Depois Do Fim Do Mundo A Opisanie Swiata PDF
Depois Do Fim Do Mundo A Opisanie Swiata PDF
Depois Do Fim Do Mundo A Opisanie Swiata PDF
Desterro,
2015
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.
Inclui referências
Questa dissertazione lavora sul concetto della fine del mondo, inteso qui
come non unitario e concreto, cioè non si parla di una unica fine, né
tanto meno di un unico mondo, dato che abbiamo a che fare con una
fine forse già provata da tutti noi. Per questo, vogliamo approfondirci su
alcuni aspetti che corrompono e rompono l’unicità dell’avvenimento.
L'autrice brasiliana Veronica Stigger, nel suo libro Opisanie Swiata -
descrizione del mondo in italiano - narra un viaggio, nel 1930, di un
polacco fino all’Amazonia brasiliana in ricerca di un figlio sul punto di
morte. Il padre lascia indietro il Vecchio Mondo - che presto crollerà
con la Seconda Guerra Mondiale - e comincia un viaggio in cerca del
suo bocciolo sconosciuto. Questo viaggio appare come una perdita per
lui, sia del territorio perso e della sua ascendenza dimenticata, sia di lui
stesso in quanto soggetto, impedendogli di riconoscere questa terra
brasiliana senza fine. Opalka - questo è il suo nome - non si riconosce
quando si vede di nuovo nella stessa località, ma, di fronte a suo figlio
morto che teneva una foto antica, si identifica con quest’ultimo, finora
sconosciuto; Opalka si vede in un altro, l’ha divorato in un atto
antropofagico e il risultato di questo procedimento fu l'inizio della
narrazione nel suo piccolo quaderno nero di una storia, il cui titolo è
Opisanie Swiata, un libro su ricordi dedicato a Natanael, suo figlio. Le
risorse per il recupero di una perdita attraverso la via memorialistica -
lettere, rapporti, immagini, ecc. - si trova anche in alcuni scrittori della
letteratura brasiliana contemporanea. I due autori scelti da noi in questo
lavoro sono Ricardo Lísias, con il libro Il cielo dei suicida, e Luisa
Geisler, con il libro Luci d'emergenza accenderanno automaticamente.
Il primo narra il dolore di Ricardo Lísias, il personaggio, dopo il
suicidio del suo miglior amico, i cui segni sono stati lasciati sul suo
corpo man mano che questa perdita appare come l’inizio della sua
propria fine; la Geisler, invece, lavora attraverso l’epistolare
presentadoci le numerose lettere di Henrique scritte al suo amico, in
coma, Gabriel. Henrique vuole, con questo, creare una memoria al suo
amico nel caso lui dovesse risvegliarsi, ma, con il tempo, lui capisce
l'impossibilità di tutto questo e una luce d'emergenza si accende nella
sua vita. Nei tre libri noi siamo in un mondo dove la fine è già avvenuta
e ciò che rimane ad ognuno di noi è il processo mediante il quale si
sperimenta questa fine come una perdita.
Agradecimentos .......................................................................... 03
Resumo ....................................................................................... 05
Resumé ....................................................................................... 06
Riassunto .................................................................................... 07
Introdução ................................................................................... 09
1. Depois do fim do mundo: uma descrição ............................... 27
2. A nossa perda constitutiva ...................................................... 61
3. De Bopp a Raul Bopp ............................................................. 91
4. A metamorfose como procedimento de leitura ...................... 105
5. A viagem do fim (ou um eterno recomeço) ........................... 163
Referências ................................................................................. 175
Anexos: Capítulo "A Ópera" de Opisanie Swiata ...................... 183
! 9!
Introdução
____________________
i
Cf. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: _______.
Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 8. ed. revista.
Trad. de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2012. p. 210.
10! !
____________________
ii
Ibid, p. 212.
12! !
____________________
iii
Cf. PAZ, Octavio. A tradição da ruptura. In: _______. Os filhos do barro: do romantismo à
vanguarda. Trad. de Ari Roitman e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 22.
