Curigalzu I
Curigalzu I | |
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Zigurate de Dur-Curigalzu (atual Acarcufe, a oeste de Baguedade) | |
Sarrum de Cardunias (Babilônia) | |
Reinado | x - 1 375 a.C. |
Antecessor(a) | Cadasmã-Harbe I |
Sucessor(a) | Cadasmã-Enlil I |
Dinastia | cassita |
Curigalzu I (em acádio: ; romaniz.: Kuri-Galzu; m. 1375 a.C.), por vezes nomeado com o determinativo m ou d,[1] foi o 17.º rei dos cassitas ou a 3.ª dinastia que governou a Babilônia, e foi responsável por um dos programas de construção mais extensos e difundidos para os quais as evidências sobreviveram. Sua autobiografia é uma das inscrições que registram que era filho de Cadasmã-Harbe I.[2] Galzu, cuja possível pronúncia nativa era galdu (gal-du) ou galxu (gal-šu), era o nome pelo qual os cassitas se autodenominavam e Curigalzu pode significar pastor dos cassitas (linha 23. Ku-ur-gal-zu = Ri -'- i- bi-ši-i, em uma lista epônima da Babilônia).[3]
Foi separado de seu homônimo por cerca de 45 anos e, como não era costume atribuir números de reinado e ambos tiveram reinados longos, isso torna excepcionalmente difícil distinguir a quem as inscrições estão se referindo.[1] O rei posterior é, no entanto, mais conhecido por sua campanha militar contra os assírios do que qualquer trabalho de construção que possa ter realizado. Agora, porém, pensa-se que foi ele o Curigalzu que conquistou Susã e talvez tenha contribuído para a ascensão da dinastia iguealquida sobre o Elão, ca. 1 400 a.C..[4]
Conquista do Elão
[editar | editar código-fonte]Segundo a Crônica P,[i 1] numa passagem cronologicamente situada fora de ordem, Hurbatila do Elão invadiu a Babilônia, o que compeliu Curigalzu a marchar contra ele em Dur-Sulgi. A inscrição não permite confirmar de forma decisiva que seja o primeiro rei deste nome o responsável pela campanha, mas é entendido que assim o seja.[5] Noutra inscrição (CBS 8598), é dito que marchou contra a cidade de Susã, que foi saqueada, e seus despojos foram entregues a Ninlil como presentes:[6]
“ | Curigalzu, o rei de Cardunias [Babilônia], conquistou o palácio da cidade de Sasa [Susã] no Elão e deu (este objeto) para o bem de sua vida como um presente para Ninlil, sua senhora. | ” |
É possível que Iguialqui, fundador da dinastia iguialquida, tenha tomado o poder no Elão no rescaldo do conflito com a Babilônia. Seu filho Pairissã e seu neto Humbã-Numena, filho de seu outro filho Atarquita, casaram-se respectivamente com a irmã e filha de Curigalzu. Da primeira união nasceram Umpas-Napirisa e Quidim-Hutrã I; da segunda, nasceu Untas-Napirisa.[7]
Diplomacia
[editar | editar código-fonte]Por correspondência
[editar | editar código-fonte]A correspondência diplomática anterior é evidente, a partir do estudo das cartas de Amarna e inclui evidências do diálogo entre Tutemés IV e Curigalzu, conforme atestado por Amenófis III em sua carta, designada EA 1 (EA de El Amarna), para Cadasmã-Enlil.[i 2] Burnaburias II lembrou Aquenáton em sua carta, EA 11, que Curigalzu tinha recebido ouro por um de seus ancestrais,[i 3] e, em EA 9, lembrou a Tutancâmon que Curigalzu recusou um pedido do cananeus para formar uma aliança contra o Egito.[i 4]
Através do casamento
