Aspectos Formais Da Computação BX
Aspectos Formais Da Computação BX
Aspectos Formais Da Computação BX
So Paulo
2009
S586a
Vice-Reitor
Julio Cezar Durigan
Chefe de Gabinete
Carlos Antonio Gamero
Pr-Reitora de Graduao
Sheila Zambello de Pinho
Pr-Reitora de Ps-Graduao
Marilza Vieira Cunha Rudge
Pr-Reitora de Pesquisa
Maria Jos Soares Mendes Giannini
Pr-Reitor de Administrao
Ricardo Samih Georges Abi Rached
Secretria Geral
Maria Dalva Silva Pagotto
APOIO
FUNDAO EDITORA DA UNESP
CGB - COORDENADORIA GERAL DE BIBLIOTECAS
COMISSO EXECUTIVA
Elizabeth Berwerth Stucchi
Jos Roberto Corra Saglietti
Klaus Schlnzen Junior
Leonor Maria Tanuri
APOIO TCNICO
Ivonette de Mattos
Jos Welington Gonalves Vieira
PROJETO GRFICO
PROGRAMA DE APOIO
PRODUO DE MATERIAL DIDTICO
Dedicat
oria
Ao Felipe (AFS)
` Rita e Isabela (CMS),
A
dedicamos.
Pref
acio
Este livro nasceu de notas de aulas para o curso de Bacharelado em
JOSE
DO RIO
Ciencias da Computacao do IBILCE-UNESP-SAO
PRETO. O que motivou sua escrita foi que os livros em lngua portuguesa que se encontram no mercado sobre o assunto sao escassos
e com uma linguagem pouca voltada `as ciencias da computacao.
Especicamente, o seu conte
udo e o programa da disciplina Aspectos Formais de Computacao, ministrada hoje com 60 h semestrais para os alunos ingressantes. Destacamos que muitos exerccios e alguns aspectos apresentados sao devidos ao complemento da
disciplina no seu formato original que abordava computabilidade de
funcoes.
No livro sao apresentados temas introdut
orios de logica classica, aritmetica dos n
umeros inteiros e um pouco de estruturas
algebricas: relacoes e algebra booleana, necessarias e voltadas `as
ciencias da computacao. Os temas foram desenvolvidos como fundamentacao inicial, de modo mais auto-suciente e acessvel possvel, de forma que qualquer aluno ingressante no ensino superior
possa ler o livro e entende-lo sem diculdades.
O captulo um trata da l
ogica classica, basicamente das leis do
calculo proposicional e os metodos de prova, muito u
til `as ciencias
da computacao. O captulo dois, sobre aritmetica dos n
umeros
inteiros, e assunto classico e nao poderamos deixar de escrever
alguma coisa sobre ele, pois trata de fundamentacao. Aproveitamos para fazer aplicacoes simples em Criptograa e representacoes
de n
umeros em diferentes bases, especialmente as bases 2, 4, 8,
16 bastante u
teis nas ciencias da computacao. A fundamentacao
nal de cada t
opico. Em geral, quando n
ao se trata de vericacao,
sao dadas a maioria das respostas dos exerccios, ate o captulo
quatro. As respostas dos exerccios dos outros captulos cam para
uma proxima edicao. Outro ponto com que nos preocupamos foi
escrever o livro em uma diculdade crescente do primeiro para o
u
ltimo captulo. Finalmente, esperamos que o leitor aprecie a proposta apresentada e agradecemos ao Prof. Dr. Claudio Aguinaldo
Buzzi pela prestimosa colaboracao na utilizacao dos comandos do
latex. Tambem estamos abertos a crticas e sugestoes do leitor, e a
possveis correcoes de erros que podem ser encontrados.
IBILCE/UNESP, S
ao Jose do Rio Preto, dezembro de 2009.
Os Autores.
Sum
ario
1 LOGICA
1.1 Introducao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.2 Calculo Proposicional . . . . . . . . . . . . . . .
1.3 Equivalencia e Implicacao Logica . . . . . . . . .
1.4 Predicados, Sentencas Abertas e Quanticadores
1.5 Metodos de Prova . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.5.1 Argumentos e Regras de Inferencia . . . .
1.5.2 Regras de Inferencia para Proposicoes
Quanticadas . . . . . . . . . . . . . . . .
1.5.3 Metodos de Demonstracao de Teoremas .
17
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
17
20
31
37
43
43
. . 56
. . 58
2 ARITMETICA
DOS NUMEROS
INTEIROS
2.1 Inducao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.2 M
ultiplos e Divisores . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.2.1 N
umeros Primos . . . . . . . . . . . . . . . .
2.2.2 Maximo Divisor Comum (mdc). . . . . . . . .
2.3 Teorema Fundamental da Aritmetica . . . . . . . . .
2.4 Congruencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.5 Aplicacoes da Aritmetica . . . . . . . . . . . . . . .
2.5.1 (I) Criptograa . . . . . . . . . . . . . . . .
2.5.2 (II) Representacao de N
umeros em Bases e
as Quatro Operacoes Basicas . . . . . . . . .
79
80
86
87
90
95
98
100
100
103
3 CONJUNTOS
121
3.1 Diagrama de Venn-Euler . . . . . . . . . . . . . . . . 126
3.2 Operacoes entre Conjuntos . . . . . . . . . . . . . . 126
3.2.1
3.2.2
3.2.3
3.3
3.4
3.5
126
128
130
135
136
138
OES
4 RELAC
4.1 Relacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4.1.1 Representacoes . . . . . . . . . . . . . . . .
4.1.2 Coment
arios e Observacoes . . . . . . . . .
4.1.3 Domnio e Imagem . . . . . . . . . . . . . .
4.1.4 Inversa de uma Relacao . . . . . . . . . . .
4.1.5 Composicao de Relacoes . . . . . . . . . . .
4.1.6 Propriedades de Relacoes Sobre Conjuntos .
4.2 Relacao de Equivalencia . . . . . . . . . . . . . . .
4.3 Relacoes de Ordens - Conjuntos Ordenados . . . .
4.3.1 Diagrama de Hasse . . . . . . . . . . . . . .
4.3.2 Elementos Especiais de Conjuntos
Parcialmente Ordenados . . . . . . . . . . .
4.4 Funcoes ou Aplicacoes . . . . . . . . . . . . . . . .
4.4.1 Imagem Direta e Imagem Inversa . . . . . .
4.4.2 Restricao e Prolongamento de Funcoes . . .
4.4.3 Funcoes Injetoras e Sobrejetoras . . . . . .
4.4.4 Funcao Inversa . . . . . . . . . . . . . . . .
4.4.5 Composicao de Funcoes . . . . . . . . . . .
4.4.6 Algumas Funcoes Importantes: . . . . . . .
.
.
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145
145
147
149
150
151
155
163
171
175
.
.
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177
185
187
188
189
191
193
198
5 ANEIS
E ALGEBRAS
DE BOOLE
5.1 Operacoes . . . . . . . . . . . . . . . .
5.1.1 Tabela de uma Operacao . . .
5.2 Aneis . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5.2.1 O Anel de Inteiros M
odulo m .
5.2.2 Aritmetica Binaria Modulo 2n
5.3 Aneis Booleanos . . . . . . . . . . . .
5.4 Algebras
Booleanas . . . . . . . . . . .
.
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145
213
.
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.
213
221
223
225
233
240
244
5.5
5.4.1 Ordens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Algebras
das Funcoes Booleanas . . . . . . . . . . .
5.5.1 As Formas Canonicas . . . . . . . . . . . . .
5.5.2 Algebra
das Funcoes Booleanas . . . . . . . .
5.5.3 Representacao de Funcoes Booleanas por Circuitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5.5.4 Simplicacao e Mapas de Veitch-Karnaugh .
248
256
258
267
271
274
OES
DE COMPUTABILIDADE
293
6 NOC
6.1 Enumerabilidade e Cardinalidade . . . . . . . . . . . 293
6.1.1 Aleph Zero e Conjuntos Cont
aveis . . . . . . 294
6.1.2 O Contnuo e Outros N
umeros Cardinais . . 300
6.2 Algoritmos e Maquinas de Turing . . . . . . . . . . . 305
6.2.1 Nocoes de Maquinas de Turing . . . . . . . . 308
6.2.2 Enumeracao das Maquinas de Turing . . . . . 322
6.3 Funcoes computaveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . 330
6.3.1 Funcoes MRI Computaveis . . . . . . . . . . 336
6.3.2 Gerando Funcoes Computaveis . . . . . . . . 343
6.3.3 Funcoes Recursivas Primitivas . . . . . . . . 351
6.3.4 Minimizacao Limitada e Codicacao Por
Primos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 358
6.3.5 A Funcao de Ackermann e a Complexidade
das F.R.P. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 363
RESPOSTAS DE ALGUNS EXERC
ICIOS
371
387
BIBLIOGRAFIA
393
SOBRE OS AUTORES
395
Captulo 1
LOGICA
1.1
Introdu
c
ao
Segundo Pierce, mais de uma centena de denicoes ja foram propostas para responder a questao, o que e logica?. Mas, para ele,
a principal funcao da logica e a classicacao das argumentacoes, de
modo que se possa separar as boasdas mas. Logica seria (ou
e), ent
ao, o estudo e a analise de metodos e princpios empregados
para distinguir boas (corretas) e m
as (incorretas) argumentacoes.
Lembramos que os argumentos sao, via de regra, elaborados com
o to de convencer, e esta e, realmente, uma de suas mais importantes e legtimas funcoes. Indivduos diferentes formulam cada
enunciado com metodos diferentes, como adivinhar ou sonhar, e
ent
ao vem com o problema de convencer os demais (por vezes eles
pr
oprios) da veracidade do palpite.
Alem dos metodos inspiracionais e pessoais, como usam os artistas e os msticos, tres outros metodos sao conhecidos.
O primeiro, embora seja b
arbaro, e muito empregado pela humanidade. Consiste em dizer O enunciado tal e verdadeiro porque
o chefe (ou o uso, ou o governo, etc.) diz que e, e os descrentes
sao convencidospor algum tipo de forca. Este metodo tem uma
desvantagem a longo prazo, porque pode bem acontecer que um
grande projeto baseado em princpios impostos por um chefe saia
errado, com grande desperdcio de tempo e dinheiro. A hist
oria
esta repleta de exemplos.
18
Dois outros metodos sao conhecidos: um deles e o metodo indutivo das ciencias naturais. Aplicando esse metodo ao famoso
Teorema de Pitagoras para um tri
angulo ABC com angulo reto
2
2
2
em B, temos AC = AB + BC , poderamos argumentar assim:
o enunciado foi vericado dentro dos limites de erro experimental, pelo exame de uma grande amostra de triangulos. Portanto,
acreditamos que o mesmo seja verdadeiro, ate encontrarmos um
contra-exemplo, quando ent
ao modicaremos nossas crencas, de
acordo com esse fato. Mas, neste caso, nao podemos ter certeza de
que o enunciado n
ao deva ser
2
AC = AB + BC + (t t1 )(t t2 ) . . . (t tn )
onde t e o tempo agora e ti sao os tempos de vericacoes ante2
2
2
riores, ou ainda, AC = AB + BC + d com d = 0, uma constante
pequena demais para ser detectado experimentalmente.
Poderamos argumentar que a primeira armacao e valida por SIMque e mais simples, baseando-se em que A NATUREZA E
PLES. Mas, isto introduz uma hip
otese nao provada (embora u
til,
e a historia da humanidade apresenta muitos exemplos em que o
que e complexopara uma geracao e simples para a seguinte).
A descoberta do terceiro metodo, aparentemente, foi um feito
peculiar da civilizacao grega. Recordando o problema: achar um
modo pelo qual o indivduo A pode fazer uma armac
ao k e tela aceita por um outro indivduo B, que talvez no incio esteja
descrente.
O metodo encontrado pelos gregos, e usado com bastante sucesso
no estudo da geometria, consiste em formular um conjunto imparcial de regras, pelo qual B ouve o argumento de A em apoio
a k e concorda em deixar A continuar em cada estagio do argumento, se certas condicoes estiverem satisfeitas. Se A satisfaz a essas condicoes em cada estagio do argumento, ate que o argumento
esteja completo, entao B concorda em se convencer.
Segundo este metodo, sao apresentados certos axiomas e denicoes cujo objetivo e limitar a argumentacao de modo que, para se
estabelecer qualquer proposicao, pode-se partir dos axiomas (que
sao pensados como expressando verdades que nenhuma pessoa sa
L
ogica
19
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
20
1.2
C
alculo Proposicional
Deni
c
ao 1.2 Uma proposicao e dita simples ou at
omica se ela
nao contem outra proposicao como parte integrante de si mesma.
Caso contrario, a proposicao e dita composta.
Segundo as denicoes anteriores, as oracoes A Terra e esfericae A caneta n
ao est
a sobre a mesasao proposicoes simples e
Hoje est
a chovendo e eu estou estudandoe uma composta, pois
contem as proposicoes Hoje est
a chovendoe Eu estou estudando.
Para obtermos proposicoes compostas, em geral, fazemos uso
dos conectivos. A seguir apresentamos os conectivos, os smbolos
usados para represent
a-los e a negacao:
L
ogica
21
e
ou
ou (exclusivo)
se entao
se, e somente se
nao
Smbolo Utilizado
ou &
ou +
ou
22
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
pq
V
F
F
F
L
ogica
23
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
pq
V
V
V
F
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
pq
F
V
V
F
24
4. Condicional ()
ent
ao Jo
ao chegou cedo em casa
(2)
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
pq
V
F
V
V
L
ogica
25
proposicoes se p ent
ao S, onde p e uma proposicao e S e um
programa (uma ou mais proposicoes) a ser executado. Quando se
executa o programa todo e se encontra uma tal proposicao p S,
ent
ao S e executado se p for verdadeiro, e S n
ao e executado se p
for falso.
Outras maneiras de ler p q sao:
p e condicao suciente para q
q e condicao necessaria para p
p somente se q
q se p
q sempre que p.
Assim Se Jo
ao e Paulista, ent
ao Jo
ao e Brasileiro.
Podemos escrever, tambem: Uma condica
o necess
aria para que
Jo
ao seja Paulista e que ele seja Brasileiro, ou ainda, Uma
condic
ao suciente para Jo
ao ser Brasileiro e Jo
ao ser Paulista.
5. Bicondicional
Usamos a expressao se, e somente separa formar a proposicao bicondicional. A proposicao composta p q e verdadeira
desde que p e q tenham o mesmo valor-verdade. Resumindo em
tabela-verdade temos:
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
pq
V
F
F
V
26
n
ao (ou e n
ao) serve para excluir, na busca, o termo em questao
quando ele e encontrado.
Por exemplo, suponhamos que queremos buscar p
aginas da Web
que contenha o termo Universidade de Mato Grosso. No espaco
proprio, entramos com: Universidade + Mato + Grosso. Com o
comando enter, serao exibidos todas as paginas que se encontram
na Web que contenham o termo Universidade de Mato Grosso,
inclusive Universidade de Mato Grosso do Sul. Caso n
ao interessa as universidades de Mato Grosso do Sul, basta entrar com o
termo: (Universidade + Mato + Grosso) + Sul, onde + e o
conectivo e, e e o conectivo n
ao.
Deni
c
ao 1.3 Tautologia e uma proposicao composta T sempre
verdadeira, quaisquer que sejam os valores-verdade das proposicoes
atomicas que a compoem. Em outras palavras, a coluna de T em
sua tabela-verdade contem apenas vs.
Exemplo 1.4 p p e sempre verdadeira, independentemente do
valor-verdade de p.
p p p p
V
F
V
F V
V
Deni
c
ao 1.5 Contradica
o e uma proposicao composta C, cujo
valor-verdade e falso, quaisquer que sejam os valores-verdade das
proposicoes atomicas que a compoem.
p
V
F
p p p
F
F
V
F
L
ogica
27
Observa
c
ao 1.7 Se uma proposicao e composta de outras n
proposicoes simples, entao sua tabela-verdade tem 2n linhas.
Assim, precisaremos da ajuda de um computador para vericar se uma proposicao composta constituda de 20 (vinte) proposicoes atomicas e uma tautologia. De fato, tal proposicao possui
220 = 1.048.576 linhas. Um computador atual leva pelo menos
um trilh
ao de anos para fazer a tabela-verdade de uma proposicao
composta constituda de mil proposicoes atomicas. Esta tabelaumero com 300 decimais) combinacoes
verdade tera 21000 (um n
possveis de valores-verdade. Pelo que conhecemos ate hoje, nao se
conhece um metodo efetivo de calculo. Este tipo de problema esta
inserido na teoria de complexidade de algoritmos.
A Questao do Parenteses
Proposicoes compostas que envolvem varios smbolos logicos
podem ter signicados ambguos. Por exemplo, as proposicoes (
p) q e (p q) nao tem sempre o mesmo valor-verdade e,
portanto, n
ao podem, de alguma forma, ser equivalentes. Por isto
e necessario o uso de parenteses na expressao p q, a menos
que se dena qual das duas expressoes acima e representada pela
expressao pq. Neste caso, e em qualquer outro, sera considerado
que a negacao tem preferencia sobre todos os outros smbolos. Por
exemplo, p q signicara a conjuncao ( p) q e nao a negacao
(p q). Por p q entende-se o condicional ( p) q e nao a
negacao (p q), etc.
Em outras palavras, de agora em diante a negacao tera preferencia sobre os smbolos logicos , , , , e nenhum
destes smbolos logicos tera preferencia sobre os demais. Portanto,
usaremos parenteses, colchetes ou chaves em expressoes do tipo
p q r, p q r, que tem signicados ambguos. Assim, ou
escreveremos (p q) r, ou p (q r), nunca p q r. Do mesmo
modo, escreveremos, ou bem a conjuncao p (q r), ou bem a
condicional (p q) r, nunca a expressao ambgua p q r.
Como exemplo, vamos escrever a seguinte proposicao,
usando smbolos logicos: Voce n
ao pode acessar a internet no
p
olo computacional se voce n
ao for estudante, a menos que voce
28
trabalhe no p
olo computacional.
Sejam p a proposicao: Voce pode acessar a internet no p
olo
computacional, q: Voce e estudante e r a sentenca: Voce
trabalha no p
olo computacional. Em smbolos ca:
( q r) p.
Apresentamos a seguir dois exemplos dos chamados jogos logicos:
Exemplo (1) Depois de uma chuva, os lhos de Pedro, Jo
ao e
Maria, pedem ao pai para brincar na lama. O pai deixa com a
condicao de que nao voltem sujos para dentro da casa. Quando as
criancas terminam de brincar e voltam para dentro da casa, o pai
nota que pelo menos uma das criancas tem a testa suja e faz a
seguinte colocacao: Pelo menos um de voces tem a testa suja.
Sem olhar no espelho e olhando apenas para a testa do irm
ao,
voces devem responder ao mesmo tempo se a sua testa esta suja ou
nao. As respostas, nesta fase da brincadeira podem ser: Minha
testa est
a suja, Minha testa est
a limpaou N
ao sei. Conhecidas
estas resposta, o pai pergunta novamente para as criancas: Quem
de voces tem a testa suja?Agora, ambas as criancas dao a resposta
exata.
De fato, sendo p e q, respectivamente, as proposicoes: A testa
de Jo
ao est
a suja e a testa de Maria est
a suja, a informacao
dada pelo pai de que pelo menos uma das criancas tem a testa
suja signica que p q e verdadeira. Assim, se Joao olha para
Maria e ve que esta tem a testa limpa, ele sabe que a sua esta
suja e vai responder com certeza: Minha testa est
a sujapara a
primeira pergunta do pai. Caso a testa da Maria estiver suja ele
vai responder N
ao sei`a primeira pergunta do pai, pois sua testa
pode estar suja ou n
ao. O mesmo vale para a resposta da Maria.
Cada crianca, tendo a resposta dada pelo irm
ao (irma) `a primeira
questao, faz a seguinte analise: A resposta da minha irma (do meu
irmao) e N
ao seise minha testa esta suja e se a resposta dada foi:
Minha testa est
a sujae porque a minha testa esta limpa. Com
isto ambas as criancas acertam na segunda tentativa.
Exemplo (2) Vamos analisar os valores-verdade de cada proposicao, no conjunto das seguintes proposicoes: Joao diz o seguinte
L
ogica
29
Exerccios (c)
(1) Quais das seguintes frases representam proposicoes:
(a) O pasto esta amarelo.
(b) Formosas rosas brancas!
(c) O n
umero 5 e primo?
(d) Todas as areas da matematica sao faceis e algumas sao mais
ainda.
(e) De-me o livro.
(2) Sejam p: as ciencias matem
aticas s
ao f
aceise q: 2 e menor
que 3. Escreva em portugues as proposicoes representadas por:
(a) p q
(b) (p q)
(c) p q
(d) p q
(3) Sejam p a proposicao x e n
umero pare q, x e o produto de
dois inteiros. Traduza para a linguagem simb
olica as seguintes
proposicoes:
(a) ou x e um n
umero par ou e o produto de dois inteiros.
(b) x e um n
umero mpar e o produto de dois inteiros.
(c) ou x e par e um produto de dois n
umeros inteiros ou x e mpar
e nao e o produto de dois n
umeros inteiros.
(d) x n
ao e um n
umero par nem o produto de dois n
umeros inteiros.
(4) Escreva em portugues a negacao de cada uma das seguintes
30
proposicoes:
(e) p q
(f ) p (q r)
(g) p (q r)
(h) (p q) ( p q)
L
ogica
31
1.3
Equival
encia e Implica
c
ao L
ogica
Se as proposicoes P e Q ocorrem em um mesmo contexto denotemos por p1 , . . . , pn todas as proposicoes atomicas que ocorrem em
P ou (inclusivo) em Q. Escreveremos P = P (p1 , . . . , pn ) e Q =
Q(p1 , . . . , pn ). Por exemplo, se P e a proposicao p p e Q : q r,
tambem escrevemos P (p, q, r) : p p e Q(p, q, r) : q r.
Deni
c
ao 1.8 Duas proposicoes P = P (p1 , . . . , pn ) e Q =
Q(p1 , . . . , pn ), n 1, sao logicamente equivalentes se P e Q sempre assumem valores-verdade iguais (ou V ou F ), quaisquer que
sejam os valores-verdade atribudos `as proposicoes p1 , . . . , pn . Em
outras palavras, P e Q sao logicamente equivalentes se, e somente
se, P Q for uma tautologia, ao ainda, as colunas das tabelasverdade de P e Q sao iguais.
Nota
c
ao: P Q ou P Q.
Exemplo 1.9 (p q) ( q p). De fato, denotando na
tabela abaixo p q por A e q p por B para simplicar,
ent
ao a tautologia (p q) ( q p) pode ser vista por
meio da tabela-verdade a seguir:
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
pq q p q
V
F
F
F
V
F
V
F
V
V
V
V
( p) A B
V
V
F
V
V
V
V
V
32
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
p q (p q) q p q D E
V
F
F
F
V
F
V
V
V
V
V
F
F
F
V
V
F
V
F
V
Observa
c
ao 1.11 Desde que (p q) e p q sao logicamente
equivalentes, temos uma forma para a negacao de p q. Por
exemplo, ao inves de dizer n
ao e verdade que, se o aluno tirar
media maior ou igual a cinco, ele passa de ano, podemos dizer o
aluno tira media maior ou igual a cinco e n
ao passa de ano.
Teorema 1.12 Para quaisquer proposic
oes p e q tem-se:
p q (p q) (p q) (p q) ( p q).
Demonstracao: Provemos apenas que p q e (p q) (
p q) tem a mesma tabela-verdade. Para simplicar denotaremos
p q por A, p q por B, p q por C e (p q) por D e
apresentaremos em uma mesma tabela-verdade os valores-verdade
de p q, A B, e de C D.
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
p q
F F
F V
V
F
V V
Logo, p q, A B
equivalentes.
p q CD A B
F
F
F
V
V
V
V
V
V
F
F
F
A
F
V
F
F
B
F
F
V
F
e (p q) (p q) sao logicamente
Outras propriedades s
ao dadas no seguinte teorema.
L
ogica
33
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
tabela
p q p q
V
V
F
F
V
V
V
V
p
F
F
V
V
q
V
F
V
F
34
(p q) p q
mesma
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
p q
V
F
F
F
tabela
(p q) p q
F
F
V
V
V
V
V
V
p q
F F
F V
V
F
V V
L
ogica
35
( Teo. 1.13(e))
(Teo. 1.12)
(Leis de DeMorgan)
(Teo. 1.13(h))
Esta u
ltima expressao e uma das formas canonicas da proposicao composta (p q) r. Veja secao 5 do captulo 5.
Deni
c
ao 1.14 Dizemos que P = P (p1 , . . . , pn ) implica logicamente Q = Q(p1 , . . . , pn ) e denotamos por P = Q se, toda
atribuicao de valores-verdade `a p1 , . . . , pn que tornam P verdadeiro,
tambem tornam Q verdadeiro. Em outras palavras, se a proposicao
composta P Q for uma tautologia.
Exemplo 1.15 p = (p q), pois, como pode ser visto na tabela
a seguir, p (p q) e uma tautologia:
p
V
V
F
F
q
V
F
V
F
p q p (p q)
V
V
V
V
V
V
F
V
Note que nem e preciso fazer a tabela para vericar esta implicacao logica, desde que p q e verdadeira sempre que p o for.
36
Exerccios
(1) Demonstre que: (i)
p q q p p q,
(ii)
p q ( p q) (p q).
(2) Prove que o smbolo condicional nao e associativo, ou seja,
prove que [(p q) r] [p (q r)].
(3) Para proposicoes p e q demonstre que:
(i) (p q) p p q, (ii) (p q) p p q,
(iii) p ( p q) p q e p ( p q) p q.
(4) Verique se: [(p q) (r q) r] = p.
(5) Construa as tabelas-verdade e simplique cada uma das seguintes
proposicoes compostas:
(i) [( p q) (p r)] [(r p) r],
(ii) [p (q r)] [q (p r)],
(iii) {p [q (q (p p)]} {q (r r)}.
(6) Verique se: (a) p = (p q), (b) p = (p q),
(c) (p q) = (p q).
(7) Demonstre as seguintes leis:
(a) (p q) p = q, (b) p q = p,
(c) (p q) q = p,
(d) (i) p (p q) p q, (ii) (p q) q p q,
(iii) p (p q) p e p (p q) p, (prop. Absorcao).
(8) Demonstre a propriedade distributiva a` esquerda de em
relacao a , isto e: [p (q r)] [(p q) (p r)].
(9) Duas operacoes bastante usadas em circuitos logicos sao o
NAND (do ingles, n
ao e) que pode ser denotado e denido por
L
ogica
37
1.4
Predicados, Senten
cas Abertas e Quanticadores
38
L
ogica
39
40
L
ogica
41
diferente, veja:
Exemplo (3) A proposicao: x Z, y R : x + y = 4 deve
ser lida do seguinte modo:
Existe um inteiro x, para todo n
umero real y, x + y = 4.
Nesta proposicao, depois da vari
avel x deve ser entendido que
existe o termo tal que. Assim a leitura ca:
Existe um inteiro x, tal que para todo n
umero real y : x+y =
4.
Assim, esta proposicao e falsa, pois nao existe um n
umero inteiro x
que satisfaca x + y = 4 para todo n
umero real y. Aqui o sentido
e a existencia de um n
umero inteiro x xado, tal que x + y = 4 e
` vezes podem existir outros elementos
satisfeita para todo y real. As
x que satisfazem P (x, y), y; por exemplo, a proposicao: x, y :
umeros reais e tal
x + y 2 0 sobre o conjunto universo dos n
que qualquer n
umero real positivo x = a xado torna a express
ao:
2
a + y 0 para todo y R verdadeira.
Finalmente a proposicao:
Exemplo (4) x Z, y R : x + y = 4 e verdadeira e
se le: Existe x Z, existe y R tal que x + y = 4, P (0, 4) e
verdadeira.
Resumindo, temos os seguintes tipos de quanticacoes para
funcoes proposicionais com duas vari
aveis: x, y, P (x, y);
x, y, P (x, y);
x, y, P (x, y);
x, y, P (x, y).
A quanticacao de proposicoes pode ser estendida para sentencas abertas com mais de duas variaveis com os devidos cuidados.
Nega
c
oes de Proposi
c
oes Quanticadas
Para negar uma proposicao quanticada, trocam-se os quanticadores e nega-se a sentenca aberta P (x). Em outras palavras:
[x : P (x)] e a proposicao x : P (x).
A negacao da sentenca: x : P (x) e a sentenca x : P (x).
Em smbolos:
42
L
ogica
43
Em smbolos:
z U, (z = y B(x, z)).
Agora a proposicao: Todo homem tem exatamente um
grande amigo traduz-se por:
x U, y U : [B(x, y) (z U, z = y B(x, z))].
O smbolo ! se le: Existe um u
nico. Ele e razoavelmente
usado em textos matematicos e serve, muitas vezes, para simplicar
expressoes. Usando-o na sentenca acima podemos escrever:
x U, !y U | B(x, y),
que se le: Para todo x pertencente a U existe um u
nico y pertencente a U tal que B(x, y).
1.5
M
etodos de Prova
Os metodos de provas sao bastante usados em ciencias da computacao em geral. Por eles verica-se se um programa esta correto,
dando seguranca ao sistema operacional, faz-se deducoes na area
de inteligencia articial e assim por diante. Portanto, entender as
tecnicas de provas e essencial tanto para a matematica como para
as ciencias de computacao.
1.5.1
J
a foi mencionado que a l
ogica tambem trata das formas de argumentacao e das maneiras de encadear nosso raciocnio para justicar, a partir de fatos b
asicos, nossas conclusoes. A argumentacao
pode ser vista como um jogo de raciocnio, que consiste em combinaruma ou mais proposicoes para com elas chegar a uma conclusao. As regras desse jogosao chamadas regras de inferencia. E
o jogo tem a seguinte forma:
Comecam com um conjunto de proposicoes que chamaremos
premissas. O objetivo do jogo e aplicar as regras de modo que se
obtenha alguma outra proposicao dada (conclusao desejada).
O conjunto de premissas corresponde `a posicao inicial de um
jogador no jogo. Por uma sucess
ao de jogadas, sancionadas por
44
L
ogica
45
Maria n
ao telefonou.
Conclus
ao: Maria foi a
` Universidade.
As tres primeiras linhas sao as premissas e a u
ltima e a conclusao. Isto e um argumento.
Mais um exemplo:
Se eu fosse presidente, seria famoso
Eu n
ao sou presidente.
Conclus
ao: Eu n
ao sou famoso.
Observe que o primeiro argumento apresentado e valido, enquanto o segundo n
ao.
Assim como no estudo dos valores-verdades de proposicoes compostas, para vericar as argumentacoes ca mais facil se trabalharmos com smbolos, desde que a u
nica coisa que importar para a
validade do argumento sejam os valores-verdade das proposicoes.
Deste modo, numa argumentacao indicamos as premissas por
p1 , . . . , pn e a conclusao por c. O argumento feito a, para obter
c a partir das premissas p1 , . . . , pn e indicado por
p1 , p2 , . . . , pn c.
Assim, o primeiro argumento pode ser representado por
p: Maria vai `
a Universidade.
q: Maria vai ao cinema.
r: Maria telefona.
p1 : p q
p2 : q r
p3 : r
c:p
e entao p1 , p2 , p3 c ou ainda (p q), (q r), ( r) p.
Podemos testar a validade de um argumento. Para faze-lo
levamos em conta a seguinte denicao.
alido se q for
Deni
c
ao 1.20 Um argumento p1 , . . . , pn q e v
verdadeiro sempre que p1 , . . . , pn forem verdadeiros. Em outras
46
Regra 2: Simplica
c
ao (S) sao as implicacoes do tipo (pq) =
p. Elas sao descritas como argumentos por
pq
p
ou
pq
q
L
ogica
47
Regra 3: Adi
c
ao (A) sao as implicacoes do tipo p (p q). Elas
sao representadas na forma de argumento por:
p
pq
Regra 4: Modus Ponens (M P ) Sao as implicacoes do tipo
[(p q) p] = q. Elas sao representadas na forma de argumento
por:
pq
p
q
Regra 5: Modus Tollens (M T ) sao as implicacoes do seguinte
tipo [(p q) ( q)] = p. Elas sao representadas na forma de
argumento por:
pq
q
p
Regra 6: Dupla nega
c
ao (DN ) sao as implicacoes do tipo [ (
p) = p] (ou [p = ( p)]). Na forma de argumento, podemos
representa-las por:
( p)
p
ou
p
( p)
48
pq
qr
pr
Regra 9: Silogismo Disjuntivo (SD) sao as implicacoes do tipo
[(p q) p] = q. Elas sao representadas na forma de argumento
por:
pq
p
q
Regra 10: Regras do Bicondicional (RBC)
(a)
pq
qp
pq
(b)
pq
(p q) (q p)
sao as implicacoes:
(a) [(p q) (q p)] = (p q)
(b) [(p q) = [(p q) (q p)].
Regra 11: Dilema Construtivo (DC) e dada por implicacoes
do tipo [(p q) (r s) (p r)] = (q s), cuja representacao
na forma de argumento e:
pq
rs
pr
qs
Regra 12: Dilema Destrutivo (DD) sao implicacoes do tipo
[(p q) (r s) ( q s)] = p r. Elas sao representadas na forma de argumento por:
pq
rs
q s
p r
L
ogica
49
Justicativa
(hip
otese)
(simplicacao)
(hip
otese)
(modus tollens de 2 e 3)
(hip
otese)
(modus ponens de 4 e 5)
(hip
otese)
(modus ponens de 6 e 7).
50
Passos
1. p q
2. q p
3. p r
4. q r
5. r s
6. q s
Justicativa
(hip
otese)
(contra recproca de 1)
(hip
otese)
(silogismo hipotetico de 2 e 3)
(hip
otese)
(silogismo hipotetico de 4 e 5)
L
ogica
[(p q) (p q)] q
51
e
[(p q) p] q
Fal
acias
Muitas argumentacoes sao baseadas em argumentos errados.
A princpio parecem regras de inferencia, mas estao baseadas em
contingencias em vez de tautologias. A proposicao
[(p q) q] p
n
ao e uma tautologia, pois e falsa quando p e falsa e q e verdadeira.
No entanto, existem muitos argumentos errados que a tratam como
se fosse uma tautologia.
Este tipo de raciocnio (ou argumentacao) incorreto e chamado
de
Fal
acia da armac
ao da conclus
ao.
Exemplo (a) Se chover, ent
ao faz frio. Caso esteja frio, nao
podemos concluir que choveu, como as vezes o fazemos!!
(b) Fal
acia Poltica: Se aplicarmos recursos na educac
ao, o ensino
melhorar
a. Como neste ano o ensino esta bom, ent
ao o governo,
que discursa, diz que isto prova que tem investido pesados recursos
na educacao!!!
(c) Se voce faz todos os exerccios das listas de AFC, ent
ao voce
passa em AFC e voce passou em AFC. Isto nao implica que
Voce fez todos os exerccios da lista de AFC!!!
Do mesmo modo a proposicao
Q : [(p q) p] q
n
ao e tautologia, desde que Q e falsa quando p e falsa e q e verdadeira. Portanto muitas argumentacoes sao incorretas quando a
usam como uma regra de inferencia. Este tipo de falacia e chamada
de
52
Fal
acia por negac
ao da hip
otese.
(d). Se voce fez todos os exerccios das listas de AFC, ent
ao
voce aprendeu AFC, e voce n
ao fez todos os exerccios da lista
de AFC. Destas premissas nao podemos concluir que Voce n
ao
aprendeu AFC!!!
A seguir resumimos numa tabela as regras de inferencia:
Tabela 1
Regras de Infer
encia
Regras de
Inferencia
p
q
p q
pq
p
p
p q
pq
p
q
pq
q
p
( p)
p
p (p q)
p q
pq
qr
p r
p q
p
q
pq
qp
p q
p q
(p q) (q p)
Tautologia
Nome
((p) (q)) p q
Conjunc
ao ou Adjunca
o
(p q) p
Simplicac
ao
p (p q)
Adic
ao
[(p q) p] q
Modus Ponens
[(p q) q] p
Modus Tollens
(p) p
Dupla Negaca
o
[p (p q)] [p q]
Absorc
ao
[(p q) (q r)]
(p r)
[(p q) p] q
Silogismo
Hipotetico
Silogismo
Disjuntivo
[(p q) (q p)]
[p q]
Bicondicional
[p q]
[(p q) (q p)]
Bicondicional
L
ogica
Tabela 1 Regras de Infer
encia
Regras de
Tautologia
Inferencia
pq
rs
[(p q)(r s)(pr)]
pr
[qs]
q s
pq
rs
[(p q)(r s)(q
q s
s)] [p r]
p r
p q
[(p q) ( p r)]
p r
(q r)
q r
53
Nome
Dilema
Construtivo
Dilema
Destrutivo
Resoluc
ao
54
P
V
F
F
Q Q P
V F
F
V F
V
F V
V
P Q Q P
V
V
V
V
V
V
P Q P Q
F
V
F
V
F
V
L
ogica
55
56
1.5.2
L
ogica
Tabela 2
57
Regras de Infer
encia
para Proposi
c
oes Quanticadas
Regras de Inferencia
Nome
x P (x)
Universal Instant
aneo
P (c)
P (c) para c: arbitr
ario
Generalizacao Universal
x P (x)
x P (x)
Existencial Instant
aneo
x P (x)
Exemplo - Mostre que as premissas: Algum aluno desta classe
n
ao leu o livro-textoe Todos os alunos desta classe foram aprovados. implicam que: Algum aluno desta classe foi aprovado sem
ter lido o livro-texto.
a nesta classe, L(x) : x leu o
Solucao: Sejam C(x) : x est
livro texto, e P (x) : x foi aprovado. Temos os passos
(1) x, (C(x) L(x))
(2) x, (C(x) P (x)) e queremos
(3) x, (P (x) L(x)).
(a) De (1) temos
C(a) L(a) para algum a
(b) De (2) temos
C(a) P (a)
(c) C(a)
(d) P (a)
(e) P (a) L(a)
(f) x (P (x) L(x))
Existencial Instant
aneo
(Universal Instant
aneo)
(simplicacao de (a))
(modus ponens de (b) e (c))
(conjuncao de (d) e (a))
(generalizacao existencial)
58
1.5.3
M
etodos de Demonstra
c
ao de Teoremas
Uma importante questao em matematica e saber quando um argumento esta correto. Outra e saber quais metodos podem ser usados
na construcao de argumentos matematicos.
Um teorema e uma proposicao que pode ser demonstrada que e
verdadeira. Em outras palavras, e uma Proposic
ao Verdadeira. As
proposicoes verdadeiras que sao importantes dentro de uma teoria
matematica sao destacadas como:
Teoremas: sao Proposicoes verdadeiras, fortes e centrais na teoria.
L
ogica
59
60
Pode ser muito difcil provar teoremas e, em geral, varios metodos sao necessarios para se chegar a uma conclusao desejada. Pelo
fato de que muitos teoremas sao implicacoes, as tecnicas para provar
implicacoes sao importantes. Relembremos que P Q e verdadeira, a menos que P e verdadeira e Q e falsa. Assim, para
demonstrar que P = Q (ou que P Q e uma tautologia)
e necessario (e tambem suciente) provar apenas que Q e verdadeira se P for verdadeira. Segue algumas tecnicas comuns para
demonstrar implicacoes.
