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Criacionismo científico

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 Nota: Para a ideia de que a Terra tem sido afetada no passado por eventos violentos, veja Catastrofismo.

Criacionismo científico [1] é um ramo do criacionismo que tenta fornecer apoio científico à narrativa da criação e refutar ou reinterpretar os fatos, teorias e paradigmas científicos relativos à história da Terra, cosmologia e evolução biológica.[2][3]

O consenso esmagador da comunidade científica afirma que o criacionismo científico é uma visão científica, e que não se qualifica como religião ou crença, uma vez usa de apoio empírico, e fornece hipóteses e descreve a história natural com base em causas sobrenaturais possiveis de serem testadas cientificamente.[4][5] O criacionismo científico é uma tentativa de transformar os fatos científicos, apenas com base em evidências. [6][7]

O criacionismo científico teve início na década de 1960 a partir das tentativas de fundamentalistas cristãos norte-americanos em provar a inerrância bíblica e invalidar as evidências da evolução.[8] Desde então, ganhou um número expressivo de seguidores nos Estados Unidos e com vários grupos de adeptos em todo o mundo.[9] As principais ideias do criacionismo científico são: a crença na "criação" ex: nihilo (a partir do nada); a crença de que a Terra foi criada nos últimos seis a dez mil anos; a crença de que a humanidade e a restante vida na Terra foram criadas como entidades baraminológicas distintas e imutáveis; e a ideia de que os fósseis encontrados nos estratos geológicos foram aí depositados durante um dilúvio que cobriu a Terra por completo.[10] Consequentemente, o criacionismo científico disputa também as teorias geológicas e astrofísica comuns sobre a idade e origem da Terra e do Universo, que os criacionistas acreditam serem irreconciliáveis com o relato do "Livro do Géneses".[8] Os proponentes do criacionismo geralmente referem-se à teoria da Evolução como darwinismo ou "evolução darwiniana".

As obras de criacionismo científico que surgiram na década de 1960 focavam-se em conceitos derivados da interpretação literal da Bíblia e eram de natureza abertamente religiosa. Um dos mais notáveis associava o relato do dilúvio do "Livro do Génesis" aos registos fósseis no contexto de um sistema denominado geologia diluviana. Até à década de 1970, pouca ou nenhuma atenção era dada a estas obras fora das escolas e congregações de cristãos evangélicos fundamentalistas. No entanto, nesta mesma década, os seus seguidores começaram a contestar o ensino da Teoria da Evolução nas escolas públicas dos Estados Unidos, chamando a atenção da opinião pública e da comunidade científica. Muitas direções escolares e decisores estavam a ser pressionadas para incluir nos programas escolares de ciência o ensino do criacionismo científico a par da evolução.[11] Ao mesmo tempo, os textos de criacionismo científico foram revistos de forma a eliminar as referências bíblicas e teológicas. Algumas versões menos explícitas e sectárias do criacionismo chegaram a ser incluídas em escolas públicas no Arcansas, Luisiana e em outras regiões dos Estados Unidos.[11][12]

Em 1982, a sentença do tribunal no caso McLean contra o Estado do Arcansas deliberou que o criacionismo científico não é capaz de cumprir os requisitos essenciais da ciência, e que a sua principal intenção é divulgar uma determinada perspetiva religiosa.[13] O ensino do criacionismo científico nas escolas públicas dos Estados Unidos terminou definitivamente em 1987, após uma decisão do Supremo Tribunal.[8] O tribunal afirmou que o ensino do criacionismo científico a par da evolução era inconstitucional, uma vez que o seu principal objetivo é promover uma crença religiosa.[13] Em resposta a esta sentença, os rascunhos do livro escolar sobre o criacionismo científico "Of Pandas and People" foram alterados, de modo a substituir todas as referências ao criacionismo pelo design inteligente antes da sua publicação em 1989. Esta versão foi promovida pelos adeptos do movimento do design inteligente, até que, em 2005, o ensino de design inteligente foi novamente declarado inconstitucional por um tribunal federal no caso Kitzmiller v. Dover Area School District.

Crenças e atividades

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Base religiosa

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O criacionismo científico baseia-se fundamentalmente nos capítulos 1 a 11 do Livro do Génesis. Estes capítulos descrevem a forma como, durante seis dias, Deus invoca a existência do mundo através do poder da palavra, invoca a existência de animais e plantas e modela o primeiro homem a partir de barro e a primeira mulher a partir das suas costelas. Um dilúvio à escala mundial destrói toda a vida exceto Noé, a sua família e representantes dos animais. Noé torna-se assim o ancestral das 70 nações do mundo, as quais vivem em harmonia e falam uma única língua até ao incidente na Torre de Babel, em que Deus os dispersa e lhe dá diferentes línguas. O criacionismo científico raramente vai para além das histórias bíblicas na sua análise, e tenta explicar a História e a Ciência no contexto da cronologia bíblica, a qual determina que o ato da criação ocorreu há seis mil anos.

