1.1. Massa e tamanho dos átomos_2021 - Cópia
1.1. Massa e tamanho dos átomos_2021 - Cópia
1.1. Massa e tamanho dos átomos_2021 - Cópia
Ponto de partida para todo o estudo que iremos fazer da Química, impõe-se a revisão de alguns
conhecimentos básicos relativos à constituição do átomo e à noção de elemento químico.
O átomo é a partícula elementar constituinte das substâncias e outros materiais com que iremos lidar.
As suas dimensões são muito pequenas – o valor do raio da maioria dos átomos situa-se entre os 100 e os
200 pm (1 a 2×10-10 m) e a sua massa pode variar entre 2 e 500×10 -27 kg – mas, mesmo assim, os átomos
são constituídos por partículas ainda mais pequenas, designadas partículas subatómicas.
Temos assim três tipos de partículas – protões, neutrões e eletrões – que se distribuem do seguinte
modo: numa região central de dimensões muito reduzidas (o núcleo) encontram-se os protões e os
neutrões, enquanto os eletrões se deslocam na região exterior ao núcleo, a chamada nuvem eletrónica.
Apresentam-se a seguir algumas das caraterísticas destas partículas:
Como se pode ver, o eletrão é muito mais leve que os protões e os neutrões e estes têm massas
praticamente iguais. Pode-se igualmente inferir destes números que quase toda a massa do átomo se
encontra concentrada no núcleo, pois é nele que se localizam os protões e os neutrões. Um outro aspecto
importante a ter em conta é o facto de o núcleo possuir carga positiva e a nuvem eletrónica, carga negativa.
1
Existe na Natureza (ou em laboratório, sintetizados pelo Homem) uma enorme variedade de átomos,
que diferem uns dos outros nas suas caraterísticas – tamanho, massa, carga elétrica, etc. – sendo a causa
dessas diferenças a sua desigual composição, em termos das partículas elementares. Olhando apenas à
composição dos núcleos, esta pode ir desde um mínimo de 1 protão e 0 neutrões até a um máximo
conhecido de 118 protões e 176 neutrões.
Impôs-se, por isso, dar alguma ordem a esta enorme diversidade e encontrar maneiras de agrupar e
nomear os átomos, pondo em evidência as suas particularidades comuns. Constatou-se que a partícula
subatómica que determina a generalidade das propriedades químicas dos átomos – o modo como estes se
ligam a outros átomos, o comportamento em reações químicas, etc. – era o protão e que átomos com o
mesmo número de protões eram por isso muito semelhantes no seu comportamento químico, mesmo
quando diferiam no número de neutrões e, em menor grau, no de eletrões.
Surgiu assim o conceito de elemento químico: o número de protões existentes num átomo (também
chamado número atómico, Z) define a que elemento químico ele pertence, elemento esse caracterizado
não apenas pelo número atómico, mas estando a ele associados um nome e um símbolo químico,
construído a partir desse nome. Há portanto, mais de uma centena de elementos químicos diferentes, cujo
número atómico presentemente vai desde 1 (hidrogénio, H) até 118 (oganéssio, Og). Note-se que os
elementos de números atómicos 43 (tecnécio, Tc), 61 (promécio, Pm), assim como todos os que se seguem
ao número atómico 92, foram sintetizados pelo Homem, não se encontrando na Natureza.
Um outro valor inteiro, designado número de massa (A), é igual ao número total de partículas
existentes no núcleo atómico, isto é, à soma do número de protões com o número de neutrões. Por vezes,
aliás, dá-se o nome de nucleões indiferentemente a protões e a neutrões e assim o número de massa é igual
ao número de nucleões. Compreende-se a designação de número de massa, dado que praticamente são
apenas os protões e os neutrões que contribuem para a massa total de qualquer átomo.
Tendo em conta a definição de elemento químico, poderá haver átomos pertencentes ao mesmo
elemento, mas com número de massa diferente, pois embora tenham o mesmo número de protões, diferem
no número de neutrões. Quanto tal sucede, diz-se que esses átomos pertencem a isótopos diferentes, sendo
cada isótopo caraterizado por uma determinada composição do núcleo atómico, ou seja, um determinado
número de protões (que indica a que elemento esse isótopo pertence) e um determinado número de
neutrões, que identifica o isótopo. Vejamos alguns casos:
Composição Composição
Z Elemento A Isótopo Z Elemento A Isótopo
do núcleo do núcleo
1p 0n 1 hidrogénio 1 8p 8n 16 oxigénio 16
1p 1n 2 hidrogénio 2 8p 9n 17 oxigénio 17
1 hidrogénio 8 oxigénio
1p 2n 3 hidrogénio 3 8p 10n 18 oxigénio 18
Não se pense contudo que, do mesmo modo que o hidrogénio e o oxigénio, todos os elementos
químicos possuem três isótopos naturais. O número de isótopos naturais é extremamente variado: de um
lado, temos 16 elementos com um único isótopo natural (é o caso do flúor, do sódio, do alumínio, do
fósforo e do ouro), ao passo que, no extremo oposto, o elemento estanho tem um total de dez isótopos
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naturais. (Ver a Tabela Periódica dos Isótopos, elaborada em 2013 pela IUPAC, União Internacional da
Química Pura e Aplicada)
Refira-se também que, para além dos isótopos naturais, há um número ainda muito maior de isótopos
artificiais, produzidos pelo Homem, a tal ponto que existem elementos, os elementos artificialmente
produzidos pelo Homem, atrás mencionados, que obviamente não têm qualquer isótopo natural.