(A) Demonstra
c
ao Direta
A implicacao P = Q pode ser provada supondo que P e
verdadeira e deduzindo que Q e verdadeira, fazendo uso das regras de inferencia e usando teoremas ja demonstrados. Isto mostra
que a combinacao P verdadeira e Q falsa nunca ocorre. Portanto
P = Q. Uma demonstracao deste tipo e chamada Demonstrac
ao
Direta. Veja Teorema 1.21(a).
Exemplo (A) Demonstre diretamente que: Se n e um inteiro
mpar, ent
ao n2 e mpar.
Solucao: Por denicao, um inteiro n e par se existe um inteiro k
tal que n = 2k, e n e mpar se existe um inteiro k tal que n = 2k+1.
(Note que um inteiro ou e par ou e mpar).
Suponhamos que a hip
otese da implicacao e verdadeira, ou seja,
n e mpar. Ent
ao n = 2k + 1, onde k e um inteiro. Segue-se que
n2 = (2k + 1)2 = 4k 2 + 4k + 1 = 2(2k 2 + 2k) + 1. Portanto, n2 e
um inteiro mpar (pois e duas vezes um inteiro mais um).
(B) Demonstra
c
ao por Contra Recproca
A implicacao P = Q e logicamente equivalente a sua contra
recproca Q = P. Veja Teorema 1.21(b). Assim, se provarmos
diretamente que Q = P, dizemos que provamos que P = Q
por contra recproca.
ao n e mpar.
Exemplo (B) Prove: 3n + 2 e mpar, ent
Solucao: Suponhamos que a tese do teorema e falsa. Ent
ao n =
2k para algum inteiro k. Segue-se que 3n+2 = 3.2k +2 = 2(3k +1).
Logo 3n + 2 e par. Conseq
uentemente 3n + 2 nao e mpar. Como a
negacao da tese implica que a hipotese e falsa, a implicacao original
L
ogica
61
e verdadeira.
(C) Demonstra
c
ao por Vacuidade
Suponhamos que a hip
otese P da implicacao P = Q a ser
demonstrada e falsa. Como f v ou f f sao verdadeiras,
segue-se que P Q e verdadeira, qualquer que seja o valorverdade da proposicao Q. Conseq
uentemente, se P e falso, ent
ao a
demonstracao de P = Q e chamada de Prova por Vacuidade. Este
tipo de prova e muitas vezes usado para estabelecer casos especiais
de teoremas.
Exemplo (C) Considere a funcao proposicional denida sobre o conjunto dos n
umeros naturais: P (n) : Se n > 1, ent
ao n2 > n.
Vamos demonstrar que P (0) e verdadeira. P (0) : Se 0 > 1, ent
ao
2
0 > 0. Como 0 > 1 e falso, segue-se por vacuidade que P (0)
e verdadeira. (Note que 02 > 0 e falso, mas como 0 > 1 tambem e
falso, ent
ao 0 > 1 = 02 > 0).
(D) Demonstra
c
ao Trivial
Quando a conclus
ao Q da implicacao P = Q e verdadeira,
ent
ao P Q e verdadeira qualquer que seja o valor-verdade de
P. Assim, se sabemos que Q e verdadeiro, independente de P, a
demonstracao de P = Q e dita Demonstrac
ao Trivial. Essas
demonstracoes muitas vezes aparecem em casos especiais ou particulares de um teorema, por exemplo, quando se faz demonstracoes
por inducao matematica.
Exemplo (D) Seja P (n) a funcao proposicional: Se a e b s
ao
inteiros positivos com a b, ent
ao an bn . Vamos demonstrar
que P (0) e verdadeira.
P (0) e a seguinte proposicao: Se a e b s
ao inteiros positivos
0
0
com a b, ent
ao a b .
Desde que a0 = b0 = 1, segue-se que P (0) e verdadeira independente das restricoes sobre a e b. Este e um exemplo de demonstracao
trivial.
(E)
Demonstra
c
ao por Contradi
c
ao ou Redu
c
ao ao
Absurdo
Um outro metodo usado para provar teoremas e a Demonstrac
ao por Contradic
ao ou por Reduc
ao ao Absurdo. Se o
62
2
for
racional, somos
esta contradicao pode ser
constru
da
caso
L
ogica
63
64
Teoremas e Quanticadores
Muitos teoremas sao proposicoes que envolvem quanticadores. Existem varios metodos usados para demonstrar teoremas que
sao quanticacoes. Alguns dos mais importantes sao:
c
ao Existencial
(a1 ) Demonstra
Alguns teoremas armam que existe um objeto com determinada propriedade. Por exemplo: x P (x), onde P e um predicado. A demonstracao do teorema e dita Demonstrac
ao de
Existencia.
Existem varios caminhos para provar um teorema deste. Uma
demonstracao pode ser dada exibindo um elemento a do universo
de discurso que satisfaca a propriedade P (x) (ou seja, P (a) e verdadeira). Esta prova de existencia e dita Prova Construtiva.
Uma Prova N
ao Construtiva do teorema e feita provando o teorema x, P (x), mas sem exibir qualquer elemento a que satisfaca
P (x). Um metodo de uma prova n
ao construtiva pode ser feita por
contradicao, onde se nega a quanticacao existencial e obtem-se
uma contradicao.
Exemplo (a1 )(1) Prova Construtiva
Mostre que Existe um inteiro positivo que pode ser escrito de
dois modos, como soma de dois quadrados.
L
ogica
52
65
2
Solucao: Pelo exemplo (E) 2 e irracional. Logo,
se 2 e
2 2
2.2
2
y
e y = 2. Da x = ( 2 )
= 2
=
tome x = 2
2
2 = 2. Logo, xy e racional neste caso.
Esta demonstracao e nao construtiva porque demonstramos a
validade da armacao sem exibir os elementos x e y que sacaso, chegamos bem
tisfazem a condicao xy e racional. Neste
2, 2) ou (x, y) =
pr
oximo
ao
exibirmos
dois
pares
(x,
y)
=
(
2
( 2 , 2), tal que exatamente um deles tem a propriedade desejada, mas nao sabemos qual dos dois pares tem a propriedade
desejada.
(b1 ) Demonstra
c
ao de Unicidade
Alguns teoremas armam que existe exatamente um elemento
com uma determinada propriedade. Para demonstrar um teorema
deste tipo, e necessario demonstrar que existe um elemento com a
propriedade desejada e, alem disso, demonstrar de algum modo que
qualquer outro elemento distinto deste n
ao tem esta propriedade.
Assim, a demonstracao de um teorema deste tipo envolve dois passos:
(i) Existencia - Provar que existe um elemento x com a propriedade desejada.
ao y n
ao tem a pro(ii) Unicidade - Provar que se y = x, ent
priedade desejada.
Portanto demonstrar que existe um u
nico elemento a que satisfaz
P (x) e o mesmo que demonstrar a proposicao:
x P (x) y(y = x P (y)).
Note que x P (x): se refere `a existencia e y, y = x P (y)
se refere `a unicidade.
66
L
ogica
67
n
umeros cuja soma da n, a menos que n = 79. Fica como exerccio
a vericacao de que 79 nao e soma de dezoito potencias quartas de
inteiros.
Erros em demonstrac
oes
Existem muitos erros comuns em construcoes de provas matematicas. Em geral, a maioria deles sao erros de aritmetica e algebra
b
asica. Ate matematicos prossionais cometem tais erros, especialmente quando trabalham com f
ormulas complicadas. Cada passo
da prova tem que ser feito e estar correto, pois a conclusao deve
seguir logicamente dos passos que a precedem. Seguem alguns
exemplos simples de erros em demonstracoes que nos levam a conclusoes erradas.
Exemplo (i) Vamos provarque 1 = 2.
Passos
1. a = b
2. a2 = ab
3. a2 b2 = ab b2
4. (ab)(a+b) = (ab)b
5. a + b = b
6. 2b = b
7. 2 = 1
Justicativas
Dados
Mult. os membros de (1) por a
Subtr. b2 dos membros de (2)
Fator. dos membros de (3)
Div. de (4) por ab
Trocando a por b, pois a = b
Div. os membros de (6) por b
68
L
ogica
69
Exerccios do Captulo 1.
(1) Quais das sentencas dadas sao proposicoes? Quais sao os
valores-verdade das sentencas que sao proposicoes?
70
L
ogica
71
(e) Se 1 + 1 = 3, ent
ao Deus existe,
(f) 1 + 1 = 3 se, e somente se, elefante voa,
(g) 1 + 1 = 3 se, e somente se, 3 = 5,
(h) Elefante n
ao voa se, e somente se, 1 = 0.
(6) Escreva usando os smbolos logicos ou ou ou exclusivo.
(a) Com duzentos reais (R$200,00) voce compra um par de
sapatos de R$130,00 ou um tenis de R$160,00. (b) Domingo a`
tardinha vou assistir ao jogo ou vou assistir a um lme.
(7) De a negacao e a contra-recproca da proposicao: Se chover
hoje, ent
ao amanh
a vai fazer frio.
(8) Faca as tabelas-verdade das proposicoes compostas
(a) (p q) (pq)
(b) (pq) (p q)
(c) ( p q) (p q)
(d) (p q)( p q)
(e) (p q)(p q)
(f) ( p) (q r).
(9) A teoria de jogos logicos e usada em inteligencia articial. Nela
uma proposicao tem um valor-verdade que e um n
umero entre 0
(zero) e 1 (um), inclusive. Uma proposicao com o valor-verdade 0
(zero) e falsa e com o valor-verdade 1 (um) e verdadeira. Valoresverdade entre 0 e 1 indicam varios graus de verdade. O valorverdade da proposicao Jo
ao e felize 0.8, desde que Joao seja feliz
a maior parte do tempo (exatamente 0.8 do tempo), e a proposicao
Paulo e feliztem valor-verdade 0.4.
Sabendo-se que o valor-verdade da negacao de uma proposicao p, na teoria de jogos logicos, e 1 menos o valor-verdade de p,
o valor-verdade da conjuncao p q e o mnimo dos valores-verdade
de p e de q, e nalmente, o valor-verdade da disjuncao de duas
proposicoes p e q e o maximo dos valores-verdade de p e de q; de
os valores-verdade das proposicoes:
(i) Jo
ao e Paulo s
ao felizes, (ii) Jo
ao e Paulo n
ao s
ao felizes,
(iii) Jo
ao e feliz ou Paulo e feliz, (iv) Jo
ao n
ao e feliz ou Paulo
n
ao e feliz.
(10) Esta proposic
ao e falsa e uma proposicao? Por que?
(11) A n-esima proposicao em uma lista de 100 proposicoes e:
Exatamente n proposic
oes desta lista e falsa.
72
L
ogica
73
74
(24) Expresse cada uma das proposicoes de (a) a (d) usando smbolos logicos, predicados e quanticadores. (a) Algumas proposic
oes
s
ao tautologias, (b) A negac
ao de uma contradic
ao e uma tautologia, (c) A disjunc
ao de duas contingencias pode ser uma tautologia, (d) A conjunc
ao de duas tautologias e uma tautologia.
(25) Traduza para a lngua portuguesa as sentencas matematicas
seguintes, onde D(p) e: a p-esima impressora est
a com defeito,
A(p): a p-esima impressora est
a ativa, P (j): a j-esima impress
ao foi perdidae F (j): a j-esima impressora tem uma longa
la.
(a) p(D(p) A(p)) jP (j), (b) pA(p) jF (j),
(c) j, k(F (j) P (k)) pD(p),
iP (i).
L
ogica
75
R, n N.
76
L
ogica
77
Captulo 2
ARITMETICA
DOS NUMEROS
INTEIROS
No 1.4 do captulo 1 j
a citamos uma referencia para a teoria dos
n
umeros inteiros. Outras referencias sobre os n
umeros inteiros e sua
ordem usual , bem como sobre o princpio que segue sao livros
de algebra para cursos de graduacao, por exemplo, a referencia [3].
Axioma 2.1 Princpio do Menor Inteiro ou Boa Ordem.
ao vazio e limitado inferiormente.
Seja L um subconjunto de Z n
Ent
ao L possui um mnimo (denotado por min L).
bom explicar o que diz o princpio j
E
a que nada foi dito ate
agora sobre os conceitos de ordem, limite inferior e mnimo. O
princpio arma que, se existe em Z um elemento m que e menor
ou igual a qualquer elemento de L, ent
ao existe em L um elemento
l, que e menor ou igual a qualquer elemento de L. Em smbolos:
ao l0 L | l0 l, l L.
Se m Z | m l, l L ent
ao min L = 10.
Por exemplo, se L = {x Z : |x| 10}, ent
2
O subconjunto L1 = {x Z : x > 3} nao possui mnimo, pois
n
ao e limitado inferiormente. Esta e uma propriedade importante
dos subconjuntos dos n
umeros inteiros que nao e valida para os
subconjuntos dos n
umeros racionais ou reais, como pode ser visto
nos exemplos a seguir.
1
, n N}
Por exemplo, o subconjunto de n
umeros racionais { n+1
e limitado inferiormente pelo n
umero zero, mas nao tem mnimo em
Q. O subconjunto de numeros reais {x R : 0 < x < 1} tambem
n
ao tem mnimo, apesar de ser limitado inferiormente pelo n
umero
zero. Tente demonstrar ou convencer-se disto.
80
2.1
Indu
c
ao
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
81
82
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
83
1 + i 1 + (i + 1) 1 + (i + 2) 1 + (i + 3) . . . = i + 1
Prova
(Por inducao sobre i). Para i = 0, o teorema se reduz
1 + k 1 + (k + 1) 1 + (k + 2) 1 + (k + 3) . . . = k + 1
de onde obtemos (elevando-se ao quadrado, subtraindo 1 e dividindo-se por k):
1 + (k + 1) 1 + (k + 2) 1 + (k + 3) 1 + (k + 4) . . . =
k 2 + 2k
(k + 1)2 1
=
= k + 2 = (k + 1) + 1.
k
k
Novamente, ha uma falacia nesta prova. Qual e ela?
=
84
Recurs
ao por Curso de Valores
A ideia de recurs
ao por curso de valores e usada para calcular
o valor de uma funcao f (ou vericar se uma determinada propriedade e verdadeira) no (n + 1)-esimo n
umero natural, n
ao somente em termos do valor de f em n, mas usando tambem os demais
valores de f em 0, 1, . . . , n 1, previamente obtidos. As denicoes
que usam a recursao por curso de valores sao ditas recursivas ou
recorrentes. Para formalizar melhor temos:
Deni
c
ao 2.4 Denic
ao Recursiva ou por Recorrencia.
S
ao denicoes do tipo:
(i) Dene-se em alguns valores iniciais e,
(ii) Os proximos valores sao denidos em funcao dos valores
previamente estabelecidos e dos valores ja obtidos.
Exemplos
(1) A seq
uencia de Fibonacci e denida por
(i) f (0) = f (1) = 1 e
(ii) f (n + 1) = f (n) + f (n 1), n 1,
de modo que seus termos iniciais sao 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, . . .
(Nota: Se n representar a quantidade de anos, f (n 1) representa a quantidades de ramos de uma planta com a seguinte
caracterstica: Cada ramo que nasce, depois de dois anos de vida,
faz brotar de si um ramo por ano. Com isto, no n-esimo ano de
vida da planta temos f (n1) ramos. Esta seq
uencia tambem serve
para descrever a populacao de coelhos no n-esimo ano, partindo de
um casal e admitindo-se perfeitas condicoes para seu desenvolvimento.
(2) A adi
c
ao de n
umeros naturais e denida por:
(i) a + 0 = a,
(ii) a + (n + 1) = (a + n) + 1, n 0.
Por exemplo, para calcular 3 + 2 usamos (ii) 3 + 2 = (3 + 1) + 1
e precisamos de calcular 3 + 1. Para calcular 3 + 1 usamos (ii) para
obter 3 + 1 = (3 + 0) + 1. Da, sabendo-se que 3 + 0 = 3, substitui-se
na expressao anterior (3 + 0) por 3 para obter 3 + 1, da obtem-se
3 + 2. Ent
ao o processo e recorrente.
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
85
(3) A multiplicacao de n
umeros naturais e denida por:
(i) a.0 = 0,
(ii) a.(n + 1) = a + (a.n), n 0.
Por exemplo, para calcular 3.2, o processo e o mesmo do exemdef.
hip.
def.(ii)
86
(6)
A Funcao de Ackermann A : N N N e denida por:
n 0;
(i) : A(0, n) = n + 1,
(ii) : A(m, 0) = A(m 1, 1),
m 1;
2.2
M
ultiplos e Divisores
Fixado um n
umero inteiro m, mZ denotar
a o seguinte subconjunto
de Z,
mZ := {mq, q Z} = {0, m, 2m, 3m, . . . , qm, . . .}.
Deni
c
ao 2.5 Seja m Z. Dizemos que x Z e m
ultiplo de m
ou que m divide x, ou ainda que x e divisvel por m se x mZ.
A notacao para dizer que m divide (n
ao divide) x e: m|x
(respectivamente m x).
Por exemplo, 20 5Z, pois 20 = 5.4; 35 5Z, pois 35 =
5(7). Logo, 20 e 35 sao m
ultiplos de 5. Tambem podemos
escrever 5|20 e 5|(35).
Note que 0|0, pois 0 0Z = {0}; alias, m|0 qualquer que seja
m Z.
Propriedades Para todos a, b, c Z, tem-se:
(i) a|a, (ii) a|b e b|c a|c, (iii) a|b e b|a a = b,
(iv) a|b e a|c a|(bx cy), para quaisquer x, y Z.
Demonstracao: Demonstraremos apenas o item (iv), e os demais cam como exerccios para o leitor interessado. Como a|b e
a|c, existem q1 e q2 Z, tais que b = aq1 e c = aq2 . Da para
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
87
2.2.1
N
umeros Primos
88
primos p, 1 < p 72.
1
13
25
37
49
61
2
14
26
38
50
62
3
15
27
39
51
63
4
16
28
40
52
64
5
17
29
41
53
65
6
18
30
42
54
66
7
19
31
43
55
67
8
20
32
44
56
68
9
21
33
45
57
69
10
22
34
46
58
70
11
23
35
47
59
71
12
24
36
48
60
72
Proposi
c
ao 2.7 Seja n Z, n > 1. Se n e composto, ent
ao n
admite um divisor pr
oprio a n. Em particular n admite um
divisor primo p n.
Demonstracao: Sera feita por reducao ao absurdo.
ao,
Por hip
otese existe b Z, 1 < b < n, tal que n = a.b. Ent
p n?
Exemplo. Mostre que 211 e um n
umero primo.
Solucao: Basta
vericar que ele nao possui divisores primos p
menores que 211 < 15. Por tentativa verica-se que nenhum dos
primos 2,3,5,7, 11,13 dividem 211. Logo 211 e um n
umero primo.
Lema 2.8 Sejam a Z, a = 1, a = 0 e S = D+ (a) {1}. Ent
ao
S = e min S e um n
umero primo.
ao S = . Pelo
Demonstracao: Como a ou a D+ (a), ent
princpio do menor inteiro existe p = min S. Se p fosse composto,
existiria um divisor pr
oprio r de p com 1 < r < p. Mas isto implica
que r S e portanto p nao seria o min S; absurdo. Ent
ao p e primo
como queramos.
Este Lema nos diz, em particular, que, se um n
umero inteiro a
e composto, ele admite um divisor primo.
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
89
Nota: Os n
umeros primos sao importantes em criptograa,
o estudo de mensagens secretas. No caso de senhas p
ublicas e
individuais, elas s
ao feitas baseadas em um n
umero composto n que
e produto de dois primos grandes e n
ao conhecidos do p
ublico em
geral. Isto diculta a descoberta de uma senha individual, porque
e difcil decompor um n
umero grande em produto de primos.
No entanto, se existisse um n
umero nito de primos, esta tecnica
n
ao funcionaria. Mas no seu famoso texto The Elements, o matematico Euclides apresenta (aproximadamente em 300 A.C.) uma
bela prova por contradicao para o seguinte resultado:
Teorema 2.9 Existem innitos n
umeros primos.
Demonstracao: Suponhamos que exista apenas um n
umero nito de primos. Logo existe um n
umero nito de primos positivos.
umero m =
Suponhamos que sejam: p1 , p2 , . . . , pn . Considere o n
p1 .p2 pn + 1. Desde que m > pi , ent
ao m = pi para todo i =
1, 2, . . . , n. Logo m nao e um n
umero primo. Pela Proposicao 2.7,
existe i {1, . . . , n}, tal que pi |m. Como pi tambem divide o produto p1 .p2 pn , pela propriedade (iv) de divisibilidade, conclumos
que pi divide 1 = m p1 .p2 pn . Absurdo. Portanto existem innitos primos.
Nota: Ao longo dos u
ltimos 300 anos, muitos pesquisadores
procuraram descobrir primos grandes. O maior primo conhecido e
do tipo especial 2p 1, onde p e primo. Os primos do tipo 2p 1
sao ditos Primos de Mersenne, (Marin Mersenne 1566-1648).
A razao de os maiores primos conhecidos serem primos de
Mersenne e que existe um teste extremamente eciente, conhecido
como teste de Lucas-Lehmer, para determinar quando um n
umero
do tipo 2p 1 e primo. Alem disto, o teste nao e bom para vericar
rapidamente se outros tipos de n
umeros distintos de 2p 1, p :
primo sao ou nao sao primos.
Exemplo. Os n
umeros 22 1 = 3, 23 1 = 7 e 25 1 = 31
ao e um primo (de
sao primos de Mersenne. Mas 211 1 = 2.047, n
Mersenne), pois 2.047 = (23).(89). Note que, se n = ab (composto),
90
ent
ao 2n 1 = 2ab 1 = (2a 1)(2(b1)a + 2(b2)a + + 2a + 1)
tambem e composto.
Com o advento do computador, muitos primos de Mersenne tem
sido descobertos. Ate meados do ano 2002 eram conhecidos trinta e
nove primos de Mersenne, com oito deles descobertos de 1990 para
ca. O maior primo de Mersenne conhecido ate meados de 2002 e
umero com mais de quatro milhoes de dgitos,
213466917 1, um n
que foi provado que e primo em 2001.
Ate o momento nao existe um metodo que de o n-esimo n
umero
primo, e existem muitas perguntas importantes sobre n
umeros primos sem respostas. Uma pergunta interessante e: Quantos n
umeros
primos existem entre 1 e um n
umero n positivo, dado? Esta quest
ao
ate hoje e de interesse matematico e por longos anos tem sido objeto de pesquisa. Nos u
ltimos dezoito seculos, os matematicos tem
feito longas tabelas de n
umeros primos para obter evidencias sobre a distribuicao de primos. A seguinte conjectura e devido aos
grandes matematicos Gauss e Legendre.
n
aproxima de 1 quando n cresce innitamente.
ln n
Seja (n) a quantidade de n
umeros primos positivos que nao
excede n. A conjectura de Gauss Legendre arma que o quociente
(n)
tende a 1 quando n vai para o innito, ou ainda,
n/ ln n
(n) ln n
lim
= 1.
n
n
ne
2.2.2
M
aximo Divisor Comum (mdc).
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
91
92
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
93
a = bq + r1 ,
b = r1 q1 + r2 ,
r1 = r2 q2 + r3 ,
r2 = r3 q3 + r4 ,
..
.
0 < r1 < b
0 < r2 < r1
0 < r3 < r2
0 < r4 < r3
..
.
d|r1
d|r2
d|r3
d|r4
..
.
rj |a
rj |b
rj |r1
rj |r2
..
.
rj |rj2
rj |rj1
94
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
95
2.3
96
()
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
97
mdc(a, b) = p1
min{ , } min{ , }
min{ , }
n n
1 1
2 2
p2
pn
divide ambos os
De fato, d = p1
inteiros a e b, desde que cada potencia dos primos, que ocorre na
fatoracao de d, nao excede as potencias deste mesmo primo que
ocorre nas decomposicoes de a e de b. Alem disso, nao existe um
inteiro c maior que d que divide a e b, senao existiria um fator de
min{i ,i }
. Portanto, ti seria maior que
c da forma ptii com ptii > pi
ao dividiria a ou nao dividiria b.
min{i , i } = i ou i . Logo, c n
98
Como este conjunto e limitado inferiormente por zero, o Princpio do menor inteiro garante a existencia de mmc(a, b), quaisquer
que sejam os inteiros a e b.
Consideremos novamente as decomposicoes de a e b em fatores
primos: a = p1 1 p2 2 pnn e b = p1 1 p2 2 pnn , com i 0,
ao e facil provar que
i 0. Ent
max{1 ,1 } max{2 ,2 }
max{n ,n }
mmc(a, b) = p1
p2
pn
.
De fato, um m
ultiplo comum de a e b deve conter pelo menos
max{i , i } potencias do primo pi em sua fatoracao.
Exemplo. Como as fatoracoes de 120 e 252 sao: 120 = 23 .31 .51 .70
e 252 = 22 .32 .50 .71 , ent
ao mmc(120, 252) =
max{3,2}
max{1,2}
.3
.5max{1,0} .7max{0,1} = 23 .32 .51 .71 = 2520.
=2
O seguinte teorema relaciona o maximo divisor comum e o
mnimo m
ultiplo comum de dois inteiros e pode ser provado
usando os resultados anteriores.
Teorema 2.19 Sejam a e b inteiros. Ent
ao
|a.b| = mdc(a, b).mmc(a, b).
2.4
Congru
encia
Deni
c
ao 2.20 Dado m Z, m > 1 e b, c Z, dizemos que b e
congruente (ou c
ongruo) a c modulo m, se m divide b c.
Notacao b c(mod m).
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
99
()
100
2.5
Aplica
co
es da Aritm
etica
A teoria dos n
umeros tem muitas aplicacoes em muitas areas das
ciencias. Como aplicacoes de congruencia e divisibilidade, daremos
um metodo para se criptografar mensagens de um modo seguro e
faremos um breve estudo de representacao de n
umeros inteiros em
uma base b, em especial quando b = 2, 4, 8 ou 16, muito u
til na
teoria de computacao.
2.5.1
(I) Criptograa
b
2
c
3
d
4
e
5
f
6
g
7
h
8
i
9
j
10
k
11
l
12
m
13
n
14
o
p
q
r
s
t
u
v w x
y
z
15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26.
Exemplo Vamos codicar segundo Caesar a sentenca Abacaxi e
uma fruta tropical.
Trocando as letras pelos n
umeros correspondentes de suas
posicoes, temos:
1 2 1 3 1 24 9 - 5 - 21 13 1 - 6 18 21 20 1 - 20 18 15 16 9
3 1 12.
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
101
()
102
()
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
103
1 - 12 21 1 - 5 - 2 5 12 1,
que corresponde a a lua e bela.
Uma outra boa aplicacao da teoria dos n
umeros na computacao
vem da representacao de um n
umero em uma base b, b > 1.
2.5.2
(II) Representa
c
ao de N
umeros em Bases e as
Quatro Operaco
es B
asicas
Representac
ao de N
umeros em Bases
No dia a dia, usamos a notacao decimal para representar n
umeros. Por exemplo, a seq
uencia 234 e usada para denotar 2.102 +
3.10 + 4. No entanto, muitas vezes e conveniente usar bases
diferentes de 10. O termo algoritmo originalmente se refere a procedimentos, ou programas, para executar operacoes aritmeticas, e
foram desenvolvidos originalmente usando a representacao decimal
de n
umeros inteiros. Usualmente os computadores estao preparados para o uso da notacao binaria (base 2) quando se faz operacoes
aritmeticas, e notacoes octal (base 8) ou hexadecimal (base 16)
quando se lida com caracteres, tais como letras ou dgitos.
O sistema de numeracao decimal e composto de 10 dgitos, e os
mais usados sao: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, cujos valores numericos dependem da posicao de cada dgito na seq
uencia
em relacao a um ponto de referencia chamado vrgula decimal. Por
exemplo, 474,54 representa o n
umero 4.102 +7.10+4.100 +5.101 +
2
4.10 , e o primeiro dgito 4, a partir da esquerda, em 474,54, tem o
valor numerico 400 (quatrocentos), o segundo dgito 4 na seq
uencia
tem o valor numerico 4, enquanto o terceiro dgito 4 tem o valor
4
(quatro centesimos). A representacao em seq
uencia
numerico 100
com valores dos dgitos dependendo da posicao nos permite representar qualquer n
umero usando apenas os 10 dgitos acima. Qualquer que seja a base b > 1 usada, o sistema de numeracao e tambem
posicional e funciona exatamente igual ao sistema decimal. No caso
bin
ario (base 2) usamos 2 dgitos: 0 e 1. Os algoritmos adaptados
para o uso com representacao binaria de n
umeros sao a base para
a aritmetica de computadores, porque estes algoritmos sao mais
104
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
105
=
=
=
=
=
(66).3+2,
(22).3+0,
(7).3+1,
(2).2+1,
0.3+2,
(a0
(a1
(a2
(a3
(a4
= 2)
= 0)
= 1)
= 1)
= 2)
106
Fazendo a divisao de 3073 por 16, e depois dividindo sucessivamente os quocientes obtidos ate o u
ltimo car menor que 16,
temos:
3073 = (192).16+1, (a0 = 1)
192 = (12).16+0,
(a1 = 0)
12 = (0).16+12,
(a2 = 12 = C)
Logo 3073 = (C01)16 , ou seja
3073 = (192).16 + 1 = [(12).16 + 0].16 + 0 = C.162 + 0.16 + 1.
Note que, no caso de nao se acrescentar
os dgitos A, B, C, D,
ao confundir
E, F, teramos que escrever 3073 = (12)01 16 para n
umero bem diferente
com (1201)16 = 1.163 + 2.162 + 0.161 + 1; um n
de 3073.
Observa
c
ao (1) Se
ent
ao n = m com m > 0. Pelo
kn < 0,
i
Teorema 2.22, m = i=0 ai b e, portanto, n = (ak ak1 a1 a0 )b .
(2) A prova do Teorema 2.22 nos d
a um processo pratico para
determinar a representacao de um n
umero n numa base b, que e
o seguinte: Dividimos n por b, obtendo quociente q e resto a0 . Se
q > b, dividimos q por b, obtendo quociente q1 e resto a1 . Se q1 for
maior que b, novamente dividimos o quociente obtido (agora q1 )
por b, obtendo quociente q2 e resto a2 . Procedemos assim ate obter
quociente qk+1 igual a zero. Portanto, o resto ak = qk < b, pois
os quocientes obtidos vao decrescendo, desde que ai 0 e b > 1.
Da basta considerar a seq
uencia de restos na ordem inversa a que
uencia e a representacao
foram gerados, (ak ak1 a1 a0 )b . Esta seq
de n na base b.
Exemplo Determine a expansao de 211 na base 4.
211
52
13
3
=
=
=
=
(52).4 + 3
(13).4 + 0
3.4 + 1
0.4 + 3
211 |4
3 52
0
|4
13 |4
1
3
3
|4
0
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
107
0
0
0
0
0
1
1
1
1
1
2
10
2
2
2
3
11
3
3
3
4
100
10
4
4
5
101
11
5
5
6
110
12
6
6
7
111
13
7
7
8
1000
20
10
8
9
1001
21
11
9
14
1110
32
16
E
15
1111
33
17
F
16
10000
100
20
10
BASES
decimal
bin
aria
quatern.
octal
hexadec.
10
1010
22
12
A
11
1011
23
13
B
12
1100
30
14
C
13
1101
31
15
D
As Quatro Operaco
es B
asicas
Comecamos observando que os processos de adicao, subtracao,
multiplicacao e divisao de n
umeros em uma base b qualquer sao os
mesmos processos que usamos na base decimal.
(a) - Adi
c
ao
Para somar 2 n
umeros escritos na base b, soma-se os coecientes
de mesma potencia de b, ou seja, faz-se uma soma posicional; nao
esquecendo que pode haver excesso. O excesso ocorre quando
somamos os coecientes de bi , ai e ci , com ai + ci > b. Neste
caso, ai + ci < 2b e, entao, ai + ci = b + di com 0 di < b.
No processo pratico dado abaixo, ocorre o vai um. Observe que
(ai + ci )bi = (b + di )bi = 1.bi+1 + di .bi e, portanto, vai acrescentar
uma potencia aos coecientes de bi+1 , justicando assim o vai um.
Por exemplo, para somar x = (22)3 com y = (120)3 , temos: escrevemos x e y nas formas x = 2.31 +2.30 e y = 1.32 +2.3+0.30 . Somamos
1
(0 + 1) (coef. de 32 ), (2 + 2) = (11)
3 (coef. de23 ), (2 + 0) (coef.
0
2
de 3 .). Da x + y = 1.3 + (11)3 3 + 2 = 1.3 + (1.3 + 1)3 + 2 =
108
1
2
2 2
+
2 0
1 2
+
0
1
2
0 1 2
0 1 2
1 2 10
2 10 11
+
1
2
1
1
2
0
0
2
0
2
1
0
0
(b) - Subtra
c
ao
Para a subtracao de n
umeros em uma mesma base, subtrai-se
os coecientes de uma mesma potencia de b. Quando o coeciente a
ser subtraido e maior, e preciso subtrair 1 do coeciente da potencia
de b imediatamente maior para acrescentar naquela que tem falta.
Este e o motivo do cai um visto no ensino fundamental. Assim,
ai bi = (ai 1)bi + b.bi1 , ou seja, camos com coeciente ai 1
para bi e, no nvel bi1 , camos com coeciente b = (10)b , mais
ai1 que ja existia, totalizando (1ai1 )b . Agora (1ai )b b > ci1 ,
sendo possvel efetuar a subtracao.
Exemplo 1 Sejam x = (1011)2 e y = (101101)2 , calculemos
x y.
Como x < y, facamos (y x), que e a mesma coisa. Entao
calculamos primeiro y x e trocamos o sinal do resultado obtido.
Observe que, para os coecientes de 21 , e necessario retirar 1 do
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
109
1 2
(10)
3
1
2 1
2 (11)3 2
1
2
1
1
2
1
(c) - Multiplica
c
ao
Para fazer a multiplicacao de x = as bs +as1 bs1 + +a1 b+a0
por y = cj bj + cj1 bj1 + + c1 b + c0 , usamos a propriedade
distributiva e a regra: ai bi .ck bk = (ai .ck )bi+k .
ao 0 ai .ck < b2 . Logo, ai .ck =
Como 0 ai , ck < b ent
qb+di+k , 0 di+k , q < b e, portanto, ai bi .ck bk = (qb+di+k )bi+k =
q.bi+k+1 + di+k bi+k . Ou seja, acrescenta-se q ao coeciente da
potencia bi+k+1 e o coeciente de bi+k e di+k = resto da divisao
de ai .ck por b.
Para o exemplo que segue, precisaremos das tabuas da multiplicacao e adicao de n
umeros na base 4,
+ 0 1
0 1 2
2
3
3
0 0 1
0 0 0 0
2
3
0
1 1 2
1 0 1 2
3 10
3
2 2 3 10 11
2 0 2 10 12
3 3 10 11 12
3 0 3 12 21
110
Exemplo Para efetuarmos o produto de (23)4 por (32)4 , precisaremos de 24 .34 = 124 e 34 .34 = 214 . Da a multiplicacao de 23
por 32 na base 4 e:
2
1
1
2 0
2 1
3
3 2
1 2
1 +
2 2
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
111
10
2
2
1
1
3
2
0
0
0
0
0
3
2
1
3 0 2
3 2 1
112
16 = 24 , para obter:
B616 = ((1011)2 (0110)2 ) = 101101102 .
Note que B616 = B.(16) + 6 = B.24 + 6 = (1.23 + 0.22 + 1.2 +
1).24 + 22 + 2 = 1.27 + 0.26 + 1.25 + 1.24 + 0.23 + 1.22 + 1.2 + 0.20 =
101101102 .
Para passar B616 para a base 4, alem do processo acima, podemos fazer tambem: B616 = B.(16) + 6 = (2.4 + 3)42 + 1.4 + 2 =
2.43 + 3.42 + 1.4 + 2 = 23124 .
Pode-se ver que, para a convers
ao de um n
umero da base
hexadecimal para a base bin
aria, basta converter cada dgito do
n
umero dado para a base bin
aria, obtendo uma seq
uencia de 4 0s
e 1s, guardando suas posicoes. Reciprocamente, para a conversao
de um n
umero da base bin
aria para a base hexadecimal, basta agrupar os dgitos de 4 em 4 da direita para a esquerda e passar cada
grupo para a base 16, guardando as posicoes dos n
umeros obtidos.
Em smbolos temos:
Proposi
c
ao 2.23 Seja a = (ak ak1 . . . a1 a0 )16 , 0 ai 15 a reao
presentac
ao de a Z na base 16, e suponhamos que a representac
de ai na base 2 seja ai = ai3 ai2 ai1 ai0 , aij = 0 ou 1. Ent
ao
a = (ak3 ak2 ak1 ak0 a13 a12 a11 a10 a03 a02 a01 a00 )2 , isto e:
(ak
ak1
a1
a0 )16
c1
a3 a2 a1 a0 )2
c0 )16
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
113
Representac
ao de N
umeros Fracion
arios
Vimos que todo n
umero inteiro tem uma representacao posicional na base b para qualquer b > 1. O mesmo princpio vale para
n
umeros fracionarios. Por exemplo, 0, 351 (3 decimos 5 centesimos
3
5
+ 100
+
e 1 milesimo) se escreve como 3.101 + 5.102 + 1.103 = 10
1
.
1000
Todo n
umero racional se escreve na forma I + F, onde I e um
n
umero inteiro e F e um n
umero racional compreendido entre zero
e um. Claro que, estas quantidades independem da base escolhida
para representar o n
umero. Com isto podemos enunciar.
Teorema 2.24 Todo n
umero racional a se escreve de modo u
nico
na forma a = (I + F ) em qualquer base b xada, onde I e um
n
umero inteiro positivo e F um n
umero racional, 0 F < 1. Em
outras palavras, podemos escrever o n
umero a de modo u
nico como
uma seq
uencia
a = (bm bm1 b1 b0 b1 b2 )b ,
onde I = (bm bm1 b1 b0 )b e F = b1 b1 + b2 b2 +
114
Nota
c
ao 2.25 O n
umero a sera denotado por (bm bm1 b1
b0 , b1 b2 )b e F sera denotado por (0, b1 b2 )b . Note a necessidade da vrgula para diferir por exemplo os n
umeros 2.(10)1 +1
1
e 2+1.(10) . Sem usar a vrgula ambos tem a representacao: 2110 ,
desde que nao se conhece m. A vrgula nos informa disto.
Com isto temos a representacao de um n
umero racional qualquer em uma base qualquer, previamente xada.
Como podemos escrever um n
umero racional dado em uma base
xada diferente da base dez? Como ja temos feito isto no caso de
n
umeros inteiros, devido ao teorema acima basta ver como isto e
feito no caso de n
umeros fracionarios. Este e o assunto do proximo
item.
Convers
ao de Fra
c
ao de uma Base `
a Outra
Seja F um n
umero racional, 0 < F < 1, dado no base b por
F = (0, b1 b2 . . .)b , e suponhamos que queremos escrever F na
base c. Ent
ao F = (0, b1 b2 . . .)b = (0, c1 c2 . . .)c onde ci deve
ser determinado, para cada i. Multiplicando ambos os lados da
igualdade por c, movemos a vrgula uma casa para a direita no segundo membro da igualdade. Com isto, caremos com c1 como
parte inteira (no 2o membro), e e possvel determina-lo. Ou seja:
(c)b (0, b1 b2 . . .)b = (c1 , c2 . . .)c , e, igualando as partes inteiras,
tem-se o valor de c1 . Para obter c2 , iguala-se as partes fracionarias de (c)b (0, b1 b2 . . .)b e (c1 , c2 . . .)c e repete-se o processo. Os outros ci , i 3 sao obtidos de maneira semelhante.
