Tempo (música)
Em musicologia, tempo rítmico, é a duração de cada unidade do compasso, e também indica o andamento (a velocidade) com que se deve executar um trecho de música (trecho chamado movimento), indicado por expressões técnicas de velocidade (como moderato, alegreto, marcha).[1]
Na partitura ocidental, o tempo rítmico é representado por uma formula de compasso musical ou assinatura de tempo (também conhecida como assinatura do medidor ou assinatura de medida)[2] um padrão usada na notação musical ocidental, para especificar quantas batidas (pulsos) estão contidas em cada compasso, e qual o valor da nota é equivalente a uma batida. A assinatura do tempo aparece no início da partitura, como um símbolo de tempo ou numerais empilhados 4
4, seguindo a assinatura da chave (ou seguindo o símbolo da clave, se a assinatura da chave estiver vazia). Uma assinatura de tempo de pontuação média, geralmente seguindo uma linha de barra, indica uma mudança de medidor.
Existem vários tipos de assinaturas de tempo, quando a música segue padrões regulares (ou simétricos) de batida, como simples (por exemplo 2
4)[3] composto (por exemplo 6
8), mudança de padrões de batida, como complexo (por exemplo 5
4),[4] misto (por exemplo 5
8), aditivo (por exemplo 3+2+3
8),[5] fracionado (por exemplo 2½
4) e, medidor irracional (por exemplo 3
10)[6].
Tempo musical x conceito de tempo
[editar | editar código-fonte]Conhecendo que existe tempo, e este define a relação de distância e quantidade entre um acontecimento e outro, este é o conceito cabível também à questão musical, excepcionalmente quando o elemento temporal é o som. Neste caso, o tempo define, nesta ordem:
- A distância entre um som anterior ou uma pausa sonora anterior pertencente a uma música;
- O início de um próximo som;
- A duração desse som;
- O espaço entre esse som e o próximo evento.
Sendo que, quando esse som for o último da música, o espaço entre ele e o próximo já não mais é classificado nessa música (que se encontrará num estado onde seu tempo parou de ser considerado e, com isso, ela deixou de existir no momento).
Pode-se considerar que a música depende completamente do tempo para existir, pois, se o tempo parasse, não seria possível um evento musical ou sequer o som (que depende do início e término de uma vibração que, por sua vez, ocorre num intervalo de tempo). Um som depende do momento para iniciar, existir e deixar de existir, e, de modo mais abstrato, ocorre o mesmo com a música: em algum momento, ela passa a ser considerada existente, e seu tempo passa a ser algo organizado (no sentido de estar sendo considerado ocorrente) com um início e necessariamente com um final.
Tempo musical x ritmo
[editar | editar código-fonte]A forma mais comum de associação entre o tempo e a música é o ritmo. O ritmo, a curto modo, é a forma musical de organizar os sons e pausas sonoras no tempo.
O ritmo é capaz de dizer musicalmente qual será a duração de um som ou de uma pausa sonora no decorrer de um momento musical. Em algum momento, a música passa a existir; para tanto, seu tempo passa a ser medido. Dentro desse período em que se mede o evento musical, o acontecimento do som ou pausa (silêncio) é, normalmente, dividido em ciclos classificados no ritmo musical.
Por exemplo: uma música pode durar dois minutos. Esse é o tempo que ela utiliza para se manifestar (todos seus sons e pausas ocorrem nesse período). O músico pode até desconhecer a importância dessa quantidade de tempo, pois usa outra linguagem que traduz essa forma de física para a forma de música. Esse termo do tempo em si, pensado musicalmente, é representado pelo ritmo e por suas atribuições. Logo, desconhecendo que, na forma científica (não que a musical não o seja), a peça dura dois minutos. Cada compasso, equivale a uma divisão definida por um grupo de pulsações com valores iguais entre si. Juntas, essas pulsações agregam a noção de quantidade de tempo. Dentro desses compassos, poderá haver inúmeros sons e pausas sonoras. Desse modo, pode-se estabelecer a relação música x tempo, sendo que um compasso é dividido em tempos de valores iguais a um tempo predefinido.
Se uma música usa a fórmula de compasso 3/4, e uma semínima é igual a 60 (um segundo), em cada compasso haverá 3 tempos, totalizando 3 segundos.
Se uma música totaliza no seu tempo cronometrado aproximadamente 2 minutos, baseado no exemplo anterior, a música teria aproximadamente 120 (segundos) divididos por 3 (número de segundos por compasso), dando um número de 40 compassos na composição, aproximadamente. É importante, no entanto, notar que dificilmente uma interpretação vá durar o mesmo tempo que uma segunda, terceira, ou qualquer outra interpretação, mesmo quando interpretada pelo mesmo músico - a não ser que um metrônomo ou marcador/sequenciador digital seja usado, mas, em música interpretada ao vivo, especialmente na música erudita, isso não se usa (com exceções na música aleatória, ou eletrônica, como com faixas pré-sincronizadas e utilizando um instrumento de comando para inicializar uma sequência pré-gravada que é usada como um guia cronometrado da interpretação - uma forma similar ao muito usado método também das apresentações ao vivo na televisão, em que cantores populares cantam e tocam, ou fingem que cantam e tocam até, junto a uma gravação, e a música soa perfeitamente igual sempre).
