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Hamlet

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros significados, veja Hamlet (desambiguação).
Hamlet
Hamlet
O ator Edwin Booth como Hamlet em 1870
Autoria William Shakespeare
Gênero tragédia
Cenário Dinamarca
Outras informações
Idioma original inglês

A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca (The Tragedie of Hamlet, Prince of Denmarke na primeira edição em inglês)[1], geralmente abreviada apenas como Hamlet, é uma tragédia de William Shakespeare, escrita entre 1599 e 1601.[2][3] A peça, passada na Dinamarca, reconta a história de como o Príncipe Hamlet tenta vingar a morte de seu pai, Hamlet, o rei, executado por Cláudio, seu irmão, que o envenenou e em seguida tomou o trono casando-se com a rainha. A peça traça um mapa do curso de vida na loucura real e na loucura fingida — do sofrimento opressivo à raiva fervorosa — e explora temas como a traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade.

Apesar da enorme investigação que se faz acerca do texto, o ano exato em que Shakespeare o escreveu permanece em debate. Três primeiras versões da peça sobreviveram aos nossos dias: essas são conhecidas como o Primeiro Quarto (Q1), o Segundo Quarto (Q2) e o First Folio (F1).[a] Cada uma dessas possui linhas ou mesmo cenas que estão ausentes nas outras.[b] Acredita-se que Shakespeare escreveu Hamlet baseado na lenda de Amleto, preservada no século XIII pelo cronista Saxão Gramático em seu Feitos dos Danos e, mais tarde, retomada por François de Belleforest no século XVI, e numa suposta peça do teatro isabelino conhecida hoje como Ur-Hamlet.

Dada a estrutura dramática e a profundidade de caracterização, Hamlet pode ser analisada, interpretada e debatida por diversas perspectivas. Por exemplo, os estudiosos têm-se intrigado ao longo dos séculos sobre a hesitação de Hamlet em matar seu tio. Alguns encaram o ato como uma técnica de prolongar a ação do enredo, mas outros o veem como o resultado da pressão exercida pelas complexas questões éticas e filosóficas que cercam o assassinato a sangue-frio, resultado de uma vingança calculada e de um desejo frustrado. Mais recentemente, críticos psicanalíticos têm examinado o elemento da mente inconsciente de Hamlet, enquanto críticos feministas reavaliam e reabilitam o caráter de personagens como Ofélia e Gertrudes.

Hamlet é a peça mais longa de Shakespeare, e provavelmente a que mais trabalho lhe deu,[4] mas encontrou nos tempos um espaço que a consagrou como uma das mais poderosas e influentes tragédias em língua inglesa: durante o tempo de vida de Shakespeare, a peça estava entre uma das mais populares da Inglaterra e ainda figura entre os textos mais realizados do mundo, no topo, inclusive, da lista da Royal Shakespeare Company desde 1879.[5] Escrita para o Lord Chamberlain's Men, calcula-se que sobre Hamlet já se escreveram cerca de 80 000 volumes,[6] muitos deles certamente são obras de grandes nomes que foram influenciados pela tragédia shakespeariana, como Machado, Goethe, Dickens e Joyce, além de ser considerada por muitos críticos e artistas de todo o planeta como uma obra rica, aberta, universal e muitas vezes perfeita.[7]

Ver artigo principal: Lista de personagens de Hamlet

O protagonista de Hamlet é o Príncipe Hamlet da Dinamarca, filho do recentemente morto Rei Hamlet e sobrinho do Rei Cláudio, irmão e sucessor de seu pai. Após a morte do Rei Hamlet, Cláudio casa-se apressadamente com a então viúva Gertrudes, mãe do príncipe. No cenário histórico, a Dinamarca está em disputa com a vizinha Noruega, e existe a expectativa de uma suposta invasão liderada pelo príncipe norueguês Fórtinbras.[8]

Horácio, Hamlet, e o Fantasma (Artista: Henry Fuseli, 1798).[9]

A peça abre numa noite fria no Castelo de Elsinore, o Castelo Real Dinamarquês. Os sentinelas tentam convencer Horácio, amigo do Príncipe Hamlet, que eles têm visto o fantasma do rei morto, quando ele aparece novamente. Depois do encontro de Horácio com o Fantasma, Hamlet resolve vê-lo com seus próprios olhos. À noite, o Fantasma aparece para Hamlet. O espectro diz a Hamlet que é o espírito de seu pai morto, e revela que Cláudio o matou com um frasco de veneno, despejando o líquido em seu ouvido. O Fantasma pede que Hamlet vingue sua morte; Hamlet concorda, com pena do espectro, decidindo fingir-se de louco para não levantar suspeitas. Ele, contudo, duvida da personalidade do fantasma. Ocupados com os assuntos de Estado, Cláudio e Gertrudes tentam evitar a invasão de Fórtinbras. Um tanto preocupados com o comportamento solitário e errático de Hamlet, acrescido de seu luto profundo diante da morte do pai, eles convidam dois amigos do príncipe - Rosencrantz e Guildenstern - para descobrirem a causa da mudança de comportamento de Hamlet. Hamlet recebe os companheiros calorosamente, todavia logo discerne que eles estão contra ele.[8]

Polônio é o conselheiro-chefe de Cláudio; seu filho, Laertes, está indo de viagem à França, enquanto sua irmã, Ofélia é cortejada por Hamlet. Nem Polônio nem Laertes acreditam que Hamlet nutra desejos sinceros com Ofélia, e ambos alertam para ela esquecê-lo. Pouco depois, Ofélia fica alarmada pelo comportamento estranho de Hamlet e confessa ao pai que o príncipe irá ter com ela num dos aposentos do castelo, mas olha fixamente para ela e nada se diz. Polônio assume que o "êxtase do amor" é o responsável pela loucura de Hamlet, e informa isso a Cláudio e Gertrudes. Mais tarde, Hamlet discute com Ofélia e insiste para que ela vá "a um convento".[8]

O desmascaramento de Cláudio é atingido através de um recurso singular: o teatro no teatro.[10] (Artista: Maclise.)

Hamlet continua sem saber se o espírito lhe contou a verdade, mas a chegada de uma trupe artística em Elsinore apresenta-se como uma solução para a dúvida. Ele vai montar uma peça, encenando o assassinato do pai - assim como o espectro lhe relatou - e determinar, com a ajuda de Horácio, a culpa ou a inocência de Cláudio, estudando sua reação. Toda a corte é convocada para assistir ao espetáculo; Hamlet fornece comentários durante toda a encenação. Quando a cena do assassinato é realizada, Cláudio, "muito pálido, ergue-se cambaleante", ato que Hamlet interpreta como prova de sua culpabilidade. O rei, temendo pela própria vida, bane Hamlet à Inglaterra em um pretexto, vigiado por Rosencrantz e Guildenstern, com uma carta que manda o portador ser assassinado.[8]

Gertrudes, "em grandíssima aflição de espírito", chama o filho em sua câmara e pede uma explicação sensata sobre a conduta que resultou no mal-estar do rei. Durante o caminho, Hamlet encontra-se com Cláudio rezando, distraído. Hamlet hesita em matá-lo, pois raciocina que enviaria o rei ao céu, por ele estar orando. No quarto da rainha, mãe e filho têm um debate fervoroso. Polônio, que espia tudo por detrás das cortinas, denuncia-se ao fazer um barulho; Hamlet, acreditando ser Cláudio, dá uma estocada através do arrás e descobre Polônio morto. O Fantasma aparece, dizendo que Hamlet deve acolher sua mãe suavemente, embora volte a pedir vingança.[8]

Hamlet e Horácio com os dois rústicos.[11] (Artista: Eugène Delacroix.)

Demente em luto pela morte do pai, Ofélia caminha por Elsinore cantando libertinagens. Laertes retorna da França enfurecido pela morte do pai e melancólico pela loucura da irmã. Cláudio convence Laertes de que Hamlet é o único responsável pelo acontecido; e é então que chega a notícia de que o príncipe voltou à Dinamarca porque seu barco foi atacado por piratas no caminho da Inglaterra. Rapidamente Cláudio propõe a Laertes uma luta de espadas entre ele e Hamlet onde o primeiro dos dois utilizará uma espada envenenada, sendo que na ocasião será oferecido ao príncipe uma taça de vinho com veneno, se o "plano A" falhar. Até que Gertrudes interrompe a conversa dizendo que Ofélia afogou-se.[8]

Vemos depois dois rústicos discutindo o aparente suicídio de Ofélia num cemitério, preparando-se para cavar sua sepultura. Hamlet aparece com Horácio e se aproxima de um dos rústicos, que depois segura um crânio que conta ser de Yorick, um bobo da corte que Hamlet conheceu na infância. Quando o cortejo fúnebre de Ofélia aparece liderado por Laertes e Hamlet descobre que o rústico cavava a sepultura da moça, ele e Laertes se investem em luta, na cova, dizendo amar Ofélia, mas o conflito é separado pelos demais.[8]

Gustave Moreau retrata o momento em que Hamlet vinga-se de seu pai envenenando o tio e pondo fim à peça

No regresso a Elsinore, Hamlet conta a Horácio como escapou do destino mortal que foi entregue a Rosencrantz e Guildenstern. Interrompendo a conversa, Orisco aparece para convidar o príncipe a um combate de armas brancas proposto pelo rei. Quando o exército de Fórtinbras cerca Elsinore, a competição começa e ambos os cavalheiros tomam posição. O rei, como planejou anteriormente, separa a taça envenenada e deposita dentro do líquido uma pérola, oferecendo-a a Hamlet, que deixa a bebida para depois. Hamlet vence o primeiro e o segundo assalto, e a rainha toma a taça envenenada, "bebendo a sua sorte".[8]

Enquanto a mãe enxuga a face do filho, Laertes decide feri-lo com a arma envenenada. Hamlet, usando sua força, atraca-se com o inimigo e, no corpo-a-corpo, trocam as espadas. Ele penetra profundamente em Laertes o item envenenado. A rainha confessa que morre por conta do veneno, enquanto Laertes revela que o rei é o culpado de toda a infâmia. A rainha morre envenenada.[8]

