Angela Verdenius - Love, Heart & Soul 02 - Alma de Uma Mercenária

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SÉRIE LOVE, HEART & SOUL

ALMA

DE UMA

MERCENÁRIA
SOUL OF A MERCENARY

ANGELA VERDENIUS
Envio: Bia
Tradução: Márcia Oliveira
Revisão Inicial: Ady Miranda
Revisão Final: Raquel
Leitura Final: Mary
Formatação: Ady Miranda
Informações sobre a série
1. Coração de uma fora da lei (Distribuído)
2. Alma de uma mercenária (Distribuído)
3. The Heart of the Betrayed (Revisão)
4. Love's Sweet Assassin (Na lista)
5. Soul of a Hunter (Na lista)
6. Love's Bewitching Thief (Na lista)
7. The Heart of the Forsaken (Na lista)
8. Soul of a Witch (Na lista)
9. The Heart of a Traitor (Na lista)
10. Soul of the Forgotten (Na lista)
11. Love's Beguiling Healer (Na lista)
12. Heart of a Peacekeeper (Na lista)
13. Soul Of a Predator (Na lista)
14. Love's Winsome Warrior (Na lista)
15. Heart of a Smuggler (Na lista)
16. Soul Of a Guardian (Na lista)
17 - Love, Heart And Soul Moments (Na lista)
18 - Shattered Soul (Na lista)
Resumo

Guerreira, mercenária... o perigo e a morte a persegue,


mas a loucura é a companheira mais ameaçadora para
Reya, por causa de um segredo obscuro que consome a sua
alma.
O amor fará o comerciante Maverk segui-la ao Setor de
Outlaw e no pesadelo crescente estender a mão para ela e
libertá-la do seu passado sangrento.

Dedicatória
Para meu irmão André, minha cunhada Sue e minha doce
sobrinha Chloe. Continuem a viver os seus sonhos.
Para Leslie Hodges, editor chefe, meu coração sentiu-se
agradecido, por tudo o que você fez.
Para Richard Stroud — extraordinário artista!
E como sempre, para minha mãe, Doreen. Amo-te.
Introdução
Encostada à parede, Dana aliviou a dor de seu tornozelo ferido.
—É um daqueles sacos que selam a saída do cheiro?
—Sim. — Reya lançou um olhar sem graça para o grupo de
comerciantes. —Você não terá que se preocupar com a carcaça fétida
em sua nave.
—Que alívio. — Maverk voltou-se suavemente, embora por
dentro ele não estivesse nada calmo. Ele queria sacudi-la, porque
sabia que ela estava deliberadamente tentando deixá-lo doente.
—As larvas não vão cair no chão.
Esquecendo a sua agitação, agora ele queria bater nela.
—Eu tenho a imagem.
—Você? — Endireitando-se, ela olhou-o firmemente. —Você
realmente tem bonitão? Você já viu um corpo morto?
—Sim.
—Depois de alguns dias?
—Sim.
—Depois de cozinhar no sol quente e os animais selvagens
terem se banqueteado sobre ele?
Sua garganta travou, mas ele se recusou a permitir a ela a
satisfação de sabê-lo.
—Sim.
Duvidosamente, ela olhou para ele.
—Vermes, insetos e tudo?
Não. O cadáver que tinha visto estava congelado.
—Um homem morto foi o que vi Reya. Você quer começar uma
descrição gráfica sobre isso?
—Basta saber que você está preparado.
—Obrigado pela preocupação.
—Não me agradeça. Eu não quero ninguém vomitando em
minhas botas.
—Você está querendo uma luta, moça?
—Não iria perder o fôlego, bonitão.
Capitulo 1
A fortaleza estava sob ataque, mas não por armamentos
sofisticados e aviões de caça; correntes elétricas na atmosfera faziam
qualquer coisa eletrônica queimar rapidamente. Não, o líder dos
invasores pensava consigo mesmo severamente, naves espaciais e
lasers estavam fora de questão neste planeta abandonado.
Espadas, lanças, flechas e aríetes1 não estavam. Zormar podia
ouvir os cavalos batendo os cascos e bufando no abrigo das árvores
que estavam amarrados. Eles estavam nervosos pelos gritos e pelo
cheiro de sangue.
O baque contínuo do aríete soou ritmicamente no ar, uma vez
que bateu nos enormes portões de madeira e a voz áspera de seu
comandante soou conforme ele dava incentivo.
Ele conhecia as muralhas da fortaleza e não demoraria muito
para que os invasores rompessem a sua resistência.

—Maldição do inferno! — Vanc caminhou para cima e para baixo


no grande salão. —Quão perto estão?
—As portas estão segurando, por enquanto.
—Quem é o líder dos agressores? Zormar não tem cérebro para
fazer isso!
O soldado engoliu sob o olhar furioso do mestre da fortaleza.
—Eu ouvi sussurros que é...
A porta abriu com uma pancada e um soldado cambaleou com
uma flecha saindo de seu ombro.
—As paredes! Eles estão escalando as paredes de todos os
lados!
Rosnando sua raiva e desembainhando a espada, Vanc correu
para fora, para a batalha. Olhando incrédulo para as imponentes
paredes, viu o topo das escadas de metal em todos os lugares. Seus
arqueiros estavam aglomerados nas passarelas. Eles disparavam
flechas para baixo, nos invasores, enquanto apenas um mínimo de

1
Um aríete é uma antiga máquina de guerra constituída por um forte tronco de freixo ou árvore de madeira
resistente, com uma testa de ferro ou de bronze a que se dava em geral a forma da cabeça de carneiro. Os aríetes eram
utilizados para romper portas e muralhas de castelos ou fortalezas.
soldados pressionava por trás deles. Para baixo no portão o baque do
aríete ainda podia ser ouvido e a maioria de seus soldados estava lá,
prontos para enfrentar os invasores quando o portão finalmente
cedesse.
Era um ardil inteligente.
—As paredes! As paredes! — ele gritou enquanto corria até os
degraus de pedra que levava à passarela que circundava o interior da
muralha. —Soldados para as paredes! Nosso perigo vem de lá!
Suas palavras sufocaram quando ele fez uma parada abrupta
no topo. Quatro arqueiros cambalearam para trás, flechas saiam de
seus peitos e caíram para trás ao longo da passarela, despencando
para a morte abaixo, no pátio.
O primeiro dos invasores veio por cima do muro e Vanc
encontrou-se olhando para olhos verdes gelados, tão frios que
congelou seus ossos. Eles eram as últimas coisas que veria, antes da
morte reclamá-lo, por um golpe de espada no coração.
Ele caiu morto aos pés da bonita guerreira.
Seus soldados dispararam para frente, mas já era tarde
demais. Invasores fervilhavam por cima do muro, liderados por outra
mulher guerreira.
Suas espadas flamejavam impiedosamente conforme elas
seguiram adiante para levar os invasores à vitória, as duas jovens
guerreiras lutavam mais ferozmente que seus companheiros do sexo
masculino.

Com as mãos nos quadris, Zormar ergueu-se e sorriu. A


fortaleza era sua, enfim! Ele não tentou enganar-se pensando que
poderia ter feito isso sozinho. Não, ele tinha outros para agradecer
por sua vitória, e onde estavam eles? Apertando os olhos através da
névoa espessa da fumaça que enchia o pátio, o que procurava
lentamente apareceu. Caminhando apertada entre os soldados, ela
veio em direção a ele com sua companheira ao seu lado.
Inconscientemente, os soldados se separaram para deixá-las passar
através de suas fileiras.
Ele olhou-as, observando como se erguiam acima dos homens
no pátio por pelo menos uma cabeça. Elas estavam vestidas iguais,
com saias de couro, que vinham ao meio da coxa, coletes sem
mangas que eram atados na frente, botas de couro cru até abaixo
dos joelhos e sem dedos, as luvas revestidas de metal que vinham
até os cotovelos. Pequenos aros de prata perfuravam as suas orelhas,
dois na direita e quatro na esquerda e cada uma usava uma banda de
prata lisa em torno de seu braço esquerdo. Elas andavam com passos
longos, ágeis, suas espadas ensanguentadas estavam embainhadas
em suas costas e tinha sangue respingado sobre suas roupas e pele.
Sujeira e fumaça manchavam seus rostos, mas não escondiam a sua
beleza.
Ele não foi enganado, no entanto. Estas guerreiras possuíam
grande velocidade, força e habilidade quando se tratava de luta. Ele,
por exemplo, não iria cruzar o seu caminho.
Levantando os olhos, estudou-as quando pararam diante dele.
Dana aquela com o cabelo loiro, era ardente. Olhos castanhos
escuros cuspindo fogo e ela tinha o péssimo hábito de olhar para
baixo, diretamente para os homens, esfregando-lhes no nariz o fato
de terem errado o caminho. Ela era uma verdadeira ’odeia homens’.
A outra guerreira tinha os cabelos vermelhos com cachos
selvagens, puxado para trás em um rabo de cavalo que caia pelas
costas até a cintura. Acima do nariz arrebitado estava um par de
olhos verde gelados. Frios. Mortais. Como a própria mulher.
Não, ele não iria atravessar o caminho dessas mulheres
guerreiras Reeka, estas mercenárias. Agora que a fortaleza estava
dominada, iria pagá-las e enviá-las em seu caminho. Embora, se
pudesse convencê-las a permanecer em seu emprego, nenhum outro
senhor distrital fora da lei ousaria atacá-lo.
—Reya, eu gostaria que reconsiderasse e permanecesse por um
tempo.
—Não. Nosso trabalho está feito. Tudo o que queremos é o
nosso salário e seguiremos o nosso caminho.
Zormar suspirou e balançou a cabeça. Virando-se para seu
comandante, ele ordenou:
— Traga o dinheiro.
—E os cavalos. — acrescentou Dana.
—E os cavalos. — Zormar ecoou.
Dentro de minutos os dois cavalos de guerra foram trazidos
para frente e as Reekas montaram rápidas e facilmente. Zormar
entregou uma bolsa para Reya. Ela abriu-a, olhou para dentro,
conferindo o conteúdo. Sim, a prata estava toda lá. Ela colocou a
bolsa por trás da sela, acenou para Zormar e sem outra palavra,
rodeou para sair da fortaleza, Dana seguiu atrás dela. Os cascos dos
cavalos batiam nas pedras do calçamento.
Com um encolher de ombros, Zormar virou. Agora que a
fortaleza era dele, tinha outras coisas para pensar, não em
mercenárias. Além disso, como todos sabiam, se alguém tivesse
necessidade das guerreiras Reeka, só tinham que colocar um aviso
acima nas tabernas e divulgar a informação. Mais cedo ou mais tarde,
Reya e Dana iriam aparecer.

Em pé na janela do quarto, Tenia olhou para fora sobre a


cidade. Edifícios brancos deram uma imagem de frieza sob o sol
quente de verão e o som do riso das crianças flutuou até ela.
Mãos grandes repousaram sobre seus ombros e ela foi puxada
para trás, contra o peito musculoso.
—O que tem moça?
—Eu me preocupo com Reya. Ela se foi há um ano e as coisas
que eu ouvi, me preocupa.
Darvk suspirou. Sim, sua cunhada também o preocupava.
—Moça, não há muita coisa que possamos fazer. Teríamos que
arrastá-la de volta para cá.
A cabeça dourada inclinou para trás e os belos olhos violeta
tinha um brilho de diversão em suas profundezas.
—Você realmente acha que poderia arrastá-la, ou Dana, de
volta contra a sua vontade?
—Por você, eu o faria. — Olhos quentes e amorosos olharam
para ela.
—Sério, Darvk, elas trilham uma linha fina. Um passo errado e
elas poderiam ser banidas de novo.
Colocando a mão suavemente sobre o seu estômago
arredondado, onde seu bebê esperava para nascer, ele procurou
tranquilizá-la.
—Reya e Dana lutam para os fora da lei, é verdade, mas contra
outras pessoas não cumpridoras da lei. Enquanto elas continuarem a
fazer isso, não podem ser consideradas ilegais. Isso só pode
acontecer se elas atacarem inocentes.
—Eu sei. — Ela suspirou transferindo mais uma vez seu olhar
para fora da janela. —Eu tinha pensado que tudo se resolveria uma
vez que nós fossemos perdoadas, mas parece que eu estava errada.
Algum demônio a conduz para frente.
—Reya?
—Quem mais? Ela é tão fria por dentro, que eu temo que um
dia ela vá quebrar.
Ele esfregou a sua barriga confortavelmente.
—Preocupa Maverk também.
Ela colocou a mão sobre a dele.
—Ele não diz isso, mas sente falta dela. Ela saiu enquanto ele
estava fora, em uma viagem de negócios, lembra? Eu não acho que
ele, realmente, vá perdoá-la por isso.
—Não, mas ele não poderia tê-la segurado, mesmo se estivesse
aqui. — Darvk sorriu levemente. —Garret não ficou muito feliz
quando Dana a seguiu, também.
Girando nos braços de seu marido, Tenia olhou para ele séria.
—Eu queria a minha irmã aqui para o nascimento do nosso
filho.
—Mas ainda faltam três meses, moça.
—Vai levar pelo menos esse tempo para encontrá-las. — Ela
franziu os lábios. —Talvez eu devesse sair e procurar.
—Não! — Ele franziu a testa com firmeza. —Nós podemos
enviar mensagens.
—Que elas podem não receber. Eu tenho um pressentimento
forte que Reya está em apuros.
—Algum perigo?
—Em relação a ela mesma.
—Ah, então o nascimento do bebê é apenas uma desculpa para
ela e Dana voltarem?
Suplicando, ela olhou para ele.
—Um pouco. Tenho tanto medo por ela. Ela está em um
caminho de autodestruição e ninguém sabe por quê. Se eu pudesse
vê-la, falar com ela.
—Você acha que ela vai se abrir e dizer-lhe o seu segredo
escuro? — Darvk acariciou seu rosto suave com ternura. —Isso é
extremamente improvável moça.
—Mas eu preciso tentar. — Lágrimas brilhavam em seus olhos.
—Ela é minha irmã, Dana é minha prima e também trilha um
caminho perigoso.
Ele a ninava junto a ele.
—Muito bem, moça. Vou mandar alguém para encontrá-las e
dar a sua mensagem do nascimento do bebê em breve.
—Obrigada. — Ela beijou-o suavemente. —Quem você vai
enviar?
Um brilho diabólico iluminou os olhos azuis intensos.
—Oh, este é, definitivamente, um trabalho para Maverk e
Garret. Eles estavam procurando uma desculpa para ir e procurar
essas duas moças!
Tenia riu.

O barman olhou para cima quando os dois homens entraram no


bar da taberna quase deserta, no início da manhã. Nervosamente ele
tomou seus contornos. Eles eram enormes, cada um com pelo menos
dois metros de altura, elevando-se sobre o porteiro brutal, que se
inclinou sonolento contra a parede. Seus peitos por baixo dos coletes
abertos, sem mangas, ondulavam com músculos e os braços
inchavam com o movimento. Calças de material grosseiro deslizavam
longamente sobre fortes pernas e estavam enfiadas dentro de botas
de salto baixos.
Os dois homens se aproximaram do bar e agora ele podia vê-
los mais claramente. O da esquerda tinha olhos castanhos e cabelos
longos e loiros, amarrados na nuca, enquanto o da direita tinha olhos
cinzentos e longos cabelos castanhos que pendiam soltos. Ambos
ostentavam um aro de prata pequena em sua orelha esquerda.
O barman suspirou com alívio. Ele reconheceu os dois jovens,
eles não poderiam ter mais de vinte e dois ou vinte e três anos e
eram comerciantes Daamen. Ele sentiu alívio. Foras da lei tão
grandes quanto estes dois gigantes, poderiam destruir o lugar
facilmente. Os Daamens tinham amor por brigas, mas não eram fora
da lei e não causavam danos deliberadamente. Ao contrário dos
bandidos que viviam nesse assentamento de Kyro.
—Bom dia, amigos. — ele cumprimentou. —O que posso fazer
por vocês?
—Eu sou Maverk. —O loiro assentiu satisfeito. —Este é meu
amigo Garret.
O barman concordou.
—Simet é o meu nome.
—Bem, agora Simet, estamos precisando de algumas
informações.
Imediatamente seus olhos ficaram mais atentos.
—Isso não é saudável aqui na fronteira do Setor Outlaw2.

2
Fora da lei
Maverk riu.
—Relaxe, eu não estou procurando por recompensas!
—Não. — Garret acrescentou. —O que buscamos é uma
informação sobre duas moças.
—Moças? — o rosto de Simet se desanuviou. —Há um par no
andar de cima.
—Não são estas. — Maverk sorriu. —Nós procuramos por duas
Reekas.
—Ah, eu os reconheço agora. Vocês são uma parte da
tripulação Daamen que limpou o nome das guerreiras Reekas dois
anos atrás?
—Nós somos. Agora, sobre as...
—Ainda me lembro da luta entre as Reekas e os soldados Inka
aí na frente e como vocês, gigantes, entraram na briga. Que noite foi
aquela!
—Er... sim. As duas que procuramos...
—Não pode ser Tenia, aquela dos cabelos dourados. — Simet
informou-lhes com conhecimento de causa. —Ela se casou com seu
capitão. Então deve ser a irmã mais velha dela, Reya.
Com alívio, Maverk agarrou a oportunidade.
—Exatamente!
—E uma loira, — Garret acrescentou. —um pouco impetuosa.
—Um pouco? — Simet ergueu as sobrancelhas. —Não sei sobre
ser pouco. Elas são quase tão altas quanto vocês dois são. Mas de
fogo, sim, Dana é de fogo, tudo bem. Não como Reya, ela pode
congelar um homem com um olhar a menos de vinte passos!
—Você, obviamente, as conhece, então?
—Certamente que sim. — Ele descansou os cotovelos
confortavelmente no bar. —Elas chegaram aqui cobertas de sangue e
sujeira de uma batalha com um senhor de distrito, estavam
procurando um lugar para descansar.
Os olhos de Garret se iluminaram de repente.
—Qual é o quarto em que estão?
—Oh, não estão mais aqui. Isso foi há duas semanas.
—Onde estão agora? — Maverk perguntou, exasperado.
Simet bateu no queixo pensativo e seu rosto se iluminou.
—Elas estavam indo para outro emprego.
—Onde?
—Agora eu não sei. Aquelas guerreiras não são de dizer nada.
—Então, como você sabe que elas estavam indo para outro
emprego?
—Porque elas são mercenárias, com espadas sob contrato. — O
barman olhou para ele com nojo. —Elas estão procurando por
senhores da guerra do distrito, você sabe!
Maverk coçou a cabeça.
—Tudo bem, quais são os senhores do distrito que estão
lutando agora?
—Você está brincando!
—Não.
—Deixe-me ver. — O sarcasmo banhava a resposta. —Onde
você gostaria que eu começasse?
Maverk esfregou o rosto cansado.
—Basta anotá-los e nós vamos verificar o mais próximo
assentamento deles.
—Você não fala sério.
—Estou falando sério.
Vinte minutos depois, os comerciantes deixaram a taverna com
um pequeno pedaço de papel na mão de Maverk. O barman soube de
seis batalhas diferentes e estavam na lista. Duas em Ulon, uma em
Lanta e duas em Vendor.
Maverk sabia que eles iriam levar cerca de uma semana para
cobrir os três planetas. Esperava que não tomasse tanto tempo para
encontrar as guerreiras Reeka.
Capitulo 2
Reya acordou com o coração batendo forte e o suor
encharcando-a. Olhando através das brasas frias da fogueira, ela
ficou aliviada ao ver que Dana ainda dormia pacificamente.
Silenciosamente se levantou e caminhou para o rio próximo, onde
lavou o rosto na água fria.
Por que não podia esquecer? Ela olhou para seu reflexo nas
águas calmas. Os gritos, a agonia, a descrença atordoada, o horror
que assombrava os seus sonhos.
—Esqueça isso. — ela sussurrou asperamente. —O que
aconteceu está feito. Nada pode mudar isso.
—Está tudo certo, irmã?
Olhando por cima do ombro, ela viu sua prima olhando para ela
com preocupação.
—Tudo bem. Acordei você?
—Você não iria pedir desculpas se tivesse. — Dana bocejou.
Uma sobrancelha escura arqueou zombeteiramente.
—Você me conhece tão bem. Agora vigie enquanto eu tomo
banho.
—Vou trazer os cavalos para beber enquanto estiver lá, e vou
também trazer a nossa roupa suja. Você pode lavá-las enquanto você
estiver na água.
—Eu disse que estaria me banhando, não lavando a roupa suja.
— retorquiu Reya, tirando a roupa e entrando no rio.
Estava frio, claro e refrescante. Dana voltou logo levando os
cavalos de guerra e um pacote de roupas, juntamente com um
pedaço de sabão, que ela jogou para sua irmã guerreira.
Elas passaram a manhã se banhando, nadando, lavando e
secando a roupa e relaxando antes de avançar para Mathos. Uma vez
lá, elas parariam os cavalos, poriam as mochilas nos ombros com os
discos de viagens conectados, em seguida, procurariam uma taverna.
Reya sentiu os fora da lei e os marginais de toda espécie,
observá-las com olhares gananciosos e hostis, mas sabia que
ninguém se aproximaria. Elas eram bem conhecidas no Setor Outlaw
e eram um enigma. Duas bandidas perdoadas escolhendo viver no
Setor Outlaw e trabalhar para os senhores da guerra dos distritos era
algo inédito, mas havia um código tácito no Setor— não faça
perguntas. Portanto, ninguém fez.
Ao entrar na taberna ocupada, as Reekas empurraram o seu
caminho através da multidão barulhenta e aqueles que se voltaram
para reclamar, encontravam um olhar glacial e afastavam-se com um
frio na espinha.
—Posso ajudá-las, guerreiras? — Suando o barman limpou a
cerveja derramada sobre a áspera madeira da barra.
—Um quarto. — respondeu Dana. —Duas camas.
—Cinco dinnos. Acima das escadas, quinta porta à direita.
Ele entregou a chave ao longo da barra para elas. Reya subiu
as escadas, Dana seguiu atrás dela e encontraram o quarto. Era
pequeno e simples. A porta era na parede lateral.
—Bem, veja aqui. — Dana girou a cabeça em torno dele. —
Nosso banheiro privado.
Reya espiou pela janela.
—A varanda, tal como ela é. Há um beco abaixo, para que
possamos sair por uma ou outra extremidade. Bom.
—O que mais uma guerreira pode pedir? — Deixando cair à
mochila, Dana caiu para trás na cama. —Colchão encaroçado,
banheiro privado e uma fuga rápida, se necessária. É o céu!
—Frango assado soa como o céu para mim.
—Agora que você está falando. Vamos.
Encontraram a taverna ainda mais lotada, e procuraram a
tranquilidade relativa de uma mesa de canto distante. Sentada de
costas para a parede, Reya chamou a atenção de uma garota da
taverna, que correu para servi-las.
—O que vai ser guerreiras? Cerveja?
—Galinha assada e água.
—Não temos frango. Temos carne.
—Certo. — Ela encolheu os ombros. —Rosbife e legumes.
—Volto logo. —A moça da taverna se virou, evitando por pouco
ter seu amplo bumbum apertado.
Dana viu com desgosto quando ela deu um sorriso malicioso
para o homem antes de correr para longe.
—Mas que porco!
—Hmm? A mulher?
—Não. Ela é dissimulada. Ele não gostaria de tentar apalpar-
me.
Reya estudou os ocupantes da sala.
—Procurando uma luta já?
—Não. — Dana tamborilava a ponta dos dedos sobre a mesa. —
Então, novamente, já tem quase uma semana desde que saímos de
Zormar. Acho que estou ficando entediada. E você? — Ela não
recebeu nenhuma resposta e olhou para sua prima, notando seu
olhar. —O que há de errado?
Reya não respondeu imediatamente. Seus olhos estavam fixos
no gigante abrindo caminho através da multidão em direção a sua
mesa. Seus olhos castanhos olhavam diretamente para ela, com um
tênue sorriso curvando os lábios firmes.
—Bem, o inferno. — ela murmurou.
—O que é isso? — Dana começou a levantar, quando ela pegou
o laser, o seu olhar varrendo a sala.
Reya segurou-a pelo braço.
—Não se alarme irmã. Não há perigo, mas o seu tédio está
prestes a ter um fim.
Seu olhar caiu sobre Maverk, então ela gemeu quando deslizou
passando para seu companheiro, que sorria.
—Merda! O que eles estão fazendo aqui? — Ela caiu na cadeira
com uma carranca.
Aproximando-se da mesa, Maverk estudou o rosto da mulher
que ele tinha visto pela última vez há um ano. Sentada na taverna
lotada, sua frieza era como um manto invisível, separando-a do
esmagamento da humanidade. Olhos frígidos olhavam para ele em
um rosto inexpressivo.
—Olá, Reya. — Ele sorriu para ela.
—Você está muito longe de casa, bonitão.
—Como você está?
Ela não respondeu e ele sentou-se na cadeira em frente.
Sentado ao lado dela, Garret sorriu para a loira carrancuda.
—Então, meu doce, você sentiu minha falta?
—Como um buraco na cabeça. — Dana retornou com mau
humor.
—Eu vejo que você sentiu. O meu coração se alegra ao saber
disso.
—Continue falando bobagem e eu vou cortar a sua língua fora.
—Você me fere profundamente. — Felizmente, ele apoiava o
queixo em um punho.
—Não tanto quanto eu gostaria. Que diabos você está fazendo
aqui?
Olhando para Maverk, que ainda estava estudando Reya em
silêncio, ele cutucou:
— Você ou eu?
—O quê?
—Diga-lhes por que estamos aqui.
—Oh, sim. — Maverk coçou o queixo.
—Negócios? — Reya perguntou com tédio gelado.
Maverk deu-lhe um sorriso devastador que parecia não ter
qualquer efeito sobre ela.
Ele tinha, só que ela não demonstrava, recusando-se a
reconhecer o leve saltitar de seu batimento cardíaco, quando olhou
para o arrojado comerciante bonito.
—Não, moça, nós fomos enviados para buscá-las.
Dana ficou ereta na cadeira.
—O quê? Quem diabos quer isso?
—Você vai ter que baixar o tom das maldições quando nossos
filhos chegarem. — Garret sorriu para ela.
—Eu não vou ter filhos com você! E fique fora disto.
—Vamos ter filhos. — Ele piscou sugestivamente. —E eu vou
ser uma parte significativa disso.
Incapaz de parar o rubor avermelhado rastejando em suas
bochechas com as suas palavras, ela se virou e nitidamente o
ignorou. Porco arrogante com os seus olhos risonhos e palavras
sugestivas!
Reya não retirou o seu olhar de Maverk quando a moça da
taverna colocou os pratos de comida fumegante diante dela e Dana.
—Os senhores desejam o mesmo? — A moça falou com um
sorriso para os comerciantes.
—Sim, moça, estaria bem. — Maverk deu-lhe um breve aceno.
—Qualquer outra coisa... — Ela parou quando o olhar frio da
guerreira cortou para ela. —Acho que não.
Quando ficaram a sós, mais uma vez, Reya pegou o garfo e
espetou um pedaço de batata.
—Então, bonitão, você foi enviado para nos buscar. Correto?
Ele viu os vermelhos lábios macios perto do garfo.
—De certa forma. — O garfo foi retirado lentamente de sua
boca e seus rins apertaram. —É mais como um pedido.
—Eu vejo. — Uma sobrancelha escura arqueou com curiosidade
leve. —Você vai me dizer de quem é esse pedido que você traz?
—Sua irmã.
Ela espetou mais alimentos.
—Tenia. — Ela balançou a cabeça, pensativa.
—Sim. — Quando ela não disse mais nada, ele perguntou: —
Você não quer saber o que ela pede?
—Eu estou esperando você me dizer.
Ele socou para baixo o ligeiro aumento de aborrecimento.
—Você sabia que ela está grávida?
As sobrancelhas de Dana quase bateram com a linha fina.
—Tenia? Grávida?
—Sim. Seis meses. — Garret respondeu. —Seis e meio, agora.
Reya olhou para Maverk.
—Ela está bem? — Ele balançou a cabeça. —Bom.
Ele não podia acreditar quando ela voltou para a refeição.
—Você não quer saber o seu pedido?
—Eu estou esperando você me dizer. — Seus ombros delgados
encolheram. —Você me procurou. Diga-me ou não.
Seu temperamento normalmente calmo começou a incendiar.
Não eram muitos que eram capazes de despertar sua ira, sua
natureza feliz fazia isso difícil de fazer, mas esta bruxa de cabelos de
fogo nunca deixou de fazê-lo com suas respostas geladas.
—Sua irmã pediu que você estivesse lá para o nascimento de
seu primeiro filho.
—Eu vejo.
A moça da taberna voltou com as refeições dos comerciantes,
mas não se demorou. A tensão na mesa era fácil de sentir.
Os comerciantes trocaram olhares quando Reya continuou a
comer. Dana lançou-lhe um olhar perplexo, mas manteve silêncio.
Finalmente, Maverk disse:
— Vamos embora de manhã.
—Adeus.
Incerto que ele tinha ouvido corretamente, ele piscou.
—O quê?
Seu olhar sobre o rosto acendeu despachando-o.
—Adeus.
—Você não vem? — Garret estava incrédulo.
Ela tomou um gole da caneca de água fria.
—Não agora.
—Quando? — Maverk perguntou, desconfiado.
—Quando eu estiver pronta.
—E quando, exatamente, será isso?
Engolindo o último pouco da água, ela pôs a caneca de volta na
mesa.
—Você não precisa saber disso.
—Então o que eu digo a Tenia? Que você vai voltar quando
estiver pronta?
—Sim. Já acabou, Dana?
Ela encolheu os ombros e empurrou o prato.
—Claro.
—Você não terminou de comer, Dana. — Garret protestou.
—Não tenho fome. Você me fez perder o apetite.
Quando Reya se levantou o olhar de Maverk caiu sobre o laser
no coldre da cintura. Ela estava pronta, como um aviso para entregar
a morte a quem ousasse atacá-la.
Passando por ele, ela foi levemente surpreendida pelo repentino
aperto em seu pulso. Com qualquer outra pessoa ela teria atacado,
mas com ele, ela apenas olhou com desdém gelado.
—Há mais alguma outra coisa?
—Sim. — Ele enfrentou o seu olhar. —A sua resposta não é boa
o suficiente.
—Isso é tudo o que você vai conseguir, bonitão.
Liberando a mão, ele deu um sorriso apertado.
—Então nós vamos ficar por aqui até me dar uma resposta
melhor.
Sem outra palavra que ela foi embora, seguida por Dana.
—Eu nunca pensei que ela fosse agir assim. — disse Maverk
sobriamente.
—Nem eu. Reya sempre foi muito chegada a Tenia e pensei que
ela fosse aproveitar a oportunidade para voltar para o nascimento.
—Acho que vou ter que esperar até que elas estejam prontas
para ir. — De repente, ele sorriu. —O que você diria sobre isso, meu
amigo?
Garret levantou o garfo em saudação.
—Eu vou comer a isso!

No quarto, Reya amarrou a espada em suas costas e pegou sua


mochila.
Dana olhou-a com perplexidade.
—O que você está fazendo?
—Indo embora.
—Mas o que você me diz de Tenia? E o bebê?
Reya espiou pela janela.
—Estou mais feliz por minha irmã do que você jamais poderia
imaginar.
—Então por que não estamos indo para lá?
A mochila foi colocada na varanda.
—Ela vai ficar bem sem mim.
Correndo pelo quarto, Dana pegou o braço dela.
—Ela pediu que você estivesse lá!
—Eu sei.
—Então por que não estamos indo? Você não se importa?
—Eu me preocupo mais do que você jamais vai saber.
—Diga-me por que, então. E não me dê esse olhar de donzela
gelada, pois não funciona para mim.
—Ela vai ficar melhor sem mim, assim como o bebê.
—Eu não entendo.
O silêncio encheu a sala por alguns segundos antes de Reya
abrir a boca para responder, mas não conseguia dizer as palavras.
Pela primeira vez desde que sua líder havia retornado de uma
de suas missões de mercenária, durante os seus anos de fora da lei,
Dana viu a desolação em seus olhos. Havia infelicidade e horror à
espreita neles. Tão rapidamente quanto apareceu, desapareceu e
mais uma vez, eles eram frios e vazios.
—Eu tenho minhas razões. — Reya tocou seu braço. —Mas isso
não a impede de retornar com os comerciantes.
—O quê? Isso é tudo que você vai dizer? Vamos lá!
Reya balançou as pernas sobre o peitoril da janela.
—É tudo que posso dizer. Diga a Tenia que eu a amo. — Ela
pulou para a pequena varanda.
—Maldição! — Pegando sua própria mochila e espada, Dana
saiu pela janela.
—Ruiva teimosa e comerciantes idiotas! Vocês todos acabarão
me matando!
—Onde você está indo?
—Com você, é claro. Você não está pensando em ir a nenhum
lugar sem mim.
—Você não tem...
—Sim, eu vou. Além disso, vai ser chato em Daamen. Tenia não
vai me deixar brigar, de qualquer maneira, nenhum dos homens vai
lutar comigo e as mulheres são muito pequenas. Chato. — Ela sorriu
de repente. —Furtivo é de longe muito mais divertido!
—Dana, — Reya hesitou. —eu não quero que você venha a
menos que queira.
—Você acha que eu quero ser enfiada em uma nave com
Garret? Não me insulte.
—Muito bem, vamos embora.
Elas deixaram a taverna através do beco. Depois de vender os
cavalos de guerra nos estábulos, elas se afastaram do
estabelecimento em discos de viagem.

Os Daamens só perceberam na manhã seguinte que as Reekas


tinham escapado, elas estariam a quilômetros de distância.
—Maldição! — Maverk bateu na barra. —Você tem certeza que
ninguém viu as duas bruxas saindo?
—Desculpe. — O barman levantou as mãos nervosamente. —
Elas deixaram o dinheiro em seu quarto para pagar a hospedagem e
a comida, isso é tudo que eu sei.
Xingando, Maverk caminhou em direção a brilhante luz solar.
Garret endireitou-se de sua posição encostado ao batente da
varanda.
—E agora? Será que vamos voltar e dizer a Tenia que sua irmã
vem quando ela estiver pronta?
—Não. Eu disse que ia esperar até que ela nos desse uma
resposta decente e nós o faremos. Vamos acompanhar essas duas e
obter uma resposta direta delas. Eu quero saber o que está
acontecendo dentro da cabeça da bruxa!
Garret sorriu com aprovação.
—Eu estava esperando que você fosse dizer isso.
—Vamos lá, vamos voltar à nave e ver se podemos encontrar
suas trilhas usando o rastreador viscomm.
Ele estava xingando ainda mais quando percebeu que as
guerreiras haviam usado um dispositivo de bloqueio para manter-se
fora de rastreamento. As moças escaparam por enquanto, mas não,
ele prometeu, por muito tempo.
Capitulo 3
Dana se arrastou ao longo da trincheira em suas mãos e joelhos
até que chegou a sua prima, que estava agachada olhando através
dos binóculos.
—É melhor valer a pena os dinnos, isso é tudo que posso dizer.
Há quatro sangrentos dias que esta batalha está sendo travada!
Reya continuou a pesquisa sobre a fortaleza em ruínas.
—O que você está reclamando agora? Você não pode dizer que
está entediada.
Uma embarcação de combate guinchou com a sobrecarga,
passando e soltando as suas mini-bombas sobre as ruínas da qual o
poder de fogo inimigo foi devolvido. A embarcação foi atingida e
explodiu em um inferno de fogo.
—Dane-se isso tudo para o inferno! — Ela empurrou o binóculo
para o jovem fora da lei ao seu lado. —Eu disse a ele que arma de
combate está nessas ruínas!
—Shaque não pensa assim. — Zac respondeu.
—Shaque é um idiota. — disse Dana.
—Onde ele está? — O olhar de Reya foi para cima e para baixo
na trincheira.
—No abrigo abaixo. — Zac respondeu.
Reya sacudiu a cabeça para Dana e eles fizeram o seu caminho
para baixo da trincheira. Uma vez que as paredes subiram mais
elevadas, se levantou e caminhou ao longo vivamente. Em torno
deles, homens gritaram ordens e corriam em volta e para trás. Alta,
ela podia ver as embarcações de luta, em ambos os lados,
atravessando o céu, e podia ouvi-los explodir um e outro. Um lado
estava protegendo as trincheiras, enquanto o outro protegia as ruínas
da fortaleza. Ambos os lados tinham a intenção de destruir o inimigo
da forma que podia.
As guerreiras entraram no abrigo. Era pouco mais de um
telhado de zinco e os lados com uma abertura em cada extremidade.
Reya olhou para o homem magro e seus dois comandantes.
Uns olhos aborrecidos se arregalaram quando ela entrou com
Dana.
—Reya.
—Eu disse que uma arma de caça estava nessas ruínas.
Shaque balançou a cabeça lentamente.
—Você fez. Eu deveria ter escutado, mas agora é tarde demais.
—Precisamos destruir essa arma. — afirmou Dana.
—Como podemos? Toda vez que eu envio uma nave de
combate para explodi-la, ela é destruída!
—Envie tropas terrestres. — um dos comandantes sugeriu.
—Não é bom. — Reya balançou a cabeça. —Os aviões de caça
do seu lado irão pegá-las.
—Então o que você sugere? — Shaque perguntou
cansadamente.
—Eu vou entrar.
—Vamos. — Dana afirmou.
—É suicídio. — ele se opôs, apesar de seus olhos brilharem.
—Não há escolha. — respondeu Reya. —Dois de nós têm mais
chances de conseguir, do que uma tropa...
Uma forte explosão enviou sujeira chovendo em cima deles.
Gritos encheram o ar e um homem tropeçou com sangue
escorrendo do lado de seu rosto.
—O equipamento do inimigo está rompendo a linhas e tendo
mais acesso direto! Sua arma está derrubando as nossas
embarcações do céu!
Outra explosão abalou, mais perto, lançando todos eles fora de
seus pés. O homem caiu em cima de Reya e ela olhou para cima em
seu olhar fixo. Ela empurrou o corpo dele e ele caiu de lado. A
explosão tinha arrancado a parte de trás da cabeça dele.
Dana ajudou-a a levantar. Silenciosamente elas olharam para
Shaque enquanto ele se levantava trêmulo.
—Dê-me uma arma de contra ataque. — Reya estendeu a mão.
Sem argumento, ele entregou-lhe o pacote contendo os
pequenos explosivos mortais.
—Eu vou mandar os lutadores para liberação de cortinas de
fumaça.
Ela passou as tiras da embalagem sobre sua cabeça e no peito.
Dana a seguiu para fora e juntas elas pesquisaram a trincheira em
ruínas. Zac estava deitado, morto, não longe delas.
Por um breve instante Reya se sentiu velha. Velha, e tão
cansada dessa luta.
Dana tocou seu braço.
—As bombas de fumaça já vão cair. Temos que ir agora.
Seu lapso de concentração desapareceu e a frieza familiar
tomou conta dela, segurando seu coração em um punho gelado. Ela
olhou a área rapidamente, observando à fumaça ondulante e grossa
que caía entre as trincheiras e as ruínas.
A arma inimiga estava atirando descontroladamente, chamas
alaranjadas dançavam na fumaça escura. Naves revidavam nos céus
com os lutadores de Shaque.
—Vamos.
Mergulhando através da fumaça espessa, elas sabiam que cada
passo podia ser o último, cada tiro disparado podia atingi-las e
derrubá-las no seu caminho. Mas, como sempre, não pensavam sobre
isso, elas eram sinceras em suas intenções de parar a arma e acabar
com a batalha.
Não foi difícil encontrar a sua localização. O piscar laranja e o
rugido entregaram a posição. Reya encostou-se contra na parede,
sugando respirações profundas. Acima dela, nas paredes, os bandidos
inimigos estavam pulverizando laser na fumaça grossa, não
percebendo o perigo que estava mais próximo, mas eles
suspeitavam.
—Podemos encontrar uma abertura e entrar, ou podemos jogar
isso ao longo da parede e esperar pelo melhor. — Dana enxugou a
testa com as costas da luva sem dedos.
—Ou podemos fazer as duas coisas para ter certeza. — Reya
sugeriu.
—Vamos juntas; cobrindo uma a outra.
—Sim. Vamos.
Tinha muitos buracos na parede, seria relativamente fácil para
entrar. Escorregaram para dentro e se esconderam atrás de uma
pilha de escombros, quando um grupo de bandidos inimigos passou
por elas.
Reya cutucou sua prima conforme as duas se aproximavam. Em
meio à gritaria e confusão, ninguém percebeu que dois homens foram
puxados para trás da pilha de pedras ou ouviu seus grunhidos, logo
eles estavam inconscientes.
Reya vestiu uma calça cinza e uma camisa branca suja,
puxando o chapéu azul sobre o cabelo e enfiando sua trança para
dentro. Dana fez o mesmo.
Elas caíram no chão para se proteger quando uma das
embarcações de Shaque que passava sobre suas cabeças
pulverizaram a área com fogo laser.
—Bastardos estúpidos! — Dana amaldiçoou quando blocos de
pedra da parede choveram sobre elas. —Eles estão tentando nos
matar?
Reya olhou em volta dos escombros.
—Agora é a melhor ocasião para ir. Mexa-se!
Correndo agachadas através do pátio, saltaram sobre os corpos
e se esquivaram dos bandidos que corriam com firme determinação
para as paredes. Elas derraparam em uma parada contra a porta de
madeira que levava para a grande arma.
Silenciosamente, Reya dividiu os seis dispositivos entre elas.
Dana tomou-os severamente e ambas olharam, uma para outra em
entendimento. Se uma fosse derrubada, a outra continuaria até que a
arma fosse destruída ou ambas fossem mortas.
Reya cuidadosamente abriu a porta.
—Ei, vocês dois!
—Bem, o inferno. — ela murmurou.
Olhando por cima do ombro, Dana respondeu de volta com voz
rouca:
— O quê?
Os olhos do bandido se arregalaram no belo rosto de quem
falava, pois não havia como esconder isso.
—Inimigo! Inimigo para combater... — Ele terminou com um
gorgolejo e ela parou de atirar seu laser.
—Isso está piorando. — Dana declarou o óbvio com as
sobrancelhas levantadas.
Os bandidos voltaram os lasers para as guerreiras. Abrindo a
porta pesada, Reya entrou com Dana em seus calcanhares.
—Maldição! — Dana exclamou quando um feixe de laser bateu
através da porta e por pouco não perde a bota.
—Vamos! — Reya agarrou um punhado da camisa de sua prima
e arrastou-a aos seus pés. —Para as escadas!
Três bandidos se encontraram com elas a meio caminho da
escada.
—Apanhei você bastardo! — O primeiro riu triunfante.
Reya arrancou o boné roubado e sua trança grossa caiu sobre
seu ombro, seus olhos arregalaram.
—Merda! — um rangeu. —São Reekas!
Foi a última coisa que ele disse, quando as guerreiras
dispararam seus lasers, tomando vantagem da surpresa dos
bandidos. Dando um longo olhar para os corpos caídos, saltaram
sobre os bandidos mortos e subiram as escadas. Muito abaixo delas
vinha o som de botas batendo nos degraus de pedra. Outros
bandidos estavam chegando rapidamente atrás delas.
Elas correram até os últimos degraus e irromperam pela porta
de madeira no topo. Dana fechou-a e passou o trinco, efetivamente
bloqueando-a.
Os dois bandidos que manipulavam a enorme arma de caça se
viraram, havia choque em seus rostos.
—Que diabos? — Um chegou a pegar o laser no coldre da
cintura.
—Nem sequer pense nisso. — avisou Dana secamente. —Espero
que os meninos saibam voar.
—O quê? — O bandido de meia-idade empalideceu, seus olhos
estavam fixos sobre o laser apontado para ele, sem hesitação.
—Está vendo essa parede? — Ela acenou com o cano do laser.
—Vocês dois estão saindo por ela e acabou.
—Você está brincando!
Puxando os explosivos do saco, Reya prendeu-os no controle da
arma.
—Não, nós não estamos. Vocês podem ir por cima do muro
voluntariamente, ou a explosão enviará vocês através dela.
Então ouviram o som de alguém batendo na porta de madeira.
—Abre suas putas!
—Não é bom. — Dana apertou os olhos para os dois bandidos.
—Rapidamente, senhores, saltem e acabou.
—Você não pode... — A objeção terminou em um grito quando
ela queimou um buraco em seu boné.
—Pare de andar ao redor e apenas os mate. — Reya ordenou
concisamente. —Então me dê os seus explosivos.
—Eu adoro dar uma mãozinha! — Dana riu quando os dois
bandidos subiram no muro e saltaram, gritando.
—Você está sentindo-se generosa, hoje? — Reya pegou os três
explosivos que sua prima entregou a ela. —Ou seja, dois inimigos
estão fora, quantos estarão a caminho, se não atirar primeiro?
Uma explosão soou e partes da porta de madeira racharam sob
o fogo do laser, vindo perigosamente perto de onde Dana estava.
—Isso pode funcionar de duas formas. — disse ela e abriu fogo
na porta.
Reya franziu a testa para os explosivos que tinha colocado
anteriormente.
—Uh—oh.
—O que quer dizer, 'uh—oh’?
—Esses explosivos são duvidosos. Eu espero que você saiba
como voar, irmã.
—Você não quer dizer... — Dana gemeu. —Claro que não!
—Temo que sim. — Reya deixou cair o saco. —Os
temporizadores estão indo três vezes mais rápido. Toda esta área vai
explodir em trinta segundos, em vez de cinco minutos.
Com uma última explosão de fogo de laser na porta para deixar
os seus perseguidores para trás, as guerreiras passaram para a parte
superior da parede. A porta finalmente cedeu sob o fogo, quando o
laser aumentou e os bandidos chegavam através da porta.
—Lá estão elas! Fogo!
Reya e Dana saltaram. A sensação de queimação disparou no
ombro de Reya, mas ela não tinha tempo para se preocupar com
isso. O chão veio correndo para cima e, instintivamente, enrolou-se
em uma bola, batendo na grama dura e rolando para parar um
segundo mais tarde. Cambaleando em seus pés, ela viu sua prima
começar a correr mancando logo atrás dela.
—Corra! Rápido, Reya! Corra!
Fogo inimigo choveu em torno delas e ela agarrou Dana,
deslizando o braço em volta de sua cintura e apoiando-a em uma
corrida incrível.
Elas não tinham ido muito longe quando uma grande explosão
rugiu e pedra, metal e homens voaram para o ar em um arroto de
fogo e fumaça.
A força do golpe impulsionou as guerreiras para frente e elas
caíram no chão, cobrindo a cabeça com seus braços. Vagamente
ouviram a embarcação de Shaque disparando sobre suas cabeças e,
de repente, as tropas de seu terreno foram rompendo a cortina de
fumaça.
Agora que a grande arma estava destruída, as ruínas da
fortaleza foram tomadas por Shaque.
Reya e Dana sentaram-se lentamente e viram que a batalha
começou, numa última tentativa desesperada para decidir o
vencedor.
Enquanto ela observava o enxame das tropas de Shaque ao
longo da fortaleza em ruínas, como formigas raivosas na carne, uma
imagem veio espontaneamente à mente de Reya. No meio da
fumaça, cheiro de fogo e carne queimada, ela pensou nos olhos
castanhos alegres em um rosto bonito e uma boca marcante rindo.
Maverk. Ele estava lá fora, procurando por ela? O que pensaria se a
visse agora, vestida com a roupa de um bandido morto, coberta de
fuligem, poeira e sangue? Será que ele sentiria nojo? Desprezo?
—Reya?
Momentaneamente confusa, ela piscou. Que diabos ela estava
fazendo, pensando no comerciante Daamen agora?
—Você está sangrando. Você foi atingida no ombro. — Dana
olhou para ela com os olhos avermelhados. —Sente-se para que eu
possa verificá-la.
Acabando com a imagem mental do rosto de Maverk, ela fez
como ordenado, depois de primeiro descartar as roupas emprestadas.
—Ferida de laser. — Sua prima franziu a testa e sondou com
cuidado. —É profundo, mas eu acho que ficará bem - utilizando uma
tira rasgada da camisa envolveu a ferida. — Isso vai mantê-la por
enquanto.
Quando ela terminou, Reya inspecionou o tornozelo de sua
prima e anunciou:
— Torcido. Você teve sorte.
—Sorte? Dói!
—Não seja como um bebê. Aí vem o médico. Você quer que ele
olhe isso?
—Só se eu quiser morrer.
O pequeno e magro médico veio ofegante, com Shaque em
seus calcanhares.
—Vocês guerreiras fizeram isso! — Shaque esfregou as mãos
alegremente. —Graças a vocês, a batalha foi vencida por mim!
—Sem brincadeira. — Dana disse secamente.
Seus olhos caíram sobre o ombro de Reya, fixos na faixa
sangrenta.
—Você foi ferida?
—Apenas um arranhão. — Em pé, ela ajudou Dana a levantar.
—Bom muito bom. — Seu olhar mudou para a fortaleza onde
todos os sons da batalha tinham parado.
As Reekas trocaram olhares irônicos. Agora que a luta foi
vencida, o seu interesse no seu bem-estar tinha acabado.
—Pague-nos e nós iremos embora. — Reya disse.
—Hmm? Oh, encontre Zac, ele vai buscá-lo para você.
—Ele está morto, nas trincheiras.
—Oh, está certo. Muito bem, volte para as trincheiras e eu vou
buscá-lo para você.
—Muito gentil da parte dele. — murmurou Dana, e seguiram
Shaque em ritmo mais lento devido ao seu mancar.
As trincheiras estavam desertas, exceto pelos cadáveres. Ele
entrou no abrigo e pegou um pequeno saco em uma caixa de
madeira, debaixo da mesa, entregando-o para Reya.
—Espere um minuto. — Dana agarrou seu braço.
—O que é isso?
—Apenas aguarde enquanto ela confere.
—Você não confia em mim?
Reya olhou para ele.
—É claro. Você não tentaria nos enganar, não é, Shaque?
Ela olhou para ele com seus olhos gelados.
—Claro que não.
—Então você não vai se importar em esperar, enquanto eu
verifico o dinheiro, depois nós seguiremos o nosso caminho.
Ele sorriu com firmeza.
—Vai ser um prazer.
O dinheiro estava todo lá, como ela sabia que estaria. Ninguém
ousava enganar as mercenárias Reekas, mas não confiava em
ninguém, ela nunca baixava a sua guarda.
Elas tomaram o seu caminho não muito tempo depois, uma de
suas naves de batalha as pegou e transportou para longe dali.

Sentados um diante do outro na tosca mesa de madeira da


pequena taverna vazia, os comerciantes Daamen sombriamente
consideravam suas canecas de cerveja.
—Bem, esta é a segunda semana e não estamos mais perto de
encontrá-las. — Garret suspirou.
—O piloto da embarcação do planeta disse que levou Reya e
Dana para fora daqui a uma semana. — Maverk esfregou os olhos
cansados. —Nós só chegamos esta manhã, meu amigo. Vamos olhar
em volta, em breve.
—Você acha que há alguma verdade no boato de que uma
batalha foi travada a noventa quilômetros daqui?
—É verdade, filho. — O idoso dono da taverna apareceu na
mesa. Ele entregou um prato de sanduíches, que foi pedido antes
pelos comerciantes. —A batalha não terminou há muito tempo.
—Será que duas guerreiras Reekas estavam lá?
—Agora eu não posso responder. — Ele olhou para fora da
janela de vidro sujo nas proximidades. —Você poderia perguntar-
lhes, pois elas estão chegando agora.
Ele se afastou e Maverk sorriu.
—Ah, há! Nós as encontramos e você estava pronto para
desistir!
—Não, eu não estava! — Garret se opôs com indignação. —Eu
estava um pouco desanimado.
—Bem se alegre, eu ouvi seus passos na varanda.
—Vamos levantar-nos e cumprimentá-las?
—Não, acho que vou deixar as moças nos descobrirem por si
mesmas. — Os olhos de Maverk brilhavam de antecipação.
Garret trocou de assento para que pudesse se sentar ao lado de
Maverk e ver a porta.
Quando ela se abriu e as Reekas entraram, os sorrisos
desapareceram de suas faces. Descrentes, eles viram as saias e
coletes sujos de fuligem, manchados de sangue seco respingado
sobre eles, poeira e sujeira presa às suas peles curtidas. Dana estava
mancando e Reya tinha um curativo ensanguentado em seu ombro.
Elas caminharam em linha reta até o bar e deixaram as suas
mochilas caírem no chão empoeirado.
—Duas camas. — Reya disse ao dono da taverna. —Onde estão
os chuveiros?
—E duas canecas de água fria. — acrescentou Dana
ansiosamente.
Ele despejou a água e empurrou a canecas geladas sobre o bar.
Elas levantaram sedentas as canecas aos seus lábios.
—Dois quartos com uma cama em cada, no andar de cima,
números dois e quatro. Banheiro entre eles. — Ele deslizou duas
chaves através do bar. —Dois senhores estão perguntando por vocês.
Reya baixou a caneca.
—Onde eles estão?
—Lá. — Ele apontou o polegar para o final da sala.
Ela se virou e congelou no local. Dana engasgou e cuspiu a
água quando viu os dois gigantes caminhando tristemente para
frente.
—Bem, o inferno. — Reya colocou a caneca sobre o bar.
—Maldição! — Dana limpou a boca com as costas da sua luva
empoeirada. —O que eles estão fazendo aqui?
Reya não respondeu, inclinando-se para pegar sua mochila. Ela,
então, ajeitou para pegar as chaves fora da barra. Virando-se,
começou a subir as escadas, sua caminhada era firme e sem pressa.
Dana andou atrás dela, então ela xingou cruelmente quando
seu tornozelo ferido bateu em sua mochila esquecida. Ela agarrou a
barra para não cair.
Ao vê-la se debatendo, Garret correu para frente e rapidamente
virou-a em seus braços, embalando-a contra o peito.
—Deixe-me ajudá-la, moça.
—Ponha-me para baixo, idiota!
—Não seja tão teimosa.
Voltando-se para a comoção, o olhar de Reya caiu sobre sua
irmã guerreira lutando nos braços musculosos do comerciante.
—Ela não quer sua ajuda.
Dana empurrou seus ombros.
—Eu vou bater sua inspiração para fora em um minuto!
—Você tem duas opções. — ele informou a ela. —Ou nos meus
braços ou sobre o meu ombro.
—Maldito seja! — rugiu ela, sabendo por experiência do
passado que ela não era páreo para o Daamen de maior força. —
Reya!
Deixando cair à mochila, Reya andou para frente, a queima de
seu ombro incomodando por um momento.
—Eu estou avisando você apenas uma vez, comerciante,
coloque-a para baixo. Agora.
Capitulo 4
Segurando a mochila de Dana na mão, Maverk ficou ao lado de
seu amigo.
—Ou que, Reya?
—Eu não tenho escrúpulos em brigar com você, bonitão.
Escrúpulo nenhum.
—É mesmo? — Seu olhar pairou sobre a guerreira
preguiçosamente antes de retornar para enfrentar o seu olhar hostil.
—Ambas estão feridas e no final das contas, você está pronta para
cair. Quanto sangue você perdeu?
—Isso não é de sua conta.
—Será que você quer cair aqui? Tenho certeza que Tenia não
gostaria que eu deixasse a sua irmã deitada em uma poça de seu
próprio sangue no chão de uma taverna.
—Sim. — Garret acrescentou. —O sangue está vazando por
baixo da bandagem em seu ombro. Sua luva está embebida com ele.
Dana parou de se debater e olhou para ela de perto, com o
rosto manchado de fuligem e carrancudo de preocupação.
—Droga, Reya! Por que você não me contou?
—Porque eu não fiz. Estou bem.
—Está bem, não é? — Maverk a observava de perto. —Então
por que você está balançando?
—Se você está tão preocupado, bonitão, nos deixe em paz para
que possamos nos limpar e descansar.
—Desculpe moça, não posso fazer isso. O que Tenia diria...
—Tenia não está aqui.
Observando a preocupação nos olhos de Dana, quando viu o
sangue pingando no final da luva de Reya e viu sua prima balançar
levemente, Garret perguntou em voz baixa:
— Você quer que ela lute contra nós na sua condição?
—Se você me colocar para baixo...
—Eu não vou fazer isso. — Seus braços a apertaram. —Você
está mancando e eu vou levá-la para seu quarto, com ou sem luta.
Mas você consegue olhar honestamente para a sua irmã guerreira e
deixá-la lutar contra nós agora?
—Coloque-a para baixo, Garret. — Reya ordenou.
Ele manteve o olhar em Dana.
—Você pode?
Com uma maldição silenciosa ela olhou para Reya.
—Está tudo certo, irmã. As dores no meu tornozelo são maiores
do que eu pensava.
—Dana...
—Honestamente. Agora podemos subir o inferno lá para cima
para que eu possa olhar a sua ferida?
Por uns longos e tensos cinco segundos Reya olhou fixamente
para ela, antes de assentir abruptamente e inclinar-se para recuperar
a mochila.
Maverk já estava lá antes que ela pudesse fazê-lo, chicoteando-
a para fora, debaixo de sua mão. Endireitando-se, ele olhou para ela
com seriedade.
— Conduza o caminho.
Isso a provocou sem fim, apesar de sua raça ser alta e
normalmente elevava a cabeça e ombros acima da maioria dos
homens, os comerciantes Daamens eram ainda mais altos. O topo da
cabeça dela ficava ao nível do queixo de Maverk e sua força, de
longe, ultrapassava a sua própria. O fato era que os Daamens eram
mais do que páreo para as Mulheres Guerreiras Reeka em combate
desarmado, por sua altura, largura e seu amor a luta. E ela estava,
de repente, muito cansada para cuidar de Dana e tentar combater
Maverk e Garret.
Ela, provavelmente, acabaria por cima do ombro do
comerciante loiro e levada para o seu quarto.
Decidida a manter seu orgulho intacto, ela se virou e caminhou
para a escada no canto, subindo dois degraus de cada vez.
Maverk a seguiu, Garret trazendo Dana em seus braços, seguia
atrás deles. Maverk ficou aliviado quando ela optou por não lutar,
pois, embora ele soubesse que ia ganhar facilmente, não queria
machucá-la mais do que ela já estava.
A lesão doía, ele sabia, pois enquanto muitos não perceberiam,
ele a tinha conhecido por tempo suficiente para notar que segurava
rigidamente o lado ferido.
Abrindo uma das portas dos dois quartos alugados, Reya entrou
com cautela, seu olhar vasculhando em torno e rapidamente andou
ao longo dele, parando em um ponto da janela. Os quartos estavam
ao longo da frente da taverna. Se necessário, elas poderiam sair,
subindo pela janela e varanda, em seguida, pulando para baixo para
a estrada.
Virando-se, ela encontrou Maverk atrás dela estendendo a sua
mão.
—Dê-me a chave para o quarto de Dana e Garret vai cuidar
dela.
Ela desviou o olhar para onde Garret estava com sua prima em
seus braços. Ao aceno de Dana, entregou a segunda chave e ele saiu
com seu amigo.
Foi com alívio que Reya fechou e trancou a porta atrás dela,
caindo contra ela momentaneamente. Ela não queria que Dana
soubesse sobre as suas feridas. Ela empurrou as duas sem piedade
para partir e chegar ao assentamento. Os aviões de caça pousaram a
450 quilômetros de distância da fortaleza arruinada, tal como foi
acordado, usando os discos de viagem e viajando durante a noite elas
cobriram a distância rapidamente, parando apenas para descansar o
tornozelo de Dana. Mas pelo menos agora podiam descansar sem a
preocupação de que inimigo dos bandidos buscasse vingança. A
menos que elas fossem realmente azaradas, ela estimava que
tivessem dois ou três dias para recuperar suas forças antes que
qualquer um dos bandidos vencidos chegasse ao assentamento. Se
tivesse algum.
Normalmente, elas estariam bem longe da área por este tempo,
mas o tornozelo lesionado de Dana a fez viajar duro e seu próprio
ombro latejava e queimava. Era muito ruim que aquele idiota do
médico de Shaque fosse tão desajeitado.
Reya tirou roupa limpa da mochila e fez seu caminho para o
banheiro. Ela ia ver seu ombro e limpar, em seguida, ia resgatar sua
prima de Garret, que agora devia, provavelmente, estar proclamando
o seu amor eterno por ela e deixando-a louca.
Sacudiram a maçaneta.
—Reya? — Maverk chamou. —Abra a porta.
Ignorando-o, ela fechou a porta do banheiro, garantiu que a
porta contígua ao quarto de Dana também estivesse trancada. Pelo
menos poderia tomar um banho em paz e com tranquilidade, sem
medo de ter que enfrentar os comerciantes.
Garret assistiu Maverk espreitar longe da porta trancada e ir
para as escadas. Sorrindo, ele entrou no quarto ao lado de Reya,
tendo uma Dana suja de fuligem em seus braços, tão facilmente
como se ela fosse uma criança. Chutando a porta para fechar, com o
salto de sua bota, ele andou até a cama e a sentou.
Imediatamente ela começou a se levantar e ele colocou a mão
no ombro dela, empurrando-a de volta para baixo, na cama.
—Eu preciso verificar Reya. — Ela franziu as sobrancelhas para
ele.
Ajoelhando-se diante dela, ele estendeu a mão para a bota
empoeirada.
—Maverk vai cuidar dela, moça, enquanto eu cuido de você.
—Vou cuidar de mim mesma!
—Agora não, meu amor. — Ele sorriu para ela. —Não há
necessidade de fazer isso enquanto eu estou aqui.
—Cai fora demônio! — ela disse rudemente. —Eu quero um
banho!
Ele inclinou a cabeça ao som do chuveiro ligado no quarto ao
lado.
—Eu diria que a sua prima está tomando banho. — Ele riu para
ela. —Você é tão bonita quando está irritada. Seus olhos cospem fogo
e você franze os lábios.
Ela enviou-lhe um olhar fulminante.
—E você é um pote cheio de mer... — Suas palavras foram
cortadas com um grito quando, com os olhos brilhando, de repente,
ele se inclinou para frente e apertou os lábios contra os dela, suas
mãos sobre seus braços a puxavam para mais perto.
Ela lutava com as mãos empurrando sem eficácia em seu peito.
Devido à falta de espaço entre eles, ela estava sem espaço para
chutá-lo. Então percebeu como macios, quentes e sensuais eram os
seus lábios, quão bom o seu beijo era, como...
Maldição! Que diabos havia de errado com ela? Seus olhos se
arregalaram em descrença com seus próprios pensamentos traidores.
Os lábios de Garret se afastaram dela e ele sorriu para a
expressão em seu rosto.
—Como daquela vez, não é?
Seus olhos brilhavam com raiva.
—Seu filho da puta toque-me novamente e eu...!
—Vai me matar, sim, eu sei, mas qual é o caminho a seguir! —
Em pé, ele caminhou até a porta fechada e pegou a mochila. —Você
tem algumas ataduras de reposição aqui?
—Para quê? Para amarrar você?
—Não seja assim, meu amor. Para o seu lindo tornozelo, é
claro.
—Não até eu ter o meu banho! — ela rosnou. —E eu vou cuidar
do tornozelo!
—Agora, qualquer um que a ouvisse, pensaria no quanto é
ingrata comigo por eu ter proposto cuidar de você. — Ele sorriu e
incrivelmente, conseguiu ser ainda mais bonito e bem-humorado. —
Nós não podemos ter isso. Será que outro beijo adoçaria a sua
disposição, meu amor?
Através da porta, Reya podia ouvir a sua prima xingando e ela
não pode deixar de sorrir um pouco. Embora não conseguisse
entender a conversa, ela não tinha dúvida de que ele irritou-a. Dana
era volátil e mal-humorada, na maioria das vezes. Num campo de
batalha, era uma das mais ferozes guerreiras e com o pensamento
mais lógico que já tinha visto. Sim, em uma batalha ela era uma
verdadeira guerreira. Em uma discussão, era impetuosa com uma
língua irritadiça.
A sensação de ardor trouxe sua atenção de volta para o ombro.
Junto com a sujeira e fuligem que escorreu com a água para o ralo,
corria também uma fina corrente carmesim.
A ferida estava sangrando. Desajeitadamente ela amarrou uma
toalha em seu corpo para tentar conter o fluxo do sangue, enquanto
se secava e se vestia rapidamente. Seus cabelos caíam em cachos
úmidos e rapidamente ela penteou o emaranhado e puxou-o por cima
do ombro não lesionado. Puxando a toalha, ela virou as costas para o
pequeno espelho rachado sobre a pia. Esticando o pescoço, tentou
olhar por cima do ombro para ver como a ferida estava.
Não muito bem. Tinha uma aparência crua, a pele ao redor
estava vermelha. Uma faixa de pele enegrecida permanecia em um
lado.
—Droga. —murmurou, sabendo que teria que pedir a Dana para
cortar a pele morta, antes que infeccionasse e a envenenasse ao
entrar na sua corrente sanguínea.
Descalça, ela saiu do banheiro, segurando a toalha
desajeitadamente sobre a ferida. Entrando no quarto, parou e olhou
para o homem, calmamente esperando em pé junto à janela.
Vendo o seu olhar indo para a porta fechada e de volta para
ele, ele levantou uma chave entre o polegar e o indicador.
—Os donos das tavernas têm sempre outras chaves, moça, mas
foi uma boa tentativa.
—O que você quer Maverk?
Ele ergueu a outra mão e ela viu a bolsa de primeiros socorros.
—Felizmente, o proprietário também tem isso.
—Bom para ele. Deixe-a sobre a cama e tome o seu caminho
para fora.
—E como é que você vai cuidar dessa ferida, hmm? Seus braços
não são feitos de borracha, você sabe.
—Você notou. — Suas palavras quase pingavam pingentes de
gelo. —Dana vai me ajudar.
—Ela está tendo seu tornozelo atendido por Garret.
—Ela estará livre em breve. — Reya sentiu a umidade escoar
através da toalha e moveu-a ligeiramente, enrijecendo com a
sensação de queimação.
—Sente-se na cama e deixe-me ver esse ferimento.
—Eu estou bem.
Impacientemente Maverk jogou os primeiros socorros na cama.
—Em uma batalha de força entre nós, Reya, você será a
perdedora. Além disso, com o que você está tão assustada? Comigo?
—Você? — As sobrancelhas subiram arrogantemente.
—Sim, eu. Você não quer que eu cuide de sua ferida. Talvez
esteja com medo que eu vá machucá-la?
O desprezo amarrava as suas palavras.
—Isso nem sequer merece uma resposta, bonitão.
Seus olhos entraram em confronto, nenhum dos dois cedeu, até
que ele perguntou:
— Você pode se dar ao luxo, nesta zona de batalha de foras da
lei, de perder mais sangue?
Ele falou a verdade e ela tinha que admitir isso. Mas a guerreira
tinha que superar os sentimentos pessoais e com um breve aceno de
cabeça, foi até a cama.
Ele a viu sentar na borda e girar ao redor, até ficar de costas
para ele. Sentada de pernas cruzadas, ela puxou a toalha longe e ele
sugou o fôlego ao ver a ferida irritada que marcava a carne macia.
—Você vai ter que cortar fora a parte escurecida. — Virando a
cabeça, ela olhou para ele por cima do ombro. — Será que você pode
lidar com isso, bonitão?
—Você pode?
—Não se preocupe comigo. — Ela enfrentou a parede
novamente.
Esse era todo o problema, ele pensou. Reya não quer que
ninguém se preocupe com ela. Na verdade, parece determinada a se
isolar de qualquer pessoa que se preocupe com ela.
—Não há anestesia. — Ele pegou a tesoura.
—Basta ir em frente.
Suas entranhas apertaram quando ele cortou uma tira de pele
negra.
—Certifique-se de cortar até a pele boa. — ela instruiu sem
emoção.
Será que a donzela de gelo não tem sentimentos? Cada corte
que fazia, ele sentia, enquanto ela ficava sentada inabalável.
Com alívio, ele colocou a tesoura para baixo e eliminou a pele
enegrecida antes de enxugar e colocar o antisséptico na ferida.
Ela sentia cada pedacinho disso, a dor do corte e o aguilhão da
loção, mas não foi a primeira vez que ela tinha sido tratada sem
analgésicos. Ela duvidava que fosse a última. No entanto, aqueles
que a tinham assistido com seus ferimentos, nenhum havia afetado-a
assim.
Para um homem enorme, o toque de Maverk era
surpreendentemente gentil; seus dedos eram firmes quando ele
aplicou o remendo autoadesivo.
Seu batimento cardíaco acelerou com o calor das mãos dele em
seus ombros. Perda de sangue, ela tentou tranquilizar-se. Em nada
tinha a ver com a força dura dele atrás dela, única, o aroma limpo de
macho que flutuava em seus sentidos quando ele se inclinou para
frente para dizer a ela:
— Concluído.
—Já era tempo! — ela retrucou, virando ao redor e se
levantando. —Adeus!
Calmamente ele reembalou os primeiros socorros.
—Você é muito boa nisso, não é?
—O quê? — Tentando recuperar a compostura, ela se moveu
para a janela.
—Em dizer adeus, ou não dizer. Fugir como um ladrão na noite
é o que você é boa, para ser mais preciso.
—Não se esqueça de ser boa em matar, bonitão. Sou excelente
nisso.
Carrancudo, ele deixou cair os primeiros socorros na cama.
—Você parece orgulhosa disso. Não é?
Sem olhar para ele, puxou a pesada cortina de renda
ligeiramente aberta em seu lugar.
—O orgulho vem antes da queda, bonitão. Somente um tolo se
orgulha em fazer coisas perigosas também.
—Então você admite os perigos que você passa?
—Eu nunca neguei.
—Então, por que fazê-lo?
—Por que não? — Ela reagiu, com tom entediado.
Ele se aproximou.
—Você prefere enfrentar o perigo a sua própria irmã?
A cortina caiu de volta no lugar e ela se virou para olhar para
ele.
—Essa é a minha decisão, bonitão.
—Diga-me por que. — ele pressionou os olhos começando a
escurecer com uma mistura de aborrecimento e frustração.
—Isso é da minha conta, não da sua.
—Talvez eu vá fazer isso da minha conta.
Seu ombro queimou e ela sentiu cansaço, que tentou esconder
desesperadamente do comerciante. Não devia mostrar nenhuma
fraqueza. Esta era uma regra que seguiu por muito tempo para
descartar agora.
—Você não pode. — Ela começou a passar por ele.
—Então eu talvez vá trabalhar para mudar sua mente. — Um
braço musculoso deslizou em volta da sua cintura. —Começando com
isto.
Reya se sentia tão cansada que não reagiu no segundo em que
ele a agarrou. Antes que percebesse a sua intenção, ela foi puxada
em seus braços e ele se apossou dos lábios dela.
No primeiro choque dos seus lábios tocando sua boca, ela
instintivamente atacou com seu joelho. Mas não conseguiu porque ele
apertou-a contra a parede, fora de seu equilíbrio, uma de suas mãos
entrelaçadas em seus cachos para segurar a sua cabeça e a outra
mão em concha sobre a ferida para impedi-la de tocar a parede.
Ela recuperou o equilíbrio, mas antes que pudesse trazer o
joelho para cima em sua virilha, ele se inclinou sobre ela,
empurrando duro com o corpo maior, pressionando contra o dela
mais suave, suas longas pernas prendendo as dela.
Todos os pensamentos de bater-lhe desvaneceram quando se
deu conta de seus lábios se movendo firmemente contra os dela, tão
quentes e sensuais, habilmente persuadindo uma resposta. Verdade,
ele segurou-a prisioneira em seus braços, algo que nenhum homem
jamais fez, mas não era ameaçador ou desagradável.
Sentindo o esmorecimento da sua resistência, seu poder sobre
ela suavizou, deslizando seus dedos pelos cachos úmidos que se
revoltaram por cima do ombro. Nenhum homem ousava forçar-se
com uma guerreira Reeka e a maioria evitava até um olhar, mas ele
não. Seu comportamento frio o atraiu; fazendo-o ansiar para derreter
o gelo que a cercava e revelar a paixão que ele estava certo que
queimava profundamente dentro dela.
Uma parte dessa paixão deslizou através das paredes frias do
seu controle e ele sentiu o abrandamento de seus lábios, a tensão
desapareceu de seu corpo quando ela se inclinou contra ele. Suas
mãos agarraram seus ombros largos, sua boca se abriu com um
gemido rouco.
Sua língua afundou nas profundezas aquecidas de sua boca,
saboreando a doçura e ele aprofundou o beijo, sua masculinidade
endurecendo e seu desejo crescendo para combinar com o dela.
A mão esquerda dele abandonou seu cabelo e deslizou para
baixo, para seu seio e ela sentiu a palma pressionando e amassando
levemente através de seu colete. Um incêndio piscou através de suas
veias, uma agitação na boca do estômago que serpenteava seu
caminho para baixo em direção ao lugar secreto entre suas coxas.
Maverk quebrou primeiro o contato, fechando os olhos, com
respiração instável, a testa encostada na dela.
—Moça, você faz meu sangue ferver!
As palavras romperam o véu nebuloso que obscurecia sua
mente tão maravilhosamente.
—O quê?
Ele olhou para ela com um sorriso caloroso.
—Você me faz sentir como nenhuma outra já conseguiu.
A paixão fugiu e ela o empurrou com força, a queima no ombro
fazendo-a estremecer internamente.
—Fique longe de mim! Eu não preciso de você!
Surpreso, ele a liberou.
—O quê?
Com as pernas tremendo Reya passou por ele, parou no meio
do quarto, então se virou lentamente, com cuidado para enfrentá-lo.
—Saia.
A ternura foi substituída com uma carranca.
—Você não pode negar suas respostas para mim, Reya. Você
me quer.
—Eu não preciso de você. — Ela apontou para a porta com um
dedo trêmulo. —Agora saia.
Seus olhos se estreitaram.
—Você está enganada, moça. Todo mundo precisa de alguém,
mesmo você.
—Especialmente eu, não preciso. — Ela engoliu quando
manchas escuras começaram a piscar diante de seus olhos. —Eu não
preciso de ninguém. Vou dizer a você só mais uma vez, bonitão. Saia.
A qualquer minuto ia cair, ela podia sentir isso. Mas não na
frente de ninguém, por favor. Não diante deste homem que a fez
sentir coisas que ela não queria.
Vendo-a vacilar, ele saltou para frente, um braço envolvendo
em torno de sua cintura.
—Deixe-me! — ela sussurrou, com uma mão sobre os olhos. —
Eu não preciso de você!
Então tudo ficou escuro.
Apanhando-a, Maverk embalou-a em seus braços e levou-a
através do quarto para a cama, colocando-a com cuidado sobre ela.
Colocando-a parcialmente ao seu lado, ele apoiou um travesseiro em
suas costas para impedir que o ombro ferido tocasse no colchão.
Ele checou a respiração e sentiu seu pulso, que batia forte.
Perda de sangue, infecção e cansaço da batalha, tinham combinado
para enfraquecê-la, um estado que nunca tinha visto antes de agora.
Ela sempre tinha sido tão calma e fria, sem recuar ou buscando
repouso. Vê-la em um estado tão vulnerável levantou um sentimento
de proteção nele.
Ele estudou o rosto pálido, o comprimento e espessura dos
cílios escuros fazendo meias-luas em suas maçãs do rosto altas, seus
suaves lábios entreabertos. Cabelos grossos enrolados em todo o
travesseiro e para baixo por cima do ombro em selvagem vermelho-
ouro.
Delicadamente, ele esfregou o polegar sobre a suavidade do
seu lábio inferior cheio.
—Moça, você pode pensar que não precisa de mim, mas agora
não está em condições de discutir. O fato é que agora precisa de
mim. — Ele delicadamente retirou um cacho perdido em volta de seu
rosto. —E eu estou aqui por você.

Depois de descobrir o que aconteceu com sua prima, Dana


queria ficar com ela, mas Garret ordenou que voltasse para a cama.
Os dois Daamens observaram as sombras escuras de cansaço e dor
sob seus olhos e eles queriam ter certeza que ela não ia acabar como
Reya.
—Quando ela chamar por você, eu venho buscá-la. — Maverk
prometeu.
—Você não pode me dizer o que fazer! — Dana passou por ele,
mancando dolorosamente.
Garret pegou o braço dela.
—Reya precisa descansar e você também.
—Droga, eu sei que vou precisar de um maldito descanso, mas
depois que eu ver a sua recuperação!
—Isso é loucura moça, nós estamos aqui para cuidar dela e de
você.
—Nós não precisamos de seus cuidados!
—Você está quase dormindo onde está, e se continuar
empurrando-se pelo caminho como Reya fez, vai acabar totalmente
exausta como ela. Então estará à mercê de qualquer bandido que
procura uma matança fácil. É isso que você quer?
—Sou uma guerreira e mercenária, Garret, e vocês são
comerciantes. Quem você acha que sabe mais sobre isso?
—Obviamente nós, vendo como você não está pensando direito.
— Vendo as faíscas de raiva em seus olhos, acrescentou. — Eu não
posso acreditar que você irá permitir que o orgulho tolo possa
superar o bom senso e arriscar a vida de sua prima.
—Eu nunca arriscaria sua vida!
—Seja honesta, Dana. Se uma de suas outras irmãs guerreiras
estivesse aqui agora, não teria de ir para a cama e permitir que ela
cuidasse de Reya?
Condenado maldito, por ser tão lógico. Olhando do rosto pálido
de sua prima, deitada em cima da cama e para Maverk, Dana
mancou para frente e enfiou um dedo duro no seu peito.
—É melhor você tomar conta dela direito, comerciante, ou eu
vou estripar-lhe e deixar que os comedores de carniça façam uma
festa em suas entranhas.
—Vou guardá-la com a minha vida.
—Eu espero que sim, ou viver não vai valer a pena. —
Ignorando o braço oferecido por Garret, ela saiu mancando do
quarto.
Ele a seguiu pelo corredor. Na porta de seu quarto, ela hesitou
e olhou para ele em pé fora do quarto de Reya, observando-a com
preocupação.
—Algo errado, moça? Posso te ajudar em alguma coisa?
—Não. — Ela mordeu o lábio inferior, hesitou novamente, então
disse suavemente. —Prometa-me que vai ficar comigo e me chamar
se Reya precisar.
Seu rosto suavizou em um sorriso.
—Por minha honra, Dana.
Com um aceno brusco, ela entrou no quarto.
Uma vez que a porta estava fechada, Garret pegou uma cadeira
e colocou-a diretamente na frente de sua porta, então se sentou e
esticou as pernas longas. Ele queria ter certeza que a moça loira
ardente tivesse o descanso que precisava, bem como manter um olho
em seus amigos. Em um lugar como este, no Setor Outlaw, era sábio
manter um olho em todos os inimigos que foram feitos e as Reekas
tinham feito muitos, enquanto lutavam pelos senhores distritais. E
seus inimigos eram os inimigos dos Daamens. Só um tolo não estaria
em guarda, neste momento.

Puxando uma cadeira ao lado da cama em que Reya dormia,


Maverk sentou-se para monitorar seu progresso.
O sol afundou e a lua se levantou. Ele ligou uma lâmpada
pequena no canto do quarto, permitindo uma luz fraca para
preenchê-lo. Verificando-a mais uma vez encontrou-a dormindo
pacificamente, então se sentou novamente na cadeira.
Várias horas depois, ele acordou com os gemidos torturados.
Capitulo 5
Instantaneamente alerta, ele inclinou-se para frente e pousou a
mão em sua testa, sentindo o calor de sua pele. Ela estava ardendo
em febre, agitando-se aflita na cama.
—Tão quente. — Os olhos estavam fechados, a testa franzida.
—Parece o deserto... naquele dia...
Correndo para o banheiro, Maverk voltou com um pote de água
fria e duas toalhas de rosto. Colocando o pote em cima da mesa
pequena ao lado da cama, ele sentou na cadeira. Espremendo um
dos panos, gentilmente enxugou o rosto corado.
—Dia terrível...
—Isso é correto moça. — ele disse suavemente. —Você está
aqui agora, não no deserto.
—Deserto. O vento sopra e está tão quente. Há areia em
minhas roupas e meu cabelo... tão quente, suja e suada... mas temos
que continuar...
Ele limpou a garganta e os ombros, por um minuto a frieza
parecia acalmar a jovem guerreira, mas então seu rosto tornou-se
rígido.
Levantou o braço, com os dedos ligeiramente flexionados.
—Não é o som do vento... não, Starn, não é o vento. Choro.
Gritos. É o som de agonia... —Ela se agitou sem descanso, sua
respiração vinda mais rápida.
—Shiii. Descanse moça, descanse.
—Há algo lá fora! — Seus olhos abriram-se, em seguida,
estreitaram-se contra o brilho de um impiedoso sol. —Algo está lá
fora e se aproximando!
Sua voz o gelava, o mau presságio nela fazendo que o cabelo
na parte de trás de seu pescoço subisse.
—Starn, pegue o comandante. Mexam-se!
De repente, Maverk percebeu que Reya estava revivendo uma
batalha que ela lutou, em sua mente confusa estava repetindo as
cenas.
—Já acabou, moça. — Ele alisou o cabelo para trás na testa
quente. —Você está segura.
—Eu gostaria que isso acabasse... os gritos pararam... o que é
isso, Starn? Ele quer que nos movamos à frente? — Ela franziu a
testa para a parede distante. —Muito bem, passe a ordem... esta
areia, coçando...
Ele continuou a banhar o rosto e os ombros, enquanto ela
murmurou em voz alta. Ele ouviu as sentenças vagas, desconexas,
imaginando-a no deserto com o sol queimando em cima dela.
Ela mexeu-se inquieta, as longas pernas esbeltas deslizando
para cima e para baixo das cobertas, de repente ela endureceu e sua
mão pegou seu amplo pulso perto de seu ombro. Seu olhar vidrado
voltou-se para ele. Era assustador saber que enquanto ela olhava
para ele, não era a ele que Reya via, mas outra pessoa.
—Os gritos pararam... o silêncio depois de tantas horas é alto...
não há som, só o som do vento... ele está morrendo agora,
também... tudo ainda está lá, ainda continua. — Seu olhar cintilou e
ela sussurrou: — Eu não gosto... isso me enerva... alguém está lá
fora...
Tremendo, Maverk olhou para cima para ver a cortina
esvoaçante na brisa suave que vinha através da janela. O aperto em
seu pulso trouxe sua atenção de volta para ela.
—Fumaça. Há cheiro de fumaça e eu posso vê-la sobre as
dunas... Como três espirais. Há outro cheiro. Starn diz que cheira a
carne cozinhando... — Ela estremeceu. —Estamos rastreando mais
perto agora, em nossas barrigas há areia quente, Vexa e eu. Ele tem
a minha idade, mas ele parece muito mais jovem, parece ter
dezessete. Estamos olhando por cima da duna de areia. — Ela fez
uma careta. — Queimados... três pessoas... chegamos mais perto...
Estou segurando meu laser... mais... eles estão todos negros, sem
cabelo, eles foram queimados... — Sua respiração ficou presa.
Ele sentiu-se mal. Deus, o que ela tinha visto há três anos?
Corpos queimados? Deslizando o pulso de sua mão, ele embalou a
mão suavemente na sua. As próximas palavras o fizeram sentir ainda
mais doente.
—Estou procurando por uma semelhança com alguém que eu
conheço. Vexa não tem utilidade, ele está vomitando... as tripas para
cima, pobre garoto... um deles se move... abriu os olhos ... não, ele
ainda está vivo! — Reya choramingou então sua voz reforçada,
embora sufocada. —Não pode falar comigo... Eu acho que é um
homem, mas está tão mutilado... suplicando... olhos que querem que
eu o mate... — Seu outro braço se levantou com dificuldade, sua mão
segurando um laser imaginário. —Eu atiro. Ele está morto. Vexa está
chorando. Ele não deveria estar aqui... Eu o fiz ir de volta para os
outros... — Mais desarticulada murmurando, muito baixo para Maverk
entender.
Com uma mão, ele continuou a banhar o rosto corado de febre,
limpando o fio de suor de sua testa.
Sem aviso, seus olhos se arregalaram e ela cerrou os dentes.
—Agora nós sabemos de onde vêm os gritos... os corpos estão
deitados ao sol... Eu vou mais perto para ver, afinal de contas, eu sou
a batedora. O povo tem sido esfolado... — Seus olhos tinham
escurecido, horror preenchendo as profundezas frias... —vivo. Eu sei
que pelas marcas da areia quente que eles estavam vivos quando foi
feito... sinto-me doente, tão doente... — Ela apertou a mão à boca,
apertando os olhos fechados. Resolução brilhou nas profundezas frias
quando ela mais uma vez olhou para Maverk, não focando nele, mas
em uma memória distante. —Nós não podemos voltar agora, já é
muito tarde. Quem fez isso... estamos cercados... Eu posso senti-
los... assistindo... — Incomodada ela se mexeu na cama, seu olhar
em busca do quarto. —Aproximando-se... eu rastejo de volta para
Vexa e os outros. Os homens estão preocupados... alguns perto do
pânico. Tolos. Não devem entrar em pânico. Devem ficar juntos,
Comandante. É nossa única chance. — Aflita ela jogou sua cabeça. —
O comandante está próximo ao ponto de ruptura e ele quer que nós
nos separemos. Ouçam-me!— Irritada, com os olhos fixos no rosto
desesperado de Maverk. —Diga-lhe que não há segurança em
números e devem ficar em um grande grupo, diga-lhe!
—Eu vou dizer-lhe, moça. — Ele engoliu o nó na garganta. —
Não se preocupe, ele sabe. Você está segura.
—Nós não estamos! — O olhar tornou-se vazio, firme e frio. Os
olhos de uma mercenária. —Vexa, diga que os homens devem ficar
em um círculo, ombro a ombro, voltados para fora. Agora, caramba!
Agora! — Ela puxou sua mão acentuadamente, os seios subindo e
descendo suave e depois agitado. —Eles estão com medo... os
corpos. Estou com medo também, mas eu não posso mostrá-lo ou
todos nós vamos desmoronar... eles estão olhando para mim, à
espera de ordens... não devo mostrar nenhuma fraqueza, nenhuma
fraqueza. — Sua cabeça virou sobre o travesseiro e ela ouviu
atentamente. —Eles estão chegando... posso ouvi-los... o som de
pano áspero na pele, sussurros, risos. Risos?
Tenso e com dor no coração, ele observava impotente como
uma aurora de consciência horrorizada enchia os olhos que se
voltavam para ele, incrédulos.
—Não pode ser... é... ou melhor, eu não posso dar a ordem,
não posso... isso é terrível e eu estou vendo eles chegarem... sobre
as dunas de areia... rindo... tão ansiosos pelo nosso sangue, se
aproximando... — Seus olhos estavam fortemente abertos, com
horror. —Rindo, facas reluzentes, conversando animadamente.
Daqui... vejo... uma corrente feita de orelhas humanas em volta do
pescoço... outros vestindo jaquetas. — Sua voz era rouca, grossa,
com horror, e o tremor arruinava o seu corpo. —Eu tenho que dar a
ordem... — Ela se esforçou para trás no colchão, liberando a mão de
Maverk, empurrando as imagens para longe, mesmo quando ela
gemia em um sussurro rouco, — Eu dei a ordem errada! É a pessoa
errada! — batendo com as mãos sobre seus olhos, ela chorou, as
lágrimas escorrendo entre os dedos e molhando o travesseiro. —
Perdoe-me, perdoe-me...
Ele jogou o cabelo para trás da sua testa e ela apertou a mão
entre as suas, quando ela olhou para o rosto compassivo com
desespero, em total desolação.
—Eu tive que... perdoe-me... eu tive que...
Suas palavras suaves não lhe deram nenhum conforto.
Apertando a mão contra o rosto, seu corpo era torturado com a força
de sua angústia.
Maverk fez a única coisa que ele podia pensar em fazer. Deitou
ao lado dela na cama, ele a segurou em seus braços e embalou-a
perto dele.
Reya pressionada contra ele, soluçando.
Aos poucos, a angústia de Reya diminuiu e sua respiração
tornou-se mais calma. Sentindo sua testa, Maverk ficou aliviado por
sentir que sua pele estava fria. A temperatura caiu, ela havia
superado a febre. Mas ele não se levantou da cama. Em vez disso,
abraçou-a na segurança de seus braços.
Ele havia descoberto algo importante, parte de algum segredo
obscuro. Agora ele estava determinado a descobrir o resto, o que
tinha acontecido.
Segurando-a em seus braços, seu corpo dobrou até que sua
cabeça ficou aninhada em seu peito, onde ela poderia ouvir a batida
constante e reconfortante de seu coração, Maverk sabia que tinha de
ajudá-la.
Sabia que tinha que ajudar a mulher que ele amava.
A revelação de que ele amava Reya não foi nenhuma surpresa
verdadeira. Lá no fundo, ele sempre soube. No início, ela tinha sido
simplesmente a irmã irritantemente fria de Tenia, alguém que ele
reivindicou a força para sua própria proteção, quando as Reekas
estavam fora da lei. Mas com o tempo, sua afeição por ela havia
crescido despercebida, em afeto, então veio o amor.
Ele pensou em voltar no ano seguinte a graça das Reekas,
quando ele tinha ido muitas vezes ao assentamento Reeka em Comll,
ajudando a reconstruir o assentamento, entre as suas viagens de
negócios. Ele a havia observado naqueles momentos,
incansavelmente trabalhando lado a lado com suas guerreiras irmãs e
o povo de Daamen e Saalm. Como líder das Mulheres Guerreiras
Reeka, ela sempre foi friamente cortês com todos. Ela tinha pelas
irmãs guerreiras um verdadeiro amor e carinho, mas mesmo com
elas, retinha alguma coisa.
Outra coisa que ele percebeu foi a sua inquietação com as
crianças. Ela se distanciava delas, desencorajava os seus avanços e
tentativas de amizade, com uma palavra fria e uma rejeição
desinteressada. Era algo bastante incomum, já que as outras
guerreiras claramente as idolatravam.
Ele tinha visto os olhares preocupados que Tenia tinha lançado
sobre a sua irmã mais velha, a preocupação estava gravada em seu
rosto. Depois, houve a inquietação crescente que tomou conta de
Reya conforme o assentamento estava quase completo. Em sua
última visita, pouco antes do inverno, ele a tinha visto muitas vezes
empoleirada no muro de pedra, enquanto olhava para fora, sobre os
campos, para as colinas, uma figura solitária. Quando ele retornou
após o inverno, ansioso para vê-la novamente, ela tinha ido embora.
Ela havia deixado Tenia para governar, em seu lugar.
Ele não tinha percebido, então, que a amava. Ele tentou manter
o controle sobre seus movimentos, como um amigo interessado, ou
assim ele disse para si mesmo. Ao longo do ano, tinha ouvido notícias
sobre ela de outros comerciantes e amigos, mas sua preocupação
cresceu quando ele percebeu que ela tinha voltado para a vida de
mercenária.
Seu primeiro instinto, ele se lembrou, foi encontrá-la e arrastá-
la de volta. Mas a mãe de Darvk tinha falado para ele ficar de fora,
apontando que Reya era uma moça livre, capaz de ir onde quisesse,
ele não tinha razão legítima para obrigá-la a voltar. Então, ele teve
que se contentar com as notícias dela.
Mas agora ela estava aqui, com ele e não tinha intenção de
deixá-la ir. Claro, Reya teria algo a dizer sobre isso, então ele decidiu
não informá-la do seu amor, ainda. Além disso, tinha que desvendar
o mistério do seu segredo, o que a fez ficar tão inquieta e infeliz.
Dana devia saber o segredo, afinal, ela foi companheira
constante de sua prima. Ele a perguntaria de manhã.
Tendo decidido as coisas para sua satisfação, Maverk apertou
seu domínio sobre a guerreira adormecida em seus braços.
Fechando os olhos, ele dormiu.

