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(PDF) Sociedad e Infancias
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Sociedad e Infancias

https://doi.org/10.5209/soci.56696

335 RESEÑAS Pinto, M., Sarmento, M. J. (Coords.) (1997). As Crianças: contextos e identida-des. Braga: Centro de Estudos da Criança/Universidade do Minho, 293 páginas. ISBN: 9729732310. Manuel Pinto e Manuel Sarmento, coordenadores do livro em análise, são profes-sores na Universidade do Minho, Braga, Portugal. A obra que coordenaram marcou definitivamente a entrada, no final da década de 90, dos Estudos das Crianças (p. 10) ou Estudos da Infância (p. 26) em Portugal. A utilização das duas designações ao longo do livro marca um dos eixos fraturantes do campo, a própria designação, que continua atualmente aberta ao debate. Fazendo recurso a propostas de leitura tão distintas e temas tão diversificados, desde a revisão histórico sociológica das imagens da infância (Manuel Pinto), aos direitos da criança (Natália Fernandes Soares), à educação de infância-o jardim de infância enquanto lugar de institucionalização da infância (Justino Pereira de Ma-galhães) e a tomada de consciência, como processo cognitivo e de apreensão do mundo, pelas crianças pequenas (Paula Cristina Martins)-, aos tempos livres das crianças (Beatriz Oliveira Pereira e Carlos Neto) até à educação e ao trabalho de crianças e jovens numa região no norte do país (Manuel Jacinto Sarmento, Eduardo Meira, Olívia Neiva, Altina Ramos e Ana Margarida Costa), o livro coloca-se radi-calmente contra as visões dominantes e estreitas sobre a infância e as crianças. Essas visões, caracterizadas pelo seu caráter fragmentado, assentes numa visão teleológica e linear do desenvolvimento das crianças e na assunção de uma visão da criança enquanto objeto de estudo, são contestadas ao longo das quase trezentas páginas que constituem o livro. Pode afirmar-se que assistimos neste período ao início de um movimento de vi-ragem epistemológica, em Portugal, fundante de uma renovada reflexividade sobre a infância e sobre a criança, entendida como ser biopsicossocial, ator social de pleno direito, sujeito de direitos, produtora de cultura, ser completo e competente e, por isso mesmo, com muito para dizer acerca dos seus mundos de vida. O apelo do cam-po à multidisciplinariedade, a uma abordagem integrada da investigação e a tentativa em conseguir 'alcançar' as vidas das crianças e o seu bem-estar, toma corpo nesta obra. Não é, pois, de admirar que o livro proceda a uma análise da infância e das crian-ças-o lugar de encontro de todos os textos e autores/as-a partir de uma literatura científica multidisciplinar, que vai das ciências da comunicação, à sociologia da in-fância, às ciências da educação, à psicologia até às ciências do desporto, pluri teórica e metodológica em torno da análise dos contextos e vida das crianças e para a sina-lização das suas identidades. M. Pinto e M. Sarmento, os dois autores no texto introdutório da obra, intitulado "As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo" (pp. 9-30), apresentam os pressupostos fundadores e estruturantes do campo dos Estudos da CUARTAS_Sociedad e infancias.indd 335 10/10/17 12:05