Hamlet fere o rei com a espada envenenada, mas ele diz estar apenas machucado. Furioso, o sobrinho obriga Cláudio a beber a taça com veneno à força, e o mata, vingando a morte de seu pai. Laertes, morrendo aos poucos, despede-se de Hamlet, ambos perdoam-se. Quando é a vez de Hamlet, Horácio diz que será fiel ao príncipe morrendo junto com ele, mas o primeiro não permite, tombando para trás e dizendo que a eleição cairá certamente em Fórtinbras. Hamlet morre, dizendo "O resto é silêncio". Fórtinbras invade o castelo com seu exército e ordena que "quatro capitães conduzam Hamlet como um soldado, para o catafalco". Os soldados carregam o corpo do príncipe; soa a marcha fúnebre, e, depois, uma salva de canhões.[8]

Fontes textuais

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Facsímile de Feitos dos Danos, de Saxão Gramático, que contém a lenda de Amleto

São identificadas muitas fontes antigas para o texto de Hamlet. A primeira trata-se de Hrólfs saga kraka, uma saga legendária da Escandinávia. Nela, o rei assassinado tem dois filhos — Hroar e Helgi — que passam a maior parte da história disfarçados sob nomes falsos, ao invés de fingirem estar numa condição de loucura —, e é nisso que o texto difere-se do Hamlet de Shakespeare, em que o príncipe finge-se louco.[12] O segundo é a lenda romana de Bruto, registrada em dois trabalhos latinos diferentes. O herói, Lúcio (em latim "iluminado, luz"), muda seu nome para Brutus (em latim "estúpido", "bravo"), mudando também sua personalidade, passando a ser "idiota" para evitar o destino de seu pai e irmãos, acabando por degolar o assassino de sua família, o Rei Tarquinius. Torfaeus, um estudioso nórdico do século XVII, comparou o herói Amlodi e o herói espanhol Príncipe Ambales (da Saga de Ambales) ao Hamlet de Shakespeare. As semelhanças entre os textos, pelo menos, são bastante óbvias: a falsa loucura do príncipe, seu abate acidental do conselheiro do rei no quarto da mãe, e o eventual assassinato do tio.[13]

A maioria dos primeiros elementos legendários foram entrelaçados no Vita Amlethi ("A Vida de Amleto") que data do século XIII, de Saxão Gramático, fazendo parte do Feitos dos Danos.[14] Escrito em latim, o texto reflete o conceito clássico romano acerca da virtude e do heroísmo, e foi amplamente estudado na época de Shakespeare.[15] Os principais paralelos no enredo são a loucura fingida do príncipe, o casamento apressado de sua mãe com o usurpador, o assassinato que o príncipe comete em um espião escondido e a sorte que ele adquire ao se esquivar da morte e fazer com que outros dois morram em seu lugar. Uma versão fiel e moderada da história de Saxo foi traduzida na França em 1570 por François de Belleforest, em seu Histoires Tragiques.[16] Belleforest, em seu trabalho de tradução, embelezou a obra de Saxo, além de dobrar o tamanho do texto e introduzir um elemento que, com certeza, Shakespeare usaria posteriormente: a melancolia do herói.[17]

Folha de rosto da peça de Thomas Kyd (que talvez tenha escrito Ur-Hamlet também), The Spanish Tragedy (A Tragédia Espanhola): esta popular tragédia pode ter influenciado o Hamlet de Shakespeare, pois já apresentava elementos como a vingança e o teatro no teatro.

Contudo, a teoria popular diz que a principal fonte do dramaturgo inglês foi uma peça — hoje perdida — conhecida como Ur-Hamlet. Provavelmente escrita por Thomas Kyd, Ur-Hamlet foi encenada pela primeira vez em 1589 e é a primeira versão conhecida da história que incorpora um personagem-fantasma.[18] A companhia teatral de Shakespeare, a Chamberlain's Men, talvez tenha adquirido a peça e encenado uma versão na mesma época, de modo que Shakespeare, que começou sua carreira literária revisando e difundindo textos de outros autores,[19] pode ter retrabalhado em cima do enredo.[20] Embora não se tenha notícia de nenhuma cópia do Ur-Hamlet, é impossível comparar seu estilo e linguagem com as obras conhecidas de qualquer autor. Consecutivamente, não há evidências de que Kyd a escreveu, tampouco evidências de que a obra não foi uma primeira versão da Hamlet do próprio Shakespeare. Essa ideia — que coloca Hamlet como mais recente do que a data geralmente aceita, com um longo período de desenvolvimento — tem conquistado alguns defensores, conquanto outros estudiosos desmintam essa especulação. Em seu livro The Problem of Hamlet: A Solution (de 1936), Andrew Scott Cairncross argumenta que Hamlet foi escrito por Shakespeare em 1589; Peter Alexander (1964), Eric Sams[21] e, mais recentemente, Harold Bloom[22] estão de acordo. Esta também é a opinião dos anti-Stratfordianos[23]

Para concluir, os estudiosos não possuem domínio com qualquer confidência que prove que Shakespeare se inspirou em alguma coisa do enredo de Ur-Hamlet (afinal, não se sabe nem mesmo se a obra de fato existiu) ou do enredo de Belleforest ou Saxo ou em qualquer outra fonte contemporânea sua. Não existem evidências claras de que Shakespeare construiu alguma referência direta com a versão de Saxo. Embora os elementos da versão de Belleforest apareçam na peça de Shakespeare, não estão presentes na história do Saxo. A questão se Shakespeare adotou esses elementos diretamente de Belleforest ou do resto do Ur-Hamlet permanece em aberto.[24]

Por fim, não é incomum a afirmação de que Hamlet foi escrita a partir da morte prematura do único filho de Shakespeare, Hamnet Shakespeare, de apenas onze anos de idade. Muitos estudiosos rejeitam a tese de que Hamlet tenha alguma conexão com o doloroso episódio. Ao contrário disto, a sabedoria convencional prega que Hamlet tem uma óbvia conexão com a lenda e que o nome Hamnet era bastante popular naquela época.[25] No entanto, Stephen Greenblatt chama atenção acerca da coincidência dos nomes, argumentando que a tristeza de Shakespeare perante a perda do filho talvez o tenha inspirado na criação da tragédia. Greenblatt reforça que o nome de Hamnet Sadler, o vizinho stratfordiano em que o nome Hamnet foi inspirado, tinha seu nome escrito às vezes como "Hamlet Sadler" e que, na delicada ortografia daquela época, os nomes eram constantemente permutáveis.[26] O próprio Shakespeare escreveu o primeiro nome de Sadler como "Hamlett" em seu testamento.[27]

Frontispício da edição de 1605 (Q2) de Hamlet

"Qualquer data que se fizer de Hamlet deve ser provisória", advertiu Phillip Edwards, editor do New Cambridge. O professor W. Thomas MacCary, que escreveu um guia para Hamlet, sugere 1599 ou 1600;[28] James Shapiro acredita que ou fins de 1600 ou começo de 1601;[29] os estudiosos shakesperianos Stanley Wells e Gary Taylor sustentam que a peça foi escrita em 1600 e revisada posteriormente.[30] A estimativa da data mais recente mostra que Hamlet possui frequentes alusões à Júlio César, que data de 1599.[31]

Em 1598, Francis Meres publicou em seu Palladis Tamia um levantamento da literatura inglesa de Chaucer a sua época, dentro do qual doze peças de Shakespeare são citadas, mas Hamlet não está entre as peças, o que sugere que ela não havia sido escrita até então. Como o texto era muito popular, Bernard Lott, em New Swan, acredita ter sido "pouco provável que ele [Meres] tenha ignorado uma peça tão importante."[32] A frase "filhotes de falcão",[33] no First Folio (F1) como "little eyases", talvez seja uma alusão a uma trupe de atores infantis que atuava na época de Shakespeare e, como a trupe tornou-se famosa em 1601, alguns acreditam que Hamlet pode ter sido produzida por essa data.[32]

Um contemporâneo de Shakespeare, Gabriel Harvey, escreveu uma nota marginal em sua edição de 1598 das obras de Chaucer, edição muito utilizada por alguns estudiosos para datar Hamlet. A nota de Havery afirma que é "uma forma sensata" apreciar Hamlet, e implica que o Conde de Essex – executado em fevereiro de 1601 por uma rebelião – ainda estava vivo. Outros estudiosos consideram isso inconclusivo. Edwards, por exemplo, conclui que o "sentido da época da nota de Havery é tão confuso, que ela é pouco usada na tentativa de datar Hamlet." Isso ocorre porque a mesma nota faz referência a Spenser e Watson como se eles também estivessem vivos (dizendo "nossos métricos florescentes"); contudo, a nota menciona o "novo epigrama de John Owen", publicado somente em 1607.[34]

Facsímile da primeira página de Hamlet, no First Folio, publicado em 1623

Três primeiras edições do texto de Hamlet sobreviveram aos nossos dias, promovendo tentativas de estabelecer um único texto autêntico.[35] Cada edição difere da outra em algum ponto:

  • Primeiro Quarto (Q1 ou Hamlet Q1): Em 1603, foi publicado pelos livreiros Nicholas Ling e John Trundell e impresso por Valentine Simmes os chamados "maus" primeiros quartos da denominada peça The Tragicall Historie of Hamlet Prince of Denmarke. O Q1 contém um pouco mais da metade do texto depois do segundo quarto.
  • Segundo Quarto (Q2): Nicholas Ling publicou em 1604 e James Robert imprimiu. Algumas cópias datam de 1605, o que pode indicar uma segunda impressão; consecutivamente, o Q2 é datado de "1604/5". A Q2 é a maior edição, embora omita 85 linhas encontradas no F1 (muito provavelmente para não ofender Ana da Dinamarca, a rainha de Jaime VI da Escócia e I de Inglaterra).[36]
  • First Folio (F1): Em 1623, William Jaggard e Edward Blount publicaram o The Tragedie of Hamlet, Prince of Denmarke no First Folio, a primeira edição dos Trabalhos Completos de Shakespeare.[37]
Página-título da impressão de 1605 (conhecida como Q2) de Hamlet