Afiliações religiosas contemporâneas

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A maior parte dos proponentes do criacionismo científico têm crenças cristãs fundamentalistas na interpretação literal da Bíblia e na inerrância bíblica, em oposição à alta crítica apoiada pelo liberalismo teológico. No entanto, existem também exemplos de criacionismo científico islâmico e judeu de acordo com os respetivos relatos da criação nas suas doutrinas religiosas.[14][15]

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem um historial de apoio ao criacionismo científico, o qual tem origem em George McCready Price, um fervoroso adventista que criou diversas perspetivas sobre geologia diluviana[16] que estiveram na base do criacionismo científico.[17] A sua obra foi continuada pelo Geoscience Research Institute, um instituto oficial da Igreja Adventista situado no campus da Universidade Loma Linda, na Califórnia.[18][19]

O criacionismo científico é amplamente rejeitado pela Igreja Anglicana e pela Igreja Católica. Embora a Pontifícia Universidade Gregoriana tenha discutido o design inteligente, fê-lo sob uma perspetiva de fenómeno cultural e sem os elementos científicos. O site oficial da Igreja Anglicana cita a obra de assistência de Charles Darwin na sua paróquia local.[20]

Perspetiva sobre a ciência

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O criacionismo científico rejeita a teoria da evolução a partir de uma origem comum de todos os organismos terrestres.[21] Em vez disso, alega que o todo o campo da biologia evolutiva é pseudocientífico[22] ou até mesmo uma religião.[23] Os criacionistas propõem a existência de um sistema denominado baraminologia, o qual considera que todo o mundo vivo descende de diversos tipos únicos de "baramins".[24]

O criacionismo científico integra o conceito de catastrofismo, de modo a relacionar o atual relevo e distribuição de fósseis com a interpretação da Bíblia. Propõe que a atual geologia é o resultado de sucessivos eventos catastróficos, como uma cheia à escala mundial que deu origem à idade do gelo.[25] Rejeita também um dos princípios fundamentais da geologia e ciência moderna, o uniformitarismo, que assume que as leis geológicas e os processos naturais observados atualmente aplicam-se também na interpretação da história geológica da Terra.[26] Os criacionistas atacam frequentemente outros conceitos científicos, como o modelo cosmológico do Big Bang ou a datação radiométrica. O criacionismo da Terra Jovem também rejeita as estimativas atuais da idade do universo e da idade da Terra, propondo em vez disso cosmologias criacionistas com escalas do tempo muito mais curtas do que as que são determinadas pela cosmologia física e geologia modernas, geralmente inferiores a 10 000 anos.

A comunidade científica rejeitou de forma esmagadora as ideias propostas pelos criacionistas, colocando-as fora das fronteiras daquilo que é considerado ciência legítima. As premissas fundamentais do criacionismo científico não se qualificam como ciência porque todas as respostas são pré-determinadas de modo a corresponderem à doutrina bíblica e porque é construída com base em teorias impossíveis de serem testadas na natureza. A comunidade científica também considera que os ataques criacionistas à evolução biológica não têm qualquer mérito científico.[5][27][28]

A partir de 1900, os manuais das escolas públicas dos Estados Unidos foram gradualmente adotando o ensino da evolução.[29] No entanto, após o fim da I Guerra Mundial o crescimento no país do fundamentalismo cristão fez crescer a oposição criacionista aos programas de ensino. Em determinadas regiões chegou a ser aprovada legislação que proibia o ensino da teoria da evolução.[30] Em 1957, o lançamento do satélite soviético Sputnik 1 provocou uma preocupação a nível nacional sobre a desatualização do ensino da ciência na escolas públicas. Em 1958, os Estados Unidos aprovaram o National Defense Education Act, o qual introduziu novas orientações para a educação científica. Com financiamento federal, o currículo de ciências biológicas determinou novas normas para os manuais escolares de ciências, incluindo o ensino da evolução. Pouco após a publicação das normas, em 1963, metade das escolas já usava manuais com base nessas normas.[31] Só em 1967 é que o Tennessee repeliu o Butler Act.[32]


O criacionismo científico como movimento organizado emergiu durante a década de 1960. Foi extremamente influenciado pela obra de George McCready Price, autor de textos como "The New Geology" (1923), no qual propunha aquilo que designava de "novo catastrofismo" e contestava a atual escala de tempo geológico e as explicações da história geológica da Terra. A obra de Price foi citada no Julgamento de Scopes em 1925. Embora procurasse frequentemente o apoio de outros geólogos e cientistas, estes menosprezavam consistentemente o seu trabalho. Em correspondência com Price, David Starr Jordan da Universidade de Stanford, na época a principal autoridade norte-americana em fósseis marinhos, explicou a Price que as suas teorias repletas de falhas eram "baseadas em erros graves, omissões, e exceções em relação a verdades universais que qualquer pessoa familiarizada com a generalidade dos factos é incapaz de contestar".[33] A teoria do "novo catastrofismo" de Price também foi ignorada pelos próprios criacionistas, até ter sido reavivada em 1961 com a publicação do livro "The Genesis Flood" de John C. Whitcomb e Henry M. Morris. Este livro tornou-se rapidamente uma obra fundamental para os cristãos fundamentalistas e alargou o âmbito do criacionismo científico para além das críticas à geologia, criticando também à biologia e à cosmologia. Pouco após a publicação, o movimento organizou-se no sentido de aprovar o ensino do criacionismo nas escolas públicas dos Estados Unidos.[8]

