Papers by Joana Maria PEDRO
Artigo está licenciado sob forma de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Este texto procura discutir como as mobilizações antigênero em contexto escolar, tanto em nível g... more Este texto procura discutir como as mobilizações antigênero em contexto escolar, tanto em nível global quanto local, movimentaram um ímpeto “restaurador” de valores morais na sociedade por parte de fundamentalistas religiosos e políticos. Para tal intento, vale-se de textos do Vaticano, da imprensa e de projetos de lei de políticos brasileiros, cujos discursos explicitam a autoridade familiar na educação dos seus filhos, conforme suas convicções morais e religiosas. Evidencia-se, também, o receio mobilizado por um ressentimento em relação a uma ideologia que “destruiria a família heterossexual”. O dispositivo da “ideologia de gênero” nas escolas ameaçaria essa instituição, levando a uma reação de tradicionalistas conservadores, religiosos e políticos, uma tentativa de “restauração” de um homem ocidental.

Neste artigo abordamos as relações dos feminismos no Brasil com as forças e discursos políticos d... more Neste artigo abordamos as relações dos feminismos no Brasil com as forças e discursos políticos de esquerda e de direita que emergiram, de maneira massiva, a partir do início do milênio, e que têm sido identificadas como populismos. No contexto da chamada “maré rosa”, o Brasil viveu, de 2004 a 2016, quatro governos eleitos a partir de um grande apelo ao popular e às políticas sociais de inclusão das camadas menos favorecidas da sociedade. A partir do Golpe parlamentar e midiático de 2016, revestido por um processo de impeachment da Presidenta Dilma Roussef, outras forças políticas emergiram no cenário, com um cunho conservador de direita. Feminismos também emergiram nesse contexto com muita visibilidade, especialmente a partir de 2011, em manifestações e organizações bastante diversificadas como as Marchas das Vadias, as Marchas das Margaridas (camponesas), ocupações em escolas e universidades, a Marcha das Mulheres Negras, a Primavera Feminista, a greve de mulheres 8M, entre outras. Nosso objetivo é refletir sobre os desafios dos feminismos nos embates com essas forças políticas de esquerda ou direita, e seu papel político no Brasil contemporâneo a partir de um olhar da história do tempo presente.
Este artigo tem por objetivo apresentar uma análise sobre as tentativas de formação de alianças e... more Este artigo tem por objetivo apresentar uma análise sobre as tentativas de formação de alianças entre o movimento homossexual e o movimento negro no final da década de 1970. A partir da análise do jornal Lampião da Esquina (1978-1981) e do boletim O Corpo, vinculado ao primeiro grupo político homossexual organizado, denominado Somos, investigou-se quais foram as iniciativas de formação de alianças entre esses dois movimentos, as interseccionalidades, assim como os limites. Pretende-se compreender se foi possível ou não pensar a raça e a sexualidade como elementos constitutivos e inseparáveis em ambas as militâncias.
Este artigo tem como objetivo refletir sobre os debates historiográficos, as interconexões dos fe... more Este artigo tem como objetivo refletir sobre os debates historiográficos, as interconexões dos feminismos e as contribuições teóricas na contemporaneidade, no que tange ao período das década de 1970 e 1980 ou aquilo que foi definido como feminismo de ‘segunda onda’. As análises serão feitas a partir de uma perspectiva histórica que busca considerar as descontinuidades, as rupturas e as relações de poder existentes no interior do próprio movimento social e as novas contribuições narrativas sobre o passado no Brasil. Dialoga-se com as epistemologias feministas e busca-se, de forma didática, apresentar um panorama de como os debates têm sido (re)constituídos, questionados e (re)analizados a partir dos novos contextos historiográficos.