Os primeiros editores dos trabalhos de Shakespeare combinaram o material das duas primeiras fontes de Hamlet disponível naquele tempo, o Q2 e o F1. Cada texto contém algum elemento que o outro carece, com algumas pequenas diferenças na formulação: 200 linhas são praticamente idênticas nos dois. Os editores combinaram em criar um texto que refletisse e imaginasse o "ideal" do original de Shakespeare. A versão de Theobald tornou-se estandarte por um longo tempo,[38] e seu "texto completo" continua a influenciar a prática editorial nos dias de hoje. Alguns estudiosos contemporâneos, contudo, declinam de tal abordagem, considerando "um Hamlet autêntico um ideal irrealizável... há textos dessa peça, mas nenhum texto."[39] A publicação de 2006 por Arden Shakespeare dos diferentes textos de Hamlet em diferentes volumes é provavelmente a melhor prova dessa deslocação de foco e ênfase.[40]

Quem pela primeira vez elaborou uma lista de personagens da peça foi Rowe,[quem?] em 1709, quando os textos do Q1, do Q2 e do F1 não traziam nenhuma relação.[41] Tradicionalmente, os editores de Shakespeare têm dividido o texto em cinco atos. Nenhum dos primeiros textos de Hamlet, contudo, foi organizado dessa forma, e a divisão da peça em atos e cenas deriva de um quarto de 1676. Os editores modernos geralmente seguem essa divisão, mas a consideram insatisfatória; por exemplo, quando Hamlet arrasta o corpo de Polônio fora do quarto de Getrudes, há uma interrupção, que alguns estudiosos consideram não muito feliz, pois quebra intempestivamente a ação. Dessa forma, defendem que a cena III.4 deveria continuar até o fim de IV.1[42]

O célebre solilóquio Ser ou não ser, no documento da edição Q1, de 1603.[c]

A descoberta do Q1 em 1823 — cuja existência havia sido bastante suspeita — causou grande interesse e entusiasmo, o que levanta muitas questões de interpretação e prática editorial. Os estudiosos logo notaram aparentes deficiências no Q1, que foram essenciais para o desenvolvimento do conceito de um "mau quarto".[43] Apesar disso tudo, o Q1 possui valor: contém indicações de palco que revelam atuais práticas de encenação que o Q2 e o F1 não possuem; também contém uma cena inteira (normalmente rotulada como 4,6) que não aparece em nenhuma parte do Q2 ou do F1, e isso se mostra bastante útil na sua comparação com edições posteriores.[43]

O Q1 é consideravelmente menor que o Q2 ou o F1 e pode ser uma reconstrução memorial de como a peça foi encenada pela companhia de Shakespeare.[44] Os estudiosos discordam entre si quando debatem se essa reconstrução não foi uma edição pirateada ou autorizada. Outra teoria, considerada pelo editor Kathleen Irace, sustenta a ideia de que o Q1 é uma versão que tem a intenção especial de produções de viagem.[45][46] A ideia de que a Q1 não é crivada de erro, e sim uma versão eminentemente própria para o palco e para a fala dos atores, levou (desde 1881) a pelo menos 28 diferentes produções baseadas em seu texto.[47]

Análise crítica

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Contexto histórico

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Durante algum tempo, críticos teatrais, como também o público, encararam as personagens de Hamlet como misteriosas, obscuras e, até mesmo, místicas. (Artista:Edwin Abbey)

Desde o início do século XVII, a peça era famosa por seus personagens fantasmas e pela vívida dramatização da melancolia e da insanidade, o que levou uma procissão de nobres da corte a ir assisti-la durante a Era Jacobita e a Era Carolina.[48] Apesar de ter permanecido com uma audiência considerável, no final do século XVII os críticos da Restauração inglesa enxergavam Hamlet como uma peça primitiva e reprovaram seu estilo.[49]

Essa visão mudou radicalmente a partir do século XVIII, o século seguinte, quando os críticos começaram a considerar Hamlet um herói puro, um jovem de ideias brilhantes e um humanista em circunstâncias adversas.[50] Em meados do século XVIII, contudo, o advento da literatura gótica trouxe uma leitura psicológica e mística sobre Hamlet, recolocando a loucura e o fantasma da peça para a ribalta.[51] Até os finais deste século, os teatrólogos e profissionais envolvidos no teatro começaram a ver Hamlet como confuso e inconsistente. Até então, ele era ora louco, ora lúcido; ora um herói, ora um fracassado.[52] Esses desenvolvimentos representaram uma mudança fundamental na crítica literária e teatral, que vieram a se concentrar mais no personagem, em detrimento da trama.[53]

O século XIX trouxe o Romantismo e, com ele, críticos e dramaturgos que valorizavam Hamlet como um indivíduo incompreendido, genial, infernal, conturbado, que reflete um conflito contemporâneo de lutas internas e interiores, num caráter aberto e amplo.[54] Depois, os críticos se atentaram a focar na demora de Hamlet em matar seu tio como uma característica do personagem, ao invés de um elemento defeituoso do enredo.[53]

Estrutura dramática

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Um dos sub-enredos da obra é o relacionamento de Hamlet com Ofélia, aqui retratados por Dante Gabriel Rossetti, 1858.[55]

Em um período onde muitas peças eram apresentadas com duas horas de duração ou menos, o texto integral de Hamlet possui 4.042 linhas, totalizando 29.551 palavras engendradas em cinco atos (é a peça mais longa de Shakespeare)[4] — ou seja, leva-se mais de quatro horas para encená-la fielmente.[56] Hamlet também contém um dos dispositivos mais favoritos de Shakespeare: o teatro no teatro, recurso também usado em Trabalhos de Amores Perdidos e em Sonhos de Uma Noite de Verão.[57] Dramaticamente, desde o início da obra (a cena de abertura do castelo imperial) existe um clima de tensão que irá tomar conta de todo o resto do enredo da peça. Logo após isso, essa atmosfera ainda misteriosa fica um tanto mais clara com o aparecimento do Fantasma do pai de Hamlet.[7] De forma resumida, podemos dizer que Hamlet afastou-se da convenção dramática de sua época sob várias maneiras: primeiro, na época de Shakespeare, as peças eram usualmente baseadas no ensinamento da Poética de Aristóteles: "o drama precisa focar em sua ação, não em seu personagem."[58] Em Hamlet, no entanto, Shakespeare reverte essa técnica, substituindo as ações pelos solilóquios como meio de explicar para o público os pensamentos e os motivos de Hamlet. Sgundo (e ao contrário de outras peças shakespearianas, com exceção de Otelo): não existe nenhum sub-enredo forte, sendo que todos os enredos se entrelaçam diretamente para a veia principal do enredo mais importante, a tentativa de Hamlet vingar seu pai. No entanto, esses sub-enredos, embora não possuam uma presença visivelmente definida, são diversas vezes selecionados de forma simples pelos críticos: o antagonismo de Hamlet e seu tio Cláudio, seus conflitos com a mãe, sua paixão pela infeliz Ofélia, o relacionamento de Ofélia com o irmão Laertes e o de Laertes com o pai Polônio, etc.[7] Dentro desse caleidoscópio de sentimentos e embates psicológicos, a peça está cheia de irregularidades e descontinuidades em suas ações, principalmente no sub-enredo de antagonismo entre o príncipe e o atual rei: num dado momento, como na cena do coveiro,[11] Hamlet parece estar resolvido a matar Cláudio, mas na próxima cena, contudo, quando Cláudio aparece, ele se encontra subitamente manso.[59] Os estudiosos de Shakespeare ainda debatem se estes entrelaçamentos são enganos, defeito estilístico ou adiantamentos intencionais a acrescentar à temática da peça (confusão e dualidade).[59] Certos estudiosos acreditam que tal estrutura dramática tenha sido o principal fator de sucesso mundial dessa peça shakespeariana que fascina todo tipo de plateia (desde a que procura o teatro como mera diversão até a que busca formas de pensamento mais profundas).[7]

Grande parte da linguagem da peça é lisonjeira: elaborada, com discurso espirituoso, conforme recomendado por Baldassare Castiglione em 1528 em seu guia cerimonial O Cortesão (Il Cortegiano). Esse trabalho, especificamente, aconselha os retentores reais a divertirem os seus senhores com uma linguagem inventiva. Orisco e Polônio, por exemplo, que são dois empregados, parecem respeitar essa injunção. O discurso de Cláudio é rico em figuras retóricas — como acontece também com Hamlet e, às vezes, com Ofélia —, enquanto a linguagem de Horácio, dos Guardas e dos Rústicos é simples. O status alto de Cláudio é reforçado pelo uso da primeira pessoa do plural ("nós"/"we" ou "nós"/"us"), e com o uso da anáfora misturada com a metáfora para ressonar com os discursos políticos da Grécia antiga.[60]

Quando Hamlet declara que a sua roupa escura é o espelho exterior do seu interior melancólico em luto, ele demonstra uma forte habilidade da retórica. Neste desenho de 1834 de uma série especialmente de Hamlet, Eugène Delacroix retrata o Ato I, cena ii, quando a rainha tenta consolar Hamlet.

Hamlet é o personagem da retórica mais qualificada: ele usa metáforas altamente desenvolvidas com esticomitias, e, em memoráveis palavras, implanta tanto a anáfora como o assíndeto: "morrer: dormir— / Dormir... talvez sonhar" ("to die: to sleep— / To sleep, perchance to dream").[61] Em contrapartida, se a ocasião manda, ele é simples e preciso, quando explica sua emoção introspectiva para a mãe: "[…] Os trajes de costumeiros de solene preto / Rajadas de suspiros no forçado alento /[62] […] Porém eu tenho isto que sinto no interior, / E excede o aspecto, e os trajes e hábitos de dor." (tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos).[63] Outras vezes, contudo, Hamlet está fortemente dependente dos trocadilhos para expressar seus verdadeiros pensamentos e simultaneamente para camuflará-los.[64] Suas observações a respeito de "convento"[55] dirigidas para Ofélia são um exemplo de duplo sentido para a palavra conventilho, bordel.[65][66] As primeiras palavras de Hamlet na peça também são trocadilhos; quando Cláudio se dirige a ele como "meu parente e meu filho...", Hamlet, à parte, responde: "Algo mais que parente, e menos do que filho".[62] Desse trocadilho (no original como a little more than kin, and less than kind) pode-se entender, entre outras exegeses, que Hamlet considera Cláudio algo mais do que parente, "já que casastes com a minha mãe e, portanto, sois meu pai", mas "sou menos do que filho, porque esse casamento é incestuoso"; ou ainda: "porque não tenho sentimentos filiais para convosco".[67]

