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Rescued by Rover

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Rescued by Rover
Rescued by Rover
Rover, à esquerda, e a bebê, à direita, na primeira cena de Rescued by Rover
 Reino Unido
1905 •  p&b •  7 min 
Direção Cecil Hepworth
Lewin Fitzhamon
Roteiro Margaret Hepworth
Elenco Blair
May Clark
Barbara Hepworth
Cecil Hepworth
Margaret Hepworth
Sebastian Smith
Distribuição American Mutoscope and Biograph Co.
Lançamento 3 de julho de 1905
Idioma filme mudo
Orçamento 7 libras esterlinas, 13 xelim e 9 pêni

Rescued by Rover é um filme em curta-metragem mudo britânico de 1905, dirigido por Lewin Fitzhamon. A obra, distribuída em preto e branco e produzida por Cecil Hepworth, conta a história de uma cadela que encontra o bebê sequestrado de seu dono; sendo assim o primeiro filme protagonizado por um cão e também o primeiro papel de Blair, animal da família Hepworth. O curta, segundo análise do crítico Michael Brooke, da BFI Screenonline, "é um marco fundamental para a inserção de uma novidade divertida à sétima arte [e], provavelmente, a única vez na história do cinema que o Reino Unido teve os olhares do mundo, por novas técnicas de edição, produção e narração".

Embora tenha sido feito com um orçamento mínimo de sete libras esterlinas, treze xelim e nove pêni, tornou-se um sucesso internacional, à época do lançamento, com cerca de quatrocentas cópias vendidas. O estilo de filmagem e narração de Rescued by Rover, com gravuras preservadas nos Estados Unidos e no país de origem, influenciaram a produção artística de cineastas como Edwin Stanton Porter e D. W. Griffith. A ideia de "cão herói" também foi base para diversas obras, por exemplo, Lassie Come Home (1943) e Beethoven (1992).

Roteiro e elenco

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Walton-on-Thames (séc. XX), onde foi gravado Rescued by Rover.

O roteiro do curta-metragem britânico foi idealizado em julho de 1905 e exemplifica uma transição dos "anos primitivos" do cinema para uma produção mais organizada, visando a comercialização da indústria cinematográfica.[1] O diretor Cecil Hepworth, influenciado pelo fotógrafo Birt Acres, fez parcerias comerciais e fundou em 1904 a empresa Hepworth Manufacturing Company, com sede na cidade de Walton-on-Thames.[2]

A produção de Rescued by Rover foi atribuída, em grande parte, à família Milton Hepworth: Margaret idealizou o cenário por onde se desenrolaria a história e interpretou uma das personagens.[3] Cecil, o marido de Margaret, ocupou a direção geral, a direção de fotografia e também um papel no elenco.[4] A filha do casal, Barbara Hepworth, foi a bebê e Blair, a cadela, protagonizou o curta.[5]

Dois atores profissionais, Sebastian Smith e sua esposa, foram pagos com meio guinéu para participarem do filme, sendo, portanto, considerado a primeira obra cinematográfica a utilizar atores pagos; segundo o diretor, "[eles] não poderiam ser obtidos por menos".[6] Mabel Clark, que havia interpretado Alice em Alice in Wonderland (1903), versão de Hepworth, completou o elenco interpretando a enfermeira que cuida do bebê sequestrado; além disso, ocupou o cargo de montadora do filme.[4][7]

A cena do sequestro do bebê foi realizada com a câmera em dois ângulos diferentes para melhor captura da movimentação das personagens.[8] Ainda, utilizaram duas lâmpadas a arco voltaico como simulação da luz solar, gerando uma atmosfera ameaçadora. No total, Rescued by Rover é desenvolvido em onze posições diferentes da câmera, sendo grande parte delas focada em uma única personagem.[9]

O filme se inicia com uma cena entre a cadela Rover e a bebê brincando em frente à lareira. Em seguida, a enfermeira da família pega a bebê, a coloca no carrinho e sai de casa. Na rua, aparece uma mendiga, aparentemente alcoolizada, pedindo esmola para a enfermeira que, por sua vez, não a ajuda e é distraída por um soldado. Enquanto conversa com o soldado, ela não presta atenção na bebê e a mendiga a captura.[10]