Exemplos 2.26 (A) Seja F = b1 .101 + b2 .102 + =
0, b1 b2 , acharemos cj {0, 1} j = 1, 2, . . . , tais que F =
(0, c1 c2 )2 .
De (0, b1 b2 . . .)10 = (0, c1 c2 . . .)2 , multiplicando por 2, obtemos:
2(0, b1 b2 )10 = (c1 , c2 c3 )2 (pois (I + F )10 = I + F )2 ),
igualando as partes inteiras obtemos c1 (pois I10 = I2 ). Igualando
as partes fracionarias de 2(0, b1 b2 )10 e (0, c2 c3 )2 (pois
F10 = F2 ), e repetindo o processo, obteremos c2 . Assim por diante,
ate obter todos os cj . Facamos dois exemplos:
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
115
c1
c2
0,
= 1,
= 0,
6
2
2
2
4
0,
c3 = 0,
c4 = 1,
4
2
8
2
6
116
convergente.
Exemplo (i) Dado a = (0, 11)2 , escrevemos a = (0, b1 b2 )
na base dez. Multiplicando a por dez, camos com (1010)2 (0, 11)2
= (10)(0, b1 ). Portanto, (111, 10)2 = (b1 , b2 )10 . Logo,
b1 = (111)2 = 710 e (0, 1)2 = (0, b2 )10 . Repetindo o processo, multiplicando a u
ltima igualdade por dez, camos com
(1010)2 (0, 1)2 = (b2 , b3 )10 , ou seja, (101)2 = 510 = b2 e
bj = 0, j = 3, 4 . Encontramos a = 0, 75.
(ii) Usando o segundo processo temos:
(na base dez). Logo, a = 12 + 14 =
encontramos: a = 0, 75.
a = (0, 11)2 = 12 + 14
3
ao
4 . Efetuando a divis
5
23
21 23
21
+
= = 0, 7142857.
+
=
3
3
12
12
7/8 7/8
7
1
2
1
8
5
8
= 0, 625.
Exerccios
(1) Prove as seguintes formulas por inducao matematica: (i) n <
2n , n N, (ii) n3 n e divisvel por 3, para todo inteiro n.
Sugestao Considere n 0 e depois n < 0. (iii) 2n < n!, n 4.
(2) Considere os n
umeros de Fibonacci: F1 = F2 = 1, Fn = Fn1 +
Fn2 , n 3.
(a) Calcule Fi , para i = 1, 2, . . . , 12.
(b) Prove por inducao que: (i) A soma dos n primeiros n
umeros
de Fibonacci e igual a Fn+2 1, isto e, F1 +F2 + +Fn = Fn+2 1.
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
117
n=0
S1 (k, 0) = S1 (0, k) = 0
para k > 0.
(4) Prove por inducao que:
(a) a + ar + ar2 + . . . + arn =
R, r > 0, r = 1.
a(rn+1 1)
, para qualquer a
r1
118
0
(0, 0)
(1, 0)
(2, 0)
(3, 0)
..
.
1
(0, 1)
(1, 1)
(2, 1)
(3, 1)
..
.
2
(0, 2)
(1, 2)
(2, 2)
(3, 2)
..
.
3
(0, 3)
(1, 3)
(2, 3)
(3, 3)
..
.
4
(0, 4)
(1, 4)
(2, 4)
(3, 4)
..
.
...
...
...
...
...
..
.
faca um caminho usando setas para indicar os passos dados, necessarios no calculo de A(2, 3).
(6) Dena as seguintes seq
uencias de n
umeros usando recorrencia:
2
n
2
(a) 1, 2, 2 , . . . , 2 , . . . (b) 0, 1 , 22 , . . . , k2 , . . .
(c) 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, . . .
n
(7) Dena recursivamente: E(i) =
(i 0).
i
(8) Determine os quocientes e os restos (q, r) da divis
ao euclidiana de a por b, onde:
(a) a = 18 e b = 5, (b) a = 121 e
b = 10, (c) a = 3512 e b = 91, (d) a = 55 e b = 5,
(e) a = 63 e b = 8, (f ) a = 2764 e b = 3.
(9) (A) Encontre os mdc(a, b) e expresse-os na forma ra + sb, onde
(a) a = 14, b = 7684 (b) a = 4148, b = 7684
(c) a = 180, b = 252 (d) a = 1144, b = 351
(e) a = 8024, b = 412.
(B) Expresse o mdc(6, 10, 14) na forma 6r + 10s + 14t, r, s, t Z.
(10) (i) Seja n Z, n > 1. Mostre que, se nao existe um primo
ao n e um n
umero primo.
p n, tal que p divide n, ent
(ii) Verique se 1943 e 1891 sao n
umeros primos.
(11) (i) Use o crivo de Eratostenes para calcular todos os n
umeros
primos ate 200.
(ii) Por que os n
umeros compostos da tabela sao cancelados
ate m
ultiplo de 13 e da para frente n
ao se cancelam mais?
(12) Obtenha a fatoracao de 144 e 162 em produto de primos e
utilize-as para obter mdc(144, 162) e o mmc(144, 162).
Aritm
etica dos N
umeros Inteiros
119
120
(23) Escreva o n
umero 621 nas bases (i) 2, (ii) 3, (iii) 7 e (iv)
11.
(24) Escreva na base decimal os n
umeros: (12011)3 , (22210)3 .
(25) (i) Escreva nas bases 2 e 8 os seguintes n
umeros dados na
notacao decimal: 74, 149, 19, 101, 144, 225.
(ii) Represente os n
umeros 35 e e 155 nas bases 6 e 8.
(iii) Represente os n
umeros dados em (i) e (ii) na base hexadecimal.
(26) O que esta errado nas representacoes: (1532)4 , (2193)7 e
(1013)2 ?
(27) Converter 9,421875 e 0,3333 de decimal para bin
ario.
(28) (a) Represente na base 2 as fracoes (i) 0,8125 (ii) 34
(iii) 0, 6875 (iv) 58 (v) 0,7 (vi) 24, 625 (vii) 29, 1875
(viii) 0, 222 .
(b) Represente na base dez as fracoes binarias (i) 0, 11012
(ii) 0, 1112 (iii) 0, 1011012 .
(29) (i) Verique que a serie: 21 + 23 + 24 + 27 + 28 + 211 +
212 + = 12 + (23 + 27 + 211 + ) + (24 + 28 + 212 + )
converge. (ii) Compare com (28)(v).
(30) (a) Justique porque B316 = 101100112 . (b) Represente a = 6D16 e b = 3A16 na base 2, calcule a b na base 16.
(c) Dados x = 7C16 e y = A216 , faca as contas x + y e x y na
base hexadecimal e binaria.
(31) (i) Faca a conversao dos n
umeros fracionarios bin
arios
(101111, 01)2 e (111010, 1001)2 para as bases octal e hexadecimal.
ario.
(ii) Idem de A85E, 1616 e 761F, 9816 para octal e bin
(32) Faca as tabuadas para a base 16 e 8.
(33) Faca os calculos: (i) 2308916 13A16 ,
(iii) 2307, 028 125, 28 .
Captulo 3
CONJUNTOS
Segundo dicion
arios, um axioma e uma premissa imediatamente
evidente, universalmente aceita como verdade sem exigencia de
demonstracao; um postulado e um princpio, proposicao nao
evidente nem demonstravel, que se admite como princpio de um
sistema dedutvel e um paradoxo e um contra-senso, um absurdo.
Bem, do ponto de vista matematico, nao estamos totalmente
de acordo com estas denicoes, principalmente devido aos adjetivos imediatamente evidente e proposica
o evidente, que sao
discutveis. Mas aceitaremos estes conceitos como estao para n
ao
entrar numa discussao semantica e/ou losoca.
Como acontece em qualquer teoria matematica, o ponto de partida sao sempre os conceitos nao denidos, denominados conceitos
primitivos e o conjunto de axiomas ou postulados. Uma Teoria e
dita consistente se nao se deriva contradicoes ou paradoxos dos seus
conceitos primitivos.
A ideia intuitiva de conjunto desenvolvida pelo matem
atico
germanico Georg Cantor, em 1895, leva a paradoxos. Um deles
foi proposto pelo matematico Bertrand Russell em 1902 (sera visto
a seguir). Uma teoria de conjunto baseada em axiomas e consistente resolve este problema, no entanto, ca bastante complexa.
Um meio de evitar ambas as formas de abordagem e considerar a
teoria de conjunto de G. Cantor reduzida, tambem chamada Teoria Ingenua de Conjuntos, onde se admite, a priori, um conjunto
dito Conjunto Universo que contem todos os elementos do discurso.
Isto evita os paradoxos, a teoria ca consistente e, para nossos
122
prop
ositos, e suciente.
S
ao Conceitos Primitivos da Teoria dos Conjuntos: conjuntos,
elementos, igualdade de conjuntos, relacoes de pertinencia e continencia.
Nao ha nenhuma razao aparente para o uso de determinados
tipos de letras para indicar conjuntos ou elementos, assim, convencionaremos o seguinte:
Letras latinas min
usculas representar
ao elementos;
Letras latinas mai
usculas ou retorcidas denotar
ao conjuntos
indica pertence
= indica igual.
Por exemplo, a sentenca x A le-se: o elemento x pertence
ao conjunto A. E A C le-se: o conjunto A e um elemento de
C.
Para sabermos qual e o conjunto a que estamos nos referindo,
usamos o
Axioma da Determinac
ao - Um Conjunto ca bem determinado
por seus elementos. De forma mais ingenua, pode-se dizer que
dois conjuntos sao iguais se possuem os mesmos elementos.
J
a que basta conhecermos os elementos de um conjunto para
reconhece-lo, por vezes, podemos representa-lo apresentando uma
listagem de seus elementos colocados entre chaves. Por exemplo,
{1, 2, 3} e o conjunto constitudo pelos n
umeros 1, 2, 3 e por nenhum outro elemento.
Observe que o Axioma da Determinacao nos garante que os
conjuntos {1, 3, 5} e {1, 5, 3, 3} sao iguais; o que signica tambem
que a ordem e o n
umero de vezes que um determinado elemento e
listado no conjunto n
ao e relevante.
Deni
c
ao 3.1 Se A e B sao dois conjuntos, e se todo elemento de
A pertence a B, dizemos que A e um subconjunto de B, ou que B
inclui A, e denotamos por: A B ou B A. Neste caso, dizemos
tambem que A est
a contido em B ou que B contem A.
Conjuntos
123
124
Conjuntos
125
(B) := {X | X B}.
Logo, X (B) X B. Observe tambem que este conjunto
nunca e vazio, pois pelo menos e um elemento de (B).
Exemplos () = {},
126
3.1
Diagrama de Venn-Euler
C
Figura 3.1: Diagrama de Venn
Na Figura 3.1, o ret
angulo representa o conjunto universo e as
regioes cercadas pelas curvas representam os conjuntos A, B e C.
Observa
c
oes: Freq
uentemente um diagrama de Venn pode sugerir
um argumento formal, por exemplo evidenciar o fato que, se A e
B sao dois conjuntos quaisquer, n
ao se tem necessariamente A
B ou B A. Porem, devemos ter cuidado, pois um diagrama
pode representar um caso muito particular da situacao em questao
e nao servir para mostrar que, em geral, vale uma determinada
propriedade.
3.2
Operac
oes entre Conjuntos
3.2.1
Reuni
ao ou Uni
ao de Conjuntos
Deni
c
ao 3.3 Dados A, B U a uni
ao de A e B e o conjunto
constitudo pelos elementos de U que sao elementos de A ou de B.
Denotando por A B este conjunto tem-se, A B := {x U | x
A x B}, que se le: A reuniao (ou uni
ao) B.
Conjuntos
127
A
B
128
A2
An =
n
Ai
i=1
para n N, n 1.
Observa
c
ao: No caso particular, em que cada Ai e um conjunto
ao {a1 }{a2 }. . .
unit
ario {ai } com ai em U , indicaremos sua uni
{an } simplesmente por {a1 , a2 , . . . , an }. Note que estes elementos
nao sao necessariamente distintos dois a dois. Se os elementos
a1 , a2 , . . . , an sao dois a dois distintos, diremos que o conjunto A =
umero de elementos
{a1 , a2 , . . . , an } tem n elementos, ou que n e o n
de A, e usaremos a notacao n = |A|. Assim, se B = {b1 , b2 , . . . , bn }
com bi U (i = 1, . . . , n), ent
ao |B| n.
umero natural n
ao
Exemplo Seja Ai = {i, i + 1, i + 2, . . .}, i um n
nulo. Ent
ao
n
i=1
3.2.2
Ai =
n
i=1
Interse
c
ao de Conjuntos
Deni
c
ao 3.5 Dados A, B U, a intersec
ao de A e B e o conjunto constitudo pelos elementos de U que sao elementos de A e
de B. Denotando
por A B este conjunto, tem-se:
A B := {x U | x A x B},
que se le: A intersecao B ou A inter B.
Conjuntos
129
B
A
130
Em particular, se temos um n
umero nito n de conjuntos Ai ,
podemos escrever:
n
Ai
A1 A2 An =
i=1
para n N, n 1.
i=1
i=1
i=1
Ai =
{i, i + 1, i + 2, . . .} = .
i=1
Observa
c
oes: (1) Um elemento y nao pertence a A B se, e
somente se, y A ou y B.
(2) Dizemos que os conjuntos A e B sao disjuntos se A B = .
No exemplo dado anteriormente, A e C sao conjuntos disjuntos.
3.2.3
Diferen
ca de Dois Conjuntos e Conjunto Complementar
Deni
c
ao 3.7 Dados os conjuntos A, B U, chamamos de diferenca
de A por B o conjunto dos elementos que pertencem a A, mas nao
a B, e denotamos por A B ou A\B, ou seja, A B := {x U |
x A x B}.
Veja a representacao no diagrama de Venn-Euler:
A
B
Conjuntos
131
CA B
A
B
132
A B = {x R : x A x B} = {x R : (x 1) (x 0)} =
= {x R : 0 x 1}.
A B = {x R : x A x B} = {x R : (x 1) (x 0)} = R.
A B = {x R : x A x B} = {x R : (x 1 x < 0)} =
{x R : x < 0} = B.
B A = {x R | x B x A} = {x R : (x 0) (x > 1)} =
{x R : x > 1} = A.
Propriedades do Complementar. Para A e B partes de um
conjunto universo U, temos:
(a) B B =
(b) = U
(c) U =
(d) B B = U
(e) (B) = B
(f) Dualidade ou Leis de De-Morgan:
(i) (A B) = A B
(ii) (A B) = A B
Conjuntos
TABELA (1)
133
Identidades de Conjuntos
Identidades
A=A
AU =A
AU =U
A=
AA=A
AA=A
(A) = A
AB =BA
AB =BA
A (B C) = (A B) C
A (B C) = (A B) C
A (B C) = (A B) (A C)
A (B C) = (A B) (A C)
Nomes
Identidades
Dominacao
Idempotentes
Complementacao
Comutativa
Associativa
Distributiva
AB =AB
AB =AB
A (A B) = A
A (A B) = A
DeMorgan
AA=U
AA=
Complementacao
Absorcao
134
B
1
0
1
0
Ac
0
0
1
1
Bc
0
1
0
1
AB
1
0
0
0
(A B)c
0
1
1
1
Ac B c
0
1
1
1
B
1
1
0
0
1
1
0
0
C
1
0
1
0
1
0
1
0
B C
1
1
1
0
1
1
1
0
A(B C)
1
1
1
0
0
0
0
0
DE
1
1
1
0
0
0
0
0
AB
1
1
0
0
0
0
0
0
AC
1
0
1
0
0
0
0
0
Conjuntos
135
3.3
N
umero de Elementos de um Conjunto
()
136
3.4
Produto Cartesiano e Gr
acos
Deni
c
ao 3.10 Uma n-upla ordenada (a1 , a2 , . . . , an ), (n > 1) e
uma colecao ordenada que tem a1 como seu primeiro elemento,
a2 seu segundo elemento, . . ., an seu n-esimo elemento. Diz-se que
duas n-uplas (a1 , a2 , . . . , an ) e (b1 , b2 , . . . , bn ) sao iguais quando ai =
bi , i = 1, 2, . . . , n. A dupla (a1 , a2 ) e dita par ordenado. Assim,
(a, b) = (c, d) quando a = b e c = d. Em particular, se a = b, ent
ao
(a, b) = (b, a).
Nota: O conceito de par ordenado formado por a e b, nesta ordem, foi denido por Georg Cantor como sendo o conjunto {a, {a, b}}.
Com esta denicao tem-se que (a, b) = (c, d) se, e somente se, a = b
e c = d. Prove isto.
Deni
c
ao 3.11 Dados A, B U, dene-se o produto cartesiano
de A por B e denota-se por A B (A cartesiano B) como sendo o
conjunto de todos os pares ordenados (a, b), onde a A e b B.
Assim
A B := {(a, b) | a A e b B}.
Caso A = ou B = , dene-se A B como sendo .
Mais geralmente, se sao dados os conjuntos A1 , A2 , . . . , An ,
denota-se por A1 A2 An o conjunto de todas as n-uplas
(a1 , a2 , . . . , an ) onde ai Ai , i = 1, 2, . . . , n. Tambem, escreve-se
A1 A2 An := {(a1 , a2 , . . . , an ) | ai Ai , i = 1, 2, . . . , n}
O conjunto {(a1 , a2 , . . . , an ) | ai Ai , i = 1, 2, . . . , n} tambem e
n
Ai .
denotado por
i=1
Conjuntos
137
(x,y)
y
3
2
1
1
y
2
1
-2
-1
138
3.5
Representa
c
ao Computacional de Conjuntos
Existem varios metodos de representar conjuntos usando um computador. Um metodo e armazenar os elementos de um conjunto de
uma maneira nao ordenada. Entretanto, se isto for feito, os c
alculos
computacionais para se obter uni
oes, interseccoes, ou diferenca entre conjuntos leva um tempo enorme, pois estas operacoes exigem
uma grande pesquisa de elementos.
No caso em que o conjunto universo e nito com poucos
elementos, podemos ordenar seus elementos e assim os calculos
de operacoes de conjuntos por computador cam mais f
aceis. Suponhamos por exemplo que U = {a1 , a2 , . . . , an }, com n 1 e nao
muito grande para que o computador a ser usado tenha mem
oria
suciente para realizar as operacoes. Agora considere A um subconjunto de U. Identique A com uma seq
uencia de comprimento
n do tipo x1 x2 . . . xn , onde xi = 1, se ai A, e xi = 0, se ai A.
Note que esta identicacao e uma correspondencia bijetora entre
todos os subconjuntos de U e o conjunto de todas as n-uplas de
zeros e uns, dita funca
o caracterstica de A. Por exemplo,
a seq
uencia de bits (do ingles binary digits): 11 1 corresponde
ao conjunto universo U ; a n-upla de bits 00 0 corresponde ao
conjunto vazio ; a seq
uencia de n bits 1010 0 corresponde ao
conjunto {a1 , a3 }; enquanto que, ao conjunto {a1 , a2 }, associamos
a seq
uencia de n bits 110 0. Para o que segue precisaremos das
operac
oes booleanas ou e e sobre o conjunto {0, 1}. Elas sao
dadas pela tabela
0 1
0 0 1
1 1 1
0 1
0 0 0
1 0 1
Conjuntos
139
2 x
n .
a
:= x
1 x
Lema 3.13 Sejam A, B subconjuntos de {a1 , a2 , . . . , an } e a =
uencias de bits associadas. Ent
ao
x1 x2 xn , b = y1 y2 yn suas seq
a seq
uencia de bits correspondente aos conjuntos A B, A B e
A s
ao, respectivamente, a b, a b e a
.
Demonstracao: De fato o elemento generico xi yi de a b
e 1 se, e somente se, xi = 1 ou yi = 1. Logo, xi yi = 1 se, e
somente se, ai A ou ai B. Portanto xi yi = 1 se, e somente
uencia de bits a b e a seq
uencia
se, ai A B. Por denicao, a seq
de bits associada ao conjunto A B.
Com um argumento semelhante, prova-se que a seq
uencia correspondente a A B e a b.
uencia de bits associada ao conjunto
Agora, seja u1 u2 un a seq
Ent
A.
ao o elemento ai pertence a A se, e somente se, ai A.
Em termos de seq
uencias de bits isto se traduz por: ui = 1 se,
i e, portanto,
e somente se, xi = 0, i = 1, 2, . . . , n. Logo, ui = x
u1 u2 un = x
1 x
2 . . . x
n = a
.
Exemplo Sejam U = {1, 2, . . . , 10}, A = {1, 3, 5, 7, 9} e B =
{1, 2, 3, 4, 5}.
Ent
ao: a = x1 x2 x10 = 1010101010 e b = y1 y2 . . . yn =
1111100000. Da, a b = 1111101010, a b = 1010100000 e
140
a
= 0101010101, e estas seq
uencias correspondem respectivamente
aos conjuntos A B = {1, 2, 3, 4, 5, 7, 9}, A B = {1, 3, 5} e
Ac = {2, 4, 6, 8, 10}.
Exerccios
(1) Coloque verdadeiro ou falso: (a) 3 = {3}, (b) 0 ,
(c) 3 {3}, (d) 0 = , (e) 5 {{5}}, (f ) 4 {{4}, 4},
(g) 3 {3}, (h) {3}, (i) Se A = B e B = C, ent
ao A = C,
(j) A B e B C, ent
ao A C, (l) x B e B C, ent
ao x C,
(m) a B e B C a C.
Para o que se segue S e um conjunto n
ao vazio.
(n) S (S), (o) S (S), (p) {S} (S), (q) {S} (S).
(2) Coloque pertence ou est
a contido nos campos pontilhados.
(a) {3, 4} . . . {{3, 4}, {5, 6}}
, (b) {2, 8} . . . {2, 8, 9},
(c) . . . {3}, (d) {{3, 4}} . . . {{3, 4}, {5, 6}}.
(3) Dados os conjuntos A = {1, 2, 3, 4, 5}, B = {2, 3, 4} e C =
{2, 4, 5}, verique e justique quais das seguintes sentencas sao
verdadeiras ou falsas:
(a) A B, (b)A C, (c) B C,
(d) C B, (e) C C, (f ) B.
(4) Dados os conjuntos X = {1, 2, 3, 4, 5}, Y = {1, 2, 3} e Z =
{4, 6, 8} do conjunto universo U = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8}, obter:
(a) X Y, (b) X Z, (c) Y Z, (d) (X Y )c , (e) X Y,
(f ) X\Y, (g) X (Y Z).
(5) Para A = {1, 3, 4, 6, 9, 10, 11, 12, 15}, enumere os elementos dos
seguintes conjuntos:
a) {x A | x = 16}, b) {x A | x + 5 = 9},
c) {x A | x e par}, d) {x A | x e primo},
e) {x A | x2 5x + 4 = 0} f ) {x A | (x + 1) A},
g) {x Z | |x 6| < 2}, h) {x N | x e par},
i) {x N | 4 < x < 9}.
(6) Prove cada uma das armacoes a seguir, onde A, B e C sao
subconjuntos de um conjunto universo U.
(a) Se A C e B C, ent
ao A B C. (b) A B =
A B c = A.
Conjuntos
141
(c) Se A B e C D, ent
ao A C B D.
(d) Se A B = A e A C = , ent
ao B C = .
(e) A (Ac B) = A B. (f ) A (Ac B) = A B.
(g) A B C A B = B C. (h) A B = U Ac B.
(i) A B = A = e B = . (j) A B se, e somente se,
B c Ac se, e somente se, A B = A se, e somente se, A B = B
se, e somente se, A B c = se, e somente se, Ac B = U.
(k) Se existe C, tal que A C = B C e A C = B C, ent
ao
A = B.
ao A = B.
(l) Se A B = B e Ac B = , ent
(m) Se A B = U e A B = . ent
ao A = B c .
(n) Se A B = A e B C = C, ent
ao A C c = .
(o) Se A B = A e B C = B, ent
ao (A C) B = A C.
ao B = .
(p) Se A B c = e A = , ent
ao A = .
(q) Se A B c = e A B = , ent
(r) A = se, e somente se, existe B, tal que (AB c )(Ac B) = B.
(s) Se A B = A para todo A, ent
ao B = .
c
ao B = U.
(t) Se A B e A B, ent
(u) Se A B C, ent
ao A C e B C.
(v) Se A X = A B e A X = , ent
ao X = Ac B.
(7) Faca diagramas de Venn que representem as seguintes situacoes: (a) A B A C e B C. (b) A B = C B, mas
A = C. (c) A B A C, mas B C. (d) A B = C B,
mas A = C.
(8) Prove ou apresente um contra-exemplo para as seguintes armacoes, onde A, B e C representam conjuntos quaisquer:
(a) (A B) C = A (B C). (b) A (B C) = (A B) C.
(c) A (B C) = (A B) C. (d) A B = A (B A).
(9) Usando a denicao AB := (A\B) (B\A), prove que:
(a) AB = (A B c ) (Ac B) e AB = CAB A B.
(b) AB = BA, (c) (AB)C = A(BC).
(d) A (BC) = (A B)(A C). (e) AA = .
(f ) A B = AB(A B) e Ac = AU. (g) A = .
(h) A U = A. (i) AB = A B A B = .
142
Conjuntos
143
i =j
i =j =k =i
Aj Ak ) + (1)m+1 n(A1 A2 Am ),
(iii) Mostre que n(AB) = n(A).n(B) e, a partir da e da denicao
de A B C, mostre que n(A B C) = n(A).n(B).n(C),
(iv) Se A B, ent
ao n(B A) = n(B) n(A) e (v) n((A)) =
n(A)
.
2
(24) Determine condicoes necessarias e sucientes sobre os conjuntos A e B para que: (a) |A B| = |A|, e (b) |A B| = |A B|.
(25) Numa cidade ha 1.000 pessoas: 470 assinam o Estado, 420
assinam a Folha, 315 assinam a Gazeta, 140 assinam a Gazeta e a
Folha, 220 assinam a Gazeta e o Estado, 110 a Folha e o Estado
e 75 assinam os tres jornais. Pede-se: (a) Quantas pessoas nao
assinam jornal? (b) Quantas pessoas assinam um dos jornais?
(c) Quantas pessoas assinam exatamente dois jornais?
(26) Sejam Ai = {(x, ix), x R, i R}. Determine a reuniao e a
144
Captulo 4
RELAC
OES
4.1
Rela
c
oes
Deni
c
ao 4.1 Sejam A e B conjuntos quaisquer, n
ao necessariamente distintos. Uma relacao bin
aria de A em B e um subconjunto
do produto cartesiano A B.
Assim, se R e uma relacao binaria de A em B, ent
ao R (AB)
e usaremos a notacao aRb para indicar que o par (a, b) R. Neste
caso, A e B sao chamados, respectivamente, conjunto de partida e
conjunto de chegada da relacao R.
Observa
c
ao: O adjetivo bin
ariausado na denicao indica que a
relacao esta denida entre dois conjuntos, uma vez que e possvel
denir, mais geralmente, relacoes n-arias (n N) entre n conjuntos
A1 , . . . , An como sendo um subconjunto do produto cartesiano A1
aria e apenas um caso particular desta u
ltima
An . A relacao bin
denicao.
4.1.1
Representa
c
oes
Representa
c
ao por meio de Matrizes
Sejam A = {a1 , a2 , . . . , an } e B = {b1 , b2 , . . . , bm } conjuntos
nitos com n e m elementos, respectivamente. Uma relacao binaria
R denida de A em B pode ser representada por uma matriz
146
MR = [rij ]nm , onde :
rij =
1,
0,
se (ai , bj ) R
se (ai , bj ) R
Observa
c
ao: A escolha 0 e 1 e puramente tecnica, quaisquer outros smbolos poderiam ser usados, como por exemplo $ e .
Exemplo 4.2 Sejam A = {a, b, c, d}, B = {2, 3} e R = {(a, 2),
(b, 2), (b, 3), (d, 3)}. A representac
ao de R por meio de matriz e
dada por:
1 0
1 1
MR =
0 0 .
0 1
Representa
c
ao Gr
aca
Quando uma relacao binaria esta denida entre dois conjuntos
nitos com poucos elementos podemos, ainda, representa-la por
meio de diagrama de setas que e particularmente atraente pelos recursos visuais. Nesta representacao, os elementos dos conjuntos sao
representados em diagramas de Venn-Euler, e um par ordenado e
representado por uma echa conectando os elementos do par, sendo
que a ponta da mesma indica a segunda coordenada. Esta representacao e tambem chamada representac
ao sagital ou por arcos.
claro que, a
A relacao e, simplesmente, uma colecao de arcos. E
cada arco da relacao, corresponde exatamente um smbolo 1 da
representacao matricial e vice-versa. Assim, dada uma representacao, e facil obter a outra. A representacao sagital da relacao R,
e dada na gura 4.1.
a
b
c
2
3
Rela
c
oes
147
Representa
c
ao Cartesiana
No caso em que a relacao esta denida entre subconjuntos de
n
umeros reais, podemos representa-la atraves de um graco cartesiano. No caso em que a relacao e constituda de um n
umero nito
de elementos, sua representacao cartesiana e constituda de um
n
umero nito de pontos isolados do plano cartesiano. A seguir
temos dois exemplos de representacao de relacoes com um n
umero
innito de elementos:
2 3 4 5
4.1.2
Coment
arios e Observa
c
oes
148
Rela
c
oes
149
Por exemplo, para A = {0, 1, 2}, IA = {(0, 0), (1, 1), (2, 2)}.
(8) Quando uma relacao esta denida sobre um conjunto nito A, podemos representa-la, tambem, por meio de um grafo. Por
exemplo, seja: A = {a, b, c} e R = {(a, a), (a, b), (b, a), (c, c)}. Sua
representacao por meio de um grafo e dada na gura 4.4.
c
Figura 4.4: Representacao de uma relacao utilizando-se um grafo
4.1.3
Domnio e Imagem
150
D(R1 ) = {0, 1}
D(R2 ) = {0, 1, 2}
D(R3 ) = {2}
D(R4 ) =
4.1.4
Im(R1 ) = {0, 1, 1}
Im(R2 ) = {1, 2, 2, 1, 0}
Im(R3 ) = {2}
Im(R4 ) =
Deni
c
ao 4.5 Seja R uma relacao de A em B. Chama-se relac
ao
inversa de R e indica-se por R1 a seguinte relacao de B em A.
R1 := {(y, x) B A : (x, y) R}.
Por exemplo, num grupo de pessoas, a inversa da relacao e um
dos pais de e a relacao e lho de.
Exemplo 4.6 Sejam A = {a, b, c, d}, B = {0, 1} e R = {(a, 0),
(b, 0), (b, 1), (c, 1)}. Ent
ao
R1 = {(0, a), (0, b), (1, b), (1, c)}.
Exemplo 4.7 Se A = B = R e R = {(x, y) R2 | y 2x},
ent
ao
R1 = {(y, x) R2 | y 2x} = {(x, y) R2 |
x
y}.
2
Propriedades:
(1) Se R A B, ent
ao R1 B A.
(2) Para toda relacao R temos:
D(R1 ) = Im(R),
Im(R1 ) = D(R)
(R1 )1 = R.
(3) Dada a representacao graca de R A B, obtemos a representacao de R1 apenas invertendo o sentido das echas.
(4) Se existe representacao matricial para R, ent
ao MR1 = (MR )t .
Rela
c
oes
151
-1
4.1.5
Composi
c
ao de Relac
oes
152
c1
b1
a2
c2
a3
a4
a5
c3
b3
c4
a1
a2
a3
a4
a
c1
c2
c3
c4
Rela
c
oes
153
(a) um caminho de ai a bj e
(b) um caminho de bj a ck .
Observe que:
(i) cada linha de MR contem o mesmo n
umero de entradas que as
umero dessas entradas e o mesmo que n(B);
colunas de MS , e o n
(ii) observemos, mais ainda, que a condicao (a) indica a existencia
de 1 na j-esima posicao da linha de MR correspondente ao elemento
ai , e a condicao (b) e satisfeita por um elemento 1 na k-esima
posicao da coluna de MS correspondente a ck .
A matriz MSR pode ser obtida de MR e MS com o seguinte
Teorema 4.9 Sejam A, B e C conjuntos com n, m e p elementos,
respectivamente, R e S relac
oes denidas do conjunto A em B e de
ao a
B em C, respectivamente. Se MR = [rik ] e MS = [skj ], ent
matriz de S R e
%
MSR =
n
&
'
(rik skj )
k=1
.
mp
154
1
0
0
0
0
0
1
0
0
1
0
0
1
0
0
0 0 0 0
0 1 0 0 =
0 1 0 0
0
0
0
0
0
0
1
1
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Rela
c
oes
155
Nota: Esta u
ltima igualdade nos mostra que a composicao de
relacoes e associativa e, assim, podemos omitir os parenteses quando
escrevemos as composicoes (T S) R ou T (S R) e escrever simplesmente T S R.
4.1.6
Propriedades de Rela
c
oes Sobre Conjuntos
156
Transitiva: Uma relacao R denida sobre um conjunto A e transitiva quando para quaisquer a, b, c A (a, b) R e (b, c) R
implicam (a, c) R .
A caracterstica da representacao graca de uma relacao transitiva e uma estrutura de tres arcos, como na gura a seguir.
b
Figura 4.9:
nao e reexiva, nao e simetrica e e anti-simetrica e transitiva.
Exemplo 4.13 A relacao denida sobre {1, 2, 3, 4} por
Rela
c
oes
157
2 3 4
Figura 4.10:
e anti-simetrica, transitiva, n
ao e reexiva e nem simetrica.
Exemplo 4.15 A relacao de igualdade: {a,b,c} = {(a, a), (b, b),
(c, c)} e reexiva, simetrica, anti-simetrica e transitiva.
Figura 4.11:
Exemplo 4.16 Considere sobre o conjunto dos n
umeros inteiros a
seguinte relacao:
(a, b) R |a b| = 1.
Esta relacao e simetrica, nao e reexiva, nao e transitiva nem antisimetrica.
Exemplo 4.17 Em P(U ) (U qualquer), consideremos R a relacao
de inclusao. R e reexiva, anti-simetrica e transitiva.
158
Rela
c
oes
159
160
Exerccios
(1) Determine quais as propriedades de cada uma das relacoes a
seguir denidas sobre o conjunto dos n
umeros inteiros positivos:
(a) m e divisvel por n.
(b) m + n e par.
(c) m.n e par.
(d) m + n e m
ultiplo de 3.
(e) m + n e mpar.
(f ) m + n 50.
(g) m e uma potencia de n.
(h) m n.
(2) Seja A um conjunto n
ao vazio. Mostre que o conjunto , considerado como uma relacao sobre A, nao e reexiva, mas e simetrica
e transitiva.
(3) Determine quais propriedades s
ao preservadas pela composicao
de relacoes denidas sobre um conjunto A, A = .
(4) Se IA representa a relacao identica de A, A = , mostre que
uma relacao R denida sobre A e reexiva se, e somente se, IA R.
(5) Mostre que uma relacao R denida sobre A, A = , e antisimetrica se, e somente se, (R R1 ) IA .
(6) Prove o resto dos tens do Teorema 4.23.
(7) Considere uma relacao representada pela matriz:
1
1
0
0
1
1
0
0
1
1
1
0
0
0
.
1
0
simetrica? E
anti-simetrica? E
transiEsta relacao e reexiva? E
tiva? (Justique cada uma de suas respostas).
(8) Por meio de uma matriz (ou outro) mostre que, se R e S sao
ambas relacoes simetricas denidas sobre um conjunto n
ao vazio
A, o mesmo pode nao ocorrer com R S.
(9) Seja R uma relacao simetrica e transitiva, denida sobre um
conjunto n
ao vazio A. Suponha que (a, b) R. Pela simetria
devemos ter (b, a) R e entao, usando a transitividade, devemos
ter (a, a) R, ou seja, R e reexiva. Assim, toda relacao simetrica
Rela
c
oes
161
162
univocamente determinado?
(21) Dado R = {(i, j) : i, j Z | j i = 1}. Obter Rr , (r, r N ).
(22) Mostre que, se S R esta denida, ent
ao (S R)1 = R1 S1 .
(23) Dadas as relacoes R, S e T denidas sobre A = {1, 2, 3, 4} por:
0
1
MR =
1
0
1
0
0
0
0
1
1
1
1
1 1
1 1
1
MS =
0 0
0
0
0 1
1
1
MT =
1
1
1
0
1
0
1
1
0
0
0
0
1
0
1
0
0
1
1
1
0
1
Rela
c
oes
4.2
163
Rela
c
ao de Equival
encia
Deni
c
ao 4.24 Uma relacao R sobre um conjunto A, nao vazio,
e uma relac
ao de equivalencia sobre A se for reexiva, simetrica e
transitiva, isto e, sao verdadeiras as seguintes sentencas:
(i) x, [x A = (x, x) R],
(ii) x, y A, [(x, y) R = (y, x) R] e
(iii) x, y, z A, [(x, y) R e (y, z) R = (x, z) R].
Exemplo 4.25 A relacao de igualdade sobre um conjunto A e uma
relacao de equivalencia, pois:
x, [x A = x = x],
x, y, [x = y = y = x] e
x, y, z, [x = y e y = z = x = z].
Exemplo 4.26 A relacao universal denida sobre um conjunto A
e uma relacao de equivalencia, pois:
x, x A = (x, x) A A,
x, y, (x, y) A A = (y, x) A A, e
x, y, z, (x, y) A A e (y, z) A A = (x, z) A A.
Exemplo 4.27 A relacao R denida sobre Z por: x, y Z,
xRy q Z : x y = mq (onde m 0 e um inteiro xo)
e uma relacao de equivalencia, pois: (i) a a = 0 = 0.m, a Z.
Logo aRa, a Z,
(ii) a b = mq b a = m(q). Logo aRb = bRa, a, b Z, e
(iii) se existem inteiros p e q, tais que a b = mq e b c = mp,
ent
ao
a c = (a b) + (b c) = mq + mp = m(q + p).
Logo aRb e bRc = aRc, a, b, c Z.
Esta relacao e chamada congruencia m
odulo m.
Exemplo 4.28 A relacao de paralelismo entre as retas de um
espaco euclidiano (denida como tendo mesma direcao) xRy
x//y e uma relacao de equivalencia, pois, se x, y e z sao retas do
espaco, temos:
164
(i) x//x,
(ii) x//y y//x, e
(iii) x//y e y//z x//z.
Deni
c
ao 4.29 Dada uma relacao de equivalencia R denida sobre A (A = ), dizemos que b e equivalente a c (pela R) se (b, c) R.
Note que, se b e equivalente a c, ent
ao, pela simetria de R, temos
(c, b) R, ou seja, c e equivalente a b e podemos dizer entao que b
e c sao equivalentes.
Deni
c
ao 4.30 Dada uma relacao de equivalencia R sobre um
conjunto A, chama-se classe de equivalencia determinada por a,
modulo R, o subconjunto [a]R de A constitudo pelos elementos x,
tais que (x, a) R. Em smbolos
[a]R = {x A : (x, a) R}.
Quando n
ao houver possibilidade de confus
ao, denotaremos [a]R
simplesmente por [a].
Considere a relacao de congruencia modulo 4, por exemplo.
Ent
ao temos as seguintes classes de equivalencia:
[0] = {. . . , 4, 0, 4, 8, 12, . . .}
[1] = {. . . , 3, 1, 5, 9, 13, . . .}
[2] = {. . . , 2, 2, 6, 10, 14, . . .}
[3] = {. . . , 1, 3, 7, 11, 15, . . .}
Observe que [4] = [0], [5] = [1], [6] = [2], etc.