! 13!
pode e deve ser publicado e registrado, não existe mais uma delimitação
clara e específica sobre esses "espaços". O mesmo se passa com as
obras de arte, haja vista que com a construção do primeiro museu -
fundado em fins do século XVIII e início do XIX - o procedimento era
conhecido por todos: o artista produzia sua obra e o museu as abrigava
pela via do curador - e aqui Groys nos lembra da origem etimológica da
palavra, vindo de curare, curar. O curador, mais que escolher quais
obras merecem ou não ser expostas, repõe uma falta no próprio
espectador substituindo-a pela exposição massiva dele próprio que se
tornou curador da própria vida, em um círculo contínuo de
autorrepresentação. Talvez seja esse um dos motivos pelos quais os
espectadores não gostem da chamada arte contemporânea, pois ela os
coloca justamente em contato com a falta constitutiva de todos nós, com
a não totalidade de nossos corpos - o que chega a ser irônico, pois é ela,
a arte contemporânea, que consegue de maneira surpreendente - ou total,
na linguagem de Boris Groys - abranger o maior número de pessoas
possível, da mesma forma que as redes sociais. Para este filósofo, esse é
o ponto de partida para o surgimento das instalações, pressupondo um
espaço tornado público.
____________________
viii
Ibid, p. 57-58.
ix
Pode-se encontrar tais questionamentos na obra de Hélio Oiticica, p. ex., quando este propõe
que o visitante coloque suas capas e faça parte da obra - esta só acontece quando é manipulada
e vestida, entrando de maneira radical contra a visão corrente de que não se pode tocar nem se
aproximar das ditas obras de arte.
! 17!
____________________
x
Com o desenvolvimento das técnicas de combate, hoje, se tivermos uma terceira guerra
mundial, o mundo pode realmente ter um fim, pois, com a criação da energia nuclear, pode-se
não só dizimar um país - ou um inimigo específico -, mas toda e qualquer pessoa existente no
mundo.
18! !
____________________
xiii
Ibid, p. 25. Para uma análise mais detida sobre a noção de localidade e suas relações com a
cultura e com a política, ver em BHABHA, Homi K. The location of culture. Londres:
Routledge, 1994. E, também, ver logo mais adiante o primeiro capítulo desta dissertação.
20! !
∞
A literatura não passa incólume a esse emaranhado de questões
reais a que somos expostos diariamente; e de alguma forma ela tenta, ao
seu modo, não responder aos anseios de leitores vorazes por
blockbusters e por narrativas de fácil deglutição, mas desestabilizar o
leitor - à maneira das instalações artísticas -, tirando-o de sua posição de
conforto e colocando-o à prova, confrontando-o não com a possibilidade
do fim, mas com o próprio fimxvi, para ele arrumar uma saída, um
espaço e um tempo - relidos em chave catastrófica - necessários para o
que ocorrerá depois do fim.
____________________
xiv
Sobre a implicação do sujeito, Viveiros de Castro e Déborah Danowski afirmam: "[...] o fim
do mundo será tomado como algo que é necessariamente pensado a partir de um outro polo,
um 'nós' que inclui o sujeito (sintático ou pragmático) do discurso sobre o fim. E chamaremos
de 'humanidade' ou 'nós', a entidade para quem o mundo é mundo, ou melhor, de quem o
mundo é mundo. [...] A questão de saber quem é o 'nós', o que se entende por 'humano' ou
'pessoa' em outros coletivos consensualmente considerados (por 'nós') como humanos,
raramente é colocada, e de qualquer modo jamais ultrapassa o limite da espécie enquanto
categoria taxonômica extensiva" (p. 33) Fazendo uma comparação com a língua francesa, p.
ex., temos a diferença entre o "nous" e o "on" que fazem referência a um conjunto de pessoas,
sendo que a primeira alternativa, o "nous", implica imediatamente o sujeito na questão, e o
"on" trabalha com menor ênfase. Tal distinção não ocorre no português, apresentando somente
o "nós".
xv
A questão se desdobra inteiramente no projeto do Homo Sacer, empreendido por Giorgio
Agamben: aquela pessoa que pode ser morta e, por não ser de nenhum lugar e não ter
importância para a lei, não acontecerá nada com quem ordenou a sua morte e até mesmo com
quem a praticou. Em 1995, Agamben publica o primeiro volume, intitulado Homo Sacer - Il
potere sovrano e la nuda vita I e, após quase 20 anos, termina sua empreitada em 2014 com
L'uso dei corpi. Homo Sacer, IV, 2.
xvi
Para retornar ainda ao livro Há mundo por vir?, os dois filósofos, quando entram nesta
questão, lembram a cena emblemática do filme Matrix de 1999, dos diretores Larry e Andy
Wachowski, em que o personagem de Laurence Fishburne, o Morpheus, apresenta ao Néo,
personagem de Keanu Reeves, às pílulas vermelha e azul. Néo tem de escolher qual das duas
tomar, se a vermelha, que o revelará um outro mundo que não o seu, Zion, dominado por má
! 21!