Na cena seguinte, a enfermeira avisa à mãe que a criança foi sequestrada. Rover, também presente na sala, ouve e salta rapidamente da janela, passa pela rua, atravessa um rio e busca a bebê na outra parte da cidade. A cadela caminha por uma favela, onde entra pelas portas à procura da menina. Enfim, em um sótão, encontra a mendiga retirando a roupa da criança; o cão entra e logo é expulso.[10]

Rover sai da favela e volta para casa através do rio; o pai está sentado na sala apavorado e a cadela sinaliza para ele a seguir. O homem a segue, atravessa o rio por um barco e chega na favela. Eles entram no sótão onde a criança está escondida, o pai a salva rapidamente, deixando a mendiga inconformada. Após retornar para casa, a bebê é colocada nos braços da mãe, enquanto todos se expressam aliviados e felizes.[10]

Lançamento e repercussão

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Com o orçamento mínimo de sete libras esterlinas, treze xelim e nove pêni,[11] Rescued by Rover foi lançado originalmente em seu país de origem em 3 de julho de 1905 por meio de cópias vendidas a oito libras cada. Nos Estados Unidos, essas cópias foram comercializadas a partir de 19 de agosto de 1905 pela Biograph Company sob a proteção dos direitos autorais no país norte-americano.[12]

Em um editorial do Leicester Daily Post, o curta-metragem foi elogiado e a produção de Hepworth analisada como "encantadora e completamente nova em termos de conceito e implementação". Em 1907, o jornal alemão Kinematograph Weekly avaliou positivamente, ressaltando o desenvolvimento e a natureza inspiradora.[13] Michael Brooke, da BFI Screenonline, disse que o trabalho de Cecil "é um marco fundamental para a inserção de uma novidade divertida à sétima arte [e, talvez] a única vez que o [cinema britânico] teve os olhares do mundo, por novas técnicas de edição, produção e narração".[14][15] Devido à repercussão do filme, o cineasta alemão Siegmund Lubin produziu uma refilmagem em abril de 1906.[13]

Assim como outras obras de Hepworth, Rescued by Rover é considerado uma transição do cinema de atrações.[16] Os primeiros anos do século XX foram um período no qual muitos cineastas deram ênfase maior à retratação da história narrativa e menor atenção à imagem e à capacidade de demonstrar alguma coisa.[17] O curta, no entanto, dá espaço tanto a narração quanto a fotografia, mesmo não sendo intuito do diretor desenvolver técnicas inovadoras.[18]

Pintura de Edwin Henry Landseer (1856). A imagem do "cão herói" foi tema de Rescued by Rover.

A ideia de "cão herói" influenciou inúmeros filmes a colocar animais como protagonista;[16] dentre eles, o próximo filme de Lewin Fitzhamon, Dumb Sagacity (1907); The Adventures of Dollie (1908); Where the North Begins (1923); Lassie Come Home (1943); Beethoven (1992) e o desenho animado Krypto the Superdog (2005).[19][20] Rescued by Rover transmite cenas com mais de vinte tiros; o que é considerado um avanço comparado com How it Feels to be Run Over (1900), o qual exibe um único tiro. Ademais, o curta é notável pelo uso de cortes, fazendo das cenas com a cadela Blair mais rápidas do que seriam na realidade.[21]

Rescued by Rover é, às vezes, considerado o primeiro filme fictício mais importante do Reino Unido,[22] visto que cerca de quatrocentas cópias foram vendidas por oito libras esterlinas cada,[5] circuladas em diversos países por cinco anos.[23] A personagem Rover, interpretada pela cadela Blair, da família Hepworth, tornou-se um nome muito reconhecido no cinema,[5] além de receber o título de primeiro filme protagonizado por um cão.[18][24] O maior legado deixado pelo filme britânico foi a melhoria cinematográfica que impressionou os espectadores e, mais tarde, seria base para novas técnicas do cinema.[25] Nas cenas que se passam no sótão, por exemplo, a configuração da câmera cria uma condição de iluminação a qual remete a um ambiente sombrio. Imagens da obra foram preservadas pela Biblioteca do Congresso, British Film Institute e BFI National Archive.[26]

