O Poético e o Factual Na Letra Da Canção "O Bêbado e A Equilibrista"

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Revista Alpha, Patos de Minas, 17(1):115-127, jan./jun. 2016.

ISSN: 2448-1548
© Centro Universitário de Patos de Minas

O poético e o factual na letra da canção


“O bêbado e a equilibrista”
Fernando Lopes Silva
Mestrando em Estudos Literários e especialista em Mídias e Educação pela UFU.
Graduado em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela FCU.
e-mail: fernandolopes08@gmail.com

Introdução
Desde a composição por João Bosco e Aldir Blanc da canção “O bêbado e a
equilibrista” no ano de 1978, até os dias atuais, observa-se que o contexto político brasi-
leiro, as práticas culturais e comunicacionais experimentaram profundas transforma-
ções. O Ato Institucional nº 5, AI-5, de 13 de dezembro de 1968, deu início ao período
mais rigoroso do regime militar em que censores governamentais monitoravam a li-
berdade de imprensa, as manifestações artísticas e sociais.
Em decorrência do período ditatorial, vários jovens intensificaram os protestos
contra a cassação das liberdades civis, somando esforços aos intelectuais que clamavam
a impossibilidade de expressar seu pensamento tanto na imprensa como nas produções
culturais. Para coibir estes movimentos, os militares, por sua vez, censuravam ainda
mais a população, cassavam os direitos políticos dos manifestantes, prendiam, tortura-
vam, exilavam e assassinavam aqueles que infringissem o poder institucionalizado.
Segundo Ventura (1988), vários artistas e intelectuais sofreram as consequências
do AI-5, entre eles, Caetano Veloso e Gilberto Gil, que foram presos no dia 27 de de-
zembro de 1968, por desrespeitarem a bandeira e o hino nacional. A pressão política foi
tão grande que nos dias 20 e 21 de julho de 1969, os cantores fizeram dois shows de
despedida para arrecadar fundos, já que seriam exilados para outro país por determi-
nação do governo militar. Betinho, irmão do cartunista Henfil, também teve que deixar
o país em 1971. O jornalista Vladimir Herzog morreu em outubro de 1975 nas depen-
dências do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Opera-
ções de Defesa Interna) e mobilizou inúmeras pessoas sobre a violência dos militares.
O AI-5 vigorou até o ano de 1978. No mesmo ano, a parceria entre João Bosco e
Aldir Blanc presenteia o público com a canção “O Bêbado e a equilibrista” que, na voz
de Elis Regina, tornou-se o hino da Anistia, conforme elucida Melito (2014). O movi-
mento para sancionar a Lei da Anistia sensibilizou a população para pedir que os pre-
sos políticos pudessem viver em liberdade e as pessoas exiladas em outros países pu-
dessem retornar ao solo brasileiro.
Em 1979, quando a canção “O bêbado e a equilibrista” foi lançada na voz de Elis