A luz solar filtrou através da janela e o som da maldição de um


homem era alta no início da manhã e Reya despertou
instantaneamente. Ela se levantou na cama, com cada sentido em
alerta. Um riso se seguiu e ela relaxou. Pessoas só estavam de
passagem, na rua abaixo.
—Moça, calma. — disse uma voz profunda de sono.
Reya endureceu seu olhar incrédulo na figura musculosa que
descansava sobre a cama, a sua cama, ao lado dela. Longos cabelos
loiros estavam despenteados sobre o travesseiro e os olhos castanhos
sorriam facilmente para ela, os seus lábios sensuais estavam
curvados.
—Bom dia.
—O que você está fazendo na minha cama? — ela exigiu com
raiva.
—Eu dormi com você a noite toda. — Aqueles olhos
condenáveis tinham tomado um ar sensual, ardendo sem chamas. —
Você certamente se sentiu bem em meus braços.
Levantando-se de joelhos, ela olhou para ele.
—Eu não!
—Sim, você fez. — Maverk levantou uma mão para mostrar um
fio longo e ondulado de cabelo vermelho-dourado. —Você deixou este
no meu peito onde repousou sua cabeça.
Ela franziu a testa para ele, não querendo admitir que ele
falasse a verdade, mas era inegável. O pensamento dele
compartilhando sua cama fez uma sensação estranha na boca do
estômago. Inquieta, ela fez o que sempre fazia, colocou a frieza e
distanciamento sobre si, como um manto, distanciando-se do belo
comerciante.
—Você não quer saber por quê? — perguntou ele.
—Sem dúvida, você vai me dizer. — Movendo-se para o final da
cama, ela escorregou fora dela.
Unindo as mãos atrás da cabeça, ele a viu passar por cima e
para a janela.
—Você teve uma febre na noite passada.
—Então você dormiu na minha cama?
—Não. Eu coloquei-me ao seu lado para abraçá-la quando você
chorou.
Ele podia vê-la se endireitando para trás, até mais, se isso era
possível.
—Eu não choro.
—Você fez na noite passada.
Ela estudou-o por um minuto inteiro, antes de dizer, com uma
nota de rejeição em sua voz.
— Adeus.
Sentando, ele balançou as pernas para o lado da cama e
descansou os cotovelos nos joelhos.
—Uh,uh, moça. Até você me dar uma resposta direta a respeito
de por que você não vai voltar, para estar com Tenia, vou ficar com
você.
—Minha razão não é de sua conta.
—A felicidade de sua irmã é. Ela me pediu para procurá-la e
isso torna o assunto da minha conta.
—Você está desperdiçando seu tempo. — Ela caminhou em
direção ao banheiro.
—Oh, eu não penso assim. — Bocejando, ele levantou e se
espreguiçou.
Depois de um olhar mordaz, ela fechou a porta do banheiro em
seu rosto sorrindo.
Chorando? Dormindo em seus braços? Reya olhou no espelho.
Vagas lembranças dele dando-lhe banho na face, a voz baixa e como
ele confortou-a no calor da noite, voltou. Ela tinha chorado? Ele não
diria isso, se não fosse verdade, pois sempre falou a verdade e ele
não tinha motivo para mentir. Por que ela tinha chorado?
Um arrepio agitou sua espinha quando fragmentos do pesadelo
voltaram, um pesadelo de corpos sem pele e risos insanos.
Tremendo, ela tirou a roupa e entrou no chuveiro. Ela virou-se
na água fria e estava embaixo da queda gelada com um suspiro. A
frieza ajudou a desviar seus pensamentos da alma destruída no dia a
dia, que se esforçava para esquecer, mas nunca conseguiu fazer. Ele
estava sempre lá, à espreita, saltando para ela com total clareza,
sempre que alguma coisa acontecia para lembrá-la disso. O riso da
criança, um grito, um dia quente, ou a incerteza pouco antes de uma
batalha, quando ambos os lados esperavam o outro para fazer o
primeiro movimento, tudo era um lembrete.
Aquele dia amaldiçoado a assombrava. A paz do assentamento
Reeka reconstruído zombava dela. Entre as felizes irmãs guerreiras,
ela estava fora do lugar, um negrume estragava o brilho de uma
nova vida. Depois do que ela tinha visto e feito naquele deserto, não
poderia voltar para uma vida pacífica. Ela não merecia ter uma. Em
cada rosto infantil feliz e olhos de guerreiras pacíficas, via a
devastação que ela ordenou.
Não, a paz não era para ela. Ela era uma lutadora e uma
mercenária. Ela só podia agradecer a Deus que nenhuma das suas
irmãs guerreiras tinha ido com ela nessa missão.
Impacientemente Reya desligou a água e saiu para se secar e
vestir. Virando as costas para o espelho rachado, ela olhou por cima
do ombro, para o ferimento nas costas. Uma mancha de sangue seco,
fraca, aparecia. Através da ferida, nada fresco. Bom, ele tinha parado
de sangrar.
Saiu do banheiro através da porta ao lado do quarto de Dana,
ela encontrou sua prima cuidadosamente puxando suas botas.
O rosto de Dana se iluminou ao vê-la.
—Está tudo bem! Graças a Deus. Como você se sente?
—Bem.
—Bem? Irmã você estava sangrando como um porco e nunca
me disse. O que diabos esteve fazendo?
—Eu sabia que você ia perguntar. — Ela encostou à parede. —
Como está o tornozelo?
—Bem.
—Quero ouvir a verdade.
—Eu poderia dizer o mesmo para você.
Seus olhares se encontraram e Reya reconheceu sua própria
determinação refletida nos olhos de sua prima. Ambas tinham um
temperamento forte, teimoso, inquieto e disso nasceu uma profunda
compreensão e carinho, uma proximidade que, às vezes, as fazia se
confrontarem.
Reya sorriu.
—Eu me sinto como uma merda.
Os olhos castanhos brilharam.
—Idem.
—Não diga para o comerciante idiota e loiro, ou ele vai me
amarrar à cama.
—O mesmo vale para o de cabelos castanhos.
—Quer uma mão para descer as escadas para quebrar o jejum?
Dana olhou incisivamente para os pés descalços de sua prima.
—Quer uma mão para colocar as suas botas?
—Eu acho que posso gerenciar.
—Ótimo. Estou morrendo de fome. Pegue as suas botas e
vamos embora.
De volta em seu quarto, Reya puxou as suas botas e um punhal
amarrado a uma coxa, seu laser para seu quadril. Quando Dana se
juntou a ela, elas abriram a porta para encontrar os Daamens
esperando por elas. Eles estavam inclinados contra a parede com os
braços cruzados sobre o peito grande.
—Eu poderia levar você, moça. — Garret endireitou-se ao lado
dela.
—E eu poderia abrir um buraco através de você, — retrucou
Dana. —Cai fora!
—Venha comigo e eu vou. — Ele piscou sugestivamente.
—Eu não iria com você mesmo que fosse o último homem no
universo.
—Você não teria que vir comigo. Eu gostaria de ficar aqui e
trabalhar para repovoar o universo.
—Em seus sonhos!
—Oh, nós temos uma grande diversão nos meus sonhos. — Ele
sorriu sonhadoramente. —Você e eu fazendo...
—Cale a boca! — Empurrando-o de lado, ela mancava para
descer as escadas, com raiva envergonhada. —Fique longe de mim,
seu palhaço!
Felizmente, ele a seguiu descendo as escadas.
—Não é possível fazer isso, você é a luz da minha vida eu estou
aqui para ajudar você e...
—Então me ajude, caindo fora!
—Agora eu sei que você não quer dizer isso. Você só está
irritada pela dor em seu tornozelo. Você gostaria que eu
massageasse a tensão, minha querida?
—Tome suas palavras floridas e empurre-as até o seu...
—Estamos rabugentas esta manhã, não estamos? Você gostaria
que eu a carregasse?
—Não!
Reya ouviu com um sorriso interior de diversão. Garret era o
único homem capaz de envergonhar a sua prima com suas palavras
sugestivas e olhos ardentes. Dana, normalmente, ria na cara de
qualquer homem que mostrasse interesse nela, em seguida,
despachava-o insensivelmente com algumas bem escolhidas palavras
desagradáveis, certificando-se de esvaziar, mesmo o mais ardoroso
admirador. Exceto que aquelas mesmas palavras desagradáveis
arremessadas contra!Garret, simplesmente o fazia sorrir e continuar
alegremente em seu caminho, totalmente com a intenção de carregá-
la junto com ele.
Ele a amava. Qualquer tolo podia vê-lo, mesmo que ele não
parecesse ter percebido isso ainda. Para dizer a verdade, ela não
estava tão certa de que Dana não retornasse alguns sentimentos
próprios. Por que razão mais, ela ficava tão afobada em torno dele?
O pensamento limpou a diversão para longe. Ao acompanhá-la,
Dana descartou qualquer possibilidade de uma vida normal. Claro, ela
estava inquieta e se estabelecer não era fácil, mas com o homem
certo e circunstâncias...
Ela parecia bastante feliz no assentamento Reeka, então por
que o deixou?
Caminhando ao lado dela, Maverk notou o olhar perturbado,
revelado por um breve instante, enquanto ela olhava para seu amigo
e sua prima, que ainda estava lançando insultos à medida que descia
as escadas.
—Garret não irá forçá-la, moça.
—Eu sei. — A máscara sem emoção estava de volta.
—Você parece perturbada.
—Não é nada.
Lado a lado, eles começaram a descer as escadas.
—Você sempre diz isso, moça, mas é.
Cautelosamente seu olhar varreu a sala, um hábito que tinha
salvado sua vida mais de uma vez.
—Como quiser bonitão.
—Se eu fosse fazer o que quero Reya, eu jogaria você sobre
meu ombro e a levaria de volta para casa, agora mesmo.
—Você não gostaria de experimentar.
—Você não iria querer me empurrar, — ele voltou calmamente.
—Ah, Garret e Dana encontraram uma mesa vazia.
Capitulo 6
A taverna não estava muito ocupada neste momento da manhã
e o barman se aproximou de sua mesa.
—O que vai ser amigos?
—Frutas, — respondeu Reya.
—Que tipo?
—Variadas.
—Ok. — Ele voltou sua atenção para Dana. —E você?
—O mesmo.
—Não para mim, — disse Garret apressadamente. —Eu gostaria
de um café da manhã com bacon, ovos, e batatas fritas.
—Não, para por aí. — Dana recostou-se na cadeira. —Você quer
esvaziar a sua despensa, não é?
—Não sonharia com isso, moça, mas é bom saber que você
está tão preocupada com minha saúde.
—Você precisa ser tão alegre o tempo todo?
—Estou sempre alegre quando estou perto de minha amada.
Firmemente determinada a ignorá-lo a partir de então, ela
entrou em um carrancudo silêncio.
Maverk acenou para o barman.
—Eu vou querer o mesmo, um café da manhã.
Ele voltou sua atenção para Reya do lado oposto em que estava
e estudou o seu perfil, enquanto ela olhava para fora da janela, para
a rua. Ele se perguntava o que se passava em sua mente, o que ela
pensava enquanto contemplava a sujeira e a variedade de foras da
lei, com aparência rude e suas famílias que caminhavam pela rua.
Reya desejava que ele não a olhasse assim, avaliando, aquele
olhar castanho sondando os seus pensamentos. Se ele soubesse
como ela estava ciente dele sentado ali, com seu colete de couro
entreaberto, o peito liso e seu interessante abdômen ondulado e as
curvas de seus músculos rígidos, um mapa que seus dedos
formigavam para explorar e traçar...
Maldição do inferno! Isso nunca aconteceria!
Ela virou a cabeça e encontrou o seu olhar.
—O quê?
Com interesse, ele observou o rosa fraco tingindo suas maçãs
salientes do rosto.
—Eu só estava me perguntando o que você estaria pensando.
Você nunca vai saber.
—Isso não é de nenhum interesse para você.
—Você ficaria surpresa. Seus pensamentos são sempre de
interesse para mim.
—Sua vida deve ser muito chata se os pensamentos de uma
mercenária lhe interessam.
—Tente-me.
Homem amaldiçoado era como um cachorro com um osso, ela
pensou com frustração crescente. Decidindo acalmá-lo de uma vez
por todas, ela se inclinou para frente, descansando os braços
cruzados sobre a mesa e perguntou em voz baixa.
—Você realmente quer saber o que está na mente de uma
assassina?
Um arrepio agitou sua espinha quando seus olhos sem emoção
e entediados se fixaram nele, mas ele se recusou a deixar o seu olhar
vacilar, supondo que ela estava tentando enervá-lo.
—Sim.
Ele nunca soube se ela queria dizer-lhe ou não, porque um
vagabundo alto, de botas, desviou sua atenção. Seus olhos piscaram
para a porta, uma mão deslizou rapidamente para fora da mesa e
desapareceu por baixo da mesma.
Seus olhos se estreitaram, no mesmo instante Dana respirou
fundo.
— Bem, veja lá!
Os comerciantes se viraram em seus assentos para ver quem
capturou o interesse da guerreira.
Maverk sentiu uma onda quente de raiva crescer contra os
homens que ele via, as cordas, lasers e chicotes em seus quadris.
Caçadores de recompensas. Os mesmos que o haviam drogado
e a tripulação de Darvk, dois anos antes, então tinham tomado Reya
e Tenia, pendurando-as em forcas em Oslow. Só a chegada a tempo,
dos Daamens e Argons, tinha impedido suas mortes. Mesmo agora,
ele ainda podia ver as duas irmãs torcendo e balançando no final das
cordas.
Seus punhos cerraram ao lado dele e ele sentiu a raiva de
Garret.
—Acalmem-se, meninos. — Dana falou. —Se eles não são de
ninguém, eles são nossos.
—Sim. — Reya colocou uma mão em seu pulso. —Relaxe
bonitão, nós vamos lidar com eles.
Ele se virou para ela, em protesto, apenas para ver um brilho
nos olhos profanos e o olhar que as guerreiras trocaram.
O barman chegou com uma bandeja e colocou os pratos de
comida diante de seus clientes.
—Uma coisa mais. — Reya acenou com a cabeça na direção do
bar. —Vê aqueles homens lá?
Ele olhou para os oito caçadores de recompensa com uma
carranca.
—Sim, eu os vejo.
—Queremos comprar-lhes uma bebida, uma para cada um.
—O quê?
—Uma bebida. Uma Rasburg, barman, uma para cada um
deles.
Seu rosto clareou e com uma risada, ele correu para fazer sua
encomenda.
—Você está louca? — Maverk exigia. —Esses bastardos
penduraram você e ainda compra-lhes uma bebida?
Selecionando um pêssego, ela mordeu-o com prazer.
—Estamos do mesmo lado agora, lembra?
O barman falou com os caçadores de recompensas e começou a
despejar copos grandes de Rasburg. O líquido era amarelo. Os
caçadores olharam ao redor, o líder continuou olhando até que seus
olhos caíram sobre as duas mulheres guerreiras, observando-o da
mesa próxima da parede.
—Sorria para Cormac. — murmurou Dana zombeteiramente.
Os pálidos olhos cinzentos do caçador de recompensas se
estreitaram.
Reya levantou o pêssego em meia saudação e inclinou a
cabeça, olhando-o firmemente.
Ele voltou seu olhar sem piscar, em seguida, ergueu a taça em
uma saudação curta, antes de voltar para o bar.
Maverk não podia acreditar, o seu olhar alternava rápido dos
caçadores de recompensas para as guerreiras, que comiam as frutas
e observavam com calma.
—Droga, você é difícil de ser civilizada conosco e ainda assim
você compra uma bebida para aquela escória! — Garret cuspiu com
raiva, olhando para Dana.
Olhos divertidos piscaram momentaneamente para ele, antes
de voltar para os caçadores de recompensas.
—Seja grato, não odeio você.
—O que você quer dizer?
—Paciência.
Os caçadores beberam seus copos e enviaram mesuras para as
Reekas, zombando.
Maverk sentiu a temperatura em seu sangue aquecer, com as
expressões em seus rostos.
—Lá vem o golpe de misericórdia, agora. — Reya mordeu uma
maçã. — Olhe bonitão. Asseguro a você, é uma visão que vale a pena
ver.
Os dois comerciantes viraram novamente em seus lugares para
ver o magro barman sobre o balcão começar a falar com os
caçadores, apontando para a garrafa. Um olhar atordoado atravessou
seus rostos e eles viraram a cabeça para olhar para as Reekas, que
levantaram as mãos em uma saudação suave.
Em poucos segundos os caçadores correram para fora, com
mãos sobre a boca e o som de ânsia de vômito era claramente
ouvida.
O barman riu, acenou para os comerciantes espantados e
entrou pela porta, de volta para a cozinha.
Maverk e Garret olharam curiosos para as guerreiras, que
estavam sorrindo abertamente uma para a outra.
—O que foi isso?
Reya riu suavemente.
—Rasburg é urina de rato misturada com uísque.
Dana riu das expressões chocadas.
—Ainda acha que fomos muito agradáveis com aqueles
bastardos?
Maverk começou a se levantar.
—Os caçadores de recompensas vão estourar por aqui a
qualquer segundo, querendo derramar o seu sangue!
Com os olhos frios ainda brilhando de tanto rir, Reya balançou a
cabeça.
—Não, eles não podem. Muitos idiotas consideram Rasburg uma
mistura que dá força. Muitos não sabem o que ela contém. Tudo o
que fizemos foi ser amigável.
—É uma vergonha que os caçadores não gostaram. — Dana
enxugou os olhos alegremente.
—Quem gostaria? — Retomando o seu lugar, seus lábios se
contraíram com a memória dos seus rostos chocados.
Por um instante eles compartilharam um momento íntimo de
calorosa camaradagem, então Reya disse silenciosamente.
— Lá vem Cormac para nos agradecer. Sente-se bonitão, ele
não vai tentar nada.
O caçador de recompensas encabeçava o grupo que parou na
mesa. Prontos para vir em defesa das Reekas ao menor sinal de
retaliação, os comerciantes mantiveram um olhar atento sobre os
sete caçadores irritado que estavam seguindo ele.
Os olhos duros de Cormac olharam para baixo e perfuraram
Reya.
—Devemos agradecer-lhe por seus... pensamentos gentis.
—Oh? — Ela levantou uma sobrancelha.
—As bebidas.
Os poucos ocupantes da taverna olhavam com antecipação
silenciosa, em seus rostos, um querer de derramamento de sangue
que enojava os comerciantes.
—Ah, as bebidas. — Seu olhar nunca deixando seu rosto, ela
deu uma mordida pequena no damasco. —Foi um prazer, não foi,
irmã?
—Com certeza. Aproveitou, não é? Um sabor muito original, eu
entendo.
—Único, de fato. — Os olhos duros passaram ao longo dos
quatro ocupantes da mesa, persistindo em Maverk, antes de correr
de volta para Reya.
—Sem dúvida, nossos caminhos ainda se cruzarão novamente.
—Por que não? Afinal, estamos do mesmo lado agora, não
estamos?
As narinas estreitas queimaram.
—Eu não diria isso.
—Ocorre agora. — Seu sorriso era de um frio mortal. —Nós dois
matamos por dinheiro.
—Eu não mato todos aqueles que eu caço. — disse ele com
frieza igual.
—Isso não é o que eu ouço.
Maverk estava tenso, querendo saber se ela estava errada e os
caçadores atacassem. Ela o empurrou com força suficiente, com
certeza.
—E o que você ouviu guerreira? — Cormac consultou em voz
baixa.
Mordendo mais um pedaço de damasco, os olhos vagando
preguiçosamente, ofensivamente, ao longo dos caçadores, antes
retornando a ele.
—As notícias voam como você sabe. Quando foi a última vez
que você trouxe alguém de volta vivo?
Os olhos pálidos piscavam.
—Se há um mandado de 'vivo ou morto’, não vejo razão para
desperdiçar as leis, o dinheiro e tempo.
—Deus nos livre. — disse Dana. —Nós não queremos isso.
Inclinada para frente, Reya contemplava o rosto sem emoção
acima dela.
—Posso felicitá-lo por um trabalho bem feito, caçador de
recompensas. Apenas alguns escorregam do seu alcance, sim?
As palavras caíram entre eles, a mensagem não dita era clara.
As Reekas tinham escorregado de seu alcance muitas vezes e agora
elas foram perdoadas pela Nave da Paz Intergaláctica e estavam
além do seu alcance.
Ele olhou para ela por alguns instantes e depois disse baixinho:
— Obrigado pela urina de rato. — Sacudindo a cabeça para seus
homens, todos eles se afastaram.
Quando se aproximaram da porta Dana gritou:
— O prazer é nosso, Cormac. A qualquer tempo, sim?
Apenas o endurecimento da sua coluna revelou que a
provocação tivesse batido em casa. Os caçadores deixaram a
taverna.
—Empurrou-o um pouco, não é? — Garret franziu o cenho.
—Não muito longe, só o suficiente, obviamente. — Ela encolheu
os ombros. —Ele é um desmancha-prazeres!
—Você fez isca dele. — Maverk perfurou Reya com os olhos. —E
se ele decidir retaliar? Nós estamos sentados com a sensação de
alvos.
—Lembre-se, você disse que estava interessado no que estava
na mente de uma mercenária?
—Sim.
—Autopreservação. — Ela trouxe sua mão por debaixo da mesa
e ele se viu olhando para o cano de um laser. —Cada momento que
os caçadores estavam aqui, isto estava pronto na minha mão.
Olhando do laser para seu rosto, viu a determinação mortal em
seus olhos.
—Um movimento errado e ele teria ido direto para o inferno. —
Reya botou o laser no coldre.
—Ele sabia disso?
—Ele sabia. — Ela se levantou devagar. —Nós, comedores de
carniça, sabemos o que os outros pensam.
Seu rosto apertou.
—Você é muito diferente dele.
—Eu sou? — Sua voz era suave e mordaz. —Nós dois somos
alugados por dinheiro. Nós dois caçamos e matamos. Nossa única
diferença é que ele faz isso para a lei e eu faço isso por mim mesma.
— Sem outra palavra, ela caminhou para fora da taverna.
Pela janela viu-a sentar em uma cadeira, ao sol. Inclinando
para trás contra a parede, ela levantou suas pernas para sustentar
seus saltos sobre a mesa diante dela, então cruzou os tornozelos e
colocou a mãos atrás da cabeça.
—Ela está deliberadamente tentando fazer-se um alvo fácil? —
Ele virou um olhar perplexo para Dana, que estava
despreocupadamente devorando um pêssego.
Ela lhe lançou um olhar de desprezo.
—Dê-lhe algum crédito por seu cérebro!
—Então o que ela está fazendo lá fora, a céu aberto?
—Enquanto os caçadores estão no assentamento, ninguém vai
chamar a atenção para si. Qualquer rancor vai esperar para ser
tratado quando eles saírem, com ou sem o que procuram.
—Eu vejo.
—Você? — Ela lambeu os dedos, sem perceber o olhar quente
de Garret para sua boca, enquanto o fazia. —Eu sinceramente
duvido.
Empurrando o prato de comida intocado para o lado, Maverk
inclinou-se com os braços cruzados sobre a mesa, com seus olhos
fixos em Dana.
—Então me diga, porque eu quero entender.
Ela estudou o rosto bonito.
—Vamos, moça, é tão ruim que eu queira entendê-la um
pouco? Afinal, ela é a irmã da esposa do meu amigo e eu, também
sou um amigo de sua irmã. Para a paz da mente de Tenia e seu bebê,
devemos ter um pouco de compreensão e paz entre nós.
—Isso é um golpe baixo.
—Mas necessário.
Dana olhou para fora da janela, para a figura solitária de sua
prima, antes de mover seu olhar para o loiro comerciante.
—Não há muito a dizer. O que você quer saber? — Ela levantou
a mão em aviso. —Eu não prometo responder a tudo.
Era mais do que ele esperava dela.
—Tudo bem. Primeiro, por que ela deixou o assentamento
Reeka?
—A primeira vez que estávamos caçando fora, ou a segunda,
quando deixamos voluntariamente?
—Bonitinha. A segunda vez.
—Eu não sei e essa é a verdade. Ela estava inquieta a maior
parte do tempo e tornou-se mais assim, perto da conclusão.
—Você não sabe a razão?
—Reya não diz muito sobre seus sentimentos. — Ela
considerava o comerciante de forma constante. —Eu não posso forçá-
la a dizer.
—Bastante justo. — Distraidamente, ele pegou uma laranja e
começou a descascá-la. —Então ela estava inquieta. E depois?
—Uma noite ela me disse que estava saindo pela manhã.
Perguntei por que e ela me deu um olhar que eu não podia entender
e simplesmente disse: 'Isto não é para mim’. Saímos pela manhã,
bem antes do amanhecer, para que ninguém pudesse nos ver.
—Assim, ninguém sabia que você ia? — Garret consultou.
—Não. Reya sabia que alguém iria dar o alerta para os
Daamen,Tenia e Connie, que viriam e tentariam convencê-la a ficar.
—E você.
Ela deu de ombros, um elevar elegante e forte dos ombros
magros.
—Sim. De qualquer forma, saímos. Quando subimos acima do
assentamento, ela olhou para trás e para baixo. Estava tranquilo,
sabe? O cheiro da primavera no ar, todas essas coisas. Por um
minuto pensei que ela iria mudar de idéia e permanecer. — Sua
expressão ficou pensativa. —Foi a única vez que eu vi tanta tristeza
em seus olhos, mas tão rápido como veio se foi, então ela se virou e
caminhou para longe. Nós não voltamos desde então.
—Como vocês acabaram lutando de novo? — Garret inclinou
braços cruzados, mastigando a sua torrada.
—Vagamos por aí. — Dana colocou uma uva na boca mastigou
e engoliu pensativa. —Nós nos mudamos de lugar para outro,
pegando o ônibus planetário. Reya parecia determinada a colocar
muito espaço entre nós, Comll e Daamen. Um dos ônibus quebrou e
pousamos em Ylan, na proximidade do Setor Outlaw.
Maverk ouvia com interesse.
—Um dos nossos antigos clientes nos viu e ofereceu um
emprego como mercenárias contra outro senhor do distrito.
Estávamos sem dinheiro e parecia uma boa ideia.
—Reya estava feliz de estar lutando de novo?
Ela respirou profundo, obviamente, tentando compensar sua
mente quanto mais para lhe dizer.
—Tão ruim assim? — Ele sondou suave, mas persistente.
Ela baixou as uvas ao prato.
—Eu não diria que ela estava feliz com isso, eu diria que
recebeu isso. Ela luta com determinação mortal, concentrando-se na
batalha, não dando folga. — Seu rosto tornou-se levemente
perturbado. —Ela se arrisca para além do que somos pagas.
—Você se preocupa com ela. — afirmou Garret calmamente.
—Sim, acho que ela sempre foi calma e fria. Com a morte de
sua mãe, a liderança no início da nossa corrida, durante os anos fora
da lei a tornaram assim. Mas houve uma mudança em sua...
Maverk deu uma facada no escuro.
—Quando ela voltou de uma missão mercenária, três anos
atrás?
Assustada, ela olhou para ele.
—Como você sabe? O que ela disse?
—Nada. E você?
—Nada, — suspirou Dana. —Reya voltou da missão com uma
desolação nos olhos que assustou a todas nós. Ela estava tão
ausente, evitando a nossa companhia o dia inteiro, passando o tempo
no rio. Ela não nos queria com ela e Connie, que mantinha guarda a
certa distância, informou que...
—O quê? — ele perguntou quando ela vacilou. —Ajude-me a
compreender, pois ela teve um pesadelo na noite passada e chorou
como se o seu coração fosse quebrar.
—Ela não teve esse pesadelo por um tempo, ou não que eu
saiba. Desde aquele dia no rio, eu não a tenho visto chorar.
—O que aconteceu no rio?
—Connie disse que ela passou muito tempo na água,
esfregando-se violentamente com o sabão, até que este acabou
então ela subiu no banco e chorou por muito tempo. Ela continuou e
continuou e ao anoitecer voltou para a caverna e estava mais uma
vez fria e composta, só que desta vez havia algo faltando, um pedaço
dela se fora. Ninguém poderia dizer o que, mas era como se ela
tivesse se distanciado de nós todos. Não de uma forma perceptível,
mas podemos senti-lo. Ela amava as crianças, mas agora estava
inquieta em torno delas. — Dana apertou os dedos em uma dispensa
súbita. —Isso é tudo o que há para dizer. Eu não sei. Você vai ter que
perguntar o que a persegue.
O olhar de Maverk era afiado.
—Então você acha que algo a assombra?
—Alguma coisa assombra a todos nós. Todo mundo carrega um
fardo, só que alguns são mais pesados que outros.
Garret estudou-a com curiosidade.
—Por que você escolheu ir com ela? Você não se sente em casa
no assentamento?
—O que há para mim? Você consegue me ver tendo uma
família, sendo uma fazendeira? Eu escolhi ir por duas razões,
primeiro porque eu não estava contente, a segunda para vigiá-la.
—Você acha que ela precisa ser vigiada? — Maverk perguntou,
preocupado.
—Talvez, 'observar' seja a palavra certa. Um amigo é o que ela
precisa. Se ela não tem companhia, alguém para se preocupar, então
eu temo que a última parte de sua alma, que ainda vive, vai murchar
e morrer.
As palavras bruscas o fizeram estremecer, mas ele podia ver a
verdade em si.
—Então, você optou por ser essa pessoa? — Garret perguntou.
—Ela é minha prima e guerreira irmã.
—E sobre a sua vida?
Dana sorriu.
—Ela tentou me convencer disso, acredite. Amaldiçoou, xingou
e ameaçou, em seguida, disse que desejava nunca ter confidenciado
seus planos para mim. Ela estaria fora antes do amanhecer, mas eu
sabia que ia tentar esgueirar-se, então eu fiquei acordada a noite
toda a observando. Eu a encontrei fora do assentamento e lá fomos
nós.
—Será que ela se preocupa com você?
—Oh, sim, embora não pareça. — Levantando-se, ela se
espreguiçou. —Isso é tudo que eu sei. Se você quiser saber mais,
precisa descobrir com Reya. Eu estou indo tomar banho.
Garret a olhava mancar para subir as escadas.
—As primas são próximas.
—Sim. Acho que vou passear e conversar com Reya.
—Você vai perguntar a ela sobre esse pesadelo?
—Acha que ela vai responder?
—Duvido. — Um traço de um sorriso atravessou o rosto de seu
amigo.
—Eu também. — Maverk pegou um pêssego. —Não, eu vou
perguntar quando ela planeja voltar para Daamen.
—Boa sorte.
Saindo para a varanda, os olhos foram diretos para a relaxada
figura esbelta inclinada na cadeira, era a imagem do relaxamento
total. Não, ele não iria obter respostas, empurrando-a, mas poderia
pelo menos agitá-la. Um brilho diabólico iluminou seus olhos e
moveu-se para a mesa.
Olhando fixo para as colinas distantes, Reya se recusou a
reconhecê-lo.
Ele sentou na cadeira ao seu lado e copiou a sua postura,
unindo as mãos atrás da cabeça e levantando suas longas pernas,
cruzando-as na altura dos tornozelos, com os calcanhares
descansando sobre a mesa.
—O que você pensa que está fazendo, bonitão?
—Você uma vez disse que se os homens fossem como moças, o
universo seria um lugar melhor, então eu estou tentando.
—Você não foi construído como uma mulher, muito menos
pensa como uma.
—Verdade. Mas eu fui construído para uma mulher. — Ele
inclinou a ela um olhar brilhante. — Certa parte do meu corpo é feita
para se encaixar perfeitamente dentro de uma mulher.
—Você é nojento.
—Depois de passar uma noite em meus braços fazendo amor,
você vai pensar diferente. — Sua voz era suave como o veludo.
Sua bota caiu no chão e sua cadeira caiu em todas as quatro
pernas.
—Com o inferno!
—Eu prometo a você, não vai ser um inferno. — Seu olhar tinha
uma faísca, fraca e latente. —Quer que eu lhe mostre? Nós podemos
ir lá em cima agora.
—Nós não estamos indo a qualquer lugar, seu bastardo
eloquente!
—Bastardo eu não sou, mas eloquente, bem, há coisas que eu
posso fazer com a língua que vai fazer você gemer...
—Diga mais uma palavra e eu vou cortá-la fora! — Ela se
levantou.
—Ah, então a donzela de gelo tem um temperamento! — Ele
sorriu para ela.
—Maldito seja, Maverk... — Ela parou, quando um passo na
varanda alertou-lhe que alguém se aproximava.
Num lugar como este, poderia ser amigo ou inimigo.
Capitulo 7
Olhando em volta, ela encontrou um par de tristes olhos azuis
desbotados, em um rosto enrugado. Aflitas faces gravadas em dor,
um homem e uma mulher idosos estavam olhando para ela tristes.
Com um olhar Maverk notou as suas roupas desbotadas,
remendadas e um buraco nas botas.
—Você é Reya, a mulher guerreira Reeka? — a velha perguntou
com uma voz enferrujada.
—Sim, — ela respondeu com cautela.
—Zac falou de você. Você lutou com ele para Shaque?
Zac estava morto, mas a partir da descrição que ele havia dado
deles, com carinho, não muito tempo depois que ela o encontrou,
este velho casal só poderia ser os seus avós. Ela se mexeu
desconfortavelmente.
—Sim, eu lutei.
Maverk observava com curiosidade. Quem era esse Zac e por
que Reya estava tão pouco à vontade? Ele sabia pela maneira como
os seus dedos estavam flexionados ao lado dela, em seguida,
enrolados em um punho, que ela estava desconfortável.
O velho acenou com a cabeça.
—Você ganhou?
—Sim. — Ela se perguntava se eles sabiam da morte do seu
neto e amaldiçoou silenciosamente. Alguém tinha que dizer-lhes. —
Eu temo ter más notícias.
—Zac está morto. — Ele abaixou a cabeça.
—Sinto muito, — Reya disse rigidamente. —Foi rápido. Ele não
sofreu. — Ela esperava.
Maverk baixou as pernas da mesa e sentou-se em linha reta.
—Nós sabemos. — A velha com seus lacrimejantes olhos azul
mostrou a profunda dor que sentia. —Nós viemos pedir-lhe um favor.
—Um favor?
Colocando seus braços sobre a mesa, Maverk se inclinou para
frente com curiosidade. O que no universo poderiam estes idosos
querer com uma mercenária?
—Meu nome é Zina, meu marido é Chut. Zac viveu conosco
desde que seus pais, nossa filha e seu marido, morreram em um
incêndio quando ele estava com três anos. Ele era tudo que
tínhamos.
Reya não disse nada, avaliou o velho casal, imaginando o que
eles queriam com ela. Vingança por sua morte, talvez?
Zina hesitou e Chut deu um passo à frente, inclinando a cabeça
para trás para olhar para Reya.
—Gostaríamos de pedir que você venha conosco para trazer o
nosso neto para casa.
—Casa? Ele está enterrado lá fora agora.
—Não, nós tivemos notícias que os corpos foram deixados para
apodrecer.
Maverk sentiu sua pele arrepiar com o pensamento, mas não
viu nenhuma emoção no rosto de Reya.
—Eu vejo. — disse ela lentamente. —Você quer que eu vá com
vocês e o traga de volta.
Zina acenou com a cabeça cheia de esperança.
—Sim.
—Ele não vai estar nada bonito de se ver, agora. Você sabe o
que fazem os animais selvagens com os corpos.
—Reya! — Maverk, chocado, ficou em pé.
O olhar do casal virou-se para o gigante elevando-se acima
deles, seu corpo musculoso e áspero parecia fazê-los recuar com
cautela, até que o rosto perigosamente de boa aparência se virou
para eles e viram compaixão nos olhos marrons.
—Fique fora disso, — advertiu Reya, sem dar-lhe um olhar. —
Eles precisam saber o que vão encontrar, se decidirem ir em frente.
—Nós vamos em frente, — Chut voltou calmamente. —Nós
vivemos em uma área remota, guerreira. Sabemos o que se passa lá
fora, mas não faz diferença. Zac é o nosso neto e ele vem para casa
com a gente.
—Se você pretende levá-lo de qualquer maneira, por que você
precisa de mim?
Maverk não podia acreditar em sua insensibilidade.
—Maldição do inferno, Reya...
Chut levantou a mão, acalmando.
—Paz, comerciante. Sua amiga é apenas cautelosa, e aqui, é o
que garante uma vida longa. Guerreira, nós precisamos de sua
proteção.
—Ah. — Era como ela suspeitava.
Zina botou a mão no bolso e retirou uma pequena bolsa.
Soltando a corda na parte superior, ela derramou um punhado de
moedas sobre a mesa.
—É tudo o que temos, mas de bom grado queremos pagá-la.
Reya e Maverk olharam para as moedas. Eram quatro moedas
lamentáveis.
—Isso é tudo que você tem? — Reya transferiu o seu olhar de
volta para Zina. —Nada mais?
A raiva rastreou ao longo da espinha de Maverk. Que diabos ela
estava fazendo? Pedir mais dinheiro? Era tarde demais para ela,
afinal? Ela teria tanto sangue-frio que pediria mais dinheiro para um
casal de idosos, obviamente, muito pobres? Será que ele a tinha
subestimado? O pensamento o fez sentir-se muito doente e seu
coração bateu forte dentro do seu peito maciço.
—É todo o dinheiro que nós temos. — Zina hesitou antes de
puxar a sua pulseira de casamento fora de seu pulso fino e colocou-a
ao lado das moedas. —E isso.
Reya contemplou as poucas moedas e a pulseira de casamento
em silêncio, antes de perguntar suavemente:
— Você vai me pagar isso para proteger vocês dois durante a
recuperação do corpo de Zac?
—Sim. — respondeu Chut.
—Por favor, — implorou Zina. —Ajude-nos.
Em silêncio, pensativo, Reya olhou para longe, sobre as colinas
e um minuto inteiro se passou antes que ela baixasse o olhar.
—Muito bem, eu irei.
Lágrimas cintilaram nos olhos desbotados de Zina, que apertou
as mãos.
—Obrigada, oh, obrigada!
—Quando partimos? — Chut perguntou rispidamente.
—Nós não. Eu vou.
—O que você quer dizer?
—Vocês voltam para casa, os dois.
—Ir para casa? — Zina repetiu, cada vez mais alarmada. —Ele é
nosso neto!
—Ele é. — Reya reuniu as moedas na palma da mão. —E você
quer que eu os proteja enquanto vamos pegá-lo. Posso levá-lo mais
rápido sozinha e sem perigo para vocês.
—Não. — Chut deu um passo à frente. —Eu insisto que
vamos...
—Vocês só vão me atrasar. Ou eu vou sozinha buscar o seu
corpo, ou eu não vou.
Zina olhava em lágrimas para o marido, Maverk sentiu-se
terrível por eles, mas ele ficou aliviado que Reya não iria deixá-los ir.
Embora quando estivessem sozinhos, ele pretendia dar-lhe a maior
bronca da sua vida, deixaria que ela soubesse o que ele pensava do
seu sangue-frio e quanto Tenia ficaria esmagada se soubesse quão
baixo sua querida irmã mais velha tinha afundado.
—Por favor, — Zina sussurrou: — Você tem que entender. Nós
nos despedimos com palavras amargas. Nós não queríamos que ele
fosse lutar por Shaque, mas ele insistiu, porque precisava do
dinheiro. Ele morreu por nós.
—Pessoas morrem por uma série de razões, — Reya disse sem
rodeios. —Ele morreu porque acreditava ser uma causa honrosa. Não
torne isso um desperdício, colocando em riscos a si mesmos ao tentar
recolher o corpo. Eu vou fazer isso.
O casal de idosos se entreolhou, impotentes, então Chut
balançou a cabeça lentamente para a mulher e virou-se para a alta
guerreira.
—Muito bem. Vamos acampar fora do assentamento e aguardar
seu retorno.
—Não. Vocês vão voltar para casa. — Reya pegou a pulseira de
casamento de Zina e pesou na sua mão. —Isso será mais seguro do
que ficar aqui. Onde você mora?
Seus ombros caíram em derrota.
—Em Hamos, 20 quilômetros ao sul daqui.
—Eu sei disso. Vou ver vocês em um ou dois dias.
Zina sussurrou:
—Obrigada. — e eles começaram a se afastar.
—Uma coisa mais.
Eles viraram as costas, os olhos tristes olhando para ela.
—Sim?
Reya estendeu a mão, as moedas no meio da palma, a pulseira
de casamento no topo da pilha lamentável.
—Vocês esqueceram isso.
Maverk sentiu como se seu coração fosse explodir de orgulho.
Ele queria apertá-la e cobri-la com beijos.
—Mas... mas... — Zina gaguejou.
Tomando os três passos necessários para trazê-la perto, Reya
tomou a mão na dela e devolveu suavemente, até que as palmas das
mãos estivessem alinhadas. Silenciosamente, ela levantou a mão
acima da de Zina e derramou o dinheiro na palma da mão em
concha, então colocou a pulseira de casamento em torno do pulso
fino.
Ela olhou para o casal sem fala, e repetiu:
— Um ou dois dias, — virou-se e entrou na taverna.
Eles trocaram olhares surpresos com Maverk, que sorriu com
orgulho.
—Essa é a minha garota.
—Reya é a sua mulher? — a expressão de Chut ainda estava
atordoada com as ações da guerreira fria.
—Sim, ela é. — Ele piscou. —Isso é só uma questão de tempo,
antes que ela perceba!

Dana estava olhando para fora da janela de seu quarto, quando


Reya entrou e disse:
— Eu vou voltar para pegar o corpo de Zac.
—Ah, isso explica a conversa com aquele casal de idosos.
—Eu vou pegá-la no caminho de volta.
—Você não vai a lugar nenhum sem mim.
—Seu tornozelo está bastante torcido. Você fica.
—Com o inferno! Eu vou com você ou atrás de você! — A
carranca de Dana agora era total.
—É muito perigoso. Eu não vou correr o risco de novas lesões.
—De jeito nenhum, irmã. Você vai, eu vou.
—Todos nós vamos. — afirmou uma voz profunda.
Elas olharam ao redor, para ver os comerciantes em pé na
porta.
—Eu vou. — corrigiu Reya.
—Não, nós quatro iremos. — Maverk entrou no quarto. —Temos
uma nave espacial de viagem. Podemos ir e voltar do local da
batalha, sem o perigo de correr de bandidos no caminho.
—Eu não preciso de sua ajuda.
—Você a terá de qualquer maneira.
—Além disso, isso significa que Dana pode ir sem medo do
perigo adicional para ela, — acrescentou Garret, cruzando os braços e
encostado à ombreira da porta. —Todo mundo ficará feliz.
Ansiosamente, Dana lançou-se sobre a ideia.
—Pela primeira vez esses imbecis estão certos. Podemos fazer o
trabalho mais rápido e Zac voltará para casa muito mais rápido. E eu
posso ir com você, o que, — seus olhos se estreitaram, — eu vou
fazer de qualquer maneira.
Os olhos de Reya cintilaram de um rosto determinado para
outro, ela sabia que, neste caso, era três contra um. Seu olhar
pousou no rosto de Maverk. Talvez a ideia não fosse tão ruim assim.
O comerciante iria ver os corpos, sabendo que alguns deles ela havia
matado, e ele, com certeza, teria nojo dela e deixá-la-ia sozinha.
Isso era tudo o que ela merecia depois do que tinha feito no
passado...
—Muito bem. — Ela assentiu com a cabeça fria. —Saímos de
manhã.
—Onde você está indo? — Garret perguntou quando ela passou
por ele.
—Vou conseguir uma bolsa mortuária, que manterá o cheiro da
decomposição e da morte dentro dela.
Eles ouviram o som de suas botas batendo na escada de
madeira.
Lançando-lhes um olhar divertido, Dana perguntou:
— Ainda acham que ela não se importa comigo?
—Fazendo você ficar por causa de seu tornozelo, você quer
dizer? — Garret franziu o cenho. —Não é o mesmo tornozelo que
você torceu há dois anos?
—Você se lembra disso?
—Lembro-me de tudo sobre você.
—Não fique descuidado. — Ela olhou para ele com cautela,
embora seu coração tenha acelerado com as suas palavras. —Na
verdade, eu o torci mais duas vezes desde então.
—Ele vai ficar muito mais fraco, — ressaltou com preocupação.
—Não é de admirar que Reya se preocupe com você assim.
—Está tudo bem!
—É?
Nenhum deles notou Maverk saindo do quarto e fechando a
porta silenciosamente atrás dele.
—Sim!
O grande comerciante desdobrou seus braços e desencostou da
parede.
—Isso não é verdade e você sabe disso.
—Como você sabe?
Parando a meio metro de distância, ele estudou o seu rosto
altivo.
—O fato de você ter torcido tantas vezes.
Ela deu um passo para trás, mas foi interrompida pela janela
atrás dela.
—Para trás.
Sua mão apareceu e pairou diante dela e seus olhos se
estreitaram. Esperando que ele fosse agarrá-la, ela foi pega
completamente de surpresa, quando ele gentilmente acariciou a sua
bochecha.
—No fundo de seu coração você sabe a verdade sobre isso,
moça. Quanto tempo você pode seguir a sua guerreira irmã por aí
com um tornozelo que está ficando mais fraco pelas quedas e lutas?
—O que você está sugerindo? — ela exigiu veementemente. —
Que eu não sou boa o suficiente para lutar? Que eu sou inútil?
—Não, inútil nunca, você sempre luta bem, mas cada vez mais
você aumenta o perigo para si mesmo e para Reya. Porque você acha
que ela tentou fazer você ficar aqui?
—Ela precisa de mim!
—E de quem você precisa? — O rosto normalmente alegre de
Garret, estava grave.
—Ninguém!
—Não? Dana todo mundo precisa de alguém.
—Não seja ridículo.
—Negue tudo que quiser, mas você precisa dela tanto quanto
ela precisa de você.
—O que você quer dizer? — Ela deu uma tapa na mão que
estava no seu rosto. —O que você está dizendo, caramba?
—Você teme não ser necessária, você teme não ter propósito
na vida.
Seus olhos se arregalaram.
—Isso é mentira! Não temo nada!
—Você teme e um dia eu vou provar a você que tem um
propósito na vida.
—E o que é isso?
Inclinando a cabeça, ele roçou os lábios nos dela rapidamente,
em seguida, ele puxou de volta e afastou-se, antes que ela tivesse
tempo de retaliar.
—Você vai descobrir moça. Vejo você mais tarde.
Ele deixou uma guerreira conturbada atrás dele, no quarto.

Encontrando o salão da funerária, Reya entrou na penumbra do


edifício. Automaticamente ela ficou de lado, de costas para a parede,
o seu olhar deu uma varredura na sala rapidamente.
Caixões de madeira áspera de vários tamanhos estavam contra
a parede. Seu olhar buscou e encontrou o agente funerário atrás do
balcão, no canto distante, limpando as unhas.
—Como posso ajudá-la? — ele olhou-a entrar, enquanto
empurrava o cabelo preto e gorduroso da testa.
—Eu quero um saco de corpo e um caixão decente.
—Estes são decentes!
—Eu quero um caixão lixado e polido até brilhar, ele deve ter
alças prateadas.
Ele empalideceu sob o seu olhar frio, mas ela não perdeu o
brilho de cobiça nos olhos dele.
—Isso vai custar um extra.
—Quanto? — Ela descansou as palmas das mãos sobre o
balcão.
—Cinquenta dinnos.
Estreitando os olhos, ela se inclinou para frente.
—Você não estaria tentando me enganar, não é, homenzinho?
Eu não gosto quando as pessoas fazem isso.
Recuando, ele nervosamente correu um dedo dentro do
colarinho sujo.
—Claro que não, Reya. Para você eu poderia fazer um acordo
especial. — Como seu silêncio continuou, ele gaguejou, — Trinta
dinnos.
—Trinta dinnos. — Ela balançou a cabeça abruptamente. —Com
o forro de cetim.
—Forro? — ele guinchou incrédulo.
Um braço delgado disparou de repente, uma mão forte
agarrando um punhado de sua camisa e transportando-o através do
balcão.
—Sim cetim, forro e pronto amanhã de manhã. Entendeu?
—S-sim, c-claro.
Empurrando-o para trás, ela soltou sua camisa e alisou-a com
uma tapinha rápida.
—Bom. Vejo você depois.
O suor escorria pelo seu rosto, enquanto a observava sair.
Virando na porta, ela deu-lhe com um olhar mortal.
—É melhor que seja um bom trabalho, homenzinho. Eu vou
inspecioná-lo quando voltar.
Nervosamente seu engolir subia e descia.
—Vou começar agora.
Deixando o prédio, ela caminhou pela rua principal, sentindo-se
inquieta e temperamental. A agitação era algo que ela estava
acostumada, o mau humor não.
A rua estava se tornando rapidamente lotada e ela teve que
tecer o seu caminho através do esmagamento da humanidade,
embora a maioria deles abrisse caminho para ela, depois de apenas
um vislumbre de seus olhos. Ela sabia o que eles viam apenas o
afastamento refletia.
Divertiu-a ver os homens recuando, com os olhos luxuriosos,
mas ainda com medo, o respeito relutante ou o não gostar aberto nas
faces das mulheres.
Muitos dos homens usavam calças ásperas e camisas de
materiais feitos em casa, os vestidos das mulheres eram de vários
comprimentos e estilos. Crianças corriam em meio à multidão, com
os olhos e os dedos em busca dos bolsos dos viajantes incautos.
Parando em uma mesa atulhada de frutas e legumes, ela
pensou no casal de idosos fazendo seu caminho para casa e fez sinal
para a dona da barraca, que atendeu com rapidez. Reya apontou
para vários produtos que ela queria e uma grande caixa logo estava
cheia com as mercadorias.
—Há um homem e uma mulher idosos indo na estrada ao sul.
— Ela ergueu um extra de cinco dinnos e os olhos da proprietária da
barraca se arregalaram. —Faça com que esta caixa seja entregue à
eles.
—Claro. — A mulher fez menção de pegar as moedas, mas
Reya segurou-as fora do seu alcance.
—Você sabe, — disse ela em advertência. —Se isso não chegar
a eles, eu volto para ver você.
A mulher empalideceu.
—Vou mandar o meu próprio filho fazê-lo.
Ela entregou as moedas para ela.
—Não diga a eles quem enviou.
—Mas e se perguntarem?
—Não diga a seu filho e ele não será capaz de dar-lhes uma
resposta.
A proprietária da barraca observou a guerreira alta desaparecer
na multidão, então chamou seu filho. Quando um jovem de dezesseis
anos apareceu, ela lhe entregou a caixa com as instruções da Reeka
e enviou-o em seu caminho.
Das sombras da entrada de uma taberna, Maverk observava.
Ele estava seguindo Reya à distância, havia visto e ouvido cada ação
e palavra que ela tinha dito. Por que ela se esforçava para ser um
calo, para distanciar-se e não deixar ser sabido que ela se importava?
A Reeka era um quebra-cabeça, ele olhou para frente para
solucionar.
Olhando para trás, ela viu sua figura elevar-se acima da
multidão e seu aborrecimento cresceu quando ela percebeu que ele a
estava seguindo. Condenação! Quem lhe deu o direito de me
espionar? Para ver todos os seus movimentos? Seus pensamentos
foram desviados por um homem do outro lado da rua cheia de gente,
atrás de Maverk. Era um caçador de recompensas, com os olhos na
multidão, em busca de alguém. Ela parou. Quem o carniceiro está
procurando? De repente, ele mergulhou na multidão e outro caçador
de recompensas apareceu em sua linha de visão, empurrando contra
a multidão.
O seu sangue gelou. Eles tinham visto sua presa. Ele andara
aos empurrões e um grito assustado soou, seguido por uma
maldição.
—Pequeno bastardo! Cuidado!
—Ele está fugindo!
—Volte aqui!
Um terceiro caçador de recompensas apareceu em torno do
canto dos estábulos e um quarto empurrou Maverk, passando por ele
na varanda.
A multidão de pessoas se separou, pouco antes de Reya e uma
pequena figura colidirem. Ela agarrou seu ombro.
—Deixe-me ir! — O rapaz torceu freneticamente nas garras
fortes.
Cabelos pretos como carvão caia sobre os olhos negros e seu
corpo era magro e rijo. Ela o reconheceu imediatamente, mesmo
depois de dois anos, desde que ela o tinha visto pela última vez. O
reconhecimento ocorreu em seus olhos e sua boca se abriu em
surpresa.
Empurrando-o de volta por trás dela, Reya olhou a multidão
rapidamente, sua altura dando uma vantagem, ela via onde os
caçadores de recompensas estavam. Todos os quatro estavam vindos
em sua direção, embora ainda não tivessem reparado nela.
Mantendo um controle apertado sobre o ombro do jovem, ela
virou-se e empurrou-o em direção a uma barraca nas proximidades
que vendia bugigangas e joias. A mesa estava coberta com um pano
que atingia o chão. Silenciosamente ela pressionou seu ombro e
apontou para ele. Ele não precisava de explicação, caindo de joelhos
e correndo debaixo, o pano caiu atrás dele para escondê-lo da vista.
Calmamente, ela estava em pé diante da mesa quando olhou
para uma joia. O proprietário da barraca, um homenzinho com olhos
brilhantes, abaixou a cabeça sobre o anel que ele pegou e passou a
polir diligentemente.
Gritos se aproximavam e ela sabia que os caçadores estavam
chegando, mas foi o calor repentino ao seu lado e o formigamento
que lhe varreu o braço, alertando-a para sua presença.
—Isso é conhecido como ajudar um criminoso. — as palavras
de Maverk eram uma carícia quente em seu rosto. —Você gosta da
pulseira que você segura?
Ela não olhou para ele.
—Eu não tenho idéia do que você quer dizer, bonitão. Quanto à
pulseira, está tudo certo.
—Isso é uma pulseira de casamento. Você está tentando me
dar uma dica?
Soltando-a como se estivesse em brasa, o seu olhar zangado
virou-se para ver os quentes olhos divertidos.
—Com o inferno!
Ele sorriu, mas antes que ela pudesse acrescentar algo mais, os
caçadores de recompensas saíram do meio da multidão e se
encontraram cara-a-cara com eles.
Cormac deu um passo à frente, com os olhos apertados.
—Eu suponho que você não viu um jovem andar nesse
caminho?
—Qual deles em particular? — ela voltou-se com curiosidade
leve. —Há jovens em todos os lugares.
Os duros olhos cinzentos cravaram nela.
—O irmão de Sinya.
—Você caça crianças agora? Mas que mudança agradável.
—Ele não é uma criança. E quanto a você, comerciante?
Coçando a cabeça, Maverk franziu o cenho.
—Como que ele se parece?
—Não se preocupe. — Cormac moveu seu olhar para Reya
novamente. —Você não pensaria em ajudar um criminoso, não é?
Esse é o tipo de coisa que pode tornar você uma foragida de novo.
—Estou aterrorizada. Isso me faria uma mulher má?
Com um gemido interno, Maverk percebeu que ela estava
deliberadamente provocando os caçadores de recompensas,
novamente. Assim como aqueles que os rodeavam. A rua estava em
silêncio, um silêncio de antecipação estava no ar e em cada rosto.
—Nós estamos inspecionando a mercadoria, — Maverk disse
suavemente.
A boca de Cormac se contraiu.
—É mesmo?
Reya encolheu os ombros.
—Pense no que você quiser caçador. Talvez você gostasse de
procurar no lugar?
Uma picada de desalento percorreu Maverk quando ela
balançou o braço em volta e apontou para a mesa.
—Venha ver se eu escondi o jovem bandido debaixo da mesa.
Aqui, eu vou até levantar o pano para você.
Os olhos do dono da barraca ficaram vidrados com esse
anúncio. Maverk enrijeceu quando a viu alcançar o pano e começar a
levantá-lo lentamente.
Ela olhou zombeteiramente para os caçadores.
—Peguem suas armas para o bandido grande e mau, rapazes.
Cormac cuspiu uma maldição quando um riso silencioso
atravessou as pessoas que assistiam, ele sacudiu a cabeça
bruscamente para os seus homens.
—Vamos continuar a busca!
Eles se afastaram e Maverk soltou um suspiro de alívio. A
promessa de derramamento de sangue terminou, a multidão parecia
decepcionada e ouve murmúrio sobre o assunto. Reya deixou cair o
pano e se endireitou.
—Como você sabia que ele ia recuar? — Maverk perguntou.
—Eu não sabia.
—Você blefou?
Ela não respondeu. Em vez disso, levantou o pano novamente.
Como ela suspeitava, não havia nenhum sinal do jovem.
Aproveitando a distração, o irmão do pirata do espaço tinha
escapado.
—Suponha que ele visse o seu blefe, moça? Então o quê?
—O menino está desaparecido e Cormac não o achou, então
não há nenhum ponto para pensar no que não aconteceu.
Ela saiu e deixou Maverk balançando a cabeça.
Capitulo 8
As ruas estavam escuras e desertas, só com briga de estranhos, ou
gritos pontuando a escuridão, o estalo agudo de um laser dando um
único lampejo de luz na ocasião estranha. Uma noite normal para um
assentamento na proximidade do Setor Outlaw. Apenas os muito
corajosos ou muito estúpidos andavam pelas ruas à noite.
Com um toque irônico de seus lábios, Reya sabia em qual
categoria ela se encaixava. Ela caminhou ao longo do calçadão,
fazendo as batidas abafadas de suas botas na madeira e um laser
amarrado a sua coxa.
Tola, provavelmente. Ela estava tensa e tinha sido assim desde
que os comerciantes tinham aparecido ontem. A tensão tinha
aumentado constantemente durante todo o dia, especialmente
quando descobriu que em todos os lugares que se virava, ela pegava
um vislumbre dos olhos quentes, longos cabelos loiros e
desgrenhados, uma boca sorrindo e ombros largos. Droga, Maverk
parecia estar em toda parte! Será que ele achava que ela precisava
de sua proteção ou algo assim?
Seu ressentimento crescia a cada minuto que passava, assim
como a tensão e as dores nos ombros e pescoço. Havia apenas uma
forma de aliviá-la e essa era a razão pela qual andava pelas ruas de
um assentamento fora da lei, tarde da noite. Ela não poderia ferir
Maverk, Tenia nunca iria perdoá-la, pois tinha um carinho especial
pelo amigo de seu marido, então, ao invés, Reya estava esperando
que alguma escória marginal fosse atacá-la nas ruas, então poderia
botar para fora sua agressividade, sobre ele — ou eles.
A escória marginal do assentamento que descobriu Reya, não
era feita de burros. Ninguém atacava uma Mulher Guerreira Reeka e
saia ileso. A reputação de Reya como uma mercenária impiedosa era
bem conhecida, mesmo nas áreas mais isoladas.
Eles também não atacavam os comerciantes Daamen. Os
comerciantes eram enormes, muito musculosos e com um amor pela
luta. Só um idiota iria atacar o loiro gigante que andava pelas ruas
com uma expressão sombria no seu, normalmente, rosto sorridente.
Um Daamen furioso era duas vezes mais perigoso em uma luta.
Reya desistiu e com desgosto voltou para seu quarto. Malditos
homens! Covardes inúteis! Onde estava a escória quando você queria
bater em alguém?
Ela tentou a porta de Dana e encontrou-a fechada, da mesma
maneira que tinha estado quando tinha saído algumas horas atrás.
Bom, sua prima ainda dormia. Ela lançou um olhar para o quarto ao
lado, que os comerciantes compartilhavam. Sem dúvida aqueles
imbecis estavam roncando, agora.
Ela entrou em seu quarto com cautela, com o laser na mão,
mantendo-o engatilhado até que ligou a lâmpada que iluminava o
quarto. Trancando a porta atrás dela, soltou o coldre do laser e
colocou-o perto da mochila.
Talvez um banho quente fosse ajudá-la aliviar a tensão, embora
ela duvidasse disso. Ela estava totalmente desperta e ansiosa para
uma luta, mas em quem queria bater muito, estava dormindo
pacificamente. Bastardo.
Entrando no banheiro, ela despiu-se e entrou no banho,
esfregando-se alegremente com o sabão perfumado de rosas. Seu
modo de vida significava que, às vezes, ela tinha que passar dias sem
um banho ou ducha, assim, vivia coberta de sangue, suor e sujeira.
Ela adorava momentos como este, quando tinha pleno acesso à água
quente.
Secando-se, ela saiu e enrolou a toalha em volta dela e enfiou o
final da toalha segura entre os seus seios cheios. Passou a escova
através de sua cabeleira espessa de cabelos encaracolados, abriu a
porta do banheiro e ficou com uma carranca irritada.
—Que diabos você está fazendo aqui?
Botando a chave-mestra que usara para ganhar a entrada para
o seu quarto em cima da mesa ao lado da cama, Maverk se levantou
de repente.
—Vigiando você.
Fechando a porta do banheiro, ela retrucou:
— O que você quer?
Ele viu-a passar por cima, para verificar a fechadura, com os
olhos acompanhando as suas pernas longas, musculosas nas
panturrilhas e coxas tonificadas. A toalha cobria apenas os seios e
descia até as coxas.
Encontrando a porta fechada, ela virou-se, caminhou de volta e
parou no meio do quarto, dobrou os braços e deu ao comerciante um
olhar hostil.
—Eu perguntei o que você quer, bonitão.
Ele podia pensar em algumas coisas, uma em particular, que
seria ela mesma. Em vez disso, ele exigiu duramente,
— O que você estava fazendo, andando sozinha pelas ruas até
quase meia-noite?
—Cuidando dos meus negócios, que é algo que você não
aprendeu a fazer.
Seus lábios apertaram e involuntariamente seu olhar foi atraído
para eles. Para um homem, ele tinha os mais sensuais lábios, firme e
quente, bem torneados e...
Ela quebrou seus pensamentos abruptamente, quando ele
respondeu.
—Sua segurança é o meu negócio, enquanto estou com você.
—Meu Deus! O grande protetor. Bem, deixe-me dizer uma
coisa, bonitão. Eu estive me protegendo por anos e consegui fazê-lo
perfeitamente bem.
—Você chama andar sozinha por ruas perigosas durante a
noite, de se proteger? — Ele caminhou até estar diretamente na
frente dela, com as mãos nos quadris magros.
Ela se irritou quando teve de inclinar a cabeça ligeiramente
para trás, para olhar nos seus olhos. Ela tinha o maior prazer em
olhar para baixo, sobre a maioria dos homens.
—Você estava me seguindo de novo? Você não tem nada
melhor para fazer?
—Não quando você insiste em fazer algo estúpido.
—Depende da sua idéia de estupidez. Eu sabia o que estava
fazendo.
As características entediadas de seu temperamento inflamaram
mais.
—Suponho que você estava procurando briga?
O silêncio que seguiu fez seus olhos se estreitaram, quando ele
percebeu que tinha atingido a verdade.
—Muito bem, bonitão, você pega rápido. — Ela girou se
afastando. —Agora, vá para a cama como um bom menino.
Sua mão disparou, pegando seu braço e balançando-a de volta,
para enfrentá-lo.
Incisivamente, ela olhou para sua mão.
—Solte-me.
—Não, até você me dizer por que você saiu à procura de uma
luta.
Ela teve o suficiente de ordens de Maverk. Avançando
rapidamente, ela levantou a perna e bateu seu calcanhar
bruscamente atrás de seu joelho, empurrando-o com força com o
ombro, ao mesmo tempo.
Com um baque surdo e uma maldição, ele bateu no tapete fino.
Empurrando-se para cima sobre os cotovelos, ele olhou para cima,
para a guerreira em pé aos seus pés, com os braços cruzados.
—Você deve aprender o que significa ‘soltar’, bonitão.
—Você é uma moça de coração frio e teimosa demais para seu
próprio bem. — Ele fez uma careta.
—Paus e pedras, bonitão. Agora saia.
Ele se levantou, enquanto ela observava com indiferença.
—Acho que vou procurar uma companhia mais quente, — ele
rosnou.
—Faça isso.
Arrebatando a chave-mestra da mesa, ele foi para a porta.
Ela agarrou o braço dele.
—Dê-me isso!
Segundos depois, ela bateu no tapete, deitada de costas, com o
peso dele prendendo o seu corpo ao chão.
Ele sorriu para o seu rosto furioso.
—Você só tinha que perguntar se eu queria dar-lhe alguma
coisa, moça.
—Eu quis dizer a chave, seu grande imbecil! Saia de cima de
mim!
—Gosto muito da idéia de você embaixo de mim. — diversão
tingia as suas palavras.
—Deixe-me levantar ou eu...
—O quê?
Reya balançou seu punho para ele, mas Maverk estava
esperando por isso e capturou-lhe o pulso na mão.
—Tcs, tcs, você não é muito amigável, moça.
—Seu filho da puta!
Pegando seu outro pulso, ele puxou seus braços acima de sua
cabeça e prendeu os dois pulsos, facilmente, com uma só de suas
grandes mãos.
—Você pode ganhar mais batalhas com doçura do que
amargura, meu amor.
Frustração ondulou através dela e ela tentou empurrar um
joelho para cima em sua virilha, mas ele apenas usou a sua perna
para prendê-la ainda mais.
—Vá para o inferno!
—Vamos lá, a sua boca pode fazer coisas melhores do que
maldizer. — Ele sorriu maliciosamente. —Vamos experimentar e...
—Calado!
Torcendo seus pulsos, ela lutou contra ele. Ela não tinha idéia
do que seu corpo se contorcendo sob Maverk faria com ele, mas fez.
Sentindo cada curva suave e firme da sua figura esbelta e forte, ele
se apertou tanto para se segurar sobre ela que seu autocontrole
rapidamente desapareceu.
Tentando se torcer para longe dele, ela, de repente, sentiu a
ponta da toalha entre os seus seios se soltar e congelou. Não se
atrevendo a olhar para baixo, manteve seu olhar preso no rosto de
Maverk, que agora refletia preocupação em vez da diversão
enlouquecedora.
—Moça, o que está errado? Eu a machuquei? — Ele começou a
empurrar-se para levantar.
—Não se mexa! — ela gritou em pânico, enquanto sentia a
toalha escorregar dela.
Liberando seus pulsos, ele franziu a testa, mas não parou o seu
movimento de levantar.
—Eu não entend... — Suas palavras foram sufocadas pelo
espanto, por que as mãos dela agarraram seu colete e puxou-o de
volta para baixo, sobre ela.
—Não se mova, — ela sussurrou.
Agora, mais curioso do que preocupado, pois se ela tivesse se
machucado, não haveria nenhum jeito que fosse puxá-lo de volta
para baixo, ele olhou-a com interesse cada vez maior, quando notou
o rubor rosa em suas bochechas e o olhar que evitava o dele.
—Qual é o problema?
—Você!
As sobrancelhas subiram provocantes.
—Não me diga que você me quer?
Seus olhos não eram mais frios, mas queimado com fúria.
—Seu idiota! Minha toalha caiu!
Seus olhos vagavam lentamente para baixo da sua garganta
suave, deslizando sobre os ombros e ainda mais para baixo, para
onde seus seios macios foram pressionados contra o peito dele. Ele
podia ver o canto da toalha para fora, debaixo do braço.
Ele se tornou consciente da sensação de seus seios nus contra
o seu peito nu, no momento preciso que Reya o fez.
Seus olhos brilharam ao encontro do seu olhar mortificado.
—Oh, não! Não sai, não!
—Resolva o que quer, — ele respondeu num tom de voz rouco
que fez os olhos dela afiarem.
—Isso é culpa sua!
—O melhor erro que eu já fiz.
Em alarme, ela observou o calor de seus olhos, a curva sensual
de seus lábios e a até então desconhecida sensação da pele de um
homem contra seus seios. Seu peito tinha a pele lisa, com ondas
duras de músculos, e sua suavidade parecia moldar-se a ele,
seguindo as subidas e descidas.
Havia uma dureza contra o seu estômago também, uma dureza
que ela sentiu através da calça do homem acima dela.
Ela olhou para o rosto de Maverk, chocada com o desejo que
poderia sentir em seu corpo e ver em seus ardentes olhos castanhos.
Ela sentiu seus mamilos endurecendo contra o peito dele, uma onda
de calor no poço de seu estômago que descia em espiral para baixo
até o âmago de sua feminilidade.
—Reya. — Sua voz era baixa, gutural e pulsava com uma
paixão que a assustava.
—Maverk, não... — O protesto foi interrompido por seus lábios.
Ele a beijou suavemente, acalmando seus movimentos de
pânico com seu corpo e mãos, persuadindo uma resposta dela, que
ela não queria dar. Mas agora que ele a tinha indefesa pegou o que
desejava, desde seu último beijo, outro gole de sua boca de mel.
Ele segurou-lhe os pulsos para baixo em cada lado da cabeça,
suas mãos mergulhando nas ondas encaracoladas, que se agrupavam
no tapete.
Lábios firmes moviam-se sedutoramente contra os seus, mais
suaves, descontroladamente a língua procurava a entrada. Sua luta
enfraqueceu e ela não ficou ciente de quando parou de resistir e
começou a responder os seus beijos. Tudo que ela sabia era que este
comerciante loiro estava fazendo sua cabeça leve, imprudente e
quente de uma só vez e queria mais dele. Abrindo a boca, ela
provou-o ansiosamente.
Liberando um de seus pulsos, moveu a mão para baixo entre
seus corpos, para acariciar seus seios macios em sua palma, esfregar
o seu polegar através do mamilo, com o monte generoso enchendo a
mão.
Gemendo quando um raio queimou através dela com o toque
certo, ela arqueou-se contra a palma calejada dele.
Seus lábios deslizaram para o lado de sua garganta e ele
apertou os beijos, mordiscando-lhe a pele sensível, deixando uma
trilha úmida em chamas na sua esteira. A outra mão já não segurava
seu pulso cativo, em vez disso, seus dedos estavam entrelaçados
com os dela, espremendo delicadamente, quando ela própria
flexionou na paixão irracional contra os seus.
Ela pensou que ia morrer quando seus lábios encontraram o seu
mamilo e ele aninhou o broto dolorosamente ereto, antes de fechar
sobre ele puxando-o profundamente em sua boca quente. Ele lavou-o
com sua língua, enquanto a outra mão deslizou em seu braço para
massagear o outro seio suavemente. Cada movimento de seus lábios
puxava uma corrente quente invisível que a atingia eroticamente no
seu lugar privado de mulher, fazendo seu sangue ferver e chiar ao
longo de suas veias.
O cheiro limpo do seu corpo com o cheiro de rosas subjacentes
encheu os sentidos de Maverk. Ardente, limpa e, oh, tão doce, como
ele sabia que seu quente lugar secreto seria, o mesmo lugar que ele
doía para enterrar sua masculinidade.
Ele sabia que dentro da guerreira de gelo, havia uma paixão
dormente. O que ele não tinha adivinhado, jamais poderia ter
adivinhado, era o fogo que queimava uma vez despertado. Seu corpo
com curvas tão generosas era quente e macio, movia-se
sensualmente contra ele, pressionando mais e mais perto ainda, até
que o calor de sua pele parecia queimá-lo. E como uma mariposa em
volta de uma chama, ele saudou o calor, procurou o centro de sua
flamejante paixão, as chamas lamberam seu desejo ardente, que
entre eles, era rápido e rugia como um inferno.
Sua masculinidade latejava dura e ereta entre seus corpos.
Deixando seu seio, ele desenhou a si mesmo de volta até seus lábios,
alegando sua boca ávida de posse feroz, devastando a quente
caverna de mel.
Sua mão livre estava entrelaçada em seu cabelo, então foi
escorregando até as suas costas. Viajou ainda mais para baixo para
deslizar sob o colete de couro e ela sentiu o calor de sua pele suave e
a leve umidade do seu suor, enquanto arrastava a mão lentamente
na suas costas e sobre os músculos que ondulavam e o puxou com os
seus movimentos.
—Deus, Reya, eu preciso de você, — sussurrou Maverk contra
seus lábios. —Deixe-me amar você.
Amor. Ninguém jamais tinha lhe oferecido o seu amor. Ela
olhou profundamente em seus olhos ardentes e muito para trás nos
recessos de sua mente, uma voz gritou um aviso,
— Não faça isso! Não faça isso! — enquanto uma voz mais forte
atravessou e argumentou: — Por que não? Você o quer. Você quer
um gostinho de ternura. Faça isso. Pegue o que ele oferece.
Maverk viu o lampejo de indecisão nos seus olhos, olhos que
não eram mais frios, mas queimavam com paixão, cristalinos com o
desejo. Ele sabia que devia recolher-se e dar-lhe tempo para
escolher, mas estava em um ponto sem retorno. Ele queria esta
moça por um longo tempo. Agora que a tinha, não queria deixá-la ir.
Uma vez que ela conhecesse o gosto do amor que ele lhe oferecia,
estava certo de que ela iria derreter o último gelo da sua resistência.
E ele doía com a necessidade. Ele precisava da mulher guerreira,
queria-a e estava determinado a tê-la.
—Maverk, eu... — Mais uma vez as suas palavras foram
cortadas por seus lábios.
Com a maré de desejo que a enchia, a voz de advertência
dentro de sua cabeça sumiu e Reya entregou-se à paixão que corria
através dela.
Maverk conseguiu tirar os ombros para fora do colete, mas
desistiu da idéia de descartar a calça quando ela agarrou seus
ombros e pressionou mais. Não havia nenhuma maneira de fazer
isso. Empurrando a cintura de suas calças para baixo, passado seus
quadris magros, ele livrou seu pênis, que saltou livre, quente, duro e
latejante.
Sem pensamento consciente, ela separou suas coxas e ele
abaixou-se entre elas. Seus quadris embalaram-no e ela dobrou os
joelhos, seu olhar queimando dentro dele.
A ponta de sua masculinidade cutucou a entrada quente e
úmida de seu corpo e ele empurrou para frente, enchendo-a e
esticando-a, enterrando-se ao máximo dentro da sua passagem
apertada.
Na doação de sua virgindade ela engasgou em voz alta e
Maverk parou instantaneamente. Deixou cair sua cabeça para beijá-la
ternamente, um orgulho totalmente masculino cresceu através dele
com o conhecimento de que ela era virgem, que não tinha conhecido
nenhum outro homem, exceto ele e ela nunca iria conhecer outro, ele
prometeu a si mesmo.
Ela começou a se contorcer embaixo dele e ele balançou os
quadris suavemente, sendo recompensado por seu gemido de prazer.
Agarrando seu braço com as mãos, apertando seu bíceps
protuberante, as costas de Reya arquearam quando ele pressionou
quentes beijos na sua garganta e fez suas estocadas mais rápidas.
Ele sentiu como se estivesse em chamas e tinha certeza que
não poderia segurar por muito mais tempo. Sua passagem lisa
parecia escaldar sua dureza de veludo, os músculos dentro dela, bem
tonificados pela equitação e lutas, espremendo seu pênis, quase o
fazendo explodir em êxtase.
—Ah, moça, — ele ofegou, levantando a cabeça para olhar para
ela, — Eu acho que não posso esperar mais!
Ela abriu os olhos e eles estavam preenchidos com um fogo
verde.
—Então, leve-me, Maverk... agora!
As palavras foram um estopim para um barril de pólvora.
Apoiando-se em seus braços, ele empurrou duro e rápido em seu
corpo aquecido, uma e outra vez, retirando-se e empurrando de
volta, enterrando-se profundamente dentro dela.
Era como se ela estivesse à beira de um dos buracos negros
que pontilhavam o espaço. A qualquer minuto ia cair pela borda em
algum lugar que não tinha conhecimento, mas que sabia,
instintivamente, fosse algo necessário, um lugar que este homem
poderoso e vigoroso iria mandá-la. Enchendo-a e ela nunca havia
conhecido nada parecido.
O suor de seus corpos corria junto e suas respirações se
misturavam quando ele a beijou, mais e mais, beijos de boca aberta
que devastavam a sua boca e tomavam posse dela, tão certo como
ele fazia com seu corpo.
O fogo dentro dela agora era um inferno feroz e estava tensa
contra o homem acima dela, recebendo cada impulso.
Suas mãos deslizavam sob seus quadris, inclinando-a para
ganhar mais penetração e ele gemeu na ondulação das paredes da
sua vagina, os músculos contraíram em torno de seu pênis, sua
bainha, apertada e quente puxando-o, segurando sua masculinidade
em um aperto erótico.
Arqueando para trás, ele explodiu em seu corpo, estremecendo
enquanto ele sentia a sua contração em torno dele, o seu clímax
vindo junto com o dele. Ele cerrou os dentes e esvaziou dentro dela,
ela recebeu o que ele lhe deu, profundamente dentro de si.
Drenado, ele caiu em cima dela, sentindo-se tão fraco como um
gatinho recém-nascido e apoiando sua cabeça sobre o ombro dela.
Sua respiração estava irregular e alta, eles lentamente
voltavam do buraco negro da queima da paixão em que tinham
mergulhado.
Após vários minutos, Maverk tomou consciência de que eles
ainda estavam no chão. Ele tirou as calças e começou a ficar em pé.
—Não, — ela sussurrou. —Minha toalha escorregou fora.
Ternamente, ele sorriu para baixo com seus olhos sonolentos,
reconhecendo a expressão saciada neles. Seu rosto estava lavado
pela paixão e sonolento, como consequência de seu ato de amor
explosivo.
—Depois do que acabamos de fazer, você se preocupa com
isso? — ele brincou suavemente.
Como uma criança cansada ela esfregou os olhos com as
palmas das mãos e sua ação puxou as cordas do seu coração.
—Eu tenho uma idéia. — Escovou um beijo na orelha dela.
—O quê?
—Coloque seus braços ao redor do meu pescoço e eu vou
colocar um braço em torno de seu corpo e segurá-la perto, enquanto
eu me levanto tudo bem? Dessa forma, você estará contra mim o
tempo todo e pode preservar sua modéstia.
Ele disse isso com um estado de espírito sonhador e ela
concordou.
Cuidadosamente Maverk se levantou, segurando-a perto como
havia prometido. Ela ajudou, até que ficou em pé, segurando a toalha
juntamente com uma mão na frente dela.
Em seu bocejo, ele varreu-a em seus braços e caminhou até a
cama para colocá-la no colchão. Deitando ao lado dela, ele a puxou
para seus braços.
Sonolentos, quentes e saciados, eles dormiram.
Capitulo 9
Pouco antes do amanhecer, Reya acordou. Imediatamente, ela
tornou-se ciente de três coisas. Primeiro, o homem adormecido ao
lado dela na cama, segundo seu próprio estado de nudez e em
terceiro lugar, uma desconhecida dor fraca entre as coxas.
A memória veio à tona e ela fechou os olhos em angústia. Não!
Isso não poderia ter acontecido! Isso não poderia ter acontecido!
Mas tinha acontecido. Ela tinha que reconhecê-lo,
especialmente porque uma pequena mancha de sangue sujava a
toalha de banho e era uma prova de sua virgindade perdida.
Cuidadosamente ela saiu da cama e foi em silêncio até o
banheiro, onde tomou um banho, o spray de água limpou o seu
atordoamento, clareando a sua mente. No momento em que ela se
vestiu e saiu do banheiro, estava mais uma vez no controle de suas
emoções. Até que avistou o homem dormindo em sua cama.
Estudou-o, a forma como o cabelo loiro grosso estava
espalhado sobre o travesseiro, o rosto bonito com a mandíbula
quadrada, nariz reto e maçãs do rosto cinzeladas. Um rosto forte,
como o próprio homem. Mesmo relaxado durante o sono, a sua
tremenda força irradiava para fora.
Caramba! Balançando por perto, ela olhou para fora da janela.
O que ela tinha feito? Depois de tudo o que tinha acontecido no
passado!
Quando Maverk acordou viu Reya em pé na janela, a luz pálida
do amanhecer tocava as bochechas com uma carícia que ele desejava
imitar. Percebendo a expressão congelada, ele sabia que não ia ser
tão fácil como pensava, em derreter a sua resistência.
Isto foi reforçado quando ele pôs as pernas para o lado da
cama e sentou-se lentamente.
—O que aconteceu foi um erro. — Sua voz era como o vento de
inverno.
—Reya...
—Isso não pode acontecer novamente. — Ela se virou para
olhar para ele. —Isso não vai acontecer novamente.
O distanciamento em seu rosto lhe doía.
—Moça, não há nada para se envergonhar sobre o que fez...
—Não vai se repetir e, tanto quanto eu sei, acabou.
—Acabou? — Ele se levantou. —Você não pode simplesmente
descartar-me, como se nunca tivesse acontecido.
Afastando-se da janela, ela manteve a cabeça erguida.
—Eu já fiz isso.
—Você fez? Bem, eu não rejeitei isso, não mesmo, deixe-me
dar-lhe a dica. E quando a isso não acontecer de novo...
—Não vai.
Ele suspirou.
—Reya, eu sei que você está confusa agora e eu entendo isso,
mas eu acho que devemos conversar...
—Há um monte de coisas que deveríamos ter pensado primeiro,
como o risco de um bebê.
Seus olhos desceram até a sua cintura delgada, rodeada por
um cinto de couro largo.
—Bebê?
—Sim, querido, — ela disse sarcasticamente. —Ou você se
protegeu quando fizemos isso?
—Não fiz isso, moça, mas fizemos amor.
Um rubor fraco tingiu o seu rosto.
—Será que fizemos?
—Fizemos amor. — Sua voz era um ronronar quente que fez os
cabelos em seus braços arrepiar deliciosamente.
—Chame do que quiser, mas um bebê não pode ser descartado,
neste momento.
—Isso não é uma preocupação. Vou casar com você e nós
vamos ter o bebê.
—Eu não quero um e não vou casar com você.
Com os olhos quentes, ele se aproximou.
—Será que o casamento comigo será tão ruim, moça? E ter os
meus filhos?
—Isso é a última coisa que eu quero.— Com a chave na mão,
ela se virou e caminhou para a porta.
—Onde você está indo?
—Garantir que não haverá um bebê.
Ele estava do outro lado do quarto antes que ela tivesse a
chave na fechadura, agarrando-lhe o pulso e puxando-a para encará-
lo.
—Que diabos você vai fazer?
—Não entre em pânico, bonitão. Estou simplesmente indo a
uma herbarista que conheço. Ela vai ter algo que eu possa tomar
para impedir a concepção. Eu espero.
Ele viu uma centelha fraca de incerteza em seus olhos, uma
dica de medo e disse baixinho:
— Não.
—Não? Que diabos você quer dizer? Eu não posso ter o risco de
um bebê.
—Você não tem. A bordo da minha nave eu tenho algo que
posso lhe dar
—Você tem algo para evitar a gravidez?
—Sim.
Ela balançou a cabeça, de repente.
—Não se preocupe eu vou...
—Não, você não vai. — Ele pegou a chave da mão dela. —É
minha responsabilidade e não vou deixar você tomar algo que pode
não funcionar, ou pode muito bem envenená-la.
—Eu vou ficar bem.
—Você disse que não quer um bebê. Você prefere o risco de ter
um ou talvez ter a certeza de evitar, com o que eu vou lhe dar?
Ela hesitou dividida entre dizer-lhe para ir para o inferno e
sabendo que a sua era a decisão certa. Engolindo seu orgulho, ela
balançou a cabeça. Ela podia ser teimosa, mas não era estúpida.
—Bom. — Ele destrancou a porta. —Quando chegarmos a nave,
eu vou dar para você.
Sua nave. Ela estaria em estreita proximidade com ele. Ela
gemeu mentalmente.
—Sob as circunstâncias, eu não penso...
Ela não ia se livrar dele tão facilmente, especialmente agora!
—Até onde você estiver preocupada não existe nenhuma
circunstância, lembra? Eu já concordei em ajudá-la sobre isso...
—Eu nunca pedi por isso.
—... E eu pretendo fazê-lo completamente, então eu vou vê-la
em breve, hmm? Eu vou descobrir se os outros estão acordados.
A porta foi fechada firmemente na cara dela. Ela olhou para ele,
em seguida, virou-se para onde estava sua mochila. Fumegante,
atirou algumas coisas para ela e prendeu o laser no seu cinto. A
espada ela escorregou na bainha e amarrou nas suas costas, para
fora do caminho, mas ao alcance quando necessário.
Dana estava mancando no quarto, meio vestida, quando Reya
bateu na porta.
—Entre.
—Você não está pronta ainda?
—Ai, Ai. — Sentando na cama, ela começou a puxar suas botas.
—Estamos irritadas esta manhã?
—Eu só quero acabar com isso. — Reya foi até a janela e olhou
para o sol nascente. —Será que podemos despistar os comerciantes e
escapar?
—Teve outro desacordo com Maverk?
Tristemente, ela pegou a madeira do parapeito.
—Algo assim. Não.
—Limpe a lama para mim. — Dana bocejou
despreocupadamente.
—Cansada?
—Sono perturbado. — Ela mancou até o banheiro, deixando a
porta aberta, enquanto escovava os dentes e penteava os cabelos. —
Algum casal me acordou com seus gemidos. Você teve sorte de não
ouvi-los.
Sinos do inferno! Reya se alegrou que sua prima não pudesse
ver seu rosto vermelho.
—Você esteve ouvindo?
—Uh. Sim. — Ela limpou a garganta.
—Como está o seu tornozelo esta manhã?
—Tudo bem. Você está bem? Você está estranha.
—Claro que estou bem. — Ela tentou um sorriso.
Dana lançou-lhe um olhar duvidoso quando passou pela porta.
—Só se apresse certo? Eu vou verificar se o caixão está pronto.
Observando-a sair com pressa do quarto, Dana ficou intrigada
com sua prima, normalmente fria e calma, estava tão afobada.
Encolhendo os ombros, ela arrumou suas coisas na mochila, em
seguida, prendeu o coldre de laser no seu cinto.
Trazendo seu pé para cima, para descansar na cama, ela o
deixou cair rapidamente, com uma maldição que murmurou contra a
dor que atingia o seu tornozelo ferido.
—Sente-se, que eu vou fazer isso, — sugeriu Garret, entrando
no quarto.
Ela fez uma careta para ele, por cima do ombro.
—Devo informar-lhe como fazer sua negociação?
Se aproximando, ele sorriu.
—Não.
—Então não me diga como fazer minhas coisas.
—Tudo bem, não vou lhe dizer. Só vou fazer isso sozinho. —
Caindo em um joelho ao lado dela, ele estendeu a mão para os laços
que pendia para baixo do fundo do coldre.
—Fique longe de mim! — Ela se afastou rapidamente.
A cama prendeu-a por trás dos joelhos e ela teria caído de volta
nela se ele não tivesse rapidamente agarrado-a pelo seu cinto e
puxando-a para frente.
Com uma exclamação assustada, ela estendeu as mãos para
agarrar seus ombros largos, impedindo-a de cair em cima dele.
Aproveitando-se da sua surpresa momentânea, ele puxou os
laços em torno de sua coxa, sentindo a flexão de sua bem tonificada
musculatura.
—Você fez isso de propósito!
Uma sobrancelha arqueou para cima.
—Eu salvei você de cair, meu amor. Ou será que era o que você
queria, cair de volta na cama, junto comigo?
—Cai fora! — ela praguejou, arrumando os laços.
Capturando os pulsos com facilidade, ele olhou para ela.
—Não temos que lutar sobre tudo, moça? Você não pode
apenas aceitar a minha ajuda?
—Eu não preciso de sua ajuda! Agora pare de me amolar e
deixe-me em paz!
—Amolar você? — Lentamente ele se levantou sobre ela. —Eu
não 'amolo' você, Dana.
—Não? — Ela puxou-lhe os pulsos, mas seu controle estava
apertado. —Você está sempre me levantando ou me pegando! Eu não
sou seu brinquedo sangrento!
Isso provocou ira em seus olhos.
—Eu estou tentando impedi-la de ferir-se. Você insiste em
andar com o tornozelo ferido, quando você deveria estar descansando
e empurra-se quase além de sua resistência. Estou apenas tentando
ajudá-la.
—Bem, não! Eu sobrevivi antes, sem a sua ajuda e eu vou fazê-
lo no futuro!
—É mesmo? — Irritado, ele soltou-lhe os pulsos e andou pelo
quarto indo para a porta. —Tudo bem, eu vejo você mais tarde.
—Já vai tarde! — Ela gritou e deu um passo adiante.
Olhando para ele, ela esqueceu a mochila no chão e tropeçou
sobre ela e pousou no chão com um baque e um suspiro de dor.
Girando ao redor, ela empurrou-se em uma posição sentada,
com uma careta. Em quatro passos largos ele estava do outro lado do
quarto e abaixou ao lado dela, com uma mão descansando um pouco
acima do seu tornozelo lesionado, sua outra mão segurando o seu
calcanhar.
—Não!
Transferindo o seu olhar do pé lesionado para seu rosto, viu a
mistura de dor e frustração em seus olhos.
—Você feriu seu tornozelo...
—Eu sei que machuquei meu maldito tornozelo novamente,
caramba! Estou sempre... — As palavras pararam abruptamente e ela
virou o rosto. —Apenas deixe ir, certo?
Todos os traços de raiva fugiram e, cuidadosamente, ele
abaixou o pé no chão, chegando a colocar um dedo sob o queixo e
inclinar a sua cabeça para encará-lo. Como ele suspeitava, um brilho
de lágrimas enchia seus olhos.
—Ah, Dana, — ele disse suavemente. —Você reconhece a
fraqueza de seu tornozelo?
—Não! — Ela tentou piscar as lágrimas, mas já era tarde
demais e uma escapou e escorregou para baixo, na sua bochecha.
Horrorizada por permitir que ele a visse em tal estado, ela
apressadamente varreu-a com as costas de uma mão e empurrou-o
com a outra.
—Vá embora, maldito! Deixe-me sozinha!
Ele não se moveu um centímetro. A ternura encheu a batalha
de emoções que ele viu assolar nos olhos expressivos: negação,
medo e frustração.
—Moça, não há nenhuma vergonha em chorar, muito menos na
minha frente.
—Eu não estou chorando, — ela respondeu antes erguendo os
olhos para dentro dos olhos apaixonados e sentindo um
formigamento ou alguma coisa totalmente diferente, descer na sua
espinha.
—Garret, o que você está...
Seus lábios desceram, movendo-se suavemente em cima dos
dela, não exigindo qualquer coisa, mas, ao invés, dando conforto.
Foi um beijo que fez todos os pensamentos fugirem de sua
mente. A ternura sincera a atordoava e agitava. O perfume masculino
e limpo dele encheu seus sentidos, ela estava ciente do calor de sua
pele e as batidas constantes de seu coração sob a palma da mão, que
ainda repousava sobre seu peito.
Ela experimentou uma sensação de perda quando ele levantou
a cabeça e o calor de sua boca deixou a dela. Seu olhar estava
cuidando quando ele olhou para ela e ela olhou para ele, chocada ao
perceber que gostou bastante de beijar este Daamen.
Com o pensamento nervoso, ela umedeceu os lábios com a
ponta de sua língua, saboreando-o imediatamente.
—Dana, eu...
Tudo o que ele estava prestes a dizer ela nunca conheceu,
porque a porta abriu de repente.
—Você está pronta, não é? A carroça está lá na frente... Oh.
Suas bochechas ruborizaram. Reya ficou parada na porta, seu
olhar atropelou sua prima, uma sobrancelha arqueou
interrogativamente.
—Eu caí, — murmurou Dana defensivamente.
—Caiu?
—Tropecei em minha mochila.
O olhar inquiridor moveu para Garret, que disse facilmente,
— Eu estou ajudando-a.
—Eu vejo, — respondeu impassivelmente Reya. —A carroça
está na frente com o caixão e o carroceiro espera para nos levar a
nave.
—Eu estou indo. — Dana começou a levantar-se.
Vendo as linhas brancas de dor gravadas em torno de seu
rosto, Reya deu um passo à frente, mas Garret foi mais rápido. Ele
deslizou o braço em volta da cintura de Dana e puxou-a com
facilidade.
—Eu vou enfaixar o tornozelo de novo e nós estaremos logo lá
em baixo, — ele disse para Reya.
Dana esperava que ela argumentasse, ficou surpresa quando
não o fez e enviou-lhe um olhar.
—Não vai demorar muito. — Dana tentou parecer indiferente.
Depois de dar outro olhar, Reya concordou e saiu.
O silêncio encheu o quarto, enquanto Garret a levava de volta
para a cama, sentando-a com cuidado na beirada e alcançando o
curativo sobre a pequena mesa ao lado deles.
—Deixe as botas, — ela disse apressadamente quando ele
estendeu a mão para os laços, acrescentando: — Vai dar apoio. — Ela
limpou a garganta, tentando ignorar o salto errático de seu pulso,
que ainda não tinha dissipado após o seu beijo. —Além disso, se eu
tirá-la agora, eu não conseguiria colocá-la novamente.
Ele olhou para seu pé, considerando, vendo as botas de couro
macio, com tiras de couro cru enrolada sobre ela. Finalmente, ele
concordou.
—Você está certa, moça. Vamos deixar como está, até mais
tarde.
Ela levantou-se e tornou-se totalmente nervosa quando ele
ficou de joelhos diante dela.
Ele pegou a mão dela.
—Não fique envergonhada. Eu beijei você e você, obviamente,
gostou.
—Eu não!
—Você é uma mulher sensata. — Garret a considerou. —Por
que insiste em enganar a si mesma?
—Tudo bem, eu achei... legal! — ela explodiu, com as
bochechas vermelhas.
Seus olhos enrugaram nos cantos em uma diversão súbita.
—Isso é um começo.
—Se meu tornozelo não estivesse tão dolorido, eu chutaria você
com ele! — Arrebatando-lhe a mão ao seu alcance, ela mancava
sobre a mochila e abaixou-se para pegá-la do chão.
Em pé, ele olhou-a com interesse.
—Para minha sorte, hein? Talvez seja melhor eu aproveitar de
sua incapacidade enquanto posso.
Endireitando-se, ela fez uma careta por cima do ombro.
—Eu posso não ser capaz de chutar você, mas ainda posso
atirar. Lembre-se disso, na próxima vez que você se sentir
brincalhão, comerciante.
Ele sorriu.
—Quer que eu leve a sua espada, meu doce?
—Tente não se cortar com ela.
Ele riu, e com uma irritada carranca ela mancou para fora do
quarto.
Fora da taberna havia uma carroça com um caixão brilhante no
meio. Reya e Maverk sentavam-se em lados opostos no chão da
carroça.
Vendo Dana, Reya se levantou e foi até a traseira. Dana jogou
a mochila na carroça e tendo ajuda de sua prima, virou-se com
cuidado para cima e sentou no chão. Garret seguiu-a e sentou ao
lado de Maverk.
O jovem que conduzia a carroça olhou por cima do ombro para
verificar se eles estavam todos prontos e Reya assentiu, ele bateu as
rédeas e os dois cavalos foram para frente.
O silêncio encheu a carroça enquanto ela viajava através do
assentamento, até o cais de carga, onde a nave estava. Cada um dos
ocupantes da carroça estava preso em seus próprios pensamentos.
Maverk pensando sobre a paixão que tinha traçado para a vida
com Reya, animado em saber se ela iria corresponder-lhe. Ela
poderia revestir-se em camadas de gelo, mas ele estava determinado
a derreter cada camada e finalmente revelar o calor que ele sabia que
estava escondido debaixo das barreiras de gelo. Ele também
pretendia descobrir o segredo que escurecia o seu espírito. Até que
ele fizesse isso, ela nunca estaria livre dele.
Por trás da fachada calma, Reya escondia o tumulto produzido
através dela. O que no universo a fizera jogar toda a cautela ao vento
e permitir que Maverk fizesse amor com ela? Para aceitar os seus
beijos quentes, responder, apreciá-los e o pior de tudo, para ter seu
corpo doendo com a lembrança deliciosa de cada carícia, beijo e a
sensação de seu corpo contra o seu próprio? Ela deve estar cansada
do que realizou para permitir que qualquer homem a tocasse. Não
havia lugar em seu futuro para um homem e uma família.
Ela ainda podia ouvir a sua declaração de que ele queria se
casar e tê-la por sua companheira. Ele estava disposto a ter filhos
com ela e, a julgar pelo calor de seus olhos, o pensamento de uma
vida com ela tinha a sua aprovação de todo o coração. O coração dela
parecia um pedaço de chumbo em seu peito. Não, depois do que
tinha feito, não havia futuro para ela em uma família. Ela de todas as
pessoas, não merecia. Seria um escárnio a tudo o que acreditava.
Olhando fixamente para os edifícios que passavam por eles,
parte de Dana queria vociferar e bufar com Garret, por trazer no seu
rosto as preocupações crescentes sobre seu tornozelo debilitado, com
o conhecimento de que seu ferimento agora, facilmente, poderia
causar mais do que um pouco de perigo em uma batalha, para si
mesma e para Reya. Outra parte de si queria rastejar em seu abraço
forte e gritar, o que em parte a chocou. Desde quando ela queria
voltar para um homem para ser confortada? Talvez não fosse só o
tornozelo que estivesse doente, mas sua mente também.
Garret se perguntava o que seria necessário para fazer Dana
reconhecer seu tornozelo debilitado e o perigo que causava em seu
estilo de vida. O que ele poderia oferecer em troca para ela deixar a
vida de mercenária e retornar com ele para Daamen, antes que fosse
tarde demais e sua teimosia e lesões a levassem a ter sérios
problemas, quando ele poderia não estar por perto para ajudá-la?
O cocheiro sentiu o mal-estar na parte de trás da carroça e
alegrou-se quando a nave de viagem Daamen veio a vista. Quaisquer
problemas que atormentassem essas guerreiras e esses gigantes, ele
não queria saber. Isso deixaria doente qualquer forasteiro curioso.
Capitulo 10
As naves de viagem Daamen eram menores e mais elegantes
do que as grandes naves de comércio e, Reya pensou
apreciativamente, muito mais rápido. A tarefa desagradável pela
frente, seria feita muito mais rápido.
Pegando o caixão, Maverk e Garret o levaram até a rampa e
para o porão de carga.
Reya pagou o cocheiro e com um aceno para ela, ele balançou
as rédeas. Ela observou-o sair antes de voltar-se para a nave.
—Quer saber se isso foi uma boa idéia? — Dana surgiu ao seu
lado.
—Não foi uma das nossas melhores.
—Nem um pouco.
Elas ficaram em silêncio. A verdade da sua declaração ficou
pendurada no ar, entre elas.
Finalmente, Dana disse:
— Desculpe-me irmã.
—Por quê?
—Se não fosse por meu maldito tornozelo, não teríamos
necessidade dos comerciantes.
Reya encolheu os ombros.
—Talvez fosse o melhor. Esses comerciantes vão ver os corpos
e saber que eu fiz alguns deles...
—Nós.
—Isso é o que eu quis dizer. Nós fizemos isso. Éramos uma
parte disso. Eles vão dar uma boa olhada, ficar com nojo e nós não
seremos incomodadas por eles novamente.
—Isso será o fim deles, tudo bem.
Reya pensou no vazio, anos congelados esperando por ela.
Solitários anos. Longos anos. Ela estava abalada com os seus
pensamentos sombrios quando os comerciantes aparecem na rampa.
—Vocês moças estão prontas para sair? — Garret chamou.
Reya assentiu.
—Vamos.
Dana mancou atrás dela e Garret usou toda a sua força de
vontade para não varrê-la em seus braços e carregá-la para dentro
da nave. Apertando os olhos em aviso, ela se lançou em seu
caminho, Dana tinha, obviamente, adivinhado exatamente o que ele
estava pensando.
Maverk teria rido em voz alta da expressão resignada no rosto
de seu amigo, só que tudo o que podia sentir no momento era
simpatia, por que sabia que tinha a mesma expressão. Reya não
tinha sequer se preocupado em olhar para ele, enquanto caminhava
até a rampa.
Ela não parecia, mas estava intensamente consciente do seu
olhar a seguindo por todo o caminho para a nave. Ela veio até parar
ao lado de sua prima dentro do porão de carga.
Garret puxou uma alavanca ao lado da porta aberta e levantou
a rampa sem problemas, fechando a porta e cortando a luz do sol,
pois estava selada. A luz do porão cintilou brilhante.
Os comerciantes olharam para as guerreiras e por um simples
segundo a tensão crepitou no ar carregado, com a consciência do
homem para a mulher e vice-versa.
Reya quebrou o momento, ajoelhando ao lado do caixão e
retirando o saco mortuário negro. Fechando o caixão, ela o deitou em
cima da tampa. Suas ações foram deliberadas, a mensagem em seus
olhos claros era para Maverk ler, quando ela olhou para ele. Eles
estavam indo recolher um homem morto. Isso era tudo.
Encostada à parede, Dana aliviou a dor de seu tornozelo ferido.
—É um daqueles sacos que selam a saída do cheiro?
—Sim. — Reya lançou um olhar sem graça para o grupo de
comerciantes. —Você não terá que se preocupar com a carcaça fétida
em sua nave.
—Que alívio. — Maverk voltou-se suavemente, embora por
dentro ele não estivesse nada calmo. Ele queria sacudi-la, porque
sabia que ela estava deliberadamente tentando deixá-lo doente.
—As larvas não vão cair no chão.
Esquecendo a sua agitação, agora ele queria bater nela.
—Eu tenho a imagem.
—Você? — Endireitando-se, ela olhou-o firmemente. —Você
realmente tem bonitão? Você já viu um corpo morto?
—Sim.
—Depois de alguns dias?
—Sim.
—Depois de cozinhar no sol quente e os animais selvagens
terem se banqueteado sobre ele?
Sua garganta travou, mas ele se recusou a permitir a ela a
satisfação de sabê-lo.
—Sim.
Duvidosamente, ela olhou para ele.
—Vermes, insetos e tudo?
Não. O cadáver que tinha visto estava congelado.
—Um homem morto foi o que vi Reya. Você quer começar uma
descrição gráfica sobre isso?
—Basta saber que você está preparado.
—Obrigado pela preocupação.
—Não me agradeça. Eu não quero ninguém vomitando em
minhas botas.
—Você está querendo uma luta, moça?
—Não iria perder o fôlego, bonitão.
—Ótimo. Vamos para a cabine de controle e você pode me dar
as coordenadas para chegar a este lugar.
Pegando sua mochila, Reya seguiu os homens para a
plataforma elevatória, Dana foi logo atrás dela. Chacoalhando e
fazendo barulho até o segundo andar, ela parou no início do corredor.
Um breve olhar ao redor mostrou-lhe que do lado esquerdo era
a cabine de jantar, a cabine de controle a direita, seguida por três
camarotes em cada lado do corredor. No final, um conjunto de
escadas que conduziam para as armas a laser situadas no topo da
nave espacial.
Na cabine de comando, ela informou para Maverk as
coordenadas e assistiu-o digitar no computador. Seus olhos seguiam
os movimentos dos dedos e espontaneamente veio a memória os
mesmos dedos movendo-se sobre seu corpo nu, tocando e
acariciando, deixando-a selvagem. Um calor inundou as regiões
baixas e ela gemeu interiormente. Isso ela nunca faria de novo! Ela
tinha que fazer este trabalho rapidamente e fugir deste comerciante
Daamen!
—São apenas 60 quilômetros de distância, nós estaremos lá em
quinze minutos. — Ele ajustou um dos interruptores no painel de
controle.
Ela respirou um suspiro de alívio, para dentro. Elas poderiam
pegar o corpo de Zac, entregá-lo aos seus avôs e livrar-se dos
comerciantes ao meio-dia. Então, ela seria capaz de voltar à sua
existência normal, de luta e esquecimento, ficando tão apanhada na
batalha que não teria tempo para pensar nem no bonito comerciante
de mãos hábeis, ou nos horrores que se escondiam no fundo da sua
mente, prontos para atacar quando se atrevia a deixar baixar a
guarda.
Maverk virou em torno da cadeira.
—Poderia muito bem relaxar na cabine de jantar até chegarmos
lá.
Dana e Garret já estavam lá, sentados sobre os bancos que,
como todo o mobiliário, eram presos ao chão.
Sentando à mesa, Maverk observou Reya perambular em torno
da cabine, com movimentos ágeis e controlados.
—Não vai sentar? — ele perguntou facilmente. —Nós
poderíamos ter um jogo rápido de cartas, enquanto esperamos.
—Eu não jogo.
—Pena. Um jogo de strip poker tornaria as coisas interessantes.
Não se preocupando em responder a essa sugestão provocante,
ela caminhou até a pequena biblioteca e passou um dedo sobre a
lombada dos livros empilhados ali.
—Você lê muito, bonitão?
Ele descansou seus antebraços sobre a mesa.
—Sim, eu gosto de um bom livro. É a melhor coisa depois de
uma boa moça.
—O que vem primeiro? — ela perguntou sarcasticamente. —Ou
não sabe?
—Claro que sim. Depois de ter uma boa mulher, eu leio um
bom livro. Pena que eu não tinha um bom livro esta manhã. Quebrou
meu padrão normal.
Ela estava contente por estar de costas para os ocupantes da
mesa. Isso lhe deu um tempo para esfriar suas bochechas aquecidas.
Maldito! Ele sempre consegue chacoalhar a minha compostura!
Vendo o endurecimento de sua coluna, ele sorriu. Essa
observação tinha certamente batido no ponto! Ele estava
determinado a fazer com que ela não esquecesse a magia que tinham
compartilhado nas horas escuras, antes do amanhecer. O que o
lembrou de outra coisa.
Dana estava discutindo acaloradamente com Garret, que estava
atraindo-a impiedosamente. Despercebido por eles, ele escorregou do
banco e caminhou até Reya.
Sentindo o seu calor atrás dela, ela virou-se para enfrentá-lo
imediatamente.
—A prevenção de que falamos esta manhã, está em minha
cabine, — disse ele calmamente.
Disposta a não deixar as suas bochechas ficar vermelhas, ela
balançou a cabeça.
—Venha comigo.
Ela o seguiu até sua cabine de dormir. De pé na porta, ela a
estudou com interesse.
A cama era grande, um armário embutido para a direita e uma
grande mesa sobre a qual estava um computador com uma cadeira
diante dele. Como em todas as naves espaciais, o mobiliário era
preso ao chão.
Seu olhar varreu as paredes e parou em duas grandes pinturas
em frente à cama.
—Quem fez isso? — ela deixou escapar, com surpresa.
Maverk, que tinha acabado de abrir a gaveta de cima da
mesinha ao lado de sua cama, seguiu o olhar dela.
—Gostou deles, não é?
Ela olhou para as pinturas. Em uma delas, uma mulher seminua
estava entrando em um rio, a água batendo em suas coxas. Estava
de costas para o espectador, mas tinha se virado de maneira que
parte do rosto aparecia rindo por cima do ombro. Os turbulentos
cachos vermelho-ouro caindo em cascata pelas costas e estavam
engenhosamente dispostos por cima do ombro para esconder a visão
real do seu seio, mas não o contorno do mesmo. Cada curva do corpo
forte e esbelto estava delineada pelo brilho do sol e o brilho claro do
rio. Pálidos olhos verdes brilhavam com diversão.
Era uma pintura sensual, sedutora em sua inocência.
A segunda pintura foi feita à luz do luar. A mesma mulher,
desta vez vestida com roupas de guerreira, estava olhando para uma
estátua de uma mulher guerreira e um homem, eles estavam
abraçados, a estátua do homem apontava para fora e a estátua
feminina seguia a direção de sua mão, com seu olhar cego. Ambos
estavam sorrindo eternamente. A mulher de carne e sangue, aos pés
da estátua, não estava. Seu belo rosto estava pensativo, triste e
havia um olhar perdido nos olhos assombrados e gelados. Uma mão
estava levantada tocando fugazmente a base das estátuas, que
estavam ao nível da sua cabeça. Os turbulentos cachos vermelho-
ouro estavam confinados em uma grossa trança. O luar sombreava a
estátua e a mulher, enfatizando a cena assustadora.
Em ambas as pinturas, a mulher era Reya.
Ela se lembrou da cena do rio. Ela, Tenia, Dana e algumas
guerreiras irmãs tinham estado tentadas pelo frio das águas claras,
num dia quente. Foram alguns meses após as Reekas terem sido
perdoadas e estavam se recuperando em Daamen. Dana disse que
não iria entrar na água, para o caso de "qualquer um desses homens
de sangue quente estar ao redor!" e algumas das guerreiras a tinham
jogado no rio. Na luta que se seguiu, todas elas caíram na água
completamente vestidas. Dana tinha amaldiçoado e Reya, que estava
vadiando para dentro do rio sozinha, tinha olhado para trás, sobre o
ombro e riu, divertida por ver sua prima, normalmente bem vestida,
molhada e despenteada.
—Você estava lá naquele dia! — Ela virou-se para enfrentar
Maverk acusadoramente.
—Só por um tempo muito curto. Um grupo de nós tinha
chegado ao rio para um mergulho, mas vocês, moças, já estavam lá.
—Você ficou, obviamente, tempo suficiente para uma boa
olhada!
Ele tirou a tampa do frasco pequeno que ele segurava.
—Não tanto quanto eu gostaria de ter ficado. Um do nosso
grupo é um pintor e depois que ele deu uma olhada em você, ele foi
direto para casa e pintou o que você vê.
—Então, como você conseguiu isso? — Seu coração bateu
loucamente com o pensamento dele ao vê-la nua naquele dia.
—Eu fiz-lhe uma oferta que não poderia recusar. — Segurando
a garrafa entre os dedos, Maverk caminhou até ela. —Pelos dois,
tanto a cena do rio, como a cena da lua.
A cena da lua. Sua mente foi subindo de volta para esse tempo,
apenas um mês depois do casamento de Tenia com Darvk, quando a
estátua de seus pais mortos tinha sido erguida nos jardins. Vulya
estava apontando para fora e Karana estava olhando na mesma
direção, um símbolo de um olhar para o futuro juntos. Ela retornou
aos jardins após a cerimônia ter terminado e a lua estava alta no céu
noturno. Deve ter sido o momento perfeito para ver as estátuas de
seus pais mortos e pensar na promessa de futuro e de uma vida livre.
Mas não foi, pois, quando ela olhou para as estátuas, as visões do
horror a encheram, a missão em que ela tinha sido uma mercenária,
a missão em que tinha feito o imperdoável. Chegando a tocar o
mármore frio, duro, agradeceu a Deus que seus pais não estarem
vivos para sentir desgosto por ela, como eles certamente sentiriam.
Como qualquer um sentiria se descobrisse, inclusive a sua querida
irmã. Quem não sentiria?
—Você desperdiçou o seu dinheiro, — disse ela asperamente. —
E o espaço da parede.
—Oh, eu não sei. — Ele estudou seu rosto. —Meu amigo pintor
estava bastante impressionado com você como modelo. Ele espiou
você nos jardins não muito tempo depois das estátuas serem
erguidas, em uma de suas andanças noturnas. Ele correu direto para
casa e fez esta pintura. Foi a primeira das duas.
—Seu amigo tem mau gosto na escolha de seus modelos.
—Você acha? — Cruzando os braços, ele inclinou a cabeça para
o lado, estudando as pinturas.
Ela podia sentir o rosto ficar quente quando observou seu olhar
demorar na cena do rio, nas curvas da mulher nua. Ela mesma.
—Você se importa? Eu me sinto como se você estivesse
invadindo a minha privacidade!
—Você?
—Maldito seja! — Ela virou-se com uma tempestade interior,
mas foi forçada a uma parada brusca pela mão dele capturando o seu
braço.
Girando ao redor para dar-lhe uma explosão verbal, encontrou-
o segurando o frasco pequeno.
—O que é isso? — ela rosnou. —Afrodisíaco?
—Um pouco tarde para isso agora. Fomos lá e fizemos isso sem
qualquer ajuda. Isto, — ele olhou dela para a garrafa e de volta
novamente para suas feições. —É para evitar qualquer resultado da
nossa...
—Nem mesmo diga! Quanto devo tomar?
—Um gole é suficiente.
Ela pegou a garrafa dele, seus dedos se encostaram e
causaram uma série de arrepios que subiram pelos seus braços. Seus
olhos se encontraram por cima da garrafa. Entre eles, palavras não
ditas, lembravam com clareza a intimidade sensual que tinham
compartilhado poucas horas atrás.
—Você não tem que tomá-lo. — Sua voz era calorosa e
vibrante.
—Eu faço. — A resposta dela foi atada com um desespero que
ela não sabia que estava lá. —Um bebê não sobreviveria em meu
mundo.
—Poderia sobreviver no meu, na verdade, poderia crescer e
florescer.
—Você quer que eu tenha um bebê, em seguida o entregue
para você?
—Não. Nós dois poderíamos compartilhá-lo.
As palavras calaram na cabine, era um convite para virar as
costas para a vida de mercenária e introduzir uma vida de calor.
Compartilhar risos e crianças. Para ser parte de uma família, em vez
de uma solitária no frio.
Seus olhos estavam tão sombrios como um dia de inverno com
nuvens carregadas.
—Você não sabe o que me pede Maverk.
—Então me diga.
—Se eu lhe dissesse você...
—O que, moça? O que eu faria? — Ele segurou seu olhar
penetrante, querendo que ela, finalmente, revelasse o segredo que a
assombrava.
Ela ficou estarrecida. O que estava errado com ela? Por um
momento de loucura, ela quase deixou escapar a verdade do passado
para ele. Se ele soubesse, se sua irmã descobrisse...
—Você não quer saber. — Tomando um gole saudável da
garrafa, ela a entregou para ele, virou-se e caminhou para fora da
cabine.
Maverk olhou para as duas pinturas. Desde que as tinha visto,
ele as queria, precisava delas. Toda noite ele adormecia
contemplando-as, perguntando sobre a moça retratada na noite e no
dia, assombrada pela tristeza e felicidade passageira. Sim, ele havia
obtido as pinturas e ele queria a mulher. Reya seria sua e não havia
nada que ela pudesse fazer ou dizer para fazê-lo mudar de idéia.
A voz de Garret zumbiu no interfone e veio do alto-falante.
—Nós chegamos meu amigo e o lugar se parece com uma
sangrenta fábrica de carne.