Com base nas entrevistas realizadas com duas feministas que têm suas trajetórias envolvidas, ao m... more Com base nas entrevistas realizadas com duas feministas que têm suas trajetórias envolvidas, ao mesmo tempo, com a academia e com a política institucional, buscamos traçar uma cartografia de mulheres argentinas que estiveram e estão dentro do campo político, que abrange desde a militância feminista até as candidaturas e os mandatos para cargos públicos, passando pelo vínculo com partidos políticos. No momento em que este artigo é escrito, Dora Barrancos é assessora direta do presidente da Argentina, Alberto Fernández, e já foi candidata a senadora. Fernanda Gil Lozano é diretora do Centro Internacional para a Promoção de Direitos Humanos da UNESCO no país, e já foi deputada federal. As visões amplas e as experiências políticas dessas mulheres, ao serem narradas, abrem possibilidades de reflexão sobre a conformação do campo político argentino em termos de gênero e raça, a partir de suas percepções sobre as mulheres políticas nas arenas compostas pela esquerda, mas também pela direita argentina. Quais são os lugares dessas mulheres nos seus partidos políticos? São elas apoiadas, instrumentalizadas ou invisibilizadas no sistema argentino de listas fechadas de candidatos? Estas são algumas questões sobre as quais queremos refletir.

O tráfico humano, assunto fortemente midiatizado na virada dos anos 2000 e 2010, voltou a ter rep... more O tráfico humano, assunto fortemente midiatizado na virada dos anos 2000 e 2010, voltou a ter repercussão pública em âmbito nacional durante a campanha política para a presidência da República em 2022, na fala de Damares Alves, correligionária do então candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Neste artigo, analisamos a potência sedutora da temática e mostramos o efeito desastroso de entendimentos moralizantes a respeito do deslocamento de mulheres para a inserção no mercado sexual. Nossa perspectiva encontra estudos antropológicos como, por exemplo, os de Jo Doezema, Adriana Piscitelli e Marcia Sprandel. Analisamos inquéritos policiais e processos criminais datados de entre 1995 e 2012 - período em que o tráfico de pessoas para exploração sexual se tornou uma questão no Brasil -, motivados pela seguinte provocação: se todos somos contra a exploração sexual, o que temos em comum com Damares Alves?

Como se articula o movimento feminista em meio às lutas pela democracia que marcaram a ditadura m... more Como se articula o movimento feminista em meio às lutas pela democracia que marcaram a ditadura militar no Brasil (1964-1985) e no Chile (1973-1990)? Como se deu o debate entre os direitos humanos e as reivindicações específicas das mulheres nos periódicos feministas brasileiros e chilenos? O presente texto se propõe, através de uma perspectiva comparativa, a levantar alguns elementos sobre os
processos de organização e luta protagonizados pelo movimento feminista nos referidos países do Cone Sul, observando como as mulheres conjugaram a resistência política ao regime militar com
reivindicações do campo da sexualidade, como contracepção e aborto. Para indicar aproximações e diferenças entre os dois países sobre a questão proposta, serão tomados como referência os discursos
da mídia alternativa produzida pelo movimento feminista, em que se destacam os conflitos e enfrentamentos com os setores conservadores e os partidos de esquerda vivenciados pelas organizações de mulheres, na luta pela democracia e pela igualdade de gênero.

Para quem tem o privilégio de conhecer, mais de perto, Michelle Perrot, reconhece que ela, além d... more Para quem tem o privilégio de conhecer, mais de perto, Michelle Perrot, reconhece que ela, além de ser uma historiadora com grande reconhecimento intelectual-na França e em vários países-, possui uma simpatia contagiante. Uma memória prodigiosa, capaz de lembrar nomes e rostos de pessoas vistos há algum tempo. Quem se aproxima dela é sempre recebido com um grande sorriso, algo que sempre surpreende, em vista da costumeira sisudez com que os estrangeiros costumam ser recebidos na França. Para o público leitor brasileiro, Michelle Perrot é a grande mestra da História das Mulheres. Essa fama certamente vem da obra que organizou, juntamente com Georges Duby, a qual na França teve o nome de L´Histoire des femmes en Occident de l´Antiquité à nos jours, publicada em cinco volumes e editada pela Plon, entre 1991 e 1992. No Brasil, a Editora Ebradil, de São Paulo, em co-edição com as Edições Afrontamento, da cidade de Porto (Portugal), publicou essa obra, editada com título abreviado: História das Mulheres no Ocidente. Os cinco volumes foram colocados no mercado entre 1993 e 1995. Essa obra teve também publicações em alemão, inglês, coreano, espanhol, japonês, italiano e holandês, além de outros idiomas. Tornou-se, portanto, uma referência internacional, imitada em vários países, os quais passaram,
Em meados dos anos 1970, mulheres brasileiras exiladas formaram na França, em Paris, dois grupos ... more Em meados dos anos 1970, mulheres brasileiras exiladas formaram na França, em Paris, dois grupos feministaso Nosotras e o Círculo de Mulheres Brasileiras-, e as diferenças entre ambos constituíram-se de disputas que se expressaram de diferentes formas. Observar essas diferenças por meio das imagens presentes nos materiais que divulgavam suas idéias é o que se discute neste artigo.