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Regina, a cantora disse que a Lei da Anistia era um sonho de todos e parecia “mais
próxima do que se imaginaria dois meses atrás quando a música foi gravada” (Regina,
1979). Após ouvir a gravação da canção em uma fita cassete, o cartunista Henfil logo
percebeu que a anistia iria de fato acontecer, porque eles tinham um hino, fundamental
para fazer uma revolução popular, segundo informações do jornalista Anderson Falcão
(2014). De acordo com o jornalista, após o lançamento da canção, os comícios que reu-
niam 500 pessoas, passaram a reunir cinco mil manifestantes.
Com atenção ao contexto em que a canção “O bêbado e a equilibrista” foi com-
posta e lançada, este artigo tem por objetivo abordar o modo como foram elencados,
nesta narrativa, elementos jornalísticos que tratavam o factual e, ao mesmo tempo, re-
cursos poéticos, por vezes analogias e metáforas. Ao mesmo tempo em que esta canção
analisada contém relevantes fragmentos da história, ela também revela a consciência
de quem a compôs e significados para quem a entoou. A relevância desta proposta
encontra respaldo no fato de que esta música foi considerada o hino de um momento
político importante do país, a aprovação da Lei da Anistia, e ao mesmo tempo revela a
produção dos músicos, dramaturgos, escritores e outros artistas que foram influencia-
dos historicamente pelo momento político e cultural.
Embora nosso objeto de análise seja “O bêbado e a equilibrista”, outras canções
também abordaram a política no regime militar e, por vezes, nem eram identificadas
pelos censores da ditadura. A composição “Debaixo dos caracóis dos teus cabelos”,
lançada em 1971 por Roberto Carlos, com uma roupagem romântica, embalou vários
casais deixando passar despercebido o protesto referente ao exílio de Caetano Veloso.
Chico Buarque também compôs a canção “Apesar de você”, em 1970, que tratava im-
plicitamente sobre a ditadura militar e a falta de liberdade.
Produções como estas lançam uma reflexão em dois vieses que inquietam as in-
vestigações neste artigo. De um lado, a produção cultural, suas fontes de inspirações e
inquietações. Por vezes, conforme salienta Eco (2015), a realidade é mais fantástica que
a ficção, na medida em que ao “mergulhar na história [um autor] pode encontrar epi-
sódios mais dramáticos, mais cômicos, e também mais verdadeiros do que os que
qualquer romancista pode inventar” (ECO, 2015). Esta observação feita sobre o roman-
ce por Eco é facilmente percebida na linguagem literária. Por outro lado, fica o convite
para refletir sobre a arte e a percepção de quem aprecia uma música, uma poesia, uma
pintura, etc. A produção de sentidos ocorre livremente, vai além da racionalidade ou
explicitação imediata das coisas pela linguagem, possibilitando significados mediados
pela consciência histórica e cultural. Para Carey, a comunicação vai além da transmis-
são de uma mensagem, por se tratar de “um processo simbólico através do qual a rea-
lidade é produzida, mantida, reformulada e transformada” (CAREY, 1975, p. 22 apud
LIMA, 1981, p. 122). Essa reciprocidade dialética é fundamental para que ocorra o diálo-
go entre os compositores da canção e as pessoas que se identificam com os versos.
A convergência entre o factual e o poético na canção “O bêbado e a equilibrista”
será abordada metodologicamente por meio de apontamentos contidos nos depoimen-
tos de seus compositores e intérpretes. Compõem as fontes bibliográficas para a análise
das relações de convergência dos elementos factuais e literários os autores Sodré

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(2014), Medina (2003), Chalhub (2006), Bourdieu (1989), Bissoto (2012), Paz (1984), entre
outros.
A análise também será respaldada por publicações em periódicos com o objeti-
vo de documentar os acontecimentos mencionados e compreender o momento socio-
cultural em que a feita a composição. Na medida em que a letra da música de João Bos-
co e Aldir Blanc é analisada, observamos que esta narrativa nos convida para a percep-
ção de outras realidades e sentidos experimentados na apreciação dos seus versos, evi-
denciando as possibilidades de construções simbólicas da linguagem para além da ra-
cionalidade ou explicitação dos sentidos das coisas.

Caía a tarde feito um viaduto

No dia 20 de novembro de 1971, o viaduto Paulo Frontim no Rio de Janeiro de-


sabou, atingindo mais de 20 veículos, provocando a morte de 27 pessoas e deixando
dezenas de feridos, segundo Acervo O Globo (2015). Já passaram mais de quarenta anos
e os relatórios não foram conclusivos para apurar responsabilidades, enquanto ações
de indenizações do ocorrido ainda tramitam no judiciário.
Durante os dias que sucederam o desabamento do viaduto, a população sensi-
bilizada acompanhou o resgate dos corpos e vítimas daquela tragédia que embalou os
versos iniciais da canção "O bêbado e a equilibrista". Em entrevista, João Bosco fala da
relação da música com os acontecimentos factuais dos noticiários e sua proximidade
com as redações dos jornais:

Meu primeiro disco gravado, que eu dividi um lado com o Tom Jobim, foi uma ideia do
Pasquim, com produção do Sérgio Ricardo. Então, como o Aldir também colaborava
com o jornal, nós frequentávamos a redação e era comum estarmos com Henfil, Sérgio
Cabral, Ziraldo, Millôr... Depois, estreitei mais ainda as relações com o Henfil em fun-
ção da aproximação dele com a Elis Regina, que era uma grande intérprete das nossas
canções. E isso tudo gerou “O Bêbado e a Equilibrista”. É uma canção que celebra toda
essa amizade: a minha, do Aldir, da Elis e do Henfil, com o Brasil ( BOSCO, 2013).