Sentada em cima do caixão, no porão de carga, Reya trançava


seus cachos rebeldes em uma trança grossa. Dana estava sentada ao
lado dela. Nenhum das duas falava, mas era um silêncio confortável,
duas primas muito próximas e irmãs guerreiras.
Os comerciantes entraram no porão de carga sobre a
plataforma elevatória fazendo barulho. Caminhando até a rampa
fechada, Garret empurrou a alavanca para o lado e para cima, abriu a
rampa e abaixou-a ao chão.
As Reekas levantaram-se, Reya descendo para pegar o saco.
Virando-se, ela observou que os comerciantes tinham lasers
amarrados nas coxas. Talvez não fossem tão idiotas, depois de tudo.
Capitulo 11
Saindo da nave e descendo a rampa, Maverk sentiu o cheiro de
carne podre no sol quente, corpos espalhados pelo chão, o cheiro era
de morte e destruição.
O mau cheiro virou o seu estômago e ele sentiu Reya olhando
para ele.
—Está tudo certo, bonitão? — ela perguntou. —Talvez você
deva ficar dentro...
—Não se preocupe comigo, — ele respondeu secamente.
Em todos os seus anos de viagem, ele foi a alguns lugares que,
literalmente, fedia a corpos sujos. Este lugar lembrou-lhe das
masmorras sob a fortaleza do Império Inka, onde ele e seus amigos
tinham resgatado Reya, sua irmã e duas mulheres guerreiras, apenas
esse era pior.
—Zac não ficou perto das trincheiras? — Dana coçou a cabeça
pensativa.
Reya assentiu.
—A menos que os cães selvagens tenham arrastado o corpo
para mais longe.
—Inferno, espero que não. — Ela se esticou vagarosamente. —
Eu não gostaria de tentar localizá-lo com este calor.
Os Daamens trocaram olhares incrédulos com a forma prosaica
como as guerreiras falavam.
—Podemos começar a nos mexer? — Garret exigiu.
—Suscetível. — Dana sorriu.
Reya liderou o caminho através do lixo, de detritos e corpos
caídos.
—Eu aviso que Shaque não estava preocupado com os seus
próprios homens.
—Deixaram onde eles caíram. Qualidades da verdadeira
liderança. — Dana parou perto de um corpo com uma cabeça meio
destruída. —Este não é Jemon?
—Eu acho que sim. Ele está usando as mesmas roupas. — Reya
inclinou mais perto e concordou. —Sim, é. Estava faltando o polegar
da mão direita, lembra?
—Oh, certo.
Passando por cima do corpo, elas continuaram andando.
Maverk estava se sentindo doente e pelo rosto pálido de seu
amigo, ele não estava sozinho.
Larvas e insetos eram abundantes no sangue preto coagulado,
feridas abertas atestavam a presença de animais silvestres que
faziam um banquete nos cadáveres. Ele podia ver uma matilha de
seis cães selvagens deitados à sombra na borda da floresta, nas
proximidades, que ofegantes observavam os pesquisadores com seus
brilhantes olhos vermelhos, seus estômagos estavam inchados com
sua festa de carne doce.
O suor escorria no rosto de Maverk. Ele se concentrou nas duas
guerreiras à frente dele, para não parar, cair de joelhos e esvaziar o
conteúdo de seu estômago no chão.
Aproximando-se das trincheiras, Reya manteve os olhos nos
montes de sujeira, enquanto estudava os cadáveres que pontilhavam
a área.
—Lá. — Dana apontou para um cadáver deitado de barriga para
cima, metade dentro e metade para fora da trincheira.
Maverk e Garret assistiram a abordagem do corpo. Dana
considerou o estado dele, enquanto Reya lançou o saco de corpo no
chão e abriu-o, separando os lados para que ele ficasse plano.
—Nós vamos levantá-lo. — Maverk avançou rapidamente, com
a intenção de entrar na trincheira.
—Não se incomode. — Reya estendeu a mão para agarrar o
braço do cadáver. —Mantenha a vigilância no entorno.
—Por quê?
—Qualquer um que venha para recolher os seus mortos ou nos
adicionar à pilha.
Dana pegou o outro braço do cadáver.
—Na contagem de três. Um, dois, três!
Insetos caíram fora da parte de baixo do corpo, quando ele se
soltou para fora da trincheira.
O suor escorria pelo rosto de Garret e ele virou-se para engolir
o ar fresco, mas o cheiro da morte foi tudo o que conseguiu para os
seus pulmões.
Reya olhou para Maverk.
—Não fique tão chocado, bonitão.
—Como você consegue ficar em torno de tanta morte?
—Alguns desses cadáveres estão apodrecendo aqui porque eu
os matei.
—Por que você faz isso?
Tomando um aperto firme nos ombros do cadáver, ela acenou
para Dana, que agarrou os tornozelos. Juntas levantaram o corpo
sobre o saco de corpo, acertando os lados para cima e fechando-o.
Endireitando-se, ela nivelou um olhar firme para ele.
—Porque eu sou paga para fazer isso.
Isso inflamou a sua ira.
—Você tinha a opção de viver em paz, Reya.
—Eu escolhi não fazer isso.
Ele girou o braço em torno, em um amplo arco.
—Você prefere viver em um inferno como este?
—É o meu inferno.
—Você vai, um dia, acabar sendo um cadáver em um campo de
batalha! É isso que você quer? — ele cuspiu selvagemente.
—Não seja dramático. — Ajoelhando-se, ela puxou o saco com
o corpo em uma posição sentada. —Eu vou morrer um dia. Onde será
ninguém sabe.
Colocando os braços em volta do saco, Dana puxou mais para
cima e Reya içou-o sobre seu ombro.
Carrancudo, ele caminhou para frente.
—Vou levá-lo.
—Você faria melhor em manter os olhos no entorno. — Reya
puxou o laser de seu coldre.
—Você vai atirar em mim?
—Não, seu tolo. Olhe atrás de você.
Girando ao redor, Garret se virou com seu laser na mão, vendo
um grupo de dez homens aparecem fora da floresta e caminhar pelas
bordas para observá-los.
—Vamos começar a voltar, — Dana sugeriu.
Garret olhou para ela.
—Quem são eles?
—Eles são conhecidos como "catadores", um grupo que segue
as batalhas e aparecem após a luta, para pegar qualquer coisa
valiosa que estejam nos corpos.
A pele de Maverk arrepiou.
—Deixando-os limpos? Os corpos?
—Nunca ouvi falar deles, — disse Garret com desgosto.
—Não sabemos muitos sobre eles. — Reya começou a voltar
para a nave. —Eles chegam quando o campo de batalha está vazio de
pessoas vivas.
—Cubra a frente, Garret, — Dana ordenou. —Maverk, observe o
nosso lado e eu vou cobrir nossas costas.
—Eles estão aqui para pegar os mortos, — argumentou Garret.
—Por que eles se preocupariam conosco?
—Eles não estão acima de matar os vivos.
Enquanto ela falava, cinco dos dez homens começaram a
conversar e um apontou para eles e falou com o homem ao lado dele,
que acenou com a cabeça.
—Comecem a se mexer, — Reya disse. —Estável, não se
apressem.
—Não podemos correr? — Maverk perguntou secamente,
mantendo seu laser direcionado sobre os catadores, seis dos quais
faziam lentamente o seu caminho.
—Não mostre medo.
Eles estavam a meio caminho de volta para a nave, quando os
seis catadores que os seguiam pegaram os lasers e começaram a
disparar.
—Maldição! — Dana xingou. —Fogo!
Ela derrubou dois em rápida sucessão, enquanto Maverk
derrubou um. Os sete catadores restantes correram para frente,
disparando os lasers.
—Agora nós podemos correr, — Reya disse ironicamente.
Dana tentou ignorar a dor em seu tornozelo, tratando disparar
mais rajadas, matando um quarto coletor.
Agarrando-lhe na altura da cintura, Garret a ergueu fora de
seus pés e correu para a nave, suas longas pernas fecharam a
distância com facilidade. Ela não lutou, mas usou seu ombro como
um suporte para firmar sua mão com o laser e continuou disparando.
Maverk ficou ao lado de Reya, mas depois caiu atrás dela.
Olhando por cima do ombro, ela o viu levantar e continuar correndo.
Idiota desajeitado tinha obviamente que tropeçar.
Ele encontrou-se com ela e todos eles correram para a rampa,
Garret puxou a alavanca e eles entraram no compartimento de carga.
Soltando o corpo, Reya agachou do outro lado da abertura e
disparou seu laser, ouvindo os gritos quando os disparos mortais
acertaram dois catadores. Ela parou quando a rampa cortou o campo
de batalha de vista e foi selada.
Eles estavam seguros.
Saltando para o elevador da plataforma, Garret subiu ao
segundo andar, para a cabine de controle, para dar ignição aos
motores.
Dana soprou uma mecha de cabelo fora do rosto.
—Bem, essa foi uma corrida agradável.
Em pé e guardando o laser, Reya estudou sua prima.
—Você está bem?
Seus olhos caíram para seu tornozelo latejante.
—Estou bem.
Reya franziu o cenho. O tornozelo estava se tornando um
problema.
—Depois de entregar o corpo de Zac, vamos nos refugiar em
algum lugar seguro e dar-lhe tempo para curar.
Sabendo que era inútil argumentar, Dana suspirou e balançou a
cabeça.
—E você, bonitão? Aproveitou a vista?
Ele inclinou-se contra a parede.
—O que você acha?
Uma sobrancelha arqueou.
—Está um pouco pálido. Suponho que o campo de batalha não
é bom para você?
Empurrando-se na posição vertical, Maverk olhou para ela.
—Não era isso que você queria? Ver-me doente?
—Você insistiu em ir. Eu nunca forcei você.
Ele começou a avançar, mas tropeçou e caiu.
Instintivamente, ela saltou para frente, com as mãos fortes
agarrando a parte superior de seus braços e perguntou com voz
afiada.
—O que está errado?
—Parece que eu fui atingido, moça.
Uma mão fria apertou em torno de seu coração.
—Onde?
—Perna, — ele respondeu com os lábios apertados.
Olhando para a mancha se espalhando sobre a apertada calça
marrom, ela também viu o sangue em seu colete. Puxando-o de lado,
expôs uma ferida sangrenta, cercada com pele negra.
—Você pode ir para a sua cabine com ajuda?
Concordando, ele amaldiçoou a fraqueza que invadia os seus
membros, tornando-o muito fraco contra a guerreira em frente a ele,
a sala sacudia vertiginosamente diante de seus olhos.
Reya grunhiu com o seu peso.
—Dana, me dá uma mão.
Uma de cada lado do grande comerciante envolveu seus braços
ao redor de sua cintura e ele apoiou os braços em torno de seus
ombros.
—O sonho de um Daamen, — brincou Maverk cansado. —Uma
moça bonita de cada lado.
—Claro bonitão. Vamos.
Lentamente, eles fizeram seu caminho para a plataforma
elevatória e subiram para o segundo andar.
À medida que passaram pela cabine de controle, Garret olhou.
—O que aconteceu? O que há de errado?
—Ele foi atingido, duas vezes, — respondeu Dana. —Qual é a
sua cabine?
—Esta aqui. — Garret abriu a porta. —Aqui, eu vou levá-lo...
—Basta dar-me os primeiros socorros, — Reya ordenou. —Nós
podemos lidar com ele.
Ao invés de perder tempo discutindo, ele fez como ordenado.
Quando voltou, encontrou seu amigo deitado em seu beliche, seu
colete manchado de sangue descartado no chão. Reya estava
cortando suas calças, expondo a perna ferida para a inspeção.
—Eu vou ter que cortar a pele queimada para evitar a infecção.
Vai doer. Acha que você pode lidar com isso, bonitão?
Um sorriso triste apareceu.
—Tenho lidado com a sua língua de navalha, não tenho?
Ela sentiu uma estranha pontada no peito, mas
impiedosamente esmagou-a, não querendo saber o motivo para isso.
Dana colocou um prato com antisséptico no chão, ao lado do
beliche e entregou um par de tesouras para sua prima.
—Eu vou cuidar da perna dele, você cuida do seu lado.
—O que posso fazer? — Garret perguntou preocupado.
Reya subiu para o lado de Maverk.
—Traga duas agulhas para que possamos remendá-lo.
Os próximos quinze minutos foi um borrão de dor para Maverk,
com as Reekas cortando a pele morta e enegrecida, das beiradas das
feridas a laser e costurando a pele boa. Foi com alívio que ele sentiu
os abençoado remendos autoadesivos sendo colocados sobre as
feridas. Seu olhar se deslocou para uns preocupados olhos cinzentos.
—Alguma coisa que eu possa fazer? — Garret enxugou o suor
da testa de seu amigo com uma toalha pequena.
Ele sorriu fracamente.
—Eu tenho duas moças lindas com as mãos em cima de mim, o
que mais eu poderia pedir?
—Faça piadas, como você gosta. — Reya levantou-se e olhou
para ele. —Apesar de não serem perigosas, as feridas causaram
alguma perda de sangue e você estará fora de ação por um dia, pelo
menos. Descanso é o que você precisa.
—É mesmo? — Ele tentou empurrar-se em uma posição
sentada, estremeceu com a dor e caiu.
Garret pressionou-o de volta na cama.
—Ouça a moça, meu amigo. Ela levou tiro suficiente vezes em
sua vida, para saber o que está falando.
Afundando no beliche, ele fechou os olhos, com o teto girando
acima dele.
—Vou descansar por enquanto, sim, mas me acorde quando
chegarmos ao assentamento do casal idoso.
—Eu vou.
—Vá dormir — disse Reya secamente. —Venho vê-lo mais
tarde.
Em pé, ela se virou para sair com seus companheiros, apenas
para ser parada por um aperto surpreendentemente firme em seu
pulso. Olhando para baixo, viu a grande mão de Maverk segurando
em torno de seu pulso e levantou os olhos para encontrar o seu
olhar.
—Fique comigo.
—Não há nada de errado com você, que o sono não possa
resolver bonitão.
—Por favor.
Ela franziu a testa, impaciente.
—Ouça...
Ele suspirou.
—Eu sei que estou sendo problemático...
O truque da simpatia não funcionou.
—Você tem esse direito. Você é uma dor na bunda, bonitão.
Tenho um cadáver no porão que precisa ser selado em um caixão e
eu quero fazer isso. Venho verificar você mais tarde.
Liberando seu pulso, ele observou a sua saída da cabine,
seguida por Dana.
Garret olhou preocupado para ele.
—Você quer que eu fique?
—Para ternamente limpar minha testa? — Maverk fez uma
careta. —Obrigado, mas não, obrigado! Verdadeiramente, eu estou
bem, um pouco fraco, mas bem. Eu estava esperando que certa
guerreira ruiva fosse dar-me o seu toque suave. Mas eu perdi.
Alívio e divertimento apareceram no rosto de Garret.
—Não é possível ganhar sempre, amigo.
—Nós podemos tentar.
—Descanse um pouco. Vou ajudar as moças a carregar o corpo
para o caixão. Você vai ficar bem?
Com um aceno seu Garret saiu da cabine.
Fechando os olhos, Maverk cedeu ao cansaço e caiu num sono
profundo.

Cadáveres estendiam as mãos para ele, olhos cegos implorando


por misericórdia, suas bocas abertas em gritos silenciosos de agonia,
enquanto cães selvagens rasgavam pedaços de carne de seus
membros. O cheiro de carne em putrefação estava em todo lugar.
Vermes caiam da boca de um cadáver, quando ele sussurrou-lhe.
—Reya. — O sussurro tornou-se mais alto. —Reya fez isso
comigo.
—Não! — Maverk tropeçou para trás, quando a monstruosidade
avançou. —Não!
Uma figura apareceu por trás do corpo em decomposição, uma
guerreira alta, com cachos vermelho-dourados agitando ao vento.
Uma máscara mortuária de ouro cobria o seu rosto, mas os olhos
verdes gelados brilhavam. Com suas mãos erguidas ela segurava
uma espada afiada.
—Não! — ele gritou com horror.
—Estes corpos estão aqui porque eu os matei, — Reya disse
friamente e a espada cortou para baixo, cortando a cabeça do
cadáver que gritava ao se separar do corpo.
Ele caiu no chão com um spray de sangue preto e grosso, os
outros cadáveres tropeçaram de volta, com um terror mortal da
impiedosa mulher guerreira, caminhando em direção a eles.
—Reya, não! — Maverk implorou. —Por favor, não!
A máscara de ouro virou para ele.
—Eu causei a morte de alguns desses homens, bonitão. Matei-
os.
A espada cortou para a esquerda e direita, corpos caíram no
chão, seus gritos soando em seus ouvidos. Ele tentou chegar a ela,
para detê-la. Sua pele estava ficando tão cinza como as dos
cadáveres. Seus passos eram lentos e pesados, mas ele obrigou-se
para frente.
Finalmente, chegou até ela, segurando seu braço e puxando-a
ao redor. Ele gritou. A máscara estava chorando sangue, vermelho e
espesso, se espalhando até cobri-la, fazendo os cachos vermelhos
caírem flácidos. Sua pele começou a apodrecer.
—Estou perdida, Maverk, perdida. — Sua voz soou áspera em
seus ouvidos, desaparecendo. —Não há esperança para mim...
Debatendo em torno de seu beliche, Maverk estremeceu,
acordando. Seu coração trovejava e corpo estava úmido de suor, ele
olhou ao redor da cabine. Estava sozinho. Foi apenas um sonho, um
pesadelo horrível, o culminar da morte e destruição que tinha visto
no campo de batalha.
—Os pesadelos são uma forma da mente liberar o horror que se
vê, — disse uma voz rouca.
Virando a cabeça, viu Reya sentada na poltrona do outro lado
da cabine. Ela tinha uma perna dobrada com o tornozelo apoiado no
joelho oposto, os cotovelos sobre os braços e as mãos cruzadas, o
queixo pequeno descansando sobre eles. Os insondáveis olhos verdes
olhavam para ele.
—Reya. — Ele enxugou o rosto com uma mão.
—Então o que você sonhou, bonitão? Morte e violência?
—Nada. — Fechando os olhos por um instante, ele se encolheu,
lembrando os gritos dos cadáveres.
—Você chamou meu nome.
—Eu não sei o que falei.
—Muito bem, então. Você gritou o meu nome, enquanto você
dormia.
—Gritei? — Ele queria que ela parasse de investigar.
—Você me pediu para parar. Parar o que, bonitão? O
assassinato?
Cuidadosamente, ele sentou-se. Rangendo os dentes contra a
dor dos ferimentos, ele descansou as costas contra a parede.
—Deve ter sido um sonho, você está suando muito.
—Talvez eu esteja com febre, você já pensou nisso, moça?
—Você não está, — afirmou sem rodeios. —Eu verifiquei,
quando cheguei aqui.
Os olhos castanhos brilharam.
—O que é um pensamento agradável.
—Não fique animado e não tente evitar o assunto.
Ele estudou o distanciamento de sua expressão, o silêncio
absoluto da guerreira sentada no lado oposto. Seu olhar varreu para
baixo para as suas pernas fortes.
Reya lutou contra o impulso de levantar-se. Ela sabia que ele
não podia vê-la descruzar as pernas, mas quase imaginava que ele
pudesse ver diretamente sua feminilidade. Baixando a perna agora,
iria dizer-lhe com seu olhar nervoso que nunca faria.
Valentemente ela ignorou a onda de calor em suas regiões
privadas.
—Eu acho que você não vai me responder.
Seu olhar voltou ao seu rosto calmo.
—Há outras coisas que eu prefiro fazer a falar sobre sonhos,
moça. — Sua voz era sedutora, rouca.
Reya levantou-se rapidamente.
—Você não quer... conversar? — ele demorou sugestivamente.
Uma sobrancelha fina arqueou.
—Pense que você está... conversando?
—Estou mais até do que você poderia imaginar. — Ele sorriu
maliciosamente. —Sente-se ao meu lado e vamos conversar...
Reya caminhou até a porta.
—Descanse um pouco, bonitão.
—Venha agora, moça, qual é a pressa?
—Eu tenho um cadáver para entregar em cinco minutos.
Ele ficou sóbrio.
—Estamos no assentamento de Zac?
—Sim. Fique aqui. — Ela acrescentou quando ele fez menção de
se levantar: — Vou cuidar dele e você pode estar no seu caminho.
—Estar no meu caminho?
—Você fez o que você disse. Você nos ajudou a entregar o
corpo. Seu trabalho acabou. — Ela saiu da cabine.
Maverk olhou para a porta vazia e balançou a cabeça
lentamente.
—Errado, moça. Meu trabalho está apenas começando.
Capitulo 12
Maverk observou as galinhas gritando e bicando o chão,
vagueando com prazer entre o assentamento de cabanas de madeira
e de pedra, espalhadas. Um casal de cães de caça e vários gatos,
preguiçosamente viam os visitantes.
Reya e Garret deixaram o caixão no chão antes de chamar Zina
e Chut. O pequeno grupo de colonos se reuniu com reverência
silenciosa em torno do comerciante gigante e da notória Reeka.
Maverk e Dana ficaram na abertura da nave, no topo da rampa,
observando em silêncio.
Ajoelhando-se ao lado do caixão, Zina descansou uma mão
sobre a madeira polida.
—Não podemos arcar com o caixão, Reya.
—Isso não me custou nada.
—Mas...
—Foi um favor que me deviam nada mais.
—Obrigado. — Chut olhou para ela com os olhos cheios de
lágrimas. —Sua bondade é mais do que esperávamos.
—Sim. — Zina falou com a voz trêmula. —As histórias que
dizem sobre você são falsas.
—Não se iluda, pois você ficará muito decepcionada se o fizer.
Onde você pretende enterrá-lo?
Uma lágrima escorreu em seu rosto.
—Por trás de nossa morada, sob o pessegueiro. Zac adorava os
pêssegos, ele sempre ia comê-los, logo que amadureciam.
Dana observou secamente,
— Lembre-me para não comer os pêssegos da árvore se eu
passar por aqui novamente. O fertilizante não concordaria comigo.
—Isso é uma coisa cruel e desagradável para dizer. — Maverk
olhou incrédulo para ela.
—Então, não me dê ouvidos.
Soprando o ar, ele estava prestes a dizer mais alguma coisa,
mas Garret e Reya levantaram o caixão novamente, prendendo a sua
atenção.
—É melhor segui-los.
—Sim. —Automaticamente ela sentiu o laser preso na coxa e a
adaga na cintura.
—O que você está fazendo? Estas são pessoas simples, de luto!
—Dentro ou fora do luto, as pessoas nestas partes podem ser
perigosas. As únicas pessoas simples aqui são aquelas que baixam a
guarda. Não se esqueça de levantar a rampa.
—É seguro, ninguém pode entrar na nave, mas somente nós
mesmos. O campo de força está ativado.
Reya franziu a testa quando os viu fazendo seu caminho em
direção a ela, ambos mancavam.
—Por que vocês não esperam aqui? — Ela estudou o rosto de
Maverk e moveu seu olhar para sua guerreira irmã. —Isto não vai
demorar muito.
—Nem sonhar em perder o enterro. — Dana acrescentou,
então, olhou para a desaprovação de Garret — O quê?
Ele balançou a cabeça.
—Eu vou dizê-la mais tarde.
—Eu já tentei isso — disse Maverk. —Não funcionou.
Reya olhou para trás, por cima do ombro para Garret, que
estava em frente ao caixão.
—Você está vindo ou você gostaria que eu levasse isso por mim
mesma?
—Estou indo, moça.
Eles seguiram Zina e Chut para a clareira atrás da última
cabana de pedra na borda. Árvores estavam no alto da floresta,
lançando sombra fresca no fundo verde. Caminhando ao redor da
cabana, viram o buraco perto do pessegueiro. Os colonos andavam
atrás dos avôs e dos carregadores do caixão, com Maverk e Dana
mancando na parte de trás.
Quando o caixão foi baixado ao solo ao lado do buraco, dois
colonos correram para frente e prenderam cordas nas alças.
Zina começou a chorar, os soluços brotando e fazendo os
ombros frágeis tremerem.
—Eu quero vê-lo!
Maverk, Garret, Dana e Reya se entreolharam. Chut estendeu a
mão para a tampa do caixão.
Reya tocou no seu braço.
—Não é uma boa idéia.
Olhos cheios de lágrimas olharam para ela.
—Ele era nosso neto.
—Sim, ele era. Agora vamos colocá-lo para descansar.
O velho casal olhou para o rosto distante da guerreira, que
olhava para trás constantemente.
Dando um passo à frente, Maverk colocou a mão sobre os
ombros frágeis da velha.
—Isso só vai causar dor, Vovó Zina.
Ela olhou em seus olhos quentes.
—Ele é meu neto.
—E ele está em casa novamente, se contente com isso, — ele
respondeu suavemente. —Deixe-o descansar.
Chut deslizou o braço em volta dos ombros dela.
—Ele está certo. Vamos colocar Zac para descansar.
Concordando silenciosamente, ela baixou a cabeça. Quatro
homens se adiantaram e pegaram a corda.
Recuando para o lado de Garret, Maverk esperou em silêncio
respeitoso.
Quando o caixão foi baixado para as profundezas escuras da
terra, Reya se virou e caminhou de volta para o assentamento.
Após o funeral simples, Maverk foi em busca dela e encontrou-a
encostada na parede frontal da casa de Zina com os braços e
tornozelos cruzados.
—Você tinha que sair?
Ela focou em seu rosto.
—O quê?
—Você não podia ter esperado até que acabasse antes de ir
embora? — Para aliviar a dor afiada no seu lado e coxa, ele mudou
seu peso ligeiramente.
—Eu não era necessária. — Ela olhou de volta para a estrada de
terra esburacada que levava para fora do assentamento, passando
pela nave de viagem Daamen e para longe.
—Provavelmente, mas você poderia ter dado seus respeitos
tanto para Zac como para seus avôs.
—Meus respeitos? — Os lábios macios torceram ironicamente.
—É a última coisa que eles precisam.
—Não são bons o suficiente para você?
Não, ela pensou, é o contrário.
—Eu nunca teria pensado isso.
Vendo Dana mancando em direção a eles com Garret ao seu
lado, Reya endireitou.
—Pense o que quiser bonitão.
—Isso é tudo que você vai dizer?
—Sobre o quê? — Franzindo a testa, ela observou o progresso
doloroso de sua prima.
—A cerca de não dar seus respeitos a esse pobre garoto! —
Tinha sido um dia longo, cheio de emoções conflitantes, a dor de suas
feridas combinada com a fraqueza pela perda de sangue, fez o seu
normalmente bom humor e paciência, desaparecer rápido.
—Exato. Dana, você vai ter que descansar o tornozelo. Saia por
um tempo.
Maverk suspirou interiormente, sabendo que a atenção de Reya
agora estava focada em sua irmã guerreira. Cuidadosamente, ele
recostou-se contra a parede.
—Eu sei, eu sei, — Dana grunhiu. —Eu vou sair em breve.
—Nós poderíamos ir para a floresta... — Reya começou.
—Você pode descansar em Daamen e ver Tenia ao mesmo
tempo — Maverk sugeriu.
—Não.
Curiosamente, Dana observava.
—Você precisa de um lugar seguro para ela descansar, moça.
Por que não combiná-lo com a visita a sua irmã?
Tomando o braço de Dana, Reya começou a levá-la embora.
—Vamos fazer nosso caminho e encontrar um lugar para
descansar.
Carrancudo, Maverk empurrou para longe da parede.
—Reya, eu...
Zina e Chut apareceram de olhos vermelhos, mas compostos.
Chut falou para Reya que havia parado com a visão deles.
—Gostaríamos de pedir que você e seus amigos ficassem para a
noite e compartilhasse a nossa comida.
—Obrigado, mas...
—Por favor. — Zina tocou seu braço hesitante. —Você não
tomou o nosso dinheiro por trazer o nosso neto para casa. Pelo
menos, vamos pagá-la desta forma.
Reya entendia essas pessoas, pobres, mas orgulhosas.
—Muito bem.
—Obrigado. — A velha sorriu. —Eu vou ter uma refeição pronta
em duas horas. Será no por do sol. São bem-vindos para passar o
tempo em nossa casa, se quiserem.
—Acho que vou aproveitar esse tempo para explorar a área um
pouco. Ao por do sol então Zina.
O casal de idosos acenou com a cabeça e desapareceu na sua
cabana. Maverk e Garret olharam para Reya. Ela deu a Maverk um
olhar frio, antes de ir embora.
—Onde ela está indo? — Maverk perguntou.
—Verificando a área, — respondeu Dana.
—Vocês, moças, nunca descansam? — Garret perguntou. —
Nunca relaxam?
—Claro que fazemos.
—Quando?
—Quando é seguro. — Testando seu peso sobre o tornozelo, ela
franziu a testa. —Maldita coisa!
—Exatamente quando é seguro? — Ele levantou as
sobrancelhas interrogativamente.
Pensativa, ela considerava-o, antes de responder:
— Quando estamos em casa.
Mancando até um assento de madeira debaixo de uma árvore
próxima, ela sentou e recostou-se. Puxando a sua adaga ela girou
preguiçosamente entre os seus dedos.
Para qualquer um que assistisse, ela aparecia relaxada e
contente, mas os comerciantes sabiam que era diferente. Ela estava
em guarda, com os ouvidos atentos aos sons ao seu redor e os olhos
vasculhando a área circundante. Enquanto uma Reeka procurava a
pé, a outra observava e ouvia. Ou melhor, para estas duas que
ganhavam a vida como mercenárias, no Setor Outlaw, não poderia
haver descanso.
Isso fez Maverk ainda mais determinado a descobrir o segredo
de Reya e levá-la de volta para a segurança de Daamen, com ele,
que era onde ela deveria estar.

Vagando pelo assentamento, Reya tomou nota dos colonos e


dos seus filhos, suas casas e da floresta circundante. Não demorou
muito para ela ter certeza de que eles eram pessoas inocentes, que
não significavam perigo para os visitantes. Muitos lançavam seus
sorrisos tímidos, alguns a olhavam com cautela, um casal com um
toque de medo. As crianças observam a guerreira alta com
admiração. A maioria deles usava roupas grosseiras e remendadas.
Era um assentamento simples e pobre.
A floresta estava fresca, os galhos espalhando das enormes
árvores, lançando uma sombra para abrigar os habitantes do sol.
Parando ao lado de um dos troncos grossos, ela encostou-se nela e
relaxou um pouco. Era tão calmo e sereno.
Passos chegou aos seus ouvidos, passos hesitantes que
pararam e começaram, como se a pessoa estivesse procurando
alguma coisa. Ou alguém.
Silenciosamente ela tirou sua adaga, quando o farfalhar das
folhas sob os pés se aproximava. Quando o som estava perto da
árvore atrás dela, ela girou para fora e agarrou a pessoa pela camisa,
seu punhal pronto para mergulhar na carne.
—Pare! Reya, não!
Ela se viu olhando para o rosto de uma jovem que não poderia
ter mais de quatorze anos, com grandes olhos azuis e cabelos negros
trançados. Bonita e magra.
Reya a mandou para longe com um empurrão.
—Quem você procura?
A menina se ergueu sobre os cotovelos.
—Você.
—Eu? — Tendo certeza de que elas estavam sozinhas, ela
embainhou o punhal. —O que você quer?
Levantando, a garota inclinou a cabeça para trás para encontrar
os olhos de Reya.
—Meu nome é Mara. Sou prima de Zac.
Ah. A semelhança estava lá. Reya esperou.
—Todo mundo conhece a história das Mulheres Guerreiras
Reekas, sua habilidade na luta.
—Então? Qual é o seu ponto?
Hesitando, Mara estudou a guerreira alta com olhos frios e
impiedosos.
Girando ao redor, Reya começou a andar rápido, despedindo
dela.
—Espere!
Ela a ignorou e voltando através das árvores.
—Reya, espere, por favor! — Correndo atrás dela, Mara
estendeu a mão para pegar o seu braço.
Reya sacudiu a mão fora sem perder o passo.
—Fique longe.
Vendo que a Reeka não ia parar, Mara correu ao redor para
estar diante dela.
—Você é cansativa. — Reya fez uma careta. —O que é isso?
—Leve-me com você.
—O quê?
—Leve-me com você.
Reya olhou para ela.
—Você quer vir comigo?
—Sim. — Mara concordou avidamente.
—Impossível. — Ela deu um passo para o lado, pretendendo
passar por ela.
—Eu não seria problema. — Mara bloqueou o seu caminho
novamente. —Eu estive praticando minhas habilidades de luta, mas
você poderia me ensinar muito mais. Eu poderia ser como você!
Ela calou.
—Como eu?
—Sim! Forte, independente e respeitada.
A admiração desta menina causou uma torção dolorosa no seu
coração.
—Eu não sou o que você pensa.
—Por favor, me leve.
—Comece uma vida e pare de sonhar acordada.
A cintilação de dor em seus olhos foi rapidamente escondida.
—Eu estou tentando começar uma vida, uma como a sua.
—Então você é uma tola, — Reya respondeu sarcasticamente.
—Volte para sua mãe, menina.
Mara apertou os lábios.
—Eu não sou uma menina! Se você me levar com você, eu vou
provar isso!
—Não. — Ela foi embora, deixando Mara olhando para ela.
Que diabos esta menina estava pensando? Ser como ela? Reya
balançou a cabeça com a ironia. Se Mara soubesse as coisas que seu
ídolo tinha feito, ela iria correr em outra direção. Dispensando-a de
seus pensamentos, ela voltou para o assentamento.
—Passeio agradável? — Dana bocejou.
Reya sentou ao lado dela.
—O lugar é seguro, por agora.
Sentaram-se tranquilamente no sol da tarde, pesando os seus
pensamentos privados.

Maverk acordou sobressaltado. Sentindo-se cansado das


feridas, ele se retirou para a cama e dormiu quase que
imediatamente. Olhando para o relógio na parede, viu que já estava
quase no entardecer.
Garret apareceu na porta.
—Como estão as feridas?
Cuidadosamente, ele sentou-se.
—Eu vou viver. Onde estão as moças?
—No compartimento de carga verificando a sua bagagem. Elas
estão determinadas a nos deixar pela manhã.
—Esta é Reya. — Em pé, ele estremeceu com a dor em seu
lado e coxa. —Moça teimosa.
—Reya?
—Dana voltaria, mas Reya não vai e eu não sei por quê. As
irmãs são próximas.
—Tenia sabe que algo está errado.
—Claro, ela sabe de sua irmã. Por que você acha que ela a quer
em sua casa?
—Obviamente, não apenas para o nascimento do bebê.
—Mas ela vai, — Maverk afirmou decisivamente. —Não se
engane, Reya vai para casa!
Divertimento brilhou nos olhos de Garret.
—Não é o que ela diz.
—Ela terá uma surpresa, então, não é? Agora, eu estou com
fome. Vamos pegar as moças e vamos comer.

Reya observava Dana mancar dolorosamente em torno do


porão de carga.
—Descanse o tornozelo.
—Eu estou bem.
—Você não está. Você mal pode andar.
—Pare de agitação. Assim que chegar a um lugar seguro, eu
vou descansar.
—É seguro aqui.
Dana revirou os olhos.
—Irmã, eu... — Ela parou ao som do chocalho da plataforma
elevatória.
Reya assistiu quando apareceram e pararam. Os comerciantes
desceram e se aproximaram.
—Você não deveria estar descansando, bonitão?
—É bom ver que você se preocupa comigo, moça.
Com desdém frio ela pegou sua mochila e atirou-a sobre um
ombro.
Agarrando a mochila, Maverk tomou-a e deixou cair de volta no
chão, explicando alegremente, enquanto apertava os olhos.
—Por que se preocupar em carregá-la, quando você pode
deixá-la em segurança aqui?
—Ele tem o ponto, — Garret concordou. —Você não vai até de
manhã, então por que se preocupar com isso agora?
Dana deu de ombros.
—De fato. Vamos eu estou morrendo de fome.
Sem dizer uma palavra Reya saiu do porão de carga e desceu a
rampa. Maverk a seguia, sorrindo.
—Aqui, moça, permita-me oferecer meu apoio. — Garret
estendeu o braço para Dana.
—Não se preocupe, eu posso andar.
—Eu insisto. — Ele sorriu encantadoramente. —Ou você prefere
que eu a carregue?
—Pegue-me e eu vou arrancar o seu cérebro!
—Então tome meu braço. A menos, claro, que você esteja
preocupada em ser incapaz de manter suas mãos longe de meu
corpo, uma vez que você me toque?
—O seu ego é tão grande quanto sua cabeça. — Ela colocou a
mão em seu amplo antebraço. —Agora, pare de falar merda e
apresse-se.
—Suas palavras doces me tocam profundamente.
Ela resmungou um palavrão e ele riu. Juntos, eles desceram a
rampa e ela teve que admitir que era grata por sua força e apoio, por
que isso a fazia andar mais fácil e menos dolorosamente.
Na escuridão perto da cabana de Zina, Reya observou sua
prima. O mancar estava piorando e a dor refletia na tensão de sua
boca, o único sinal de seu desconforto.
Em pé, ao lado dela, isso não foi perdido por Maverk.
—Se Dana não der ao tornozelo um descanso completo, sérios
danos vão ocorrer.
—Eu sei.
Surpreso por ela concordar, ele olhou de soslaio para ela.
—Ela precisa de um lugar seguro para se recuperar.
Reya grunhiu.
—Um lugar onde ela não estará olhando por cima do ombro.
Seus olhos encontraram os dele.
—Um lugar onde ela possa guardar suas armas, deitar e colocar
os pés para cima.
—Vá em frente e diga bonitão, eu sei que você está morrendo
de vontade de dizer.
—Tudo bem. Ela precisa ir para casa, em Comll ou Daamen. Ela
poderia ficar com Tenia.
Inexpressiva, ela estudou-o, em seguida, virou-se para Dana e
Garret, quando eles pararam diante deles.
Zina abriu a porta da cabana.
—Entre, entre, o jantar está pronto!
Eles entraram atrás dela, Reya observou a pequena sala, a
mesa no centro, parecia dominá-la. Em cima estavam duas tigelas
grandes de frango e legumes cozidos, uma de sopa, três pães e uma
bacia de frutas.
—Sentem-se, — Zina convidou.
Obedientemente eles o fizeram, as Reekas de um lado da mesa,
os Daamens no outro. Chut sorriu para eles da cabeceira da mesa,
enquanto Zina sentou-se ao pé.
—Temos sorte de ter tantos legumes nesta época do ano. —
Zina encheu as tigelas de madeira com o ensopado. —Um rapaz veio
até nós com esta caixa de comida, mas ele parecia não saber quem o
tinha enviado.
—Foi a coisa mais estranha, — disse Chut, partindo o pão em
pedaços com as mãos e passando ao redor para os outros. —Ele
insistiu que era para nós.
Sentindo que Dana a cutucava por debaixo da mesa, Reya
olhou para Garret, que estava tentando não olhar para o pé de
galinha flutuando em cima de sua bacia. Ela moveu o seu olhar para
Maverk que estava bravamente cutucando a tigela com uma colher,
ela lutou contra o sorriso que ameaçava mostrar-se em seu rosto. Ele
estava tentando esquivar pegando o bico de galinha.
—Ensopado prazeroso. — Ela mastigou a comida salgada com
satisfação aparente.
Dana bateu um pedaço de pão duro em sua boca.
—Melhor que eu provei em um longo tempo.
Chut sorriu.
—Zina é uma cozinheira maravilhosa. A melhor no
assentamento! Ora, ela é sempre solicitada para cozinhar para os
casamentos e... —Ele continuou a cantar louvores a sua esposa.
Reya encontrou o olhar sorridente de Maverk e ele viu o brilho
de diversão quente em seus olhos, um segundo antes que ela os
voltasse para a tigela diante dela.
—Percebi que vocês têm hortas, — disse Garret para Chut. —
Como é que não há o suficiente para alimentar os colonos?
—Oh, existem normalmente, mas um grupo de bandidos
saqueadores nos atacou várias vezes e destruíram as colheitas.
—Não aparecem há vários meses, — disse Zina. —Parece que
eles pararam, graças a Deus.
—Então você acha que o grupo se foi? — Garret perguntou
curiosamente.
—Sim. Eles pegaram o que vieram buscar, ou seja, nossas
culturas, — respondeu Chut. —Quem quer que fossem nunca
atacaram o assentamento. Acordamos de manhã e as colheitas
haviam sumido. As crianças foram avisadas a não andar na floresta à
noite, com medo dos ladrões retornarem e prejudicá-los.
Zina recolhia as tigelas vazias.
—O que aconteceu, aconteceu. Devemos estar gratos que todos
nós estarmos bem e seguros, até agora.
O resto da noite passou agradavelmente e já estava ficando
tarde no momento em que eles deixaram à cabana. Fora, na noite, o
ar estava frio, a paz no assentamento dava-lhe uma atmosfera
tranquila.
—Poderíamos muito bem dormir esta noite em nossa nave, —
comentou Maverk casualmente. —conseguindo um bom descanso
antes de amanhã.
Dana franziu o cenho.
—Nós podemos dormir aqui fora. Não seria a primeira vez que
as estrelas seriam os nossos cobertores.
—Que poético! — Garret carinhosamente apertou a mão dela,
onde ela repousava em seu antebraço. —Nunca vi você assim, meu
doce.
Olhando para ele, ela se afastou bruscamente, apenas para dar
um suspiro dolorido, tropeçando e gemendo em agonia pela dor em
seu tornozelo.
Imediatamente ele pegou-a em seus braços.
—Você é um palhaço, — ela gemeu. —Ponha-me no chão!
—Não. — Reya deu um passo à frente. —Maverk está certo,
Dana. Vá e tenha um bom sono. Estarei lá em breve verificando o seu
tornozelo.
—Eu posso fazer isso. — Carregando uma Dana protestando,
Garret caminhou até a rampa da nave.
Cansada, Reya esfregou os olhos, com os ombros caídos,
esquecendo por um momento de Maverk, que estava apenas atrás
dela. Ela saltou quando suas mãos grandes caíram sobre os seus
ombros e começaram a massagear os músculos.
—Fique parada, — ele ordenou, quando ela fez menção de se
afastar. —Isso é só uma massagem para aliviar você.
—Eu não preciso de ajuda. — Mas ela ficou, saboreando a
sensação de seus dedos fortes, massageando os seus músculos.
Era tão bom, que seus olhos quase fecharam.
—Estou surpreso por você concordar comigo, moça.
—Hmm?
—Sobre Dana precisar de um lugar seguro para descansar.
A tensão voltou e ela se afastou abruptamente, antes de
enfrentá-lo. Silenciosamente, eles se olharam, a escuridão da noite
lançando-os nas sombras.
—Você está certo, ela vai causar danos irreparáveis a si mesma
se ela continuar. Voltar para casa é o único caminho para que ela se
recuperar completamente.
Um alívio o encheu.
—Vamos para Daamen, então.
—Cuide dela.
—O que você quer dizer?
—Faça com que nenhum dano recaia sobre ela, pois é teimosa
e vai brigar com você como o inferno. Tenia e Connie cuidarão dela,
uma vez que esteja em casa.
—Você está vindo, não é? — Ele viu a resposta em sua
expressão. —Maldição, Reya! Você está vindo!
—Minha resposta não mudou. Não.
—Você vai precisar de mim, então. — Mara saiu das sombras.
—Esqueça isso. — Embora ela tenha falado para Mara, Reya
manteve seu olhar no rosto assustado de Maverk. —Você seria morta
ou capturada e estuprada dentro de minutos. Você está se
esgueirando e escutando desde que saímos da cabana.
—Então? Com Dana indo embora, você estará sozinha. Se eu
ficar com você, você estará mais segura.
—Segura?
—Sim. Haverá nós duas... três, quando Dana ficar bem outra
vez. Juntas nós seremos invencíveis!
—Quem é esta? — Maverk exigiu de Reya.
—Ninguém. Vá para casa, Mara.
—Não, eu quero ser como você, Reya. Uma guerreira!
Capitulo 13
—Você está se tornando cansativa. Volte para casa, garotinha,
já passou da sua hora de dormir.
Bravamente Mara manteve sua posição.
—Eu sei o que você está tentando fazer e não vai funcionar. Eu
fiz a minha cabeça.
—Quem é você? — Maverk franziu a testa com perplexidade.
—Meu nome é Mara. Zac era meu primo.
—Sinto muito.
—Não, ele morreu por uma causa. — Orgulhosamente, ela
ergueu o queixo. —Eu pretendo seguir os seus passos.
—Então você é uma tola, — disse sarcasticamente Reya.
Olhos azuis brilharam.
—Você luta por causas o tempo todo!
—Errado. Eu luto por dinheiro. Eu poderia facilmente ter lutado
para o outro lado e ter matado Zac.
—Não, você lutou no lado certo.
—Lado certo? Ouça, Shaque me ofereceu dinheiro para lutar.
Sem dinheiro, sem causa. Na verdade, nunca há qualquer outra
causa para mim.
—Então por que você luta?
—Isso não é da sua conta.
—Vai ser quando eu for com você.
Maverk franziu o cenho.
—Do que você está falando? Ir com Reya?
—Sim, eu vou ser uma guerreira como ela. Vai me ensinar a
lutar.
—Esqueça isso. — Girando sobre os seus calcanhares, Reya
afastou-se.
Mara correu atrás e ao redor dela para, mais uma vez pará-la.
Reya parou, com os olhos brilhando friamente.
Maverk apareceu ao lado dela.
—Mara, você não pode ir com ela. Para começar, você é muito
jovem e está mais segura com sua família.
—Reya era mais jovem do que eu, quando ela começou a lutar.
—Circunstâncias diferentes, criança, aquelas que você nunca
gostaria de viver. Seja grata por sua família e sua vida.
—Eu quero que ela me ensine a lutar, — insistiu teimosamente
Mara. —Eu quero ser como ela!
—Você não quer ser como ela, — disse Maverk sem pensar, em
seguida, amaldiçoou em silêncio, percebendo como devia soar para
Reya.
—Eu não entendo, quero ser como ela!
—Você quer? — As palavras de Reya estavam mordendo e
amargas como um vento de inverno. —E como você gostaria de ser
como eu?
Olhos azuis brilhavam ansiosamente.
—Quero ser forte e honrada! Todo mundo me conhecer e me
tratar com respeito! Senhores distritais procurariam a minha ajuda
e...
—Suas ideias são loucas e românticas. As pessoas não me
tratam com respeito, mas com medo e ódio, com razão. Eu sou uma
assassina...
—Uma mercenária, e não assas...
—Sou contratada para matar pessoas, — continuou Reya
impiedosamente. —Em algum lugar, lá fora, estão às famílias de luto
pelos homens que eu matei, assim como sua família chora por Zac.
Eu mato pelo maior lance e não mostro misericórdia.
—Reya. — Vendo o rosto pálido da menina, Maverk tocou o
braço da guerreira.
—Eu mato, recebo o pagamento, sigo em frente, sou
contratada, mato, recebo o pagamento, sigo em frente. Dia após dia,
dia após dia. Eu tiro a vida dos homens, maridos de esposas, pais de
crianças, o irmão da irmã, o filho de sua mãe, namorado da
namorada...
—Pare com isso! — os lábios de Mara tremiam. —Você está
deliberadamente fazendo soar mal para eu mudar de idéia, mas eu
não vou mudar!
—O que você quer ver é a glória, a lenda. — Reya estendeu as
mãos. —Você admira a força? Eu quebrei pescoços com estas mãos,
espadas empunhadas que espalharam os intestinos dos homens no
chão.
—Acalme-se — advertiu Maverk suavemente. —Ela é apenas
uma criança.
— Uma criança que deseja ser como eu, uma assassina. Para
ser como eu, você precisa não ter nenhuma alma, Mara, então você
não tem idéia da solidão, do isolamento, da morte e da destruição.
Pessoas decentes vão prendê-la por desacato. Noites não são
preenchidas com sonhos de glória, mas os pesadelos que são
executados com sangue, você acorda com a memória daqueles que
morreram, gritando por misericórdia que você não deu.
—Você está mentindo! — Lágrimas encheram os seus olhos. —
Por que está sendo cruel?
—Porque eu sou cruel. Minha vida não tem glória. Tem horror.
Não há nenhuma honra apenas um preço. Trago a morte comigo. É
isso que você quer? É isso?
—Eu... isso não é verdade!
—Então por que você está chorando? E por que não me
importo? — Reya cruzou os braços com fria indiferença. —Vá para
cama, Mara. Sonhe seus pequenos sonhos e seja feliz.
Seu mundo estava desmoronando, a sua heroína adorada, a
guerreira alta e bonita estava desabando pedaço por pedaço.
—Eles disseram...
—Eles mentiram.
Uma última vez Mara agarrou uma tábua de salvação.
—Você trouxe Zac para casa.
—Seus avôs me pagaram para isso. Se não tivessem, ele ainda
estaria no campo de batalha proporcionando uma refeição para os
cães selvagens.
Era demais. Soluçando, Mara voltou-se e fugiu de volta para o
assentamento.
Agarrando o braço de Reya, Maverk oscilou em torno dela,
aproximando-se.
—Maldição dos infernos! Você tem que ser assim tão
sangrentamente rude?
—Você não deseja que ela seja como eu. Melhor a verdade do
que vir acontecer. — Afastando-se dele, ela caminhou de volta para a
nave.
Com raiva, atordoado, em silêncio ele ficou olhando para ela.
Como ela poderia ser tão dura com a mocinha?
—Ela está errada, você sabe — disse uma voz calma atrás dele.
Olhando em volta, viu Chut encostado no canto da cabana.
—Desculpe-me?
—Sobre ela não ter alma. — O velho acendeu um fósforo e
aplicou a chama ao seu cachimbo. —Não ter honra. Ela não contou
para minha neta que ela recusou o pagamento por Zac.
Maverk ainda podia ver a dor dos sonhos destruídos na face da
jovem.
—Ela não tem que ser tão cruel sobre isso.
—Talvez não, mas de qualquer forma, funcionou, não é?
—Você acha?
—Você acha que Mara ainda vai querer ser como Reya? Entrar
em perigo e lutar, enfrentar a morte todos os dias?
—Eu não acho. — O comerciante suspirou. —Gostaria que fosse
tão fácil de mudar a mente de Reya.
Um sorriso sábio apareceu nos seus olhos desbotados.
—Apaixonado pela guerreira?
Outro suspiro.
—Sim.
—Bom. Ela precisa de você.
—Oh?
—Ela mentiu sobre não ter alma para desistir, o que ela sabe de
solidão e de pesadelos?
—Ou horror — acrescentou Maverk pensativo. —Ou se importar,
o suficiente, com uma criança para destruir sua própria imagem para
impedi-la de seguir seus passos.
—Agora você começa a ter o retrato inteiro. — Endireitando-se,
Chut esticou-se e bocejou. —Bem, boa noite.
—Boa noite e obrigado.
Chut acenou com a mão e desapareceu na cabana.
Maverk lentamente caminhou de volta para a nave. Imerso em
seus pensamentos, ele subiu a rampa, pressionou a alavanca,
automaticamente, atrás dele para trazer a rampa e fixá-la com
segurança. Pisou no elevador da plataforma, subiu para o segundo
andar e foi para a sua cabine.
Vendo a luz brilhando por debaixo da porta fechada ao lado da
sua, ele parou e levantou a mão para bater, hesitou depois a baixou e
continuou adiante.
Quando a sombra debaixo de sua porta moveu-se, Reya
relaxou. Cansada, ela sentou-se no beliche, deixando cair à cabeça
em suas mãos.
Que inferno de vinte e quatro horas. Perdeu a virgindade com o
grande e bonito comerciante, recuperou o corpo de Zac, Maverk
sendo ferido e um confronto com uma menina que a adorava. Poderia
qualquer outra coisa dar errado?
Ela dormiu pouco naquela noite, a memória da dor enchendo os
olhos de Mara, ficou gravado na sua mente. Tratá-la de modo
insensível não era algo para se orgulhar, mas era a única maneira de
impedi-la de fazer o pior erro de sua vida.
Mesmo Maverk concordou que Mara não devia acabar como ela.
Reya sorriu ironicamente, mesmo quando a dor perfurou seu coração.
Talvez sua crueldade servisse para os dois propósitos, fazendo não só
Mara mudar de idéia, mas Maverk também.
Que tomaria conta de dois de seus problemas. O terceiro era
Dana. Ela só poderia realmente se recuperar em um lugar seguro e
devia voltar para casa. Dana iria para casa, para se recuperar, mas ia
ser uma luta, porque Reya não ia com ela.

Reya entrou na cabine de sua prima nas primeiras horas da


manhã, para encontrá-la sentada melancolicamente na cama, com
manchas escuras sob seus olhos castanhos, normalmente brilhantes,
e que estava agora aborrecida com a dor que ela tentava, sem
sucesso, esconder.
—Não foi possível dormir também? — Dana puxou as cobertas
rapidamente sobre as pernas.
Seus olhos penetrantes não perderam a ação.
—O que há de errado com você?
—Nada. Você parece cansada. O que a manteve acordada?
—Como está o seu tornozelo?
—Tudo bem. Estou pronta para ir quando você estiver.
—Sério? — De repente, agarrando a coberta, Reya puxou-a. —
Maldição Dana!
O tornozelo delgado de sua prima estava inchado, hematomas
pretos cobriam metade de seu pé e ia até o tornozelo.
—Eu estou bem! — Ela puxou as cobertas de volta.
—Está bem? Você não poderia calçar um chinelo macio nesse
pé, muito menos apoiar! — Reya passou a mão pelos cachos grossos,
com a preocupação em seus olhos, normalmente sem emoção.
—Não fique tão nervosa! — Dana disse, não acostumada a vê-la
tão abalada.
—Se você se machucar mais uma vez, você não poderá mais
usá-lo. Você percebe o tamanho do dano que fez por continuar a
caminhar sobre ele?
—Tudo bem, tudo bem, eu sei que não parece bom...
—Isso é um eufemismo.
—Assim que chegarmos a um lugar seguro, eu irei descansá-lo.
Reya andou até a porta, em seguida, passeou de volta, parando
na frente de sua irmã guerreira.
—Será que você gostaria de voltar a Daamen e ficar com Tenia
ou Connie até curar?
—Voltar? — Suas sobrancelhas arquearam em surpresa. —Mas
eu pensei que você...
—É um lugar seguro para se recuperar e curar-se corretamente.
—Bem, sim, mas...
—Você gostaria de ver nossas irmãs guerreiras de novo, não é?
Com os olhos brilhando, ela balançou a cabeça.
—Sim, especialmente quando Tenia esta perto do parto.
Um pequeno sorriso cintilou no rosto de Reya.
—Eu sei o quanto você sente falta de todas elas, irmã.
—Como você.
—Então, você concorda? — Reya balançou para trás sobre os
calcanhares. —Você vai para Daamen se recuperar?
—Sim, já faz um tempo desde que vimos nossas irmãs. — Dana
sorriu. —Quando nós vamos?
Esta era a parte que ela temia.
—Você vai, logo que os comerciantes estiverem prontos.
—Eu? Quer dizer nós, não é? — Olhos castanhos estreitaram
suspeitosamente.
—Não. Quero dizer você.
—Merda! Onde você está indo?
—Eu vou para algum lugar. Não se preocupe comigo.
—Você não pode estar planejando ficar para trás!
—Eu estou.
—Não! De jeito nenhum! — Dana tentou levantar soltou um
grito de dor e sentou-se de novo rapidamente. —Você não vai ficar
sem mim!
—Você precisa de aju...
—Vamos encontrar um lugar seguro juntas!
Exasperada, Reya jogou os braços.
—Onde, Dana? Aqui? Em Urion? Onde? Onde quer que formos,
corremos o perigo de bandidos atacando em números. Fizemos mais
inimigos do que você pode contar com os nossos dedos!
—Ninguém poderia nos atacar.
—Oh, não? Talvez quando estamos sobre os nossos pés,
saudáveis e bem, mas com uma de nós ferida...
—Você está em perigo por si mesma.
—Eu posso andar mais rápido sozinha. Eu não tenho uma lesão
que me faça ir devagar.
—Eu não vou sem você.
—Eu não vou com você — Reya disse sem rodeios. —Você é um
perigo para nós duas, do jeito que está. Continue assim e você vai
acabar aleijada, pense no quanto perigosa e impossível está em
nossa linha de trabalho.
—Venha comigo — pediu Dana.
—Não.
—Por quê? Por favor, diga-me Reya. Há uma razão. Eu sei que
você ama Tenia e quer estar com ela no nascimento de seu bebê, sua
sobrinha ou sobrinho. Por que se recusa a voltar?
Os olhos gelados estavam tão sombrios como um dia de
inverno.
—Não me pergunte sobre isso.
—Diga-me! Eu não entendo irmã. Por quê?
Reya recuou.
—Eu tenho minhas razões e elas são só minhas.
—O que eu digo a Tenia quando ela perguntar por que você não
voltou? — Dana perguntou desesperadamente.
—Diga a minha irmã que eu a amo.
—Isso é um inferno de uma resposta!
—Esta é toda a resposta que você recebe. — O tom de Reya se
suavizou. —Quando você estiver curada, poderemos estar juntas
novamente. Agora tenho de ir...
—Pare Reya, eu não vou...
—Você não tem escolha! Você mal pode caminhar, agora.
Estarei de volta logo depois que informar aos comerciantes que você
vai para casa com eles. — Ela deixou sua prima antes que ela
pudesse fazer quaisquer novos protestos.
—Maldição! — Dana olhou para a porta fechada e ainda estava
olhando para ela quando uma batida soou vários minutos depois.
—Entre.
Os comerciantes entraram e ela olhou-os amargamente.
—Reya nos disse que você está voltando para casa — disse
Garret.
—Ela falou? Bem, eu não vou deixá-la sozinha!
—Você não vai precisar. — Maverk sorriu.
—Ela está vindo? — Esperança iluminou seus olhos.
—Ainda não, mas ela acabará. Vou ficar com ela.
—Você? — Dana riu com desdém. —Ela não vai concordar com
isso!
Cruzando os braços, Maverk inclinou a cabeça ligeiramente,
enviando os cabelos loiros sobre os ombros largos.
—Ela concordará se você insistir.
—O que faz você ter tanta certeza?
—Ela quer que você se cure em segurança. Você concorda em
voltar para Daamen com Garret se eu ficar em seu lugar.
—Vai sonhando!
—Você quer que ela fique sozinha?
—Claro que não, é a última coisa que ela precisa. Por que você
acha que eu estou lutando com ela sobre isso?
Ele agachou-se diante dela.
—Ela não estará sozinha, eu estarei com ela. Você sabe que
não vai ganhar. Reya simplesmente vai escapar em algum momento
e você está muito ferida para segui-la, não é?
Seus olhos queimaram rebeldemente, mas ela não respondeu.
A verdade doía muito.
—Ou, como líder das Reekas, ela pode ordenar que você vá. Ela
não pensou na estratégia, ainda.
Uma vez que enfrentasse a sua prima, ela não teria nenhuma
chance. De qualquer maneira, ia perder. Mas para ir sem ela...
—Dana eu vou cuidar dela, — assegurou-lhe Maverk
suavemente. —Quero descobrir o segredo que impede Reya de voltar
para casa. Diga a ela que você irá se concordar que eu a acompanhe
até que você se recupere.
Ela podia ver o sentido em suas palavras, a determinação em
seus olhos.
—Você vai ficar com ela independentemente, não é?
—Sim, mas se você concordar com meu plano posso estar com
ela o tempo todo, em vez de tentar localizá-la e combatê-la a cada
passo do caminho.
—Por quê? — Dana olhou para ele pensativo. —Por que o seu
segredo é tão importante para você e a sua segurança? Além de ser a
irmã de Tenia?
Ele respondeu simplesmente.
—Eu a amo.
—Você a ama? — Ela olhou para ele.
—Sim, e posso fazê-la feliz. Vou fazê-la feliz, uma vez que
descubra o horror que a tortura, e assim afastá-la dele. Levá-la de
volta para casa, onde pertence, feliz e segura, comigo.
A verdade e sinceridade tocavam forte em suas palavras, em
seus olhos e ela sabia o que tinha que fazer.
—Muito bem. Mande Reya entrar.
Maverk deixou a cabine e ela viu uns olhos cinzentos divertido.
—Por que você está tão feliz, Garret?
—Meu amor, você e eu estaremos sozinhos no espaço, por duas
semanas, na viagem de volta para Daamen. Use sua imaginação!
—Se seu cérebro fosse tão grande quanto seu ego, você seria
perigoso.
—Sempre que você está ao redor, tenho algo muito maior do
que o meu ego e não é o meu cérebro.
—Você é nojento, estou avisando, tente qualquer coisa nesta
viagem e eu...
—Eu não vou ter que tentar nada, — ele informou-lhe
alegremente. —Você vai cair em meus braços, em algum momento.
Tudo o que tenho a fazer é esperar.
—Você vai ficar esperando muito tempo, deixe-me dar-lhe um
conselho.
Garret sorriu, mas antes que pudesse dizer mais, a porta se
abriu e Reya entrou.
—Você queria me ver?
—Sim. Você pode ir, menino risonho.
Rindo, ele deixou a cabine.
As mãos cruzadas atrás das costas frouxamente, Reya estava
perto da cama.
—O que é?
Dana estudou-a antes de responder:
— Eu vou voltar para Daamen.
—Bom.
—Só até me recuperar, então vou estar de volta.
—Claro.
Dana sentiu uma picada súbita de diversão, mas manteve o
rosto cuidadosamente suave.
—Com uma condição.
—Oh? O que seria irmã?
—Bem, agora, você não estará sozinha.
Um forte senso de presságio tomou conta de Reya.
—Dana o que você fez?
—Maverk vai ficar com você até que...
—De jeito nenhum! De jeito nenhum, Dana, não!
As sobrancelhas da loira subiram com surpresa, com a explosão
de sua prima.
—Não é como você ir ao fundo do poço, irmã.
—Não importa, a resposta é não.
—Agora, Reya, isso só até que eu me recupere.
—Não!
—Certo. — Jogando a coberta de lado, Dana expôs o tornozelo
machucado, escuro e inchado. —Arranje-me ataduras.
—Para quê?
—Para meu tornozelo, para que possamos ir.
—Droga, você não pode!
—Ou você mantém a companhia de Maverk ou eu fico, — foi o
calmo veredito.
—Maldição! — Reya andou em toda a cabine até a parede,
voltando os passos com raiva para o lado do beliche. —O que você
acha que está fazendo?
—Garantindo que você será cuidada.
—Eu não preciso...
—Assim como você está cuidando de mim, enviando-me para
algum lugar seguro — acrescentou Dana presunçosamente.
Reya olhou para ela.
—É uma situação totalmente diferente.
—Venha comigo e nós vamos estar na mesma situação.
—Fora de questão.
—Muito bem, você tem duas escolhas. Eu ou Maverk.
—Eu poderia sair a qualquer momento sem que você saiba!
—Sou uma boa rastreadora, eu iria encontrá-la. Claro, com
uma lesão pior do que agora. — Dana estendeu a mão. —Se você não
aceitar Maverk, dá-me o curativo.
—Merda! — Reya explodiu, sabendo que ela estava bem e
verdadeiramente presa.

Maverk olhou por cima da torrada que estava comendo quando


Reya invadiu a cabine de jantar.
—Você não parece feliz, moça.
Travando do outro lado da mesa dele, ela deu um tapa com as
mãos para baixo sobre a superfície da mesa e inclinou-se toda para
olhar para ele.
—Foi sua idéia, bonitão?
Uma mão jogou o cabelo longo para trás de um ombro.
—O quê?
—Você sabe o que!
—Suponho que você dever-me-ia dizer sobre o que é isso tudo,
moça?
Ele quase riu em voz alta quando ela visivelmente rangeu os
dentes.
—Não me empurre Maverk! Foi idéia sua?
Ele tomou um gole do suco com prazer, direto do jarro gelado,
antes de dizer: — Acho que isso tem a ver com eu acompanhá-la?
—Oh, o que você acha?
Seu olhar interessado caía para os seios generosos empurrando
contra o colete firmemente atado, não muito longe dele. Seguindo
seu olhar, ela se endireitou rapidamente, com as bochechas rosadas.
Um brilho quente agora iluminava os olhos que viajaram
lentamente de volta até seu rosto.
—O que perturba você, moça?
Por um instante, ela se perguntou o que ele queria dizer com
seu olhar em seus seios. Na verdade, ele o fez. Então ela viu seus
olhos enrugar nos cantos e as palavras seguintes a fizeram gemer
mentalmente.
—Atenção, moça, tente manter a sua mente sobre o assunto!
—Eu estou.
—Então, a minha companhia a perturba?
Não havia como ela pudesse admitir que ele fazia, muito
mesmo. Todos os momentos que passava em sua companhia, a fazia
ter consciência de sua força, suas belas feições, seus olhos castanhos
alegres e o seu corpo alto e musculoso...
—Claro que não. Você não é nada mais que um incômodo para
mim.
—Não se preocupe quanto mais tempo passarmos juntos, mais
eu vou crescer para você. — E dando uma mordida saudável na
torrada, ele mastigou com entusiasmo.
—Fale com Dana para desistir desta idéia ridícula.
Drenando o último dos sucos, Maverk se levantou e pegou o
prato.
—Você ganhou, não foi?
—O quê? — Com raiva, ela cruzou os braços.
—Dana concordou em ir para casa para se recuperar. — Ele
colocou o prato e copo no balcão. —Não é o que você queria?
—Sim, mas...
—Ela não vai deixá-la sozinha, — continuou ele, voltando-se
para encará-la.
—Não, e isso é ridicul...
—Independentemente da minha oferta para ficar com você, deu
certo. — Ele caminhou até a porta, parando ao lado da guerreira
furiosa e permitindo que seu olhar caísse sobre os cachos selvagens
vermelho-ouro, antes de olhá-la nos olhos. —Ela estará segura e
feliz. Não é isso que você queria?
—Claro, mas...
—Portanto, não há problema, não é? — Rapidamente ele se
inclinou e apertou um beijo nos seus lábios, então se endireitou e
caminhou rapidamente para longe, antes que ela pudesse revidar,
falando por cima do ombro enquanto fazia isso — Pare de se
preocupar, moça.
Capitulo 14

Ela seguiu no seu encalço.