Lema 4.31 Dada uma relac
ao de equivalencia R denida sobre um
conjunto n
ao vazio A, temos [a] = [b] se, e somente se, (a, b) R.
Demonstracao: De fato,
(i) Vamos supor (a, b) R. Se x [a], ent
ao, por denicao, (x, a)
R. Como por hip
otese, (a, b) R e R e transitiva (x, b) R, ou
seja, x [b]. Com isso mostramos que [a] [b]. De forma analoga
podemos mostrar que [b] [a], o que completa a prova de que se
(a, b) R, ent
ao [a] = [b].
(ii) Agora, se [a] = [b], ent
ao a [b], o que e o mesmo que (a, b)
R.
Rela
c
oes
165
Ainda temos:
Lema 4.32 Seja R uma relac
ao de equivalencia denida sobre um
conjunto n
ao vazio A. Temos ent
ao que [a] [b] = = [a] = [b],
ou equivalentemente [a] = [b] = [a] [b] = .
Demonstracao: Como [a] [b] = , existe x [a] [b], ou seja,
existe x A tal que (x, a) R e (x, b) R. Ent
ao pela simetria
e transitividade, temos (a, b) R, ou seja, [a] = [b], pelo Lema
4.31.
Podemos concluir dos Lemas 4.31 e 4.32, e pelo fato de R ser reexiva que todo elementos de A esta em uma, e apenas uma, classe
de equivalencia, ou seja, com as classes de equivalencia denidas
por R em A, obtemos uma subdivisao de A conforme a seguinte
denicao:
Deni
c
ao 4.33 Uma partic
ao de um conjunto A e uma colecao
de subconjuntos de A tal que cada a A esta exatamente em um
desses subconjuntos, e a interseccao de dois subconjuntos distintos
da colecao e vazia.
Toda relacao de equivalencia denida sobre um conjunto A dene uma particao de seu domnio. Mais ainda, podemos tambem
estabelecer um resultado recproco deste:
(
ao de um conjunto
Teorema 4.34 Seja
= {Ai }iI uma partic
A. Ent
ao existe uma
ao de equivalencia denida sobre A que
( relac
induz a partic
ao .
Demonstracao: Denindo R A A por
(a, b) R a e b
temos:
ao para todo x A existe i I tal que
(i) Como iI Ai = A, ent
x Ai . Portanto para todo x A, (x, x) R;
(ii) Para todos x, y A tais que (x, y) R, existe j I | x, y Aj ,
ou seja, y, x Aj . Portanto (y, x) R;
166
(iii) Para
( todos x, y, z A tais que (x, y) (R e (y, z) R, existe
Ai , tal que x, y Ai , e existe Aj , tal que y, z Aj .
Assim, y (Aj Ai ), de onde segue-se que Ai Aj = . Portanto,
ao
Ai = Aj = Ai Aj , ou seja, x, z Ai para um mesmo i. Ent
(x, z) R.
MR =
1
0
0
0
0
0
0
1
1
1
0
0
0
1
1
1
0
0
0
1
1
1
0
0
(
0
0
0
0
1
1
0
0
0
0
1
1
Proposi
c
ao 4.36 Sejam m um inteiro maior que 1 e R a relac
ao
ao
de congruencia m
odulo m denida sobre Z. Se Zm e a partic
ao Zm = {[0], [1], . . . , [m 1]}.
denida por R sobre Z ent
Demonstracao: (i) Para cada a pertencente a Z, efetuando a
divisao euclidiana por m, obtemos:
a = qm + r,
onde q e o quociente e r e o resto. Portanto, 0 r m 1. Logo,
a r = qm, ou seja, (a, r) R, ou ainda, a
= r. (No caso da
congruencia modulo m e costume indicar [a] por a
).
(ii) Supondo, agora, que existam duas classes iguais em {0, 1,
. . . , m 1}, isto e, r = s. Segue que r s (mod m), ou seja,
r s = km. Portanto, m|(r s) e, como 0 r, s m 1, con
clumos que r = s. Logo, Zm tem exatamente m elementos.
Rela
c
oes
167
Alguns coment
arios e observa
c
oes
Os resultados dos Lemas 4.31 e 4.32 mostram que uma dada
classe de equivalencia pode ser descrita de diferentes modos; mais
precisamente, [x] = [y] para cada y [x]. Diremos que zemos uma
escolha do representante x ou y, conforme denotemos a classe por
[x] ou [y]. Assim, Z6 = {0, 1, 2, 3, 4, 5} = {0, 1, 2, 3, 2, 1} =
{6, 19, 4, 3, 10, 23}.
Se R e S sao relacoes de equivalencia denidas sobre um mesmo
conjunto A, ja vimos que R S e tambem uma relacao. A pergunta
que fazemos agora e: nestas condicoes R S, e uma relacao de
equivalencia? Vejamos um exemplo:
Em Z, consideremos as relacoes de congruencia modulo 2 e
3, que chamaremos de R e S, respectivamente. Ent
ao R S e a
congruencia modulo 6 (Verique!), que tambem e uma relacao de
equivalencia. De fato, isto faz parte de um caso mais geral, cuja
demonstracao ca a cargo do leitor interessado.
Proposi
c
ao 4.37 Se R e S s
ao relac
oes de equivalencia denidas sobre um conjunto A, ent
ao R S tambem e.
Agora, como sao as classes de equivalencia determinadas por
R S em A? Como (x, y) (R S) se, e somente se, (x, y) R
e (x, y) S, as classes de equivalencia determinadas por R S sao
exatamente resultados das interseccoes de cada uma das classes
determinadas por R com cada uma das classes determinada por S.
Por exemplo, considere A = Z, R a congruencia modulo 2 e S a
congruencia modulo 3. Ent
ao,
Z2 = {0, 1}
onde
Z3 = {0, 1, 2},
0 = {. . . , 6, 4, 2, 0, 2, 4, 6, . . .}
1 = {. . . , 7, 5, 3, 1, 1, 3, 5, 7, . . .}
0 = {. . . , 9, 6, 3, 0, 3, 6, 9, . . .}
1 = {. . . , 11, 8, 5, 2, 1, 4, 7, 10, . . .}
2 = {. . . , 10, 7, 4, 1, 2, 5, 8, 11, . . .}.
168
Exerccios
(1) Descreva a particao de Z induzida pelas relacoes de congruencia:
(a) modulo 5
(b) modulo 2
(c) modulo 10
(d) modulo 12
umeros racionais, dena aRb se, e
(2) Sobre o conjunto Q dos n
somente se, ab Z. Mostre que R e uma relacao de equivalencia
e descreva as classes de equivalencia resultantes.
umeros racionais, denimos para cada
(3) Dado Q conjunto dos n
q Q xo:
Aq = {q + n; n N}.
(
Mostre que
= {Aq : q Q, 0 q < 1} e uma particao de Q e
mostre que a relacao obtida coincide com aquela dada no exerccio
(2).
(4) Determine a particao denida pelas relacoes (de equivalencia,
e claro!) descritas pelas matrizes:
1 0 1
0 1 0
1 0 1
0 0 0
0 1 0
0
0
0
1
0
0
1
0
0
1
1
0
1
0
0
0
0
1
0
1
1
0
1
0
1
0
0
0
0
1
0
1
1
0
0
1
0
1
1
0
0
0
0
0
0
1
Rela
c
oes
169
(a)
(b)
(c)
(d)
Conjunto
Pessoas
Pessoas
Pontos de um mapa
Retas do plano euclidiano
(e)
Inteiros positivos
Relacao
e irmao de
tem o mesmo pai que
e unido por uma estrada
e perpendicular a
para algum k N
e igual a 10k vezes
(11) A gura a seguir mostra duas relacoes denidas sobre o conjunto {a, b, c}. Essas relacoes sao relacoes de equivalencia?
Figura 4.12:
170
(12) Dada uma representacao graca de uma relacao de equivalencia, como podemos identicar as classes de equivalencia?
m
(13) Denindo R sobre N por xRy x
y = 2 para algum inteiro
m.
(a) Mostre que R e uma relacao de equivalencia.
(b) Quais sao as classes de equivalencia denidas pela relacao R
sobre N.
(mod 7).
Rela
c
oes
4.3
171
Rela
c
oes de Ordens - Conjuntos Ordenados
R
e
(y,
x)
R
= (x = y), e
(iii) x, y, z E (x, y) R e (y, z) R = (x, z) R.
Nota
c
ao 4.39 : Quando R for uma relacao de ordem parcial sobre um conjunto n
ao vazio E, para exprimirmos que (a, b) R,
usaremos a notacao a R b, que se le a precede b na relac
ao R, e
ao
a notacao x R y, que se le: a precede estritamente b na relac
R para indicar que x R y e x = y. Quando a relacao de ordem parcial R estiver clara no contexto, escreveremos simplesmente
a
b (a precede b) quando (a, b) R, em vez da notacao mais
carregada a R b.
Deni
c
ao 4.40 Se sobre um conjunto n
ao vazio E estiver denida uma relacao de ordem parcial , diremos que E e um conjunto
parcialmente ordenado por e indicaremos este fato por (E, ).
Exemplos 4.41 (a) A relacao menor ou igual: , denida sobre
o conjunto dos n
umeros naturais.
(b) Se E = {x1 , x2 , x3 , x4 } e R e a relacao descrita pela matriz
1 0 1 0
0 1 1 0
0 0 1 0 ,
1 1 1 1
ent
ao R e uma relacao de ordem parcial. (Verique!)
(c) A relacao de inclusao denida sobre uma famlia E de subconjuntos de um dado conjunto. De fato: todo conjunto est
a contido
172
y
Rela
c
oes
173
Deni
c
ao 4.42 Seja (E, ) um conjunto parcialmente ordenado.
Dizemos que dois elementos a e b de E sao comparaveis se a b ou
b a. Se dois elementos quaisquer de E forem comparaveis por ,
dizemos que e uma ordem total de E e o conjunto E juntamente
com e chamado conjunto totalmente ordenado ou cadeia.
Observacoes
(i) Claramente, a relacao inversa de uma relacao de ordem e, tambem, uma relacao de ordem. Denotemos a relacao inversa de por
" (le-se: sucede). Assim, a
b se, e somente se, b " a. Por
exemplo, sobre o conjunto dos n
umeros inteiros, a relacao inversa
da relacao de ordem menor ou igual e maior ou igual, cuja notacoes
sao, respectivamente e , como e de praxe. Assim, a b se, e
somente se, b a.
(ii) Se R e uma relacao de ordem ( ) denida sobre um conjunto
E, e A e um subconjunto n
ao vazio de E, ent
ao RA = (A A) R
tambem e uma relacao de ordem parcial sobre A. (Prove!). Esta
ordem e denotada por A e e dita ordem restrita a A, ou ordem induzida sobre A por . Mais ainda, se (E, ) e totalmente ordenado,
o mesmo ocorre com (A, A ), mas, mesmo quando (E, ) nao e totalmente ordenado, podemos ter A E, com (A, A ) totalmente
ordenado. Por exemplo, tome a ordem parcial de divisibilidade
ao 1 A 2 A 4 A 8.
sobre N e A = {1, 2, 4, 8}. Ent
Deni
c
ao 4.43 Denimos uma relacao de ordem sobre {0, 1},
por 0 0, 0 1, 1 1. Se M = (aij ), N = (bij ) sao matrizes
de ordem m n com aij , bij {0, 1}, diz-se que M precede N e
denota-se por M N, se aij bij para todos i, j.
Lema 4.44 Sejam B = {0, 1} e Mmn (B) o conjunto de todas
as
m n com entradas zero ou 1. Ent
ao
matrizes retangulares
e um conjunto parcialmente ordenado.
Alem
Mmn (B),
disso, se R, S s
ao relac
oes contidas em E F com E e F conjuntos nitos com m e n elementos, respectivamente, ent
ao R S
se, e somente se, MR MS .
Demonstracao: Sejam MR = (aij ) e MS = (bij ). Temos R S
se, e somente se, [aij = 1 = bij = 1]. Assim R S se, e somente
174
MR
Rela
c
oes
175
4.3.1
In , ou
Diagrama de Hasse
4
3
1
Figura 4.13:
(b)
R = {(a, a), (b, b), (c, c), (d, d), (e, e), (a, b), (a, c), (a, d),
(a, e), (d, c), (e, c), (b, c)}
176
a
Figura 4.14:
(c) O diagrama de Hasse da relacao de ordem | denida sobre o
conjunto {3, 5, 7} e dado por:
3
Figura 4.15:
(e) O diagrama de Hasse da relacao de ordem | sobre o conjunto
dos divisores positivos de 30, D+ (30) = {1, 2, 3, 5, 6, 10, 15, 30} e
o diagrama de Hasse da relacao de inclusao denida sobre o conjunto das partes de S = {a, b, c}, (S) = {, {a}, {b}, {c}, {a, b},
{a, c}, {b, c}, {a, b, c}} sao identicos. Veja os diagramas
Rela
c
oes
177
{ a,b,c }
30
10
15
{ a,b }
{ a,c }
{ b,c }
{a}
{b}
{c}
{}
Figura 4.16:
4.3.2
Deni
c
ao 4.47 Diremos que um elemento L de E e um limite
superior de A se [(x E), (x A x
L)] for uma sentenca
verdadeira.
Deni
c
ao 4.48 Um elemento l E e um limite inferior de A se
[(x E), (x A l x)] for uma sentenca verdadeira.
Exemplo Consideremos sobre o conjunto {1, 2, . . . , 10} a relacao
de ordem com o diagrama de Hasse, a seguir. Se A = {5, 6, 7},
ao
ent
os limites superiores de A sao: 9 e 10 e
os limites inferiores de A sao: 1, 2, 3 e 5.
178
9
7
3
1
Figura 4.17:
Deni
c
ao 4.49 Seja A um subconjunto n
ao vazio de um conjunto
parcialmente ordenado (E, ). Um elemento M A e um m
aximo
de A quando [(x E), (x A = x M )], isto e, M e um limite
superior e pertence ao conjunto A. Analogamente, diremos que
m A e um mnimo de A quando [(x E), (x A = m x)].
Denota-se m = min A e M = max A.
Observe que, se um conjunto A possui dois elementos maxiao, por denicao, M1 M2 (M2 sendo maximo
mos M1 e M2 , ent
M1 (M2 A e M1 e maximo). Portanto,
e M1 A) e M2
M1 = M2 . Analogamente para o mnimo. Com isto, acabamos de
demonstrar a seguinte proposicao:
Proposi
c
ao 4.50 Seja A um subconjunto n
ao vazio de um conjunto parcialmente ordenado (E, ). Se A possui m
aximo (mnimo), ent
ao ele e u
nico.
Observe, ainda, que um conjunto pode n
ao ter maximo ou
mnimo.
Exemplos 4.51 (a) N com a relacao | (divisibilidade) tem como
mnimo 1 e maximo 0.
(b) N com a relacao tem como mnimo 0 e nao possui maximo.
(c) N com a relacao tem como maximo 0 e nao possui mnimo.
Rela
c
oes
179
a6
a8
a5
a4
a3
a1
a2
Figura 4.18:
Os limites inferiores de A sao a1 , a2 , a3 , e a5 . Como a5 A,
ent
ao min A = a5 . Alem disso, a5 = max{a1 , a2 , a3 , a5 }. Portanto,
inf A = a5 .
Agora, considerando B = {a5 , a6 , a8 }, temos sup B = a9 e,
como nao existem limites inferiores, nao existe inf B.
180
Se C = {a1 , a2 , a3 }, ent
ao nao existem limites inferiores e portanto n
ao existe nmo. Os limites superiores de C sao a3 , a5 ,
a6 , a7 , a9 e a10 , sendo a3 = min{a3 , a5 , a6 , a7 , a9 , a10 } = sup C =
max C.
Deni
c
ao 4.53 Seja A um subconjunto n
ao vazio de um conjunto
E parcialmente ordenado. Um elemento m1 A e um elemento
minimal de A quando ocorrer [(x A), (x
m1 x = m1 )],
isto e, quando o u
nico elemento de A que precede m1 e ele proprio.
Analogamente, um elemento m0 A e um elemento maximal de A,
nico elemento de
quando [(x A), (m0 x x = m0 )], isto e, o u
A que m0 precede e ele mesmo; ou entao, (usando a ordem inversa
sucede) podemos dizer: o u
nico elemento de A que sucede m0 e
ele mesmo.
Exemplos 4.54 (1) Considere o conjunto E e os subconjuntos
A ={a5 , a6 , a7} e B = {a5 , a6 , a8 } do exemplo anterior. Ent
ao, a5 e
ou
nico elemento minimal de A e a6 e a7 sao elementos maximais
de A.
Os elementos a5 e a8 sao os elementos minimais de B, enquanto
a6 e a8 sao os elementos maximais de B.
Quando A e o proprio E ent
ao a1 , a2 , a4 sao os elementos
minimais de E e a10 e o u
nico elemento maximal de E.
(2) (Z, ) nao possui elemento maximal nem minimal.
Observa
c
ao
Observe que (Z, ) (R, ) nao possui mnimo, nem maximo,
nem limites superiores, ou inferiores, isto e, nao possui elementos
especiais. O mesmo ocorre com outros conjuntos innitos. No
entanto, este fato nao ocorre com conjuntos nitos n
ao vazios, como
pode ser visto no que segue:
Proposi
c
ao 4.55 Seja E um conjunto parcialmente ordenado,
nito e n
ao vazio. Ent
ao E tem pelo menos um elemento maximal e um elemento minimal. Alem disso, se E possui um u
nico
elemento maximal (minimal), este elemento e o m
aximo (mnimo)
de E.
Rela
c
oes
181
Demonstracao: De fato:
Seja p1 um elemento qualquer de E. Se p1 nao e maximal, entao
ao e maximal, entao
existe p2 E : p1 p2 . Agora, se p2 n
existe p3 E : p2 p3 e assim por diante. Como E e nito,
a cadeia p1 p2 p3 deve terminar em algum elemento
pk de E. Assim, nao existe elemento a E : pk a, portanto
pk e maximal. Um argumento semelhante mostra que existe, pelo
menos, um elemento minimal. Vejamos, agora, a demonstracao da
segunda parte da proposicao
nico elemento maximal de E. Se a1 = m0 , ent
ao
Seja m0 o u
a1 nao e maximal. Logo existe a2 E : a1 a2 . Se a2 = m0 ,
ent
ao a2 nao e maximal. Logo existe a3 E tal que a2 a3 . Com
este raciocnio construiremos uma cadeia de elementos de E : a1
uencia termina num elemento
a2 a3 Como E e nito, esta seq
ao a1
maximal. Como este elemento maximal deve ser m0 , ent
m0 e, portanto, m0 e o maximo. De modo analogo se
E, a1
demonstra para o mnimo.
Observe que a hip
otese de E ser nito e muito importante, pois
o conjunto N com a relacao denida pelo diagrama:
1
2
3
Figura 4.19:
possui um u
nico elemento minimal: 0, que nao e o mnimo de N
com a ordem estabelecida.
Uma cadeia em um conjunto parcialmente ordenado e um subconjunto n
ao vazio que e totalmente ordenado em relacao `a ordem
induzida. O subconjunto {0, 2, 3} n
ao e uma cadeia em N com a
ordem dada acima. Os subconjuntos {0, 1} e {4, 2, 1} sao cadeias
no exemplo acima. Para conjuntos parcialmente ordenados (E, ),
182
Rela
c
oes
183
Exerccios
(1) Desenhe todos os diagramas de Hasse possveis para conjuntos
com 1, 2, 3 e 4 elementos. Em cada caso identique o maximo e o
mnimo (se existirem).
ao e ordem
(2) (i) Verique que a relacao de divisibilidade sobre N n
total e de uma cadeia em N.
(ii) Para A = {2, 3, 6} N, determine os limites superiores e
inferiores; max A e min A; sup A e inf A; elementos maximais e
minimais de A.
(3) Seja B = {0, 1} com a ordem usual e sobre B 2 = B B :
(i) Dena (a, b) 1 (c, d) se, e somente se, a c e b d.
Verique que 1 e uma ordem nao linear;
(ii) Dena (a, b) 2 (c, d) se, e somente se, a < c ou (a = c e
b d). Verique que (B 2 , 2 ) e totalmente ordenado;
(iii) Generalize (i) e (ii) para o conjunto E E, onde E e um
conjunto ordenado qualquer.
(4) Considere a ordem usual sobre B = {0, 1} e verique que
[(a, b, c) (a1 , b1 , c1 ) a a1 , b b1 e c c1 ] denida em B =
{0, 1} e uma relacao de ordem parcial sobre B 3 . Faca o diagrama
de Hasse desta ordem e verique que este diagrama e identico aos
diagramas dado no exemplo 4.46(e).
(5) Sejam (E, 1 ) e (F, 2 ) conjuntos ordenados. Verique que
E F pode ser ordenado por [(a, b) (c, d) a 1 c e b 2 d].
(6) Seja A = {3, 5, 6} contido em D+ (30), ordenado pela divisibilidade. Determine os limites inferiores e superiores, elementos maximais e minimais de A. E determine sup A, inf A e max A, min A.
(7) Em N N dena (a, b) (c, d) se, e somente se, a|c e b d.
(i) Mostre que esta relacao binaria e de ordem.
(ii) Ela e total? Por que?
(iii) Qual e a ordem inversa desta ordem?
(iv) Dado A = {(2, 1), (1, 2)}, ache os limites superiores e inferiores de A, sup A, inf A; max A, min A e os elementos maximais
e minimais de A.
184
(8) Mostre que (R, ) nao possui maximo, nem elementos maximais.
(9) Dado um conjunto parcialmente ordenado (E, ) e p1 p2
p1 , onde pi E, prove que p1 = p2 = = pk , isto
pk
e, nenhum conjunto parcialmente ordenado pode conter cadeias
fechadas.
(10) Desenhe o diagrama de Hasse para (D+ (72), |). Qual sera
a natureza dos diagramas de Hasse para os conjuntos dos divisores
inteiros positivos de:
(a) pk11 pk22 (b) pk11 pk22 pk33 , onde p1 , p2 , p3 sao primos distintos?
(11) A interseccao de duas relacoes de ordem parcial denidas
sobre um mesmo conjunto e uma relacao de ordem? Justique sua
resposta. E a uni
ao?
(12) Em N N dena {(a, b)R(c, d) [a < c ou (a = c e b d)]}.
Mostre que (N N, R) e totalmente ordenado.
(13) Seja R E E. Mostre que R e relacao de ordem se, e
somente se, R R1 = IE e R R = R.
(14) Seja (X, ) um conjunto totalmente ordenado. Em X n introduzimos a ordem lexicograca:
(x1 , . . . , xn ) 1 (y1 , . . . , yn ) [(x1 , . . . , xn ) = (y1 , . . . , yn ), ou
para algum k, 1 k n tem-se: xi = yi , (i < k) e xk yk ].
Mostre que esta e uma relacao de ordem parcial denida sobre
X n . Esta ordem e total?
(15) Verique se as matrizes, a seguir, representam relacoes de
ordem parcial
M1 =
1
0
0
0
0
1
1
0
0
0
0
0
1
0
0
1
1
1
1
0
1
1
1
1
1
M2 =
1
1
0
0
0
0
1
0
1
0
0
0
1
1
0
1
0
0
1
1
0
1
0
0
1
Rela
c
oes
M3 =
185
1
1
1
0
1
0
1
0
0
1
0
0
1
0
1
1
1
1
1
1
0
0
0
0
1
M4 =
1
1
1
1
0
0
1
0
1
0
0
1
0
1
0
0
0
0
1
0
1
1
1
1
1
(16) Liste todos os pares de elementos incomparaveis dos conjuntos parcialmente ordenados do Exerccio anterior.
4.4
Fun
co
es ou Aplica
c
oes
f : A B e
f : a # b ou b = f (a) ,
respectivamente. Nesta notacao, b e chamado de valor de f em
a ou a imagem de a dada pela f . Mais precisamente temos:
Deni
c
ao 4.59 Seja f uma relacao de A em B. Dizemos que f e
uma aplicac
ao (func
ao ou transformac
ao) de A em B se:
(i) D(f ) = A, isto e, para todo a A existe b B, tal que
(a, b) f.
(ii) Para todos a A, b, c B, [ (a, b) f e (a, c) f =
b = c].
claro que o conjunto A e o domnio de f e o conjunto B
E
contradomnio, alem disso, como ja vimos antes, o conjunto dos
186
Rela
c
oes
187
4.4.1
Deni
c
ao 4.61 Seja f : A B. Dado C A, chama-se imagem
direta de C, segundo f , e indica-se por f (C) o seguinte subconjunto
de B:
f (C) := {f (x) | x C},
isto e, f (C) e o conjunto das imagens dos elementos de C pela f.
Deni
c
ao 4.62 Seja f : A B. Dado D B, chama-se
imagem inversa de D, segundo f , e indica-se por f 1 (D) o seguinte
subconjunto de A:
f 1 (D) := {x A | f (x) D},
isto e, f 1 (D) e o subconjunto de A formado pelos elementos cujas
imagens estao em D.
188
se
se
xQ
x R \ Q,
ent
ao f (Q) = {0}, f (R \ Q) = {1}, f ([0, 1]) = {0, 1}, f 1 ({0}) =
Q e f 1 ([4, 5]) = .
Observa
c
ao: Se |S| = m e |T | = n, podemos denir nm funcoes
diferentes de S em T. Observe que, para cada um dos m elementos
s S, podemos escolher como imagem qualquer um dos n elementos de T como f (s), independentemente da escolha efetuada para os
outros elementos. Assim, temos nm opcoes. Em linguagem tecnica,
para T e S conjuntos n
ao vazios temos: T S := {f : S T }, e
S
|S|
ent
ao |T | = |T | .
4.4.2
Restri
c
ao e Prolongamento de Fun
c
oes
Deni
c
ao 4.64 Considere uma funcao f : A B e C um subconjunto n
ao vazio de A. Uma funcao g : C B e chamada
restric
ao de f a C se para todo x C, g(x) = f (x). Usualmente,
denota-se a funcao g por f|A . Assim, f|A (x) = f (x), x C.
Rela
c
oes
189
Deni
c
ao 4.65 Considere novamente uma funcao f : A B e
sejam C A e D B. Uma funcao h : C D e dita prolongamento de f ao conjunto D se h(x) = f (x), x A.
Exemplos 4.66 (1) Considere f : Z N, tal que f (x) = |2x|+1.
A funcao g : N N dada por g(n) = 2n+1 e a restricao de f a N.
(2) Seja f : R R denida por f (x) = |x|, e C o conjunto dos
n
umeros complexos.
)
A funcao h : C R denida por h(x + yi) = x2 + y 2 , para
todo x+yi C e uma extensao de f. Note que h1 : C R, denida
por h1 (x + yi) = |x| + |y|, tambem estende a funcao f. Isto mostra
que uma funcao pode ter varias extensoes, mas qualquer funcao
so admite uma u
nica restricao a um subconjunto n
ao vazio de seu
domnio.
4.4.3
Fun
co
es Injetoras e Sobrejetoras
190
Deni
c
ao 4.69 Dizemos que uma funcao f : A B e injetora
quando
(x, y A), x = y = f (x) = f (y) ,
isto e, quando elementos distintos em A possuem imagens distintas
em B.
Observe que:
(i)
Uma condi
cao equivalente `a condicao de injetividade dada
e:
x, y A , f (x) = f (y) = x = y
(ii) Uma funcao f : A B n
ao e injetora quando x, y A,
y.
tais que f (x) = f (y) e x =
Deni
c
ao 4.70 Dizemos que uma funcao f : A B e bijetora
se f e injetora e sobrejetora.
Exemplos 4.71 (1) f : R R denida por f (x) = x + 3 e
bijetora.
ao x + 3 = y + 3. Logo
De fato: x, y R se f (x) = f (y), ent
x = y e entao f e injetora. Alem disso, para qualquer z R, existe
x = z 3 em R, tal que f (x) = f (z 3) = (z 3) + 3 = z.
(2) f : Z Z dada por f (x) = x2 n
ao e sobrejetora nem injetora,
pois f (1) = f (1) e 1 = 1. Alem disso, Im(f ) = N = Z.
(3) f : N N denida por f (x) = x2 e injetora, mas nao e
sobrejetora, uma vez que, por exemplo, 2 Im(f ).
(4) Seja f : N {0, 1} denida por:
f (x) =
0,
1,
se n for par
se n for mpar
Rela
c
oes
191
Nota: As funcoes
pi : A1 . . . Ai . . . An Ai
(x1 , . . . , xi , . . . , xn )
xi
para i = 1, 2, . . . , n sao chamadas de i-esima projecao e sempre sao
sobrejetoras. Deixamos a justicativa para esta u
ltima armacao
a cargo do leitor.
4.4.4
Fun
c
ao Inversa
n
ao e uma funcao uma vez que c D(f 1 ) e c B.
Deni
c
ao 4.72 Seja f uma funcao de A em B. Diremos que f
e uma func
ao invertvel ou (inversvel) se a relacao inversa f 1
B A e uma funcao.
Vejamos quais sao as condicoes para que dada f : A B,
seja, tambem, uma funcao.
(1) D(f 1 ) = Im(f ) = B, ou seja, f deve ser sobrejetora
(2) Cada elemento de B deve ser imagem de um u
nico elemento
1
de A pela funcao f , caso contrario, em f , um mesmo elemento
teria duas imagens distintas, o que n
ao pode ocorrer. Resumindo,
f deve ser injetora.
Note que essas condicoes acima sao necessarias e sucientes, ou
seja, temos:
f 1
Proposi
c
ao 4.73 Seja f : A B uma func
ao. Uma condic
ao
1
ao de B em A e
necess
aria e suciente para que f seja uma func
que f seja bijetora.
192
Demonstracao: De fato:
(=) Vamos supor que f 1 e uma funcao de B em A e mostremos
que f e bijetora.
(i) Se y B, como f 1 : B A e uma funcao, existe x A, tal
que f 1 (y) = x e, portanto, f (x) = y, ou seja, f e sobrejetora.
(ii) Sejam x1 , x2 A, tais que f (x1 ) = y = f (x2 ). Ent
ao, por
denicao, (x1 , y) f e (x2 , y) f , ou seja, (y, x1 ) f 1 e (y, x2 )
f 1 , de onde se segue que x1 = x2 , uma vez que f 1 e funcao.
Portanto, f e injetora. De (i) e (ii) conclumos que f e bijetora.
(=) Vamos mostrar que, se f e bijetora, ent
ao f 1 e uma funcao.
(i) Dado y em B, como f e sobrejetora, existe x em A, tal que
y = f (x) e, portanto, f 1 (y) = x. Assim, temos D(f 1 ) = B.
ao
(ii) Se x1 , x2 sao tais que (y, x1 ) f 1 e (y, x2 ) f 1 , ent
(x1 , y) f e (x2 , y) f , de onde se segue que x1 = x2 , uma vez
que f e uma funcao injetora. De (i) e (ii) podemos concluir que
f 1 e uma funcao de B em A.
Exemplos 4.74 (1) Sejam A = {a, b, c}, B = {1, 2, 3} e f
denida por f = {(a, 2), (b, 1), (c, 3)} A B. Temos f bijetora e
f 1 = {(2, a), (1, b), (3, c)}.
(2) f : Z Z denida por f (n) = n2 n
ao admite inversa (como
funcao) pois f nao e bijetora.
n
se n for par
2,
(3) f : N Z denida por f (n) =
e
n+1
2 , se n for mpar
uma funcao bijetora, logo f 1 e funcao.
ao temos
De fato, para todo m, n N, se f (n) = f (m), ent
n/2 = m/2 ou (m + 1)/2 = (n + 1)/2 (pois a situacao n/2 =
(m + 1)/2 nao ocorre, ja que um e positivo e o outro e negativo).
Assim, em qualquer caso, m = n e f e injetora.
Vejamos agora que f tambem e sobrejetora: se m Z e m 0,
ent
ao m = f (2m); e, se m < 0, tomando n = 2m 1 Z, tem-se
2m 1 + 1
2m
=
= m.
n 0 e f (n) = f (2m 1) =
2
2
Assim, f e bijetora e sua inversa e f 1 : Z N denida por
Rela
c
oes
f 1 (n)
193
2n
2n 1,
se n 0,
se n < 0.
ao impediu a
Observa
c
ao: Observe que o fato de N Z n
existencia de uma bijecao entre os dois conjuntos. Compare este
fato com o exerccio (7) da u
ltima lista.
(4) A funcao f : R R denida por f (x) = 2x + 3 e bijetora e
x3
.
f 1 : R R e dada por f 1 (x) =
2
Observe que, se f e uma funcao bijetora, o mesmo ocorre com
alem disso, a relacao inversa de f 1 e f . Assim, podemos
armar que f e f 1 sao aplicacoes inversas entre si.
f 1 ,
4.4.5
Composi
c
ao de Fun
c
oes
Deni
c
ao 4.75 Dadas duas funcoes f : A B e g : B C, a
composta de f e g, indicada por g f, e a funcao g f : A C
denida por (g f )(x) = g(f (x)), x A.
Assim, se b B e imagem de a A pela f e c C e imagem
de b pela g, ent
ao c e imagem de a pela g f .
Vejamos uma representacao em diagrama de uma composicao
de funcoes.
f(a)=b e g(b)=c
Figura 4.20:
194
g : Z
x
x5
.
2
Ent
ao a composta g f : P(U ) R e denida por (g f )(A) =
|A| 5
2 .
|A| 5
.
De fato, g f (A) = g f (A) = g(|A|) =
2
(2) Considere f e g representadas no diagrama a seguir
A
a
-1
0
c
f
Figura 4.21:
Ent
ao g f = {(a, v), (b, v), (c, v)}, pois
g f (a) = g f (a) = g(1) = v
g f (b) = g f (b) = g(0) = v
(g f )(c) = g f (c) = g(0) = v.
2
(3) Sejam f : R R e g : R R denidas por f (x) =
x e
g(x)
ao, g f : R R e denida por g f (x) =
=2x + 1. Ent
g f (x) = g(x2 ) = 2x2 + 1.
Rela
c
oes
195
g : R+ R
x
x + 1.
R
g f : R
e a funcao composta de
x
2x + 1
f e g.
Observa
c
oes 4.77 :
(i) Para f e g denidas no exemplo (5) anterior e poss
vel obter
tamb
em
f g. Esta e uma funcao de R em R, tal que f g (x) =
f g(x) = f (x2 ) = 3x2 ,
(ii) A composta f g so pode ser denida quando o contradomnio
da funcao f coincide com o domnio da funcao g.
(iii) A composta g f tem domnio e contradomnio iguais,
respectivamente, ao domnio da f e contradomnio da g.
(iv) Se f : E F e g : F E, ent
ao existem g f e f g,
porem, em geral, temos g f = f g.
(v) Se sao dadas as funcoes f : A B, g : B C, h : C D,
ent
ao, da denicao de composicao, temos as funcoes compostas
(h g) f : A D e h (g f ) : A D. Alem disso,
196
Rela
c
oes
197
198
4.4.6
Algumas Fun
c
oes Importantes:
1,
0,
se x A
se x
/ A.
Rela
c
oes
199
200
k
bi cAi (a).
i=1
m1
icAi (j).
i=0
2
i=0
Rela
c
oes
201
y
4
-3
-2
-1
1
-1
-3 -2 -1
-1
-2
-2
-3
-3
202
Rela
c
oes
203
a b c
c a b
,
a b c
b c a
,
a b c
c b a
onde
a primeira
delas e a permuta
cao identica.
a b c
a b c
, por exemplo, e
.
c a b
b c a
,
A inversa de
ai p(ai ) p2 (ai )
pr1 (ai ) ,
(4.1)
204
aj
p(aj )
pt1 (aj ) .
(4.2)
Rela
c
oes
205
206
Rela
c
oes
207
Exerccios
(1) Quais das seguintes relacoes constituem uma funcao:
(a) {(x, y) N N : x + y < 10}
(b) {(x, y) R R : x = y}
(c) {(x, y) R R : y 2 = x}
umero de primos menores que x}.
(d) {(x, y) N N : y e o n
(2) Considere a funcao f : A B, onde A = {1, 0, 1}
{1, 0, 1}, B = {1, 0, 1} e
f (x, y) =
0
x.y
se xy > 0
nos outros casos
x+5
se x R+ \ Q+
x2
se x Q+
(b) f2 :
(c) f3 : Z N
x x2
(d) f4 :
(e) f5 :
R2
(x, y)
R
xy
R2
(x, y)
R2
(x, y)
R
x+y
R
xy
(f ) f6 : R R
x cos x
208
(g) f7 : R R
x x2
(i) f9 : N N
x x+1
(h) f8 : Z Z
x x2 +1
(j) f10 : R R
x x3
Rela
c
oes
209
2x + 5,
x2 1,
f (x) =
5x,
quando
quando
quando
x < 1
1x1
x > 1.
Determine:
2
(a) f (0), f ( 35 ), f ( 7
2 ), f ( 2), f ( 5 )
(b) f ([1, 5])
(c) f 1 (R+ )
(d) f 1 ({10, 7})
(e) f 1 (] 2, 3[)
(13) Considere f : R
R denida por f (x) = |x|. Determinar:
f ([1, 1]),
f (] 1, 2[),
f (R),
f (1), f (3),
f (1 2),
f 1 ([0, 3]), f 1 ([1, 3]) e f 1 (R ).
(14) Seja f : R R a funcao denida por
f (x) =
x2
3
x
se
se
x0
x > 0.
(d) A =]
2, 2[ e B = R
(e) A =] 1, 1[ e B =]a, b[ com a < b, a, b R
210
(f) A =] 1, 1[ e B = [1, 1]
(g) A =] 1, 1[ e B = R
(18) Prove que duas pessoas em Sao Paulo devem ter as mesmas
letras iniciais no primeiro nome.
(19) Prove que, se S e T sao conjuntos nitos com |S| = |T | = n e
f : S T e uma funcao, as seguintes armacoes sao equivalentes:
(a) f e injetora.
(b) f e sobrejetora.
(c) f e invertvel.
(20) Obter a inversa da funcao f : ] 1, 1[ R denida por
x , x ] 1, 1[.
f (x) =
1 |x|
(21) Prove que, se uma funcao f : R R e invertvel e seu graco
e uma curva simetrica em relacao `a reta y = x, ent
ao f = f 1 . Dar
1
exemplos de funcoes, tais que f = f .
(22) Dadas
f : Z Z
n n + 1
g: Z
Z
n 2n,
mostre que f g = g f .
(23) Mostre que a composicao de duas funcoes injetoras e injetora.
E que o mesmo acontece para funcoes sobrejetoras.
(24) Considere duas funcoes f : A B e g : B C quaisquer
e prove as seguintes armacoes:
(a) se g f e injetora, ent
ao f e injetora;
(b) se g f e sobrejetora, ent
ao g e sobrejetora;
(c) se g f e bijetora, ent
ao f e injetora e g e sobrejetora.
(25) Mostre que, se f : A B e g : B C sao bijetoras, ent
ao
1
1
1
1
existe (g f ) e, alem disso, (g f ) = f g .
(26) Sejam f, g, h funcoes denidas sobre o conjunto dos n
umeros reais por f (x) = x 1, g(x) = x2 + 2 e h(x) = x + 1, x R.
(a) Determine f g, f h, h f , g f e h g;
(b) Verique que (f g) h = f (g h).
(27) Dadas f = {(x, y) R2 : y = x3 + 1} e g = {(x, y) R2 : y =
x2 + 1}. Determine as compostas f g, g f , f f e g g.