Segundo Bosco (2013), ao compor "O bêbado e a equilibrista", ele e Blanc dese-
javam compor uma canção para homenagear Charles Chaplin que havia falecido no
natal de 1977. O personagem escolhido para homenagem era Carlitos, do filme Tempos
Modernos (CHAPLIN, 1936). Chaplin interpretava na obra, com humor peculiar, as trapa-
lhadas de um operário que foi preso injustamente por não se adequar à sociedade in-
dustrial. No tumulto das manifestações de greve, Carlitos apaixona-se por uma jovem
e eles fogem das perseguições policiais. No Brasil, as greves também eram censuradas
pelos militares e seus participantes eram presos.
Nos versos da canção de Bosco e Blanc (1979), “o bêbado trajando luto”, implici-
tamente devido à queda do viaduto, fazia os compositores lembrarem a tragicomédia

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de Carlitos, encenada por Chaplin. O ensejo dos compositores no primeiro momento


não era tratar a política brasileira; entretanto, era perceptível que a figura do Carlitos
trazia às pessoas uma esperança de dias melhores tanto no Brasil quanto em qualquer
outro país. Todos esses elementos verossímeis ficaram nítidos nos primeiros versos da
canção e, neste contexto narrativo verossímil, segundo Medina, é importante esclarecer
que

a arte de narrar acrescentou sentidos mais sutis à arte de tecer o presente. Uma defini-
ção simples é aquela que entende a narrativa como uma das respostas humanas ao caos.
(...) O que se diz da realidade constitui outra realidade, a simbólica. Sem essa produção
cultural – a narrativa – o humano ser não se expressa, não se afirma perante a desorga-
nização e inviabilidades da vida (MEDINA, 2003, p.47- 48).

A análise da canção “O bêbado e a equilibrista” trata justamente destas possibi-


lidades de o artista abordar os acontecimentos do seu tempo, utilizando elementos
simbólicos em uma narrativa. Diante da morte de Chaplin e da relevância social de sua
produção, e considerando o desabamento do viaduto no Rio de Janeiro, observa-se que
os compositores constituíram uma realidade simbólica expressada por meio de metáfo-
ras e analogias. Por certo, eles não queriam simplesmente omitir dos censores os senti-
dos presentes na canção, a exemplo de Roberto Carlos, ao compor "Debaixo dos cara-
cóis dos teus cabelos". Com o lirismo que lhes era peculiar, Aldir e Bosco imprimiram
poeticamente suas percepções sobre o factual.
A este respeito, segundo Paz (1984), quando o homem por meio de metáforas
representa um elemento da realidade por outro, revela-se a essência da linguagem
simbólica interposta pela consciência de si mesmo e pela realidade que ele nomeia.
Logo, nas palavras do autor, “o homem é um ser que se criou ao criar a linguagem, e
pela palavra, o homem é uma metáfora de si mesmo” (PAZ, 1984, pp. 41-42).
Com uso de analogias, os compositores ainda abordaram o sufoco das torturas
que tantos brasileiros sofreram na ditadura e, em contrapartida, caracterizaram a figura
desajeitada de Carlitos, narrando na canção que "Louco, o bêbado com chapéu-coco,
fazia irreverências mil pra noite do Brasil" (BOSCO, BLANC, 1979). Esse fragmento da
canção demonstra que, do mesmo modo que Carlitos fazia irreverências diante a
opressão capitalista, o bêbado tomava para si o chapéu-coco enquanto o Brasil estava
nos anos ditatoriais de escuridão. Era comum naquele período que as pessoas contrá-
rias ao Governo Militar fossem acusadas de terrorismo e temidas pela sociedade como
alguém fora do seu juízo normal, embriagadas por ideais comunistas, contrários à mo-
ral e aos bons costumes.
Deste modo, ao utilizar metáforas para se expressar, Bosco e Blanc não só abor-
davam elementos factuais, mas também expressavam poeticamente comoção com a
queda do viaduto, a perda de Chaplin e suas insatisfações com o regime militar. Se-
gundo Sodré (2014, p.243), deve-se considerar a “recusa da caracterização da lingua-
gem como mero instrumento de informação já que lhe está reservado o lugar de doa-
ção do ser às coisas”, o que torna a narrativa mais abrangente. Sendo assim, mais do