____________________
2010; o Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileiras de Críticos de Arte em 2013;
o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte para a exposição Maria
Martins: metamorfoses em 2013; o Prêmio Machado de Assis pela Fundação Biblioteca
Nacional em 2013; o Prêmio São Paulo de Literatura para Autor Estreante Acima de 40 anos
em 2014; o Prêmio Açorianos - Categoria Narrativa Longa, pelo livro Opisanie Swiata, em
2014; em 2014, foi finalista do Prêmio Portugal Telecom na Categoria Romance; terceiro lugar
no Prêmio Jabuti - Categoria Romance, por Opisanie Swiata, em 2014. Escritora assídua de
diversos jornais pelo Brasil, já foi colunista do programa Entrelinhas pela TV Cultura. Sua
obra já foi encenada em diversos locais, em especial na peça intitulada Extraordinário
Cotidiano, em 2013, pelas companhias Súbita & Casca, com direção de Maíra Lour, e elenco
composto por Alexandre Zampier, Janaína Matter, João Filho e Francis Severino, realizado
entre os dias 8 a 25 de agosto no Teatro Eva Herz na Livraria Cultura do Shopping Curitiba.
Em 2007, seu livro Gran Cabaret Demenzial foi tema do Teatro do Livro, dirigido por Laerte
Kérsimos, quando foi realizado também o curta-metragem Tristeza e Isidora. Em 2013,
escreveu a dramaturgia de Salta!, peça dirigida por Verônica Veloso, que estreou em janeiro de
2014 em São Paulo, para a Mostra SESC de Artes. Nas artes visuais, elaborou uma intervenção
urbana chamada Pré-histórias 2, em 2010, para a Mostra SESC de Artes, com frases coladas
em tapumes de uma unidade em construção, participou com Next Tweet para a Tuiteratura em
2013, e com a obra Menos um, concebida especialmente para a Frestas - Trienal de Artes,
realizada pelo SESC Sorocaba em 2014. No Facebook, pode ser encontrada em
https://www.facebook.com/veronica.stigger.9?fref=ts e participa constantemente no Twitter
em https://twitter.com/veronicastigger.
! 23!
dava certo, haja vista que, junto com Bopp estava Opalka, falante de
polonês, um russo e uma italiana. Essa confusão também foi lida por
Georges Bataille, na revista Documents, número 6, de 1929, no verbete
dedicado à metamorfose e onde ele afirma que a metamorfose é como
uma necessidade violenta confundindo-se com nossas necessidades
animais, ou seja, dentro de cada um de nós existe um animal e um
humano em vias de se transformar a qualquer momento, a partir de um
fato ou acontecimento exterior - como a picada da aranha, em Priscila, a
perda de um amigo como iminência do fim em Ricardo Lísias e Luisa
Geisler, a procura pela filha da rainha Luzia, em Raul Bopp, a fuga da
Polônia devido à guerra próxima, em Witold Gombrowicz, a vontade
louca de descobrir o que ocorreu realmente com o antropólogo
americano Buell Quain, outro suicida, e refazer sua trajetória para tentar
criar um sentido possível a essa vida, em Nove Noites, de Bernardo
Carvalho, e o pedido do filho de Opalka para que ele volte
imediatamente ao Brasil para vê-lo antes de morrer, em Opisanie
Swiata.
A conclusão - ou o quinto capítulo - parte do pressuposto de que
toda tentativa de concluir e de totalizar uma questão se torna falha na
medida em que sempre haverá um elemento novo, e até então
desconhecido, a mudar as regras do jogo e a reinterpretar a série
construída. Assim, a conclusão se mostra como mais um capítulo, cujo
título, A viagem do fim (ou um eterno recomeço), traz nele mesmo uma
retomada para um fim sempre em vias de acontecer e reacontecer.
