Texto12-Plantao01 (1)

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

DOI 10.18065/RAG.2020v26n1.

O ESTÁGIO DE ATENDIMENTO NOS ANOS INICIAIS:


EXPERIÊNCIA COM PLANTÃO PSICOLÓGICO

Psychological practicum by early years students: experience through psychologi-


cal attendance

La practica de atendimiento en los años iniciales: la experiencia de estudiantes en


jornada psicológica

André P. Nunes
Henriette T. P. Morato

Resumo: Este artigo discute a experiência de quatro plantonistas em seu primeiro estágio de atendimento em pro-
jeto de plantão em clínica-escola universitária, no terceiro semestre do curso. Os relatos revelaram como o plantão
se organizou para cuidar destes estudantes, bem como cada estagiário conduziu-se de modo singular ao longo do
estágio. Evidenciou-se que o plantão abarca múltiplos dizeres dos estudantes como possibilidade de propiciar um
aprender pela experiência. Convocados pela atenção psicológica dos supervisores, os saberes dos plantonistas mos-
traram-se incorporados em seu agir, surgindo nas narrativas contadas. A formação surgiu como formar-ação, pela
aprendizagem significativa como via privilegiada de constituição do saber de ofício do psicólogo. A investigação
destacou a relevância deste estágio ocorrer nos semestres inicias pelo modo como estagiários apresentaram uma
compreensão pertinente de plantão nesta perspectiva. Manifesta-se a urgência da clínica-escola contemplar proje-
tos que diferenciem serviços de atenção às demandas da clientela.
Palavras-chave: Plantão psicológico; Fenomenologia existencial; Currículo; Aconselhamento psicológico.

Abstract: The present investigation intended to explore how four students experienced their first practicum in the
university project of Psychological Attendance, from the second year of the Psychology Course. It revealed how that
practicum is organized to take care of the student, as well as how the project showed itself as singular, allowing the
students’ narrative for this investigation. It was possible to comprehend how the psychological attendance opened
to the participants many possibilities to learn through experience, by learning in action. At the same time, by the
supervisors’ careful psychological attention, the students referred how they incorporated such knowledge in their
acting by their reflexions about the experiences at the supervisions as well as with clients. It revealed the possibili-
ty of significative learning in action as pertinent to comprehend the meaning of psychologist’s attention, even when
the practicum occurs for Psychology freshmen students. This investigation points to the urgency to changes in the
curriculum of Psychology courses in order to contemplate projects that open new possibilities, directing them to
the clients’ actual needs.
Key-words: Psychological attendance; Existential phenomenology; Curriculum; Counseling.

Resumen: Este articulo discute la experiencia de cuatro estudiantes que iniciaron su primera practica de atendi-
miento en jornada, en el tercer semestre de la carrera. Los relatos revelan como se organizo la jornada para cuidar
del estudiante. Por otro lado, el proyecto mostro como cada practicante se comporto de manera singular a lo largo
de la practica. Se evidencio que la jornada abarca múltiples posicionamientos de los estudiantes, como posibilidad
de propiciar un aprendizaje por medio de la experiencia. Convocados por la atención psicológica de supervisores,
los saberes de los participantes de la jornada se muestran incorporados en su forma de actuar, siendo difícil hablar
sobre esto, pero surgiendo en las reflexiones e historias contadas. En este sentido la formación surgió como for-
mar-accion, por el aprendizaje significativo como vía privilegiada de la constitución del saber del oficio del psicó-
logo. Así, la investigación destacó la relevancia de que esta practica sea realizada en los semestres iniciales por el
Relatos de Pesquisa

modo como los practicantes presentan una comprensión pertinente de la jornada en esta perspectiva. Por esa vía
se manifiesta la urgencia de la clínica-escuela, de contemplar proyectos de practicas que diferencian servicios de
atención a las demandas de la clientela, en su amplitud.
Palabras clave: Jornada psicológica; Fenomenología existencial; Currículo de enseñanza superior; Consejería psi-
cológica.

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


2
André Prado Nunes e Henriette Tognetti Penha Morato

A proposta de estágio em plantão nos semestres de faz parte de nossa atividade cotidiana.” (Figueiredo,
iniciais 1993, p. 93).
Assim, não basta ao psicólogo reconhecer o dife-
Os debates sobre formação e currículo em psico- rente no outro, mas denunciar a crença em uma identi-
logia ocorrem desde a regulamentação da profissão e dade estável e igual a sua própria representação. Além
acompanharam o processo de consolidação desta no disso, é necessário ele também assumir-se multipla-
país. Com a promulgação das diretrizes curriculares mente constituído e descentrado, revelando-se como
para os cursos de psicologia (CES/CNE, 2004), diver- desconhecido para si mesmo. É no reconhecimento
sos cursos passaram a discutir os respectivos projetos desta alteridade constitutiva – a existência do outro em
pedagógicos. mim – que se encontra a condição mesma do trabalho
No artigo 21º destas diretrizes, por exemplo, do psicólogo.
afirma-se ser “recomendável que as atividades do es- Destarte, poderia um estágio em clínica-escola
tágio supervisionado se distribuam ao longo do cur- ser uma via para se criar estas referidas situações cru-
so.” (CES/CNE, 2011, p. 19). Neste contexto, abre-se a ciais e desafiadoras a partir do segundo ano (3º. Semes-
possibilidade de ofertá-las já a partir dos anos iniciais tre) do curso de psicologia? Quais cuidados devem ser
da graduação. Isto é uma indicativa de que os estágios considerados para conduzir tal proposta?
de atendimento não necessariamente precisavam mais A proposta deste artigo é compreender a expe-
se iniciar no quarto ano da graduação (8º. semestre), riência do estagiário a partir da sua participação no
consolidando a idéia de núcleo comum, a princípio Projeto de Atendimento em Plantão Psicológico (APP),
mais flexível do que o currículo mínimo. Este núcleo realizado em clínica-escola universitária.
comum da profissão ainda tem como habilidades exi- O projeto de plantão vem sendo disponibilizado
gidas a realização de “várias formas de entrevistas com como estágio a estudantes do segundo ano da gradua-
diferentes finalidades e em diferentes contextos”, bem ção, desde 2007. Realizado na clínica-escola de uma
como, “descrever, analisar e interpretar manifestações universidade ocorre uma vez por semana, disponibi-
verbais e não verbais como fontes primárias de acesso lizando atendimento psicológico a qualquer um que o
a estados subjetivos” (CES/CNE, 2011, p. 19). procure, sem necessidade de inscrição prévia, das 17h
Referência no psicodiagnóstico interventivo, às 21h. O atendimento pode ser individual, em casal e
Yehia (1996) considera a intervenção psicológica em em família. Crianças e adolescentes só podem ser aten-
atendimento uma atividade complexa, na medida em didos com a presença dos responsáveis legais.
que requer do estagiário flexibilidade, improviso e re- A supervisão é realizada in loco, ou seja, durante
curso ao seu saber de ofício, compreendido aqui como o próprio período de plantão, em salas reservadas. Ela
mescla indissociável entre as teorias incorporadas e a pode ser individual ou ocorrer coletivamente, com a
experiência pessoal. Deste modo, ela não chega a con- contribuição de mais de um supervisor e dos demais
siderar que os estágios possam começar nesse período colegas presentes.
inicial. Contudo, a tradicional estrutura dos cursos, ao O plantão “surgiu como uma tentativa de atingir
priorizar o ensino da teoria nos anos iniciais e ignorar e beneficiar uma parte da população que necessita de
outras propostas metodológicas, não prepara o estu- ajuda psicológica e que, nem sempre, no momento da
dante para a complexidade de seu ofício. Disso resulta- emergência da queixa, é por ela contemplada.” (Mora-
ria, que o estudante se torna mero aplicador de saberes to, 1999, p. 33-34). Mahfoud (1999, p. 146) o conside-
psicológicos já reconhecidos e, por sua vez, “o cliente rava uma “técnica de atendimento breve” e, de fato, em
é utilizado como uma espécie de cobaia para a apren- muitas instituições ele se apresenta como uma sequên-
dizagem” (Yehia, 1996, p. 111). cia de quatro a cinco atendimentos. Já Morato (1999,
Já naquela época, esta autora propunha a ideia de p. 34) considerava que o encontro poderia ser único e
confrontar o aluno com situações de “encontro com a mesmo nesta situação, o cliente poderia se beneficiar
alteridade” desde o primeiro ano. Ela enfatiza a per- do atendimento, conseguindo “uma visão mais clara
tinência de criar situações nas quais os estudantes de si mesmo e de sua perspectiva frente à problemá-
possam aprender a partir da experiência. Isto significa tica que vive e gerou o seu pedido de ajuda. (...) com
deparar-se com o diferente, de modo a reconhecer e a participação efetiva de ambos: cliente e conselheiro-
repensar pressupostos, perceber a incompletude das -psicólogo”.
teorias, além de apropriar-se da sensibilidade como Inicialmente constituído em clínicas-escola, o
possibilidade de comunicação de sentido. plantão por sua pronta oferta de atendimento sem ne-
Neste sentido, a pesquisadora se aproxima das cessidade de triagem, diagnóstico, encaminhamento
ou filas de esperar, logo se expandiu como modalidade
Relatos de Pesquisa