Memória e identidade são categorias centrais nas teorias das ciências humanas e são operacionaliz... more Memória e identidade são categorias centrais nas teorias das ciências humanas e são operacionalizadas em refl exões de diferentes áreas e campos disciplinares. Hoje, parece que se organiza o esboço de um consenso em torno da noção de que o lugar da memória é aquele da produção de subjetividades, da construção de identifi cações. A entrevista, uma chamada para a signifi cação da experiência, é ferramenta e fonte tanto da história quanto da antropologia, disciplinas essas que articulam metodologias particulares amparando-se nos estudos sobre a memória, em análises de narrativas, na interpretação daquilo que é lembrado e esquecido, nos contraditos e nas repetições, na elaboração de signifi cados, nos modos de dizer. Nossa proposta neste ensaio é um breve relato das teorias da memória que constituem o arsenal teórico desses dois campos de saber que há muito dialogam: história e antropologia. Especifi camente, pretendemos refl etir sobre a colocação em discurso da categoria memória por essas duas áreas disciplinares, seus usos e apropriações, seus jogos com as categorias identidade e subjetividade. Pretendemos tratar essas abordagens como discursividades que

Partindo do aporte metodológico da História Oral e dos conceitos filosóficos “discursiv... more Partindo do aporte metodológico da História Oral e dos conceitos filosóficos “discursividade” e “processos de subjetivação”, este artigo é uma história de como se constroem formas legítimas de feminilidade. Gênero é a categoria de análise central, que aparece articulada às categorias classe social, raça/etnia/nacionalidade e geração. Analisamos quatro narrativas de projetos migratórios planejados por mulheres do sul catarinense, região conhecida pelo intenso fluxo internacional de pessoas desde o final do século XX, comparando-as com as perspectivas de suas antepassadas, mulheres que migraram da Europa para o Brasil no final do século XIX. Mostramos que houve, no passar de um século, grande ampliação das possibilidades de existência para as mulheres e que tais mudanças apontam para o fato de que os sentidos de ser mulher se modificam na história e que as formas de feminilidade são construídas historicamente.
Resumo: Apresentamos, neste artigo, algumas reflexões acerca dos ataques misóginos perpetrados à ... more Resumo: Apresentamos, neste artigo, algumas reflexões acerca dos ataques misóginos perpetrados à primeira presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, que, atualmente sofrendo processo de impeachment, foi substituída por um governo interino que, assim como parte dos veículos midiáticos do país, representa uma concepção conservadora do papel da mulher na politica e sociedade brasileira. Este padrão ideal de mulher, de acordo com visão reacionária, pode ser sintetizado pela expressão "belas, recatadas e do lar", enquanto Dilma, a quem se quer criticar a visão política ou o governo, recebe adjetivos como "feia, histérica e vadia". Palavras-chave: Dilma Rousseff e misoginia; Michel Temer e conservadorismo; gênero, religião, mídia e política.