Como anexo à dissertação, encontra-se um capítulo extra do livro
Opisanie Swiata. Sendo todo fim ilusório, o próprio "fim" da narrativa
estende-se para fora do livro, em um suplemento que Veronica Stigger
só tornou público em fins de 2014, no Museu de Arte do Rio (MAR), do
Rio de Janeiro. O título, A Ópera, narra o espetáculo artístico feito no
navio e onde participaram diversos personagens do livro - nenhum
ligado ao mundo operístico. Deram à ópera o título de Depois do fim do
mundo; um mundo onde eles pensavam que tudo já estaria acabado, a
água, a comida, a Amazônia, e os poucos sobreviventes agonizariam em
um inferno ignorante de sua própria condição infernal. Entendemos que
o livro Opisanie Swiata de Veronica Stigger é ele mesmo uma espécie
de descrição do mundo depois de seu término - já que a Polônia, logo
depois da saída de Opalka, será destruída devido às guerras
subsequentes, forçando o personagem a deixar para trás o velho mundo;
ao chegar, porém, na América, vista até então com o deslumbramento
do Novo Mundo, Opalka não reconhecerá mais a Amazônia a qual
conhecera anos antes, pois ela também mudou e sofreu as consequências
26! !
____________________
1
Cf. STIGGER, Veronica. How to be happy in Warsaw. In: _______. Opisanie Swiata. São
Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 23.
28! !
____________________
3
Cf. BECKETT, Samuel. Esperando Godot. Trad. de Fábio de Souza Andrade. 2. ed. São
Paulo: Cosac Naify, 2010. p. 29.
4
Cf. KAFKA, Franz. Chegada. In: _______. O Castelo. Trad. de Modesto Carone. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008. p. 7.
30! !
____________________
5
KAFKA, op. cit., p. 8.
6
Cf. JARRY, Alfred. Outra apresentação de Ubu Rei. In: _______. Ubu Rei. Trad. de Sergio
Flaksman. São Paulo: Peixoto Neto, 2007. p. 33.
! 31!
____________________
7
Cf. FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits I: 1954-1969. Paris: Gallimard, 1994. p. 22.
32! !
____________________
8
Cf. FOUCAULT, Michel. Le corps utopique. In: _______. Le corps utopique, les
hétérotopies. São Paulo: n-1 Edições, 2013. p. 7.
! 33!
____________________
9
Ibid, p. 7.
10
Ibid, p. 8.
34! !
____________________
11
Ibid, p. 9.
12
O mesmo autor, em seu texto Les hétérotopies, se detém novamente no tema dos despojos
deixados pelos mortos e da própria mudança de localização dos cemitérios até Napoleão III.
Afirma ele então: "D'un autre côté, tous ces squelettes, toutes ces petites boîtes, tous ces
cercueils, toutes ces tombes, tous ces cimetières ont été mis à part ; on les a mis hors de la
ville, à la limite de la cité, comme si c'était en même temps un centre et un lieu d'infection et,
en quelque sorte, de contagion de la mort. Mais tout ceci n'est passé - il ne faut pas l'oublier -
qu'au XIXe siècle, et même dans le cours du Second Empire. C'est sous Napoléon III, en effet,
que les grands cimetières parisiens ont été organisés à la limite des villes. Il faudrait aussi citer
- et là on aurait en quelque sorte une surdétermination de l'hétérotopie - les cimetières pour
turbeculeux ; je pense à ce merveilleux cimetière de Menton, dans lequel ont été couchés les
grands tuberculeux qui étaient venus, à la fin du XIXe siècle, se reposer et mourir sur la Côte
d'Azur : autre hétérotopie." (FOUCAULT, 1966, p. 23-24) O conceito de heterotopia,
analisado pelo autor francês, será discutido logo a seguir neste mesmo capítulo.
! 35!
____________________
15
Cf. DIDI-HUBERMAN, Georges. O evitamento do vazio: crença ou tautologia. In: _______.
O que vemos, o que nos olha. Trad. de Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1998. p. 38.
! 37!
O Espelho
____________________
22
Figuração típica do catolicismo, religião essa que seria adotada pelo poeta Murilo Mendes na
metade de sua vida e influiria no seu fazer poético.
! 43!