considerações de Figueiredo (1993) que, reconhecen-


do a diversidade constitutiva do psicólogo, se lança de prática para outras instituições.
em um esforço de traçar alternativas a esta multipli- Na medida em que a prática psicológica se
cidade. Tal autor propõe “caracterizar o psicólogo, em desvelava em cada cenário distinto, a proposta de
qualquer contexto que trabalhe, como ‘profissional do implantação do plantão nos moldes da clínica-esco-
encontro’ (...) assinalando o fato de que o lidar com o la mostrou que, diante dos desafios e impasses que
outro (indivíduo, grupo ou instituição) na sua alterida- ocorriam no cotidiano de cada instituição, o plan-

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


3
O Estágio de Atendimento nos Anos Iniciais: Experiência com Plantão Psicológico

tão, embora se apresentasse como serviço à institui- Explicitação do percurso metodológico


ção demandante, foi compreendido cada vez mais
como uma metodologia de intervenção clínica. Por Na investigação deste tema, acompanhei os esta-
tal termo, compreende-se que o plantão abarcava si- giários do projeto de APP durante um período de dois
multaneamente um modo de conhecer a instituição anos e três meses. Quatro estudantes de graduação
a partir de uma atitude cartográfica1, bem como de, foram convidados para entrevistas individuais. As
já nesse conhecer, criar espaços de escuta e cuidado entrevistas foram realizadas enquanto os estudantes
das singularidades ali presentes, pela atenção psico- ainda estavam no estágio, depois de terem cumprido
lógica propiciada pelos estagiários. um ano de atividades no plantão. Foram duas entre-
O termo “atenção psicológica” passou a se re- vistas com cada estudante, marcadas fora do horário
ferir ao modo do psicólogo estar atento e disponível de plantão, de acordo com a disponibilidade dos par-
àquilo que, no outro, demanda por expressão, trânsi- ticipantes. Na primeira trabalhou-se a partir de uma
to, diálogo... testemunho. Neste sentido, o “atender” pergunta disparadora e dos temas e histórias que sur-
e o “cuidar” disponibilizados pautam-se, sobretudo, giram. A segunda entrevista ocorreu um mês após
no oferecer guarida, abarcar e conter o sentido de a primeira e visava esclarecer e aprofundar termos,
uma experiência que, de outro modo, poderia per- ideias e sugestões que ficaram ambíguos ou superfi-
manecer como ausência de sentido ou cair no de- ciais em um primeiro momento.
samparo. Mais do que um esforço no sentido de di- Após o aceite, os participantes assinaram o Termo
rigir-se a, trata-se de estar presente como abertura de Consentimento Livre e Esclarecido. A escolha par-
para deixar vir, aproximando o plantão da perspecti- tiu de duas premissas: 1) terem realizado o primeiro
va fenomenológica existencial (Pompeia & Sapienza, estágio de atendimento neste projeto, a partir do tercei-
2011). Uma vez abrigado, cabe ao cliente retomar a ro semestre da graduação; e 2) terem permanecido no
sua trajetória de des-continuidades e atravessamen- projeto ao menos por um ano.
tos, podendo ou não retornar, mas considerando o As entrevistas se abriram a partir da seguinte
plantão uma referência de cuidado às suas questões. pergunta: “Como está sendo a sua experiência de es-
Como Figueiredo e Santi (2003, p. 72) apon- tágio neste projeto de plantão?”. O modo da pergunta
tam, “num mundo em que, concretamente, há cada buscou convidá-los a explicitarem situações do estágio
vez menos liberdade e cada vez mais massificação”, que consideravam pertinentes a sua formação.
esse modo de ser psicólogo implica necessariamen- No decorrer de cada entrevista, esforcei-me para,
te uma postura ética de denúncia dos mecanismos simultaneamente, aproximar-me e distanciar-me do
de “domesticação dos indivíduos”, ao atentar para a que era dito. Como já fora supervisor desses estagiá-
singularidade de cada um, como modo único e im- rios, a aproximação parecia evidente e, por isso perigo-
previsível de realização de sentido do ser. sa. Nesse lugar, a convivência semanal com os estagiá-
Diante destas reflexões e com o novo currículo rios pode ocultar “mal-entendidos” em relação àquilo
em andamento, o referido laboratório universitário que eu buscava compreender. O perigo de encontrar o
implantou o Projeto de Atendimento em Plantão Psi- “já sabido” é maior diante da cumplicidade compar-
cológico (APP) na clínica-escola em 2007. O estagiá- tilhada a partir dos atendimentos e supervisões. Por
rio era convidado a fazer uma residência em plantão, outro lado, a proximidade que pode gerar uma “ce-
o que implicava não somente atender e passar pela gueira”, também pode auxiliar o desvelamento do sen-
supervisão, mas se responsabilizar, semanalmente, tido da experiência, pois a intimidade propícia para o
pela abertura e fechamento do serviço, participar testemunho de certas situações já se encontra presente
de outras supervisões, fazer registro de prontuários, pelo convívio.
cadastrar conveniados e montar uma rede de apoio Neste sentido, a hermenêutica filosófica proposta
para eventuais encaminhamentos (Morato, 2009). por Gadamer (1997) auxiliou a legitimação desta pro-
Com esta proposta, o sentido de plantão, bem como posta investigativa. Pela noção de tradição, pode-se
o de psicoterapia e a própria formação, poderiam ser afirmar que a compreensão prévia de mundo constitui
discutidos e repensados junto aos plantonistas. o ponto inicial a partir do qual o investigador apropria-
Nesta perspectiva, este projeto disponibilizou- -se de novas significações, ampliando seu horizonte
-se para receber estudantes dos semestres iniciais, de sentido. É pertinente a este processo investigativo
de modo a re-situar a curiosidade inicial desta pes- refletir a partir do que vai sendo explicitado, em bus-
quisa: como ocorreu a experiência de estágio a esses ca de des-naturalizar os saberes tradicionais presentes
estudantes? na compreensão prévia e, simultaneamente, constituir
Relatos de Pesquisa