Outro elemento retórico, um tanto raro, aparece em vários lugares na peça: o endiades. Exemplos podem ser encontrados nas falas de Ofélia no final da "cena do convento": "Do guerreiro, a esperança e flor do belo Estado, o espelho da elegância e o molde da etiqueta, o alvo das deferências, como decaiu!"; "E eu, entre as damas a mais triste e infortunada […]" (tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos)[68] Muitos estudiosos acham curioso e estranho que Shakespeare, aparentemente de forma arbitrária, tenha usado essa forma retórica durante toda a peça. Uma das explicações é que Hamlet foi escrita na maturidade de Shakespeare, quando ele era adepto dos elementos retóricos como meios de se preencher os personagens e o enredo. O linguista George T. Wright sugere que o endiades foi utilizado por Shakespeare como meio de aumentar a sensação de dualidade e deslocamento da peça.[69]

Os solilóquios de Hamlet também têm capturado a atenção dos estudiosos: o complexo Hamlet às vezes se interrompe, xingando-se, concordando ou discordando de si mesmo, e embelezando suas próprias palavras. Ele tem dificuldades em expressar-se diretamente em vez de ser abrupto com a orientação de seus pensamentos. Só no decorrer da peça, após sua experiência com os piratas,[70] é que Hamlet é capaz de se articular melhor e discursar mais livremente.[71]

Temática e interpretação

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Cada posição crítica aponta para uma faceta de um todo e, juntas, possibilitam uma apreciação global. Não se pode analisar Hamlet a partir de um ponto de vista estritamente psicológico, ou político, ou ético, ou social, porque todos eles são válidos, as abordagens são múltiplas e os problemas contidos na peça são complexos e universais.

Péricles Ramos[6]

O poeta e tradutor brasileiro Péricles Eugênio da Silva Ramos considerou a peça — em sua tradução de Hamlet — como "[uma] obra rica, [que] permite as mais diversas interpretações e as apreciações mais extremadas."[7] De fato, desde a realização de Hamlet, há mais de quatro séculos, Shakespeare conseguiu produzir uma obra que abriu diversas discussões em torno de seu enredo e de suas personagens, onde alguns a consideram como indestrutível e, além disso, fundamental para a compreensão do ser humano.[72]

O prestígio inicial de Hamlet só se deu mais consolidamente no século XIX com o advindo do Romantismo — período que presenciou a origem de estudos mais profundos e mais sérios acerca das obras de Shakespeare — e a popularidade da peça lhe ajudou a entrar no século XX (que lhe doou as compreensões mais abrangentes e as mais tradicionais) com ainda mais vigor, permitindo a ela dar novas roupagens e também contribuições de novos elementos aos variados mecanismos que o século passado se preocupou em criar ou em desenvolver.[73]

A misteriosa morte de Ofélia (Detalhe de Millais, 1852): abre-se um tema religioso quando os coveiros discutem se ela merece enterro cristão por ter se suicidado.[74]

Escrita numa época de turbulência religiosa, e no despertar da Reforma Inglesa, Hamlet mescla elementos católicos (ou supersticiosamente medievais) e protestantes (ou conscientemente modernos): o fantasma do Rei Hamlet diz que está no purgatório e morrendo sem últimos sacramentos.[75] Isto e a cerimônia fúnebre de Ofélia,[76] que é caracteristicamente católica, perfazem a maior parte da conexão do catolicismo com o enredo da peça. Certos estudiosos têm observado que as tragédias de vingança surgem em países tradicionalmente católicos, como a Espanha e a Itália; e, no entanto, isto é um paradoxo, visto que a doutrina católica prega o dever para com a família. O dilema de Hamlet, então, é se vingar de seu pai matando Cláudio, ou deixar a vingança nas mãos de "Deus", como exige sua religião.[77]

Grande parte do Protestantismo de Hamlet resulta provavelmente em sua localização na Dinamarca – que era desde o tempo de Shakespeare predominantemente um país protestante, embora não esteja claro se a localização ficcional da peça nesse país esteja realmente destinada a esse fato. A obra faz menção a Wittenberg, onde Hamlet, Horácio e Rosencrantz e Guildenstern frequentaram universidades, e em que Martinho Lutero pregou pela primeira vez suas 95 teses.[78] Quando Hamlet diz que "há uma iniludível providência na queda de um pardal",[79] ele reflete a ideia protestante de que a vontade de Deus – "Divina Providência" – controlaria até mesmo o menor evento.[80] Shakespeare parece ter utilizado a passagem de Mateus, 10,29: "Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai." Diferentemente, no Q1 a mesma passagem aparece da seguinte forma: "Há uma providência predestinada na queda de um pardal",[81] o que sugere uma ligação ainda mais forte com o protestante João Calvino através da doutrina da predestinação. Certos estudiosos estimam que essa passagem tenha sido censurada, pois só aparece no Q1.[82]

Uma terceira via apresenta-se com força em Hamlet, que é a do humanismo renascentista de sua época: cético e questionador quanto se os homens seriam mesmo a maior obra do Deus judaico-cristão, além das consequências ocorrerem a partir das ações humanas.[83]

As ideias filosóficas em Hamlet talvez possuam conexões com alguns conceitos do francês Montaigne, contemporâneo de Shakespeare.

Hamlet é frequentemente encarado como um personagem filosófico e pioneiro, que expôs ideias agora conhecidas como relativistas, existencialistas e céticas. Por exemplo, ele expressa uma ideia relativista quando se dirige para Rosencrantz e diz: "nada é bom ou mau, a não ser por força do pensamento".[84] A ideia de que nada é mau, exceto na mente do indivíduo, encontra suas raízes nos gregos sofistas, crentes de que, uma vez que nada pode ser percebido exceto através dos sentidos – e uma vez que todas as pessoas sentem e, portanto, percebem as coisas de maneira diferentemente entre si – não há verdade absoluta, apenas a verdade relativa sobre as coisas.[85] O exemplo mais claro do existencialismo, contudo, só está por vir, no célebre e famoso monólogo da tragédia (tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos):

"Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil pelejas naturais-herança do homem:
Morrer para dormir... é uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor […]"[86]

Os críticos acreditam que Hamlet usa "ser" para aludir à vida e à ação, e "não ser" aludindo para a morte e a inércia.[87][88] Com a palavra "consumação", os críticos acreditam que Shakespeare cita o francês Michel de Montaigne: If it be a consummation of ones being, it is also an amendemente and entrance into a long and quiet life. Wee finge nothing so sweete in life, as a quiet rest and gentle sleep, and without dreams.[89] Sendo consummation, no original, anéantissement, isto é, aniquilação, o verso shakespeariano faz alusão à conclusão, a um final que é um atingimento, uma coroação.[90] Na língua portuguesa, consumar também cumpre o sentido de "tudo está consumado" (concluído) ou "consumou-se o intento" (realizou-se, cumpriu-se).[90]

Os estudiosos têm mostrado que Hamlet parece também refletir o ceticismo contemporâneo prevalecido durante o Humanismo Renascentista de sua época.[83] Anteriormente à época de Shakespeare, os humanistas argumentaram que o homem era a maior criação de Deus, feito à imagem divina, e capaz de escolher sua própria natureza, mas essa tese foi contestada notavelmente em Ensaios (1950), de Montaigne. A frase exclamativa "Que obra de arte é um homem",[91] que vem de Hamlet, ecoa muitas ideias de Montaigne, mas os estudiosos discordam se Shakespeare realmente citou o ensaísta da França ou se isso não passa de coincidência, em que ambos reagiram semelhantemente diante do espírito da época.[92]

Desenho de Polônio num vitral: o primeiro-ministro de Hamlet poderia ser uma sátira a William Cecil

No início do século XVII, a prática da sátira política ficou totalmente desencorajada pelo fato de os dramaturgos correrem o risco de serem punidos por trabalhos "ofensivos". Em 1597, por exemplo, o ator e parceiro de Shakespeare Ben Jonson foi preso por sua colaboração na obra A Ilha de Cães.[93] Thomas Middleton, em 1624, ficou encarcerado enquanto sua peça Um Jogo de Xadrez foi banida após nove encenações.[94]

Numerosos estudiosos creem que o impulso divertido de Polônio em Hamlet vem seguramente do falecido William Cecil (Lorde Burghley) — tesoureiro e conselheiro-chefe de Isabel I de Inglaterra — a partir do qual eles encontram inúmeros paralelos. O primeiro é que Polônio é um estadista ancião num cargo semelhante ao do Lord Bourghley. Lilian Winstanley, em seu Hamlet and the Scottish succession, Being an Examination of the Relations of the Play of Hamlet to the Scottish Succession and the Essex Conspiracy (1921) dedica-se a 20 páginas apenas para propor conexões entre as cenas que envolvem Polônio e figuras públicas e eventos da Inglaterra de Isabel.[95] Ainda nesse raciocínio, os diversos conselhos que Polônio entrega a seu filho Laertes são muito parecidos aos do Lord Burghley para seu filho.[96] Os estudiosos também chamam a atenção para a verbosidade entediante de Polônio, que dizem ser semelhante à de Burghley.[97] Além disso, "Corambis" (o nome de Polônio em Q1) ressoa com o latim "duplo coração", que talvez satirize o mote do Lorde, que era Cor unum, via una de Cecil ("Um coração, um caminho").[98] Finalmente, a relação da filha de Polônio, Ofélia, com o nobre Hamlet, pode ser comparada com a relação da filha de Lord Burghley, Anne Cecil, com Eduardo de Vero.[99] Esses argumentos também oferecem um suporte para o debate da autoria de William Shakespeare, e principalmente para a visão oxfordiana, que advoga que Eduardo de Vero, 17º Conde de Oxford, seria o verdadeiro autor da obra shakespeariana.[100] No entanto, Shakespeare esquivou-se da censura e, longe de ser reprimido, tudo indica que Hamlet recebeu um Imprimatur na Inglaterra, bem como um brasão de armas.[101]

Desde o surgimento da psicanálise em finais do século XIX, Hamlet tem sido a fonte de tais estudos, e experimentou análises, realizadas por nomes como Sigmund Freud, Ernest Jones e também Jacques Lacan, que influenciaram produções teatrais posteriores.

Freud sugeriu que um inconsciente complexo de Édipo causou a hesitação de Hamlet a matar seu tio. (Artista: Delacroix, 1844.)