São as luzes de emergência24 que nos fazem ver nosso corpo não
como um fragmento des-pedaçado e des-conjuntado, mas como uma
imagem semelhante a todos os outros homens; o que fará, entretanto,
uma representação completa da imagem será a incisão de uma luz, de
um facho de emergência nos mostrando ser "[...] le travail de la
conscience consiste chez tous à résoudre la dualité du 'moi' e du 'soi' et à
chercher, au delà de ce conflit, l'unité"25. Tal problema também se
encontra na peça de Alfred Jarry a qual, como já dissemos, se passa na
Polônia e é lá onde Pai Ubu, o personagem principal, vai tentar tomar a
coroa e se tornar rei; tal objetivo não se mostra claramente à primeira
vista nem para ele nem para sua mulher, a Mãe Ubu, pois ambos não
entram em um consenso sobre qual a forma mais rápida e certeira de
conseguir tal feito. Logo no primeiro ato da peça lemos:
Cena 1
Pai Ubu, Mãe Ubu.
Pai Ubu
Merdra!
Mãe Ubu
Ah! Que papelão, Pai Ubu, você não vale nada
mesmo!
____________________
23
MABILLE, op. cit., p. 15.
24
O recurso das luzes de emergência foi o pretexto utilizado pela escritora brasileira Luisa
Geisler para seu terceiro livro intitulado Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente,
de 2014, e cuja análise será logo mais apreendida.
25
MABILLE, op. cit., p. 17.
44! !
Pai Ubu
E quase te pego, Mãe Ubu!
Mãe Ubu
Mas não sou eu, Pai Ubu, é um outro que a gente
precisava assassinar.
Pai Ubu
Pela luz da minha vela verde, não entendi.
Mãe Ubu
Quer dizer, Pai Ubu, que está contente com a sua
sorte?
Pai Ubu
Pela luz da minha vela verde, merdra, minha
senhora, com certeza que sim, estou contente.26
O diálogo entre esse casal, em que ela critica o marido por não
saber o que fazer, muito menos quem assassinar para conseguir subir ao
trono - como também o já citado entre Vladimir e Estragon quando os
dois conversam sobre o ambiente imediatamente ao redor, tecendo
comentários, à primeira vista sem um sentido lógico, mas de extrema
relevância quando se substitui Godot pelas leis escritas e pela
burocracia, temas tão caros a um autor como Franz Kafka. Pode se
coadunar de igual modo com a personagem de Bopp em Opisanie
Swiata porque este também não sabe o que fazer e para onde ir - tanto
que muda seu trajeto ao ouvir a história de seu novo amigo Opalka. O
desmembramento da Polônia - em Ubu Roi, como também da Polônia
dita real - com sua fuga para Paris, se reflete na viagem de retorno ao
Brasil de Opalka e de Bopp, um modo infantil de encarar a vida no
Novo Mundo, deixando para trás a nulle part.
____________________
26
JARRY, op. cit., p. 47.
! 45!
Ao dizer para Opalka não julgar pelo que a carta diz, mas pelo
que ela quer dizer, o médico-operador antecipa as alucinações de
Natanael na escrita - cheia de "conselhos" para seu pai chegar com
segurança à Amazônia; são inumeráveis as dicas dadas ao seu pai -
desde o que levar na mala, como arrumá-la e a quantidade de roupa a
trazer até o modo de se comportar com os outros turistas no trem e,
posteriormente, no navio. Tratando-o como uma criança que tem de
ouvir diversas vezes a mesma informação para memorizá-la, Natanael
termina sua carta dizendo perceber "[...] agora o quão tolo posso
parecer-lhe ao enfileirar tais recomendações. O senhor é um homem
viajado e certamente sabe bem mais que eu da rotina e das exigências de
um percurso como esse." (p. 13) O que quer dizer, mas não está nas
palavras escritas, - talvez Opalka só enxergue essa rachadura entre dizer
e querer dizer quando chegar e ver pessoalmente seu filho - faz com que
Amado Silva coloque em questão as palavras de seu paciente e também
a própria significação direta da palavra com seu objeto, relação essa
esvaziada dos sentidos preestabelecidos para adentrar naquilo que cada
um quer dizer, tem a intenção de dizer, ou seja, aí se inclui toda uma
gama de significados outros que não os baseados na palavra escrita, mas
____________________
Em seu livro de contos Os Anões, de 2010, a autora deu início a esse procedimento de leitura
ao intercalar quadrados pretos entre um texto e outro e fazer com que seu livro se tornasse um
objeto-livro, com páginas grossas, como nos livros infantis. Em Gran Cabaret Demenzial, de
2007, a coloração de cada história é feita de maneira diferente, como se fosse um espetáculo de
um Cabaret.
