As Prostaglandinas Na Reprodução
As Prostaglandinas Na Reprodução
As Prostaglandinas Na Reprodução
1. Introdução.
As prostaglandinas foram descobertas em 1930 com os trabalhos de Kurzrok & Lieb ,
que descreveram os efeitos que o sêmen humano exerce sobre o miométrio. Em 1935, Von
Euler, foi o primeiro a identificar o princípio ativo responsável por tais ações, denominando-o
de prostaglandina, ao acreditar, erroneamente, que sua síntese era realizada na próstata.
Mais tarde, pesquisadores do Instituto Karolinska de Estocolmo, separaram a primeira
prostaglandina (PGF2α) na forma pura cristalina, a partir de vesículas seminais de carneiros e
em 1962 conseguiram estabelecer sua estrutura química. Assim, estabeleceram que as
prostaglandinas são ácidos graxos hidroxilados não saturados de 20 carbonos, com um anel
ciclopentano no C8 – C12. Estes compostos têm sido muito difíceis de serem estudados, pois
os níveis sanguíneos são geralmente muito baixos, embora em certas condições pareçam ser
elevados, como no parto.
Embora as prostaglandinas sejam freqüentemente comparadas aos hormônios, as
mesmas diferem destes, pois são formadas em quase todos os tecidos e não em glândulas
especializadas, e geralmente agem localmente, em vez de serem transportadas pelo sangue até
a célula-alvo (CHAMPE & HARVEY, 1996). O ácido araquidônico, que é um ácido graxo
essencial, é o precursor das prostaglandinas associadas com os processos reprodutivos, como a
prostaglandina F2α (PGF2α) e a prostaglandina E2 (PGE2).
As prostaglandinas são compostos extremamente potentes que desencadeiam uma
ampla faixa de respostas fisiológicas, estando presentes na forma de pelo menos seis
compostos relacionados com numerosos metabólitos, exibindo uma grande variedade de
efeitos farmacológicos. Sabe-se que as prostaglandinas afetam a pressão sanguínea e outros
processos fisiológicos, como função renal e respiratória. Na reprodução, as prostaglandinas
estão envolvidas na liberação de gonadotrofinas, ovulação, regressão do corpo lúteo,
motilidade uterina, parto e transporte de espermatozóides.
*
Seminário apresentado na disciplina Endocrinologia da Reprodução no Programa de Pós-Graduação em
Ciências Veterinárias da UFRGS por ADRIANA FRIZZO. Março de 2002. Professor da disciplina: Félix H.D.
González.
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2. Estrutura química.
As prostaglandinas são ácidos graxos de 20 átomos de carbono que apresentam na sua
estrutura básica o ácido prostanóico, que é um ácido graxo de 20 carbonos com um anel
ciclopentano e duas cadeias laterais (Figura 1). Também apresenta um grupo hidroxila na
posição 15 e uma dupla ligação entre os carbonos 13 e 14 na posição trans.
Existem 6 grupos de prostaglandinas, que foram designados com as letras A, B, C, D,
E e F, sendo que a identificação de cada uma delas é feita através da estrutura diferente do
anel ciclopentano. Dentro destes grupos e em relação ao número de duplas ligações das
cadeias laterais, são estabelecidos subgrupos ou classes que são:
• Subgrupo 1: uma dupla ligação na posição trans entre os carbonos 13 e 14;
• Subgrupo 2: duas duplas ligações, uma trans igual a anterior e outra cis entre os
carbonos 5 e 6 e;
• Subgrupo 3: três duplas ligações, além das anteriores mais uma cis entre os carbonos
16 e 17.
Nas prostaglandinas naturais as cadeias laterais saem do anel em posições opostas,
enquanto as hidroxilas variam nos carbonos 11, 15 e 19 sempre em orientação α.
As duplas ligações podem apresentar a forma cis ou trans, sendo que a grande maioria
das prostaglandinas encontradas na natureza são isômeros 13-trans.
As séries de prostaglandinas correspondentes aos grupos E e F são denominadas
primárias, sendo as de maior atividade biológica. As do grupo E se caracterizam por
apresentar um grupo hidroxila no carbono 11 e um grupo ceto no C9, embora as
prostaglandinas F tenham um grupo hidroxila em ambos carbonos. A série A é conseqüência
da desidratação das prostaglandinas do grupo E (desaparece a hidroxila do carbono 11 e se
forma uma ligação dupla entre os carbonos 10 e 11). As prostaglandinas das séries B e C são
isômeros da prostaglandina A enquanto a prostaglandina D é isômero da E.