RESEÑAS Sociedad e Infancias ISSN: 2531-0720 http://dx.doi.org/10.5209/SOCI.56696 Pinto, M., Sarmento, M. J. (Coords.) (1997). As Crianças: contextos e identidades. Braga: Centro de Estudos da Criança/Universidade do Minho, 293 páginas. ISBN: 9729732310. Manuel Pinto e Manuel Sarmento, coordenadores do livro em análise, são professores na Universidade do Minho, Braga, Portugal. A obra que coordenaram marcou definitivamente a entrada, no final da década de 90, dos Estudos das Crianças (p. 10) ou Estudos da Infância (p. 26) em Portugal. A utilização das duas designações ao longo do livro marca um dos eixos fraturantes do campo, a própria designação, que continua atualmente aberta ao debate. Fazendo recurso a propostas de leitura tão distintas e temas tão diversificados, desde a revisão histórico sociológica das imagens da infância (Manuel Pinto), aos direitos da criança (Natália Fernandes Soares), à educação de infância – o jardim de infância enquanto lugar de institucionalização da infância (Justino Pereira de Magalhães) e a tomada de consciência, como processo cognitivo e de apreensão do mundo, pelas crianças pequenas (Paula Cristina Martins) – , aos tempos livres das crianças (Beatriz Oliveira Pereira e Carlos Neto) até à educação e ao trabalho de crianças e jovens numa região no norte do país (Manuel Jacinto Sarmento, Eduardo Meira, Olívia Neiva, Altina Ramos e Ana Margarida Costa), o livro coloca-se radicalmente contra as visões dominantes e estreitas sobre a infância e as crianças. Essas visões, caracterizadas pelo seu caráter fragmentado, assentes numa visão teleológica e linear do desenvolvimento das crianças e na assunção de uma visão da criança enquanto objeto de estudo, são contestadas ao longo das quase trezentas páginas que constituem o livro. Pode afirmar-se que assistimos neste período ao início de um movimento de viragem epistemológica, em Portugal, fundante de uma renovada reflexividade sobre a infância e sobre a criança, entendida como ser biopsicossocial, ator social de pleno direito, sujeito de direitos, produtora de cultura, ser completo e competente e, por isso mesmo, com muito para dizer acerca dos seus mundos de vida. O apelo do campo à multidisciplinariedade, a uma abordagem integrada da investigação e a tentativa em conseguir ‘alcançar’ as vidas das crianças e o seu bem-estar, toma corpo nesta obra. Não é, pois, de admirar que o livro proceda a uma análise da infância e das crianças – o lugar de encontro de todos os textos e autores/as – a partir de uma literatura científica multidisciplinar, que vai das ciências da comunicação, à sociologia da infância, às ciências da educação, à psicologia até às ciências do desporto, pluri teórica e metodológica em torno da análise dos contextos e vida das crianças e para a sinalização das suas identidades. M. Pinto e M. Sarmento, os dois autores no texto introdutório da obra, intitulado “As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo” (pp. 9-30), apresentam os pressupostos fundadores e estruturantes do campo dos Estudos da Soc. Infanc. 1, 2017: 321-336 335 336 Reseñas. Soc. Infanc. 1, 2017: 321-336 Criança, nomeadamente, o reconhecimento das múltiplas formas em que a infância é socialmente (re)construída em relação ao tempo e espaço, idade, género, etnia, classe social, etc., ou seja, a consideração da infância como construção social e como categoria social de tipo geracional. Este processo, longe de ser consensual e linear, é, segundo os autores, atravessado por paradoxos, “ao falar-se (e ao estudar-se) as crianças, produzem-se, na ordem do discurso e na ordem das políticas sociais, efeitos contraditórios, que resultam da extrema complexidade social da infância e da heterogeneidade das condições de vida” (p. 14). Os eixos de questionamento e análise que perpassam o livro, ainda que assumindo natureza, abordagens e metodologias distintas, centram-se na tentativa de analisar um conjunto de pressupostos e de tensões quando se estuda as crianças a partir delas para o estudo das realidades de infância, que nesta obra se faz a partir de contextos específicos da sociedade portuguesa. O conjunto de artigos que o livro congrega é ilustrativo dessa diversidade ao levantar questões desafiadoras que oferecem novas perspetivas no campo das pesquisas com crianças. Neste sentido, apresentamos de forma resumida a organização do livro. As discussões decorrem em torno de duas partes organizados em capítulos, que se seguem a um primeiro capítulo introdutório. A primeira parte assume um pendor de conceptualização teórica em torno dos eixos centrais na construção da infância como categoria social, a partir de três textos: “A infância como construção social” de M. Pinto (pp. 33-73), “Direitos da criança: utopia ou realidade” (pp. 77-111) de N. Soares e “Um Contributo para a História da Educação de Infância em Portugal” de (pp. 115-145) de J. Magalhães. A segunda parte apresenta um conjunto de três investigações que desocultam as vozes e conceções das crianças em relação a temas tão diversificados como a “Planificação da actividade e tomada de consciência na crianza” (pp. 149-216) de Paula Cristina Martins, “A infância e as práticas lúdicas. Estudo das actividades de tempos livres nas crianças dos 0 aos 10 anos” de B. Pereira e C. Neto (pp. 219-264) e “A Escola e o trabalho em tempos cruzados” (pp. 267-293) de Sarmento et al. De leitura acessível e abrangente, o livro não oferece dificuldades de interpretação, constituindo uma rápida e útil introdução a um campo que se inaugura em Portugal. Aliás o livro é editado pelo centro de investigação com a mesma designação que teve sede, até 2008, no Instituto de Estudos da Criança, um oásis no país. Em síntese, este livro contribui de forma decisiva para o movimento de constituição dos Estudos da Criança como um campo de estudos autónomo e diferenciado em Portugal, processo que que tem vindo a percorrer um caminho, não isento de dificuldades e obstáculos. Não há dúvida de que se trata de uma obra de leitura obrigatória, essencial para compreender o nascimento e desenvolvimento dos Estudos da Criança em Portugal. Catarina Almeida Tomás Instituto Politécnico de Lisboa (Portugal) catarinatomas@gmail.com








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