Portanto, cria-se uma unidade de medida que relaciona música e tempo, que, neste caso, é unidade de tempos musicais por segundo ou segundos por unidade de tempo.
Tempo musical x andamento
[editar | editar código-fonte]Afinal, sabendo que existe o relacionamento de um tempo musical com o tempo real de modo a criar uma medida, a graduação dessa medida se dá pelo andamento da música. Se, no exemplo citado, o músico em qualquer momento desejar mudar o valor dessa medida, ele pode escolher entre dois valores a alterar: o tempo real ou o tempo musical.
Escolhendo mudar o tempo musical, ele necessitará aumentar ou diminuir a quantidade desse elemento presente na relação (por exemplo, de 60 compassos para 80 compassos). Nesse caso, o músico interferiu na maneira musical de análise da situação temporal, o que musicalmente o obrigaria a modificar todos os valores das notas musicais e pausas existentes na peça (o que trará um grande trabalho).
Se, por outro lado, ele decide mudar o elemento do tempo real, por exemplo, de 2 minutos para 4 minutos de duração, ele altera a relação física da situação, estabelecendo que o tempo musical irá valer mais segundos, o que dispensará recondicionar o valor das notas e pausas. Portanto, como sugeria Stravinsky, o tempo musical é elástico.
Essa situação de modificar o tempo real da música se dá através do andamento, que informa se a peça é mais ou menos veloz. Se modificamos um Largo (bastante lento) para Allegro (um pouco rápido), não mexemos na quantidade de notas e compassos: somente alteramos a relação de tempo real que será utilizada para cada valor.
Assim como, na física, estabelecemos a relação "tempo musical por segundo", na música usamos o valor batidas por minuto, sendo que o "relógio" da música é o metrônomo, que transforma esse valor por meio de um mecanismo de proporção, e com o qual se pode saber o tempo musical com facilidade. Portanto, se ajustamos um metrônomo para o valor 90 (do nosso exemplo), ele irá executar 90 batidas em um minuto. A notação musical estabelece qual nota musical terá o valor de um batimento (tempo musical) e, partindo disso, o músico passa a ter a capacidade de organização elementar do tempo da obra.
Características
[editar | editar código-fonte]A tabela abaixo mostra as características das fórmulas de compasso (assinaturas de tempo) mais usadas, indicando a duração musical do compasso:
Assinaturas de tempo simples | |||
---|---|---|---|
Assinatura de tempo | Usos comuns | Padrão de percussão simplificado | Representaçãoem vídeo |
ou 4 4(comum / simples) |
Tempo comum (ou common): Amplamente utilizado na maioria das formas de música popular ocidental. Uma assinatura de tempo comum no: rock, blues, country, funk e, pop[7] | ||
ou 2 2(duplo)[3] |
alla breve, tempo curto (ou cut): Usado para batidas e música orquestral rápida. | ||
2 4 (dupla) |
Usado em polca, galope e marcha | ||
3 4 (tripla) |
Usado em valsa, minueto, scherzo, polonesa, mazurca, country e western, R&B e em alguns pop | ||
2 8 (tripla) |
Também presente nos ritmos acima, mas normalmente sugere um ritmo mais rápido, ou uma hipermétrica mais curta, como em certas danças folclóricas, como cachucha | ||
Assinaturas de tempo compostas | |||
Assinatura de tempo | Usos comuns | Padrão de percussão simplificado | Representaçãoem vídeo |
6 8 (duplo oucomposto) |
Duplo jigs (comédia burlesca), polka,sega, salegy, tarantella, marcha, barcarolle, loure, e alguns rocks | ||
9 8 (triplo)[4] |
Tempo triplo composto: slip jigs, zeibekiko, canções de ninar, a Quarta Sinfonia de Tchaikovsky e o movimento final do Concerto para violino em lá menor de J.S. Bach (BWV 1041) são exemplos familiares. "Clair de lune" do Debussy e os compassos de abertura de Prélude à l'après-midi d'un faune | ||
12 8 (quadruplo) |
Também comum em blues lento (ou shuffle) e doo-wop; recentemente usaqdo no rock. Também pode ser ouvido em alguns jigs como "The Irish Washerwoman".assinatura de tempo do segundo movimento da Sinfonia Pastoral de Beethoven |
Referências
- ↑ Aulete 2019.
- ↑ Edwin Gordon, Rhythm: Contrasting the Implications of Audiation and Notation (Chicago: GIA Publications, 2000): 111. ISBN 1579990983.
- ↑ a b Apel 1953, pp. 147–148.
- ↑ a b Latham 2002a.
- ↑ Gardner Read, Music Notation: A Manual of Modern Practice (Boston: Allyn and Bacon, Inc., 1964): [falta página]
- ↑ "Brian Ferneyhough", The Ensemble Sospeso
- ↑ Scott Schroedl, Play Drums Today! A Complete Guide to the Basics: Level One (Milwaukee: Hal Leonard Corporation, 2001), p. 42. ISBN 0-634-02185-0.
Fontes
- Apel, Willi (1953). The Notation of Polyphonic Music 900–1600. Col: The Medieval Academy of America Publication No. 38 fifth, revised and with commentary ed. Cambridge, Massachusetts: Medieval Academy of America. ISBN 9780910956154
- «Tempo». Aulete