O Simbólico
O Simbólico (ou Ordem Simbólica do Nó Borromeu)[1] é a ordem no inconsciente de onde se origina a subjetividade e faz a ponte da comunicação entre dois sujeitos; um exemplo é a ideia de desejo de Lacan como desejo do Outro, mantida pela subjetivação do Outro pelo Simbólico na fala.[2] Na teoria psicanalítica posterior de Jacques Lacan, ela está conectada pelo sinthoma ao Imaginário e ao Real.
Visão geral
[editar | editar código-fonte]Na teoria de Lacan, o inconsciente é o discurso do Outro e, portanto, pertence ao Simbólico. É também o domínio da Lei que regula o desejo no complexo de Édipo e é determinante da subjetividade.[3] Um momento formativo no desenvolvimento do Simbólico em um sujeito é o Outro dando origem ao objeto petit (a)utre, assim estabelecendo falta, demanda e necessidade. O nome-do-pai, uma "metáfora paterna", é um significante que determina a Ordem Simbólica pela Lei, uma regulação do desejo e da realidade. No entanto, quando se torna significante vazio, psicose, que Freud não conseguiu abordar teoricamente, desenvolve-se a partir de um deslizamento metonímico instável do significado (isto é, foraclusão). "O significante", que na teoria de Lacan está acima do significado em oposição à unidade de significante e significado de Saussure, "é aquilo que representa, que está no lugar de um sujeito para outro significante".
Desde o início, Lacan considerou sua tentativa de "distinguir entre aqueles registros elementares cujo fundamento mais tarde apresentei nestes termos: o simbólico, o imaginário e o real" como "uma distinção nunca antes feita em psicanálise", porque Freud não encontrou ideias semióticas , mas encontrou fenômenos em estudos de caso que justificavam uma compreensão semiótica.[4]
História
[editar | editar código-fonte]Os primeiros trabalhos de Lacan centraram-se na exploração do Imaginário, daquelas "imagens específicas, às quais nos referimos pelo antigo termo de imago... partindo de sua função formativa no sujeito".[4] :11Portanto, "a noção de 'simbólico veio à tona no Relatório de Roma [1953]... daí em diante é o simbólico, não o imaginário, que é visto como a ordem determinante do sujeito".[5] :279
O conceito de Lacan do simbólico "deve muito a um evento chave na ascensão do estruturalismo... a publicação de Estruturas elementares de parentesco de Claude Lévi-Strauss em 1949.... De muitas maneiras, o simbólico é para Lacan um equivalente à ordem de cultura de Lévi-Strauss: "uma ordem de cultura mediada pela linguagem.[6] :xxii, xxvPortanto, "o homem fala... mas é porque o símbolo o fez homem" que "sobrepõe o reino da cultura ao da natureza".[4] :65–6Aceitando que "a linguagem é a instituição social básica, no sentido de que todas as outras pressupõem a linguagem",[7] Lacan encontrou na divisão linguística de Ferdinand de Saussure do signo verbal entre significante e significado uma nova chave para a compreensão freudiana de que "sua método terapêutico era 'uma cura pela fala'."[8]
Predominância da ideia
[editar | editar código-fonte]Por mais ou menos uma década depois do Relatório de Roma, Lacan encontrou no conceito do Simbólico uma resposta à problemática neurótica do Imaginário: "É tarefa do simbolismo proibir a captura imaginária [...] …] supremacia do simbólico sobre o real."[9] Aceitando por meio de Lévi-Strauss a premissa antropológica de que "o homem é, de fato, um 'animal symbolicum'", e que "a auto-iluminação da sociedade por meio de símbolos é parte essencial da realidade social",[10] Lacan deu o salto para ver " o complexo de Édipo - na medida em que continuamos a reconhecê-lo cobrindo todo o campo de nossa experiência com sua significação"[4] :66– como o ponto em que o peso da realidade social foi mediado para a criança em desenvolvimento pelo pai (simbólico): "É no nome do Pai que devemos reconhecer o suporte da função simbólica que, desde o início da história, identificou sua pessoa com a figura da lei”.[4] :67
O imaginário agora passa a ser visto cada vez mais como pertencente ao reino anterior e fechado do relacionamento dual de mãe e filho—” Melanie Klein descreve a relação com a mãe como um relacionamento espelhado […] [negligenciando] o terceiro termo, o pai. "[11] — para ser desmembrado e aberto à ordem simbólica mais ampla.
