Alaine Lazaroni PDF
Alaine Lazaroni PDF
Alaine Lazaroni PDF
por
ALAINE LAZARONI COELHO DE MELO
Programa de Ps-Graduao em Lingstica
Rio de Janeiro
Agosto de 2010
Examinada por:
_________________________________________________
Orientadora: Prof. Doutora Vera Lcia Paredes Pereira da Silva Lingstica UFRJ
_________________________________________________
Prof. Doutora Helena Gryner Lingstica UFRJ
_________________________________________________
Prof. Doutora Maria Aparecida Lino Pauliukonis Letras Vernculas UFRJ
_________________________________________________
Prof. Doutora Christina Abreu Gomes Lingstica UFRJ
_________________________________________________
Prof. Doutora Clia Regina dos Santos Lopes Letras Vernculas UFRJ
Rio de Janeiro
Agosto de 2010
2
AGRADECIMENTOS
Agradeo primeiramente a Deus, que sempre esteve ao meu lado nos momentos bons e
nos momentos ruins.
Aos meus pais, Gilda e Edson, pelo amor incondicional, pelo apoio e pelo incentivo que
me dedicam. Agradeo por sempre acreditarem em mim e no meu sucesso.
Aos meus irmos, Aluane e Alan, que sempre me ajudaram quando precisei e com quem
sempre poderei contar, pois sempre estaro ao meu lado. Minha irm, muito obrigada
pela digitao do corpus.
Ao meu tio Hamilton, por me socorrer quando necessitei. Obrigada por estar ao meu
lado no momento em que me desesperei.
amiga Cntia Ferreira, que mesmo no morando mais no Brasil, manteve-se presente
em minha vida, apoiando-me e acreditando em mim e no meu sucesso. Obrigada por
sua amizade verdadeira.
s amigas Talita Moreira e Fabola Hernandez, por todo o companheirismo e
cumplicidade durante a faculdade, a iniciao cientfica e o mestrado. Agradeo pela
ajuda que sempre me deram e por participarem de todos os momentos de minha vida.
s amigas Charlene Bispo e Casa Porto, por todo amor e carinho que sempre me
dedicaram. Obrigada, especialmente, pela amizade sincera, pela compreenso, por
nossas infinitas conversas e por todo apoio profissional.
minha amiga e cmplice Gianne Neves, quem sempre me apoiou e ajudou desde o
ensino mdio. Agradeo por seus conselhos pessoais, profissionais e acadmicos.
Obrigada por fazer parte de minha vida e por sempre torcer por minha vitria.
Aos amigos Marcio e Gabriela Simio, a quem eu agradeo por todas as palavras de
carinho, amizade e de amor.
amiga Luciana Nunes, por todo apoio e carinho que me direcionou, por me fazer rir,
por me permitir chorar, por toda sua amizade.
famlia Zaro, Thiago, Thayssa, Marli, Gilberto e Matheus, por suportarem com muita
pacincia o meu desespero e por sempre acreditarem em minha capacidade. Thiago e
Thayssa, muito obrigada pela ajuda com o meu corpus.
Ao mais recente amigo Pedro Ivo Vasconcellos, pelo carinho e companhia que me
direcionou nessas ltimas semanas.
A todos os meus amigos, que me incentivaram e que sempre torceram por mim e pelo
meu sucesso.
Aos professores que fizeram parte de minha histria: Vera Paredes, Mrcia Machado,
Clia Regina, Christina Abreu, Maria Luiza Braga, Eline Resende, Mercedes Sebold,
Leticia Rebollo, Maria Maura, Mario Martelotta, seja pelo carinho, pela admirao ou
pelo fato de terem marcado minha vida acadmica.
s professoras Helena Gryner, Maria Aparecida Lino Pauliukonis, Christina Abreu
Gomes e Clia Regina dos Santos Lopes, por aceitarem, gentilmente, fazer para da
minha banca avaliadora.
Obrigada a todos que fizeram parte de minha vida
5
AGRADECIMENTO ESPECIAL
Vera Paredes,
pelas aulas que despertaram em mim o interesse pela Lingstica ainda na graduao,
por me aceitar como orientanda,
por compartilhar comigo toda sua sabedoria e experincia
e por confiar sempre em mim e em minha capacidade.
Muito obrigada, principalmente, por ser uma imensa companheira
e ser mais que uma professora e orientadora.
ABSTRACT
SINOPSE
Anlise do fluxo informacional em cartas
de leitores do jornal O Globo. Influncia da
intertextualidade e do dialogismo na forma
de introduzir as informaes. Correlao de
status informacional, forma do sintagma
nominal e funo sinttica.
SUMRIO
1. INTRODUO ............................................................................................... 12
2. PRESSUPOSTOS TERICOS ...................................................................... 15
2.1. Funcionalismo .................................................................................... 15
2.1.1. Informatividade .................................................................... 16
2.1.2. Chafe (1976, 1987) ............................................................... 17
2.1.3. Prince (1981) ......................................................................... 24
2.1.4. Prince (1992) ......................................................................... 27
2.2. Anlise de gneros .............................................................................. 31
2.2.1. Gneros e tipos textuais ...................................................... 31
2.2.2. O gnero cartas ................................................................ 33
2.2.3. Cartas de leitores ................................................................. 34
3. DESCRIO DO CORPUS E METODOLODIA ...................................... 36
3.1. Tema veiculado pelo jornal ............................................................... 37
3.2. Metodologia ........................................................................................ 42
4. ANLISE DO CORPUS .................................................................................. 44
4.1. Cartas publicadas no dia 05 de setembro ........................................ 45
10
11
1. INTRODUO
12
14
2. PRESSUPOSTOS TERICOS
2.1 Funcionalismo
15
2.1.1. Informatividade
16
Seguindo uma linha representada por Prince (1981, 1992) e Chafe (1976,
1987), analiso os aspectos relativos embalagem da informao, ou seja, como a
informao apresentada ou retomada no discurso. Trata-se de uma anlise emprica do
uso da lngua, em um gnero de escrita.
Muitos lingistas tm abordado a noo de status informacional em seus
trabalhos. Prince, Chafe, Bolinger, Clark, Horn e Kuno (conforme Prince 1981) so
apenas alguns dos nomes que tm achado esta noo relevante para seus estudos. Porm
os principais autores nos quais me fundamento so Chafe (1976, 1987) e Prince (1981 e
1992), que passo a expor.
18
19
Os nomes prprios so definidos por natureza uma vez que eles so rtulos diretos para
referentes particulares.
20
21
Com relao noo de sujeito, outra das discutidas no texto, uma definio
estritamente sinttica, com apenas relevncia cognitiva indireta na melhor das hipteses.
Para Chafe no artigo citado (1976), a melhor maneira de caracterizar a funo sujeito
no muito diferente da antiga, ou seja, o sujeito aquilo de que estamos falando.
provvel que um dos principais modos em que o conhecimento novo transferido
talvez at o nico modo atravs da identificao de um item particular como ponto
de partida, acrescentando informao sobre ele para o ouvinte. A informao obtida na
sentena sobre o sujeito. As informaes sobre outros indivduos devem ser, de
alguma forma, computadas, pois a informao sobre o que tratado como sujeito
deveria ser acessvel mais facilmente.
Ao abordar o conceito de tpico, Chafe (1976) apresenta-o no estilo ingls e no
estilo chins, tpicos como sujeitos prematuros uma espcie de anacoluto e
antitpicos. O tpico ingls simplesmente um foco de contraste que por alguma razo
foi deslocado para o incio da frase um fenmeno observado com freqncia. Chafe
(1976) levanta uma questo a respeito do tpico ingls: por que ele deve ser chamado de
tpico (o deslocamento para a esquerda) se em outras lnguas, como o chins, ele no
seria assim identificado? Ele sugere que o termo tpico deveria deixar de ser usado para
esses casos de contrastividade uma vez que naquelas lnguas (o chins, por exemplo)
no h a necessidade do tpico ser contrastivo e pelo fato de o que Chafe (1976)
considera tpicos reais ser bem diferente do estilo ingls. Esses tipos de tpicos at
so encontrados no portugus coloquial falado, mas no no corpus aqui investigado.