29
Ibid, p. 7.
! 47!
como a carta não fora escrita por Natanael, mas ditada por ele, as
palavras perderam sua origem e se misturaram com as de seu médico,
impedindo-nos de saber onde começa o pensamento do filho e a
interpretação feita por Amado, filtrando aquilo que achar mais
importante e relevante para se escrever, criando-se, assim, uma narrativa
dupla, - cheia de emaranhados e não se fecha em si mesma, mas se abre
à interpretação de cada um a partir do que está escrito -, uma carta, em
que a única chance de reconhecimento se dará no fim, quando, quem
sabe, os dois possam se ver, um no outro. O encontro acontecerá quando
Opalka chegar
____________________
30
Ibid, p. 13.
48! !
____________________
34
DIDI-HUBERMAN, op. cit., p. 77.
! 51!
____________________
36
Cf. SANTIAGO, Silviano. O entre-lugar do discurso latino-americano. In: _______. Uma
literatura nos trópicos: ensaios sobre dependência cultural. 2. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
p. 14.
! 53!
____________________
37
Ibid, p. 16.
54! !
____________________
38
Ibid, p. 26.
! 55!
____________________
de poder que atuam na sociedade, e o transforme em uma capa - diferente daquela proposta por
Hélio Oiticica em que todos podem vestir e fazer parte da experiência - de livro fazendo com
que os "autores" tenham direito autoral pago se algo for violado. Diz o texto: "José tinha um
verso do poeta morto tatuado na barriga, logo abaixo do umbigo. Um dia, a família viva do
poeta morto viu José refestelado na areia da praia, com o tal verso bem à vista, logo acima da
sunga amarela. Horrorizada com o acinte, a família o processou. Era um inequívoco
oferecimento da obra ao conhecimento público - e num local de frequência coletiva. A família
ganhou a causa e a tatuagem, que hoje está emoldurada na grande sala de estar, logo acima do
sofá vermelho" (STIGGER, 2010, p. 26)
41
STIGGER, op. cit., p. 145.
! 57!
____________________
42
GEISLER, op. cit., p. 291-292.
58! !
____________________
43
GEISLER, op. cit., p. 167. Aqui também nos utilizamos da análise empreendida pelo
filósofo italiano Giorgio Agamben sobre o conceito de dispositivo. Nas suas conferências reali
! 59!
____________________
zadas na Universidade Federal de Santa Catarina, o autor faz uma releitura da obra de Michel
Foucault e vê como um dos conceitos de enorme relevância na obra do francês a partir da
Arqueologia do Saber; Agamben afirma então que o homem se coloca diante do mundo a partir
de crenças, regras, leis e ritos exteriores que lhe são impostos para se enquadrar dentro da
norma e não ser classificado como louco, homossexual, estrangeiro etc. Agamben afirma que
"o termo latino dispositio, do qual deriva o nosso termo 'dispositivo', vem, portanto, para
assumir em si toda a complexa esfera semântica da oikonomia teológica. Os 'dispositivos' de
que fala Foucault estão de algum modo conectados com esta herança teológica, podem ser de
alguma maneira reconduzidos à fratura que divide e, ao mesmo tempo, articula em Deus ser e
práxis, a natureza ou essência e a operação por meio da qual ele administra e governa o mundo
das criaturas. O termo dispositivo nomeia aquilo em que e por meio do qual se realiza uma
pura atividade de governo sem nenhum fundamento no ser. Por isso os dispositivos devem
sempre implicar um processo de subjetivação, isto é, devem produzir o seu sujeito."
(AGAMBEN, 2009, p. 38) Na análise de Luisa Geisler, a vida está às escuras e é somente
quando algo ou alguém aparece que o dispositivo das luzes de emergência começa a funcionar
e a dar a luz para os indivíduos. Ike só reconhece tal luminosidade quando perde seu amigo,
que está em coma no hospital, e quando conhece Dane.
60! !