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3. Distribuição orgânica.
As prostaglandinas tem sido encontradas e isoladas na maioria dos tecidos e líquidos
orgânicos de mamíferos, vertebrados inferiores e alguns invertebrados, sendo que em todos
eles as concentrações são muito baixas (entre 0,35 e 35 ng./g.), por este motivo é muito difícil
precisar os lugares onde se formam. O líquido seminal é o que contém a mais alta
concentração de prostaglandinas e a maior variedade delas. Também se observam variações na
concentração fisiológica em vários estados patológicos, como em traumatismos, febre,
processo séptico, hemorragia, hipertensão pulmonar, asma bronquial, queimaduras, diarréia
infecciosa, hipertensão, artrites, inflamação, alergia, gastrite, aborto, no parto e também na
colocação de dispositivos intrauterinos
- Sêmen: O sêmen humano é entre os tecidos e líquidos orgânicos onde se tem encontrado
o maior número e concentração de prostaglandinas, predominando as do grupo E e seus
derivados. Já, no touro a concentração em determinados momentos é muito pequena, algo
semelhante também ocorre no cavalo e no cachorro.
Talvez estas diferenças se devem aos diferentes mecanismos de deposição do sêmen entre
distintas espécies, mas também pode estar relacionado com as diferentes estruturas do
aparelho genital feminino, pois está comprovado que nenhuma das prostaglandinas parece
afetar de forma importante o metabolismo dos espermatozóides ejaculados. No entanto, sabe-
se que as prostaglandinas depositadas com o sêmen são absorvidas pelas paredes do aparelho
genital, provocando contrações e relaxamento uterino. Provavelmente a ação primária das
prostaglandinas seja no oviduto, favorecendo assim o transporte dos espermatozóides.
- Fluxo menstrual: Outro líquido orgânico onde foi comprovada a presença de
prostaglandinas, sendo encontradas principalmente a E2 e F2α de origem endometrial.
Durante o ciclo menstrual são encontradas em concentrações 10 vezes menores, sendo que a
produção parece estar ligada ao conteúdo de lisossomos das células endometriais que vai
aumentando a medida que se processa o ciclo.
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Fosfolipídios
Fosfolipase A2
Ácido Araquidônico
Ciclooxigenase
PGD2 PGE2
15-PGDH
b) Via da lipooxigenase.
Esta segunda via está mediada pelas enzimas 5, 12 ou 15-lipooxigenase e conduzem a
formação de ácidos graxos hidroxilados não cíclicos: 5, 12 ou 15- hidroperoxi-
eicosatetranóicos (HPETE).
A partir do HPETE se originam os leucotrienos A4, B4, C4, D4, E4 e F4. Os leucotrienos
C4, D4 e E4 são substâncias comprometidas nas reações anafiláticas. São potentes
broncoconstritores e parecem ter um papel importante na fisiopatologia das reações de
hipersensibilidade imediata.
As lipoxinas são outro grupo de metabólicos biologicamente ativos do ácido
araquidônico, formadas mediante a ação combinada das enzimas lipoxigenases. O HPETE é
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metabolizado in vitro por leucócitos humanos ativados pelas hipoxinas A e B, as quais contém
três grupos hidroxi e quatro duplas ligações.
Fosfolipídios
Ácido Araquidônico
Lipooxigenase
HPETE
Peroxidase
PGI-2
HETE
Lipoxinas
LTA-4
c) Via da epoxigenase.
Mediante esta via se originam os ácidos epoxi-eicosatetranóicos (EETs) e dihidro-
eicosatetranóicos (DHTs), mediante a participação da enzima monooxigenase, ligada a
membrana e conectada com o sistema citocromo P-450. A diferença do que ocorre com a
maioria das dioxigenases é que o citocromo P-450 requer coenzimas tais como a
flavoproteína, NADH e oxigênio molecular. Apresentam ação inibitória sobre as vias
anteriores.
Fosfolipídios
Fosfolipase A
Ácido Araquidônico
Epoxigenase
Epóxidos
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Estudos mais recentes não conseguiram demonstrar diferenças entre ovelhas gestantes
e não gestantes, quanto aos níveis de PGF2α do endométrio e do útero, sendo que estas
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Figura 3. Níveis de PGE2 (pg/ml) no período pós estro nas fêmeas gestante e vazia.