No h nenhum esquema de empacotamento, em ingls, que corresponda ao
tpico chins, entretanto o encontramos no portugus oral, como demonstra Pontes
(1987) No portugus coloquial acontece exatamente como em chins, no como em
22
ingls: a preposio no necessria (p. 17). A autora cita alguns exemplos de tpicos
do portugus que se aproximam aos do chins:
(4) Essa bolsa aberta a, eu podia te roubar a carteira.
(5) O seu regime entra muito laticnio?
Esse tipo de tpico parece ajudar a delimitar a predicao principal, restringi-la
a certo domnio. Parece, previsivelmente, estabelecer uma estrutura espacial, temporal
ou individual a que a predicao principal se refere o que em ingls seria obtido
atravs de certos advrbios, preposies ou outros dispositivos. No registro escrito do
portugus, de acordo com Pontes (1987), temos a presena desse tipo de tpico
precedido pela expresso quanto a ou em relao a4 (p. 100). A autora exemplifica
assim:
(6) Quanto ao almoo, eu volto mais cedo.
Em poucas palavras, tpicos reais no so tanto sobre o que a sentena
como a estrutura dentro da qual a sentena se localiza.
Concluindo o trabalho apresentado por Chafe (1976, 1987), um nome particular
em uma sentena - ou mais corretamente a idia expressa por esse nome - alm de ter
algum status do caso pode ter tambm os vrios status de empacotamento
selecionados pelo falante com base em sua avaliao do que o destinatrio tem em
mente naquele momento. O item em questo ser ativado (dado), semi-ativado
(acessvel) ou inativo (novo), dependendo da avaliao do falante, ou seja, se o referente
mencionado naquele momento est ou no na conscincia do destinatrio. Pode ser
4
H ocorrncia desse tipo de tpico precedido pela expresso quanto a no corpus analisado, porm no
23
De acordo com Prince (1981), a noo de informao dada / nova tem sido usada
em muitas pesquisas lingsticas com vrias denominaes: velha / nova, conhecida /
desconhecida, pressuposio / foco, e assim por diante. E tem sido considerada tanto na
explicao de muitos fenmenos a nvel sentencial quanto na explicao de como os
discursos so estruturados e compreendidos.
Porm, essa noo nunca recebeu uma caracterizao satisfatria que permitisse
a um lingista no apenas apelar para ela, mas realmente coloc-la em uso. E um dos
motivos para essa dificuldade seria o fato de, ao se analisar as definies que tm sido
apresentadas, verificarmos que no h apenas uma noo envolvida, mas vrias.
Assim, Prince (1981) procura um modelo preliminar para um tratamento mais
preciso de tudo que tem sido chamado de dado / novo. Para isso, a autora examina
5
Acredito que valha a pena apresentar os textos da Prince separadamente por ela ter sido a primeira a
24
rapidamente alguns dos modos em que os termos dado / novo tm sido usados na
tentativa de organizar as vrias compreenses antes de apresentar sua proposta.
Um tipo que foi apresentado por Kuno (1972, 1978, apud Prince 1981) de como
chamar informao velha / nova o de preditabilidade / recuperabilidade (no qual o
falante supe que o ouvinte pode dizer ou poderia ter predito que um item lingstico
particular ir ou iria ocorrer em uma posio particular dentro da sentena). J Halliday
(1967, 1976 apud Prince 1981) chama de informao dada [no-marcada] / nova.
Desse modo, as duas noes so definidas de modo diferente e o que informao velha
para Kuno no necessariamente informao dada para Halliday.
Haviland e Clark (1974 apud Prince 1981) e Clark e Haviland (1977 apud Prince
1981) tratam dado/novo como o conhecimento partilhado (no qual o falante supe que o
ouvinte pode inferir algo particular, mas no est necessariamente pensando nisso).
Embora sejam diferentes entre si, preditabilidade, salincia e conhecimento
compartilhado no so mutuamente independentes, uma vez que neles podemos
verificar a presena de suposies e de inferncias seja por parte do falante, seja por
parte do ouvinte. Alm disso, nos trs casos h a possibilidade de algum item ser
considerado como dado por razes extralingsticas, indicando que nenhum dos trs
itens pode ser completamente explicado somente em termos sentenciais ou mesmo
textuais.
Assim, uma compreenso do carter dado de uma informao, no sentido de
conhecimento compartilhado, pr-requisito para a compreenso do carter dado de
uma informao nos outros dois sentidos. Pensando deste modo, Prince (1981) prope
que nos desfaamos da expresso conhecimento partilhado por ele poder ocasionar
25
confuso, uma vez que vemos que tudo que um falante tem para continuar tratando algo
como conhecido o que ele(a) supe que o ouvinte suponha. Com isso, ela prope o
termo provisrio Familiaridade Assumida (ou Pressuposta).
Prince (1981) define texto como um conjunto de instrues de um falante para
um ouvinte sobre como construir um modelo particular de discurso. Esse modelo
conter entidades, atributos e elos entre as entidades. Para a autora, uma entidade
um objeto do modelo de discurso; ela pode representar um indivduo (existente ou no
no mundo real), uma classe de indivduos, um exemplar, uma substncia, um conceito,
etc. De acordo com Webber (1978 apud Prince 1981), entidades podem ser pensadas
como ganchos onde pendurar atributos. So expressas por nominais
Segundo Prince (1981), quando um falante introduz pela primeira vez uma
entidade no discurso podemos dizer que uma entidade nova. Entidades novas so de
dois tipos: o ouvinte pode ter que criar uma nova entidade, neste caso totalmente nova
(que pode ser ancorada6 ou no), ou supor que uma entidade est no prprio modelo do
ouvinte ( o caso dos referentes nicos). Esse tipo chamado de no-usada (disponvel).
Vejamos um exemplo:
(7) [...] Meu filho caula, Davy, de 4 anos, morreu atropelado no
dia 21 de fevereiro deste ano, quando brincava em frente de casa.
Nesse exemplo, podemos observar que meu filho caula totalmente novo, pois
uma entidade introduzida pela primeira vez no discurso, e ancorado, uma vez que a
entidade criada para filho caula est relacionada entidade do falante por meio do
pronome possessivo meu.
26
27
Entidade
Prince
Nova
Totalmente
Infervel
No Usada
Evocada
Textualmente
Situacionalmente
Nova
Ancorada
No ancorada
Essa mesma carta foi analisada por vrios autores, a partir de perspectivas diferentes, no livro citado.
29
realizao
desse
trabalho,
Prince
(1992)
aborda
noo
de
definitude/indefinitude, uma vez que, apesar de essa noo parecer relativamente clara e
objetiva, ela tem sido objeto de confuso e discusso no meio lingstico. Em particular,
ela tida como propriedade formal dos sintagmas nominais, mas ao mesmo tempo,
apontada como uma propriedade conceitual das entidades do discurso.
Segundo a autora, a definitude formal consiste em marcar um sintagma nominal
como definido ou indefinido nas lnguas que apresentam essas marcas em sua estrutura,
como por exemplo, artigos definidos e indefinidos, pronomes possessivos ou
demonstrativos, quantificadores, entre outros.
Faz sentido, assinala Prince (1992), falar sobre definitude formal e definitude
informacional em anlises histrico-comparativas, pois com isso possvel comparar
diferentes sistemas formais aplicados na marcao das mesmas classes informacionais.
Na anlise proposta por ela, a definitude ser considerada apenas como uma categoria
formal, de modo que outros termos sero usados com referncia a categoria
informacionais. Em relao a esse assunto, Prince (1992) acredita que os sujeitos
tendem a ser definidos e tal argumento que ser verificado nas cartas do ZPG.
Alm da noo de definitude, Prince (1992) tambm trata da noo de status
informacional. De acordo com ela, como se disse, ao se tratar de status informacional os
termos dado/velho e novo ganham vrios significados ao longo dos anos. Para a
autora, podem-se diferenciar trs noes de velho/novo.
30
Na primeira, apresenta a idia de velho/novo nas construes de focopressuposio. Essas construes so basicamente estruturas clivadas, nas quais as
pressuposies so geralmente consideradas informao velha ou, no mnimo,
conhecida ou infervel, enquanto que o foco tido como informao nova.
Na segunda noo abordada pela autora, observamos a distino entre
velho/novo com relao ao que est na mente do ouvinte. Uma informao, que aqui
significa entidade/referente, pode ser considerada velha/nova dependendo da crena
do ouvinte, ou seja, o falante que considerar o que velho/novo dependendo do que
ele acredite que esteja na mente de seu ouvinte.