Uma última questão tem a ver com o número de eletrões. Dada a sua localização, é relativamente
simples a um átomo ceder ou ganhar eletrões a átomos vizinhos, circunstância que altera a carga eléctrica
do átomo, uma vez que os eletrões possuem carga elétrica negativa. Tendo também em conta que são
simétricas as cargas do protão e do eletrão, um átomo é neutro (carga nula), quando é igual o número de
protões e de eletrões que o compõem.
Quando existe uma desigualdade no número de protões e de eletrões, temos um átomo eletricamente
carregado ou ião, que se designa catião ou ião positivo, quando o número de protões excede o número de
eletrões; e anião ou ião negativo, quando o número de eletrões excede o número de protões. Há quem
reserve a designação de átomo apenas para os átomos neutros, não considerando os iões como
verdadeiros átomos.
Para calcular a carga elétrica (q) dos átomos, faz-se simplesmente a diferença entre o número de
protões e o número de eletrões:
q = nº de protões – nº de eletrões
A q
X
Z
Segundo esta notação, por exemplo, um ião dipositivo (q = +2) de cálcio 42, atendendo a que o
elemento cálcio tem símbolo químico Ca e número atómico 20, representar-se-ia como
42 2+
Ca
20
NOTA
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Se a carga elétrica for +1 ou -1, escreve-se simplesmente + ou -; nos outros casos, o sinal escreve-se sempre à direita
do algarismo (por exemplo, 2+, 3-, etc.). Finalmente, se se tratar de um átomo (neutro), não se escreve nada no lugar
da carga elétrica.
Como se pôde constatar na comparação das propriedades das partículas subatómicas, o facto de se
estudarem partículas de dimensões muito pequenas obriga à utilização da notação científica, para evitar a
escrita de números formados por um número elevado de algarismos, nomeadamente de “zeros” à direita da
vírgula.
Outra forma de escrever valores muito grandes ou muito pequenos de grandezas físico-químicas é
recorrendo à utilização de prefixos numéricos correspondentes a múltiplos e submúltiplos das unidades,
como se pode ver na tabela seguinte:
Múltiplos Submúltiplos
Nome Símbolo Potência de 10 Nome Símbolo Potência de 10
yotta Y 1024 yocto y 10-24
zetta Z 1021 zepto z 10-21
exa E 1018 atto a 10-18
peta P 1015 femto f 10-15
tera T 1012 pico p 10-12
giga G 109 nano n 10-9
mega M 106 micro 10-6
quilo k 103 mili m 10-3
hecto h 102 centi c 10-2
deca da 101 deci d 10-1
ALGUNS EXEMPLOS:
Distância média Terra-Sol 149 600 000 km = 149 600 000 000 m = 149,6 Gm
Massa atómica
Como o próprio nome diz, trata-se da massa do átomo. Há, porém, dois significados distintos: tanto se
pode referir à massa de um determinado isótopo de um elemento qualquer e aí designa-se por vezes massa
isotópica, como ao valor médio da massa dos átomos de um certo elemento e então designa-se massa
atómica do elemento.
Mas, antes de vermos como se determina cada uma destas massas atómicas, vejamos primeiro em que
unidade vem expressa. Como os átomos são partículas muito pequenas, não é muito prático exprimir as
suas massas em quilogramas ou mesmo em gramas. Opta-se usualmente por utilizar como unidade de
medida de massas atómicas a unidade de massa atómica (u) cujo valor é (números redondos)1:
1 u = 1,66 × 10-27 kg
Frequentemente, em vez de massa atómica, usa-se a massa atómica relativa (Ar), que apenas difere
da primeira na medida em que a sua unidade não vem explícita.
Massa isotópica
Como cada isótopo se carateriza por um número fixo de protões e de neutrões e atendendo a que os
eletrões são extremamente leves (por isso, o seu número não irá praticamente influir na massa do átomo),
podemos esperar que átomos pertencentes ao mesmo isótopo tenham sensivelmente a mesma massa. Essa
massa atómica, designada massa isotópica, é determinada experimentalmente por espetrometria de massa.
Vejamos alguns exemplos:
NOTA: Não é surpreendente que arredondando às unidades o valor da massa atómica se obtenha o valor do número
de massa do isótopo, pois cada protão ou neutrão pesa praticamente 1 u.
