Nez-Percés
Nez-percés | |||
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Guerreiro nez-percés à cavalo. | |||
População total | |||
2.700 | |||
Regiões com população significativa | |||
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Línguas | |||
Inglês e nez-percé | |||
Religiões | |||
Cristianismo e outras | |||
Grupos étnicos relacionados | |||
Outros povos penutianos |
Os nez-percés são uma tribo do América do Norte que vivem na região do noroeste pacífico (Rio Columbia). Uma teoria antropológica diz que a tribo descende da Cultura Antiga da Cordilheira, que se moveu para o sul a partir das Montanhas Rochosas e para o oeste nas atuais terras dos nez-percés.[1] Atualmente a tribo governa e habita uma reserva indígena no estado de Idaho, nos Estados Unidos. Os nez-percés se autodenominam nimíipu, que quer dizer "O Povo".[2]
Etimologia
[editar | editar código-fonte]A mais comum autodenominação utilizada pelos Nez Perce é Nimípu[3]. "Nez Perce" também é utilizada pela própria tribo, o governo norte-americano e pelos historiadores contemporâneos. O antigos trabalhos etnológicos usam o termo francês Nez Percé, com o diacrítico. Nos jornais de William Clark, a tribo era citada como Chopunnish. Esse termo é uma adaptação do termo cú·pʼnitpeľu (O povo Nez Perce), que é formado pelo cú·pʼnit (furo com um objeto pontudo) e peľu (povo)[4]. A tradição oral dos Nez Perce indica o nome "Cuupn'itpel'uu" significando "nós andamos fora da floresta ou nós andamos fora das montanhas", que remete a um período anterior dos Nez Perce utilizarem os cavalos. Nez Perce foi um nome dado durante a Expedição de Lewis e Clark, quando eles se encontraram pela primeira vez com os Nez Perce em 1805. O nome veio do francês "nariz furado", devido a uma observação não muito acurada dos viajantes, pois eles não utilizavam nenhum ornamento que necessitasse furar o nariz, boca ou orelha. A atual tribo "nariz furado" que vive ao longo do baixo Rio Columbia, no Noroeste Pacífico, são chamados comumente de Chinooks pelos antropólogos e historiadores. Os Chinook dependem densamente da pesca dos salmões, assim como os Nez Perce, e dividem a pesca e trocam entre si os locais de moradia, mas os Chinook possuem uma sociedade muito mais hierarquizada.
Terras e Cultura Tradicional
[editar | editar código-fonte]A área dos Nez Perce no tempo de Lewis e Clark era de aproximadamente 69,000 km². Cobria partes de Washington, Oregon, Montana e Idaho, em uma área em volta dos rios Snake, Salmon e o Clearwater. A área tribal estendia-se das Montanhas Bitterroot do leste para as Montanhas Blue no oeste, entre as latitude 45°N e 47°N.[5]
Em 1800, havia mais de 70 aldeias permanentes com em torno de 30 a 200 indivíduos, dependendo da estação e do grupo social. Em torno de 300 sítios foram identificados, incluindo tanto acampamentos quanto aldeias. Em 1805, os Nez Perce eram uma das maiores tribos do rio Columbia, com uma população de em torno de 6000. No início do século XX, os Nez Perce declinaram para 1800 devido a epidemias, conflitos com não-índios e outros fatores.[6]
Os Nez Perce, assim como muitas tribos do oeste, eram migratórias e viajavam conforme as estações, de acordo de onde havia maior quantidade de comida durante um período do ano. Sua migração seguia um modelo previsível de aldeias permanentes de inverno para acampamentos temporários, voltando sempre para os mesmos locais ano após ano. Ele foram conhecidos por irem ao extremo leste, como as Grandes Planícies de Montana, para caçar o bisão-americano, e ao extremo oeste como as Cachoeira de Celilo para a pesca do salmão no rio Columbia. Eles coletavam bastante Camassia, na região entre as drenagens do rio Salmon e do rio Clearwater, como fonte de alimento.
Os Nez Perce acreditam em espíritos chamados wyakins (Wy-a-kins) que deveriam, como eles pensam, oferecer uma ligação com um mundo invisível de poder espiritual.[7] Os wyakin os protegem do mal e se tornam um guardião espiritual individual. Para receber um wyakin, uma jovem garota ou garoto, em torno de 15 a 15 anos, deve ir às montanhas para receber uma visão. A pessoa não deve carregar nenhuma arma, estar em jejum e beber pouca água. Lá, ele ou ela receberia a visão de um espírito que iria ter a forma de um mamífero ou pássaro. Essa visão deveria aparecer fisicamente ou em sonhos ou em um transe. O wyakin da pessoa é muito pessoal e é raramente compartilhado com outras pessoas, sendo que sua contemplação é realizada de forma privada. O wyakin fica com a pessoa até a sua morte.
O Parque Histórico Nacional de Nez Perce inclui um centro de pesquisa, onde possui um arquivo histórico do parque e uma coleção bibliográfica. Está disponível em um website para estudos e interpretação da história e cultura Nez Perce[8].