A terceira noo de velho/novo apresentada por Prince (1992) est centrada no
modelo discursivo. Nesse terceiro caso, em vez de se acessar uma informao a partir
do ponto de vista da mente do ouvinte, podemos acess-la a partir do ponto de vista do
modelo discursivo construdo durante o processo de comunicao. Assim, uma entidade
pode ser considerada velha/nova dependendo do modelo discursivo, ou seja, pode ser
discursivamente velha/discursivamente nova. Deste modo, um sintagma nominal
pode se referir a uma entidade de que j foi evocada anteriormente no discurso ou pode
evocar uma entidade que ainda no apareceu previamente no discurso.
Alm dessas trs noes de velho/novo, Prince (1992) apresenta ainda a
categoria de inferveis. Segundo ela, este seria um terceiro status para uma entidade no
modelo discursivo. Podemos considerar esse status quando um falante evoca alguma
entidade no discurso assumindo que o ouvinte ser capaz de inferir sua existncia a
partir de outras entidades, tudo isso baseado na crena do falante sobre a crena do
ouvinte e em sua habilidade argumentativa.
De um modo geral, a autora assume que a categoria de definitude fornece uma
idia aproximada do status velho/novo da informao para o ouvinte, mas com relao
31
34
uma diversidade nos tipos de cartas: carta pessoal, carta circular, carta resposta, carta do
leitor, e outras.
36
As cartas que temos do Jornal do Brasil, apesar de serem semelhantes s do Jornal O Globo, no
entraram na anlise porque no so do mesmo perodo e, por isso, no abordam o mesmo tema, o que no
nos permitiria observar a evoluo do tratamento do tema noticiado.
37
O acidente dos cinco jovens noticiado pela primeira vez no dia 04 de setembro
de 2006 e a partir desse dia que comea a publicao das cartas comentando o
episdio. Publicam-se cartas nos dias 05 e 06 de setembro referentes ao acidente.
Seguem as fotos do acidente publicadas no dia 04 de setembro9:
Foto (1)
38
Foto (2)
As fotos (1) e (2) foram publicadas na primeira pgina do jornal. As que seguem
encontram-se no interior do jornal juntamente com a apresentao da notcia que
descreve o acontecimento (p. 9 Primeiro Caderno):
39
Foto (3)
Foto (4)
40
Foto (5)
No dia 07 de setembro no h cartas sobre tal fato, porm o jornal veicula uma
foto de trs turistas posando na orla da Praia Vermelha ao lado de um corpo coberto
com um saco preto sob o ttulo de Banalizao (p. 2 Primeiro Caderno)10. Retomase, ento, no dia 08 de setembro, o assunto do acidente dos jovens. Entretanto, desta
vez, os leitores o comparam com este novo incidente e com um ainda mais antigo, que
foi a publicao da foto de uma me segurando o filho assassinado nos braos (fato que
ocorrera dias antes do acidente dos jovens). Abaixo, tem-se a foto dos turistas ao lado
do corpo veiculada pelo jornal:
10
41
Foto (6)
Ainda no dia 08, entre as notcias, publica-se mais uma reportagem sobre o
acidente, com a opinio de uma juza sobre o caso: esta responsabiliza os pais, dizendo
que eles no impem limites a seus filhos11. Por terem sido declaraes polmicas, h
uma forte reao por parte dos leitores na seo de cartas do dia seguinte publicao
dessa matria (dia 09 de setembro, ltimo dia de coleta do material).
Todas as cartas publicadas na seo Cartas de Leitores dO Globo so reunidas
pelos temas que abordam e recebem um subttulo organizador que as diferencia pelo
assunto tratado. Assim, na tabela abaixo, podemos verificar a distribuio das cartas de
acordo com os dias analisados:
11
42
Dia da publicao
das cartas
05 de set/06
27 / 27
Tragdia na Lagoa
06 de set/06
23 / 23
Tragdia na Lagoa
08 de set/06
8 / 22
Tragdia na foto
09 de set/06
14 / 22
Pais negligentes
3.2. Metodologia
quando o referente estiver sendo retomado no texto sob anlise; informao infervel,
quando o referente for dedutvel, previsvel, ou pelo texto ou pelo contexto anterior;
informao nova, quando o referente introduzido for totalmente novo; e informao
nova ancorada, quando o referente introduzido for novo, porm ancorado em algum
elemento textual.
Apesar de ter como base os estudos realizados por Prince, gostaria de observar
que no desconsideramos a viso cognitiva de Chafe. Observamos, a partir das notcias
veiculadas no dia anterior publicao das cartas, como a informao apresentada,
mantida e retomada nas cartas de leitores.
Nossa anlise do fluxo informacional se concentra em sintagmas nominais,
como expresso de referentes. Realizamos um levantamento dos sintagmas nominais em
funo de sujeito, complemento verbal12, aposto ou agente da passiva e identificamos se
tal referente/entidade j havia sido mencionado(a) anteriormente (nas notcias ou em
outras cartas), se poderia ser inferidos a partir do que foi publicado ou se aparece pela
primeira vez, sendo introduzidos na carta do leitor.
Separamos e agrupamos, para essa anlise, as cartas por interlocuo e por
propsito comunicativo. Por interlocuo, verificamos que as cartas interagiam com
alguma notcia, com a redao do jornal e com outros leitores. J por propsito,
encontramos cartas que expressam, por exemplo, solidariedade aos pais, crtica,
exortao e apresentam depoimento pessoal.
Assim, com base nesses elementos que observo e analiso a categoria do status
informacional aplicada a um corpus cartas de leitores (do jornal O Globo), centradas em
um nico tema.
Hipteses a testar:
12
44
45
4. ANLISE DO CORPUS
sobre
acidente,
expresso
de
um
depoimento
pessoal,
responsabilizao (seja esta em relao aos pais, boate, bebida, s autoridades, aos
47
Essa carta um exemplo de carta que reage matria veiculada no dia anterior
pelo jornal e tem como propsito apresentar solidariedade aos pais das vtimas do
acidente. Verificamos que os referentes so introduzidos como se fossem informaes
dadas, uma vez que o autor pressupe que estas informaes estejam acessveis na
memria do leitor. Dentre os referentes destacados na carta acima, verificamos a
presena de referentes inferveis a partir de elementos no presentes no texto sob
anlise, mas pressupostos de leituras anteriores (do jornal da vspera), como em pais de
jovens e adolescentes (em funo de aposto), pois no se trata dos pais dos jovens
acidentados,mas h uma generalizao; as fotos, a reportagem do acidente na Lagoa
(que um rtulo metadiscursivo13), dramas to dolorosos (todos em funo de
13
48
complemento verbal) que esto na memria do leitor a partir da notcia publicada no dia
anterior; e referentes inferveis do texto da prpria carta, como o caso de a vida dos
filhos (em funo de complemento verbal) que aparece como uma informao
conhecida e infervel do referente pais que aparece uma orao antes. Temos, ainda,
a presena de uma informao velha (nesse caso um velho textual) esses pais (na
funo de sujeito) que retoma o referente pais que foi mencionado cinco oraes
antes.
Abaixo segue outro exemplo de carta publicada nesse dia:
Exemplo (8)
Fiquei comovida ao ver aqueles jovens no cho e o desespero
dos pais. No sei de quem a culpa. Mas tenho uma dvida:
por que esses carros j saem da fbrica podendo ter velocidade
to alta, bem acima do que poderia ser razovel?
Ivany Garcia Apstolo
No exemplo acima verificamos a presena dos referentes velhos (no sentido 1,
cf. seo 3.2): aqueles jovens, o desespero dos pais (ambos em funo de complemento
verbal), uma vez que foram veiculados pela notcia do dia 04 de setembro; temos o
referente totalmente novo uma dvida (tambm na funo de complemento verbal); e,
ainda, o referente infervel esses carros (na funo de sujeito) e outro referente infervel
da fbrica (agora em funo de complemento), que foi acessado a partir do referente
esses carros. Vale ressaltar a presena de diticos memoriais (aqueles jovens ou esses
carros) que, segundo Cavalcante (2003), indicam que o referente tem acesso fcil na
memria comum dos interlocutores e incentivam o destinatrio a buscar ali a
informao que ele precisa (p. 107). Assim, essas expresses denunciam ao leitor que o
autor da carta pressupe que ele compartilhe o conhecimento de a quais jovens e de a
quais carros o autor se refere.