1
O valor mais preciso que se conhece atualmente (2018) é 1,66053906660 × 10-27 kg.
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Contrariamente à massa isotópica, que representa a massa de um isótopo, a massa atómica de um
elemento (que é o valor que surge na TP na casa de cada elemento) representa o valor médio 2 das massas
de todos os isótopos naturais desse elemento. Porém, como há isótopos mais abundantes e outros mais
raros, para que o valor seja verdadeiramente representativo é necessário ter em atenção esse facto. Assim,
em vez de se fazer uma média aritmética das massas dos vários isótopos do elemento, faz-se uma média
pesada, de modo a que os isótopos mais abundantes saiam mais valorizados. Vejamos um exemplo:
E, de facto, 32,066 é o valor adotado para a massa atómica (relativa) do elemento enxofre.
No caso particular de elementos com um único isótopo natural, como é o caso do Sódio, do Alumínio
ou do Fósforo, o cálculo anterior é totalmente desnecessário, pois a massa atómica do elemento coincide
exatamente com a massa atómica do seu único isótopo natural.
Massa molecular
Enquanto o conceito de massa atómica se refere a átomos individuais, sejam eles de um isótopo ou de
um elemento, o de massa molecular (MM ou Mr)3 refere-se a substâncias em concreto, com as suas
fórmulas químicas. O cálculo da massa molecular de uma dada substância exige apenas o conhecimento da
fórmula química da substância e das massas atómicas dos seus elementos constituintes.
ou
No caso de substâncias constituídas por moléculas, como é o caso do naftaleno, o valor da massa
molecular representa a massa de cada uma das suas moléculas - em média, dado que dependendo dos
isótopos em questão, as massas também poderão ser um tanto diferentes.
Tal quer dizer que uma mole de átomos são átomos, que uma mole de moléculas são
moléculas, que uma mole de eletrões são eletrões e assim por diante …
Que tem este número de tão especial e porquê e não outro valor qualquer?
A razão é a seguinte: esse número funciona como uma espécie de fator de conversão entre as massas
atómicas e moleculares expressas em u e as massas das substâncias que pesamos numa balança,
normalmente expressas em gramas. Vejamos como.
Vimos há pouco que a massa molecular do naftaleno era 128,17 u. Pois bem, se pretendermos usar uma
quantidade de naftaleno que contenha exatamente moléculas de C10H8 bastará pesarmos numa balança
128,17 g de naftaleno. Por outras palavras, uma mole de naftaleno pesa 128,17 g e contém moléculas.
O exemplo anterior poderia ser estendido a qualquer outra substância e o resultado seria
absolutamente idêntico.
Uma mole de qualquer substância é uma quantidade que contém o número de Avogadro de moléculas
(ou de outras unidades estruturais, se a substância não for molecular) da substância e a massa da mole (em
gramas) é igual à massa molecular da substância, esta última expressa em unidades de massa atómica.
Relacionado com o conceito de mole, surge o conceito de massa molar de uma substância (M), que é a
massa de uma mole dessa substância. Em consequência do que atrás foi dito acerca do que é uma mole, o
valor da massa molar é numericamente igual ao da massa molecular, apenas diferindo na unidade utilizada,
que é agora g/mol.
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Tal como sucedia com outras constantes anteriormente referidas, o valor indicado é apenas aproximado. Na atualidade (2018),
o valor adotado é 6,02214076 x 1023 mol-1.
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Frequentemente, em vez de quantidade de substância, ainda se usa a expressão “número de moles”, cuja utilização é contudo
desaconselhada. Outro sinónimo utilizado é quantidade de matéria.
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Pode ser facilmente relacionada com a massa molar, atrás referida, através da expressão
m
n=
M
Pode ainda ser relacionada com o número de moléculas ou de outras unidades estruturais (caso de
átomos), através desta outra expressão:
N=n× N A
Para se obter a composição quantitativa de uma mistura (por exemplo, o ar) é necessário calcular a
proporção em que cada um dos componentes da mistura entra na constituição desta. Essa proporção pode
ser expressa de diversas formas: em termos de quantidade de substância (ou seja, moles), em termos de
massa ou mesmo em termos de volume.
As duas primeiras concepções são as mais comuns e conduzem a duas grandezas físico-químicas
distintas, a fracção molar e a fracção mássica, cuja definição adiante se apresenta:
nA
Fração molar do componente A: x ( A )=
ntotal
mA
Fração mássica do componente A: w ( A )=
mtotal
Quer a fração molar, quer a fração mássica, são grandezas adimensionais, sendo necessariamente igual
a 1 a soma das frações (molares ou mássicas) de todos os componentes de qualquer mistura. É habitual que
os valores de ambas sejam apresentados sob a forma de percentagem.
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Ana Paula Silva Correia e José Rodrigues Ribeiro, Outubro 2021