novos saberes, numa ampliação do horizonte compre-


ensivo do investigador.
1 Historicamente “cartografia” se refere à fronteira entre as ciências
humanas e exatas, no sentido de que cartografar é mapear mundo, para Além disso, o pesquisador deve “deslocar-se” das
desvelar territórios habitados e não meramente demarcar terreno. Para noções prévias rumo àquilo que busca compreender.
a equipe do laboratório, cartografar significava esse momento inicial, O deslocamento, que ocorre no campo da linguagem2,
mas continuamente retomado de conhecer o território, desvelar pres-
supostos, surpreender-se com imprevistos e, simultaneamente, dar-se a
2 Refere-se à dupla noção de que a linguagem é constituída a partir da
conhecer, desconstruindo, principalmente, ideias pré-existentes sobre o
ação entre homens, constituindo-a e sendo por ela constituído.
que seria o trabalho do psicólogo (Aun, 2005).
Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12
4
André Prado Nunes e Henriette Tognetti Penha Morato

orienta-se para a fusão de horizontes de sentido, meta ximou-se das considerações presentes em Gadamer,
concebida e noção reguladora, mas nunca totalmente pois conduzir-se pela memória é desvelar as compre-
alcançada. É preciso que o investigador esteja aberto a ensões prévias da tradição, bem como abrir-se para o
deixar-se contrariar e se transformar pela experiência não-sabido presente no esforço compreensivo.
que se apresentou. Assim, o que já é conhecido pode Na tessitura dessa trama, o projeto de plantão se
ser modificado e encaminhar outros saberes. deu a ver em sua constituição, a partir de como os en-
Após o processo de realização das entrevistas, trevistados realizaram uma compreensão da proposta
busquei em autores como Pierre Bourdieu (1997) e de estágio, apontando para uma dimensão coletiva.
José Carlos Bom Meihy (1991), os fundamentos para A narrativa foi então se compondo como trabalho em
uma transcrição pertinente do registro oral. co-autoria, na articulação dessas vozes com a minha
Segundo estes autores, a passagem do oral ao es- tentativa de compreensão. Deste modo, configurou-
crito, assim como o seu reverso, demanda transforma- -se uma constelação de dizeres que buscou apresen-
ções necessárias, pois não se pressupõe que o discurso tar uma compreensão da singularidade de cada relato,
fale por si mesmo. Neste sentido, pode se considerar bem como destacar possíveis significados da dimensão
a transcrição como já uma interpretação, na trajetória coletiva presente no atravessamento das falas.
do esforço compreensivo. Os tiques de linguagem, as
repetições desnecessárias e as frases confusas devem O estágio a partir dos seus protagonistas: experiên-
ser suprimidos de modo a respeitar o interlocutor e fa- cia em ação
cilitar a compreensão do leitor.
Posteriormente, transformei as transcrições em Inicialmente os estagiários se mostraram encan-
textos, anulando a voz do entrevistador para dar es- tados com a oferta de estágio a partir do segundo ano.
paço à voz do narrador, incorporando as perguntas Mauro afirmou que escolhera “psicologia por causa
no discurso do entrevistado. A textualização visou a da clínica e achava muito ruim ter que esperar quatro
reorganização do discurso para fazê-lo literariamente anos para atender”. Além disso, “foi bom atender no
compreensível e agradável ao leitor. A partir daí, pas- segundo ano e ver que nenhuma teoria precede o en-
sei à transcriação, processo que “implica evidenciar contro, pois é nisso que acredito”.
o narrador em sua essência maior. O que interessa é Beatriz comentou que “a parte boa é participar
jogar luzes na narrativa e não nas intermediações que de atendimento e entrar em contato com a prática e
devem, como os andaimes, cair desde que procedido o aprender de maneira mais solta, antes de ter aula de
trabalho” (Meihy, 1991, p. 33). fenomenologia e compreender a teoria”.
Segundo Benjamin (1994), a narrativa é um modo Luiza esclareceu que “o aprendizado aqui é na
de transmissão de experiência de geração em geração, prática, é no fazer. É diferente daquele com o qual es-
configurando-se como o legado transmissível da tra- tamos acostumados na faculdade. Você não lê o texto
dição-memória que rompe o tempo de imediatamen- e basta. Você conversa na supervisão sobre aquilo que
te presente, instaurando a dimensão existencial com você fez no atendimento e constrói um saber a partir
presente e passado articulados pela busca por sentido desta prática.”. Embora tal ideia possa remeter a uma
(Cardoso, 1997). Além disso, ela não é somente um proposta de aprendizagem pela experiência, dizer que
modo de apresentar a experiência, mas de sua própria “o aprendizado aqui é na prática, é no fazer”, pareceu
constituição, fundamentando-se na linguagem como soar mais como slogan, algo irrefletido e vazio.
efetivação do real (Critelli, 1996). Ela se desenvolve Por sua vez, Caio disse que “já pensava que essa
numa temporalidade, enquanto articulação tempo-es- oportunidade de atendimento clínico nos primeiros
paço, oferecendo-se como movimento histórico de se- anos é fundamental”. Ele ainda afirmou que “só a teo-
dimentação e reconstrução da memória. ria pela teoria não consegue direcionar os meus interes-
Neste percurso, optei por construir um texto ses. É interessante entrar em contato com algo sem pri-
narrativo a partir de trechos de cada relato. Utilizei meiro ter uma teoria e aqui me reforçou essa opinião.
quatro nomes fictícios para relacionar cada trecho Ao que Caio se refere quando diz “teoria pela te-
com o respectivo entrevistado, de modo a identificar oria”? Seria um conhecimento desvinculado da práti-
a fala de cada estudante, sendo eles: Caio, Beatriz, ca, sinalizando uma crença na separação entre teoria
Luiza e Mauro. e prática?
A cada trecho citado, busquei desvelar significa- Os trechos acima parecem evidenciar como os
dos possíveis, levantando questionamentos. Por esta plantonistas ansiavam por um estágio com essa apa-
via, a narrativa não buscou a construção de conceitos, rente ausência de teoria e, ao comentarem sobre o
mas trabalhou com a ação de nomear, a partir da qual o plantão, fica a impressão de reafirmarem interesses e
Relatos de Pesquisa

sentido de uma investigação pode se revelar, efetivan- opiniões prévios. Será que eles procuraram o já espera-
do uma compreensão. A nomeação é “o ato de produ- do e se mantiveram no já conhecido? Estaria a perspec-
zir figurações, imagens, através de um fluxo narrativo tiva fenomenológica existencial sendo compreendida
conduzido pela memória, que descongela o inominado como justificativa para um estágio descompromissado
e que neste movimento se abre para novas figurações” de um aprofundamento teórico problematizador do
(Cardoso, 1997, p. 179). Deste modo, a narrativa apro- atendimento em plantão?

