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ISSN 1679-6543

BOLETIM DE Outubro/2018

PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO
172

Germinação in Vitro de Sementes de Coroa-de-frade


(Melocactus sp.)
ISSN 1679-6543
Outubro/2018

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


Embrapa Agroindústria Tropical
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

BOLETIM DE PESQUISA
E DESENVOLVIMENTO
172

Germinação in Vitro de Sementes de


Coroa-de-frade (Melocactus sp.)

Diva Correia
Evaldo Heber Silva do Nascimento
Louise Guarany Santiago
Antônio Abelardo Herculano Gomes Filho
João Paulo Saraiva Morais

Embrapa Agroindústria Tropical


Fortaleza, CE
2018
Unidade responsável pelo conteúdo e edição: Comitê Local de Publicações
da Embrapa Agroindústria Tropical
Embrapa Agroindústria Tropical
Rua Dra. Sara Mesquita 2270, Pici Presidente
CEP 60511-110 Fortaleza, CE Gustavo Adolfo Saavedra Pinto
Fone: (85) 3391-7100
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www.embrapa.br/agroindustria-tropical Celli Rodrigues Muniz
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Secretária-administrativa
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Membros
Marlos Alves Bezerra, Ana Cristina Portugal
Pinto de Carvalho, Deborah dos Santos Garruti,
Dheyne Silva Melo, Ana Iraidy Santa Brígida,
Eliana Sousa Ximendes

Supervisão editorial
Ana Elisa Galvão Sidrim

Revisão de texto
José Cesamildo Cruz Magalhães

Normalização bibliográfica
Rita de Cassia Costa Cid

Projeto gráfico da coleção


Carlos Eduardo Felice Barbeiro

Editoração eletrônica
Arilo Nobre de Oliveira

Foto da capa
Diva Correia

1ª edição
On-line (2018)

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Agroindústria Tropical

Germinação in vitro de sementes de Coroa-de-frade (Melocactus sp.) / Diva Correia...


[et al.]. – Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2018.

18 p. : il. ; 16 cm x 22 cm – (Boletim de pesquisa e desenvolvimento / Embrapa


Agroindústria Tropical, ISSN 1679-6543; 172).

Publicação disponibilizada on-line no formato PDF.

1. Correia, Diva. 2. Nascimento, Evaldo Heber Silva do. 3. Santiago, Louise Guarany. 4.
Gomes Filho, Antônio Abelardo Herculano. 5. Morais, João Paulo Saraiva. I. Melocactus
ernestii. II. Melocactus oreas. III. Melocactus violaceus. IV. Cactaceae. V. Propagação
sexual. VI. Germinação. VII. Série

CDD 631.52

© Embrapa, 2018
Sumário
Resumo.......................................................................................4

Abstract.......................................................................................5

Introdução...................................................................................6

Material e Métodos......................................................................8

Resultados e Discussão............................................................11

Conclusões................................................................................16

Agradecimentos........................................................................16

Referências...............................................................................16
4 GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.)

Germinação in Vitro de Sementes de


Coroa-de-frade (Melocactus sp.)

Diva Correia1
Evaldo Heber Silva do Nascimento2
Louise Guarany Santiago3
Antônio Abelardo Herculano Gomes Filho4
João Paulo Saraiva Morais5

Resumo - As cactáceas do gênero Melocactus, conhecidas como coroas-


‑de-frade, apresentam formato globoso e aréolas com número variado de
espinhos. São plantas de crescimento lento e não produzem ramificações
laterais, sendo a sua propagação na natureza exclusivamente por sementes.
O objetivo do estudo foi observar o comportamento germinativo in vitro de
sementes de quatro espécies de Melocactus. O estudo foi realizado no
Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais da Embrapa Agroindústria Tropical,
Fortaleza, Ceará. Foram utilizadas sementes de Melocactus ernestii, M.
oreas, M. zehntneri e M. violaceus. Em câmara de fluxo laminar, as sementes
foram desinfestadas e semeadas em meio de cultura JADS. Observou-se que
a germinação in vitro das sementes de todas as espécies iniciou-se antes do
9º dia após a semeadura. A porcentagem de germinação variou entre as
espécies, entre as plantas da mesma espécie e para os diferentes anos de
coletas das sementes. O índice de velocidade de germinação foi reduzido
nas sementes com maior tempo de coleta. O tempo médio de germinação foi
superior em sementes que apresentavam maior período de armazenamento.