[editar | editar código-fonte]Ele deu sua filha a Amenófis III, que era um praticante serial de casamentos diplomáticos com duas princesas mitanitas e uma de Arzaua em seu harém, e que ainda mais tarde casaria com a neta de Curigalzu, filha de Cadasmã-Enlil.[8]
Uma cópia neobabilônica de um texto literário que assume a forma de uma carta,[i 5] agora localizada no Museu do Antigo Oriente Próximo em Berlim, é endereçada à corte cassita por um rei elamita e detalha a genealogia da realeza elamita deste período. Aparentemente, ele casou sua irmã com o rei elamita Pairissã, filho de Iguialqui, e uma filha de seu sucessor, Humbã-Numena. Esse pode ter sido Miximru, que é citado em inscrições reais. A princesa passou a ter Untas-Napirisa, o próximo rei que estava destinado a se casar com a filha de Burnaburias. Acredita-se que o autor da carta seja Sutruque-Nacunte (r. 1190–1155 a.C.) que afirma ser descendente da filha mais velha de Curigalzu e também casou-se com a filha mais velha de Melisipaque, o 33º rei cassita. Infelizmente, a carta insere Nabu-Baladã (r. 888–855 a.C.) “uma abominação, filho de um hitita”, na narrativa no lugar que se poderia supor que Merodaque-Baladã I deveria aparecer, a substituição de dAMAR.UTU por dAG sendo um improvável lapso da caneta, criando um enigma cronológico e esse pode ter sido o propósito da “carta”: denegrir o rei posterior através da língua do anterior.[9]
Obras de construção
[editar | editar código-fonte]Os esforços de construção de Curigalzu são comprovados em nada menos que 11 cidades babilônicas.[10] Ele foi responsável pela reconstrução do Templo de Ningal em Ur, incorporando fragmentos da Estela de Ur-Namu em edifícios no terraço do zigurate, nos edifícios Edublal-Má de Sim, ou "casa para pendurar as tabuinhas exaltadas", e a construção do portal.[11]
Curigalzu foi o primeiro rei a construir uma residência real com seu nome,[12] uma nova capital fundada sobre um assentamento mais antigo e construída por volta de 1 390 a.C., chamada Dur-Curigalzu, ou 'fortaleza de Curigalzu', no extremo norte da Babilônia (atual Acarcufe).[13] Essa fortaleza foi posicionada para proteger a importante rota comercial que levava ao leste, através do planalto iraniano, até o atual Afeganistão, a fonte do lápis-lazúli. O zigurate de Enlil de 170 pés (= 51,82 metros) de altura ainda pode ser visto na periferia oeste de Bagdá, com suas camadas de reforço de esteiras de junco e betume e os restos de três templos em seus pés. Rawlinson identificou o local pela primeira vez em 1861 a partir das inscrições de tijolos. Escavada em 1942–45 por Seton Lloyd e Taha Baqir, a cidade cobria 225 hectares e incluía o Egalquisarra, ou “Palácio do Mundo Inteiro”, um vasto complexo palaciano e administrativo.[14]
Em um contrato de adoção que adverte severamente o adotado, "Se [Il]ipasra disser, 'você não é meu pai', eles rasparão sua cabeça, amarrarão e venderão por prata",[15] a fórmula de data usada, "No mês de Sabatu, 19º dia, o ano em que Curigalzu, o rei, construiu o Ecurigibara", é anterior ao que foi introduzido durante o reinado de Cadasmã-Enlil I e que se tornou de rigueur no reinado posterior de Curigalzu II.[16] O Ecurigibara de Enlil era um templo em Nipur.