49
Nessa carta, temos os referentes velhos (no sentido 1) a foto da me com o filho
morto no colo e a foto do acidente na Lagoa (ambos em funo de sujeito) que retomam
referentes mencionados anteriormente nas notcias veiculadas pelo jornal. Alm desses,
temos um referente novo ancorado explorao da dor alheia, que aparece em funo de
complemento verbal. A ncora, no caso, a dor, j mencionada. Observe-se que a
expresso tem um carter avaliativo e fecha a carta.
Exemplo (10)
Indiscutvel a dor de familiares envolvidos no desastre na
Lagoa. Mas, como me e educadora, fiquei perplexa ao ler as
cartas desta seo hoje (tera-feira)! Em sua maioria, os
leitores querem transferir para os estabelecimentos comerciais,
para as fbricas de automveis e para o poder pblico o
dever de estabelecer limites, desenvolver valores e acompanhar
a vida dos filhos... No seria esse o papel dos pais?
Cristiane Pereira Ramos
51
J essa segunda carta tem um referente velho (no sentido 1) a publicao das
fotos do acidente na Lagoa e um referente velho (no sentido 2), linhas 6 e 7 da carta, a
publicao das fotos que retoma o referente mencionado no incio da carta. Alm
desses, verificamos os referentes inferveis editoria de primeira pgina e os filhos, que
so previsveis. J trs amigos e dinheiro para o taxi so referentes novos no contexto.
Alm disso, notamos que o pressuposto de interao entre os leitores to alto
que, por exemplo, h casos de um leitor citar outros e, mais ainda, citar suas sugestes,
porm no detalh-las por considerar, talvez, que j so do conhecimento de todos,
como podemos ver na carta acima.
52
facilmente acessveis pelos leitores das cartas, no sendo extremamente relevante a data
da publicao das notcias.
Exemplo (12)
Incrdula. Choquei-me ao ver aquela me sentada no cho
segurando seu filho morto. Choquei-me ao ver o desespero dos
pais na perda de seus filhos, no desastre na Lagoa, e agora, o
que vou sentir, qual o verbo, ou sinnimo que deverei aplicar ao
ver a foto de trs ditos seres humanos, a menos de um metro,
sorrindo e ignorando um corpo cado, embrulhado num saco
preto. Ser que realmente somos de fato racionais ou
simplesmente foi um erro, na hora da escrita, de no colocar a
vogal nos irracionais?
Janette Pimentel
Temos, na carta acima, somente a presena de referentes velhos (no sentido 1),
sendo todos em funo de complemento verbal. A autora da carta lana mo de um
ditico memorial (aquela me) para resgatar da memria do interlocutor de qual me
ela est falando. Vale observar que a expresso um corpo cado introduzida por um
indefinido, porm isso no significa que seja a representao de um referente novo, o
que comprova Chafe (1976), ao afirmar que definido no est necessariamente
vinculado a informao velha.
filhos. Por conta dessas acusaes, as cartas foram reunidas sob o ttulo de Pais
negligentes e a maioria delas dirige-se diretamente juza.
Nessas cartas, verificamos como propsito comunicativo central crticas juza
por tais alegaes, acompanhadas, em alguns casos, por solidariedade aos pais,
depoimentos pessoais e sugestes para tentar solucionar o problema da associao de
lcool e direo. Quanto ao modo como as informaes so apresentadas, no notamos
diferenciao: mantm-se o alto ndice de informaes dadas (referentes retomados das
notcias anteriores) e inferveis.
A seguir apresentamos dois exemplos de cartas publicadas nesse dia. So cartas
que criticam a atitude da juza da infncia e da juventude, assim como as 12 outras
cartas.
Vemos que a primeira critica a juza de modo indireto e apresenta os referentes
veiculados pelas notcias publicadas pelo jornal. Assim, temos referentes velhos (no
sentido 1) o comentrio da juza, os familiares, a dor da perda. H, ainda, referentes
inferveis integrantes da mesma sociedade, o carro, boate. E, tambm, a informao
nova ancorada solues para o problema dos adolescentes.
Exemplo (13)
Acho cruel e contraproducente o comentrio da juza, dito no
momento em que os familiares vivem a dor da perda. Melhor
seria se todos ns, integrantes da mesma sociedade,
procurssemos solues para o problema dos adolescentes que
j se sentem adultos e querem dirigir o carro na ida boate. Ir e
voltar de txi, designar algum que no beber, por exemplo,
so sugestes apreciveis, que poderia passar para o habitual das
famlias.
Mariva Peralva
55
Infervel
278 / 549
50
Velha (1)
146 / 549
26
Totalmente Nova
52 / 549
Velha (2)
44 / 549
Nova Ancorada
29 / 549
Podemos observar que, dos 549 sintagmas nominais analisados no corpus, 278
so informaes inferveis, ou seja, considerada pelo falante dedutvel. Essa quantidade
representa 50% dos dados analisados.
As informaes totalmente novas representam apenas 9% dos dados
encontrados, so ao todo 52 dados em um universo de 549. Mesmo se somarmos a elas
as informaes novas ancoradas, teremos um percentual muito baixo, de 14%
Abaixo podemos verificar a distribuio da funo sinttica no corpus:
57
Complemento Verbal
337 / 549
61
Sujeito
201 / 549
36
Outros
11 / 549
Complemento
Verbal
Sujeito
Outros
Total
Infervel
185 = 66%
83 = 30%
10 = 4%
278 = 100%
Velha (1)
81 = 56%
65 = 44%
146 = 100%
Totalmente Nova
36 = 69%
15 = 29%
1 = 2%
52 = 100%
Velha (2)
15 = 34%
29 = 66%
44 = 100%
Nova Ancorada
20 = 69%
9 = 31%
29 = 100%
58
59
5. CONCLUSO
A partir deste trabalho com cartas, percebemos que, do ponto de vista do fluxo
informacional, as cartas de leitores dessa seo, em especial, oferecem um material
muito interessante para a anlise, visto que elas apresentam muita informao
pressuposta. E apesar de saber que so cartas muito sintticas e editadas, ainda assim, o
editor espera que o leitor esteja acompanhando o desenvolvimento do tema e capte a
informao transmitida e a inteno de quem escreveu.
Com a anlise do corpus, foi possvel depreender determinadas caractersticas
dessas cartas. Verificamos que algumas cadeias referenciais que aparecem nas notcias
veiculadas pelo jornal se mantm nas cartas dos leitores. As mais freqentes, no caso
em pauta, foram: filhos, pais, tragdia, acidente, velocidade, carro, boate, juza. Alm
desses referentes introduzidos no contexto atravs da notcia, percebemos a presena de
alguns outros referentes tambm freqentes nas cartas, por exemplo: dor, fotos, notcia,
reportagem, fbrica, bares, botecos, comentrio, opinio, frase. Esses referentes no so
anteriormente mencionados nas notcias, porm o emissor da carta acredita que esto
presentes na memria da pessoa que ler o seu texto, ou seja, so informaes inferveis
que podem ser facilmente acessadas.
As informaes so fundamentalmente conhecidas, recuperadas das notcias, ou
inferveis e, por conta disso, os referentes so, em sua grande maioria, introduzidos no
discurso em sintagmas nominais com o uso de artigos definidos ou pronomes
demonstrativos, o que caracterstico de retomada, de informao dada. . O status
novo no muito comum nos textos analisados, presente principalmente no momento
60
62
6. REFERCIAS BBIBLIOGRFICAS
BEZERRA, Maria Auxiliadora. Por que cartas do leitor na sala de aula? In:
DIONISIO,A. A ;MACHADO,A R. & BEZERRA, M.A Gneros textuais e
ensino.Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002.
BRAGA, Maria Luiza & OLIVEIRA E SILVA, Giselle Machline de. Novas
consideraes a respeito de um velho tpico: a taxonomia novo/velho. In:
Lingstica: questes e controvrsias. Uberaba, Faculdades Integradas de
Uberaba, ed. Srie Estudos, 1984.
63
CUNHA, Maria Anglica Furtado da, COSTA, Marcos Antonio & CEZARIO, Maria
Maura. Pressupostos tericos fundamentais. In: Lingstica funcional: teoria e
prtica. Rio de Janeiro, 2003.