—Espere aí, bonitão, você não se esqueceu de alguma coisa?
—Oh? O que seria? — Pisando no elevador da plataforma, ele
chegou ao botão de controle.
—Maldição, você vai esperar?
—Eu estou indo para fora, para observar o nascer do sol. Você
é mais que bem-vinda para se juntar a mim, moça. Poderíamos dar
as mãos e...
—Em seus sonhos. — Pisando no elevador da plataforma, ela
garantiu que houvesse tanto espaço quanto possível entre eles, no
espaço confinado.
—Com medo de chegar muito perto, no caso de você perder o
controle e violentar-me?
—Não, no caso de eu matar você! — Maldito homem, ele tinha
um jeito de fazê-la perder a calma, literalmente.
Maverk gostava de ver esta mulher gelada perder a paciência,
rigidamente controlada, pois quando ela fazia isso, a geleira em seus
olhos derretia com seu fogo interior e ele podia sentir sua fúria
frustrada irradiando das curvas deliciosas do seu corpo. Ele saboreou
o conhecimento de que era o único homem que podia sacudir a sua
compostura. Era uma indicação segura de que, independentemente
de seus protestos, ele a perturbava. E isso era bom, porque ela, com
certeza como o inferno, o perturbava.
—Você está presa comigo, moça, quer queira ou não. — Ele
desceu da plataforma e foi até a porta, puxou a alavanca e baixou a
rampa. Caminhando para baixo, ele respirou fundo, o ar fresco do
início da manhã.
Reya respirou fundo também, mas não para saborear o ar
fresco. Ela estava se esforçando para obter as suas emoções sob
controle.
Olhando para ela com o canto do olho, ele sentiu decepção,
quando a fachada de gelo caiu em seu rosto. Fogo não queimou em
seus olhos; a donzela de gelo estava de volta, no controle.
—Você se esqueceu de uma coisa, bonitão.
—Oh? Que é isso?
—Quem fica com a nave, você ou Garret?
—Garret, é claro, para chegar em casa com Dana.
—Isso deixa você a pé, nos discos, viajando a cavalo, ou ônibus
dos planetas. Como você se sente sobre isso?
Maverk sorriu.
—Você vai me proteger.
—Tem toda essa fé em uma simples mulher.
—Você não é uma mera moça, Reya, você...
Torcendo as mãos e chorando, um Chut preocupado estava
atrás dela, Zina veio correndo até eles.
—O que há de errado? — Maverk perguntou com preocupação.
—É Mara, — Zina soluçou. —Ela se foi!
—O que você quer dizer?
—Ela não voltou para casa ontem à noite — Chut respondeu. —
Sua cama não foi desfeita.
—E seus pais?
—Ela mora conosco.
—Quem não o faz? — Reya murmurou.
Maverk deu-lhe um olhar reprimido, antes de voltar sua
atenção para o homem idoso.
—Você já perguntou os outros colonos?
Zina enxugou os olhos.
—Ninguém a viu. Oh, Chut e se ela foi raptada?
—Tenha um grupo de busca pronto para vasculhar a área —
Maverk ordenou. —Vamos, Reya.
O casal de idosos correu e ele retornou, só para parar quando
percebeu que estava sozinho.
Virando-se, viu Reya observando-o sem expressão.
—Você vem?
—Você busca bonitão. Eu vou preparar a minha mochila.
Seus olhos se arregalaram.
—Como é?
—Você ouviu. — Ela recuou até a rampa.
Atordoado, ele olhava incrédulo, enquanto ela desaparecia no
porão de carga. Certamente ele devia ter ouvido errado.
Chegando até a rampa para o porão de carga, ele a pegou
perto da plataforma elevatória.
—Você não vai ajudar?
—Você achará a menina, bem rápido.
—Há uma criança perdida por aí e você não vai ajudar a
procurá-la?
—Há uma moça jovem por aí, que deve ter se escondido em um
acesso de mau humor porque recusei a levá-la comigo. — Ela pisou
na plataforma elevatória.
—Você não está nem um pouco preocupada? — A descrença
mudando rápido para raiva.
—Eu não sou sua guardiã. — Ela apertou o botão de controle.
Batendo a mão contra ele, Maverk parou a subida da
plataforma e sua mandíbula apertou.
—Você pode não ser a sua guardiã, mas não se sente em parte
responsável por seu desaparecimento?
—Não.
—Droga, Reya!
—Você já terminou? Eu quero as minhas coisas. — Novamente
ela apertou o botão de controle, ligando a plataforma para cima.
Fervendo de raiva, ele a agarrou pela cintura e a puxou para
fora da plataforma facilmente, balançando-a em torno e empurrando-
a contra a parede.
A dor atravessou seu ombro ferido, exatamente no instante em
que a mesma atacou lateralmente Maverk e sua coxa.
—Maldição! — Liberando-a, ele cambaleou para trás.
—Idiota! — ela gemeu com a dor nas costas e se afastou para
longe da parede.
Ele se endireitou, uma mão ao seu lado.
—Você está bem?
—Claro que eu estou — respondeu ela amargamente. —E
você?
—Eu vou viver.
—Bom.
—Agora, onde você está indo?
—Como eu disse pegar as minhas coisas.
—Não, você não está.
—Não me empurre bonitão. Está com mais dor que eu, então
eu tenho uma boa chance de limpar o chão com você.
—Experimente e você não vai se sentar por uma semana, eu
prometo.
A ameaça a pegou desprevenida. No passado ela tinha sido
ameaçada de morte, esfaqueamento, tiroteio, chicotada e
enforcamento, mas nunca de uma surra.
Vendo o choque e a incerteza em seu rosto, Maverk quase riu.
Esta mulher enfrentou a morte mais vezes do que qualquer um, sem
vacilar e ele sabia, mas suas palavras a haviam atingido. Bom. Agora
ele tinha uma arma contra ela, mesmo que nunca pudesse machucá-
la. Mas ela não tinha que saber disso.
—Então o que vai ser moça?
Ela se moveu tão rápido, que ele não teve a chance de reagir.
Num segundo, ela estava distante dele, no próximo, tinha um punho
em seu colete e um punhal contra a sua garganta.
—Não presuma que as ameaças funcionam comigo, — ela
sussurrou, com os olhos ardendo.
—Eu não faço ameaças. Faço promessas.
A raiva ferveu dentro e apertou sua mão sobre o punho da
adaga, picando-a contra sua pele. Uma gota de sangue brotou e ela
baixou o olhar para a esfera carmesim.
Ele ficou parado, sentindo o aguilhão da ponta afiada da lâmina,
vendo a fúria em seus olhos.
Ela não podia fazê-lo. Ela queria cortar sua garganta tão mal
que sua mão tremia, mas não podia. Com mais ninguém teria feito
isso. Mais ainda, era uma mentira. Ninguém mais teria chegado até
aqui. Qualquer pessoa que a tivesse ameaçado, teria rapidamente
aprendido a lição ou estaria morto. Principalmente morto.
Mas este era o homem que ousou rir e provocá-la, que não
tinha medo dela, que a tratou como uma companheira vale a pena
ser tratada. Que tinha feito amor com ela.
Olhando-o com olhos atentos, ela disse suavemente,
—Eu poderia cortar sua garganta agora.
—Sim. — A picada do punhal era um lembrete. —Mas você não
vai.
—Como você pode ter tanta certeza?
—Você já teria feito isso.
Eles olharam um para o outro num longo silêncio, em seguida,
lentamente, o punhal foi retirado. A queda de sangue rolou livre em
uma fina linha vermelha no peito liso e maciço.
O frescor de sua pele contra a carne dele aquecida, quando ela
parou a queda com um dedo, o fez se sentir como se tivesse sido
marcado com o seu toque.
Lentamente, ela manchou o sangue entre o polegar e o dedo
indicador, olhando para ele.
—Maldito seja, Maverk.
—Reya? — Ele inclinou o queixo para atender o seu olhar.
—Vá embora e deixe-me. Sabe do que eu sou capaz. Da
próxima vez, você pode não ter tanta sorte.
—Sorte não tem nada a ver com isso. Eu acho, talvez, que eu a
conheço melhor do que você pensa.
—Não bem o suficiente para aceitar que eu não vou procurar
uma fugitiva. — Ela se afastou bruscamente.
—Mara é uma criança, que viu seu ídolo cair na noite passada.
—Difícil. Eu não preciso da complicação de procurar uma
menina emburrada. Ela vai aparecer ao anoitecer, uma vez que ela
perceba que eu não me importo o suficiente para procurar por ela.
—Você acha que ela está por perto?
—Sim, na esperança de que nós a procuremos. Deixe-a e ela
vai voltar.
—Ela poderia estar ferida.
—Isso não é problema meu. Saio em uma hora, com ou sem
você.
Raiva e decepção rastejaram de volta para sua voz.
—Eu nunca sonhei que você pudesse ser tão insensível com
relação a uma criança desaparecida.
—Desculpe por destruir seus altos ideais. Agora, talvez você
veja que é um desperdício de tempo estar pendurado ao meu redor.
Ele a considerava fixamente, antes de virar e sair do porão de
carga, falando por cima do ombro, enquanto fazia isso,
— Não saia sem mim.
Com a plataforma elevatória sacudindo até o segundo andar,
ela tentou manter sua mente em branco, mas a dor nos olhos azuis
invadindo seus pensamentos. Mara tinha coragem, ela lhe devia isso,
mas era jovem, tola e cheia de noções tolas.
Caminhando para a cabine que dormia, Reya pegou a mochila
contendo as suas roupas, deslizou a espada no cinto por cima do
ombro e saiu.
Sim, ela tinha sido dura, mas era melhor que a menina fosse
despojada de todas as ideias românticas da vida de Reya, que ela
sofresse com o orgulho ferido, agora, e vivesse em segurança, ou tão
segura quanto se poderia estar no Setor Fora da Lei.
Típico, tolinha mimada. Fugindo no primeiro golpe em seu ego,
não se preocupando com seus avôs, e para quê? Para sentar amuada
e ter a satisfação de todos se preocupando com ela.
—Que sirva de lição se ela machucar-se — Reya murmurou,
soltando a mochila e espada embainhada na plataforma. —Tola
egoísta. — Ela apertou o botão de controle com mais força do que era
necessário. —Provavelmente só recebeu alguns arranhões e cortes de
correr no escuro. Agora todo mundo está correndo por aí como loucos
para encontrá-la. — O elevador sacudiu a uma parada no
compartimento de carga e ela deixou a mochila no canto. —A única
coisa que ela precisa salvar, é de si mesma.
Ela ficou olhando para o assentamento agora deserto. Na
distância, podia ouvir os colonos chamando o nome da menina. Tolos.
Com tantos na busca, eles provavelmente eliminaram todas as trilhas
deixadas pela menina. Isso iria levá-los a gastar mais tempo para
encontrá-la, sem dúvida, Maverk de coração mole, não os deixaria
até que a criança fosse encontrada. Independentemente de ameaçar
sair, ela não podia, até que ele estivesse pronto, se saísse, Dana viria
procurá-la. Maldição e maldição dupla.
Meditando, ela olhou para as montanhas distantes. Havia
apenas uma coisa a fazer. Encontrar a traquina fujona, para que ela
pudesse sair deste lugar. Merda.
Na cabana de Zina, ela procurou a área onde ela e Mara tinha
conversado na noite anterior e olhou em torno. Mara havia fugido
para o assentamento, não para longe dele, de modo que, era o lugar
onde iria começar a sua busca.
Ela examinou a área em torno de cada cabana no
assentamento, sem encontrar nada, então se moveu para o celeiro e
estábulo. Cada centímetro foi revistado, inclusive os celeiros.
De pé dentro do estábulo, ficou olhando sem ver a parede
distante. Vagamente, ela registrou o cheiro de cavalos e feno. Onde
estaria uma jovem do assentamento? Em direção ao riacho, longe
dali, perto da floresta, ou indo para as montanhas? Existiam cavernas
lá perto?
De longe, Maverk avistou Reya indo das cabanas, para o celeiro
e estábulo. Curiosamente, ele se perguntou o que ela estava fazendo,
mas quando vislumbrou a sua maneira metódica de se mover de um
lugar para outro, estava examinando o ambiente, então ele sorriu.
Relutante ou não, ela estava procurando.
Ainda havia esperança para a moça. Algum tempo depois ele a
viu entrar no último estábulo e perguntou-se por que ela persistiu na
busca do assentamento, primeiro. Era óbvio que Mara não estava lá.
Ele decidiu que queria perguntar-lhe.
A luz do sol filtrava pelo estábulo e pegou seus cachos
brilhantes, colocando-os em chamas. O brilho dourado parecia
acariciar a pele lisa e enfatizava a curva dos seios e quadris
generosos, a força magra das pernas bem torneadas. Ele ficou parado
na porta e festejava os olhos na mulher que amava. Ele estudou as
linhas regulares dos seus traços, a curva do seu rosto, o vermelho de
seus lábios macios e os surpreendentes e pálidos olhos verdes.
Imersa nos pensamentos, ela era a imagem de uma guerreira
fria, calma, mas embaixo disso queimava um fogo que ele havia
provado. Um incêndio que queria ver em seus olhos no lugar da
frieza, um fogo que ardia quando fez amor com ela e segurou-a em
seus braços. Um incêndio que afugentava o frio.
—Acabou de olhar?
—O quê? Oh. — Ele balançou a cabeça e entrou no estábulo ao
lado dela. —Eu só estava me perguntando o que você estava fazendo
aqui.
O estreito olhar desafiou-o a comentar o assunto.
—Mara correu de volta para ao assentamento. Este seria o
lugar mais lógico para procurar primeiro.
—É claro, — ele respondeu sério, com os olhos brilhando. —
Você achou alguma coisa?
—Não. E você?
—Infelizmente, não. Ela parece ter desaparecido.
—Ninguém desaparece.
—Então, onde ela está?
—Se você quer uma cartomante, bonitão, não olhe para mim.
Quando ela passou por ele, não pode resistir, serpenteou o
braço ao redor de sua cintura e puxando-a de volta para cima, contra
ele.
Ela reagiu imediatamente, dobrando o joelho esquerdo e
mantendo a perna direita em linha reta, envolvendo uma mão só
abaixo de seu cotovelo e outra no braço e puxando firme. Maverk,
com um juramento de dor assustada, tombou-lhe a perna reta e
bateu no chão, espalhando feno.
Ignorando a queimadura no ombro, ela declarou,
— Caia na real.
Empurrando-se com cuidado sobre os cotovelos, ele disse com
tristeza:
— Você é uma mulher difícil.
Reya estendeu a mão e por um segundo ele pensou que ela
estava o alcançando, mas depois seguiu seu olhar atento para o chão
ao lado dele e viu a pequena mancha de sangue seco e algo mais.
—O colar de Mara. — Ela segurou a corrente de ouro com uma
pequena estrela dourada que brilhava a luz do sol.—Ela esteve aqui.
Ajoelhando-se ao lado dele, Reya cuidadosamente espalhou
mais o feno, em busca de evidências do que ela sentia no fundo
dentro de si mesma. Especialmente depois de ver o sangue.
Maverk procurou no feno e sua mão encontrou um pequeno
objeto. Ele ergueu-o ao sol.
—Isso é um botão. — Ele suspirou com decepção.
Reya se inclinou mais perto e estudou, com o rosto sombrio.
—O que é isso? — Maverk consultou.
—Não é um botão. Veja o padrão do lado, o "DM"? É uma
assinatura pessoal.
— Não entendi.
—É uma arma de pequeno porte. O fabricante a marca sempre
com a sua assinatura pessoal.
—Estúpido. Faz o proprietário mais fácil de controlar.
—Errado. Esta arma foi feita por um homem que ganha à vida
projetando e vendendo todos os tipos de pequenas surpresas. —
Tomando o pequeno objeto, ela ergueu-o entre o polegar e o
indicador. — Mara foi raptada.
—Sequestrada? Como você pode ter tanta certeza?
—Somente aqueles no negócio mercenário ou fora da lei podem
comprar do fabricante esta beleza. Estes colonos não satisfazem os
padrões.
—Quais são os padrões?
—Ser um assassino que pode manter sua boca fechada. —
Endireitando-se, Reya saiu do estábulo.
Ele deveria saber. Ele deixou-se caminhar ao lado dela na
estrada esburacada.
—Você está certa de que ela foi sequestrada?
—Onde estão Zina e Chut?
—Na floresta, procurando.
—Eu preciso falar com eles.
—Você pretende contar-lhes que sua neta foi levada por
assassinos?
—Alguém tem que contar e eu quero descobrir um pouco mais
sobre quaisquer outros desaparecimentos por estas bandas.
Um calor o encheu.
—Você vai procurar por ela.
—Eu nunca disse isso.
—Então, por que o interesse?
—Estou cautelosa. Se tiver assassinos por aí, quero saber sobre
isso, antes de sair a pé.
—É claro. Como sou parvo.
Ela ouviu o riso em sua voz. Bastardo sarcástico.
—Com esse tipo de atitude, bonitão, você vai ser morto em
algum momento.
—Não, eu não vou, — disse ele alegremente. —Tenho fé
absoluta que você vai cuidar de mim.
—Não coloque sua fé em alguém que você não conhece.
—Eu a conheço.
—Você pensa assim.
—Eu conheço você ainda mais depois que estivemos juntos por
algum tempo.
—Um homem sábio não procura encontrar uma resposta que
ele vai encontrar desfavorável.
—Uma resposta? Portanto, há uma pergunta sobre você.
—Eu nunca disse isso. O que você vê é o que obtém.
—Eu duvido disso. Debaixo deste exterior frio, arde o fogo da
paixão.
—Não seja ridículo. Fantasias...
—Não é fantasia. Você esquece que provei desse fogo.
Seu rosto aqueceu.
—Isso não era fogo.
—O que foi?
Ela foi salva de responder pela chegada de uma Zina chorosa.
—Não há sinal de Mara. Stella diz que seu filho mais novo a
acordou nas primeiras horas desta manhã, dizendo que ele tinha
ouvido um grito. Stella pensou que a criança estava sonhando e
colocou-o de volta na cama. Será que ele estava certo, Reya?
—Alguém mais ouviu alguma coisa?
—Perguntei a todos, mas não.
—Nós vamos procurar por ela, — Maverk informou a Zina.
—Nós vamos? — Reya lhe enviou um olhar afiado sobre o
ombro.
—Sim, nós vamos. — Seu olhar caiu brevemente sobre ela,
antes de passar a olhar para a mulher idosa com preocupação. —
Tente não se preocupar.
—Nós temos procurado em toda parte. — Zina enxugou os
olhos. —Por onde começar? Primeiro Zac e agora Mara. O que fiz para
merecer isto?
Caminhando até ela, Maverk deu uma tapinha nos ombros
arqueados.
—Reya tem uma idéia...
A cabeça cinza subiu esperando.
—Você sabe...
—Não, eu não sei, — disse secamente Reya, mas abrandou o
tom quando viu o rosto amassado da velha. —Eu só tenho uma idéia,
o que pode não estar correto.
—Mas você vai tentar? — Esperança estava de volta em seu
rosto. —Você vai tentar encontrar Mara?
Maldita. A última coisa que ela precisava era ser confrontada
com este problema.
Os olhos desbotados olhavam implorando para ela, com uma
expressão que a jogou de volta para os anos em que ela e suas irmãs
guerreiras eram bandidas, com o tempo frio, fome e privações. Os
olhos que tinham contemplado suplicantes então, não tinha sido para
ela, mas para sua mãe, Karana. O vento frio tinha gritado ao redor do
abrigo pobre da cabana. Todo mundo estava com frio e fome. Karana
tinha olhado para baixo, para a velha Reeka, com o rosto enrugado,
sorriu e saiu para o frio para buscar alimentos, sem uma palavra de
reclamação. Quando ela voltou naquela noite, foi com cinco galinhas
roubadas a uma milha de distância do assentamento. Por vários dias
depois que ela esteve doente e a velha Reeka cuidou dela
diligentemente.
Zina tinha os mesmos olhos suplicantes e Reya sabia o que sua
mãe teria feito. Não era muitas vezes que ela permitia a Karana
intrometer-se em seus pensamentos e rebocar em sua consciência
por apenas razões como esta.
Reya amaldiçoou e Maverk sorriu.
Capitulo 15
Com os braços cruzados, Reya olhava para o céu, muito tempo
depois que a nave de viagem Daamen, carregando uma Dana
preocupada e um Garret sorridente, desapareceram de vista.
—Venha, moça, quanto tempo você vai ficar com raiva de mim?
Lentamente, ela virou o rosto para ele.
—Eu não vou ser obrigada a aceitá-lo.
—Quem diz que você tem? — Uma sobrancelha loira levantou-
se interrogativamente.
—Não havia necessidade de comprar outra embarcação.
—É isso que preocupa você? O fato de que não sou tão mau
quanto pensava?
—Não, por você perder dinnos com conforto.
—Ah. — Maverk olhou-a com diversão. —Você ouviu-me dizer
ao comerciante que procurava conforto para nós, em nossas viagens.
—E uma cama macia para nossas aventuras.
—Você não quer uma cama macia para descansar?
—Essa não foi a impressão que você transmitiu e sabe disso!
—Qual é, eu me certifiquei que havia dois beliches e não um,
não foi?
—Os dois estão na mesma cabine!
—Não seja tão exigente. Esta nave, — ele bateu o casco de aço
contra a qual ele inclinou-se, — é pequena, rápida e carrega uma
arma de laser em cima. Justamente o que precisamos em nossa
busca por Mara.
—O que nós não teríamos que fazer, se você não fosse tão
sangrentamente nobre!
—E que nós vamos fazer muito mais rápido nesta nave
espacial. Agora, estamos prontos para partir?
Ela queria bater-lhe, apenas um bom soco no seu belo rosto
presunçoso. Em vez disso, ela seguiu-o e em três passos estavam na
nave.
Maverk admirava seus quadris balançando enquanto ele a
seguia para dentro da nave.
Reya mal olhou para as quatro cabines, sabendo que elas eram
a sala de máquinas, sala de estar, banheiro e cabine de dormir. Ela
não teria se importado tanto se tivesse dois camarotes. Ela teria que
dormir no sofá na cabine de estar. Era grande e largo o suficiente
para fazê-la bastante confortável, ela decidiu.
Entrando na cabine de comando, ela caiu em uma cadeira
diante do painel de controle. Sentando na outra cadeira, Maverk
pressionou o botão verde no painel e um chiado passou pela máquina
quando os motores foram iniciados.
—Será que isso nos leva em qualquer lugar com segurança?
—Não se preocupe querida, vou levar-nos em qualquer lugar
que você queira ir.
—Apenas ligue esta coisa, certo?
—Seu desejo é meu comando.
—Pare de babar esta podridão e vamos andando, bonitão. A
menos que você esteja tentando ganhar tempo, caso essa casca de
ovo não saia do chão?
—Desagradável. — Um brilho entrou em seus olhos. —Quer
fazer uma aposta sobre ela?
—Apostar?
—Uh—huh. Se nos levar ao espaço em uma única manobra,
recebo uma recompensa. Se eu falhar, você recebe uma recompensa.
—Qual é a sua recompensa?
—Que tal, um beijo da moça que eu mais desejo!
—E a minha recompensa? — Gotas de gelo praticamente
escorriam de suas palavras.
—Você ganha um beijo de mim, afinal de contas, eu sou um
bom esportista e mais do que disposto a compartilhar o prêmio do
vencedor.
Ele era o imbecil mais irritante que já conheceu.
—Basta botar essa coisa no ar.
—Então você vai dar a minha recompensa?
—Confie em mim, você não quer o que sinto que você tão
ricamente merece.
—Como você sabe?
—Instinto visceral. Você não será capaz de ver o painel de
controle bem o suficiente através de um olho roxo.
—Irritante! Certo, oh, quanto ímpeto, aonde vamos chefe?
—Urion.
Ele olhou para ela intrigado.
—Exatamente onde em Urion?
—Dez quilômetros ao norte de Zartep.
—Ah, a floresta onde você e suas irmãs guerreiras viveram
durante os últimos anos de fora da lei.
—Será que vamos sair ou não?
Ele se virou para o painel de controle.
—Vamos, moça, não tenha medo.
A nave se levantou do chão tremendo, estabilizou e em
segundos estava indo para o espaço. Maverk definiu as coordenadas,
colocou a nave no piloto automático e girou a cadeira para ficar de
frente para Reya.
Ela olhou friamente, quando ele se inclinou para trás, colocando
as mãos atrás da cabeça e cruzando os tornozelos com facilidade.
—Qual é o seu problema, bonitão?
—Eu não tenho um, mas você tem.
—Eu? — O que ele tinha até agora?
—Você tem medo de ficar sozinha comigo e eu tenho a prova.
—E o que é isso?
—O seu desempenho sobre compartilhar a cabine de dormir.
—Porque você me irrita, bonitão, nada mais.
—Como eu poderia fazer isso? Eu estarei dormindo.
—Muito facilmente. Você está fazendo isso agora.
—Talvez você esteja preocupada por que não será capaz de
manter suas mãos longe de mim, mas eu não me importo.
—Não lisonjeie a si mesmo. Essa é a menor das minhas
preocupações, Maverk. Tenho coisas mais importantes na minha
mente, do que o seu corpo.
—Então, meu corpo está em sua mente, mesmo um pouquinho?
Reya se levantou bruscamente.
—Vamos deixar uma coisa perfeitamente clara. O que
aconteceu na taverna não será repetido, nunca. Não há nada entre
nós, entendeu?
Imperturbável, ele levantou uma sobrancelha para ela.
—Sua companhia foi forçada sobre mim, devido à teimosia de
minha prima e, só por causa dela, eu suporto você. Graças as suas
idiotas ideias nobres, estou tentando encontrar uma criança, em
quem não tenho nenhum interesse. Quem é estúpido o suficiente
para andar no escuro quando sabe que é perigoso.
—Mara quer ser como você, — ele apontou para ela.
—Bem, agora ela tem a oportunidade de saber como a gente se
sente ao estar entre o inimigo. Tenho certeza que ela está tendo um
momento maravilhoso.
Toda a provocação sumiu.
—Isso é uma coisa terrível de se dizer.
—Acostume-se. Enquanto estiver na minha companhia, você vai
ouvir um monte de coisas terríveis. Se não gostar disso, vá embora.
Maverk desdobrou o grande comprimento para ficar mais alto
que a guerreira.
—Você gostaria que eu fosse embora, não é?
—Quanto mais cedo melhor.
—Você está presa comigo, Reya, gostemos ou não, e enquanto
estou com você, vai aprender muito sobre mim também.
—Isso me emociona até ossos.
—Fico feliz em ouvir isso. — Ele sorriu esfaimadamente: —
Porque eu vou gostar de ensinar-lhe.
Um arrepio desceu por sua coluna e ela foi forçada a se afastar.
—Não estou interessada.
—A um segundo atrás você estava feliz.
—Acostume-se com o sarcasmo, bonitão.
Ele estava começando a enervá-la. Aqueles olhos castanhos
pareciam espreitar a sua própria alma, pesquisando e sondando o
que ela realmente sentia e pensava. Ele era muito teimoso, muito
persistente, muito confiante e muito bonito.
Bonito? Onde diabos tinha isso a ver?
Assustada e irritada com o pensamento inesperado, Reya
abruptamente tentou passar por ele, apenas para ser parada por uma
grande mão em seu braço.
—Solte-me.
—Fugindo, já?
—Não me empurre.
—Ou o quê? — Ele deu um passo em frente dela. —Você vai me
matar? Nós já passamos por isso antes, Reya. Você não vai fazê-lo.
—Eu posso fatiá-lo um pouco. Eu já fiz isso antes.
—Com um amigo?
—Você não é um amigo.
—Então o que sou eu? Seu inimigo?
—Um aborrecimento.
—Então, não sou um inimigo. — Ele olhou aborrecido para ela.
—Nem um amigo. Mas apenas um conhecido, ou, para nós que temos
um passado histórico, isso nos leva para, além disso.
Suas bochechas ruborizaram.
—Naquela noite na taverna...
Uma diversão fraca torceu seus lábios.
—Para alguém que insiste no que não aconteceu isso pula para
a sua mente com uma rapidez impressionante. Eu estava me
referindo ao tempo que ajudei a provar a inocência de sua raça. Nós
não éramos seus inimigos e eu não sou agora.
—Esse tempo acabou.
—Esse tempo trouxe casamentos entre algumas das suas irmãs
guerreiras e meus amigos, incluindo sua irmã de sangue. Há um laço
entre nós, que você parece determinada a quebrar.
Seus olhos queimaram.
—Não se atreva a sugerir que eu procuro quebrar os laços entre
minhas irmãs e seus maridos, ou entre uns e outros!
—Você não compreende. — Ele a considerava atentamente. —O
vínculo é entre você e todos nós.
Era como se uma armadilha estivesse fechando ao seu redor.
—Eu não sei o que você quer dizer.
—Não minta para mim, Reya, a honestidade é algo que sempre
admirei em você. Você deixou Comll sem um adeus e não enviou uma
palavra a ninguém, desde então. Tudo o que sua irmã sabe de você,
são fragmentos de boatos que outros comerciantes que cruzaram seu
caminho, trazem de volta. Você vira as costas para a paz...
—Basta.
—Você volta a uma vida de guerra e morte, e as suas irmãs
guerreiras ficam doentes de preocupação com você. Incluindo Dana.
—Eu disse, basta!
—Eu falo apenas a verdade. Você vira as costas para tudo o que
lutou, agora Tênia pede uma coisa para você e você vira as costas
para ela, sem explicação. A todos nós. Você rejeitou a todos nós.
—Maldito seja! — Ela tentou puxar-se fora de seu domínio,
apenas para ser pressionada mais firmemente, mas com cuidado, de
volta contra a parede. — Me solta!
—Não somos bons o suficiente para você? — Ele continuou
implacavelmente. —Será que estamos tão abaixo de você que não
podemos sequer limpar a sujeira de suas botas?
Seu rosto ficou lívido.
—Como você ousa sequer pensar em me questionar,
comerciante! — Sua voz vibrava com raiva e dor.
—Atrevo-me pela alta consideração que tenho por sua irmã. —
Maverk odiava o tormento em que ele estava colocando-a, mas sabia
que apenas empurrando-a para o limite, ele teria uma chance de
obter respostas. —Consideração que você, aparentemente, não tem
por ela.
—Você não tem idéia dos meus motivos para fazer as coisas
que faço! — ela assobiou. —Nenhuma!
—Então me diga e deixe-me entender.
O silêncio encheu o ar, espesso, com segredos escondidos que
escureceu a alma de um e deixava perplexo o coração do outro.
Fechando os olhos, Reya baixou sua cabeça para frente.
—Você não tem idéia do que me pede.
—Diga-me, — ele insistiu gentilmente. —É tão ruim que eu não
entenderia? Que sua própria irmã de sangue não entenderia?
—Ela nunca deve saber. — As palavras foram abafadas.
Colocando seu dedo sob o queixo, ele inclinou sua cabeça para
trás e seu coração se apertou com a agonia em seus olhos.
—Pode confiar em mim. Compartilhe comigo, o que faz você
sentir que não pode retornar para a sua gente.
Ela enfrentou seus olhos, hesitante.
—Maverk, eu...
—O que, moça? O que você fez? — Sua voz era suave, suas
mãos não eram mais emocionantes, mas reconfortantes.
Eu já causei mais destruição do que você jamais vai saber.
Larguei minhas crenças e matei aqueles que não devia matar, os
abati e deixei-os para apodrecer ao sol.
—Estou verdadeiramente condenada, — ela sussurrou.
As suas palavras, combinadas com o tormento nos olhos dela, o
deixaram gelado.
—O que quer dizer, Reya? Por que você está condenada? Não
estou entendendo.
—Não entende... — ela repetiu, em seguida, piscava.
Que diabos ela estava fazendo? Ela tinha quase revelado o seu
segredo obscuro, que enegreceu a sua alma e que esmagou qualquer
amor que ela e sua irmã compartilhavam qualquer amor e amizade
que teve com as suas irmãs guerreiras.
Não, ele não entenderia. Ninguém, exceto aqueles que
sobreviveram e mantiveram o segredo, dispersos após a batalha.
Ninguém deve saber. Com um breve lampejo de compreensão,
Reya percebeu que não poderia suportar que este homem ouvisse as
palavras que a condenaram, para ver o horror e repugnância encher
os olhos dele, do seu desgosto enquanto recuar para longe dela. O
mesmo desgosto que estaria nos olhos de cada uma das Reekas
quando descobrissem a escuridão que comia a sua alma.
Que a levava, a cada dia, mais próxima da loucura.
—Não. — Ela piscou e seus olhos tornaram-se sem emoção
mais uma vez.
Maverk sentiu a sua retirada espiritual, a escuridão que estava
sendo sugada para dentro dela, ele amaldiçoou interiormente.
—Reya...
—Não é de sua conta, bonitão. — A cortada fria havia retornado
para o seu tom rouco. —Não temos tempo para perder remoendo o
passado.
—O que você quis dizer sobre ser realmente condenada?
—E não são todos os assassinos contratados? Não há céu para
nós. O fogo do inferno é o meu destino.
—Não diga isso, — ele rosnou frustrado, sabendo que a
oportunidade se foi.
—Você disse que sempre admirou a minha honestidade. Mudou
de idéia?
—Vou descobrir o seu segredo, Reya.
—Alguns segredos não foram feitos para serem descobertos,
bonitão. Não desperdice o seu tempo na tentativa de conseguir o que
você não pode ter. Em vez disso, coloque a sua mente em Mara e em
quem a poderia ter tomado.
—Mara?
—Sim. A moça que foi levada? A que você prometeu que ia
encontrar?
—Oh, Mara. — Com um suspiro, ele recuou.
O calor de seu corpo deixando o dela deixou uma sensação de
perder algo que ela precisava. Ridículo. Ela se dirigiu para a porta.
—Verifique as coordenadas de novo.
—Reya?
—O quê?
Ele se inclinou para trás na cadeira.
—Eu estarei aqui quando você precisar de mim.
—Eu estou sozinha.
—Você pode estar, mas não por muito tempo.
Ela saiu sem responder.
Inclinando-se para trás na cadeira, ele colocou o cotovelo no
braço e descansou o queixo sobre o punho, pensando sobre a
conversa estranha, tentando encontrar uma explicação. Suas
palavras flutuaram de volta para ele. “Estou verdadeiramente
condenada.” “Você não tem idéia.” “Ela nunca deve saber.”
Saber o quê? Qual era a chave do enigma? O que lhe causou tal
angústia?
Parando na cabine de estar, Reya se enrolou no sofá e
mergulhou em um dos livros deixados para trás pelo ocupante
anterior.
Maverk a procurou, mas além de responder a consultas com um
grunhido, ela o ignorou. Decidindo que ele empurrou sua sorte o
suficiente por enquanto, voltou para a cabine de comando e sentou-
se confortável em uma cadeira com suas botas apoiadas em outra.
O tempo passou rapidamente e ele finalmente despertou de um
cochilo e foi buscar algo para comer, antes de procurar o seu beliche.
Passando pela pequena cabine contendo o banheiro, ele ouviu a água
correndo. Reya estava no chuveiro. Continuando na cabine de estar,
ele mastigava uma maçã e a pousou sobre a mesa, aguardando sua
chegada.
Quando ela apareceu, estava com cobertas dobradas debaixo
do braço, que ele reconheceu como vindas de um dos dois beliches.
—O que é isso?
—O que você acha?
—Eu não vou dormir aqui fora se é isso que você está
insinuando.
—Não, eu vou.
As sobrancelhas subiram.
—Você?
—Você pega rápido. — Ela deixou cair às cobertas no sofá.
Mordendo a maçã, ele olhou para seu traseiro bem modelado,
apreciativamente, quando ela inclinou-se para dobrar as cobertas de
forma segura.
—Você realmente pretende fazer isto?
—Isso é o que parece, não é?
—Sim, parece, mas por quê? Algo errado com os beliches?
—Vamos apenas dizer que eles não me servem. — Ela pegou o
livro que tinha lido.
Diversão tingia as suas palavras.
—Eu acho que eles se adéquam melhor do que o sofá.
—Eles não.
—Você vai pensar diferente quando acordar com uma cãibra.
Esse sofá pode ser longo, mas você é mais.
—Vou administrar. Agora vá embora para que eu possa dormir
um pouco.
—Eu recebo um beijo de boa noite? — Assim, com o olhar
cortante que ela lhe enviou, ele deu uma gargalhada. —Ah, bem, mas
valeu à pena tentar. Se você mudar de idéia, a minha porta está
sempre aberta!
—Assim como a sua cabeça, razão pela qual não há cérebro lá
dentro, — ela murmurou.
Sua cabeça bateu para trás em torno do canto.
—Você disse alguma coisa, moça?
—Cai fora.
Ele riu e saiu.
Ela ouvia os sons que Maverk fazia enquanto se preparava para
a cama. Sua voz de barítono profundo podia ser ouvida, abafada pela
água. O homem sanguinário cantava no chuveiro. Qual seria a
próxima? Não que seu canto fosse terrível. Na verdade, era muito
reconfortante. Foi a música que a incomodou, era obscena e cheia de
insinuações. Típico.
Com alívio ela finalmente ouviu-o sair do banheiro e ir para sua
cabine. Ele cantarolava alegremente enquanto apagava as luzes e
entrava no beliche, o ranger do quadro atestava o desacostumado
peso que detinha.
Furtivamente Reya tirou a roupa e vestiu a camisola, sentindo-
se como uma idiota, em torno, na ponta dos pés como uma virgem
tímida. Que não era mais, graças a Maverk. Ela corou e sentiu uma
onda de irritação. Ela nunca corou droga, mas perto do seu gigante
loiro, estava ficando vermelha mais vez em um dia do que já tinha
ficado em sua vida inteira!
O que diabos estava acontecendo com ela? Muitos homens
olharam-na com luxúria e isso nunca a preocupou. Uma palavra rude
ou lampejo de sua adaga era o suficiente para mantê-los todos à
distância. Não teve uma vez que ela ficasse corada ou autoconsciente
sobre isso. Então, por que um ardente olhar de Maverk fazia seus
joelhos ficarem fraco?
Irritada ela se jogou de volta no sofá e puxou a coberta até a
cintura. Maravilha, o grande idiota estava certo novamente. O sofá
era longo, mas ela era maior. Seus pés ficaram presos sobre o braço.
Para se sentir confortável, teve que dobrar os joelhos.
Não estaria confortável por muito tempo. Ela rolou para o lado
e uma mola prendeu nela. Apalpando no fundo para colocar uma
almofada, colocou-a sobre a mola. Agora, ela tinha que dormir em
um caroço.
Amaldiçoando a si mesma, ela virava no sofá. Cruzou pela sua
mente dormir no chão, mas o pensamento de sua cara presunçosa,
se ele a visse lá por sua teimosia, tolamente, sua mente escarneceu e
ficou no sofá. Além disso, dormindo no chão não descartaria os
sonhos perturbadores que ela tinha tido ultimamente, sobre certo
comerciante.
Ouvindo o jogar inquieto, atormentado e os palavrões abafados,
Maverk sorriu e esperou que ela admitisse a derrota e se infiltrasse
no beliche oposto. Ele adormeceu a espera.

Ela não admitiu a derrota e quando ele apareceu de olhos


brilhantes na porta da cabine de estar, na manhã seguinte,
encontrou-a sentada à mesa com os olhos pesados.
Reya acidamente voltou a sua saudação alegre.
—Teve uma boa noite de sono? — Ele se serviu de um copo
enorme de suco.
—Maravilhosa! — ela retrucou.
—Minha cama era confortável. — Ele inclinou-se e deu um olhar
astuto. —Como estava o sofá?
—Delicioso. — Ela deixou a cabine rigidamente.
Ele riu.
O dia foi uma repetição do anterior, ambos na leitura para o
tempo passar.
Na hora de dormir, se aproximou, viu com diversão como ela
botou a coberta sobre o sofá.
—Minha oferta continua de pé.
—Estou perfeitamente à vontade.
—Tudo bem. Boa noite.
Ele adormeceu com os sons de seu jogar e virar. Quando ele
acordou algumas horas depois, tudo estava quieto e ele pensou que
ela devia ter encontrado uma posição confortável, depois de tudo.
Sentindo sede, ele decidiu ir ao banheiro para tomar uma
bebida, assim ele não iria perturbá-la. Voltando minutos depois, ele
olhou para a cabine de estar quando passou e parou.
Reya estava enrolado no canto do sofá, o cotovelo no braço e
rosto apoiado em sua palma.
Entrando em silêncio, ele olhou para ela, vendo as sombras
escuras sob os longos cílios negros. Ela estava dormindo, mas estava
perturbada, seu suspiro suavemente puxou o coração dele.
—Hora de dormir, moça, — ele disse suavemente.
—Hmm? — ela murmurou, sem despertar.
Deslizando um braço debaixo dos joelhos e outro nas costas,
ele a ergueu sem esforço em seus braços. Ela se mexeu, mas suas
palavras de conforto macio tranquilizaram-na e ela deslizou de volta
no sono.
Em seus sonhos ela se sentia quente e segura, havia um
refúgio de força suave em torno dela, se aconchegou mais perto,
imaginando que um perfume quente e limpo enchia os seus sentidos.
Ela estava sendo carregada com carinho e colocada em um casulo
morno, um roçar macio de algo bom em sua bochecha.
Era um sonho bonito.
Maverk a sentiu aconchegar e uma onda de protecionismo
encheu sua ação confiante. Sim, ela estava dormindo, se tivesse
acordada teria agido de forma diferente agora, mas seu
subconsciente confiava nele e isso era um bom sinal.
Na cabine de dormir, ele a deitou em sua cama, puxando a
coberta para cima e dobrando-a em volta dos ombros. O amor por ela
aqueceu seu coração, enquanto observava as linhas tensas em seu
rosto, relaxarem. Abaixando, ele tocou seus lábios no rosto liso e viu
uma curva leve de sorriso nos seus lábios.
Com um sorriso, ele pegou a coberta abandonada na cabine de
estar. Desligando as luzes, deitou-se no outro beliche e puxou a
coberta sobre si mesmo, sentindo o cheiro fraco de rosas que
emanava. Respirando profundamente, ele olhou para a cama do
outro lado da cabine. Ele não podia vê-la no escuro, mas sabia que a
mulher que ele amava estava deitada, dormindo pacificamente nas
proximidades.
Com um sorriso satisfeito ele adormeceu.

Ela acordou lentamente, estendendo-se luxuosamente. A


sensação de satisfação passou através dela. Maverk estava errado. O
sofá era perfeitamente confortável. Ela não conseguia se lembrar de
ter um sono tão bom em tempos, quente e seguro, rodeado por um
aroma limpo, masculino...
Seus olhos se abriram e ela virou a cabeça para ver o beliche
ordenadamente arrumado, no lado oposto. Esta não era a cabine de
estar e ela não estava deitada no sofá!
Seu sonho, na noite passada, não foi um sonho.
Maldito Maverk!
Capitulo 16
Saindo fora da cama tão rápido que quase caiu, Reya recuperou
o equilíbrio e saiu da cabine em busca do comerciante arrogante.
Encontrou-o na cabine de controle, sentado em uma cadeira e
digitalizando o radar.
—Como você se atreve a retirar-me do lugar que eu escolhi
para dormir!
Sorrindo para si mesmo com o calor de sua voz, não se virou
para olhar para ela.
—Você estava esgotada e certamente não estava confortável.
—Isso não é sua preocupação!
—Eu acho que é. Estamos no meio do Setor Outlaw, um lugar
perigoso em qualquer momento e você, moça, estava cansada e
teimosa demais para admitir que não estava dormindo bem. Você
não acha que, sob as circunstâncias, o mais sensato seria ficar alerta
em um lugar como este?
—Eu já cuidava de mim mesma antes que você viesse e
continuarei a fazê-lo!
—Nós não temos tempo a perder com discussões. — Ele
apontou para o scanner. —Nós estamos chegando ao nosso destino
em dez minutos.
—O quê? Estamos em Urion?
—Sim. Melhor vestir-se, moça, a menos que você pretenda ir a
busca do fabricante da arma com sua roupa de dormir.
Fumegante, Reya se dirigiu para a cabine de estar onde as
roupas dela ainda estavam no sofá. Agora não era o momento de
lidar com a prepotência de Maverk, mas sempre havia depois! Agora,
havia uma tarefa a ser tratada, em um assentamento perigoso. Ela
tinha que conseguir com Deathman para revelar o comprador de suas
únicas armas. Isso não ia ser fácil.

Urion não tinha mudado nada em dois anos, desde a última vez
que ele tinha visto, Maverk observou. O assentamento continuava
grande, espalhado e sujo. Tabernas abundantes pelas ruas e os olhos
duros das prostitutas vigiavam ao redor das portas e nas varandas.
Pessoas com roupas ásperas de todos os estilos passavam
apressados aqui e ali, do outro lado da larga e empoeirada rua,
homens com olhos gelados e feições duras, caminhavam pelas
calçadas. Risos bêbados saíam das tabernas, juntamente com os sons
de vidro quebrado e canto. Soou um grito estranho e um choro, que
ninguém tomou conhecimento. Isso nunca iria mudar.
Mais de um par de olhos seguiram o comerciante gigante e a
guerreira alta quando eles caminharam no meio da rua quente, jatos
de poeira fugiam sob suas botas.
—Lugar legal, — Maverk disse secamente, quando uma janela
da taberna quebrou e um homem bateu na calçada.
Reya o viu cambaleando sobre seus pés e correr de volta para
dentro, mas seus sentidos estavam sintonizados para pegar o mais
leve movimento que poderia ser uma ameaça.
—Ei, Reya, tem um guarda-costas? — uma prostituta gritou
para baixo, da varanda de uma taverna próxima. —Como consigo
para mim um pedaço grande como esse que você tem?
Seu passo nunca vacilou, nem seus olhos saíram da estrada.
—Se você o quer, ele está à disponível, você pode tê-lo, Valra.
—Whooee! Ei, musculoso, venha cá! Eu tenho algo que você
pode ter de graça!
Maverk sorriu para a prostituta. Sua oferta era apenas uma das
muitas que ele recebeu de mulheres durante toda a sua vida.
— Meu doce temo que só possa lidar com uma moça de cada
vez e agora, — ele piscou, — eu tenho uma mulher selvagem
puxando a minha corrente!
Ela soltou um grito de riso.
—Maldição, mas você é encantador!
—Ela está certa — murmurou Reya com desgosto sob sua
respiração.
—Você disse alguma coisa, minha pequena moça selvagem?
—Nada que valha a pena ouvir. Vire à esquerda aqui.
Pararam diante de um beco estreito, que só era grande o
suficiente para permitir-lhes irem em fila.
—Depois de você. — Ele fez um gesto expansivo. —Moças,
primeiro.
—Saia da galhardia, bonitão, que é um desperdício comigo.
Ele acertou o passo atrás dela.
—Eu não penso assim. Para mim você sempre será uma moça
de classe.
—Então você terá uma grande decepção em breve.
Maverk riu e ela olhou por cima do ombro. Ele era tão alto que
bloqueava qualquer visão da rua, seus ombros enormes eram tão
amplos que quase roçavam a parede em cada lado do beco estreito.
—Como o que você vê?
—Se o seu ego fosse maior, nós nunca conseguiríamos colocar
você de volta na nave.
—Eu tenho algo muito maior do que o meu ego, — respondeu
ele alegremente. —Cresce cada vez que vejo você...
—Nós estamos aqui.
Na parede do beco estreito, havia uma porta de metal pesada.
Levando a pistola laser, ela usou a coronha para bater
acentuadamente sobre ela. Um minuto inteiro se passou sem
reconhecimento.
—Talvez ele não esteja em casa, — sugeriu Maverk.
—Ele está.
Um pedaço de aço na porta bateu para trás para revelar uma
pequena abertura. Olhos cinzentos lacrimejantes olharam para eles.
—É você, guerreira.
—Temos negócios com você.
Os olhos lacrimejantes cinza mudaram para Maverk e se
estreitaram suspeitosamente.
—Desde quando os comerciantes Daamen lidam com armas de
morte?
—Não é o seu negócio fazer perguntas, Deathman. — Reya
disse friamente. —Você nos recebe ou não?
—Muito bem.
A abertura de aço fechou e a porta se abriu sem ruído.
Entrando rapidamente, Reya deu sobre o quarto nu e frio um olhar
arrebatador. Além dos armários de aço, estava vazio.
Seguindo-a, o olhar curioso de Maverk tomou a única mesa e a
lâmpada sobre suas cabeças. Não havia nada que sugerisse que o
estranho homem magro com a cabeça careca e barba irregular, era
um fabricante de armas.
—Então, o que você deseja neste momento, guerreira? —
Deathman esfregou as mãos. —Nova atribuição? Ouço que os
senhores da guerra em Vulya estão à procura de combatentes.
—Busco informações.
—Eu não lido com isso.
—Você pode fazer agora. — Retirando o objeto pequeno e
redondo da bolsa em seu cinto, ela o segurou na palma da mão. —
Isso tem a sua marca nele. A quem você vendeu?
Tomando o objeto da mão dela, sua expressão suavizou-se,
olhos franziram nos cantos quando ele acariciou a pequena arma
mortal, amorosamente.
—Este é um mini-cortador.
—O que exatamente é isso? — Maverk perguntou.
—Olhe. — Ele atirou o objeto pequeno na mesa de madeira.
Várias lâminas afiadas piscaram para fora, girando pelo ar e
incorporando em si mesmo profundamente na madeira da mesa.
—Corta através de um homem e sai do outro lado em questão
de segundos — Deathman informou-o com orgulho.
Maverk podia acreditar. De repente, o idoso já não parecia
inofensivo. Agora ele podia ver o brilho maníaco nos olhos cinza
lacrimejantes, e o puxar cruel no canto da boca fina.
—Para quem você vendeu? — Reya perguntou.
Deathman fez uma careta.
—Você, de todas as pessoas, sabe que eu não revelo meus
clientes.
—Quem?
Ele gesticulou para os armários de aço em toda a sala. Tenso,
Maverk intensificou ao lado dela, estendendo uma mão para ela e a
outra mão no laser em seu quadril. Reya apenas observava, de
braços cruzados, quando Deathman abriu as portas dos armários,
para revelar uma variedade espantosa de arsenal, de todas as formas
e tamanhos.
—Diga-me o que você quer e pode tê-lo.
—Informações.
—O que a minha vida valeria se eu informasse sobre os meus
clientes?
—Mais do que vale agora.
—Não.
O olhar mortal nunca vacilou.
—Para quem você vendeu?
—Eu não sei.
Sua luz pisou no chão de cimento, ela começou a avançar.
—Eu sugiro que você lembre-se, Deathman. Rápido.
—Você sabe que eu não...
—Você pode fazer agora.
—Discutir não faz nenhum sentido para sua amiga,
comerciante. Ela... — Sua voz foi sufocada por seu antebraço contra
a sua garganta empurrando-o de volta contra os armários de aço.
O brilho prata e fosco de uma lâmina apareceram debaixo de
seu nariz.
—O nome.
—Reya...
—Isso tem a ver com um conhecido meu. Se você não me
disser o nome do seu cliente, poderá ser uma correspondência certa
para o seu nome, entendeu?
Um filete de suor escorregou ao lado do seu rosto.
—Nós sempre lidamos bem, juntos. Você sabe do meu padrão.
Minha honra.
—Eu não tenho honra e meus padrões são suspeitos. Eu nunca
fingi o contrário. Agora, o nome.
Um arrepio de inquietação escorria na coluna de Maverk, com
as palavras que ela disse o amortecimento em sua voz.
—Reya...
—Cale a boca, bonitão. Você tem cinco segundos, Deathman.
—Eu não posso dizer-lhe!
—Um.
—Reya!
—Dois.
—Você conhece o meu código de honra!
—Você não tem código. Três.
Maverk estava tenso. Certamente ela ia se afastar?
—Eu não posso dizer-lhe!
—É melhor dizer ou vou dar-lhe algo para se lembrar de mim e
não vai ser agradável. Quatro.
—Por piedade!
—Cinco. Tempo esgotado.
Pulando para frente, Maverk agarrou o seu pulso.
—Pare!
Seus olhos nunca deixaram o rosto de Deathman, mas havia
uma selvageria tranquila em sua voz.
—Solte-me.
—Matá-lo não nos dará a resposta.
—Não interfira no que você não sabe.
Os olhos de Deathman piscavam desesperadamente da
guerreira para o comerciante.
—Eu não posso deixá-la matá-lo. — os dedos de Maverk
apertaram uma fração. —Deixe-o ir.
Lentamente, ela virou a cabeça e seus olhos se encontraram.
Um par deu um aviso, o outro uma inclemência fria, congelada.
—Não me empurre ou você poderia muito bem acabar deitado
ao lado dele.
As palavras tiveram o impacto de um punho batendo-lhe no
estômago. Choque veio primeiro, depois a raiva.
—A menos que você tenha mudado de idéia — ela pressionou
deliberadamente. —Se você não está mais interessado em encontrar
seu amiguinho... bem, então. — Recuando, ela liberou seu prisioneiro
e embainhou o punhal. —Não vamos mais perder tempo, vamos
embora.
A bruxa selvagem o tinha sobre um barril. Pelas estrelas,
quando ele voltasse para a nave...
Deathman começou a andar de lado se afastando e enfureceu
Maverk ver Reya de pé, braços cruzados e olhos desinteressados,
sem intenção de parar a sua única fonte de informação, deixando-a
escapar.
Mas havia melhores maneiras de obter respostas que não tem
que envolver derramamento de sangue.
—Você é fã de suas armas — ele falou lentamente.
As palavras pararam Deathman em seu caminho e ele se virou
para olhar cautelosamente para o gigante loiro.
—Dá pena vê-las todas destruídas — continuou Maverk.
Os lacrimejantes olhos cinzentos arregalaram.
Pegando seu laser, Maverk abriu um armário próximo.
—Não seria preciso muito para causar uma pequena explosão
entre suas armas. Percebo que você tem explosivos entre elas. — Ele
balançou a cabeça. —Não é inteligente. Tudo o que se tem a fazer é
acender um explosivo e tudo se vai. Cada uma de suas preciosas
armas seria destruída.
O rosto de Deathman ficou mais pálido do que já era.
—Você não!
Ele levantou o laser.
—Eu não...?
Surpresa, Reya assistiu Deathman jogar-se entre o armário de
aço e o laser.
—O que você quer saber?
Virando a cabeça, Maverk enviou-lhe um olhar firme.
—Pergunte a ele.
—Não olhe para mim. É a sua visita.
Quando voltassem para a nave, ele iria estrangulá-la.
A fúria em seus olhos fez Deathman tremer. Ele não tinha idéia
de que essa fúria não era dirigida a ele. Tudo o que sabia era que ele
temia este gigante de aparência perigosa.
—Eu vendi a um homem chamado Royce.
—Onde ele pode ser encontrado?
—Na taberna.
—Qual?
—O Cão Selvagem.
Maverk olhou para Reya.
—Você conhece?
Ela assentiu desinteressadamente.
Guardando o laser, ele recuou.
—Suas armas estão seguras por agora. Ninguém sabe que
viemos buscar informações e você não nos disse nada. Certo?
—Certo, — Deathman resmungou.
Então, o bonitão não era tão estúpido depois de tudo. Surpresa,
surpresa.
Maverk passou por ela e o olhar dele queimou-a com a
retribuição prometida.
Legal. Deixe-o tentar. Ela iria estripá-lo como um peixe que
pegou no rio.
—Foi um prazer negociar com você novamente. — Ela sorriu
friamente para Deathman, virou e saiu.
Ele correu atrás deles para trancar a porta fechada de forma
segura, então caiu de joelhos.

Reya seguiu Maverk pelo beco. Reconhecendo os sinais de fúria


na sua rigidez, nas passadas longas das pernas, ela sentiu uma
pontada de diversão. Ela o perturbara. Bom. Talvez hoje ele se perca.
No entanto, primeiro os negócios. Ele estava se aproximando da
entrada do beco e não parecia abrandar...
—Ei, bonitão.
—O quê?
—Eu sugiro que você pare antes que você tenha a sua cabeça
arrancada.
Ele se virou para encará-la.
—Você está me ameaçando de novo?
—Não. Estou apenas dando-lhe um aviso amigável. Você não
sabe quem poderia ter nos visto entrando. Alguém pode estar
esperando por nós.
Vendo sentido em suas palavras, ele respirou fundo e se
controlou.
—Você está dizendo que alguém está à espreita?
—Você nunca sabe. Basta proceder com mais cautela do que
raiva.
—Acredito que esta é a sua visita. — Sorrindo sordidamente,
fez um gesto com a mão. —Então vá em frente, guerreira de gelo.
—Ai, ai. Um pouco chateado, não é? Talvez você deva voltar
para a nave, enquanto eu recebo a informação?
Ela quase podia ouvir seus dentes rangendo.
—Basta ir, observe em frente ou o que diabos isso é que você
faz!
Com um encolher de ombros, ela começou a empurrar para
passar por ele. Era um problema. Mesmo pressionado contra a
parede, ele ocupava bastante espaço. Ela tentou segurar-se, mas
enquanto passava, seus seios generosos raspavam em seu peito.
Por uma fração de segundos, seus olhos se encontraram com
fúria e diversão, acendendo o desejo em suas profundezas. O tempo
parecia suspenso enquanto estavam se tocando intimamente, suaves
ondulações suaves de lisos rígidos; um incêndio inflamou onde o
couro roçou a pele aquecida.
Um grito seguido de uma gargalhada áspera quebrou o encanto
e ela passou por ele, os olhos estavam frios mais uma vez.
Que diabos havia de errado com ela? Por um instante ela tinha
se esquecido de tudo, de onde estavam, do que eles estavam atrás,
do perigo sempre presente. Condenação! Por que ele tem o poder de
fazê-la esquecer todos os seus treinamentos? Quanto mais cedo esta
caça ridícula por Mara acabasse, melhor!
Ela se aproximou da entrada e sentiu sua mão grande sobre o
seu ombro.
—Eu vou primeiro.
—Não se preocupe bonitão, não há necessidade de ser nobre.
Vou ter certeza de manter a sua bela cabeça bem em cima de seus
ombros. Tenia e Darvk nunca me perdoariam se algo acontecesse
com você.
Seu sangue começou a ferver com a resposta contundente. Não
havia espaço no beco amaldiçoado para uma luta. Tudo o que ele
podia fazer era deixá-la ir à frente.
Ela olhou cautelosamente para cada lado da rua antes de sair.
Maverk caminhou ao lado dela.
—Mostre o caminho para O Cão Selvagem.
—Seu desejo é meu comando.
—Basta continuar a empurrar-me e você vai ter uma reação,
uma que não quer.
—Estou muito assustada, tenho certeza. Agora, O Cão
Selvagem é uma das mais selvagens tabernas neste assentamento e
isso é dizer muito. Mantenha seu laser à mão.
—Eu pensei que você não gostava de usar um em combate,
devido ao feixe penetrar o inimigo e continuar a queimar com a
pessoa por trás dele?
—Se isso acontecer, a pessoa que recebê-lo não será
lamentado. Ele provavelmente vai ter o que merecia. Além disso,
estarei usando minha espada, se necessário. Ela pode abrir um
caminho muito mais fácil.
O Cão Selvagem era uma massa fervilhante de bandidos e
música alta. Quando se aproximaram, um corpo ensanguentado foi
arremessado através das portas para a rua. Reya passou por cima do
homem inconsciente e continuou para o interior da taverna. Maverk
instintivamente queria ajudá-la, mas ao vê-la desaparecer, ele
amaldiçoou e seguiu, não querendo perdê-la de vista.
Ela era fácil de encontrar no meio da multidão. Mais alta do que
os homens na sala, seu cabelo vermelho-ouro selvagem voava em
volta como um farol. Um pequeno caminho foi limpo no meio da
multidão enquanto ela caminhava para o bar. Ela era conhecida.
Muitos dos olhos dos fregueses seguiram o comerciante,
quando ele se elevou sobre todos na taverna. Comerciantes Daamen
eram conhecidos como cumpridores da lei, homens, definitivamente,
não assassinos e este estava sozinho. Oito deles poderiam ser
capazes de derrubá-lo, usando a força bruta. Talvez. Então eles
pegaram a vista dos seus olhos queimando e o laser amarrado na
coxa, uma mão pairando acima dele. Este era um comerciante
furioso. Enfrentá-lo seria um ato de um tolo. Os bandidos se
afastaram.
Reya parou no bar e Maverk apareceu ao lado dela. Seus olhos
se encontraram no espelho enorme que estava na parede atrás do
bar.
—Como vamos saber quem é Royce? Ou você conhece algum
outro pobre bastardo para ameaçar por informação?
—Por uma questão de fato, bonitão, eu faço. Vê aquele garoto
jovem sentado no canto esquerdo da sala? O com uma moça no
joelho?
Ele moveu o seu olhar até que viu o reflexo do que ela falou no
espelho. Ele era um jovem de não mais de quatorze anos, alto e
esguio. Com um chocante cabelo vermelho e um tapa-olho sobre seu
olho direito. Seu rosto estava despreocupado e ele ria alto quando a
prostituta plantou um beijo molhado na sua bochecha. Uma mão fina
deslizou por debaixo de sua saia, fazendo-a gritar.
—Ele é um garoto. — Maverk ficou surpreso. —Um pouco mais
jovem e seria uma criança!
—Ele é um informante por um preço.
—Um menino assim? Como diabos ele permanece vivo?
—Nunca subestime as crianças.
Havia amargura em sua voz, seu olhar se voltou para estudar
seu reflexo no espelho. Ela estava olhando para o jovem, mas seus
olhos estavam distantes e sombrios. O que ela estava pensando? O
que estava vendo, quando ela olhava para ele?
—Ele fez alguma coisa para você, moça? — Maverk perguntou
em voz baixa.
Saindo de seus pensamentos, ela olhou para ele.
—O quê?
—Você parece... perturbada. É por causa de algo que o jovem
lhe fez?
—Não. — A resposta foi abrupta. —Vamos conversar com Cisco.
—Cisco?
—Esse é o seu nome. E não se deixe enganar pela sua idade,
bonitão, ele é mortal.
Cisco observou-os vindo, o seu olhar persistente sobre a
guerreira alta, com as curvas luxuriantes, antes de mudar para o
carrancudo gigante atrás dela. O gigante estava franzindo a testa
para ele. Isso era um aviso que via em seus olhos?
Cisco sorriu. O comerciante estava avisando para ficar longe da
Reeka. Que interessante.
Reya parou em sua mesa.
—Cisco.
—Olá, linda senhora. O que posso fazer por você neste belo
dia?
Olhos pálidos piscaram para a prostituta.
—Uma palavra em particular.
Ele suspirou.
—Eu estava ficando tão aconchegante aqui.
—Tenho certeza que sua amiga vai voltar. — Seu olhar não
deixou a prostituta, que empalideceu. —Nós não vamos manter o seu
menino por muito tempo.
A prostituta deslizou rapidamente do colo de Cisco.
—Vou voltar mais tarde, querido, quando você não estiver tão
ocupado.
Viu-a desaparecer na multidão.
—Isso não foi muito amigável, Reya.
—Diga para alguém que se importa. Quero algumas
informações.
—Nada de social, então. Você me decepciona. Sente-se. Se
quiser, você pode sentar no lugar que minha senhora amiga
desocupou.
A ira cintilou dentro de Maverk. Este jovem com meleca no
nariz era ousado por sugerir que Reya sentasse no colo dele! Antes
que ela pudesse responder, ele puxou uma cadeira no lado oposto da
tabela.
—Aqui, — ele disse para ela e começou a sentar-se na única
outra cadeira remanescente, entre ela e Cisco.
Ela não percebeu a manobra, a atenção dela estava em Cisco,
mas o jovem percebeu e quase riu em voz alta.
O grande comerciante estava fazendo sua reivindicação sobre a
guerreira, suas ações claramente avisava que ele tinha algum direito
pessoal sobre ela.
Muito interessante. Pensativo ele moveu seu olhar para Reya,
que voltou para ele brandamente. Qual era a sua conexão?
Ele percebeu algo mais.
—Onde está a sua prima?
—Ocupada. Diga-me quem é Royce.
—Royce? O que ele fez?
—Você não precisa saber disso. Onde está ele?
Inclinando-se para trás na cadeira, o olho bom de Cisco de
repente ficou afiado e calculista.
—Eu poderia conhecê-lo.
Maverk interrompeu impaciente.
—Você tem que conhecê-lo, afinal, perguntou o que ele tinha
feito.
—Talvez eu faça e talvez não. Tudo depende.
—Do quê?
—Se vai ou não valer o meu tempo.
Capitulo 17
Maverk estudou a atmosfera enfumaçada. Cisco não parecia
mais tão jovem. Seu único olho era de um azul frio, reservado e
profundo, escondendo pensamentos que ele não queria que ninguém
soubesse. O jovem de boa aparência, rosto angular era muito mais
velho do que seus tenros anos indicavam.
Ele era um jovem mortal, em cada centímetro, um fora da lei.
—Qual é o preço?
—O que você está preparado para me dar?
—Suponha que nos diga o que você quer? — Reya respondeu.
—Diga-me o que você quer de Royce.
—Então, você pode vender essa informação em outro lugar?
Ele sorriu de maneira cativante.
—Eu faria uma coisa dessas?
—Você venderia a sua própria mãe. Diga o preço.
Cisco olhou-a de perto, em seguida, sorriu.
—Que tal um beijo?
—Seu pequeno...! — Maverk adiantou-se, mas foi parado pela
mão de Reya, sobre seu peito.
—Pare. Creio que isto é algo que só eu posso fazer.
Com os olhos arregalados, ele a viu se levantar e caminhar ao
redor da mesa.
—Você não pode fazer isso!
Ela não respondeu.
Cisco sorriu para ela com surpresa feliz e uma expressão
sensual em seu rosto. Ele não podia acreditar na sua sorte.
Delicadamente agarrando sua camisa, ela levantou-o.
Maverk não podia acreditar. Ela estava realmente pretendendo
beijar esse menino? De jeito nenhum!
De jeito nenhum, neste planeta abandonado, ele iria permitir
que aquele garoto mau beijasse a sua garota!
Ele se levantou, apenas a tempo de evitar que a caneca de
cerveja espirrasse sobre dele.
Com um duro empurrão, Reya bateu Cisco de costas sobre a
mesa, pratos e canecas foram enviados cambaleando em toda a
superfície de madeira.
Ele encontrou-se olhando para os seus olhos frios como a
morte, uma mão forte pressionou em seu peito e um punhal picou
sob o queixo.
—Você se esquece de com quem está falando — ela respirava
suavemente.
—Assim, parece — ele sufocou com o aumento da pressão da
ponta do punhal. —Facilite para cima, Reya!
—Eu não sei o significado dessas palavras. Aqui está um preço
que você vai ter certeza de receber, garoto. Sua vida em troca de
informações.
Vendo o brilho de satisfação nos olhos castanhos do
comerciante, Cisco sabia que ele ia ficar sem a ajuda dele. Ele olhou
ao redor da taverna e sabia que não haveria ajuda do dono,
tampouco. Na verdade, os bandidos ficaram em silêncio, o único som
era a batida pesada da música vindo do canto.
Toda a atenção estava voltada para o trio, na mesa no canto.
—Diga-me — Reya ordenou suavemente.
—Deixe-me levantar em primeiro lugar...
—Não. Diga-me e você poderá voltar para sua puta ou... — A
ponta do punhal cavou mais fundo, não o suficiente para cortar a
pele, mas o suficiente para lembrá-lo de onde ele estava lá e quem o
empunhava.
Ele tinha certeza de que ela cortaria a sua garganta e ele tinha
muita autopreservação. Ele engoliu em seco e sussurrou:
— Ele está no canto de trás da sala. Ele tem um nariz quebrado
e está vestindo uma bandana verde.
—Isso não foi tão difícil, foi? — Ela recuou, arrastando-o com
ela para empurrá-lo para trás, em sua cadeira, endireitando a frente
de sua camisa. —A vida é muito mais fácil quando você coopera. —
Retomando o seu lugar, ela olhou para ele com ironia.
—Não tinha muita escolha, não é? — resmungou ele, sentindo-
se mais seguro agora que ela estava sentada.
—O que você diz, bonitão? Pensa que a informação vale a pena
pagar?
Vendo o brilho nos olhos de Cisco, ele respondeu secamente:
— Obviamente ele merece.
Vendo que a excitação acabou e nenhum sangue ia ser
derramado, os clientes da taverna voltaram às suas conversas
barulhentas.
Despercebida, a mão de Reya deslizou na parte superior do seu
cinto, onde havia uma pequena bolsa, ela retirou uma moeda e a
deslizou sobre a mesa.
— Cinquenta dinnos.
Cisco ficou de boca aberta e ele agarrou-a ansiosamente. As
sobrancelhas de Maverk arquearam com surpresa.
—Se você ouvir qualquer coisa que possa ser de interesse para
mim, haverá mais.
—Certamente. Foi um prazer fazer negócios com você,
guerreira.
A sua boca torceu, zombando.
—Eu tenho certeza. E Cisco?
—Sim?
—Diga a alguém sobre a nossa conversa e eu vou encontrá-lo.
—Você me fere profundamente. O que eu iria informar sobre
você?
Em pé, ela se inclinou sobre a mesa para olhar ele bem no olho.
—Faça isso uma vez e vai ser a última vez que você passa
informação a alguém. Será meio difícil de falar sem a língua.
Ele empalideceu.
—Eu não vou falar Reya.
—Eu vejo você por aí. — Ela afastou-se, entrando na multidão.
O comerciante a seguiu, Cisco sorriu aliviado e fez um gesto
para a prostituta que esperava.
Maverk sentiu uma picada de aborrecimento quando Reya
continuou andando, aparentemente, esquecendo-se dele. Agarrando-
lhe o pulso, ele a puxou para uma parada.
Com a atenção agora voltada para a mesa no canto, ela não
olhou para ele.
—O quê?
—Você poderia pelo menos esperar por mim.
—Você tem pernas.
—Pelo menos me informe sobre o nosso próximo passo.
—Eu pretendo ver Royce.
—Muito obrigado.
—Não mencione isso.
Olhando para cima, quando uma sombra caiu sobre a mesa,
Royce empalideceu quando se encontrou com o seu olhar frio.
—Reya. — Suas mãos começaram a tremer.
—Você me conhece. Isso economiza tempo. Para quem você
comprou o mini fatiador?
—Mini fatiador?
—De Deathman.
Seu coração afundou.
—Eu não sei o que você quer dizer.
—Achei uma arma que carrega as insígnias pessoais do nosso
amigo em comum. Uma mosca contou-me que você a comprou.
—E se eu a comprei? Não há nada de errado com a compra de
armas.
—É onde nós encontramos essa arma que me interessa.
Seus olhos correram para trás dela, para o gigante.
—Nós?
—Sim. — A voz profunda retumbou no peito maciço. —Você
esteve em Hamos.
—Nunca ouvi falar do lugar. — Royce ficou intrigado. —Onde
diabos é isso?
—Nunca ouviu falar? Estranho, pois é onde a arma foi
encontrada.
—Bem, eu não estava lá e tenho amigos que podem atestar
isso!
—Tenho certeza de que podemos confiar em sua palavra. — os
lábios de Reya enrugaram. —Não se preocupe homenzinho.
Suas bochechas ficaram vermelhadas.
—Como a sua arma foi parar lá, afinal? — Maverk perguntou.
As mãos de Royce deslizaram para baixo da mesa, em seu colo.
—Eu não sei, eu lhe digo. O que supõe que aconteceu, afinal?
Vendo seu movimento, a mão de Maverk tocou as costas de
Reya em advertência.
Ela não deu nenhuma indicação de ter sentido seu toque.
—Como a sua arma foi parar em Hamos?
—Eu não sei. Talvez não seja minha você já pensou nisso?
Puxando a cadeira, ela descansou o pé em cima dela, deixando
uma mão sobre o encosto, ao nível do topo de sua bota.
—É seu, Royce, ou era.
Que diabos ela estava fazendo? Maverk franziu o cenho. Será
que ela não percebeu o quão vulnerável a sua posição era e que o
criminoso estava, possivelmente, com seu laser à mão?
—Para quem você deu a arma?
—Ninguém, estou dizendo! — Inclinando-se ligeiramente para o
lado, ele observou-a nervoso. —Deixe-me em paz! Eu não sei nada!
Maverk ficou ao lado dela.
—Talvez devamos falar sobre isso com uma bebida amigável...
—Não. Ele vai me dizer para quem ele deu a arma e por quê.
Droga, ela não tem sentido suficiente para saber que o bandido
está avançando para uma arma embaixo da mesa? Maverk pegou o
seu laser.
—Ponha as suas mãos em cima da mesa! — ele grunhiu, mas
antes de seu laser ser retirado do coldre, Royce saltou para o lado,
sua mão agora à vista, segurava um laser.
Ele atirou uma explosão em sua direção.
Reya sabia o que ele ia fazer, mas antes que ela pudesse puxar
a adaga de sua bota para fora, um braço forte rodeou a sua cintura e
puxou-a para longe da mesa.
Maverk! Maldito grande imbecil!
—Para baixo! — ele rugiu.
A taberna explodiu em pânico. Todos abaixando para se cobrir
ou correndo para a porta da frente.
Empurrando-se para fora do agarre de Maverk, ela correu direto
para a mesa caída de Royce, antes de correr pelo meio da multidão.
—Maldição! — Ela chutou a mesa fora do caminho e virou-se
para encontrar-se cara a cara com Maverk.
—Você está bem? — ele gritou acima da gritaria e xingamento
dos frequentadores da taverna. —Espere aqui e eu vou pegá-lo!
Por cima do ombro ela viu Royce abrindo caminho para a porta.
—Lá!
Maverk arrastou em torno do balcão, atrás do bandido.
Vendo uma maneira mais rápida, Reya estava em cima do
balcão com um simples salto, correndo rapidamente ao longo do
comprimento do mesmo, canecas e garrafas deslizavam para o lado
para cair sobre a borda e esmagar no chão. Seu salto do balcão para
uma mesa próxima, a fez estremecer, mas ela nunca vacilou, pulando
para a próxima mesa e adiante, suas longas pernas cobrindo a
distância com facilidade.
Maverk viu Royce empurrar seu caminho para fora da porta, a
massa fervilhante de frequentadores fechando atrás dele e
bloqueando a porta em sua pressa de sair para a segurança. Ele
estava perto da porta quando notou Reya correndo e seus olhos se
arregalaram com horror.
—Reya, não!
Já era tarde demais. De cabeça para baixo e os braços cruzados
protegendo o seu rosto, ela destruiu o vidro da janela para acertar e
alcançar o chão duro, com uma chuva de vidro quebrado. Ignorando
a picada no braço, ela rolou e ficou sobre seus pés, apenas a tempo
de evitar o feixe de laser que visava a sua cabeça.
Vendo o salto da guerreira para seus pés, Royce tropeçou para
trás, e imaginou ter visto a morte refletida nos lagos verdes gelados
que eram seus olhos. Virou e correu, mas foi uma coisa estúpida de
se fazer. Ele sabia que as longas pernas da guerreira estavam
fechando a distância entre eles.
Ele correu para o lado, até um beco, Reya vinha atrás dele.
Saindo da taverna, Maverk teve tempo de vê-la levantar e
decolar em uma corrida.
—Reya, espere!
Era como se ela não o ouvisse. Ela desapareceu no beco ao lado
sem olhar para trás. Maldição, ele pegou o seu laser e saiu correndo.
Saltando agilmente sobre os caixotes, engradados e outros
obstáculos que ele tombou em uma tentativa, fútil e desesperada de
pará-la, Reya manteve a perseguição.
Um olhar por cima do ombro mostrou que suas esperanças
estavam erradas. Ela estava ganhando terreno rapidamente e um
pouco atrás dela estava o comerciante.
Ela era seu primeiro problema. Sabendo que ele não poderia
fugir dela, derrapou para uma parada e virou, com seu laser na mão.
Reya saltou para o lado, quando o feixe de laser piscou
passando inofensivamente. Amaldiçoando, ele reorientou, e ela se
jogou para o outro lado da rua quando um segundo raio laser
chamejou contra ela.
—Pare de atirar! — Maverk rugiu. —Estou cobrindo você!
Royce podia ver que o gigante ainda estava a alguma distância,
mas fechando o caminho rápido. Um movimento capturado pelo canto
dos seus olhos e empalideceu com a percepção de que a Reeka
estava chegando, movendo-se rapidamente para frente. Ele disparou
várias explosões, mas ela desviou e rolou, cada vez que rolava, ela se
levantava ilesa e continuava chegando.
Pegando a adaga na bota, ela enviou-a girando pelo ar, apenas
para amaldiçoar a falta de sorte quando o bandido tropeçou e caiu, a
faca voou sem causar danos a ele.
Endireitando, ele apontou novamente e ela mergulhou para trás
de uma caixa. Não muito depois, uma explosão deflagrada passou
por trás dela, obviamente era Maverk, que acertou o laser na mão de
Royce e enviou-o girando de costas contra a parede, segurando sua
mão machucada.
—Não se mova ou a próxima vez eu não serei tão bonzinho! —
Maverk rosnou.
Royce tremeu, com a raiva em seu rosto, mas a ameaça o fez
ficar onde estava.
Maverk emparelhou com Reya.
—Você está bem, moça?
Com os olhos em Royce, ela balançou a cabeça secamente.
Maverk estava dividido entre abraçar e beijar com alívio, ou
bater nela por não ter preocupação com sua própria segurança. No
entanto, este não era o momento ou lugar para realizar qualquer um
desses impulsos.
Vendo o fio de sangue em seu braço, ele percebeu que ela
havia se cortado no vidro da janela. Era apenas um pequeno corte,
observou com alívio. Ele mudou a sua atenção de volta para o fora da
lei, que tremia.
Reya foi em direção a Royce, mas Maverk a alcançou com
vários passos largos. Pegando o bandido pela frente da camisa com
seu punho enorme, ele bateu-o contra a parede de pedra. As botas
de Royce pendiam a vários centímetros acima do solo.
—Certo, seu bastardo — ele o jogou no chão barbaramente. —A
quem você deu a arma e é melhor você responder!
—Não me machuque!
Machucá-lo? Este verme estava tentando matar Reya! Pegando-
o por um braço, torceu para trás e apertou com seu punho maciço.
—Eu vou dizer-lhe, vou contar! — Royce gritou. —Eu vou dizer-
lhe!
Vendo que Maverk ainda estava com a intenção de machucá-lo,
Reya colocou os dedos em seu grosso pulso.
—Pare.
—Ele tentou matar você!
—Não faz nenhuma diferença. Ele nos dará o que queremos
agora.
Maverk encarou Royce.
—Cuspa o que você sabe seu bastardo, ou eu vou espalhar você
por todo este sangrento beco!
Royce não duvidou nem por um minuto.
—Um homem chamado Vinca o comprou!
—Quem é Vinca? — Reya perguntou.
—Eu não sei, honestamente. Ele pagou-me para comprar a
arma de Deathman.
—Ele disse por quê?
—Não, eu não perguntei. Ele pagou um bom dinheiro.
—De onde ele é?
—Eu não sei, — Royce soltou um grito quando Maverk sacudiu-
o como um rato. —Tudo bem, tudo bem! Ele é de Vaksal!
Ela continuou.
—Como você sabe disso?
—Eu vi o bilhete saindo de sua mochila.
—É mentira.
—Não! — Seus olhos se arregalaram em pânico. —Não, Reya!
Eu digo a verdade! Por favor, você deve acreditar em mim!
Ela sabia que ele falava a verdade. Ela desejava que ele não o
fizesse. Querido Deus, como ela desejava que ele tivesse mentido e
dissesse qualquer outro lugar, menos Vaksal. Em qualquer lugar do
universo inteiro, não lá.
—Reya? — Maverk consultou com curiosidade.
Ela girou nos calcanhares e afastou-se.
Incrédulo, olhou de Royce para as costas dela, que se retirava.
—Reya?
Ela não respondeu.
—Maldito inferno, Reya!
Parando, ela se virou para olhar para ele, com uma sobrancelha
levantada, em uma consulta silenciosa.
—Só isso? — Ele fez um gesto para o bandido. —O que fazemos
com ele?
—Nós? Você é o único que está segurando a sua camisa.
Ele rangeu os dentes.
—Sim, nós. Você veio atrás dele, também, lembra?
Maldita forma como a moça o estudou e seu prisioneiro,
avaliando-os com um frio e calculista olhar.
—Mate-o.
—O quê? — Royce gritou. —Não! Reya! Peço-lhe!
Alegremente, ela se afastou.
—Reya! — Maverk gritou. —Maldita seja!
—Tarde demais para que você possa condenar-me, isso já foi
feito. — As palavras foram ditas casualmente sobre o ombro,
enfureceu-o.
—Pare e espere! — ele rugia e assistiu asfixiado de raiva
enquanto ela se aproximava da esquina do beco.
Ela não ia esperar a bruxinha. Ele desviou os olhos queimando
de raiva para Royce que gemeu de medo. Mas não estava nele matar
outra pessoa a sangue frio, mesmo este verme choramingando, mas
Royce não sabia disso.
Royce pensou que seu último momento havia chegado, quando
os olhos se voltaram para ele em chamas.
—Não me mate! Por favor, não me mate! Eu não vou dizer a
ninguém que falei com vocês, eu prometo! Por favor!
—Se você dizer para alguém, uma única alma, eu vou voltar e
terminar com você pessoalmente. Isso eu prometo. — Ele baixou
Royce até que as botas do bandido tocaram o chão.
—Obrigado! — Royce limpou o suor da testa com as mãos
tremendo violentamente. —Eu nunca vou dizer a uma alma, minha
vida vale isso!
—Uma coisa mais.
Ele olhou para cima, mas era tarde demais para evitar o punho
enorme que lhe quebrou o nariz. Ele desceu com um spray de sangue
para ficar semiconsciente no chão.
—Nunca mais tente prejudicar um único fio de cabelo de Reya
de novo, ou não haverá nenhum lugar neste universo onde possa se
esconder de mim, — a voz profunda ribombou através da escuridão
diante dos seus olhos. —A guerreira Reeka é a minha mulher, só
minha. Diga a todos que encontrar e certifique-se que seus inimigos
saibam. Entendeu?
Ele assentiu vagamente e desmaiou.
Não, Maverk não poderia matar a sangue frio, mas ele faria
qualquer coisa para proteger o que era seu, e Reya, definitivamente
era. A bruxa, sem coração, desinteressada!
Ela não estava à vista. Ele correu até a esquina do beco e pode
vê-la perto da entrada da rua.
—Reya, espere!
Sem perder o passo, ela se virou e entrou na rua,
desaparecendo de vista. Ele derrapou na rua, por pouco não
derrubando duas crianças, que gritaram ao ver o gigante furioso e ele
correu para vê-la na entrada da taverna O Cão Selvagem.
O barman gemeu interiormente quando ela entrou, mas os
bandidos sorriram e a olharam, secretamente se perguntando quem
ela estava procurando agora.
Cisco também gemeu quando ela foi direto para ele e empurrou
a prostituta fora de seu joelho ossudo.
—Até logo, querida.
Não necessitando de um segundo aviso, ela correu
rapidamente.
—Então. — Ele observou Reya sentar na cadeira em frente. —
Será que você o pegou?
—Eu sempre consigo o que caço. Conte-me sobre Vinca.
—Não posso dizer que já ouvi falar dele.
—Não?
—Não. — Olhando através dela, ele viu o seu companheiro
gigante passando através da porta. —O seu amigo não parece muito
feliz.
—Eu não tenho amigos. Pense um pouco mais. Vinca.
—Estou dizendo. Eu não sei nada sobre ele. — Ele observou o
comerciante atravessar a taverna.
Vendo a guerreira sentada em frente a Cisco, Maverk se dirigiu
para eles, ignorando os bandidos que saiam, às pressas, de seu
caminho.
Reya praticamente podia sentir seu olhar na parte de trás da
sua cabeça, mas ela não olhou para cima, quando ele se aproximou.
Parando ao lado dela, ele não se sentou, mas se ergueu atrás dela
com os braços cruzados. Tão sutil, ela pensou com um toque de
humor. Ele certamente não estava acostumado a ser ignorado, ela
podia sentir a sua frustração queimando e saindo dele em direção a
ela, em ondas invisíveis.
Cisco mudava o seu olhar interrogativo do comerciante furioso
para a Reeka impassível. Por que será que Maverk estava com tanta
raiva? Certamente se fosse Reya, haveria uma luta em grande escala
entre eles. Então, alguma outra coisa deve ter acontecido. Talvez...
—Você pegou Royce ou ele fugiu?
—O que você sabe de Vinca?
Ele suspirou.
—Eu disse a você, eu não sei nada.
—Descubra.
Isso soava promissor.
—Quanto você vai pagar?
—Isso depende do que você descobrir.
—Minha taxa por hora...
—Não me venha com essa porcaria. Ache as informações sobre
Vinca e você vai receber o pagamento.
Não era sábio empurrá-la longe demais.
—Muito bem, vou contatá-la quando eu tiver qualquer coisa...
—Esta noite. Duas horas antes da meia-noite.
—Isso me dá apenas seis horas!
—Então é melhor você começar, não é? — Reya falou. —Aqui,
nesse lugar, Cisco, sem atraso.
—Tudo bem, mas não posso prometer milagres em tão pouco
tempo.
—E eu pensei que você era o melhor. — Virando-se, ela se
afastou em outra direção.
Droga, ela tinha feito isso de novo! Ela o ignorou
completamente e saiu de novo! Xingando por baixo sua respiração,
Maverk a seguiu, igualando o passo ao lado dela, uma vez fora da
taverna.
Ele queria rasgá-la verbalmente, estava tão zangado que seu
maxilar doía de estar fechado apertado. Ele precisava de privacidade
para fazê-lo.
Capitulo 18

Ociosamente Reya se perguntou por que Maverk não disse nada


enquanto eles caminhavam. Pelo canto do olho, ela viu o rosto triste,
apertado com uma fúria controlada. Ele não era bom em esconder
seus sentimentos, pelo menos com ela. Ele era aberto, amigável,
bem-humorado e de grande coração, não um mercenário de sangue
frio como ela.
Não havia espaço para o amor na vida de uma mercenária. Ele
seria tão fácil de amar. Ele... Reya franziu a testa, assustada. Que
diabos ela estava pensando? Amor? Maverk? Perturbou-a, era um
pensamento que não queria para prosseguir. Além disso, era ridículo!
O grande idiota a irritava! Fácil amar? Ela devia estar ficando maluca!
Mesmo tentando empurrar o pensamento para longe,
continuava a voltar, até acabar completamente irritada.
Eles deixaram o assentamento para trás e foram para a nave
espacial, em silêncio.
Reya entrou com Maverk atrás dela. Puxando a alavanca ao
lado da porta, viu a porta fechar em segurança, antes que ele se
virasse em direção a ela. Ele abriu a boca, pronto para dar-lhe uma
explosão verbal, mas ela não estava lá.
—Reya! — Tempestuosamente, correu pelo corredor, com raiva
olhou para dentro da cabine de dormir vazia, sala do motor e cabine
de controle.
Encontrou-a em pé, junto a mesa da cabine de estar,
calmamente tomando goles de um copo de água gelada.
—Você me deve um pedido de desculpas!
Uma sobrancelha subiu interrogativamente.
—Você sabe muito bem do que estou falando!
A sua testa enrugou em um desinteresse educado.
—Você parece chateado, bonitão.
—Chateado? — berrou ele, incrédulo. —Você poderia dizer isso!
—Eu já disse. — Ela engoliu o último gole de água e colocou o
copo sobre a mesa.
—Você tem algumas explicações a dar!
—Eu devo?
—Fique me empurrando, moça e vai ter uma surpresa
desagradável!
—Estou aterrorizada.
Ele havia mantido silêncio na taberna e na caminhada de volta
para a nave, porque não acreditava em argumentar em público,
proporcionando entretenimento para os outros, mas agora ele se
soltou com um juramento selvagem.
—Meu Deus está chateado.
Para um homem grande, ele poderia se mover rápido. Em
segundos, ele estava frente a frente com Reya, olhando ferozmente
para baixo, para dela.
—Em primeiro lugar, sua pequena bruxa, ignorou-me! Toda vez
que a chamei, você não respondeu ou reconheceu-me!
—Acho que não estou muito bem treinada. — Caminhando em
torno dele, ela partiu para a porta. —Se essa é a única razão pela
qual você está zangado, tome o meu conselho: cresça bonitão.
As palavras cortantes tinham acabado de deixar os lábios e ela
se perguntava se, por uma fração de segundo, o havia empurrado
longe demais desta vez. O instinto a fez girar, para encontrá-lo logo
atrás dela, com muita fúria em seus olhos.
A mesma fúria que lhe emprestou velocidade. Antes que ela
percebesse, ele agarrou-a pela cintura e ela foi presa em cima da
mesa, deslizando rapidamente entre os seus joelhos afastados para
segurar seus pulsos acima dela, com uma grande mão.
Em uma das poucas vezes em sua vida, Reya estava impotente.
—Solte-me!
Colocando a mão livre na parte baixa das suas costas, a puxou
contra ele e sua voz era perigosamente macia, quando disse:
— Não, você não está treinada muito bem, não é?
—Ponha-me no chão. Agora.
—Você não está no comando agora. Desta vez vai me ouvir.
—Espero com a respiração suspensa.
—Você tem uma língua afiada, moça. Será que nunca lhe
ocorreu usá-la muito bem em vez disso?
—Não.
—Tudo bem. Este não é o meu problema agora, de qualquer
maneira.
—Estou muito aliviada.
Seus olhos se estreitaram.
—Ok, você é uma moça muito espertinha, por que me ignora
tanto?
—Quando? Eu nunca reparei nisso, por favor, refresque a minha
memória.
—Eu vou fazer mais do que isso, se você não responder. Você
me ignorou desde o momento que Royce escapou da taverna.
—Ele não teria escapado se você não tivesse dado uma de
grande herói.
—Puxei-a para fora da situação perigosa que tinha colocado a si
mesma.
—Eu sabia o que estava fazendo. Você não tinha idéia dos meus
planos.
—Esse é todo o problema. Você não fala comigo e não tenho
idéia de seus planos. Pensei que fossemos parceiros nesta!
—É aí que você está errado, — ela voltou bruscamente. —Nós
não somos parceiros. Sofro com sua presença por causa das
condições ridículas de Dana. Não faça disso mais do que é, bonitão.
—É mesmo? Bem, eu tenho notícias para você. Estamos
trabalhando juntos, ou deveríamos estar. Encontrar Mara nos torna
parceiros quer queira ou não.
O brilho nos seus olhos ficou mais luminoso, conforme o
controle de ferro sobre o seu temperamento arrefeceu.
—Sonhe com isso.
—Você é a única a viver em um sonho, se você acha que eu
minto. Parceiros, — Maverk repetiu, —e como parceiros, reconhecer
um ao outro em todos os momentos. Você me diz os seus
pensamentos e planos. Você agora não é uma mercenária solitária.
—Mais alguma coisa? Alguma outra ordem?
—Não faça mais truques estúpidos como fez hoje.
—Oh, me perdoe. Eu sou apenas uma guerreira simples,
acostumado a lutar por si só...
—Não só. Dana estava com você.
—Nós conhecíamos o pensamento uma da outra. Você é um
perigo, Maverk. Você é muito mole para este tipo de coisa. Vá para
casa e deixe isso comigo.
—Você gostaria disso, não é? Eu sei que você está sendo
deliberadamente rude e difícil, apenas para fazer-me ir. Eu tenho
notícias para você, Reya, está presa comigo, goste ou não, então se
acostume com isso.
—Você já terminou? Se assim for, deixe-me ir.
—Não até você admitir que somos parceiros nessa...
—Nunca!
—E que de agora em diante, vai informar-me dos seus planos.
—Vá para o inferno!
Ele estudou o rosto dela, vendo a fúria de cristal claro, brilhante
e forte em seus olhos, antes de deixar cair o seu olhar para baixo,
para os lábios macios que o amaldiçoaram de maneira tão vil.
Ela começou a lutar contra ele, se contorcendo, tentando livrar-
se.
Deslizando sua mão até as nádegas dela, ele apertou-a contra
ele.
Ela congelou quando sua suavidade aberta fez contato com a
virilha dele. Da virilha até o peito, ela foi pressionada intimamente
contra ele. Ela podia sentir todos os ângulos duros e planos de seu
corpo, o calor de sua pele, sentir o seu cheiro, que era tão limpo e
unicamente dele.
Maverk estava intensamente consciente de sua vulnerabilidade,
de suas curvas moldadas tão maravilhosamente contra seu corpo
mais duro. O cheiro fraco de rosas subia de sua pele e da queda de
seus cachos brilhantes derramados sobre sua mão.
Seus olhos estavam fechados.
—Deixe-me ir. — Um fio de pânico estava claro em sua voz.
Sentimentos estranhos estavam perturbadoramente mexendo
dentro dela, não de medo ou raiva, mas de outra espécie, do tipo que
ela lutava tanto para suprimir.
Ele ouviu o pânico, viu a confusão em seus olhos e sua
respiração ficou presa. Por quê? Ela estava, obviamente, preocupada
com alguma coisa.
Reya tentou se puxar de volta, mas os braços fortes
seguravam-na prisioneira.
—Maverk, não!
—Não o quê? — Seu tom mudou, tornando-se mais baixo, mais
suave.
Mesmo seu poder sobre ela havia mudado, ela observou
alarmada, já não punia, mas com firmeza, em vez de restrição. Os
olhos castanhos tinham esfriado, passando da queima de fúria ao
calor.
—Não, Maverk! — Ela começou a lutar freneticamente, só para
parar com horror, diante da sensação de endurecimento do
comprimento dele contra a sua maciez de mulher.
A moça em seus braços era completamente diferente da fria
guerreira, senhora de si, que antes o havia incitado e abusado dele.
Esta mulher era toda suavidade e tremores, os olhos eram piscina
grande de um verde luminoso. A sensação de seu corpo se
contorcendo contra ele, fazia a sua ira desaparecer.
Ele abaixou a cabeça.
Vendo a sua intenção, ela tentou desviar, mas ele a seguiu
rapidamente e capturou seus lábios com os dele. Em seu primeiro
toque ela gemia e ele imediatamente se aproveitou disso para possuir
a sua boca completamente. Reya deixou cair à cabeça com paixão,
em um poço de fogo, moldando seus lábios aos dele, degustando o
movimento que aquecia a sua boca.
Sua resposta escaldante o pegou de surpresa, por apenas um
momento, pois era como ele suspeitava e provou anteriormente. Sob
uma fachada fria, queimava uma paixão tão ardente e intensa, que
teria queimado um homem inferior. Mas não Maverk. Ele absorveu
toda sua essência aquecida, ela cedeu, ele tomou e misturou com o
seu próprio desejo.
Ela não sabia quando ele havia soltado os seus pulsos, ou
quando seus braços deslizaram ao redor dele para puxá-lo mais
perto. Ela não sabia quando seus dedos agarraram o cabelo longo e
loiro. Tudo que sabia era que precisava estar mais perto de seu calor,
sua força, o seu próprio ser. O desejo desenfreado correu através
dela, um fogo brilhante que foi rapidamente se transformando em um
inferno furioso.
Era um inferno para combinar com o de Maverk. Seus braços
travaram em torno dela em um aperto quase estrangulador. Luxúria,
amor e desejo ferviam em suas veias como lava derretida, a resposta
dela alimentava a sua chama.
Ele espalmou um peito macio, a curva generosa por baixo do
colete firmemente atado enchendo a sua mão. Sem roupas
confinando seu peito, ele conhecia a plenitude do que estaria na
palma da sua mão.
A dor em seus rins se intensificou quase dolorosamente e ele a
puxou para fora da mesa, quebrando o contato dos seus lábios para
sussurrar acaloradamente.
—Vamos para algum lugar mais confortável.
Tristemente, reconheceu para si mesmo depois, que foi um
grande erro trazê-la de volta à consciência.
—O quê? — Reya abriu os olhos atordoada.
—Vamos para a minha cama e fazer amor...
—Fazer amor? — a consciência despertou. Ela estava em seus
braços, cada parte sua pressionada contra o corpo grande e duro
dele. A paixão chiou entre eles e havia calor entre as suas coxas.
Ela gemeu.
—Não.
—Vem, — ele persuadiu suavemente, dando um passo para
trás, trazendo-a com ele.
—Não! — disse ela com mais força. —Maverk, não!
Percebendo com uma pontada interior de que o momento
mágico estava fugindo, ele tentou dar sentido a sua recusa.
—A quem você nega? Você mesma ou a mim?
—Ambos! — ela voltou freneticamente. —Quero dizer, a mim,
você!
—Eu não acho que você saiba o que quer dizer. Deixe-me
mostrar o que sei, moça.
Apoiando suas mãos sobre o seu peito, ela empurrou.
—O que você sabe? Liberte-me!
—Eu sei o que você quer de mim. Eu sei que você quer fazer
amor comigo, como eu quero fazer com você.
Um rubor surgiu através de suas bochechas.
—Eu não!
Com os olhos brilhando com um fogo interior, ele inclinou a
cabeça para baixo e pressionou um beijo de boca aberta e quente,
com ela descontroladamente batendo o pulso em sua garganta.
Ele deu sua guinada e ela agarrou seus braços.
Erguendo a cabeça, viu o fogo acender nos olhos dela e roçou
um beijo nos seus lábios, ficando em torno de seu rosto, onde ele
acariciou-a com seu hálito quente.
—Seu coração bate moça. Há calor líquido na sua feminilidade.
As pontas de seus seios estão duras com o desejo. Você pode
realmente dizer que você não me quer?
Sim, ela o queria. Muito. Seu corpo latejava, doía e ansiava. A
mão sobre o seu bíceps inchado e poderoso, flexionado.
Inclinada para frente, com os olhos fechados ela voou e beijou-
o suavemente. Sua mão deslizou no maciço peito, sobre as ondas dos
músculos, até a cintura para segurar o cinto, até o coldre, roçando o
metal frio do laser amarrado na coxa...
O laser! Ele precisava de proteção, enquanto estava com ela.
Os olhos de Reya se abriram e ela puxou de volta, pegando-o de
surpresa quando ela escorregou de suas mãos.
—O que? — Assustado, ele olhou para seu rosto branco. —
Moça, o que está errado?
Abalada, ela passou a mão trêmula sobre o rosto.
—Você, Maverk. Você é o que está errado.
—Eu?
Com suas emoções em tumulto, ela o atacou.
—Eu não sou sua puta para ir para cama quando você quer!
Ele sentia como se tivesse levado uma tapa na cara.
—Que diabos você quer dizer com isso?
—Para ser agarrada, tateada e forçada!
Branco de raiva, uma sensação totalmente estranha à sua
natureza feliz, levantou a acusação injusta.
—É isso que você acha? Bem, deixe-me dizer-lhe algo, sua
bruxa de coração frio! Uma prostituta seria muito mais amorosa do
que você!
—Então, por que se preocupar comigo? Vá encontrar uma para
saciar sua luxúria!
O rubor cresceu em seu rosto.
—Talvez eu vá. O calor dela pode derreter o que o seu frio
congelou.
—Bom! Vá!
Se refugiou do desprezo em seu olhar ferido e sua dor
atacando-a.
— Siga o exemplo, Reya. Aja como uma moça decente, em vez
de uma cadela frígida e assassina, você poderá fazer alguns amigos!
As palavras se chocaram contra ela, derramando sal em uma
ferida já aberta, e ela revidou instintivamente, buscando ferir
novamente.
—Pare de jogar de herói, Maverk. Você é apenas um
comerciante de bens e isso lhe subiu à cabeça!
O silêncio em torno deles pulsava com a frustração, raiva,
mágoa e violência reprimida. Então Maverk balançou nos calcanhares
e saiu, com a fúria queimando em cada linha esticada de seu corpo.
Reya sabia que ele ia deixar a nave. Uma vez que ela ouviu a
batida da porta externa, sentou-se rigidamente na mesa e olhou para
a parede, enchendo de dormência. Isso amorteceu a dor, a raiva e a
auto-repulsa. Repugnância pelas coisas cruéis que tinha atirado nele.
Sim, às vezes ela podia ser selvagem, mas sempre tinha sido justa.
Ela nunca tinha atacado cegamente ninguém, como tinha feito com
Maverk. A pessoa mais amável que havia conhecido, um homem que
se importava, ria e amava a vida.
Medo pensou amargamente. O medo a fez lançar-se de tal
forma cruel, rasgando e arranhando sua bondade, sua ternura. Tudo.
Ela era uma destruidora e provou-o novamente.
Com a garganta apertada, amaldiçoou e afastou-se da mesa.
Ela não podia ceder às lágrimas, era um de luxo que não podia pagar.
A asfixia a encheu, seu coração batia forte e a parte de trás de seus
olhos queimava.
A imprudência selvagem varreu-a. Estaria escuro em breve.
Retirando os punhais de suas botas e soltando o cinto de sua espada
em suas costas, jogou-os sobre a mesa junto com o laser.
Sem quaisquer meios de proteção, deixou a nave, seus passos
eram rápidos, comendo a distância para o assentamento. Ela bateu
os pulsos e apertou sua mandíbula tão apertada que doía.
Ela não queria mais proteção, não queria mais machucar. Ela
sentia necessidade de lutar, botar para fora a agressão e ferir alguém
fisicamente. Sabia que estava fora de controle. Perigo era o que
procurava e se fosse gravemente ferida, que assim fosse. Se
morresse, bem, então, seria o melhor. Tudo ficaria melhor. Não ferir
mais aqueles que não merecem, sem mais pesadelos.
Era o fim da guerreira de gelo. O fim de uma assassina.
A noite já tinha caído e a luz derramada nas ruas vinha das
tabernas. Música pesada batia através das portas abertas, junto com
o riso estridente e xingamentos. Mas essa não era a área que ela
queria. Não, ela precisava da área que a média dos bandidos evitava
um lugar de violência brutal e assassinato. Um lugar em que pudesse
se perder e sentir-se em casa.
Brroca. A rua na parte de trás do estabelecimento grande.
Brroca. Um lugar, onde qualquer fora da lei,
independentemente de quem eles fossem, ia desarmado.
Brroca. O lugar que poderia trazê-la de joelhos e mandá-la para
seu criador.
Brroca. O lugar que a selvageria dela ansiava, esta noite.
Da rua saia os becos, paralela à rua principal da localidade. A
rua de Brroca fedia a sangue, o cheiro de medo e morte enchia o ar.
Para os bandidos, era uma terra de ninguém. Intrusos eram presas
fácil para os vermes que governavam esta rua.
Ela não tinha ido muito longe antes de seus instintos
perceberem o movimento atrás dela. Continuou andando. Alguém
agora estava se aproximando pela sua esquerda, depois, pela direita.
O arranhar de aço frio sendo raspado era alto.
—Então, mulher guerreira, o que procura aqui? — perguntou
uma voz fria e uma forma apareceu diante dela.
Alto e magro, com pálidos olhos cinza, rosto marcado por
cicatrizes, quase irreconhecível, era o rosto de um assassino.
Ela olhou para ele sem emoção.
—Responda-me, guerreira, ou hoje à noite você vai encontrar a
Morte.
—Então me deixe encontrar a Morte e ver o que nós temos
homenzinho.
—Assim seja, guerreira. — Ele riu-se impiedosamente.
Quatro homens se lançaram para ela, um de cada lado. Ela
explodiu em ação, a fúria irracional assumindo e acrescentando à sua
letalidade. Ela lutou com um só objetivo, crueldade, três dos homens
caíram rapidamente.
Para os três que caíram mais quatro apareceram.
Agora, ela enfrentava cinco e deu lhes boas vindas. Ela não
estava ciente da multidão silenciosa que se reuniu, transportando
tochas de fogo crepitando, formando um semicírculo em torno dos
combatentes.
Sangue respingava no chão, a maior parte dos assassinos,
algum dela. Uma adaga fez um corte em seu braço. Um arranhão
marcou a parte de trás de sua coxa, quando ela caiu e raspou-a
através do cascalho. Um filete de sangue marcava o canto de sua
boca, após um soco.
Fúria e raiva cega emprestaram-lhe mais força, logo era só ela
e o líder dos vermes, face a face, no silêncio.
—Então, — disse ele.
Reya soprou os nós dos dedos esfolados, peito arfando a cada
respiração.
—Então.
—Você é uma adversária digna, mas como você enfrentará um
laser? — Ele puxou um, suavemente, do coldre ao seu lado.
Sangue zumbia através de suas veias. Era isso.
—Como pode ver, — ela espalhou os braços, os olhos frios de
ousadia —Eu não tenho um. Puxe o gatilho, homem.