A memória das mulheres de duas gerações 1-as nascidas nas décadas de 20 e 30, que estarei chamand... more A memória das mulheres de duas gerações 1-as nascidas nas décadas de 20 e 30, que estarei chamando de "geração 20-30", e as nascidas nas décadas de 40 e 50, que chamarei de "geração pílula"-possibilita explicar de que maneira foi vivida, no privado, uma questão eminentemente política-as políticas de planejamento populacional vinculadas à guerra fria. Ou seja, de que maneira questões de política internacional repercutiram no dia-a-dia das pessoas. Estou considerando que era de sexo e de corpo feminino que se estava falando, quando acordos internacionais exigiam a redução da natalidade de países de terceiro mundo, como o Brasil. Era também de sexo que se falava, quando a Igreja Católica publicava documentos como a Humanae Vitae, decidindo pelos casais quais os métodos que estes poderiam utilizar para planejar o número de filhos que desejavam ter. A memória das mulheres tem sido focalizada ultimamente de forma bastante intensa. A pesquisa histórica sobre o privado e a intimidade no cotidiano tem-se utilizado deste tipo de memória. Na década de 70, quando surgiu no Brasil, a História Oral 2 era empregada especialmente para "preencher lacunas", 3 ou então para obter informações sobre os acontecimentos da esfera pública 4. Recorria-se principalmente à memória masculina. O argumento era de que as mulheres não eram conhecedoras dos acontecimentos desta esfera, por
Este artigo discute a definição de tráfico de pessoas colocada no Código Penal brasileiro e suas ... more Este artigo discute a definição de tráfico de pessoas colocada no Código Penal brasileiro e suas relações com sensos proibitivos da prostituição. Para pensar esta questão, se faz uso de epistemologias feministas que apontam como essa discursividade se arranja em torno da noção de passividade e debilidade feminina. Parece haver um certo consenso entre as pessoas treinadas para combater o tráfico de pessoas a respeito do argumento de que um dos empecilhos ao seu trabalho é o fato de as vítimas não se reconhecem como vítimas. Neste artigo, problematiza-se tal argumento explicativo e mostra-se como ele é, ao mesmo tempo, efeito e reforço da embaraçosa definição de tráfico colocada no Código Penal.
Uploads
Papers by Joana Maria PEDRO
processos de organização e luta protagonizados pelo movimento feminista nos referidos países do Cone Sul, observando como as mulheres conjugaram a resistência política ao regime militar com
reivindicações do campo da sexualidade, como contracepção e aborto. Para indicar aproximações e diferenças entre os dois países sobre a questão proposta, serão tomados como referência os discursos
da mídia alternativa produzida pelo movimento feminista, em que se destacam os conflitos e enfrentamentos com os setores conservadores e os partidos de esquerda vivenciados pelas organizações de mulheres, na luta pela democracia e pela igualdade de gênero.
processos de organização e luta protagonizados pelo movimento feminista nos referidos países do Cone Sul, observando como as mulheres conjugaram a resistência política ao regime militar com
reivindicações do campo da sexualidade, como contracepção e aborto. Para indicar aproximações e diferenças entre os dois países sobre a questão proposta, serão tomados como referência os discursos
da mídia alternativa produzida pelo movimento feminista, em que se destacam os conflitos e enfrentamentos com os setores conservadores e os partidos de esquerda vivenciados pelas organizações de mulheres, na luta pela democracia e pela igualdade de gênero.
O XX é chamado de “o século das mulheres” em razão das transformações aceleradas que propiciou à experiência feminina. Foi uma época de ampliação de direitos e oportunidades e de mudanças, tanto na qualidade de vida das mulheres, quanto no imaginário coletivo. Nosso século, embora ainda no início, já anuncia importantes novidades. No Brasil, o protagonismo feminino parece já não assustar tanto. Porém, se algumas conquistas conseguiram se firmar, outras estão ameaçadas de retrocesso e precisam de atenção. “O que aconteceu com as mulheres, como chegamos até aqui e quais serão os próximos capítulos dessa saga?” é o que as autoras – pesquisadoras das áreas de História, Ciências Sociais, Educação e Direito – procuram responder neste livro.