O efeito inicial da PGF2α é exercida sobre as células luteais grandes, assim, tem-se
demonstrado que nestas células existe maior concentração de receptores de alta afinidade para
a PGF2α que nas células luteais pequenas, além disso, as primeiras são mais sensíveis ao
efeito luteolítico da prostaglandina F2α.
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Existem várias evidências que sugerem que o número de receptores para a PGF2α não
regula a capacidade de resposta do corpo lúteo, ao menos na ovelha e na vaca (PATE, 1994).
Diversos estudos in vitro tem permitido chegar a conclusão de que provavelmente existem
vários lugares no interior da célula em que a PGF2α exerce sua ação. Hoje em dia parece estar
bastante claro que o principal efeito da PGF2α nas células luteais tanto bovinas como ovinas é
inibir a utilização de lipoproteínas e portanto, limitar o substrato disponível para a
esteriodogênese, sendo que esta ação ocorre nas mitocôndrias das células luteais. Assim, a
PGF2α ativa a fosfolipase C, que libera inusitol trifosfato e diacilglicerol da membrana
celular, a liberação de inusitol trifosfato desencadeia a acumulação de cálcio no interior da
célula, enquanto o diacilglicerol utilizando cálcio como cofator estimula a proteína quinase-C.
Os fenômenos de fosforilação relacionados com a ativação da proteína quinase C, são os
responsáveis pela supressão da produção de progesterona pelo corpo lúteo, e por outro lado, o
aumento de cálcio livre intracelular mediado pelo inusitol trifosfato, provavelmente
desencadeia os efeitos citotóxicos que conduzem à luteólise (LEYMARIE & BENHAIM,
1988; PATE & THOWNSON, 1994; PATE, 1994).
Considerando-se que o corpo lúteo é rico em ácido araquidônico e que as
prostaglandinas são capazes de atuar tanto de uma forma autócrina como parácrina, é possível
que as prostaglandinas luteais participem na regulação do corpo lúteo.
Durante o período de luteólise, o endométrio emite secreções pulsáteis de PGF que
provocam a regressão do corpo lúteo. Em ovinos, um mecanismo de feedback positivo
estimula a secreção pulsátil de PGF, com a ocitocina desempenhando um papel importante
nesse processo (McCracken et al., 1984). A ocitocina proveniente da neuro-hipófise estimula a
secreção de PGF do endométrio. A PGF estimula a secreção de ocitocina do corpo lúteo e a
ocitocina luteínica estimula ainda mais a produção de PGF do útero, caracterizando o sistema
de feedback positivo. Nesse modelo, a luteólise tem início como resultado da elevação e
ativação de receptores de estradiol, que induzem o aumento de receptores de ocitocina no
endométrio, deflagrando o mecanismo de feedback descrito acima. Segundo HOOPER et al.
(1986) os pulsos de PGF coincidem em 96% com os pulsos de ocitocina.
Até recentemente, presumia-se que um mecanismo luteolítico idêntico ao descrito para
ovinos era válido para bovinos. Contudo, KOTWICA et al. (1997) demonstraram que o
bloqueio dos receptores de ocitocina através de um antagonista específico (CAP-527) não
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estas estão envolvidas na fagocitose de células e restos celulares, no entanto, surgiu a hipótese
de talvez a participação do sistema imune no processo da luteólise ocorra desde o seu início
(Figura 5).
Durante toda a fase luteal é possível encontrar macrófagos e ou linfócitos no corpo
lúteo, sendo que o número de macrófagos aumenta um pouco antes do início da luteólise.
Outro fato importante é que o número de células imunitárias presentes no corpo lúteo é muito
menor no início da gestação que no corpo lúteo cíclico, embora não se saiba o motivo para
este fato.
A ativação do sistema imune é facilitada por um grupo de glicoproteínas de membrana
denominadas de complexos de histocompatibilidade.
