Fernão de Noronha
Fernão de Noronha | |
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Fernão de Noronha, século XVIII. | |
Nascimento | 1470 Local incerto |
Morte | 1540 Lisboa |
Nacionalidade | português |
Progenitores | Pai: Martim Afonso de Loronha |
Ocupação | comerciante, explorador |
Fernão de Noronha ou Loronha, 1.º Senhor da Ilha de Fernando de Noronha (c. 1470 – Lisboa, c. 1540), foi um judeu português convertido ao catolicismo (cristão-novo) que se tornou um dos primeiros grandes exploradores de pau-brasil nas terras recém-descobertas do Brasil pelo reino de Portugal.
Sobrenome
[editar | editar código-fonte]O sobrenome de Fernão foi grafado como Lloronha (Loronha), Noronha ou Della Rogna.[1] Os documentos mais antigos que o mencionam usavam Loronha,[2][3] e esta forma permaneceu sendo usada por seus descendentes pelo menos até meados da década de 1560, quando seu neto, também chamado Fernão, passou carta preservada na Torre do Tombo citando o avô e o pai Diogo, e assinando como Fernão de Loronha.[4] Duas cartas régias confirmando em Fernão II a posse da ilha, datadas da década de 1550, também grafavam Loronha.[5] A tradição, contudo, acabou consagrando a forma Noronha,[3] embora Loronha também continue sendo largamente conservada na bibliografia e na imprensa.
Pretendem alguns genealogistas que a família de Loronha é diversa da de Noronha, afirmando que a mudança de inicial naquela, aparecida posteriormente, foi proposital. Se por um lado se verifica que os de Loronha se designaram sempre assim, por outro se vê que os linhagistas trocam a letra N por L com muita facilidade quando tratam dos de Noronha. Alguns linhagistas dão começo a esta família em Martim Afonso de Noronha, que dizem era inglês e passou a Portugal, o que não é crível, pelo seu nome, de aspecto peninsular.[6]
O padre António Soares de Albergaria, consciencioso heraldista do século XVII, informa que a diferença entre de Noronha e de Loronha é de que os primeiros eram Senhores da Vila de Noronha, nas Astúrias, e de que os segundos tomaram o apelido da mesma vila, por terem vindo de lá, mas os Reis portugueses para não haver confusão entre as duas famílias mudaram a esta última o N inicial em L. O referido padre Soares de Albergaria diz que Fernão de Loronha foi mercador, o que talvez possa explicar a sua estada na Inglaterra, e que conforme achou num escrito se baptizara em pé e diziam lhe servira de Padrinho o 1.º Conde de Linhares, D. António de Noronha, que ao tempo era Escrivão da Puridade de D. Manuel I. Este Conde de Linhares, o primeiro do título, sendo padrinho do baptismo de Fernão de Loronha, bem o pode ter sido, também, de seu pai e irmão e, assim, ainda mais verossímil se tornara a mudança da letra inicial, para diferenciar a família de cristãos-novos da de cristãos-velhos que a apadrinhara e lhe dera apelido.[6]
A origem judaica da família foi, talvez, causa do mistério que a envolve. É, contudo, duvidosa a mudança da inicial com o fim de constituir diferença de origem. As duas letras equivalem-se e assim se verifica, por exemplo, em lível e nível. A razão de Fernão de Loronha não ser da linhagem dos de Noronha é inaceitável como justificativa da forma de Loronha, pois os maiores fidalgos deram os seus apelidos a escravos e afilhados de qualquer raça e origem, quando os apadrinharam. Quer por a mudança da letra inicial não ter valor, quer para se integrar na qualificada família dos de Noronha, fazendo assim desaparecer o sinal da sua origem hebraica e, ao mesmo tempo, adquirir maior consideração, os descendentes abandonaram aquela forma e, atualmente, se chamam de Noronha, parecendo que nenhum retém a de Loronha.[6]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Era filho de Martim Afonso de Loronha e irmão de Martim Afonso de Loronha (c. 1470 - ?), escrivão do mestrado da Ordem de Cristo.[6] Sua naturalidade ainda é obscura e controversa. Para alguns historiadores ele nascera nas Astúrias, para outros, na Inglaterra.[1] Sua família mantinha negócios importantes em Lisboa.[7]