Maverk olhou para a caneca de cerveja intocada. Ele teve que


abandonar a nave, pois se tivesse ficado, não gostaria de pensar no
que poderia ter acontecido. Era ruim o suficiente, com as coisas
cruéis que ele disse para ela.
Frígida, cadela assassina. Gemendo, deixou cair a testa em
uma palma. Como ele pode ser tão cruel? Nunca, em toda a sua vida,
foi deliberadamente mau com uma moça. O fato de que havia sido
tão cruel com alguém que amava, era imperdoável.
Claro, ela tinha sido muito selvagem, mas não era nada
incomum. Apenas, ele franziu a testa, havia algo mais. Ele sentia.
Mas se voltasse agora e tentasse fazer as pazes, ela provavelmente o
atacaria com a sua espada. E ele não podia culpá-la.
Maverk suspirou pesadamente.
—Problema com mulher, amigo? — uma voz perguntou com
diversão.
Tirando a mão de sua testa, olhou para cima, em direção a voz.
O homem em pé diante dele estava na casa dos trinta, pele
bronzeada, um marrom profundo de sol, olhos azuis nítidos e havia
avaliação no seu rosto aquilino.
—Meu nome é Zadox. — Ele apontou para a cadeira em frente à
Maverk. —Você se importa?
—Não, fique à vontade.
Sentado, ele se inclinou para trás na cadeira e fixou o
comerciante com olhos inquiridores.
—Então, problema com mulher, amigo?
—Nada que eu não possa lidar. — Tomando um gole de cerveja,
Maverk olhou para ele sobre a borda da caneca.
Zadox sorriu levemente.
—As guerreiras Reeka sempre foram um enigma.
—Oh?
—Sim. Você viaja com Reya, não é?
—O que você tem a ver com isso?
—Não se aborreça. Não é nenhum segredo que vocês estão
juntos. Vendo você tão sombrio, é fácil adivinhar que sua língua
afiada deve ter tirado uma faixa ou duas de você.
Inclinando-se para trás na cadeira, Maverk cruzou os braços no
peito, considerando o outro homem com curiosidade.
—Você parece conhecê-la bem.
—Um pouco. — Capturando o olhar do barman, Zadox apontou
para sua caneca vazia. —Nós estivemos em algumas missões juntos.
—Você é um mercenário?
—Eu era. Agora não faço mais isso.
Sentaram-se em silêncio enquanto o barman recarregava a
caneca e caminhou até o outro lado do bar.
Zadox tomou um gole de cerveja e voltou seu olhar para o
Daamen.
—Você tem o olhar de um homem que passou através de um
espremedor. Reya é a única que conheço que pode fazer um homem
olhar e sentir-se assim.
Uma onda de ciúmes levantou-se dentro de Maverk.
— Exatamente quão bem você a conhece?
Capitulo 19
Um longo dedo marrom rodava em torno da borda da caneca.
—Não muito. Ela manteve seus pensamentos e sentimentos
para si mesmo. Eu a vi quando as probabilidades estavam contra nós,
sem medo e calma, a frieza caia sobre ela como um manto, isolando-
a do resto de nós. Muitos a maldiziam pela frieza, mas isso manteve
muita coisa incólume.
—Você desistiu de ser um mercenário. Por que é que ela não
consegue?
—As coisas que vemos, nos afetam de diferentes maneiras,
meu amigo. As coisas que eu vi me fizeram feliz por permanecer em
áreas civilizadas.
—Se você pode chamar esse inferno de 'civilizado'.
—Comparado a alguns lugares, esse inferno é a nata da
civilização. Você não sabe o que é civilização até que tenha ido para
as profundezas do próprio inferno, com o cheiro de sangue e medo,
os sons de gritos e a histeria. — Seu olhar era desolador. —As
pessoas dizem que a guerra é comerciar o horror. Há algumas coisas
piores.
—Tais como?
—As coisas que podem levar um homem a loucura... ou uma
mulher.
Um calafrio subiu pela espinha de Maverk.
—O que você está me dizendo?
—Eu acho que você sabe.
—O horror que você fala que viu, Reya viu também, não é? —
Ele inclinou-se com urgência. —O que vocês viram?
Seus olhos cresceram sombreados.
—Não cabe a mim dizer.
Frustrado, Maverk ralou,
— Segredos, Zadox? Você oferece-me a resposta para o seu
segredo... só para agora, negar-me? O que é isso?
—Segredos são apenas para o dono revelar. Minha intenção não
era a raiva, mas para tentar ajudá-lo a entender e talvez para avisá-
lo.
—De quê?
—Segredos podem deixar uma pessoa insana. Já ouvi falar das
missões de Reya e como agiu sobre elas, pondo em perigo a si
mesmo através do voluntariado, insistindo em ser o batedor,
liderando os ataques, sendo a primeira sobre o muro. Não lhe disse
nada?
Seu couro cabeludo arrepiou.
—Você está dizendo que ela é suicida? Insana? — A raiva o
encheu. —Maldito seja, como se atreve...
—Acalme-se, amigo. — Zadox ergueu a mão num gesto de paz.
—Ela não é uma lunática.
—Então o que diabos você está dizendo? Você fala por enigmas
e eu estou doente e cansado de enigmas e segredos!
—Simplificando, eu sei o que viu. Eu estava lá. Ela salvou
nossas vidas, mas é tudo que posso dizer. — Diante da carranca do
comerciante, ele balançou a cabeça. —Eu a respeito muito para
revelar um segredo que aqueles de nós que sobreviveram
compartilham. O que revelam sobre si mesmos, tudo bem, mas
ninguém vai dizer os segredos dos outros. Isso é para que eles o
façam.
—Então você não vai dizer. —a mandíbula de Maverk doía com
os dentes cerrados.
—Não. É a escolha de Reya, não minha.
—Maldição dos infernos! — Um punho enorme caiu sobre a
mesa, fazendo com que a cerveja das canecas chapinhasse ao longo
das bordas, bebedores nas proximidades olharam nervosamente para
ele.
—Para os sobreviventes, é como se estivéssemos condenado ao
inferno, — Zadox disse suavemente. —Eu lhe digo, Reya precisa de
um homem como você. Está claro para mim que você se importa
profundamente com a guerreira e você é o único que pode salvá-la.
—Salvá-la? — Seu olhar aguçou. —Ela está em perigo?
—De si mesma. No ano passado ela estava andando no limite.
—Você está falando por enigmas novamente. Primeiro você diz
que ela não é insana...
—Ainda não. Eu acho que Dana tem ajudado a manter a sua
alma e mente junta. Agora que ela se foi, só você pode ajudá-la.
—Maldito seja! Que diabos está acontecendo?
O rosto belicoso tornou-se intenso.
—Isso é tudo o que vou lhe dizer. Dos onze sobreviventes, três
tiraram as suas próprias vidas, dentro de dias após a missão
pesadelo, dois estão insanos, um se refugiou na feitiçaria como um
meio de proteção, dois se transformaram em seguidores da lei e
foram presos, para eles, é a segurança. Um ainda percorre a galáxia,
eu moro aqui no que, para mim, é a civilização e segurança, Reya
escolheu lutar ferozmente, enfrentar a morte sem se preocupar
consigo mesma. Ela desafia a morte. Ela atreve-se.
—Ela anda no limite — Maverk sussurrou com o entendimento
horrorizado.
—Sim. Aqueles que ainda não estão insanos andam na borda,
até encontrarem uma maneira de lidar com isso, ou um jeito de se
afastar da beira da insanidade.
—Meu Deus. — Uma breve panorâmica de sua guerreira veio à
sua mente. —Como posso ajudar se você não vai dizer-me o
segredo? Se você realmente quer ajudá-la, ajude-me!
—Se eu pudesse faria, acredite em mim, mas seria de nenhuma
ajuda para ela. Ela precisa falar sobre si mesma. Desculpe-me, eu sei
que é difícil de entender.
—Diga o seu preço, Zadox Eu não sou um homem pobre...
—As riquezas não são boas para mim. — Ele sorriu levemente,
com pesar. —De que vale o dinheiro ou pertences a um homem que
caminha na borda?
Maverk poderia tentar outra vez, mas uma figura desengonçada
e magra irrompeu pela porta, olhou selvagemente, viu o comerciante
e entrou precipitando de um lado ao outro, arrastando para parar e
conseguindo evitar a colisão com a mesa.
—Reya! — Cisco ofegou. —Ela está na Brroca!
—O quê?
—Ela está na Brroca! Ela vai ser morta, com certeza!
Maverk saltou, enviando a cadeira para trás, resvalando até
bater contra a parede.
—Ela é louca? — Tão logo as palavras saíram de sua boca, uma
mão fria apertou o seu coração e seu olhar voou para Zadox. À beira
da loucura. Ela poderia estar buscando a morte?
Em um único impulso, ele saltou por cima da mesa e caiu no
meio da multidão, arremessou os frequentadores da taberna que
voaram em todas as direções. Ignorando as maldições, ele tratou de
segui-lo, tudo o que pensava era que Reya estava em um abismo pior
do que o inferno que ele conhecia.
Em Brroca não havia misericórdia para ninguém. Invasores
eram mortos, barbaramente espancados, estupradas e sua moça
estava lá. Ele tinha que encontrá-la e protegê-la.
—Maverk, espere por mim! — Zadox correu atrás dele, mas era
óbvio que não ouviu ou ignorou, mas a distância entre eles
aumentava a cada passo.
Maverk entrou pelo beco que levava para Brroca e entrou na
rua para ver uma cena que transformou o seu sangue em gelo.
Um grande círculo de bandidos com tochas crepitantes, que
lançavam luz sobre as duas pessoas frente a frente, uma segurando
um laser, a outra com os braços esticados para os lados, com suaves
cachos vermelho-ouro voando na leve brisa. Espalhados aos seus pés
estavam corpos inconscientes.
—Puxe o gatilho, homem. — As palavras eram claras no ar
fresco da noite, ousadas, instigantes.
—Não! — Maverk rugiu, correndo para frente e agarrando o
laser em seu quadril.
Reya e o fora da lei com cicatrizes, viraram rapidamente.
—Maverk! — Seus olhos se arregalaram incrédulos.
—Seu campeão, guerreira? — perguntou o homem marcado
com um toque de diversão.
Ele não baixou seu laser, sabendo que os assassinos já tinham
em mãos as suas armas, destinadas ao gigante Daamen, esperando
apenas pelo seu sinal.
Não, Maverk não pode estar aqui! Reya moveu o seu olhar do
comerciante, se aproximando rapidamente, para o fora da lei. A
morte misericordiosa estava tão perto! Um fim ao pesadelo contínuo
que nunca a deixou dormir sossegada! Para tê-la arrancada em seu
último segundo, era demais!
Agarrando a mão do bandido, ela puxou a ponta do laser contra
o seu peito.
—Puxe o gatilho, maldito!
—Eu vou matar você, se você fizer isso! — Maverk rugiu.
—Atire! — ela rosnou.
As sobrancelhas do homem marcado se levantaram com
curiosidade.
—Você tem um desejo de morte, guerreira.
Derrapando até parar ao lado dela, Maverk ergueu a laser para
o assassino.
—Ponha sua arma para baixo agora!
—Ah, o comerciante Daamen. Ela significa algo para você?
Reya podia sentir a situação mudar.
—Não, não quero dizer nada a ele! Isso é entre você e eu!
—Não a machuque. Qualquer argumento que você tem com ela,
você tem comigo!
—Tudo bem, você pode morrer primeiro. — O laser virou na
direção dele.
A ação e as palavras penetraram à nuvem de pânico e
desespero que enchiam a sua mente. O laser agora estava sobre o
comerciante, o perigo que ele colocou-se, por ela, perfurou a sua
mente.
Com os olhos brilhando, ela atirou-se entre os dois homens.
—Esta é minha luta, assassino. Você vai machucá-lo sobre o
meu corpo morto.
—Se é isso que você quer. — Preguiçosamente, ele encolheu os
ombros.
Um braço musculoso envolveu em torno de sua cintura e
começou a puxá-la.
—Reya, não!
—Pare! — uma voz rugiu.
O assassino olhou em volta, com genuína surpresa em seu
rosto.
—Zadox?
A multidão caiu para trás com um murmúrio, quando Zadox
pisou em seu meio.
—Abaixem as suas armas.
Maverk manteve seu olhar sobre o homem marcado.
—Você conhece este assassino?
—Sim. Venon abaixe sua arma. Estes dois são meus convidados
especiais.
Lentamente, o laser baixou, mas Maverk permaneceu
apontando para Venon.
—Comerciante, abaixe a sua arma — Zadox ordenou.
—O que você sabe deste lugar e dessas pessoas?
—Eu sou o líder aqui. Ninguém vai machucar você ou Reya.
Reya lentamente virou a cabeça para encontrar os seus olhos
azuis, a cor foi drenada de seu rosto.
—Você. — A palavra era um sussurro.
—Faz algum tempo.
—Você não deveria ter impedido. — Seu tom baixo estava
acusando. —Você, de todas as pessoas, devia entender.
Ele olhou para a multidão de curiosos e sacudiu a cabeça.
—Saiam daqui.
Em poucos minutos a rua estava deserta, os sem
conhecimentos foram retirados, ele voltou seu olhar para a guerreira
com o braço do comerciante ainda ao redor da sua cintura.
Maverk podia senti-la tremer. Ele queria esmagá-la contra ele,
com alivio por ela estar viva. Ele queria acalmá-la e levá-la para um
lugar privado para tentar dar sentido ao que tinha acontecido. Ele
queria sacudi-la e gritar com ela por ser tão estúpida. Doía pensar
que ela preferia a morte a confiar nele. Era como se uma estranha
estivesse diante dele.
—Eu não podia deixá-la morrer — respondeu Zadox,
calmamente.
—Maldito seja! Eu estava tão perto, tão perto! — A agonia
soava em sua voz.
—Sim, você estava.
—Por que você interferiu? O que lhe dá o direito?
A empatia estava gravada na sua face belicosa.
—Você salvou as nossas vidas.
—Será que salvei? Digo que eu amaldiçoei a todos nós!
—Talvez sim, talvez não. Você tomou a decisão que achou que
devia e nós vivemos hoje por causa disso.
Selvagemente ela se afastou do braço de Maverk.
—Vive? Este é o inferno!
—Reya... — Maverk estendeu a mão para ela, mas ela
rapidamente se afastou, com os olhos cheios de fúria, impotente e
com desespero. —Moça, por favor...
—Não, Maverk — ela respondeu asperamente. —Não
argumente comigo. Eu não valho a sujeira debaixo dos seus pés.
—Moça, ouça...
—Para quê? Para os gritos durante a noite? O cheiro de terror e
derramamento de sangue, o frio da morte e da decomposição?
Seus olhos brilhavam descontroladamente e, de repente, ele
temia que ela realmente deslizasse para a loucura.
—Moça, acalme-se.
Ela olhou para ele, com uma expressão assombrada no rosto.
—Você não entende. — Seu olhar moveu para Zadox, então ela
se virou e fugiu.
—Reya! — Maverk gritou. —Pare! — Ele correu atrás dela.
—Ela precisa de você, comerciante.
As últimas palavras de Zadox o seguiram, enquanto ele
perseguia Reya, mas não poderia reconhecê-las. Ele se esforçava
para alcançá-la.
Desespero e desesperança emprestaram asas aos seus pés, ela
correu pelas ruas empoeiradas e para fora do assentamento, fazendo
seu caminho para a nave. Saltando os três últimos passos, ela
deslizou para dentro e correu para cabine de dormir, para pegar a
mochila no chão.
A sua respiração estava ofegante e sentiu como se o seu
coração fosse explodir em seu peito.
A porta abriu e ela se virou de costas para a parede.
Maverk olhou do seu rosto perturbado para a mochila que ela
segurava.
—Onde você está indo?
—Embora.
—Não, você não vai.
—Não me diga o que fazer! Deixe-me sozinha! Eu não preciso
de você!
Vendo sua agonia, seu coração se apertou.
—Você precisa de alguém, e esse poderia muito bem ser eu.
—Não, não pode ser você! — Arremessando sua mochila sobre
a cama, ela fechou os punhos. —Você me entende?
—Eu não entendo...
—Você não entende nada! — Lágrimas brilhavam em seus
olhos. —Nada!
Ele estava realmente preocupado agora. Ele nunca a tinha visto
tão agitada e fora de controle. Sua voz tremia, seu corpo tremia
violentamente e a histeria cortava as suas palavras.
Lentamente ele se aproximou dela, falando suavemente.
—Reya, você me conhece. Apenas me diga o que a incomoda, o
que...
—Eu não posso! — Ela começou a chorar.
Horrorizado, ele observou-a cobrir o rosto com as mãos e
deslizar para baixo da parede até sentar no chão.
Uma vez lá, ela atraiu os joelhos ao peito, abraçou-os e
desenhou-se em uma bola de soluço e miséria.
—Reya, meu amor. — Caindo de joelhos ao lado dela, ele
pegou-a em seus braços e abraçou-a.
Virando-se para ele, ela escondeu o rosto em seu pescoço,
soluços incontroláveis rasgavam o seu corpo.
—Ah, moça. — Sua garganta estava apertada. —Será que eu
poderia pegar a sua dor e fazê-la minha?
—Não, — ela engasgou. —Nunca deseje isso, Maverk. Eu não
desejo a minha dor nem para o meu pior inimigo.
Se ao menos ele pudesse descobrir o segredo que rasgava a
alma dessa guerreira. Fechando os olhos, ele descansou seu rosto
sobre os cachos macios.
Ela se apertou contra ele, enquanto a tempestade rugia dentro
dela, chorando a sua dor e agonia escondida, livremente na pele
quente do pescoço dele, enquanto ela inalava o seu cheiro, limpo e
masculino com cada respiração, estremecendo.
Era como se a sua limpeza e calor a penetrasse, atravessando
cada parte do seu corpo, acalmando-a e fazendo-a se sentir segura.
Ele murmurou palavras de conforto e segurou-a firmemente,
com uma mão acariciando as tranças de seda.
O tempo passou e, gradualmente, os soluços diminuíram até
que apenas a respiração e um estranho estremecimento ondulassem
através dela. Ainda assim, ele segurou-a em silêncio, ela se enrolou
em seu calor e solidez reconfortantes.
Finalmente, ela se mexeu, inclinando a cabeça para trás para
olhá-lo e ele ficou aliviado ao ver que a selvageria havia sido apagada
de seus olhos.
Ela entendeu o olhar inquiridor.
—Não se preocupe. Eu não estou insana, ainda.
—Assim eu vejo, mas me preocupou tremendamente lá, por
algum tempo, moça. Você estava no limite.
—Zadox falou com você.
—Sim, mas eu não sei muito mais do que antes, exceto que ele
compartilha o seu segredo e que destruiu outras vidas. — Uma mão
acariciou o seu rosto molhado de lágrimas. —E você quase se
destruiu esta noite. Por compartilhar ele irá carregar o fardo também.
Compartilhe comigo.
Suspirando e cansada, ela começou a se afastar.
Ele reforçou seu poder, impedindo sua retirada.
—Reya, eu cuido de você. Seja o que for nunca vou mudar.
Hoje à noite você conseguiu retornar do limite, mas, e amanhã ou na
próxima semana?
—Maverk, se você realmente se importa não vai perguntar-me
de novo.
—É por que me importo que eu pergunto.
Uma lágrima deslizou pelo seu rosto.
—Se você soubesse, seu cuidado se voltaria para ódio. Minha
irmã iria se afastar de mim.
—É tão ruim, moça?
Lentamente, ela virou-se até que se ajoelhou diante dele.
—É uma mancha em minha alma e está me comendo como
ácido. É uma mancha que não deve se espalhar para aqueles a quem
amo.
—Deixe-me ajudá-la a lavar a mancha para longe.
A voz suave e persuasiva, acompanhada por um carinho suave
dos dedos calejados na sua bochecha, a fez engolir um nó na
garganta.
—A mancha está lá para a eternidade. Destrói-me e não vou
permitir que ela destrua a vida daqueles que amo. Não, Maverk, é o
meu segredo e só meu. Por favor. — Ela estendeu a mão para colocar
a mão sobre a dele, que repousava tão gentilmente em seu rosto. —
Não pergunte mais.
Ele estudou-a em silêncio, o seu olhar tocou o seu coração, e,
lentamente, ele concordou.
—Muito bem, se isso é o que você quer, mantenha o seu
segredo, por enquanto. Mas se não desejar ferir sua irmã, você deve
estar com ela no nascimento de seu primeiro filho.
—Maverk...
—Não, escute-me. Se você quiser que ela pense que está tudo
bem com você, vá visitá-la e desfaça seus medos e curiosidade, pois
ela desconfia que algo esteja errado.
—Eu não sei, eu...
—Basta visitar por um tempo curto, só para colocar as suas
preocupações para descansar. A menos que você queira que ela se
preocupe mais ainda.
Seus ombros caíram com a derrota.
—Muito bem. Depois de encontrarmos Mara, iremos ver Tenia.
Seu sorriso era quente de aprovação.
—Essa é a melhor decisão que você toma em um longo tempo,
moça.
—É?
—Sim, é. — Antes que ela pudesse mudar de ideia, Maverk se
levantou e puxou-a suavemente com ele. —Agora, é tempo de
vermos as suas feridas.
Reya olhou para si mesma.
—Eu vou para o chuveiro primeiro.
—Enquanto você faz isso, eu vou pegar os primeiros socorros.
Sentindo-se sem energia e movendo-se quase
automaticamente, ela tomou banho e se vestiu com uma camisola
limpa.
Maverk olhou para cima quando ela entrou na cabine de dormir,
observando o cansaço em seu rosto. Ele estava aliviado ao ver que as
barricadas de gelo ainda não tinham sido levantadas novamente.
—Sente-se, moça, vou cuidar da ferida no seu braço em
primeiro lugar.
Ela sentou-se calmamente enquanto ele aplicava antisséptico e
um curativo autocolante no corte. Ele se perguntava no que ela
estava pensando enquanto olhava para o chão com uma expressão
distante.
Ela voltou à atenção, quando ele falou de novo.
—O quê?
—Deite-se sobre o seu estômago e vou colocar um pouco de
antisséptico no seu machucado na parte de trás da coxa. O cascalho
arranhou você.
Normalmente ela daria alguma resposta, e ele se encontrou
olhando para ver um traço da velha Reya, estava tênue, mas
perceptível. Ele reconheceu-a, com uma mistura de alívio e tristeza.
Alívio por que significava que ela estava de volta da beira da loucura,
tristeza por que a velha Reya, fria e arredia, estava de volta. Reya
agora estava aberta, mais suave e mais acessível.
Quando ele terminou, ela cuidadosamente se levantou, para
sentar-se ao lado dele. Seus olhos piscavam quando a ponta do seu
dedo levemente tocou o canto da boca, traçando o pequeno inchaço.
—Está muito dolorido? — ele perguntou suavemente.
—Já tive pior. — Chegando a tocá-la, ela pegou a sua mão na
dela.
—Vale à pena, Reya? — Seu polegar esfregava as costas de sua
mão em um gesto suave, mas muito íntimo. —Toda essa dor física
que você se entrega completamente?
—Siga o meu conselho, vá para casa antes que eu o destrua.
—Como? — Ele apertou um beijo nas costas de sua mão,
mantendo os olhos em cima dela.
Um lampejo de calor varreu-lhe da mão ao braço, com o toque
de seus lábios.
—Eu feri você esta noite, com as coisas que eu disse.
—Assim como eu. — O remorso escureceu o seu rosto bonito.
—Eu fui cruel, disse coisas que...
—Não importa.
—Importa. — Um músculo se contraiu na bochecha forte. —
Responda-me com sinceridade. Será que a minha crueldade incitou
você a fazer o que fez hoje?
Ela estudou-o em silêncio e seu coração partiu-se. Afastando-
se, deixou cair sua mão. Levantando-se, ele disse asperamente, com
auto-aversão latejante em sua voz,
— Foi sim. Eu quase a matei esta noite com a minha selvageria.
Ele não tinha tomado mais de dois passos longe dela, quando
foi parado, ele olhou para mão dela em volta do seu pulso.
—Vire-se e olhe para mim, Maverk. — As palavras eram baixas,
mas convincentes, fortes em sua quietude.
Ele fez como ordenado, olhando para baixo, para o belo rosto
que não era nem frio nem distante. Em vez disso, estava suave e não
havia uma expressão calorosa na calma dos olhos claros.
—Maverk, você não têm um osso selvagem em seu corpo, o
que você disse é verdade...
—Foi uma mentira dita com a raiva!
Seu sorriso era doce e triste.
—À sua maneira, mas como você disse, foi dito com raiva, as
mesmas palavras que eu lhe disse. Você é tão bom, amável e gentil,
muito diferente de mim. Você é o sol da minha lua, a luz para as
minhas trevas. Somos tão... opostos, bonitão. — O termo foi dito
com afeto, um fato que ele não perdeu.
—Talvez seja sim, moça. — Ele tomou-lhe as mãos. —Mas à
noite e o dia estão juntos.
—Você é otimista. Eu sou pessimista. Somos opostos.
—Ah, mas os opostos se atraem.
Eles olharam um para o outro e a sala estava cheia de calor, de
paz.
Maverk empurrou as mãos para cima dos seus braços e puxou-
a para ele. Ele começou a se curvar em direção a ela, quando o seu
dedo na boca dele o deteve. Ele olhou interrogativamente para ela.
—Esteja avisado, Maverk, — disse ela tristemente. —Aconteça o
que acontecer esta noite, amanhã virá sem nenhuma promessa. Será
como se esta noite nunca tivesse acontecido.
—Então eu vou pegar o que posso esta noite.
—Isso vai tornar muito mais difícil para você quando partirmos.
Seria mais sábio deixar-me agora.
Sua resposta foi pegá-la em seus braços e descer a boca para
cobrir os seus lábios.
Deslizando seus braços em volta do pescoço dele, Reya
apertou-se contra ele, retribuindo seu beijo.
Parte de sua mente gritava que era loucura dar-se para este
comerciante loiro, que ela iria se arrepender no dia seguinte. Seu
coração pediu para tomar o que ele oferecia, para tomar o seu
carinho e gentileza, e dar-lhe seu amor.
Ela o amava e reconheceu-o profundamente dentro de si,
saboreando-o, esta noite teria que durar para a eternidade.
O som de um alarme penetrou sua névoa de desejo e
interrompeu o seu beijo, separando as suas bocas.
—Merda, alguém está do lado de fora da nave, — Maverk
amaldiçoou ao mesmo tempo em que Reya tateou para o inexistente
laser em seu lado. —Intrusos!
A diferença em suas reações atingiu-o de uma só vez, por
alguns segundos, um olhou para o outro, em silêncio.
Diante de seus olhos ela mudou, a maciez deu lugar à dureza e
o calor ao frio. Em poucos segundos a amante apaixonada foi
substituída pela guerreira de gelo.
—É melhor ver quem é. — Virando-se, ela estendeu a mão para
a mochila. —Vou me vestir.
Mentalmente amaldiçoando o alarme, Maverk girou nos
calcanhares e correu para a porta de entrada. Na cabine de controle,
ele silenciou o alarme e a tela de segurança mostrava um homem
alto, desengonçado e jovem, confortavelmente relaxado contra a
lateral da nave, perto da porta.
—O que você quer? — Maverk ladrou.
Cisco saltou e fez uma careta na porta fechada.
—Estou aqui para falar com Reya.
—É mesmo? Tem alguma pessoa com você?
—Não, é uma boa maneira de cumprimentar-me! Você quer
informações sobre Vinca ou não?
Agora ele queria estar na cama, enredado nos membros de
certa mulher. Ele estava resmungando para si mesmo.
—Já estarei aí.
Cisco cruzou os braços teimosamente.
—Eu prefiro conversar com Reya.
—Você vai falar com quem chegar a você em primeiro lugar e
fique satisfeito!
—Suscetível. Interrompi alguma coisa, não é?
Foi o suficiente. Ele ia matar o pequeno bastardo choramingão!
Ele foi para a porta, apenas para vacilar quando viu Reya passar
rapidamente, ainda amarrando o laço de seu colete. Debaixo do
braço, ela levava o laser.
—Nenhuma vantagem em matá-lo até que tenhamos a
informação que procuramos bonitão. Ele não é bom para mim morto.
A mercenária estava de volta.
Capitulo 20

Reya desceu os degraus, estudando a clareira antes de


concentrar a sua atenção sobre Cisco.
—Bem?
Cautelosamente, ele olhou para o grande comerciante atrás
dela, vendo o ardor nos olhos castanhos.
—Ele é seguro?
—Se você tiver informações, dê-me. Eu não tenho tempo a
perder.
Ele deu de ombros, mas manteve os olhos sobre o comerciante
carrancudo.
—Muito bem. Vinca está hospedado na taberna Snoring Bore,
quarto oito.
—Quem lhe disse?
Ele sorriu.
—Eu não vou revelar minhas fontes. Não seria honroso para a
mulher envolvida.
—Qualquer pessoa sabe?
—Claro que não. — Ele deu um olhar ofendido.
Olhos frios o avaliaram exaustivamente, em seguida, ela
balançou a cabeça, virou-se e afastou.
—Hei! — Cisco correu atrás dela. —E o meu pagamento?
—Se voltarmos você será pago, se não...
—Droga! — ele amaldiçoou, parou e chutou um pedaço de
grama. —Você não confia em mim?
—Não. — Maverk passou por ele com um sorriso de lobo. —
Espere perto da nave, se lhe agradar.
—Isso não. Posso ir para dentro e esperar?
—Você poderia tentar, mas o sensor está ligado e está
programado apenas para Reya e minhas auras. — A presunção e
satisfação enchiam a sua voz profunda.
Com palavrões, Cisco se afastou da nave e jogou-se sobre a
grama ao lado dela, sob o brilho do céu noturno.
Emparelhando o passo ao lado de Reya, Maverk olhou de
soslaio para a expressão de perfil e suspirou.
—Poderia ser melhor se você ficasse aqui. — As palavras foram
cortadas.
—Eu vou com você, Reya.
—Pode ser uma armadilha.
—Então nós vamos juntos.
Ela virou a sua cabeça e encontrou seu olhar repleto, ele viu um
lampejo de tristeza em seus olhos antes que a frieza os enchesse
novamente.
—Você é um tolo.
—Para você, meu doce, eu ficaria feliz em ser um.
Eles continuaram o resto da caminhada em silêncio.
A música tocava alto na taverna Snoring Boar e os bêbados
habituais enchiam o salão e fora dele. Reya passou e desviou para o
beco ao lado dela, verificando a área atrás, antes de ir para a escada
traseira, Maverk ia atrás dela. Os degraus de madeira rangeram sob
seu peso e ela franziu a testa para ele.
Ele recebeu o seu olhar suavemente. Não havia como deixá-la ir
sozinha, independentemente do ruído que fizesse.
Eles chegaram ao topo e ele estendeu a mão para a maçaneta
da porta. Ela agarrou seu pulso e balançou a cabeça, apontando para
a janela da varanda raquítica ao lado deles. Ele ergueu as
sobrancelhas na consulta e ela gesticulou novamente. Desta vez, ele
entendeu a mensagem. Eles iam pela janela.
Agilmente Reya subiu no corrimão da escada e saltou, pegando
a varanda. Por um segundo ela balançou no ar antes de se puxar
para cima e sobre si mesma, ela caiu levemente nas sombras ao lado
da janela iluminada.
Maverk olhou para a estrutura frágil e duvidosa, ela balançou a
cabeça, levantando a mão em um gesto de espera. Ele fez uma
careta. Ela honestamente esperava que ele esperasse? Se fosse uma
armadilha... — seus olhos se arregalaram quando ela escorregou
através da janela aberta e desapareceu de vista.
A bruxinha tinha ido sem ele! Seu primeiro instinto era disparar
através da porta, caso fosse uma armadilha, encontrá-la, mas o bom
senso prevaleceu, ele tentou cuidadosamente a maçaneta da porta.
Ela funcionou de forma fácil e a porta se abriu em uma sala, deserta
e iluminada.
Entrando silenciosamente, encontrou a porta do quarto que ela
entrou e, como suspeitava, era o número oito. O silêncio veio de
dentro e ele debateu sobre se devia ou não entrar por ela.
Ele foi pego de surpresa quando a porta se abriu para mostrar
Reya, que indicou com a cabeça para ele entrar. Um dedo foi
levantado até os lábios. Ele entrou e ela fechou a porta atrás dele.
O quarto era de gesso, pequeno, com paredes sujas
descascadas. Uma mesa bamba estava no canto com um pequeno
banquinho embaixo dela. Sobre a cama, no canto, jazia um homem
virado para a parede, as cobertas estavam puxadas até a testa.
Pegando a adaga no alto de sua bota, Reya se aproximou dele.
Olhando para fora da janela, para o beco, Maverk viu que tudo
estava quieto, olhou de volta para Reya e descobriu que ela havia
parado perto do pé da cama e estava estudando o homem com os
olhos apertados.
Algo estava errado, mas o quê? Ele olhou para a figura inerte,
de perto. O que estava errado? Ele ainda estava, aparentemente, não
oferecendo nenhuma ameaça. Então ele percebeu. O homem estava
muito quieto.
Pegando a ponta coberta, Reya puxou para trás. Ambos
olhavam, em silêncio, o corpo morto.
Era Royce, os olhos arregalados e congelados de medo. Suas
duas orelhas tinham desaparecido e o sangue seco escorria em torno,
para o colchão embaixo dele.
Maverk sentiu o estômago apertar quando viu que da cintura
para baixo ele tinha sido esfolado. Seus olhos subiram para Reya e
viu o reconhecimento atordoado neles.
—Reya? Você está bem?
A sua voz rompeu o horror doente e ela deixou cair a coberta
de volta,
— Você viu alguém no corredor?
—Não, estava vazio. — Ele transferiu-se para ficar ao lado dela.
—Você reconhece essa mutilação?
Sem responder, ela caminhou até a porta e abriu-a. Conforme
ela fazia isso, um envelope esvoaçou para o chão de onde ele tinha
sido anexado à porta. Espiando para o corredor, ela encontrou-o
vazio, como suspeitava. Ela pegou o envelope no chão.
—Isso não estava aí antes. — Maverk caminhou para ver
curiosamente, enquanto ela abria e puxava uma mecha de cabelo,
preto e encaracolado, de dentro dele.
Sombriamente ela entregou a ele.
—É de Mara.
—Como você pode ter tanta certeza?
—Confie em mim.
—Há mais alguma coisa no envelope?
Retirando uma folha de papel, ela desdobrou.
Maverk olhou por cima do ombro e leu as palavras em voz alta.
“Se você quer que ela volte inteira, você sabe para onde ir”.
—Onde fica isso?
Com os olhos vazios, esmagou a nota na mão.
—Vaksal.
—Vaksal? Não é desse lugar que este homem, Vinca, era?
—Sim. Vamos.
Ele a seguiu, fechando a porta atrás dele. Alguém acharia
Royce. Além disso, era tarde demais para ajudá-lo.
Uma vez na rua principal, ele andou ao lado dela.
—O que é isso tudo?
—Eu não tenho certeza.
—Você está mentindo.
—Pela primeira vez, bonitão, eu não sei. Suspeito, mas não
estou totalmente certa.
—Então me diga o que você suspeita.
—Eu fiz muitos inimigos. Acho que alguém procura vingança.
—Quem?
O barulho súbito de riso infantil veio da escuridão e ela girou ao
redor, seus olhos procurando, boca seca, mão no cabo do laser.
—Reya? O que há de errado? — Maverk olhou para a escuridão,
alarmado. —O que você ouve?
O riso infantil veio do lado oposto da rua e Reya girou para
enfrentá-lo. A luz que saia de uma taverna próxima mostrou
nenhuma cor em seu rosto.
—Reya, são apenas crianças. — Ele, gentilmente, pegou seu
braço, perguntando se ela estava à beira da loucura de novo.
Sentindo o pulso batendo descontroladamente em seu pulso, ele
franziu a testa preocupado.
De repente, uma criança esfarrapada disparou para fora de um
beco nas proximidades, gritando,
— Eu vejo você! Eu vejo você! — Outra criança apareceu do
lado oposto e rindo, correram pela rua escura e empoeirada.
Reya estava com a respiração ofegante. Estava tudo bem, tudo
estava bem. Não era quem ela pensava.
—Reya, fale comigo! — Pegando o rosto dela em suas mãos,
Maverk forçou-a a olhar para ele. —Qual, inferno, é o problema?
Quem você achou que eles eram?
Fantasmas. Fantasmas do passado assombrando-a. Engolindo,
ela disse em voz alta:
— Eu estava enganada. Voltemos para a nave.
—Reya...
Ela puxou o pulso da sua mão.
—Não me pergunte.
Sabendo que não receberia qualquer resposta, ele sabiamente,
não disse mais nada.
De volta à nave, Cisco fez uma careta para eles.
—Vocês demoraram. Onde está meu dinheiro?
—Você me informou mal, — Reya disse friamente. —Vinca não
estava lá, só um homem morto.
—Um homem morto? Quem?
—Seu amigo, Royce. — Cavando a bolsa em sua cintura, ela
retirou algumas moedas. —Cem dinnos, Cisco. Compre um bilhete
para fora daqui, se você valoriza a sua pele.
—O que está acontecendo? — Cisco olhou para Maverk com
perplexidade.
O comerciante deu de ombros.
—Esse é o seu negócio, não é, saber o que está acontecendo?
—Então por que eu deveria sair?
—Nenhuma razão. — Roçando-lhe, Reya começou a subir os
degraus da nave. —Adeus.
Ele coçou a cabeça, deu de ombros e foi embora, resmungando
em voz baixa sobre as mulheres.
Maverk a seguiu até a cabine de comando.
—Você pode definir o rumo para Vaksal? — Reya consultou.
—Seria melhor começar a pesquisa por lá. — Ele sentou-se em
uma das cadeiras. —Nós só vamos abastecer pela manhã, quando os
servidores do espaço estão abertos. Quanto mais cedo chegarmos lá,
mais cedo poderemos pegar Mara e sair.
—Não vai ser tão fácil, bonitão.
—Eu nunca pensei que seria. Onde é exatamente este planeta?
Distraidamente, ela traçou a tela do radar.
—Bem no meio do Setor Outlaw. Aqui.
Maverk colocou as coordenadas, em seguida, sentou-se na
cadeira e observou-a. A expressão distante em seus olhos era tão
diferente dela. A guerreira não era do tipo de ser tão preocupada.
De repente, ela balançou a cabeça e começou a desatar o
coldre do laser.
—Você sabe a localização em Vaksal? — perguntou ele.
—Eu suspeito que seja Eros. — Ela se virou e saiu da cabine.
Ele sentou-se e olhou para os controles. Ela conhecia esse
lugar. Não era de estranhar, ela conhecia muitos planetas no Setor
Fora da Lei. Ela lutou em muitos deles.
Ele lembrou-se de sua reação ao ouvir o riso das crianças no
assentamento. Ela estava quase em pânico. E o fora da lei esfolado.
Lembrou-se do pesadelo que tinha tido, revivendo uma parte de seu
passado, que tinha a ver com o riso infantil e pessoas sem pele. Ele
ficou gelado. Ela tinha visto crianças esfoladas vivas? Ela tinha falado
de uma chacina. Mas isso era o suficiente para fazê-la andar a beira
da insanidade? Ela tinha visto e vivido muitos horrores em seus vinte
anos. Será que isto era um horror, mas também muitos? Ele apenas
tinha que estar lá por ela, na próxima vez que oscilasse à beira da
loucura. Ele ficou gelado novamente. Quando seria isso? Por
enquanto ela parecia bem, e mais tarde?
A sensação de enjoo apoderou-se dele. Ele pensava que a única
coisa que tinha de fazer era fazê-la apaixonada por ele. Ele não
contava com o fio da navalha que ela andava.
Ninguém sabia.
Um barulho repentino o assustou, era o som de vidro
quebrando. Reya! Saindo da cabine de controle, correu pelo corredor
e derrapou em uma parada abrupta no interior da cabine de estar.
—O que há de errado? Você se sente bem? Você machucou-se?
Ela olhou para cima, de onde estava ajoelhada no chão,
apanhando os cacos de vidro.
—Eu apenas deixei cair um copo. Ele escorregou pelos meus
dedos.
Ajoelhando-se à sua frente, ele começou ajudá-la a recolher os
cacos quebrados.
—Aqui, eu vou fazê-lo.
—Eu posso fazê-lo.
—Você já teve bastante esta noite. Não faça isso tão difícil ou...
— Ele parou.
Reya ficou tão quieta que ele olhou para cima, para vê-la
olhando para ele com uma expressão peculiar.
Imediatamente ele chegou até ela.
—Moça? O que há de errado? Você se sente bem?
Ela sentiu como se tivesse sido esbofeteada.
—Você acha que estou totalmente perdida, não é?
—Não, só estou preocupado...
—Não me toque! — ela sussurrou, desenrolando lentamente
para ficar de pé. —Minha loucura pode ser contagiosa.
Ele pôs-se de pé.
—Você não é louca.
—Por que você está tão preocupado com o que sinto, de
repente?
—Eu sempre fui preocupado com você!
—Mas isso é diferente, não é? Você me viu chegar à borda uma
vez e agora está se perguntando quando vou fazê-lo novamente, não
é? É por isso que correu até aqui. Você pensou que eu tinha
enlouquecido de novo.
Um rubor surgiu no rosto forte, com a verdade de suas
palavras.
—Reya, eu sinto muito. É só que nunca vi você...
—Ficar louca? — ela terminou friamente. —Você nunca me viu
praticamente implorando a alguém para me matar e isso fez você
perceber o quão insana sou. Não é mesmo?
—Você não está louca!
—Quem você está tentando convencer, a si mesmo ou a mim?
Raiva frustrada penetrava em sua voz.
—Você pode me culpar por preocupar-me? Eu odeio ver você
sofrer!
—Então talvez devamos terminar o sofrimento agora mesmo. —
Ela se abaixou e veio trazendo um caco acentuado de vidro, que ela
colocou em sua garganta. —O que você acha? Devo acabar com o
meu sofrimento?
Ele empalideceu.
—Meu Deus, Reya! Coloque-o no chão, eu lhe imploro!
Com o lábio enrugado com o desgosto.
—Você realmente acredita que eu faria isso, não é mesmo? —
Ela jogou o caco sobre a mesa onde ele deslizou ao longo, antes de
parar. —Eu posso andar no limite, bonitão, mas não estou sobre a
borda o tempo todo. — Caminhando sobre o vidro, parou de ombro a
ombro ao lado dele. Virando a cabeça, ela olhou-o com olhos frios. —
Esta é a primeira e única vez que estive sobre a borda. Vou
assegurar-me se houver uma próxima vez, será onde você não possa
interferir. Eu odiaria perturbar a sua delicada sensibilidade.
As palavras o cortaram e ele olhou para ela.
—Sinto muito, Reya. Eu nunca quis machucá-la.
—Machuca-me? Não se preocupe bonitão, ninguém pode me
machucar. Eu sou minha própria e pior inimiga, lembre-se. — Quando
ele não respondeu, ela afastou-se, parando na porta para dar-lhe um
tiro de misericórdia.
—Maverk?
—Sim? — Ele engoliu o nó na garganta.
—Você me viu em um estado vulnerável hoje. Você é o único
que pode se gabar disso. Mas não vai vê-lo novamente.
As palavras bateram nele com a força de um punho de aço em
sua barriga e ele não teve que olhar para ouvir a traição em sua voz.
Ele a tinha visto em seu momento mais vulnerável, em sua
preocupação não tinha conseguido dar o apoio que ela precisava, a
sua confiança. Sua confiança teria dado a ela a força adicional que
precisava.
—Reya, por favor...
—Não peça. Eu não mereço. — Ela saiu abruptamente.
Olhando para a porta vazia, sua garganta trabalhou contra a
massa que a encheu. Ele havia falhado com ela. Ele não tinha
pensado na sua reação contra as suas ações, mas ele simplesmente
seguiu adiante, sem pensar.
Não tinha como ir para ela agora. Ela não estava com
disposição para ouvir. Tudo o que ele podia fazer era limpar e
maldizer a si mesmo por deixá-la para baixo do jeito que ele tinha.
Se ele não xingasse, iria chorar.

Espiando em torno da porta para a cabine de estar, ela viu


Maverk, com um livro em suas mãos, dormindo no sofá, como ela
esperava. Seria mais difícil de escapar, se ele estivesse acordado. Ele
tinha ficado na cabine de estar nas últimas três horas, desde o seu
confronto.
Ela se recusou a pensar sobre isso, a frieza caiu em torno de
suas emoções, tão certa como o manto escuro sobre seu corpo. Era
melhor assim. Ele iria procurar por ela no início, mas cansaria
rapidamente, especialmente agora que ele se perguntava sobre a sua
sanidade.
Esse era o menor dos seus problemas agora. Ela sabia que
estava de volta ao controle. Na verdade, se permitiu romper as suas
barreiras, cedeu à escuridão e foi buscar uma morte tão tola.
Não, quando ela tivesse que morrer, seria como planejado, com
uma espada na mão e o inimigo à sua frente, para morrer como uma
guerreira. Não se encolhendo e pedindo uma morte misericordiosa.
Se a morte a queria, teria que procurar por ela.
Nesse meio tempo, tinha uma menina para encontrar, alguém
que já poderia estar morta. Ir atrás de Mara poderia ser a última
coisa que fazia. Ela nunca sonhou em voltar a Vaksal, mas talvez este
sempre fora o seu destino. Agora tinha que chegar lá antes que
Maverk pudesse se organizar.
Pegando a mochila, foi até a cabine de comando, limpou as
coordenadas, desligou o computador e puxou o bloco de energia. Isso
iria manter Maverk abandonado aqui por um tempo. Não havia lugar
neste planeta abandonado para conseguir outro bloco de energia do
tipo que sua nave necessitava. Ela tinha certeza disso. Ela também
teria certeza que ele não conseguiria localizá-la no tracker viscomm.
Puxando um pequeno pino no bolso da mochila, ela o prendeu em seu
colete. O bloqueador iria impedi-lo de encontrar o paradeiro dela no
scanner.
Reya deixou a cabine e uma vez fora da nave, subiu no disco de
viagem e decolou na noite, sem olhar para trás, assegurando-se que
a lágrima nos olhos dela foi causada pelo vento frio.
Capitulo 21

Sombriamente ela olhou para o planeta que se aproximava.


Vaksal tinha muitos segredos, ela sabia disso muito bem. As florestas
verdes esmeralda abrigavam estranhas criaturas mortais. Uma
pessoa podia caminhar pelas florestas por dias e não ver nada, só
para se virar e ver que o seu companheiro tinha desaparecido no ar.
Ninguém via as criaturas, apenas às trilhas. Sem sangue, só ossos
mofando aqui e ali, uma bota velha, um laser enferrujado. A chuva
caia na maioria das vezes nas florestas, escondendo o que poderia
ser visto.
O deserto era de quilômetros de areia movediça e sol ardente.
Era tanto o picar da areia soprando ou ainda a morte.
A morte. Reya reprimiu um estremecimento e lutou com as
lembranças que ameaçavam sua cabeça. Sua mão alcançou o laser
amarrado na sua coxa e o movimento sob a capa chamou a atenção
do homem sentado ao lado dela.
Ele lançou-lhe um olhar curioso. A misteriosa mulher ao lado
dele tinha viajado em silêncio desde que embarcou na nave na
manhã de ontem. Tentativas de conversa tinham sido recebidas com
um silêncio que não davam qualquer insinuação de cordialidade.
Ele era incapaz de ver como ela se parecia, pois estava vestida
da cabeça aos pés com a túnica escura com um capuz levantado.
Uma rede preta cobria o seu rosto e estava dobrada de forma segura
dentro do capuz que cobria o cabelo. Botas espiavam para fora,
abaixo da orla das vestes. A única coisa que traiu seu sexo foram os
dedos longos e finos. Luvas sem dedos cobriam as mãos e
desapareciam nas mangas compridas do manto. Como muitos outros,
ela viajava incógnita.
Ela ficou sentada em uma calma gelada que o irritava
totalmente. Ele ficaria feliz em começar esta viagem o mais
rapidamente possível.
Reya pensava o mesmo. Levou duas semanas para chegar aqui,
viajando disfarçada, apenas para o caso de Maverk ser teimoso o
suficiente para tentar localizá-la. Então, agora estava aqui sozinha,
bem no coração de um território onde ela, obviamente, tinha inimigos
mortais. Só uma louca andaria direto para ele.
Pela primeira vez em duas semanas se permitiu pensar em
onde Maverk estava, lembrou-se dos passos que tinha tomado para
assegurar que ele não iria encontrá-la tão facilmente.
Depois de deixar a nave, ela visitou o assentamento com
instruções explícitas para atrasar qualquer ajuda a ele em relação ao
transporte. Ele não poderia suspeitar de nada e ninguém a tinha visto
se ele perguntasse. O que ele faria. E acima de tudo, nenhum mal
deveria ser feito a ele. A ameaça de morte estava em seus olhos ao
dar esta última instrução, a mensagem foi claramente compreendida
por todos e acordado às pressas. A palavra se espalharia
rapidamente.
Agora, ele devia estar a caminho de casa. Afinal, ninguém sabia
onde ficava Vaksal, ela fez questão disso. Nenhum fora da lei dentro
ou perto de Urion ousaria dar-lhe as coordenadas.
—Pousando em Vaksal — a voz metálica estalou em cima. —
Desembarque em Eros.
—Já era tempo — o homem ao seu lado murmurou.
Reya esperou que os outros viajantes saíssem primeiro, antes
de recolher a mochila com o disco de viagens em anexo e elevou-a
sobre seu ombro. Ela desceu a rampa para um brilho duro que foi
misericordiosamente subjugado pela rede preta que cobria o seu
rosto.
As pessoas se movimentavam ao redor, cavalos e carroças se
misturavam com os viajantes em discos, enquanto que pequenas
embarcações voavam sobre as suas cabeças. Eros era o último
pedaço de civilização em milhas. Um vasto deserto estava entre ele e
o próximo assentamento.
Um deserto cheio de morte e fantasmas.
Ninguém tomava conhecimento dela. Obviamente não havia
uma festa de espera. Quem era este Vinca, ele viria a ela, disso Reya
não tinha dúvida. Por enquanto ela ia encontrar um quarto com um
chuveiro e uma cama limpa.
Fazendo seu caminho através das ruas apinhadas, ela
encontrou as duas primeiras tabernas cheias, mas teve mais sorte
com a terceira, que tinha um quarto vago.
Já havia três dias que ela esperava o contato, durante o qual
tentou encontrar Vinca, mas ninguém tinha ouvido falar dele. Era,
provavelmente, um nome falso, de qualquer maneira. No terceiro dia,
ela estava se debatendo sobre tentar mais uma vez encontrá-lo ou
buscar a refeição do meio-dia, quando a maçaneta se agitou.
Alguém estava fora de seu quarto. Um sussurro, uma risadinha.
O seu sangue gelou, ela estendeu a mão para o punhal em sua bota.
—Abra guerreira — disse uma voz de homem.
Espiando pela janela, Reya encontrou a rua abaixo vazia.
Rapidamente deslizou para fora da janela, sobre a borda.
Cuidadosamente foi até a janela do quarto ao lado. Um dia antes, ela
tinha tomado à precaução de verificar a fechadura do quarto assim
que foi desocupado, para que pudesse usá-lo se necessário. Este era
um desses momentos.
Facilmente ela subiu para o quarto e abriu a porta devagar,
para ver um homem com um manto marrom em pé, perto de sua
porta, de costas para ela. O resto do corredor estava vazio.
Deslizando silenciosamente pelo corredor, ela veio por trás
dele, para pressionar a ponta do punhal em sua garganta.
—A que devo o prazer desta visita?
Ele endureceu com a picada da lâmina afiada.
—Você não deixa nada ao acaso, não é?
—Seu nome.
—Você deve saber, esteve procurando por mim nestes últimos
dias. — No seu silêncio contínuo ele acrescentou — Vinca.
Com a mão livre ela abriu a porta, e empurrou-o.
— Para dentro. — Ela chutou a porta que se fechou atrás deles
e trancou-a, jogou a chave sobre a mesa pequena. —Ponha as mãos
para cima e vire-se lentamente.
Ele fez isso para revelar um homem muito mais velho do que
pensava. Mais perto dos cinquenta, com linhas de expressão em seu
rosto, em sulcos profundos. Seu cabelo era da cor de sal e pimenta,
corte arrumado e simples. De constituição rala no topo de sua
cabeça, vinha até abaixo dos ombros.
Investigou-o rapidamente para encontrar armas, encontrou
apenas uma faca de esfola afiada e ergueu-a na frente dele.
—Bonita. Você usou-a em Royce?
Vinca encolheu os ombros.
—Ele era um tolo.
—Um tolo morto. — Ela empurrou-o duro e ele tropeçou de
volta para se sentar na cama atrás dele. —Onde está a menina?
—Mara está segura, por enquanto.
—Onde ela está?
—Em Conda.
—Onde é esse lugar?
—Venha comigo e mostrarei a você.
—Eu não penso assim. Como vou saber se não é uma
armadilha?
—Você não vai, mas sou o único que poderá levá-la lá.
—Eu escolho não o fazer.
—Então você escolhe a morte de Mara. — Ele levantou-se
cautelosamente. —Ela vai ser devolvida ao seu assentamento em
pedaços.
—Ela já pode estar morta.
—Você não sabe com certeza e eu digo que ela vive... —Por
enquanto
—E se eu for com você?
—Ela vai ser devolvida, viva e inteira, ao seu assentamento.
—Eu vejo. — Ociosamente Reya girou o punhal entre os dedos.
—E o que será de mim?
—Não cabe a mim decidir.
—Quem vai decidir?
—Isso eu não sei — Ele deu um grito assustado quando, de
repente, se viu deitado de costas sobre a cama, com uma adaga
afiada tirando uma gota de sangue de sua garganta.
—Isso não foi uma resposta boa o suficiente. — Reya balançou
a cabeça. —Tente novamente.
—Eu prometo a você, é a verdade! Eu não sei o que está
planejado para você!
—Portanto, há planos para mim. Que interessante. Quem fez
esses planos?
—Eu não sei. — Ele arquejou quando a ponta da lâmina raspou
em sua garganta, deixando uma fina linha carmesim em seu
caminho. —Eu sou apenas o mensageiro! Por favor, não me mate!
—Por que não? Eu sei o nome do lugar que procuro, então que
utilidade você tem para mim?
—Eu posso levá-la a ele, pois ninguém mais o fará.
Num movimento rápido ela puxou-o facilmente sobre seus pés,
segurando-o por um punhado de sua capa e trazendo-o na ponta dos
pés, com um braço poderoso.
—Quem mais está com você?
—Ninguém! Eu estou sozinho!
Ela olhou em seus olhos, procurando a centelha reveladora de
uma mentira, mas viu apenas medo.
—Se é assim, então quem estava rindo fora de minha porta?
—Rindo? — Ele parecia confuso.
—Sim.
—Ninguém que eu possa pensar.
—Um cúmplice, talvez?
—Eu disse que vim sozinho. Eu não tenho um cúmplice. — Sua
expressão era limpa. —Havia uma prostituta da taberna com um
cliente entrando no quarto ao lado.
Com um grunhido ela o empurrou, assistindo
desapaixonadamente quando ele caiu no chão.
Caindo de joelhos, ele observou cautelosamente enquanto ela
amarrava a espada na bainha em suas costas e pegou a mochila.
—Aonde você vai?
—Você sabe o caminho.
Seu rosto se iluminou.
—Você irá?
—Não era essa a idéia? — Abrindo a porta, ela fez um gesto
com a mão. —Você primeiro.
Ele saiu, mas foi sacudido a uma parada por um punho em seu
manto, balançando-o ao redor para enfrentar a alta guerreira.
—Royce comprou a arma para você, não foi?
—Sim, mas eu não sequestrei a garota.
—Quem fez?
—A arma foi deixada no meu quarto como eu havia sido
instruído, mas ela desapareceu.
—Quem tomou Mara?
—Eles fizeram.
—Quem são "eles"?
—Por favor, eu...! Awk — Ele bateu dolorosamente contra a
ombreira da porta. —Eu não sei! Eu nunca os vi! A criança chegou
com o dinheiro e as instruções escritas, isto é tudo que sei!
—Como a arma acabou no estábulo do assentamento de Mara?
—Eu não sei, realmente não!
Ela o soltou. Por enquanto, não tinha escolha senão segui-lo.
Instintivamente, sabia que o que ele havia dito era verdade, ele era
apenas o mensageiro. Ela não saberia mais nada até que chegasse a
Conda, onde quer que fosse.
Vinca saiu correndo à frente dela, estabelecendo um ritmo
acelerado pelo fundo do corredor. Ele esperou por ela no topo da
escada. Abaixo, a sala fervilhava com os clientes e o zumbido de
conversa.
Sentindo-se um pouco mais seguro, ele endireitou os ombros e
esperou que a guerreira alta o alcançasse. Ele se perguntava se ela
percebia que a morte a espreitava.
Quando ela chegou junto a ele, ele desceu correndo as escadas
à sua frente. Então ele parou e voltou-se, a meio caminho para baixo,
como se atingido por um pensamento súbito. Abrindo a boca para
dizer alguma coisa, tudo o que veio foi um gorgolejo e respingos de
sangue. Ele cambaleou, a surpresa em seus olhos rapidamente se
transformou em pânico.
Vendo o cabo da faca projetando-se das costas dele, ela saltou
para pegá-lo, mas estava muito longe. Escorregando para além do
seu alcance, ele caiu o restante da escada, recebendo várias
maldições dos frequentadores para ele.
Olhares curiosos caíram sobre o morto, mas a conversa
retomou rapidamente e todos voltaram para suas posições originais.
Ah, o mundo fora da lei, Reya pensou ironicamente. Num
minuto você está vivo e no outro morto, ninguém dá à mínima. Não
houve perturbação na sala lotada, para indicar que tinham matado o
que seria o seu guia, ela sabia que não iria descobrir nada, também.
Ah bem, assim era a vida.
Agora ela tinha que tentar encontrar este lugar, Conda,
sozinha, um fato que não lhe deu qualquer alegria. Então de novo...
ela ergueu os olhos para satisfazer o olhar curioso de uma jovem
vestida em um vestido muito apertado, ela tinha peitos
subdesenvolvidos empurrando o corpete um pouco para fora.
Ela não podia ter mais de catorze anos, com cabelo castanho e
olhos castanhos. Uma jovem que vendia seu corpo para quem
pagasse o preço. Reya sentiu uma picada de simpatia, em seguida,
percebeu o seu olhar duro. Jovem em anos, sim, mas velha em
experiência.
—Parece que você perdeu o seu amigo, — comentou a jovem.
—Amigo, não. Guia, sim. — Reya endireitou e inclinou-se no
corrimão, continuando a descer a escada.
—Você precisa de um guia?
—Acho que sim. Você pode sugerir alguém?
—Hmmm. — Ela franziu o cenho. —Dinheiro vivo? Nenhum
perigo?
Quão irônico. Nenhum perigo em um lugar como este?
—Eu posso prometer o primeiro, mas não o último.
A menina virou-se para o próximo homem, um brutamonte com
um tapa-olho e com mais dentes quebrados do que dentes inteiros.
—Você quer ganhar dinheiro Earl?
—Dinheiro? Como diabos você conseguiu dinheiro, Bethany?
—Não eu. Ela precisa de um guia.
—Você? — Ele reconheceu Reya. —Onde?
—Um lugar chamado Conda.
—Conda? — ele gritou incrédulo.
Absoluto silêncio caiu sobre aqueles ao alcance da voz, mesmo
no canto mais distante.
—Você quer ir para Conda? — Seu único olho brilhou incrédulo.
—Isso é o que eu disse, — ela se voltou, irritada com o fato de
que agora todo mundo estava sabendo.
—É no deserto, longe no deserto.
—Então?
—Aqueles que foram a Conda nunca voltaram — falou uma
mulher mais velha. —Ninguém vai até lá.
—Ao menos, aqueles que desejam retornar — murmurou o
barman, comentando amargamente.
—Eu vejo. Eu preciso de um guia e pago um bom dinheiro.
—Desculpe. — Earl balançou a cabeça. —Não irei lá por nenhum
dinheiro.
—Você ouve histórias. — A mulher mais velha estremeceu.
—Que tipo de histórias?
—As coisas que andam no meio da noite, — ela respondeu com
prazer ansioso.
—A morte anda em Conda — alguém disse.
—Sim, ela andou lá anos atrás, — outra pessoa falou. —De jeito
nenhum, guerreira!
Olhando em volta, para a multidão que se comprimia mais
perto, ela notou com desgosto a curiosidade ansiosa em seus olhos.
—Então, eu acho que ninguém vai ser meu guia?
Eles se afastaram, como se ela já tivesse sua resposta. Jogando
a mochila por cima do ombro, deixou a taberna, afastando a multidão
à sua frente. Uma vez que chegou ao lado de fora, um murmúrio
começou e as vozes aumentaram em uma conversa ansiosa.
Com um encolher de ombros, fez seu caminho para a loja de
fornecimento, na rua. Talvez obtivesse algumas respostas.
Entrando na loja, ela viu o lojista imediatamente. Ele estava
empilhando os produtos em uma prateleira no lado mais afastado,
com um laser amarrado na coxa, como precaução contra alguns de
seus clientes. Ela enfiou-se, de maneira a contornar as grades e
parou atrás dele.
—Sim? — cautelosamente, ele olhou para ela.
—Eu quero quatro sacos de alimentos secos, nada que precise
de água, mas que pode ser comido direto do saco.
Colocando os sacos em cima do balcão, ele deixou os olhos
vagar sobre as curvas generosas da mulher, enquanto ela estudava
as prateleiras atrás dele.
—Eu também quero um saco de frutas secas. — Os olhos
pálidos o trespassaram, de repente. —Se você não estiver muito
ocupado olhando, é claro.
As bochechas ficaram vermelhas e ele voou para pegar a
encomenda, gaguejando:
— Certamente. Mais alguma coisa?
—O que você sabe de Conda?
—Conda? O que quer saber?
—Isso é o que eu quero saber. Preciso de um guia, mas todos
parecem ter medo. Por que isso?
—As histórias são tudo que eu sei. — Ele encolheu os ombros.
—Diga-me.
—Eu posso fazer melhor que isso. — Ele apontou e ela virou a
cabeça para ver um homem idoso sentado em uma cadeira na
varanda, de costas para eles. —Ele pode contar-lhe algumas histórias
se estiver lúcido. Alega ter ido lá.
—Quem é ele?
—Chama-se Starn. Diz que está esperando por alguém
chamado Reya.
Ela congelou, seu coração batia forte. Starn? Esperando por
ela? Não poderia ser querido Deus, por favor, não...
—Você está bem? — O lojista olhou para ela com curiosidade.
Tremendo interiormente, ela pegou as compras e deixou-as cair
na mochila, antes de colocar o dinheiro no balcão e sair da loja.
Ela se aproximou da figura silenciosa na cadeira. Seu rosto
estava virado, olhando para o distante deserto que queimava
ferozmente ao sol do meio-dia.
—Starn? — Ela falou em voz baixa.
A figura enrijeceu e inclinou a cabeça.
— Será que é a guerreira Reeka que eu ouço? — Sua voz
falhou.
—Starn. — Ela colocou a mão em seu ombro.
Uma mão dura prendeu em cima da dela, segurando firme. Ela
viu que estava faltando dois dedos. As feridas ainda estavam frescas.
Ainda assim, ele não olhou para ela.
—O que você está fazendo aqui neste buraco? — Ela falou com
mais autoridade. —Olhe para mim se você me conhece.
Lentamente a cabeça virou-se e ela se viu olhando para um
rosto que conhecia tão bem, o rosto de um homem que tinha
compartilhado o pesadelo, que a acompanhou todas as noites. Só que
este não era o risonho mercenário que tinha andado com ela naquele
dia, três longos anos atrás. Esta era uma versão encolhida daquele
homem, o cabelo castanho espesso estava prematuramente cinza, o
rosto agradável, profundamente enrugado e o azul risonho dos olhos
avermelhados e mal-assombrados.
—Reya. — Sua voz tremia tanto quanto a mão que estava tão
pesadamente em cima dela.
Ela agachou-se diante da casca do ex-mercenário.
—Por que você está aqui?
—Eu tentei sair, mas eles continuam me trazendo de volta.
—Quem faz isso?
—Eles o fazem. Você sabe. Eles!
Um frio caiu sobre ela.
—Eles se foram, Starn, lembra?
—Nós achamos que sim, mas eles não foram. —
Freneticamente seu olhar correu atrás dela. —Veja, um está lá agora.
Ouve a risadinha?
Reya girou, mas os olhos dela encontraram apenas uma parede
em branco.
—Onde?
—Não! Ele se aproxima! Não, não! — Jogando os braços para
cima diante de seus olhos, ele balançou debilmente. —Eles estão me
tocando! Reya me ajude! Salve-me!
Ele tinha andado muito perto da borda e caiu no abismo da
loucura.
—Eles se foram, Starn. Veja, vou ter que persegui-los.
Espiando entre os dedos que tremiam, ele olhou em volta para
ver os fantasmas de seu pesadelo. Tudo estava quieto. Agarrando a
mão dela, ele apertou-a contra seu rosto.
—Obrigado, obrigado!
Ela sentiu uma centelha de compaixão, um parentesco entre
eles.
—Disseram-me que você estava esperando por mim. Por quê?
Ele olhou para ela em sinal de gratidão, com medo e esperança.
—Você nos salvou antes, você vai salvar-nos de novo.
—Isso foi há muito tempo. — A dor trespassou-a. — Acabou. Vá
para casa.
—Casa? Eu tentei, mas eles me trouxeram de volta. Toda noite
eles esperam por mim e agora eles aparecem durante o dia também.
Eles me trazem de volta, Reya!
Com um suspiro ela se levantou.
Convulsivamente, ele reforçou seu poder, procurando
freneticamente por ela.
—Aonde você vai?
—Eu tenho uma missão. — Delicadamente, ela desvencilhou
suas mãos. —Eu tenho que ir.
—Voltar para eles?
—Não. Pelo menos... Não, eles estão mortos.
—Você procura a garota.
Ela congelou.
—O quê?
Os olhos azuis, subitamente, ficaram claros.
—A menina, Mara. Você está aqui para encontrá-la.
—Como você sabe dela?
—Eles me disseram. — Ele levantou a mão e seu olhar tornou-
se desfocado. —Ele me deu uma mensagem para dizer-lhe, ao
mesmo tempo, eles cortaram meus dedos.
Ele estava falando a verdade ou variando novamente em seu
próprio inferno particular?
—Quem cortou os seus dedos?
—Eles fizeram.
Respirando fundo, ela tentou novamente.
—Quem tem Mara?
—Eles a têm. O menino, a menina, a besta.— Ele estremeceu.
—O capitão se foi, não é, Reya? Ele não permanece com o grupo.
—Não, ele não está, — ela concordou em silêncio. —Eu tenho
que ir.
—Para onde? — Sua testa franziu ansiosamente.
—Para um lugar chamado Conda. Ou eu pretendo ir, se eu
encontrar um guia, — ela acrescentou com um toque irônico em seus
lábios.
—Você vai lá! — Starn tropeçou em seus pés para olhar para
ela. —Assim como eles disseram!
Um arrepio frio desceu sua espinha.
—Conda. Vou para Conda, não... — Ela não podia nem dizer o
nome do lugar amaldiçoado.
—Yennan. Estávamos indo para Yennan quando os
encontramos... ou eles nos encontraram, — murchando, ele afundou
de volta na cadeira. —Eles vêm atrás de nós, Reya. Voltaram dos
mortos.
Ele diminuiu o murmúrio e ela deu-lhe uma tapinha no ombro,
infelizmente, tinha que ir.
Antes que fosse para Conda ela tinha que, pelo menos,
descobrir onde estava. Ela fez seu caminho para a bilheteria de onde
as naves chegavam e partiam.
Uma mulher de rosto duro olhou-a através do vidro a prova de
laser.
—Onde?
—Conda.
—Guerreira, você tem certeza?
—Isso é o que eu disse.
—Desculpe, mas ninguém vai lá, — ela declarou com firmeza.
—Porque ninguém retorna. — Reya mudou a mochila para a
outra mão. —Diga-me como chegar lá, então.
—Ok. — Pescou em torno fora de vista abaixo do nível da
janela, em seguida, trouxe-lhe a mão de volta à vista segurando um
mapa. —Disse a algumas pessoas como chegar lá. Presumo que ele
chegou lá. Ninguém nunca voltou.
—Diga. — Reya estava cansada dos contos. —Basta apontá-lo
para mim.
A mulher franziu os lábios como se quisesse dizer algo mais,
mas um olhar penetrante a lembrou de com quem ela tratava, e seu
tom se tornou mais agradável, depois colocou o mapa sobre o balcão.
—Veja aqui? Isso é um assentamento, Eros. Virando
diretamente para leste, você chegará a ele. É a cem milhas de
distância, exatamente.
A agitação começou apertar o seu estômago, quando Reya
olhou para o lugar marcado no mapa.
—O lugar que você aponta é Yennan.
—Este mapa é velho. Alteraram os nomes. Yennan é o nome
antigo. Agora é chamado de Conda.
Capitulo 22

Maverk amaldiçoou quando descobriu que a mochila de Reya


tinha sumido, amaldiçoou ainda mais quando ninguém parecia saber
de seu paradeiro. Ele jurou vilmente quando percebeu que não podia
encontrá-la em seu tracker viscomm, então descobriu que a fonte de
alimentação estava faltando, o que significava que a nave não
poderia funcionar corretamente. Quando o computador mostrou que
todas as coordenadas para Vaksal tinham sido deletadas, rangeu os
dentes de raiva.
Ele não podia acreditar quando perguntou a todos sobre o
planeta e ninguém parecia ter conhecimento dele, quando foi
informado que iria demorar algum tempo para obter outro bloco de
força para a sua nave, ele ferveu com a fúria frustrada. Ele teria que
esperar até o final da semana para uma nave de viagem chegar.
Todos foram extremamente atenciosos, perguntando se ele
tinha comida suficiente e se estava tudo bem. Eles foram úteis e
suspeitos, ele suspeitava que Reya tivesse uma mão em tudo isso,
toda essa conspiração.
Maverk estava dividido entre a raiva e a preocupação. Ela
precisava dele. Ele tinha que estar com ela. Que perigo ela foi
enfrentar? Por que ela não deixou uma mensagem? Ela desapareceu
no meio da noite e deixou-o sozinho. Até que ele pudesse sair deste
planeta abandonado, não teria nenhuma esperança de persegui-la, o
que foi, provavelmente, o que ela tinha planejado.
Era por demais evidente que ela o deixara e ele conseguia
entender como ferida e traída se sentia. Não havia dúvida em sua
mente que ela estava mais uma vez no controle. A guerreira de gelo,
a mercenária, tinha retornado. Mas o perigo que ela enfrentava...
O fim da semana trouxe a nave de viagens, mas nenhum bloco
de força. Maldição!
Seu punho enorme bateu no balcão de madeira, dividindo-o ao
meio, e quando ele enfiou a cara no tremulo agente, ele berrou:
— Arranje-me um bloco de força esta noite ou vou deixar seu
corpo sem a cabeça!
Diante da situação de ameaça de violência por parte de ambos,
o gigante e a perigosa e mortal guerreira Reeka, o agente fez a única
coisa que lhe restava. Ele desmaiou.
Explodindo fora do escritório, Maverk foi para a taberna mais
próxima. Ele viu Cisco sentado no canto conversando alegremente
com uma prostituta com as mãos lascivas debaixo da saia de
babados, ela ria.
Uma idéia veio à mente. Por que não? Ele não tinha nada a
perder.
Vendo o comerciante irritado caminhando para sua mesa, Cisco
tremeu momentaneamente, em seguida, lembrou que não havia feito
nada de errado e saudou-o alegremente.
—Olá, meu amigo! Você não parece feliz.
—O que você acha? Eu preciso que você encontre uma nave
para mim.
—Não posso fazer isso.
—Por que não? — Maverk berrou. —Qual é o seu preço?
Antevendo que o problema fermentava e não querendo tomar
parte, a prostituta da taverna saltou do colo de Cisco e dirigiu-se para
a multidão.
Cisco pigarreou nervosamente.
—Quero dizer que não há nave pronta disponível.
—Encontre-me um bloco de força!
—A nave é única...
—Maldição! — A mão grande de Maverk disparou para agarrar
sua camisa, puxando o rapaz desengonçado para o outro lado da
mesa, ficando olho no olho. —Roube um! Inferno, eu não me importo
como você fará isso, basta fazê-lo!
—Reya vai me matar se eu fizer!
—Eu vou matá-lo se você não fizer!
Uma mão caiu sobre seu ombro.
—Qual é o problema, amigo?
Cisco caindo como um tijolo quente, Maverk virou para
encontrar-se olhando para um rosto alegre com um cavanhaque
castanho escuro, fino bigode, cabelo grosso, ondulado e olhos negros
que brilhavam com diversão.
O homem era magro e vestido com calças pretas apertadas,
botas até o joelho e uma camisa branca com esvoaçantes mangas
que prendiam pelos pulsos. A camisa estava aberta para revelar um
peito que, para toda a sua magreza, era bem musculoso.
Era Sinya, o pirata.
Maverk agarrou os ombros do homem.
—Estou contente de ver você!
Sinya olhou para ele com cautela.
—Oh? Você normalmente não está.
—Tempos de desespero pedem medidas desesperadas. Onde
está a sua nave?
—Fora do assentamento, é claro. Onde está Reya? Gostaria de
agradecer-lhe por salvar o meu irmão mais novo...
—Ela se foi.
—Foi-se?
—Fugiu durante a noite, roubando meu bloco de energia e
garantindo que as pessoas desta localidade, estivessem com muito
medo para me ajudar.
O pirata sorriu.
—Parece com ela.
—Ela está em perigo.
Toda alegria fugiu das características magras e bronzeadas.
—Reya? O que aconteceu?
—Eu não sei. É uma longa história. Eu preciso de você para me
levar a Vaksal.
—Vaksal? — os olhos de Sinya se estreitaram. —Ela foi para
Vaksal?
—Sim. Se você não puder me levar, arranje um bloco de força
para a minha nave.
—Vou levá-lo.
—Agora.
Dentro de uma hora a nave pirata deixou o planeta de Urion e
estava a caminho de Vaksal.
Dentro da cabine do capitão, Sinya estava bebendo vinho em
uma taça de cristal e observava o comerciante andar.
—Tem certeza que você não quer uma bebida?
Balançando a cabeça, Maverk parou para afastar a cortina de
veludo que cobria a rica vigia.
—Quer dizer-me por que ela foi para Vaksal, por que você está
tão determinado a chegar até ela?
Os olhos castanhos deram-lhe um olhar dúbio.
—Você ainda não confia em mim, não é?
—Reya e Tenia quase morreram por causa de sua traição, —
Maverk lembrou-lhe secamente. —Não é fácil esquecer.
Os olhos negros piscaram.
—Muita coisa aconteceu nos anos em que as Reekas foram fora
da lei. A vida do meu irmão estava em jogo. O que você teria feito?
—Eu não teria virado um traidor!
—Se tivesse sido seu irmão, você o teria deixado nas
masmorras para ser dilacerado por aqueles mutantes?
—Eu teria encontrado uma forma de resgatá-lo.
—Você diz isso porque você ama Reya. Eu sei o que ela teria
feito.
Maverk olhou para ele.
—Como você sabe que eu a amo?
—Não é difícil de ver. — Sinya recostou-se na cadeira, os dedos
entrelaçados e os cotovelos apoiados sobre os braços esculpidos. —
Que perigo ela está?
—Eu não estou certo. Estávamos à procura de uma moça jovem
que desapareceu, mas se transformou em algo mais. Alguém quer
que Reya vá para Vaksal.
—Interessante. Então, por que ela deixou você?
—Isso não é da sua conta, pirata.
—Uh huh. Ela não é uma moça fácil, mesmo quando ela escolhe
não ser difícil.
Aproximando-se da mesa lindamente ornamentada, Maverk
sentou-se em uma cadeira e fixou o jovem pirata com um olhar
atento.
—Você a conhece bem?
Sinya deu uma risada.
—Ninguém conhece bem as Reekas. Na verdade, os únicos a
chegar perto delas foram vocês, os Daamens. Em resposta à sua
pergunta, só sei que ela é resistente, forte e secreta.
—Sim. Você sabe o que de Vaksal?
—Eu conheço. Uma tropa de mercenários pousou sobre ele para
fazer o seu caminho através do deserto. Eu fui pago para deixá-los
fora, perto de um lugar chamado Yennan, ou Conda como é chamado
agora. Reya estava entre a tropa de trinta mercenários, dos quais
somente onze retornaram. Ela mal falou sobre a viagem de regresso.
Ninguém sabe o que aconteceu, mas as noites foram preenchidas
com terror para os sobreviventes. Não passou uma noite sem que
alguém estivesse gritando ou chorando.
—E Reya?
—Ela estava lá por todos eles, falando com eles. Perguntei o
que tinha acontecido, mas ela simplesmente afastou-se. Eu nunca
perguntei de novo.
Pensamentos girando, Maverk olhou para o tampo da mesa.
—Temo que se nós não chegarmos em breve, nunca iremos vê-
la viva novamente.
Sobriamente, Sinya considerou-o sobre a borda do copo.
—Somos mais velozes do que muitas naves na galáxia, amigo.
Estaremos em Vaksal dentro de uma semana.

Maldita areia que ardia e girava em torno dela. Dentro dos


limites das vestes pesadas que a escondia, era sufocante. Encolhida
atrás das pedras com seu laser na mão, Reya esperou a tempestade
de areia.
A tempestade continuou durante a noite e amanheceu com o
estranho silêncio que sinalizou o rescaldo.
Cautelosamente Reya olhou sobre ela, mas o deserto estava
vazio, tanto quanto os olhos podiam ver. Não havia gritaria por
misericórdia, nem risos infantis. Sua carne arrepiou e resolutamente
ela empurrou as imagens fantasmagóricas para longe. Agora não era
o tempo. A segurança de Mara dependia dela e ela devia continuar.
Verificando o direcional, Reya intensificou no disco e começou a
viajar para frente.
As horas passavam, no fim da tarde, de repente, viu algo na
distância. Quando chegou mais perto, ficou com a boca seca.
Era um corpo amarrado a um poste vertical. A maioria da carne
estava podre e a cabeça meio decepada pendia para lado. Um
viajante, talvez? Com laser na mão, ela continuou em frente, seu
olhar agudo varrendo a área de deserto.
Meia hora depois, encontrou um esqueleto na areia. O que
apertou o seu interior era o fato de que o esqueleto ainda tinha
pedaços de carne fresca sobre ele. Quem quer que fosse não tinha
sido morto há muito.
Ela queria voltar e fugir, mas a imagem viva de Mara prisioneira
de qualquer forma de vida depravada que tinha massacrado esses
viajantes, a impedia. Reya estava com muito medo de saber quem
eles eram.
Dez minutos depois, parou novamente sobre as dunas de areia
e ouviu soluços histéricos.
—Ajude-me! Alguém me ajude!
A voz era familiar. Pisando fora do disco de viagem, Reya subiu
a duna. Chegando ao topo, ela caiu de barriga e arrastou-se pelo
resto do caminho. Lentamente, olhou para o outro lado.
Mara estava sozinha, amarrada a um poste, suas roupas
estavam esfarrapadas e os fios de cabelos emaranhados. Ela estava
sozinha e parecia ser o único ser vivo, lá. Os outros três estavam
mortos. Graças a Deus.
Não querendo acreditar no que via, Reya sentiu a bile subir à
garganta. Os três corpos estavam presos a estacas, queimando ao sol
e tinham sido esfolados e ela não tinha dúvida de que eles estavam
vivos quando isso tinha acontecido.
Era um sonho, tinha que ser. Ela estava tendo um pesadelo e
iria despertar a qualquer segundo. Isso não poderia estar
acontecendo de novo...
Risos chegaram aos seus ouvidos e seu rosto foi drenado de
todas as cores. Um sussurro, uma risada alegre. Olhando ao redor,
viu três jovens trás dela, seus olhos brilhando em antecipação.
—Para trás! — Ela levantou o laser apertado nas mãos.
—Não atire mercenária! — A voz veio da direção de Mara.
Reya engoliu em seco, então sua força interior chutou e ela
endireitou sua espinha. Sua mão firmou e ela não queria olhar para
os jovens.
—Desce e deixe-nos vê-la! — a voz gritou.
Subitamente, Mara gritou em pânico cego.
—Reya! Ajuda-me, Reya, por favor!
—Acabou o tempo, mercenária. Abaixe sua arma ou a menina
morre dolorosamente.
Lentamente, ela endireitou-se e olhou para baixo sobre a duna.
Mara tinha uma espada apoiada na barriga nua e a figura encapuzada
segurando-a, aplicando pressão. Um fio de sangue apareceu.
—Bem, mercenária? Qual é a sua escolha?
—Mate-a e você morre. Você primeiro, depois os seus amigos,
os três.
—Hmmm. — Um véu cobria o rosto, mas a voz era
inconfundivelmente masculina. —Infelizmente para você, isso não
está no nosso plano. — A figura fez um gesto repentino.
O solo sob Reya se abriu e com um juramento assustado ela
despencou, em um poço escuro. Antes que batesse no fundo, a parte
superior foi fechada e bateu com um assobio, como um buraco negro
cheio de gás.
Ela bateu duro no fundo, ofegante e, automaticamente,
respirou fundo. Seu último pensamento, antes que apagasse, era que
este era, realmente, o fim. Seu pesadelo a tinha apanhado.

O barman olhou chocado para o gigante, com cautela.


—Sim, a Reeka estava pedindo um guia para levá-la para
Conda. No entanto, ninguém foi.
—Por que isso? — Maverk fez uma careta impaciente.
—É sabido que qualquer um que tenha ido para lá, jamais
retornou.
—Você disse isso a ela?
—Nós todos fizemos, mas ela saiu na mesma tarde, quatro dias
atrás. Sozinha.
—Sozinha — Maverk ecoou.
—Nós vamos — afirmou Sinya.
—Você pode querer conversar com Starn primeiro — o garçom
sugeriu. —Ele está falando sobre Reya ser uma salvadora e estar indo
para Conda para uma batalha com "eles", seja quem for. Louco como
uma cobra cortada.
—Onde podemos encontrá-lo?
—Lá fora, em frente da loja de suprimentos. Basta seguir o som
do balbuciar.
Eles deixaram à taverna.
—Você vai realmente falar com um louco? — Sinya perguntou
curiosamente.
—Qualquer informação que pudermos obter de alguém, só pode
ajudar.
Reya acordou lentamente para encontrar seus braços puxados
para cima e algemados na parede atrás dela. Algemas circulavam as
suas botas, uma corrente curta estava entre elas. Ela estava sentada
em um chão rochoso, de costas contra a parede.
Ao lado dela, acorrentada de forma semelhante, chorava Mara.
Sua atenção foi pega por uma respiração sibilante, olhou
através do quarto para ver dois corpos deitados no chão. Pedaços
deles estavam faltando, um membro aqui, um nariz lá, uma orelha. A
respiração sibilante era tudo o que ouviam.
Com uma careta, ela olhou para a menina.
—Fale comigo.
A cabeça de Mara levantou e seus grandes olhos azuis se
fixaram nela.
—Eles aprisionaram você! Nós duas morreremos!
—Acalme-se. Quantos são e quem são eles?
—Eu não sei — ela sussurrou aos pedaços. —Eu contei cerca de
quinze, desde que estou aqui.
—Será que eles machucaram você de alguma forma?
—Não. — Ela começou a chorar novamente, mantendo os olhos
desviados do corpo do outro lado da sala. —Ainda não, mas o que
eles fizeram aos outros... Estou com tanto medo.
—Eu sei — Reya disse suavemente.
—O que vamos fazer? — Cheia de esperança na sua voz. —
Maverk está perto? Ele deve estar ele nunca fica longe de você.
Inferno. Reya fechou os olhos brevemente e amaldiçoou-se
mentalmente.
—Reya? Ele está perto, não é? Ele vai nos salvar, ele...
—Silêncio.
—Oh, é claro. — Mara recostou-se contra a parede. —No caso,
deles ouvir-nos, certo? Tudo bem, eu vou ficar quieta.
Por que destruir a esperança da menina? Reya pensava
amargamente. Devido ao seu orgulho tolo, tinha saído sem deixar
uma palavra de seu paradeiro para ninguém. Além disso, quem
realmente se importava? Cortando seus laços com Maverk, ela as
tinha deixado sem esperança de ajuda. Ela foi inteligente em usar o
bloqueador, em viajar disfarçada e de modo inteligente as levara à
morte certa, tanto Mara quanto a si mesma.
Reya olhou para a menina. Não tinha pensado sobre ela
durante a viagem inteira. Mara tinha sido meramente alguém a
procurar, um aborrecimento a ser encontrada e levada para casa,
então retirada de sua mente.
Nenhuma chance de fazer isso agora.
Fechando os olhos, ela sentiu uma sensação de vergonha.
Ambas enfrentariam a morte, mas, seu eu interior, argumentou, que
se Maverk estivesse com ela, ele estaria encarando a morte agora,
também. Uma morte torturante.
Se ele estivesse com ela... Se ela tivesse ficado com ele... Se
ela tivesse sido mais atenciosa com Mara... se, se, se. Era um monte
de “ses”.
Impacientemente ela abriu os olhos. Ela nunca tinha sido uma
de ficar muito tempo em "talvez" e "se".
O farfalhar de roupas lhe chamou a atenção. Mara gemeu e
tentou se deslocar para tão perto de Reya quanto as correntes
permitissem.
Um uivo sobrenatural saiu de um dos corpos e Reya cerrou os
dentes, enrolada sobre si mesma. Com o pacote de trapos que usava,
revestido em sangue e sujeira, com partes das características faciais
em falta, ela não sabia se era macho ou fêmea. Mantinha o seu rosto
virado, um lado que tinha sido deixado, aparecia através das
características abertas.
A porta da caverna abriu e uma figura encapuzada entrou
seguida por quatro adolescentes, com idades de quinze. Eles estavam
vestidos com uma mistura de roupas feitas de algum material e pele
humana.
Um sentimento de derrota encheu Reya. Ela esperava que não
fosse verdade, não podia ser verdade...
A figura encapuzada e mascarada parou diante dela.
—Então, mercenária, nos encontramos novamente.
—Eu não acredito que o conheça. Refresque a minha memória,
por favor.
Ele riu suavemente, ameaçadoramente.
—Para alguns de nós a memória diminui com o tempo. Para
outros, apodrece como uma ferida pestilenta.
Quem era ele? Ela não reconhecia a voz. Seu olhar moveu para
os adolescentes, em seguida, voltou para a figura. Ele era mais velho,
disso ela estava certa, pois sua voz era mais profunda e ele era mais
alto.
—Ainda não me reconhece? Ah bem, três anos trazem algumas
mudanças, eu acho.
Três anos. A mão fria em torno de seu coração apertou.
—Pare de jogar e me diga quem você é.
—Jogos? Crianças jogam jogos, não é? — Ele bateu um dedo
cuidadosamente contra o véu que cobria a sua face. —Gostaria de
jogar um jogo, mercenária? Você e sua amiguinha?
—Não! — Mara choramingou com horror.
—Tão bonita. — Um dedo passou através de sua bochecha. —
Essa pele é linda.
Mara se afastou e ele riu.
Silenciosamente olhavam para Reya, observando com um brilho
profano nos olhos, os quatro adolescentes. Então, Starn estava
correto.
Eles ainda viviam. Filhos de Yennan. Filhos do deserto. Crianças
do Inferno. Filhos dos pesadelos. Filhos de seus pesadelos.
Gritos ecoaram em sua mente, sangue e o entorpecimento
mental do horror. O poço de insanidade bocejou diante dela,
profundo, preto e convidativo. Para rolar para frente no esquecimento
abençoado...
Uma rachadura soou, e a dor explodiu atrás de seus olhos no
corte, fragmentos prateados, chocando-a de volta para a consciência.
Uma mão agarrou em seus cabelos, sacudindo a cabeça para trás
contra a parede e olhou para a figura encapuzada dobrada sobre ela.
O som do choro de Mara encheu o lugar.
—Não nos deixe agora — a voz baixa ordenou, todos os
vestígios de diversão haviam sumido. —Os jogos estão prestes a
começar e você é a atração principal.
Os adolescentes avançaram sobre ela e Reya atacou com as
pernas, pegar um deles no joelho para enviá-lo para trás. Mas então
eles caíram sobre ela, batendo violentamente com os punhos. Ela
estava impotente para se defender.
—Basta! — A figura encapuzada chutou violentamente o
adolescente mais próximo. —Ela deve permanecer consciente.
Eles correm para trás, o louco brilho em seus olhos temperados
com medo.
A figura ajoelhou-se em um joelho ao lado de Reya, estendendo
a mão para o seu queixo e virando o rosto até a luz. Ele estudou o
hematoma que já se formava na bochecha, e o fio de sangue no
canto dos lábios macios. Colocando o dedo no sangue, ele lentamente
arrastou-o para baixo do queixo e da garganta, deixando um caminho
vermelho em sua esteira.
—Tão bonita. Uma pena. — Ele gesticulou para os adolescentes
e levantou-se. —Não há tempo para desperdiçar.
Seus seguidores se aproximaram dela ansiosamente, mas com
cautela, ela ficou tensa.
—Tcs, tcs, isso nunca vai acontecer. Você nunca aprende, mas
sugiro que você vá tranquilamente ou a sua amiguinha aqui vai ter
uma orelha a menos. Você entende guerreira?
—Toque-a e vou matá-lo!
Ele riu com diversão genuína.
—Admiráveis palavras, mas olha aqui. — Ele estalou os dedos e
um adolescente caiu de joelhos ao lado de Mara, retirando uma faca
da bolsa ao seu lado. —Só para mostrar que conhecemos o negócio...
—Não! — Mara tentou fugir para longe, mas o menino sorriu e
agarrou o cabelo dela, levantando a faca em seu outro lado.
—Pare! — Reya rugiu.
A figura levantou a mão e o menino calou.
—Sim?
—Eu vou calmamente.
—Eu pensei que você o faria. — Outro estalar de dedos fez o
menino sair com relutância. —Tempo para jogar depois, meu irmão.
Por agora, ajude esta senhora encantadora a ir para a caverna
central. É tempo para ela atender os portadores da justiça.
Eles se aproximaram dela novamente e esperou, observando,
enquanto as correias acima dela foram abertas e tiradas da parede.
Um menino estava de cada lado dela, segurando seus braços.
—Traga a menina.
—Se você deixá-la eu irei em silêncio.
—Ela não será prejudicada, mas vem apenas como precaução.
Mantenha o comportamento e tudo vai correr bem com ela... por
agora.
Reya foi colocada na posição vertical, em seguida, puxada atrás
da figura encapuzada, a corrente entre seus tornozelos garantia os
pequenos passos. Mara a seguia, visivelmente encolhendo a partir do
toque de seus captores. Elas foram levadas até uma passagem que
inclinava para cima e abria-se em uma caverna.
Reya sabia que ela tinha entrado no Inferno.
Capitulo 23
Maverk olhou para as ruínas de Yennan e chutou um pedaço de
gesso das ruínas com fúria frustrada.
—Nada! Absolutamente um nada sangrento!
Virando-se lentamente, Sinya olhou para as ruínas do
assentamento, uma vez pequeno, mas próspero.
—Assim, parece. O último de minha equipe voltou agora, vamos
ouvir o que eles dizem.
Maverk observou o avanço dos piratas que vinham das ruínas.
Eles tinham uma aparência perigosa e muito colorida. Todos usavam
o traje igual ao seu capitão apenas suas camisas era uma paleta de
cores, vermelhos brilhantes, azuis, verdes, amarelos e roxos.
Amargamente pensou que eles se destacavam a um quilômetro
de distância.
—Que bom que você luta no espaço e não em terra. Seus
homens não fazem exatamente uma mistura com o ambiente.
Com orgulho Sinya olhou para sua tripulação.
—Se você tem, ostente-o.
—Onde está o seu irmão?
—A salvo na nave.
—Eu não o vejo muito. Ele é tímido?
—Você poderia dizer isso. Ephim! Viu alguma coisa?
Um pirata de peito largo, com uma barba grisalha balançou a
cabeça.
—Nada. O lugar está deserto.
Respirando profundamente, Maverk olhou ao seu redor.
—Devemos procurar novamente...
Chegando, Sinya colocou a mão no seu ombro maciço.
—Temos procurado quatro vezes. Não há nada nem ninguém
por aqui.
—Deve haver alguma coisa! — Com olhos em chamas, Maverk
virou para enfrentar o homem menor. —Não há sinal de Reya entre
aqui e Eros. Ela tem que estar aqui!
—Vamos procurar as áreas circundantes de novo, mas não há
nada nessas ruínas.
—Inferno sangrento! — Ele deu outro chute violento na parede,
resultando que sua bota atravessou direito através do gesso.
Sinya e Ephim trocaram olhares. Se a situação não fosse tão
séria, eles teriam rido.
O restante da tripulação voltou com o rosto sombrio. Não havia
nenhum sinal da guerreira Reeka.
—Vamos, — Sinya suspirou.
Um homem magro, desengonçado, com um rosto triste, disse,
—Eu gostaria que a nave estivesse mais perto.
—Não seja um bastardo preguiçoso Franco, — Ephim disse.
—Não é preguiça. É autopreservação. — Ele ressaltou.
Todos seguiram a direção de seu dedo e congelaram. Nas
encostas, não muito longe deles, estavam figuras camufladas
segurando velhos lasers. Eles pararam em silencio contra o fundo
ardente do céu.
—Visitantes. — Maverk estreitou os olhos. Sinya sacou o laser.
—Amigo ou inimigo?
—Acho que vamos descobrir. — Ele viu uma das figuras parar e
começar a descer a encosta. —Não dispare ainda.
—Mas esteja preparado. — Sinya fez um gesto para Ephim. —
Espalhe a palavra e esteja preparado para abrir fogo. As pessoas
estão chegando aqui e não pretendo estar entre eles.
A figura se aproximava, seguida de outros seis. Pararam diante
do comerciante gigante e do pirata.
—A quem procura? — A voz do líder era baixa e rouca.
Incapaz de ver além do véu escuro cobrindo o rosto, Maverk
estava inquieto, com a pele eriçada.
—Um amigo que estava vindo para cá, alguns dias atrás.
—Você o encontrou?
—É de sua conta? Quem é você?
— Se você valoriza sua vida, terá que sair.
—É uma ameaça? — Sinya falou lentamente.
—Uma promessa, um aviso. Leve-o com você, mas deixe este
lugar condenado.
—Estou ficando doente com os enigmas. — A paciência de
Maverk estava esticando fino. —Se é de uma luta que você está
atrás...
Franco suspirou.
—Oh, Deus.
As pessoas por trás da figura encapuzada começaram a
levantar suas armas e os piratas imediatamente pegaram os seus
lasers.
—Parem. — Ele raspava a palavra em voz baixa. — Sem banho
de sangue aqui, isso só vai atrair os skinners.
Skinner? Maverk e Sinya trocaram olhares.
— Se o seu amigo não chegou então ele nunca chegará.
Ninguém o faz.
—Você está aqui, — apontou Sinya com naturalidade. —O que
faz você ter tanta certeza que nosso amigo não virá?
—A experiência, pirata. Vá agora, enquanto você pode.
Os olhos de Maverk se estreitaram.
—Eu não saio sem ela.
—Uma mulher? — A cabeça virou um pouco. —Com o cabelo
como o por do sol?
—Você a viu! — Ele começou a andar para frente apenas para
ser parado pelos lasers levantados e visando seu peito. —Onde ela
está?
—Eles estão com sua amiga. Eles sempre pegam aqueles que
procuram.
—Apenas me diga quem inferno são "eles" e vou encontrá-los e
rasgá-los em pedaços!
—Você vai morrer uma morte horrível gigante.
Sua mandíbula cerrou.
—Então vou morrer procurando por ela, pois não vou deixá-la
neste buraco do inferno.
A figura o considerou firmemente, antes de virar para a figura
de trás e falar suavemente. A segunda figura acenou com a cabeça e
começou voltar ao declive.
A primeira figura se virou novamente para ele.
—Você tem certeza disso?
—Ponho minha vida nisso.
—Sua vida provavelmente estará nisso, — foi a resposta, a voz
estava mais suave. —Nós podemos ajudá-los, depois de tudo.
O rosto de Maverk iluminou-se com a esperança.
—Não fique muito animado. Dependerá de nosso líder.
—Você não é o líder? — Sinya perguntou curiosamente. —E
quem diabos é você, afinal?
Um grito veio da duna e uma figura acenou.
A figura na frente deles estendeu a mão e tirou o véu de seu
rosto.
—Meu nome é Stellar.
—Inferno sangrento! — Ephim engasgou. —É uma mulher!
—Sim, uma mulher que perdeu seu filho e procura por ele, da
mesma forma que uma mulher procura por uma víbora. Para pegar,
para matar — foi a resposta gelada.
Intrigado, Maverk começou
— O que...
—Paciência e tudo será explicado. — Ela observava a linha de
figuras camufladas descendo a duna de areia. —Nós somos o povo do
deserto, ou o que resta de nós.
—O que há de errado com você? — Franco pigarreou
nervosamente. —Você tem uma... er... doença?
Seu riso era duro e seco, como o vento do deserto.
—Uma doença, sim, mas não o que você pensa. Assim que
Isham chegar aqui, tudo será explicado. — Os escuros olhos verdes
mudaram para Maverk. —Então, você vai decidir se vai continuar a
sua procura ou não.
Depois que desceu, o povo do deserto olhou os piratas com
cautela. Um deles saiu do grupo e se aproximou de Stellar. Os
mesmos olhos verdes, duros e implacáveis, olharam para eles de um
rosto enrugado.
—Meu nome é Isham. — O homem se apresentou. —Sua
mulher foi tomada pelos skinners. Eles também têm outra prisioneira
que ainda está viva, o que é mais incomum.
—Uma menina jovem, de cabelo preto encaracolado? — Sinya
consultou.
—Essa mesma. Ela foi amarrada a um poste nos últimos três
dias, era uma isca para a mulher com o cabelo como o por do sol.
—Reya — Maverk sussurrou.
Isham olhou para ele.
—Sinto muito, mas eu não me incomodaria procurando
qualquer uma delas. Agora, suas peles já devem ter sido
transformadas em roupas, se elas estiverem com sorte.
—Que diabos mais poderiam acontecer com elas? — Sinya
exigiu. —O que poderia ser pior do que isso?
—Estar vivas em suas mãos.
Maverk lutou contra o pânico crescente.
—O que são esses skinners e onde diabos eles estão? Droga me
diga!
Agarrando na frente do manto de Isham, ele sacudiu-o.
—Diga-me!
Lasers saltaram para as mãos, do povo do deserto cheio de
hostilidade e os piratas reagindo da mesma forma, com a ameaça de
violência.
—Parem! — Stellar segurou o pulso de Maverk. —O gigante não
significa nenhum dano, meu povo. Todos abaixem suas armas, nós
vamos explicar. Por favor.
Liberando o manto de Isham, Maverk disse rigidamente
— Desculpe-me, mas se as coisas são tão más como você diz...
—Elas são piores. — Isham olhou para ele gravemente. — Sem
ofensa. Suas ações são compreensíveis.
—Meu nome é Sinya. — O pirata inclinou-se um passo à frente.
—Meu amigo é Maverk. Nós procuramos esta moça.
—Eu entendo, — Isham suspirou. —A história é curta e
sangrenta. Faríamos bem fazer-nos confortável.
Os olhos castanhos se arregalaram incrédulos.
—Confortável?
—Eu não sou jovem. — Caminhando ao longo de uma parede
de pedra semidesmoronada, ele sentou em cima dela. —Eu preciso
sentar, mesmo que você não.
As armas foram guardadas, mas o povo do deserto alinhou-se
atrás de Isham, enquanto os piratas estavam com seu capitão.
—Quem são os skinners? — Maverk moveu-se para frente,
levantando a sua bota para descansá-la na parede e inclinando seu
antebraço sobre o joelho dobrado.
—O skinners são filhos do deserto, os nossos filhos, — Stellar
informou-o sem rodeios.
—Dos nossos genes, para ser mais preciso, — disse Isham.
—Eu não entendo.
—Eles não nasceram de nossos corpos. Eles foram uma
experiência que deu terrivelmente errado... tão horrivelmente,
terrivelmente errado.
—O que aconteceu? — Com a testa franzida, Sinya cruzou os
braços.
—A ira de Deus por nos atrevermos a nos intrometer com a
natureza. — Isham balançou a cabeça tristemente.
—Você disse que não teria mais enigmas, — Maverk cutucou
impaciente.
—Então eu fiz. Muito bem. Dezoito anos atrás, estas ruínas
eram de um assentamento das mentes mais brilhantes do Setor
Outlaw. Houve guerras em todos os lugares e uma necessidade de
mercenários para lutar. Éramos um povo pacífico, não combatente.
Stellar assentiu.
—Nós contratamos mercenários para lutar por nós, mas nos
cansamos de pagar e o dinheiro que tínhamos era muito pouco. A
gota d'água veio quando quatro de nossas mulheres foram
estupradas por homens empregados para nos ajudar.
—Tempos de desespero, — Sinya murmurou. —Acontece com
todos, não é verdade?
Isham estudou suas mãos, suavizando as rugas nas costas.
—Decidimos criar a nossa própria força de combate.
— Seus filhos? — Maverk perguntou.
—Não exatamente. Os bebês foram concebidos em tubos
especiais, injetados com uma mistura especial de hormônios quando
eles cresceram, para torná-los mais agressivos do que nós mesmos
éramos. Nós percebemos o nosso erro quando um dia, doze anos
depois de sua criação, tentamos disciplinar um dos mini-mercenários,
pois era assim que nós pensávamos neles, por bater violentamente
em uma de nossas crianças normais. Eles se tornaram selvagens. —
Isham enxugou a testa, torcendo a boca com amargura. —As
crianças fugiram quando nós revidamos, mas não foi a última vez que
nós os vimos. Parece que nós acertamos muito bem na criação de
nossos mini-mercenários. Eles começaram a caçar-nos e matar-nos,
lento, mas seguramente, cada um matando mais selvagem e
terrivelmente que o anterior.
Maverk sentiu-se mal.
—Como você pode fazer isso com sua própria carne e sangue?
Apesar de concebidos em tubos, eles ainda eram seus filhos.
Stellar olhou calmamente para ele.
—Somos uma raça de cientistas. Para outros, pode parecer frio,
mas tivemos as nossas razões. Autopreservação.
—Agora você colhe o que planta, — disse Sinya.
—Correto. Só que nunca adivinhamos o que íamos colher. Estas
crianças do inferno perseguem suas presas, torturam e tiram à pele
das vitimas ainda vivas, comem partes dos corpos, se não todo ele.
—Querido Deus, — sussurrou Maverk, horrorizado. —Reya!
—A guerreira foi um dos poucos a escapar há três anos.
Mercenários vieram à caça no deserto, de um inimigo desconhecido,
sem uma pista para a verdadeira natureza deles. Muitos tinham
falhado antes, por isso, desta vez, optamos pelo silencio, esperando
que eles fossem bem sucedidos.
—Você os contratou? Você os trouxe aqui?
—E que escolha tivemos? — Isham falou pesadamente. —Nós
não sabemos o que aconteceu naquele dia. Havia gritos e sons de
explosões de laser, como sempre há. Quando nos aventuramos para
fora, havia um silêncio. Tudo o que encontrados foram os corpos de
vinte mercenários mortos, estaqueados e esfolados. Dez mercenários
tinham desaparecido. Primeiro presumimos que foram mortos, mas
depois veio a noticia de que eles tinham escapado. Os que tinham
pés mais rápidos sobreviveram, eu suponho.
Sim, Reya tinha pés rápidos. Ter escapado das garras do diabo
exigiria velocidade e resistência.
Maverk varreu Stellar com olhos de desprezo.
—Há muitos de vocês. Por que você não encontrou os filhos?
—O que se vê agora é apenas um terço do que costumávamos
ser. Somos tudo o que resta não se esqueça, nós tentamos caçá-los,
mas eles são astutos nos caminhos do deserto.
—Onde eles vivem?
—Abaixo do solo em cavernas escondidas. Se pudéssemos
encontrar a entrada... — Ela balançou a cabeça. —Todos os nossos
equipamentos sumiram, destruído pelo skinners. Jogam com a gente,
matando aqueles que podem, mas nós não vamos desistir, pois
devemos consertar o dano feito.
—Então, como você sobreviveu a todos?
—Vivemos abaixo das ruínas do assentamento. Nós os caçamos
de dia e eles nos caçam de noite.
—Você não sabe onde essas cavernas estão?
—Não. Se soubéssemos onde é a entrada, poderíamos destruí-
los.
Seu couro cabeludo arrepiou.
—Eles são crianças!
—Não no sentido da palavra. São produtos de um experimento
que deu errado, que devem ser destruídos, pois eles não conhecem a
misericórdia.
Isham levantou-se.
—Deseje que sua amiga esteja morta, Maverk. É a melhor coisa
que você pode fazer por ela.

