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VIII dinastia egípcia

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A VIII dinastia do Antigo Egito é uma linhagem de faraós pouco conhecida e de curta duração que reinou em rápida sucessão no começo do século XXII a.C., talvez sediados em Mênfis. Os egiptólogos estimam que reinou por aproximadamente 20-45 anos e várias datas foram sugeridas: Ian Shaw e Paul Nicholson sugeriram 2 181-2 125 a.C.;[1] Ian Shaw, noutra obra, 2 181-2 160 a.C.;[2] a Enciclopédia do Antigo Egito da Oxford e Peter Clayton, 2 190-2 165 a.C.;[3][4] Jürgen von Beckerath, 2 191-2 145 a.C.;[5] Erik Hornung, Rolf Krauss e David A. Warburton, 2 150-2 118 a.C.[6]

Fontes do Reino Novo

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Lista Real de Abidos, entradas 40-47
Lista Real de Abidos, entradas 48-56

Há duas listas reais do Reino Novo que citam-a. A mais antiga e principal fonte é a Lista Real de Abidos, escrita durante o reinado de Seti I (r. 1294–1279 a.C.).[7] Os faraós listados da entrada 40 à 56 estão situados entre o fim da VI do Reino Antigo e o começo da XI dinastia do Reino Médio. Além disso, os nomes são diferentes dos faraós da IX e X dinastias, e nenhum deles está na lista de Abidos, indicando serem nomes da VII e VIII dinastias.[8] Outra fonte é o Cânone de Turim, escrito no tempo de Ramessés II (r. 1279–1213 a.C.). O papiro foi copiado de uma fonte anterior que, como o egiptólogo Kim Ryholt mostrou, estava cheio de lacunas e devia estar em mau estado. Além disso, o papiro está muito danificado e não pode ser lido com clareza. Ao todo três nomes presentes nos fragmentos do papiro podem ser alocados entre os faraós da VIII dinastia; eles são Netjercaré Siptá, outro nome difícil de ler e Cacaré Ibi, o vigésimo terceiro da lista abidena. Parece haver espaço para dois[9] ou três[10][11] faraós mais antes do fim da dinastia como registrado na lista. Isso indicaria que as partes faltantes do Cânone de Turim quiçá continham nomes do quinquagésimo primeiro ao quinquagésimo quinto registro da Lista dos Reis de Abidos. Como o papiro de Turim omite os nove primeiros faraós da lista de Abidos, W. C. Hayes considera razoável que os egípcios tenham dividido as dinastias VII e VIII neste momento.[9]

Pirâmide de Cacaré Ibi

Fonte do Reino Ptolemaico

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O sacerdote egípcio Manetão escreveu uma história do Egito no século III a.C. conhecida como Egiptíaca. Sua obra não sobreviveu e só é conhecida via três autores que citaram-a. Os três, porém, são muito difíceis de trabalhar, pois comumente se contradizem, como no caso de Sexto Júlio Africano e Eusébio de Cesareia, que citaram a seção da Egiptíaca sobre as dinastias VII e VIII. Africano alegou que a VII teve 70 faraós que reinaram por 70 dias em Mênfis e a VIII teve 27 faraós que reinaram por 146 anos. Eusébio disse que na VII cinco faraós reinaram por 75 dias, e a VIII incluía cinco faraós que reinaram por 100 anos. 70 faraós em 70 dias é geralmente tida com a versão correta de Manetão acerca da VII, mas provavelmente não se trata de um relato factual. Ao contrário, isto é interpretado como significando que os faraós do período eram muito efêmeros, e o uso de 70 pode ser um trocadilho com o número da dinastia. [12] Como Manetão não fornece dados históricos reais sobre o período e não há evidência arqueológica da VII, muitos egiptólogos pensam que é fictícia.[13] No que diz respeito à VIII, agora é amplamente aceito que a estimativa à duração é uma superestimação substancial da realidade.[11]

Evidências contemporâneas

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A principal evidência arqueológica dos faraós da VIII dinastia são decretos reais descobertos em Copto, que nomeiam alguns dos últimos faraós. Mais evidências provisórias para os primeiros faraós vêm de túmulos em Sacará, em particular a Pirâmide de Cacaré Ibi. Além disso, há inscrições reais do Uádi Hamamate e Alto Egito, bem como inscrições não reais do Alto Egito.[12][14][15]

Fim do Reino Antigo e conturbação política

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Fragmentos de dois decretos de Copto datando do reinado de Nefercauor. Fim da VIII dinastia

A VIII dinastia foi tradicionalmente classificada como a primeira do Primeiro Período Intermediário dada a natureza efêmera do reinado de seus faraós, bem como a escassez de evidências contemporâneas, insinuando um declínio do estado no caos. Recente reavaliação das evidências arqueológicas mostrou uma forte continuidade entre as VI e VIII dinastias, de modo que o egiptólogo Hratch Papazian propôs que a VIII deveria ser vista como a última do Reino Antigo.[11]

Como cinco faraós da VIII tinham o nome do trono de Pepi II (r. 2278–2184 a.C.), Neferquerés, como parte de seu nome, podiam ser descendentes da VI tentando manter algum tipo de poder. Alguns dos atos dos últimos quatro faraós da VIII estão seus decretos para Xemai, um vizir durante o período, embora apenas Cacaré Ibi possa ser conectado a qualquer construção monumental. Sua pirâmide foi encontrada em Sacará perto da de Pepi II e, como seus antecessores, tinha os Textos das Pirâmides escritos nas paredes.[16]