(28) Considere as funcoes f (x) = cos x e g(x) = |x|, denidas sobre
o conjunto dos n
umeros reais. Esboce os gracos das compostas
f g e g f.
Rela
c
oes
211
f (x) =
(c)
f (x) =
x2 , se x < 0
2x, se x 0
x2 + 1, se x < 0
2x + 1, se x 0
g(x) =
1x, se x < 1
1+x, se x 1
3x, se x < 1
7x + 1, se 1 x 5
g(x) =
2 + x, se x > 5
(30) Determine f f para f : R R denida por
x + 1,
se
x0
f (x) =
1 2x,
se
x > 0.
(31) Dadas as funcoes denidas sobre R por f (x) = 2x + 7 e
(f g)(x) = 4x2 2x + 3. Determinar a lei de denicao de g.
(32) Mostre que uma funcao f : A B (A = ) e injetora
se, e somente se, existe uma funcao parcial g : B A, tal que
g(f (a)) = a, a A.
(
(33) Considere f : A B e g : A C com Rf = {A1 , A2 }
(
e
Rg = {A3 , A4 , A5 }, f (a) = 0.cA1 (a) + 1.cA2 (a) e g(a) =
0.cA3 (a) + 1.cA4 (a) + 3.cA5 (a). Mostre que
f (a) + g(a) = 0.cA1 A3 (a) + 1.cA1 A4 (a) + cA2 A3 (a)+
+2.cA2 A4 (a) + 3.cA1 A5 (a) + 4.cA2 A5 (a).
(34) Prove que para todo u U tem-se:
(a) cA (u) cB (u) se, e somente se, A B,
(b) cAB (u) = min{cA (u), cB (u)},
(c) cAB (u) = max{cA (u), cB (u)},
(d) cAB (u) = cA (u) cAB (u).
umero
(35) A cada subconjunto A de U = {u1 , . . . , un } associe o n
bin
ario com n dgitos 1 , . . . , n , onde i = cA (ui ). Baseado nesta
associacao, prove (mais uma vez) que |(U )| = 2|U | .
212
Captulo 5
ANEIS
E ALGEBRAS
DE BOOLE
O objetivo principal deste captulo e fazer um breve estudo sobre as algebras booleanas de um ponto de vista computacional.
Usaremos a estrutura natural de ordem de uma algebra booleana e
demonstraremos o Teorema de Stone para algebras booleanas nitas. Em seguida, trataremos das funcoes booleanas, como algebras
booleanas. Exemplo destas algebras sao as algebras de proposicoes
exploradas em captulos anteriores. A seguir daremos as formas
canonicas de funcoes booleanas e nalizaremos representando
funcoes booleanas por circuitos, muito u
til em aplicacoes na area
de engenharia.
5.1
Operaco
es
Deni
c
ao 5.1 Uma operac
ao sobre um conjunto n
ao vazio E e
simplesmente uma funcao f : E E E. Em geral, denota-se f
por , , etc e f (x, y) por x y, x y, etc, que se le: x estrela
y,, x delta y, etc.
Exemplos 5.2 (1) Se a funcao f e a adicao de n
umeros naturais
+ : N N N, geralmente se escreve x+y para a imagem de f em
(x, y) e se diz somade x e y. Como a soma de n
umeros naturais
e sempre um n
umero natural, segue-se que f e uma operacao sobre
N. Pode-se vericar que a adicao tambem e uma operacao sobre
quaisquer dos conjuntos N, Z, Q, R, C. Verique!
214
(2) A subtracao de n
umeros naturais: f (n, m) = n m n
ao e
umero
uma operacao sobre N, pois f (2, 3) = 2 3 nao e um n
natural. No entanto f (n, m) = n m e um n
umero inteiro para
todos n, m Z. Portanto, a subtracao e uma operacao sobre Z.
ao e operacao sobre R
(3) : R R R dada por x y = xy n
1
porque n
ao e funcao. Por exemplo, (2) 12 = (2) 2 = 2 R.
Pela mesma razao nao e uma operacao sobre Q. Esta relacao e uma
umeros naturais x
operacao sobre N, pois quaisquer que sejam os n
y
umero natural.
e y, x e um n
(4) Adicao e multiplicacao de matrizes sobre o conjunto das matrizes quadradas de ordem n sobre R sao operacoes sobre este conjunto de matrizes.
(5) Dados A = {f : R R}, a operacao de composicoes de
funcoes de A e uma operacao sobre A.
(6) A funcao f (n, m) = mdc(n, m) e uma funcao sobre Z pois
para todo par (m, n) Z Z, tem-se que mdc(m, n) Z.
(7) Seja L um alfabeto com pelo menos dois smbolos e L e o
conjunto de todas as palavras (= seq
uencias nitas de letras) do
alfabeto L. A concatenacao de palavras:
x1 x2 . . . xn y1 y2 . . . ym = x1 x2 . . . xn y1 y2 . . . ym ,
onde n > 0, m > 0 e xi , yj pertencem a L, e uma operacao sobre
L , pois juncoes de duas palavras sobre L e uma palavra sobre L.
Propriedades
Uma operacao denida sobre um conjunto n
ao vazio E pode
satisfazer as seguintes propriedades:
(a) Associativa
: E E E e dita associativa se, para todos x, y, z E,
x (y z) = (x y) z.
Observa
c
ao: Pelas leis do calculo proposicional podemos armar
que n
ao e associativa se existem x, y, z E, tais que x (y z) =
(x y) z.
An
eis e Algebra
de Boole
215
(b) Comutativa
: E E E e dita comutativa se, para todos x, y E,
x y = y x.
Observa
c
ao:
Podemos armar que nao e comutativa se
existem x, y E, tais que x y = y x.
(c) Existencia do elemento neutro
Dizemos que : E E E admite elemento neutro e E
se, para todo x E, tem-se: x e = x = e x.
Observa
c
ao: O elemento neutro e E e um elemento xo e a
propriedade acima deve ser satisfeita para todo x E.
(d) Elemento simetriz
avel e Elemento simetrico
Seja : E E E uma operacao que admite elemento neutro
e. Dizemos que a E e simetriz
avel se existe b E, tal que
a b = b a = e. O elemento b E com esta propriedade e dito o
simetrico do elemento a E (para a operacao ) e sera denotado
por a .
Nota
c
ao 5.3 Denotaremos por U (E) o conjunto dos elementos
simetrizaveis de E para a operacao . Assim, U (E) = {a E :
a b = e = b a, para algum b E} = {a E tal que a E}.
No caso em que e denotada pelo smbolo aditivo +, a sera
indicado por a e chamado oposto de a. Quando a operacao
e denotada por , sugerindo a operacao multiplicativa, tambem
mudamos a notacao de a , neste caso, para a1 , e dizemos inverso
de a em vez de simetrico de a.
Observa
c
ao: Pode acontecer de existirem dois elementos dife
rentes a e a em E que sao simetricos de a E. Veja o exerccio
(1) da pr
oxima lista de exerccios.
(e) Distributiva
Nada impede que existam duas ou mais operacoes sobre um
conjunto n
ao vazio E. Vamos supor que e sejam operacoes sobre
um conjunto n
ao vazio E. Dizemos que a operacao e distributiva
em relac
ao a se:
x (yz) = (x y)(x z)
e
(yz) x = (y x)(z x),
216
para todos x, y, z E.
(f ) Elementos Regulares
Dizemos que um elemento a E e regular para : E E E
se, para todos x, y E,
ax=ay
e
xa=ya
====
x = y.
Nota
c
ao: Denotaremos por R (E) o conjunto dos elementos
regulares de E para a operacao . Assim, R (E) = {a E :
a e regular}.
Observe que um elemento a E n
ao sera regular para a operacao
se existirem x, y E, tais que a x = a y, x a = y a e
x = y.
Exemplos 5.4 As operacoes de adicao e multiplicacao sobre os
campos numericos N, Z, Q, R, C obedecem varias propriedades que
enumeraremos a seguir. Ressaltamos que na demonstracao destas
propriedades, precisaremos considerar as denicoes tratando da
construcao desses conjuntos, coisa que nao faremos aqui.
(a) A operacao de adicao sobre N obedece as propriedades associativa, comutativa e admite elemento neutro 0 (zero). Todo elemento
e regular para a adicao, e o u
nico elemento simetrizavel e zero.
(b) A operacao de adicao sobre Z, Q, R, ou C satisfaz todas as
propriedades, todos os elementos sao regulares e todos os elementos
admitem opostos.
(c) A operacao de multiplicacao sobre N e comutativa, associativa,
admite 1 como elemento neutro, que e o u
nico elemento inversvel
(simetrico para a multiplicacao), e todos os elementos nao nulos sao
regulares para a multiplicacao. Observe que 0 (zero) nao e regular
para a multiplicacao, pois 0.2 = 0.3 e 2 = 3.
(d) A operacao de multiplicacao sobre os n
umeros inteiros admite
as mesmas propriedades e R (Z) = Z \ {0}, pois, para todo a
Z, a = 0 se ax = ay (xa = ya), entao x = y. O conjunto
dos elementos inversveis e U (Z) = {1, 1} com (1)1 = 1 e
An
eis e Algebra
de Boole
217
11 = 1. Se a = 1 ou 1, ent
ao nao existe b Z, tal que ab = 1,
ou seja, se a = 1 e a = 1, ent
ao a n
ao e inversvel.
(e) A operacao de multiplicacao sobre Q, R, C satisfazem todas
U (R) =
as propriedades vistas e U (Q) = R (Q) = Q \ {0},
R (R) = R \ {0}. O mesmo vale para o conjunto dos n
umeros
complexos.
Como exemplo, vamos mostrar que U (C) = C \ {0}. Dado
x = a + bi em C, queremos condicoes sobre x para que exista
x1 C. Seja x1 = c + di, c, d R a determinar. Desde
que (a + bi)(a bi) = a2 + b2 , e este elemento e nao-nulo, se x e
a
b
n
ao-nulo, vem que (a + bi) 2
i
= 1. Logo, x1 =
a + b2
a2 + b2
b
a
218
2. Sobre a distributividade.
(a) A operacao de multiplicacao e distributiva em relacao a operacao de adicao denidas sobre quaisquer dos conjuntos N, Z, Q, R
ou C, pois a(b + c) = ab + ac e (b + c)a = ba + ca.
(b) Como 2 + 3.1 = (2 + 3)(2 + 1), a adicao nao e distributiva
em relacao a multiplicacao sobre quaisquer dos campos numericos
N, Z, Q, R, C.
(c) A exponenciacao nao e distributiva em relacao a multiplicacao,
pois existem x, y, z N, tais que xyz = xy .xz , isto e, x (yz) em
geral e diferente de (x y)(x z). Por exemplo, tome x = 2, y =
3, z = 4.
(d) Apesar de que (g + h) f = g f + h f para todas funcoes
f, g, h RR , a operacao de composicao de funcoes nao e dis-
An
eis e Algebra
de Boole
219
igualdade f (g + h) = f g + f h. Obtenha f, g, h RR
convenientes.
(e) A multiplicacao de matrizes e distributiva em relacao a adicao
de matrizes em Mn (R), pois: para todas as matrizes A, B, C de
Mn (R) tem-se A.(B + C) = A.B + A.C e (B + C).A = B.A + C.A.
Propriedades de Operaco
es
1. Se uma operacao sobre um conjunto n
ao vazio E admite
elemento neutro e, ent
ao ele e u
nico.
Demonstracao: Seja e E outro elemento neutro. Ent
ao: e
e = e , pois e e elemento neutro de E, e e e = e, pois e tambem
e elemento neutro de E. Sendo assim, e = e .
2. Se a operacao sobre E e associativa e admite elemento neutro,
ent
ao todo elemento simetrizavel admite um u
nico simetrico.
Demonstracao: Observe que U (E) = , pois e e simetrizavel.
Suponhamos que x E seja simetrizavel com simetrico x e seja
y E outro simetrico de x. Ent
ao, x x = x x = e e x y =
y x = e. Da x = x e = x (x y) = (x x) y = e y = y.
Note que usamos a associatividade de .
3. Se x E e simetrizavel para a operacao , ent
ao x tambem e
simetrizavel e (x ) = x.
Demonstracao: Basta ver que x x = x x = e. Da, por
220
An
eis e Algebra
de Boole
221
para 1 + a n
ao nulo. Assim, x = y sempre que a = 1, ou seja,
R (Z) = Z \ {1}.
5.1.1
a1
..
.
ai
..
.
aj
..
.
an
a1
a1 a1
a2
a1 a2
ai a1
ai a2
aj a1
aj a2
..
.
..
.
..
.
ai
a1 ai
..
.
aj
a1 aj
aj ai
aj aj
ai ai
an a1 an a2
..
.
..
.
an ai
ai aj
an aj
..
.
..
.
..
.
ai an
aj an
an an
an
a1 an
0
1
2
0
0
0
0
0
1
2
0 0
0
1 1 1
1 2
2
1
2
Observa
c
oes 5.8 (1) Observe a simetria em relacao `a diagonal principal existente na tabela do exemplo acima. Isto ocorre
na tabela se, e somente se, a operacao e comutativa.
(2) Observando a tabela do exemplo acima podemos dizer que
o elemento e o elemento neutro, porque na sua linha e coluna
sao repetidos os elementos do conjunto E, postos na 1a linha e
1a coluna, sem fazer permutacao na ordem dada. Sempre que isto
222
Exerccios
(1) Faca uma tabela de uma operacao sobre um conjunto E, de
modo que exista um elemento simetrizavel e seu simetrico nao seja
u
nico.
(2) Verique se denida sobre E e associativa, comutativa, se
admite elemento neutro e, neste caso, obtenha os elementos simetrizaveis e os elementos regulares.
x+y
(a) E = R+ e x y = 1+xy
.
(b) E = Q, x y =
2
x + xy.
(c) E = R e x y = x + y 2 + 2xy.
(d) E =
N e x y = min{x, y}. (e) E = N e x y = mdc(x, y).
(f ) E = Z Z e (a, b) (c, d) = (ac, 0). (g) E = Z Z e
(a, b) (c, d) = (ac, ad + bc).
(3) Para E = {a, b} : (i) Construir as tabuas de todas as
operacoes possveis sobre E;
(ii) Vericar quais propriedades possuem cada uma das operacoes obtidas em (i).
(4) Construir a t
abua de uma operacao sobre E = {e, a, b, c}, tal
An
eis e Algebra
de Boole
223
que
(i) seja comutativa, (ii) e seja o elemento neutro, (iii) x a =
a, x E e (iv) R (E) = E \ {a}.
(5) Dena sobre R : x y = x + y 3. Mostre que satisfaz as
propriedades associativa, comutativa, existencia do elemento neutro e que U (R) = R. Calcule (13 )1 , ou seja, (1 1 1) e resolva
x2 (13 ) = 1.
(6) Seja G = {e, a, b, c, d, f } com uma operacao que satisfaz:
(i) e associativa, (ii) e comutativa, (iii) e e o elemento neutro,
(iv) U (G) = G, (v) a f = b d = e, (vi) a d = b c = f,
(vii) a c = b b = d, (viii) c d = a.
Faca a tabua de (G, ) e resolva a equacao: b c x a b = b.
5.2
An
eis
Deni
c
ao 5.9 Sejam A um conjunto n
ao vazio, e ) duas operacoes sobre A. Dizemos que (A, , )) (ou simplesmente A, se as
operacoes estiverem claras no contexto) e um anel se as seguintes
propriedades estiverem satisfeitas:
1. x (y z) = (x y) z, para todos x, y, z A
(associativa).
2. x y = y x, para todos x, y A (comutativa).
3. Existe e A (denotado por 0A ), tal que e x = x e = x
para todo x A (Elemento neutro para ).
4. Para todo x A, existe y A, tal que x y = y x = 0A
(existencia do elemento simetrico, para todo elemento de A). O
elemento y sera denotado por *x. Observe que exige-se U (A) =
A.
5. x)(y z) = (x)y)(x)z) e (y z))x = (y )x)(z )x)
para todos x, y, z A (distributiva de ) em relacao a ).
6. (x)y))z = x)(y)z) x, y, z A (Associativa de )).
Exemplos 5.10 Daremos alguns exemplos, deixando as propriedades para serem vericadas
pelo
leitor.
a. (Z, +, .) e Mn (Q), +, . sao aneis.
b. Seja A = {f : R R} e denimos (f +g)(x) = f (x)+g(x),
224
(f.g)(x) = f (x)g(x) e (f g)(x) = f g(x) para todas funcoes
f, g A e para todo x A.
Ent
ao (A, +, .) e anel e (A, +, ) nao e anel (de fato, nem
sempre f (g + h) = (f g) + (f h)).
c. Seja A = 2Z := {2q, q Z} = {0, 2, 2, 4, 4, 6, 6, . . .}
ao
com as operacoes usuais de adicao e multiplicacao de Z. Ent
(2Z, +, .) e um anel.
Observe que as operacoes + e sao operacoes sobre 2Z
porque soma e produto de n
umeros pares continuam pares, ou seja,
para todos a, b Z, 2a + 2b = 2(a + b) 2Z e 2a.2b = 2(2ab)
2Z.
d. A = R R = {(a, b) : a, b R} com as operacoes (a, b) +
(c, d) = (a + b, c + d) e (a, b).(c, d) = (ac, bd). Ent
ao (A, +, .) e um
anel.
Agora, enunciaremos algumas propriedades de aneis. A maioria
destas propriedades foram feitas no item anterior e as demonstracoes das propriedades restantes deixamos como exerccios.
Propriedades de An
eis
Seja (A, , )) um anel. Ent
ao
(i) 0A e u
nico.
(ii) Para todo a A, o oposto de a : *a e u
nico.
(iii) Para todos a1 , a2 , . . . , an A, n 2, *(a1 a2
an ) = (*a1 ) (*a2 ) (*an ). Por exemplo, (2 + 3 + 5) =
(2) + (3) + (5) em (Z, +, .).
(iv) Para todo a A, tem-se: *(*a) = a
(v) Para todos a, b A tem-se: (*a))b = a)(*b) = *(a)b).
(vi) R (A) = A, isto e, para todo a A xado e x, y A, se
a x = a y, ent
ao x = y.
(vii) Para todos a, b A, a equacao a x = b tem solucao
u
nica, a saber: x = (*a) b.
Deni
c
ao 5.11 Um anel (A, , )) e dito ser comutativo se para
todos x, y A, x ) y = y ) x. O anel A e dito unit
ario se existe
elemento neutro 1A para a operacao de multiplicacao ), ou seja:
existe 1A A, tal que para todo x A tem-se: x ) 1A = 1A ) x.
An
eis e Algebra
de Boole
225
Observa
c
ao: Geralmente exige-se que 1A = 0A para que n
ao se
ao x = x ) 1A = x ) 0A =
tenha A = {0A } (de fato: se 0A = 1A , ent
x ) (0A * 0A ) = (x ) 0A ) * (x ) 0A ) = x ) 1A * x ) 1A = x * x = 0A .
Justique cada passagem).
5.2.1
O Anel de Inteiros M
odulo m
226
Podemos representar geometricamente o conjunto Z5 (mais geralmente Zm ) considerando um crculo dividido em 5 (m) partes
iguais. Isto porque, para obter a classe a + 5Z (a + mZ) a partir
de a, basta ir saltando para frente e tambem para tras de 5 em 5
(de m em m) n
umeros no conjunto ordenado Z.
Considerando os 5 (m) vertices no crculo com o 1o vertice no
polo norte, podemos ir enrolando Z no crculo do seguinte modo:
colocamos 0 no polo norte e, percorrendo o sentido hor
ario vamos
colocando 1 no 2o vertice, 2 no 3o vertice, 3 no 4o vertice, assim por
diante. A partir do polo norte, no sentido anti-hor
ario, colocamos 0
no polo norte, -1 no pr
oximo vertice (portanto vai car junto com
4), -2 no pr
oximo vertice (portanto vai car junto com 3), etc. Veja
a gura 5.1.
An
eis e Algebra
de Boole
227
{0,5,-5,10,-10,...}
{...,4,-6,9,-11,14,...}
{3,-2,8,-7,13,-12,...}
{1,-4,6,-9,11,-14,...}
{2,-3,7,-8,12,-13,..}
228
Deni
c
ao 5.15 Fixado m > 1, m Z, e dados a, b Zm , denese adicao e multiplicacao em Zm por:
a b := a + b
e
a ) b := a.b,
para todos a, b Zm .
Observa
c
oes 5.16 (1) Para denir estas duas operacoes, preferimos as notacoes e ) para car claro quais operacoes estamos
denindo, e n
ao haver confusao com o smbolo de adicao usado nas
classes a + mZ. Por exemplo, desde que a = a + mZ e b = b + mZ
poderamos ter escrito:
(a+mZ) + (b+mZ) = (a+b)+mZ e (a+mZ).(b+mZ) = ab+mZ,
em vez da notacao usada anteriormente. Note que [a] [b] =
[a + b] e [a] ) [b] = [a.b] e outra maneira de denotar a adicao e a
multiplicacao, a qual sera descrita simplesmente por [a]+[b] = [a+b]
e por [a].[b] = [ab], respectivamente.
(2) Observe que, para somar as classes a e b, soma-se os representantes a e b em Z, resultando em a + b, e toma-se a classe da
soma obtida, a + b, em Zm . O mesmo vale para a multiplicacao
de classes de equivalencia; multiplica-se os representantes e depois
volta-se para Zm , tomando-se as classes do produto obtido.
Antes de passar a alguns exemplos, veriquemos que estas rela porque,
coes sao de fato operacoes. Porque temos que fazer isto? E
para somar ou multiplicar, usam-se os particulares representantes
das classes de equivalencia e, como as classes de equivalencia podem
ser representadas por varios elementos, esses representantes nao podem inuenciar no resultado nal (soma ou produto). Por exemplo,
em Z4 como 1 = 5 e 2 = 6 (pois 1 5(mod 4) e 2 6(mod 4)),
ent
ao 1 + 2 deve ser igual a 5 + 6. Ou seja, 3 deve ser igual a 11.
Como 3 11(mod 4), pela Proposicao 5.14(b) temos que 3 = 11.
O que, exatamente, estamos fazendo, aqui, e somando particulares subconjuntos de Z, ou seja,
An
eis e Algebra
de Boole
229
{. . . , 7, 3, 1, 5, 9, . . .} + {. . . , 6, 2, 2, 6, 10, . . .} =
= {. . . , 5, 1, 3, 7, 11, . . .}.
O que foi feito no exemplo acima deve valer sempre e nao apenas
para as classes 1 e 2 envolvidas e m = 4, e sim para todas as classes
a, b Zm , onde m > 1 e um inteiro qualquer xado. Em outras
palavras,
Proposi
c
ao 5.17 As operac
oes + e . est
ao bem denidas sobre
Zm , ou seja, dados a = c, b = d Zm , entao a + b = c + d e
a.b = c.d.
Demonstracao: Sejam a, b, c, d Zm com a = c e b = d.
Ent
ao, a c(mod m) e b d(mod m) pela Proposicao 5.14. Por
def
denicao a = qm + c. Ent
ao a + b = a + b = qm + c + b = qm +
c + b = qm + (c + b). Como qm = 0, pois qm 0(mod m) vem que
a+b = c+b. Ou seja, xada a 2a parcela (da soma), podemos trocar
a 1a parcela. Do mesmo modo, prova-se que, xada a 1a parcela
da soma, podemos trocar a 2a parcela. Assim a + b = c + b = c + d.
Do mesmo modo prova-se que a.b = c.d.
Exemplo 5.18 Em Z6 4 + 5 = 9 = 3 (pois 9 3(mod 6).)
Tambem podemos proceder assim: 5 = 1 (pois 5 1(mod 6)),
ent
ao 4 + 5 = 4 + 1 = 4 1 = 3.
Tambem 4.5 = 4.5 = 20 = 2 (pois 20 2 = 3.6 6Z).
Convem fazer as tabuadas de adicao e multiplicacao de Z3 .
J
a vimos que Z3 = {0, 1, 2}.
Por denicao
0 + 0 = 0 + 0 = 0,
e
1 + 0 = 1 + 0 = 1,
2 + 0 = 2,
1+2=2+1=3=0
2+2=2+2=4=1
0+1=1
0 + 2 = 0 + 2 = 2,
1 + 1 = 1 + 1 = 2,
( pela Proposicao 5.14(b)),
( pois 4 1(mod.3).
230
0.0 = 0.0 = 0,
0.1 = 1.0 = 1.0 = 0,
1.1 = 1.1 = 1,
0.2 = 2.0 = 0.2 = 0,
1.2 = 2.1 = 2.1 = 2, 2.2 = 2.2 = 4 = 1, ( pois 4 1(mod 3)).
Como antes temos, tambem, que a.b = s, onde s e o resto da
divisao de ab por 3. Da temos as tabuas
+
0
1
2
0
0
1
2
1
1
2
0
2
2
0
1
0
1
2
0
0
0
0
1
0
1
2
2
0
2
1
Observa
c
ao 5.19 De um modo geral, podemos armar que a+b =
r em Zm , onde r e o resto da divisao de a + b por m. Do mesmo
modo a.b = s, onde s e o resto da divisao de ab por m. Procedendo
assim sempre vamos tomar os representantes das classes a + b e a.b
no conjunto {0, 1, 2, . . . , m1}, pois sao estes elementos os possveis
restos da divisao de um n
umero por m.
Teorema 5.20 Para m 2, (Zm , +, .) e um anel comutativo e
unit
ario com U (Zm ) = R (Zm ) = {a Zm tal que mdc(a, m) =
1}.
Demonstracao: (i) - Associativa: Para todo a, b, c Zm , (a +
def
def
assoc. em
def
b) + c == a + b + c == (a + b) + c ===== a + (b + c) = a +
(b + c) = a + (b + c).
(ii) - As propriedades comutativa para a adicao e para a multiplicacao cam como exerccios. Tambem sao simples como (i)
acima, e basta usar as denicoes e as propriedades de Z.
(iii) - 0 Zm e o elemento neutro para a adicao, pois: a + 0 =
a + 0 = a = 0 + a = 0 + a, para todo a Zm .
(iv) - O oposto de um elemento a Zm e o elemento m a, pois
a + m a = a + (m a) = m = 0 = (m a) + a, para todo
a Zm .
An
eis e Algebra
de Boole
231
232
+
0
1
2
3
4
0
0
1
2
3
4
1
1
2
3
4
0
2
2
3
4
0
1
3
3
4
0
1
2
4
4
0
1
2
3
0
1
2
3
4
0
0
0
0
0
0
1
0
1
2
3
4
2
0
2
4
1
3
3
0
3
1
4
2
4
0
4
3
2
1
ao sao
Finalmente, reforcamos que as classes a Zm e a Zn n
as mesmas se m = n; nao tem relacao nenhuma uma com a outra,
a nao ser o fato de que tomamos os mesmos representantes para
denota-las. Por exemplo, a classe de 2 modulo 4 n
ao e inversvel
modulo 4, enquanto a classe de 2 modulo 5 j
a o e. Tambem 2 = 2
em Z4 e 2 = 3 em Z5 .
(3) (i) Calcule U (Z15 ) e calcule o inverso de cada elemento de
U (Z15 );
2x + 6y = 5,
(ii) Resolva o sistema
3x + 4y = 0.
Solucao (i) U (Z15 ) = {a Z15 : mdc(a, 15) = 1}. Como
15=3.5, ent
ao a U (Z15 ) se, e somente se, nem 3 nem 5 dividem
a. Logo, a {1, 2, 4, 7, 8, 11, 13, 14}.
Para calcular o inverso de 2, basta achar x, 1 x 14, tal
que 2.x = 1. A solucao e x = 8, pois 2.8 = 16 1(mod.15).
An
eis e Algebra
de Boole
233
a e o n
umero b do anel Zm , tal que b2 = a. Ent
ao
Solucao
2
2
2
calculemos b para todos b Z12 . Como b = (b) qualquer que
seja o elemento b de um anel, e b = m b no anel Zm temos:
2
2
2
2
2
2
0 = 0, 1 = (11)2 = 1, 2 = (10)2 = 4, 3 = 9 = 9, 4 =
2
2
2
2
8 = 4, 5 = 7 = 1, 6 = 0. Logo 4 = 2, 2, 4, 4, ou seja,
2, 10, 4, 8, respectivamente.
Agora x2 + 2x + 9 = 0 podemos escrever (x + 1)2 + 8 = 0, ou
seja, (x + 1)2 = 8 = 4. Portanto x + 1 {2, 4, 8, 10} e o conjunto
solucao e {1, 3, 7, 9}.
Aritm
etica Bin
aria M
odulo 2n
Z
Considere o anel
,
+,
5.2.2
2 = 00 010
5 = 0 0101
234
Ent
ao podemos representar todos elementos de Z2n como uma nupla de n
umeros an1 an2 a1 a0 , onde ai e zero ou um para todo
i = 1, 2, . . .. Em particular, 2n 1 e representado na base 2 por
n n
umeros 1; 11 1.
Exemplos 5.22 Os elementos de Z2 tem a seguinte representacao
bin
aria: 0 = 0, 1 = 1. Os elementos de Z4 = {0, 1, 2, 3}, (n = 2)
tem representacoes binarias
0 = 00,
1 = 01,
2 = 10,
3 = 11.
que
0s
Veele-
Adi
c
ao. Efetuemos a adicao 110 + 011 em Z8 B 3 .
Temos 110 + 011 = 1001 = 1.23 + 0.22 + 0.2 + 1 = 001, pois
3
2 = 0 em Z8 .
Ent
ao, para somar n-uplas em Z2n , somamos normalmente como
se fosse n
umeros inteiros na base 2, depois reduzimos modulo 2n ,
ou seja:
an1 an2 a1 a0 + bn1 bn2 b1 b0 = cn cn1 cn2 c1 c0 =
cn1 cn2 c1 c0 , pois cn 2n = 0 Z2n .
Multiplica
c
ao. Para a multiplicacao de dois elementos a = an1
an2 a1 a0 e b = bn1 bn2 b1 b0 de Z2n procedemos da seguinte
forma: escrevendo a = an1 2n1 + an2 2n2 + + a1 21 + a0 20
e b = bn1 2n1 + bn2 2n2 + + b1 21 + b0 20 obtemos: a.b =
an1 2n1+an2 2n2+ +a1 21+a0 20 bn1 2n1+bn2 2n2+ +
An
eis e Algebra
de Boole
235
b1 21 +b0 20 = an1 .bn1 22n2 + +
ar bs 2n1 + +
s+r=n1
(a1 b0 + a0 b1 )21 + a0 b0 20 .
Como c.2r = 0 em Z2n para c Z e r n, vem que
ar bs 2n1 + + (a1 b0 + a0 b1 )21 + a0 b0 20 .
a.b =
s+r=n1
a.b =
ar bs . . . (a1 b0 + a0 b1 )a0 b0 .
s+r=n1
a =1a=
0
1
se a = 1
se a = 0
236
Subtra
c
ao
Subtrair b de a com a, b nZ B n e somar a com o oposto
2 Z
de b, isto e: a b = a + (b). Como vimos anteriormente no anel
Z2n , o oposto de b e 2n b, pois b + (2n b) = 2n = 0 em Z2n .
Isto mostra que b tem a representacao binaria de 2n b. Mas
2n b = (2n 1) b + 1, e como 2n 1 = (10 00)2 (00 01)2
(n 1 zeros), encontramos 2n 1 = 11 12 (n 1s). Assim, se b
tem a representacao (bn bn1 b2 b1 )2 , temos que [(2n 1) b] e
igual a
1
1
1
bn1
bn2
bn
(bn ) (bn1 ) (bn2 )
1
1
b2
b1
(b2 ) (b1 ),
An
eis e Algebra
de Boole
237
238
=
=
=
=
102
112
002
012
An
eis e Algebra
de Boole
4
3
2
1
=
=
=
=
4
5
6
7
=
=
=
=
1002
1012
1102
1112
239
0
1
2
3
=
=
=
=
0002
0012
0102
0112
Exerccios
(1) Considere as operacoes x y = x + y 1 e x ) y = x + y xy
denidas sobre Q e verique que (Q, , )) e um anel. Quais sao os
elementos neutros 0Q e 1Q ? Verique que a)b = 0Q se, e somente
se, a = 0Q ou b = 0Q . Determine U (Q) e R (Q).
(2) Seja A = {0A , 1A , a} anel unit
ario. Mostre que so existe um
par de tabuas (adicao e multiplicacao) para A. Pergunta: 1+1 = 2?
Por que?
(3) - Faca as tabelas da adicao e da multiplicacao para os conjuntos
Z5 e Z6 .
5x + 2y = 3
3x + 4y = 2
(4)Resolver em Z8 :
em Z6 :
4x + 3y = 1,
4x 2y = 0.
11
+ 2x = 4.
(5) Ache x Z9 , tal que
5
umero b Z, 1 b < m, tal que
(6) (a) Sendo a1 (mod m) o n
2
(mod 15), 41 (mod 41),
ab 1(mod m), ache 71 (mod 11), 24
3
(mod 19).
21 (mod 101), 24
240
5.3
An
eis Booleanos
An
eis e Algebra
de Boole
241
Deni
c
ao 5.29 Um anel (A, , ) e dito um anel booleano (ou anel
de Boole) se (A, , .) e um anel unitario e idempotente; isto e: 1A
e x A, x2 = x.
Exemplos 5.30 (A) (i) Seja B = {0, 1} com adicao e multiplicacao denidas por
+ 0 1
0 0 1
1 1 0
0 1
0 0 0
1 0 1
242
x+y
y+z
z
x+(y+z)=(x+y)+z
An
eis e Algebra
de Boole
243
(b) a + b = b + a
(f ) a + a = a
(g) a + 0 = a
(h) a + 1 = 1
(i) a+a = 1,
(k) (a) = a
a a=0
244
comut
(b) a + b == a b a b === b a b a = b + a.
def
(f ) a + a = a a a a ===== a2 = a.
def
def
5.4
Algebras
Booleanas
Deni
c
ao 5.34 Um conjunto A, junto com duas operacoes binarias
+ e , e uma
algebra booleana se, e somente se, verica os seguintes
axiomas:
(A.1) (Comutatividade). a, b A, a+b = b+a, ab = ba.
(A.2) (Existencia de elementos neutros). 0A , 1A A, tais
que a + 0A = a e a 1A = a, a A. Em geral, denota-se 0A e
1A apenas por 0 e 1, respectivamente, se o anel A estiver claro no
contexto.
(A.3) (Distributividade). Para todos a, b, c A, (a + b)c =
ac + bc e a + bc = (a + b)(a + c).
(A.4) (Existencia do complemento). Para cada a A, b A,
tal que a + b = 1 e a b = 0. O elemento b sera denotado por a.
Observa
c
ao 5.35 (1) O conjunto de axiomas apresentados na
denicao anterior se deve a Huntington (1904). Entretanto, existem outros conjuntos de axiomas (equivalentes a estes) denidores
de algebra booleana, a saber: os axiomas devido a George Boole
(1854).
(2) O conjunto de axiomas apresentado e independente, isto e,
nao existem axiomas que possam ser derivados dos demais. Tambem
sao consistentes, ou seja, nao podemos derivar um absurdo destes
An
eis e Algebra
de Boole
245
axiomas. Para exemplicar em que consiste um axioma ser dependente dos demais, temos que a comutatividade da adicao e conseq
uencia dos demais axiomas em um anel unitario, pois: para
todos a, b A, tem-se:
(a + b)(1 + 1) = a(1 + 1) + b(1 + 1) = a + a + b + b.
E por outro lado
(a + b)(1 + 1) = (a + b)1 + (a + b)1 = a + b + a + b.
Da, cancelando a `a esquerda e b `a direita, obtemos: a + b = b + a.
Assim, temos um exemplo de um conjunto de axiomas sobre um
conjunto que n
ao e independente.
(3) Em geral, exigimos que 0A e 1A sejam diferentes para que
A seja diferente do anel nulo; A = {0} (Exerccio).
Exemplo 5.36 Sejam U = e A = (U ). Ent
ao (A, , ) e
algebra booleana, onde 0 = e 1 = U, a = U \ a (Prove
estas armacoes usando diagramas de Euler-Venn).
Deni
c
ao 5.37 Dual de uma Proposic
ao
Dada uma proposicao p em uma algebra booleana, a proposicao
dual de p e uma proposicao q obtida de p, trocando + por e viceversa e 1 por 0 e vice-versa, onde eles ocorrerem na proposicao
p.
Exemplo: 0+a = a e a dual de 1a = a. Claro que 1a = a
tambem e a dual de 0 + a = a.
Teorema 5.38 Princpio da Dualidade.
O dual de qualquer teorema numa a
lgebra booleana tambem
e um teorema. Em outras palavras: Toda proposic
ao ou identidade algebrica dual de outra proposic
ao ou identidade algebrica
verdadeira permanece verdadeira.
Alem disso, se um teorema e consequencia de taise tais
proposic
oes, o dual se demonstra do mesmo modo, dualizando cada
passo dado na demonstrac
ao.
Exemplo 5.39 O dual de
a + ab = a e a(a + b) = a.
246
Agora, daremos os principais teoremas de uma algebra booleana. Cada proposicao contera uma proposicao e sua dual com
excecao de uma proposicao que sera sua propria dual. Claro que,
provada uma proposicao, sua dual tambem cara provada devido
ao princpio da Dualidade.
A ttulo de ilustracao da natureza da dualidade, na pr
oxima
proposicao faremos as duas demonstracoes. Deve-se observar que
os passos em cada demonstracao sao duais dos passos da outra
demonstracao e, para cada passo, o mesmo postulado ou teorema
e usado como justicativa.
Proposi
c
ao 5.40 Idempotencia
Para todo elemento a de uma
algebra booleana A, tem-se: a +
a = a e a a = a.
Demonstracao:
a =
=
=
=
=
a+0
a + a.a
(a + a)(a + a)
(a + a).1
a+a
A.2
A.4
A.3
A.4
A.2
a =
=
=
=
=
a.1
a(a + a)
a.a + a.a
a.a + 0
a.a
A.2
A.4
A.3
A.4
A.2
Proposi
c
ao 5.41 Identidades
Para todo a pertencente a A,
Demonstracao:
A.2
a + 1 = 1 e a 0 = 0.
A.3
A.4
A.2
A.4
A.3
Prop.5.41
a(a + b) = a.
A.3
a + ab == a 1 + ab == a(1 + b) ==== a 1 == a.
An
eis e Algebra
de Boole
247
Proposi
c
ao 5.43 Em qualquer
algebra booleana A, cada uma das
operac
oes bin
arias + e e associativa, isto e, para todos a, b, c
A, tem-se:
(a + b) + c = a + (b + c) e (ab)c = a(bc).
Demonstracao: Usaremos um artifcio antes:
(1)
a
a(a + c)
(a + ab)(a + c)
a + (ab)c
Prop.5.42
Prop.5.42
Prop.5.42
A.3
(a + a)(a + bc)
1.(a + bc)
a + bc
(a + b)(a + c)
[(a + b).1](a + c)
[(a + b)(a + a)](a + c)
[a + (ab)](a + c)
a + (ab)c
distr.
A.4
A.2
distr.
A.2
A.4
distr.
distr.
[a + a(bc)].[a + a(bc)]
a.a + a(bc)
0 + a(bc)
a(bc)
=
=
=
=
[a + (ab)c].[a + (ab)c]
a.a + (ab)c
distr.
0 + (ab)c
A.4
(ab)c
A.2
Observa
c
ao 5.44 Assim, nao ha ambiguidade ao se escrever abc,
uma vez que (ab)c = a(bc).