PAREDES SILVA, Vera Lcia. Quando escrita e fala se aproximam: uso do pronome
de terceira pessoa em cartas pessoais. In: MACEDO, MOLLICA &
RONCARATI (orgs) Variao e discurso. RJ, ed. Tempo Brasileiro, 1996.
65
PRINCE, E. On the given and new distinction. Chicago, Linguistic Society 15, 1981.
_________. The ZPG letter: Subjects, Definiteness, and Information-status. In: MANN,
W. & THOMPSON, S. (eds.) Discourse Description: diverse linguistic analyses of a
fund-raising text. Amsterdam/Philadelphia, John Benjamins, 1992
SWALES, John. The concept of genre. In: Genre analysis: English on academic and
research setting. Cambridge University Press, 1990.
66
67
7. ANEXOS
7.1. Reproduo das notcias veiculadas pelo jornal O Globo
7.1.1. Primeira notcia publicada no dia 04 de setembro de 2006 que narra o
acidente e as mortes e que desencadeia toda a discusso.
69
quando sua namorada Ana Clara Padilha, de 17 anos, chegou com as amigas Manoela
de Billy, de 16, e Joana Kuo Chamis, de 17, e ele ento resolveram entra na boate.
A amigas das vtimas disse que chegou a comentar com elas que o Ivan no
estava legal, e pediu a Joana e a Manoela que no pegassem carona com ele. Elas
prometeram pegar um txi, mas no cumpriram a promessa.
Cesar critica menores na rua de madrugada
A administrao da Sky Lounge emitiu nota limitando-se a dizer que est
cooperando com a investigao da polcia. A casa no quis comentar a falta de um
alvar judicial que permitia a presena de menores de 18 anos em suas dependncias.
A juza da 1 vara da Infncia e da juventude, Ivone Caetano, lamentou o
acidente, mas disse que, nesses casos, grande parte da responsabilidade das famlias,
que no impes limites.
- Como os pais no sabem onde seus filhos de 15,16 e 17 anos esto ou com
quem andam? Como no sabem o que estes adolescentes ficam fazendo a madrugada
toda na rua? Famlias que no impem limites a seus filhos no podem transferir suas
responsabilidades aos outro. H, sim, uma proibio de bebidas alcolicas para
menores, h, sim, uma proibio de crianas e adolescentes em boates, mas onde esto
os pais? Os pais so negligentes, no vigiam seus filhos, no checam suas informaes.
Isso prprio da sociedade que no respeita as regras. mas uma prova que o Estatuto
da Criana e do Adolescente s existe para pretos e pobres disse a juza requisitou
cpias do inqurito sobre o caso da Lagoa para tomar providncias.
J o prefeito Cesar Maia, indagado se o alvar da casa ser cassado pela prefeitura,
respondeu que isso depende da justia e da polcia. Ele tambm criticou a presena de
menores na rua de madrugada:
- Paradoxalmente, temos problemas de menores filhos de pais pobres nas ruas e
os filhos de classe mdia em locais fechados. Num caso, o Estatuto autoriza a
permanncia, e no outro omisso.
O delegado da 15 DP, Luiz Alberto Rodrigues de Oliveira, mandou um ofcio
anteontem boate requisitando as imagens do circuito interno de TV do fim de semana
e as boletas de consumo dos jovens para saber se eles, principalmente Ivan Guida, que
dirigia o veculo, beberam no local. A expectativa que a boate entregue o material
ainda hoje polcia.
72
Tragdia na Lagoa
Ser que os nossos jovens tm idia de que o risco que correm, ao pedir mais uma dose,
infinitamente menor que a dor eterna que deixam em suas famlias?
Flvio Alexandre Lacerda
Gostaria de me solidarizar com as famlias dos jovens que morreram em acidente fatal
na Lagoa. Tenho um filho de 19 anos que tambm se acidentou ao colidir com outro
carro, que vinha em alta velocidade, nas proximidades da mesma boate Sky Lounge.
Felizmente nada de grave aconteceu, mais hoje eu poderia estar no mesmo lugar desses
pais. Esses freqentes acidentes, a maioria seguida de morte, nos levam a refletir se
esto sendo tomadas medidas preventivas para que tristes acidentes no nos levem os
filhos. Existe fiscalizao policial na rea? E quanto ao excesso de velocidade e
permissividade com que oferecem a crianas bebidas alcolicas, nos bares e nas boates?
Renata Studart Felilhaber
Tenho 22 anos e, diante da notcia do acidente na Lagoa, fiquei com medo. Por mim,
por meus amigos e at por aqueles que no conheo. Meu corao est apertado.
Resolvi parar e refletir. O que seria dos meus pais e dos meus amigos se algo assim
acontecesse comigo? Nunca sofri um acidente de carro, mas voltando de festas j vi
73
vrios como este. E toda vez que vejo um, penso que poderia ser eu a vtima ou meu
melhor amigo, porque muitas vezes entramos em carros com motoristas embriagados,
achando que nada vai nos acontecer, estamos to perto de casa, so s uns minutinhos...
Da prxima vez que eu sair de uma festa e o motorista estiver alcoolizado, vou lembrar
que h pessoas me esperando em casa.
Deborah Costa Peixoto
O que pretende o jornal ao reunir, numa mesma edio, fotos to dramticas, como os
corpos dos jovens mortos espalhados pelo cho, pais e mes desesperados? Talvez
queira chocar o leitor? Ou, pior, aumentar as vendas? Os editores sabem, de fato, o que
pensa o leitor dessa linha editorial?
Isabel Christina Gonalves Pacheco
mais de 100 km por hora. Quanto a leis mais severas para quem bebe e dirige, como
acontece nos pases civilizados, isto aqui no acontece. Temos exemplos de pessoas
envolvidas nesses tipos de acidentes que continuam impunemente dirigindo e at
mesmo provocando mais desastres. Agora querem at exigir que os donos de casas
noturnas administrem quem pode ou no dirigir. Que absurdo!
Jos Carlos Ferreira da Silva
lamentvel que pais tenham que suportar essa dor por pura irresponsabilidade dos
jovens, que pensam que nada lhes acontecer. preciso que haja limites para esses
jovens que querem copiar outras culturas. O pior que muitas vezes vai embora quem
nada tem a ver com isso. Esquecem que, se viverem em paises mais civilizados, sero
presos.
No
adianta
culpar ou responsabilizar os
rgos
responsveis.
responsabilidade dos pais criarem seus filhos com limites e assumir esse compromisso
para que no venham a sofrer assim.
Maria Porto de Mendona Clark
Ser que j no est na hora de haver um controle mais rgido nas entradas das boates
para menores de 18 anos, que todos sabemos entram com carteiras de identidades falsas,
inclusive livre a venda de bebidas a esses menores dentro das boates?
Jorge Augusto Correa
Fiquei comovida ao ver aqueles jovens no cho e o desespero dos pais. No sei de quem
a culpa. Mas tenho uma dvida: por que esses carros j saem da fbrica podendo ter
velocidade to alta, bem acima do que poderia ser razovel?
Ivany Garcia Apstolo
75
A trgica morte de jovens em acidente na Lagoa mostra que para evitar novas perdas
como essa, somente um processo educacional, na famlia e na escola, poder mostrar
nossa juventude que existem outras formas de vida prazerosa. Um problema falaciosa
percepo, de parte de nossos jovens, de que com eles coisas ruins no podem
acontecer. No aquelas que os induzem a essa busca alucinada, o tudo posso fazer.
Jos de Anchieta Nobre de Almeida
Esse lamentvel acidente na Lagoa Rodrigo de Freitas mostra o grande risco de quem
dirige aps uma noitada com bebidas. Um japons me contou que em seu pas as
pessoas somente vo a vida noturna de txi, e no dirigindo o prprio carro. Soube
depois que o mesmo ocorre na Sucia. Acho que esse um exemplo que os brasileiros
deveriam copiar. Quem sasse para a vida noturna diminuiria os riscos indo e voltando
de txi! Vamos transmitir essa mensagem.
Luciano Montenegro Castelo
Pais liberais, que entregam s vezes a direo de veculos velozes e furiosos para filhos
imaturos e incautos, recm-sados da adolescncia, tm grandes chances de serem
acordados na madrugada pelo telefonema de um paramdico ou autoridade policial
comunicando uma tragdia. necessrio que pais sejam mais presentes, e os filhos,
mais obedientes.