! 61!
____________________
48
STIGGER, op. cit., p. 184.
! 65!
Ta mère demande.
Pourquoi tu te promènes sans souliers. Tout le
monde porte des souliers. Seuls se promènent sans
souliers ceux qui n'ont pas de souliers.
____________________
49
Cf. GOMBROWICZ, Witold. L'Historie (Opérette). Trad. de Constantin Jelenski e
Geneviève Serreau. Paris: Éditions de la différence, 1977. p. 73-74.
50
Os personagens do ato primeiro estão caracterizados no fragmento de número dois. Diz ele:
"MÈRE : (Fuite devant la vie. Fantasie. Elle ne se supporte pas elle-même.) / DÉGOUT /
Professeur d'Esthétique, de Beauté / Médicin militaire qui réforme les conscrits / Impératrice
de Russi (le fils). (Meurtre de la Mère). PÈRE : (Goût du normal. Code du milieu social. Chef
d'entreprise efficace, fonctionnaire, décence.) / Président du Conseil de révision / Empéreur
Nicolas II. JANUSZ : (Fascisme. Homme artificiel. Peur, terreur, faiblesse, réalisme.) /
Professeur plein de mépris pour l'enseignement / Médicin militaire qui refuse de réformer les
conscrits / Raspoutine [barré] / Un géneral. JERZY : (Fuit, féminité, forme, légèreté,
égocentrisme.) / Professeur qui ne prend rien au sérieux / Médicin militaire de cavalerie
(Uhlan) jouisseur / Chambellan. RENA : (Mathématiques, rigueur, vertu, foi, virilité.) /
Professeur de mathématiques / Médicin militaire honnête, prenant l'armée au sérieux / La
grande duchesse Anna. SAVINKOV. RASPOUTINE (ANNA VYROUBOVA) La famille -
fonctions sacerdotales. BOMBE." (GOMBROWICZ, 1977, p. 71-72)
68! !
____________________
51
Ibid, p. 83.
! 69!
____________________
52
Ibid, p. 33.
70! !
____________________
53
Ibid, p. 39.
! 71!
____________________
54
Cf. DIDI-HUBERMAN, Georges. La muse du chiffonnier (histoire et imagination). In:
_______. Ninfa moderna: essai sur le drapé tombé. Paris: Gallimard, 2002. p. 128
55
Para saber mais sobre a relação entre essas três figuras em Walter Benjamin, ler o livro de
Jean-Michel Palmier. Cf. PALMIER, Jean-Michel. Walter Benjamin: Le Chiffonnier, L'Ange
et le Petit Bossu. Paris: Éditions Klincksieck, 2006.
72! !
____________________
56
GOMBROWICZ, op. cit., p. 83-84.
! 73!
____________________
57
Ibid, p. 47-48.
74! !
Nom : Gombrowicz.
Prénoms : Marian, Witold.
Mes chers professeurs, avant d'aborder l'Examen,
je voudrais dire deux mots concernant la personne
du candidat. C'est bien ça... c'est bien ça... c'est
bien ça... Assex paresseux à l'étude, mais il s'est
faufilé de classe en classe. Comportement
satisfaisant dans l'ensemble... Hmmm... Mais
voilà le hic. En apparence, le candidat serait plutôt
doué... une certaine supériorité intellectuelle... je
dirais même de la finesse... Hmmm, hmmm... en
apparence. Je souligne et je précise :
apparemment il semblerait qu'il en soit ainsi,
Mais il n'en est rien,
Car toutes ces qualités revêtent
Un caractère douteux, obscur...
Deviennent opaques... vulgaires...
La mère-professeur : Sans souliers...
Jerzy-professeur : Des qualités aux pieds nus...59
____________________
58
Equivalente ao Baccalauréat francês, uma prova que permite ao candidato escolher uma área
a seguir. Na análise de Gombrowicz, entretanto, tal juri ganha novos significados, pois
compromete inclusive a vida e a aparência da pessoa, a qual não sabe do que se trata a prova,
não se preparou, nem está vestida adequadamente para tal intento. O julgamento acontece sem
ele saber o real motivo para estar sendo julgado e a sentença mudará completamente sua vida e
a história.
59
Ibid, p. 90-91.
! 75!
____________________
60
Ibid, p. 95-96.
! 77!