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que transmitir os fatos, comum à função referencial, os compositores também utiliza-


ram a função emotiva e a função poética para se expressarem diante da realidade. A
este respeito, Sodré (2014) ainda considera:

O ser das coisas não está em sua presença no espaço-tempo determinante nem na sua
pura e simples instrumentalidade, mas na possibilidade de abrir o mundo, o que acon-
tece na linguagem, ou melhor, na poiesis criativa que originariamente nomeou as coisas.
Isso não decorre de nenhuma atração ou “tração” etimológica na direção da origem das
palavras, e sim da recusa de uma explicitação total do sentido das coisas, da pulsão poé-
tica de impedir que elas se sedimentem no principio da razão suficiente (a vontade de
poder da tecnologia) a fim de que, junto com os mortais (a existência humana, o estar
aí), se abram para alteridade (SODRÉ, 2014, p. 243).

As possibilidades de alteridade e interpretação assinaladas em um texto deno-


tam a importância da metáfora, da analogia, de diversas figuras de linguagem numa
narrativa. Neste caso, pouco importa tratar-se de um conto, uma crônica, um poema ou
uma composição musical. A canção “O bêbado e a equilibrista” faz uso do simbólico
para tratar a realidade, não restringindo seus versos ao campo da racionalidade, mas
expandindo-os à linguagem poética da narrativa de um bêbado que trajava luto pelos
episódios tristes que o país testemunhava. Estes elementos narrativos presentes na
canção evidenciam possibilidades de interpretação para quem entoava os seus versos.
Segundo Caune (2014), a linguagem elabora com maestria estas relações de produção
de sentidos:

É somente com a linguagem que o símbolo comporta interpretação, que ela revela seu
sentido escondido, que se estabelece uma relação profunda de duplo sentido entre o
que ele significa imediatamente e a que ele se remete. A faculdade simbólica inerente à
condição humana atinge na linguagem a sua realização mais elaborada ( CAUNE, 2014,
p. 24).

São essas possibilidades de interpretação que norteiam a análise da letra da


canção “O bêbado e a equilibrista” neste artigo. Após abordar a linguagem, observar os
argumentos na composição para além da explicitação das coisas, elencando os elemen-
tos simbólicos, pretendemos abordar as fontes de inspiração e as inquietações dos artis-
tas, ao comporem uma canção como esta que propomos analisar.

Meu Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil

Ainda que seja contundente o contexto político da canção “O bêbado e a equili-


brista”, as inserções feitas pelos compositores sobre os exilados políticos surgiram na
composição da canção em um segundo momento, conforme destaca Aldir Blanc:

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O que é bacana nessa música é que ela não nasceu ligada ao tema. Quando o Chaplin
morreu, o João me chamou na casa dele e disse que havia feito um samba, cuja harmo-
nia tinha passagens melódicas parecidas com “Smile”, propositalmente construídas pa-
ra que homenageássemos o cineasta. Só que, casualmente, encontrei o Henfil e o Chico
Mário, que só falavam do mano (Betinho) que estava no exílio. O papo com o Chico e o
Henfil me deu um estalo. Cheguei em casa, liguei para o João e sugeri que criássemos
um personagem chapliniano, que, no fundo, deplorasse a condição dos exilados. Não
era a ideia original, mas ele não criou caso e disse: “Manda bala, o problema é seu”
(BLANC, 2007).