Em seu seminal A Interpretação dos Sonhos (1899), Freud utiliza uma variedade de obras literárias para entender e explicar o comportamento das ações humanas. Talvez a mais conhecida seja a tragédia Édipo Rei, de Sófocles, a partir da qual Freud encontra a essência do que viria a chamar de complexo de Édipo, complexo que parece estar intimamente presente no príncipe Hamlet.[102] Nos estudos de Freud, Hamlet complementou o que faltava em Édipo Rei, ou seja, lhe entregou aquela intenção de explicar um desejo que não coloca o sujeito necessariamente na ação, mas, ao contrário, o impede.[103] Assim, embora Freud tenha dado o nome de Complexo de Édipo, talvez como um modo de ser fiel àquilo que mais precocemente foi concebido na história cultural da humanidade, é Hamlet que se encontra mais consistente em suas ideias.[d] Após essas análises, Sigmund conclui que "Hamlet encontra-se impossibilitado de realizar a vingança da morte do pai, tendo em vista que o assassinato deste, na verdade, atualiza seus desejos infantis reprimidos — ou seja, matar o pai e ficar com sua mulher."[104] Confrontado com sua repressão psicológica, Hamlet se dá conta de que "ele próprio não está em estado melhor do que o pecador que ele quer punir."[105] Freud sugere que o aparente desgosto sexual de Hamlet, articulado na cena onde ele diz para Ofélia ir a um "convento de freiras"[106] tem consonância com essa interpretação.[107]

Sob os parâmetros de Freud, ao contrário da crença de Goethe (ao contrário de Freud, Goethe acreditava que o príncipe era um ser extremamente frágil, incapaz de executar a tarefa que lhe foi dada),[6] Hamlet era capaz de matar uma pessoa, como fez sem a menor parcela de culpa com Polônio (na imagem), mas não era capaz de matar seu tio porque esse, segundo a análise freudiana, lhe remetiria a seus impulsos infantis. (Artista: Delacroix.)

Enquanto o príncipe não mata seu tio e não vinga a morte do pai, ele conduz vários outros personagens à morte. Um deles, o conselheiro Polônio, é assassinado pela espada de Hamlet, que não demonstra qualquer culpa no ato: "Adeus, mísero tolo, intruso e temerário! Tomei-te por alguém mais alto; aceita a sorte/ Bem vês que há algum perigo em ser intrometido." (tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos)[108] Nessa ocasião, há a interpretação de que Polônio, por ser um dos personagens de figura paterna na peça, poderia remeter Hamlet a seu próprio pai, mas isso não ocorre.[104] É por meio desse exemplo, do assassinato de Polônio, que Freud discorda de Goethe — defensor da tese de que a hesitação do príncipe se deve sobretudo por causa de sua inclinação à racionalização —, argumentando que Hamlet seria capaz de matar alguém, exceto seu tio, pelo motivo do complexo de Édipo. Talvez a proximidade entre a ação de Cláudio e o desejo de Hamlet seja o fator que impede este de matar aquele.[109] Concluindo, Freud crê que a hesitação de Hamlet em realizar a tarefa da qual foi incumbido se deve à natureza da mesma tarefa, isto é, ele precisaria vingar o pai matando seu assassino mas, infelizmente, esse assassino (o tio Cláudio) lhe refletiria seus impulsos infantis e isso faria com que Hamlet não se vingasse.[110] Desta forma, os fatores que impedem o assassinato de Cláudio por Hamlet seriam sua identificação com o tio e o medo de praticar uma ação injusta e imoral com a figura paterna que este lhe representa.[110]

Em 1940, Ernest Jones — psicanalista e biógrafo de Freud — desenvolveu as ideias freudianas introduzindo uma série de ensaios que culminaram em seu livro Hamlet e Édipo (1949). Influenciado pelas abordagens psicanalistas de Jones, inúmeras produções têm retratado a "cena do closet", quando Hamlet confronta sua mãe na câmara dela,[111] em uma função sexual. Sob essa leitura, Hamlet está desgostoso por sua relação incestuosa com Cláudio enquanto simultaneamente está temeroso de matá-lo, e isso fica claro quando ele conduz sua mãe para a cama, consolando-a. A loucura de Ofélia após a morte do pai também pode ser lida através de lentes freudianas como uma reação à morte de alguém que esperava seu amor, o pai dela. Ela está tão saturada de ter seu amor não-cumprido por ele que terminou de forma abrupta que acaba se entregando à insanidade.[112] Em 1937, Laurence Olivier realizou Hamlet no Old Vic sob as perspectivas de Jones.[113]

Na década de 1950, as teorias estruturalistas de Lacan sobre Hamlet foram apresentadas pela primeira vez em uma série de seminários dados em Paris e logo depois publicadas em O Desejo e a Interpretação do Desejo em Hamlet. Lacan estipula que a psique humana é determinada por estruturas de linguagem e que, consecutivamente, as estruturas linguísticas de Hamlet lançam luz sobre a ânsia humana.[114] O ponto de partida de Lacan foram as teorias do complexo de Édipo de Freud, e também o tema central de luto que é exercido pelo príncipe Hamlet.[114] Na análise de Lacan, Hamlet, inconscientemente, assume o papel de falo — a causa de sua inércia — e está cada vez mais distanciado da realidade por conta do "luto, da fantasia, do narcisismo e da psicose", que criaram buracos (ou "faltas") nos aspectos reais, imaginários e simbólicas de sua psique.[114] As teorias de Lacan influenciaram a crítica literária de Hamlet porque utilizaram visões alternativas da peça e o uso da semântica para explorar o panorama psicológico da obra.[114]

Com O Anti-Édipo (1972), o filósofo Gilles Deleuze e o criador da esquizoanálise Félix Guattari contestam pontos fundamentais em Freud e Lacan, argumentando, entre outras coisas, que "Hamlet não é uma extensão de Édipo, um Édipo em segundo grau; ao contrário, um Hamlet negativo ou invertido é primeiro em relação a Édipo".[115] Segundo o próprio Deleuze, frequentemente identificado com o pós-estruturalismo, um dos feitos decisivos daquele livro e do Mil Platôs (1980) seria o de defender que "o inconsciente não é um teatro, não é um lugar onde há Édipo e Hamlet que representam sempre suas cenas. Não é um teatro, é uma fábrica, é produção. O inconsciente produz. Não para de produzir. Funciona como uma fábrica. É o contrário da visão psicanalítica do inconsciente como teatro, onde sempre se agita um Hamlet, ou um Édipo, ao infinito".[116]

Ofélia distraída com sua dor. Ofélia começa a apresentar um quadro de surto, cantando em algumas cenas músicas folclóricas da Inglaterra antiga.[117] Críticos feministas têm estudado o seu estado dentro da loucura. (Artista: Hughes, 1890.)

Durante o século XX, críticos e críticas feministas abriram novas abordagens acerca das personagens Gertrudes e Ofélia. Os novos historiadores e críticos do materialismo cultural examinaram a peça segundo seus contextos históricos, tentando juntar a cultura original do meio ambiente da peça.[118] Seu enfoque é o papel social de gênero da Inglaterra na Idade Moderna, apontando para a trindade comum da empregada, da esposa ou da viúva, com as prostitutas sozinhas fora do estereótipo. Dentro dessa pesquisa, a essência de Hamlet ocorreria no enredo central de que Hamlet não aceita o novo casamento da mãe e a vê como uma prostituta por causa de sua incapacidade de manter-se fiel ao Rei Hamlet, seu falecido marido. Em consequência, segundo as feministas, Hamlet passa a perder sua fé diante de todas as mulheres, tratando Ofélia como se ela fosse desonesta feito uma prostituta. De acordo com certos críticos, Ofélia pode ser honesta e justa, contudo; no entanto, é praticamente impossível associar essas duas características, uma vez que "justiça" é um traço da aparência, do exterior, enquanto que a "honestidade" é um traço interior de cada sujeito.[119]

O ensaio Mãe de Hamlet (1957), de Carolyn Heilbrun, defende Gertrudes, argumentando que o texto da peça nunca afirmou que a rainha soubesse do envenenamento do Rei Hamlet por parte de Cláudio. Esta análise tem sido defendida por muitos outros críticos, principalmente as feministas. Heilbrun diz que os homens, há séculos, têm seguido a visão do príncipe a respeito de sua mãe, ao invés de entenderem os motivos dados pela própria rainha. Desse modo, não há evidências de que Gertrudes praticou adultério: ela meramente teria que se adaptar às circunstâncias diante da morte de seu esposo para o bem de todo o reino.[120]

Ofélia, por sua vez, tem sido defendida por críticos de todos os tipos, notavelmente por mulheres que, além de críticas teatrais e literárias, são feministas.[121] Sob esse ângulo, a personagem é cercada de homens poderosos que possuem algum significado em sua própria vida (seu pai, seu irmão e Hamlet), mas todos os três desaparecem (Polônio morre, Laertes viaja, Hamlet abandona-a), fazendo com que algumas teses afirmem que, sem esses três homens importantes para tomar decisões em seu lugar, Ofélia dirige-se gradativamente à loucura.[122] Os críticos feministas apontam que ela ficou louca e sentiu-se culpada porque, quando Hamlet assassinou seu pai, ele cumpriu o desejo sexual dela de, tirando Polônio do caminho, poderem ficar juntos. Alguns críticos consideram que Ofélia tornou-se — inexata e inadequadamente — o símbolo da mulher histérica e distraída na cultura moderna.[123]

Hamlet é uma das obras mais citadas da literatura inglesa, e é frequentemente incluída na lista de grandes trabalhos literários. Como tal, tem influenciado a escrita de diversos autores através dos séculos. O acadêmico Laurie Osborne identifica a direta influência de Hamlet em inúmeras narrativas modernas, e as divide em quatro principais categorias: contabilidade fictícia da composição da peça, adaptação do enredo para leitores infantis, ampliação ou diminuição de algumas personagens da peça, e narrações destacando atuações da peça.[124]

Escultura do Príncipe Hamlet segurando uma caveira, na Inglaterra: ao longo dos séculos, várias obras literárias foram influenciadas pela peça shakespeariana