Palavras-chave: Melocactus ernestii, Melocactus oreas, Melocactus


zehntneri, Melocactus violaceus, Cactaceae, propagação sexual, germinação.

1
Bióloga, doutora em Ciências Florestais, pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE,
diva.correia@embrapa.br
2
Engenheiro-agrônomo, mestre em Agronomia/Fitotecnia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE,
e.heber.sn@gmail.com
3
Bióloga, graduada em Ciências Biológicas, bolsista da Embrapa Agroindústria, Tropical, Fortaleza, CE,
louiseguarany@hotmail.com
4
Engenheiro-agrônomo, bolsista na Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE, Brasil.
5
Farmacêutico, mestre em Bioquímica, pesquisador da Embrapa Algodão, Campina Grande, PB, joao.
morais@embrapa.br
GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.) 5

In Vitro Seed Germination of Turk´s Cap Cactus


(Melocactus sp.)
Abstract - Species from the Melocactus genus (melon cactus) are popularly
known as Turk´s cap cactus. They present round shape and a variable number
of spines per areoles. These plants are slow growers and do not produce
lateral shoots, hence multiplication is limited to sexual propagation by seed
germination. The aim of this study was to evaluate in vitro germination of
different Melocactus species. This research was performed at the Laboratory
of Plant Tissue Culture, Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, Ceará.
Seeds from four species, Melocactus ernestii, M. oreas, M. zehntneri, and
M. violaceus, were collected in different years and stored until this study was
carried out. These seeds were surface disinfected and germinated in culture
medium JADS. Samples from all species began to germinate around the
9th day after inoculation and the experiment was performed until the 60th
day after inoculation. Germination rates were different for different species,
replications, and years. The older the seeds, the slower the germination rate.
Keywords: Melocactus ernestii, Melocactus oreas, Melocactus zehntneri,
Melocactus violaceus, Cactaceae, sexual propagation, germination.
6 GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.)

Introdução
O gênero Melocactus (L.) Link e Otto pertence à família Cactaceae e é
composto por 38 espécies (Machado, 2009; Taylor et al., 2014). As espécies
encontram-se distribuídas em países da América Central, no Caribe, nos
Andes e no Brasil, com destaque na região Nordeste e nos estados de
Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Amazonas, Roraima, Espírito Santo e Rio de
Janeiro (Taylor, 1991; Taylor et al., 2015; International Union for Conservation,
2016). O maior centro de diversidade do gênero é o Brasil, que conta
com 23 espécies, sendo 21 endêmicas (Taylor et al., 2015). No estado da
Bahia, encontra-se a maior diversidade de coroas-de-frade do país, com 18
espécies, sendo 10 endêmicas. No Ceará, foram registradas quatro espécies
do gênero M. zehntneri (Menezes et al., 2011; 2013; Taylor; Zappi, 2004), M.
oreas (Menezes et al., 2011; 2013), M. violaceus (Menezes et al., 2011; 2013)
e M. ernestii (Souza et al., 2016). Entre essas, o M. zehntneri é a espécie de
maior distribuição no estado (Menezes et al., 2011; 2013).
As cactáceas do gênero Melocactus, conhecidas como coroas-de-frade,
apresentam formato globoso, aréolas com número variado de espinhos
(Taylor; Zappi, 2004) e na fase adulta há o desenvolvimento de uma estrutura
discoide no ápice da planta, chamada cefálio, responsável pela proteção de
flores e frutos em desenvolvimento (Machado, 2009). A formação do cefálio
representa a transição da fase juvenil para a fase reprodutiva da planta
(Wyka, 2007). Em sistema de cultivo comercial a pleno sol, com irrigação
e adubação controladas, a formação do cefálio em M. matanzanus ocorre
em até três anos após o plantio (Mauseth, 2006). No viveiro de mudas da
Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza, Ceará, em plantas de M.
zehntneri obtidas a partir da germinação in vitro de sementes, cultivadas
em vasos e mantidas em telado com adubação e irrigação frequentes, foi
observado o início da formação do cefálio a partir de quatro anos após o
plantio. Verifica-se que o crescimento das plantas de Melocactus cessa com
a formação do cefálio; entretanto, há alongamento do cefálio, formação de
flores e frutos (Machado, 2009; Wyka, 2007).
O Melocactus ernestii é endêmico do Leste do Brasil e encontra-se em
inselbergs gnáissicos e rochas cristalinas e areníticas circundadas por
caatinga arbórea predominantemente xerófila (Taylor; Zappi, 2004). Essa
espécie, que foi recentemente descoberta e registrada no Ceará, sendo
GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.) 7

encontrada no município de Quixadá, caracteriza-se por seu porte mediano e


espinhos longos de aproximadamente 10 cm (Souza et al., 2016).
O Melocactus oreas é uma espécie endêmica do Nordeste do Brasil
(HUNT, 2006). Ocorre nos estados do Ceará e da Bahia em formações
savânicas ou campestres, crescendo principalmente sobre afloramentos
rochosos de granito ou gnaisse (Menezes et al., 2011; Taylor; Zappi, 2004).
No Ceará foi encontrada apenas uma única população de M. oreas, na Serra
das Matas, no município de Monsenhor Tabosa. Essa espécie diferencia-se
das demais do gênero Melocactus por apresentar espinhos aciculados e em
grande quantidade (Menezes et al., 2013; Taylor; Zappi, 2004).
O Melocactus zehntneri ocorre em todos os estados da região Nordeste do
Brasil, com exceção do Maranhão (Hunt, 2006). Habita formações savânicas
ou campestres, sem qualquer especificidade de substrato (Menezes et al.,
2011; Taylor; Zappi, 2004). No Ceará, ocorre no sertão e inclusive em áreas
serranas. Essa espécie apresenta grande variabilidade fenotípica e distingue-
se das demais espécies do gênero pelo seu tamanho relativamente maior
com espinhos mais robustos e de curvatura acentuada (Menezes et al., 2013).
O Melocactus violaceus ocorre na maioria dos estados do Nordeste do Brasil
e em Minas Gerais, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Habita formações
florestais ou campestres (Mata Atlântica e Restinga), principalmente em
substratos arenosos, incluindo dunas litorâneas. No Ceará, o M. violaceus
foi registrado primeiramente no município de Aquiraz (Meiado et al., 2015).
Distingue-se das demais espécies do gênero pelo seu tamanho, relativamente
menor, e por seu formato, geralmente subgloboso (Menezes et al., 2013).
Algumas espécies de Melocactus, por serem endêmicas, correm risco
de extinção (Silva et al., 2011) devido à degradação da Caatinga associada
à coleta predatória, em que a planta é retirada inteira (Souza et al., 2012)
para fabricação de doces, uso na medicina popular e, principalmente, na
comercialização como planta ornamental (Rizzini, 1982; Silva et al., 2011).
Além disso, plantas do gênero Melocactus apresentam crescimento lento
(Das et al., 1998; Machado, 2009) e não produzem ramificações laterais,
sendo a sua propagação na natureza apenas por sementes (Machado, 2009).
A formação de brotos em plantas no campo ou cultivadas somente ocorre
quando a planta sofre alguma injúria mecânica (Machado, 2009; Mauseth,
2006), ou pode ocorrer em segmentos de caules de plantas cultivadas in vitro
8 GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.)

(Correia et al., 2012), método que favorece a clonagem de material juvenil


de M. zehntneri (Correia et al., 2011a), M. oreas (Souza et al., 2012) e M.
curvispinus (Retes-Pruneda et al., 2007).
Ainda são poucos os estudos relacionados à germinação de
sementes de espécies de Melocactus (Lone et al., 2007; Rebouças et al.,
2007; Correia et al., 2011b; Souza et al., 2012; Zamith et al., 2013; Bárbara
et al., 2015; Meiado, 2015). Dessa forma, o objetivo do estudo foi observar
o comportamento germinativo in vitro de sementes de quatro espécies de
Melocactus.

Material e Métodos
O estudo foi realizado no Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais da
Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, Ceará. As plantas de Melocactus
foram coletadas na Bahia, no Ceará e Rio Grande do Norte e mantidas na
Coleção de Cactáceas da Embrapa Agroindústria Tropical. Foram utilizadas
quatro espécies de coroa-de-frade: Melocactus ernestii (Figuras 1A e 1B),
M. oreas (Figuras 1C e 1D), M. zehntneri (Figuras 1E e 1F) e M. violaceus
(Figuras 1G e 1H). As sementes de cada espécie foram armazenadas por ano
de coleta dos frutos (2008, 2009, 2011, 2013, 2014 e 2015). As semeaduras
in vitro foram realizadas em 2014 e 2015.
As sementes foram extraídas dos frutos e secadas à sombra sobre papel
filtro. Após a secagem, as sementes foram transferidas para tubos de ensaio
contendo uma camada de sílica gel, seguida de uma camada de algodão e
papel filtro, sobre o qual as sementes foram alojadas (Figura 2). Os tubos de
ensaio foram vedados e guardados em armários fechados, na ausência de
luz e em temperatura ambiente.
A desinfestação e a semeadura in vitro das sementes foram realizadas
de acordo com a metodologia descrita por Correia et al. (2011b). Em câmara
de fluxo laminar, as sementes foram dispostas sobre um tecido permeável
(± 10 cm2) esterilizado. As pontas do tecido foram amarradas com o auxílio
de um barbante a fim de impedir a saída das sementes. A embalagem obtida
foi imersa em solução de etanol 70% (v/v) durante 1 minuto. Em seguida,
foi transferida para um frasco contendo solução de hipoclorito de sódio
com 2% (v/v) de cloro ativo, acrescida de duas gotas de Tween® 20 para
cada 100 mL de solução desinfestante, ficando sob agitação constante
GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.) 9

durante 15 minutos. Posteriormente, a embalagem foi transferida para um


novo frasco contendo solução desinfestante preparada com 2 mL de PPM®
(Plant Preservative Mixture) para cada 200 mL de solução, permanecendo
sob agitação constante durante 15 minutos. Logo após esse tratamento, a
embalagem com as sementes foi submetida a quatro lavagens sucessivas
em água destilada e esterilizada, com duração aproximada de 1 minuto cada
lavagem.

Fotos: Diva Correia


A B

C D

E F

G H

Figura 1. Plantas e frutos de


Melocactus ernestii (A, B); M.
oreas (C, D); M. zehntneri (E,
F); e M. violaceus (G, H). Barra
= 5 cm, para as plantas; barra
= 1 cm, para os frutos.
10 GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.)

Foto: Diva Correia

Figura 2. Armazenamento de
sementes de Melocactus em
tubo de ensaio fechado contendo
camada de sílica gel, algodão e
papel filtro.

Após o último enxágue, a embalagem com as sementes já desinfestadas


foi disposta em uma placa de Petri. Fazendo uso de um bisturi, cortou-se o
barbante, deixando as sementes livres para serem resgatadas e, com auxílio
de uma pinça, procedeu-se à semeadura. Foram semeadas de oito a dez
sementes em cada frasco com capacidade de 250 mL, vedado com tampa de
polipropileno transparente e contendo 30 mL de meio de cultura. Foi utilizado
o meio de cultura JADS (Correia et al., 1995), suplementado com 30 g L-1 de
sacarose e 1,8 g L-1 de agente solidificante Gelzan® (Sigma), previamente
esterilizado em autoclave sob temperatura de 121 °C durante 15 minutos.
Após a semeadura, os frascos foram mantidos em câmara de crescimento
com fotoperíodo de 12 horas, radiação ativa fotossintética de 30 μmol m-2 s-1
e temperatura de 27 °C ± 2 ºC.
GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.) 11

Foram consideradas germinadas as sementes que originaram plântulas


com raiz de comprimento igual ou superior a 1 mm. Aos 60 dias após a
semeadura in vitro, foi avaliada a porcentagem de sementes germinadas. O
cálculo do índice de velocidade de germinação (IVG) foi realizado por meio
de contagens diárias das sementes germinadas, adotando-se a metodologia
recomendada por Maguire (1962). O tempo médio de emergência (TMG) foi
estimado segundo Edmond e Drapala (1958). Os dados estão apresentados
mediante uma análise descritiva da germinação e do índice de velocidade
de germinação, levando-se em consideração as diferentes espécies de
Melocactus, a planta e o ano de coleta das sementes.

Resultados e Discussão
Na Tabela 1, pode-se observar que a porcentagem de sementes
germinadas variou entre as espécies, entre as plantas da mesma espécie
e para os diferentes anos de coletas, o que corresponde ao tempo de
armazenamento das sementes até o momento da semeadura. Entre as
espécies, o maior percentual de germinação foi verificado para as sementes
de Melocactus oreas, seguida por M. ernestii, M. zehntneri e M. violaceus.
Resultados semelhantes foram obtidos por Souza et al. (2012) ao analisarem
sementes de M. oreas, obtendo 60% de germinação. Em Silva et al. (2011),
a germinação máxima das sementes de M. ernestii foi de 78%, enquanto nos
trabalhos conduzidos com sementes de M. zehntneri os resultados variaram,
sendo 90% em Silva et al. (2011) e 14% em Correia et al. (2011b).
De acordo com os resultados observados na literatura, o comportamento
germinativo de sementes de Melocactus altera também em função das
condições de germinação, como tipo de substrato e temperatura, além
de variar dentro da mesma espécie e da região de origem das sementes
(Lone et al., 2007; Silva et al., 2011; Dias et al., 2013). Outro fator que pode
influenciar na germinação dessas sementes é a embebição prévia em solução
de giberelina. O uso desse hormônio vegetal pode aumentar a porcentagem
de sementes germinadas, como observado em Silva et al. (2011), em que a
germinação de sementes de M. zehntneri foi de 74% após o uso da solução
de giberelina contra 13% das sementes não tratadas. Ressalta-se que no
presente estudo a germinação de sementes de M. zehntneri chegou a 67%
sem o tratamento com giberelina (Tabela 1).
12

Tabela 1. Porcentagem de germinação, índice de velocidade de germinação (IVG) e tempo médio de germinação in vitro (TMG)
de sementes de Melocactus ernestii, M. oreas, M. violaceus e M. zehntneri. Fortaleza, CE, 2015.

Ano de Data da Sementes Sementes


Germinação TMG
Espécie Origem Planta coleta da semeadura isoladas germinadas IVG
(%) (dias)
semente in vitro (nº) (nº)
M. ernestii BA 1 2013 Nov./2014 288 192 67 19,6 11,1
1 2014 Nov./2014 264 176 66 21,3 9,1

2 2014 Fev./2015 304 216 71 30,3 8,7

M. oreas CE 1 2014 Nov./2014 264 107 41 10,7 11,6

2 2014 Fev./2015 114 91 80 10,8 9,3

M. violaceus CE 1 2015 Set./2015 304 148 49 12,2 13,6

M. zehntneri CE 1 2013 Fev./2015 200 61 31 5,9 14,1


1 2014 Fev./2015 296 140 47 11,5 13,6
2 2013 Jan./2015 304 92 30 7,2 14,4

2 2014 Jan./2015 288 120 42 12,9 11,0

M. zehntneri RN 1 2008 Jan./2015 304 39 13 2,1 20,4


1 2009 Jan./2015 304 87 29 5,2 17,8
1 2011 Jan./2015 152 102 67 11,2 9,1
1 2014 Jan./2015 248 137 55 14,8 10,30
GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.)
GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.) 13

Para M. zehntneri, verificou-se que a germinação foi maior para sementes


coletadas no Rio Grande do Norte em relação às do Ceará (Tabela 1). Em
Silva et al. (2011), há registro de diferenças na germinação dessa espécie
em sementes coletadas em locais diferentes na Bahia, indicando que sua
germinação também pode variar de acordo com a região de origem da planta.
Adicionalmente, para sementes de M. zehntneri de origem do Rio Grande do
Norte coletadas em 2008 e 2009, foram observadas reduções na germinação
comparativamente às de período de armazenamento coletadas em 2011 e
2014. Tais resultados indicam redução de viabilidade dessas sementes após
um período de armazenamento em temperatura ambiente na presença de
sílica em torno de cinco anos (Tabela 1). Silva et al. (2011) afirmam que para
M. ernestii e M. glaucescens, os melhores resultados de germinação foram
observados para sementes com até seis meses de armazenamento nas
mesmas condições ambientais utilizadas neste estudo.

Para M. ernestii, M. oreas e M. zehntneri, o índice de velocidade de


germinação (IGV) foi superior em sementes submetidas ao menor período de
armazenamento, como verificado na Tabela 1. Entre as espécies, o IVG foi
consideravelmente maior para as sementes de M. ernestii. Entretanto, neste
estudo, mesmo o menor valor de IVG obtido para as sementes de M. zehntneri
armazenadas por sete anos foi maior do que o citado na literatura. Lone et
al. (2007) verificaram que o IVG para sementes de M. bahiensis variou de
0,47 a 3,56, enquanto Zamith et al. (2013), trabalhando com sementes de
M. violaceus, observaram variações de 0,20 a 2,21. Na Tabela 1, verifica-
se que houve similaridade de comportamento no IVG para sementes de M.
oreas e M. zehntneri coletadas no mesmo ano em plantas diferentes de cada
espécie. Contudo, o mesmo comportamento não foi observado em sementes
de M. ernestii coletadas em 2014.

O tempo médio de germinação (TMG) variou de 8,67 dias a 20,38 dias,


e os valores mais elevados foram obtidos em sementes submetidas ao
período de armazenamento de sete anos (Tabela 1), sugerindo que esse fato
esteja ligado à perda da viabilidade em função do tempo de armazenamento
das sementes. Lone et al. (2007) e Dias et al. (2013) obtiveram para
sementes de M. bahiensis TMG que variou de 7,5 dias a 16 dias e 9 dias a
12,5 dias, respectivamente, em sementes submetidas a até três meses de
armazenamento.
14 GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.)

O início da germinação das sementes das quatro espécies de Melocactus


ocorreu antes do 9º dia após a semeadura in vitro. Ademais, esse
comportamento foi observado para plantas da mesma espécie coletadas no
mesmo ano e em anos diferentes, excetuando-se as sementes coletadas nos
anos de 2008 e 2009 de M. zehntneri (RN), em que a germinação foi mais
tardia (14º dia) (Figura 3).

A B

C D

E F

G H

Figura 3. Número de sementes de Melocactus ernestii, plantas 1 (A) e 2 (B); M. oreas,


plantas 1 (C) e 2 (D); M. zehntneri oriundo do Ceará, plantas 1 (E) e 2 (F); e M.
zehntneri oriundo do Rio Grande do Norte (G e H) obtidas em diferentes anos de
coleta e germinadas in vitro durante 60 dias após a semeadura.
GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.) 15

Resultados similares foram observados por Correia et al. (2011b),


trabalhando com M. curvispinus, e Dias et al. (2013), trabalhando com M.
bahiensis, em que a germinação teve início ao 9º dia e 5º dia, respectivamente.
Em relação às sementes de M. zehntneri (RN) coletadas nos anos de 2008 e
2009, provavelmente a germinação tardia esteja associada ao maior tempo
de armazenamento das sementes e à consequente redução da viabilidade.
Para as quatro espécies de Melocactus, observou-se que, de modo geral,
o maior número de sementes germinadas concentrou-se entre o 5º dia e o
20º dia após a semeadura in vitro, exceto quando coletadas nos anos de
2008 e 2009, para a espécie M. zehntneri (RN), em que o maior número de
sementes germinou entre o 14º dia e 30º dia (Figura 3). Correia et al. (2011b)
verificaram que o maior número de sementes de M. curvispinus germinadas
in vitro ocorreu entre o 9º e o 15º dia, enquanto para as sementes de M.
zehntneri ocorreu entre o 20º e o 43º dia.
Na Figura 4, pode-se observar que as espécies de Melocactus apresentam
morfologias diferenciadas quanto à coloração da parte aérea, tamanhos da
parte aérea, espinho e raiz, como também para números e tamanhos de
espinho e raiz, já aos 60 dias de cultivo após a semeadura in vitro. Essas
diferenças podem ser úteis na identificação precoce do material genético
quando na ausência da identificação dessas espécies.

A B
Fotos: Diva Correia

C D

Figura 4. Plântulas de Melocactus obtidas a partir da germinação in vitro de sementes


e cultivadas durante 60 dias: M. ernestii (A), M. oreas (B) e M. zehntneri, origem das
sementes Ceará (C) e do Rio Grande do Norte (D). Sementes coletadas em 2014.
16 GERMINAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DE COROA-DE-FRADE (MELOCACTUS SP.)

Conclusões
A porcentagem de sementes germinadas in vitro varia em função da
espécie de Melocactus, e para a espécie M. zehntneri varia também em
função da origem das plantas.
A germinação das sementes de uma mesma espécie de Melocactus pode
variar entre plantas e período de armazenamento das sementes.
Sementes de Melocactus submetidas a maior período de armazenamento
apresentam menor percentual germinativo, menor índice velocidade de
germinação e maior tempo médio de germinação.

Agradecimentos
Ao Banco do Nordeste do Brasil/FUNDECI e MCT/FINEP/SEBRAE pelo
financiamento da pesquisa; ao CNPq pela concessão de bolsas de fomento
tecnológico.

Referências
BÁRBARA, E. P. S.; SILVA, A. A; SOUZA, M. M. O. R.; GURGEL, M. N. G. M.; BELLINTANI,
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AGRICULTURA, PECUÁRIA
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