Olhando em volta da caverna enorme que tinha entrado, Reya


engoliu a bile, que surgiu na sua garganta. As tochas que
iluminavam, ardiam em covas no solo, permitindo-lhe ver contra uma
parede, suspensos em ganchos, dois cadáveres em decomposição.
Duas crianças que não tinham mais de doze anos estavam adiante
roendo os ossos de um dedo. Eles estavam comendo os cadáveres.
Além do fogo, uma menina virou lentamente, com um corpo
espetado, lambuzando gordura sobre ele. Era um cadáver muito
pequeno.
—O mais jovem do nosso alegre grupo — uma voz baixa, disse
em seu ouvido. —Ele era fraco, não era bom.
—Então você o come? — Ela desviou o olhar, com uma
expressão branda.
—Desperdício nunca. — A figura riu. —Ele vai estar bom e
tenro.
Ela percebeu as pinturas na parede. Todas foram feitas em
vermelho, a maioria delas quase marrom. Sangue. Entranhas secas
penduradas no teto da caverna e membros atrofiados pendurados em
uma fileira.
O lugar era um depósito enorme, fedendo a carne humana.
Um trono de pedra estava contra a parede mais distante. Ao
lado dele, algemas de aço foram incorporadas à rocha. Um poste
estava no centro da caverna com uma corrente anexa e pedaços de
um esqueleto estava em torno dele.
A figura indicou com a cabeça e Mara foi levada ao poste. Um
dos meninos chutou para fora do seu caminho uma caveira e tirou o
colar de couro em torno de sua garganta.
Reya viu por que ela não fazia nenhum som. Seus olhos
estavam arregalados de medo, e de repente, ela se inclinou e
começou a vomitar quando o cheiro de carne humana assando
assaltou os seus sentidos.
Bastardos. Reya ouviu melancolicamente o riso quase histérico
das crianças.
—Eu quero você por perto, então eu reservei um lugar especial
para você ao lado do meu trono — a figura ao lado dela afirmou.
Os adolescentes a puxaram pelos seus braços, arrastando-a até
os quatro degraus esculpidos para as algemas, embutidas na parede.
Ela começou a lutar, mas um grito abafado à fez parar. Chicoteando a
cabeça em torno, viu uma mulher por trás de Mara, com uma mão
nos cachos pretos puxando a cabeça para trás, para revelar-lhe a
garganta e uma lâmina afiada pressionando.
—Eu sugiro que você coopere graciosamente, — disse a voz
divertida. —Ou a sua amiguinha vai ser o nosso prato principal esta
noite.
Com uma onda de frustração, ela sabia que não havia nenhuma
maneira que pudesse lutar, enquanto Mara estivesse em perigo.
Silenciosamente permitiu-se ser pressionada contra a parede, as
algemas foram unidas aos seus pulsos e tornozelos, antes das
correntes serem colocadas. Os adolescentes se afastaram dela,
descendo a passos.
—Aproximem-se, meus filhos. — A figura encapuzada estava
em linha reta, voltado para ela. —Vejam a mulher que foi trazida de
volta para a justiça, que pensou em correr e escapar daquele dia
terrível. Vinde, contemplai o mercenário caído!
Sons de gritos estridentes e barulhos estranhos eclodiram, o
vazio rindo, Reya pensou que devia ter, pelo menos, cinquenta ou
mais crianças. Ela ficou chocada ao ver que tinham quinze anos ou
menos.
—Silêncio! Vamos ver se ela se lembra! — Ele virou-se para
encará-la. —Você não se lembra de mim, guerreira?
—Você sabe que não.
—Não? Você me decepciona. Talvez você vá reconhecer-me se
eu remover esse véu? — Uma mão subiu em um movimento rápido,
para remover o véu que cobria a sua cabeça.
Ela olhou para ele, não por que o conhecia, pois ela não
reconhecia, mas por que não podia acreditar em seus olhos. Como
poderia tal mal habitar dentro de tanta beleza? Ele tinha o rosto de
um anjo. Cabelos dourados e olhos verdes tão profundos, uma boca
sensual e linhas fortes no rosto.
Apenas que este era um anjo caído, os olhos estavam cheios de
maldade, os lábios enrolados cruelmente.
—Reconheça-me agora?
—Não — respondeu ela honestamente e bateu a cabeça para o
lado com o tapa que levou no rosto.
—Resposta errada. Meu nome é Ira. Eu estava lá naquele dia,
lembra?
—Você quer que eu diga 'sim'? — Ela cuspiu, com a boca cheia
de sangue.
O golpe no outro lado de seu rosto não foi inesperado.
—Não tente a minha paciência. — Inclinado para frente, Ira
tocou-lhe o dedo no sangue do canto da boca e trazendo-o para a sua
língua, lambeu-o com prazer. —Gostoso e salgado, ao contrário da
vingança, que é tão doce.
Observando-o com cautela, ela teve o cuidado de manter toda a
expressão de seu rosto.
—Eu tinha quinze anos quando você e seus companheiros
assassinos contratados vieram, — ele continuou falando. —
Conseguimos pegar todos de surpresa, não foi? E você fugiu, mas
ainda peguei vinte de vocês. Tenha a certeza, você era a que eu mais
queria.
Surpresa, surpresa, uma parte de sua mente pensou
amargamente.
—E sabemos o porquê, não é? Se não fosse por você, teríamos
pegado todos. Cada individuo, até o ultimo, era saboroso como você.
— Ele gentilmente tocou o rosto vermelho, a marca de sua mão
estava bem visível. — Você é uma menina má.
Ela se perguntou quando ele iria começar a tirar a sua pele,
certa de que ele tinha outra coisa em mente em primeiro lugar. E ela
não estava errada.
—Eema, minha irmã, dê-me o eletrodo — ele disse
suavemente.
Reya reconheceu imediatamente a menina que se aproximou,
segurando uma pequena caixa com uma varinha fina anexada a
mesma.
—Bethany?
—Não é o meu nome verdadeiro. Você quer saber como nós
sabíamos que estava vindo? — Eema riu estridentemente. —Fui eu
quem matou Royce e Vinca, Vinca era apenas um fanfarrão e gostava
de reivindicar a glória. Má sorte, mercenária, você deveria ter fugido
enquanto podia.
—Tarde demais agora. — Com a caixa, Ira passou o polegar
sobre ela amorosamente.
—Então, por que tomar Mara? — Reya perguntou.
—Ela era a isca para trazê-la aqui. Eu não tinha certeza que iria
funcionar, mas tinha esperança. Você vê mesmo com uma pedra
como coração, em você bate um pedaço de humanidade. Funcionou.
Se não fosse, bem, — ele deu de ombros. —Nós não podemos nos
aventurar para fora do centro do Setor, mas eu teria pensado em
alguma coisa.
—Por que você não pode aventurar-se?
Ele ligou o interruptor na caixa e um zumbido ameaçador
começou.
—Quando as pessoas desaparecem perto do centro do Setor
Outlaw, não se fazem perguntas. Se formos muito longe, então as
pessoas começarão a fazer inquéritos. Além disso, — os olhos verdes
brilhavam com raiva —graças a você, não há número suficiente de
nós. Mas você vai lamentar, eu prometo.
A varinha tocou a sua barriga e a agonia rasgou através dela, o
choque deixando-a sem palavras e caiu em arco de volta para a
parede.
Ele removeu a varinha e ela caiu para frente, ofegante.
Agarrando um punhado de seus cabelos, ele sacudiu a cabeça
para trás para olhar em seus olhos, com um sorriso cruel nos lábios.
—Por que, meu bem, a diversão está apenas começando. Não
se desgaste muito rápido!
A varinha tocou novamente e o choque elétrico rasgou através
dela. De braços abertos contra a parede, ela foi incapaz de escapar.
As crianças aplaudiram e gritaram de entusiasmo e aprovação.
Incapaz de assistir a tortura, Mara se afastou, retirando-se para
si mesma, imaginando que ela estava de volta aos campos do
assentamento, a casa dos seus avôs. Sim, era muito mais agradável
lá. Gritos de agonia não podiam ser ouvidos e que a carne cozida não
era humana...

Maverk estudou o mapa mostrando as ruínas de Yennan e o


deserto em torno de trinta milhas.
—Eles têm de estarem por perto. Eles não podem correr os
riscos de perambular longe demais.
Sinya franziu o cenho.
—Qual é seu palpite?
—Eu não sei. — Ele esfregou os olhos ardendo, pela dor da falta
de sono.
Sua cabeça doía e seu coração estava pesado, mas ele não
podia permitir-se desistir dela. Reya ainda pode estar viva, deve
estar viva. Eu não posso suportar em pensar a vida sem ela. O
pensamento de seu ser torturado... ele estremeceu, com uma fúria
impotente.
—Inferno sangrento! — Saltando da cadeira, ele passeou pela
cabine.
Sinya observava em silêncio simpático. Ele gostava de Reya,
mesmo que ela o odiasse com força.
—Só há uma coisa a fazer. — Maverk virou de repente. —
Capturar uma dessas crianças e forçar a dizer o lugar da caverna.
—Bom, em teoria, mas, e na prática? Não. Eles conhecem este
deserto como a palma das suas mãos. Eles viveram nele por anos
sem serem encontrados. Como é que vamos pegar um?
—Provavelmente, se morderem as nossas mãos sangrentas
fora, — Ephim murmurou.
Franco entrou e falou baixinho para Sinya, que assentiu. Franco
saiu, retornando minutos depois com um jovem magro e pálido.
—Meu irmão. — Sorrindo, Sinya se levantou e estendeu a mão.
O rapaz andou até ele e ele pôs a mão em um ombro magro.
A semelhança era clara nas faces dos irmãos, mas foram os
olhos do menino que chamou a atenção de Maverk. Preto, como os
de Sinya, mas penetrantes e perfurantes. Era a primeira vez que ele
realmente o via desde que Reya o tinha escondido dos caçadores de
recompensas.
—Eu acredito que você já tenha conhecido Weslie, comumente
conhecido como Wes. — O rosto de Sinya suavizou e sorriu para o
seu irmão.
—Eu tive o prazer. — Tomando a mão magra na sua, Maverk
ficou surpreso com a frieza dela.
Wes falou baixinho, mas sua voz era surpreendentemente forte.
—Ela ainda vive, mas temos de agir rapidamente.
Capitulo 24
—Como você sabe disso? — Maverk olhou para ele.
—Ela veio para mim em uma visão.
—Do que o menino está falando, Sinya?
—Meu irmão tem visões que, raramente estão erradas.
—Visões?
—Eu sei que é difícil de acreditar, mas... — Sinya hesitou e
depois acrescentou: — Basta acreditar. Afinal, o que mais temos, nós
devemos ir em frente?
—Você espera que eu coloque a vida de Reya em risco por
causa de uma visão?
Wes olhou para ele sem raiva.
—Você tem alguma outra opção?
—Ouça o menino, — aconselhou Ephim. —Ele salvou nossas
gargantas, mais de uma vez.
Franco concordou.
—Não o dispense tão facilmente.
Olhando-os todos com dúvida, Maverk se perguntou se eles não
estavam todos de alguma forma, meio doidos.
—Não estamos doidos — Wes disse calmamente. —Eu
simplesmente tento ajudá-lo e a Reya, como você me ajudou quando
os caçadores de recompensas estavam atrás de mim.
—Como você sabia o que eu estava pensando?
—Eu sei muitas coisas, mas o tempo é curto. Ela está cheia de
dor e precisa da nossa ajuda rapidamente.
A mandíbula de Maverk se apertou. Reya. Por ela, ele tentaria
qualquer coisa e até o que Wes tinha apontado que outra escolha eles
tinham? O mínimo que podia fazer era ouvir o que o menino tinha a
dizer.
—Então o que você sugere? — Retomando o seu lugar, ele
cruzou os braços.
—Eu irei lá hoje à noite e seguirei as crianças.
—Você pode fazer isso? — Sinya perguntou em preocupação. —
Eles não vão sentir você?
—Você perdeu a cabeça? — Maverk agarrou. —Sabe como eles
são assassinos, você está seriamente pensando em permitir que o
seu irmão mais novo vá atrás deles?
—Não vai ser em seu corpo físico, comerciante. Wes tem o dom
de viajar pela mente.
Isto está ficando cada vez mais bizarro, a cada minuto.
—Só no momento certo, quando as emoções e os sentidos são
fortes, — explicou pacientemente Wes. —Tempo de grande tristeza,
felicidade e dor. Agonia é uma das mais fortes sensações e eu posso
senti-la agora mesmo.
Maverk era uma pálida sombra. E se ele falasse a verdade?
—Eu falo a verdade.
—Como você fez... — Maverk parou. —Não se preocupe. Você
pode realmente fazer isso? Você pode encontrar a entrada para as
cavernas?
—Se tudo correr bem, eu posso encontrar Reya também.
Sinya olhou para Maverk.
—Vamos esperar que ela permaneça consciente, a ligação da
mente é mais forte quando ela está ciente da dor e seu entorno.

Reya tomou conhecimento de muitas coisas durante os poucos


dias desde a sua captura. Ou seja, que Ira e os outros eram ferozes e
cruéis sem nenhum remorso ou culpa. Os prisioneiros da caverna
foram mortos após serem estacados sob o sol ardente, revestidos
com óleo, o que causou a sua pele bolhas muito dolorosas.
Ira a tinha informado de todo o processo, rindo quando Mara
tinha desmaiado com a visão dos corpos mortos sendo arrastados
pelo chão e pendurados em ganchos.
Reya tinha visto sem expressão, pois era tudo o que poderia
fazer para não gemer de dor ao menor movimento.
Na primeira noite, ela tinha sido eletrocutada até que perdeu a
consciência. Quando acordou, ele começou novamente e só parou
quando Ira ficou entediado e desistiu, retirando-se para dormir.
Através de trechos de conversa, ela aprendeu que dormiam
durante o dia e caçavam à noite.
Seus braços estavam dormentes, revestidos de sangue seco,
pelos cortes que tinha sofrido de puxar contra as algemas durante a
tortura. Ira os liberou quando acordou, rindo da dor que lhe causou
quando o sangue fluiu livremente através de seus membros
entorpecidos. Ele acariciou seus cabelos como se ela fosse um cão,
em seguida, chutou-a violentamente na lateral. Ofegante, ela foi
arrastada para a cela.
—Atenda as suas necessidades, se você puder — Eema
zombou.
Desajeitadamente ela conseguiu, utilizando o buraco cavado no
chão, antes de ser rapidamente arrastada de volta para as algemas
ao lado do trono. Uma vez presa de forma segura, a água foi
derramada com descuido em sua boca seca, transbordando para ser
absorvida pelo seu colete.
—Sente-se melhor? — Ira perguntou, segurando um pedaço de
carne. —Gostaria de algo para comer?
Carne humana? Ela quase engasgou com o pensamento, mas
manteve o rosto impassível, olhando para longe dele, buscando Mara.
Seu estômago agitou quando viu ainda deitada no chão, ainda presa
ao poste.
—O que você fez com ela?
—Oh, ela é um esporte tão pobre. Não aceitou bem quando lhe
dissemos para comer como uma boa menina. Fez tanto barulho, isso
não é educado. Um casal de meus irmãos que a assistia ficou um
pouco irritado.
—Seu pequeno viscoso bastardo! — Ela pulou para frente, mas
foi sacudida e parada pelas algemas. —Se você a matou...
—Eu faria isso? Ela simplesmente desmaiou, mas vai ficar bem.
E eu realmente não gosto de ser chamado de nomes.
Seu punho agarrou o seu queixo, batendo sua cabeça contra a
parede.
—Não é bom para todos. — Sentado no trono, ele contemplava
sua prisioneira, pensativo. —Agora, o que devemos fazer hoje, hmm?
Oh, eu já sei!
O brilho nos seus olhos profanos causou um mau
pressentimento em seu coração.
—Eema, traga-me a vara.
Um gorjeio de excitação voou ao redor da caverna e um canto
surgiu.
—Vara! Vara! Vara!
Tomando uma haste longa e fina de Eema, Ira bateu-a no ar
rapidamente, produzindo um zumbido.
Reya estremeceu interiormente. Ela já tinha visto
anteriormente isto sendo usado no lugar de um chicote. Fazia
vergões no corpo, se usado com cuidado ou profundos cortes.
—Eu não quero prejudicar essa linda pele — disse ele
alegremente. —Então, eu tenho um método bastante engenhoso.
Onde está a loção?
—Aqui. — Um dos rapazes ofereceu um pote.
—Muito bom. Esfreguem bem, meus irmãos. Quero me
assegurar que nossa hóspede sinta cada batida de justiça que
reservei para ela.
A loção foi esfregada em suas pernas, braços e estômago. Ela
sentia frio.
—Não relaxe, minha querida. — Ele estudou o rosto
machucado. —Está para ficar pior, muito pior.
Recuando, ele balançou a vara. Não cortou a pele, mas ela não
podia evitar o nó na garganta que escapou dela. O vergão apareceu
instantaneamente em sua pele e a loção subiu embebendo os seus
poros.
Era como se ela estivesse sendo marcada. Sua carne queimava
como brasa, em agonia pensou por uma fração de segundo, que
estava enganada, que a vara tinha cortado a sua carne e os seus
órgãos.
—Dói, não é? Essa é a loção. Material maravilhoso, não é?
—Vá para o inferno! — ela ofegou.
—Confie em mim, antes de isso acabar, você vai desejar estar
lá. É o céu, comparado ao que você vai sentir esta noite.
A vara cortava através de seu estômago e os músculos nos
braços incharam quando ela tentou, sem sucesso, enrolar-se
defensivamente contra a agonia. Conforme a vara batia, os vergões
apareciam, embebidos na loção e a caverna ressoava com os gritos
que ela não conseguia segurar.
Quando finalmente desmaiou, eles foram implacáveis. Baldes
de água fria foram jogados sobre ela até que recuperou a
consciência, então ele começou de novo. Ira deu apenas uma parada,
quando ficou com fome.
Depois olhou para sua prisioneira e sorriu. A mercenária
orgulhosa só permanecia em pé, porque as algemas a seguravam.
Suas roupas e cabelos estavam ensopados de suor e água, sua pele
uma massa de vergões irritados. Eles pareciam tão inofensivos, os
vergões, mas não eram.
—Eema, — ele chamou. —Ponha mais loção sobre nossa
convidada. Eu não quero pensar que tudo foi lavado. Seria um
desperdício de meus esforços!
As crianças riram. Vários tinham ficado entediados e se
afastaram em diferentes direções.
Ira franziu o cenho.
— Se vocês estão tão entediados, vão acima do solo e vejam se
conseguem encontrar qualquer alimento.
Eles balançaram a cabeça e correram.

Com olhos fechados, Wes estava sentado de pernas cruzadas


sobre uma almofada. O quarto estava escuro, com um leve cheiro de
incenso que flutuava através do ar.
Silenciosamente Maverk perguntou se isso era realmente
necessário ou se ele estava apenas perdendo seu tempo e o de Reya.
Wes havia solicitado sua presença.
—Porque as suas emoções para ela são fortes e vão dar-me
força.
Ele esperava que sim.
—Basta sentar-se calmamente e não dizer nada — Sinya
instruiu antes de fechar a porta, deixando-os sozinhos.
Wes acenou-lhe para uma das almofadas no chão.
—Sente-se e concentre-se em Reya.
Como se ele pudesse fazer mais alguma coisa. Pensar nela era
tudo que tinha feito desde que ela tinha fugido.
Ele agora observava Wes, como tinha feito nas últimas duas
horas. Câimbras tinham começado a estabelecer-se, mas temia
movimentar-se muito no caso do menino realmente poder encontrar
seu paradeiro, e ser distraído por seus movimentos. Ele iria esperar
até que seus membros murchassem e caíssem, se isso significava
encontrar a moça que ele amava.
De repente, Wes gemeu, um riacho de suor deslizou pelo seu
rosto. Os olhos escuros tremiam, mostrando lampejos de branco.
Suas mãos, tão silenciosamente e calmamente postas em seu colo,
agora começaram a torcerem juntas, apertando tão rígido que
manchas de sangue apareceram onde as unhas cortavam a carne em
sua palma.
Maverk perguntou inquieto, se ele devia procurar ajuda.
—Reya, — Wes sussurrou. —Essa dor...
Sem um aviso um vergão apareceu no seu braço fino, depois
outro e outro, vermelho e irritado. Suor escorria pelo seu rosto para
impregnar sua camisa.
Não havia mais nenhuma dúvida na mente de Maverk, o irmão
mais novo do pirata poderia encontrá-la.
Wes, de repente, arqueou para trás e gritou, antes de cair
molemente para frente. Maverk pegou-o ao mesmo tempo em que a
porta se abriu, Sinya e Franco correram pela cabine.
—Acho que ele desmaiou. — Maverk colocou o menino no chão,
colocando uma almofada sob sua cabeça.
—É normal — garantiu-lhe Sinya, ajoelhado ao lado de Wes.
—Eu não sei o que aconteceu. Ele começou a suar, então esses
vergões apareceram... — Ele olhou espantado.
A pele de Wes estava lisa, seca e sem mácula.
Sinya afagou o braço confortavelmente.
—Eu sei o que você quer dizer. O que ele vê se imprime em seu
corpo, mas não, graças a Deus, por muito tempo.
—Mas o que ele viu? Ele não disse nada.
—Ele vai levar cerca de meia hora, — disse Franco. —isso é
quanto tempo ele leva para se recuperar.
Foi a mais longa meia-hora de vida de Maverk.
Quando Wes finalmente se recuperou e contou o que tinha
visto, Maverk empalideceu.
Minutos depois, quando eles deixaram à nave, estava
amanhecendo. Eles descobriram Stellar e Isham esperando por eles.
—Você enviou uma mensagem para nós? — Stellar perguntou.
—Sim — respondeu firmemente Maverk. —Nós sabemos onde a
entrada da caverna está. Você ainda deseja buscar as suas 'crianças'?
—Como você pode ter encontrado eles? Temos procurado por
anos!
—Eles se escondem bem. Se você os quer, reúna o seu povo e
siga-nos, mas antes você deve concordar em permitir que nós
entremos e salvemos Reya e Mara, em primeiro lugar.
—Você vai ser pego.
—Eu vou arriscar. Eu não vou arriscar as vidas das moças por
mais tempo.
Stellar concordou.
—Se é isso que você deseja. Vamos reunir nosso povo e vir.
—Você realmente está indo para matá-los? — Sinya não gostou
da idéia. —Eu sei que eles são selvagens...
Maverk não tinha estômago para matar crianças, ou seja, pelo
menos não os mais jovens.
—Não é possível que os pequeninos sejam tratados ou algo
assim?
—Eles torturam a sua mulher.
—O mais velho está próximo de dezoito anos, mais homem do
que jovem. Isso é diferente. Mas os outros têm apenas doze e
treze...
—Não se preocupe. — Stellar fez um sinal para trás dela, para
uma das pessoas do deserto. —Nós vamos cuidar deles. Eles são
como muito bem disse, a nossa carne e sangue. Nós temos os meios
para tratá-los.
Uma onda de alívio percorreu Maverk. Ele ainda achava difícil
acreditar que as crianças pudessem ser tão selvagens, até que ele se
lembrou do que Wes lhe tinha dito, um arrepio gelado desceu pela
sua espinha.
—O mau cheiro dos cadáveres em decomposição, carne
humana torrada... ela grita em agonia... o fogo queima mais
quente... eles não vão deixá-la dormir, não oferecem nenhum alívio...
sua pele...
Ele balançou a cabeça. Ele não podia pensar nisso, ou iria ficar
temporariamente insano ao ir para a caverna escondida e ser morto.
Ele selaria o destino de todos.
—Vamos. — Ele virou-se para Sinya. —A nave está pronta?
—Nave? — Isham estreitou os olhos.
—A caverna não está longe, mas precisamos da nave espacial
para abrigo, apenas para o caso. — Sinya caminhou em direção a ele,
quando falou. —Nós não correr riscos, pelo menos, nada mais do que
o necessário.
—Você tem as redes? — Stellar perguntou para um dos
homens, que concordou. —Você tem tudo? Eles não podem escapar
desta vez.
—Não se preocupe, estamos preparados.
—Eles vão, obviamente, pegá-los vivos — comentou Sinya
quando Maverk ficou ao seu lado.
—Sim. Espero que nada dê errado. Vamos começar a nos
mexer. Eu quero estar longe deste lugar esquecido por Deus o mais
rapidamente possível, com as moças. Então eu quero esquecer este
pesadelo todo.
—Você não receberá quaisquer argumentos de mim. — Sinya
começou a gritar ordens à sua tripulação.
A nave pousou cinco quilômetros a partir das ruínas de Yennan,
as pessoas do deserto e os piratas desembarcaram rapidamente,
arrastando as redes atrás deles.
—Esta é uma duna de areia. — Isham olhou intrigado. —Uma
de centenas. Tem certeza que os skinners se escondem aí embaixo?
—Sim. — Maverk concordou secamente.
—Como você encontrou-os?
—Basta estar feliz por tê-los encontrado. — Sinya passou por
eles.
Maverk encolheu os ombros quando Isham ergueu as
sobrancelhas para ele, mas em particular, ele se perguntou por que
Sinya não revelou o estranho dom de Wes. Até que se lembrou que
essas pessoas eram cientistas do deserto e tinham sangue-frio, como
já tinham mostrado. Ele ainda se sentia doente ao pensar como eles
adquiriram os seus “mini-mercenários”, mas agora não era o
momento de pensar nisso.
Rapidamente ele seguiu Sinya pela duna de areia até chegar a
um arbusto raquítico na areia. Ele olhou para o companheiro, em
seguida, por cima do ombro para ver que metade dos piratas
esperava abaixo, segurando os lasers e os olhos varrendo o seu
entorno, enquanto o restante dos piratas esperava sombriamente
atrás dele e de Sinya. Todos com suas armas. O povo do deserto
esperava silenciosamente nas proximidades, com redes em suas
mãos.
Respirando fundo, Maverk segurou sua arma de laser em uma
mão e puxou com firmeza o tronco do arbusto, que tremeu e
começou a se mover.
Sentindo a mudança de solo sob eles, pularam de volta. Um
buraco apareceu quando o mato e parte da terra deslizaram de lado.
Vermelho e laranja piscaram, Maverk podia ver que o buraco ia direto
para baixo em uma inclinação, passos cortavam bruscamente no chão
rochoso. A cintilação devia-se a tochas empurradas para dentro de
nichos nas paredes rochosas.
Respirando fundo, ele quase sufocou com o cheiro pútrido
flutuando acima dos degraus. Um movimento fez olhar para cima
para ver Stellar segurando uma faixa. Ela apontou para a metade
inferior do rosto e viu que o povo do deserto tinha amarrado
máscaras sobre suas bocas e narizes, uma proteção contra o mau
cheiro.
Panos foram passados ao redor e logo todos usavam um.
Acenando para Sinya, Maverk começou a descer os degraus de
pedra. Tudo estava quieto. Obviamente, os skinners dormiam.
Eles desceram mais, encontrando a passagem e ele observou
as pinturas nas paredes, figuras, varas e símbolos estranhos. A tinta
usada era desconhecida para ele. Algumas delas eram vermelhas e
pareciam frescas, enquanto outros desenhos eram marrons, sua pele
se arrepiou. Era sangue. Ele não olhou para Sinya, mas podia sentir a
sua tensão.
A passagem abria em uma caverna enorme e eles entraram
com cautela. O que viram fez mais do que um dos piratas quase
vomitar o conteúdo de seu estômago no chão. Isso era muito real,
eles estavam em perigo, o que os fez ranger os dentes e engolir com
bravura.
Maverk registrou os horrores dentro da caverna, mas seus
olhos procuravam desesperadamente por Reya.
Sinya cutucou e apontou. Seguindo a direção de seu dedo, ele
viu uma jovem enrolada perto de um poste no meio da caverna, um
colar prendia em torno de seu pescoço com uma corrente anexando-a
ao poste. Magra e tremendo violentamente, seus olhos azuis estavam
arregalados com o choque. Um tufo de cabelos pretos encaracolados
estava emaranhado em torno de seu rosto.
Mara. Seu estômago apertou. O que eles tinham feito com ela?
E onde estava Reya? Freneticamente o seu olhar varreu a sala até
que ele avistou uma figura e sentiu seu coração dar uma guinada.
Ao lado do trono do outro lado da caverna estava uma figura
esguia algemada, de braços abertos para a parede. Mesmo daqui ele
podia ver os vergões vermelhos cobrindo seu corpo entre os trapos
que ela usava. Sua cabeça estava caída para frente, os cachos
vermelho-ouro estavam emaranhados em torno de seu rosto. Será
que ainda está viva?
Afastando o olhar dela, ele olhou para Sinya e silenciosamente
apontou para Mara. O pirata acenou com a compreensão. Os piratas
se separaram vários indo com Sinya, enquanto dois deles seguiu
Maverk. O restante montava guarda na caverna deserta.
Parando na frente de Reya, Maverk deslizou a mão entre os
cabelos emaranhados para sentir o pulso em sua garganta. Graças a
Deus, ele estava lá, fraco, mas perceptível.
Um dos piratas já estava soltando as algemas de seus
tornozelos enquanto outro trabalhava em seus pulsos.
Delicadamente empurrou a cabeça para trás, Maverk varreu o
cabelo de lado para olhar para seu rosto, suas entranhas apertaram
ao ver os hematomas em seu rosto, o lábio cortado e as manchas de
lágrima. Ele soube então que a tortura tinha sido horrenda, para ela
chorar e ele provou o medo, perguntando se ela tinha permanecido
sã.
—Pronto — Franco sussurrou.
Assentindo, ele apoiou-a, enquanto as algemas foram abertas.
Ela caiu para frente e ele rapidamente a pegou em seus braços. Sem
perder um segundo, ele se virou e começou a descer as escadas,
vendo que um dos piratas embalava Mara no peito e já estava na
entrada da passagem.
—Parem intrusos! A mulher é minha! — uma voz gritou
furiosamente.
As paredes da caverna pareciam estar vivas. Para fora dos
pequenos buracos nas paredes, contorciam-se crianças rosnando, os
olhos brilhando de alegria selvagem.
—Comida! — Um menino de não mais de dez arreganhou os
dentes, tinha manchas de saliva no queixo.
O pirata segurando Mara subiu a passagem para a superfície.
—Os atordoem, agora! — Sinya ordenou.
Os piratas começaram a atirar nas crianças que estavam
segurando facas de esfolar e uivando estridentemente.
Franco e Ephim lutaram com o jovem que, com os olhos
brilhando, rugia
— Ela é minha! Minha!
Maverk percebeu que este era o único que tinha abusado de
forma tão virulenta de Reya, enquanto parte de sua mente queria
matá-lo, ele sabia que tinha de levá-la para a segurança. Ela era sua
primeira preocupação. Correu pela caverna, saltando por cima dos
corpos das crianças caídas.
Ainda mais se arrastou para fora das paredes.
—Cuidado, Maverk! — Franco gritou.
Girando ao redor, Maverk viu os dois, Franco e Ephim lutando.
Ira estava indo atrás dele, com uma faca de esfolar na mão.
A força do jovem era enorme, a sua velocidade incrível. Antes
que Maverk tivesse tempo para se mover, Ira lançou-se para frente,
com a faca levantada.
Ele reagiu instintivamente, preparando-se e levantando o pé.
Ira colidiu com ele, a força empurrou-o para trás, girando a faca para
longe, no ar.
Atordoado, Ira balançou a cabeça antes de começar lentamente
a levantar, balançando. Ele olhou para Maverk, então, alguém atrás
de Maverk chamou sua atenção, um choque de reconhecimento
apareceu em seus olhos.
—Mãe?
Stellar e Isham pularam arremessando a rede por cima da sua
cabeça e corpo, ele foi jogado ao chão.
—Não, não! Mãe! — Ira gritou, batendo impotente. —Solte-me!
Os gritos ecoaram nos ouvidos Maverk, fazendo seu peito
apertar. As próximas palavras fizeram o seu couro cabeludo arrepiar.
—Eu vou cortar o seu fígado, enquanto você ainda respira e
comê-lo cru e sangrando! Liberte-me!
Stellar olhou para cima, com profundos olhos verdes, assim
como de seu filho.
—Deixe Maverk. Finalmente temos as crianças e vamos dar-
lhes o seu tratamento. Você tem sua amiga ferida, para cuidar.
—Sim. — Ele se virou e viu que o povo do deserto prendeu seus
filhos nas redes, os animalescos uivos arrepiaram a sua espinha.
Na entrada para o corredor estava Sinya, com seus piratas
atrás. Ele viu que tinha vários feridos, mas nenhum grave. Mas os
olhos deles mostravam que as abominações que eles tinham visto
nessa viagem, nunca seriam esquecidas.
—Vamos levar Reya para a segurança da nave, — disse
laconicamente.
—Sim. — o rosto de Sinya estava negro. —Quanto mais cedo
melhor. Eu quero ficar livre deste lugar.
Uma vez acima do solo, eles foram para a nave, mas não tinha
ido muito longe, quando seus nomes foram chamados. Virando-se,
eles assistiram Stellar e Isham descer a encosta e parar diante deles.
Com o rosto sombrio, Stellar disse:
— Temos muito a agradecer.
—Não, você não tem. Por sua parte na explicação sobre o
skinners, sim, eu reconheço a sua colaboração, mas nada disso teria
acontecido se...
—Se não tivéssemos brincado de Deus? Nós sabemos os erros
que fizemos. Temos colhido o que semeamos e agora é tempo para a
colheita.
—O que você planeja? — Sinya perguntou curiosamente. —
Como você vai tratá-los? O que você pode fazer? Eles são tão
selvagens.
—Nós vamos gerenciar isso. Espero que sua amiga sobreviva.
Maverk olhou para Reya em seus braços.
—Ela precisa de atenção imediata. — Fugazmente olhou para o
casal diante dele, os olhos duros e implacáveis. —Não vou dizer que
foi um prazer conhecer vocês.
Stellar inclinou a cabeça gravemente.
—Nós entendemos.
Pessoalmente, ele não se importava se eles entendiam ou não.
Voltando-se, caminhou para dentro da nave pirata, Sinya e sua
tripulação o seguiram.
O som de fogo de laser e gritos perfurava o ar. Maverk
congelou, enquanto Sinya virou-se, seu olhar acusador caindo sobre
Stellar.
—Não é a sua preocupação, — disse ela sem rodeios.
Olhando por cima do ombro, para onde a abertura da caverna
estava, Maverk viu o povo do deserto surgir e Isham levantou a mão
para eles
—Você os matou, — disse ele com desprezo.
—A colheita está terminada. Aqueles que se aventurarem no
deserto não vão mais cair vítima dos skinners. — Stellar afastou-se.
Batendo e fechando a porta atrás do último homem da sua
tripulação, Sinya correu para a cabine de comando e disse
laconicamente ao seu piloto.
— Tire-nos desse inferno e deste planeta fedorento.
Capitulo 25
Verificando Mara, Sinya a encontrou em estado de choque, mas
fisicamente ilesa, com apenas algumas contusões e falta de
alimentos. Decidiu que o sono era o melhor tratamento para ela por
enquanto, ele lhe deu um sonífero e colocou Franco no comando de
seus cuidados.
Maverk gentilmente enxugou o suor e sujeira seca do rosto de
Reya, mas quando ele tocou os vergões em seu braço, ela despertou
gemendo.
—Ah, desculpe-me, moça — ele disse baixinho, enchendo-a de
alívio enquanto seus olhos se abriram.
—Ajude-me... para o chuveiro...
—Não é o momento de se preocupar com a higiene, vou
banhar-lhe.
—Loção... coloca... pele... queimaduras.
—Eu não vou colocar loção sobre sua pele se dói tanto. —
Ternamente, ele alisou o cabelo para trás da testa.
Fazendo caretas de dor, ela subiu dolorosamente sobre um
cotovelo.
—Não. Loção que colocaram em mim por... Ira aumenta a dor...
— Com um gemido, ela caiu de costas sobre a cama.
Compreensão ocorreu.
—Vou limpá-la, moça. Você está fraca demais para ir para o
chuveiro, não sei se tem outras lesões que...
Fracamente ela tentou empurrar-se na posição vertical.
—Eu preciso de... água corrente.
Colocando suas mãos nos ombros dela, ele começou a
empurrá-la de volta para o colchão.
—Repouse Reya, você não está em condições... — Seu grito de
dor o fez arrancar as suas mãos para longe. —Inferno sangrento!
Um brilho fresco de suor reluzia em sua testa e ela arqueou
para trás, seus punhos estavam cerrados e os olhos bem fechados,
tentando lutar contra as ondas de dor que passavam por ela com o
seu toque.
Entrando na cabine, Sinya olhou para o rosto agoniado de
Reya.
—O que a aflige?
—Eu não sei, — disse Maverk impotente. —Ela está falando
sobre algum tipo de loção que o bastardo assassino colocou sobre
ela, algo a ver com isso causando mais dor. Ela é insistente sobre
uma ducha, mas está muito fraca e quando eu tentei impedi-la de
levantar-se...
—Se é o que eu suspeito, então ela está correta. A loção é
absorvida pela pele, produzindo uma sensação de queimação e uma
reação a qualquer toque, não importa quão leve ou suave, é
angustiante. E, — ele inclinou-se e olhou de perto os vergões na pele
dela, — Wes mencionou uma vara, não foi?
—Sim. Mas um chuveiro? É aconselhável, em sua condição?
—É o único caminho. Tocar sua pele com alguma coisa vai ser
uma agonia e tem que remover a loção, sem esfregar. Água corrente
lave-a.
Maverk olhou para baixo e viu os olhos de Reya cheios de dor e
sussurrando desesperadamente, ”por favor," isso o rasgou.
—Muito bem, se é o único caminho, isso será feito. — Ele
começou a desamarrar o que restou de seu colete. —Eu vou atendê-
la.
Tomando a dica, Sinya deixou a cabine.
— Se você precisar de mim chame.
Mal a porta se fechou e Reya agarrou o pulso de Maverk.
—O que é isso, moça?
—Basta deixar... me... tomar banho... tomarei eu mesma...
—Não há nenhuma maneira de você fazer isso sem mim.
—Ponha-me... em pé...
—Não, confia em mim. — Delicadamente, ele a libertou de sua
roupa, cuidando para não tocar a feridas perto de seus pulsos.
Reya gemeu. Ela estava com grande dor, mas a guerreira ainda
lutava e a mulher protestou contra a indignidade de um homem
despi-la. Ridículo em sua condição, ela sabia, mas agora que estava
fora daquele inferno, tinha que saber que podia cuidar de si mesma,
uma vez mais, para recuperar a confiança em si mesma. Havia
apenas uma coisa para isso.
—Então... dispa-me... no chuveiro.
—Pode ser mais fácil aqui.
—Alguém... pode... entrar.
—Ninguém vai, — ele assegurou-lhe suavemente.
—Por favor...
Maverk não a queria mais chateada do que já estava e, afinal,
despi-la no chuveiro ou na cama, qual era a diferença? Só a paz de
espírito dela.
—Muito bem moça. Em pé, — ele passou os braços
cuidadosamente embaixo dos joelhos e nas costas. —Prepare-se,
meu amor, isso vai ser doloroso.
Foi pior do que doloroso. Mais de um vergão tocou em seu
colete e a agonia rasgou através dela.
Sentindo o seu enrijecer, ele andou rapidamente através da
porta de entrada para o banheiro adjacente. Era pequeno, ele
percebeu, com espaço apenas para o chuveiro e uma pessoa. Com
sua construção maciça, era quase impossível entrar e despir Reya,
então ele parou na porta e a abaixou sobre os pés, no chão.
Apoiando as mãos sobre o batente da porta, ela segurou-se por
si só.
Por que ela estava de frente para ele e ele não correria o risco
de tocar nos vergões, ele pegou novamente os cordões em seu
colete.
—Só mais alguns minutos, moça, e nós vamos tirar essas
roupas e vou apoiá-la no chuveiro...
—Acho que não. — Reunindo o que sobrou de sua força, ela
empurrou-o.
Apanhado de surpresa, ele cambaleou para trás e foi tudo que
ela precisava. Dando um passo para o lado, ela bateu a porta e
trancou-a rapidamente. Caindo de costas contra a parede, com as
pernas tremendo, sabia que a ação tinha tomado quase toda a força
que lhe restava. Sendo verdadeira consigo mesma, ela reconheceu
que era apenas pura teimosia e orgulho o que a mantinha.
Ele sacudiu a maçaneta com urgência.
—Reya! Abra a porta!
Incapaz de responder, ela simplesmente balançou a cabeça.
—Reya! Você está bem? Responda-me!
Puxando uma respiração profunda, ela resmungou,
— Eu estou bem.
—Abra essa porta antes que entre em colapso!
Com grande esforço, ela cambaleou para o chuveiro, onde suas
pernas cederam e ela escorregou para o chão de azulejos.
Autopreservação a fez agarrar-se para retardar sua descida. Ela
chegou ao chão, ao mesmo tempo em que a água fria do chuveiro
começou a cair em cima dela.
Era fogo e gelo ao mesmo tempo, o primeiro toque de água
sobre a pele reagiu com a loção, mas o fogo produzido era
refrigerado quase instantaneamente pela água fria.
Ouvindo o baque abafado, o som de água corrente e um
gemido de dor, Maverk bateu na porta.
—Reya! Reya abra!
Vagamente ela percebeu que se não respondesse, ele
provavelmente arrombaria a porta.
—Eu estou bem.
As palavras trouxeram alívio para ele, mas ainda assim estava
freneticamente preocupado. Ela estava tão fraca...
Sinya enfiou a cabeça pela porta.
—Por que está batendo e gritando, oh.
—Você tem uma chave para o banheiro? Ela se trancou lá
dentro!
—Isso é perigoso na sua condição. — Ele desapareceu pela
porta. —A chave está em algum lugar. Na minha cabine, no escritório
ou...
Ao ouvir suas vozes, ela agiu mais rapidamente. Fracamente
ela puxou os trapos encharcados e botas, fazendo caretas para os
punhais molhados, deslizando-os pelo chão para ficar no canto. Eles
não foram muito úteis contra os filhos...
—Mara!Onde está Mara? — ela gritou com voz rouca, seu
coração trovejando.
—Salva, na outra cabine, ao contrário de você!
O alívio escorreu através dela. Ambas estavam em segurança.
Agora ela podia relaxar, lavar dela o fedor da caverna e a condenada
loção de sua pele.
Cuidadosamente ficando de joelhos, ela estendeu a mão e
pegou o sabonete liquido, antes de cair no chão para lavar-se. Seus
braços estavam tão pesados e as garras do cansaço caiam sobre ela,
mas se forçou a esfregar cada centímetro de seu corpo e cabelo,
respirando o cheiro limpo e fresco, esfregando a sujeira, suor e restos
da loção de sua pele.
Desligando a água, ela ouviu uma voz abafada e um chocalho.
—Tem que ser uma dessas...
—Você não sabe qual?
—Eu normalmente não tranco a porta do banheiro,
comerciante.
—Inferno sangrento!
Se ela não quisesse ser pega nua, ela teria que se apressar.
Rastejando até a borda do chuveiro, ela utilizou o biombo para puxar-
se na posição vertical. Uma vez em pé, ela procurou uma toalha e
conseguiu envolvê-la em torno de si mesma. Era enorme, descendo
até as panturrilhas. Típico, pensou vagamente, de Sinya, só podia ser
o melhor. Provavelmente, roubou de alguma vítima rica.
O quarto começou a inclinar-se e ela jogou-se contra a parede,
com a respiração vacilante.
—Esta chave se encaixa melhor, — advertiu sombriamente
Maverk. —Se não, eu vou quebrar a maldita porta.
O pirata não tinha dúvida de que ele faria isso mesmo, mas,
felizmente, a fechadura cedeu e eles abriram a porta.
—Não.
Maverk entrou no pequeno banheiro e olhou em torno
preocupado.
—Reya, o que o...
—Bem a tempo. — As palavras trêmulas vieram de trás dele e
ele virou-se, bem a tempo de pegá-la quando ela caiu para frente,
em seus braços.

O tempo passou como um borrão. Reya alternava entre a


consciência enevoada e a escuridão. A primeira foi preenchida com a
confusão, a última com coisas escuras, que a perseguiam, prendia e
queimava a sua pele.
—Quente tão quente. — Aflita ela empurrou as cobertas em
cima dela.
Um pano frio foi aplicado a sua pele queimada, as palavras
fluíam calmante sobre ela.
—Descanse moça. Você está segura. Descanse.
Braços fortes a erguiam com cuidado, estava ciente de estar
encostada a um peito duro, quando um copo foi colocado em seus
lábios secos e a água fresca escorreu-lhe pela garganta seca.
Mãos suaves aninhavam-na quando estava fria, passava uma
toalha fria sobre o rosto e os braços quando estava quente, segurava
a sua mão confortavelmente quando ela tateava para agarrar algo ou
ainda quando outro horror a perseguia através da escuridão.
Tristeza, tristeza e culpa, pesava sobre ela, mas não sabia por
que e quando começou chorar baixinho, essas mesmas mãos a
puxaram para um abraço seguro. Havia algo tão quente, confortável
e familiar nesses braços, com seus músculos que inchavam e
flexionavam quando eles se movimentavam. Vagamente ela estava
ciente da preocupação nos olhos castanhos.
O estranho de boa aparência parecia tão preocupado.
—Não se preocupe assim — ela sussurrou, chegando a tocar a
curva acidentada do seu rosto.
Segurando a mão dela contra a sua bochecha, Maverk
pressionou um beijo na palma quente. O batimento cardíaco, pensou
Reya, tinha recuperado a consciência plena, mas os olhos estavam
fechados de novo e ela se agitava sem descanso, franzindo a testa.
Durante oito dias ele atendeu-a em todas as necessidades, mas
não havia nenhum sinal de melhora. A febre a queimava e nada que
ele ou Sinya fizessem a fazia baixar. Eles conseguiram fazê-la tomar
um caldo e água suficiente para sustentá-la, mas isso era tudo.
Mara saiu de seu choque, mas falava pouco. Wes passou um
tempo com ela, conversando ou apenas lendo calmamente. No
sétimo dia, Sinya a ouviu realmente rir um pouco e balançou a
cabeça para si mesmo. A criança ficaria boa, mas a guerreira... ele
franziu o cenho.
Entrando na cabine, viu que ela não estava melhor. Maverk
olhou para cima, cansado.
—Descanse meu amigo, eu vou ficar com ela — Sinya disse
suavemente.
—Não, vou ficar com ela.
—Você está tão cansado que dificilmente poderia suportar.
A mandíbula forte apertou com determinação.
—Eu devo cuidar dela.
Sinya estendeu as mãos para cima, resignado.
—Muito bem. Nós estamos chegando a um assentamento em
breve, vou descer e ver se há é um médico em algum lugar.
—Eles são todos açougueiros aqui. — olhos avermelhados
olharam para a mulher gemendo na cama.
—Pode haver entre eles um que possa pelo menos ajudar um
pouco. Precisamos parar para por combustível de qualquer maneira,
então não há mal nenhum em procurar por um.
Assentindo, Maverk voltou sua atenção para limpar seu rosto
aquecido. Quando a nave pousou, pouco tempo depois, ele não
tomou conhecimento disso, assim como não tinha conhecimento de
nada, apenas de Reya.
Ela perdeu peso. Os vergões ainda estavam vermelhos apesar
de o inchaço ter desaparecido. A pele dela estava quente e seca, ela
permanecia confusa, sem parar de se bater por um minuto que fosse,
sempre resmungando febrilmente, palavras que ele não podia
decifrar.
Ele temia que ela não fosse se recuperar.
A porta da sala abriu, mas ele não olhou para cima até que uma
voz disse baixinho:
— Olá, amigo.
Ele olhou por cima do ombro e imediatamente reconheceu o
homem na porta. Cabelos loiros impecavelmente cortados, as pontas
apenas tocando a gola do casaco preto.
Calças apertadas, enfiadas dentro das botas pretas. Brilhantes
olhos verdes num rosto bonito e jovial procuravam o rosto do
comerciante Daamen com preocupação, a expressão em si era muito
mais sábia e mais velha que o ar jovial e sensual projetava.
—Kiile. — o rosto de Maverk se iluminou brevemente. —O que
você está fazendo aqui?
—Eu encontrei Sinya no assentamento e ele me informou do
acontecido. Como ela está?
—Não há melhora. Eu não sei mais o que fazer. Tentamos de
tudo e não me atrevo a arrumar um médico neste setor.
—Eles iriam matá-la com certeza, mas talvez eu possa ser de
alguma ajuda.
—Você tem conhecimento desse tipo de doença?
—Infelizmente não, mas os curadores no meu planeta, Argon,
estão entre os melhores.
A esperança queimou nos olhos castanhos.
—Você acha que eles podem curá-la?
—Eu não posso prometer. Ela está extremamente doente, mas
é melhor tentar, não é?
—Sim.
—Felizmente, eu e meu amigo Marten, viemos em uma nave da
frota. É pequena, mas a mais rápida na galáxia. Podemos estar em
Argon em dois dias.
Que era impossível, não era?
Lendo os pensamentos em seu rosto, Kiile sorriu.
—Temos melhorado a velocidade desde a última que Reya
roubou de mim. Prepare-a. Vou informar Marten e nós vamos ter a
nave da frota aqui em quinze minutos e sairemos imediatamente. —
Ele se virou para ir embora.
—Kiile.
Ele olhou por cima do ombro.
—Sim?
—Obrigado.
—Não há problema, amigo.
O Argon deixou a cabine, certo de que tinha visto o brilho de
umidade nos olhos do gigante e ele sentiu um puxão em seu peito.
Pelo amor do seu amigo, esperava que tudo acabasse bem. A
guerreira, orgulhosa e desafiadora que ele lembrava, quando, uma
vez, foi sua prisioneira, estava gravemente doente em um beliche em
uma nave pirata. Ele esperava que seus curandeiros pudessem
ajudá-la. Ela alcançou um ponto fraco em seu coração.

Mãos estranhas a tocavam, fazendo-a se contorcer e tentar se


afastar. Sensações perturbadoras, uma sensação sensual no ar que
escoava para dentro dela. Inquieta e angustiada, ela se afastava.
Isso não era certo. Algo estava sendo aplicado em sua pele, era
fresco e suave, mas as mãos, a sensualidade inconsciente das palmas
das mãos...
—Não — choramingou Reya, empurrando-as, afastando-se. —
Não.
Outra voz, profunda e tão docemente familiar.
—Moça, está tudo bem, não lute contra eles.
Cegamente, ela estendeu a mão, se enchendo de pânico,
temendo que essa presença fosse deixá-la.
—Onde você está? Por favor, não vá!
—Eu estou aqui, meu amor. — Levou as mãos quentes dela em
um aperto forte e reconfortante. —Eu não vou, moça, eu estou aqui.
Imediatamente ela se acalmou.

—Aqui. — O curandeiro Argon entregou a Maverk o frasco de


pomada de ervas. —A guerreira relaxa com você. Veja se ela permite
que você esfregue isso em sua pele.
Mergulhando as mãos no creme, Maverk aplicou hesitante sobre
a pele quente. Reya gemeu baixinho, mas não se mexeu. Mais
confiante, ele esfregou-o nela. Ela relaxou, parecendo encontrar
conforto em seu toque suave.
Argon sorriu, os olhos dourados apertaram nos cantos, a barba
negra salpicada de cinza se movendo com seu sorriso.
—O emprego é seu, porque ela deseja que apenas você a
toque.
O calor encheu seu coração, Maverk olhou para seu rosto,
agora relaxado e livre das linhas de dor.
—Quando você tiver coberto a frente de seu corpo com o
creme, vire-a e passe nas costas.
—Quando poderemos saber se ele está ajudando, Sarcan?
—Em breve. Voltarei após a refeição do meio-dia.
Diligentemente Maverk continuou a aplicar o creme, respirando
o cheiro agradável, quente, ensolarado, levemente florido e ele achou
calmante para seus próprios sentidos perturbados.

Essas mãos eram as certas, reconfortantes em sua força e


doçura, afagando suavemente sobre os braços e pernas, rodando
sobre seu estômago, virando-a com cuidado para repetir o
procedimento nas costas, nádegas, braços e pernas. Sua pele sentia
o frio, tão suave e agradável. Ela se deleitou com a sensação,
sentindo-se protegida e segura, ouvindo a voz suave do dono das
mãos, que falava com ela. Ela não entendia as palavras, mas não
importava.
Uma lâmina de luz, fria e fresca, flutuava para baixo e para
cima sobre ela, mas a ausência do toque suave era angustiante.
—Não vá — ela sussurrou. —Está tão escuro... Estou tão
sozinha... por favor.
A mão estava lá novamente, acariciando seu rosto, segurando
sua mão confortavelmente.
—Você não está sozinha, meu amor. Nunca mais. Eu estou
aqui.
Sorrindo, ela caiu em um sono profundo e desta vez, as coisas
do escuro não vieram para ela.
Amorosamente Maverk se curvou sobre ela.
Quando as filhas do curador tentaram dar-lhe banho, ela lutou
fracamente e ele podia ouvir seus sons de angústia, na sala ao lado
onde ele esperava.
—Não, não, não me toque! — Os fracos sons roucos entravam
pela porta para furar o seu coração. —Onde está ele? Eu o quero!
Deixe-me!
Finalmente, ele não aguentou mais estar em um quarto
enquanto sua moça, doente e com febre alta, chamava por ele. Ele
bateu na porta e uma das filhas, Tera, uma morena deslumbrante,
abriu-a.
—Sim? — ela ronronou, os olhos correndo apreciativos sobre o
gigante loiro e musculoso. Ah, os Daamens eram um raça bonita e
sensual, ele era o favorito de muitas de suas amigas.
No passado, ele vinha ao seu planeta com seus colegas de
tripulação, a bordo da nave comercial de Darvk. Ele tinha gostado do
luxurioso lado de suas visitas, com mais de uma moça Argon
disposta, mas desde a sua união com a guerreira de gelo, o seu
interesse por elas tinha diminuído. Tristemente reconheceu que seu
coração tinha sido capturado. Ah bem, tais são os caminhos do amor.
Ele não reparou que Tera estava de olho nele, no entanto.
—Vou fazê-lo — informou a ela.
Ela levantou as sobrancelhas escuras.
—Fazer o quê?
—Banhá-la.
Estudando as suas características abatidas, ela própria
amoleceu.
—Seremos gentis com ela, não tenha medo. Ela o chama
porque está confusa, isso é tudo. Você deve descansar, vá dar uma
caminhada.
—Reya está fraca demais para ficar tão chateada, eu acho...
—Eu acho, — colocando uma mão no centro de seu peito, ela o
empurrou para trás com firmeza, — que quando Reya recuperar seus
sentidos e descobrir que você lhe deu banho vai cortar o seu fígado
fora.
—Eu não me importo. Eu fiz isso a bordo da nave e ela precisa
de mim, agora.
—E ela vai ainda precisar de você depois. Pegue um pouco de
ar fresco, Maverk. Volte em dez minutos e teremos acabado. Então
você pode assumir de novo.
A porta foi fechada firmemente na cara dele e ele ouviu a trava
dar um clique.
—Maldição, Tera!
—Vejo você em dez minutos.
Resmungando ferozmente, ele se virou para encontrar Sarcan
observando-o do outro lado da sala.
—Diga a suas filhas...
—Elas estão corretas, amigo. Venha, vamos dar um passeio nos
jardins.
—Mas...
—Estaremos de volta em breve, eu prometo.
Os jardins eram lindos, grama verde e massas de flores que
enviavam a sua fragrância no ar. O cheiro de rosas lembrou-se de
Reya e esperou impacientemente pelo tempo designado para que
pudesse retornar para o seu lado.
Quando ele voltou para o apartamento, ele encontrou as irmãs
prontas para saírem, com um aceno rápido correram para passar por
ele e saíram do quarto.
Tera e Hanna sorriram para si mesmas e se foram.
Aflita, Reya se debatia, até que ele tocou seu rosto, então ela
acalmou-se. Sentado ao lado dela na cama grande e macia, ele
encostou-se à cabeceira da cama, fechando os olhos, cansado,
adormeceu com a sua mão segurando a dela.
Algumas horas depois ele acordou para encontrá-la lutando e
chutando as cobertas.
—Sshh, moça, está tudo bem. — Sentado, ele tentou acalmá-la
como tinha feito tantas vezes.
Só que desta vez não funcionou. Mais rápido do que ele teria
acreditado possível, ela se levantou em seus joelhos, de frente para a
porta.
As palavras caíram rapidamente.
—Eles estão vindo sobre as dunas rindo, rindo, tão ansiosos
pelo nosso sangue! Diga ao capitão, Starn. Não devemos nos
separar.
Ele pegou seus ombros.
—Reya, já acabou, está me ouvindo?
—Eles estão chegando! Tudo está tão quieto... Alguns dos
homens estão chorando... Eles estão vestindo as peles de suas
vítimas...
—Eu sei moça. — Ele tentou puxá-la em seus braços, mas ela
se afastou bruscamente, o medo lhe dava força.
Ela se arrastou até a extremidade da cama, a camisola de cetim
fina subindo até o alto das coxas. Uma das estreitas alças deslizou
para cair contra a braçadeira de prata que prendia a parte superior de
seu braço esquerdo.
—Reúnam em um círculo. — Tremendo violentamente, ela
abraçou a si mesma. —Fiquem juntos, caramba, é a nossa única
chance de sobrevivência!
Estendendo a mão, Maverk aproximou-se dela.
—As crianças se foram, não existem mais...
Sua cabeça virou os pálidos olhos verdes penetrantes olhando
através dele, para o horror que se repetia em sua mente.
—As crianças estão, sim, tão animadas, conversando,
segurando facas... Eles estão com fome e nós somos a comida!
Lembrando-se das carcaças humanas apodrecendo e
balançando nos ganchos no teto da caverna, ele sentiu-se doente.
—Moça...
Com um gesto veemente, ela o interrompeu, levantando-se de
joelhos, com as mãos fechadas aos seus lados. Descansando
fortemente entre os seus seios arfantes, a trança grossa estava
pendurada por cima do ombro.
—Os homens estão olhando para mim... à espera de ordens...
Por que eu? Eu não quero essa responsabilidade... Eu simplesmente
não consigo! — Como lascas de gelo derretidas, as lágrimas
brilhavam nas profundezas da geleira. —Chegando mais perto... Os
homens começam a entrar em pânico. Tenho que acabar com isso...
Não!
Com um grito rouco de negação ela caiu para frente e ele a
pegou, facilitando sua volta para o colchão.
—Você está segura, moça. Estou aqui.
Mas ela estava perdida em um mundo de pesadelo, onde lutou
por três longos anos, um pesadelo que rasgou a sua alma e levou-a
para mais perto do poço preto da insanidade.
Maverk tentou segurar o corpo dela, se debatendo, sem
machucá-la, mas ela lutou contra ele, tentando fugir.
—O que estou fazendo! — ela gritou. —Eu! Eu fiz isso! Deus
perdoe-me, eu dei a ordem!
Capitulo 26
Sarcan irrompeu no quarto com Tera, Hanna e seguidos por
Kiile.
—Peguem seus pulsos e tornozelos — ele ladrou. —Ponha seus
ombros para baixo, Maverk. Se ela ficar solta, vai ferir a si mesma.
—Ou a nós! — Hanna ofegante, tentava desesperadamente
conter um tornozelo enquanto sua irmã prendia o outro na cama.
Kiile agarrou os pulsos de Reya acima de sua cabeça, enquanto
Maverk apertou os ombros no colchão.
Exigente, torcendo e se debatendo, ela lutou com eles
descontroladamente.
—Eu fiz isso! Eu dei a ordem! A culpa é minha!
—Não moça, não é. — o coração de Maverk contorceu-se com o
horror e auto-aversão que estava em seus olhos. —Você tinha que
fazê-lo.
—O que ela quer dizer? — Hanna perguntou ofegante. —O que
a perturba tanto?
—Eu contei a você sobre os filhos do deserto, lembra? Acho que
Reya lamenta ter dado a ordem para correr.
—Correr?
—Sim. A única maneira para poderem sobreviver era correr. Os
mais rápidos sobreviveram, Stellar disse. Obviamente Reya deu essa
ordem.
—Ela sente culpa por deixar o mais lentos para trás, para o seu
destino? — Kiile manteve um forte aperto em seus pulsos, mas não
foi fácil.
—Parece que sim, mas que escolha tinha? Calma, moça, você
fez a coisa certa.
—Não! — ela chorou. —Eles esperam além do poço, agora estão
esperando por mim!
—Apresse-se, pai. — Tera olhou, para vê-lo misturando dois
frascos de líquido. —Ela está em tormento.
Sarcan derramou o líquido sobre um pano e rapidamente se
aproximou da cama.
—O que é isso? — Maverk perguntou laconicamente.
—Isso vai colocá-la para dormir por um tempo. Agora
mantenha o controle sobre a menina, pois ela vai lutar contra isto.
Levou vários minutos antes que sua luta torturante
enfraquecesse e finalmente ficasse quieta. Sarcan puxou as cobertas
sobre ela e trocaram olhares uns com os outros, que estavam
respirando com dificuldade.
—Será que ela vai ficar bem? — A mão trêmula de Maverk
acariciou a sua testa. —O que aconteceu?
—Qualquer problema que ela tenha é profundo, quanto a sua
reação, bem, não é incomum.
—O que você quer dizer? Ela está pior?
—Longe disso. É um bom sinal.
—Bom?
—Sinta sua pele.
Delicadamente, ele colocou sua mão em seu braço para ver que
o calor ardente tinha sumido.
—A febre. Cedeu!
—O perigo já passou. — O curandeiro sorriu.

Vozes distantes murmuravam e vinham gradualmente para


mais perto. Um riso suave, o som de uma porta fechando.
Reya lentamente abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi o
teto acima dela. Intrigada, ela franziu a testa. Havia algo sobre isso...
Seu olhar deslizou para longe e vagou pelo quarto.
O quarto era grande e ricamente decorado em azul e creme. O
mobiliário era elegantemente esculpido, de madeira escura, lisa,
convidando os dedos para deslizar contra as superfícies polidas. A luz
entrava através de uma janela, as cortinas prateadas mexiam em
uma brisa leve, emolduradas por pesadas cortinas azul real.
Onde ela estava? A última coisa que lembrava... Reya engoliu
em seco. Não, ela não queria lembrar.
Movendo, ela sentiu a caricia lisa do cetim contra a sua pele.
Estava vestindo uma camisola de cetim, o que era estranho, porque a
dela era de algodão.
—Vejo que você está acordada. — A voz profunda vinha da
porta e seu olhar varreu a sala, chegando ao gigante loiro que
entrava com uma bandeja nas mãos. —Está com fome?
—Maverk? — Ela tentou empurrar-se para cima, mas estava
muito fraca. Com um gemido, caiu de volta no travesseiro.
—Não tente levantar-se por conta própria. — Rapidamente, ele
colocou a bandeja sobre a mesa de cabeceira e sentou-se ao lado
dela na cama. —Eu vou ajudá-la.
—Eu não preciso disso, — foi a resposta automática.
—Desculpe moça, você está muito fraca para lutar comigo
sobre isso.
Ela também estava muito cansada para discutir.
Deslizando um braço sob seus ombros, ele gentilmente a puxou
para cima e almofadas extras foi empilhada atrás dela. Quando ele
colocou-a de volta, ela encontrou-se apoiada em uma posição
sentada.
—Onde estamos? — Ela o viu pegar uma tigela de sopa quente
e uma colher.
—Você se lembra do que aconteceu? — Ele mergulhou a colher
na sopa.
—As crianças, — ela respondeu desafinadamente. —Você
salvou-nos, Mara e eu.
—Sim. — Ele levou a colher aos seus lábios. —Engula isso, vai
ajudá-la a recuperar sua força.
—Eu posso alimentar-me — Seu protesto foi cortado pela colher
e franzindo a testa, ela engoliu.
—Você está fraca demais para segurar a colher.
Ela não podia discutir sobre isso, então perguntou:
— Onde está Mara?
—Sinya a levou de volta para casa, para os avôs.
—Ah. E as crianças...?
—Seus pais cuidaram delas.
—Os pais?
—Sim. Parece que eles foram um experimento que deu errado.
—Eu não entendo.
Escavando mais sopa com a colher, ele levou-a aos seus lábios.
—As crianças foram criadas para serem mercenários, por um
grupo de cientistas. Eles usaram sua própria carne e sangue em um
experimento. — Ele fez uma careta. —Quanto sangue-frio alguém
pode ter?
Silenciosamente ela comeu o resto da sopa, antes de
perguntar,
— O que aconteceu com as crianças?
Ele hesitou.
—Diga-me.
Suspirando, ele botou o copo na bandeja.
— O povo do deserto os destruiu. Pensávamos que eles iriam
tratá-los, mas eles os mataram.
—Eu vejo.
Ele alisou uma mecha de cabelo encaracolado para trás da
orelha.
—Como você se sente, moça?
—Cansada.
A resposta surpreendeu-o, pois esperava que ela negasse.
—Você teve um tempo ruim. — Ele retirou os travesseiros até
que ela deitou-se novamente. —Descanse.
Antes que ele pudesse se levantar, ela tocou sua mão.
—Espere.
—Sim?
—Obrigado. Por nos salvar.
Ele sorriu calorosamente.
—Você realmente acha que eu não iria procurar por você?
—Você arriscou sua vida.
—Eu não quero gratidão, moça. Já é suficiente saber que você
está segura e bem, de novo.
Ela olhou para ele exausta.
—Agora, descanse um pouco. — Ele deixou cair um beijo rápido
em sua testa e levantou-se, recolhendo a bandeja. —Vou voltar mais
tarde para verificar você.
—Você não tem que fazer isso.
—Vá dormir. — O tom severo foi desmentido pelos olhos
calorosos. Cansada ela fechou os olhos e ele deixou o quarto.

Pouco tempo depois ela acordou, Tera e Hanna entraram no


quarto, anunciando com alegria a sua intenção de banhá-la.
Reya estudou-as com aprofundada suspeita. Elas usavam
longos vestidos fluidos, pouco mais de fios de tecidos e rendas. Havia
uma aura de sensualidade sobre elas.
—Onde estou?
—Maverk não contou a você? — Tera perguntou.
—Não.
—É para ele fazer isso, — Hanna voltou com facilidade,
colocando uma bacia com água e sabão perfumado na cabeceira
mesa.
Ela tentou empurrar-se para cima, mas ainda estava muito
fraca.
—Estou em Argon?
Tera abriu um grande sorriso.
—Você tem que perguntar isso a ele. Agora, temos de ser
rápidas ou a água vai ficar fria.
Reya resistiu.
—Faço isso eu mesma, obrigada.
—Bobagem. — Hanna jogou as cobertas para fora.
Antes que Reya tivesse tempo para reagir, a camisola foi
retirada e um grande lençol azul foi colocado sobre ela.
—Eu não quero... — ela começou acaloradamente.
—Nós somos aprendizes de curador e cuidamos de você desde
que você chegou. Não há necessidade de ter vergonha. Basta
levantar o braço assim, — Hanna disse alegremente. —Tera, você viu
que adorável veludo a mamãe comprou no mercado?
Descontente em encontrar-se muito fraca para lutar, Reya teve
que submeter-se, sendo banhada completamente.
A contragosto, ela admitiu para si mesma que a água estava
deliciosamente quente e a fragrância do sabonete era reconfortante.
Ela não estava acostumada a ser indefesa e isso a irritou. Isso a
irritou ainda mais quando as suspeitas cresceram, e com a
confirmação de onde ela estava.
Tera e Hanna conversavam, elas inadvertidamente
mencionaram nomes que reconheceu, ela se manteve em silêncio,
seu constrangimento foi esquecido.
A camisola fresca de cetim foi deslizada sobre ela e seu cabelo
estava escovado e trançado.
—Vamos deixá-la descansar agora, — disse Tera. —Vejo você
na parte da manhã.
—Maverk virá em breve com sua refeição da noite, —
acrescentou Hanna, recolhendo a bacia e panos.
E quando ele chegar, Reya pensou sombriamente, ele tinha que
ter algumas boas respostas prontas. Ela estava sentada e esperando,
mesmo que ele demorasse a noite toda.
Entrando no quarto não muito tempo após as Argons terem
saído, Maverk a encontrou dormindo. Certo de sua recuperação
contínua, ele dormia no quarto ao lado, mas ele acordava a cada
duas horas para verificá-la.
Quando amanheceu, ele levantou-se mais uma vez e entrou em
seu quarto para ver o sol da manhã espiando por sobre as
montanhas, um raio de sol brilhando através do quarto para pousar
na trança vermelho-ouro deitada sobre o seu ombro.
Silenciosamente, ele ficou ao lado da cama e olhou para a moça
que ele quase tinha perdido. Suspirando em seu sono, ela empurrou
a coberta um pouco para baixo, descansando um braço em cima dela
e através da sua barriga lisa, seu outro braço levantou-se e
levemente flexionou, descansando no travesseiro ao lado dela.
Seus olhos seguiram a curva suave do pescoço para baixo para
o inchar generoso de seus seios cobertos pelo cetim azul pálido, sua
respiração ficou presa na garganta. Ela era tão bonita, esta guerreira
orgulhosa e desafiadora. Sob a fachada de gelo que mostrava ao
mundo, havia uma paixão tão quente como lava derretida.
Seus rins apertaram ao lembrar-se de seu encontro
apaixonado, no chão de um quarto alugado em uma taverna. Ele não
podia resistir a tentar acariciar um dedo em seu rosto. Não foi
suficiente. Flexionando para baixo, ele escovou um beijo em sua
testa. O cheiro fraco de rosas derivou através de seus sentidos e ele
reivindicou os lábios em um beijo suave.
Foi o mais leve dos toques, mas ele a sentiu agitar e
rapidamente retirou-se, temendo que a tivesse despertado, mas ela
continuou a dormir. Ele a deixou enquanto ainda podia.
Ela ainda estava dormindo quando chegou a hora do café da
manhã e Sarcan persuadiu-o a se juntar aos outros no salão de jantar
principal, com a garantia de que Reya estaria ótima. Relutantemente
Maverk permitiu-se ser levado para longe, enquanto o curador foi
verificá-la.

Assim que a porta se fechou atrás do curador, Reya abriu os


olhos e empurrou-se de volta na cama de cobre. Cuidadosamente
balançando as pernas sobre a beirada da cama, sentou-se, mas
permaneceu imóvel até o quarto parasse de se inclinar diante de seus
olhos.
Apesar de ainda fraca, ela se sentiu mais forte e estava
determinada a buscar um chuveiro. Nada mais de outros para lavá-la
e vesti-la. Ela tinha que começar a fazer isso por si mesma, se
quisesse recuperar a sua força.
Determinação a impulsionou enquanto suas pernas tremiam e
ameaçava entrar em colapso, seu progresso através do quarto era
lento e instável, mas quando chegou ao banheiro, gotas de suor em
sua testa denunciava o esforço para se manter em pé. Ela fechou e
trancou a porta atrás dela, para o caso de Maverk vir e encontrar ela
fora da cama.
Que traiçoeiro, cheio de grosseria! Ele sabia que ela odiava este
planeta, que tinha más lembranças dele!
A raiva não poderia manter sua força por muito tempo, no
entanto, apressou-se sob o chuveiro, lavando os cabelos. Foi com
alívio que vestiu a camisola de novo. Penteou o cabelo, deixou-o solto
para secar, quando saiu do banheiro.
A cama acenou para ela com saudade, mas a guerreira dentro
de si protestou veementemente em ceder à fraqueza. Não, ela tinha
que forçar-se a se mover, ficar fora da cama e recuperar sua força.
Ela estava em uma cidade do seu inimigo, aquele que a tinha
capturado e humilhado. Uma vez que sua força estivesse de volta,
poderia ir embora.
Lentamente, passou para o assento na janela e sentou-se com
gratidão, recostando-se contra a parede para olhar para fora, para a
cidade abaixo de seu quarto. Suas pernas tremiam pelo esforço de
andar pela primeira vez em três semanas.
A cidade abaixo estava banhada na luz da manhã, os edifícios
de pedra branca parecendo brilhar ao sol. As ruas estavam ocupadas
com as pessoas que iam e vinham tratando de seus negócios. Uma
rua movimentada, em uma cidade de Argon, e ela podia adivinhar
que cidade era, um fato que a fez se encolher interiormente.
Maldito Maverk! Por que ele tinha que trazê-la aqui, de todos os
lugares, por que Argon? Ela tinha jurado nunca mais voltar a este
lugar, de pessoas sensuais e tão felizes... não queria pensar nisso.
—Que diabos você está fazendo? — Maverk rosnou.
Ela o viu chegando, as pernas longas e musculosas fazendo
encurtar a distância entre eles. Ele parou diante dela, franzindo a
testa para o seu rosto pálido e estendendo a mão para ela, ao mesmo
tempo.
—Não me toque.
—O que há de errado? É a sua pele mais uma vez? Será que
está com dor? Vou chamar Sarcan...
—Não é minha pele. Onde estamos?
—Você não deve estar em pé. Você esteve muito mal...
—Estou melhor agora. — As palavras foram tingidas com
geada. —Onde estamos?
Isto não augura nada de bom. Maverk olhou em seus olhos
acusadores.
—Devo procurar a resposta por mim mesma?
—Moça, — ele suspirou — O que realmente importa desde que
você esteja bem?
—Para onde você me trouxe?
Sentada no assento da janela, ele não a via de frente.
—Antes de dizer, eu quero que você esteja calma e racional
sobre isso, de acordo?
—Onde?
—Argon.
—Como você pode? — ela assobiou. —Você sabe como me sinto
sobre este lugar!
—Você nunca me disse o porquê.
—Eu não preciso! Você sabe que nunca viria aqui, mesmo que
eu estivesse morrendo!
—Você estava morrendo, — ele disse suavemente. —Você
estava tão mal.
Cerrando os punhos, a fachada de gelo derretia sobre a raiva
que borbulhava de dentro dela.
—Em qualquer lugar, não aqui! Em qualquer lugar!
Um fio de aço sublinhou suas palavras.
—Não havia escolha. Não havia nada que pudesse fazer para
você e eu teria levado-a qualquer lugar para fazê-la ficar bem
novamente.
—Você não entende...
—Então me diga, faça-me entender.
—Você deveria ter me deixado morrer. — A mão grande
apertou em sua boca, cortando suas palavras.
—Não termine o que estava dizendo, ou juro que vou esquecer
o quão fraca está e bater em seu traseiro!
Puxando inutilmente em seu pulso, ela olhou para ele, mas ele
era muito forte e ela, caramba, estava muito fraca.
Tirando a mão, ele disse duramente.
— Sinya e eu fizemos tudo o que podíamos e quando Kiile
apareceu e ofereceu as habilidades de seu curador, de bom grado
aceitei. Qualquer coisa para fazê-la ficar boa. E você se atreve a
atirar de volta em minha cara?
As palavras eram como uma bofetada na cara, a verdade
dolorosa e afiada.
Ele ficou tenso, esperando que ela atacasse ou saltasse e
corresse.
Ela não fez nada, virando a cabeça, olhou para o vazio em vez
de para fora da janela, com a garganta apertada. Ela tinha feito
novamente, agradeceu a sua bondade com palavras duras,
machucando-o. Mas não era isso que ela queria? Fazê-lo furioso o
suficiente para deixá-la e voltar para sua própria espécie?
Sim, a cabeça dela lhe disse que era assim, mas seu coração
doía tanto quanto sua garganta. O lampejo de dor nos seus olhos a
tinha magoado por sua vez, o conhecimento de que era ela quem
trouxe essa expressão para eles. O que tinha acontecido com sua
compostura fria, a capacidade de esconder suas emoções? De ser
capaz de colocar de lado seus sentimentos e continuar em frente,
fria?
Maverk era o que tinha acontecido. Ele veio, juntamente com o
seu riso, brincadeira e gentileza...
Cautelosamente, ele olhou para ela, tentando ler as feições em
branco do seu perfil.
—As minhas desculpas, — disse ela calmamente.
—O quê?
—Você veio atrás de mim e salvou as nossas vidas, então
cuidou de mim quando eu estava doente. E eu o recompenso com
cruel desrespeito por seus sentimentos.
—Não há nada para desculpar. — Ele franziu o cenho.
—Como muito bem assinalou, joguei-o de volta em seu rosto.
Se não fosse por você, nós teríamos morrido em um inferno. Não vou
esquecer o que você fez.
—Eu não estou pedindo a sua gratidão. — Sua voz profunda
estava cheia de impaciência. —Só quero que pare de dizer que eu
deveria tê-la deixado morrer.
Cansada, ela olhou para as mãos ainda deitadas no colo.
—Eu queria que você não tivesse me trazido para cá.
—Por quê? — Impaciente, ele inconscientemente deixou cair os
ombros.
—Eu... nada.
—Há alguma coisa, — ele sondou suave, mas insistentemente.
—Temos passado por tanta coisa juntos, Reya, você não pode me
contar isso?
Estava na ponta da sua língua para recusar, para dizer-lhe que
não era da sua conta, mas de repente, ela queria que ele entendesse
a sua aversão a este planeta. Quem sabe, talvez a explicação fizesse
o que a frieza não podia e ele afastasse com nojo.
—Eu e outros mercenários fomos contratados por um poderoso
senhor do Setor Outlaw para capturar ou matar Kiile. Não deu certo e
fui capturada. Você sabe alguma coisa sobre os métodos Argon para
prisioneiros, bonitão?
—Alguns. — Ele observou o músculo apertar
momentaneamente em sua mandíbula, e a turvação nos olhos dela.
—Kiile era muito fascinado para ter uma mulher guerreira em
suas garras e colocou-me em exibição.
Estendendo a mão, ele gentilmente pegou a mão dela na sua.
Um olhar desolado levantou em seu rosto.
—Você sabe o que é ser um brinquedo? Para ser colocado em
exposição, para ser acorrentada da forma mais degradante e
humilhada, de ser... tocada?
—Moça, nada disso foi culpa sua.
—Não tenha pena de mim, bonitão, eu não preciso disso. —
Reya puxou a mão. —Você pode soltar-me agora e ir embora. Tenho
certeza que você não está interessado em bens sujos. — Quando ele
soltou a mão, ela sentiu como se uma faca atravessasse em seu
coração e levantou-se. —Desgostoso? Eu vim para matar seu amigo,
fui pega e punida... na forma Argon. Agora você tem sua resposta,
espero que esteja satisfeito.
Ela se virou, mas antes que pudesse dar um passo, um braço
musculoso deslizou em volta da sua cintura e foi puxada para baixo,
no colo de Maverk.
—O que o... — Ela começou a lutar. —Deixe-me ir!
Ele acalmou os seus movimentos com facilidade, envolvendo os
braços em torno dela e puxando-a para perto.
Seus olhos a estudaram tão a sério, que causaram uma
vibração em seu estômago.
—Não, não estou satisfeito.
—O que mais você quer? — ela exigiu um pouco sem fôlego. —
Eu já não lhe dei o suficiente?
Capitulo 27
—Não, eu quero tudo que você tem para dar. — Quente e
firme, seus lábios capturaram os dela.
As mesmas mãos que a tinham acalmado e cuidado, agora lhe
dava um abraço de amante. Os lábios que tinham falado tão
gentilmente com ela, durante as suas horas de febre, agora
moldavam os seus lábios.
Ele procurou a entrada em sua boca, e quando os lábios
entreabriram, sua língua deslizou para dentro para saborear a
doçura. Com seus braços apertados em volta dela, ela sentiu que ele
queria possuí-la de corpo, como fazia com a sua boca.
Finalmente ele quebrou o contato e levantou a cabeça, sua
respiração estava mais rápida.
—Maverk. — Ela umedeceu os lábios e tentou novamente. —
Maverk, eu...
—Sim? — Seus olhos brilhavam calorosamente para ela.
Tornando-se consciente da grande mão que repousava logo
abaixo de seu seio, ela respondeu, sem fôlego,
— Ponha-me no chão.
—Por quê? Você não está confortável?
Ela estava muito mais do que confortável. A sensação das
coxas duras sob o seu traseiro, o calor de sua pele queimava através
do cetim, produzindo uma sensação tão sensual...
Sentir sensual? A raiva queimou novamente.
—Confortável? Isso é tudo o que pode dizer em resposta a
minhas razões para não querer ficar neste lugar miserável?
—Eu ouvi o que você disse. — Capturando sua mão, ele
pressionou um beijo quente na palma. —Não faz diferença para mim.
—Não faz diferença que eu tenha sido agarrada pelos homens
de Argon? Você não se importa? Você não vê por que devo odiar esse
lugar?
—Se eu soubesse que você não gostaria, teria evitado isso,
moça. Os Argons têm métodos que não aprovo, mas acontece o
mesmo com muitas raças.
—Fácil para você dizer agora, mas se soubesse de antemão,
poderia ter sido uma história muito diferente!
Durante vários segundos ele olhou para ela em silêncio e depois
disse:
— Eu já sabia.
—O quê?
—Eu tenho conhecimento disso desde o tempo que a conheci,
um pouco mais de dois anos atrás.
—Você sabia? Quem disse a você?
—Nós ouvimos você falar com Tenia.
—Nós? — A mão sobre o peito enorme flexionou. —Quem mais
sabe maldição?
—Reya, não importa...
—Quem? — Ela pegou parte do seu colete em um punho. —
Diga-me!
—Seu cunhado.
—Darvk sabe da minha humilhação? Ele sabe o que aconteceu?
—Moça, acalme-se. — Maverk arrancou seu punho fechado de
seu colete. —Não há nada para ficar chateada...
—Quem mais sabe? Cada um dos tripulantes que estava lá
naquele dia?
—Claro que não, — ele tentou acalmá-la. —Apenas nós dois e
mais ninguém...
—Ninguém, apenas o povo desta cidade sangrenta, você e
Darvk! Seu filho da puta! Você fez-me passar pelo constrangimento
de relacionar-lhe com o que aconteceu, quando sabia o tempo todo!
—Reya...
—Vá para o inferno e para trás! Não só isso, mas você me
trouxe aqui, seu canalha sem coração! — Furiosamente ela lutou. —
Você está correto, não importa para você, porque você não se
importa!
—Eu me im...
—Não minta para mim! — Agarrando a mão espalmada sobre
sua cintura, ela pressionou seu polegar entre o polegar e o indicador
dele, apertou seus dedos ao redor. Angustiado ele puxou a mão para
longe, ela atirou-se fora de seu colo.
—Ouch! — Maverk agarrou sua mão, sentindo a dor na sua mão
na rede entre o polegar e os dedos. Ele se levantou. —Ouça-me por
um minuto!
Afastando-se com as pernas tremulas, ela amaldiçoou a
fraqueza nelas, quando tudo que queria fazer era chutá-lo e ir
embora.
—Não chegue perto de mim! Ou as mercadorias sujas não são
importantes? Foi por isso que você fez sexo comigo na taverna?
O calor em seu olhar foi substituído pela raiva.
—Não se atreva a falar sobre isso e transformar em algo
sórdido. Eu fiz amor com você, porque eu queria!
—Porque você não precisa se preocupar, certo?
—Acalme-se e escute. Ele fez questão...
—Então, é um problema, eu sendo um bem sujo!
—Você não é mercadoria suja. — Seu temperamento deslizou
vários entalhes.
—O que eu sou então? — ela explodiu. —Apenas uma
assassina?
Eu vou estrangulá-la, pensou furiosamente.
Ele caminhou para frente e ela deu um passo em direção a ele,
com a intenção de enfrentá-lo desafiadoramente, em sua raiva,
independentemente de como era muito mais forte. Quando avançou
para ele, suas pernas cederam e ela começou a cair. Em vez de bater
no chão, encontrou-se balançando em seus braços.
—Ponha-me no chão. — Ela lutou fracamente, com o mundo
inclinando diante de seus olhos.
—Você iria tentar a paciência de um santo!
—Um santo não suja suas sandálias para ficar perto de mim,
em primeiro lugar! Droga coloque-me no chão!
—Alegremente, bruxinha!
Com delicadeza, apesar da fúria que queimava em seu rosto,
ela foi colocada na cama. Ela começou a rolar para longe, apenas
para ser parada abruptamente com a sua vinda para baixo de corpo
inteiro em cima dela, prendendo-a ao colchão com seu corpo e
segurando seus pulsos para baixo, aos lados de sua cabeça.
Maverk sentia cada uma das curvas suaves contra ele enquanto
ela se debatia e perguntou se poderia haver uma tortura tão doce.
Pacientemente, ele segurou-a até que ela finalmente desistiu, o que
não demorou muito, devido a sua condição. Seus seios arfavam
contra o peito dele.
—Terminou o seu acesso de raiva?
—Seu bas...
Ele colocou uma mão sobre sua boca, enquanto segurava os
dois pulsos acima de sua cabeça facilmente com sua outra mão.
—Agora você vai me escutar, sua pequena gata infernal. Eu me
importo com o que aconteceu, mas isso aconteceu antes que a
conhecesse e não faz diferença para mim, porque você não é
mercadoria suja. Mesmo se fosse, e eu disse se, isso ainda não faria
diferença para mim. Você é quem você é, uma guerreira, a irmã da
esposa do meu melhor amigo e a moça que eu cuido. Você está
ouvindo?
Debaixo da sua mão veio um som abafado e ela puxou contra
seu poder.
—Não, não vou deixar você falar até que eu termine de falar, —
ele informou-lhe duramente. —Você foi ferida e precisava de atenção
urgente. Os curandeiros Argon podiam cuidar de você e eu teria
levado você a qualquer lugar para buscar uma cura. Em qualquer
lugar, você está me ouvindo?
Ela olhou para ele.
—Tudo bem, fique teimosa. Talvez deva saber que ninguém
pensa em você do mesmo modo de quando foi uma prisioneira aqui.
Quanto aos Argons, eles estão quites, você se redimiu e foi o fim do
assunto. Você é agora, simplesmente, uma moça doente que
precisava de ajuda e em troca, você cospe em suas caras. Eu posso
entender os seus sentimentos e simpatizar, mas sabe o que, sua
bruxa de olhos verdes?
O olhar que ela deu para ele teria queimado um homem
inferior.
—O seu não gostar é apenas má sorte. Os resultados são tudo
que eu desejava, tudo que você deve desejar, pois se você morresse,
o que eu diria para sua irmã?
Ela estava ainda abaixo dele.
—Sim, isso é certo, Tenia e sua sobrinha ou sobrinho por
nascer. Você preferia ter morrido a ser tratado por Argons, sem um
pensamento sobre os seus parentes. Então o que você diz sobre isso?
Tirando a mão de sua boca, ele descansou-o entre os cachos
perfumados, ao lado de sua cabeça e olhou seu rosto sombrio.
— Seu filho da puta — ela sussurrou.
—Diga o que quiser, mas alguém tem que lembrar que existem
outras pessoas lá fora que se preocupam com você, por acaso você
pensou sobre eles, para mudar de atitude.
Ela se encheu de auto-aversão.
—Sou uma desculpa muito triste para um ser humano, hein,
bonitão? Sou apenas uma guerreira, não muito boa para qualquer
coisa, exceto matar.
Xingando, Maverk ficou em pé.
—Maldição, você deve sempre ter que matar? Você escolheu
voltar a matar, pode optar por não fazê-lo! — Ele atravessou o
quarto, a porta se fechou atrás dele.
Ela se recusou a ceder à picada por trás de seus olhos.
—Sim, eu fiz.

Procurando o santuário do jardim de rosas, Maverk


selvagemente arrancou uma branca de um arbusto, esquecendo dos
espinhos que picavam a sua pele e começou a arrancar as pétalas,
enquanto andava ao redor do jardim.
Dane-se a bruxinha e sua língua ácida! Ela torceu cada palavra
e ele ficou tão furioso que sempre acabava se machucando.
—Eu pensei ter visto vapor saindo dessa área.
Virando-se, olhou para o homem languidamente fazendo o seu
caminho em direção a ele.
—Eu entendo que está zangado com alguma coisa? — Kiile
estudou a rosa mutilada na mão de seu amigo.
—Moça sangrenta!
—Ah. — Uma sobrancelha dourada arqueou preguiçosamente.
—Qualquer pessoa em particular?
—Quem diabos você acha? Essa bruxa ruiva com uma navalha
no lugar de uma língua!
—Reya? — Uma diversão leve amarrava a pergunta.
—Conhece alguém que seja tão sangrentamente ingrata?
—Palavras atravessadas, não é?
—Palavras atravessadas? Essa gata infernal poderia esfolar vivo
um homem com poucas palavras!
—Tão ruim assim?
—Ela torce cada palavra minha. — A rosa mutilada, quase sem
pétalas, foi arremessada para o mato. —Ela salpica o passado e
agarra-o com a ferocidade de um tigre!
—Descobriu que ela estava em Argon, hmm?
—Sim, e ela acusou-me de não importar. Eu! Você pode
acreditar nisso?
Os olhos de Kiile estavam sóbrios.
—As Reekas têm memória longa.
—Sim, essas sangrentas têm, mas porque não pode aceitar a
ajuda? — Pegando outra rosa, Maverk arrancou o ramo inteiro. —
Inferno sangrento!
—Sua última visita não foi agradável... para ela.
Maverk virou os olhos ardendo em seu amigo.
—O que quer dizer 'para ela'?
—Você sabe o que quero dizer — Kiile voltou calmamente. —Ela
é uma moça bonita, mas está tudo no passado, como você bem sabe.
Obviamente, o sentimento de humilhação não se desvaneceu.
—Desvaneceu? Ela não vai esquecer. Não só isso, ela cospe na
minha cara e jura que preferiria ter morrido a vir aqui. Eu disse a ela
que os curandeiros Argons eram os únicos que poderiam ajudar, mas
ainda assim me culpa por trazê-la aqui.
—Mas você a trouxe para cá.
—Inferno sangrento, agora você fala como ela! Em seguida
estará acusando-me de não me importar.
—Longe disso. — Inclinando um ombro contra um tronco de
árvore, Kiile cruzou os tornozelos. —Porque se importa você reage da
maneira que faz.
—Você e eu sabemos que havia outro jeito, então por que ela
nega?
—Já perguntou a ela?
—Toda vez que eu a deixo subir para respirar, ela nada mais
faz, do que abusar verbalmente de mim.
—Deve ter algum argumento — ponderou o Argon interessado.
Maverk apertou os punhos.
—Reya é tão sangrentamente irracional! Ela tem sorte, ainda
está fraca ou teria sentindo a minha mão em seu traseiro!
Kiile não poderia ajudá-lo. Ele sorriu.
—Que diabos é tão engraçado?
—Você é uma pessoa calma, mas ela consegue deixá-lo
explosivo. — Ele riu suavemente. —Ela é tão fria e composta que
pode fazê-lo perder o seu temperamento tão rápido. Espantoso, não
é?
—Sangrentamente incrível! — Maverk rosnou e pisou fora
através do jardim.
Sorrindo, Kiile observou-o desaparecer de vista, então ele
tornou-se pensativo. Talvez fosse hora de visitar sua convidada e
endireitar um pouco as coisas entre eles.
Empurrando-se para longe da árvore, ele voltou para o palácio.