Tllio Marco Soares Carvalho
76
Li nos jornais que o maior nmero de acidentes de carro com jovens nos fins de
semana, e as principais causas so a bebida alcolica e a velocidade. O automvel em
que eles estavam tinha um motor potentssimo, e por isso atingiu uma enorme
velocidade em poucos segundos. Por que os pais no do a esses jovens carros com
motor 1.0, que tm muito menor potncia? No caso de acidentes, talvez no morressem.
Luisa Neves
Ao ler a notcia do acidente com morte envolvendo cinco jovens fiquei me perguntando
o que nossa sociedade oferece aos jovens. Diferentemente de culturas mais primitivas,
em que rituais de transio fornecem o apoio necessrio ao ser imaturo, a nossa
sociedade, dita civilizada, o deixa prpria sorte. Ainda sobre influncia de
comportamentos onipotentes, acreditando que nada de mal lhe acontecer, o adolescente
tende a se expor a riscos, algumas vezes fatais. Que a dor desses pais nos leve a
repensar sobre o atendimento (ou a falta dele) que fazemos aos jovens.
Mariza Peralva
Desagradvel a capa do GLOBO e sem necessidade, mais uma vez. Assim como na
semana passada, no preciso ver a dor de um pai para ver como ela , logo no h
77
interesse jornalstico. O que quer esse jornal, ao expor o sofrimento de pessoas em seu
pior momento?
Andr Soares Trinta
Na semana passada houve um acidente igual ao da Lagoa aqui na Avenida das Amricas
lembram? onde tambm cinco jovens se foram. Como pai, fico simplesmente
arrasado em ver a cena nas fotos do GLOBO. Precisamos colocar um ponto final nesta
mortandade. Como est sendo feito para o cigarro, sugiro que Ministrio da Sade
deflagre uma grande campanha nacional, mostrando os nmeros cada vez mais
assustadores desses acidentes. Devemos orientar mais os jovens sobre os cuidados ao
dirigir, as vantagens de se usar txis e vans para ir festas, e aumentar a represso
(honesta) de bebida alcolica e drogas.
Jos Lcio P. Geraldi
imprescindvel se perguntar o que trs menores de idade, sendo uma delas de 16 anos,
estariam fazendo na Sky Lounge, que tem entrada proibida para menores de idade, j
que se trata de boate que serve bebidas alcolicas. Seja qual for a resposta, isto custou a
vida daquelas jovens.
Lucas Carvalho
Bebida droga? No meu entender a pior das drogas, pois permitida em propagandas,
em bares e at em postos de gasolina. J que existe uma idade mnima para o consumo
de bebida, que seja feita a fiscalizao dos estabelecimentos que a comercializam.
Sabemos que os jovens h muito tempo falsificam carteirinhas para se passarem por
maiores, mas se fosse exigido a carteira de identidade talvez a fiscalizao fosse mais
eficiente. Qual o jovem que no se sente atrado pela idia de tomar cervejinha quando
em companhia de um grupo de amigos?
Maria Cristina S de Castro Lima
78
passa por to intensa tragdia, senti-me revoltado pela foto em que os corpos esto
expostos e ainda descobertos na calada. Quanto a reportagem, nada a reparar.
Hian Oliveira
Mesmo sem saber que a tragdia envolvia o filho de uma colega de trabalho, fiquei
chocada ao saber do acidente que ceifou a vida dos cinco jovens no ltimo domingo.
Nessas horas comeam as discusses sobre direo e lcool, mas acho que cabe outra
reflexo: por que as casas noturnas comeam a encerrar suas atividades to tarde? Sem
entrar nas questes que envolvem a segurana das cidades, sono no combina com
direo. A vida tambm se encerra no piscar de olhos.
Patrcia Maria de Paula
Este terrvel acidente na Lagoa, com cinco jovens, serviu para nos alertar de um fato
que est se tornando comum: adolescente freqentando boates noite sem que haja
qualquer tipo de restrio. Como tenho filhos nessa faixa etria, tenho ouvido
freqentemente que os programas dos adolescentes da Zona Sul, cada vez mais, so
casas noturnas onde a exigncia de documentos comprovando a idade tem sido feita
com mais vista grossa. Outro fato comum a facilidade com que os bares, as casas
noturnas, os botecos vendem bebidas alcolicas para esta garotada.
Paula Pessoa Cavalcanti
Tragdia na Lagoa
A publicao das fotos do desastre na Lagoa, embora fortes, tem um efeito positivo,
depois de v-las, muitos pais pensaro antes de dar as chaves de carros a filhos
adolescentes. Tenho um casal de filhos e tambm dei as chaves do carro a eles quando
eram adolescentes. Felizmente, os dois detestam bebidas alcolicas, o que no quer
dizer que no podiam ter sido vtimas de algum desastre, porque adolescente, em geral,
se acha invencvel e imune a tudo. Dei sorte. Emocionei-me com a dor desses pais e
fao a mesma sugesto do leitor Jos Lcio P. Geraldi. E no acho que o jornal errou ao
79
publicar tais fotos. Foi um sinal de alerta. O mundo no to cor-de-rosa assim, como
pensam leitores que preferem no ver a realidade.
A foto do GLOBO chocante? Claro que , mas tem que ser. No possvel continuar a
irresponsabilidade no trnsito. No s os jovens, mas tambm os maduros e os velhos.
Nunca se viu tantos bares lotados. Imagina-se que esses que bebem no vo dirigir
depois. Vo sim. E saem em disparada, corajosos, prontos para a tragdia. Junte-se a
isso, a qualquer hora do dia e da noite, a infestao de vans e txis promovendo uma
baderna perigosa e insuportvel. Isso tem que parar!
Maria Fernanda Esteves Alves
Fico indignado quando leitores escrevem crticas ao jornal por ter apresentado fotos
chocantes do acidente na Lagoa. Deve ser mostrado sim, no s nos jornais, mas em
outdoors e escolas, para ver se essa turma se toca. Como podemos ver na morte de
mais de cinco jovens, faltou dizer na lei de liberao do uso das drogas que a droga
mata e ningum pode tirar uma vida. Esta lei deve ter sido feita pelos mesmos tericos
que fizeram o Estatuto da Criana e do Adolescente, onde nenhuma responsabilidade
imputada aos jovens que se vem cercados de direitos. Realmente, este um pas sem
disciplina e sem cultura, onde nossos jovens morrerem sem causa e sem razo.
Luiz Paumgartten
A publicao das fotos do acidente na Lagoa, consideradas por alguns chocantes
embora feitas a distncia e, na minha opinio, sem sensacionalismo , despertou a
ateno de muitos pais para o que pode acontecer aos filhos. Concordo com o leitor Jos
Lcio P. Geraldi e suas sugestes. Imagino o quanto foi discutida pela editoria de
primeira pgina a publicao das fotos. Acho que a deciso foi acertada. Pelo menos,
trs amigos disseram que passaro a dar dinheiro para o txi para os filhos voltarem
para casa depois da diverso.
Edmundo C. Fonseca
Que me perdoe, dona Isabel Pacheco, mas preciso, sim, mostrar aos nossos jovens que
a morte existe e que toda ao leva a uma reao. Queremos que nossos jovens sejam
responsveis, e, para isto, h que se mostrar a realidade da vida, para que se formem
cidados com conscincia civil e moral. Eu vi campanha de conscientizao nas
estradas da Inglaterra e, acredite, as fotos de l no tinham o pudor e o respeito
mostrados nas fotos publicadas pelo jornal. Por favor, leia a carta de Deborah C.
Peixoto. Se somente ela tomou conscincia do que houve, a linha editorial acertou,
ento.
Suely Nunes
Que as pessoas utilizem esse espao para desabafar, realizar uma boa catarse, tudo bem,
mas com bom senso e cuidado, respeitando a dor alheia. Insinuar que os pais dessas
crianas sejam mais presentes ou que responsabilidade dos pais criar seus filhos
com limites e assumir esse compromisso para que no venham a sofrer assim no
certo. Ser que essas pessoas, em s conscincia, acham que esses pais no fizeram o
que estava ao seu alcance para educar esses filhos da melhor maneira? Por favor, vamos
ser mais solidrios, menos hipcritas para com esses pais j to sofridos. Que essa dor
traga a lio aos nossos jovens e a adultos tambm (e existem muitos por a precisando
de lio) de que no somos imortais.