Referências

  1. Numbers 2006, pp. 268–285
  2. Plavcan 2007, "The Invisible Bible: The Logic of Creation Science," p. 361. "Most creationists are simply people who choose to believe that God created the world-either as described in Scripture or through evolution. Creation Scientists, by contrast, strive to use legitimate scientific means both to disprove evolutionary theory and to prove the creation account as described in Scripture."
  3. Numbers 2006, pp. 271–274
  4. NAS 1999, p. R9
  5. a b «Edwards v. Aguillard: U.S. Supreme Court Decision». TalkOrigins Archive. Houston, TX: The TalkOrigins Foundation, Inc. Consultado em 18 de setembro de 2014 
  6. Sarkar & Pfeifer 2006, p. 194
  7. Shermer 2002, p. 436
  8. a b c d Larson 2004
  9. Numbers 2006, pp. 399–431
  10. Numbers 2006, p. 272 as "[o]ne of the most precise explications of creation science..."
  11. a b Numbers 2002
  12. Toumey 1994, p. 38
  13. a b Larson 2003, p. 288
  14. Sayin, Ümit; Kence, Aykut (novembro–dezembro de 1999). «Islamic Scientific Creationism: A New Challenge in Turkey». Berkeley, CA: National Center for Science Education. Reports of the National Center for Science Education. 19 (6): 18–20, 25–29. ISSN 2158-818X. Consultado em 18 de setembro de 2014 
  15. Scott, Eugenie C. (1997). «Antievolutionism and Creationism in the United States» (PDF). Palo Alto, CA: Annual Reviews. Annual Review of Anthropology. 26: 263–289. ISSN 0084-6570. doi:10.1146/annurev.anthro.26.1.263. Consultado em 18 de setembro de 2014 
  16. Numbers 2006, pp. 88–119
  17. Numbers 2006, p. 268
  18. «About GRI». Geoscience Research Institute. Loma Linda, CA: Geoscience Research Institute. Consultado em 18 de setembro de 2014 
  19. Numbers 2006, pp. 320–328
  20. Irvine, Chris (11 de fevereiro de 2009). «The Vatican claims Darwin's theory of evolution is compatible with Christianity». The Daily Telegraph. London: Telegraph Media Group. Consultado em 18 de setembro de 2014 
  21. «creationism». Encyclopædia Britannica. Chicago, IL: Encyclopædia Britannica, Inc. Consultado em 18 de setembro de 2014 
  22. «Antidote to Superstition». Creation Ministries International. Creation. 20 (2): 4. Março de 1998. ISSN 0819-1530. Consultado em 18 de setembro de 2014 
  23. Fair, Kenneth (20 de setembro de 2003). «Wright v. Houston I.S.D.: U.S. District Court, Southern District of Texas». TalkOrigins Archive (Transcription). Houston, TX: The TalkOrigins Foundation, Inc. Consultado em 1 de setembro de 2013 
  24. «Created Kinds (Baraminology)». Answers in Genesis. Hebron, KY: Answers In Genesis. Consultado em 18 de setembro de 2014 
  25. Ham 2006
  26. NAS 1999
  27. NAS 1999, pp. 1–2
  28. Larson 2004, p. 258. "Virtually no secular scientists accepted the doctrines of creation science; but that did not deter creation scientists from advancing scientific arguments for their position."
    • Martz, Larry; McDaniel, Ann (29 de junho de 1987). «Keeping God Out of the Classroom» (PDF). New York: Newsweek LLC. Newsweek: 23–24. ISSN 0028-9604. Consultado em 18 de setembro de 2014. By one count there are some 700 scientists with respectable academic credentials (out of a total of 480,000 U.S. earth and life scientist) who give credence to creation-science, the general theory that complex life forms did not evolve but appeared 'abruptly.' 
  29. Skoog, Gerald (outubro de 1979). «Topic of Evolution in Secondary School Biology Textbooks: 1900–1977». New York: John Wiley & Sons. Science Education. 63 (5): 621–640. ISSN 1098-237X. doi:10.1002/sce.3730630507 
  30. Scott 2005
  31. Numbers 2006, p. 265
  32. «Tennessee Evolution Statutes». Consultado em 18 de setembro de 2014  Chapter No. 27, House Bill No. 185 (1925) and Chapter No. 237, House Bill No. 46 (1967)
  33. Numbers 2006, pp. 88–119 p. 106
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