Juche
A Ideologia Juche, ou apenas Juche — que em coreano poderia ser traduzido "Mestre de si próprio"[1] é a ideologia oficial do Partido dos Trabalhadores da Coreia. O Juche é uma filosofia política nascida do período de resistência à colonização japonesa, que defende que os mestres da revolução e da construção social são as massas populares.
Kim Il Sung foi o idealizador da ideia Juche, durante a resistência anticolonial coreana escrevia sobre os princípios filosóficos que fazem do homem o mestre de tudo e que tudo decide.
Para ele, a independência, o espírito criador e a consciência fazem do homem um ser social, superior a qualquer outra das milhares de espécies catalogadas pela ciência. Essas 3 características são inerentes ao homem, o transformando assim em um ser superior perante qualquer outro. A independência significa “vida”. Estamos nos referindo à vida sócio-política. Ele possui uma vida social e política simultaneamente com a física. Tem sua vida como um organismo biológico e como ser social.[2]
Trata-se de uma filosofia política voltada para a materialização da independência das massas populares, ou seja, uma filosofia que elucida as bases teóricas de uma política de Estado que conduz o desenvolvimento social até aquilo que eles consideram "o caminho correto", através de independência geopolítica, autossuficiência econômica e autossuficiência bélica, ensejando um firme compromisso com a soberania nacional.[3]
Também conhecido como "Kimilsungismo", o Juche foi idealizado pelo próprio Kim Il-sung, que buscou aportar o ferramental teórico do marxismo leninista à realidade coreana durante a resistência contra o colonialismo japonês.
O Juche tem sido promovido pelo governo norte-coreano na política e no sistema educacional desde que o conceito foi elaborado em 1955. Em 1977, o Juche substituiu o marxismo-leninismo na constituição da Coreia do Norte, solidificando a sua posição como ideologia oficial do país.
Características
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Entre as características do Juche, pode-se assinalar os seguintes aspectos:
- Ênfase na independência político-econômica em relação às nações estrangeiras;
- Culto à personalidade, que no caso específico da Coreia do Norte diz respeito à figura de Kim Il-sung e família;
- Militarismo, que deriva à Ideia Songun, que busca hegemonizar a população civil e militar, que permitiria às forças armadas serem também prioridade nos assuntos de Estado e na alocação de recursos;
- Voluntarismo, onde as massas são consideradas 'donas do mundo';
- Nacionalismo, com uma forte defesa da homogeneidade;
- Tradicionalismo, através do respeito da cultura tradicional;
- Parlamentarismo;[4]
- Economia planificada.
Do ponto de vista econômico, o Juche defende a autossuficiência industrial e de serviços, para preservar a dignidade e a soberania da nação, concentrando-se no desenvolvimento da indústria pesada, da defesa nacional e da agricultura. Através desta estratégia, pretende-se que a Coreia do Norte seja autossuficiente em todos os níveis, muito embora os norte-coreanos não descartem a cooperação econômica internacional através do comércio.[5]
Presença do Grande Líder
[editar | editar código-fonte]Embora a ideologia pareça enfatizar o papel central do indivíduo humano, o Juche pode ser cumprido apenas por meio da subordinação das massas à sua força coletiva, centralizada na figura de um único líder. A ideologia ensina que o papel de um Grande Líder é essencial para que as massas populares tenham sucesso em seu movimento revolucionário, pois sem uma liderança estariam fadados ao fracasso.
Esta é a base do culto à personalidade dirigido a Kim Il-sung. O sucesso das bases filosóficas do juche permitiram à revolução manter-se em seus próprios pés, cometendo erros mas corrigindo-os, a ideologia Juche foi capaz de perdurar até hoje, mesmo durante a inegável dependência do governo norte-coreano de assistência estrangeira durante sua escassez de alimentos na década de 1990.[6] O conceito de "Grande Líder" no Juche, bem como o culto em torno da família Kim, foi comparado à ideologia xintoísta do Estado do Japão Imperial, no qual o imperador era visto como um ser divino.[7]
Através da crença fundamental no papel essencial do Grande Líder, o ex-líder norte-coreano Kim Il-sung se tornou a "divindade suprema para o povo" e a doutrina Juche é reforçada na constituição da Coreia do Norte como o princípio orientador do país.[8]
A estrutura de relacionamento paralelo entre Kim Il-sung e seu povo com fundadores ou líderes religiosos e seus seguidores levou muitos estudiosos a considerar o Juche um movimento religioso tanto quanto uma ideologia política.[9] No entanto, aqueles familiarizados com os cultos afirmam que o Juche ignora os princípios da religião completamente e, em vez disso, atende aos critérios de um culto totalitário.[10][11]
A ênfase do Juche no papel político do líder e a subsequente adoração pelas massas populares foi criticada por vários marxistas intelectuais.[12] Eles argumentam que a classe trabalhadora norte-coreana ou o proletariado foram destituídos de sua honra e, portanto, chamam o culto da personalidade de não marxista e não democrático.[13]