Sandra Reis
Lendo as cartas dos leitores, lamento as razes apontadas pela grande maioria para esta
triste e irreparvel tragdia, como bebida alcolica, boate, velocidade do carro, o
prprio carro, fiscalizao, autoridades etc. minha total e irrestrita solidariedade e
carinho aos pais, parentes e amigos daqueles jovens. Mas gostaria de deixar uma
mensagem que, infelizmente, no li da grande maioria: os pais so os verdadeiros
educadores, pois no seio da famlia que se formam crianas e adolescentes no
responsvel e feliz homem de amanh.
Elcio Duarte
82
Corro o risco de ser mal interpretado, mesmo dizendo de antemo que ningum merece
passar pela dor dos pais imersos naquela terrvel tragdia na Lagoa. Tenho dois filhos e
sofro sempre que me trazem a notcia de que vo a uma festa. Porm, observando a
maneira como o automvel ficou despedaado, levando a crer que a velocidade no era
pequena, a comprovao de que nenhum dos jovens usava cinto me faz lembrar de um
professor de segurana que dizia no existir fatalidade. Sempre existir um agente
causador que poderia ser evitado. Concordo com ele. Se os jovens tivessem usando
cinto e trafegando a 70km/h, provavelmente estariam todos vivos. No so as ruas ou
estradas que so perigosas podem at contribuir para que assim paream , mas o
modo como so utilizadas.
Paulo Maurcio Ribeiro
Foi uma cena chocante a foto dos jovens mortos em um acidente de carro. E me choca
tambm a impunidade das boates que deixam entrar, e beber, jovens de 15, 16 anos. Por
que o alvar dessas boates no cassado? Por que no existe fiscalizao?
Marcos Antonio de Abreu Ferreira
Onde est a responsabilidade dos pais nesse acidente? Morei na Dinamarca e sei da
importncia da presena dos pais dentro de casa. E garanto: muito mais eficaz do que
qualquer poltica pblica de conscientizao. L, quando h festa e lcool h,
tambm, um esquema de revezamento: quem vai dirigir no bebe. Nem uma gota.
Fiscalizao parte dos demais. Assim, o pai se reveza com a me, o amigo com o outro.
E sem essa de s uma cervejinha. Quando no h consenso, opta-se pelo txi. Um
exemplo que se aprende desde cedo.
Marina Gomara
83
Todo o meu respeito ao sofrimento dos pais das vtimas, mas no podemos distorcer a
realidade. A boate tem culpa? O carro tem culpa? Na minha opinio, no. Conheo
historias de jovens que falsificam documento para entrar em boates. Uma das
finalidades desse tipo de estabelecimento vender bebidas alcolicas. Se um cliente
pede uma bebida a boate se recusar a vend-la? Alguns podem questionar se no seria
possvel reconhecer que um menor. E o que impediria que um maior de idade pedisse
a bebida e repassasse ao menor? E quanto ao carro? O mesmo anda sozinho ou
necessrio um condutor? Os testes de coliso na F-1 so feitos a 40km/h. Qual ser,
ento, a potncia que nossos carros devero ter? O que precisamos de mais educao.
Fbio Moreira Pereira
Mais do que medo. O acidente dos 5 jovens gerou em milhes de jovens o choque da
realidade. Ontem, em casas, escolas de ensino mdio e faculdades, o assunto foi o
mesmo, a discusso foi incessante, os olhos sempre midos, o olhar perdido. Talvez
esse tenha sido o maior sentimento de perda coletivo da nossa gerao. Por serem como
ns, por serem ns (tenho 18 anos): jovens que estudam de segunda a sexta e saem no
fim de semana para se divertir, que so amados por seus pais, que amam seus pais, mas
do o mximo pelo corte do cordo umbilical, jovens cheios de amigos, alegres e
divertidos. Jovens. Que no deveriam morrer. Que no deveriam poder morrer. Mas
podem. Essa a lio que lateja nas conscincias hoje: poderia ter sido eu, poderia
ter sido meu amigo, poderia ter sido meu filho. Passada a cegueira esttica inicial,
devemos olhar para frente, aprender com que passou e viver. o real Carpe Diem: ser
feliz, curtir mesmo a vida (que acaba!), mas prezar por ela: ter a conscincia de que a
morte existe e que o comportamento responsvel necessrio para a manuteno dela.
Aprendamos. E que este sofrimento, estas manchetes, estas fotos, estas conversas e esta
carta no se repitam.
Bernardo Alves Pinto Musqueira Gomes
ou no. Carro com motor potente, ou motor 1.0, se usado de maneira irresponsvel,
mata da mesma forma. Jovem ou no, a responsabilidade que determinar se
voltaremos para casa contentes aps uma noitada boa, ou se seremos manchete na capa
da prxima edio do Globo.
Luiz Antonio Oliveira Figueiredo
Que a mdia volte a fazer uma campanha de conscientizao de pais e filhos sobre essa
mistura da morte: velocidade X bebida. E, tambm, que sejam feitas reportagens
mostrando as boates que deixam jovens entrar e consumir bebidas, pois se elas tivessem
suas licenas cassadas esses fatos iriam diminuir.
Eduardo Moura
85
O que levaria 5 jovens de classe mdia alta, em alta velocidade, causar um acidente to
trgico, pondo fim a suas vidas to promissoras? Li todas as cartas dos leitores, mas
conclu que uma tragdia, seja qual for, serve de alerta para questes que necessitam de
mais ateno e cuidado. Olhemos o nosso momento: uma acelerada corrida da vida, do
poder, um povo que parece embriagado, fora da realidade diante de tantas ilegalidades,
violncias, falta de fiscalizao, impunidades, corrupes, falta de profissionalismo,
mentiras, falcatruas, insegurana convenhamos, verdadeiros coquetis que favorecem
mais tragdias.
Hlio Thompson
Tragdia na foto
No sei o que mais chocante: a foto do jornal, o sorriso dos turistas, a descrio do
fato quando o jornal relata que um turista japons quase tropeou num corpo e que um
casal de namorados ao lado namorava! Que mundo este? Um dia, uma me, qual
Piet, acarinha o filho morto no colo com um olhar perdido que s uma me que perde o
filho de forma violenta pode ter; logo depois pais desesperados vem seus filhos mortos
num acidente estpido que ceifou cinco vidas jovens; agora, o corpo daquele homem
parece ser lugar-comum ou, quem sabe, faa parte dos roteiros tursticos do Rio de
86
Janeiro uma foto ao lado de um corpo que pode ser vitima da violncia ou da
imprudncia. Est na hora de pararmos para pensar, porque alguma coisa est errada, e
muito errada. Respeito, eu quero mais respeito da sociedade, dos turistas e dos
governantes.
Rosa Maria Rinaldi
Incrdula. Choquei-me ao ver aquela me sentada no cho segurando seu filho morto.
Choquei-me ao ver o desespero dos pais na perda de seus filhos, no desastre na Lagoa, e
agora, o que vou sentir, qual o verbo, ou sinnimo que deverei aplicar ao ver a foto de
trs ditos seres humanos, ao menos de um metro, sorrindo e ignorando um corpo cado,
embrulhado num saco preto. Ser que realmente somos de fato racionais ou
simplesmente foi um erro na hora da escrita, de colocar a vogal nos irracionais?
Janette Pimentel
Nestas duas ltimas semanas, temos visto fotos com situaes muito duras de se
enfrentar. Aquela me Piet, aqueles adolescentes levados embora to precocemente.
Duro olhar. Eu era muito refratria ao jornais ( ) que colocavam este tipo de foto em
suas manchetes. Hoje penso que talvez isto seja necessrio mesmo pois as pessoas cada
vez mais se anestesiam e se mostram inertes frente ao nosso caos. Pode existir algo mais
chocante do que trs turistas posarem para fotos ao lado de uma pessoa morta? Esta foto
talvez seja a maior denncia dos momentos atuais. preciso acordar a humanidade e
comear a educar, dividir, sensibilizar, olhar o outro, transformar esta nossa sociedade e
colocar os valores humanos nos seus devidos lugares.
Liliane Go de Siqueira
87
Impressionante o descaso das pessoas que posaram para a foto. Parece que pela direo
em que olham o tema da foto justamente o cadver estendido no solo. Chegamos ao
ponto em que um cadver virou atrao turstica, o que demonstra que a humanidade
caminha para seu prprio desprezo.