Tom Jones, de Henry Fielding, publicado em 1749, descreve uma visita feita por Tom Jones e Mr. Partridge a Hamlet, com similaridades com o recurso "teatro no teatro".[125] Em contraste, o bildungsroman Wilhelm Meisters Lehrjahre de Goethe, escrito entre 1776 e 1796, não só tem um núcleo semelhante ao de Hamlet como também cria um paralelo entre o Fantasma e o pai morto do personagem Wilhelm Meister.[125] Na década de 1850, em Pierre: or, The Ambiguities, Herman Melville foca-se em Hamlet como um personagem de longo desenvolvimento como escritor.[125] Dez anos depois, o Great Expectations de Dickens contém muitos elementos parecidos com Hamlet: ele é impulsionado por vingança através de ações motivadas, e também possui personagens-fantasmas, além de focar na culpa do herói.[125] O acadêmico Alexander Welsh nota que Great Expectations é uma "novela autobiográfica" e "antecipa leituras psicanalíticas de Hamlet em si."[126]

Machado de Assis, um grande admirador de Shakespeare,[e] utilizou a tragédia hamletiana em inúmeros escritos de sua autoria: mais popularmente, no conto A Cartomante há a frase "Há mais coisas entre o céu a terra do que supõe nossa vã filosofia"[129] logo na primeira linha, que conduziu a história através desse discurso.[130] Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o primeiro fantástico e realista do Brasil e, consecutivamente, revolucionário, o personagem-narrador cita o príncipe Hamlet para falar de sua morte no capítulo primeiro: "Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country[131] de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado o trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo."[132]

Na década de 1920, James Joyce coordenou "uma versão mais otimista" de Hamlet — despojada de obsessão e vingança — em Ulysses, embora o paralelo principal seja com a Odisseia de Homero.[125] Na década de 1990, duas romancistas mulheres foram explicitamente influenciadas por Hamlet. Em Wise Children, de Angela Carter, Ser ou não ser é retrabalhado como uma música e uma dança rotineira, e, em The Black Prince, de Iris Murdoch, há temas como o do complexo de Édipo e do assassinato, entrelaçados com Hamlet.[133]

História das encenações

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Ver artigo principal: Shakespeare em desempenho
Thomas Betterton como Hamlet (na cena em que está junto de sua mãe e o Fantasma do pai lhe aparece) durante a Restauração da Inglaterra. Artista desconhecido

Como Richard Burbage era o ator das tragédias da companhia teatral Lord Chamberlain's Men, com uma capacidade de memória muito grande e uma veia trágica, acredita-se que Shakespeare escreveu o papel de Hamlet para ele.[134][135] A julgar pelo número de reimpressões, Hamlet aparece como a quarta peça mais popular de Shakespeare durante seu tempo de vida – somente Henrique VI Parte 1, Ricardo III e Péricles o passaram.[136] Shakespeare não providenciou nenhuma indicação de quando sua peça foi encenada; contudo, como os atores isabelinos encenavam no Globe com vestimentas contemporâneas e o mínimo de aparelhagem, isso não teria afetado as encenações.[137]

São escassas as evidências específicas sobre as primeiras encenações da peça. No entanto, o que se sabe é que a tripulação do barco Red Dragon, ancorado em Serra Leoa, montou Hamlet em setembro de 1607;[138] sabe-se também que a peça excursionou pela Alemanha depois de cinco anos da morte de Shakespeare;[139] e que, por último, foi encenada antes de Jaime VI & I em 1619 e Carlos I em 1637.[140] Alguns editores, como George Hibbard, argumentam que, uma vez que a literatura da época contém muitas alusões e referências a Hamlet (somente Falstaff é mencionado mais, em Shakespeare), a obra foi realizada com uma frequência que falta no registro histórico.[141]

Todos os teatros ingleses foram fechados pelo governo puritano durante o Interregno inglês.[142] Mesmo durante esse tempo, contudo, atores conhecidos como drolls realizaram peças clandestinamente, incluindo uma peça chamada Os Coveiros, baseada no Ato 5, Cena 1 de Hamlet.[143]

Restauração e século XVIII

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A peça foi reaproveitada na Restauração. Quando chegou a pré-guerra civil inglesa e as peças foram divididas entre as duas empresas recém-criadas para ser definido o teatro com patente, Hamlet foi o único favorito shakespeariano que a companhia teatral Duke's Company, de William Davenant, garantiu.[144]

Sarah Siddons talvez tenha sido a primeira mulher a interpretar Hamlet. (Artista: Thomas Gainsborough.)

Por conta disso, Hamlet tornou-se a primeira das peças de Shakespeare a serem apresentadas com planícies pintadas e móveis com um genérico cenário atrás do proscênio no Teatro Lincoln's Inn Fields.[145] Esta nova convenção de palco ressaltou a freqüência com que Shakespeare desloca o local dramático, encorajando as recorrentes críticas sobre sua violação do princípio neoclássico de manter a unidade do espaço.[146] Davenant lançou Thomas Betterton no papel epinômino, e ele continuou a encenar Dane até ele ter 74 anos.[147] David Garrick produziu uma versão que adaptou a elevação de Shakespeare, declarando: "eu não gostaria de deixar o palco até que livrar a notável peça de toda a insignificância do quinto ato. Eu tive que retirar a cena dos coveiros, a aparição de Orisco e a competição de esgrima entre Laertes e Hamlet".[148] O primeiro ator a interpretar Hamlet na América do Norte foi Lewis Hallam. Jr., numa produção da Companhia Americana de 1759, na Filadélfia.[149]

A estreia de John Philip Kemble no Teatro Drury Lane foi como Hamlet, em 1783.[150] Sua performance era para ser dita por mais 20 minutos do que qualquer outra, e suas prolongadas pausas provocaram a sugestão de que "a música de ser tocada entre as palavras."[151] Sarah Siddons foi a primeira atriz conhecida a encenar Hamlet, uma vez que muitas mulheres interpretavam-no em papéis com roupas masculinas[152] Em 1748, Alexander Sumarokov escreveu uma adaptação russa que focava no Príncipe Hamlet como o resumo de uma oposição à tirania de Cláudio - um tratamento que ocorreu novamente em outras versões do Ocidente europeu na entrada do século XX.[153] Nos anos que se seguiram a Independência americana, Thomas Abthorpe Cooper, o jovem líder da tragédia nacional, encenou Hamlet no meio de outras peças na Filadélfia e em Nova Iorque. Embora criticado por "memorização inadequada de algumas linhas", ele tornou-se uma celebridade nacional.[154]

Hamlet no século XIX

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O ator brasileiro João Caetano montou Hamlet em 1835 e em 1840. Na imagem, está como Hamlet no ato III, cena 3. Fonte: revista Brazil-Theatro, 1903-1904, volume 2, p. 415. O médico de formação, teatrólogo, jornalista e historiador José Ricardo Pires de Almeida (1843-1913) conta, na revista Brazil-Theatro, que a filha do ator, Julia Sezefrede, lhe presenteou “poucos dias antes de falecer, um álbum, e papéis diversos, outrora pertencentes a Estela Sezefreda, sua mãe, que representara com seu esposo o papel de Ofélia, na referida peça”.[155] O álbum trazia imagens de João Caetano como Hamlet, Otelo, e outros, conforme pôde rememorar apoiado também pela relação que tivera com o ator e pelos depoimentos dos irmãos de João Caetano, Geraldo e Salustiano.[156]
João Caetano como Hamlet no monólogo do ato III, cena 1. Fonte: Revista Brazil-Theatro, vol. 2, p. 481. De acordo com Pires de Almeida quanto ao traje desta imagem, "A tal escolha presidiu, como se vê, a mesma tradição que prevalecera em Londres, isto é, a tradição elisabetana, que vestia Hamlet com os planejamentos dos tempos da Rainha Virgem. Chegara assim até nós, e o ator fluminense dessa arte o adotou também."[157]

João Caetano (1808-1863), considerado o pai do teatro brasileiro, foi o primeiro ator brasileiro a interpretar papéis shakespearianos.[158] Caetano, "relativamente cedo em sua carreira",[159] decidiu interpretar Otelo e Hamlet sob a influência do poeta e dramaturgo brasileiro Domingos José Gonçalves de Magalhães em traduções realizadas pelo próprio Magalhães, não baseadas diretamente em Shakespeare, mas antes em Jean-François Ducis, por conta da tradição francófina no Brasil.[158] Anteriormente a este feito, mesmo no Brasil colônia e com o próprio Caetano, as montagens de Hamlet ou de qualquer outra peça de Shakespeare começaram a ser encenadas por companhias que utilizavam versões em português lusitano ― Hamlet será a primeira peça de Shakespeare a ser traduzida ao português do Brasil numa edição publicada, mas somente em 1933 por Tristão da Cunha (ver, mais abaixo, a seção "Traduções brasileiras"). A montagem de Hamlet em 1835 no Rio de Janeiro por João Caetano não obteve êxito por causa da versão da peça, o que foi melhor consertado cinco anos depois, com nova montagem a partir da versão de Ducis em 1840, "e o mesmo público que tinha repelido a tragédia shakespeariana aplaudiu entusiàsticamente êsse arremêdo infeliz da grande peça", segundo conta Eugênio Gomes.[160]

Por volta de 1810 a 1840, as mais famosas encenações shakespearianas nos Estados Unidos foram realizadas em viagens teatrais lideradas por atores londrinos, incluindo Junius Brutus Booth. Booth merece destaque não só por ter continuado sua carreira nos EUA, mas porque também produziu dois dos mais notórios atores da nação: John Wilkes Booth (que mais tarde assassinaria Abraham Lincoln) e um dos mais famosos Hamlet, Edwin Booth.[161] O Hamlet de Edwin Booth é descrito como "igual ao obscuro, louco, sonhador, misterioso herói de um poema... [agiu] de uma maneira idealizadora, como se afastasse do possível plano da vida real."[162] Booth encenou Hamlet por 100 noites entre 1864/5, inaugurando a era de longas apresentações shakespearianas nos Estados Unidos.[163]

Sir Henry Irving como Hamlet, numa ilustração de artista desconhecido de 1893 presente na revista The Idler