Ouvindo a batida na porta, Reya falou,


— Entre. — Quando viu o homem de cabelos dourados com os
olhos verdes brilhantes, a sua expressão congelou. —Não se
incomode.
Imperturbável com o brilho duro, Kiile fechou a porta.
—Eu vim para conversar.
—É só isso? — O sarcasmo estava misturado com as palavras.
—Que alívio.
Parando ao pé da cama, ele olhou para seu rosto bonito, o
selvagem vermelho-ouro dos cachos caindo sobre os delgados
ombros, os seios macios que subiam e desciam por baixo da camisola
de cetim, ele lembrou-se quão próximo esteve de enterrar-se dentro
de seu corpo. Nobremente ele ignorou o aperto dos seus rins,
lembrando-se que ela pertencia ao seu amigo.
—Viu o bastante e mudou de idéia? — As palavras o acertaram
como um chicote, com a intenção de chamar a atenção. —Vocês
pretendem terminar o que começou há três anos?
—Não. — Pegando uma cadeira ao lado da cama, colocou-a de
volta para frente e sentou apoiando os braços sobre o encosto. —Eu
vim para conversar.
—Duvido que haja qualquer coisa que você pudesse dizer que
seria do menor interesse para mim, Argon.
—Talvez. Como você se sente?
—Quer que eu ajoelhe e agradeça a você? Vai ser uma longa
espera.
—Eu nunca esperei qualquer agradecimento, guerreira. Eu sei
como você se sente sobre mim.
—Eu não me importo se sabe ou não.
—E quanto a Maverk?
—Maverk? — Ela ficou surpresa.
—Você sabe o homem que salvou sua vida? — Uma aresta
afiada cortou de leve a questão.
—Será que ele lhe enviou? Se assim for, é um desperdício de
tempo.
—Você o conhece melhor do que isso. Ele não tem necessidade
de enviar outro homem para falar por ele. — Correndo seu polegar
cuidadosamente ao longo de seu lábio inferior, Kiile estudou-a. —
Diga-me, a sua raiva é dirigida a ele ou a mim?
—Você? Não lisonjeie a si mesmo.
—Então você está zangada com ele?
—Ele trouxe-me aqui.
—Para fazer-lhe bem.
Ela sentiu como se estivesse correndo em círculos frustrantes.
—Nós já conversamos sobre isso.
—Muito bem. Se aqui não fosse Argon, você ainda estaria com
raiva de Maverk?
—Não... sim.
—Não, você não estaria. — Ele não perdeu o tom leve de
vermelho nas bochechas lisas. —O que significa que sua raiva é
destinada a mim.
—Você não vale a pena a minha raiva.
—Deixe-me ver. Você não está brava comigo, mas com ele.
Será que é porque ele a salvou?
—Claro que não. — A calma de gelo rachou um pouco.
—Por que ele foi procurar você, sabendo que precisava de sua
ajuda?
—Você está sendo ridículo.
—Porque ele arriscou sua vida por você?
Reya olhou para ele.
—Não — ele respondeu à sua própria pergunta, em seguida,
mais uma vez perfurou-a com um olhar penetrante. —Talvez você
esteja com raiva porque ele passou as últimas semanas ao seu lado,
cuidando de você, porque você não ia permitir que nenhum outro lhe
tocasse?
—O que você quer dizer?
—Toda vez que alguém tentou atender as suas necessidades
para que ele pudesse descansar você resistiu toda a ajuda e chamou
por ele. —Vendo a descrença nos olhos dela, ele acrescentou — eu
falo a verdade e você sabe disso. Não tenho nenhum motivo para
mentir. Pense de volta, o que você se lembra de estar ao seu lado
sempre que você estava lúcida?
A imagem imediatamente me veio à mente. O rosto forte e
bonito vincado com a preocupação e o cansaço, seus cabelos longos e
loiros amarrados para trás a esmo, os olhos castanhos cheios de
ternura...
—Maverk. Seu argumento é comigo, guerreira, não com ele.
Não tome a sua raiva para fora em um homem que fez o seu melhor
por você, que salvou sua vida e de outra jovem. Ele se importa muito
com você. —Seus olhos piscavam. —Quanto a nós...
—Não existe 'nós'!
—Não houve ‘nós’ — Kiile falou lentamente. —Tente ver o meu
lado. Havia uma intrusa no meu quarto, pronta para matar-me. Eu a
capturei.
—Você humilhou-me! — ela rosnou. —Você deveria ter-me
matado, em vez disso!
—Esta é a sua maneira, não a minha. Quem está certo,
guerreira? Você vive pela espada e sua sentença é a morte, não
misericórdia. Eu vivo por aquilo em que acredito e, às vezes, como
você viu, não mostro nenhuma piedade. O que é tão diferente? —
Apesar de estar avaliando-a preguiçosamente, seu tom era
levemente reprovador.
Reya endireitou-se na cama.
—Não se atreva a presumir de que somos iguais!
—Não somos? Sem piedade, do jeito que você colocou. Qual de
nós tem a pior maneira, você ou eu? Dar morte ou tirar o orgulho?
Ela engoliu em seco.
—Não é o mesmo.
—Não, não é. Seu caminho não dá segunda chance. O meu
caminho, bem, isso depende da escolha, não é?
—O que você quer dizer?
— Se eu escolher a morte, humilhação total ou apenas orgulho
ferido.
—Humilhação total é o que você me deu!
Ele balançou a cabeça lentamente.
—Não. Em público você estava completamente vestida. A
humilhação foi pior para você, sendo impotente e à mercê dos
homens, mas não notou que nenhuma roupa foi tirada de você na
luxúria?
—O que você está dizendo?
—Assim que a vi, sabia que seu orgulho era grande e procurei
reduzi-lo, mas você nunca foi totalmente humilhada em público,
como já vi outros líderes fazerem. Em uma cidade que eu vi uma
moça acorrentada como você e estava totalmente nua. Aquilo foi uma
humilhação total. Mas não sou tão insensível.
—Você fez-me ver uma mulher sendo... tomada... — Seus olhos
piscavam ao lembrar. —Os homens...
—A escrava disposta. Sim, o seu orgulho não foi picado por
isso. Em vez disso, você cuspiu desafio o que me irritou. As moças de
nossa raça não são conhecidas por resistir aos nossos avanços e você
era um enigma. Eu estava com raiva por você ter tentado matar-me,
mas me fascinou também, então decidi levá-la para mim.
—Você me acorrentou à cama!
—Você não teria ficado de bom grado. — Os lábios de Kiile se
curvaram com diversão. —Eu teria tentado fazê-la minha.
—Você não teria tido sucesso.
—Não, eu não teria, não só foi resgatada a tempo, mas você
pertence a outro.
—Eu não pertenço a ninguém.
—O pertencer de que falo é de duas pessoas que pertencem um
ao outro.
Desolada, ela olhou para ele.
—Ninguém me pertence. Eu não quero ninguém.
—Todos nós queremos alguém, quer admitamos ou não. Lá
fora, em algum lugar, existe um companheiro para todos nós.
—Talvez eu já tenha matado o meu. — Seu sorriso era frio.
—Por que matar preocupa tanto você?
—Quem disse que me preocupa?
—Será que não?
—Não. É que eu sou boa, não é?
—É?
—O que lhe dá o direito de questionar-me?
Elegantemente, ele encolheu os ombros.
—Faço um monte de perguntas e formo as minhas próprias
opiniões. — Em pé, ele a considerava atentamente. —E eu me
considero seu amigo, o que me dá o direito.
Atordoada, ela o viu atravessar o quarto e sair pela porta.
Amigo? Um Argon, que a tinha humilhado agora achava que ela era
sua amiga? Ela podia sentir o começo de uma dor de cabeça. Reya
caiu exausta nos travesseiros.
As palavras de Kiile ecoavam em sua mente, juntamente com
suas acusações injustas para Maverk e isso era muito. Ela caiu em
um sono profundo e perturbado.
Capitulo 28
A noite encontrou-a se agitando sem parar na cama, devorada
pela culpa. A verdade, ela pensou, cansada, nem sempre traz a paz.
Um baque abafado e uma maldição lhe chamaram a atenção,
lentamente sentou-se na cama. O barulho veio do quarto próximo,
seguido de silêncio.
Incerta, ela mordeu o lábio inferior. Era obviamente Maverk, a
quem não tinha visto desde as suas acusações dolorosas para ele,
naquela manhã. Ela queria pedir desculpas por dirigir sua raiva de
Kiile para ele. Não havia como ela pudesse descansar facilmente, até
que tivesse feito isso.
Atirando as cobertas, saiu da cama, agradecida por suas pernas
estarem estáveis, e atravessou até a porta.
O silêncio estava além e ela parou. O que poderia dizer?
Desculpas não eram fáceis para ela, na verdade, havia poucas
circunstâncias em que se lembrava de já ter feito isso.
Com um suspiro impaciente e uma respiração profunda,
empurrou a porta e entrou no outro quarto, mal notando o aparador
e a bela escultura, as cortinas de veludo na janela, ao largo, o sofá
confortável e as poltronas ou o tapete macio sob os pés. Em vez
disso, seu olhar caiu sobre o gigante loiro sentado na frente da mesa,
com a cabeça em suas mãos e os cotovelos sobre a superfície polida.
Maverk parecia tão cansado e desanimado, nem parecia aquele
homem feliz, provocante, que normalmente era.
Sentindo-se inferior a barriga de uma víbora, Reya começou a
caminhar em sua direção, seus passos silenciosos no macio
revestimento do piso.
Sentindo uma presença, Maverk levantou a cabeça.
Ele ficou em torno dos jardins até que sua raiva havia
diminuído, mas ainda ardiam suas acusações. Como poderia fazê-la
perceber que ele se importava? Será que realmente tinha uma
chance com ela absolutamente? Ele não podia se ajudar, pois a
amava muito. Mas amar a guerreira de gelo não era fácil. Como
poderia chegar até ela?
Agora ela estava diante dele.
—Maverk, eu... — Ela limpou a garganta. —Maverk...
Ele franziu o cenho.
—Você está doente?
—Não, não, estou bem. — Ela baixou os olhos para suas mãos,
com os dedos entrelaçados.
Se ele não soubesse, pensaria que ela estava nervosa. Mas,
certamente, não Reya.
—Eu... — Ela engoliu em seco. —Isso é difícil para mim... Eu
nunca quis... bem, fiz, mas...
O desespero rapidamente desapareceu. Seu comportamento o
intrigou. Esta não era a moça com quem ele estava acostumado a
lidar.
Seu silêncio não estava tornando mais fácil, caramba. Talvez
ela merecesse isso.
—Hoje cedo... esta manhã, eu estava... Eu disse algumas
coisas... O que eu disse... — Desculpar-se era mais difícil do que
parecia.
Ele sentiu uma faísca de incredulidade. A guerreira de gelo
estava tão nervosa como o inferno! E parecia como se ela estivesse
tentando se desculpar.
Quando ela se pôs diante dele, de camisola, com os cabelos
despenteados e pés descalços, estava nervosa, torcia suas mãos e
seu rosto ficou rosa, ela parecia macia e adorável. Ele estudou-a com
interesse.
—Sim?
Isso era ridículo. Respirando fundo, ela deixou escapar:
— Eu estava errada esta manhã e sinto muito. — Girando nos
calcanhares para ir embora, o movimento repentino a fez cambalear
perigosamente.
Rapidamente, Maverk ficou de pé, colocando as mãos em seus
ombros e puxando-a de volta contra o seu peito.
—Você está arrependida? — Sua respiração agitou os caracóis
em sua testa.
Sentindo cada plano rígido de seu corpo por trás, ela
inconscientemente recostou-se contra ele.
—Eu disse algumas coisas imperdoáveis a você e sinto muito.
Calor floresceu em seu coração.
—Tudo bem, moça. Eu também disse algumas coisas duras.
—Kiile me fez ver como estava errada.
—Ele fez?
—Sim. Ele me fez perceber que eu estava realmente irritada
com ele, mas redirecionei para você, não sou digna...
—Você nunca deve considerar-se como tal. O que você pensa, o
que eu sei, são duas coisas diferentes.
—Eu sei coisas sobre mim que você não sabe.
—Diga-me. Eu não vou julgá-la.
—Eu não posso. Não pergunte. Por favor.
Ele suspirou.
—Tudo bem, por enquanto, mas estou aqui sempre que você
precisar de mim.
Inclinando a cabeça para trás, ela olhou para ele.
—Tão bom e confiante. Não é à toa que está sempre aberto a
ser ferido.
—Eu não sou tão frágil como você acredita que eu seja moça.
—Eu me viro para feri-lo com frequência.
—Você é a única com o poder de fazê-lo — foi a resposta suave.
Com espanto ela estava com os lábios entreabertos, mas antes
que pudesse falar, ele reivindicou a sua boca suavemente em um
beijo. Foi um beijo com ternura e era tão leve, que as carícias
cauterizaram a sua alma.
Com um gemido mental ela entregou-se ao tumulto dos
sentimentos dentro dela. Ela saboreava o seu gosto, o perfume
masculino que era exclusivamente seu, que invadiu seus sentidos.
Sem quebrar o contato de suas bocas, Maverk abraçou-a. O
desejo por ela, sempre latente, irrompeu entre eles. A sensação de
suas curvas suaves contra a sua dureza inflamou ainda mais o
desejo. Uma de suas mãos deslizou para a curva de suas nádegas
para puxá-la contra a sua virilha, embalando-a.
Retornando seu beijo com uma paixão que foi
progressivamente mais brilhante, ela espalmou a mão sobre o seu
peito por baixo do colete aberto, sentindo o calor de sua pele e as
batidas de seu coração, que tinha escolhido o ritmo.
Maverk levantou a cabeça para pegar uma respiração profunda,
estremecendo.
—Moça, eu acho que é melhor voltar para a cama. Não posso
prometer manter minhas mãos longe de você por muito mais tempo.
—Seus braços já estão em torno de mim — ela sussurrou um
pouco vacilante.
—O quê? Oh. — Ele começou a afrouxar seu aperto, mas
independentemente de suas boas intenções, se recusava a liberá-la
ainda, então a virou em seus braços.
—Maverk, o que você está fazendo?
—Eu vou levar você para lá. — Seus olhos ardendo de desejo
reprimido, conseguiram parecer triste ao mesmo tempo. —Chame-me
um glutão de castigo.
Seus braços eram fortes, seu passo firme, quando ele entrou no
quarto e Reya se sentia segura. Segura e cuidada e... sensual. A
dureza de seus braços musculosos debaixo dos joelhos, pele sobre
pele, a mão forte atrás das costas. Coração batendo o dobro da
batida, um calor pesado zumbia entre as coxas dela e sabia que
queria que ele fizesse amor com ela.
Parando ao lado da cama, sentiu o tremor de Maverk passar
para ela.
—Você está com frio, moça?
—Longe disso.
A voz rouca e o fogo baixo piscando no fundo dos olhos verdes
pálido fizeram a dor na sua virilha intensificar. Ela estava pedindo a
ele para... Ele quase deixou cair à mão em concha em seu queixo,
quando ela pegou-a e passou seus lábios macios por ela toda.
O beijo pode ter sido suave, mas o contato acertou-o como um
raio que foi direto de seus lábios para sua virilha.
Quando ela jogou a cabeça para trás, o olhar dele foi de
arrastá-la com outro jogo para a queima de lenha no fundo da boca
do estômago.
—Reya, você não está forte o suficiente...
O hálito úmido estava em sua garganta e os cachos sedosos
derramados no seu peito, fazendo com que seus sentidos nadassem e
seus braços tremessem.
Sua voz tinha um traço de riso.
—Talvez você não esteja forte o suficiente bonitão.
A ponta de sua língua tocou o pulso, que batia
descontroladamente em sua garganta e ele resmungou:
— Moça, sou forte o suficiente para segurá-la contra uma
parede e levá-la por horas!
Por estritamente um segundo, antes de jogar a cabeça para
trás, para satisfazer seu olhar, ela disse.
—Prove-o.
O convite enviou uma onda de sangue quente para seu pênis já
latejante e ele gemeu.
—Meu Deus, você realmente é uma bruxa.
—Não está tão fraco, hmm?
Mesmo com o desejo, ele estava ciente da leveza de seu corpo,
a magreza do seu rosto.
—Não sou tão fraco, não, mas também, você não está tão forte.
A vibração de desânimo varreu-a.
— Você não vai me deixar, não é?
Sua risada era rouca, baixa e cheia de significado.
—Não em sua vida! Não moça, quero fazer amor com você
também, mas de uma forma que não vai se cansar muito.
—Eu não entendo.
—Você vai. Apenas confie em mim, Reya.
Olhando profundamente em seus olhos, ela viu o calor e a
paixão brilhando dentro deles.
—Eu confio.
—Bom. — Ele a baixou sobre os pés e colocou as mãos em seus
ombros. —Deixe-me levá-la. Vou cuidar de você.
Ele traçou um beijo em sua têmpora, perdendo os lábios pelo
seu rosto e finalmente para o canto da boca, ao mesmo tempo,
enganchando os dedos nas tiras finas da camisola e facilitando-a
sobre seus ombros e braços. No momento em que seus lábios
finalmente reivindicaram os dela, a camisola de cetim estava
agrupada em seus pés, deixando-a nua diante dele.
Deslizando as mãos debaixo de seu colete, ela empurrou-o e
deixou-o cair no chão atrás dele. Seu peito nu e braços era uma
alucinante mistura de pele lisa e dura que inchavam e flexionavam
quando as suas mãos se moviam sobre suas costas, deixando um
rastro ardente na pele dela.
—Maverk, — ela gemeu, quando sua boca quente encontrou o
pulso batendo descontroladamente em sua garganta. —Por que o seu
toque põe-me em chamas?
Sua resposta foi balançá-la em seus braços e deitá-la na cama.
Ela observava incapaz de desviar o olhar, quando ele descobriu
o corpo magnífico para o seu olhar quente. Seu tempo entre
mercenários e guerreiros a tinha habituado a ver corpos musculosos,
mas nenhum chegava perto do espécime perfeito que estava diante
dela. Ela ficou embevecida diante dos ombros largos, braços e peito
que ondulavam com a força em cada movimento e um estômago liso
com nervuras. Não, a construção deste comerciante Daamen,
combinava com sua grande altura, envergonhando o guerreiro mais
forte que já tinha visto. O fato de que ele tinha o rosto mais bonito,
parecia quase injusto para com o resto da espécie masculina.
Certamente não poderia ter um homem mais perfeito em
qualquer lugar da galáxia. Seu olhar caiu para sua masculinidade
projetando-se dura e quente. Nem um tão grande.
—Gosta do que vê moça? — Uma sobrancelha arqueou e ele
sorriu maliciosamente quando viu seu rosto ruborizar. —Poderia ser
vergonha o que vejo no rosto da guerreira de gelo?
—Eu... — Ela limpou a garganta. —Eu nunca vi você nu antes.
—Oh, bem, então, sinta-se livre para olhar a vontade. —
Descaradamente se virou para dar-lhe uma visão da parte traseira.
Ele era incorrigível. Seus olhos varreram das costas retas para
as nádegas firmes.
—Bem? — Virando-se, colocou as mãos sobre os quadris. —
Passei na inspeção?
—Você não tem vergonha, não é? — Um sorriso tremeu em
seus lábios.
Colocando um joelho na cama ao lado do quadril dela, a ponta
dos dedos passou pela pele sensível.
—No que concerne a você, moça, não tenho vergonha alguma.
Seu outro joelho tomou conta dela quando ele montou seus
quadris, colocando as mãos em sua cintura, ele estendeu uma grande
mão sobre o estômago liso e sorriu quando ouviu e sentiu um forte
sugar da respiração. Mantendo o olhar em sua mão, ele deslizou
lentamente para cima, parando entre os seus seios.
Sem descanso, ela moveu-se com o toque que queimava, os
mamilos endurecendo, o latejar entre suas coxas intensificou-se com
antecipação. Arrepios estremeceram sobre os braços quando a outra
mão levemente arrastou até o seu lado, antes de seguir o mesmo
caminho para descansar entre os seus seios.
Ela era tão macia e suave, mas com a firmeza da guarnição de
uma guerreira. Ele ficou maravilhado com o jogo de músculos
femininos dela. Apesar de forte, também era bem torneada e
definitivamente, muito feminina, com todas as curvas generosas e
vales. E ela era sua. Esta noite ela tinha dado a si mesma de boa
vontade para ele e não iria desperdiçar esta oportunidade de ouro
questionando-a.
Levemente ele arrastou seus dedos sobre os seios, passando as
pontas dos dedos nos mamilos endurecidos, sentindo o seu arrepio
entre suas coxas, ele olhou para cima para ver o calor que ardia
como um fogo frio no cristalino, nas profundezas de seus olhos.
Deliberadamente ele achatou as palmas das mãos em seus seios,
saboreando tanto a sensação dos mamilos duros contra as palmas
das mãos, como a visão de suas costas arqueadas, mordendo o lábio
para manter o grito dentro.
Agarrando seus pulsos, ela sussurrou:
— Você está me deixando louca.
Dedos fortes passaram através dela e ele veio para baixo sobre
ela, prendendo as mãos no colchão em ambos os lados de sua
cabeça, seus lábios falaram um sopro.
—Isto apenas começou querida.
Ele reivindicou seus lábios em um beijo de boca aberta, quente,
deixando-a sem fôlego e ansiando por mais, enquanto ele deslizou
ainda mais para baixo do seu corpo, suas mãos fortes escorregaram
em seus braços, fazendo com que o atrito aquecesse seu sangue,
assim como a sensação dos beijos leves como plumas que deixou em
seu rastro. Em seguida, os lábios fecharam sobre um mamilo,
sugando longa e profundamente e ela arqueou para trás, incapaz de
parar o choro que escapou.
Ao ouvi-la, o seu sangue, já em chamas, sentiu como se fosse
virar lava derretida. Seu pênis latejava tanto que apenas o controle
de ferro e o desejo de dar prazer a ela o impediu de derramar sua
semente imediatamente. Puxando-se para trás, levantou-se de
joelhos.
Sentindo-o se afastar, ela abriu os olhos, começou um protesto.
O protesto morreu quando viu o desejo nu queimando em seu olhar,
varrendo avidamente sobre seu corpo.
Sentada, ela deslizou as pernas para fora e Maverk pegou as
suas mãos.
—Fique sobre seus joelhos, meu doce.
Lentamente, ela levantou-se, sem saber o que esperar.
Ele puxou-a rente a ele, colocando o rosto e olhando para baixo
ternamente para ela.
—Eu nunca vou machucá-la.
—Eu sei. — Ele era de temperamento quente, alegre e gentil.
Tudo o que ela não era, mas queria ser. Ela ansiava por ele, o que
era loucura, uma maneira de desgosto, de participar mais uma vez do
céu que só ele poderia dar a ela, um céu que não era para ser dela
para sempre.
Com o pensamento do coração doendo, com os braços
apertados em volta dele. Esta noite seria dela, sem arrependimentos.
Uma lembrança para levar quando o deixasse.
Ele sentiu o tremor que passava por ela.
—Você está muito fraca.
—Não! — Seu sussurro era quase feroz.
—Reya...
Uma faísca de desespero queimou no seu coração e ela olhou
para ele.
—Eu preciso de você hoje à noite. Por favor, não me deixe
agora.
Ternamente ele tocou seu rosto.
—Não moça, eu não vou deixá-la.
Por alguns segundos incontáveis olhou para o outro lado, então
ele disse:
— Vire-se.
Intrigada, ela olhou por cima do ombro, em seguida, voltou
para ele.
—Vire-se?
Ele sorriu.
—Sim.
Em dúvida, ela fez como ordenado e seu braço deslizou em
volta da sua cintura, uma mão grande espalhou sobre ela puxando-a
pelo estômago contra ele.
—Separe suas pernas para mim.
Ele soprou em seu ouvido enviando um arrepio para o seu lugar
privado. Ela respirou fundo.
—Maverk, eu não tenho certeza...
—Faça, — foi a gentil ordem.
Ela não poderia ter parado a si mesma se tivesse tentado. Sua
respiração estava quente e úmida em sua garganta, enquanto seus
lábios encontravam a pulsação batendo descontroladamente, seus
longos cabelos loiros misturando-se com sua própria trança. Seus
joelhos se separaram quase fluidamente, sem pensar, enquanto sua
atenção estava voltada para a magia de sua boca. Então ela ficou
tensa quando a mão na sua barriga deslizou mais abaixo.
Reya endureceu sentindo o outro braço rodeando a sua cintura,
segurando-a contra ele.
—Sinta como você me afeta.
O comprimento quente e duro de sua virilidade estava
pressionando contra suas nádegas, ela sentiu um pouco da dureza
contra ela.
Quentes, os lábios sensuais se perdiam em sua orelha.
—Diga-me, como você se sente agora?
—Eu... — Ela mordeu o lábio quando sua mão roçou os cachos
de sua feminilidade.
—Sim?
Seus joelhos estavam afastados, ela estava nua, o gigante loiro
bonito estava atrás dela e ela estava completamente à sua mercê.
—Diga-me. — Levemente ele beliscou sua orelha.
Disposta a reconhecer a sensação estranha, ela engoliu.
Sua feminilidade era como uma concha em uma palmeira de
grande porte.
—Diga-me.
—Vulnerável! — A palavra foi ofegante em choque, misturada
com desejo.
—Sim, vulnerável. — Maverk escovou um beijo em sua
têmpora, em seguida, descansou sua bochecha contra a dela, mais
suave e viu a ascensão e queda dos seios cheios. —Mas só comigo,
minha querida. Ninguém mais. Você é minha e você deve abrir seus
sentimentos para mim. Tenha a certeza, vou mantê-los tão
ternamente como faria com um bebê recém-nascido.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, sua mão moveu
ainda mais abaixo, os dedos deslizando pelos cachos e encontrando a
fenda para deslizar suavemente entre os lábios sensíveis para os
tesouros escondidos.
No prazer chocado, ela se arqueou para trás quando os dedos
fortes derivassem quase preguiçosamente onde nenhum homem
tinha tocado, até agora.
Sentindo o calor úmido, Maverk teve que cerrar os dentes
contra o desejo que passou através dele. Sedosas tranças deslizaram
sobre o seu peito, as extremidades escovando a ponta ingurgitada e
dolorosamente sensível de seu pênis. Ele não poderia esperar muito
mais, ele sabia. Mesmo que ele buscasse o prazer dela, cada gemido
suave e arrepio dela faziam adicionar combustível à sua própria
paixão ardente, a sua vara pulsante latejava com a necessidade.
Através da névoa de desejo, ela tomou consciência da
respiração quente em seu ouvido.
—Deite-se, meu amor.
Automaticamente ela começou a virar, mas seu braço apertou
um pouco mais em volta da cintura, impedindo-a.
— Não. Sobre o seu estômago.
Antes que ela tivesse tempo de perguntar, ele inclinou-se sobre
ela para colocar a mão sobre o colchão, usando o braço para baixá-la
sobre a cama, deslizando o braço que estava sob o seu corpo, para
rapidamente apoiar suas mãos para fora em seus lados, com a voz
baixa e reconfortante ele falou.
—Relaxe, moça.
—O que você está fazendo?
—Lembra que eu disse que iria fazer amor com você de tal
maneira a não sobrecarregar sua força? — Ele sussurrou
veementemente contra seu ombro.
—Sim, — respondeu ela fracamente, quando seus beijos foram
espalhados em seu outro ombro.
—Isso é parte disso. — Beijos quentes, de boca aberta,
arrepiavam a sua espinha.
Sua respiração ficou presa, e o sangue em suas veias corria
como mercúrio, quando sua mão seguiu o caminho da sua boca, mas
onde sua boca parou, sua mão continuou.
Direito em sua profundidade de mel, um dedo longo resvalou
para a entrada mais profunda, retirando-se lentamente antes de
deslizar novamente.
—Maverk. — Ela arqueou para trás, gemendo.
—Sim? — ele perguntou com voz rouca.
—Por favor...
Ele desceu sobre ela, as duas mãos capturando-a,
pressionando-a contra o colchão, enquanto ele preparou-se nos
cotovelos acima dela. A ponta de seu pênis cutucou a entrada úmida
de seu corpo e ele estremeceu com o calor que acenava para ele.
—Maverk!
Seu grito repentino, tão gutural com o desejo ardente, rompeu
as correntes do controle de ferro e ele mergulhou nas profundezas
escaldantes, acolhido pelo aperto de sua passagem quente, como
seus músculos cerrados em torno dele, procurando mantê-lo dentro
dela.
Seu corpo se movia com fluidez, reunindo suas estocadas, a
chama ardente do desejo construindo até um escaldante e furioso
inferno quando eles se moveram juntos, pele na pele, sua virilidade
dentro dela, reivindicando como sua, invadindo seu corpo, tão certo
como ele invadia seu coração.
Com os olhos bem fechados, ele jogou a cabeça para trás,
tentando controlar a sua paixão, para fazer o amor durar, mas ela
dirigiu sua paixão mais alta.
Era como se estivesse correndo em direção a luz de uma
fogueira. A sensação do corpo musculoso acima dela, o muito da
força dele em torno dela, e o comprimento aquecido dele inflamado
dentro dela.
O fogo abrasador, onde começava o impulso de sua
masculinidade em sua bainha, as chamas de fogo tremulando por
meio de ambos, queimando e fundindo-os juntos como um só. Eles
chegaram ao clímax no mesmo instante, um vulcão soprando brasas
ardentes, quebrando e atirando longe, desencadeando um ao outro, a
bainha dela apertando em torno dele como uma luva aquecida,
enquanto seu eixo pulsante derramou a semente quente dentro dela.
Como as brasas de fogo espalhadas que se desfazem, Maverk
rugiu o nome dela, descendo sobre ela, envolvendo os braços em
torno dela e segurando-lhe ferozmente enquanto cavalgavam nos
seus orgasmos flamejantes.
Capitulo 29

Reya acordou lentamente, sentindo-se estranhamente letárgica


e drenada. Cinzentos reflexos de luz entravam no quarto e uma brisa
leve ondulava as cortinas de renda da janela. Estava amanhecendo.
Tornando-se consciente do peso sobre a sua cintura,
rememorou junto com o reconhecimento do grande corpo adormecido
pacificamente ao lado dela.
Maverk.
Rolando com cuidado sobre suas costas, Reya tirou as cobertas
sob os braços, só para segurar sua respiração quando ele murmurou
em seu sono e seu braço apertou em volta da sua cintura. Depois de
alguns segundos seu poder relaxante e sua respiração voltou ao seu
ritmo normal de profundidade.
No sono, ele parecia muito mais jovem. Ela estudou as linhas
fortes do seu rosto limpo, o cabelo loiro desgrenhado que se
espalhava por todo o travesseiro. Várias vertentes foram
entrelaçadas em um de seus cachos. Como dois amantes em um
abraço íntimo. Seu coração pulou uma batida com o pensamento.
Uma mecha de cabelo caiu sobre sua testa e ela gentilmente
arrumou-a de volta. Ela o amava. Como não poderia, afinal de contas
eles não compartilharam uma noite cheia de paixão?
Ela se lembrou de como ele rolou para o lado, levando-a com
ele em um abraço. Ele não tinha falado nada, apenas um beijo suave
na bochecha. Não havia dúvida que não ia deixá-la naquela noite.
Eles tinham permanecido em silêncio, saboreando a intimidade
calorosa entre eles, em algum momento durante o silêncio
confortável, tinham caído no sono.
Ela olhou para o teto, um peso a enchia. Era impossível.
Silenciosamente Maverk a observava, vendo a expressão
preocupada no rosto. O toque de seus dedos em cima da sua testa o
tirara de seu sono, ele abriu os olhos para ver o seu perfil traçado
pela luz da madrugada.
Pensando que ela não tinha visto todas as máscaras que tinham
deslizado. Nenhuma reserva fria marcava os seus traços, sem rubor
de paixão. Em vez disso, cada emoção era clara, a angústia, a
preocupação e a tristeza. Isso rasgou em seu coração.
—Espero que sua expressão não seja devido ao arrependimento
pela noite passada — disse ele em voz baixa.
—Não. Não me arrependo.
—Então, o que a incomoda, moça?
—Todo mundo tem problemas.
Ele levantou-se sobre um cotovelo para olhar para ela.
—Não se feche para mim agora. Diga-me com sinceridade.
Ela não queria dizer, sabendo a dor que isso causaria a ambos,
mas enfrentou o seu olhar de frente.
—Eu não posso dar-lhe amanhã. Eu não posso mesmo dar-lhe
hoje.
—Por que não? Somos feitos um para o outro. — Sua
consideração era a intenção. —Por que é tão difícil para você aceitar
isso?
Cuidando para manter as cobertas dobradas firmemente sob
seus braços, ela sentou-se e deslizou uma perna para fora da cama.
—Não é difícil de aceitar, simplesmente não pode ser.
Empurrando a si mesmo, ele reclinou para trás contra a
cabeceira da cama.
—Por que isso?
Pegando a camisola descartada no chão, ela olhou para ele, e
uma centelha de chama iniciou na boca do estômago.
As cobertas foram empurradas perigosamente para baixo em
seus quadris, mal cobrindo a sua masculinidade. Os braços estavam
cruzados preguiçosamente no peito e quando seus olhos finalmente
subiram para o rosto, foi para encontrar uma sobrancelha levantada
interrogativamente.
—Bem?
Virando a atenção para a camisola, ela preparou-a para puxá-la
em cima da cabeça.
—Nós passamos por isto muitas vezes. Eu não posso dizer.
—Eu vejo o grande segredo novamente. — Chegando mais, ele
arrancou a camisola de seus dedos e jogou-a o chão do seu lado da
cama. —Está secretamente casada com outra pessoa?
—O quê? Como você pode dizer tal coisa depois do que
acabamos de compartilhar? Que tipo de puta você acha que sou?
As sobrancelhas subiram em leve repreensão.
—Nem mesmo tente insultar-me, referindo-se a si mesmo como
tal, ou dizendo que é isso o que penso de você. Eu apenas pergunto
por que você é tão contra o casamento comigo.
—Eu não sou contra o casamento com você, só não posso.
—Eu acho, — ele acariciou sua bochecha suavemente — que
mereço uma explicação.
—Eu não posso.
Sua mão deslizou suavemente para baixo sua garganta.
—Deve ser um segredo profundo, escuro e antigo.
Abruptamente, ela afastou-se dele, deslizando para fora da
cama, levando a coberta superior com ela e envolvendo-a sobre si
mesma.
—Reya?
Com o rosto resoluto, ela respondeu:
— Tenha certeza, se eu quisesse que você me desprezasse e
odiasse, contaria a você.
—Eu nunca poderia odiar você. Tenha alguma fé em mim
quando prometo isto a você. Tudo o que você tem feito, o que acha
que tem feito, nunca vou odiar ou desprezar você por isso.
—Não prometa o que você não conhece.
A frustração com sua teimosia começaram a afastar seu
contentamento anterior.
—Tente-me.
—Não. — Ela começou a caminhar em direção ao banheiro.
Uma mão no ombro dela parou-a, e ela foi puxada ao redor
para enfrentar um homem nu, mostrando todos os sinais de
rapidamente estar perdendo a paciência.
—Você tem o mau hábito de presumir que conhece os meus
pensamentos e reações, mas não me conhece bem como pensa, o
que me decepciona.
—E você não me conhece, assim como pensa, o que não é
nenhuma surpresa... — Ela estava fazendo isso de novo, atacando
dolorosamente o homem que amava. —Sinto muito. Eu sei que você
não entende, mas confie em mim, é para melhor.
—Não. Este segredo a impede de levar uma vida normal, faz
você se distanciar de todos aqueles que ama e aqueles que a amam.
O coração de Reya começou a bater mais forte quando olhou
em seus olhos, o sentido oculto em suas palavras. Certamente ele
não estava dizendo...
—Eu te amo, Reya.
A alegria encheu-a, uma onda de alegria encheu seu coração
solitário. Ele a amava! Seu amor era correspondido! Profundo, dentro
dela, sabia que ele estava atraído, ela suspeitava, mas ouvi-lo dizer!
Assim como, de repente, seu coração caiu no fundo do poço.
Vendo a alegria nos olhos dela, Maverk ansiosamente aguardou
para ouvir sua declaração de amor, até que viu a angústia em seus
olhos, a desolação. A desesperança.
—Oh, bonitão. — Infelizmente Reya balançou a cabeça. —Que
confusão.
—Moça...
—Não.
—Você espera que eu simplesmente saia depois de declarar
meu amor por você? Não é sangrentamente provável!
Quebrando o coração, ela sabia que ia explodir em lágrimas a
qualquer momento, mas não na frente dele. Por favor, Deus, deixe-
me ficar alguns minutos no controle de si mesma. Se ela quebrasse
agora, lhe diria tudo, então...
—Por favor, Maverk, se temos de falar...
—Oh, é preciso. — Ele cruzou os braços. —Vamos.
—Pelo menos me deixe tomar um banho e vestir-me.
—Não vejo que diferença que vai fazer.
—Eu já lhe perguntei alguma coisa de antes?
—Não. — Seu olhar fixou-a no local. —E não vou deixar isso ir,
não importa o quanto você peça.
Ele não queria, e ela sentia a picada de lágrimas.
—Muito bem, vamos falar depois que tomar banho e vestir-me.
Isso é tudo o que peço a você. Por favor?
Ele estudou-a detidamente antes de acenar abruptamente.
—Tudo bem, mas essa conversa vai continuar quando você
tiver acabado. Está me ouvindo?
Incapaz de falar com o nó na garganta, ela balançou a cabeça.
Ele a viu entrar no banheiro, com a coberta arrastando no chão
atrás dela e desaparecer, a porta cortando-a de vista. Sombriamente
ele pegou sua roupa e fez o caminho para seu próprio quarto. Desta
vez ele estava determinado a chegar ao fundo deste segredo escuro,
para encontrá-lo de uma vez por todos. Até que fosse revelado,
estaria sempre tirando qualquer chance de felicidade que teria com
Reya, e ele não tinha a intenção de permitir que qualquer coisa o
impedisse de estar com ela.

Manipulando o material macio do vestido sem mangas que ela


usava, Reya mordeu o lábio enquanto olhava no espelho. Fechou o
cinto na sua cintura. O vestido caia em dobras graciosas até os
tornozelos, o modelo tinha uma fenda na frente, quando ela andava
mostrava uma parte da perna.
Olhando para baixo, estudou as sandálias nos pés. Finas solas
de couro com uma alça na parte superior dos dedos e fitas longas de
cada lado do calcanhar que atravessavam sedutoramente as pernas
antes de amarrar abaixo dos joelhos.
Essas roupas, fornecidas por Kiile, eram, definitivamente, para
a aparência e sedução, não para trabalho e luta. Ela percebia.
—Estou pronto, Reya.
Ela olhou para cima para ver Maverk de pé atrás dela. Ela não
tinha o ouvido entrar no quarto.
O olhar determinado em seu rosto suavizou o medo fugaz em
seus olhos verdes.
—Venha, moça, vamos ao pequeno jardim de rosas. É muito
calmo e privado, neste momento. — Ele estendeu a mão.
Lentamente, ela colocou a mão na sua e a força quente de
palma de sua mão envolveu a dela.
Silenciosamente eles deixaram o quarto. O corredor estava
vazio, havia uma sensação de paz e sossego no palácio. Maverk a
levou através da porta que dava para o jardim de rosas, em seguida,
fechou-a atrás deles.
Respirando profundamente o ar perfumado das rosas, seu olhar
passou pelo pátio, pequeno e isolado. Rosas cresciam
abundantemente nos bem cuidados canteiros, rosas trepadeiras
subiam grossas até a parede de pedra que tinha três metros de
altura. No meio do pátio havia um banco de mármore, enquanto uma
fonte bonita no canto, que sussurrava jorrando um fluxo frágil de
água para o ar e esta caia de volta para a bacia.
—Isto é bonito, não é?
Sentiu-o atrás dela, mesmo antes de ouvir as suas palavras.
Sua mão segurava nas suas costas, empurrando gentilmente, mas
com firmeza até o banco.
Maverk sentiu a ligeira resistência em seus degraus de madeira.
Uma vez no banco, ela se virou para olhar seriamente para ele.
—Esta não é uma boa idéia.
—Eu acho que é. Sente-se.
Ela obedeceu em silêncio e observou-o sentar-se no banco para
ficar em frente a ela.
—Diga-me, — disse ele.
Ela viu a determinação de aço. Mas, lhe dizer, seria perder seu
respeito e amor. Ela poderia ter isso?
Lentamente, virou o rosto para frente, encarando cegamente as
rosas, esticando os braços em seus lados e segurando o banco com
as mãos.
—Não podemos nos acertar até você revelar o segredo, Reya.
Você não vai me aceitar como seu destino, enquanto ele ainda se
apodera de você.
—Você não vai aceitar-me se souber.
—Fale.
—Vou perder todos vocês.
—Não estamos perdidos de qualquer forma? Você distancia-se
agora. Pelo menos me deixe entender.
Ele estava certo, de qualquer forma ela estava perdida. Ela não
o tinha agora, pois vivia com medo da descoberta e a escuridão que
tinha por dentro estava empurrando as pessoas que amava para
longe.
—Três anos atrás, um aviso foi fixado em uma taberna,
procurando mercenários para uma missão.
Finalmente! Maverk sentiu um salto de alegria.
—Eu escolhi ir. Eu não tinha estado em uma missão por um
tempo e estava pronta para alguma ação. Se soubesse... —
Respirando fundo, ela continuou com uma voz monótona: — Havia
cinquenta mercenários reunidos e a recompensa era grande. O
homem e a mulher examinaram-nos com cuidado, questionando
nossas histórias para fazer a contratação.
Isham e Stellar, os condenados.
—Eles escolheram os trinta melhores, eu entre eles. — Não
havia orgulho em sua voz, apenas cansaço e aceitação. —Fomos
informados que assassinos percorriam o deserto perto de Yennan,
aterrorizando o assentamento. Aqueles que tinham ido antes de nós,
nunca tinham retornado. Esta era a quarta tentativa. As naves de
transporte se recusavam a entrar no deserto, por isso fomos a
cavalo. — Perdida nas lembranças, ela esfregou as palmas para baixo
em suas coxas. —O deserto estava quente, os ventos sopravam
fortes e as tempestades no deserto cobravam o seu pedágio. O
capitão não tinha conhecimento mais aprofundado do deserto e
colocou homens incompetentes no comando dos cavalos, que fugiram
durante as tempestades. Acabamos ficando sem nenhum transporte,
mas estávamos perto de nosso destino. — Ela olhou distante no muro
de pedra. —A areia entrava em tudo, a pele ficava em carne viva pelo
atrito com a areia. O sol é quente e dói muito quando o suor escorre
sobre as abrasões da areia. O deserto, bonitão, não é lugar para
homem ou animal.
Ele esperou, observando enquanto ela olhava cegamente para
as mãos, frouxamente deitadas no colo.
—Uma tempestade de areia explodiu naquele dia e fomos
apanhados no inferno. Acima do barulho do vento, ouvimos fracos
gritos. De repente, o vento diminuiu e os gritos de agonia e
desespero eram claros. Eu e outro mercenário fomos à frente
averiguar. Eu não consigo lembrar seu nome. Eu deveria.
—Vexa — Maverk disse calmamente.
—Sim, Vexa como...
—Quando você estava doente semana atrás, você chamou o
seu nome.
—Chamei, é? — Ela esfregou as palmas das mãos.
—Vá em frente. — Ele sabia o que estava por vir, ele odiava ter
que empurrá-la, mas sabia que era o único caminho. —O que você
viu?
—O que vi? — Fechando os olhos, esfregou a ponta de seu
nariz. —Corpos. Nós vimos corpos, queimados e sem pele. Eles
tinham sido torturados vivos, você poderia dizer pelas marcas na
areia. — Ela baixou as mãos para pressioná-las entre os joelhos,
tentando não tremer. —Um não estava morto. Eu não sabia se era
homem ou mulher, pois estava queimado de forma irreconhecível.
Um mercenário tinha mencionado o cheiro de carne cozinhando. —
Sua mandíbula apertou. —Ele não estava errado. Ele abriu os olhos.
Levantando uma mão trêmula, ela segurou seu polegar e indicador
rigidamente em forma de um laser. Não podia dizer uma palavra,
mas eu sabia o que queria. — Sua mão tremeu. —Eu atirei nele. Foi a
última coisa decente que fiz naquele dia.
Maverk doía para levá-la em seus braços, para acalmá-la, mas
ele não se moveu. Reya tinha que contar tudo isso.
—Alguma coisa estava lá fora, eu podia senti-los nos
observando. Começamos a voltar para os outros, mas sabia que era
tarde demais. Eles sabiam que estávamos lá. O capitão estava
confiante de que poderíamos lidar com eles, fossem quem fossem.
Eles estavam em busca de sangue e por que não? Eles eram pagos
para isso. Erradicar os assassinos. Nós não éramos os melhores.
—Você não tortura suas vítimas.
Havia um brilho de suor em sua testa.
—Nós podíamos ouvi-los se aproximando, os risos e
gargalhadas... tão ardentes. Enervante. Quando vimos que vinham
sobre as dunas... eram crianças de não mais de oito a quatorze anos.
Alguns usavam coletes e camisetas feitas de pele humana. Duas
meninas usavam colares feitos de orelhas humanas. Um deles usava
um colete de pele tão fresca que os pedaços de carne ainda estavam
agarrados nela. Eles se aproximavam. — Enrolando seus braços ao
redor, Reya estremeceu e inclinou-se, as lágrimas rolavam livremente
pelo rosto. —Meu Deus, Maverk, eles eram como demônios das
profundezas do inferno! Muitos deles tinham sangue seco em torno
de suas bocas e um menino pequeno estava segurando uma mão
cortada, meio mastigada!
Ele não poderia fazê-lo. A agonia e horror em seu rosto e voz
rasgaram-no.
— Reya, não...
Surda, ela deixou cair à testa nas mãos e cobriu os olhos, sua
respiração ofegante vindo em soluços.
—Eles carregavam facas de esfolar e estavam tão animados por
ver-nos, sua próxima refeição e brinquedos. Nós estávamos pasmos.
O capitão estava em pânico, querendo correr. As crianças conheciam
o deserto melhor do que nós, a nossa única esperança éramos
ficarmos juntos. O capitão correu e várias crianças se separaram do
grupo principal e o seguiram sobre a duna. Eles eram tão rápidos.
Ouvimo-lo gritando, seu laser detonando. Eu pensei que ele os tinha
matado, mas então ele parou de gritar e o riso voltou...
Querendo confortá-la, Maverk estendeu a mão e tocou-lhe.
—Moça...
—Não, você quis saber e agora vai saber! Quando o capitão se
foi, os homens olharam para mim como líder. — Chorando, em
desespero, ela torcia as mãos, os nós dos dedos estavam brancos. —
O que eles pensavam? Que por que sou mulher poderia saber o que
fazer com essas crianças? Estes bebês?
Balançando a perna sobre o banco, Maverk caiu de joelhos ao
lado dela, repousando a mão sobre sua coxa.
—Eu sinto muito...
Levantando-se, ela se afastou antes de girar para enfrentá-lo, e
ele ficou chocado com a brancura de sua pele, os olhos ardendo de
tormento interior.
—Eu dei a ordem errada, Maverk! Foi por minha causa que
tantos morreram naquele dia!
—Não. — Ele deu um saltou. —Você não pode culpar a si
mesma.
—Você não sabe! — Ela jogou os braços. —Você não estava lá!
—Eu sei o que aconteceu. — De repente, com medo que ele a
empurrasse longe demais, vendo a sua influência, ele pisou para
frente. —Está tudo bem.
—Tudo bem? — Ela estendeu uma mão para se equilibrar, como
se o mundo inclinasse sob seus pés. —Deus perdoe-me, como pode
estar tudo bem?
Pulando para frente, Maverk a pegou enquanto ela caia.

Sarcan sorriu tranquilizador para o comerciante gigante, que


olhava ansiosamente através do quarto para ele.
—Ela desmaiou, foi uma combinação da doença recente e
estresse.
—Graças a Deus. Temi que lhe tivesse causado muito dano.
—Reya é mais forte do que pensa. Você fez mais bem do que
mal, fazendo-a enfrentar seus problemas. Onde ela está preocupada,
é melhor ir com sua intuição. Basta tratá-la com cuidado e ela vai
ficar bem.
Maverk entrou no quarto em silêncio, seus olhos sobre a figura
esbelta deitada de costas na cama, ela estava com o rosto voltado
para a parede, um braço dobrado, descansando em sua cintura, o
outro braço no travesseiro acima sua cabeça.
Temendo seu desprezo e ódio, ela não conseguia olhar para ele.
—Não sinto que você tenha que vir aqui e ver-me.
—Como é?
—Você ouviu. Você teve o que queria, então, agora pode ir.
Em pé ao lado da cama, ele olhou para ela.
—Você realmente acha que é o que vou fazer?
—Eu sei disso.
—Sabe o que penso?
Ela ficou tensa, esperando as palavras duras, as acusações
cuspidas, o ódio... a quebra de seu coração.
—Diga-me, bonitão. Tenho certeza que você não pode esperar.
—Eu não posso acreditar que você se atreva a pensar que eu
iria virar a costa para você.
Lentamente, ela virou a cabeça para olhar para ele. As palavras
foram rudes, mas não havia nada além de amor e preocupação nos
olhos castanhos.
—Maverk?
O colchão afundou com o seu peso quando sentou-se, e
inclinando-se sobre ela, ele apoiou os braços aos lados de sua
cintura.
—Realmente acha que eu deixaria de amar você, moça? Você
me conhece tão pouco?
—Eu... O que eu fiz...
—Não faz nenhuma diferença.
—Como pode não fazer?
Deslizando as mãos por baixo dela em sua cintura, ele enroscou
os dedos juntos.
—Você fez o que tinha que fazer. Já é tempo de aceitar e seguir
em frente.
Ele a amava. Ele sabia o seu segredo sórdido e ainda a amava.
Lágrimas de alegria e alívio misturados enchiam seus olhos.
—Ei, agora, sem mais lágrimas, já é tempo de olhar para o
futuro, moça. Um futuro comigo.
—Eu não sei...
—Por favor, explique o comentário.
—Eu... eu nunca pensei que você ainda me quisesse.
—Errado de novo. Eu nunca vou deixar você ir. — Ele se
inclinou mais perto, o seu olhar era firme e amoroso. —Você me
pertence, Reya. Para sempre.
Uma lágrima brilhante rolou sobre o seu rosto liso, e ele beijou-
a antes ir para os lábios dela em um beijo suave.
Depois de um curto espaço de tempo ele levantou a cabeça
para sorrir para ela.
—Quando você estiver bem, vai ser minha esposa.
—Esposa?
—Não se atreva a me insultar parecendo tão surpresa, ou vou
esquecer que não está bem e lidar com você do jeito que ameacei
recentemente. — As palavras foram desmentidas pelo tom de
diversão em seus olhos.
Passando os olhos para suas mãos unidas, ela limpou sua
garganta.
—Tem certeza que deseja se casar comigo? Eu não sou uma
mulher fácil.
—Você não seria Reya se fosse de outra maneira. — Os olhos
castanhos brilharam. —Eu vou domar você, não se preocupe.
Um riso, pequeno e frágil brindou essas palavras.
—Você pode tentar bonitão, mas suas chances são pequenas.
—Eu não iria querer de outra maneira. — Maverk aninhou seu
rosto. —Mas há várias coisas em que insisto.
—Mmm? — Ela arqueou seu pescoço, enquanto os lábios dele
buscavam pressionar beijos suaves em sua garganta.
—Quero você viva comigo em Daamen, desista de ser
mercenária, para tornar-se uma esposa e mãe em seu lugar.
—Você acha que, depois de tudo que fiz que seria uma mãe
adequada?
—Sim. — Ele beijou a ponta do seu nariz antes de recuar para
olhar para ela. —Eu sei disso.
—Eu não tenho certeza. Crianças... não sei se estarei pronta
para isso, não depois...
—O que aconteceu não foi culpa sua. Foi uma experiência
desumana que deu errado.
—As pessoas fazem coisas estranhas para sobreviver.
Seu rosto estava sombrio.
—Não há desculpa para a desumanidade.
Os olhos verdes piscaram.
—Como você pode professar amar e aceitar-me quando o que
fiz foi tão desumano?
—Você não tinha escolha, fez o que tinha que fazer para
sobreviver. A tribo de Isham fez uma escolha deliberada. Não há
comparação.
A expressão preocupada cruzou o seu rosto.
—Eu acho que existe.
—Não tanto quanto estou preocupado. Eu te amo, Reya, e a
conheço melhor do que pensa. Agora, sem mais argumentos. Vamos
nos casar em Daamen quando você estiver completamente
recuperada, mas me recuso a esperar muito tempo.
—Está se transformando em um ditador, bonitão. — A centelha
de diversão iluminou seus olhos. —Não posso prometer obedecer,
você sabe. Eu sou uma guerreira, afinal.
—Eu não espero que obedeça. O casamento é uma parceria,
moça. Partes iguais, digo iguais, sem exceção, — seus olhos
começaram a cintilar — Exceto quando estou certo.
—Ou eu estou.
—Feiticeira.
—Espero que não se arrependa. — Ela ficou séria, mais uma
vez.
—Nunca. — A promessa foi feita com segurança.
—Há uma coisa que eu pediria. — Reya apertou a mão de
Maverk.
—Sim, meu amor?
—Leve-me para casa. Há pessoas que amo e que preciso ver.
Capitulo 30
Reya observava nervosamente através da vigia, como o planeta
Daamen se aproximava.
Sempre sensível aos seus humores, Maverk deslizou o braço em
volta dos ombros e apertou levemente.
—Tudo bem, moça?
—Sim.
—Estou aqui por você.
Ela sorriu para ele.
—Eu sei.
Estudando o seu perfil enquanto ela voltava a sua atenção para
a cena fora da vigia, Maverk pensou na semana passada. Eles ficaram
mais unidos do que já tinham estado e não apenas fisicamente.
Todas as noites eles fizeram amor, foi mais do que ele sempre
sonhou, assim era o seu tempo juntos quando eles conversavam e
riam e argumentavam sobre tantos assuntos diferentes. Outras
vezes, eles simplesmente sentavam calmamente juntos, cada um
perdidos em seus próprios pensamentos, felizes e contentes. Ele
sabia que demoraria um longo tempo antes que ela pudesse aceitar o
passado e colocá-lo para trás, mas ele se contentou em apoiá-la,
amá-la e estar lá para apertá-la contra ele quando acordava dos
pesadelos.
Sim, seu tempo juntos tinha sido mágico, mas agora era tempo
para ela familiarizar com suas irmãs guerreiras de ambos, de Daamen
e Comll, e tomar as rédeas mais uma vez como co-regente das
Reekas com Tenia.
—Eu me pergunto como está Dana — Reya murmurou,
observando os mares e rios de Daamen tomarem forma de cobra em
todo o planalto.
—Eu me pergunto como está Garret — foi a resposta seca de
Maverk.
—Ele tem sentimentos por ela. É óbvio que ela não
corresponde.
—Você não me queria, lembra? — Sorrindo, ele escorregou a
mão para baixo do ombro para deslizar até seu seio, invadindo o seu
colete de couro.
—Maverk! — Agarrando sua mão, ela olhou em volta
rapidamente.
—Não há ninguém aqui. Por que, moça, você está com este
rosto bonito ruborizado?
—Maldição, você vai parar?
—Não. — Ele pegou o outro seio com a mão livre.
Ela agarrou as duas mãos errantes, com a intenção de mantê-
las afastadas, tentando manter um olho na porta para a cabine de
comando.
—Se você não parar com isso, bonitão, darei lhe uma tosquiada
nos ouvidos, que eles vão ficar tilintando durante uma semana.
—É mesmo? — Agarrando-a pela cintura, ele a puxou para seu
colo.
—Ponha-me no chão!
—Um beijo é o preço, docinho.
Todos os pensamentos de protesto fugiram quando os lábios
quentes dele capturaram os seus, moldando o formato de sua boca,
sua língua que procurava a entrada, saboreando a doçura quente.
Uma voz divertida invadiu sua paixão cheia de neblina.
—Chegamos.
Kiile! Com as bochechas queimando, ela saltou do colo de
Maverk.
—Alguém já informou que você tem um sincronismo ruim? —
Maverk falou preguiçosamente, se levantando.
—Tenho certeza que você vai fazer isso — foi a resposta
risonha.
Reya respirou fundo.
—Nós chegamos?
—Isso é correto. — Kiile sorriu para ela.
Maverk ficou ao lado dela.
—Vamos, moça. Sua irmã está aguardando ansiosamente este
dia.
—É um dia que nunca esperei ver.
—Então, conte suas bênçãos.
Aprumando seus ombros, ela saiu da nave espacial para o sol e
sentiu o beijo quente sobre seus ombros. Ar limpo e fresco fluiu sobre
ela e o som dos insetos cantando adicionava a uma atmosfera de paz
e harmonia. No entanto, sua atenção foi rapidamente desviada para o
povo que esperava a poucos metros de distância.
Ela olhou para uma mulher em particular. Longos cabelos
dourados pendurados por cima do ombro em uma trança grossa e
profundos olhos violeta que se arregalavam de prazer.
—Reya! — Tenia correu para frente e lançou os braços ao redor
dela. —Finalmente!
Abraçando-a perto, os olhos de Reya doíam com o espinho das
lágrimas e um nódulo alojado em sua garganta.
—Olá, irmãzinha.
Puxando para trás, Tenia tocou seu rosto com uma mistura de
felicidade e preocupação.
—Nós ouvimos que você esteve doente, mas que teve uma boa
recuperação. Como se sente? Não é muito cedo para você? Maverk,
ela está bem o suficiente? Talvez você deva levar...
—Eu não preciso disso, mas talvez eu devesse perguntar a
mesma coisa de você?
Radiante, Tenia colocou uma mão em seu abdômen inchado.
—Eu estou bem, melhor ainda agora, que você está aqui.
A culpa comeu através dela. Se não fosse por Maverk, não
estaria aqui.
—Antes tarde do que nunca, moça. —Dando um passo à frente,
Maverk abraçou a jovem Reeka afetuosamente. —Eu confio que
Darvk tratou você gentilmente, hein?
—Talvez você deva perguntar-lhe sobre mim — o gigante de
cabelos escuros ao lado de Tenia sugeriu secamente. —Agora
dificilmente há lugar para mim em nossa cama, com o ventre que
minha moça tem.
—Eu acredito que você desempenhou um papel importante
neste processo. — Maverk sorriu.
—Ele certamente o fez e vendo que ele não tem esse peso ao
redor, não tem motivo para reclamar, — Tenia riu.
—Ela é uma mulher difícil, a sua irmã. — Darvk se adiantou e
deu um abraço em Reya.
Ela voltou-se brevemente, desconfortável entre o calor e
felicidade ao seu redor, não era uma parte dela.
Darvk notou a rigidez, mas apenas disse:
— Bem-vinda a casa, irmã. Naturalmente, vai ficar com a
gente. Nossa casa é sua casa.
—Obrigada.
—Reya!
Ela se virou para ver uma guerreira alta, de cabelos negros
correndo em direção a ela. Era Connie, a Reeka que tinha cuidado
dela e de Tenia tão amorosamente durante os anos após a morte de
sua mãe.
Connie abraçou-a ferozmente.
—Irmãzinha! Finalmente, você está em casa! — Colocando as
mãos sobre os ombros da guerreira mais jovem, ela abraçou-a e
estudou seu rosto. —Você perdeu peso. Você está totalmente
recuperada de sua doença?
Obviamente Maverk não tinha revelado os motivos da sua
doença, ela encheu o seu alívio com culpa. Elas teriam seu tempo
juntas para ser preenchido com segredos de sua família? Era justo
envolvê-la em uma teia de mentiras?
—Reya? — Os olhos de Connie arregalaram.
—Claro, Connie. — Reya forçou um sorriso nos lábios, com anos
de habilidade para manter seus pensamentos ocultos.
—Foi uma longa jornada. — Maverk estava logo atrás dela e
colocou uma mão sobre o ombro. —Que tomou seu pequeno pedágio.
—Eu estou bem. Não se preocupe Maverk.
—Alguém tem que se preocupar. — Ele sorriu, escondendo a
sua perplexidade diante da tensão que sentia em seu corpo. O que
estava errado?
—Ele está certo, — disse Connie. —Tenia, nós devemos entrar.
—Claro. — Tomando o braço de Reya, Tenia puxou-a para perto
e começou a voltar em direção ao grande assentamento.
Connie caminhava no outro lado Reya, elas conversaram entre
si, enquanto caminhavam.
Darvk caminhava ao lado Maverk e Kiile.
—Como ela está realmente?
—Tudo bem agora.
—Agora?
—É complicado. Ela tinha uma razão para sair, um engano.
Gostaria que lhe dissesse e a Tênia, ela mesma, é o seu segredo, só
ela deve contar.
—Ah. Você sabe o que é, hein?
—Sim.
—Eu vejo. — O comerciante de cabelos escuros estudou
Maverk. —E como você vai com minha cunhada?
Dentes brancos brilharam em um sorriso.
—Vamos nos casar aqui.
—Casar? Como você conseguiu convencê-la?
Maverk encolheu os ombros com uma indiferença fingida.
—Como ela poderia resistir a mim?
—Ela tentou — Kiile assinalou secamente. —Ela esteve
mordendo um pouco, Darvk. Não foi uma conquista fácil.
—Eu posso imaginar!
—Não, não foi fácil, mas valeu a pena o trabalho duro, amigos.
—Ganhar essas guerreiras nunca é fácil. — Darvk assentiu. —
Mas eu concordo, elas valem à pena. — Seu olhar voltou para Tenia,
observando-a carinhosamente enquanto ela caminhava lentamente
ao lado da irmã, a trança dourada brilhando ao sol. —Elas realmente
valem à pena.
—Morgan está longe? — Kiile indicou Connie. —Eu não imaginei
que ele poderia deixar sua esposa e filho tão cedo.
—Ele retorna dentro de uma semana. — O sorriso de Darvk
tinha um toque triste. —Eu não sei por que, mas o casamento com
estas moças parece manter-nos perto de casa.
—O casamento faz isso com um homem, — Kiile concordou. —
Mas nunca esqueçam que elas são guerreiras, meus amigos. Vocês
não podem tirar isso delas.
Ele riu suavemente.
—Como se pudéssemos! Tenia ainda estava praticando esgrima
até um mês atrás. Connie retornou à prática dentro de uma semana
após o parto. Morgan atingiu o telhado, exigindo que descansasse,
mas ela apenas entregou o bebê para ele e saiu para praticar com
Dana.
—O que me lembra, — disse Maverk curiosidade. —Ela e Garret
estão aqui? Estou surpreso que ela não tenha aparecido para
cumprimentar Reya.
—Eles ainda estão em discussão na sala de jantar, eu aposto.
Ele insiste que ela descanse o seu tornozelo e ela ameaça lhe fazer
danos físicos.
—Nada mudou, então. E seu tornozelo ainda não está curado?
—Devido a ter sido danificado por diversas vezes, o médico diz
que só um repouso prolongado irá curá-lo, embora ele nunca vá ficar
cem por cento forte novamente.
—Não é bom.
—Não é tão ruim. Ela ainda vai ser capaz de correr e caminhar,
mas sem nenhuma luta dura e estresse, senão volta a ficar
machucado.
Eles chegaram a um prédio de dois andares, a construção de
pedra branca, com grandes janelas em arco e uma varanda
circundando por todos os lados. Trepadeiras de jasmim
preguiçosamente se arrastavam até os pilares de pedra branca, seu
perfume enchendo o ar.
Movendo-se ao lado de Tenia, Darvk passou o braço em volta
dos seus ombros.
—Entrem meus amigos. Estejam em casa.
Olhando ao redor, Reya viu que era como se lembrava. Pinturas
e tapeçarias penduradas nas paredes de pedra, tapetes sobre a
cerâmica branca acrescentava toques de cor ao piso. Mobiliário de
madeira escura e confortável, macias almofadas foram
aconchegantemente colocadas sobre a sala e vasos de flores estavam
elegantemente em pedestais nos cantos.
Dois gatos pretos piscavam preguiçosamente para os
convidados da poltrona em que aninhavam.
—Apresento nossos amigos de Saalm. — Curvando-se com
alguma dificuldade, Tenia acariciou amorosamente os gatos.
Vendo o contentamento e felicidade de sua irmã, Reya estava
satisfeita e perguntou se os seus pesadelos iriam deixá-la tempo
suficiente para obter a mesma felicidade que Tenia tinha encontrado.
Escovando os lábios em sua têmpora, Maverk sussurrou em
seus ouvidos,
— Está tudo bem, meu amor. Não se preocupe assim.
—Você está tão confiante. — Ela olhou para ele, com
desesperança em seus olhos.
—Eu estou. — Ele passou o braço em volta da sua cintura.
Darvk sorriu para o rosto assustado de Tenia.
—Eles vão se casar, moça.
—Sério? Isso é maravilhoso!
Connie riu.
—Eu estava começando a me perguntar se Maverk não estava
perseguindo você em vão, irmãzinha!
—Ela não pode resistir ao meu charme.
Kiile revirou os olhos.
—Eu simplesmente não posso esperar para ver o rosto de Dana
quando ela souber. — Darvk gargalhou.
—É melhor eu dizer a ela — disse Reya. —Onde ela está?
—Lá vem ela agora — Tenia inclinou a cabeça. —Ouçam.
O som de vozes se ouvia, discutindo e chegando mais perto.
—Ainda discutindo. — Darvk sorriu. —Eles não fizeram mais
nada desde que chegaram.
—Sério? — Kiile ergueu as sobrancelhas.
—Sim. Na verdade, Dana argumenta e Garret simplesmente
deixa passar.
O som da voz aquecida de Dana estava mais clara.
—Você é um completo idiota! Se eu quiser dar uma caminhada,
eu vou!
—Eu nunca disse que não podia — foi a resposta. —Eu disse
que ia acompanhá-la, caso você fique cansada.
—Desde quando eu me canso?
—Na semana passada você tolamente caiu e uma das crianças
teve que vir me chamar.
—O pequeno sapo sorrateiro! Então foi assim que você
apareceu tão rápido!
—Sorte sua que cheguei rápido. Seu tornozelo estava pulsando
tão...
—Uma dor leve, isso era tudo.
—Você não podia se afirmar nele, meu doce. Eu tive que
carregá-la, lembra?
—Eu não sou seu doce! Eu tenho um nome, use-o!
—Ah, e é música para meus ouvidos. Dana...
—Tenia! — Dana entrou mancando na sala. —Por amor as
primas, me salva — Reya! — Seus olhos se arregalaram em
descrença e prazer. —Você está aqui!
Correndo para o lado dela, Reya enrolou um braço em volta da
sua cintura.
—Sim, estou. Você devia estar sentada.
—Você também, não! Você chegou agora e já está começando
a soar como eles!
Garret moveu-se para ser visto por trás dela, com um olhar
alegre.
—Ela não concorda com os médicos.
—Eles são idiotas. — O olhar de Dana se estreitou em Kiile. —O
que você está fazendo aqui?
Kiile deu um pequeno arco.
—Estou aqui em uma visita curta.
—Não curta o suficiente.
Sentindo o olhar de Maverk sobre ela, Reya deu um suspiro
mental e decidiu que era hora de informar Dana dos recentes
eventos, até certo ponto, de qualquer maneira. Ela não ia mencionar
as crianças. Ela falou baixinho em seu ouvido.
Dana olhou para ela com curiosidade, em seguida, deu de
ombros.
—Claro. Podemos ir conversar na cozinha. Se isso está certo
para você, Tenia?
—Certamente. O resto de nós estará muito confortável aqui.
Reya ajudou Dana a sair da sala.
Todos esperavam ansiosamente, vários minutos se passaram,
em seguida, eles ouviram o grito descrente de Dana.
—Você o quê? Você vai se casar com Maverk? Inferno
sangrento!
—Sou, obviamente, uma adição bem-vinda à família. — Maverk
sorriu.

O som da noite, folhas e insetos soavam suavemente com a


brisa que sussurrava em torno das estátuas de Karana e Vulya. Eles
estavam no jardim principal de Daamen, como um testemunho
silencioso dos erros cometidos contra as Reeka e do triunfo do amor
verdadeiro.
Ao pé da estátua de seus pais, Reya lentamente acariciou os
nomes dos mortos, mulheres, homens e crianças, que foram
gravados na base da pedra e seus olhos foram atraídos para o lema
das guerreiras Reeka: Liberdade ou Morte.
—Nós temos a nossa liberdade, mãe, mas a morte nunca mais
parou. — Ela olhou para as belas feições congeladas de Karana. —Eu
tenho que ir.
Das sombras de uma árvore próxima, Maverk observava em
silêncio. Ele tinha tido a sensação de que ela iria procurar a estátua e
estava certo. Ele lembrou agora quando tinha solicitado ao seu amigo
artista para pintar o que ele tinha visto naquela noite há muito
tempo, quando notou o luar refletir nos cachos vermelhos e lançar
uma luz etérea em seu rosto, destacando a tristeza que assombrava
os seus olhos.
Voltando um passo, ela inclinou a cabeça para olhar para cima
na estátua.
—Honra era uma característica admirável entre nós Reekas,
mãe. Eu falhei nisso, mas que honra há no que fiz no passado? Eu
escolhi a morte, a destruição e pior, depois que ganhei a liberdade,
levei uma guerreira irmã no meu estilo de vida. Se você estivesse
aqui e soubesse das atrocidades que cometi, você ainda me amaria?
E quanto a você, pai?
Maverk engoliu o nó na garganta, sentindo-se como um intruso
neste momento de privacidade, mas incapaz de fazer anunciar a sua
presença.
Inclinando um ombro contra a base da estátua, ela olhou para
fora sobre as flores, para a escuridão além delas.
—Talvez seja uma bênção que nenhum de vocês esteja aqui,
para ver a profundidade que sua filha mais velha caiu. Agora tenho
uma chance no amor, com um homem bom, que me ama
independentemente do meu passado. Eu me lembro daqueles com
quem lutei e matei e pergunto se mereço essa chance. Você acha que
é justo, mãe?
Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para as feições de seus
pais, buscando, mas não encontrando resposta.
Incontáveis minutos se passaram antes que ela se afastasse da
estátua com um suspiro e deixou o jardim.
Ela não percebeu Maverk deslizando de volta para a escuridão,
para pegar um atalho de volta para a casa.
Dando os passos para a varanda sombreada, ela encostou-se
para olhar a noite. Vários minutos se passaram em silêncio antes de
uma voz perturbar a tranquilidade.
—Você está em um humor melancólico, moça.
A voz profunda escorria através de seus sentidos como o mel
quente.
—Venha sentar ao meu lado neste balanço, — Maverk sugeriu.
—Compartilhe alguns momentos de paz com o homem que te ama
mais que a própria vida.
As palavras eram um bálsamo para a alma perturbada e ela fez
seu caminho em direção à figura. Quando se aproximou, ele estendeu
a mão e pegou a mão dela, puxando-a para o lado dele. Sentiu-se
segura e acarinhada quando seu braço em volta a puxou apertado
contra ele, ele apoiou a bochecha em cima da cabeça ela. Ela relaxou
e ele pressionou sua bota contra o piso, ajustando o assento do
balanço para balançar suavemente.
—Então, moça, o que busca na solidão? — Sua voz profunda
retumbou em seu ouvido.
—Nada.
—Oh? — Uma grande mão corria confortavelmente para cima e
para baixo do braço. —Eu sinto que você está com problemas. Você
se arrepende de concordar em casar comigo?
—Isso nunca.
—Fico feliz em ouvir. Compartilhe comigo.
Reya suspirou.
—As coisas têm se saído tão bem, certamente, não do jeito que
eu esperava. Eu acreditava firmemente que iria viver minha vida
como uma mercenária até que...
—Até que fosse morta em batalha. E agora? Você se arrepende
de deixar de ser mercenária?
Ela se puxou de volta para ver seu rosto, com um franzir de
testa.
—Como você pode perguntar isso?
—Estou apenas preocupado com o que a incomoda. Eu te amo e
só queria fazer você feliz.
Ela estendeu a mão e tocou no seu rosto.
Ele cobriu a mão dela com a sua.
—Esta é a primeira vez que você me toca voluntariamente,
hoje.
—Mostrar carinho na frente dos outros não é o que estou
acostumada. Em privacidade posso mostrar-lhe o meu amor
abertamente e de muitas maneiras, mas em público... Sinto muito,
Maverk. Eu vou lutar ao lado e para você, ficar orgulhosamente com
você contra todos, mas mostrar afeto em público... — Os olhos dela
pediam compreensão. —Você é um homem abertamente afetuoso, o
completo oposto de mim. Tenho medo...
—Sim? — ele solicitou suavemente.
—É o suficiente para você? Não está em mim andar de mãos
dadas, beijar ou qualquer das outras coisas que vejo casais fazendo
em público. Não é algo que possa começar a fazer.
—Isso significa que não posso segurar sua mão ou segurar você
em meus braços em público?
—Claro que não. Estou me acostumando com isso. Eu só
preciso que você entenda que não é uma segunda natureza para eu
fazê-lo. Quando você segura minha mão, — ela virou a mão para
ligação com os seus dedos, — sinto seu calor, amor e força. Eu não
me importo de você mostrar afeição por mim, mas não posso
retribuir sempre estes gestos em público. Em particular terei prazer
em dar tudo que tenho, mostrar-lhe o meu amor incondicional.
—Então do que você tem medo?
—É suficiente? Eu temo que alguém tão fria casada com alguém
tão quente...
—Tais temores são injustificados, meu amor. Pelo contrário,
prefiro que exiba o verdadeiro amor em particular, do que todas as
falsas manifestações, no universo. Eu sei que você me ama. Não
importa para mim se em público sou eu quem toma sua mão, ou sou
eu quem coloca os braços em torno de você.
—Eu vi as outras...
—Eu não vou casar com as outras, vou casar com você. Nosso
amor é mútuo e isso é tudo o que sempre quis. — Maverk baixou os
lábios para os dela, suave e gentil em primeiro lugar, procurando
tranquilizá-la, mas depois sentiu a ascensão do desejo e seu beijo
tornou-se mais urgente e devorador. Deslizando os braços em volta
dela, ele deitou-se no balanço e puxou-a para baixo, em cima dele.
Ela retornou seus beijos com paixão, suas mãos deslizavam em
seus cabelos, se enrolando nos fios louros, segurando-o enquanto
tomava posse de seus lábios quentes, vorazmente.
Como sempre, sua resposta de fogo definia seus sentidos
latentes e ele pegou suas nádegas em concha e puxou-a firme contra
a sua excitação, rosnando,
— Moça, você me deixa selvagem.
—Como você me faz.
—Vamos procurar algum lugar mais privado.
—Onde? Garret vai ficar em sua casa e eu vou ficar aqui. —
Acarinhando a sua bochecha, ela abriu o seu colete para descansar a
mão dela contra o seu peito, seus dedos traçando as ondas
musculosas. —Nós não podemos estar em ‘particular’ enquanto
somos convidados.
Ele gemeu quando os lábios deixaram um rastro ardente para o
lado da garganta.
—Moça, tenha misericórdia!
—Você começou bonitão.
—E eu vou terminá-lo, também! — Sentando-se rapidamente,
ele pegou-a antes que ela pudesse cair. Em pé, ele balançou-a em
seus braços.
—O que você está fazendo?
Piscando-lhe um sorriso, ele caminhou ao longo da varanda.
—Indo para algum lugar privado, com a minha mulher.
—Sério? Onde?
—Para a minha nave.
—É muito longe? — Ela tocou a ponta da sua língua na sua
garganta.
—Feiticeira. — Ele deu passos longos, batendo com as botas na
rua. —Eu iria a pé até os confins de Daamen para um momento a sós
com você.
—E eu faria valer à pena.
Da janela acima, Tenia assistiu o casal desaparecer na
escuridão, um sorriso no rosto.
Virando-se, ela observou Darvk cuidar amorosamente de seu
filho recém-nascido em seu berço.
Darvk olhou para ela, seus brilhantes olhos azuis vívidos
estavam cheios de amor.
—Você deve descansar moça.
—Eu vou. Eu só precisava esticar as pernas. — Ela encostou-se
na parede, as linhas suaves de sua camisola tremulando em volta dos
joelhos. —Eu sabia que Maverk amava minha irmã, mas vê-la
retribuir esses sentimentos me faz tão feliz.
Depois de esticar as cobertas sobre a criança adormecida,
Darvk se endireitou e caminhou até ela, pegando-a nos braços.
—Estou contente por você estar tão feliz, mas me agradaria
ainda mais se descansasse. Você deu à luz apenas esta manhã.
—Você está se tornando um homem muito preocupado.
—Eu gosto de me preocupar com você, e agora, com o nosso
filho também.
—Oh querido, você é um pai tão amoroso. — Timidamente, ela
bateu as pestanas. —Você vai ter tempo para mim, então?
—Feiticeira. — Pegando-a com cuidado, Darvk ninou-a
enquanto a levava para a sua cama. —se você não estivesse em
recuperação, gostaria de demonstrar meu tempo para você! — Ele
deitou-a sobre o colchão e puxou as cobertas até a cintura.
Ela acariciou sua bochecha.
—Esperamos que a recuperação não leve muito tempo.
Ele gemeu.
—Não me atormente!
Tenia riu.
Despojando-se de suas roupas, Darvk deslizou na cama ao lado
dela. Deslizando um braço ao redor dela, ele puxou-a para o seu
lado, como de costume. Ela se enrolou em seu calor, descansando
seu rosto cansado em seu ombro.
—Outra coisa que você faria bem em lembrar, moça, — sua voz
ressoou em seu ouvido.
—Mmm?
—Nós, comerciantes Daamen, somos bem conhecidos por pegar
as nossas moças.
Ela riu.
—Como me lembro bem!
Ele beijou sua testa, esticou o braço e apagou as luzes, antes
de se instalarem, os dois, confortavelmente. Dentro de minutos eles
estavam dormindo, quentes e seguros em seu amor, um pelo outro.

Inclinando-se contra a pilastra, Maverk assistiu Reya segurando


seu sobrinho e pensou como pacífica ela parecia. Então, ela levantou
a cabeça e olhou para ele, e ele viu o tormento em seus olhos.
—Eu vou manchá-lo com meu passado.
—Eu pensei que você tinha aceitado o seu passado e o deixado
para trás. — Ele ficou imediatamente alerta para a sua angústia.
—Eu tenho, graças a você, mas temo que vá arruinar o nosso
futuro.
—De que maneira? — Atravessando a varanda para sentar-se
ao lado dela, no banco do balanço, Maverk pôs a mão sobre o seu
joelho.
—Há pessoas que conhecem os segredos do meu passado, as
pessoas que estavam lá comigo. Um segredo não é segredo se mais
de uma pessoa sabe disso.
—Você tem medo que um dia as suas irmãs guerreiras fiquem
sabendo?
Com brilho de lágrimas nos olhos, ela balançou a cabeça.
—Ah, moça, não vou permitir que ninguém a machuque.
—Como você pode pará-lo? Estaremos sempre vivendo com
esse segredo sangrento, esperando para ser revelado e separar as
nossas vidas.
—Reya...
—E se tivermos filhos? — Ela olhou para seu sobrinho,
dormindo confortavelmente em seus braços. —Suas vidas serão
despedaçadas.
Em um gesto de conforto, ele esfregou seu joelho.
—Então, talvez, este seja um segredo que deva ser contado.
—Então vou perder Tenia.
—Você vende barato a lealdade de sua irmã mais nova. Você
não me perdeu, não é?
—Não, e todos os dias ainda acho difícil de acreditar. Se você
tivesse me deixado, eu teria sido destruída.
—Eu nunca deixaria você. — O voto era certo e verdadeiro, com
os olhos firmes, ele disse, — Aconteça o que acontecer.
—Quanta fé. — Reya sorriu tristemente para ele.
—O que você me diz, moça? Você revela o seu segredo e
levamos o resultado juntos? Ou você deseja ficar em silêncio?
—Estou muito assustada.
—Eu sei. Será sua escolha, o que você escolher, vou ficar do
seu lado.
Parecia que, até hoje, aquele dia maldito ainda tinha o poder de
destruir seu futuro, mas não teria mais força se não fosse mais um
segredo. Se ela perdesse as suas irmãs guerreiras, ainda teria
Maverk, o único brilho no inferno escuro do seu tormento. De
qualquer maneira, a verdade sairia um dia, talvez. Ela sempre estaria
vivendo sob a sombra do medo.
Ele viu o momento em que ela chegou a uma decisão, o aperto
de sua mandíbula, a resolução misturada com medo. Ele pegou a
mão dela na sua, segura, seu amor por ela brilhando tranquilizador.
Capitulo 31
Curiosamente, Tenia, Darvk, Connie e Dana se perguntavam
por que Reya os queria todos juntos.
—Talvez ela e Maverk tenham definido a data do casamento, —
Connie sugeriu.
—Onde eles estão afinal? — Dana apoiou o tornozelo doendo no
banco diante da poltrona onde estava sentada.
—Eles estão se despedindo de Kiile, enquanto ele se prepara
para sair logo. Eles vão voltar a qualquer minuto. — Tenia franziu a
testa. —Você já descansou o tornozelo hoje?
—Sim.
—Dizer inverdades não vai torná-lo melhor. Você sabe o que os
médicos disseram...
—Não me aborreça. Tenho o suficiente daquele idiota, Garret.
—Ele só tem as melhores intenções no coração. — Darvk riu do
surto de raiva em seus olhos.
Antes que Tenia pudesse intervir, a porta se abriu e Reya
entrou seguida por Maverk.
—Então, irmã, por que o segredo? — Connie perguntou
casualmente.
Mentalmente Reya se encolheu na escolha das palavras.
—O que eu tenho que dizer não é fácil.
—O que vem a ser isso? — Tenia perguntou curiosamente.
Parando diante deles, ela respirou profundamente e apertou as
mãos.
—Vocês todos saibam que foi por isso que saí depois que foi
concedido o perdão. Tentei acalmar e como vocês sabem, consegui
que até um ano atrás e voltei a ser uma mercenária. — Fixando o seu
olhar para a pequena mesa à sua frente, Reya traçou o padrão de flor
esculpida na superfície. —Dana veio comigo, minha prima querida,
algo que eu nunca deveria ter permitido.
—Ei, agora você não venha me dizer isso, — Dana protestou
indignada. —Foi a minha própria escolha.
—No entanto, meus demônios são meus. — Reya sorriu com
carinho para ela. —Ainda que você fosse uma bênção, irmã. Você
esteve ao meu lado em todos os momentos.
Como eu quero ser para sempre, Maverk pensou, tomando um
lugar no sofá, para que ela pudesse ver o seu incentivo, caso
vacilasse.
—Sim, também. — Dana se moveu desconfortavelmente. —Não
vamos ficar piegas.
Reya desviou o olhar para encontrar os olhos de sua irmã.
—Eu tenho feito muitas coisas das quais não estou orgulhosa,
coisas que estou tão grata pela mãe não estar aqui para ver.
—Duvido que haja qualquer coisa que tenha feito para fazê-la
ter vergonha de você. — Tenia fez menção de levantar e ir para lado
de sua irmã.
—Não, fique aí, senão vou perder a coragem e não falar mais
do que me perturba.
Darvk pegou a mão de Tenia e apertou-a suavemente, dizendo,
— Fala, irmã. Nós não vamos interromper.
Endireitando os ombros, Reya contou sua história, o começo de
seu pesadelo, que começou quando ela tinha dezessete anos e eles
ouviram encantados. Uma lágrima perdida estava presente em sua
bochecha, enquanto ela se aproximava do fim, uma lágrima que
também estava presente nos rostos das guerreiras irmãs.
—As crianças vieram sobre as dunas. — Ela vacilou. —Eu dei a
ordem, a ordem errada... — A garganta engolindo convulsivamente,
ela cerrou os punhos e girou para ficar com a cabeça baixa, incapaz
de terminar.
Doce Deus, ela deve terminar! Deve se desfazer desse segredo
amaldiçoado! Em seguida, felizmente, ouviu Maverk continuar com a
história.
—Reya tem vivido com o medo que as Reekas a rejeitem se
souberem a verdade.
—Por quê? — Tenia estava indignada. —Crianças causando dor?
Sendo mercenários? Claro que não!
—Você não entende. — Reya virou para enfrentá-los. —Foi a
ordem que dei naquele dia, os assassinatos cometidos.
—Eu não entendo. — Connie franziu o cenho. —Que ordem foi
essa?
Vendo sua angústia, Maverk falou novamente.
—Ela deu a ordem para correrem. Aqueles deixados para trás,
morreram nas mãos das crianças.
Um rugido encheu nos ouvidos de Reya e ela balançou. Não,
não! Estava errado, muito errado! Não era a verdade!
Ela tornou-se ciente de gritos distantes de alarme, em seguida,
o rosto preocupado de Maverk encheu a sua visão, com as mãos
firmando-a.
—Reya? O que está errado? Você está doente?
—Irmã... — Tenia estendeu a mão para ela, mas Reya afastou-
se deles.
Quando Maverk estava se movendo na direção dela, ela ergueu
as mãos, com os olhos brilhando.
—O que você disse? Sobre as minhas ordens?
Ele franziu a testa, com perplexidade e preocupação.
—Que você ordenou para os homens fugirem, que só os mais
rápidos sobreviveram. Você não superou o fato de que teve que
deixar alguns deles para trás.
As palavras bateram em seu cérebro selvagemente.
—Quem lhe disse isso? Eu não.
—O povo do deserto, disse que somente aqueles ligeiros com os
pés sobreviveram naquele dia. — Preocupadamente ele a observava,
vendo seu desespero escuro. —Nenhum corpo foi encontrado. As
crianças, obviamente, levaram aqueles deixados para trás para sua
caverna abaixo do solo. Reya, eu não entendo...
—Não, você não! — Ela enfrentou-os, sentindo que seu coração
estava aos pulos. —Não foi isso o que aconteceu. Eu gostaria que
fosse. Eu gostaria de ter sido deixada para trás!
—Como você pode dizer isso? — Tenia clamou, irritada com o
comportamento estranho de sua irmã. —O que aconteceu?
Reya varreu o braço para fora em um arco largo, com os olhos
selvagens em Maverk.
—Você não sabe por que Ira procurou se vingar de mim? Por
que ele teve tanto trabalho de me prender?
—Porque você foi embora, é claro.
—Nos afastamos por causa das minhas ordens e elas não
incluíam a ordem de correr!
Um súbito clarão de compreensão passou no seu rosto, um
entendimento horrorizado, que viu repetido no rosto dos outros
ocupantes da sala.
—Eu dei a ordem de atirar para matar. — quebrando a
compostura, ela gritou: — As crianças que escaparam procuraram se
vingar de mim! Eu dei a ordem para matar as crianças!
Cada rosto na sala ficou sem cor e ela viu o choque e a negação
horrorizada em seus olhos.
Era o seu pesadelo se tornando realidade.
—Reya, não! — A repulsa enchia a voz de Tenia.
—Você mandou matar? — O nojo era evidente nos traços
tensos de Maverk.
Tudo tinha dado errado, muito errado. O homem pensou que
sabia o seu segredo, que ainda a aceitaria e amaria de qualquer
maneira, não sabia de nada, depois de tudo. Ele estava tão chocado e
revoltado, como Darvk, Tenia e suas irmãs guerreiras.
O poço escuro da insanidade se abriu e ela sabia que cairia se
pisasse perigosamente perto da borda do mesmo. Mas não aqui...
não aqui. Se fosse enlouquecer, que fosse onde ela, uma assassina,
pertencia.
Girando sobre os calcanhares, saiu rapidamente da sala,
deixando um silêncio atordoado atrás dela. Uma vez que a porta se
fechou, correu pela casa, descendo as escadas e saiu para as ruas
escuras, deixou as janelas calorosamente iluminadas para trás, onde
as famílias felizes e as pessoas contentes moravam, ela não parou
até ter deixado o assentamento.

Kiile cantarolava alegremente. Seus amigos estavam felizes e


se estabeleceram, ele estava a caminho de casa com sua equipe. Ele
poderia, mais uma vez, retomar a tarefa de descobrir quem estava
por trás das muitas tentativas contra a sua vida no ano passado.
Além disso, até que ele resolvesse o mistério, não havia nenhum jeito
dele poder encontrar uma companheira.
Desejando boa noite ao seu piloto, ele deixou a cabine de
controle e desceu o corredor para a sua própria cabine. Entrando, ele
fechou a porta e acendeu a luz. Então parou e olhou com espanto.
Uma figura encostada na parede, os braços cruzados, olhando
para ele com olhos como pedaços de gelo.
—Reya? O que você está fazendo aqui?
—Indo embora.
—Indo embora? Onde está Maverk?
—Acabou. — As palavras eram duras, o tom do gelo raspando
toda a lâmina de uma serra.
—Mas como...
—Vamos apenas dizer que alguns segredos são melhores
mantidos.
—Espere um minuto, do que você está falando? Pensei que
Maverk soubesse o seu segredo?
—Assim o fez. — Seu riso era curto e duro. —Surpresa,
surpresa. Acontece que ele não o sabia.
Desvanecendo a surpresa, ele conseguiu dar seu primeiro olhar
real para ela e encheu-o de pressentimento.
Sim, a fachada de gelo estava presente, tudo bem, mas havia
uma diferença, uma que um Argon poderia sentir facilmente. A
guerreira de gelo estava em perigo de desmoronamento em um
milhão de cacos. Ele podia ver nas profundezas geladas dos seus
olhos assombrados, a fragilidade de seu sorriso leve e zombeteiro.
Se Maverk pudesse vê-la agora, ele estaria tão preocupado
quanto Kiile estava.
—Talvez devêssemos sentar e discutir isso. — Ele fez um gesto
para as duas poltronas em frente à cama.
—Não há nada para discutir.
Sentado, apoiou os cotovelos nos braços da cadeira e cruzou os
dedos.
—Acho que o seu segredo não foi aceito da forma como você
esperava?
—Correto, Argon.
—Não me chame assim. Você é minha amiga, Reya, chame-me
pelo meu nome.
—Amiga? Perdi a minha família e o homem que amo. Eu não
tenho nenhuma dúvida de que também perdi os poucos amigos que
tinha.
Estudando-a, correu os dois dedos indicadores em todo o lábio
inferior, antes de inclinar a cabeça ligeiramente para o lado.
—Eu duvido disso.
—Não presuma duvidar de nada.
—Muito bem, diga-me o seu segredo e permita-me julgar por
mim mesmo.
A guerreira ficou tão imóvel que poderia ter sido esculpida em
pedra.
—Dizer a você?
—Por que não? — Preguiçosamente, ele esticou as pernas e
cruzou os tornozelos. —O que você tem a perder?
—O que, na verdade?
Ela fechou os olhos, sem vacilar e vários minutos se passaram.
Finalmente, sem quebrar o contato visual, Reya disse sem
rodeios:
— Os filhos do povo do deserto, o que você sabe deles?
—É claro. Fomos informados de seus canibais e suas formas de
tortura.
—Eles buscavam se vingar de mim por que dei as ordens, três
anos atrás, quando os enfrentamos. Minhas ordens eram para os
mercenários que estavam comigo, atirar para matar. As crianças
fugiram depois de uma briga selvagem... ou melhor, os sobreviventes
fugiram.
Kiile teve o cuidado de manter o rosto inexpressivo para a
guerreira, enquanto ele digeria a surpreendente informação. Tão
rapidamente como choque veio, a compaixão se levantou, mas ele
não revelou.
—Eu vejo. E você diz que por causa disso, sua família e Maverk
abandonaram você?
—E você não?
—Será?
—Eu não sei. Você faria Argon?
—Chame-me de Kiile. Todos os meus amigos o fazem.
Um lampejo de gratidão brilhou brevemente em seu olhar, em
seguida, desapareceu.
—Eu agradeço a você, Kiile.
—Não há necessidade. Agora me diga, por que você acha que
aqueles que a amam se voltaram contra você.
Pela primeira vez, ela desviou o olhar, trocando o seu olhar
para a vigia, para olhar através dela para o infinito espaço.
—Eu vi o nojo e a repulsa quando ouviram que eu era uma
assassina de crianças.
—Eles disseram isso?
—Não havia necessidade, sei o que vi.
—Você poderia ter se enganado. Eu não posso acreditar...
—Não há engano. — Seu olhar voltou para ele. —Quero que
você me deixe em Visa.
—Por que lá?
—Isso é assunto meu.
—É um erro — afirmou calmamente. —Por que não volta para
Daamen comigo e dê-lhes uma chance de...
—Não. O que está feito, está feito e não há volta.
Seus ouvidos aguçados pegaram a fragmentação em sua voz.
—Pelo menos retorne à Argon comigo e pense sobre isso tudo.
—E assim você poderá entrar em contato com Daamen? Não.
Leve-me para Visa.
—E se eu escolher não levá-la?
—Se você é realmente meu amigo, você fará o que pedi.
—Eu sou seu amigo e duvido seriamente que esteja pensando
claramente.
—Então você não vai me ajudar.
—Eu quero o melhor para você, pelo menos venha para Argon.
De lá... — Ele estendeu a mão — a decisão é sua.
Ele olhou para ela, desejando saber o que ela estava pensando
por trás de sua expressão inescrutável.
—Muito bem, vou voltar para Argon com você. Com uma
condição.
—Fale.
—Você não entrará em contato com minha família ou qualquer
outra pessoa.
—Feito. — Escondendo seu alívio, Kiile ficou de pé. —Você pode
dormir na cabine que usou antes. Trouxe qualquer coisa com você?
—Não. As circunstâncias foram um pouco... apressadas.
Vê-la sair de sua cabine para buscar a sua própria, ele
perguntou-se ela conseguiria chegar a Argon antes que o seu frio
gelo quebrasse.

—Pobre Reya! — Tenia quebrou o silêncio atordoado.


—Meu Deus, de modo que, esse era o segredo que rasgava a
sua própria alma. — O nojo de si mesmo era evidente nos olhos de
Maverk. —Eu deveria ter adivinhado que ele era pior do que aquilo
que eu acreditava! Como eu pude ser tão cego?
—Ela se culpava todo esse tempo — Connie sussurrou. —Ela fez
o que tinha que fazer no momento, para sobreviver e nunca perdoou
a si mesma.
A repulsa era clara na voz de Tenia.
—Aqueles cientistas sangrentos! Eles fizeram a minha irmã ficar
tão assombrada!
—Não é à toa que ela estivesse tão desconfortável em torno das
crianças. — Dana arrastou uma mão distraidamente através de seu
cabelo. —Ela pensou estar contaminada.
Maverk começou a falar
— Ela temia manchar aqueles que amavam e tocavam.
—Eles eram crianças apenas na idade. — Tenia levantou-se
com determinação. —Mas por trás, eles eram cruéis assassinos,
muito mais velhos que seus anos. Ela devia ter percebido isso.
—E sabemos que amar e cuidar dela não muda nada —
acrescentou Connie.
—É melhor encontrá-la — disse Darvk preocupado. —Pela
expressão no rosto dela, eu diria que pensa o pior.
—Reya! — Maverk disparou para a porta, abriu-a e
freneticamente correu pelo corredor.
Ele estava vazio. Demorou poucos minutos para descobrir que
ela tinha deixado a casa e, de madrugada, eles enfrentaram a dura
verdade. Não havia nenhum vestígio de Reya. Ela havia fugido.