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


5
O Estágio de Atendimento nos Anos Iniciais: Experiência com Plantão Psicológico

Aos poucos, ao contarem os seus primeiros aten- achava o máximo como ele devolvia, mas muitas
dimentos, o encantamento inicial cedeu lugar a incô- eu nem chegava a pensar direito.
modos. Caio contou o seu primeiro atendimento em
plantão da seguinte forma: Ao situar-se na cena como um enrijecido objeto,
Beatriz pareceu expressar o seu descontentamento, pela
Eu atendi uma mulher que estava bastante fragi- ironia. “Um vaso” é qualquer coisa de insignificante
lizada, tanto é que na semana seguinte ela foi en- num atendimento, comunicando uma ausência presen-
caminhada para o hospital universitário. (...) eu te. Suas tentativas de entender o que se passava ficaram
fiquei sem saber como agir diante de uma pessoa à míngua, sem maiores considerações. Como observa-
assim! Por mais que eu tivesse vontade de per- dora, ela deu a impressão de estar impedida de aprender
guntar algo eu ficava com medo de que o que eu a partir do agir próprio. O silêncio aqui talvez seja mais
dissesse fosse muito devastador para ela... eu não cruel, por nem se chegar a reconhecê-lo como tal.
sabia o que poderia acontecer. Então realmente Outro elemento que merece destaque neste tre-
não falei nada, fiquei mais cauteloso. Depois eu cho é a entrada dos estagiários com psicólogos forma-
vi que a fragilidade estava mais em mim do que dos ou colegas dos últimos semestres, formando du-
na mulher... eu também estava com medo de co- plas para o atendimento.
locar o que estava vendo, pois não entendia por- Luiza e Mauro referiram-se à “segurança” de en-
que eu via aquilo. trar com “alguém mais experiente”. Na fala da estagiá-
ria, “foi ótimo porque aos poucos ganhei a segurança
Na fala de Caio evidencia-se o conflito entre a de que precisava. Primeiro eu fiquei olhando, depois
vontade e o medo. Havia uma preocupação e um temor me permiti dizer alguma coisa”. Já para Mauro, “é bom
em relação ao estado da cliente. Entretanto essa aten- porque passa uma segurança. Antes de entrarmos ela
ção dirigida à fragilidade da cliente parecia encobrir a conversou comigo e me deixou muito à vontade para
crença de que ele era detentor de uma fala, cujo poder falar o que quisesse e até para sair do atendimento se
conseguiria dilacerar o mundo da moça. A imagem de desejasse... ela me tranquilizou”.
um psicólogo poderoso encobria a fragilidade de um Estes trechos transmitem a ideia de que atender
aprendiz que não entendia muito o que estava aconte- junto a um colega mais experiente “passa” uma segu-
cendo e não sabia ao certo como agir. E mesmo quando rança e, aos poucos, o estagiário constrói a sua própria.
Caio pareceu entender, ficou a dúvida sobre a própria Neste sentido, Mauro percebeu que uma atitude im-
percepção. Pareceu então que o medo já não era mais o portante da sua colega foi estar atenta a como ele se en-
de possuir um poder devastador; pelo contrário, trans- contrava e mostrar-se disponível para conversar sobre
formou-se na sensação de impotência de pouco se con- o que quisesse.
seguir fazer por aquela mulher a não ser encaminhá-la O relato de Caio também destacou esse cuidado
a outro local. ao estagiário iniciante:
O relato de Luiza trouxe uma situação semelhan-
te: “No meu primeiro atendimento, a pessoa tomava Quando a gente atende em dupla dá para ficar mais
remédios psiquiátricos e estava muito desorganizada. quieto e observar... e é bom ficar em silêncio por-
(...) eu fiquei meio confusa junto com a pessoa e saí com que você percebe outras coisas... só que agora eu
uma sensação de que precisava ser salva daquilo! devolvo o que percebo, antes eu deixava passar...
Se o relato de Caio trouxe a imagem do psicólogo eu passei a arriscar mais. (...) se eu falar besteira
onipotente, a fala de Luiza revelou outro medo: o da acontece, mas essa tentativa de mostrar o cuidado
mistura com o cliente, lançando a estagiária no caos é mais importante do que pensar se eu falei bes-
diante do desconhecido. Compreendo que aventurar- teira. Agora é ficar atento para as próximas vezes.
-se para além das próprias crenças pode conduzir a
uma perda de sentido. Mesmo que momentaneamen- De modo distinto ao de Beatriz, situada como um
te, tal perda pareceu ser vivida como um afogamento, “vaso” no atendimento, o relato de Caio transmitiu a
um aniquilamento de si. Assim, Luiza mencionou pre- sensação do repouso pensativo. Ele aproveitou a pre-
cisar “ser salva” desta situação trágica. Neste sentido, o sença do colega para estar de modo mais confortável,
movimento do estagiário de atrelar-se ao já conhecido embora atento. Nesse sentido, o atendimento em dupla
pode ser compreendido como um modo de tentar evi- propiciou que ele confiasse em sua percepção e arris-
tar essa experiência desorganizadora? casse mais, pois, conforme ele mesmo disse, tentativas
O relato de Beatriz, apresentou uma situação malogradas também indicam um esforço cuidadoso.
bem diferente: Luiza pode contribuir na compreensão das duplas
Relatos de Pesquisa

de atendimentos a partir do seu lugar diferenciado, por


No meu primeiro atendimento me senti um vaso! ter se tornado uma estagiária que acolhe os iniciantes:
Eu atendi com um colega já formado e, enquanto “Muitos não falam por não verem esse espaço ou por
eu tentava perceber alguma coisa, ele ia de racio- ele não se abrir. Eu tento abrir esse espaço no próprio
cínio em raciocínio e eu não acompanhava! Foi atendimento. Por exemplo, se um amigo começa a falar
tudo muito rápido! Algumas coisas eu percebia e eu o deixo seguir em frente: “Vai lá, desenvolve!”.

