cerimônia diante dela, Leo estava lá
na frente a esperando. Mesmo se isto não fosse o conto de fadas
completo, não era isto mais do que a maioria das mulheres
conseguiam? Importaria se ele não devolvesse seu amor? Seria o
bastante se ela o amasse e que ele a quisesse?
Quando ela chegou ao altar improvisado, tio Sal levantou seu véu e
lhe beijou a face antes de entregá-la a Leo e retornar ao seu assento.
Faith agarrou a mão de Leo tão forte como havia sustentado o braço do
tio Sal. Sentia como se fosse desmaiar e se perguntou se era pelo
casamento, o espartilho ou a fome que a deixou nesse estado.
Leo estava olhando para sua mãe quando Faith de repente se jogou
na frente dele. Depois vieram aqueles terríveis sons de disparo, e o
arquejo surrealista dos convidados. Elevou a vista a tempo de ver um
homem fugir, a maioria das pessoas estava muito histérica para
persegui-lo. Exceto seu irmão.
Angelo disparou na direção do homem, depois de um olhar breve e
sombrio para Leo, seguiu o pistoleiro com Davide a reboque. Leo se
moveu rapidamente, as mãos pegando a cintura de Faith a tempo de
agarrá-la antes de ela desmoronar.
— Por que se colocou na frente de uma arma por mim? — Ele sabia
a resposta. Faith confessou seu amor por ele há muito tempo. As
mesmas palavras nunca saíram de seus lábios. Mas ela tinha que
saber. Como poderia não ver?
A voz dela saiu instável. — Eu... Pensei que um dia você poderia
me amar. — Ela sussurrou a última parte, estava muito fraca para
falar.
— O quê?
— E?
— Você não vai gostar. Caprice contou a ele o que você fez com o
marido de Gemma.
— Sei que Vinny é seu melhor amigo e que você e Caprice têm uma
história, mas ela é uma bala perdida. É perigosa para todos nós. Tenho
que...
— Ange?
— Sim?
Quando seu irmão se foi, Leo foi para a ala leste. A dor e as
lembranças apertaram seu peito, uma coisa física ameaçando cortar
sua respiração. A memória dela sem vida em seus braços.
Ela agarrou sua mão tão apertada que sua força deve ter acabado.
— Nem eu.
— Sim, Amo.
O dia estava escuro e cheio de chuva, o brilhante sol que fez no dia
do casamento se negava a retornar. Leo conduziu até San Stephen e
ficou parado fora do edifício por muito tempo.
Dentro, a igreja estava silenciosa, mas Leo sabia que teria alguém
ali. Abriu a porta da cabine do confessionário e se sentou. Envolto no
calor e na escuridão, respirou a essência do incenso e das velas.
Fim.