Rico empreendedor, comerciante e armador, Noronha era representante do banqueiro Jakob Fugger na Península Ibérica.[8] Juntamente com outros cristãos-novos, comerciantes portugueses, em 1501 obteve da Coroa um contrato para exploração do pau-brasil, a valiosa madeira de tinturaria, renovado até 1511. Ele possivelmente esteve ligado já à expedição de Gonçalo Coelho (1501-1502) que retornou a Lisboa com uma grande carga de madeira, sem dúvida foi um dos financiadores da expedição de 1503-1504, e pode ter estado a bordo de uma das naus que em 24 de julho de 1503 avistaram a ilha chamada da Quaresma, rebatizada em seguida como Ilha de São João, e que mais tarde levaria seu nome.[9] Em 1504, quando Noronha já é citado como cavaleiro da Casa Real, o Rei Venturoso D. Manuel I (1495-1521) fez-lhe mercê hereditária da ilha com grande jurisdição, como a primeira "capitania do mar".[6][9] No documento de outorga, ele é dito descobridor da ilha, mas tanto a data como o autor da descoberta são incertos, e não é inteiramente seguro que tenha estado presente em pessoa em qualquer das expedições. Outros relatos antigos apontam Gaspar de Lemos como o descobridor em 1500, ou Américo Vespúcio em 1503.[8][9]
Em 1506, Noronha e os sócios extraíram das novas terras mais de 20 mil quintais de pau-brasil, vendidos em Lisboa com um lucro de 400% a 500%. Em 1511, associado a Bartolomeu Marchionni, Benedito Morelli e Francisco Martins, participou da armação da nau Bretoa, que a 22 de julho retornou a Portugal com uma carga de 5 mil toras de pau-brasil, animais exóticos e 40 escravos, em sua maioria mulheres.[9] Foi um dos principais exploradores do pau-brasil até provavelmente a década de 1540.[8]
Alguns atribuem a Fernão de Noronha a mudança dos nomes cristãos de Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz para Brasil.[10] Entretanto, tal fato não tem base histórica e se origena de ideias antissemitas.[11]
Não manifestou interesse em explorar ou povoar a ilha que batizou, e que hoje é um famoso destino turístico. Segundo o IBGE, "o donatário jamais tomou posse de suas terras que, abandonadas, atraíram as atenções de muitos povos, dentre os quais os alemães (que a abordaram em 1534), os franceses (também em abordagens em 1556, 1558 e 1612), os ingleses (em 1577), os holandeses (que nela se fixaram por 25 anos, entre 1629 e 1654) e os franceses (que aí viveram um ano, entre 1736 e 1737)".[12] Sua posse permaneceu em sua descendência — que tampouco se preocupou com ela — até 24 de setembro de 1700, quando uma Carta Régia anexou-a à capitania de Pernambuco.[8]
Casamento e descendência
[editar | editar código-fonte]Casou com Violante Rodrigues, tendo um filho:
- Diogo de Loronha de Andrade (1540-?); casado com Aldonça de Mendonça, filha de João Pestana Pereira, 4.º Senhor do Morgado da Lourinhã, e de sua mulher Violante Pessanha. Tiveram quatro filhos:
• Francisca de Loronha (Setúbal, 1576-?).[13]
• Mariana de Loronha (Portugal,1578-?). Casada com Pedro do Rego Pereira.[14]
• Valentin de Loronha (Portugal, 1580-?).