Os elementos factuais presentes na composição da canção, tanto ao tratar os exí-


lios políticos, como ao abordar a morte de Chaplin e a queda do viaduto Paulo Fron-
tim, promovem a reflexão de como esses elementos motivam uma produção artística e
cultural. Desde o período colonial, a literatura teve importante influência de padrões e
tendências portuguesas, enquanto outros momentos históricos por sua vez foram de-
marcados por estilos literários, como o classicismo, o romantismo e o realismo na mo-
dernidade. Observa-se que, na poesia e na prosa, os escritores sempre expressam seus
anseios particulares e sociais.
Segundo Losada (2011, p.44), embora a arte mude de acordo com as mudanças
contextuais, não são os elementos abstratos que transformam códigos representativos
dos estilos, mas o próprio artista transforma a arte por meio do trabalho concreto. Nas
palavras do autor, “não é o olho inocente que produz a obra de arte, nem tampouco o
seu efeito estético, mas só a mente curiosa do artista e do receptor” ( LOSADA, 2011, p.
56).
A arte românica, o barroco, o impressionismo, o surrealismo, entre outros esti-
los nas artes visuais, exemplificam que a cultura foi influenciada não exclusivamente
por dimensões estéticas, mas também pelo propósito autoral de expressar novas ideias
e provocar diálogos além das formas tradicionais. Também é possível perceber estas
influências contextuais na música que outrora surgiu para entoar hinos aos deuses,
mas que ganhou diferentes funções no decorrer dos milênios mediante diferentes con-
textos e ensejos autorais. Diferentes significados na arte e na cultura possibilitam ob-
servar a diversidade presente em cada obra, sobretudo na arte realista, conforme ob-
serva Chalhub (2006):

A chamada arte realista tenta também descrever o referente, repetindo-o. Na música, as


canções que contam/ cantam uma narrativa de teor emotivo, sofrem a interferência da
função referencial. Tom Zé, cantor e compositor da nossa MPB, disse muito bem: “Todo
compositor brasileiro sofre de complexo de épico”. Nesse sentido, ao lado da função re-
ferencial está a emotiva (CHALHUB, 2006, p.12).

Ao tratar na letra da canção que o Brasil sonhava “com a volta do irmão Henfil
com tanta gente que partiu num rabo de foguete” (BOSCO, BLANC, 1979), os composito-
res não abordaram somente o factual do exílio do Betinho, mas também a esperança da

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anistia, o perdão aos manifestantes exilados, torturados e presos. Na sequência, os ver-


sos da canção entoavam “chora a nossa pátria mãe gentil, choram Marias e Clarices no
solo do Brasil” (idem). ‘Marias’ e ‘Clarices’ não remetiam apenas nomes comuns de
muitas esposas e mães que perderam seus entes para a ditadura, mas também Maria
era o nome da esposa do operário Manuel Fiel Filho e Clarice o nome da esposa do
jornalista Wladimir Herzog. Ambos, jornalista e operário, foram mortos vítimas da
tortura no regime militar, segundo Ventura (1988).
A pátria mãe gentil, bradada no hino nacional pelos militares na ordem unida,
chorava há alguns anos os filhos engajados na luta pela democracia, as vítimas da in-
tervenção militar em 1964 e os denominados “terroristas” pós AI-5 em 1968. A canção
“O bêbado e a equilibrista” foi gravada por Elis Regina no disco Essa Mulher em 1979.
O trabalho artístico da obra vai além da emotividade e do factual. Após o lançamento
do disco, em depoimento sobre a letra da música, a cantora disse que “grande parcela
da população anseia encontrar um Carlito deste e sonha não ver mais nem Marias e
nem Clarices chorando” (REGINA, 1979).
Logo a canção emocionava, mas também convidava quem entoava a reflexão
sobre o contexto político e social, tramitando aquele que seria o hino da anistia. Era um
convite de um olhar crítico sobre o país, o que denota as diferentes possibilidades de
uma obra artística conforme elucida Chalhub:

O artista não é um inspirado pela arte que, tomado pela mágica da emoção vai expres-
sar seus ocultos pensamentos. Fernando Pessoa disse “o que em mim sente está pen-
sando”. Seu gênio está no trabalho competente da organização do código, no desenho
de uma linguagem do inédito – seja ela música, poesia, pintura etc. (CHALHUB, 2006, p.
19).