Quando a nave desembarcou em Argon, Reya permitiu que Kiile


lhe oferecesse um dos apartamentos de hóspedes, mas logo depois
que ele se foi, ela saiu do prédio e fez seu caminho para as docas de
aterrissagem, ao abrigo de escuridão.
Kiile estava sentado pensando nela quando Marten irrompeu
pela porta.
—Reya tomou uma embarcação da frota.
—O quê? — Ele saltou sobre seus pés. —Não, maldição! Você a
tem no radar?
—Ela já está fora de alcance.
—Inferno! Por que ela não podia ter esperado? Ela não está em
condições de ficar sozinha!
Marten viu o ritmo do seu líder no quarto, com frustração.
—Você entrou em contato com Maverk para avisá-lo que ela
estava aqui?
Marten assentiu.
—Sim. Ele já está a caminho e vai chegar amanhã à noite.
Retomando o seu lugar, Kiile suspirou.
—Eu acho que é melhor eu contatá-lo com as más notícias.
—Ele pode pegá-la mais rápido em um das naves da nossa
frota.
—Bem pensado. Vamos deixá-lo saber.
—Você acha que o comerciante sabe onde encontrá-la?
—Ele a conhece melhor do que ninguém e encontrou-a várias
vezes. Ele é sua única esperança e rezo para ele encontrá-la antes
que seja tarde demais.

Maverk socou o punho para baixo no braço da cadeira da cabine


de comando.
—A maldita me fez de bobo! Isto é tudo minha culpa!
—O que você quer dizer?
—Eu deveria ter sido mais rápido para consolar Reya. Como ela
poderia pensar que eu deixaria de amá-la?
—Pela mesma razão que ela pensa o mesmo de todos nós —
disse Darvk. —Esta é uma escuridão que ela mantém trancada dentro
si e está fora de controle. Não se culpe.
—É um fardo muito pesado para uma moça carregar sozinha.
Um mapa da galáxia surgiu na tela.
—Onde é que vamos iniciar a busca?
—Eu não sei. — Maverk olhou com frustração para a tela por
vários minutos, em seguida, seu olhar se estreitou. —Ela acredita que
é uma assassina, que ninguém se importa com ela. O Setor Outlaw é
para onde ela foi.
—Faz sentido. Começaremos nossa busca lá.
—E a Tenia e o menino?
—Eles estão seguros em Daamen. — Darvk sorriu levemente
para o seu amigo. —Você estava lá quando discutimos. Eu só ganhei
contra ela nos acompanhar por causa do bebê.
—Você deveria estar com eles. Ela precisa de você agora.
—Reya é minha cunhada e isso faz dela a minha preocupação.
—Eu não discuto isso, mas isso pode levar algum tempo. Ela é
muito eficiente em esconder seus rastros.
Darvk sorriu melancolicamente.
—Com certeza, eu particularmente não gostaria de estar
afastado de Tenia e nosso filho agora, mas eles estão seguros e bem.
Reya não está. Tenia sabe disso e nós concordamos.
—Não posso permitir...
—Se depois de um mês, nós não a encontrarmos, vou voltar
para Daamen para visitar minha família, então recomeçar a busca.
Maverk ainda parecia duvidoso.
Darvk sorriu.
—Eu ou Tenia, Dana e Connie. Você sabe se eu voltar para
simplesmente esperar, as três pegarão uma nave e farão a busca.
Sim, isso era verdade.
—Muito bem.
—Bom, está resolvido. Agora, onde é que vamos tentar
primeiro?
Para onde iria? Onde é que ela procuraria abrigo? Ou, ele ficou
frio, pior? Um rosto belicoso lhe veio à mente, olhos azuis, e Maverk
soube imediatamente.
—Urion.
Sem questionar a severidade repentina no rosto de seu amigo,
Darvk definiu as coordenadas.
—Nós vamos estar lá em uma semana e meia.
Maverk levantou-se, hesitou e depois disse:
— Eu lhe agradeço, Darvk. — Ele se virou e saiu da cabine sem
outra palavra.
Sentando na cadeira, Darvk virou para o viscomm, para entrar
em contato com sua esposa para informá-la de seus planos, dizendo
baixinho quando o ligou:
—Isso é o que os amigos e família fazem, meu amigo.

Negligentemente, Reya caminhou no meio das ruas do


assentamento fora da lei, indo para um lugar tão negro como a sua
alma.
Brroca.
Muitos olhos assistiram o caminho da guerreira alta e mais do
que um espectador comentou sobre o fogo congelado que brilhava no
fundo de seus olhos.
Um bêbado tropeçou em seu caminho e ficou olhando para ela
com olhos arregalados. Sem perder o passo, ela pegou a parte
dianteira da sua camisa em uma mão e empurrou-o tropeçando e
xingando pelo caminho da calçada.
—Ei — ele arrastava.
Ela não olhou para trás.
—Ei, você! — Ele cambaleou atrás dela. —Guerreira!
Ela o ignorou.
Irritado, ele agarrou o braço dela
— Escute aqui, irmã...
Suas palavras foram sufocadas por uma mão forte agarrando-o
violentamente pelo pescoço. Reya forçou-o sobre a ponta dos pés,
enquanto ele engasgava para respirar e atrapalhava-se na sua mão.
Espectadores assistiram com curiosidade mórbida quando ela
empurrou-o para trás em toda a calçada e bateu-o contra a parede.
—Tende piedade — uma prostituta da taverna murmurou.
Com o rosto vermelho, ele agarrou freneticamente no aperto,
com asfixia.
A respiração de Reya era um silvo frio do inverno em seu rosto.
—Eu não sou sua irmã, seu bastardo, entendeu?
Ele ficou com os olhos esbugalhados de terror quando um
punhal brilhou com intenção mortal debaixo de seu nariz e ele ergueu
os olhos para olhar na profundidade que brilhava com uma pitada de
loucura.
—Calma aí, Reya — uma das prostitutas sussurrou, se
aproximando. —Ele é apenas um bêbado. Ele não quis dizer isso.
—O que ele é para você?
—Ele é meu irmão. — Ela olhou do trêmulo bêbado para a
guerreira alta. —Por favor...
Um rugido encheu os ouvidos de Reya pelas palavras da mulher
e ela transferiu seu olhar para o bêbado, cujo rosto agora estava um
pouco azul.
—Você permite que sua irmã se venda a qualquer comprador?
Você é uma escória despudorada!
O punhal desapareceu e o agarre no pescoço afrouxou. Com
gratidão ele chupou o ar, só para perdê-lo agonizantemente, quando
um punho como o ferro bateu-lhe no estômago. Ele derrapou mais,
apenas um empurrão vertical e um joelho bateu em seu rosto. Ele
caiu no chão, o sangue começou a sair de seu nariz quebrado.
Descendo, Reya agarrou sua camisa e arrastou-o na posição
vertical, seu punho o trouxe de volta, mas seu braço foi agarrado.
—Reya! Por favor, eu imploro a você! — a prostituta gritou. —
Deixe-o!
Soltando o bêbado inconsciente, ela girou e agarrou a mão da
mulher em seu braço. Virando e mergulhando em um movimento
suave, ela se endireitou, forçando o braço da mulher a torcer e trazê-
la gritando em agonia até os joelhos.
A névoa vermelha de raiva zumbia através de Reya e ela não
estava ciente do punhal em seu punho. Liberando o braço da mulher,
ela pegou um punhado de seus cabelos e empurrou a cabeça para
trás para expor o liso branco da garganta.
Capitulo 32
A ponta do punhal provocou uma mancha de sangue na pele,
lentamente ela se tornou consciente do medo nos olhos que a
fixavam, a mulher estava petrificada e ajoelhada no chão aos seus
pés. Uma mulher indefesa que não tinha feito nada para ela.
Com a garganta seca, coração batendo forte no peito, Reya
soltou-a e viu quando ela afundou ao lado do bêbado inconsciente e
agachou-se ao lado dele, choramingando.
Era verdade, ela era uma assassina. Num acesso de raiva cega
que ela atacou uma mulher indefesa e um bêbado.
Ela olhou para os espectadores em silêncio, eles olhavam para
a guerreira com olhos arregalados e medo em seus rostos.
Apressadamente ela recuou sem palavras de despedida, eles
limparam um espaço para a Reeka, quando ela caminhou
silenciosamente para fora.
Como se fossem um, eles viraram e a observaram ir, até que a
escuridão engoliu-a, em seguida, um homem perguntou:
— Você viu seus olhos?
—O abismo do inferno queimava dentro — outro respondeu.

O sangue trovejou nas suas têmporas, o sussurro dos demônios


em seus ouvidos. Assassina! Assassina de crianças! Assassina de
todas as coisas!
A estrada de terra passava despercebida sob suas botas e os
risos infantis ecoavam em sua mente. Ela caminhou em frente, em
direção ao coração do assentamento fora da lei, até que ela chegou à
escuridão de um beco. Fechando os olhos, ela oscilou
vertiginosamente, a negritude rasgando sua mente e ameaçando
tragá-la.
Assassina, assassina, assassina, — o pulso dela batia no ritmo.
Sangue em suas mãos...
Uma criança vizinha riu, pulando junto, indo além da entrada
do beco. Garotinho esfarrapado... sangue e crianças, de mãos
dadas...
Um rugido em seus ouvidos, o riso cresceu mais alto, o suor em
sua testa causado pelos ventos do deserto e seco...
Vagamente ela ouviu seu nome, mas os ventos do deserto
chicotearam-na, arrebatando e arremessando-o no ar, girando e...
—Reya!
—É muito quente aqui, o vento e a poeira. — Chegando, ela
tocou a forma fraca diante dela.
—Reya, sai dessa! — Palavras duras sopradas através da
escuridão.
Ela encolheu-se, levantando as mãos na frente dela, sentindo a
viscosidade.
—Tanto sangue, em toda parte. Está na areia...
—Droga. — Seus ombros foram agarrados e sacudidos. —Olhe
para mim!
Olhos azuis, em um rosto aquilino, magro e escuro.
—Zadox? É melhor fogo. Fogo sobre eles antes que eles caiam
sobre nós...
—Onde diabos está Maverk? Você não está no deserto agora,
Reya, você está perto de Brroca! Acorde!
Maverk? Ela oscilava, as areias do deserto manchadas de
sangue desvaneceram, para ser substituídas por uns risonhos olhos
marrons, tão amáveis, tão carinhosos...
—Onde ele está Reya?
As palavras a arrastaram de volta a partir das memórias
terríveis e se concentrou no rosto de Zadox.
Com alívio que viu clareza substituir a névoa nos olhos.
Ela recuou bruscamente, deslocando as mãos de seus ombros.
—Onde está Maverk?
—Não é de sua conta. O que você quer?
Silenciosamente eles estudaram um ao outro, então ele
perguntou:
— Para onde você se dirige?
—Para nenhum lugar em particular.
—Seria muita honra se você consentisse em ficar comigo para
passar a noite como minha convidada.
—Honra? Para ter a causa de toda a nossa loucura na sua casa?
—Você não foi a causa. Se não fosse por você, nós todos
teríamos morrido.
—Uma parte de nós morreu, um pedaço de humanidade e
nossa sanidade junto com eles.
Encostado na parede de pedra, ele cruzou os tornozelos.
—A sanidade é um estado da mente guerreira. Você tem que
aprender a controlá-lo.
—Que especialista.
—Um sobrevivente. Eu atravesso a mesma coisa que você, todo
dia e noite.
—Como você consegue ficar são?
—Eu não disse que estava completamente são.
Ela virou a cabeça para a entrada do beco.
—Então o que você está fazendo aqui?
—Basta caminhar. Vamos para a minha casa e então
conversaremos, a menos que esteja com pressa de ir a algum lugar?
A dor rasgou através de seu coração. Não havia nenhum lugar
onde ela tivesse que estar, ninguém para ver. Ela estava sozinha.
Verdadeiramente sozinha.
—Não, vá em frente.
Ela o seguiu pelo beco escuro e por Brroca. A rua estava
estranhamente calma, o único som vinha das conversas murmuradas
na taverna.
—Ninguém caminha pelas ruas.
—Há uma reunião. Mercenários estão sendo contratados.
—Para que missão?
—Eu não sei. Não tomo mais parte nisso.
Ele abriu a porta para um edifício de um andar e acendeu a luz
para mostrar uma sala cheia de escuros móveis e cadeiras.
Ela seguiu-o através da porta.
—Sente-se. — Ele apontou para a mesa no meio da sala.
—Eu prefiro ficar em pé.
Com um encolher de ombros, ele sentou-se.
—Como quiser. Então, onde está Dana?
—Você faz um monte de perguntas.
—Nós já passamos por muita coisa juntos. Permita-me o
privilégio de fazer algumas perguntas.
—Não presuma que você tem direito a privilégios, — foi a
resposta gelada. —Nós assassinamos em conjunto, isso é tudo, é a
ligação que temos.
—Eu vejo. — Longos dedos tamborilando na mesa. —Temos
também a ameaça de insanidade como uma ligação comum.
Ela recuou para as sombras do quarto.
—Talvez a ameaça já não exista, porque já estamos insanos.
—Talvez. O que você pretende fazer sobre isso?
O riso foi inesperado, baixo e zombador.
—Fazer? Ir com ela, claro.
—Por quê?
—Por que não?
—E a sua irmã? E Maverk? — Suas perguntas caíram como uma
pedra entre eles.
—Isso não é de sua conta. Não empurre, se dá valor a sua vida.
— Reya se moveu em direção à porta.
—Para onde você está indo?
—Para fazer o que faço melhor.
A ansiedade o encheu.
—Não, Reya, não é o caminho.
—Você governa este grupo de assassinos, Zadox. É o rei de
Brroca, o pior inferno em Urion. É esta a maneira como você lida com
isso? — Seu tom era mordaz.
—Sim, faço as regras aqui, com um punho de ferro, — disse ele
calmamente. —Se não o fizer, quem o fará?
Ela abriu a porta.
—Você se justifica por governar um bando de assassinos.
Com passos lentos e medidos, ele caminhou até ela.
—Eu controlo esses assassinos. Eu os mantenho sob controle,
tanto como posso, porque se não fizesse, onde eles estariam agora?
—Eu não estou interessada. Somos todos assassinos, então me
deixe dar-lhe uma dica, você não vai controlar-me, nunca, por isso
recue com suas perguntas.
Ele parou diante dela, as feições do seu rosto aquilino estavam
na sombra pela luz atrás dele.
—Muito bem, sem mais perguntas, mas alguns conselhos em
seu lugar. Controle o escuro que ameaça ultrapassá-la, encontre o
consolo e a paz que você precisa, antes que ele a consuma e puxe
você para baixo para seu próprio inferno pessoal.
Ela sorriu amargamente.
—Tarde demais. Eu já estou lá, eu queimo com as sementes
que plantei. Afeta a todos nós, mais cedo ou mais tarde.
Ele foi deixado olhando para a porta vazia.

Ela olhou para fora da escotilha do ônibus espacial, entre a


massa de mercenários que estava prestes a juntar-se. Ela fez o
círculo completo. Lutando, para encontrar o seu pesadelo, para
encontrar o amor e agora voltando para lutar.
—Tempo de se movimentar, — disse Etam, o mais velho dos
mercenários, com cinquenta anos, chegando a ficar ao lado Reya e
apertando a fivela do cinto de seu laser.
—A luta começou em cima da crista da colina. — Outro
mercenário colocou a cabeça para fora da porta. —Vamos sair!
Como tinha feito inúmeras vezes antes, Reya saiu no meio dos
mercenários. Lá em cima, barcos de combate disparavam, armas em
punho, lutando no ar. Um explodiu, com jatos gritando, a
embarcação vitoriosa moveu-se para o próximo desafiante. Tiros
soaram, gritos, ordens e maldições à deriva ao longo da colina.
—Saiam, saiam! — A ordem foi gritada e como um, os
mercenários foram em frente.
Ela estava na frente, quando eles chegaram à crista do monte e
olhou para o vale abaixo, de onde os homens dos senhores do distrito
travavam guerra.
—Isso vem acontecendo por muitos dias. — Etam olhou para
baixo, para os homens lutando.
Varrendo a área, ela viu os edifícios ao longe.
—Um dos assentamentos?
—Sim, mas todos o deixaram. Os colonos fugiram cobertos pela
escuridão.
—Ótimo. Vamos acabar logo com isto.
Como um, eles derraparam pelas encostas e em pouco tempo
ela estava no meio da batalha. Depois de vários quase acidentes, ela
teve plena consciência da ausência de Dana. Elas sempre assistiram
as costas uma da outra.
Talvez, uma parte escura de sua mente sussurrou, esta batalha
será a última. Talvez hoje ela fosse morrer. Sozinha. Sem amigos.
O pensamento prendeu em sua mente. Ela estava realmente
sozinha, dentre estes lutadores, quem realmente se importaria se ela
morresse neste dia?
Um disparo de laser quase a atingiu, o calor chamuscou seu
ouvido. Ela foi puxada de volta para a consciência, com gritos e
maldições enchendo o ar, com explosões, barulho de lasers e o cheiro
de sangue. A picada de uma espada afiada cortando o seu braço a
deixou em foco, ela mais uma vez tomou o controle de seus instintos,
a guerreira veio à tona e assumiu seus sentidos.
A batalha durou mais dois dias antes que o lado que lutava
venceu e a fortaleza foi tomada de madrugada. Quando eles
entraram pelos portões, um silêncio sobrenatural os cumprimentou.
Escombros e cadáveres se espalharam pelo chão.
Ela ficou no meio de tudo isso e sentiu o primeiro toque dos
raios de sol em seu suor e sangue que manchava seu corpo. Ela
olhou ao redor e de repente ela, um dos melhores mercenários,
sentiu-se tão doente que seu estômago revirou, só com um controle
de ferro impediu o vômito.
Quantos desses homens ela matou?
Por que se preocupar? Seu consciente zombava dela. Você é
uma assassina paga. É o que você faz melhor.
Seus pensamentos foram interrompidos por um grito agudo de
terror e ela olhou para cima para ver uma mulher, com seu corpete
embebido em sangue, tropeçar no pátio, segurando um bebê contra o
peito.
Um mercenário ria e empurrou-a sobre os joelhos.
—Olha o que eu encontrei rapazes! Uma coisa doce nova
escondida no porão!
—Ela está gravemente ferida? — Um bandido jovem caminhou
para frente.
—Não sei. Vamos ver. — Descendo, arrancou o bebê de seus
braços, ignorando seu choro e seus gritos.
O jovem fora da lei estava em sua frente em um instante,
batendo-a para trás, para o chão e rasgando seu corpete.
—Apenas uma ferida superficial. Esta pequena senhora irá
manter-nos feliz por um tempo.
—Não! Não, por favor! — Ela se arrastou até os joelhos,
apertando o corpete sangrento contra o peito com uma mão,
enquanto alcançava seu bebê chorando com medo. —Não
machuquem meu menino!
—Fique quieta e ele vai viver. Talvez — O mercenário riu
asperamente.
Vários homens estavam ao redor, rindo, seus olhos devorando
a pequena mulher. Outros murmuravam inquietos, mas ignoravam a
cena, no intuito de encontrar um tesouro, nos despojos de guerra.
—Deite de costas, cadela. — O mercenário jogou o bebê
chorando no chão e pisou sobre ele, para desespero da mulher.
O bandido jovem riu também se aproximando dela.
— Se você valoriza sua vida, não a toque. — A voz soou como o
quebrar do gelo em um lago congelado.
Ele parou, com a cabeça girando em torno para enfrentar os
olhos verdes que ardiam em fogo frio.
—Cai fora. — Reya perfurou o mercenário com um olhar de
advertência. —E você pode acompanhar o seu amigo, escória.
—Isto não é da sua conta! — ele rosnou o fogo da batalha ainda
em seu sangue.
—Eu estou fazendo da minha conta. — Puxando o laser, ela
apontou para o seu coração.
O bandido jovem levantou-se cautelosamente.
—Despojos de guerra, guerreira. Nós a encontramos em
primeiro lugar.
Sua testa arqueou sarcasticamente.
—Pareço importar-me? Este é o seu último aviso. Volte.
A mulher teve sua chance para chegar até o bebê que chorava
e pegá-lo. Ela tornou-se ciente do círculo crescente de mercenários e
bandidos em silêncio, seus olhos estavam sobre os dois homens e a
alta mulher. Instintivamente sabia onde estavam suas maiores
chances de segurança, ela rapidamente se arrastou até a guerreira
Reeka e agachou-se na sua sombra.
—Ela é o inimigo — o mercenário resmungou entre os dentes
cerrados.
—Nossos inimigos são aqueles que não podem se dar ao luxo
de nos contratar, assim lutamos para o outro lado. Poderia facilmente
ser o povo desta fortaleza, com quem lutamos.
—Mas eles não são. — Resumidamente, ele olhou para a mulher
apavorada. —E isso faz dela o inimigo.
Reya sorriu severamente.
—Então venha buscá-la fora da lei, mas seja advertido, é
através de mim que você virá.
A antecipação enchia o ar enquanto a Reeka alta enfrentava os
dois homens. A mulher tremia violentamente.
—Que diabos está acontecendo aqui?
Os mercenários e bandidos se separaram para o vitorioso
senhor do distrito e seus três seguranças.
Reya não se virou mantendo os olhos sobre os dois homens à
sua frente.
—A mulher foi encontrada por mim. — O mercenário olhou para
ela. —Ela é minha.
—É mesmo? — O senhor olhou para o rosto da bela guerreira e
sentiu o coração cansado saltar uma batida. —Despojos de guerra,
Reya, você sabe o código.
—Sim, sei disso. — Ela olhou para o senhor, ao ver pela
primeira vez o homem de barba grisalha, para quem ela havia
combatido. —E você é o vencedor, não é?
—Você fala a verdade.
A carranca do mercenário aprofundou.
—Então, os despojos de guerra pertencem a você.
—Tecnicamente sim, mas, — ele deu a mulher e o bebê um
olhar dúbio — eu não quero esses dois. Eles vão para quem os
queira.
O mercenário riu e começou a avançar.
—Entregue a mulher, Reya.
Ela disparou o laser perto de seu pé e ele pulou para trás,
praguejando.
—Eu a tomo como despojo de guerra, — declarou Reya. —e o
bebê também.
—Maldição, você não pode fazer isso!
Seu sorriso era frio.
—Eu já fiz.
—Ninguém aqui vai aceitar a sua reivindicação — rosnou o fora
da lei.
—Então vou matar vocês dois agora, só vão reivindicar esses
dois por cima de mim. — Friamente, ela visou o laser em sua cabeça.
Ele ficou cinzento.
—Agora é só esperar um minuto, eu não...
—Certo. Você ainda a reclama? — O gatilho clicou de volta.
—Não! — Ele cambaleou para trás, vendo a ameaça de morte
em seus olhos, lembrou cada história que ele tinha ouvido sobre ela.
—Fique com ela! — Ele desapareceu na multidão zombando ao ver os
mercenários e bandidos.
O laser oscilou para o mercenário.
—E você?
Sua carranca era feroz, mas ele se afastou.
—Ela é sua.
Guardando o laser, Reya varreu os observadores com um olhar
desafiador, mas todos eles deram de ombros e foram embora. Como
a ameaça de violência tinha passado, eles não estavam mais
interessados.
A mulher agarrou-se chorando na bainha da saia de Reya.
—Por favor, tire-me daqui! Não deixe que eles me peguem!
O choro da criança chamou a atenção dela.
—O bebê foi machucado?
—Não, graças a Deus.
—Qual é seu nome?
Segurando a mão estendida para ela, a mulher viu-se, sem
esforço, puxada sobre os seus pés.
—Ewin.
Ela balançou de repente e Reya estabilizou-a com ambas as
mãos.
—Calma.
—Reya! Cuidado!
Ela olhou para cima, para encontrar-se olhando para o cano de
um laser e a cara sarcástica do mercenário.
—Adeus, cadela!
Era isso. Hoje, ela morreria. Ela podia ver nos olhos dele e
olhou para a mulher com o bebê em seus braços, não havia nenhuma
maneira que pudesse salvar-se sem sacrificar os dois.
Com uma risada, o mercenário fez pontaria e um estalo soou,
mas não foi Reya que caiu. O lado da cabeça do mercenário se abriu
e ele caiu silenciosamente para o chão.
—Ele era um verdadeiro bastardo — disse calmamente Etam,
botando seu laser no coldre. —Esperou por sua chance e a tomou.
—Por que você fez isso?
—Eu tenho uma esposa e filho esperando em casa.
—Obrigado. Você salvou a minha vida. Não são muitos que
teriam se incomodado.
—Não? — Ele olhou para ela de forma estranha. —Ouvi falar de
você pelos homens que lutaram ao seu lado. Eu sei de muitos que
teriam feito o mesmo que eu.
Um sentimento estranho varreu Reya, mas tudo o que ela disse
foi:
— Eu não vou esquecer isso, Etam.
Ele saiu com um encolher de ombros e um sorriso.
A atenção da guerreira foi desviada pelo gemido do bebê.
—Venha, é hora de sairmos daqui.
Ewin a seguiu, cuidando de ficar perto e atrás da alta Reeka
que caminhou entre os escombros com passos firmes.
Reya encontrou o senhor do distrito perto da entrada da
fortaleza em ruínas.
—Você veio pegar o seu dinheiro e mereceu. — Ele balançou a
cabeça para um dos seus homens. —E sobre o transporte. Obtenha a
sua parte. — Curiosamente, ele olhou para a mulher sangrando e
tremendo. —O que você vai fazer com eles, Reya?
—Isso é problema meu.
—Verdade. Espero que você possa trabalhar para mim
novamente. Eu vi você hoje, você luta bem.
—Sim, eu mato de forma eficiente, não é?
Sem saber o que dizer, ele permaneceu em silêncio até que o
seu homem voltou com uma pequena bolsa de dinheiro, que entregou
a ela.
—Você precisa de mais alguma coisa?
—Um transporte para o povoado mais próximo.
—Não tem problema. Veja uma das naves ali? O piloto irá levá-
la.
—Posso levar dois extras?
Os olhos do senhor foram para Ewin e seu bebê.
—Sim.

—Lugar ruim — Darvk observou quando eles entraram em


Brroca.
Maverk olhou para ele.
—Você deveria ter ficado na nave.
—Oh, sim, como se eu fosse permitir-lhe ir em frente sozinho.
Você diz que ela poderia estar aqui?
—Eu apostaria minha vida nisso.
Um grito soou uma maldição, então, um corpo caiu de uma
varanda do segundo andar para ficar abandonado no chão, com uma
poça de sangue ao redor da cabeça.
Os comerciantes olharam para cima, para a varanda, para ver
um homem negro olhando para baixo. Ele olhou para o corpo, então
olhou para eles, apertando os olhos.
—Uh oh. — Darvk pegou o laser.
—Ei, não seja tão rápido para pegar isso, — o homem negro
falou. —Eu reconheço você, louro. Você não é o Daamen que estava
atrás de Reya naquela noite?
—Sou eu — respondeu Maverk. —Ela está aqui?
—Esteve.
—Onde ela está agora?
—Até onde sei, ela já foi — De repente ele parou seu olhar indo
para trás dos comerciantes.
Esperando problemas, eles se viraram para ver o que estava
atrás deles.
—Calma amigos. — Zadox encostou-se à parede, com os olhos
indo do morto para o homem na varanda, que desapareceu
imediatamente, de volta para dentro da sala.
—Você conhece este homem, Maverk?
—Sim. Darvk, este é Zadox. Ele estava com Reya na missão
infernal.
O líder fora da lei estudou o gigante de cabelos negros diante
dele.
—Eu nunca ouvi falar de você.
—Isso não me surpreende. Duvido que minha cunhada fale
sobre qualquer um de nós.
—E por que será você sabe?
—Porque ela mantém sua vida pessoal, privada — Darvk
retornou brevemente.
—Você a conhece bem.
—Assim como qualquer um possa conhecer.
—Onde ela está? — Maverk interrompeu impaciente.
—Há um pequeno problema com isso, comerciante.
—Oh, o quê?
—Ela parece pensar que você é parte do seu passado, não do
futuro.
—Ela o quê? Inferno sangrento!
—Exatamente. — Zadox inclinou a cabeça para um lado. —
Agora, por que você acha que ela diz que tudo acabou? Eu pensei que
tivesse explicado as coisas para você. O que aconteceu?
Um músculo marcou a mandíbula forte.
—O que lhe dá o direito de questionar-me? Diga-me onde ela
está, ou vou lutar e derrotar você!
Uma sobrancelha subiu preguiçosamente.
—Realmente Você poderia tentar, mas...? — Suas palavras
foram cortadas por uma mão enorme agarrando-lhe a garganta e
batendo-o de volta contra a parede.
—Responda-me — Maverk soprou, com fogo em seus olhos.
Zadox assistiu-o sem medo, mas com cautela.
—E se eu não quiser?
—Eu vou bater em você até virar uma polpa, permitir que se
recupere e fazê-lo mais e mais até que, finalmente, você fale.
—E eu estarei esperando minha vez. — Darvk encostou a mão
na parede ao lado do rosto de Zadox.
A ameaça estava em seus olhos e na severidade de suas
feições.
—E você não vai sair vivo daqui — informou.
Olhando por cima do ombro, os músculos de Darvk apertaram
ao ver seis homens armados com lasers alinhados atrás deles.
—Reforços.
Maverk não removeu o olhar do rosto do líder dos bandidos.
—Você vai morrer com a gente. Vou ter certeza disso.
Silêncio tenso encheu a área até Zadox finalmente perguntar
suavemente:
— O que Reya é para você?
A resposta foi tão firme quanto o aperto em sua garganta.
—Ela é minha mulher.
—Por que você a deixou ir?
—Eu não sabia. — Olhos castanhos estreitaram furiosamente.
—Ela saiu correndo.
—Não parece ela. Diga-me o que aconteceu.
—Eu acho que dificilmente você estará na posição de dar
ordens.
—E você não está em condições de negar.
Capitulo 33
Eles olharam fixamente para o outro, enquanto Darvk mantinha
um olhar atento sobre os bandidos que estavam esperando por um
sinal de seu líder.
Sabendo que eles estavam em um impasse, Maverk amaldiçoou
silenciosamente.
—Reya disse-nos o que aconteceu naquele dia.
—Nós?
—Sua irmã, Dana, Darvk. Sua família.
—Você?
—Claro.
—Eu vejo — disse Zadox pensativo. —Acho que o segredo não
foi bem?
—Nós ficamos chocados, se é isso que você quer dizer. Ela
confundiu nossas reações e saiu correndo da sala. E de minha vida.
—Certamente, você esperava algo tão ruim?
—Esperava? — Maverk fez uma careta. —Eu pensei que
soubesse, mas não sabia. Oh, sabia da maior parte dele, mas não
completamente. Fiquei tão chocado quanto todos os outros.
—E você não podia escondê-lo, hein?
A mão em sua garganta apertou e a fúria queimou nos olhos do
gigante.
—Não me julgue Zadox! Tudo o que ela fez, foi forçada a fazer!
Ela ainda é a minha mulher e você pode dizer-me onde ela está, por
que a minha paciência esgotou-se!
Era tudo o que precisava responder para ele ter a garantia de
que o Daamen ainda cuidaria de Reya.
—Ela saiu daqui cinco dias atrás, para Lanta, em uma missão
de mercenária. Ela foi contratada para lutar por um senhor do
distrito.
Frustração e descrença apareceram em seu rosto, Maverk
soltou Zadox.
—Por que diabos você a deixou fazer isso?
—Como alguém poderia impedi-la?
—Inferno sangrento!
Darvk fez uma careta para Zadox.
—Sabe a localização em Lanta?
—Perto de Gasgo, mas esteja preparado para o que você pode
encontrar.
—O que você quer dizer?
—Encontrei-a no beco perto daqui. — Sobriamente ele os
considerava. —Ela estava resmungando sobre os ventos do deserto e
seus olhos estavam... distantes. Lembra quando falei sobre a loucura,
Maverk? Temo que ela esteja indo ao longo da borda.
—Meu Deus! — o rosto de Maverk ficou branco. —Ela saiu daqui
assim?
Intrigado, Darvk olhou para ele.
—Insanidade? Você não acredita seriamente que Reya... de
jeito nenhum!
—Nós temos que encontrá-la!
Zadox assistiu com que pressa eles se foram, suas longas
pernas cobrindo a distância rapidamente e disse calmamente:
— Eu espero que vocês cheguem a tempo, amigos.

Depois que terminou de definir as coordenadas, Darvk


recostou-se na cadeira.
—O que é isso de insanidade? O que você sabe?
Girando a cadeira para encará-lo, os olhos de Maverk estavam
sombreados de preocupação.
—Reya e eu tivemos uma briga na última vez que estivemos em
Urion. Acabei em uma taverna. Para abreviar, Zadox encontrou-me lá
e insinuou sobre o seu segredo. Ele também me informou que a
maioria daqueles que lutou com ela naquele dia amaldiçoado e
sobreviveu, tinham enlouquecido.
—Oh, inferno, você não acha que ela...
—Ainda não... espero. Eu vi seu surto. Naquela noite, ela
entrou em Brroca desarmada, olhando para a morte. Ela queria
morrer Darvk. Chegamos lá bem na hora. Ela correu para a nave e fui
capaz de chegar a tempo de impedi-la de partir. — Maverk cerrou os
punhos. —Foi quando ela surtou, perdeu o controle totalmente. Ela
chorou e a dor... — Com lágrimas nos olhos, ele olhou para Darvk. —
Isso está rasgando-a ao meio. Sua alma está sendo partida em
pedaços.
Silenciosamente seu amigo inclinou-se para descansar uma
mão em seu ombro em lealdade.
—Você sabe o que é pior? — Maverk sussurrou.
—Diga-me.
—Ela sabe que anda na borda. Isso é como os sobreviventes
chamam. Andando na borda. Significa...
—O limite da insanidade — Darvk disse abalado.
Sua própria cunhada, uma fria mercenária controlada e
guerreira no limite. Todo esse tempo ninguém tinha sequer percebido
o que a havia impulsionado para frente, não até que houvesse
revelado o seu segredo. Ele sentia falta de Tênia intensamente, mas
agora ele estava feliz por ela não estar aqui para ouvir isso.
Eles tinham que encontrar Reya antes que fosse tarde demais.
Maverk continuava a vê-la olhando para ele tão confiante,
colocando sua fé nele, acreditando nele. A cor tinha fugido de seu
rosto quando ela tinha visto o seu choque, o desespero encheu os
olhos dela quando tinha confundido o seu choque com horror e nojo.
Era tarde demais? E se ele tivesse, sem querer, a empurrado
sobre a borda?
—Eu vou trazê-la para casa, Darvk.
Os vividos olhos azuis olharam para ele diretamente.
—Nós vamos.
As palavras não ditas estavam entre eles. Se já era tarde
demais ou não, se ela finalmente tinha caído pela borda ou não, eles
iriam encontrá-la e devolvê-la para casa, onde pertencia.

Reya esperou até Ewin e seus bebês dormissem, antes que ela
entrasse no banheiro e vomitasse violentamente. Ela estava doente
do seu estômago, doente da morte e doente de fazer viúvas e órfãos.
Encostada à parede, ela limpou o suor de sua testa e enxaguou
o gosto azedo da boca com um copo de água.
Se fosse tão fácil enxaguar o azedume de sua alma.
Ela viu o vermelho de seus olhos no reflexo do espelho, ela
olhou-se, vendo o sangue seco misturado com sujeira em sua pele e
roupas. Sujeira e dinheiro de sangue foram a recompensa para os
dias de matança.
Espontaneamente, os sons de espadas em choque e explosão
lasers tocaram em seus ouvidos, os gritos dos moribundos, a dura
respiração dos lutadores. Sua imagem desbotada, uma névoa escura
que vinha sobre os olhos, outra cena tomando seu lugar.
O quente e seco vento do deserto, gritos de agonia, um rosto
queimado e enegrecido implorando, sem palavras, pela
misericordiosa morte. O riso das crianças e o medo nos olhos dos
homens, horror e descrença, negação...
—Atirem para matar — ela sussurrou.
Pega no mais negro dos pesadelos, revivendo um passado
tortuoso, escorregou para o chão. Enrolando em seu lado, Reya
abraçou os joelhos contra o peito, tentando mentalmente afastar os
horrores que a perseguiam.

Foi o choro do bebê e a tímida batida na porta do banheiro que


a trouxe de volta para consciência, arranhando seu caminho
freneticamente para fora da escuridão. Rigidamente levantou-se e
abriu a porta.
Os olhos de Ewin estavam arregalados vendo o rosto branco e
os olhos verdes assombrados, abaixo de quais sombras escuras
tinham se formado.
—Você está bem?
—O quê? Oh, sim. — Reya empurrou-a para o quarto.
Balançando o bebê gentilmente, o olhar preocupado de Ewin
permaneceu na guerreira manchada de sangue.
—Você não dormiu em sua cama na noite passada.
Isso explicava a rigidez. Ela tinha estado no abismo do inferno
durante toda a noite.
—Está com fome? — Hesitante Ewin deu um aceno e ela disse,
— Vamos comer alguma coisa.
Não sabendo mais o que fazer Ewin a seguiu.
Lá embaixo, a taverna estava aberta, mas elas eram os únicos
clientes. Sentou-se uma em cada lado da mesa tosca de madeira, o
bebê balbuciando feliz no colo de sua mãe.
O dono da taverna pegou sua ordem para o desjejum, quando
veio, elas comeram em silêncio. Só quando terminaram que Reya
falou.
—Seu marido foi morto na luta?
—Não. Eu fiquei viúva há quase um ano.
—Seu bebê não é muito mais velho do que... dois, três meses?
Os olhos de Ewin estavam nublados.
—Meu marido morreu enquanto eu estava grávida.
—Ah. — Sentada na cadeira, Reya traçou o contorno da caneca
com um dedo. —Você morava no bairro do senhor onde lutamos nos
últimos dias?
—Não. Eu estava visitando um amigo. Quando o ataque
começou, estava no porão e fiquei lá, escondida.
—Não mover-se foi inteligente.
—Como eu descobri — Ewin suspirou. — Moro em Vendor. Eu
só quero ir para casa.
—Onde em Vendor? Vou levá-la para casa.
—Você... você vai me liberar? — Seus olhos se arregalaram de
esperança.
—O que você espera que eu faça? Vendê-la ou matá-la? O
bebê, talvez?
—Não! Não, claro que não. — Apressadamente, ela ergueu a
mão. —Eu só... Eu não sabia o que esperar. Eu... Eu ouvi histórias,
mas você tem sido tão gentil comigo.
Um músculo assinalou em um rosto liso.
—Não se deixe enganar. Eu não sou o tipo gentil. — Reya parou
abruptamente. —Você pode dizer-me onde mora no caminho para o
ônibus de viagem.
Ela afastou-se, deixando Ewin correr atrás dela.

Dois dias depois, na periferia de Hamos em Vendor, Reya parou


e olhou interrogativamente para Ewin.
—Você está de volta com segurança — disse ela em tom
monótono e se virou.
—Espere! Por favor, Reya, não vai descansar um pouco? Venha
à minha casa e tenha um pouco de comida e bebida.
—Não, obrigada. É hora de seguir em frente.
Ewin mordeu o lábio preocupada, em seguida, deixou escapar:
— Você não dormiu por duas noites! Você precisa descansar!
—Sua preocupação é desnecessária. Tome cuidado no futuro.
Siga o meu conselho e fique perto de casa a partir de agora.
—Reya...
—Adeus.
Ewin a viu desaparecer por entre as árvores, o último vislumbre
da guerreira alta, manchada de sangue, com assombrados olhos
verdes, uma guerreira de gelo que parecia ter olhado para as
entranhas do inferno e viveu para contar.
Se você pudesse chamá-la de viva.

Reya andou por milhas, noite e dia, fugindo de qualquer sinal


de civilização, vivendo de bagas e vegetais silvestres. O inferno
sempre esperou que ela começasse a cochilar, então tentou não
dormir. Ela ficou mais magra.
Duas semanas mais tarde, estava na beira de um rio de águas
cristalinas e cansada sentou-se no banco, olhando para ele. A luz do
sol brilhava na água e insetos diários cantavam alegremente entre as
árvores.
Pegando o laser, ela o estudou. Talvez a única maneira de parar
os pesadelos seria acabar com ela mesma. Ela acariciou o cano, o frio
metal era suave sob o seu toque.
—Com certeza, mãe, eu não iria juntar-me a você no céu, —
ela sussurrou. —Não há espaço lá para assassinos.
O laser mergulhava em suas mãos. Ela se sentia tão cansada,
tão cansada. Acabaria com isso agora...
—Reya. — A voz era suave, cadenciada. —Abra seus olhos.
Era uma voz familiar, calorosa e amorosa.
—Mãe? — Não podia ser. Soldados tinham matado Karana há
alguns anos.
—Reya. — A voz diminuiu entre as árvores, mais era profunda e
mais exigente. —Você deve se levantar.
Ela olhou ao redor freneticamente. Era a voz de seu pai, mas
não havia ninguém lá.
—Quem é você?
Silêncio. A brisa agora carregava o frio do rio e arrepiou os seus
braços. O que foi isso? Ela estava ficando louca? Levantando, ela
pegou a espada.
A brisa passava por ela, cada vez mais forte e mais fria. Nuvens
apareceram do nada, pesadas e ameaçadoras, com relâmpagos no
céu.
Seu nome cresceu no trovão.
Reya!
Deixando cair a espada no chão, ela olhou ao redor, o medo
abraçou-a. Embora estivesse tremendo, estava em pé.
—Estou ficando louca, não estou? — ela gritou para a
tempestade. —Você não está lá! Não há ninguém lá!
—Vá! — O vento assobiava em seus ouvidos.
Uma névoa violeta apareceu em uma das nuvens, verde claro
na parte de cima. Os olhos de seus pais.
—Não! — Ela caiu de joelhos.
—Vá! — Outro boom do trovão, a palavra ecoando na vibração.
—Você não me quer, é isso? Tudo bem vou acabar com ela!
Você me ouve? Eu vou acabar com ela agora! — Fechando os olhos,
levantou o laser para sua têmpora, com a mão tremendo. Em
seguida, um som a fez congelar.
Era o choro de um bebê, fino e frágil, mas verdadeiro. Seus
olhos se abriram. O lamento parecia vir em torno dela, aflito e em
pânico. Cambaleando sobre seus pés, ela olhou ao redor
freneticamente, consciente pela primeira vez da chuva que agora caia
torrentemente.
—Onde está você? — ela sussurrou.
O grito ficou mais alto, em seguida, ela sentiu um puxão no
interior de seu ventre, afiado e agonizante. Ela olhou para baixo,
então sentiu um fio quente entre as coxas.
Sangue, quente e úmido. Ele começou como uma gota, mas
cresceu de forma constante.
—Não! — Horrorizada, ela cambaleou para trás. —O que está
acontecendo?
Um relâmpago cortou o céu mais uma vez, rasgando as nuvens
escuras, tão certo como o que estava dentro dela a estava rasgando
para longe da segurança do seu ventre.
Ela podia sentir que lutava para permanecer dentro dela,
agarrando-se à vida com uma desesperança apavorada e o choro do
bebê tornou-se gritos que ecoavam por ela.

Com o coração batendo forte e sua garganta seca, Reya


levantou-se para olhar ao redor descontroladamente. O rio estava
pacífico, movendo-se lentamente e a brilhante luz do sol invadia as
suas profundezas cristalinas.
Foi apenas um sonho. Levantando a mão trêmula para limpar o
suor de sua testa, ela levantou e andou até o rio, ajoelhando-se e
juntou as mãos em concha, pegando água para beber, sedenta.
Quando terminou, empurrou os cachos pesados para trás e viu
seu reflexo. Sangue seco e velho manchava as suas roupas e mal
percebeu que ela não tomava banho em duas semanas. Mas era o
sangue que incomodava. Por quê?
Ela correu a mão sobre uma velha mancha em seguida,
congelou. Sangue. Ela não tinha sangrado...
Com o coração disparado, ela endureceu. Não! Não era
possível! Colocando a mão sobre seu estômago, ela sacudiu a cabeça,
tentando negá-lo.
Mas ela não podia. Com clareza ofuscante, percebeu que a
última vez que tinha tido o seu período de mulher foi antes dela se
juntar com Maverk, fazendo amor no calor da cama. Estava sem o
seu período desde então, não teve sangramento.
O coração dela deu uma guinada, sua mente piscou de volta ao
pesadelo, o lamento da criança aterrorizada e o puxar em seu útero.
—Oh, meu Deus, vou ter um bebê de Maverk!
Ela esperou que o pânico se estabelecesse, a loucura
assumisse, mas isso não aconteceu. Em vez disso, a calma caiu sobre
ela e o amor voou para a vida, queimando tão brilhantemente como o
pequeno bebê em sua barriga ainda plana.
As lágrimas vieram.
—Ah, doce bebê, vou te amar mais do que a própria vida.
Perdoe-me. Vou guardá-lo, enquanto você cresce dentro de mim. — a
garganta doía, ela olhou para o rio através da visão turva, — Quando
você nascer, vou mantê-lo apenas por um tempo curto, eu prometo.
Você precisa mais do que posso dar. Meu presente para você por
quase ter terminando sua vida, será enviar-lhe para sua casa, para o
seu pai.
Piscou as lágrimas, ela ficou em silêncio. A tranquilidade da
área infiltrou-se nela, mas ela não devia esquecer que estava no
Setor Outlaw. Onde poderia ir para abrigar-se e manter o bebê em
segurança dentro dela, até que ele nascesse? E se alguma coisa
desse errado com o parto? Um arrepio percorreu-a com o
pensamento dos médicos neste inferno.
Não, ela tinha que encontrar outro lugar. Outra pessoa. Alguém
em quem pudesse confiar para assisti-la no nascimento, alguém que
iria garantir que o menino fosse para casa se ela morresse durante o
parto. Mas quem?
Um pássaro voou para um galho próximo. O estridente trinado
cresceu mais e mais exigente, rompendo sua concentração, ela virou
a cabeça para buscá-lo na árvore.
Ele se aproximou, inclinando a cabeça para um lado, vibrando
as asas frágeis. Uma tira branca corria em sua cabeça e para trás, e
a considerou interrogativamente com seus brilhantes olhos negros.
Ela o observou com curiosidade. Para um pássaro selvagem,
era incrivelmente amigável. Aberto, confiante e sem medo, ainda
assim não era tolo.
Ele pulou mais perto, conversando rapidamente e olhando para
ela, o branco sobre a sua cabeça era um nítido contraste com o negro
de seu corpo.
É claro! Reya percebeu, de repente.

Encostada no batente da porta, Beulah assistiu sua chegada.


Uma trança grossa pendia da guerreira para trás, suas roupas
estavam manchadas de sujeira, sangue e suor.
A Reeka parou no pé da escada olhando para ela.
—Eu a estive esperando. — Voltando atrás, Beulah apontou
para a cabana.
—Por que eu fui obrigada a vir aqui? — Reya perguntou.
—Você se sente segura?
—Sim, mas...
—É por isso que está aqui, para recuperar a segurança. Isso é
tudo que você precisa saber.
Reya não perguntou como a feiticeira sabia. Ela subiu os
degraus e entrou na cabana. A porta se fechou atrás dela e Beulah
apontou para o laser e espada. Sem uma palavra, ela retirou as
armas e deixou-as cair sobre a mesa.
—Bom. — Os calmos olhos negros a consideravam. —Vá para a
sala de trás. Você vai encontrar o que precisa lá. Use.
Sentindo-se como se estivesse em um sonho, Reya obedeceu. A
cabana tinha um efeito quente e calmante sobre ela, o mobiliário
simples parecia misturar-se com as paredes em calma harmonia.
Uma banheira estava no centro da sala de trás, numa cadeira
ao lado dela havia uma túnica branca simples e roupas de baixo
limpas, sandálias e uma toalha.
—Sua roupa será limpa. — Beulah apareceu atrás dela. —
Entregue para mim e você pode tomar seu banho em paz.
A água na banheira era confortavelmente quente, penetrando
em seus poros, o óleo perfumado levantava-se com o vapor para
rodar em torno dela, sussurrando em seus sentidos. Seus músculos
relaxaram e foi com esforço crescente que ela forçou os braços a se
moverem, para pegar o sabonete e ensaboar seu corpo e cabelo,
limpando-se.
Ela ficou na banheira até que a água esfriou e, em seguida
secou-se e vestiu a túnica que caiu até os seus joelhos. Passando os
dedos por seus cachos úmidos, ela olhou para a banheira, querendo
saber onde esvaziá-la.
—Não se preocupe com isso, — Beulah falou do outro quarto. —
Venha e coma um pouco.
A feiticeira era assustadora. Com um encolher de ombros, Reya
fez como foi mandado e entrou na sala da frente para ver que duas
tigelas de sopa e um prato de pão estavam em lados opostos da
mesa. Beulah sentou-se em um lado e acenou para que tomasse o
outro banco.
Sem muito apetite, Reya pegou a colher. Ela não queria comer,
mas agora tinha mais com quem se preocupar do que apenas consigo
mesma.
—Você é sábia em pensar no bebê.
—Você sabe?
Engolindo um bocado de cozido, Beulah pegou outra colherada.
—Seu e de Maverk, sim.
—Como você sabe disso?
Pegando o pão, ela respondeu:
— Foi concebido em amor profundo. Esse amor permanece
dentro de você e do comerciante loiro. Agora coma.
Mergulhou a colher na sopa, comeu e achou
surpreendentemente bom.
—Não é tão ruim, hein? — Os olhos negros brilharam quando
viram a colher rapidamente ir até o ensopado.
—É bom.
Empurrando a tigela vazia de lado, a feiticeira estudou-a. Havia
círculos escuros abaixo de seus olhos claros, agora profundamente
sombrios de tristeza.
—O fardo é pesado, filha.
—Eu suponho que você sabe sobre isso também?
—Eu sei apenas o que preciso. Onde está Maverk?
—Em Daamen. Eu acho.
Você está para ter uma surpresa, Beulah pensou consigo
mesma.
—Ele não tem conhecimento de seu bebê.
Reya balançou a cabeça.
—Ele precisa de seu pai, também.
Sua mandíbula apertou.
—Quando nascer, ele vai voltar para casa.
—Casa? — Uma sobrancelha preta arqueou.
Reya falou.
—Para Maverk. Como você disse, um bebê precisa de seu pai.
Longos dedos finos dobraram sobre a mesa.
—E não de sua mãe?
—Ele vai ficar melhor sem mim. Ele pode dar-lhe muito mais.
—Tais como?
—Você sabe o que eu fiz. Você sabe tudo, feiticeira. Tudo o que
posso oferecer é uma vida manchada com horror, desonra e loucura.
Ele vai dar-lhe amor, honra e segurança.
—Loucura? Eu diria que você andou ao longo da borda.
—Você sabe tudo, Beulah. — Amargura tingia as palavras de
Reya.
—Então você diz. — Ela sorriu levemente. —Mas você não está
louca. Na verdade, você passou por ela.
—Você fala por enigmas. Estou louca ou não?
—Insanidade é um estado da mente, dizem alguns. — A mulher
mais velha começou a recolher as tigelas vazias. —Mas é tarde e
vamos falar mais na parte da manhã.
—Tarde? É meio-dia, mas...
—Pensa assim? Olhe para fora da porta, criança.
Não podia ser. Não poderia. Não havia passado tempo
suficiente. Indo para a porta, ela abriu-a.
— Está escuro!
—Vá para a cama, criança, — Beulah disse suavemente. —No
quarto de trás.
—O que acontece aqui, feiticeira? Cheguei perto do meio-dia. —
Um pensamento súbito passou por ela. —Ainda é hoje, eu presumo?
Sua risada parecia surpreendentemente jovem.
—Você duvida?
—Eu não sei... sim. — Ela se virou de repente. —Quão poderosa
é você? Você pode controlar o tempo?
— Não. O tempo é incontrolável. Passa no seu próprio ritmo,
independentemente dos nossos desejos.
—Mas eu não estive aqui tanto tempo.
—Você está cansada, Reya. Confie em mim, está segura aqui,
como o seu bebê. Você não teria vindo de outra maneira.
Perturbada, ela olhou para o rosto gentil.
—Eu não sei o que me fez vir aqui. Quero dizer, sei que foi pela
segurança do meu bebê.
—E a sua. — Atravessando a sala, Beulah tocou no seu rosto
delicadamente. —Disseram para vir aqui, não foi?
—Disseram? Eu tive um sentimento...
—Acredito que a palavra era vá.
Seu rosto empalideceu.
—Não é possível.
Capitulo 34
—Tudo é possível. — Beulah voltou rapidamente para a pia e
abriu a torneira. —Ainda assim, é hora de você ir para a cama. Vou
ver você de manhã, bem cedo. Há trabalho a ser feito.
—Espere. O que... o trovão...?
—Boa noite, Reya.
Não haveria mais respostas hoje à noite, mas ela prometeu
procurá-las na parte da manhã.
Entrando no quarto de volta, viu a pequena cama colocada no
canto. Quem tinha estado lá antes? E onde estava a banheira?
Alguém devia viver aqui, pois a feiticeira não tinha deixado a sala da
frente. Tinha? Não, claro que não. Mas então, era final da manhã
quando ela chegou... e agora era noite... apesar de apenas algumas
horas se passarem...
Sua cabeça estava começando a doer com os pensamentos
galopando uns após os outros ao redor e através de sua mente. Ela
não tinha certeza do que estava acontecendo aqui. Ela não era boa
com misticismo. Só sabia uma coisa sobre esse lugar.
Ela e seu bebê estavam a salvo aqui.

Aproximando-se da fortaleza em ruínas com cautela, os


Daamens a encontraram deserta. Os únicos sinais de vida eram os
dos insetos vibrando dentro e fora dos buracos nas paredes de pedra
em ruínas.
—Parece que a luta acabou, — comentou Darvk. —Todos já
foram embora.
—Assim, parece. — Maverk passou a mão pelos cabelos,
sacudindo-o loucamente. —Droga, gostaria que tivéssemos um
rastreador viscomm!
—Muitas pessoas andaram aqui para pegar as suas vibrações,
de qualquer maneira.
Chutando um pedaço de entulho, ele olhou para as ruínas
imponentes.
—Por que ela voltou a lutar?
—Talvez pensasse que era tudo o que restava para ela.
Eles voltaram para a nave da frota, ponderando sua próxima
jogada.
—Nós sabemos que ela não tem transporte. — Coçando o
queixo, o olhar de Maverk se estreitou no mapa da área, na tela
visual. —Para ir a qualquer lugar, teria de contratar um transporte.
—Muito bem pensado. Vamos para o povoado mais próximo e
conferir os estábulos e ônibus de transporte. — Darvk deu partida nos
motores. —Alguém, em algum lugar, deve tê-la visto.

—Maverk! — Zina correu para cumprimentar o comerciante


grande e louro, com o rosto que era só sorriso. —Bem-vindo de volta!
Ele devolveu o sorriso.
—Como está Mara?
—Salva, graças a você e Reya. Ela agora está vivendo em
Viksa, fora do Setor.
—Nós nos mudaremos para lá em breve, — acrescentou Chut.
—Ela foi ficar com os amigos, até chegarmos lá.
—Estou contente por vocês. — Maverk olhou para o
assentamento. — Reya esteve aqui?
—Não. Ewin diz que ela a trouxe de volta, mas nunca entrou no
assentamento.
—Podemos conversar com esta mulher? — Darvk perguntou.
Zina tomou o braço de Maverk.
—Eu sei que ela vai ficar feliz em ajudar. Venha, vou levá-lo até
ela.
Eles caminharam através do assentamento, os comerciantes
abrandaram o seu ritmo para combinar com os passos menores e
mais lentos da velha. A impaciência queria insistir para que ela se
apressasse, mas o respeito o impediu.
Finalmente chegaram a uma pequena cabana com um jardim
arrumado e Zina bateu na porta. Abriram quase imediatamente, uma
mulher com cabelos castanhos claros olhou dela para os Daamens,
com um toque de medo em sua expressão, à vista deles.
—Ewin, esses são amigos de Reya — Zina disse rapidamente. —
Eles querem falar com você sobre ela.
—Amigos? — O medo deixou seus olhos e ela abriu mais a
porta. —Por favor, então entrem.
—Obrigado, mas não. — Darvk sorriu brevemente. —Devemos
ir em breve.
—Bem, como posso ajudar?
Maverk respondeu rapidamente.
—Reya retornou aqui?
—Sim. Ela salvou minha vida, trouxe meu bebê e a mim de
volta para casa.
—Onde ela foi depois de sair daqui?
Arrependimento genuíno estava na expressão de Ewin.
—Eu não sei. Eu gostaria de saber. Ainda me preocupo com ela.
Um arrepio passou através de Maverk.
—Por quê? O que estava errado?
—Eu não sei, mas ela parecia... mal. Ela não dormiu e muitas
vezes no caminho ficava numa espécie de torpor, distante. Não como
se estivesse preocupada. — Franzindo a testa, ela tentou encontrar
as palavras certas. —Mais como... ela não estava ali. Você sabe?
Como se seu corpo estivesse lá, mas não seu espírito. Foi meio
assustador. — Ela fez uma careta. —Mas ela estava lá por mim.
Ninguém chegava perto de nós, assim que a via.
—Existe alguma coisa mais que você possa nos dizer? — Darvk
pressionou consciente da tensão de seu amigo. —Qualquer coisa.
—Gostaria de poder. Tentei fazê-la entrar e descansar, mas ela
não quis. Ela acabou indo. Senti pena dela. Você sabe, ela é forte e
corajosa, mas eu podia sentir a sua solidão. Eu não sei como ela
aguentava. Eu iria enlouquecer se estivesse tão sozinha quanto ela.

Olhando para trás, para as linhas de legumes que tinha


acabado de plantar, Reya sentiu-se cheia de satisfação, quando
contemplou a terra recém-revolvida. Ela tinha encontrado uma
espécie de paz ao ajudar à feiticeira na enorme horta, capinando,
plantando e escorrendo água sobre as mudas. A sensação de terra
fresca era boa em suas mãos, o sol quente nas costas. A espada e o
laser estavam embaixo de sua cama.
Apoiando-se na enxada, Beulah olhou para ela, com o rosto no
sol.
—Depois de apenas uma semana, você tem a aparência de uma
jardineira.
—Você acha? Não pareço mais com uma guerreira?
—Você sempre será isso. — A mulher mais velha enxugou o
suor que pontilhava a sua testa com um pano. —Está em você. Mas
uma guerreira não tem que lutar o tempo todo, como você descobriu.
Reya enrolou os dedos ao redor da terra em sua mão.
—Eu estraguei a chance quando a tive.
—Há mais de uma chance na vida, criança. Talvez não haja algo
como ‘chances’. Eu acho que nós simplesmente escolhemos fazer o
que quisermos e podemos mudar essa escolha a qualquer momento,
se assim nós escolhermos.
—Isso é um monte de escolha.
—É. Assim como você escolheu vir até aqui.
—Será que eu escolhi? Eu me pergunto.
—Se não foi você, então quem? — A feiticeira moveu-se para o
tanque de água da chuva e derramou uma bebida em uma caneca de
lata.
—Eu tive um sonho.
—Coisas surpreendentes, não são? Eles fizeram você consciente
de muitas coisas.
Inconscientemente a mão de Reya foi para seu estômago,
esfregando suavemente. Sim, os sonhos tornaram-me consciente de
muitas coisas. Tal como o bebê dentro dela e o quanto ela sentia
falta de seu pai.
—Você sonhou com ele na noite passada. — Beulah sentou no
banquinho.
Ela permaneceu em silêncio.
—E na noite anterior. Você chama por ele, muitas vezes, no
escuro.
Escuro. Reya estremeceu.
—Você não está louca.
—Como você sabe? Talvez eu só esteja no meio de um
momento de lucidez.
—Eu sei. Ainda uma cética! Você realmente aprendeu tão pouco
aqui, filha?
Reya sorriu levemente.
—As coisas que já vi, ou não vi, para ser precisa. Eu não gosto
de pensar.
—Mas você e seu bebê se sentem seguros.
—Sim, nos sentimos seguros — ela concordou, mas uma
sombra cruzou o rosto dela.
—Mas há algo faltando.
—E o que seria isso?
—Você quer que eu diga a você?
—Você vai dizer de qualquer maneira.
—Ah, mas é aí que você está enganada. Cedo ou tarde você
tem que encontrar a resposta por si mesma. —Beulah levantou
facilmente sobre seus pés. —Eu estou indo cozinhar a refeição do
meio-dia. Se limpe antes de entrar.
Reya observou-a ir para a cabana, os longos fios de cabelos
brancos escapando do coque apertado.
Algo que falta...
Alisou a terra em volta, sobre a área em que ela tinha
arrancado às ervas daninhas, empurrou os dedos no solo tão
profundo e a cor marrom lembrou-se de... Não! Rapidamente se
levantou. Ela não devia pensar nele, não devia!
Engolindo contra o aperto doendo na garganta, pegou o saco de
ervas daninhas e a enxada, em seguida lavou as mãos e entrou na
cabana.
Naquela noite, ela sonhou com uns olhos castanhos alegres em
um rosto bonito, mas o que ficou cada vez mais perturbador era que,
noites depois, os olhos perderam a alegria e tornaram-se tristes, com
saudade, melancólicos... assombrando... suplicantes.
Na sétima manhã, ela acordou chorando, pensando que o ouviu
chamando por ela. Por trás de sua chamada estava o choro de seu
bebê por nascer.
Angustiada pelo sonho, com a tristeza e o desespero crescendo
nela, sentou-se na varanda e olhou para o amanhecer. Beulah estava
certa. Ela sabia o que tinha perdido e que necessitava tão seriamente
dele, que braços doíam para abraçá-lo.
—Oh, Maverk — ela sussurrou.
O sol espreitava sobre a montanha, o seu brilho era um forte
contraste com seu humor negro.
Beulah saiu para a varanda.
—Você tem a sua resposta?
—Se você se refere a eu perceber que Maverk é o que eu mais
sinto falta, sei disso, mas não era para ser.
—Oh?
—Não quero falar sobre isso.
—Sua escolha, mas você terá que enfrentá-lo um dia.
Reya não respondeu e Beulah sorriu e olhou para o sol
nascente.
Com o coração batendo forte e sua garganta apertada, Maverk
estremeceu ao acordar. Com sua visão turva e voz trêmula, ele
limpou a umidade de seus olhos, piscando rapidamente.
No beliche oposto, Darvk se agitou, empurrando para trás as
cobertas. Seu olhar procurou e encontrou seu amigo sentado do lado
do beliche, como ele tinha feito a cada vez que despertava na última
semana.
—Maverk?
—Tive o sonho de novo.
—Reya?
—Chamando por mim. Gritando, suplicando, implorando. E
outra coisa, algo novo...
Darvk levantou-se sobre um cotovelo.
—O quê?
—Um bebê chorando. O que significa?
—Eu gostaria de saber.
—Eu a sinto tão perto ainda que esteja tão longe. — Maverk
cerrou os punhos. —Mas era muito real para ser apenas um sonho!
Puxando seu colete, Darvk estudou o rosto do amigo, vendo as
sombras e a expressão assombrada.
Indo para o banheiro, Maverk jogou água fria no rosto, tendo
respirações profundas. Os sonhos tinham começado nessa semana.
Ela estava tão séria em seu primeiro sonho, então na noite seguinte,
amorosa. Mas nas últimas cinco noites um desespero tinha caído
sobre ela, um pedido e ela estava chorando seu nome. Esta manhã
ele despertou e, não só o seu nome, mas também o choro de um
bebê. O que isso significava?
—Onde está você, moça? — ele sussurrou.
Darvk apareceu na porta, com uma caneca fumegante de
bebida na mão.
—Aqui, parece que você precisa disso.
Com um aceno de agradecimento, Maverk tomou a caneca.
—Ninguém aqui sabe alguma coisa de seu paradeiro. É como se
ela desaparecesse da galáxia, três semanas atrás. — Darvk franziu o
cenho.
—Três semanas — Maverk suspirou. —Temos procurado por
mais de um mês. Você precisa ir para casa e ver Tenia e seu filho.
—Eu vou a apenas mais alguns dias.
—Tenia ficará preocupada.
—Entrei em contato com ela na noite passada. Ela se preocupa
com todos nós.
Maverk inclinou-se, cansado contra a parede.
—Onde Reya poderia ter ido? Nós procuramos em toda parte.
—As Reekas sempre foram hábeis em esconder-se. — Darvk
sorriu, lembrando. —Lembra-se como encontramos seu esconderijo
em Urion? Acabamos indo até aquela feiticeira para ajudar...
Eles olharam um para o outro apertando os olhos, a mesma
idéia ocorrendo ao mesmo tempo.
—Beulah.

Encostada no batente da porta, Beulah observava a chegada


dos comerciantes. Pararam na parte inferior para olhar para ela.
Com um aceno para Darvk, ela transferiu sua atenção para
Maverk.
—Eu estive lhe esperando.

Reya sentia-se estranhamente letárgica, temperamental e


chorosa. O sonho assombrando e ela não podiam resolver qualquer
coisa.
Finalmente, a feiticeira a mandou para fora para apanhar ar.
—Vá sentar-se lá atrás e veja os legumes crescerem.
—Legumes não crescem tão rápido.
—Então, mantenha os pássaros à distância.
—Eles não vêm perto de seu jardim. Você deve tê-lo encantado.
—Estamos suscetíveis, heim?
—Desculpe.
—Você não parece bem. Vá para trás e sente-se. Fale com o
seu bebê.
—Você está cansada de mim, Beulah?
A feiticeira afagou seu rosto com carinho.
—Claro que não. Vá em frente, agora.
—Você acha que ele — ela — sabe o que estou dizendo?
—Você vai saber.
—Isso é para ser uma resposta?
—Você descobrirá isso.
—Eu pensei que você deveria estar me ajudando.
Um sorriso vincou o rosto de Beulah.
—Eu estou.
Desistindo, Reya saiu, dando a volta, sentou-se no banquinho e
inclinou-se contra a parede da cabana, olhando para fora, para a
horta. Ela esfregou sua barriga.
—Beulah quer que eu fale com você. Você está me ouvindo, um
pouco?
A suave brisa arrepiou uma onda perdida que tinha escorregado
da trança pendurada em suas costas.
—Então, sobre o que vamos falar? O tempo? O jardim? — Ela
suspirou humor escurecendo e a tristeza caindo sobre ela. —Talvez
deva lhe falar sobre seu pai.
Sim, ela queria falar sobre ele. Ela tinha empurrado os
pensamentos sobre ele para longe, por tanto tempo. Talvez se falasse
dele, os sonhos perturbadores desaparecessem.
Acariciando sua barriga, ela começou baixinho:
— O nome do seu pai é Maverk. Ele é bonito, com alegres olhos
castanhos e um toque tão seguro e forte, mas suave. Ele vai mantê-
lo seguro com as mãos, pequenino. Ele vai aliviar as suas
preocupações e beijar seus machucados para melhorar. — Ela sorriu
melancolicamente. —Ele vai fazer todas as coisas que não estarei lá
para fazer. Ele vai segurá-lo e apoiá-lo quando você der seus
primeiros passos. Ele vai enxugar suas lágrimas e fazer você rir. Ele é
assim. — Através de um borrão de lágrimas, ela olhou para fora, para
as montanhas distantes. —Ele é bom e gentil, tudo o que não sou.
Quando você nascer, prometo mantê-lo por apenas um curto período,
antes de mandar você para viver com ele, mas não pense que não o
amarei. Vou amá-lo até o céu cair e o chão desaparecer embaixo de
nós. Eu vou amá-lo por toda a eternidade, como faço com Maverk. —
Uma lágrima rolou por sua face. —Você vai ser tão afortunado,
pequenino. Seu pai foi a melhor coisa que já aconteceu comigo e eu
guardarei a sua memória como um tesouro até o dia que morrer.
—Você vai saber sobre mim, eu acho. Onde estou, quem sou.
Eu não estarei lá para dizer a você, não sei o que vai ser dito, mas
quero que se lembre que vou amá-lo para sempre. Não importa se
não estarei lá, pois você sempre estará em meu coração. E vou
sempre amar seu pai. Eu o amarei até o dia que morrer, quando
estiver sozinha, vou pensar em vocês dois. — Acariciando sua barriga
com ternura, ela murmurou: — Você vai parecer com ele, eu me
pergunto?
—Você vai estar lá para ver e descobrir — respondeu uma voz
atrás dela, profunda e cheia de emoção.
Pulando do banquinho, ela virou para olhar para o homem que
estava diretamente atrás dela. Sangue trovejou através dela, seu
coração pulsando e pulando descontroladamente, seus olhos
arregalaram-se com o choque. Alegria e pavor guerrearam dentro
dela.
—Maverk!
—Você estará lá para acalmar as preocupações de nosso bebê e
beijar o seu dodói para melhorar, moça. Juntos, vamos segurá-lo e
banhá-lo, vamos apoiar seus primeiros passos, você estará lá para
enxugar as lágrimas e dar-lhe todo o amor que você puder.
—Eu não posso... — ela começou entrecortada.
Segurando seu olhar, ele gentilmente colocou a mão contra a
sua barriga.
—Deixe-me contar sobre sua mãe, pequenino. Ela é Reya das
Reekas, uma raça de honra e força. Ela é linda, — seus lábios
escovaram através de sua boca trêmula, rápido e suave antes de
quebrar o contato para continuar, — honrada. Como poderia não ser,
quando ela irá dar-lhe o que acredita ser uma vida melhor, para
você?
Tudo que Reya podia fazer era sacudir a cabeça em negação,
chorando.
A outra mão dele aproximou-se e um dedo pressionou
levemente os seus lábios.
—Sua mãe também é teimosa, bastante, mas eu a amo por
isso. Eu vou amá-la até o céu cair e o chão desaparecer embaixo de
nós. Eu a amarei para a eternidade, assim como amarei você. —Com
o polegar, ele pegou a lágrima que caia como um cristal cintilante
pelo seu rosto, em seguida, com a palma da mão em concha,
segurou o seu rosto com grande ternura. —Ao contrário do que você
acredita moça, você é a melhor coisa que já me aconteceu.
Um soluço escapou e rapidamente ele pegou-a em seus braços,
embalando-a contra ele, seu rosto repousou na sua cabeça de seda.
—Oh Deus, Maverk! Eu pensei que nunca iria vê-lo novamente!
Eu pensei que você me odiava!
—Nunca! — ele disse ferozmente. —Eu vou amá-la para
sempre. Nada, nunca vai mudar isso.
Ela se apertou contra ele, seu calor penetrando em seu coração
gelado, suas palavras acalmando a sua dor.
O tempo passou enquanto eles simplesmente estavam
abraçados, saboreando a proximidade, depois de semanas de medo,
angústia e preocupação.
Sentindo-a mover, abrir a boca em protesto, sua boca cobriu a
dela e sentiu-se tão bem, tão certo. Ela deu o amor que sentia por
ele em um beijo, tão apaixonado e faminto que sacudiu sua alma.
Se afastando um pouco, ele respirou instável.
—Moça, eu a amo tanto.
—Mesmo depois de tudo que eu fiz?
—Você fez o que tinha que fazer, para sobreviver. Aceite e
supere, deixe tudo para trás.
—Você pode?
—Eu já fiz.
—Você estava tão chocado, tão enojado...
—Sim, estava, mas não com você. Fiquei enojado que não
tivesse percebido que você tinha sofrido tanta agonia todo esse
tempo. Mas nunca de você. Sua dor interior me rasgou em pedaços.
—Eu... minha irmã... Dana... Connie, elas...? — Não
conseguindo continuar, ela engoliu.
—Elas estão muito preocupadas com você, se culpam por não
descobrirem o que tinha acontecido. Seu nojo foi pelo povo do
deserto. Por você, somente o amor e preocupação.
—Então...
—Elas querem você em casa. Na verdade, Darvk nos espera lá
dentro.
—Darvk? — Ela ficou surpresa.
—É claro. O momento mais difícil foi fazer Tenia ficar para trás,
assim como Morgan e Garret com Connie e Dana. Apenas os
ferimentos de Dana, o bebê de Tênia e a criança de Connie, as
forçaram a ficar para trás. Pense sobre isso, — Maverk sorriu torto, —
Houve alguns argumentos acalorados sobre quem ficava e quem saia.
Seu sorriso era trêmulo.
—É tão difícil de acreditar. Todo esse tempo eu pensei...
—Que você estava realmente sozinha? — Uma grande mão
deslizou o braço para a parte de trás do seu pescoço. —Você estava
tão errada. Sua família e amigos aguardam o seu retorno e eu, —
seus lábios apoiaram em seus cabelos. —Eu nunca vou deixar você
fora da minha vista novamente.
Desta vez, o beijo era doce e sem pressa, uma reaprendizagem
gentil com o sabor um do outro.
Quando eles se afastaram, ele disse:
— Nós estamos indo para casa, moça.
—Eu preciso dizer-lhe algo. — Ela hesitou.
Ele viu a sombra nos olhos.
—Não tenha medo de me dizer, Reya. Esteja aberta.
—Depois que saí...
—Você foi a uma missão.
—Você sabe sobre isso?
—Conhecemos muitas pessoas em nossa busca por você.
Ela respirou fundo.
—O que eu estou prestes a dizer-lhe irá chocá-lo.
Mãos grandes apertaram a dela em um aperto forte e constante
de encorajamento. Ele esperou pacientemente.
—Antes de vir para... Beulah, depois da missão... Eu não podia
aguentar mais, a luta, a execução, os pesadelos. Eu não sei quanto
tempo vaguei pelas florestas. Eu fui até a borda. — Ela estremeceu.
—Um dia encontrei-me perto de um rio. Estava tão cansada, e pensei
que tinha perdido tudo o que era importante para mim. Eu... perdoe-
me, Maverk, eu... peguei o meu laser e pensei que deveria dar fim a
tudo. Estava tão cansada. — Ela começou a chorar baixinho. —Eu tive
um sonho. Ouvi o choro do nosso bebê. Juro que não sabia que
estava grávida, pois nunca iria ferir o nosso bebê, nunca.
—Fique tranquila, meu amor. — Ele olhou para ela com ternura.
—Eu sei. Talvez você estivesse passando por cima da borda... Deus
sabe como você ficou sã por tanto tempo, mas sei disso, você não é
mais insana do que eu. Você puxou-se para sair desse buraco pelo
bem de nosso bebê, do nosso amor mútuo. O sonho foi uma
mensagem, moça. Acabou. Você está em segurança, de volta comigo,
conosco. Você entende?
Ela colocou a mão sobre a dele.
—Eu sonhei com você, Maverk. Você estava tão triste,
implorando tanto.
Ele estudou-a atentamente.
—Eu tive o mesmo sonho, só que no sonho, você estava me
chamando.
—Isso não é possível. Você ouviu o bebê?
—Chorando? — ele terminou. —Sim, eu ouvi.
Silenciosamente eles olharam um para o outro.
Capitulo 35
—O que significa tudo isto? — Reya perguntou confusa.
—Você não adivinhou filha?
Voltaram-se para enfrentar a feiticeira.
Cruzando os braços, Beulah sorriu.
—Vocês são almas gêmeas, amantes. Foi o espírito de vocês,
alcançando um ao outro e o bebê, vocês não podem adivinhar?
Reya prendeu a respiração.
—Foi o espírito do bebê?
—Sim. Ele sentiu a sua tristeza e a de Maverk, e ele chorou. É
uma parte de ambos, um produto de seu amor.
Deslizando o braço em torno da cintura de Reya, Maverk ficou
ao seu lado.
—Como posso agradecer por cuidar da minha moça?
Ela acenou com a mão levianamente.
—Não, não precisa agradecer. No entanto, antes de ir...
—Qualquer coisa.
Seus olhos brilhavam.
—Você pode ajudar a terminar de capinar a horta.
Ele meio gemeu, meio riu.
—Este parece ser o seu pagamento favorito, Beulah!
—Sim. — Darvk dobrava o canto da cabana. —Pagamos o
mesmo preço há dois anos, pela poção da verdade.
Ele sorriu gentilmente para Reya.
—Estou satisfeito em vê-la segura e bem, irmã.
Hesitante, ela se adiantou.
—Eu sinto muito. Tenia e o menino precisam de você agora.
Ele a abraçou.
—Não fale tolamente, moça. Ela estaria aqui se pudesse. Não,
estou feliz por termos encontrado você. Agora é tempo de ir para
casa, depois, é claro, de termos assistido Beulah.
—Sente-se e descanse moça — Maverk instruiu. —Você deve
tomar as coisas mais fáceis, com o bebê.
—Bebê? — Darvk puxou para trás, para olhar para baixo, com
surpresa para o seu rosto ruborizado. —Você está grávida?
Maverk sorriu orgulhosamente.
—Vou ser pai.
—Então, você definitivamente vai descansar, enquanto nós
terminamos esta horta. — Ignorando seus protestos, ele a levou até
uma cadeira. —Espere aqui.
Beulah riu.
—Ela é jovem, forte e saudável. Nada vai acontecer para
prejudicar o bebê.
—Ela vai descansar — Maverk disse com firmeza.

—Maldição, nunca fuja de novo! — Tenia repreendeu-a em


lágrimas.
Connie abraçou Reya mais perto.
—Você é uma moça boba! Maverk, eu espero que a castigue
bem por atrever-se a pensar que nós a julgaríamos tão duramente.
—Na verdade, nunca cheguei a isso. Oxalá, mais tarde, quando
estivermos sozinhos...
Dana apertou sua prima levemente no braço.
—Eu estou insultada, você não me levou com você. Inferno
sangrento, este é o agradecimento que tenho por acompanhá-la por
todos esses anos!
—Você foi minha tábua de salvação. Eu...
—Por piedade, não fique piegas, — disse Dana
desconfortavelmente. —Eu prefiro que você grite comigo, a isso.
O riso, quente e carinhoso correu através do grupo.
Garret sorriu para a guerreira loira.
—Eu não vou ficar piegas com você, meu doce.
—Você sabe sangrentamente bem, não vai conseguir nada!
—Você é tão bonita quando está zangada.
—Eu vou dar-lhe ‘bonita’ em um minuto.
—Eu não posso esperar.
Rindo, Maverk puxou Reya para o seu lado.
—As coisas não mudaram.
—Estou em casa, — ela sorriu para ele.

Tenia viu a mudança em sua irmã, uma suavidade nova nos


olhos dela, as risadas, que todos os dias surgiram mais facilmente
aos seus lábios, quando estava com a família e os amigos íntimos.
Com os outros, no entanto, ainda era reservada.
—Mas eu gosto quando você está tão fria em torno delas, —
disse Maverk na noite de núpcias, entrando em sua casa com Reya
em seus braços.
—Você acha? — Ela levantou uma sobrancelha
interrogativamente.
—Sim. — Ele piscou. —É tão excitante saber como você é
quente debaixo daquele comportamento gelado. — Chutando a porta
com o calcanhar, ele começou a descer o corredor.
—É mesmo?
—Você não tem idéia do quanto eu gosto de aquecer você e
derreter o gelo.
—Então, se segure, — ela falou com voz arrastada.
Colocando-a sobre seus pés no chão do quarto, ele endireitou-
se e olhou para ela.
—Quando a guerreira de gelo derrete, você é tão quente que
me deixa em fogo.
—Isso era para ser romântico?
—Não, sexy. Você não tem palavras doces para mim, mulher?
Tentando parecer pensativa, ela franziu os lábios.
—Deixe-me pensar, bonitão. Que tal grande, teimoso, cabeça
dura, exigente e... ouch! —Ela esfregou o traseiro, que não doeu nem
um pouco com a tapa brincalhona. —O que foi isso?
—Eu pedi coisas doces, não calúnias sobre o meu caráter. — Os
olhos castanhos brilharam. —Devo beijá-lo para você melhorar? —
Acariciando o seu bumbum, ele puxou-a com força contra ele.
Seu toque passou como um relâmpago.
—Você faria isso? — ela perguntou com voz rouca.
A saia longa foi lentamente levantada sobre as pernas delgadas
até que os dedos longos pudessem escorregar sob ela e esfregar
suavemente, sensualmente, contra a pele de uma nádega firme.
—Vire-se e eu mostrarei a você — foi a gutural resposta. —
Seria o meu prazer. Eu vou beijar cada centímetro do seu corpo
delicioso... e eu quero dizer cada centímetro.
Um calor ondulou em seu lugar feminino, puxando e arrancando
as cordas sensíveis do desejo e ela chegou-se, entrelaçando os dedos
em seus cabelos loiros. Suavemente ele abaixou a cabeça dele e ela o
beijou.
Ele voltou-a avidamente, possessivamente, a língua dele entrou
exigente em sua boca, varrendo o doce calor das profundidades,
pilhando e reivindicando. Ele deslizou as alças finas pelos ombros e
empurrou o vestido para baixo até que caiu aos seus pés, deixando-a
nua e aberta para as mãos ansiosas.
Gemendo em sua boca, ela puxou a camisa de seda dele e
corajosamente deslizou as mãos na parte traseira de sua calça para
alisar as nádegas tensas, apertando firmemente.
Ofegante, ele arrastou sua boca da dela e encostou testa contra
testa.
—Moça, eu preciso de você. Agora.
—Então me leve. Eu sou sua.
Os últimos resquícios de seu autocontrole estalaram, caindo
com a velocidade de um relâmpago, ele arrancou os pentes que
prendiam o seu cabelo, de modo que os fios de seda caíram longos e
soltos pelas suas costas. Emaranhando as mãos neles para mantê-la,
continuou com seus beijos aquecidos, devoradores, Maverk a
carregou por todo o quarto e a colocou em cima da cama. Rasgando
fora o restante de suas roupas, ele abaixou-se sobre ela.
Com a respiração esfarrapada, olhou para ela.
—Moça, eu não posso esperar. Eu preciso estar dentro de você
agora.
—Bom — ela sussurrou, arrastando as unhas levemente em
suas costas. —Porque eu queimo para sentir você dentro de mim.
Ele entrou em sua profundidade aquecida com um golpe suave,
sentindo a caverna quente ao seu redor e recebendo-o no fundo e
mais fundo ainda, em um lago de fogo, de lava derretida.
Dobrando os joelhos para levá-lo ainda mais, ela o acolheu em
casa, sentindo o pulsar do eixo rígido profundamente dentro de seu
corpo, cheio e pesado. Ela recebeu suas estocadas, fogo frio e calor
ardente combinado e em fusão, eram como faíscas impressionantes
onde o pênis deslizava contra a bainha, pele contra pele. Homem na
mulher.
O amor dos dois era quase agressivo, cada um lutando para
obter o máximo do outro que podia, sua paixão era furiosa, viva e
brilhante. Quando chegaram ao clímax, eles o fizeram junto,
segurando firme um ao outro, quando a paixão quebrou em um
milhão de cacos ardentes, espalhando em todas as direções e
girando, deixando-os flutuar de volta juntos.
Rolando para o lado, Maverk a puxou contra ele, segurando-a
perto, eles ficaram sem falar até que recuperaram o fôlego.
—Eu acho que Tenia foi cruel, fazendo você dormir em sua casa
e eu com Garret. Olha o que perdemos toda esta semana.
Reya riu.
—Eles dizem que a abstinência faz um homem ansioso.
—Eles quase me deixaram louco. Tudo o que queria fazer, era
levá-la a algum lugar privado e amar você!
—Eu pensei que você parecia desolado.
—Eu diria com fome.
—Isso também. Prefiro pensar que Dana fez uma boa escolta.
—Ela guardou você tão bem, só consegui roubar alguns beijos!
—Apalpar você quer dizer.
Ele riu.
—Eu consegui alguns toques, não foi?
Dedos suaves arrastaram sobre o seu estômago e seus
músculos apertaram em resposta.
—Oh, sim, você fez, bonitão.
Ele pegou a mão dela, entrelaçando os dedos juntos.
—Por que você me chama assim?
—Isso preocupa você?
—Pelo contrário — ele falou lentamente. —Como sou o único
que você chama por esse nome, gosto bastante dele.
—Não é viril o suficiente para você? — Ela arqueou uma
sobrancelha.
Agarrando-a pelos ombros, Maverk puxou-a para o seu peito.
—Pare de evitar a questão, moça, a não ser que, — sua
sobrancelha arqueou, perversamente. —você goste de um pouco de
castigo?
—Agora eu realmente estou medo.
Uma palma grande pousou suavemente em seu traseiro firme.
—Confesse.
—Eu não sei se devo. — Cruzando os braços em cima do seu
peito, ela descansou o queixo sobre eles e olhou para ele
provocadoramente. —Gosto muito da idéia de ser castigada por você.
—Feiticeira. — Ele sorriu para ela. —Eu duvido que você goste
se minhas tapas fossem mais duras.
—Você não faria isso.
—Você está certa. — Maverk suspirou. —Eu não faria, não
poderia machucá-la.
Sobriamente ela estudou-o, sua alegria desvanecendo.
—Quando eu o vi você pela primeira vez, dois anos e meio
atrás, fiquei incomodada, inicialmente por sua arrogância...
—Eu percebi isso. — Ele sorriu.
—Lá estava você, tão alto e forte, sem medo de mim e assim
abominavelmente bonito. Esta mandíbula forte, — seu dedo
escorregou numa carícia sobre ele —e essa massa selvagem de
longos cabelos loiros. — Delicadamente, ela torceu uma mecha de
cabelo dele em torno de seu dedo. —Você tem esses belos e risonhos
olhos castanhos brilhando para mim, convidando-me para
compartilhar a sua diversão e ousadia, desafiando-me.
—Acho que vou gostar disto depois de tudo. Continue.
—Não são apenas os seus olhos, bonitão. Com essa boca linda
você ri e diz coisas doces, coisas carinhosas.
Lentamente a sua cabeça abaixou até seus lábios.
—Esta sua boca, bonitão, é quente, sensual e tão adorável.
O beijo foi suave, doce e leve como a asa de uma borboleta,
escovando os lábios. Ela levantou os olhos e ele viu o fogo queimando
nas profundezas da geleira, o desejo piscando dentro deles. Ele
prendeu a respiração e o calor correu através dele, enchendo-o como
uma onda de chamas. Sua masculinidade endureceu, latejava e sua
mão no traseiro dela pressionou firme.
—Essa boca, bonitão. Num minuto tão suave e dando palavras
de conforto, depois beijando todas as minhas mágoas, e no próximo,
— lábios sedosos roçaram o canto da sua boca provocadoramente —
ela está me levando ao desejo tão profundo...
Ela não terminou, pois uma mão estava em concha no seu
traseiro e outra na sua cabeça segurando-a, quando ele tomou posse
quase selvagem de seus lábios. Bebendo na essência dela, levando
por diante a barragem do desejo.
Virando-a em suas costas, ele capturou e prendeu-lhe os pulsos
acima de sua cabeça.
Os olhos castanhos ardiam para ela.
—Eu vou mostrar-lhe o que mais minha boca pode fazer.
Seus gemidos encheram o quarto.

Despertou abruptamente, Reya olhou ao redor, de imediato,


alerta. Nada perturbava o silêncio do quarto. Não havia ameaça
dentro do quarto, em qualquer lugar. Então, o que a tinha
perturbado? Ela sentiu Maverk atrás ela, com um braço sobre sua
cintura, sua respiração profunda e uniforme.
Uma brisa agitou as cortinas na janela e sussurrou seu nome
suavemente. Reya.
Um arrepio serpenteava para baixo, em sua coluna e,
lentamente, ela sentou-se, cuidadosamente saindo da cama, sem
despertar o seu marido adormecido. Avançando sobre o revestimento
do piso, ela olhou pela janela.
A noite estava quieta e silenciosa, de onde esta brisa vinha? Um
tênue brilho vinha dos jardins, nas proximidades. O mesmo jardim
onde estava a estátua de seus pais.
—Reya. — O sussurro girava em volta dela. —Vem.
Ela estremeceu. Não é possível.
A voz de sua mãe, então de seu pai, mais forte, mais exigente.
—Reya.
Em poucos minutos saiu da casa, usando seu vestido
descartado. Ela fez o seu caminho para os jardins antes que sua
coragem pudesse falhar e com o coração batendo forte ela se
aproximou da estátua que se destacava no céu noturno.
Ela estava ficando louca, afinal? A última vez que ela ouviu as
vozes de seus pais... ela estremeceu.
—Você me disse para vir. — Ela olhou para os rostos de pedra,
a sorrir, expressões definidas. —Será que realmente ouvi? Mãe, você
falou comigo?
Silêncio foi a única resposta.
—Eu ouvi você me chamar, pai. — Cruzando os braços, ela
estremeceu. —Por favor, não me deixe estar enlouquecendo de novo.
Nenhum som ou movimento agitou a quietude do jardim. O ar
estava muito carregado com a fragrância das flores da noite, o céu
brilhante, com milhões de estrelas cintilantes.
—Por favor. — Sua voz quebrou. —Deus, por favor, não me
deixe enlouquecer, não agora.
A lua brilhava sobre a estátua, lançando uma sombra, clara e
escura preta e branca, sanidade e insanidade.
Caindo de joelhos, as lágrimas começaram a deslizar pelo seu
rosto.
—Não com o bebê. Não quando encontrei a felicidade com
Maverk. Eu não posso passar por cima da borda, não posso!
—Reya? — Mãos fecharam sobre os seus ombros e lá estava o
calor sólido em suas costas.
Vestido apenas com calças, Maverk ajoelhou-se preocupado,
atrás dela.
—Eu ouvi que chamavam meu nome. Eu acho que estou ficando
louca de novo!
—Não! — Braços fortes enrolaram em volta dela, puxando-a de
volta contra o seu peito nu. —Você não deve pensar isso!
Em busca de conforto, ela se apertou contra ele.
—No rio, naquele dia, chamaram-me no trovão, disseram-me
para ir. — Reya agarrou seu braço convulsivamente com uma mão, o
outro apertando mais na sua cintura magra. —Fiquei mais perto da
borda naquele dia. Está acontecendo de novo!
Ouvindo o pânico em sua voz, ele disse ferozmente:
— Não, você não está indo ao longo da borda. Eu estou com
você, meu amor. Basta segurar em mim. Segure-se firme.
—Eu não posso perdê-lo, Maverk, não posso!
—Você não vai — ele prometeu com veemência. —Eu estou
aqui, sempre.
Uma brisa suave começou, girando em torno deles de forma
calorosa, com o mais fraco dos sussurros nela.
—Reya.
Vozes em sua imaginação. Ela se encheu de pavor.
—Maverk!
—Silêncio, meu amor, está tudo bem, eu estou...
—Reya. — Mais alto mais insistente. Claro.
Ele congelou.
A brisa acariciou sua bochecha, mexendo no cabelo do homem,
segurando-a no seu abraço protetor.
—Reya. — Novamente. Exigente. Um tom mais profundo.
Tremores sacudiram-na.
—Eu ouvi.
Foi sua vez de congelar.
—O quê?
—Você não está ficando louca. Se assim for, então também
estou.
Ela levantou os olhos chocados ao ver a sobrancelha de Maverk
enrugar em confusão.
—Você ouve? As vozes?
—Sim. — Ele olhou em volta cautelosamente. —Alguém está
aqui. — Mantendo-a protetoramente no abrigo de seus braços, ele a
puxou sobre os seus pés.
—Reya. — A voz vinha da estátua e eles olharam para o brilho
suave que os rodeava.
—O que está acontecendo?
—Eu não sei moça — respondeu ele, inquieto.
—Reya. — A voz era suave, familiar para ela, nunca esquecida.
—Filha.
—Mãe? — ela sussurrou.
Era como se pedras de gelo escorressem na coluna de Maverk,
quando o brilho deixou a estátua e começou a deslizar em direção a
eles. Ele tentou afastar-se com Reya, mas não conseguia se mover.
—Eu não sei o que diabos está acontecendo — disse
laconicamente: —Mas não vou permitir que nada aconteça com você,
Reya.
O brilho tornou-se duas esferas, uma violeta e a outra verde
pálido. De repente, elas se fundiram, tornando-se uma, embora de
alguma forma mantivessem sua individualidade.
As cores eram familiares e com um sentimento de admiração,
ele percebeu que eram as cores dos olhos de Tenia e de Reya.
A luz chegou mais perto e, de repente, tomou conta do casal,
rodopiando sobre e através deles, trazendo consigo uma sensação de
paz e amor.
Palavras fluíam sobre eles, desarticuladas, mais fracas, então
mais fortes e mais fracas novamente, uma mistura das vozes de
Karana e de Vulya.
—Filha. Nenhuma culpa... não é necessário perdão. Você
encontrou o caminho que vai trilhar. Felicidade e paz, Reya. Amo
você sempre.
Ela se foi, tão de repente quanto havia aparecido, o brilho
desapareceu e a brisa acalmou.
Silenciosamente, Reya olhou sobre ela, em seguida, virou o
rosto até o marido confuso.
—Eles se foram.
—Sim. — Ele olhou à sua volta. —Eles se foram.
Olharam um para o outro, digerindo o que tinham visto e
ouvido.
—Meus pais estavam aqui. Eu não imaginei isso, não é?
—Não, moça. Vi e ouvi tudo. Você não imaginou.
—Sabe o que isso significa?
—Diga-me.
Seus olhos brilhavam com as lágrimas não derramadas.
—Eles me amam ainda.
—Eu nunca duvidei disso, moça.
—Eu duvidei. Naquele dia, no rio, eles não estavam com raiva
de mim, eles não estavam me descartando. Avisaram-me da
presença do bebê, eles fizeram-me ir até Beulah. Maverk, meus pais
estavam lá naquele dia, para salvar a minha vida!
Ele sorriu para ela.
—Sim, eles estavam. Moça, não sei muito sobre fantasmas e
tal. Eu acredito em Deus e vida após a morte, minha fé é simples. O
que aconteceu aqui agora, — ele olhou ao redor — não sei o que foi.
Tudo que sei é que, finalmente, você pode estar em paz e isso é tudo
que importa.
Ternamente ela tocou seu rosto.
—Como eu pude ser tão abençoada para encontrar um homem
como você?
—Somos almas gêmeas, como Beulah disse. — Ele a beijou
delicadamente. —Venha, vamos para casa.
Olhando mais uma vez para a estátua de seus pais, seu olhar
seguiu a direção do dedo indicador de Vulya, pela primeira vez, ela
percebeu que ele apontava para a casa que dividia com seu marido.
Calor varreu através dela e ela olhou para Maverk.
—Sim, vamos para casa.
Ele abraçou-a, um braço em volta da cintura delgada, com a
cabeça loira curvada, protetora, sobre seus cabelos vermelho-ouro.
A guerreira mercenária tinha encontrado refúgio com o
comerciante, grande e suave. Sua alma estava brilhando outra vez,
as trevas foram banidas para sempre.
Finalmente, Reya tinha voltado para casa.
Sobre a Autora
Nasci em Victoria, Austrália, minha infância foi passada em uma
variedade de lugares, tanto nas cidades como no interior.
Agora vivo na Austrália Ocidental e trabalho como enfermeira.
Um amor pelos animais fez envolver-me com o seu bem estar
e, certamente, explica os gatos em minha cama e a garrafa de água
quente!
A leitura tem sido sempre a minha fuga, meu sonho de
escrever.
Horror, mitos, lendas, fantasias e história, não há limites para
as maravilhas a serem encontradas. E o romance?
Bem, adiciona o tempero de esperança e felicidade para
sempre.

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