248
Proposi
c
ao 5.45 O elemento a associado ao elemento a em uma
algebra booleana A e u
nico.
Demonstracao: Suponhamos que existem b, c A, tais que
a + b = 1, ab = 0 e a + c = 1, a.c = 0. Ent
ao
b = b.1 = b(a + c) = ba + bc = 0 + bc = ac + bc = (a + b)c = 1.c = c.
Corol
ario 5.46 Para todo elemento a de uma
algebra booleana A,
temos (a) = a.
Demonstracao: Basta ver que: a + a = 1 e a a = 0. Logo,
(a) = a, por A.4.
Corol
ario 5.47 Em toda
algebra booleana 0 = 1 e 1 = 0.
Demonstracao: Segue das denicoes. Pela Proposicao 5.45 ha
unicidade.
Proposi
c
ao 5.48 Para todos elementos a, b de uma a
lgebra booleana A, tem-se: ab = a + b e a + b = a b
distr.
Demonstracao: ab + a + b == (a + a + b)(b + a + b) = (1 +
distr.
b)(1 + a) = 1 1 = 1 e ab (a + b) == ab a + ab b = aa b + a bb =
0 b + a 0 = 0 + 0 = 0. Por denicao, ab = a + b e, pelo Teorema
5.38, a proposicao esta provada.
5.4.1
Ordens
A.3
Prop.5.41
1.b = b.
(b) (c) a + b = a + (a + b) = (a + a) + b = 1 + b = 1 (Justique!).
An
eis e Algebra
de Boole
249
hip.
250
z A.
y + z,
x.
(d)
0x
hip.
(ii) y
x = yz
1, x A.
hip.
y.
Lema5.49(c)
y ==== x + y = 1 [0 = 1 = x + y = (x)y =
Lema5.49(d)
y(x)] ==== y x.
(d) Desde que 0 x = 0 e x.1 = x, pelo Lema 5.49(a) temos que
0 x 1.
Corol
ario 5.55 Para quaisquer x, y em uma
algebra booleana A,
existem sup{x, y}, inf{x, y} e sup{x, y} = x + y, inf{x, y} = x y.
Alem disso, para todos x1 , x2 , . . . , xn A (n 1), temos que
n
n
xi = sup{x1 , x2 , . . . , xn } e
xi = inf{x1 , x2 , . . . , xn }.
i=1
i=1
An
eis e Algebra
de Boole
251
Nossa intencao de agora em diante e provar este Teorema demonstrando que toda algebra de Boole e isomorfa a (B n , +, .)
para algum n 1, n natural. A vers
ao original pode ser vista no
exerccio 10. O teorema sera provado no caso de A ser atomica.
Dizer que duas algebras sao isomorfas signica que existe uma
bijecao entre elas que preserva as estruturas algebricas envolvidas,
no caso: adicao, multiplicacao e complementacao. Isto signica que
a bijecao comuta com as operacoes das algebras.
Deni
c
ao 5.56 Um
atomo em uma algebra booleana A e um elemento a = 0, tal que, para todo b A, 0 b a, ent
ao b = 0 ou
b = a (ou seja: b A \ {0}, ab = 0, ou ab = a). Isto arma que
a e um atomo, se entre 0 e a nao existe elemento.
ao
Proposi
c
ao 5.57 (1) Se a e um
atomo e a x1 + + xn , ent
a xi para algum i.
(2) Se a e um
atomo, ent
ao, para todo b A, a
b ou
(exclusivo) a b.
ao axi = inf{a, xi } = 0, para
Demonstracao: (1) Se a xi , ent
todo i = 1, 2, . . . , n. Da a = a(x1 + + xn ) = ax1 + + axn =
0 + + 0 = 0, o que e absurdo.
(2) Se a b, ent
ao ab = 0, pois a e um atomo. Trocando b por
b temos a(b) = 0. Por denicao (item (d)) a b.
Exemplo
5.58 (1) Para qualquer U = , os atomos de
((U ), , ) sao os conjuntos
arios {x} U ;
unit
n
(2) Os atomos em (B , , ) sao as n-uplas (x1 , x2 , . . . , xn ) B n
com exatamente um dos xi igual a um.
Deni
c
ao 5.59 Uma algebra booleana A e dita at
omica se, para
todo elemento nao nulo bA, existe um atomo aA que precede b.
Proposi
c
ao 5.60 Toda
algebra booleana nita e at
omica.
Demonstracao: Seja b = 0. Se b n
ao e um atomo, existe
b1 , 0 b1 b e, portanto, b1 = bb1 . Se b1 nao e um atomo,
ent
ao existe b2 , 0 b2 b1 b. Da b2 = b2 b1 = b2 b1 b.
Continuando, encontramos uma cadeia 0 bn b1 b0 = b,
onde n 1 e bk = bk bk1 b1 b, k = 1, . . . , n. Como A e nita,
esta cadeia estaciona em algum n e, neste caso, bn sera um atomo.
252
Pro5.57(2)
T
\
U
ou
u
U
\
T.
Da
t
0
0
0 =
+0 = 0
t0 ( tTx t) = t0 x = t0 ( uU u) = uU t0 u = 0 +
=
u
(
(pois 0 e o
nmo de dois
a
tomos
distintos)
ou
u
0
0
uU u) =
u0 x = u0 ( tTx t) = tTx u0 t = 0 + + 0 = 0. Em qualquer
caso temos uma contradicao.
de todos os
Corol
ario 5.62 Sendo S = {ai , i I} o conjunto
a
tomos
de
A
e
S
=
{{i},
i
A
iN
{i}
=
N
.
iN
Observe o carater nao nito de .
An
eis e Algebra
de Boole
253
Deni
c
ao 5.64 Sejam (A, , )) e (D, +, .) duas algebras booleanas. Um isomorsmo de A em D e uma aplicacao: : A D
que satisfaz:
(i) e bijetora,
(ii) (xy) = (x) + (y),
(iii) (x ) y) = (x).(y), (iv) (x) = (x) ,
onde x e y sao os complementos de x e y em A e D, respectivamente.
Neste caso, dizemos que as algebras A e D sao isomorfas e
escrevemos A + D ou A D.
Teorema 5.65 Teorema de Stone (Caso Finito).
Seja (A, , )) uma
algebra de Boole nita. Ent
ao A e isomorfa a
n
(B , +, ), onde n e o n
umero de a
tomos de A.
Demonstracao: Como A e nita o conjunto S de atomos de
A tambem e nito. Seja S = {a1 , . . . , an }. Pelo Corolario 5.62
todo elemento x de A se escreve na forma x = 1 a1 n an .
Denimos : A B n por (x) = (1 , . . . , n ) e mostraremos
que e um isomorsmo de algebras.
Esta funcao e claramente sobrejetora e, devido ao Corolario
5.62, e tambem injetora. Observemos que a2i = ai e ai ) aj = 0 se
i = j. Assim:
x = 1 a1 n an , onde i = 1 + i em B, e, se y =
ao:
1 a1 n an e outro elemento de A, ent
def.
(xy) = ((1 + 1 )a1 (n + n )an ) ==
(1 + 1 , . . . , n + n ) = (1 , 2 , . . . , n ) + (1 , 2 , . . . , n ) em
B n . Logo, (xy) = (x) + (y).
Tambem:
n
n
n
i ai
j aj =
i j (ai )aj ) =
(x)y) =
i=1
j=1
(i .i )ai = (1 .1 , . . . , n .n ) =
i,j=1
i=1
(1 , . . . , n ).(1 , . . . , n ) = (x).(y),
onde (*) segue da observacao acima. Finalmente
(x) = (1 a1 n an ) = (1 a1 n an ) =
= (1 , . . . , n ) = (1 , . . . , n ) = (x) . Logo, e um isomorsmo
254
Exerccios
(1) (a) Verique que os conceitos de uniao de elementos e complemento de elementos em um anel booleano coincidem com os conceitos de uniao de subconjuntos e complementar de subconjuntos
quando o anel booleano e o anel ((U ), , ) do exemplo 5.30(B).
(b) Faca as tabuadas do anel (B, , ), onde B = {0, 1}, e a tabuada
de (B, +). Este anel e booleano?
(2) Faca as tabuas das operacoes da algebra booleana (B, +, ),
onde B = {0, 1}.
(3) Use a Proposicao 5.41 e prove que 0A = 1A se, e somente se,
A = {0}, qualquer que seja a algebra booleana A.
(4) Seja (A, , ) um anel booleano, dena a + b = a b ab.
Mostre que (A, +, ) e uma algebra booleana, onde a = 1 a.
(5) Agora, faca a recproca do exerccio (4), ou seja, a partir de
uma algebra booleana (A, +, ), dena a b = ab + ab e mostre
que (A, , ) e um anel booleano.
Como consequencia dos exerccios 4 e 5 tem-se que algebras e
aneis booleanos estao em correspondencia um a um. Voce consegue provar isto?
(6) (a) Considere o conjunto dos divisores positivos de 30;
D+ (30) = {1, 2, 3, 5, 6, 10, 15, 30}, com as operacoes: a + b =
mmc(a, b) e a b = mdc(a, b). Verique que (D+ (30), +, ) e uma
algebra de Boole e, para a, b D+ (30), a b se, e somente se, a|b.
(b) Considere n( 1) primos distintos 2 a 2; p1 , . . . , pn e a =
p1 p2 pn . Mostre que D+ (a), com as operacoes de mmc e mdc,
e uma algebra booleana.
Sugestao Sejam: b = p1 1 pnn , c = p11 pnn , d = p11 pnn ,
onde i , i , i , B = {0, 1}, i. Para provar, por exemplo, que
An
eis e Algebra
de Boole
255
A ({ai , i I})
x (x) = {ai , tal que ai x}
256
5.5
Algebras
das Fun
c
oes Booleanas
Deni
c
ao 5.67 Seja A uma algebra booleana. A
algebra das func
oes booleanas n-arias sobre A e gerada pelas funcoes projecoes Pni : An A, denida por: Pni (x1 , . . . , xn ) = xi , e pelas
funcoes constantes h(x1 , . . . , xn ) = a A, fazendo uso das operacoes
An
eis e Algebra
de Boole
257
f (1, 1) = 1.1 = 1 = 0.
258
5.5.1
As Formas Can
onicas
eB n
An
eis e Algebra
de Boole
259
un1
+
g(u)xu1 1 xu2 2 xn1
f (x) = xn
uB n1
+ xn
vn1
h(v)xv11 xv22 xn1
=
vB n1
n1 1
g(u)xu1 1 xn1
xn +
(e1 ,...,en )B n
n1 0
h(v)xv11 xn1
xn =
Observa
c
ao: A expressao de f no Teorema 5.69 e dita forma
disjuntiva normal e sera vista com mais detalhe, adiante, quando
tambem, trataremos da forma conjuntiva normal de f qualquer que
seja a funcao f : An A.
260
x
0
0
1
1
y f (x, y)
0
a
1
0
0
a
1
1
Solucao
Na forma canonica f (x, y) = f (0, 0)x.y + f (1, 0)xy + f (0, 1)xy +
f (1, 1)xy. Substituindo os valores dados, obtemos: f (x, y) = ax.y+
axy + xy.
Observemos que, sendo dados os valores da funcao nos vertices (ou seja: nos pontos (e1 , . . . , en ) de B n An ), a funcao que
se obtem e u
nica. No entanto, se sao dados valores que a funcao
assume em pontos diferentes destes, podem haver varias funcoes
ou, ate mesmo, nenhuma funcao booleana que satisfaca aquelas
condicoes dadas.
A tecnica usada para se determinar tais funcoes, que assumem
valores previamente dados em alguns pontos distintos dos vertices,
e a tecnica do coeciente indeterminado, ou seja: resolve-se um
sistema de m equacoes e n vari
aveis sobre a algebra booleana.
Para a resolucao normalmente se usam as propriedades da algebra
como complementacao, idempotencia, etc. Por exemplo, multiplicando cada equacao por uma vari
avel ou seu complemento, obtemse outras equacoes geralmente mais simples. O seguinte exemplo
ilustra esta tecnica.
(2) De uma funcao booleana, de duas vari
aveis, denida em A2 ,
onde A = {0, a, a, 1}, tal que
An
eis e Algebra
de Boole
x
0
1
a
a
y f (x, y)
a
a
1
1
a
a
1
a
261
Solucao
A forma canonica de f e f (x, y) = f (1, 1)xy + f (1, 0)xy +
f (0, 1)xy + f (0, 0)x.y. Substituindo os valores dados, obtemos as
equacoes:
( )
a = f (0, a) = f (0, 1)a + f (0, 0)a
1 = f (1, 1),
e a = f (a, a) = f (1, 0)a + f (0, 1)a
( )
a = f (0, 1) = f (1, 1)a + f (0, 1)a
( )
Multiplicando ( ) por a, obtemos: a = f (0, 1)a, ou seja: a =
min{f (0, 1), a}. Logo
f (0, 1) = a ou f (0, 1) = 1,
(I)
262
An
eis e Algebra
de Boole
Z8
i
0
1
2
3
4
5
6
7
B3
(e1 e2 e3 )
000
001
010
011
100
101
110
111
263
pi
x1 .x2 .x3
x1 .x2 x3
x1 .x2 .x3
x1 .x2 .x3
x1 .x2 .x3
x1 .x2 .x3
x1 .x2 .x3
x1 .x2 .x3
si
x1 + x2 + x3
x1 + x2 + x3
x1 + x2 + x3
x1 + x2 + x3
x1 + x2 + x3
x1 + x2 + x3
x1 + x2 + x3
x1 + x2 + x3
n 1
2
f (e)pe (X)
f (e)pe (X)
eB n
e=0
n 1
2
f (e) + se (X) ,
e=0
264
De um modo grosseiro, podemos dizer que f e uma soma de produtos (de funcoes) e tambem e um produto de somas (de funcoes).
Abreviadamente, f.d.n. e f.c.n. signicar
ao forma disjuntiva
normal e forma conjuntiva normal, respectivamente.
Observemos que, como f (e) e zero ou um, na f.d.n. de f
so guram as funcoes minimais pe (X), para as quais f (e) = 1.
Dualmente cada um dos fatores que aparecem na f.c.n. de f sera
suprimido se f (e) = 1. Isto porque o fator f (e)+se (j) = 1+se (j) =
sup{1, se (j)} = 1 em B = {0, 1}. Antes de demonstrar o teorema,
vamos `a um exemplo.
Exemplo 5.76 Vamos achar a f.d.n. e a f.c.n. da funcao booleana
f : B 3 B dada pela tabela:
3
Z8
B
e e1 e2 e3 f (e)
0
000
0
1
001
1
010
1
2
011
0
3
4
100
0
5
101
0
6
110
0
7
111
1
A f.d.n. de f e dada por:
f (X) = f (0)p0 (X)+f (1)p1 (X)+f (2)p2 (X)+f (3)p3 (X)+
+f (4)p4 (X) + f (5)p5 (X) + f (6)p6 (X) + f (7)p7 (X)
que, pela observacao acima, nos da f (X) = p1 (X)+p2 (X)+p7 (X).
Pela tabela do exemplo anterior f (X) = x1 .x2 x3 +x1 x2 x3 +x1 x2 x3 .
A f.c.n. de fe dada por:
f (X)
s0 (X) f (1) +
s1 (X) f (2) +s2 (X) f (3) +
= f (0) +
s3 (X) f (4) + s4 (X) f (5) + s5 (X) f (6) + s6 (X) f (7) + s7 (X) .
Novamente, pela observacao acima, temos f (X) = s0 (X) s3 (X)
An
eis e Algebra
de Boole
265
2n 1
e=0
266
0)(0 + y + z) = (x + y + zz)(xx
( + y + z) == (x + y + z)(x + y +
z)(x + y + z)(x + y + z) = (0, 1, 5).
Observe aqui tambem a simplicacao feita s1 (x)2 = s1 (x).
Estas sao as f.d.n. e f.c.n. de f , respectivamente.
Assim, no caso da f.d.n. de f, cuja expressao de f e uma soma,
onde cada parcela e um produto xi1 xi2 xik , na falta de xj e xj na
parcela acima, escrevemos esta parcela na forma xi1 xi2 xik (xj +
xj ) (desde que xj + xj = 1 em B) e aplicamos a lei distributiva
obtendo xi1 xi2 xik xj + xi1 xi2 xik xj ). Do mesmo modo, para
a f.c.n. de f , na falta de xj e xj em cada fator (xi1 + + xik )
do produt
orio, colocamos (xj xj + xi1 + + xik ) e aplicamos a
lei distributiva obtendo (xj + xi1 + + xik )(xj + xi1 + + xik ).
Com isto, as variaveis xj e xj , que nao estavam presentes nesta
parcela (fator), passam a estar presentes. Isto deve ser feito para
cada vari
avel que nao esteja presente em cada uma das parcelas (fatores). Observe ent
ao que cada parcela na f.d.n. (ou fator na f.c.n.)
de f produz duas parcelas (respectivamente dois fatores) com a
vari
avel xj ou xj acrescentadas. Com este processo, as funcoes
minimais (maximais) aparecerao na expressao de f, resultando em
An
eis e Algebra
de Boole
267
5.5.2
Algebra
das Fun
co
es Booleanas
268
Proposi
c
ao 5.78 (An (F ), +, ) e uma
algebra booleana.
Demonstracao: Para f, g An (F ), temos:
(f + g)(X) = f (X) + g(X) = g(X) + f (X) = (g + f )(X) e
(f.g)(X) = f (X).g(X) = g(X).f (X) = (g.f )(X).
Em ambos os casos, a primeira igualdade segue da denicao, a
segunda igualdade segue da propriedade comutativa em A e depois
segue de denicao novamente. Logo, f + g = g + f e f.g = g.f
para todas funcoes f, g An (F ).
As funcoes : An A e IA : An A dadas por (X) = 0
e IA (X) = 1, para todo X An , sao os elementos neutros
para as operacoes de adicao e multiplicacao denidas sobre An (F ),
respectivamente. Verique!
Usando o fato de que A e uma algebra booleana, tem-se:
(f + g)h (X) = (f + g)(X).h(X) = f (X) + g(X) .h(X) =
f (X).h(X) + g(X).h(X) = (f.h)(X) + (g.h)(X) = (f.h + g.h)(X).
Assim, (f + g).h = f.h + g.h, f, g, h An (F ). Do mesmo
modo, prova-se que: f + gh = (f + g)(f + h), f, g, h An (F ).
Tendo em vista os exerccios (4) e (5) da secao anterior e denicao 5.32, existe o anel de funcoes booleanas correspondente `a algebra
de funcoes booleanas que sera denotado por (An (F ), , ), como
e de praxe. Tambem e claro que o Teorema 5.33 e satisfeito para
esse particular par de algebra e anel booleanos.
Agora, enumeremos uma lista de propriedades satisfeitas pelo
anel (An (F ), , .) e pela algebra (An (F ), +, ), correspondente
(Seria bom que o leitor as provasse).
An
eis e Algebra
de Boole
269
Propriedades
(a) f g = g f
(b) f (gh) = (f g)h
(c) f (gh) = f.gf.h
(d) f = f
(e) f f =
(f ) f g = f h g = h
(g) f IA = f , f IA = f (h) f g = h f=g*h=gh
(i) (f g) = f g = f g
(j) f + g = f g f.g
(k) f +g = f g f.g =
n
,n
(l)
i=1 fi =
i=1 fi fi .fj = , 1 i < j n.
Deni
c
ao 5.79 Dizemos que as funcoes f e g sao ortogonais se
f.g = , ou equivalentemente, f + g = f g.
Como os polinomios minimais pi , pj sao ortogonais para i = j,
a expressao de uma funcao booleana na forma disjuntiva normal
(Teorema 5.69) tanto pode ser escrita como
f=
n 1
2
2 1
f (i)pi como, f = i=0
f (i)pi ,
i=0
270
An
eis e Algebra
de Boole
271
Deni
c
ao 5.82 Express
ao Par e Express
ao Impar
Dizemos que a funcao booleana f sobre o anel booleano tem express
ao mpar, se na expressao canonica de f = eB n ge le , ocorrer
l0 = 1. Se nao ocorrer l0 = 1 na forma normal de f, dizemos que
f tem express
ao par.
Exemplo: Se a f.d.n. de f for f (x, y) = x.y, ent
ao a forma normal
de f sobre o anel booleano correspondente e f (x, y) = (1 x)(1
y) = 1 x y xy = l0 l2 l1 l3 . Logo f (x, y) tem expressao
mpar.
O leitor poder
a ver, no pr
oximo item, como se constroi o circuito
de uma funcao booleana. O circuito da funcao f dada acima e:
xy
g(x,y)+1=f(x,y)
x
Figura 5.3: Express
ao mpar para f.
onde g(x, y) = x y xy.
5.5.3
Representa
c
ao de Fun
c
oes Booleanas por Circuitos
272
exclusiva (esta u
ltima e denotada por e corresponde `a adicao
do anel booleano correspondente a` algebra booleana em questao,
como visto anteriormente). Para exemplicar um pouco mais a
operacao ou-exclusivo, observe que na tabela de adicao do anel
booleano (B, , ), B = {0, 1}, temos a b = 1 se, e somente
se, a ou (exclusivo) b e 1, a, b B = {0, 1}. Por outro lado,
a + b = 1 se, e somente se, ou a = 1 ou b = 1 (Agora faca as
tabuas e observe).
Assim, para entradas a e b, as sadas a b, a + b e a b
sao simbolizadas respectivamente por:
a+b
a.b,
b
a+b
An
eis e Algebra
de Boole
273
a
a.b
a.b
b
a
a+b
a+b
Deni
c
ao 5.83 Um circuito booleano e a realizacao de uma funcao
booleana f em n vari
aveis x1 , . . . , xn sobre a algebra booleana
A, ou seja, e um arranjo de sucessivas combinacoes em serie (o que
equivale `a porta e) e em paralelo (o que equivale `a porta ou) e
complementacoes de n entradas x1 , x2 , . . . , xn , de modo que
tenhamos sada f (x1 , . . . , xn ).
274
x
y
x
xy
xy
f(x,y,z)
xz
g(x,y)
xy
xy
x
x+y=h(x,y)
y
Figura 5.8: Circuito da Funcao h.
que e um circuito mais simples e mais economico.
5.5.4
Simplica
c
ao e Mapas de Veitch-Karnaugh
Utilizando as propriedades de algebra booleanas, podemos simplicar quaisquer funcoes booleanas, ou express
oes booleanas em n
vari
aveis, do mesmo modo que zemos para simplicar proposicoes
compostas. Por exemplo, a expressao booleana P = XY Z +
An
eis e Algebra
de Boole
275
276
formula P = XY + X + Y e
X
Y
XY+Y+X
eB n
An
eis e Algebra
de Boole
x
1
1
0
0
y xy xy + y
1 1
1
0 0
0
1 0
1
0 0
0
277
x f (x, y)
0
1
0
0
1
1
1
1
X a1 Y a2 ,
y
1
1
0
0
1
1
0
0
z xz yz xz + yz
1 1 1
1
0 0 0
1
1 1 0
0
0 0 0
1
1 0 1
1
0 0 0
1
1 0 0
1
0 0 0
1
z xz g(x, y, z)
0 0
1
1 1
1
0 0
0
1 1
1
0 0
1
1 0
1
0 0
1
1 0
1
278
XY
XY
XY
XY
An
eis e Algebra
de Boole
279
um lado do ret
angulo b
asico comum). Por exemplo, a celula que
representa XY e adjacente `a celula que representa o polin
omio
minimal XY e tambem e adjacente `a celula que representa o polin
oltimas celulas nao sao adjacentes,
mio minimal X Y . Estas duas u
pois suas celulas nao tem um lado comum, equivalentemente, nao
diferem apenas por uma literal. As literais X, Y, X, Y sao representadas por regioes de duas celulas adjacentes:
280
Y
X
X
X
X+ Y
Y
Figura 5.14:
que corresponde `a simplicacao de R(X, Y ) e e bem mais simples
e economico que o circuito correspondente a R(X, Y ).
An
eis e Algebra
de Boole
281
X
Y
X
Y
X
XY
XY
R(X,Y)=XY+XY+XY
XY
Y
Figura 5.15:
Finalmente, observemos que, se dois polinomios minimais ocorrem em celulas adjacentes, eles podem ser combinados e, com isto,
uma vari
avel e eliminada da expressao. Por exemplo: XY + XY =
X(Y + Y ) = X.1 = X. Alem disso, se todas as celulas basicas
foram marcadas e porque os quatro polin
omios minimais ocorreram
na expressao booleana. Logo, eles podem ser combinados resultando a expressao booleana 1. De fato, XY + XY + XY + X Y =
X(Y + Y ) + X(Y + Y ) = X.1 + X.1 = X + X = 1.
282
Y
,
Celula X
Celula Y
Celula Y
Celula X
Y
A
X
YZ
YZ
YZ
YZ
XYZ
XYZ
XYZ
XYZ
XYZ
XYZ
XYZ
XYZ
I
XYZ
A=A
XYZ
Z II
II
B=B
An
eis e Algebra
de Boole
283
Se, numa f
ormula booleana, ocorrem polin
omios minimais com
celulas adjacentes, a u
nica literal distinta destas celulas adjacentes
e eliminada na soma. Por exemplo, XY Z + X Y Z = XZ, cuja
regi
ao corresponde `a interseccao das regioes das literais X e Z.
284
YZ
YZ
YZ
YZ
YZ
XYZ
YZ
XZ
YZ
YZ
YZ
XZ
X
X
YZ
YZ
YZ
*
*
An
eis e Algebra
de Boole
a
1
1
1
1
0
0
0
0
b
1
1
0
0
1
1
0
0
285
c f (a, b, c)
1
1
0
0
1
1
0
1
1
1
0
0
1
1
0
0
Como f (1, 1, 1) = 1, o termo abc deve ocorrer na forma disjuntiva normal de f. Como f (1, 0, 1) = 1, o termo abc deve ocorrer
ao (a, b, c) = (1, 0, 1)
na f.d.n. de f, pois, quando a = b = c = 1, ent
e abc = 1.1.1 = 1. De modo analogo, os termos abc devem ocorrer
ao f (a, b, c) =
na f.d.n. de f, pois, quando a = b = c = 1, ent
f (1, 0, 0) = 1 e abc = 1.1.1 = 1. Enm, a forma disjuntiva normal
de f e a soma dos polinomios minimais, onde f tem o valor 1, ou
seja: f (a, b, c) = abc + abc + abc + abc + abc e a formula booleana
correspondente a f e F (X, Y, Z) = XY Z +XY Z +X Y Z +XY Z +
X Y Z.
Teorema 5.89 Seja F (X1 , X2 , . . . , Xn ) uma f
ormula booleana asn
ao a forma disjuntiva
sociada `
a func
ao booleana f : B B. Ent
normal F e dada por
f (a1 ,a2 ,. . . ,an).X1a1X2a2 Xnan ,
F(X1 ,X2 ,. . . ,Xn) =
(a1 ,...,an )B n
onde f (a1 , a2 , . . . , an ) = 1.
Mapas de Veitch-Karnaugh para 4 Vari
aveis
O processo para obter os mapas V-K para quatro vari
aveis e
o mesmo processo anterior. Por exemplo, as regioes de A e A
tem cada uma delas a metade da regiao total e suas regioes nao se
cruzam, mas cruzam com todas as outras regioes das outras celulas.
Assim por diante.
Eles tem a conguracao que segue, onde so foram indicadas as
celulas basicas da diagonal.
286
C
A
C
B
ABCD
ABCD
ABCD
ABCD
D
An
eis e Algebra
de Boole
C
P
A
287
,
P
B
C
II
ABCD
ABCD
I ABCD
A
ABCD
Q
II
C1
P=P
III
B
,
Q
C1
Torcer
I
III
C2
Q=Q
C2
Com isto, identicando as curvas C1 e C2 preservando a orientacao, obtem-se uma gura dita Toro de genus 1 ( o pneu).
288
a b c d f (a, b, c, d)
0 0 0 0
0
0 0 0 1
1
0 0 1 0
1
0 0 1 1
1
0 1 0 0
0
0 1 0 1
1
0 1 1 0
0
0 1 1 1
1
1 0 0 0
1
1 0 0 1
1
1 0 1 0
0
1 0 1 1
1
1 1 0 0
1
1 1 0 1
1
1 1 1 0
0
1 1 1 1
1
Solucao: Sabendo-se que o polin
omio minimal Aa B b C c Dd ,
onde f (a, b, c, d) = 1, ocorre na f.d.n. da f
ormula booleana
F (A, B, C, D) associada `a funcao f, temos que F = A B C D +
A B C D+A B C D+A B C D+A B C D+A B C D+
A B C D + A B C D + A B C D + A B C D + A B C D.
Todos estes polinomios minimais estao identicados no mapa
V-K que segue.
C
A
1
C
1
1
1
1
1
1
B
D
Figura 5.23:
Podemos notar que temos a regiao D totalmente preenchida
(uma oitava). As quadras e duplas desta regi
ao nao precisam ser
consideradas (Por que?). Temos a quadra circulada no mapa que
An
eis e Algebra
de Boole
289
d
a a regiao A interseccao C. Logo, e AC, e a dupla circulada no
mapa e a intesecao das regioes A, B e C. Logo, e A B C. Somando
os resultados, temos: F = A B C+AC+D e tambem f (a, b, c, d) =
a b c + ac + d.
Finalmente, tambem usam-se os mapas de V-K para simplicar
expressoes com mais de 4 variaveis, e o processo vai se complicando
mais. Isto pode ser visto em livros sobre Circuitos Logico, quanto
a nos, paremos por aqui.
Exerccios
(1) Construa todas funcoes booleanas binarias sobre A = {0, a,
a, 1} que satisfazem as condicoes dada na tabela:
x
0
1
a
a
y
a
1
a
1
f (x, y)
a
a
0
0
290
X
Y
X
f(x,y,z)
Z
Y
Z
X
Z
X
g(x,y,z)
Y
Y
Z
funcoes booleanas de B 2 em
n
funcoes booleanas
An
eis e Algebra
de Boole
291
X
Y
Z
A(x,y,z)
Y
X
Z
X
Z
X
Y
B(x,y,z,w)
W
W
Y
Figura 5.25: .
(10) Escreva a funcao f (x) = x1 x2 x1 x3 x2 x3 x1 x2 x3 , sobre
a algebra booleana (B 3 (F ), +, ). Observacao: a b = ab + ab.
(11) Ache as f.c.n. e f.d.n. de
(i) f (x) = x1 x2 x3 x4 x1 x2 x3 x4 e
(ii) f (x, y, z) = xz + y.
(12) Obtenha a representacao normal de
(
(i) f (x) = (0, 1, 5, 6), onde x = (x1 , x2 , x3 ) e
(ii) g(x) = x1 x2 + x2 x3 + x1 x3 .
(13) Determine todos os valores de (x
1 , x2 , x3 , x4 ) que satisfacam
(x1 x2 + x3 )x4 = 1
(x1 x2 + x3 )x4 = 1
e (ii)
(i)
(x1 + x4 + x2 )x3 = 0
(x2 x4 + x1 .x3 )x4 = 0.
(14) Obtenha circuitos mais economicos de cada item do
exerccio 6.
(15) Construa um circuito correspondente a` funcao f (x1 , x2 , x3 ) =
x1 x2 + x2 (x1 + x3 ).
(16) Considere a algebra booleana A = {0, a, a, b, b, c, c, 1}
292
Captulo 6
NOC
OES
DE COMPUTABILIDADE
6.1
Enumerabilidade e Cardinalidade
294
6.1.1
Deni
c
ao 6.4 Seja In = {1, 2, . . . , n}, n > 0. Um conjunto A e
dito nito se ele e vazio ou existe uma funcao bijetora f : In A,
para algum n > 0 em N. Denotando f (i) por ai , tem-se que A =
{a1 , a2 , . . . , an }. Caso contrario, A e dito innito.
Deni
c
ao 6.5 Um conjunto A e dito enumer
avel se A e equipotente a N, ou seja, se existe uma funcao bijetora f : N A; f (i) =
ao para A.
ai . Neste caso, a funcao f e dita uma enumerac
Um conjunto e dito cont
avel se ele e nito ou enumer
avel.
Exemplo 6.6 (1) N e enumeravel, pois a funcao identidade de
N, IdN : N N, IdN (i) = i, enumera N.
(2) P = {0, 2, 4, . . .} N e enumeravel, pois f : N P, dada
por f (i) = 2i, e uma bijecao.
(3) O conjunto dos n
umeros inteiros Z e enumeravel, pois:
n
se n : e par
2,
f : N Z, dada por f (n) =
n+1
2 , se n : e mpar
e bijetora. (Prove!).
(4) A = {0, 1, 1/2, 1/3, . . .} e enumeravel, pois: f : N A
dada por: f (0) = 0, e f (i) = 1/i , i = 0, e uma funcao bijetora.
(5) Se A e enumeravel, ent
ao A {b} = {(a, b); a A} e
enumeravel. De fato, por hip
otese existe : N A: bijetora. Da
f : N A {b}, f (n) = ((n), b) e uma enumeracao de A {b}.
No
c
oes de Computabilidade
295
(6) 0, 1, 2, 4, 3, 5, 6, 8, 10, 7, 9, 11, 12, 14, 16, 18, . . . e uma enumeracao de N, pois ha uma lei de formacao para esta reenumeracao
dos n
umeros naturais: em ordem crescente vamos colocando o
primeiro n
umero natural par, depois o primeiro n
umero natural
mpar, segue-se os dois proximos pares e os dois proximos mpares,
depois tres n
umeros pares e tres n
umeros mpares, assim por diante, sempre em ordem crescente. Com esta lei de formacao, sabemos que posicao ocupa qualquer n
umero natural n dado. Por
exemplo o n
umero 7 ocupa a decima posicao. Agora, a seq
uencia
0, 2, 4, 6, 8, . . . , 1, 3, 5, 7, 9, . . . de todos os n
umeros naturais nao e
uma enumeracao de N, pois 1 aparece na posicao innita.
Teorema 6.7 Todo conjunto innito A contem um subconjunto
enumer
avel.
Demonstracao: Tome f : (A) A uma funcao escolha
(veja cap.4 4.6 (B)) e considere a seq
uencia a1 = f (A), a2 =
f (A \ {a1 }), . . . , an = f (A \ {a1 , . . . , an1 }). Como A e innito,
ao e vazio, para qualquer n N.
o conjunto A \ {a1 , . . . , an } n
Por construcao de f, tem-se que ai = aj , para i = j. Assim
D = {a1 , a2 , . . . , an , . . .} e enumeravel.
Teorema 6.8 Todo subconjunto de um conjunto enumer
avel ou
cont
avel e contavel.
Demonstracao: Seja A enumeravel, A = {a1 , a2 , . . . , an , . . .} e
B A. Se B e nito, ent
ao B e contavel. Se B nao e nito, seja
an1 o primeiro elemento da enumeracao acima que aparece em B.
Seja an2 o primeiro elemento da enumeracao de A, que aparece em
B \ {an1 }. Continuando com este procedimento, obteremos uma
seq
uencia an1 , an2 , . . . contida em A e que acaba por dar uma enumeracao de B. No caso de A ser nito, obrigatoriamente B e nito.
Logo cont
avel.
Exemplo 6.9 O conjunto dos n
umeros primos naturais e enumeravel, pois este conjunto e innito e N e enumeravel.
Proposi
c
ao 6.10 Um conjunto A e innito se, e somente se, existe
um subconjunto pr
oprio de A equipotente a A.
296
Demonstracao: (=)
Se A e innito, pelo Teorema 6.7
existe um subconjunto de A enumeravel, digamos S =
{a1 , a2 , a3 , . . .}.
Tome B = A{a1 }, e f : A B, f (x) =
x,
se x A \ S
ai+1 , se x = ai S.
A funcao f e bijetora.
(=) Reciprocamente, se existe uma funcao bijetora f : A
B, onde B e uma parte propria de A, ent
ao pelo Princpio da Casa
do Pombo A e innito.
Teorema 6.11 Sejam {Ai }iI , I N uma famlia cont
avel de
conjuntos dois a dois disjuntos e cont
aveis. Ent
ao A = iI Ai e
cont
avel.
Demonstracao: Tal ordenacao (se A e nito) ou enumeracao
(caso contrario) de A pode ser obtida por um passeio de Cantor.
Para isto, seja Ai = {ai1 , ai2 , ai3 , . . .} uma enumeracao de Ai se Ai
e innito, e uma ordenacao, caso Ai e nito. Considere o passeio
de Cantor sobre a matriz
1
A1
a 11
2
12
A2
A3
A4
21
22
31
a13
32
a
a
23
33
10
14
24
42
a43
15
25
a 34
a35
a44
41
45
ou
enumeracao
de
:
No
c
oes de Computabilidade
297
Corol
ario 6.12 N N e enumeravel.
Demonstracao: Tome as famlias Ai = {(i, n), n N} no Teorema anterior.
Corol
ario 6.13 O conjunto de todas as seq
uencias nitas de um
conjunto A cont
avel nao vazio e enumeravel.
Demonstracao: Note que o conjunto de todas seq
uencias nitas
sobre A e innito, mesmo que A seja nito. Se A = {a}, ent
ao
o conjunto citado e {a, aa, aaa, . . .}. Logo, se A nao e unitario,
mas e nito, podemos ordenar seus elementos e, se A e innito,
podemos enumerar seus elementos. Entao podemos descrever A =
{a1 , a2 , a3 , . . .}.
Para enumerar ou ordenar AA, tome as famlias Ai = {(ai , an ),
an A} no Teorema acima. Um passeio de Cantor enumera ou
ordena (n
ao de modo u
nico) S = A A, do seguinte modo:
1
( a1 , a1 )
2
( a 2, a1)
6
( a3, a1)
7
( a , a 1)
4
10
( a 1, a2)
5
( a1 , a3 ) ( a1, a4)
9
( a 1, a5 )
( a2, a3 )
( a2 , a4 )
( a 2, a5 )
( a3, a2)
( a3 , a3)
( a 3, a4)
( a3, a5 )
( a4, a2)
( a4, a 3)
( a4, a4 ) ( a , a5)
4
( a2, a2 )
8
298
A:
AA:
a1
a2
a3
a4
(a1 , a1 )
(a2 , a1 )
(a1 , a2 )
(a1 , a3 )
AAA : (a1 ,a1 ,a1) (a2 ,a1 ,a1) (a1 ,a2 ,a1) (a1 ,a1 ,a2)
..
..
..
..
..
..
.
.
.
.
.
.
obtem-se a conclusao desejada.
Como conseq
uencia deste Corolario, temos que o conjunto das
seq
uencias nitas de um conjunto enumer
avel e enumeravel; mas
um fato surpreendente do conceito de enumeracao e que o dual
desta proposicao e falsa, ou seja,
Proposi
c
ao 6.14 O conjunto das seq
uencias enumeraveis (ou innitas) de elementos de um conjunto nito L (com pelo menos 2
elementos) nao e enumeravel.
No
c
oes de Computabilidade
299
O metodo da prova desta proposicao, chamado metodo diagonal de Cantor esta na raiz de muitos paradoxos e tem papel central
em todo o conhecimento matematico: o argumento do metodo diagonal prova que existem funcoes que nao sao computaveis, que
existem conjuntos recursivamente enumeraveis que nao sao recursivos e, nalmente, alcanca o seu apogeu no teorema de Godel
acerca da incompletude da aritmetica. Este metodo sera aplicado
em computabilidade de funcoes, a seguir.
