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Alquimia Chinesa no Brasil: o que ler?

2024, Jornal de Literatura Asiática

Nesse breve texto, eu gostaria de desenvolver uma breve relação bibliográfica que pode nos ajudar a compreender melhor a história e as tradições da alquimia chinesa. A par da fartura de textos em outros idiomas, busquei privilegiar aquelas que são de mais fácil acesso, e que nos permitem delinear melhor a trajetória histórica e conceitual das tradições alquímicas chinesas. Como poderão notar, esse é um trabalho novo, que se encontra disseminado em outros textos, mas do qual fazemos uma recensão comentada, de modo a fornecer subsídios para um conhecimento mais rico da alquimia na China.

Fotografia: Nicole Espoladori - China EDITORIAL Simone Martins Quando inicio um projeto não tenho como prever a dimensão e o alcance que os resultados trarão. Com o Jornal de Literatura Asiática não foi diferente. Elabora como forma de democratizar o conhecimento e de dialogar com pesquisadores formais, informais, viajantes, leitores, escritores. Enfim, às pessoas que “leem o mundo”. Jornal de Literatura Asiática | Vol. 2, Nº 1 | Jan. 2024 Na 3ª edição, ou no formalismo da publicação: volume 2, nº 1, janeiro de 2004, o planejamento era dialogar com diversas culturas asiáticas, mas a publicação tomou vida própria e assumiu as “rédeas” do que compartilhar com o leitor. Contudo, já posso dizer que o resultado é de uma riqueza de conteúdo. Na continuidade de apresentar leituras bilingues, a pesquisa de Liu Yimeng, da Universidade de Hubei, com a tradução de Wagner Lacerda Dantas, oportuniza conhecer a “Análise da situação atual da comunicação intercultural do Brasil na China a partir da perspectiva da “cultura comum”. Em resumo, “no campo da comunicação intercultural, embora os contextos culturais possam ser diferentes, a visão de ‘Cultura Comum’ pode ser considerada um estado ideal de comunicação, proporcionando insights para aumentar o senso de identidade cultural e valorizar o papel ativo da cultura.” A pesquisadora associada à Curadoria de Literatura Asiática e formanda pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará no curso de Licenciatura em Letras, apresenta “aspectos da literatura asiática clássica e contemporânea como forma de desconstruir estereótipos que cercam o continente, além de aprimorar por meio da arte e cultura o ocidente (especificamente o nosso país) com o Continente Asiático, no artigo “O Continente Asiático e sua importância histórica, social e Literária.” O professor André Bueno, Diretor do Projeto Orientalismo [www.orientalismo.net] e professor adjunto de História Oriental da UREJ, aceitou o convite desenvolver uma breve relação bibliográfica que pode nos ajudar a compreender melhor a história e as tradições da alquimia chinesa. O “Desafio Da Curadoria de Literatura Asiática”, teve como resultado de votação, com 67% dos votos, a obra de Mo Yan, “As rãs”. Esse debate é iniciado pela Christine Marote, “As rãs” – Mais do que um livro, uma aula de História. Para compreender um pouco das tradições e como elas se modificam frente às novas gerações, o texto da Christine Marote é obrigatório. Seu olhar foi construído por 16 anos de China, onde se especializou em cultura chinesa pela Shanghai Jiaotong University. No ensaio ela compartilha um pouco dessa vivência e do livro de Mo Yan. O diálogo da literatura asiática não se dá apenas pela pesquisa e pela leitura de obras literárias, mas com o diálogo direto com quem “vivência” a cultura asiática. Nesta edição quero registrar meu agradecimento especial à Raquel Furtado e Nicole Espoladori, cujas fotografias[cedidas] integram os artigos. Esta edição contou com a revisão da pesquisadora associada Marcia Luiza Cruz Aguirre. Tenham uma ótima leitura! Jornal de Literatura Asiática | Vol. 2, Nº 1 | Jan. 2024 O Jornal de Literatura Asiática é uma publicação quinzenal da Curadoria de Literatura Asiática, da