História
[editar | editar código-fonte]Mito de Origem
[editar | editar código-fonte]“ | Houve uma vez um monstro que vivia no vale do rio Clearwater, perto de Kamiah. Essa besta devorava todos os animais que viviam na região e se tornou uma ameaça, até que o Coiote, um herói corajoso de muitos mitos indígenas, decidiu que ele deveria ser morto. Armado com uma faca, ele pulou na garganta do animal e apunhalou seu coração. Então ele cortou o corpo em pedaços e disso surgiram muitas tribos, que foram enviadas para ocupar as montanhas e planícies em volta. Finalmente, ele descobriu que não havia nenhuma tribo no belíssimo vale no qual o monstro vivia, então ele espremeu algumas gotas de sangue do coração do animal e, dessas gotas, surgiram os Nez Perce. Do sangue desse estranho animal surgiu uma tribo com muitas das admiráveis qualidades do ser humano.[9] | ” |
Primeiro Contato
[editar | editar código-fonte]William Clark foi o primeiro norte-americano a se encontrar com a tribo. Enquanto ele, Meriwether Lewis e seus homens estavam atravessando as Montanhas Bitterroot, eles ficaram com pouca comida. Clark tomou seis caçadores e se apressou para uma caçada. Em 20 de setembro de 1885, perto do final oeste de Lolo Pass, ele encontrou um pequeno acampamento perto do que hoje é conhecido como Pradaria Weippe. Os exploradores ficaram impressionado com quem eles haviam encontrado e, para continuar sua jornada em botes até o pacífico, ele confiaram em deixar seus cavalos a "dois irmãos e um dos filhos do chefe". Um desses índios era Twisted Hair, que se tornou pai de Timothy, um proeminente membro do "Tratado" de 1877. Os índios eram de extrema confiança e o grupo conseguiu recuperar seus cavalos quando eles retornaram[10].
Rendição do Chefe Joseph
[editar | editar código-fonte]Os Nez Perce se dividiram em dois grupos nos meados do século XIX, com um lado aceitando a recolocação da tribo dentro de uma reserva indígena, e do outro lado, se recusando a deixar as férteis terras de Washington e Oregon. Em 5 de outubro de 1877, Chefe Joseph da Nação Nez Perce se rendeu a uma unidade da cavalaria dos Estados Unidos, perto de Chinook, no norte do que hoje é o Montana. Antes de se renderem, eles lutaram em uma falsa retirada rumo ao Canadá contra 2,000 soldados. Sua rendição, após 13 batalhas e entrando 2740 km dentro do Canadá, marcou a última grande batalha entre o governo estadunidense e uma nação indígena.[11] Depois de se render, o Chefe Joseph pronunciou sua famosa frase: "Ouçam me, meus chefes, eu estou cansado. Meu coração está doente e triste. De onde o sol está agora, eu não irei lutar nunca mais." O caminho percorrido por eles é reproduzido em trilha ecológica atualmente (Nez Perce National Historic Trail)[12]. A cavalgada anual em Cypress Hill comemora a cruzada do povo Nez Perce pelo Canadá[13].
Programa de Reprodução de Cavalos dos Nez Perce
[editar | editar código-fonte]A tribo Nez Perce começou o seu programa de reprodução em 1995, baseado no cruzamento do Appaloosa e uma raça da Ásia Central chamado Akhal-Teke para produzir o Cavalo Nez Perce.[14] Esse é um programa para restabelecer a tradição cultural do cavalo dos Nez Perce, uma orgulhosa tradição de seleção de raças e guerreiros montados que foi destruída no século XIX. O programa de reprodução é financiado pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, pela tribo Nez Perce e por uma ONG chamada First Nations Development Institute (sediada na cidade de Washington), que promove ações em territórios indígenas.
Pesca
[editar | editar código-fonte]A pesca possui uma importância cerimonial, de subsistência e comercial para os Nez Perce. Eles promovem um evento de pesca com todos da tribo no canal principal do Rio Columbia, entre as hidrelétricas de Bonneville e McNary. Além disso, eles pescam durante a primavera/verão o salmão e a Truta-arco-íris no Rio Snake e seus tributários.
Reserva Indígena Nez Perce
[editar | editar código-fonte]As atuais terras tribais da reserva estão localizadas nas coordenadas 46° 18′ 27″ N, 116° 24′ 25″ O, abrangendo partes de quatro condados no norte de Idaho, principalmente na região da Pradaria Camas. As outras áreas são os condados de Nez Perce, Lewis, Idaho, and Clearwater. A área total é de 3095 km², e a população da reserva, segundo o sensus de 2000 é de 17 959 residentes.[15] A maior comunidade é a cidade de Orofino. Lapwai, a sede administrativa tribal, possui a maior porcentagem de Nez Perce, em 81,39%.
Referências
- ↑ Josephy, Alvin M. (1997). The Nez Perce Indians and the Opening of the Northwest (em inglês). Boston, Massachusetts: Houghton Mifflin Harcourt. p. 15. ISBN 978-0395850114. OCLC 36170547
- ↑ Aoki, Haruo (2024). Nez Perce Dictionary (em inglês). Berkeley, Califórnia: University of California Press. ISBN 978-0520413283. OCLC 1432619564
- ↑ Aoki, Haruo. Nez Perce Dictionary. Berkeley: University of California Press, 1994. ISBN 978-0520097636.