Referências

  1. Gifford, Denis (1973). The British Film Catalogue 1895 – 1970. [S.l.]: David & Charles, Newton Abbot. ISBN 0-7153-5572-4 
  2. Brown, Simon. «Alice in Wonderland (1903)». BFI Screenonline. Consultado em 26 de setembro de 2010 
  3. «The Family: Cecil Milton Hepworth». HepworthFilm.org. 17 de novembro de 2009. Consultado em 27 de novembro de 2009 
  4. a b «Nettlefold Studios, Walton-on-Thames». BritMovie.co.uk. Consultado em 27 de novembro de 2009. Arquivado do original em 4 de Junho de 2010 
  5. a b c Macnab, Geoffrey (2000). Searching for Stars: Stardom and Screen Acting in British Cinema. [S.l.]: Continuum International Publishing Group Ltd. p. 2–3. ISBN 978-0-304-33352-3 
  6. Dixon, Wheeler W. (2008). A Short History of Film. [S.l.]: Rutgers University Press. p. 20. ISBN 978-0-8135-4269-0 
  7. Low, Rachel (2004). History of British Film, Volume 1. [S.l.]: Routledge. 108 páginas. ISBN 978-0-415-15646-2 
  8. LeMahieu, D. L. (1988). A Culture for Democracy: Mass Communication and the Cultivated Mind in Britain Between the Wars. [S.l.]: Clarendon Press. p. 62. ISBN 0-19-820137-0 
  9. Macnab, Geoffrey. «Films that make you feel good». The Independent. Consultado em 26 de setembro de 2010 
  10. a b c «Synopses: Rescued by Rover». BFI Film and TV Database. Consultado em 27 de novembro de 2009 
  11. Roberts, John Morris (5 de outubro de 2000). Europe 1880–1945 3ª ed. [S.l.]: Longman. p. 385. ISBN 978-0-582-35745-7. Consultado em 27 de fevereiro de 2010 
  12. Russell, Alan; McWhirter, Norris D. (1987). The Guinness Book of Records 1988. Enfield: Guinness Publishing. p. 100. ISBN 0-85112-868-8 
  13. a b Niver, Kemp R. (1968). The First Twenty Years: A Segment of Film History. Los Angeles: Locare Research Group. p. 94 
  14. Brooke, Michael. «Rescued by Rover». BFI Screenonline. Consultado em 24 de abril de 2011 
  15. McKernan, Luke. «Cecil Milton Hepworth: British producer, director, writer, inventor». VictoriaCinema.net. Consultado em 27 de novembro de 2009 
  16. a b Howells, Dr. Richard (2003). Visual Culture. [S.l.]: Polity. p. 180–181. ISBN 978-0-7456-2412-9. Consultado em 27 de novembro de 2009 
  17. Bordwell, David (15 de janeiro de 1998). On the History of Film Style. [S.l.]: Harvard University Press. p. 127. ISBN 978-0-674-63429-9. Consultado em 27 de fevereiro de 2010 
  18. a b Tremain, Ruthven (1984). The Animal's Who's Who. [S.l.]: Scribner. p. 226. ISBN 978-0-684-17621-5 
  19. Kitchin, Rob (2002). Lost in Space: Geographies of Science Fiction. [S.l.]: Continuum. p. 148. ISBN 978-0-8264-5730-1. Consultado em 27 de novembro de 2009 
  20. Gunning, Tom (1993). D.W. Griffith and the Origins of American Narrative Film: The Early Years at Biograph. [S.l.]: University of Illinois Press. p. 83. ISBN 978-0-252-06366-4. Consultado em 27 de novembro de 2009 
  21. Winston, Brian (2005). Messages: Free Expression, Media and the West from Gutenberg to Google. [S.l.]: Routledge. p. 294. ISBN 978-0-415-23222-7. Consultado em 27 de novembro de 2009 
  22. Falk, Quentin (2003). Cinema's Strangest Moments: Extraordinary but true tales from the history of film. [S.l.]: Robson Press. p. 42. ISBN 978-1-86105-673-3 
  23. Low, Rachel (2004). History of British Film, Volume 2. [S.l.]: Routledge. p. 8. ISBN 978-0-415-15647-9. Consultado em 27 de novembro de 2009 
  24. «Famous Dogs». Ruling Cats and Dogs. Consultado em 22 de fevereiro de 2010 
  25. Street, Sarah (1997). British National Cinema. [S.l.]: Routledge. p. 35. ISBN 978-0-415-06735-5. Consultado em 27 de novembro de 2009 
  26. «Rescued by Rover». SilentEra.com. 26 de janeiro de 2009. Consultado em 27 de novembro de 2009. Cópia arquivada em 4 de Outubro de 2009 

Ligações externas

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