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


6
André Prado Nunes e Henriette Tognetti Penha Morato

O estagiário pode silenciar por não perceber Neste caminhar, os relatos indicaram a pertinên-
uma abertura, mas o colega também pode desatentar cia dos primeiros atendimentos serem realizados em
em disponibilizar esse espaço: descuido de ambos. dupla. As falas também apontaram como esse recurso
Tal consideração é interessante, pois ao estagiário, foi pensado a partir dos incômodos que surgiam no co-
que coube decidir como e quando se colocar, também tidiano do trabalho, marcando cuidado aos iniciantes.
competiu co-responsabilizar-se pela sua condução no Diante das vicissitudes reveladas por tal proposta, al-
estágio. Deste modo, pode-se compreender que o plan- gum outro auxílio foi disponibilizado?
tão foi apresentado aos estudantes a partir da própria Caio apresentou uma resposta:
atenção e disponibilidade ao outro que o companheiro
de dupla dava a ver, como reveladoras de um modo de No começo, eu trazia as minhas impressões do
ser psicólogo. Neste sentido, diferente de forçar uma atendimento para a supervisão e o sentido se es-
participação, Luiza convidou o colega a participar do clarecia, só que a pessoa já tinha ido embora... en-
diálogo com o cliente, de modo aparentemente des- tão não adiantava. Fazia sentido para mim, mas
compromissado. não para a pessoa que veio procurar. O lance do
Outro movimento da estagiária foi o de “deixar” Plantão é que a pessoa virá quando ela sentir que
o colega “seguir em frente” na sua fala. Ela legitimou precisa, então não dá para saber se ela vai voltar!
que ele conduzisse sua intervenção sem ser interrom- (...)
pido em suas considerações. Assumindo que ela talvez
possua “mais experiência”, o que ela fez com esse “po- Eu acredito que essa possibilidade de supervisão
der” foi colocar-se a serviço do estagiário. Esta atitude no meio do atendimento é algo bom porque dá
propiciou ao estudante perceber-se como co-autor no para você voltar e continuar... não fica só você
atendimento e descobrir-se como psicólogo. com a compreensão e o cliente já foi embora.
Por essa via, Beatriz revelou uma dificuldade no
atendimento em dupla: A fala deste estagiário denuncia uma insatisfação
de que o que era esclarecido com os supervisores fi-
Eu não pensei em trabalhar em dupla, mas em cava somente entre eles e o cliente já havia partido.
esperar e respeitar a vez do outro. Eu não aprovei- Neste sentido, não bastou ao estudante modificar a sua
tei a deixa do outro para esclarecer pontos meus. compreensão do atendimento: o sentido maior desta só
Quando você vai na mesma direção do colega se realiza quando comunicado ao cliente.
é tranquilo pontuar, mas se isso não acontece é Por essa via, a proposta de intervalo apareceu no
bom você aproveitar o que ele está dizendo para espaço de supervisão, no qual os envolvidos come-
colocar a sua ideia. çaram a se incomodar com o modo pelo qual o aten-
dimento se realizava. A breve interrupção no atendi-
Realizar um trabalho em conjunto, no qual cada mento, devidamente comunicada ao cliente, passou
plantonista dá sequência ao raciocínio do outro, não a ser denominada de “supervisão de meio”. Ela veio
é tão simples quanto parece. Na fala desta estagiária, a ocorrer da seguinte forma: os supervisores aguar-
não houve uma sequência ou complementação de ra- davam na sala de supervisão, sem espelho de obser-
ciocínios, mas a sobreposição de diferentes impressões. vação, e orientavam os estagiários a interromperem o
Como contemplar a alteridade quando a singularidade atendimento quando sentissem necessidade e também
parece se impor? Mário Quintana (1988, p. 35) provoca: para discutirem como encerrar aquele encontro. O mo-
“A gente diz uma coisa, o entrevistador entende outra e o mento da interrupção ficava a cargo dos estagiários e
leitor entende outra. Enquanto isso, a coisa propriamen- dependia de cada atendimento bem de como se apre-
te dita fica pensando que não foi propriamente dita”. sentava o cliente. Alguns atendimentos duravam meia
Por essa via, Mauro apresentou a seguinte re- hora e outros passaram de duas horas, pois às vezes se
flexão: atendiam casais e famílias em plantão. Em média os
atendimentos duravam uma hora e meia, contando a
Pode haver olhares diferentes entre dois planto- escuta e intervenções iniciais, a supervisão de meio e o
nistas e essa rica divergência ajuda você a abrir retorno para fechamento.
os olhos para um caminho que você não enxer- Para Caio, esse intervalo possibilitou que a dupla
gava... semelhante à supervisão. Essa divergência de plantonistas trocasse impressões e recorresse aos
pode gerar alguma confusão, mas se você se apoia supervisores para se re-situarem frente ao que estava
no que é dito em atendimento, a gama de inter- acontecendo. É um momento para escutar-se diante
pretações é restrita. daquilo que o cliente apresentou, abrindo incômodos
Relatos de Pesquisa

Neste trecho é interessante perceber como Mauro e levantando dúvidas. Desse modo, eles voltavam ao
aproximou o trabalhoso exercício de atender em dupla atendimento com uma nova compreensão e podiam
com a supervisão. Para ele, a divergência entre pares dar continuidade diferenciada ao que demandava cui-
pode gerar conflitos, mas, sobretudo, é algo fecundo, dado.
pois propicia a diferenciação de significados, na busca Mauro revelou outro atendimento em dupla em
por sentido. que as dificuldades foram superadas de modo notável.

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


7
O Estágio de Atendimento nos Anos Iniciais: Experiência com Plantão Psicológico

Junto a uma colega, ele atendia uma moça que fora vio- não conseguir assumir o sentido de estar ali. Ele con-
lentada anos atrás e agora contava isso pela primeira frontou o cliente com o modo de ser deste, a partir do
vez aos plantonistas: que ele percebera. O gesto do plantonista, ao mesmo
tempo em que afirmava, também questionava o clien-
Ela só se dirigia a minha colega... quando eu fa- te, como se dissesse: e agora, como seguir adiante?
lava algo ela fazia uma cara estranha... comecei a Se o plantonista contasse com a ideia de um
me sentir mal lá dentro. Ela falava mal de homens eventual retorno talvez deixasse passar o momento
em geral, de não conseguir ficar perto deles e eu que se revelou oportuno para ambos. Aliás, será que,
comecei a me sentir mal por ser homem! Lidamos em um segundo encontro, tais colocações fariam senti-
com isso na medida em que a minha colega disse do? Mais ainda... haveria um segundo encontro?
que ali estava presente um homem que junto a Diante da ideia de que o “plantão não pressupõe
uma outra mulher foram os primeiros a escuta- uma continuidade”, a atitude do plantonista eviden-
rem o que ela guardou durante quinze anos. ciou uma prontidão em perceber os lugares em que o
cliente o colocava e, simultaneamente, situar-se de ma-
Ao se dar conta do sentido que o mal-estar indica- neira a devolver uma compreensão de como o cliente
va, a colega de Mauro pontuou que a presença acolhe- se encontrava no atendimento. Por outro lado, houve
dora do estagiário poderia mostrar-lhe que nem todos um cuidado em não ser tomado pela pressa de arranjar
os homens são necessariamente maus. Colocada deste soluções às solicitações do cliente. Esta atitude revelou
modo, tal ideia não coagiu a cliente a aceitar a presen- o plantão como oportunidade fecunda para o cliente
ça do plantonista, mas propiciou-lhe re-significar a sua deparar-se com seu modo de ser situadamente desen-
experiência junto a um homem. A moça pode lidar contrado, propiciando reflexão. Deste modo, abriu-se
com a sua desconfiança generalizada pelos homens uma escuta atenta ao que urgia, demandando sentido.
na medida em que o estagiário revelou consideração e O relato de Mauro pode auxiliar ainda mais a
sensibilidade pelo seu sofrimento. compreensão dessa noção de descontinuidade do
Ao comunicar esta ideia, a plantonista também plantão:
possibilitou ao estagiário olhar para o seu incômodo de
outro modo, propiciando-lhe perceber a importância e Uma vez, uma plantonista disse a um rapaz que
o sentido da sua presença ali. Nessa situação, foi possí- ele parecia um “bebezão” birrento... ele concor-
vel olhar para os três ali naquele momento e trabalhar dou daquele modo meio vazio. Depois, eu o aten-
em cima do que estava acontecendo. di e me veio novamente esta imagem. Então eu
Neste sentido, a fala de Caio apontou outra di- disse que me parecia que pouca coisa havia mu-
mensão do estágio: “Para um plantão que não pres- dado para ele desde a infância. Na outra sessão,
supõe uma continuidade é valioso ter pontos de vista o rapaz falou como percebeu, a partir do que eu
diferentes num mesmo momento”. O que os relatos dos dissera, que o quarto dele era exatamente igual
plantonistas revelaram sobre essa “não-continuidade” desde os dez anos de idade. Ele viu um quadro de
do atendimento em plantão? cortiça com fotos que estava lá há mais de vinte
Caio apresentou uma situação interessante a ser anos e percebeu que não havia mais sentido para
considerada: aquilo, pois ele havia mudado.