Coordenadoria de Estudos Asiáticos (CEÁSIA), da Universidade Federal de Pernambuco. A Editora é a curadora de literatura asiática Simone Martins. Diagramação: Simone Martins. ISSN 2965-7245 www.ceasiaufpe.com.br IG curadoria_literatura_asiatica e-mail curadoria.literatura.asiatica.com.br Endereço: Av. Professor Moares Rego, nº 1235 | Cidade Universitária | Recife | Pernambuco Jornal de Literatura Asiática | Vol. 2, Nº 1 | Jan. 2024 Fotografia: Raquel Furtado – Singapura Alquimia Chinesa no Brasil: o que ler? André Bueno Recentemente, tive a honra e o prazer de publicar um capítulo de livro intitulado ‘Feitiçaria e Alquimia na China Antiga’ [Bueno 2023b] na ditosa coletânea intitulada ‘Magia, encantamentos e feitiçaria’ [2023], abordando um tema que me é caro e que tem me acompanhado ao longo de minha vida acadêmica [como podemos ver em outros textos que publiquei sobre assuntos semelhantes - Bueno, 2023a e 2001 - além de alguns outros capítulos sobre religiosidade em que abordo essas questões Jornal de Literatura Asiática | Vol. 2, Nº 1 | Jan. 2024 de forma mais rápida]. O interesse renovado provocado pelo lançamento do livro promoveu desdobramentos enriquecedores, como uma série de entrevistas com os autores, buscando ampliar as discussões sobre os capítulos trabalhados nessa coletânea – e nesse sentido, o capítulo sobre Feitiçaria e Alquimia na China antiga conseguiu captar alguma atenção, promovendo a realização de uma live dedicada ao tema no dia 23-01-2023 [veja o link nas referências, ao final]. Nossa impressão é que este assunto atrai o interesse sazonal do público leitor, que acaba esbarrando, contudo, na falta de uma literatura mais ampla em língua portuguesa. O tema da alquimia chinesa está muitas vezes inserido – e sem quaisquer fronteiras mais precisas – nos estudos sobre religiosidade chinesa, história das ciências, Daoísmo e medicina, sem contar as inúmeras abordagens esotéricas que costumam mais confundir do que explicar. A própria alquimia enquadra-se em um campo de difícil classificação; pois se sua trajetória histórica permitiu que ela fosse considerada em alguns momentos ora uma proto-química, ora uma parte das teorias médicas chinesas, suas relações complexas com o xamanismo, a magia, a religiosidade e a mítica busca da imortalidade a deslocaram para um entrelugar interdisciplinar de difícil abordagem, deslizando facilmente para uma tipificação nada gentil de pseudociência. Nesse breve texto, eu gostaria de desenvolver uma breve relação bibliográfica que pode nos ajudar a compreender melhor a história e as tradições da alquimia chinesa. A par da fartura de textos em outros idiomas, busquei privilegiar aquelas que são de mais fácil acesso, e que nos permitem delinear melhor a trajetória histórica e conceitual das tradições alquímicas chinesas. Como poderão notar, esse é um trabalho novo, que se encontra disseminado em outros textos, mas do qual fazemos uma recensão comentada, de modo a fornecer subsídios para um conhecimento mais rico da alquimia na China. TEXTOS SEMINAIS Dois trabalhos destacam-se entre os primeiros a tratar a alquimia chinesa de forma específica: ‘Taoísmo, a busca da imortalidade’ de John Blofeld [1979] e ‘Ferreiros e Alquimistas’ de Mircea Eliade [1979] traziam capítulos específicos sobre o surgimento histórico dessa prática na China, suas ideias centrais e os textos formadores da tradição alquímica. Enquanto a apresentação de Blofeld discorria mais livremente sobre o tema, Eliade, como historiador da religião, realizou um trabalho mais específico, inserido na proposta de correlacionar a experiência chinesa com outras da Índia e da Europa. Ambos os textos, porém, se tornaram pontos de partida seguros para iniciar o estudo sobre a alquimia chinesa. No mesmo ano de 1979, um livro bastante interessante, que tratava sobre as práticas sexuais daoístas – intimamente relacionadas a alquimia – foi publicado no Brasil, tendo o especialista Jolan Chang como autor [1979]. O texto de Chang não deve ser subestimado como uma fonte de pesquisa: ele foi recomendado por ninguém menos que Joseph Needham, o grande estudioso das ciências Jornal de Literatura Asiática | Vol. 2, Nº 1 | Jan. 2024 chinesas, que assinou o prefácio. Esse início alvissareiro prometia despertar um campo mais amplo de estudos; mas as dificuldades de tradução e divulgação de livros na época, bem como o interesse difuso e fragmentado de estudiosos deixou cair no vácuo essa oportunidade. Assim, esses livros deram conta, por algum tempo, de serem as referências básicas sobre esse riquíssimo tema. ANOS 1990-2000 O processo de circulação de informações promovido pelo surgimento da rede eletrônica internacional gerou uma conexão renovada de estudioso e pesquisas, criando um ambiente de construção de conhecimento em rede que gradualmente publicizou e impulsionou o surgimento de uma nova onda de publicações sobre a alquimia chinesa. Cumpre destacar os trabalhos de Rui Rocha [1999] e da grande estudiosa de Macau Ana Maria Amaro [2011], que nos legaram textos ricos sobre as tradições mágico-alquímicas chinesas, e suas sobrevivências históricas. Foi também o momento de importantes traduções, como de uma nova série de textos de sexologia daoísta [Heilman, 1992], os textos de Eva Wong [2003a 2003b], Thomas Cleary [2000] e a ação de divulgação daoísta no Brasil promovida pelo mestre Wu Jyh-Chergn [2008a e 2008b e Ma, 2013], que deu um renovado ensejo ao estudo sério e aprofundado da alquimia chinesa no Brasil. O artigo ‘Alquimia sexual chinesa’, de Kamila Czepula [2011] alcançou extensa repercussão nos estudos sobre cultura chinesa no Brasil, sendo citado inúmeras vezes como referência no assunto. O livro ‘Mito da Alquimia’ [que inclui o capítulo ‘Alquimia Asiática’] de Mircea Eliade, foi publicado em português em 2000, fechando uma série de estudos desse autor sobre o tema. TEXTOS RECENTES E LITERATURA Como podemos notar, houve um profícuo movimento de traduções de textos relacionados a alquimia chinesa. Destaca-se que os trabalhos mais recentes são acadêmicos, produzidos por autores com expertise sinológica. É o caso de Zhao [2012] e Schachter [2014], cujos traduções abalizadas trazem peças pouco conhecidas da literatura chinesa. Mais recentemente [2022-2023, o Projeto Orientalismo da UERJ iniciou a publicação de uma série de traduções [algumas completas, outras parciais] de textos das tradições alquímicas/religiosas chinesas, incorporados as coleções ‘Textos da China antiga’ e ‘Textos da China imperial’ [link nas referências]. Algumas dessas traduções são inéditas em língua portuguesa, como é o caso do texto basilar da alquimia química, o ‘Cantongqi’, entre outros. Vale ressaltar que algumas narrativas sobre as tradições alquímicas chinesas estão disseminadas na literatura, e uma leitura sobre essas passagens, contos e histórias podem nos dar uma visão mais ampla de como elas eram Jornal de Literatura Asiática | Vol. 2, Nº 1 | Jan. 2024 encaradas na própria China. A coletânea de contos ‘A Deusa de jade’ de Lin Yutang [1959], ‘O alquimista e sua concubina’ [1987] e o trabalho incontornável da grande tradutora Márcia Schamltz [2011] nos trazem episódios fascinantes sobre a recepção literária das tradições alquímicas chinesas. CONCLUSÃO Dado nosso espaço, essa sucinta apresentação não pretendeu ser de modo algum exaustiva, se tratando mais de um convite à leitura dessa fantástica e rica experiência que foi a alquimia na China. Fica aqui o desejo de uma excelente leitura, e que as sugestões aqui dadas possam fortalecer o propósito de se aprofundar mais nesse fértil campo das tradições chinesas. LIVE: FEITIÇARIA E ALQUIMIA NA CHINA ANTIGA Live: ‘Feitiçaria e Alquimia na China antiga’. 