No Reino Unido, atores-administradores da Era vitoriana (incluindo Kean, Macready, e Henry Irving) encenaram Shakespeare de formas variadas, elaborando cenários e costumes.[164] A tendência dos atores destacarem a importância de seu próprio personagem (especial e principalmente de Hamlet) ainda não encontrava aprovações dos críticos. George Bernard Shaw, louvando a performance de um outro ator, deu uma "bofetada" na de Irving (que vinha fazendo encenações no Teatro Lyceum): "A história da peça foi perfeitamente compreensível, e levou bastante a atenção da plateia sobre os momentos de aparição da personagem principal. E o que o Lyceum anda a encenar?"[165]

Em Londres, Edmund Kean foi o primeiro Hamlet a abandonar os enfeites reais usualmente associados ao papel em favor de uma simples fantasia, e ele disse ter se surpreendido com a audiência apesar de seu Hamlet sério e introspectivo.[166] Em um contraponto gritante com as primeiras opulências, a produção sobre o texto do Q1, por William Poel em 1881, foi uma tentativa de reconstruir a austeridade dos teatros isabelinos, onde seu cenário era apenas um conjunto de cortinas vermelhas.[167] Sarah Bernhardt encenou o príncipe em sua popular produção londrina de 1899. Em contraste com a visão "afeminada" do personagem central que geralmente acompanhava um elenco feminino, ela descreveu seu Hamlet como "firme e melancólico, mas nem por isso pensativo... [ele] pensa antes de agir, uma característica que indica sua grande força e seu grande poder espiritual."[168]

Em França, Charles Kemble iniciou um trabalho que sustentaria uma mania por Shakespeare, e liderou membros do Movimento Romântico - como Victor Hugo e Alexandre Dumas - a assistir sua performance de Hamlet em Paris em 1827, onde o destaque foi para a Ofélia de Harriet Smithson.[169] Na Alemanha, Hamlet tinha se tornado tão popular em meados do século XIX que Ferdinand Freiligrath declarou certa vez: "A Alemanha é Hamlet".[170] A partir de 1850, o teatro persiano produziu Hamlet dentro de suas tradição indianas, com dezenas de músicas adicionadas dentre a peça, e com encenações folclóricas.[171]

Hamlet nos séculos XX e XXI

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Além de muitas trupes ocidentais visitarem o Japão no século XIX, a primeira encenação profissional de Hamlet em território japonês partiu de Otojiro Kawakami, em 1903.[172] Shoyo Tsubouchi traduziu Hamlet e produziu uma performance em 1911 que misturou Shingeki ("novo drama") com estilos típicos do Kabuki.[172] Duas produções de Hamlet no Brasil deixaram sua marca inicial no século: a dos anos 1940 por Pascoal Carlos Magno e a dos anos 1950 e 1960 encenada e atuada pelo renomado Sérgio Cardoso. Essa última produção tornou-se popular e conquistou crítica e público.[173] O impacto dessa produção foi a interpretação inovadora de Sérgio Cardoso, citada como atenciosa na construção da personagem, num tempo em que os atores brasileiros acreditavam no talento nato.[174] Cardoso trabalharia novamente em Hamlet oito anos depois, e o crítico teatral Décio de Almeida Prado diria: "[…] todos estes anos não se passaram em vão".[175]

O ator americano Edwin Booth como Hamlet, 1870, no monólogo Ser, ou não ser, eis a questão

Hamlet muitas vezes foi e ainda continua sendo encenada com tons políticos contemporâneos: a produção de 1926, do alemão Leopold Jessner, no Teatro Berlin Staatstheater, retratou a corte do personagem Cláudio como uma paródia da corte de Guilherme II.[176] Na Polônia, o número de produções de Hamlet obteve uma tendência a dar destaque aos temas políticos da peça, desde que esses temas políticos - crimes suspeitos, golpes, vigilância - pudessem ser utilizados para comentar uma situação da época.[177] Da mesma forma, alguns diretores da República Checa têm usado a peça nos momentos de ocupação: uma produção de 1941 do Teatro Vinohrady, segundo alguns autores, "destacou, com a devida cautela, a situação de um intelectual indefeso tentando sobreviver em um ambiente sem piedade".[178] Na China, algumas performances de Hamlet tiveram importância política: The Usurper of State Power (1916), de Gu Wuwei, uma amálgama de Hamlet e Macbeth, foi uma crítica a determinados militares que desejavam derrubar a república do país.[179] No rescaldo do colapso dos protestos de 1989 na Praça da Paz Celestial, Lin Zhaohua encenou um Hamlet em 1990 onde o príncipe era um indivíduo ordinário torturado por uma perda de sentido. Nesta produção, os atores encenaram Hamlet, Cláudio e Polônio mudando os papéis nos momentos cruciais da performance, incluindo o momento da morte de Cláudio, ponto onde o ator associado a Hamlet havia caído no chão.[179]

Notáveis encenações em Londres e em Nova Iorque incluem a produção de Barrymore de 1925: ela influenciou as performances de John Gielgud e Laurence Olivier.[180][181] Gielgud atuou no papel principal durante um bom tempo: sua produção de 1936 em Nova Iorque levou-o a realizar 136 performances, fazendo com que fosse considerado o melhor intérprete do papel desde Barrymore.[182] A produção de 1937 no Old Vic Theatre, com Olivier no elenco, foi aclamada pelo público mas não pelos críticos: um crítico teatral do The Sunday Times escreveu certa vez: "Mr. Olivier não fala poesia de forma ruim. Ele não fala nada sobre ela."[183] Em 1963, foi a vez de Olivier dirigir Hamlet, e trabalhou com Peter O'Toole (que era o príncipe). Com efeito, Hamlet é a peça mais produzida de Shakespeare: somente em Nova Iorque, ela possui sessenta e quatro produções encenadas na Broadway e um número incontável na Off-Broadway.[184]

No século XIX, esses números aumentam cada vez mais. No Brasil, uma recente produção de Wagner Moura, dirigida por Aderbal Freire Filho, destacou o lado cômico da peça[185] e realizou uma versão linguisticamente mais despojada para a fala do atores em cena.[186]

Atuações no cinema

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Atriz Sarah Bernhardt como Hamlet na cena com a caveira de Yorick

A primeira adaptação de Hamlet que fez sucesso na tela foi o filme produzido em 1900 de cinco minutos de Sarah Bernhardt, que apresentava a cena da competição.[187] A música do filme e as falas foram gravadas em gravações fonográficas para serem encenadas ao longo das cenas.[188] Versões mudas foram realizadas em 1907, 1908, 1910, 1913 e em 1917.[188] Em 1920, Asta Nielsen encenou Hamlet como uma mulher que gasta sua vida disfarçada de homem.[188] O film noir Hamlet (1948), de Laurence Olivier, ganhou o Oscar de melhor fotografia e de melhor ator. Gamlet (Russo: Гамлет), de 1964, é um filme russo, baseado na tradução de Boris Pasternak e estrelando Innokenty Smoktunovsky no papel do príncipe.[189] Por sua performance, Smoktunovsky ganhou um elogio de Laurence Olivier. John Gielgud e Kenneth Branagh, dois experts de Shakespeare, consideram esse trabalho como a rendição definitiva do conto trágico de Shakespeare.[190] Gielgud dirigiu Richard Burton no Lunt-Fontanne Theater em 1964-5 e essa performance acabou inspirando uma obra cinematográfica.[191]

Posteriormente, outros atores como Kenneth Branagh e Mel Gibson também dirigiram ou atuaram adaptações cinematográficas de Hamlet. Branagh adaptou, dirigiu e estrelou uma extensa versão de 1996, que continha todas as palavras da peça shakespeariana, combinando o material dos textos do F1 e do Q2, e o resultado foi quatro horas de filme.[192] Em 2000, Michael Almereyda adaptou a história para os tempos contemporâneos, onde ela se passa em Manhattan, e Ethan Hawke encena um Hamlet que estuda cinema.[193]

Edições em português

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A língua portuguesa conta com uma ampla bibliografia de Hamlet. Mesmo nos dias atuais ainda se fazem traduções da tragédia shakespeariana, como é o caso de Hamlet (2003) em tradução do brasileiro Elvio Funck. As versões mais antigas, contudo, são importantes para se verificar como as traduções de Shakespeare em português às vezes não seguem o texto-fonte e, adquirindo um estilo peculiar, substituem frequentemente seus versos por prosa: isso ocorre com o primeiro conjunto de publicações de Shakespeare para o português, traduzidas por Luís I de Portugal que, além de assinar Hamlet (1877), também trabalhou em cima de O Mercador de Veneza (1879), Ricardo III (1880) e Otelo, o Mouro de Veneza (1885).[194]

Recentemente, a tradição estabelecida por Luís I é aproveitada, desde 2001, na série Shakespeare para o século XXI, do Departamento de Estudos Anglo Americanos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que possui associação com a editora Campo das Letras, onde acadêmicos especializados traduzem as obras sob o parâmetro do registro em prosa.[195] Antes da edição de Luís I, porém, a Fundação Biblioteca Nacional data uma versão em português de 1871, sob o título de Hamleto, principe da Dinamarca, tragedia em cinco actos, embora não informe o tradutor, deixando apenas o conhecimento de que foi impressa e lançada no Rio de Janeiro.[196]

De fato, a tradução versificada dos versos dramáticos de Shakespeare encontram poucos adeptos em Portugal: certos pesquisadores encontram apenas dois títulos relevantes fora desse costume, como é o caso de Sonho d'uma noite de São João (1874), traduzida por Visconde António Feliciano de Castilho, e Júlio César (1925), por Luís Cardim.[195] Ainda na estratégia formal da prosa, o Brasil conta com tradutores de Shakespeare que são importantes nomes das letras nacionais, como Millôr Fernandes (que fez uma tradução em 1984), Geraldo Carneiro e Paulo Mendes Campos.[195] Fora da estratégia prosaica, há alguns tradutores brasileiros que seguem os versos shakespearianos, como é o caso de Artur de Sales, Geir Campos e também Péricles Eugênio da Silva Ramos (sendo esse verbete baseado em sua tradução).[195]

Lista de edições em português

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Traduções portuguesas

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A lista abaixo se baseia em dados da Biblioteca Nacional de Portugal. Se quiser analisar uma relação mais completa, pode se dirigir à página virtual da instituição.[197]