Atendi um homem casado que veio ao plantão a Neste trecho, o rapaz foi atendido por uma plan-
pedido de sua amante para decidir com qual das tonista e, retornando ao plantão, passou por outro es-
duas mulheres ele ficaria. Ele pedia ajuda para re- tagiário. Evidentemente, a troca de estagiários marcou
solver esta situação, mas, por mais que reclamas- uma ruptura em relação ao encontro anterior. Entretan-
se, ele falava disso com orgulho! Dava a impres- to, diante dessa proposta, o cliente deu continuidade
são de um movimento pendular e de que não era às suas questões, mesmo com plantonistas diferentes.
algo que ele realmente quisesse resolver. Mesmo Deste modo, a partir de como o cliente se apresentava,
sem isso estar muito claro na hora, eu consegui a sensação de estagnação surgiu novamente ao plan-
dizer essas impressões para ele e fez muito sen- tonista. Mesmo com a troca de estagiário, o gesto do
tido! cliente indicava a continuidade de algo que o desassos-
segava, mas ainda permanecia à espera de uma palavra
Ao longo do atendimento, Caio teve a impressão viva que inaugurasse o trânsito de uma comunicação.
de um “movimento pendular”: alguém que oscilava de Ainda que tivesse um breve conhecimento da
um lado a outro e não conseguia tomar uma posição situação, Mauro não se limitou a olhar o já visto. Pró-
Relatos de Pesquisa

nem com relação ao fato de ter ido ao plantão. A partir xima de uma linguagem poética, a fala do estagiário
do modo como fora afetado, mesmo sem ter certeza, o apresentou-se como sugestão plena de espanto que
estagiário arriscou e pontuou este movimento do clien- convidou o cliente a estranhar-se no já familiar. Des-
te sem ter a necessidade de convencê-lo. Ele respon- te modo, ele viu sob outra mirada o que se mostrava
deu à situação sem atender diretamente o pedido: o difuso e comunicou de outro modo o que demandava
seu gesto convidou o cliente a lidar com a questão de esclarecimento. Neste sentido, o abrigo oferecido pelo

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


8
André Prado Nunes e Henriette Tognetti Penha Morato

plantão referiu-se à possibilidade do cliente dirigir-se tivos, mas talvez ela também tenha achado ruim, o que
de um olhar às questões para um assumir-se como é bem plausível.”. Porém, no diálogo com os super-
questão em aberto. visores outra leitura foi proposta: “... percebemos que
Essa segunda situação aprofundou a compreen- poderia ser não só uma inabilidade nossa, mas uma
são do atendimento em plantão, a partir da noção de resistência da pessoa. Eu retornei mais tranquila, pen-
“não-continuidade”. Por um lado, o estágio enfatiza a sando que talvez a pessoa tivesse o ritmo dela e não iria
ideia de encontro como oportunidade única, com co- se abrir naquele momento.”. Embora o plantão possa
meço meio e fim, desvinculado da noção de processo ser único, o retorno da cliente foi compreendido pela
terapêutico. Entretanto, esse momento singular pode plantonista como principal parâmetro de avaliação do
se ater a um atendimento ou desdobrar-se em mais seu atendimento. Os supervisores marcaram como a
retornos ao plantão. Assim, a partir da compreensão ênfase nessa ideia poderia prejudicar o surgimento de
de cada situação, a noção de “não-continuidade” do outras compreensões.
plantão foi compreendida como referência e não como Deste modo, a supervisão surgiu nos relatos como
modelo de atendimento. espaço privilegiado para o plantonista debruçar-se so-
Também é possível considerar que, havendo um bre o seu fazer, descobrindo-se e re-significando mo-
único atendimento ou uma série deles, cada retorno dos de atender. Neste sentido, este estágio revelou o
pode ser pensado como um encontro distinto do an- modo como cada plantonista foi descobrindo o seu
terior, mesmo quando os plantonistas são mantidos. “jeito pessoal de atender”.
Como Caio avaliou: “atender no plantão é sempre lidar Neste transitar por entre as falas, na tentativa de
com uma coisa nova que aparece”. explicitar o sentido da experiência de estágio para es-
Por essa via, outra singularidade deste estágio re- tes quatro estudantes, histórias foram contadas. Nelas,
feriu-se a supervisão, conforme relato de Luiza: tanto o plantão como o jeito pessoal de cada entre-
vistado deram-se a ver e puderam propiciar reflexões
O diferencial deste estágio é a forma como acon- importantes sobre como a formação foi pensada e rea-
tece a supervisão: todos juntos ouvindo a super- lizada neste projeto. Assim, atentando para o que foi
visão de outra pessoa. (...) Mesmo sendo em gru- desvelado nos relatos e nesta trajetória compreensiva,
po eu não me senti exposta. (...) O supervisor não abrem-se novas reflexões, rumo a questões e caminhos
me pediu para abrir aquilo que era meu e colocar possíveis.
no grupo... vai muito da sua liberdade. Mas eu
penso que o aprendizado é maior quando você Alcances e impasses do plantão nos semestres
abre e pode olhar para algo que é teu. Desse modo iniciais
o grupo todo participa e se faz grupo: eu consigo
entender quando é com o outro, assim como ele Ousadamente apresentar o plantão aos estagiá-
comigo. rios sem uma explicitação prévia da perspectiva fe-
nomenológica existencial ou junto a essas aulas re-
Embora a supervisão possa ser individual, este velou-se, neste percurso investigativo, ruptura que
trecho apontou para a riqueza dela acontecer priori- convidava o plantonista a constituir saberes de ofício
tariamente num espaço comum, onde plantonistas e a partir da própria experiência. Deste modo, “não bas-
supervisores podem se ouvir e participar. Tomar parte taria um acúmulo de informações teóricas sobre este
na supervisão de outros colegas auxiliou a estagiária enfoque, sem uma compreensão experiencial do tipo
em suas próprias descobertas. Deste modo, a estagiária de transformação de atitude que está aí em jogo.” (Sá,
compreendeu que mesmo assuntos pessoais podem Azevedo Junior & Leite, 2010, p. 137).
conduzir a temas de interesse coletivo à formação, na Os relatos evidenciaram que, inicialmente, os
constituição de um espaço de compartilhamento de estagiários experienciaram essa ruptura de maneira a
experiências. fazer uso dessa aparente falta de rigorosidade teórico
Neste sentido, Luiza revelou o modo como os su- científica para justificar posicionamentos prévios, ar-
pervisores disponibilizaram-se aos estagiários: “a su- riscando manter-se no já sabido ou no senso-comum.
pervisão trabalha o aluno e não somente o relato do Entretanto, embora tal oferta de estágio possa soar
caso e eu considero isso um cuidado essencial. (...) Por tentadora para quem deseja “colocar a mão na massa”
isso é comum, depois da supervisão, aquela sensação desde cedo, o percurso no plantão foi marcado por
de “eu deveria ter falado isso”. conflitos e questionamentos constantes.
A supervisão ofereceu um espaço para o estagiá- Neste sentido, o atendimento em dupla, a “su-
rio mostrar-se a partir de como foi afetado pelo outro, pervisão de meio” e a supervisão logo após o aten-
Relatos de Pesquisa