Na Coreia do Norte, apenas a devoção absoluta ao líder supremo é permitido. De acordo com grupos de direitos humanos, essa devoção é o resultado do condicionamento desde o nascimento — e do medo da execução ou prisão em campos de trabalho desumanos.[11]
Para enfatizar o conceito de "Grande Líder" no Juche, as imagens fotográficas de Kim Il-sung e Kim Jong il se tornaram obrigatórias. Hoje, os retratos são encontrados em toda a Coreia do Norte.[14] As regras relativas à exibição e manutenção dos retratos são complexas.[15] Os retratos devem ser pendurados na parede mais proeminente do apartamento, sem nada mais sobre eles,[16] de preferência na sala de estar.[14]
Eles devem ser mantidos limpos e não podem ser pendurados fora do centro.[17] Qualquer desrespeito às imagens dos líderes é criminoso. Isso inclui não apenas retratos pendurados nas paredes, mas também, por exemplo, imagens em jornais.[18] Danos aos retratos levam a uma investigação e, se o suspeito for considerado culpado, a punição.[15] A penalidade de um dia de trabalho duro em um canteiro de obras é relatada por falha em pendurar os retratos adequadamente.[19]
Os retratos devem ser protegidos mesmo em caso de emergência.[20] Ainda assim, negligenciar o cuidado com os retratos é considerado uma ofensa menor e, como tal, é uma confissão típica que as pessoas fazem durante as sessões de crítica mútua.[21] Verificações aleatórias para os retratos são realizadas,[22] mensalmente pelo menos durante o governo de Kim Il-sung,[23] mas o inminban (vigilância do bairro) às vezes informa as pessoas sobre as inspeções.[24]
Quando um norte-coreano muda de apartamento, ele ou ela deve começar pendurando os retratos primeiro.[22] Os retratos são geralmente pendurados na parede sem mais nada, colocados no alto e voltados para baixo. Algumas famílias se curvam aos retratos todas as manhãs e à noite,[18] cumprimentando-os,[25] embora não seja obrigatório curvar-se nem mesmo em locais públicos.[16] Quando uma família norte-coreana está de luto por um membro morto, saudações cerimoniais e oferendas são feitas ao falecido, mas somente após os dois retratos terem recebido o mesmo tratamento.[25] Os retratos geralmente são mantidos limpos pelos adultos da casa, geralmente a mãe da família. Eles limpam o vidro todas as manhãs. Às vezes, os retratos têm uma caixa embaixo deles que abriga um pano branco usado para espaná-los, que não é permitido usar para nenhum outro propósito.[25][18]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ CEPS-BR (5 de julho de 2021). «O que é a Ideia Juche? Breves considerações». Centro de Estudos da Política Songun - Brasil. Consultado em 17 de março de 2022
- ↑ Silva, Eduardo (2017). «O que é a filosofia Juche?». Jusbrasil. Consultado em 17 de março de 2022
- ↑ DPR of Korea. «Juche Ideology» (em inglês)
- ↑ Seong-Chang Cheong. «The Parliamentary System of the Democratic People's Republic of Korea» (PDF) (em inglês). Consultado em 5 de julho de 2017. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2012
- ↑ Kim Jong-il (1982). On the Juche Idea. [S.l.: s.n.] p. 47
- ↑ Hoare, James (2012). Historical Dictionary of the Democratic People's Republic of Korea. Lanham, MD: Scarecrow. página 192.
- ↑ Halpin, Dennis P. (15 de fevereiro de 2015). «North Korea's Kim family cult: Roots in Japanese state Shinto?». News. NK News. Consultado em 11 de agosto de 2020
- ↑ Cumings, Bruce (2003). North Korea: Another Country. New York: New. p. 158
- ↑ Jung 2013, p. 95.
- ↑ «North Korea: Hopefully Not a Potential Global Waco? - Freedom of Mind Resource Center». 20 de abril de 2017. Consultado em 4 de janeiro de 2018. Cópia arquivada em 4 de janeiro de 2018
- ↑ a b Rogers, Chris (3 de fevereiro de 2014). «Inside North Korea's Western-funded university». BBC Panorama - News. BBC. Consultado em 11 de agosto de 2020
- ↑ Helgesen 1991, p. 205.
- ↑ Helgesen 1991, p. 206.
- ↑ a b Lankov 2007, p. 26.
- ↑ a b Lankov 2015, p. 53.
- ↑ a b Hunter, Helen-Louise (1999). Kim Il-song's North Korea. Westport: Praeger Publishers. p. 16. ISBN 978-0-275-96296-8
- ↑ Cha 2012, p. 8.
- ↑ a b c Portal 2005, p. 87.
- ↑ Do et al. 2015, p. 238.
- ↑ Lankov 2015, p. 36.
- ↑ Lankov 2015, pp. 42–44.
- ↑ a b Lankov 2007, p. 27.
- ↑ Senker, Cath (2012). North Korea and South Korea. New York: The Rosen Publishing Group. p. 12. ISBN 978-1-4488-6072-2
- ↑ Do Kyung-ok 2015, p. 238.
- ↑ a b c Kwon, Heonik; Chung, Byung-Ho (2012). North Korea: Beyond Charismatic Politics. Lanham: Rowman & Littlefield Publishers. p. 143. ISBN 978-1-4422-1577-1
Obras citadas
[editar | editar código-fonte]- Cha, Victor (2012). The Impossible State: North Korea, Past and Future. London: Random House. ISBN 978-1-4481-3958-3
- Do, Kyung-ok; Kim, Soon-am; Han, Dong-ho; Lee, Keum-soon; Hong, Min (2015). White Paper on Human Rights in North Korea 2015 (PDF). Seoul: Korea Institute for National Unification. ISBN 978-89-8479-802-1. Cópia arquivada (PDF) em 20 de fevereiro de 2018
- Lankov, Andrei (2007). North of the DMZ: Essays on Daily Life in North Korea. Jefferson: McFarland. ISBN 978-0-7864-5141-8
- — (2015). The Real North Korea: Life and Politics in the Failed Stalinist Utopia. Oxford: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-939003-8
- Portal, Jane (2005). Art Under Control in North Korea. London: Reaktion Books. ISBN 978-1-86189-236-2