Tão logo a canção caiu no gosto popular e ficou conhecida como o hino da anis-
tia, foi decretada a lei em agosto de 1979 que declarava anistiados todos “aqueles que
cometeram crimes políticos ou conexos entre a data de 02 de setembro de 1961 a 15 de
agosto de 1979” (BISSOTO, 2012).
Se por um lado, a lei trouxe vários engajados políticos de volta ao solo brasileiro
e permitiu a libertação de muitos presos da ditadura, por outro, em seu segundo pará-
grafo, a lei assinalava “que os condenados pelos crimes de terrorismo, sequestro, assal-
to e atentado pessoal não seriam anistiados” (BISSOTO, 2012), o que fez com que muitos
permanecessem vítimas e reféns da ditadura.
Após assinalar neste artigo as produções de sentidos por meio da linguagem,
suas possibilidades de representar a realidade por meio do simbólico, as inquietações
que nortearam a composição, o que inspira a produção do artista, vamos abordar a
narrativa mediante um contexto político e histórico. Para a canção se tornar um hino da
Anistia, por certo havia um apelo para quem ouvia os seus versos em favor de uma
causa compartilhada.

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A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar

A Anistia, com seu hino “O bêbado e a equilibrista”, era um passo importante,


mas não poderia ser o último até a retomada da democracia no Brasil. Elis chegou a
assinalar sobre isto na entrevista do lançamento do disco Essas Mulheres (REGINA, 1979),
ao dizer que “de repente pode ser um empurrãozinho a mais na questão. Como bem
disse o Henfil no release de apresentação: Será que uma música vai resolver a ques-
tão?” (REGINA, 1979).
A resposta de seus questionamentos estaria na letra da própria canção que já
alertava para o fato de “que uma dor assim pungente, não há de ser inutilmente a es-
perança” (BOSCO, BLANC, 1978). E por certo não foi em vão. Aldir Blanc narra o seu
primeiro encontro com Betinho, em um show no Canecão (Rio), após ele ter retornado
ao Brasil graças à anistia:

A gente se cruzou numa ida ao banheiro. Ele olhou para mim e falou, sorrindo: “É você,
não é? Eu pretendia terminar os meus dias lá fora e voltei por causa dessa música, seu
f.d.p.” E assim essa amizade se solidificou, a ponto de nos transformarmos, Betinho,
Henfil, Chico Mário e eu, quatro irmãos (BLANC, 2007).

A canção de Aldir e Bosco terminava encorajando os equilibristas da ditadura


militar a permanecer lutando e esperar por dias melhores, mesmo diante de todos os
riscos. Abaixo, a letra da canção em sua totalidade, denota como ela foi apreciada pelo
público:

Caía a tarde feito um viaduto


E um bêbado trajando luto
me lembrou Carlitos...
A lua, tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens, lá no mata-borrão do céu,
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco,
o bêbado com chapéu-coco,
fazia irreverências mil
pra noite do Brasil.
Meu Brasil,
que sonha com a volta do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarices no solo do Brasil.

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O POÉTICO E O FACTUAL EM “O BÊBADO E A EQUILIBRISTA”

Mas sei, que uma dor assim pungente,


Não há de ser inutilmente a esperança.
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar.
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar... (BOSCO, BLANC, 1979)

O personagem bêbado no término da canção “dança na corda bamba de som-


brinha”, embora não fossem poucos os perigos de se machucar, ao se manifestar con-
trário ao sistema, mesmo por meio de uma canção. O ano de 1978, com o fim do AI-5, a
Anistia em 1979, e posteriormente em 1984, o movimento das “Diretas Já”, que reuniu
mais de 300 mil pessoas nas proximidades da Praça da Sé em São Paulo, apresentaram
muitos desafios para diversos intelectuais ao expressarem a sua insatisfação com a di-
tadura militar.
Em relação às manifestações contrárias à ditadura, segundo o portal Memórias
Reveladas do arquivo nacional,

a cultura do protesto não desapareceu. Permaneceu nas margens e tornou a aflorar nos
últimos anos de ditadura, sobretudo com o fim da censura, mas sem a relevância que
fora a sua logo depois da vitória do golpe. Mudara o país, e radicalmente ensejando no
mesmo movimento a mudança dos padrões culturais (REIS, ROLLEMBERG).