Nas células do corpo lúteo a expressão de antígenos dos complexos de
histocompatibilidade de classe I podem ser ativados por uma linfoquina liberada pelos
linfócitos T, o interferon-γ (Figura 5), além disso este induz a expressão de antígenos dos
complexos de histocompatibilidade da classe II nas células do corpo lúteo bovino, o que tem
levado a pensar que a regressão do corpo lúteo pode obedecer a fenômenos autoimunes locais
(PATE & TOWNSON, 1994). O fato de haver se constatado que pouco antes de produzir-se a
luteólise, tanto em bovinos como em ovinos, ocorre um aumento de antígenos do complexo de
histocompatibilidade da classe II, além disso a expressão deste tipo de antígeno é
significativamente menor que no corpo lúteo de animais gestantes, sugere-se que a função das
moléculas dos complexos de histocompatibilidade é ativar a resposta local do sistema imune.
Uma ação comum a um grande número de citoquinas é sua capacidade para provocar
uma marcada estimulação da produção de prostaglandinas luteais, sendo capazes de induzir
enzimas como as fosfolipases e a prostaglandin sintetase; e por sua vez os eicosanóides sendo
capazes de modular a ativação de células do sistema imune e a secreção de citoquinas.
Segundo BARROS et al. (1991) determinadas citoquinas são capazes de estimular a liberação
endometrial de prostaglandinas.
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6.2. Ovulação.
O papel biológico mais conhecido das prostaglandinas, especialmente da prostaglandina
F2α, tem sido a de promover a luteólise, mas as prostaglandinas podem intervir também em
um grande número de fenômenos biológicos na fisiologia da reprodução, como ocorre na
liberação de um ovócito maduro.
Quando ocorre a ovulação, forma-se no ovário a fossa ovulatória, na qual se origina o
corpo lúteo. O tempo de formação do corpo lúteo é chamado de metaestro e dura cerca de 6
dias. O corpo lúteo secreta progesterona, que inibe a manifestação de cio e ovulação, sendo
esta fase conhecida por diestro com duração de 11 dias. No fim desta fase, caso a vaca não
esteja gestando, o corpo lúteo é espontaneamente destruído. Segue-se a isso, em virtude da
ausência de progesterona e a um aumento na quantidade de estradiol que induzirá o pico de
hormônio luteinizante (LH), um rápido desenvolvimento final do folículo pré-ovulatório e sua
maturação, resultando em cio e ovulação.
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6.3. Parto.
O parto é definido como o processo fisiológico pelo qual o útero gestante libera o feto
e a placenta do organismo materno.
Modificações nas concentrações plasmáticas maternas de progesterona e estrógeno
ocorrem como uma maior parte das modificações fisiológicas associadas com o
desencadeamento do parto. Nos animais domésticos há uma queda do nível de progesterona e
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6.4. Pós-parto.
O pós parto começa com a conclusão do parto e termina com o primeiro cio fértil
seguido da formação de um corpo lúteo de duração normal. Ocorre a instauração da
lactogênese e a volta ao estado fisiológico normal do animal, principalmente no que se refere
ao sistema circulatório, respiratório e metabolismo geral. Do ponto de vista da reprodução o
pós parto fundamenta-se em dois pontos essenciais:
- Involução uterina
- Reinstauração da atividade sexual.
Durante este período se desenvolvem diferentes processos tendentes a recuperar o
estado fisiológico que existia antes da gestação, diminuição do tamanho do útero, que chega a
pesar 10 kg, no momento do parto, e vai reduzindo seu peso durante o pós parto, 5 kg, aos 6
dias, 2 kg, aos 12, 1 kg, aos 25 dias, até chegar ao seu peso normal em torno dos 50 dias ,
ocorrem descarga de lóquio (muco, sangue, restos de membrana e fluído do parto),
regeneração do epitélio endometrial, diminuição do fluxo sanguíneo em direção ao útero e
regressão das glândulas uterinas.
O tempo empregado para a total involução uterina na vaca é variável e depende de
diversos fatores, sendo aceito, como média umas 6 semanas, ainda que se admitam margens
normais a variação entre três e seis semanas. É sempre mais longo nos bovinos de corte que
nos de aptidão leiteira, podendo ser prolongado com a idade, número de partos e lactações,
época invernal e em situações como a estabulação, em que o exercício físico é escasso.