A autobiografia de Curigalzu
[editar | editar código-fonte]Uma cópia neobabilônica de um texto que registra a dotação de Curigalzu, filho de Cadasmã-Harbe, de um templo de Istar com uma propriedade situada no Eufrates perto de Nipur, é conhecida como a autobiografia de Curigalzu e vem na forma de um pequeno prisma hexagonal[i 6] de argila cozida amarelo-claro[17] e um cilindro fragmentário.[i 7] Nesse prisma, ele leva o crédito por ser o
…Finalizador da parede, quisuru, e aquele que completou o Ecur, provedor de Ur e Uruque, aquele que assegura a integridade dos ritos de Eridu, o construtor do templo de Am e Inana, aquele que garante a integridade das ofertas Satucu (subsídio de comida) dos grandes deuses.[2]Original (em inglês): Prisma BM 108982 e o Cilindro NBC 2503— Autobiography of Kurigalzu(em inglês)
Ele “fez com que Anu, o pai dos grandes deuses, morasse em seu santuário exaltado”, o que se sugere estar se referindo à restauração do culto de Anu.[2] O texto carece das características linguísticas e de escrita que levariam alguém a supor que é uma cópia genuína de uma inscrição antiga e provavelmente foi criado no final dos tempos da Babilônia para aumentar o prestígio do culto de Istar (ou Ishtar). Até que ponto o mencionado texto preserva a tradição dos eventos reais do reinado de Curigalzu ainda não pode ser determinado.[2]
Outras fontes
[editar | editar código-fonte]A evidência da extensão da influência cassita chega até nós de uma tumba em Metsamor onde um notável selo cilíndrico de cornalina com uma inscrição hieroglífica mencionando o rei cassita Curigalzu I foi encontrado. Situado na Armênia, no meio do vale de Ararate, Metsamor foi um importante centro hurrita de forjamento de metal.[18]
Em um selo está inscrito nur- [d] -x, filho de Curigalzu, e reivindica o título NU.ÈŠ [d]en.líl, nišakku-sacerdote, que é compartilhado com outros, incluindo três governadores de Nippur e outros príncipes. Ele recompensou um indivíduo com esse título em um cone dedicatório conhecido como o cudurru da concessão de terras de Enlilbani. O significado preciso desse título e a identidade do Curigalzu, I ou II, são incertos.[19]
Inscrições
[editar | editar código-fonte]- ↑ Crônica P (ABC 22), tabuleta BM 92701, coluna 3, linhas 10 a 19.
- ↑ Tabuleta EA 1, “O Faraó reclama com o Rei da Babilônia,” BM 029784 no Museu Britânico, CDLI, ORACC Transliteration linha 62, “Em relação às palavras de meu pai, você escreveu...”
- ↑ Tablet EA 11, “escolta adequada para uma princesa prometida,” VAT 151 no Museu do Antigo Oriente Próximo, CDLI, ORACC Transliteration linhas de 19 a 20.
- ↑ Tabuleta EA 9, “Lealdades antigas, novos pedidos,” BM 29785 Museu Britânico, Londres, CDLI, ORACC Transliteration linhas 19 a 30.
- ↑ Tabuleta VAT 17020, “a Carta de Berlim”, CDLI
- ↑ Prisma BM 108982 no Museu Britânico, CDLI.
- ↑ Cilindro NBC 2503 na coleção de James B. Nies, Yale University, CDLI.
Referências
- ↑ a b Brinkman 1976, p. 205–246.
- ↑ a b c d Longman 1990, p. 88-91, 224-225.
- ↑ Pinches 1917, p. 106.
- ↑ Vallat 2000, p. 109-117.
- ↑ Brinkman 2017, p. 24, nota 213.
- ↑ Roaf 2017, p. 170.
- ↑ Potts 1999, p. 207.
- ↑ Schulman 1979, p. 183–184.
- ↑ Potts 1999, pp. 206–208.
- ↑ Sassmannshausen 2004, pp. 61–70.
- ↑ Canby 2001, p. 6.
- ↑ Roux 1996, p. 484.
- ↑ McIntosh 2005, p. 91.
- ↑ Bienkowski & Millard 2000, p. 22–23.
- ↑ Donbaz 1987, p. 73.
- ↑ Università di Torino 1993, p. 42.
- ↑ Gadd 1921, pp. 7, 16 e 17.
- ↑ KhanzadIan & Piotrovskii 1992, pp. 67–74.
- ↑ Brinkman 2004, pp. 283–304.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Bienkowski, Piotr; Millard, Alan Ralph (2000). Dictionary of the ancient Near East. [S.l.]: Museu Britânico
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- Brinkman, J. A. (2017). «Babylonia under the Kassites: Some Aspects for Consideration». Karduniaš. Babylonia Under the Kassites - The Proceedings of the Symposium Held in Munich 30 June to 2 July 2011. Berlim: de Gruyter
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As placas 6 e 7 mostram um esboço do anverso e reverso deste prisma.
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