  • BREYNER, Sophia de Mello (1987) Hamlet, Porto: Lello & Irmãos – Editores
  • Shakespeare, William, 1564-1616; Pato, Bulhão, 1829-1912, trad., Hamlet. Lisboa : Typ. da Academia Real das Sciências, 1879
  • A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca/ Shakespeare; trad. e pref. José Blanc de Portugal, [Lisboa : Editorial Presença, 1967] ( Porto : -- Tip. Nunes)
  • Shakespeare, William, 1564-1616; Freitas, José António de, 1849-1931, trad., Hamlet, Lisboa : J. Rodrigues, 1912
  • Luís I de Portugal (trad.), Hamlet, Drama em cinco actos, Lisboa: Imprensa Nacional, 1877
  • Shakespeare, William, 1564-1616; Freitas, José António de, 1849-1931, trad., Lisboa : J. Rodrigues, 1912

Traduções brasileiras

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Abaixo, uma lista cronológica das traduções brasileiras de Hamlet.[198] Uma lista talvez ainda mais atualizada pode ser visualizada na página oficial da Fundação Biblioteca Nacional.[199]

Notas

  1. Quarto: é um termo (usado na Idade Moderna) na impressão, que se refere ao tamanho de um livro, geralmente impresso sobre duas faces de grandes folhas de papel, medindo 23 por 30 cm, aproximadamente o tamanho da maioria das revistas de hoje em dia.
  2. Todas as referências ao texto de Hamlet baseiam-se na edição de 1976 traduzida por Péricles Ramos que, por sua vez, seguiu o texto fixado por John Dover Wilson. Sobre seu sistema de referenciação, 3.1.55 (p. ex.) significa ato 3, cena 1, página 55. Acerca de outros textos, o(s) nome(s) do(s) autor(es) aparece(m) antes de parênteses que contém o número da edição e, consecutivamente, o(s) número(s) da(s) página(s) correspondente(s) à fonte. Para avaliar as obras que foram utilizadas como fontes, dirija-se à subseção bibliografia.
  3. Repare como em Q1 está escrito To be, or not to be, I there's the point, enquanto que no F1 podemos encontrar: To be, or not to be: That's the question. Isso apenas comprova como o texto do Q1 não é inteiramente parecido com o do F1 e nem com o dos outros.
  4. Tomando em consideração que Sófocles é de uma época muito anterior da de Shakespeare, Freud pretendia representar suas concepções acerca do Complexo de Édipo dando esse nome em homenagem à peça deste dramaturgo grego antigo, como meio de registrar a consciência mais antiga da humanidade a respeito do complexo. Fora isso, contudo, é a peça Hamlet, que só surgiu séculos depois da Édipo Rei, que se encaixa melhor nas ideias freudianas.[103] De fato, seria como se Shakespeare registrasse uma consciência que evolui e mantém esse complexo, se comparada à época de Sófocles.
  5. Machado disse certa vez: "Um dia, quando não houver mais Grã-Bretanha, quando não houver mais os Estados Unidos, quando pois, não existir mais a língua inglesa, ainda sim, haverá Shakespeare. Falaremos Shakespeare."[127] Também podemos encontrar paralelos entre Machado e Shakespeare em Dom Casmurro, onde o personagem principal, além de se referir a Shakespeare e ir assistir em um teatro carioca uma de suas peças, é considerado por alguns críticos de literatura como "uma versão tropical de Otelo."[128]

Referências

  1. «Gramática utilizada no First Folio, publicado em 1623. No Segundo Quarto, publicado em 1604, é titulada "The Tragicall Historie of Hamlet, Prince of Denmarke" (A trágica história de Hamlet, príncipe da Dinamarca).» 
  2. ____ Revista Santa Rita Arquivado em 9 de maio de 2010, no Wayback Machine. (Ano 02, Número 4, Primavera de 2007). Roberto Pepi Contieri (dir. acadêmico) ISSN 1980-1742
  3. Sem Nome. William Shakespeare Biografia Arquivado em 4 de novembro de 2013, no Wayback Machine.. Acesso: 23 de novembro, 2008
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  9. Hamlet, 1.4.
  10. Desmascaramento: Hamlet, 3.2.129.
  11. a b Os dois rústicos: Hamlet, 5.1
  12. Saxo e Hansen, 1983, págs. 16–25.
  13. Saxo e Hansen, 1983, págs. 5–15.
  14. Saxo e Hansen, 1983, págs. 1–5.
  15. Saxo e Hansen, 1983, págs. 25–37.
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  17. Saxo e Hansen, 1983, págs. 66–67.
  18. Jenkins, 1982, págs. 82–85.
  19. Hamlet, p. VIII
  20. Saxo e Hansen, 1983, p. 67.
  21. De acordo com Jackson, 1991, p. 267.
  22. Bloom, 2001, xiii e p. 383; 2003, p. 154
  23. Ogburn, 1988, p. 631.
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  25. Saxo e Hansen, 1983, p. 6.
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  31. MacCary, 1998, págs 12–13 e Edwards, 1985, págs. 5–6.
  32. a b Lott, 1970, p. xlvi.
  33. Hamlet, 2.2.89
  34. Edwards, 1985, p. 5.
  35. Hattaway, 1987, págs. 13–20.
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  38. Hibbard, 1987, págs. 22–23.
  39. Hattaway, 1987, p. 16.
  40. Thompson e Taylor publicaram o Q2, com apêndices, no primeiro volume deles (2006a) e os textos do F1 e do Q1 no segundo volume de ambos (2006b). Bate e Rasmussen (2007) trazem o texto do F1 com algumas passagens adicionais de Q2 no apêndice.
  41. Hamlet, p. 243
  42. Hamlet, 304
  43. a b Jenkins, 1982, p. 14.
  44. Jackson, 1986, p. 171.
  45. Irace, 1998.
  46. Thompson e Taylor, 2006a, págs. 85–86.
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  48. Wofford, 1994, e Kirsch, 1968.
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  59. a b MacCary, 1998, págs. 67–72, 84.
  60. MacCary, 1998, págs. 84–85.
  61. Hamlet 3.1.108
  62. a b Hamlet 1.2.25
  63. Hamlet 1.2.26
  64. MacCary, 1998, págs. 89–90.
  65. Hamlet, p. 291, 328º nota
  66. Oxford English Dictionary (2004, CD).
  67. Hamlet, p. 253, 63º nota.
  68. Hamlet, 3.1.112
  69. MacCary, 1998, págs. 87–88.
  70. Hamlet, p. 186
  71. MacCary, 1998, págs. 91–93.
  72. Hamlet, p. XX
  73. Rosenberg, 1992, págs. 179-180.
  74. Morte de Ofélia: Hamlet 4.7.195; Conversa dos Rústicos: Ato V, cena i
  75. Hamlet, 1.5.50.
  76. Hamlet, Ato V, cena i
  77. MacCary, 1998, págs. 37–38; no Novo Testamento, veja Romanos 12:19: " 'minha é a vingança; eu recompensarei', diz o Senhor ".
  78. MacCary, 1998, p. 38.
  79. Hamlet, 5.2.228
  80. Hamlet, p. 325, 652ª nota.
  81. Hamlet Q1 17.45–46.
  82. Blits, 2001, págs. 3–21.
  83. a b MacCary, 1998, p. 49.
  84. Hamlet, 2.2.84
  85. MacCary, 1998, págs. 47–48.
  86. Hamlet, 3.1.108
  87. Hamlet, p. 287 - 305ª nota
  88. MacCary, 1998, págs. 28–49.
  89. Trad. de Florio, 1603, III.12
  90. a b Hamlet, p. 288/9 - 312ª nota
  91. Hamlet 2.2.87
  92. Knowles, 1999, págs. 1049 e 1052–1053, citado por Thompson e Taylor, 2006a, p. 73–74; MacCary, 1998, p. 49.
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  104. a b Édipo e Hamlet em Freud, p. 9
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  108. Hamlet 3.4.146
  109. Édipo e Hamlet em Freud, p. 10
  110. a b ______ Freud Interpreta Shakespeare Arquivado em 7 de julho de 2011, no Wayback Machine., p. 4
  111. Cena do Closet: Hamlet 3.4.143
  112. MacCary, 1998, págs. 104–107, 113–116 e de Grazia, 2007, págs. 168–170.
  113. Smallwood, 2002, p. 102.
  114. a b c d Britton, 1995, p. 207-211.
  115. O Anti-Épido, págs. 211-212.
  116. Cf. Abecedário de Deleuze - transcrição, documentário de 1988–1989, p. 18.
  117. Isso pode ser lido ou visto em: Hamlet, 4.5.173 em diante,
  118. Wofford, 1994, págs. 199–202.
  119. Howard, 2003, págs. 411–415.
  120. Bloom, 2003, págs. 58–59; Thompson, 2001, p. 4.
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  123. MacCary, 1998, págs. 111–113.
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  128. Schilling, Voltaire. "Especial Shakespeare: Machado de Assis e Shakespeare". Acesso:23 de novembro, 2008
  129. Hamlet, 1.5.58
  130. Machado de Assis, Contos, A Cartomante, p. 1 (Edição Objetivo, para Vestibular). Editora: Sol
  131. Representa o país desconhecido, isto é, a morte. Faz parte do monólogo Ser ou não ser: Hamlet, 3.1.108
  132. Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, p. 23-24 (Edição Objetivo, para Vestibular). Editora: Sol
  133. Thompson e Taylor, 2006a, p. 126–131.
  134. Ver Taylor, 2002, p. 4
  135. Banham, 1998, p. 141.
  136. Taylor, 2002, p. 18.
  137. Taylor, 2002, p. 13.
  138. Thompson e Taylor, 2006a, págs. 53–55; Chambers, 1930, vol. 1, p. 334, citado por Dawson, 2002, p. 176.
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  156. Fausto Viana, "João Caetano e Trajes de Cena - Importância das fontes primárias em artes cênicas", EACH USP, 12º Colóquio de Moda – 9ª Edição Internacional, 3º Congresso de Iniciação Científica em Design e Moda, 2016.
  157. Revista BrazilTheatro, 1903, p. 624. Cf. também Fausto Viana, "João Caetano e Trajes de Cena - Importância das fontes primárias em artes cênicas", EACH USP, 12º Colóquio de Moda – 9ª Edição Internacional, 3º Congresso de Iniciação Científica em Design e Moda, 2016.
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  170. Dawson, 2002, p. 184.
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