Para a demonstracao da proposicao, vamos mostrar que o conjunto das seq
uencias enumeraveis de entradas 0 e 1, isto e, em L =
{0, 1}, n
ao e enumeravel (note que nao ha perda de generalidade, pois, se L = {a1 , a2 , . . . , an }, sempre podemos codicar a1 , a2 , a3 , . . . , an por distintas seq
uencias de 0s e 1s (veja
exerccio) e, desta forma, o conjunto das seq
uencias em L pode ser
associado a um subconjunto das seq
uencias em {0, 1}. Por outro
lado, podemos identicar as seq
uencias em {0, 1} com as seq
uencias
em, digamos, a1 0 e a2 1. O que acabamos de provar e que
os conjuntos de seq
uencias enumeraveis com componentes em um
conjunto nito, com pelo menos 2 elementos, tem a mesma cardinalidade). Agora, suponhamos que S, o conjunto das seq
uencias em
{0, 1}, fosse enumeravel, isto e, S = {A1 , A2 , }. Para visualizar,
suponhamos, por exemplo, que
A1 =
A2 =
A3 =
A4 =
An =
11001000010101011110001010101010110101
10101010101011110001110101010100010000
00011101010101000001100010111110000101
11011100011001011100001111111110111100
.........................
11001100001100111100. . . . . . . . 1. . . . .
300
Proposi
c
ao 6.15 O conjunto Q dos n
umeros racionais e enumeravel.
Demonstracao: Sejam Q+ = { ab , a > 0, b > 0, a, b N e
mdc(a, b) = 1} e Q = {x, x Q+ }. Ent
ao Q = Q {0} Q+ .
Pelo Corolario 6.12 enumeramos N N. Se identicarmos ab Q+
com (a, b) N N, temos uma bijecao de Q+ em um subconjunto
innito T de N N. Como subconjunto innito de conjunto enumeravel e enumeravel (Teorema 6.8), temos que T , e portanto Q+ ,
ao:
sao enumeraveis. Seja f : N Q+ uma enumeracao de Q+ . Ent
N Q+ Q ,
f
6.1.2
O Contnuo e Outros N
umeros Cardinais
No
c
oes de Computabilidade
301
Deni
c
ao 6.18 Diz-se que um conjunto A apresenta a potencia
do contnuo e denota-se por |A| = c, se A equipotente a [0, 1].
Exemplo 6.19 1. O intervalo real ]0, 1[:= {x R : 0 < x < 1}
apresenta a potencia do contnuo.
Vamos construir uma funcao bijetora de [0, 1] em ]0, 1[. Sejam
B = {0, 1, 1/2, 1/3, . . .}, C = {1/2, 1/3, 1/4, . . .} e consideremos
1
, n 1. Como
: B C dada por: (0) = 12 e ( n1 ) = n+2
: B C e bijetora, tem-se B C. Agora, [0, 1] \ B =]0, 1[\C
(x), x B
e, portanto, a funcao f (x) =
da uma
x,
x [0, 1] \ B,
bijecao entre [0, 1] e ]0, 1[.
ao A apresenta a potencia
2. Sejam a, b R, a < b e A =]a, b[. Ent
do contnuo, pois: f :]0, 1[ A, dada por: f (x) = a + (b a)x, e
bijetora. Prove!
Em particular, |] 1, 1[| =c.
3. Vamos mostrar, agora, que R apresenta a hipotese do contnuo.
x
Como g(x) =
da uma bijecao de ] 1, 1[ em R, pois
1 |x|
x
admite inversa g 1 (x) =
(verique), temos que gf :]0, 1[
1 + |x|
2x 1
R dada por g f (x) =
da uma bijecao entre ]0, 1[ e R.
1 |2x 1|
Logo |R| =c.
Observa
c
ao 6.20 Observe entao que R ou qualquer intervalo real
n
ao e contavel.
Corol
ario 6.21 O conjunto dos n
umeros irracionais Ir n
ao e
cont
avel.
Demonstracao: Basta ver que R = Q Ir . Como Q e contavel,
se Ir fosse contavel pelo Teorema 6.11, viria que R seria contavel.
Ate agora conhecemos os seguintes n
umeros cardinais: os n
umeros cardinais nitos, 0 e c. O Teorema de G. Cantor, a seguir,
mostra que existe uma innidade de outros n
umeros cardinais.
302
Deni
c
ao 6.22 Dados cardinais , sejam A, B conjuntos de
cardinalidade , , respectivamente.
Dizemos que alfa e menor ou igual a beta e denotemos por
se existe uma funcao injetora f : A B. Se, alem disso, A B,
dizemos que e estritamente menor que e denotemos por < .
Se e , dizemos que e s
ao iguais.
Por exemplo, 0 < c, pois: : N R dada por: (x) = x e
ao e equipotente a R, pois N e enumeravel e R nao
injetora e N n
e enumeravel.
Teorema 6.23 G. Cantor.
Para todo conjunto A tem-se que a cardinalidade de A e estritamente menor que a cardinalidade do conjunto das partes de A,
ou seja, |A| < |(A)|.
Demonstracao: f : A (A) dada por: f (a) = {a} e injetora
e nao e sobrejetora, pois Imf. Logo |A| |(A)|.
Seja g : A (A) uma funcao qualquer. Considere o subconjunto S de A, denido por S = {x A : x g(x)}. Se g fosse
sobrejetora, existiria y A, tal que g(y) = S. Por construcao,
temos: y S y g(y) = S, absurdo. Portanto n
ao pode haver
A
ao |A| < |2 |.
sobrejecao de A em (A). E ent
Nota: O Teorema 6.23 nos da a seguinte cadeia de desigualdade
de n
umeros cardinais innitos
0 < c < |(R)| < | (R) | <
Isto mostra que temos uma innidade de n
umeros cardinais innitos. Ainda pelo teorema de Cantor, temos 0 < |(N)|. Tambem
oximo teorema mostra a relacao de |(N)|
vimos que 0 < c. O pr
e c.
Teorema 6.24 A cardinalidade do conjunto das partes de N e
igual `a cardinalidade de R, ou seja, |(N)| =c.
Demonstracao: Seja f : R (Q) denida por: f (a) = {x
Q : x < a}. Mostremos que f e injetora.
No
c
oes de Computabilidade
303
Exerccios
(1) Mostre que A e contavel se, e somente se, existe uma sobrejecao
: N A.
(2) Mostre que: (a) N (N \ Ik ), (b) A (A \ B), onde A e
um conjunto innito e B e um subconjunto nito de A.
(c) Com base em (a) e (b) justique: Em um hotel com innitos
quartos, todos eles ocupados, ainda h
a vagas para mais n pessoas.
(3) (a) - Sejam : N N e : N N N dadas por
(a) = a + 1, e (b) = (s, t), onde b = 2s (2t + 1). Mostre que
304
enumera N N.
(b) - A partir de (a), de uma outra prova de que Q e enumeravel.
(4) Codique toda seq
uencia nao nula do intervalo real [0, 1] como
uma seq
uencia innita de 0s e 1s.
Obs.: Uma codicacao de elementos de A = por elementos de
D = e uma funcao injetora f : A D e, neste caso, dizemos que
a A ca codicado por f (a) D.
Use que toda seq
uencia nao nula do intervalo real [0, 1] pode
ser escrita como uma seq
uencia innita da forma: 0, a1 a2 a3 a4 . . . ,
onde ai {0, 1, . . . , 9}. Por exemplo: 0, 5 = 0, 499999999999 . . ..
Seja S = {x1 , x2 } para os exerccios (5), (6), (7).
(5) Seja A o conjunto das seq
uencias nitas sobre S. De uma
enumeracao para A.
(6) Mostre que toda seq
uencia de elementos de S pode ser codicada como uma seq
uencia de elementos de {0, 1}.
uencia de zeros e uns.
Sugest
ao: Codique xi com uma seq
(7) Use o exerccio (6), se necessario, e prove que o conjunto de
todas seq
uencias de elementos de S e o conjunto de todas seq
uencias
formadas de zeros e uns tem a mesma cardinalidade. Qual a sua
cardinalidade?
(8) Sejam f : A R injetora e A n
ao cont
avel. Qual a cardinalidade de A? (Observe a Hipotese do Contnuo para dar a resposta).
(9) Mostre que, se |A| = |D|, ent
ao |(A)| = |(D)|.
(10) Prove que os conjuntos E = [1, 1) e F = (3, 6] sao equipotentes e de a aplicacao inversa.
No
c
oes de Computabilidade
6.2
305
Algoritmos e M
aquinas de Turing
306
Adiante sera visto que nao existe um algoritmo que decide o problema da parada. Para que um resultado a respeito de algoritmo
seja possvel, devemos ter uma nocao precisa, formal, do que seja
um algoritmo. Uma formalizacao usual na teoria matematica dos
algoritmos e considerar algoritmos como sendo procedimentos que
transformam palavras, em um alfabeto nito, em outras palavras.
Mais formalmente temos:
Deni
c
ao 6.25 Um alfabeto e um conjunto de pelo menos 2
smbolos, um smbolo para denotar o branco e, pelo menos, mais
um smbolo.
Uma palavra sobre este alfabeto e uma seq
uencia nita de sm
bolos. Denotando por o conjunto das palavras sobre , os algoritmos sao funcoes de em .
Este e o enfoque basico que se usa nas linguagens de programacao de computadores.
G
odeliza
c
ao.
Embora na pr
atica um alfabeto possa conter varios elementos, podemos sempre associar palavras w sobre um alfabeto
com n
umeros naturais G(w) de tal maneira que um n
umero natural esteja associado com, no maximo, uma palavra em . A
uma tal associacao chamamos de Godelizacao e chamamos G(w)
de n
umero de Godel de w (com respeito a G).
Desde que N pode ser pensado como a classe das palavras
|, ||, |||, . . . , ou seja, palavras sobre o alfabeto {0, |} (0 para simbolizar o branco) resulta que, via G
odelizacao, nao ha nenhuma
perda de generalidade se considerarmos apenas algoritmos sobre N,
ou sobre , onde e um alfabeto de apenas dois smbolos.
Deni
c
ao 6.26 Dado um alfabeto , uma Godelizacao de e
uma funcao G de em N que obedece as seguintes condicoes:
(1) G : N e injetora.
(2) Existe um algoritmo tal que, para cada w , G(w) pode
ser computado em um n
umero nito de passos.
No
c
oes de Computabilidade
307
308
6.2.1
No
c
oes de Computabilidade
309
310
Solucao: Um programa e:
(1) q1 1Dq2
(2) q2 01q2
(1) q1 01q1
(2) q2 1Dq3
(3) q3 01q3
(3) q3 1Dq4
Como a ta esta em branco, por convencao a maquina comeca
a computacao pela 1a instrucao. Depois de realizar a 1a instrucao,
a cabeca l/i ca sobre o 1 que acabou de escrever e a maquina no
estado q1 ; logo realizara a instrucao (1). Realizando esta instrucao,
a cabeca l/i ca sobre o zero `a esquerda do 1, e a maquina no
estado q2 . Logo, realizara a instrucao (2) e depois a instrucao
(2), (3) e (3). Observe que a maquina p
ara no estado q4 , pois
neste estado nao sao dadas instrucoes. Da camos com a seguinte
conguracao nal na ta
0001110q4 000 ,
como foi pedido, onde 0q4 signica que a cabeca l/i esta sobre este
smbolo no estado q4 .
Observa
c
ao: Note que as instrucoes (1), (2) e (3) servem para
escrever tres 1s enquanto as instrucoes (1), (2) e (3) servem para
retirar a cabeca l/i de cima do 1 escrito. Generalizando, temos:
(B) De um programa para escrever n 1s consecutivos (n 2)
em uma ta em branco, mas agora faca a cabeca l/i retornar no 1
mais a esquerda do seq
uencia de 1s.
Solucao: Um programa e:
(1) q1 01q1
(1) q1 1Dq2
(2) q2 01q2
(2) q2 1Dq3
(n) qn 01qn+1
(n) qn+1 1Eqn+1
(n+1) qn+1 0Dqn+2 .
Note que a instrucao (n), assim como a instrucao (3) do
exerccio (A), escreve o u
ltimo smbolo 1 mas neste caso muda
de estado e, (n) que corresponde a instrucao (3) do exerccio (A)
em vez de so tirar a cabeca l/i de cima do u
ltimo 1 impresso, nao
so faz isto, mas ja comeca a voltar a cabeca l/i para o primeiro
1 impresso. Ela busca o primeiro zero depois da seq
uencia de 1s
No
c
oes de Computabilidade
311
Este
Exemplo 6.28 Escreva uma MT que quando iniciada com a cabeca l/i no 1 mais `a esquerda de uma seq
uencia de n 1s (n > 0) de
uma ta que so contem este bloco de uns, apaga este 1 e duplica
o restante do bloco de uns (se existir bloco restante) e para com a
cabeca l/i no 1 mais a esquerda do bloco (se existir).
Uma solucao e:
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
q1 10q1
q2 1Eq3
q3 0Eq4
q4 01q4
q5 01q5
q6 0Dq7
(1 )
(2 )
(3 )
(4 )
(5 )
(6 )
q1 0Dq2
q2 0Dq13
q3 1Eq4
q4 1Eq5
q5 1Dq6
q6 1Dq6
(7) q7 1Dq7
(8) q8 10q8
(9) q9 1Eq10
(10) q10 0Eq11
(11) q11 1Eq11
(12) q12 1Eq12
(7 ) q7 0Eq8
(8 ) q8 0Eq9
(9 ) q9 0Eq12
(10 ) q10 1Eq10
(11 ) q11 01q4
(12 ) q12 0Dq13
A primeira instrucao apaga o primeiro 1 do bloco de n uns e camos um bloco de n1 uns. A instrucao (1) leva a cabeca l/i para
a direita para ver se h
a mais 1 (isto e, para ver se n = 1 ou nao).
Caso n = 1, a instrucao (2) para a maquina e temos o caso desejado. Se n > 1, obrigatoriamente a maquina vai para a instrucao
(2). Da por diante, a cada 1 reconhecido e apagado no bloco de
n 1 uns restante, a maquina copia dois uns a` esquerda do bloco,
em quadrados adjacentes e consecutivos, do seguinte modo:
(a) Observando que n > 1 (instrucao (2)), a maquina pula o
primeiro zero `a esquerda do bloco de n1 uns (instrucoes (2) e (3))
e escreve dois 1 em quadrados adjacentes e consecutivos (instrucoes
(4), (4), (5)).
(b) Depois volta no u
ltimo 1 `a direita do bloco de uns restante
(instrucoes (5), (6), (6), (7), (7)) e o apaga (instrucao (8)).
(c) Caso tenha mais uns nao apagados do bloco original de n1
uns que restou, a cabeca l/i vai para a esquerda pulando este bloco
(instrucoes (9) e (10)) e pula o zero que separa este bloco (que esta
sendo apagado) do bloco que esta sendo criado (instrucao (10)).
Pula este novo bloco (instrucao (11)) e acrescenta `a esquerda dele
dois novos 1s em quadrados adjacentes e consecutivos (instrucoes
312
No
c
oes de Computabilidade
313
(q1 11q2 )
no estado q2
e a maquina p
ara com a cabeca l/i sobre o primeiro 1 `a esquerda
ao e dado instrucao. Como, por
do bloco 13 , pois no estado q2 n
umero natural
convencao, no nal da computacao 13 , representa o n
3, temos, novamente por convencao, que f (2) = 3.
Verique, agora, que f (3) = 4, por esta maquina de Turing.
Exemplo 6.31 De uma maquina (ou seja, um programa) que represente a funcao constante f : N N, f (n) = 1, para todo n N.
Solucao: Tendo entrado com 1n+1 , por convencao a computacao
comeca com a cabeca l/i sobre o 1 mais `a esquerda do bloco 1n+1 .
Um programa e:
(1) q1 10q2
(1) q1 01q3
(2) q2 0Dq1 .
314
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
110
010
010
000
000
001
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
(q1 10q2 )
(q2 0Dq1 )
(q1 10q2 )
(q2 0Dq1 )
(q1 01q3 )
(no estado q3 )
No
c
oes de Computabilidade
315
(q1 10q2 )
(q2 0Dq1 )
(q1 10q2 )
(q2 0Dq1 )
(q1 10q2 )
000 00110100
0000 0110100
00000 110100
00000 010100
000000 10100
000000 00100
0000000 0100
00000000 100
00000000 000
000000000 00
0000000000 0
0000000000 1
(q2 0Dq1 )
(q1 0Dq3 )
(q3 10q2 )
(q2 0Dq1 )
(q1 10q2 )
(q2 0Dq1 )
(q1 0Dq3 )
(q3 10q2 )
(q2 0Dq1 )
(q1 0Dq3 )
(q3 01q4 )
316
No
c
oes de Computabilidade
317
318
sim
X e vazio?
apague Y e pare
nao
apague o 1 mais a direita de Y
|Y e vazio?|
sim
nao
mova Y y casas a direita e
apague o 1 mais a esquerda de X
| apague X e pare|
.
n
ao Pule o branco usado para separar
|X e vazio?| X de Y e preencha todos os brancos
com 1 ate encontrar Y
sim
P
are examinando o 1 mais `a esquerda do bloco Y
Um progama para esta funcao pode ser visto nas paginas 114-116
da referencia [1].
No
c
oes de Computabilidade
319
Como u
ltimo exemplo, daremos um diagrama corrido para um
programa para a funcao caracterstica da igualdade entre dois n
umeros. Esta funcao deve ter sada 1, se duas entradas x e y sao
iguais e 0, caso contrario. A ideia e apagar, em cada passo, um
par de 1s, um 1 de cada um dos blocos 1x+1 e 1y+1 e escrever
1 se os blocos terminarem ao mesmo tempo e 0, caso contrario.
Como nao se sabe qual bloco termina primeiro, o problema ca
mais complicado.
O diagrama e o seguinte:
Escreva 1x+1 0 1y+1 ,
blocos X e Y respect.
. n
ao
n
ao apague o 1 mais
Y esta vazio?
a direita de X
|X esta vazio?|
sim
sim
|apague Y e pare|
|X esta vazio?|
sim
| escreva 1 e pare|
/ n
ao
|apague Y e pare|
320
Na lista de exerccios foi proposto que voce apresente um programa para esta funcao.
Agora, vamos apenas dizer, resumidamente, como podemos compor funcoes parciais em uma maquina de Turing. A composicao de
funcoes parciais sera mais explorada quando tratarmos de funcoes
computaveis por uma Maquina de Registro Ilimitado. Os processos
sao analogos.
Se g e uma funcao de uma vari
avel e f uma funcao de n
vari
aveis, aplicamos primeiro f `a X e depois aplicamos g `a f (X). A
maquina que representa a funcao parcial composta g f, dado que
Tf e Tg representam f e g respectivamente, e a maquina Tgf
obtida justapondo Tf a uma simulac
ao de Tg , digamos Tg , do
seguinte modo:
ltima instrucao que
(a) Se f (m) = r, sejam (k) ql S Op qt a u
ao e, Qi os estados de Tg . Seja
para a MT Tf na conguracao padr
S o conjunto de instrucoes: (k+1) qt 1Eqt + 1, (k+1) qt 0Eqt+1 ,
os estados de Tg por Qi =
(k+2) qt+1 01qt+2 . Agora,reenumere
qi+1+t . Da a seq
uencia Tg S Tg e o programa de Tgf , a menos
de pequenos rearranjos que temos que fazer para incluir o caso de
ao com
(b) Tgf nao parar, ou parar fora de conguracao padr
entrada 1m1 +1 0 01mn +1 , se f (m1 , m2 , . . . , mn ) nao esta denida.
A composicao de funcoes parciais de varias vari
aveis e representada similarmente. Por exemplo, se
f (x1 , . . . , xm ) = h(g1 (x1 , . . . , xn1 ), . . . , gm (x1 , . . . , xns )),
a representacao de Tf e obtida por simulacoes convenientes de
Tg1 , Tg2 ,. . . , Tgm com Th .
Exemplo 6.35 Sejam f : N2 N, f (x, y) = x + y e g : N
N, g(x) = x + 2.
Um programa para f e dado no Exemplo B, e um programa
para g e dado por:
(2) q2 01q3 .
(1) q1 1Eq2
Portanto, um programa para g f (g f )(x, y) = x + y + 2
e dado por:
(1) q1 1Dq1 (2) q1 01q2 (3) q2 1Eq2 (4) q2 0Dq3 (5) q3 10q4 (6)
q4 0Dq5 (7) q5 10q6 (8) q6 0Dq7 (9) q7 10q8 (10) q8 0Dq9 (11) q9 1Eq9
No
c
oes de Computabilidade
(12) q9 01q10 , (13) q10 1Eq11 ,
321
322
6.2.2
Enumera
c
ao das M
aquinas de Turing
Para enumerar as maquinas de Turing, observemos que o alfabeto sobre o qual se denem os programas para elas e {0, 1, D, E,
avel. Uma
q1 , q2 , . . . , qn , . . .} : um conjunto innito, mas enumer
maquina de Turing nada mais e do que uma palavra nita neste
alfabeto enumer
avel.
Pelo Corolario 6.13, o conjunto das palavras e enumeravel.
Como nem todas as palavras sobre este conjunto e uma maquina
de Turing, vem que o conjunto de todas as m
aquinas de Turing e
um subconjunto pr
oprio e innito deste conjunto enumer
avel. Portanto, e tambem enumeravel, pelo Teorema 6.8.
Para demonstrar que o problema da parada e indecidvel em
maquinas de Turing precisaremos exibir uma enumeracao das maquinas de Turing que representam funcoes parciais unarias, isto e:
funcoes parciais de N em N. Para isto precisamos dizer que tipos
de palavras sao maquinas de Turing. Uma enumeracao para as
No
c
oes de Computabilidade
323
324
q XYq3
q XYq
q1XYq2
q1XYq
q1XYq4
q2XYq 1
q XYq
q XYq 3
q XYq 4
q XYq0
q XYq1
q XYq
q3XYq
q XYq
q XYq
q XYq 1
q XYq
q XYq
q0XYq 0
q0XYq 1
q0XYq
q1XYq0
q1XYq1
q XYq
q XYq 3
4
No
c
oes de Computabilidade
325
Z0 Z0
Z0 Z1
Z0 Z2
Z0 Z3
Z0 Z4
Z0 Z5
Z0 Z6
Z1 Z0
Z1 Z1
Z1 Z2
Z1 Z3
Z1 Z4
Z1 Z5
Z1 Z6
Z2 Z0
Z2 Z1
Z2 Z2
Z2 Z3
Z2 Z4
Z2 Z5
Z2 Z6
Z3 Z0
Z3 Z1
Z3 Z2
Z3 Z3
Z3 Z4
Z3 Z5
Z3 Z6
Z4 Z0
Z4 Z1
Z4 Z2
Z4 Z3
Z4 Z4
Z4 Z5
Z4 Z6
Z5 Z0
Z5 Z1
Z5 Z2
Z5 Z3
Z5 Z4
Z5 Z5
Z5 Z6 ,
Z6 Z0
Z6 Z1
Z6 Z2
Z6 Z3
Z6 Z4
Z6 Z5
Z6 Z6 ,
326
Z0
1
P0
0
Z2
1
N1
N0
Z3
Z4
Z5
N3
N4
N5
0
N2
P1
P2
P3
P4
P5
No
c
oes de Computabilidade
327
d(n) =
1,
se fn (n) e indenida,
fn (n) + 1, se fn (n) e denida.
Ent
ao a funcao d nao esta na lista. De fato, se d = fm para algum
m, ent
ao d(m) = fm (m). Mas, por denicao da funcao d, temos:
fm (m) = 1 se fm (m) e indenida, e fm (m) = fm (m) + 1 se fm (m)
e denida, absurdo. Como d n
ao esta na lista, d n
ao e TuringComput
avel.
No entanto, embora d n
ao seja Turing-Comput
avel, e possvel calcular seus valores. Lembrando que na denicao de TuringComput
avel a maquina comeca a computacao no 1 mais `a esquerda
do bloco mais `a esquerda, temos:
ao para;
M0 representa f0 (n) = n+1; f1 (n) e indenida, pois M1 n
f2 (n) = f3 (n) = n + 1 e f4 (n) e f5 (n) tambem sao indenidas, pois
M4 e M5 nao param, etc. Assim temos d(0) = f0 (0)+1 = 2, d(1) =
1, d(2) = f2 (2) + 1 = 4, d(3) = f3 (3) + 1 = 5, d(4) = d(5) = 1,
etc.
Como e possvel que d n
ao seja computavel, se estamos computando seus valores? Na verdade, para funcoes parciais denidas, ou para funcoes parciais que sao indenidas mas param, e facil
calcular o valor de d(n) se temos tempo suciente. O problema sao
aquelas funcoes parciais que nao param. Em alguns casos, como
ao param, mas
nas maquinas M1 , M4 e M5 , e facil decidir que n
nas maquinas complexas pode ser difcil e muitas vezes o e.
328
Copie 1n+1 a direita de 1n+1
colocando 0 entre os blocos
Calcule P para 1n+1 0 1n+1
| O resultado e 0?|
nao 1
|Escreva 1 e pare|
/ sim
|Nao pare|
No
c
oes de Computabilidade
329
Exerccios
(1) Dena: Alfabeto, Palavras sobre um alfabeto, Algoritmos e de
exemplos diferentes dos algoritmos vistos ate aqui.
(2) Dena Godelizacao e de exemplos de Godelizacao diferentes dos
vistos ate aqui. Qual o n
umero de Godel do seu primeiro nome?
(3)(i) Para um dado n N, n > 0 faca uma maquina de Turing
que escreva 1n numa ta em branco.
(ii) Dados m, n N, ambos nao nulos, escreva 1m 01n numa
ta em branco.
(4)(i) Faca programas que computem, por maquinas de TuN3 N e g : N N, dadas por:
ring, as funcoes totais: f :
1 se x = 0,
f (x, y, z) = x + z, e g(x) =
0 se x = 0.
(ii) Faca um programa para g f fazendo uma simulacao dos
programas obtidos para f e g em (i).
(5) Responda sim ou nao, fazendo um breve coment
ario que justique a resposta:
(i) O conjunto das funcoes totais de N em N e enumeravel.
(ii) O conjunto de todas as M
aquinas de Turing e enumeravel.
(iii) Existe uma funcao f : N N que nao e computavel por
nenhum criterio, mas e impossvel exibi-la.
(6) De uma outra enumeracao das maquinas de Turing.
(7) Faca um breve comentario sobre: O problema da parada e
indecidvel via maquinas de Turing.
(8) Faca programas que computem, por maquinas de Turing, as
funcoesparciais f : N N dada por
1,
x : par
f (x) =
e h : N N dada por
indenida, x : mpar,
x
x : par
2,
h(x) =
indenida, x : mpar.
(9) Mostre que a funcao caractersticada igualdade,
1, se m = n
e Turingc : N2 {0, 1}, denida por c(m, n) =
0, se m = n.
330
Computavel.
6.3
Fun
c
oes comput
aveis
No
c
oes de Computabilidade
331
M
aquina de Registro Ilimitado - MRI
Uma das primeiras idealizacoes de um computador trazida `a
332
Nota
c
ao: Z(n) ou 0 Rn , ou ainda rn := 0 (que signica:
rn foi alterado para zero).
(b) Instruc
ao Sucessor: Para cada n = 1, 2, 3, . . . existe a instrucao
sucessor denotada por S(n). A MRI da como resposta `a instrucao
S(n) o n
umero natural rn + 1, no registro Rn , deixando os outros
registros inalterados. Isto e, a MRI acrescenta 1 ao conte
udo do
registro Rn e deixa os outros registros inalterados.
Nota
c
ao: S(n) ou rn + 1 Rn ou rn := rn + 1 (que signica:
rn foi alterado para rn + 1.
(c) Instruc
ao Transferencia: Para cada par (m, n), m = 1, 2,
3, . . . e n = 1, 2, 3, . . . , existe a instrucao transferencia, denotada
por T (m, n). A resposta da MRI a esta instrucao e trocar rn por
rm no registro Rn , deixando os outros registros inalterados.
Nota
c
ao: T (m, n) ou rm Rn ou rn := rm (que signica:
troque rn por rm , ou transra rm para o registro Rn ).
(d) Instruc
ao Salto: Na operacao de um algoritmo informal pode
ter um estagio quando um curso alternativo de acao e
descrito, dependendo do progresso das operacoes em estagios anteriores. Em outras situacoes pode ser necessario repetir uma dada
rotina v
arias vezes. Na MRI e possvel realizar tal procedimento
fazendo uso das instrucoes salto, saltando para tr
as ou para frente
na lista de instrucoes. Por exemplo, se uma determinada instrucao
Ik , k = 10, da lista do programa, e Se r2 = r6 vai para a 10a
instruc
ao da lista do programa, em outro caso vai para a pr
oxima
instruc
ao (Ik+1 ) da lista do programa. Esta instrucao sera denotada por J(2, 6, 10). Geralmente, para cada m = 1, 2, . . . , n =
1, 2, . . . e q = 1, 2, . . . existe a instrucao salto J(n, m, q), desde que
esta instrucao nao seja a instrucao Iq . A resposta da MRI para a
instrucao J(m, n, q) e como segue: Suponhamos que esta instrucao
e encontrada no programa. Os conte
udos dos registros Rn e Rm
sao comparados e
se rm = rn , a MRI pula para q-esima instrucao do programa
para executa-la,
se rm = rn , a MRI passa `a proxima instrucao da lista para
executa-la.
Se a instrucao salto e impossvel e porque o programa tem
menos de q instrucoes e, neste caso, a MRI para.
No
c
oes de Computabilidade
As instrucoes Zero,
instruc
oes aritmeticas.
333
A Computa
c
ao e a Parada de uma MRI
Por convencao, a computacao inicia com uma dada congurac
ao
inicial a1 , a2 , a3 , . . . , nos registros R1 , R2 , R3 , . . . , onde ai sao n
umeros naturais. Uma congurac
ao inicial e uma seq
uencia quase
nula de n
umeros naturais (a1 , a2 , . . . , an , 0, 0, . . .). Isto signica que
os registros estao todos vazios, exceto um n
umero nito deles.
Suponhamos que um programa para uma MRI consista de s
instrucoes denotadas por I1 , I2 , . . . , Is . A maquina comeca a computacao executando as instrucoes em ordem, isto e, comeca executando I1 , depois I2 , e assim por diante, a menos que seja encontrada
uma instrucao salto Ik : J(n, m, q). Neste caso a MRI executa a
instrucao J(n, m, q), como descrita anteriormente, ou seja, passa a
instrucaoIq , caso n = m, ou passa `a instrucao Ik+1 , caso n = m..
A princpio a MRI executa as instrucoes enquanto for possvel,
e a MRI p
ara quando, e apenas quando, n
ao existe uma proxima
instrucao a ser executada. Isto pode ser descrito do seguinte modo:
Se a MRI computa um programa com as instrucoes I1 , I2 ,
. . . , Is e, tem executado a instrucao Ik e a proxima instrucao da
ao a MRI para:
lista a ser executada e Iv , ent
(i) Se k = s e Is e uma instrucao aritmetica (isto e: a MRI
executa a u
ltima instrucao da lista e nao ha mais instrucao a ser
ao e uma instrucao salto para tras),
executada, pois Is n
(ii) Se Ik = J(m, n, v), rm = rn e v > s (isto e: Ik pede
para a MRI executar uma instrucao que nao existe no programa),
(iii) Se Ik = J(m, n, v), rm = rn e k = s (neste caso a MRI
deve ir `a proxima instrucao do programa Is+1 , que nao existe).
Em qualquer destes casos dizemos que a computacao para depois
uencia r1 , r2 , . . . nos
da instrucao Ik , e a conguracao nal e a seq
registros depois desta etapa.
Vamos identicar um programa para uma MRI com a pr
opria
MRI. Como exemplo, considere o seguinte programa
334
I1 : J(1, 2, 6)
I2 : S(2)
I3 : S(3)
I4 : J(1, 2, 6)
I5 : J(1, 1, 2)
I6 : T (3, 1).
|8|6|2|0|
Conguracao
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
8
8
8
8
8
8
8
8
8
4
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
6
6
7
7
7
7
8
8
8
8
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Proxima instrucao
2
2
2
3
3
3
3
4
4
4
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
I1
I2
I3
I4
I5
I2
I3
I4
I6
(pois r1 =
r2 )
(pois r1 =
r2 )
(pois r1 = r1 )
(pois r1 = r2 )
No
c
oes de Computabilidade
335
incio
r1 = r2 ?
nao
sim
|r3 R1 |
|r2 := r2 + 1|
|r3 := r3 + 1|
Pare
Note a convencao, dada no diagrama, para a instrucao salto
J(m, n, k) : normalmente aparece a interrogacao rm = rn ? A,
existem 2 caminhos alternativos a seguir, dependendo dos conte
udos rm e rn dos registros Rm e Rn , respectivamente. Note,
tambem, o salto para tras forcado pela resposta nao `a 2a quest
ao: r1 = r2 ? Ele e obtido pela 5a instrucao J(1, 1, 2), que e um
salto incondicional, pois sempre temos r1 = r1 , e esta instrucao
forca a volta `a instrucao I2 , quando ela e encontrada.
Quando escrevemos um programa para executar um dado algoritmo, muitas vezes e melhor escrever o diagrama como um passo
intermedi
ario, decorre da, que a translacao de um diagrama em
um programa e usualmente rotineira.
Pode existir computacao que nunca p
ara: por exemplo,
nenhuma computacao do programa P1 dado pelas instrucoes
I1 : S(1) e I2 : J(1, 1, 1)
sobre qualquer conguracao inicial p
ara. De fato, a instrucao salto
dada pela instrucao I2 invariavelmente causa, nesta maquina, um
retorno para a instrucao I1 .
Existem programas mais sosticados em que a computacao
nunca p
ara. Mas, na execucao de um programa, isto sempre e causado, essencialmente, por um tipo de rotina na lista de instrucoes,
gerada por uma ou mais instrucoes salto.
336
6.3.1
Fun
c
oes MRI Comput
aveis
No
c
oes de Computabilidade
337
I1 : J(2, 3, 5)
I2 : S(1)
I3 : S(3)
I4 : J(1, 1, 1),
cujo diagrama e:
incio
(k = x2 ?)
r3 = r2 ?
n
ao
sim
Pare.
(k := k + 1)
|r1 := r1 + 1|
r3 := r3 + 1
x 1, se x > 0,
x 1 :=
0,
se x = 0.
Um diagrama e o seguinte
338
|r1 = r2 ?|
sim
Pare
n
ao
|r2 := r2 + 1|
|r1 = r2 ?|
.
n
ao
|r3 := r3 + 1|
sim
|r1 := r3 |
Pare
Como f (x) e uma funcao de uma vari
avel a conguracao inicial e: x, 0, . . . e o programa do diagrama anterior e como segue:
ao,
Primeiro vericamos se x = 0 (r1 = r2 ). Se for, paramos; se n
usamos os registros R2 e R3 como contadores com r2 = k + 1 e
r3 = k, k = 0, 1, 2, . . . e entramos na seguinte rotina: vericar se
x = k + 1 (r1 = r2 ). Se for, o resultado nal e k, isto e, T (3, 1), se
nao, acrescentamos 1 aos registros R2 e R3 e repete-se o processo.
Portanto, depois de k etapas na computacao, a conguracao tpica
e: x, k + 1, k, 0 . . . e o programa e:
I1 : J(1, 2, 7), I2 : S(2), I3 : J(1, 2, 6), I4 : S(3), I5 : J(1, 1, 2),
I6 : T (3, 1).
1
se x e par
2 x,
(c) f (x) =
indenida, se x: mpar
Neste exemplo, temos que o domnio de f e o conjunto dos
n
umeros pares, e devemos fazer um programa que nao para se a
entrada e mpar.
Utilizemos dois registros como contadores contendo k e 2k,
k = 0, 1, . . . para vericarmos se x = 2k. Se x = 2k, a resposta
No
c
oes de Computabilidade
339
Incio
x = 2k? sim T (2, 1) = k R1
r1 = r3 ?
r1 := r2
nao
r3 = r3 + 2
2k = 2k + 2
Pare
.
r2 := r2 + 1
k := k + 1
340
No
c
oes de Computabilidade
341
Incio
x = k?
r1 = r2 ?
n
ao
sim
2k := 2k + 2
r3 := r3 + 2
3s+2 := 3s+5
r7 := r7 + 3
3s+1 := 3s+4
r6 := r6 + 3
3s := 3s + 3
r5 := r5 + 3
.
2k = 3s?
r3 = r5 ?
k := k + 1
r2 := r2 + 1
nao
2k = 3s+1?
r3 = r6 ?
/ sim
sim
|r4 R1 | Pare
n
ao
2k = 3s + 2?
r3 = r7 ?
n
ao
s := s + 1
r4 := r4 + 1
0 sim
: S(6)
: S(7)
: S(7)
: J(1, 2, 9)
: S(2)
: S(3)
I7 : S(3)
I8 : J(1, 1, 4)
I9 : J(3, 5, 23)
I10 : J(3, 6, 23)
I11 : J(3, 7, 23)
I12 : S(4)
I13
I14
I15
I16
I17
I18
: S(5)
: S(5)
: S(5)
: S(6)
: S(6)
: S(6)
I19
I20
I21
I22
I23
: S(7)
: S(7)
: S(7)
: J(3, 3, 9)
: T (4, 1)
Para nalizar esta secao, vamos tratar de predicado decidvel e computabilidade sobre outros conjuntos.
342
I2 : J(1, 1, 4),
I3 : S(2),
I4 : T (2, 1).
No
c
oes de Computabilidade
343
Agora, faremos um breve comentario sobre a computabilidade em outros conjuntos, numericos ou nao, mas enumeraveis.
Apesar de uma MRI trabalhar apenas com n
umeros naturais, isto
n
ao signica que estamos restritos apenas a este campo n
umerico,
pois sempre podemos codicar objetos por n
umeros.
Deni
c
ao 6.47 Um c
odigo de um conjunto de objetos D e uma
funcao : D N injetiva. Dizemos que o objeto d esta codicado
pelo n
umero natural (d).
Um exemplo de codicacao e o processo de Godelizacao que
vimos em secoes anteriores.
Agora suponhamos que f (x) e uma funcao parcial de D em
ao
D, D = . Dizemos que f = f 1 : N N codica a func
parcial f. Dizemos, tambem, que a funcao parcial f : D D e MRI
comput
avel se f : N N e MRI computavel. Tendo em vista
estes conceitos, podemos estudar computabilidade sobre qualquer
domnio enumer
avel.
Exemplo 6.48 Considere a funcao f : Z Z denida por f (x) =
x 1. Esta
funcao e MRI computavel sobre Z. De fato, a funcao
2n, se n 0
(n) =
codica n
umeros inteiros. Sua in2n 1, se n < 0
1
e par,
2 m, se m
versa e dada por 1 (m) =
Logo,
1
2 (m + 1), se m e mpar.
f = f 1 : N N e uma funcao dada por
1, se x = 0 (i.e. x = (0)),
6.3.2
Gerando Fun
co
es Comput
aveis
Neste paragrafo veremos varios metodos de combinar funcoes parciais MRI computaveis para obter outras funcoes parciais MRI comput
aveis. Isto possibilita-nos mostrar bem rapidamente que uma
344
No
c
oes de Computabilidade
345
can
onica. Claro que somente instrucoes saltos podem fazer com que
um programa n
ao pare na forma can
onica. Ent
ao diremos que um
onica se, para toda
programa P = I1 , I2 , . . . , Is , esta na forma can
instrucao salto J(m, n, q) de P, temos que q s + 1. Os programas
do exemplo 6.45(a) e do exerccio (2) estao na forma canonica. A
forma canonica nao e restritiva, como mostra o lema a seguir.