de modo que os supervisores puderam trabalhar al- dimento foram o modo diferenciado encontrado pelo
guns pressupostos que apareceram nas narrativas dos projeto para cuidar da formação do estagiário.
estagiários. Beatriz apresentou uma situação na qual Ambas as supervisões apareceram como espaço
o cliente não retornou ao plantão: “Eu reparei que ela privilegiado para o plantonista compreender o plan-
não voltou e fiquei com a sensação de que o atendimen- tão a partir do modo como ele pôde compreender-se
to não foi bom. Ela pode não ter voltado por vários mo- no atendimento, descobrindo o seu jeito de ser psicó-

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


9
O Estágio de Atendimento nos Anos Iniciais: Experiência com Plantão Psicológico

logo. A supervisão surgia ora como lugar reconfortan- conduzir-se em dada situação, pertinentemente a seu
te para o estagiário se situar após o atendimento, ora ser-no-mundo.” (Morato, 2013, p. 52).
como espaço de discordâncias e incômodos, pelo qual O atendimento em plantão, levando os estagiá-
o plantonista pôde entrar em contato com as vicissi- rios a improvisarem diante do inesperado, também
tudes que envolvem o exercício profissional. Alguns revelou, mesmo que timidamente, o surgimento da
autores (Sá et al., 2010; Dutra, 2013) também mar- linguagem poética. Nesta direção, libertar a palavra
cam como a supervisão na abordagem fenomenológi- do âmbito do raciocínio explicativo, com seus signifi-
ca existencial, muitas vezes, sustenta o desconforto e cados já dados de antemão e gastos pelo falatório, não
o silêncio como modo de provocar o plantonista, no significou “fazer poesia” ou erudição, mas de buscar
sentido de convocá-lo a refletir sobre o atendimento um dizer que desvelasse o sentido de algo. Era um
a partir da perda das referências usuais (explicações modo de, simultaneamente, nomear aquilo que “to-
teóricas ou do senso-comum)3. Assim, a perspectiva cava” o plantonista e manter o espaço de liberdade
fenomenológica existencial apresentou-se pela ação do cliente, que poderia compreender o que se tentou
do supervisor em compreender como o estagiário se comunicar ou não (Pompeia & Sapienza, 2011).
encontrava afetado pelo atendimento. Por essa via, a experiência profissional, como
Por essa via, a “supervisão de meio”, também supervisor de grupos, vem mostrando que os alunos
evidenciou como o atendimento em plantão se di- e participantes chegam com repertórios de expressão,
ferencia da proposta de sessões psicoterápicas (50 ideais e ações e de vocabulário cada vez mais restri-
min.), podendo ser único, o que demandava formu- tos. Apresentam-se como que murchos, desgastados,
lações criativas do projeto. Em média os atendimen- desbastados, cansados. Suas falas parecem estar des-
tos duravam uma hora e meia, contando a escuta e tituídas da voz do dono; mas, pelo cultivo do falar,
intervenções iniciais, a supervisão de meio e o retor- apresentam-se sensivelmente outras. Seria isso o que
no para fechamento. Neste sentido, a clínica-escola se refere como aprendizagem significativa?
pode e deve preparar o estudante para um contexto A aprendizagem significativa refere-se à criação
diverso do consultório, mais marcadamente em ins- ou resgate de sentido para “falas” a partir da própria
tituições da rede pública de saúde e/ou de educação. experiência, geralmente esquecida ou como “em
Aliás, o fato desta supervisão acontecer em gru- branco”, conduzindo-as a caírem num lugar comum
po também foi um diferencial. Por um lado, isso pode do “falar por falar”. É abrir possibilidades a modos
marcar uma precarização do estágio, quando se so- como o sujeito se apresenta disponível no mundo, ou
brecarrega o psicólogo com um número elevado de seja, ressignificar significados como possibilidade de
estudantes a serem supervisionados em um curto outro sentido. Diz respeito à reflexão na experiência e
espaço de tempo. Entretanto, a supervisão em grupo não sobre a experiência. Na ausência de situação para
contemplou uma rica dimensão da comunicação, no a ocorrência de criação de significado sentido, falas
trânsito entre aquilo que é singular e coletivo. Iden- não se dirigem para a abertura a outras possibilida-
tificar-se e estranhar-se perante o que é dito por ou- des, articulações, sentido (Gendlin, 1973).
tro marcaram uma riqueza à aprendizagem na escuta A aprendizagem significativa em ação, por outro
da experiência do colega sendo supervisionado, de lado, também pode se referir ao fenômeno vivido em
modo a reverberar nas próprias vivências. supervisões, e que passou a ser denominado como es-
Em relação à dupla de atendimento formada pelho mágico: falando do cliente, há momentos em
com psicólogos ou colegas dos últimos semestres, os que se percebe no grupo o mesmo movimento do
estagiários revelaram como foram modificados a par- cliente vivido pelo estagiário no atendimento. Falar
tir do modo como estes colegas se colocaram no aten- de nosso próprio grupo, o de supervisão, tematizando
dimento. Alguns apontaram como ficou evidente, em e esclarecendo nossas próprias questões, pode apre-
muitas situações, que não era preciso dar respostas sentar-se como meio de compreender tanto a nossa
ao cliente e nem tentar tirá-lo do sofrimento, mas de experiência ali vivida quanto esclarecer aspectos do
estar junto, propiciando contato com estas questões cliente.
de maneira a explicitar o modo de ser do cliente a Desse modo, é possível dizer como foi a apreen-
ele mesmo. Segundo Morato (2013), tal ação psico- são da experiência, a comunicação da afetação, bem
lógica busca inspiração na compreensão fenome- como encontrar o sentido da experiência, na medida
nológica da solicitude em seu modo liberador, pelo em que se articula o que é explícito (teórico) com o
qual “compreende-se o outro diante de suas próprias que já é tácito (vivido) em qualquer ação em situação
possibilidades, encarregando-o de seu poder-ser para de trabalho.
Diante dessas considerações, é possível afirmar
Relatos de Pesquisa

3 Tais considerações me remetem a pensar no supervisor como aquele


que “circulando em torno” do estagiário, dá a ver as marcas que este car- que a formação realizada neste estágio de atendimen-
rega do atendimento, algumas já percebidas, outras ainda encobertas; de to em plantão psicológico apresentou-se como for-
modo semelhante ao conto do Arlequim, de Michel Serres (1993), no qual mar-ação, aprendizagem pela experiência como pos-
a experiência deixa as suas marcas na personagem. Assim aproximados,
o “plantonista-arlequim” pode reconhecer-se marcado pelo “percurso” do sibilidade de “fazer-saber” pelos próprios pés, junto a
atendimento, recorrendo então, ás vezes à revelia, ao olhar do outro para outros: pés que trilham fazendo caminho ao trilhar.
constituir-se psicólogo: viajante mestiçado pelas paisagens e histórias que
lhe vieram ao encontro.