Por mais que muitos faraós realmente existissem, está claro que durante este período uma avaria da autoridade central estava em andamento. Os governantes dessas dinastias estavam baseados em Mênfis e parecem ter confiado no poder dos nomarcas de Copto, a quem conferiam títulos e honrarias. Isto deve ter sido em vão, pois a VIII foi derrubada por um grupo rival baseado em Heracleópolis Magna (IX e X dinastias).[1]

Dada a falta de evidência à VII dinastia, todos os reis mencionados na lista de Abidos nas entradas após Merenré II e antes de Mentuotepe II[5] são geralmente atribuídas à VIII dinastia. Seguindo Jürgen von Beckerath, eles são:

Nome Cartucho Notas
Netjercaré Às vezes classificado como o último rei da VI dinastia. Talvez idêntico a Nitócris.[17]
Mencaré Talvez atestado perto de um relevo da tumba da rainha Neite.
Neferquerés II
Neferquerés III Planejou ou iniciou uma pirâmide "Neferquerés é Duradouro da Vida", talvez em Sacará.
Djedecaré Xemai
Neferquerés IV
Merenor
Nefercamim I
Nicaré I Talvez atestado num selo cilíndrico[18]
Neferquerés V
Nefercaor Atestado num selo cilíndrico[19]
Neferquerés VI O Cânone de Turim dá ao menos um ano.[20]
Nefercamim II
Cacaré Ibi O Cânone de Turim indica o reinado de dois anos, um mês e um dia.[21] Atestado por sua pirâmide em Sacará.
Nefercauré O Cânone de Turim indica o reinado de quatro anos e dois meses,[21] atestado por um decreto acerca do Templo de Mim.[22]
Nefercauor O Cânone de Turim indica o reinado de dois anos, um mês e um dia,[21] atestado em oito decretos sobre o Templo de Mim[23][24][25][26][27] e uma inscrição na tumba do vizir Xemai.[28]
Neferircaré II O Cânone de Turim indica o reinado de um ano e meio.[21] Talvez idêntico a Hórus Djemedibetaui e Uadjecaré. Se sim, é atestado num decreto sobre o Templo de Mim.[29][30]

O egiptólogo Hracht Papazian acredita que tal reconstrução dá muito peso ao relato de Manetão, segundo o qual a VII dinastia é essencialmente ficcional e uma metáfora de caos. Em vez disso, Papazian propôs que os primeiros faraós acima citados são sucessores imediatos de Pepi II e deveriam ser atribuídos à VI dinastia, enquanto aqueles logo depois pertencem à efêmera VII. Então, a VIII começaria só com o bem atestado Cacaré Ibi:[11]

Nome
Cacaré Ibi
Nefercauré
Nefercauor
Nome perdido
Neferircaré II

Precedido por
VII dinastia
Dinastias faraônicas
Sucedido por
IX dinastia

Referências

  1. a b Shaw 1995, p. 310.
  2. Shaw 2000, p. 483.
  3. Redford 2001, p. 621.
  4. Clayton 1994, p. 70.
  5. a b Beckerath 1999, p. 66-71; 284.
  6. Hornung 2012, p. 491.
  7. Shaw 1995, p. 152.
  8. LRA.
  9. a b Smith 1971, p. 197.
  10. Ryholt 2000, p. 88, fig. 1; 91.
  11. a b c d Papazian 2015.
  12. a b Grimal 1988, p. 138.
  13. Beckerath 1999.
  14. Kamal 1912, p. 132.
  15. Couyat 1912, p. 168–169, 188, 206–209.
  16. Grimal 1988, p. 140.
  17. Ryholt 2000.
  18. Baker 2008, p. 280-281.
  19. Kaplony, p. 144.
  20. Ryholt 2000, p. 91.
  21. a b c d Beckerath 1962, p. 143.
  22. MET (a).
  23. Baker 2008, p. 271-272.
  24. Hayes 1978, p. 136-138.
  25. MET (b).
  26. MET (c).
  27. MET (d).
  28. Strudwick 2005, p. 345-347.
  29. Bunson 2009, p. 429.
  30. Hayes 1978, p. 134.
  • Baker, Darrell D. (2008). The Encyclopedia of the Pharaohs: Volume I - Predynastic to the Twentieth Dynasty 3300–1069 BC. Londres: Stacey International. ISBN 978-1-905299-37-9 
  • Beckerath, Jürgen von (1962). «The Date of the End of the Old Kingdom of Egypt». JNES. 21 
  • Beckerath, Jürgen von (1999). Handbuch der ägyptischen Königsnamen, Münchner ägyptologische Studien. Mogúncia: Philip von Zabern. ISBN 3-8053-2591-6 
  • Bunson, Margaret (2009). Encyclopedia of Ancient Egypt. Nova Iorque: Infobase Publishing. ISBN 978-1438109978 
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  • Ryholt, Kim (2000). «The Late Old Kingdom in the Turin King-list and the Identity of Nitocris». Zeitschrift für Ägyptische Sprache und Altertumskunde. 127 (1): 87–119. ISSN 2196-713X 
  • Shaw, Ian; Nicholson, Paul (1995). «Cronology». In: Harry N. Abrams. The Dictionary of Ancient Egypt (em inglês). Nova Iorque: Princeton University Press. ISBN 0810932253 
  • Shaw, Ian (2000). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxônia: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-280458-7 
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