Lema 6.50 Para todo programa P que para, existe um programa
P na forma canonica, tal que a computacao em P e em P e a
mesma, exceto possivelmente no modo dos programas pararem. Em
particular, para todos a1 , . . . , an , b N, tem-se que P (a1 , a2 , . . . , an )
converge para b se, e somente se, P (a1 , . . . , an ) converge para b e,
portanto, fPn = fPn para todo n > 0.
Demonstracao: Se P esta na forma canonica, tome P igual a
P. Caso contrario, sejam I1 , I2 , . . . , Is as instrucoes do programa
P. Ent
ao, para obter P de P, basta mudar as instrucoes salto
que param para as instrucoes salto que param na instrucao Is+1 .
Assim, podemos escrever P : I1 , I2 , . . . , Is , onde Ik = Ik , se Ik e
uma instrucao aritmetica, e, se Ik e uma instrucao salto, digamos,
ao Ik = J(m, n, s + 1). Da P
Ik = J(m, n, q), q > s + 1, ent
satisfaz as condicoes desejadas.
O outro ponto a considerar quando unimos P e Q e
(B) relativo `as instrucoes salto de Q. Se a instrucao J(i, j, r)
ocorre no programa Q, signica que temos um salto para a r-esima
instrucao de Q, que na uni
ao de P e Q sera agora s + r. Portanto,
para adequ
a-la `a uni
ao de P e Q, devemos corrigir para J(i, j, s+r).
Com estas modicacoes temos:
Deni
c
ao 6.51 Uni
ao ou Concatenac
ao de Programas.
Sejam P e Q programas de comprimento s e t respectivamente,
ambos na forma canonica. A uni
ao ou concatenac
ao dos programas
P e Q denotados por P Q e o programa:
, . . . , Is+t
,
I1 , I2 , . . . , Is , Is+1
, . . . , I
onde P : I1 , I2 , . . . , Is e Is+1
ao as instrucoes I1 , I2 , . . . ,
s+t s
It de Q, respectivamente, onde as instrucoes salto J(m, n, q) do
programa Q sao substitudas por J(m, n, s + q).
346
No
c
oes de Computabilidade
347
348
R1
s1
R2
s2
R+n
xn
|
Rn
sn
R+n+1
g1 (x) |
R+n+r
0
R
s
R+n+r1
gr1 (x)
|
No
c
oes de Computabilidade
Inicia com
x = (x1 , x2 , . . . , xn )
Transfere xi de Ri para
R+i , i = 1, 2, . . . , n
Aplique G1 em
x = (x1 , . . . , xn )
349
|Pare|
Aplique F em
(g1 (x), g2 (x), . . . , gk (x))
Transfere g1 (x)
para R+n+1
Transfere gj (x) de R+n+j
para Rj , j = 1, . . . , k
|Apague R1 , R2 , . . . , R |
Transfere xi de R+i
para Ri , i = 1, . . . , n.
|Apague R1 , R2 , . . . , R |
..
.
Aplique G em x Transfere g2 (x)de
2
R1 para R+n+2
350
Exemplo 6.53
Sejam f (x1 , x2 ) = x1 + x2 , g1 (x1 , x2 ) = x2 e
1, se x1 = x2 ,
Ent
ao
g2 (x1 , x2 ) =
0, se x1 = x2 .
x2 + 1, se x1 = x2 ,
f g1 (x1 , x2 ), g2 (x1 , x2 ) =
x2
se x1 = x2 .
Temos os programas: F = I1 : J(2, 3, 5), I2 : S(1), I3 : S(3), I4 :
J(1, 1, 1),
G1 = I1 : T (2, 1) e G2 = I1 : J(1, 2, 4), I2 :
T (3, 1), I3 : J(1, 1, 6), I4 : S(3), I5 : J(1, 1, 2).
Estes programas estao na forma canonica e k = n = 2. As
constantes (F ) = 3, (G1 ) = 2 e (G2 ) = 3 nos dao = max{3, 2}
= 3. Logo, o programa H e dado por:
I1
I2
I3
I4
I5
I6
: T (1, 4)
: T (2, 5)
: T (2, 1)
: T (1, 6)
: Z(1)
: Z(2)
I7 : Z(3)
I8 : T (4, 1)
I9 : T (5, 2)
I10 : J(1, 2, 13)
I11 : T (3, 1)
I12 : J(1, 1, 15)
I13
I14
I15
I16
I17
I18
: S(3)
: J(1, 1, 11)
: T (1, 7)
: Z(1)
: Z(2)
: Z(3)
I19
I20
I21
I22
I23
I24
: T (6, 1)
: T (7, 2)
: J(2, 3, 25)
: S(1)
: S(3)
: J(1, 1, 21)
Observe que G1 = I3 , G2 = I10 , . . . , I14 e F = I21 , . . . , I24 . Assim, para construir um programa para a composicao
f (g1 (x), g2 (x), . . . , gk (x)), nao basta, simplesmente, concatenar os
programas de g1 (x), g2 (x), . . . , gk (x) e de f (y1 , . . . , yk ). Alem disso,
e preciso ajustar estes programas adequadamente.
A partir de funcoes parciais dadas, podemos obter novas funcoes
parciais permutanto ou identicando vari
aveis, ou ainda, adicionando uma ou v
arias vari
aveis mudas nas funcoes parciais. Mais formalmente, se f (x, y) e dada, ent
ao:
g(y, x) := f (x, y) (e uma permutacao)
h(x) := f (x, x) (e uma identicacao)
j(x, y, z) := f (y, z) (e uma adicao de uma vari
avel muda)
O teorema a seguir e um corolario do Teorema anterior e mostra
que essas funcoes parciais, bem como combinacoes delas, transformam funcoes parciais MRI computaveis em funcoes parciais MRI
computaveis.
No
c
oes de Computabilidade
351
6.3.3
Fun
co
es Recursivas Primitivas
Apesar de que a denicao mais convincente de procedimentos mecanicos seja dada pelo conceito de maquinas abstratas de Turing, o
conceito equivalente de funcoes recursivas aparece primeiro, historicamente, mais ou menos com a culminacao das denicoes recursivas
simples de adicao e multiplicacao. Isto porque a nocao de recursao e
uma sosticacao da nocao de inducao aplicada `as denicoes, onde
se tenta tirar o maximo de proveito das propriedades de ordem
dos naturais. Por isso as funcoes recursivas estao mais proximas
dos abacos que conhecemos para operar com inteiros (por exemplo,
adicao, multiplicacao etc.).
A recursao e um metodo de denicao de funcoes parciais, especicando cada um de seus valores em termos de outros valores
previamente denidos e, possivelmente, usando outras funcoes parciais ja dadas. Para ser mais preciso,
Deni
c
ao 6.55 Sejam f (x) e g(x, y, z) (onde x = (x1 , . . . , xn ))
funcoes parciais nao necessariamente MRI computaveis.
A
funcao parcial h(x, y) denida por:
(i) h(x, 0) := f (x)
(ii) h(x, y + 1) := g x, y, h(x, y)
e dita ser denida por recurs
ao das func
oes parciais f (x) e g(x, y, z)
e as equacoes (i) e (ii) sao ditas equac
oes de recurs
ao.
`
A primeira vista surge uma pequena d
uvida quanto ao modo
como e denida, e ate parece nao ser uma denicao valida, porque
na 2a linha ca h(x, y) denida em termos dela mesma. Ocorre
que a vari
avel y aparece como uma testemunha de quantas vezes
352
No
c
oes de Computabilidade
353
354
0,
se x = 0.
(d) x 1 =
x 1, se x 1.
denida por recurs
Demonstracao: E
ao simples para h(0) = 0 e
g(y, z) = y.
x y, se x y,
(e) Subtracao Limitada x y =
0,
se x < y.
denida por recurs
Demonstracao: E
ao e (d) usando f (x) = x
e g(x, y, z) = z 1.
No
c
oes de Computabilidade
355
1, se x = 0,
0, se x = 0.
Demonstracao: sg(0) = 0 e sg(x + 1) = 1 por recurs
ao simples,
onde h(0) = 0 e g(y, z) = 1.
1, se x = 0,
(g) Func
ao Teste do Zero sg(x) =
0, se x = 0.
(f ) Func
ao sinal (do ingles Signal) sg(x) =
onde
f (x) = 1 x e
Por substituicao, f (g(x)) = 1 sg(x),
g(x) = sg(x); ou ainda h(y + 1) = g y, h(y) , onde g(x, y) = xy.
(h) |x y|.
ao,
Sejam g1 (x, y) = x (projecao), f (x, y) = g2 (x, y) :=
x y. Ent
por substituicao, min{x, y} = f g1 (x, y), g2 (x, y) .
(k) max{x, y}.
356
q(x, y) + 1,
q(x, y),
se r(x, y) + 1 = x,
se r(x, y) + 1 = x.
(o) Impar(x) =
0, se x e par.
Demonstracao: Esta funcao e denida por recurs
ao simples,
sg(y),
da
h(y
+
1)
=
g
y, h(y) =
onde
h(0)
=
0
e
g(x,
y)
=
sg h(y) .
Assim, o conjunto dos n
umeros naturais mpares e decidvel (ver
denicao 6.44).
(p) Funca
o Maior Inteiro da Metade
[ n2 ]
=
n
2,
n1
2 ,
se n e par,
se n e mpar.
No
c
oes de Computabilidade
357
Corol
ario 6.61 Denic
ao por casos
Suponhamos que f1 (x), . . . , fk (x) sao funcoes parciais recursivas primitivas (ou MRI comput
aveis) e M1 (x), . . . , Mk (x) predicados decidveis, tais que, para cada x, exatamente um dos predicados M1 (x), . . . , Mk (x) vale. Ent
ao e recursiva primitiva (MRI
comput
avel)
a
fun
c
a
o
parcial
f1 (x), se M1 (x)vale,
f2 (x), se M2 (x)vale,
f (x) =
...
...
fk (x), se Mk (x)vale .
Demonstracao: Basta escrever f (x) na forma f (x) =
k
e a funcao caracterstica do prei=1 cMi (x)fi (x), onde cMi (x)
dicado Mi . Da, por substituicao, usando adicao e multiplicacao,
f (x) e recursiva primitiva (MRI comput
avel).
Corol
ario 6.62 Algebra
da Decibilidade
Suponhamos que P e Q sao predicados decidveis. Ent
ao, os
seguintes predicados tambem sao decidveis: (a) P, (b) P Q,
(c) P Q.
Demonstracao: As funcoes caractersticas destes predicados
358
0,
z<0 f (x, z) :=
z<y+1 f (x, z) :=
z<y f (x, z) + f (x, y),
e
z<0 f (x, z)
:= 1(
f
(x,
z)
:=
z<y+1
z<y f (x, z) .f (x, y)
6.3.4
Minimiza
c
ao
Primos
Limitada
Codica
c
ao
Por
No
c
oes de Computabilidade
359
Deni
c
ao 6.65 Minimizac
ao Limitada. Dada uma funcao parcial f (x, z), onde x = (x1 , . . . , xn ), denimos uma nova funcao parcial denotada por g(x, y) = min z < y, (f (x, z) = 0) e denida
por
g(x, y) :=
360
Corol
ario 6.67 Sejam f (x, z) e K(x, w) funcoes. Se f (x, z) e
K(x, w) recursivas
primitivas
(MRI comput
aveis), entao min z <
K(x, w), f (x, z) = 0 tambem e recursiva primitiva (resp. MRI
computavel).
Temos ainda as seguintes aplicacoes envolvendo a minimizacao
limitada.
Corol
ario 6.68 Suponhamos que R(x, y) e um predicado decidvel.
Ent
ao
(a) A funcao parcial f (x, y) = min z < y, R(x, z) e recursiva primitiva (resp. MRI comput
avel).
(b) Os seguintes predicados
sao decidveis.
(i) M1 (x, y) z < y R(x, z)
(ii) M2 (x, y) z < y R(x, z) .
f (x, y) = min z < y, sg(cR (x, z)) = 0 .
Demonstracao: (a) (
(b)(i) cM1 (x, y) = z<y cR (x, z)
(ii) M2 (x, y) = z < y, ( R(x, z)) , e decidvel pelo tem
(i) anterior e Corolario 6.62(a).
Agora, usaremos a minimizacao limitada em alguns casos e daremos
outra colecao de funcoes recursivas primitivas ou MRI computaveis.
Teorema 6.69 As seguintes funcoes parciais sao primitivas recursivas (MRI computaveis).
(a) D(x) =no de divisores de x (convencionamos que D(0) =
1),
1, se x e primo,
(b) P r(x) =
(Isto e: o pre0, se x nao e primo.
dicado x e primo e decidvel.
(c) pm = m-esimo n
umero primo (com a convencao p0 = 0,
p1 = 2, p2 = 3,etc).
o expoente de py na decomposicao em fatores primos de x, para x > 0 e y > 0,
(d) [x]y =
0, se x = 0 ou
y = 0.
e a
Demonstracao: (a) D(x) =
yx div(y, x), onde div
funcao dada no exemplo 6.60(n), que e recursiva primitiva (MRI
No
c
oes de Computabilidade
361
comput
avel). Logo, pelo Teorema 6.63 segue o armado. Outro
metodo e usar que div(y, x) = c= (y, x) + c= (2y, x) + c= (3y, x) +
+ c= (xy, x) para x 1, onde c= (z, t) e a funcao caracterstica
da igualdade z =t.
nicos
1, se D(x) = 2 (isto e x > 1 e os u
divisores positivos de x sao 1 e x.
(b) P r(x) =
0, em outro caso.
Ent
ao P r(x) = sg(|D(x) 2|).
(c) Pelo Teorema de Euclides (veja exerccio (10)), sabemos
que, dado um n
umero primo mpar p, existe um primo q, p <
q < p! + 1. Ent
ao podemos denir a funcao pm , que da o m-esimo
n
u
mero
primo
por:
p0 = 0, p1 = 2, p2 = 3
pm+1 = minz < (pm ! +1), (z > pm e z : primo), se m 2.
O exerccio (1)(d) mostra que o predicado z > ye decidvel. Logo
pelo Corolario 6.62 o predicado z > y e z : primo e decidvel.
Como pm e denida por recurs
ao, segue-se do Corolario 6.68 que
esta funcao e recursiva primitiva (resp. MRI comput
avel).
x), que
(d) Temos que [x]y e dada por min z < x, (pz+1
y
e recursiva primitiva (resp. MRI comput
avel), pois o predicado
b
e
decid
vel.
pz+1
y
Exemplo 6.70 Calculemos [100]y para todo y. Como 100 = 22 .52 ,
temos que [100]0 = 0, [100]1 = 2 (expoente de p1 = 2), [100]2 =
umero y maior que 3.
0, [100]3 = 2 e [100]y = 0 para todo n
Para a decodicacao de uma seq
uencia, precisaremos da funcao
(comprimento) que informa quantos primos em seq
uencia podemos
encontrar na decomposicao de x > 1 (x N) a partir de p1 = 2
(historicamente, esta funcao e denotada por lh, length).
lh(x) = min z < x, ([x]z = 0).
Por exemplo, lh(6) = lh(2.3) = lh(p1 .p2 ) = 2,
lh(21) = lh(3.7) = lh(p2 .p4 ) = 0,
lh(123) = lh(2.32 .7) = lh(p1 .p22 .p4 ) = 2.
E agora podemos codicar uma seq
uencia nita qualquer de n
umeros
umero x = pa11 +1 pa22 +1 pnan +1 .
naturais b = (a1 , a2 , . . . , an ) pelo n
362
1,
0,
se x n
ao tem fatores primos maiores que plh(x) ,
caso contrario.
No
c
oes de Computabilidade
363
dado por cod(x) = sg min n (lh(x) < n x : pn |x , que e uma
funcao recursiva primitiva por resultados anteriores.
Exemplo 6.71 (a) Para x = 10 = 2.5, temos que lh(x) = 1, pois
seq
uencia,
falta o primo p2 = 3. Logo, 10 nao codica nenhuma
ou seja,
cod(10) = 0. Por outro lado, min n lh(10) < n 10 :
pn |10 = 3 e sg(3) = 0.
(b) O n
umero 30 = 2.3.5 codica a seq
uencia b = (0, 0, 0) e
lh(30) = 3.
Como nao existe n > 3, tal que pn |30, temos que
sg min n(3 < n 30) : pn |30 = sg(0) = 1 = cod(30).
(c) Se x e tal que cod(x) = 1, ent
ao x pode ser decodicado por
Decod(x) = (x)1 , (x)2 , . . . , (x)lh(x) = b,
Da
Observa
c
ao 6.72 A nocao da codicacao por primos pode ser
usada para reduzir a classe das funcoes recursivas primitivas de
v
arias vari
aveis `a classe de funcoes recursivas primitivas de uma
vari
avel. Da ser possvel enumerar efetivamente as funcoes recursivas primitivas.
6.3.5
A Fun
c
ao de Ackermann e a Complexidade das
F.R.P.
364
(0, y) = y + 1,
(x + 1, 0) = (x, 1),
: N N N,
(x + 1, y + 1) = x, (x + 1, y) .
A pergunta e: Por que (x, y) e computavel? (nao necessariamente no sentido MRI). Apesar de que parece provir de uma
denicao recursiva, como temos visto, na verdade ela envolve recursao em duas vari
aveis. No entanto, e, de fato, uma funcao,
pois as equacoes sao denidas de modo n
ao ambguo. Antes de
demonstrar este fato, facamos um comentario sobre as equacoes. A
primeira equacao e clara, enquanto que, nas duas u
ltimas equacoes,
No
c
oes de Computabilidade
365
(0, 1)
(0, 2)
(0, y)
(1, 0)
(x, 0)
(1, 1)
(x, 1)
(1, 2)
(x, 2)
(1, y)
(x, y)
(x+1, y)
para obter (x, y), com x > 0, a denicao de nos faz proceder
da seguinte maneira: Considerando a linha x + 1 e coluna x + 1
de (x, y), precisaremos de alguns valores (a, b) com (a, b), ou em
linhas acima da linha de (x, y), eventualmente numa coluna mais
distante da primeira coluna, ou (a, b) na mesma linha de (x, y),
mas em uma coluna mais proxima da primeira. Isto ocorre para
cada valor (x, y) que se deseja calcular. Assim, obrigatoriamente,
atingiremos a primeira linha ou a primeira coluna. No caso de
alcancar a 1a coluna (equacao 2), ela nos leva `a linha imediatamente
superior, se houver, de entrada x (1a coordenada) e nos faz usar a
equacao 3, para y = 0. Na equacao 3, usaremos a 1a coluna, e mais
tarde o resultado obtido, e a linha acima x 1, se houver. Desta
forma, vamos subindo nas linhas da matriz anterior, formada de
elementos de N N, ate atingir a 1a linha formada de elementos da
forma (0, y), y N; e nao precisamos nos preocupar com y, pois
e dado o valor (0, y). Por exemplo, para calcular (2, 1), temos:
(2, 1) = 1, (2, 0) e precisamos de (2, 0),
(2, 0) = (1,
de (1, 1),
1) e precisamos
(1, 1) = 0, (1, 0) e precisamos de (1, 0),
(1, 0) = (0, 1) e (0, 1) = 2.
Da (1, 1) = (0, 2) = 3 e, portanto, (2, 1) = (1, 3). Mas
(1, 3)
=
0, (1, 2) , e precisamos de (1, 2),
366
(1, 2) = 0, (1, 1) e, como (1, 1) = 3, vem que (1, 2) =
(0, 3) = 4.
Assim, (1, 2) = (1, 3) = (0, 4) = 5.
Observe, na tabela, como foi a seq
uencia de passos para calcular
(2, 1).
(0,0)
(0,1)
(0,2)
(0,3)
(0,4) . . .
(1,0)
(1,1)
(1,2)
(1,3)
(1,4) . . .
(2,0)
(2,1)
(2,2)
(2,3)
(2,4) . . .
...
...
...
...
...
...
No
c
oes de Computabilidade
367
A funcao de Ackermann nao e recursiva primitiva. A demonstracao desta armacao segue-se de 2 fatos:
(I) A classe das F.R.P. e enumeravel. Isto pode ser demonstrado codicando todas F.R.P. de um n
umero qualquer de
vari
aveis `a F.R.P. de apenas uma vari
avel, usando a codicacao por
primos, que temos visto anteriormente. Da enumerar as funcoes
recursivas primitivas de uma vari
avel.
(II) A funcao (x, y) domina todas funcoes unarias recursivas
primitivas (isto e, se g e recursiva primitiva de uma vari
avel, ent
ao
existe m tal que g(x) < (m, x), x N).
A demonstracao dos fatos (I) e (II) podem ser encontrados no
livro de R. Peter referencia [6]. Agora podemos enunciar
Proposi
c
ao 6.73 (x, y) nao e recursiva primitiva.
ao f (x) =
Demonstracao: Se (x, y) fosse recursiva primitiva, ent
(x, x) tambem seria pelo Teorema 6.52. Pelo fato (II) existiria
m N, tal que f (x) < (m, x), para todo x N. Em particular,
teramos (m, m) = f (m) < (m, m), o que e absurdo.
Apesar de (x, y) nao pertencer `a classe das funcoes recursivas,
primitivas ela pertence a uma outra classe mais ampla de funcoes
recursivas chamadas de Func
oes Recursivas Parciais. Esta classe
e gerada (do mesmo modo que as F.R.P) pelas funcoes basicas:
Sucessor, Zero, Projecoes e e fechada para as operacoes de composicao e recursao mas, neste caso, acrescenta o Operador ; veja o
livro de W. Carnielli citado na biliograa. Prova-se que esta classe
e a mesma classe das funcoes Turing computaveis.
Exerccios
(1) Faca um programa para cada uma das funcoes parciais abaixo,
para que elas
sejam MRI computaveis.
0, se x = 0,
(a) f (x) =
(b) f (x) = 5.
1, se x = 0.
0, se x = y,
0, se x y,
(c) f (x, y) =
(d) f (x, y) =
1, se x = y.
1, se x > y.
1
se x = 3q,
3 x,
(e) f (x) =
0,
em outros casos.
368
No
c
oes de Computabilidade
369
p, existe um primo q, tal que p < q < (p! + 1). Sugestao: Use o
Teorema fundamental da aritmetica e raciocine por contradicao.
(11) Calcule (2, 3), destacando a seq
uencia de pares (x, y) NN
usados, fazendo uma seq
uencia numa tabela de elementos de NN.
(12) Mostre que as seguintes funcoes parciais sao recursivas primitivas:
(a) g(x) = a0 +a1 x+a2 x2 + +an xn , onde a0 , a1 , . . . , an N.
370
372
(2)(a) x : P (x) Q(x) S(x), (b) x : P (x) S(x), (c)
x : A(x) B(x), (d) x : A(x) C(x).
6
(3)(a) mdc(2, 3) = 3 e mmc(2, 3) = 6, V, (b) 35 = 10
e 5.6 =
1
2
umero inteiro e
3.10, F, (c) 2 3 e 2.2 < 1.3, F, (d) Todo n
primo, F.
373
374
H,
A(x)
x
P (x) , (e)
x
H,
A(x)
P
H, P (x) , (f) x H, A(x) x H, P (x) ou [x
H, A(x)] [x H : P (x)].
(21) (i) (a) V, (b) V, (c) F, (d) F, (e) V, (f) F. (ii) (a) V, (b)
V, (c) F, (d) V, (e) F, (f) V, (g) F.
(22) (a) V, (b) V, (c) V, (d) V.
(23) (a) P (1)P (0)P (1)P (2), (b) P (1)P (0)P (1)P (2),
(c) P (1)P (0)P (1)P (2), (d) P (1)P (0)P (1)
P (2), (e) [P (1) P (0) P (1) P (2)], (f) [P (1) P (0)
P (1) P (2)].
C(p)
(24) Sejam p, q proposicoes, T (p) : p e uma tautologia,
: p
e uma contradicao. (a) p, T (p), (b) p, C(p)
T
(p)
, (c)
p, q, T (p)C(p)T
(q)C(q)T (pq) , (d) p, q, T (p)
T (q) T (p q) .
(25) (a) Se existe impressora com defeito e ativa entao tem impressao que foi perdida, (b) Se todas as impressoras est
ao ativas
ent
ao alguma impressora tem uma longa la, (c) Se existe uma
oes entao existe
impressora que tem uma longa la e perdeu impress
impressora com defeito, (d) Se todas impressoras estao ativas e
todas tem uma longa la ent
ao alguma impressao foi (sera) perdida.
(26) Nem sempre tem o mesmo valor verdade, por exemplo, tome
U = Z, P (x) : x 0 e Q(x) : x2 1.
(27)Pelas regras de inferencia para proposicoes quanticadas temos:
x, P (x) Q(x) P (c) Q(c), c : arbitr
ario P (c), c: arbitrario e Q(c), c : arbitr
ario x P (x) x Q(x).
(28) Semelhante ao anterior.
375
x
P
(x)
T
e
(b)
xP
(x)
T
xP (x) x P (x) T . Raciocnio an
alogo se A e uma contradicao.
ao (i)
(30) Sejam U = R, P (x) : x < 0, Q(x) : x 0. Ent
x, x < 0 (x, x 0) e falsa,
enquanto
que
x
(x
<
0
x
0)
e verdadeira,
(ii)
x,
x
<
0
x,
x
e
verdadeira,
enquanto
que x < 0 x 0 e falsa.
(31) (b) Para todos n
umeros reais x, y se x e y sao positivos ent
ao
o produto, xy, tambem e positivo.
(32) (a) Algum aluno desta classe tem enviado uma mensagem por
e-mail para um outro aluno desta classe. (b) Algum aluno desta
classe tem enviado uma mensagem por e-mail `a todos os alunos
desta classe. (c) Todos os alunos desta classe tem enviados
mensagens por e-mail `a todos os alunos desta classe. (d) Todos
os alunos desta classe tem enviados mensagens por e-mail a um
aluno da classe. (e) Todos os alunos desta classe tem recebido
uma mensagem por e-mail de algum aluno.
(33) (a) x, y Z, x 0, y 0 x + y 0, (b) x, y
Z, x 0, y 0 | x y < 0, (c) x, y Z, x2 + y 2 (x + y)2 ,
(d) x Z, x 0 (a, b, c, d Z | x = a2 + b2 + c2 + d2 ).
(34) (I) (a) V, (b) V, (c) V, (d) V, (e) V, (f) F, (g) F, (h) F,
(II) (a) V, (b) V, (c) F, (d) V, (e) F.
(35) (i) l R e um limite superior de S se l x, x S; (ii)
s R e o supremo de S se s x, x S, e l R | l x, x
S = l s.
(36) limn an = L quando > 0, n0 N | n n0 =
|an L| < .
(37) Tem-se que log2 3 = ab Q se, e somente se, 2a = 3b , com
a > 0, b > 0. Absurdo, pois 2a e par e 3b e mpar.
valido, por Modus Ponens, (b) V
(38) (a) E
alido, por Modus Ponens, (c) Valido, por Modus Tollens, (d) N
ao e valido, e uma falacia
por negacao da hip
otese.
(39) O tem (b) e valido.
(44) (i) claro, pois x y ou y x. (ii) Divida em casos, por
exemplo, facamos o caso y z x. Temos min{x, min{y, z}} =
min{x, y} = y. Por outro lado min{min{x, y}, z} = min{y, z} =
376
(48) (a) E valido, (b) E valido, (c) Nao e valido, (faca uma
analise por casos, considerando a proposicao Matematica nao e
valido,
facilverdadeira e depois considerando ela e falsa, (d) E
(e) Nao e valido.
377
2.5.7.11.13.31. (iii)
ao e divisvel por nenhum
E primo pois 997 n
primo menor que 997.
(18) (i) resto 4, (ii) resto 6, (iii) 07. Note que de 710 1(mod.11),
q
temos que 710q+r = (710 ) .7r 7r (mod.11). Ent
ao coloque a poten1321
na forma 10q + r, fazendo congruencia dela modulo
cia (de 7), 7
10.
(19) Por exemplo, f (x) = 5x + 1(mod.26). Ent
ao f 1 (x) = 21x +
5(mod.26), (pois 5.21 1(mod.26)). A terra e azul e levada por
f na seq
uencia f wzmmf z wabi.
10
10
1
1 1
+ 0 1
1
1 1 1 1
0 0 1
e
(20)
1 0 1 1 1
1 1 10
1 0 1 0 0 1
(22) (i) 211134 (ii) 2020314 (iii) (21324 2234 ) = 13034 (iv)
Quociente 124 e resta 3124 (v) Quociente 334 e resta 34 (vi)
Quociente 114 e resta 104 .
(23) (i) 10011011012 (ii) 2120003 (iii) 15457 (iv) 51511 .
(24) 120113 = 139.
(25) Semelhante ao exerccio (23).
(26) Os dgitos da base 4 sao 0,1,2 e 3; logo em 15324 o 5 nao pode
378
aparecer.
(27) 9, 421875 = 9 + 0, 421875. Temos 9 = 10012 e 0, 421875 =
0, 0110112 , Logo 9, 421875 = 1001, 0110112 .
(28) (a) (i) 0, 8125 = 0, 11012 (ii) 34 = 0, 75 = 0, 112 (iii) 0, 6875 =
0, 10112 (iv) 58 = 0, 625 = 0, 1012 (v) 0, 7 = 0, 101102 (vi) Pelo
item (iv) 0, 625 = 58 . Logo 24, 625 = 24 + 58 = 11000, 1012 . (vii)
29 = 111012 e 0, 1875 = 0, 00112 . Logo 29, 1875 = 11101, 00112
(viii) 0, 22 = 0, 001110, (Veja exemplo 2.26(A)(iii).
1
= 0, 8125 (ii) 0, 1112 = 21 + 14 + 18 = 0, 875
(b) (i) 0, 11012 = 12 + 14 + 16
1
1
1
1
+ 64
= 0, 703125.
(iii) 0, 1011012 = 2 + 8 + 16
1
(29) (i) De 1 + r + r2 + + rn + =
, para 0 < r < 1, temos
1r
1
=
23 + 27 + 211 + = 23 1 + 24 + 28 + = 23 .
1 24
1
2
2
1
7
, e 24 +28 +212 + = . Logo a resposta e 12 + 15
+ 15
= 10
.
15
15
(30) (a) Proposicao 2.23 (b) a = 6D16 = (110)(1101) =
11011012 , b = 3A16 = 1110102 , a b = 6D16 3A16 = 3316 (c)
x + y = 7C16 + A216 = 11E16 , e x y = 7C16 A216 = (A216
=
7C
16 ) = 2616 , e pela proposicao 2.23, x + y
(0001)(0001)(1110) = 1000111102 .
x y = 2616 = (0010)(0110) = 1001102 .
(31)(i) Fazendo o processo inverso da Proposicao 2.23, para a base
octal, junte os n
umeros da seq
uencia em blocos de 3 dgitos ordenados `a partir da vrgula e passe
cada bloco para a base dez:
(101111, 01)2 = (101)(111), (010) 2 = 57, 28 e (111010, 1001)2 =
(111)(010), (100)(100) 2 = 72, 448 . Na base hexadecimal temos:
(101111, 01)2 = (0010)(1111), (0100) 2 = 2F, 416 e
(111010, 1001)2 = (0011)(1010), (1001) = 3A, 916 .
(ii) Use a Proposicao 2.23 para obter:
A85E, 1616 = 1010100001011110, 00010112 . Para reduzir para a
base octal nao podemos usar a Prop. 2.23, (Por que?). Passe para
a base decimal e depois para a base octal para obter: A85E16 =
124136, 0548 . E
761F, 9816 = 73037, 468 = 111011000011111, 100112 .
(32) Facamos as tabuadas da base octal (mais curtas).
+
0
1
2
3
4
5
6
7
0
0
1
2
3
4
5
6
7
1
1
2
3
4
5
6
7
10
0
1
2
3
4
5
6
7
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
1
2
3
4
5
6
7
2
2
3
4
5
6
7
10
11
2
0
2
4
6
10
12
14
16
3
3
4
5
6
7
10
11
12
3
0
3
6
11
14
17
22
25
4
4
5
6
7
10
11
12
13
4
0
4
10
14
20
24
30
34
379
5
5
6
7
10
11
12
13
14
5
0
5
12
17
24
31
36
43
6
6
7
10
11
12
13
14
15
6
0
6
14
22
30
36
44
52
7
7
10
11
12
13
14
15
16
7
0
7
16
25
34
43
52
61
380
iR
0
(27) (i) (a) {1, 2, 3, {1, 2, 3}}, (b) {}, (c) {, {}}, (d) , {},
1
23
, {} ; (ii) n + 1.
(28) Do exerccio (4): (a) y = 11100000, (b) 00010000, (c)
00000000, (d) 00011111, (e) 11111000, (f) 00011000, (g) 11111101;
Do exerccio (5) (a) 111111111, (b) 001000000, (c) 001101010,
(d) 010000100, (f) 010011100.
uencias de bits as(30) Sejam a = a1 a2 an , b = b1 b2 bn as seq
sociadas aos conjuntos A e B, respectivamente. Ent
uencias
aoc as seq
de bits associadas aos conjuntos A B = A B e AB sao,
respectivamente: a b e (a b) (a b).
381
0 0 0
1
0
0
0
0 0 1
MR =
MS = 0 1 0 0 ,
0 1 0 ,
0 0 1 0
1 0 0
0 0 0 0
1 0 0
0 0 1 0
0 1 0
MSR =
MRSR =
0 1 0 0 ,
0 0 1 .
1 0 0 0
0 0 0
(18) S R = {(1, 0), (2, 1)}, R S = {(2, 0), (2, 1), (3, 2)},
R S R = {(1, 0), (1, 1), (2, 2)} e R3 = {(0, 0), (0, 1), (0, 2), (0, 3),
(1, 2), (2, 1), (2, 3)}.
(20) D = {(2, 3), (2, 4), (4, 3)} {1, 2, 4} {3, 4} e D com a menor
382
c
(g) R (S Tc = {(1, 1), (1, 3), (3, 2), (3, 4), (4, 1), (4, 4)}
(h) (S T) (R Tc ) = {(1,2), (1,4), (2,1), (2,2), (2,3), (2,4), (3,1),
(3,3), (4,2)}; e
1 1 0 1
0 1 0 1
1 1 1 1
1 0 0 0
MSR =
=
M
RS
1 0 1 0
0 0 1 0
0 1 1 1
0 0 0 0
0 0 0 0
0 1 0 1
0 1 0 0
1 1 1 1
c =
MTc =
M
RT
0 0 1 1
1 0 1 1
0 1 1 0
0 1 1 0
1 1 0 1
0 1 1 1
1 0 1 1
1 0 1 1
M(RS)T =
MRSc =
1 0 0 0
1 1 1 1
0 0 0 1
1 0 1 0
1 0 1 0
0 0 0 0
c =
M
0 1 0 1 , e nalmente
R(STc
1 0 0 1
0 1 0 1
1 1 1 1
M(ST)(RTc ) =
1 0 1 0
0 1 0 0
383
k=0
384
385
(10)
72
D [777
77
77
77
77
77
7
2E 3 .3Z6
23Y4
66
66
66
66
66
66
6
22C .3[72
77
77
77
77
77
77
7
2
2D 2 .3[7
2.3
C Y44
7
44
77
44
44
77
44
44
77
44
44
7
44
77
44
44
77
44
4
7
2
2.3
2 Z6
3E 2
C [77
66
77
66
77
66
77
66
77
66
77
66
6
7
2 [7
C3
77
77
77
77
77
77
7
386
uni
ao de duas ordens n
ao e uma ordem, pois se R e uma ordem
ao R R1 nunca e orsobre A, diferente da ordem trivial A ent
dem, pois existem a = b com (a, b) e (b, a) R R1 .
ao (a, b) R
(13) Se R e relacao de ordem, seja (a, b) R R1 . Ent
1
e (a, b) R , ou seja, (a, b) R e (b, a) R. Como R e de ordem
b = a. Logo R R1 IE . Como R e R1 sao relacoes de ordem
ao
IE R R1 . Facamos agora R R = R. Seja (x, z) R R. Ent
existe y tal que (x, y) e (y, z) R. Como R e transitiva (x, z) R.
Logo R R R. Seja (x, y) R. Como (y, y) R temos que
(x, y) R R e por isso R R R. Logo R R = R.
ao IE R. Logo
Reciprocamente se RR1 = IE e RR = R, ent
R e reexiva. Sejam x, y E tais que (x, y) e (y, x) R. Ent
ao
1
1
(x, y) R e (x, y) R , ou (x, y) R R = IE . Logo x = y e
portanto R e anti-simetrica. Finalmente, sejam (x, y), (y, z) R.
Logo (x, z) R R = R e R e, entao, transitiva. Portanto R e
relacao de ordem.
(14) A ordem 1 e total, pois dados x = (x1 , . . . , xn ), y = (y1 , . . . ,
yn ) em X n . Se x = y ent
ao, existe i, 1 i n tal que xi = yi
(em X). Tome i0 o menor dos ndices i tal que xi = yi . Como e
total temos: xi0 yi0 ou yi0 xi0 . Da x y ou y x.
(15) Denotando por Ri a relacao sobre o conjunto {a, b, c, d, e} cuja
matriz e Mi , i = 1, 2, 3, 4 somente R1 e R3 sao relacoes de ordens.
(16) Para R1 os pares de elementos a, c e b, c sao incomparaveis;
e para R3 os elementos b, c sao incomparaveis.
ALGUNS PARADOXOS EM MATEMATICA
J
a vimos que na logica classica so ha duas ocorrencias como valores logicos: falso ou verdadeiro. N
ao ha uma terceira ocorrencia
como valor logico, como acontece em outras teorias logicas. Agora vamos apresentar varios paradoxos em matematica, a maioria
deles baseados no problema da diagonal de uma teoria.
A diagonalizacao de uma sentenca e uma sentenca de carater
mais ou menos universal, que pode ser colocada dentro de algumas teorias. Para deni-la, e preciso um pouco mais de teoria
sobre logica e sugerimos ao leitor que busque em livros sobre o
assunto. O problema das sentencas diagonais e que, apesar de
ser uma sentenca clara e bem colocada dentro da teoria, ela deveria ser uma proposicao. Mas nao o e, pois e uma sentenca que
n
ao e verdadeira e nem e falsa, como veremos em varios exemplos a seguir. Por isto se diz que existem teorias (sobre Q, por
exemplo) que sao incompletas, pois existem proposicoes na teoria que nem sao verdadeiras, nem sao falsas. Para dar uma ideia
melhor da diagonal, suponhamos um conjunto de proposicoes, que
possui um subconjunto A de proposicoes, que tem a propriedade
de reetir as demais. Assim, cada proposicao neste conjunto e
simetrica, em relacao a A, a uma outra proposicao distinta dela,
sendo que cada proposicao de A tem a propriedade de ser simetrica
em relacao a si mesma. Em resumo, o subconjunto A e como se
fosse um espelho. Cada proposicao (objeto) e uma armacao sobre seu simetrico (imagem) e vice-versa. Portanto, se p e uma
proposicao de A, ent
ao p faz uma armacao sobre si mesmo.
Os tens de (A), (B), (D), (E), (H), (I), (J), (M) se referem
ao problema da diagonal. Pergunta: Existem outros tens que se
388
389
390
391
BIBLIOGRAFIA
SOBRE OS AUTORES
e Algebra
Comutativa e Jogos no Ensino da Matem
atica. Atualmente e coordenadora regional da OBMEP.
O Professor Clotilzio e licenciado em Ciencias em 1977 e em