M2 - Aplicações Práticas da Psicofarmacologia Hospitalar
M2 - Aplicações Práticas da Psicofarmacologia Hospitalar
M2 - Aplicações Práticas da Psicofarmacologia Hospitalar
PSICOFARMACOLOGIA
HOSPITALAR
Lívia Nádia Albuquerque dos Santos
Mestranda em Psicologia (UNIFOR)
Psicóloga (CRP: 11/17914) (UFC)
Esp em Cancerologia e em Psicologia Hospitalar
Responsável pelo @nomundopsi
O remédio é um mundo, mas o que desse mundo o psicólogo hospitalar precisa conhecer? Tudo? Não,
essa seria uma tarefa impraticável e sem sentido.
Basta que ele tenha noções gerais de farmacologia clínica, domine o vocabulário básico dessa
disciplina, saiba quais os principais grupos de remédios, entenda a questão dos nomes dos remédios.
CONCEITOS IMPORTANTES
INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA
É um termo que define a conseqüência da administração concomitante de duas ou mais
susbtâncias químicas no organismo do paciente. Quando as duas substâncias se encontram
podem interagir de forma a potencializar ou anular o efeito uma da outra, e em alguns casos o
efeito pode ser até mesmo a morte. Por isso é um aspecto que recebe muita atenção por parte
dos médicos.
INDICAÇÃO
É o conjunto de doenças ou de sintomas para os quais o remédio é geralmente recomendado.
Já a CONTRA-INDICAÇÃO refere-se às situações em que um remédio não deve ser usado.
POSOLOGIA
Refere-se às doses em que o remédio pode ser oferecido. Em alguns casos, como no dos
antibióticos, se ela não for cumprida, por exemplo, tomar um comprimido de quatro em quatro
horas, o medicamento perde seu efeito terapêutico.
ADERÊNCIA
É o termo usado para definir o comportamento do paciente de seguir a prescrição médica. Diz-se que
um paciente tem baixa aderência quando ele não toma o remédio prescrito ou o faz de maneira
diferente do que foi recomendado.
REMÉDIO CONTROLADO
Designa as substâncias que, devido ao seu potencial de provocar graves efeitos colaterais, como
dependência química, sintomas neurológicos, etc., tem seu uso controlado por órgãos governamentais
por meio do uso de receitas especiais que ficam retidas na farmácia. A maior parte dos remédios
psiquiátrico está incluída nesse grupo.
A vida psíquica vem segundo seu curso, e então alguns eventos mentais podem acontecer, por
exemplo, depressão, e neste caso vamos usar um remédio "contra a depressão", ou, dito em outras
palavras, um antidepressivo.
Mas, se ao contrário de se deprimir, a vida se tornar agitada, eufórica maníaca, é hora então de
usar os antimaníacos que na prática são conhecidos pelo nome de "estabilizadores de humor".
Pode acontecer de a vida encher-se de ansiedade, com muitos medos, agitação, estresse, etc.
Nesse caso, vamos nos valer de um remédio anti-ansiedade, muito apropriadamente denominado
de ansiolítico (*lítico" vem de "*lise" que significa "quebra", quebra da ansiedade). Esses são os
famosos calmantes e incluem também aqueles remédios usados contra a insônia, os hipnóticos.
Mas se o que advém for uma verdadeira desintegra-ção da vida psíquica, com alucinação,
delírios, e comportamentos bizarros, ou seja a psicose, o remédio da vez é o antipsicóticos ou
neurolépticos.
Por último, se a vida torna-se astênica, fraca, com pouca energia, haveremos de recorrer aos
remédios denominados de psicoestimulantes.
EFEITOS OBSERVADOS NOS
PACIENTES HOSPITALIZADOS
Os psicotrópicos, medicamentos que afetam a função mental, podem ter vários impactos nos
pacientes hospitalizados, dependendo da classe do medicamento, da dose, da duração do
tratamento e das características individuais do paciente. Aqui estão alguns dos principais
impactos que os psicotrópicos podem ter:
1. Alívio dos sintomas: Muitos psicotrópicos são prescritos para aliviar sintomas psicológicos,
como ansiedade, depressão, psicose ou mania. O impacto mais imediato e visível é a redução
ou controle desses sintomas, melhorando o bem-estar do paciente.
2. Estabilização do humor: Medicamentos estabilizadores de humor são frequentemente usados
para tratar transtornos como o transtorno bipolar. Eles ajudam a prevenir episódios de mania
ou depressão, reduzindo a flutuação de humor e promovendo a estabilidade emocional.
3.Sedação ou sedação excessiva: Alguns psicotrópicos, como os benzodiazepínicos e certos
antipsicóticos, podem causar sedação como efeito colateral. Em alguns casos, isso pode ser desejável,
especialmente para pacientes com insônia ou agitação, mas em outros casos, pode interferir na
capacidade do paciente de participar das atividades diárias ou interagir com o ambiente hospitalar.