23-01-2023. Disponível em: https://www.youtube.com/live/WMAkdmPF3oM?si=cbq45W7lP784z6sT REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amaro, Ana Maria. ‘Mal de Susto ou Subissalto (A Queda da Alma)’. Instituto Internacional de Macau, colecção «MOSAICO», Volume XIX, 2011. Rocha, Rui. ‘Aspectos da Alquimia Chinesa’ in Revista de Macau. Macau, Março de 1999. Blofeld, John. Taoísmo- busca da imortalidade. São Paulo: Cultrix, 1979. Bueno, André. ‘Prolongar a vida, enganar a morte: a arte da alquimia na China antiga’. In: Carlos Eduardo Costa Campos; Arlete José Mota. (Org.). TRÍVIA estudos interdisciplinares sobre as práticas da magia na Antiguidade. 1ed.Vassouras: Universidade de Vassouras, 2023a, v. 1, p. 73-83. Bueno, André. ‘Feitiçaria e Alquimia na China Antiga’. In: Semíramis Corsi Silva; Flávia Regina Marquetti; Pedro Paulo A. Funari. (Org.). Magia, encantamentos e feitiçaria. 1ed.São Paulo: Cultura Acadêmica, 2023b, v. 1, p. 92-118. Bueno, André. Imortalidade, Energia e Poder; o Daoísmo como Religião - Anais da XII SBEC: Ouro Preto, 2001. Chang, Jolan. O taoísmo do amor e do sexo. RJ: Artenova, 1979. Cleary, Thomas. Meditação Taoísta. Brasília: Teosófica, 2000. Jornal de Literatura Asiática | Vol. 2, Nº 1 | Jan. 2024 Coletânea [autores diversos]. O alquimista e sua concubina: contas da dinastia Song e Ming. Beijing: Edição de línguas estrangeiras, 1987. Czepula, Kamila. ‘Alquimia sexual chinesa’. In Leituras da História, v. 36, p. 18-24, 2010. Eliade, Mircea. Ferreiros e Alquimistas. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. Eliade, Mircea. O mito da Alquimia. Lisboa: Fim de Século, 2000. Heilmann, W. A arte Chinesa do amor - Fang Chung Shu. RJ: Ediouro, 1992. Lin, Yutang. A deus de jade e outros contos chineses famosos. Rio de Janeiro: Ponguetti, 1959. Ma He Yang. Alquimia taoísta. Rio de Janeiro: MaudaX, 2016. Schachter, Bony. 'Rito de Passagem do Escrito Amarelo da Claridade Superior' em Bueno, A. e Neto, J. [org.] Antigas Leituras: Visões da China Antiga. União da Vitória: Unespar/Upe, 2014. Schmaltz, Márcia. Contos Sobrenaturais Chineses. Porto Alegre: LPM, 2011. Wong, Eva. As Artes Taoístas da Saúde, da Longevidade e da Imortalidade. São Paulo: Landy, 2003. Wong, Eva. O Método Correto de Cultivar e Manter a Energia da Vida. São Paulo: Pensamento, 2003. Wu Jyh Cherng. Meditação Taoísta. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. [Zuo Wanglun] Wu Jyh Cherng. Tratado sobre a União Oculta. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. [Yinfujing] Zhao Bichen. Treinamento Interior Taoísta: Tratado de Alquimia e Fisiologia. São Paulo: Editora É, 2012. ELETRÔNICAS As traduções abaixo listadas tratam de assuntos ligados a alquimia chinesa e ao mito da imortalidade. Elas foram organizadas pelo Projeto Orientalismo da UERJ e podem ser encontradas a partir do link: https://chines-classico.blogspot.com/ Na coleção ‘Textos da China Imperial’: Vol.12-Huang Tingjing 黃庭經; Vol.15-Ji Kang 嵇康; Vol.16-Ruan Ji 阮籍; Vol.22Bowuzhi 博物志; Vol.23-Baopuzi 抱朴子; Vol.28-Shishuo Xinyu 世說新語; Vol.35- Jornal de Literatura Asiática | Vol. 2, Nº 1 | Jan. 2024 Daojiao 道教: Taixijing 胎息經, Xinyinjing 心印經, Datongjing 大通經, Chiwendong 赤紋洞, Qingjingjing 清靜經 e Yinfujing 陰符經 Na coleção ‘Textos da China antiga’: Vol.49: Fang Zhongshu 房中術; Vol.50: Sunüjing 素女經; Vol.51: Huangdi Sijing 黃帝 四經; Vol.61 - Liexianzhuan 列仙傳 ; Vol.68 - Shen Nong Bencaojing 神農本草經 ; Vol.101 - Taipingjing 太平經; Vol.102 - Cantongqi 參同契 ANDRÉ BUENO é professor adjunto de História Oriental da UERJ e diretor do Projeto Orientalismo [www.orientalismo.net]. O Jornal de Literatura Asiática é uma publicação quinzenal da Curadoria de Literatura Asiática, da Coordenadoria de Estudos Asiáticos (CEÁSIA), da Universidade Federal de Pernambuco. A Editora é a curadora de literatura asiática Simone Martins. Diagramação: Simone Martins. ISSN 2965-7245 www.ceasiaufpe.com.br IG curadoria_literatura_asiatica e-mail curadoria.literatura.asiatica.com.br Endereço: Av. Professor Moares Rego, nº 1235 | Cidade Universitária | Recife | Pernambuco Jornal de Literatura Asiática | Vol. 2, Nº 1 | Jan. 2024
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