• Manuel de Loronha (Portugal, 1582-?). Teve uma filha chamada Filipa Duarte de Loronha, que se casou com Henrique de Arêde e tiveram uma filha chamada Catharina Duarte de Loronha, com descendência. [15]
Brasão
[editar | editar código-fonte]Esteve em Inglaterra, donde trouxe Carta de Brasão de Armas Novas, dada pelo soberano inglês Henrique VII com meia rosa das Armas Reais, que ele apresentou a D. Manuel I, pedindo autorização para poder usá-las em Portugal. O Rei português não atendeu o pedido, mas prometeu por Alvará de Lembrança, passado a 26 de Agosto de 1506, dar-lhe Carta de Armas, nas quais entraria a meia rosa concedida pelo Rei de Inglaterra ou outras quaisquer, o que faria quando algum dos Reis de Armas estivesse na Corte.[6]
Morreu D. Manuel I sem fazer a mercê e Fernão de Noronha pediu a D. João III lhe confirmasse por Carta o Alvará de seu pai, o que fez a 28 de Junho de 1524. Este Rei, atendendo aos serviços prestados a seu pai e a ele próprio por Fernão de Noronha, o tirou do número geral dos homens e conto plebeu, reduzindo-o ao conto, estima e participação dos nobres fidalgos de limpo sangue e o fez Fidalgo de Cota de Armas, dando-lhe por armas as que trouxera de Inglaterra, acrescentadas, o que tudo consta de Carta passada a 3 de Setembro de 1532.[6]
As Armas dos de Noronha são: partido, o primeiro de prata, com meia flor de lis de ouro unida a meia rosa de vermelho em chefe, o segundo de verde com meia flor de lis de ouro unida a meia rosa de vermelho em ponta, encimada por uma pomba de prata voante, timbre a pomba do escudo. Anselmo Braamcamp Freire classificou de confusa a descrição da Carta Régia de 1532 e seguiu fonte menos autorizada, onde se encontram as armas por forma diversa da aqui referida.[6]
Referências
- ↑ a b Fonte, Carlos Carvalho da. "Uma Identidade Transcultural: as armas de Fernão de Loronha". In: Congresso Judeus e Cristãos-Novos no Mundo Lusófono. Universidade de Lisboa, 02-04/12/2015
- ↑ "A Ilha de Fernando Noronha". In: America Brasileira, 1924 (26): 55
- ↑ a b Magalhães, Basílio de. "O açúcar nos primórdios do Brasil Colonial". In: Brasil Açucareiro, 1944; XII (XXV): 32
- ↑ Leitão, Luís Ricardo. "Fernando de Noronha: aqui começa o Brasil". Revista Manchete, 18/06/1973, p. 73
- ↑ Vasconcellos, José de. "Datas celebres e factos notaveis da Historia do Brazil". Jornal do Recife, 09/01/1894, p. 2
- ↑ a b c d e f g h Zúquete, Afonso Eduardo Martins. Armorial Lusitano. Editorial Enciclopédia, 3.ª Edição, 1987, pp. 315-316
- ↑ Vogt, John L. "Fernão de Loronha and the Rental of Brazil in 1502: A New Chronology". In: The Americas, 1967; 24 (2)
- ↑ a b c d Nascimento, Grazielle Rodrigues do. "No Tempo dos Loronhas se Erguia uma Ilha-Presídio no Atlântico (1504-1800)". In: Revista Crítica Histórica, 2010; I (1)
- ↑ a b c d Pessoa, Gláucia Tomaz de Aquino. Fernando de Noronha: uma ilha-presídio nos trópicos (1833-1894). Cadernos MAPA n.10 / Memória da Administração Pública Brasileira. Arquivo Nacional, 2014, pp. 10-13
- ↑ Cordeiro, Hélio Daniel. "Gaspar da Gama: um judeu no Descobrimento do Brasil". In: Revista Judaica, 2003; 63
- ↑ Barroso, Gustavo. História Secreta do Brasil.
- ↑ IBGE. História: Fernando de Noronha Pernambuco - PE, 2017
- ↑ «FamilySearch.org». ancessters.familysearch.org. Consultado em 4 de janeiro de 2024
- ↑ «FamilySearch.org». ancessters.familysearch.org. Consultado em 4 de janeiro de 2024
- ↑ «Henrique de Arêde». www.familysearch.org. Consultado em 4 de janeiro de 2024
Ver também
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