4. Confusão mental: O paciente pode apresentar um comportamento algo confuso, com discurso
ilógico e pouco coeso como efeito colateral da medicação.
5. Efeitos colaterais adversos: Todos os psicotrópicos têm potencial para efeitos colaterais, que
podem variar de leves a graves. Alguns exemplos incluem ganho de peso, tremores, tonturas,
problemas gastrointestinais, disfunção sexual e risco aumentado de problemas cardiovasculares
ou metabólicos. O impacto desses efeitos colaterais pode afetar a qualidade de vida do paciente
e sua adesão ao tratamento.
6. Risco de dependência ou abuso: Alguns psicotrópicos, como os benzodiazepínicos e os
opioides, têm potencial para causar dependência ou abuso quando usados por longos períodos ou
em doses elevadas. O uso inadequado desses medicamentos pode levar a problemas de saúde
mental e física adicionais, incluindo síndrome de abstinência e overdose.
7. Interações medicamentosas: Os psicotrópicos podem interagir com outros medicamentos que o
paciente esteja tomando, aumentando ou diminuindo seus efeitos ou causando efeitos colaterais
inesperados. É crucial monitorar essas interações e ajustar as doses conforme necessário para
garantir a segurança do paciente.
Um aspecto crítico dos antidepressivos são seus efeitos sexuais: diminuição do desejo sexual e
maior demora em atingir o orgasmo. Quando os pacientes não estão informados sobre isso,
tendem a interpretar essas alterações exclusivamente em sentido psicológico. O psicólogo deve
estar atendo a isso tanto para esclarecer o paciente como para inclui-lo em suas análises do
psiquismo do paciente.
-Muitos pacientes temem o uso de antidepressivos pensando que eles causam dependência física.
É importante esclarecer que isso não acontece.
Os calmantes, remédios para ansiedade e insônia,
apresentam alto potencial para causar dependência, fato
esse sinalizado pela faixa preta presente nas embalagens
de tais medicamentos, e por isso seu uso deve ser restrito
a, no máximo, poucas semanas.
-Infelizmente não é isso que ocorre na prática, e hoje
existe um grande número de pacientes em uso crônico (ás
vezes durante anos) de benzodiazepinicos (o calmante
faixa-preta).
No entanto, algumas classes de psicotrópicos são comumente prescritas para uma variedade de
transtornos psicológicos e condições médicas. Aqui estão algumas das classes de psicotrópicos
mais prescritas em hospitais:
4. Antibióticos: Embora seja menos comum, alguns antibióticos podem causar efeitos psicológicos
adversos em alguns pacientes. Por exemplo, a ciprofloxacina, um antibiótico amplamente utilizado,
foi associada a sintomas de ansiedade e confusão mental em alguns casos.
Doenças cardíacas: Condições cardíacas como doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca
congestiva e arritmias podem causar ansiedade, depressão e estresse em pacientes devido à
gravidade da condição, restrições dietéticas e de estilo de vida, necessidade de procedimentos
invasivos e preocupações com a mortalidade.
Doenças crônicas: Condições médicas crônicas, como diabetes, doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC), artrite reumatoide, doenças renais crônicas e doença de Crohn, podem afetar
significativamente a qualidade de vida do paciente e desencadear sintomas psicológicos, como
depressão, ansiedade e estresse crônico.
Doenças infecciosas graves: Infecções graves, como sepse, pneumonia grave, meningite e infecções por
HIV/AIDS, podem causar sintomas psicológicos significativos devido à gravidade da condição,
tratamentos invasivos, medo de morte e estigma social associado a algumas doenças infecciosas.
Dor crônica: Pacientes com dor crônica, seja devido a condições médicas subjacentes, como fibromialgia
e neuropatia periférica, ou devido a lesões traumáticas, podem experimentar depressão, ansiedade,
insônia e redução da qualidade de vida devido à dor persistente e às limitações funcionais associadas.
OS PRINCIPAIS DIAGNÓSTICOS
PSIQUIÁTRICOS EM PACIENTES
INTERNADOS
A. Reações de ajustamento ao adoecer e à internação com sintomatologia
predominantemente depressiva,
B. Estados confusionais agudos associados a quadros cérebro-orgânicos decorrentes de:
• quadros infecciosos (encefalites, meningites, toxoplasmose cerebral, abscessos
cerebrais, AIDS, septicemia, etc.)
• distúrbios metabólicos (diabetes, insuficiência renal, insuficiência hepática, etc.)
