Transtorno de personalidade passivo-agressiva
Transtorno de personalidade passivo-agressivo | |
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Especialidade | Psiquiatria, Psicologia clínica |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | F60.89 |
CID-9 | 301.84 |
MeSH | D010324 |
Leia o aviso médico |
Transtornos de personalidade |
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Cluster A (estranho) |
Cluster B (dramático) |
Cluster C (ansioso) |
Não especificado |
Depressivo |
Outros |
A versão atual do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais não usa mais este rótulo, e não é um dos dez transtornos de personalidade específicos listados. A edição anterior, na revisão IV (DSM-IV), descreve o transtorno de personalidade passivo-agressivo como um transtorno proposto envolvendo um "padrão difuso de atitudes negativistas e resistência passiva às demandas por desempenho adequado" numa variedade de contextos.[1]:734-735
O comportamento passivo-agressivo é o sintoma obrigatório do transtorno de personalidade passivo-agressivo. Pessoas com o transtorno são caracterizadas por procrastinação, obstrucionismo encoberto, ineficiência e teimosia.[2]
Causas
[editar | editar código-fonte]O transtorno passivo-agressivo pode originar-se devido a um estímulo infantil específico[3] (por exemplo, pais viciados em álcool/drogas, bullying, abuso) num ambiente onde não era seguro expressar frustração ou raiva. Famílias em que a expressão honesta de sentimentos é proibida tendem a ensinar às crianças a reprimir e a negar os seus sentimentos e a usar outros meios para expressar sua frustração. Por exemplo, se punições físicas e psicológicas forem aplicadas a crianças que expressem raiva, estas tendem a comportar-se de forma passivo-agressiva.
Crianças que escondem a hostilidade podem ter dificuldade em ser assertivas, nunca desenvolvendo melhores estratégias de enfrentamento ou habilidades de auto-expressão. Elas podem tornar-se adultos que, sob um "verniz sedutor", nutrem "intenções vingativas", nas palavras de Timothy F. Murphy e Loriann Oberlin.[4] Alternativamente, os indivíduos podem simplesmente ter dificuldade em ser tão diretamente agressivos ou assertivos quanto os outros. Martin Kantor sugere três áreas que contribuem para a raiva passivo-agressiva em indivíduos: conflitos sobre dependência, controle e competição, e caso o indivíduo seja visto como passivo-agressivo por se comportar de tal forma com certas pessoas na maioria das ocasiões.[5]
Murphy e Oberlin também vêem a passivo-agressividade como parte de um guarda-chuva maior de raiva ocultada, originada de dez características da criança ou do adulto com raiva. Essas características incluem criar sua própria miséria, a incapacidade de analisar problemas, culpar os outros, transformar outros sentimentos negativos em raiva, atacar pessoas, falta de empatia, usar a raiva para obter poder, confundir a raiva com auto-estima e entregar-se a conversas consigo mesmo negativas. Por fim, os autores ressaltam que aqueles que escondem a sua raiva são capazes de ser simpáticos se assim o desejam.[6]
Diagnóstico
[editar | editar código-fonte]Manual Diagnóstico e Estatístico
[editar | editar código-fonte]Com a publicação do DSM-5, esse rótulo foi amplamente desconsiderado. O rótulo diagnóstico do DSM-5 equivalente seria “Outro transtorno específico de personalidade e transtorno de personalidade não especificado”, já que o indivíduo pode atender aos critérios gerais para um transtorno de personalidade, mas não atender aos critérios diagnósticos baseados em traços para nenhum transtorno de personalidade específico (p645).
O transtorno de personalidade passivo-agressivo foi listado como um transtorno de personalidade do Eixo II no DSM-III-R, mas foi transferido do DSM-IV para o Apêndice B ("Conjuntos de critérios e eixos fornecidos para estudo posterior") devido à controvérsia e à necessidade para pesquisas adicionais sobre como também categorizar os comportamentos numa edição futura. De acordo com o DSM-IV, pessoas com o transtorno de personalidade passivo-agressiva são "frequentemente ambivalentes, oscilando indecisamente de um curso de ação para o oposto. Elas podem adotar um comportamento errático que causa disputas intermináveis consigo mesmas e os outros. A característica dessas pessoas é um "conflito intenso entre a dependência de outras pessoas e o desejo de auto-afirmação". Embora exibam bravatas superficiais, a sua autoconfiança costuma ser muito fraca e os outros reagem a esta com hostilidade e negativismo. Esse diagnóstico não é feito se o comportamento é exibido durante um episódio depressivo maior ou devido a um transtorno distímico.[1]
CID-10
[editar | editar código-fonte]A 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) da Organização Mundial da Saúde (OMS) inclui o transtorno de personalidade passivo-agressivo na rubrica "outros transtornos de personalidade específicos" (descrição: "um transtorno de personalidade que não se encaixa em nenhum dos aspectos específicos das rubricas: F60.0 – F60.7 "). O código CID-10 para "outros transtornos de personalidade específicos" é F60.8. Para este diagnóstico psiquiátrico, uma condição deve atender aos critérios gerais para um transtorno de personalidade listados em F60 nas descrições clínicas e diretrizes de diagnóstico.