Essas mudanças observadas politicamente no país e nos padrões culturais deno-


tam como uma produção artística interfere na sociedade, e em contrapartida, como a
sociedade igualmente influi nas produções artísticas e culturais. As décadas de 1960,
1970 e 1980 foram demarcadas por movimentos que ilustram esta efervescência cultu-
ral, como é o caso da Jovem Guarda, da Tropicália e do denominado Rock de Garagem.
Desse modo, as fronteiras entre o que se pode expressar e compartilhar socialmente são
relevantes para as mudanças políticas e culturais experimentadas pelos cidadãos. Se-
gundo Bourdieu (1989, p. 165),

a distribuição das opiniões numa população determinada depende do estado dos ins-
trumentos de percepção e expressão disponíveis e do acesso que os diferentes grupos
têm a esses instrumentos. Quer isto dizer que o campo político exerce de facto um efeito
de censura ao limitar o universo do discurso político e, por este modo, o universo da-
quilo que é pensável politicamente, ao espaço finito dos discursos susceptíveis de serem
produzidos ou reproduzidos nos limites da problemática política como espaço das to-
madas de posição efetivamente realizadas no campo, quer dizer, sociologicamente pos-
síveis dadas as leis que regem a entrada no campo.

Deste modo, ao limitar com a censura o que era dizível no regime militar, o Go-

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verno controlava não só a opinião da população, como os seus instrumentos de per-


cepções políticas e culturais. Ao analisarmos a canção “O bêbado e a equilibrista”, é
importante estabelecermos uma relação sobre as condições e o que contextualizava esta
dada produção artística. A este respeito, Caune (2014) faz algumas considerações per-
tinentes:

Se quisermos compreender como a arte enquanto fato social e expressão singular, in-
forma e orienta as percepções, constrói o imaginário, sublima as emoções, estabelece as
relações, convém examinar em que condições teóricas e metodológicas a prática e o ob-
jeto artístico podem ser analisados do ponto de vista dos fenômenos de comunicação
que eles operam. O objeto artístico e a forma serão, portanto, evocados como suporte de
informação, frente de significação e produção de sentidos ( CAUNE, 2014, p. 111).

Nestas palavras de Caune, destacamos o encontro das percepções presentes na


canção: a arte, expressão singular de um artista se relacionando com o referente, a lei-
tura da realidade, favorecendo a produção de sentidos. Quanto ao suporte de informa-
ção, observa-se que a canção “O bêbado e a equilibrista” elencou os acontecimentos
que antecederam a Anistia. Esses acontecimentos comoveram a população, afetando a
esperança, seja referindo-se a uma tragédia na queda de um viaduto ou na perda de
um importante nome da cultura, Charles Chaplin.
Os compositores da canção não só narraram os fatos, mas denotaram suas im-
pressões perante os acontecimentos, evento pouco comum na ditadura militar por cau-
sa dos censores. E diante disto, a canção considerada como hino da Anistia teve rele-
vante valor cultural, político e histórico. Nos últimos versos da composição, Aldir
Blanc e João Bosco reafirmam esse caráter da canção, ao dizerem que “a esperança
equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar”. Por certo, continuou
dando voz a outros movimentos musicais, ou ainda na voz de quem canta esta canção.

Considerações finais
Neste artigo foi possível assinalar elementos poéticos e factuais na composição
da canção “O bêbado e a equilibrista”. A percepção desta obra musical na voz de Elis
Regina, uma das intérpretes mais respeitadas da denominada Música Popular Brasilei-
ra (MPB), emociona na mesma medida em que sua análise possibilita a leitura dos fatos
que contextualizaram historicamente a Anistia e narraram acontecimentos factuais que
tiveram grande repercussão, como a queda do viaduto Paulo Frontim e a morte de
Charles Chaplin.
Assim como no filme Tempos Modernos (1936), o personagem Carlitos segue em
uma estrada de esperança na companhia da jovem dançarina e revolucionária, vivendo
as mais diferentes emoções, na canção, o bêbado trajando luto é amparado pela espe-
rança equilibrista. Observamos por meio do depoimento dos seus compositores Blanc
(2007) e Bosco (2009) que o apelo político foi posterior à intenção de homenagear Cha-
plin, denotando as diferentes fontes de inquietações dos seus compositores.