A abreviação de Lacan para esse mundo mais amplo era o Outro — "o grande outro, isto é, o outro da linguagem, os Nomes-do-Pai, significantes ou palavras [que] [...] são propriedade pública, comunal".[12] Mas, embora seja uma dimensão essencialmente linguística, Lacan não equaciona estreitamente o simbólico com a linguagem, pois esta está envolvida também no Imaginário e no Real. A dimensão simbólica da linguagem é a do significante, em que os elementos não têm existência positiva, mas se constituem em virtude de suas diferenças mútuas.
Mudanças no significado da ideia
[editar | editar código-fonte]Com o crescente uso da teoria lacaniana na psicanálise nos anos 60, o Simbólico passou a ser visto mais como uma qualidade indissociável da condição humana, do que como um registro para uma panacéia terapêutica. A atenção crítica de Lacan começou a se deslocar para o conceito de Real, visto como "aquilo sobre o qual o simbólico tropeça [...] o que falta na ordem simbólica, o resíduo não eliminável de toda articulação [...] o cordão umbilical do simbólico."[5] :280
Na virada da década (1968-1971), "Lacan gradualmente passou a descartar o Édipo [...[13] 'como um sonho de Freud" ', a despeito de seu próprio antigo aviso dos perigo de " se querer ignorar a articulação simbólica que Freud descobriu ao mesmo tempo que o inconsciente... sua referência metódica ao complexo de Édipo."[4] :191
Se seu desenvolvimento do conceito de gozo, ou "a 'identificação com o sinthoma' (como nomeação do Real de alguém) preconizada nas últimas obras de Lacan como objetivo da psicanálise",[14] se mostrará com o tempo tão frutífera quanto a da ordem simbólica talvez permaneça uma questão a ser vista. Parte do legado duradouro de Lacan certamente permanecerá, no entanto, vinculado à exploração triunfal da ordem simbólica que foi o Relatório de Roma: "Os símbolos de fato envolvem a vida do homem em uma rede tão total que unem [...]a forma do seu destino."[4] :68
Figuras notáveis
[editar | editar código-fonte]Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Thurston, Luke, "Ineluctable Nodalities: On the Borromean Knot", in: Dany Nobus (ed.), Key Concepts of Lacanian Psychoanalysis, Other Press, pp. 144-145.
- ↑ Julien, Philippe (1994). Jacques Lacan's Return to Freud: The Real, the Symbolic and the Imaginary (em inglês). [S.l.]: New York University Press. ISBN 0-8147-4198-3
- ↑ Lacan, Jacques. 1994. The Four Fundamental Concepts of Psycho-Analysis, translated by A. Sheridan. London. p. 126, 246.
- ↑ a b c d e f g Lacan, Jacques. 1997. Écrits: A Selection. London.
- ↑ a b Sheridan, Alan. 1994. "Translator' Note" in J. Lacan. 1994. The Four Fundamental Concepts of Psycho-Analysis. London.
- ↑ Macey, David. 1994. "Introduction." Pp. i–xxvii in The Four Fundamental Concepts of Psycho-Analysis, by J. Lacan. London.
- ↑ Searle, John R. 1995. The Construction of Social Reality. London. p. 60.
- ↑ Sigmund Freud and Joseph Breuer, as quoted in Macey 1994: xxvii.
- ↑ Miller, Jacques-Alain. 1997. "Commentary" in J. Lacan. 1997. Écrits: A Selection. London. p. 327, 332.
- ↑ Schutz, Alfred. 1973. The Problem of Social Reality: Collected Papers I. Hague: Martinus Nijhoff Publishers. ISBN 9789024715022. p. 330, 356.
- ↑ Lacan, Jacques. 1982. "Seminar III." Pp. 57–8 in Feminine Sexuality, edited by J. Mitchell and J. Rose. New York.
- ↑ Hill, Philip. 1997. Lacan for Beginners. London. p. 73, 160.
- ↑ Clemens, J., and R. Grigg, eds., 2006. Jacques Lacan and the Other Side of Psychoanalysis: Reflections on Seminar XVII. London. p. 51.
- ↑ Chiesa, Lorenzo. 2007. Subjectivity and Otherness. London. p. 188.