• intoxicações exógenas (acidentes, uso de drogas, tentativas de suicídio)
• alcoolismo (síndrome de abstinência, Wernicke-KorsaKoff)
• vasculopatias cerebrais (hipertensão, diabetes, arterioesclerose, vasculite por lupus,etc)
A morbidade psiquiátrica é maior em enfermarias de serviços de emergência
e em unidades que lidam com pacientes em estado crítico. Transtornos mentais
orgânicos são mais freqüentes em idosos, quando comparados a pacientes mais jovens;
estes últimos tendem a apresentar transtornos afetivos. Dentre os transtornos afetivos, as
reações de ajustamento constituem o grupo mais freqüente
É IMPORTANTE QUE OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE RECONHEÇAM E ABORDEM AS
NECESSIDADES PSICOLÓGICAS DESSES PACIENTES PARA GARANTIR UM TRATAMENTO
INTEGRAL E HOLÍSTICO. ISSO PODE INCLUIR AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA, SUPORTE
EMOCIONAL, ENCAMINHAMENTO PARA SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL E ESTRATÉGIAS
DE ENFRENTAMENTO EFICAZES.
QUAIS FATORES DEVEMOS AVALIAR
NO PACIENTE HOSPITALIZADO?
1. História Médica e Psiquiátrica: O psicólogo pode revisar a história médica e psiquiátrica do
paciente para entender as condições médicas e psicológicas subjacentes, bem como os
tratamentos anteriores que foram tentados, incluindo medicações psicotrópicas.
2. Adesão ao Tratamento: O psicólogo pode avaliar a adesão do paciente ao tratamento
psicofarmacológico, perguntando sobre a frequência e a consistência com que o paciente
toma os medicamentos prescritos.
3. Efeitos Colaterais: O psicólogo pode investigar se o paciente está experimentando quaisquer
efeitos colaterais dos medicamentos psicotrópicos, como alterações de humor, sintomas físicos
adversos ou problemas cognitivos.
4. Eficácia do Tratamento: O psicólogo pode explorar com o paciente se ele percebeu alguma
melhora em seus sintomas desde o início do tratamento psicofarmacológico e se há áreas
específicas que ainda estão causando dificuldades.
1. Atitudes e Crenças em Relação aos Medicamentos: O psicólogo pode discutir com o
paciente suas atitudes e crenças em relação aos medicamentos prescritos, incluindo quaisquer
preocupações sobre dependência, medo de efeitos colaterais ou expectativas em relação à
eficácia do tratamento.
2. Estigma em Relação à Medicação: O psicólogo pode explorar se o paciente experimenta
algum estigma ou autoestigma em relação ao uso de medicamentos psicotrópicos e ajudar a
abordar quaisquer preocupações ou constrangimentos associados.
3. Comunicação com a Equipe de Saúde: O psicólogo pode colaborar com outros profissionais
de saúde, como médicos prescritores e enfermeiros, para garantir uma comunicação eficaz
sobre o progresso do paciente, quaisquer preocupações em relação à medicação e a
necessidade de ajustes no tratamento.
4. Educação do Paciente: O psicólogo pode fornecer educação ao paciente sobre o papel dos
medicamentos psicotrópicos no tratamento de transtornos psicológicos, explicando os
benefícios esperados, os possíveis efeitos colaterais e estratégias para maximizar a adesão ao
tratamento.
É IMPORTANTE QUE HAJA:
Colaboração interprofissional:
Papel do psicólogo na equipe multidisciplinar.
Comunicação eficaz com médicos prescritores.
Avaliação de riscos e benefícios:
Discussão de casos clínicos e tomada de decisão compartilhada.
Educação do paciente:
Informação sobre medicação, adesão ao tratamento e auto-monitoramento
CASO DE “DELIRIUM” NO HOSPITAL
EM QUE OCASIÕES FOI IMPORTANTE
SABER SOBRE PSICOTRÓPICOS?
Quando o paciente já estava há dias com insônia persistente e sem melhora clínica;
Quando a ansiedade não deixava a paciente fazer um exame importante;
Quando alguns efeitos comportamentais eram subjacentes a um psicotrópico;
Quando iniciou um tratamento que não poderia coincidir com outras medicações;
Quando foi perceptível a necessidade de solicitar uma interconsulta psiquiátrica;
REFERÊNCIAS
Ferrazza, D. D. A., Luzio, C. A., Rocha, L. C. D., & Sanches, R. R. (2010). A banalização da prescrição de psicofármacos
em um ambulatório de saúde mental. Paidéia (Ribeirão Preto), 20, 381-390.
Nogueira-Martins, L. A., & NJ, B. (1998). Interconsulta psiquiátrica no Brasil: desenvolvimentos recentes. Rev ABP-
APAL, 20(3), 105-11.
Simonetti, A. (2004). Manual de psicologia hospitalar. Casa do psicólogo.