No que diz respeito à endocrinologia do pós parto, o principal acontecimento se dá através
de uma massiva liberação de prostaglandina F2α durante o pós-parto (KINDAHL et al., 1992;
MADEJ et al., 1992). Após o parto a concentração de 13,14 dihidróxi, 15 ceto PGF2α
permanece elevada durante os 10 ou 20 primeiros dias, alcançando a máxima concentração
plasmática no dia 2 ou 3 do período pós-parto (VECCHIO DEL, et al., 1990). Foi observado
uma relação entre o tempo que se mantém a liberação de PGF2α e a duração e intensidade da
involução uterina em vacas em que esta transcorria com normalidade, assim, maior liberação
de prostaglandina F2α, menor tempo necessário para completar a involução uterina (MADEJ,
et al., 1986). Foi constatado uma correlação positiva entre a diminuição na concentração
plasmática de metabólitos da PGF2α e a diminuição no diâmetro do corpo uterino. Em
animais nos quais existe alguma alteração na involução do útero que determine uma
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6.5. Gestação.
O início da gestação é marcado por processos que prolongam o período funcional do
corpo lúteo cíclico. Em muitas espécies, a histerectomia prolonga a vida útil do corpo lúteo,
sendo que este fato sugere que o útero produz uma substância, provavelmente a PGF2α que
normalmente atua através de uma via direta ou local entre o corno uterino e o ovário adjacente
(bovinos, ovinos, suínos), ou através de canais sistêmicos (eqüinos), que termina com a
atividade do corpo lúteo.
Aparentemente, no início da gestação, o produto em desenvolvimento exerce um efeito
anti-luteolítico que, impede a liberação ou neutraliza o efeito luteolítico uterino. A época de
reconhecimento materno varia entre espécies, sendo que na sua maioria, este reconhecimento é
retardado até que o blastocisto seja transportado para a luz uterina.
Nos bovinos o reconhecimento da gestação ocorre entre os dias 15 e 18 do ciclo, neste
momento o embrião deverá enviar sinais ao endométrio que evitem a liberação de
prostaglandina F2α e a posterior lise do corpo lúteo, permitindo portanto, que ocorra a
gestação.
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Recentemente foi identificado o sinal embrionário que parece ser responsável pelo
reconhecimento maternal da gestação. Uma molécula protéica, interferon, secretada pelo
embrião entre os dias 16 e 26 de gestação foi identificado como a molécula antiluteolítica nos
bovinos. O trofoblasto secreta esta proteína, inicialmente denominada de proteína trofoblástica
bovina I. Devido a suas propriedades únicas e para distingui-la de outros interferons se tem a
denominado de interferon-τ (DANET-DESNOYERS, et al., 1994).
A PGF2α é sintetizada principalmente nas células epiteliais endometriais, embora as
células do estroma sintetizem toda prostaglandina E. O interferon-τ atua principalmente sobre
as células epiteliais como sinal parácrina antiluteolítica, evitando a liberação de
prostaglandina F2α e assegurando a manutenção de um corpo lúteo funcional. Os mecanismos
potenciais pelo qual o interferon-τ atua, incluem (BARROS, et al., 1994; BAZER, et al., 1994;
PLANTE, et al., 1991):
- Estabilização ou re-regulação dos receptores endometriais da progesterona para manter
o bloqueio da progesterona e evitar assim, a expressão de receptores endometriais de
estrógenos e ocitocina.
- Inibição dos receptores endometriais de estrógenos para atenuar a liberação pulsátil de
PGF2α.
- Inibição da expressão endometrial de receptores para a ocitocina.
- Inibição da ativação dos receptores da ocitocina que previnem a liberação de PGF2α
induzida pela mesma. No epitélio endometrial de vacas gestantes existem muito pouco
ou nenhum receptor tanto para a ocitocina como para os estrógenos.
De acordo com PARKINSON, et al., 1990) a administração de ocitocina em animais
gestantes não provoca a liberação de pulsos de PGF2α.
O interferon-τ também regula a atividade do sistema imune a fim de evitar o ataque ao
embrião. Foram isoladas outras substâncias envolvidas na regulação da resposta imune durante
a gestação, como a dipeptidil peptidase-IV, cuja síntese é estimulada pela progesterona, ou
pelas proteínas do leite uterino e proteína secretora endometrial, em conjunto denominadas
Serpin like Proteins, cuja síntese é estimulada pela progesterona. Outra proteína reguladora da
função do sistema imune é a megasupressina, todas elas isoladas no endométrio ovino
SKOPETS, et al., 1992; WEN-JUN LIU & HANSEN, 1995).
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