Roger Joseph Rosenthal
88
Pais negligentes
Estou estarrecida com a opinio da juza Ivone Caetano. Sou me de trs filhos e perdi
um, aos 16 anos, tragicamente, com um tiro. No precisa ser educador ou psiclogo para
saber que uma das caractersticas da adolescncia burlar limites. Todos ns, pais,
sabemos que por mais que chequemos, fiquemos atrs, nossos adolescentes, em grupo,
fazem o que querem. Idade de experimentaes, de rebeldia. A magistrada passa por
cima da dor das famlias para culpar-nos. Ns, pais de adolescentes, que sabemos o
que criar um filho num estado sem lei, como o Rio de Janeiro. Gostaria que
perguntassem a ela por que tolerado no Rio a entrada de menores em baile funk, por
exemplo? Quanto aos pais dos jovens, que como eu perderam uma parte de si, minha
solidariedade.
Anna Cabral
Olha s, Excelncia, muito fcil falar que os pais so negligentes, no vigiam seus
filhos, no checam suas informaes. Baseada em que a senhora afirma que os pais so
negligentes? Ser que os pais no amam seus filhos o suficiente, a ponto de orient-los
do que certo ou errado? Uma coisa certa: s quem no ama que banaliza toda a
dedicao e o compromisso que os pais tm com os seus filhos. Por favor, Excelncia,
caso eu no tenha entendido as suas poucas e cruis palavras, dava para clarear o meu
raciocnio? Tenho dois filhos jovens, dos quais garanto que sou responsvel, e gosto
muito de aprender.
Anita Amorim B. de Souza
89
mais complexa da senhora e de todos aqueles que so pagos por ns para mudar a
realidade de nossas ruas.
Ricardo Lavigne Sfadi
Chocada! de se lamentar que num momento de dor, a sra. juza venha cobrar de pais
que ainda choram a perda de seus filhos jovens responsabilidade pela conduta que os
adolescentes (e ela, se for me, deveria sab-lo), no vigor da (ir)responsabilidade da
juventude, costumam ter. ainda de pasmar falar em responsabilidade dos pais quando
ns, contribuintes, somos obrigados a conviver com a omisso dos poderes pblicos. A
palavra de ordem responsabilidade? Ento, sra. juza, responda: e a responsabilidade
da senhora, que no fiscalizou a ausncia de alvar da casa noturna? Declaraes
infelizes no contribuem em nada para dar mais tranqilidade aos pais.
Marina Santos
Me admira muito a frase da juza, que no s pela imensa falta de sensibilidade diante
dessa fatalidade que abalou todos ns, como no enxergar a omisso do Juizado. A
senhora me? Se for, deve saber que impossvel vigiar os filhos 24 horas. Como
disse um dos pais, tem hora que eles escorrem pelos nossos dedos como gua. Todos
sabem que bebidas so vendidas nas entradas de grandes eventos a preo baixo e
disfaradas em garrafas de inofensivos refrigerantes. Em vez de frases impactantes, s
acessar a Internet, do seu gabinete, (www.riofesta.com.br) e saber o que se passa e
fiscalizar raves, shows, casas noturnas etc.
ngela Catramby
Como pode uma mulher, quem sabe me, num momento desses imputar
responsabilidades aos pais pela tragdia ocorrida? Como sabemos, os jovens so
90
contumazes em se desviar do roteiro que do aos pais (li que uma das jovens mortas
teria dito aos pais que dormiria na casa de uma amiga quando, na verdade, foi para festa
de aniversario sem os pais saberem). Tentar jogar a culpa pela tragdia sobre os pais no
vai nos desviar do foco do problema: a omisso das autoridades, incluindo a, a da juza!
Dizer que o Estatuto da Criana e do Adolescente s existe para pretos e pobres uma
declarao simplista e preconceituosa. Faria bem juza cuidar da fiscalizao de casas
noturnas que permitem a entrada de adolescentes e a venda de bebidas alcolicas.
Agindo assim, a sra. Ivone Caetano ajudar a fazer com que o ECA no seja s para
pretos e pobres!
Patrcia da Silva
Lendo a opinio da juza Ivone Caetano, comecei a imaginar: ns, pais, no damos
educao, no verificamos, no xeretamos, no uma poro de coisas! Gostaria de
saber se a lei que probe a venda de bebidas alcolicas para menores ainda est vigente.
Ningum toma conta, verifica, policia, ou seja, o Estado se omite! Juventude pressupe
cometer erros, que sempre torcemos para que no sejam fatais, que devero ser
corrigidos em casa e coibidos na rua. Quando um filho sai, rezamos para que ele no
bata no buraco, no perca a direo com as ondulaes na pista, no seja atropelado por
algum maluco em alta velocidade, ou sofra com a coliso de um bbado, porque s nos
resta rezar. Quando, alm de rezar, comearmos a processar o Estado, por no prover
segurana, escolas decentes, sade, ruas transitveis, talvez, s talvez, os juizes tenham
mais o que falar.
Glucia Taricano
91
bvio que os pais devem cuidar dos seus filhos e tenho certeza que os pais das vtimas
o faziam! Os jovens estavam entre amigos de madrugada em uma festa, e no por falta
de responsabilidade dos pais, mas pela relao de confiana que existia entre eles. As
meninas, apesar de menores, estavam no carro de uma pessoa conhecida que iria levlas em casa. Que diferena faria se o pai de qualquer delas estivesse ao celular, teria
impedido algo? Talvez a magistrada sugira que os pais probam seus filhos de sarem de
casa, pois esta a nica forma de controlar os adolescentes como a juza pretende. um
absurdo responsabilizar os pais pelo acidente, e uma covardia!
Luciana Castilho Antonelli
Fiquei indignada com o comentrio da juza culpando os pais, de forma irreal. Ou parte
de algum que no tem nem filhos, ou que j tem seus filhos fora da chamada idade de
risco. quase como dizer bem feito!, quem mandou no tomar conta de seus filhos?.
Simples, no mesmo? Solidarizo-me no s com os pais que tiveram seus filhos
mortos no acidente da Lagoa, como com os pais da Gabriela, morta na estao do
metr; da estudante baleada no ptio da faculdade e de tantos outros que tomamos
conhecimento, ou no, atravs dos veculos de comunicao. Todos resultado do
desgoverno e do abandono cada vez maior desta cidade e deste pas, nada mais.
Carla Mayor
Nada mais difcil do que impor limites a adolescentes. Sou me de uma filha de 18
anos e sei bem das dificuldades. Ouo muito a frase: Todos vo, menos eu!. At os
92
terapeutas acham que estou errada, pois todos os jovens saem noite e preciso
negociar. Mas eu, seguindo a minha responsabilidade por aquela a quem eu dei a vida,
prefiro conflitar. E so muitos os conflitos! No somos negligentes; impomos limites
sim, mas enfrentamos s dificuldades. Boates? A idade mnima para ingressar numa
delas deveria ser 21 anos, pois nada oferecem de bom aos jovens. Musica? H em
outros lugares. Quanto proibio de bebidas e o ingresso de menores a que se refere a
sra. juza, ns bem sabemos como funcionam em nosso pas. Nesse momento, o que
esses pais sofredores menos merecem uma repreenso. Culp-los para isentar a culpa
de quem?
Maria da Penha de Oliveira Bessa
No sei se a juza Ivone tem filhos. Parece-me que no, porque se os tivesse no teria
coragem de dizer isso publicamente. Primeiro, porque no conhece a famlia das
pessoas, o tipo de educao que os jovens recebiam, ou seja, nada. Segundo, porque
preciso ter o mnimo de respeito ao luto dos pais, que com certeza j carregam a culpa
de no estarem l para salv-los. E terceiro porque estamos falando de pessoas, no de
animais domsticos que podem ficar trancafiados em casas (o que tambm no resolve
nada). Os pais tm o dever de ensinar, alertar e punir, se for o caso. Mas no podem
proibir que os filhos vivam e cresam para o mundo. Dentro de casa, os pais so as
autoridades. E fora dela a lei. Se a lei fosse cumprida, os pais teriam certeza que seus
filhos poderiam sair noite, sem tantos riscos. O dever de proibir da fiscalizao. Um
pai no pode ser onipresente nem to pouco paranico.
Fernanda Lacombe
93