Os critérios gerais para um transtorno de personalidade incluem comportamento e atitudes marcadamente desarmónicos (envolvendo áreas de funcionamento como afetividade - capacidade de experienciar afetos: emoções ou sentimentos, envolvendo formas de perceber e pensar, controle de impulso, excitação, estilo de se relacionar com os outros), padrão de comportamento anormal (duradouro, de longa data), sofrimento pessoal, sendo que o padrão de comportamento anormal deve ser claramente maladaptativo e generalizado. O transtorno de personalidade deve aparecer durante a infância ou adolescência e continuar na idade adulta.[7]
Os critérios diagnósticos específicos do transtorno de personalidade passivo-agressivo nos "Critérios de diagnóstico para pesquisa" da OMS não são apresentados.[8]
Subtipos de Millon
[editar | editar código-fonte]O psicólogo Theodore Millon propôs quatro subtipos de 'negativismo' ('passivo-agressividade').[9] Qualquer negativista pode exibir nenhum ou um dos seguintes:
Subtipo | Descrição | Traços de personalidade |
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Negativista vacilante | Incluindo características limítrofes | As emoções flutuam de maneiras confusa, perplexa e enigmática; difícil de entender ou compreender os humores caprichosos e mistificadores; oscila, em fluxo e irresoluto de forma tanto subjetiva quanto intrapsiquicamente. |
Negativista descontente | Incluindo características depressivas | Resmungão, mesquinho, irritadiço, amargo, queixoso, e mal-humorado; reclamações fingidas; evita o confronto; usa reclamações legítimas, mas triviais. |
Negativista circunscrito | Incluindo características antissociais e dependentes | Oposição exibida de maneira indireta, labiríntica e ambígua nas formas de, por exemplo, procrastinação, demora, esquecimento, ineficiência, negligência, teimosia; expressão indireta e tortuosa de ressentimentos e comportamentos resistentes. |
Negativista abrasivo | Incluindo características sádicas | Contencioso, intransigente, rebelde e briguento; irritável, cáustico, degradante, corrosivo e áspero, contraditório e depreciativo; poucos escrúpulos e pouca consciência ou remorso. (não é mais um diagnóstico válido no DSM) |
Tratamento
[editar | editar código-fonte]O psiquiatra Kantor sugere uma abordagem de tratamento usando métodos terapêuticos psicodinâmicos, de suporte, cognitivos, comportamentais e interpessoais . Esses métodos aplicam-se tanto à pessoa passivo-agressiva quanto à vítima-alvo.[10]
História
[editar | editar código-fonte]Na primeira versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-I, em 1952, a passivo-agressividade era definida de forma restrita, agrupada com a passivo-dependência .
O DSM-III-R declarou em 1987 que o transtorno de personalidade passivo-agressiva é caracterizada por, entre outras coisas, "deixar de lavar a roupa ou de abastecer a cozinha com comida por causa de procrastinação e de demora".[11]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b American Psychiatric Association (2000). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders-IV. Washington, DC: American Psychiatic Association. pp. 733–34. ISBN 978-0-89042-024-9.
- ↑ Benjamin J. Sadock, Virginia A. Sadock (2008). Kaplan & Sadock's Concise Textbook of Clinical Psychiatry. Lippincott Williams & Wilkins. ISBN 978-0-7817-8746-8.[page needed]
- ↑ Johnson, JG; Cohen, P; Brown, J; Smailes, EM; Bernstein, DP (July 1999), "Childhood maltreatment increases risk for personality disorders during early adulthood", Arch. Gen. Psychiatry, 56 (7): 600–06, doi:10.1001/archpsyc.56.7.600, PMID 10401504
- ↑ Tim, Murphy; Hoff Oberlin, Loriann (2005), Overcoming passive aggression: how to stop hidden anger from spoiling your relationships, career and happiness, New York: Marlowe & Company, p. 48, ISBN 978-1-56924-361-9, retrieved April 27, 2010
- ↑ Kantor 2002, pp. xvi–xvii, 5.
- ↑ Tim, Murphy; Hoff Oberlin, Loriann (2005).[page needed]
- ↑ "Disorders of adult personality and behaviour (F60–F69). F60 Specific personality disorders" (PDF). The ICD-10 Classification of Mental and Behavioural Disorders – Clinical descriptions and diagnostic guidelines. Geneva: World Health Organization. pp. 157–58. Archived (PDF) from the original on 2014-03-23. Retrieved 2017-12-06.
- ↑ "Disorders of adult personality and behaviour (F60–F69). F60.8 Other specified personality disorders" (PDF). The ICD-10 Classification of Mental and Behavioural Disorders – Diagnostic criteria for research. Geneva: World Health Organization. p. 157. Archived (PDF) from the original on 2016-06-18. Retrieved 2017-12-06.
- ↑ Theodore Millon, Carrie M. Millon, Sarah E. Meagher; et al. (2012). Personality Disorders in Modern Life. John Wiley & Sons. pp. 529–31. ISBN 978-1-118-42881-8.
- ↑ Kantor 2002, p. 115.
- ↑ Lane, C (1 February 2009), "The Surprising History of Passive–aggressive Personality Disorder" (PDF), Theory & Psychology, 19 (1): 55–70, CiteSeerX 10.1.1.532.5027, doi:10.1177/0959354308101419, S2CID 147019317, archived (PDF) from the original on 2017-09-23, retrieved 2017-12-06
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Kantor, Martin (2002), Passive-aggression: a guide for the therapist, the patient and the victim, ISBN 978-0-275-97422-0, Westport, CT: Praeger Publishers, consultado em 6 de dezembro de 2017.