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O POÉTICO E O FACTUAL EM “O BÊBADO E A EQUILIBRISTA”

Importante também ressaltar o valor que esta canção tinha para quem entoava
os seus versos. A relevância é constatada no contexto político em que a produção está
inserida e no modo como ela contribuiu e encorajou os passos arriscados e a esperança
de dias melhores. Deste modo, vale ressaltar mais uma vez o pensamento de Tom Zé
mencionado por Chalhub (2006) de que os compositores brasileiros sofrem do comple-
xo de épico. E nesse contexto épico surge uma produção de relevância não só para a
música brasileira, mas para a tradução de importantes momentos históricos, como, no
caso dessa canção, a Anistia.
Não eram poucos os motivos dos artistas e intelectuais para temer produções
que abordavam política como “O bêbado e a equilibrista”, dada a censura que as pro-
duções culturais naquele período sofriam, levando seus produtores a serem presos,
torturados e exilados. A metáfora e as analogias, utilizadas nos versos da canção por
Bosco e Aldir, nos levaram à reflexão para além dos elementos explícitos na narrativa
da composição, elencando os valores da linguagem simbólica com suas possibilidades
de interpretação e revelando a consciência dos compositores.
A percepção da letra da canção analisada requer, além da percepção dos ele-
mentos simbólicos nos versos da canção, o trabalho do artista que, segundo contribui-
ções de Losada (2011), interage com o meio que habita por meio do trabalho artístico
concreto. Neste aspecto, ressaltamos que a poesia contida na composição da canção e
na organização dos códigos tece uma narrativa que expressa toda angústia vivenciada
pelos compositores e por quem cantarolava a canção por conta da ditadura.
Todas estas elucidações abordadas neste artigo nos fazem compreender a di-
mensão comunicacional e artística que norteia a análise da canção, promovendo a re-
flexão sobre a importância que “O bêbado e a equilibrista” teve em um contexto histó-
rico-temporal e igualmente sobre o valor artístico revelando o simbólico, o poético e as
possibilidades de produções de sentidos. Ainda que a canção não tenha conseguido,
isoladamente, resolver todas as angústias, como questionara Elis Regina (1979), em
entrevista ao lançar a música, percebe-se o valor que a canção teve em traduzir a espe-
rança equilibrista de dias melhores e, a partir de então, contagiar os bêbados embria-
gados pelo sonho de viver em um país democrático.

Referências

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Artigo recebido em 09/03/2016; aprovado para publicação em 18/04/2016

RESUMO: Neste artigo, procura-se analisar a narrativa da canção “O bêbado e a equilibrista”, de


João Bosco e Aldir Blanc, elencando em sua composição os elementos poéticos, factuais e, por
conseguinte, a relevância histórica desta música que se tornou hino da anistia em 1979 na voz
de Elis Regina. A análise da narrativa é fundamentada abordando o uso da linguagem, os ele-
mentos simbólicos e de produções de sentidos, mediados pela percepção da realidade e consci-
ência tanto de quem compôs a canção, como de quem entoou seus versos mediante um contexto
político e cultural. As dimensões artísticas e comunicacionais do artigo são respaldadas teori-
camente por Eco (2015), Sodré (2014), Medina (2003), Bourdieu (1989), Paz (1984) entre outros
teóricos, além dos depoimentos dos compositores e intérpretes da canção.
PALAVRAS-CHAVE: Poético, factual, canção, MPB.

ABSTRACT: This article aims to analyze the narrative of the song “O bêbado e a equilibrista”
composed by João Bosco and Aldir Blanc, casting in its composition the factual and poetic ele-
ments, and as a result, the historical relevance of this song that became the hymn of the Brazili-
an Amnesty in 1979 in Elis Regina’s voice. The narrative analysis is based on the use of lan-
guage, the elements of symbolism and of production of senses, mediated by the perception of
reality and awareness both from he who composed the song, as well as from he who sang his
verses from a political and cultural context. Artistic and communicative dimensions of the arti-
cle theoretically come by Eco (2015), Sodre (2014), Medina (20 03), Bourdieu (1989), Paz (1984)
and other theorists, besides the testimony of composers and performers of the song.
KEYWORDS: Poetic, factual, song, MPB

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