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


10
André Prado Nunes e Henriette Tognetti Penha Morato

Referências Meihy, J. C. S. B. (1991). Canto de morte kaiowá: his-


tória oral de vida. São Paulo: Loyola.
Aun, H. A. (2005). Trágico avesso do mundo: narra-
tivas de uma prática psicológica numa institui- Morato, H. T. P. (Org.). (1999). Aconselhamento psi-
ção para adolescentes infratores. (Dissertação cológico centrado na pessoa: novos desafios.
de Mestrado). Universidade de São Paulo, São São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.
Paulo, SP.
Morato, H. T. P. (2009). Atenção psicológica e apren-
Benjamin, W. (1994). Magia e técnica, arte e política: dizagem significativa. In H. T. P. Morato, C. L.
ensaios sobre literatura e história da cultura. B. T. Barreto & A. P. N. Nunes (Orgs.). Aconse-
(Obras Escolhidas, Vol, 1). (7a ed). São Paulo, lhamento psicológico numa perspectiva feno-
SP: Brasiliense. menológica existencial: uma introdução (p. 22-
39). Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan.
Bourdieu, P. (Org.). (1997). A miséria do mundo. (3a
ed.). Petrópolis, RJ: Vozes. Morato, H. T. P. (2013). Algumas considerações da
fenomenologia existencial para a ação psicoló-
Câmera de Educação Superior-Brasil, Conselho Na- gica na prática e na pesquisa em instituições.
cional de Educação (2004, 7 de maio). Resolu- In C. L. B. T. Barreto, H. T. P. Morato & M. T.
ção nº 8. Diretrizes curriculares para os cursos Caldas (Orgs.). Prática psicológica na perspec-
de psicologia. Brasília, DF: CNE/MEC. tiva fenomenológica (p. 51-76). Rio de Janeiro,
RJ: Juruá.
Câmera de Educação Superior-Brasil, Conselho Na-
cional de Educação (2011, 15 de março). Reso- Pompeia, J. A., & Sapienza, B. T. (2011). Os dois nas-
lução nº 5. Diretrizes curriculares para os cur- cimentos do homem: escritos sobre terapia e
sos de psicologia. Brasília, DF: CNE/MEC. educação na era da técnica. Rio de Janeiro, RJ:
Via Verita.
Cardoso, I. (Org.). (1997). Utopia e mal–estar na cul-
tura: perspectivas psicanalíticas. São Paulo, SP: Sá, R. N., Azevedo Junior, O., & Leite, T. L. (2010).
Hucitec. Reflexões fenomenológicas sobre a experiência
de estágio e supervisão clínica em um serviço
Critelli, D. M. (1996). Analítica do sentido: uma de psicologia aplicada universitário. Revista da
aproximação e interpretação do real de orien- Abordagem Gestáltica, 16(2), 135-140.
tação fenomenológica. São Paulo, SP: EDUC:
Brasiliense. Serres, M. (1993). Filosofia mestiça. Rio de Janeiro,
RJ: Nova Fronteira.
Dutra, E. (2013). Formação do psicólogo clínico na
perspectiva fenomenológico-existencial: dile- Yehia, G. Y. (1996). Clínica-Escola: Atendimento ao
mas e desafios em tempos de técnicas. Revista estagiário ou atendimento ao cliente? Coletâneas
da Abordagem Gestáltica, 19(2), 205-211. da ANPEPP 1(9), 109-118. Campinas: Alínea.
Figueiredo, L. C. M. (1993). Sob o signo da multipli-
cidade. Cadernos de Subjetividade (PUC-SP), 1,
89-95.
André Prado Nunes (Orcid: 0000-0001-8498-2758) é
Figueiredo, L. C. & de Santi, P. L. R. (2003). Psicolo- Doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento
gia, uma (nova) introdução; uma visão histórica Humano pela Universidade de São Paulo.
da psicologia como ciência. (2ª ed.). São Paulo, Colaborador, pesquisador e supervisor clínico no
SP: EDUC. Laboratório de Estudos e Prática em Psicologia
Fenomenológica Existencial da Universidade de
Gadamer, H. (1997). Verdade e método. Petrópolis,
São Paulo (LEFE-IPUSP). Co-organizador do livro
RJ: Vozes.
“Aconselhamento Psicológico numa perspectiva
Gendlin, E. T. (1973). Experiential phenomenology. Fenomenológica Existencial”; e autor de 13 artigos e
In M. Natanson (Org.). Phenomenology and the trabalhos científicos. Atua em consultório particular e
social sciences (p. 66-79). Evanston, IL: Nor- trabalha há 10 anos com docência no ensino superior
thwest University Press. (Universidade de São Paulo). andrepn@usp.br

Quintana, M. (1988). Diário poético 89. Rio de Janei- Henriette Tognetti Penha Morato (Orcid: 0000-0002-
ro, RJ: Globo. 1360-1169) possui Doutorado em Psicologia Escolar
Relatos de Pesquisa

e do Desenvolvimento Humano pela Universidade


Mahfoud, M. (1999). Plantão psicológico na esco- de São Paulo. Atualmente é Professora Associada
la: uma experiência. In H. T. P. Morato (Org.). do Instituto de Psicologia da Universidade de São
Aconselhamento psicológico centrado na pes- Paulo. Realizou pós-doutorado na Universidade
soa: novos desafios (p. 145-160). São Paulo, SP: Paris 7 entre 2005 e 2006, com pesquisa realizada na
Casa do Psicólogo. Universidade de Firenze. Atua na área de psicologia,

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


11
O Estágio de Atendimento nos Anos Iniciais: Experiência com Plantão Psicológico

com ênfase em psicologia do desenvolvimento


humano. Coordena o Laboratório de Estudos em
Fenomenologia Existencial e Prática em Psicologia
(LEFE) do Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo. Coordenadora Técnica do Centro Escola
do Instituto de Psicologia da USP (IPUSP). Endereço
Institucional: Avenida Professor Mello de Morais,
1721 - Butantã, São Paulo - SP, 05508-030. Telefone:
3091-4285. E-mail: lefe@usp.br.

Recebido em 01.08.17
Primeira decisão editorial em 17.08.18
Aceito em 03.10.18

Relatos de Pesquisa

Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica | Vol. XXVI-1 2020 | 2-12


12

Você também pode gostar

pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy