Contrarrazões Ao RI - Banco - Negativação Indevida - DM

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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E


CRIMINAL DA COMARCA DE PENEDO/AL

Processo nº: 0700274-09.2023.8.02.0349

MARIA ELZA DOS SANTOS, já qualificada nos autos da ação em


epígrafe, em que contende direitos com BANCO ITAÚ CONSIGNADO S.A., vem,
respeitosamente, perante V. Exa., apresentar suas CONTRARRAZÕES AO
RECURSO INOMINADO interposto, requerendo seja recebida, processada e ao final
remetida à Turma Recursal, com o fim de que não seja reformada a r. sentença nos
termos apresentados pelo Recorrente.

Nestes termos, pede deferimento.

Penedo/AL, sexta-feira, 24 de janeiro de 2025.

JORGE FAUSTNO SANTOS

OAB/AL 19.126
CONTRARRAZÕES DE RECURSO INOMINADO

RECORRENTE: BANCO ITAÚ CONSIGNADO S.A.

RECORRIDA: MARIA ELZA DOS SANTOS

PROCESSO Nº 0700274-09.2023.8.02.0349

Egrégia Turma Recursal

Colenda Turma

Nobres Julgadores

1. DA TEMPESTIVIDADE

O despacho no qual a Recorrida foi intimada para apresentar


Contrarrazões foi lido no sistema em 21.11.2023 (terça-feira), assim, tem-se que o início
do prazo recursal se deu em 22.11.2023 (quarta-feira) e se finda no dia 05.12.2023
(terça-feira).

Diante disso, a interposição da presente contrarrazões


nesta data lhe confere inquestionável tempestividade, de maneira a ser devidamente
admitido e processado pela Turma Recursal.

2. DOS FATOS

Trata-se de Ação de Indenização por Danos Morais


ajuizada pela ora Recorrida em face da Recorrente, em razão da falha da negativação
indevida dos dados da Autor promovida pela Ré.

Após instrução probatória, foi prolatada sentença de procedência dos


pedidos iniciais para condenar a Recorrida ao pagamento de indenização por danos
morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Para melhor compreensão, observe-se
o dispositivo:

“Ante o exposto, JULGO


PROCEDENTE a presente ação para declarar
inexistente o débito impugnado e condenar a parte
demandada ao pagamento de indenização por danos
morais, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
corrigido monetariamente pelo INPC a partir da
presente data e acrescido de juros de mora à taxa de
1% (um por cento) ao mês a contar do evento
danoso, data da negativação (01/11/2019), nos
termos da súmula 54 do STJ1.”

Inconformada com a decisão proferida pelo Magistrado a quo,


interpôs a Recorrente, recurso com o objetivo de converter a condenação pela
indenização por danos morais. Contudo, seu recurso não deverá ser provido, como será
demonstrado a seguir.

3. PRELIMINAR - DA OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE.


MERA REPETIÇÃO DOS ARGUMENTOS ANTERIORES

Nota-se nos argumentos do recurso, que a Recorrente simplesmente


traz alegações anteriormente aventadas em sede de Contestação.

Além disso, as alegações apontadas pela Recorrente são genéricas,


sem fundamentos fáticos ou menção a qualquer comprovação, fazendo apontamentos
desconexos com os autos ou com a sentença.

Notório que a jurisprudência caminha no mesmo sentido, qual seja, o


de que a mera repetição dos argumentos da peça anterior não é o suficiente para
desconstituir a decisão que se pretende combater, sendo que, a regra, é a manutenção da
decisão por seus próprios argumentos, eis que a Recorrente não demonstrou as razões
pelas quais a decisão merece ser desconstituída, senão vejamos entendimento proferido
pelo Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO EM RECURSO DE AGRAVO DE
INSTRUMENTO. FUNDAMENTO SUSTENTADO COMO
OMISSÃO DO ACÓRDÃO QUE CONSISTIRIA NA
VEDADA INOVAÇÃO RECURSAL. PLEITO QUE
TAMBÉM OFENDE AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE
RECURSAL. RECURSO OBJETIVANDO A
REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. OMISSÃO NÃO
CONFIGURADA. INTELIGÊNCIA DO INCISO III DO ART.
932 DO CPC. RECURSO NÃO CONHECIDO.
UNANIMIDADE. (TJ-AL - EMBDECCV:
08033437120228020000 Major Izidoro, Relator: Des. Ivan
Vasconcelos Brito Júnior, Data de Julgamento: 09/08/2023, 4ª
Câmara Cível, Data de Publicação: 10/08/2023)

APELAÇÕES CÍVEIS. APELAÇÃO DE LEONARDO


FRANCO TOLEDO. DIREITO ADMINISTRATIVO.
PROMOÇÃO DE MILITAR À PATENTE DE MAJOR.
OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM
PROMOVER O MILITAR EM TEMPO RAZOÁVEL.
PROMOÇÃO ESPECIAL DE RESSARCIMENTO POR
PRETERIÇÃO. INTERSTÍCIO MÍNIMO. PRETERIÇÃO
CONFIGURADA. CABIMENTO DE PROMOÇÃO
ESPECIAL POR RESSARCIMENTO DE PRETERIÇÃO.
ACÓRDÃO COMO MARCO DA RETROATIVIDADE DO
DIREITO À PROMOÇÃO ORA RECONHECIDO.
PRECEDENTES DESTA CORTE. PEDIDO JULGADO
PROCEDENTE. SENTENÇA REFORMADA. APELAÇÃO
DO ESTADO DE ALAGOAS. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DA SENTENÇA. PRINCÍPIO
DA DIALETICIDADE. RECURSO DE LEONARDO
FRANCO TOLEDO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. RECURSO DO ESTADO DE ALAGOAS NÃO
CONHECIDO. (TJ-AL - APL: 07248984620168020001 AL
0724898-46.2016.8.02.0001, Relator: Des. Domingos de
Araújo Lima Neto, Data de Julgamento: 25/02/2019, 3ª Câmara
Cível, Data de Publicação: 01/03/2019)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO
CONCESSIVA DE TUTELA PROVISÓRIA NO JUÍZO DE
PRIMEIRO GRAU. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DA
LITISPENDÊNCIA. INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE RECURSAL. INTELIGÊNCIA DO
INCISO III DO ART. 932 DO CPC. RECURSO NÃO
CONHECIDO. DECISÃO UNÂNIME. (TJ-AL - AI:
08015919820218020000 Comarcar não Econtrada, Relator:
Des. Ivan Vasconcelos Brito Júnior, Data de Julgamento:
30/08/2022, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação: 31/08/2022)

RECURSO INOMINADO. DIREITO ADMINISTRATIVO,


PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL SERVIDOR
PÚBLICO - BASE DE CÁLCULO PARA ADICIONAL DE
INSALUBRIDADE VALOR DO SUBSÍDIO MÍNIMO DA
CATEGORIA - APLICAÇÃO DA LEI ESTADUAL Nº
6.772/06 ATÉ A ENTRADA EM VIGOR DA LEI
ESTADUAL Nº 7.817/2016 LEI ESTADUAL QUE
ELENCOU VALORES FIXOS - INCIDÊNCIA DA SÚMULA
VINCULANTE Nº 04 DO STF - PODER JUDICIÁRIO
COMO LEGISLADOR POSITIVO - TESE RECHAÇADA -
REGIME DE SUBSÍDIO E ADICIONAL DE
INSALUBRIDADE - COMPATIBILIDADE - PRINCÍPIO
DA DIALETICIDADE RECURSAL – RECORRENTE NÃO
IMPUGNOU OS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA –
RECURSO NÃO CONHECIDO. (TJ-AL - RI:
07114558620208020001 Maceió, Relator: Juíza Nathalia Silva
Viana, Data de Julgamento: 15/06/2023, 2ª Turma Recursal da
1ª Região - Maceió, Data de Publicação: 15/06/2023)

Desse modo, a Recorrente não cumpre com o princípio da


dialeticidade, pois deixa de enfrentar os fundamentos da decisão recorrida.

No exame dos pressupostos de admissibilidade intrínsecos


(cabimento, legitimidade recursal, interesse recursal), e extrínsecos (tempestividade,
preparo, regularidade formal e inexistência de fato impeditivo), verifica-se na espécie
dos autos não estar presente a regularidade formal exigida, ante a ausência de razões de
fato e de direito que contrariam os fundamentos da decisão recorrida, impedindo o
conhecimento do recurso, por ofensa ao princípio da dialeticidade, como acima foi
relatado.

Também é nesse sentido que se posiciona o Superior Tribunal de


Justiça:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE EM
APELAÇÃO. ANÁLISE DE SUA OBSERVÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ. 1.
"[E]mbora a mera reprodução da petição inicial nas razões de
apelação não enseje, por si só, afronta ao princípio da
dialeticidade, se a parte não impugna os fundamentos da
sentença, não há como conhecer da apelação, por
descumprimento do art. 514, II, do CPC/1973, atual art. 1.010,
II, do CPC/2015". (AgInt no REsp 1735914/TO, Rel. Ministro
Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 7/8/2018,
DJe de 14/8/2018) 2. Analisando o acórdão proferido na
origem, verifica-se que a Corte local manifestou compreensão
no sentido de que "...as razões recursais não atacam os
fundamentos da sentença, de modo que, desrespeitado, na
hipótese, o princípio da dialeticidade recursal, o presente
recurso não pode ser conhecido, por lhe faltar requisito
indispensável à regularidade formal". 3. Nota-se, pois, que a
Corte local entendeu que houve afronta ao princípio da
dialeticidade, uma vez que não foram devidamente impugnados
os fundamentos da decisão então combatida. 4. A revisão de tal
posicionamento não se mostra viável em recurso especial, pois
tal providência demandaria reincursão no acervo fático-
probatório dos autos, esbarrando, assim, no óbice na Súmula
7/STJ. 5. Agravo Interno não provido. (STJ - AgInt no AREsp:
1630091 SP 2019/0357910-1, Relator: Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, Data de Julgamento: 22/06/2020, T4 - QUARTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 30/06/2020).

A par disso, conclui-se que em momento algum a Recorrente se


referiu ao conteúdo da decisão recorrida, razão pela qual as razões do presente recurso
estão dissociadas daquelas consolidadas pela decisum combatida, constatação, por si só,
capaz de se ter como inexistente qualquer argumentação eficaz impugnação àquela,
levando a peça recursal ao inevitável não-conhecimento.

Desse modo, houve violação ao Princípio da Dialeticidade, pois a


Recorrente não alega nem demonstra que a decisão recorrida não está correta,
limitando-se, como já dito, apenas a repetir os argumentos anteriormente já
apresentados, como se estivesse apresentando uma Contestação.

Logo, sem a impugnação específica da decisão, nos limites em que ela


foi proferida, deve ser reconhecida a impossibilidade de conhecer o Recurso Inominado
interposto, por ausência de requisitos legais, em razão de violação ao princípio da
dialeticidade.

4. DAS RAZÕES PARA MANUTENÇÃO DA SENTENÇA RECORRIDA

I. DA RELAÇÃO DE CONSUMO

A relação jurídica entre as partes restou configurada, tratando-se de


relação de consumo, conforme preceituam os artigos 2º e 3º do Código de Defesa do
Consumidor.

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produtos ou serviço como destinatário final.

Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos
ou prestação de serviços.

Convém ressaltar as lições de Cláudia Lima Marques, a qual, sobre


o tema em vertente, professa que:

“O art. 3º do CDC bem especifica que o sistema de proteção do


consumidor considera como fornecedores todos os que
participam da cadeia de fornecimento de produtos e da cadeia
de fornecimento de serviços ( o organizador da cadeia e os
demais partícipes do fornecimento direto e indireto,
mencionados genericamente como ‘toda pessoa física ou
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como
os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
( ...) prestação de serviços’), não importando sua relação direta
ou indireta, contratual ou extracontratual, com o consumidor...”

Nesse sentido, com o advento do Código de Defesa do Consumidor,


surgiu a possibilidade de controle judicial dos contratos visando estabelecer o equilíbrio
contratual e reduzindo o rigor do princípio "pacta sunt servanda".

Portanto, no caso em análise, é nítido o interesse autoral em ver


judicialmente reconhecida a culpa da Recorrente pelo descumprimento contratual.

Assim, era dever da Instituição Financeira Ré, pela inversão do ônus


da prova, comprovar a regularidade da prestação de seus serviços, pois trata-se de
fornecedor de produto e de serviço que detém capacidade técnica suficiente de
apresentar fato impeditivo, modificativo e extintivo do direito da parte autora. Ocorre
que, in casu, a Recorrente não conseguiu provar a licitude de sua conduta, já que, como
muito bem ressaltado pelo d. juízo a quo, ela não trouxe aos autos documentação capaz
de demonstrar que a Recorrida estava realmente inadimplente. Vejamos:

“O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 3º, §2º,


incluiu expressamente a atividade bancária no conceito de
serviço. No caso em tela, houve falha na prestação do serviço,
porquanto a existência do débito não foi suficientemente
comprovado pela parte ré, uma vez que a autora anexou aos
autos os contracheques de seus proventos que comprovam a
regularidade no pagamento dos empréstimos consignados.

Ressalta-se que a pretensão autoral não é contestar a


regularidade na contratação de empréstimo consignado sob
contrato de nº 244171834, mas sim a ausência de débitos
pendentes no referido. Veja-se que a negativação se deu em
razão de suposto débito com vencimento em 01/11/2019 (fls.
16), entretanto, através de breve análise aos contracheques
anexados pela autora às fls. 17/20, nota-se a existência de três
descontos consignados junto a ré e que todos eles estavam em
suas parcelas finais.

(...)

Diante dos fatos narrados e na ausência de documentos que


comprovem minimamente a origem da dívida, entendo que
merece prosperar a argumentação da parte autora quanto à
inexistência do débito.

Portanto, a parte demandada não desincumbiu-se do ônus


imposto pelo artigo 373, inciso II, do Código de Processo
Civil, isto é, de demonstrar a existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito da parte demandante,
porquanto não juntou aos autos documentação que
comprovasse a existência do débito inscrito no cadastro
restritivo de crédito.”

Pelo exposto, reitera o pedido de aplicação do Código de Defesa do


Consumidor ao presente caso, bem como a manutenção do deferimento da inversão do
ônus da prova e o direito de reparação integral por todos os danos sofridos, inclusive os
morais, negando-se, assim provimento ao presente Recurso Inominado.

II. DA INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO

Conforme amplamente demonstrado ao longo da instrução processual,


a Recorrente negativou os dados da Recorrida por um débito que sequer conseguiu
comprovar que era devido.

Assim, não restou outra alternativa à Recorrida a não ser o ingresso na


Justiça para fazer valer o seu direito.

Ora d. Turma Recursal, ao adquirir um produto ou serviço, o


consumidor tem a legítima expectativa de receber informações adequadas sobre o seu
uso de acordo com as expectativas geradas na compra e que ofereça segurança mínima
que se espera.

No presente caso, entretanto, a Recorrente promoveu a negativação


dos dados da Recorrida de forma indevida, em razão de suposto débito com vencimento
em 01/11/2019 no valor de R$ 187,48. Ocorre que ficou comprovado nos autos que o
último mês de pagamento da referida parcela era em setembro/2019, não havendo,
portanto, que se falar em cobranças nos meses subsequentes ou tampouco em ausência
de margem consignável.

É de se registrar que a negativação dos dados da Recorrida, foi


perpetrada em linhas contrárias ao que se determina a lei. Em decorrência deste
incidente, ela experimentou situação constrangedora, angustiante, tendo sua moral
abalada, face à indevida inscrição de seu nome no cadastro de inadimplentes com seus
reflexos prejudiciais, sendo suficiente a ensejar danos morais.

Resta evidente, portanto, que a Recorrente agiu com manifesta


negligência e evidente descaso com da Recorrida , pois jamais poderia ter lhe cobrado
um débito que já foi quitado e, muito menos, inserir o seu nome junto ao cadastro de
inadimplentes.

Assim, resta evidente que o presente caso se trata de cobrança


indevida, realizada pela Empresa Ré que não tomou qualquer precaução no controle de
seus registros, permitindo a cobrança de dívidas inexistentes em nome da Autora.

Portanto, configurada a falha no serviço, nasce o dever de indenizar,


que no presente caso é consubstanciado nos valores indevidamente pagos, cumulado
com danos morais, conforme preconiza os art. 186 e 187 do Código Civil.

Nesse sentido também é o entendimento do TJAL:

RECURSO INOMINADO. DIREITO DO CONSUMIDOR.


RELAÇÃO DE CONSUMO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO. RESPONSABILIDADE CIVIL. RECORRENTE
QUE NÃO APRESENTOU FATO MODIFICATIVO,
EXTINTIVO OU IMPEDITIVO DO DIREITO DO
RECORRIDO (ART. 373, INCISO II, DO CPC).
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NEGATIVAÇÃO
INDEVIDA COMPROVADA (PP. 16). ATO ILÍCITO
CONFIGURADO. DANO MORAL IN RE IPSA.
DESCONSTITUIÇÃO DO DÉBITO. DANOS MORAIS
CARACTERIZADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO
ARBITRADO EM R$ 6.000,00 (SEIS MIL REAIS).
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJ-AL - RI:
07007572120198020077 Maceió, Relator: Juiz Thiago
Augusto Lopes de Morais, Data de Julgamento: 22/08/2022, 2ª
Turma Recursal da 1ª Região - Maceió, Data de Publicação:
24/08/2022)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
JURÍDICA. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. AUSÊNCIA
DE DÉBITO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.
NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. DANO MORAL IN RE IPSA.
1. Tendo em vista que a parte ré não se desincumbiu de seu
ônus probatório, entende-se que são verdadeiras as afirmações
fáticas trazidas pelo autor, fazendo jus, assim, à indenização
pleiteada em decorrência da indevida inclusão em cadastro de
proteção ao crédito. 2. Ao prestar o serviço de forma
defeituosa, causando danos ao autor/apelado, inconteste é a
responsabilidade da apelante. 3. Configurado o abalo
emocional sofrido pelo autor, ora apelado, em razão da
inclusão de seu nome no cadastro de inadimplentes, o que
macula, sem a mais ínfima dúvida, a sua honra. Dano moral in
re ipsa, ou seja, independentemente de prova. 4. Redução do
quantum indenizatório para R$ 6.000,00 (seis mil reais),
quantia que atende plenamente às funções compensatória e
penalizante da indenização por danos morais, respeitados,
sobretudo, os princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
RECURSO CONHECIDO E DADO PARCIAL
PROVIMENTO. SENTENÇA ALTERADA. DECISÃO
UNÂNIME. (TJ-AL - APL: 07021285320148020058 AL
0702128-53.2014.8.02.0058, Relator: Des. Klever Rêgo
Loureiro, Data de Julgamento: 13/11/2019, 2ª Câmara Cível,
Data de Publicação: 19/11/2019)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR.


SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTES OS PEDIDOS
AUTORAIS E DECLAROU A INEXISTÊNCIA DO
DÉBITO, COM A RETIRADA DO NOME DA PARTE
AUTORA DOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO E CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DÉBITO
INEXISTENTE. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. DANO
MORAL IN RE IPSA. CONFIGURADO. DANO
IMATERIAL PRATICADO CONTRA A PESSOA
JURÍDICA. POSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 227 DO STJ.
ADEQUAÇÃO DO QUANTUM ARBITRADO AOS
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. REDUÇÃO DE R$ 6.000,00 (SEIS
MIL REAIS) PARA R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS).
PARÂMETROS DESTA CORTE DE JUSTIÇA.
RETIFICAÇÃO DOS CONSECTÁRIOS LEGAIS.
MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJ-AL - AC:
07001071820138020001 Maceió, Relator: Des. Fábio Costa de
Almeida Ferrario, Data de Julgamento: 11/10/2022, 4ª Câmara
Cível, Data de Publicação: 14/10/2022)

Afinal, trata-se de proteção expressamente prevista no Código de


Defesa do Consumidor, que dentre as normas previstas, dispõe:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...)

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,


métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços;

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam


prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e


morais, individuais, coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com


vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção
Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

IX -(...);

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em


geral.

Tratando-se, portanto, de ato ilícito, tem-se por necessária a defesa


estatal do consumidor hipossuficiente, com o reconhecimento da abusividade, ilicitude e
o dever de indenizar.

No presente caso os valores já foram devidamente quitados, conforme


se verifica nos documentos juntados à exordial. Assim, resta demonstrada a abusividade
da conduta da Recorrente, assim como a falha na prestação de seus serviços, passíveis
de indenização, conforme muito bem reconhecido pelo d. juízo a quo.

III. DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA RÉ

Além disso, o art. 14 do Código de Defesa do Consumidor expressa de


forma evidente a Responsabilidade Objetiva dos prestadores de serviço. Vejamos:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Assim, deve-se adotar, ao presente caso, a teoria do risco do


empreendimento, de Sérgio Cavalieri Filho, segundo a qual:

"todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no


mercado de consumo tem o dever de responder pelos eventuais
vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos,
independentemente de culpa". (in Responsabilidade Civil,
2008. p. 475)

No caso, a entrega de um produto diferente das condições contratadas


enquadra-se perfeitamente, no conceito de "defeito". O autor Sérgio Cavalieri aduz,
ainda, que:

"a responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se


alguém a realizar atividade (...) ou executar determinados
serviços. O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e
serviços que oferece no mercado de consumo" (in
Responsabilidade Civil, 2008. p. 476).

E é justamente pensando nisso que o legislador definiu como padrão a


responsabilidade civil objetiva nas relações consumeristas, fundamentado na teoria do
risco, que é uma das características da relação empresarial. Nesses casos, portanto, é
excluída a existência de culpa para a verificação da responsabilidade do fornecedor.

Portanto, resta mais que evidente que houve falha na prestação de


serviços e ausência de transparência da Instituição Financeira Recorrida e, por sua
responsabilidade ser objetiva, conforme amplamente indicado, deve ser mantida a sua
condenação às indenizações pretendidas.

IV. DOS DANOS MORAIS

Ademais, importante pontuar que o objetivo da condenação à


indenização por dano moral é punir o infrator, evitar que ele pratique os mesmo atos
com outras pessoas e compensar a vítima pelo dano sofrido, por isso, deve ser
estabelecido valor significativo para a indenização, atendendo desta forma à sua dupla
finalidade: a justa indenização do ofendido e o caráter pedagógico em relação ao
ofensor, levando em conta a capacidade econômica da Recorrente, o grau da ofensa, o
impacto que causou e ainda causa à parte autora, tendo em vista que este tipo de
indenização é uma tentativa de aliviar os malefícios causados a dignidade psíquica.

Por estes motivos o valor da indenização não pode ser tão ínfimo, ao
ponto que não seja capaz de diminuir o sofrimento do ofendido, nem sirva de
intimidação para o Banco Réu.

Considerado ainda que, embora não haja preço que restaure as lesões
causadas de quem sofre a ofensa, a ausência de previsão legal quanto aos critérios da
quantificação da indenização leva o julgador a adotar o princípio da razoabilidade. O
valor deve ser arbitrado de forma que repare o dano, e impeça que o ofensor permaneça
ileso.

Segundo Yussef Said Cahali, dano moral é “tudo aquilo que molesta
gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à
sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado” (“Dano
Moral”, 2ª ed., Revista dos Tribunais, 1998, p. 20). Ou seja, o dano moral, para ser
configurado, deve ocasionar lesão na esfera personalíssima do titular, violando sua
intimidade, vida privada, honra e imagem - bens jurídicos tutelados constitucionalmente
e cuja violação implica indenização compensatória ao ofendido (art. 5º, incisos V e X,
CF).

A lição de Sérgio Cavalieri Filho revela a desnecessidade de prova da


dor subjetiva:

"... por se tratar de algo imaterial ou ideal, a prova do dano


moral não pode ser feita através dos mesmos meios utilizados
para a comprovação do dano material. Seria uma demasia, algo
até impossível, exigir que a vítima comprove a dor, a tristeza
ou a humilhação através de depoimentos, documentos ou
perícia; não teria ela como demonstrar o descrédito, o repúdio

ou o desprestígio através dos meios probatórios tradicionais, o


que acabaria por ensejar o retorno à fase da irreparabilidade do
dano moral em razão de fatores instrumentais. (...) Em outras
palavras, o dano moral existe 'in re ipsa'; deriva
inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que,
provada a ofensa, 'ipso facto' está demonstrado o dano moral à
guisa de uma presunção natural, uma presunção 'hominis' ou
'facti' que decorre das regras de experiência comum" (in
Programa de Responsabilidade Civil, 5ª ed., 2003, págs.
100/101).

Nesse sentido, vale transcrever as ilustres palavras do ilustre CAIO


MÁRIO, em sua obra ‘Responsabilidade Civil’, p. 58, que ao tratar do tema, discorre:

“Na reparação por dano moral estão conjugados dois motivos.


Ou duas concausas: I) punição ao infrator pelo fato de haver
ofendido um bem jurídico da vítima, posto que imaterial; II)
pôr nas mãos do ofendido uma soma que não é o ‘pretium
doloris’, porém o meio de lhe oferecer a oportunidade de
conseguir uma satisfação de qualquer espécie, seja de qualquer
ordem intelectual ou moral, seja mesmo de cunho material, o
que pode ser obtido no fato de saber que esta soma em dinheiro
pode amenizar a amargura da ofensa e de qualquer maneira o
desejo de vingança. A isso é de acrescer que na reparação por
dano moral insere- se a solidariedade social à vítima”.

Desse modo, a indenização pecuniária em razão de dano moral é como


um lenitivo que atenua, em parte, as consequências do prejuízo sofrido. Nesse caso, não
indenizar o dano moral seria deixar sem reparação um direito, e por outro lado, permitir
que atos ilícitos fiquem impunes, pois é certo que a conduta objeto da presente ação é
considerada ato ilícito e, sobre esse aspecto, deve-se levar em conta o dever de
indenizar, ou seja, a responsabilidade civil.
“Art. 186. Do Código Civil de 2002 - Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.”

“Art. 187. Do Código Civil de 2002 - Também comete ato


ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

“Art. 927. Do Código Civil de 2002 - Aquele que, por ato


ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.”

Assim, ao se admitir o direito à reparação por danos morais, busca-se


a “manutenção” da ordem constituída, a reconstituição da esfera jurídica do ofendido,
por recomporem-se ou compensarem-se os danos causados, bem como punir o lesante
pelas lesões infringidas, fazendo incidir sobre o patrimônio deste a responsabilidade
pelos efeitos danosos a que deu origem” (BITTAR, 1993, P.21). Neste aspecto, ressalta-
se que a indenização cumpre, também, a função de “pena civil”.

Em assim sendo, conforme restou vastamente comprovado, é todo


rigor a manutenção da condenação da Recorrente em indenizar a Recorrida pelos danos
morais experimentados por este em razão da conduta lesiva daquela e que ocasionaram
a ela tantos traumas, não havendo, ainda, que se falar em redução ou modificação do
quantum arbitrado em sentença.

5. DOS PEDIDOS

Diante das razões aqui alinhavadas e comprovadas nos autos, espera a


Recorrida seja NEGADO PROVIMENTO ao recurso da Recorrente.

Nestes termos, pede deferimento.

Penedo/AL, sexta-feira, 24 de janeiro de 2025.

JORGE FAUSTNO SANTOS


OAB/AL 19.126

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