- ↑ Walker, Deward (1998). Plateau. Handbook of North American Indians v. 12. Smithsonian Institution. pp. 437–438. ISBN 0-16-049514-8.
- ↑ Spinden, Herbert Joseph (1908). «Memoirs of the American Anthropological Association». Nez Percé Indians. 2 pt.3. [S.l.]: American Anthropological Association. p. 172. 4760170
- ↑ Walker, Jr., Jones, Deward E., Peter N. (1964). The Nez Perce. [S.l.]: University of Washington
- ↑ «Obtaining the Wyakin». The Indian Country, 1800: A Brilliant Plan for Living. Newberry Library. Consultado em 17 janeiro 2010[ligação inativa]
- ↑ Nez Perce National Historic Park research center
- ↑ Brown, Mark. The Flight of the Nez Perce. New York: Capricorn Books Ed, 1971.
- ↑ Josephy, Alvin. "The Nez Perce Indians and the opening of the Northwest". Yale University Press, 1971.
- ↑ USA Government FAQ on Nez Perce flight path http://www.fs.fed.us/npnht/faq/
- ↑ U.S. government historical trail map and brochure http://www.fs.fed.us/npnht/brochure/overall.pdf
- ↑ «Nez Perce Ride to Freedom». Consultado em 18 de junho de 2010. Arquivado do original em 17 de maio de 2008
- ↑ «University of Idaho: Idaho Natives. Nez Perce horse culture resurrected through new breed.». Consultado em 18 de junho de 2010. Arquivado do original em 28 de fevereiro de 2010
- ↑ «Census of Population Nez Perce Reservation». United States Census Bureau. 2000. Consultado em 11 de março de 2007
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Josephy, Alvin M. (1997). The Nez Perce Indians and the Opening of the Northwest (em inglês). Boston, Massachusetts: Houghton Mifflin Harcourt. 705 páginas. ISBN 978-0395850114. OCLC 36170547
- Josephy, Alvin M. (2007). Nez Perce Country. Col: Book Collections on Project MUSE (em inglês). Lincoln: University of Nebraska Press. 174 páginas. ISBN 978-0-8032-7623-9. OCLC 182560137
- West, Elliott (2009). The Last Indian War: The Nez Perce Story. Col: Pivotal Moments in American History (em inglês). Oxford: Oxford University Press. 397 páginas. ISBN 978-0199769186. OCLC 654775803
- Beal, Merrill D. (1966). "I Will Fight No More Forever": Chief Joseph and the Nez Perce War (em inglês) 2º ed. Seattle: University of Washington Press. 366 páginas. ISBN 978-0785776994. OCLC 4660281
- Hampton, Bruce (2002). Children of Grace: The Nez Perce War of 1877 (em inglês). Lincoln: University of Nebraska Press. 407 páginas. ISBN 978-0803273344. OCLC 49529852
- Nichols, Roger L. (2013). Warrior Nations: The United States and Indian Peoples (em inglês). Norman: University of Oklahoma Press. 237 páginas. ISBN 978-0806143828. OCLC 860711845
- Bial, Raymond (2002). The Nez Perce. Col: Lifeways (em inglês). Nova York: Benchmark Books. 128 páginas. ISBN 978-0761412106. OCLC 44768763
- Boas, Franz (2021) [1917]. Folk-tales of Salishan and Sahaptin Tribes. Col: Memoirs of the American Folk-lore Society, Volume XI, 9_90327 (em inglês). Lancaster, Pensilvânia: American Folk-Lore Society. 205 páginas. ISBN 978-0659132246. OCLC 1321000532
- Humphrey, Seth K; Washington State Library's Classics in Washington History collection (1906). The Indian dispossessed (DJVU) Revised ed. [S.l.]: Little, Brown and Co. 4450366
- Judson, Katharine Berry; Washington State Library's Classics in Washington History collection (1912). Myths and legends of the Pacific Northwest, especially of Washington and Oregon (DJVU) 2ª ed. [S.l.]: McClurg. 10363767 Oral traditions from the Chinook, Nez Perce, Klickitat and other tribes of the Pacific Northwest.
- Lavender, David Sievert. Let Me Be Free: The Nez Perce Tragedy. New York: HarperCollins, 1992. ISBN 0060167076.
- Nerburn, Kent. Chief Joseph & the Flight of the Nez Perce: The Untold Story of an American Tragedy. New York, NY: HarperSanFrancicso, 2005. ISBN 0060513012.
- Stout, Mary. Nez Perce. Native American peoples. Milwaukee, WI: Gareth Stevens Pub, 2003. ISBN 0836836669.
- Warren, Robert Penn. Chief Joseph of the Nez Perce, Who Called Themselves the Nimipu, "the Real People": A Poem. New York: Random House, 1983. ISBN 0394530195.