____________________
61
STIGGER, op. cit., p. 185-196.
78! !
Por mais que eles tentassem comunicar algo a esse público, nada
era ouvido e sentido por ele; pensavam se tratar de um defeito em seus
próprios ouvidos, por isso olhavam as pessoas ao redor para
comprovarem se o problema era com eles ou com todos. Eles tentavam
colocar significado nesses movimentos da boca, mas o som não
correspondia à imagem e ao movimento. A ópera se chamava Depois do
fim do mundo, onde a população seria dizimada e os recursos naturais,
idem; as poucas pessoas sobreviventes viveriam em uma incompreensão
total, vivendo em um mundo depois do fim, mas sem se darem conta de
onde estão; era como se nada tivesse acontecido e eles só não
conseguissem ouvir, e ver, a catástrofe. Assim como na ópera de
Gombrowicz, os pés nus do personagem entram como uma maneira de
furar essa relação totalizante, furar essa impossibilidade de comunicação
- lembrando que, após ser levado pela polícia, Witold perde o poder da
palavra e não pode mais falar, é impedido:
____________________
62
STIGGER, op. cit., p. 187.
80! !
____________________
ritenere, piú o meno consapevolmente, che 'ogni straniero è nemico'. Per lo piú questa
convinzione giace in fondo agli animi come una infezione latente; si manifesta solo in atti
saltuari e incoordinati, e non sta all'origine di un sistema di pensiero. Ma quando questo
avviene, quando il dogma inespresso diventa premessa maggiore di un sollogismo, allora, al
termine della catena, sta il Lager. Esso è il prodotto di un concezione del mondo portata alle
sue conseguenze con rigorosa coerenza: finché la concezione sussite, le conseguenze ci
minacciano. La storia dei campi di distruzione dovrebbe venire intesa da tutti come un sinistro
segnale di pericolo" (LEVI, 1958, p. 3)
82! !
Witold afirma, nesta longa citação, ter a palavra, ter a fala, mas
só falará a partir de sua posição de pés nus - algo nele também foi
desmascarado e caiu, mas em uma espécie de retorno, fez com que a
máscara dessa família caísse e mostrasse a moral antiga do velho mundo
onde nada poderia sair da normalidade, quiçá um filho gay, de pés nus,
amigado do filho do concierge e assassino do duque de Sarajevo. Por
isso a afirmação de que se ele fosse igual aos outros homens de sua
idade, nada disso aconteceria com ele, pois desse modo ele se igualaria à
imagem prevista por todos, não haveria um fator de desnudamento de
seu ser, e a família não seria exposta nem seria obrigada a se
transformar em um tribunal do juri. Tudo se torna arbitrário, diz ele, em
que mesmo o seu julgamento passa por uma encenação de juri; a família
se mascara e se arvora no direito, e no papel, de julgar o filho. Tudo se
____________________
65
GOMBROWICZ, op. cit., p. 113-116.
84! !
com ele na primeira vez que visitou a Amazônia; sua memória estava
sendo construída.
____________________
ferimentos como aquele. De repente, com a movimentação provocada pela tentativa de tirar o
cadáver da água, o braço direito se soltou e ficou a flutuar sozinho. Rompida a simetria, o
corpo virou e, não antes de entregar o que fora seu rosto à contemplação dos curiosos
viajantes, começou a afundar lentamente. A mulher não tinha mais olhos nem nariz, e seus
lábios - surpreendentemente carnudos embora enrugados - formavam um círculo perfeito,
como se ela, ao morrer, estivesse entoando a nota final de uma canção" (STIGGER, 2013, p.
78) O que era para ser uma sereia, se mostra como um corpo em decomposição, sem os olhos e
nariz, permanecendo apenas os lábios grossos dando a impressão que estivesse por terminar a
nota de uma canção, também esta sem ruídos. O corpo estava fragmentado, mas a imagem da
boca provocava a impressão de um ruído que talvez pudesse ser ouvido, era preciso dar voz a
esse cadáver.
! 91!
____________________
72
No recente livro de seu filho, Chico Buarque, O Irmão Alemão, de 2014, o autor cria uma
história em que ele descobre um irmão de origem alemã que seu pai, Sérgio Buarque de
Holanda, preferiu não comentar durante a vida inteira sobre. A narrativa é permeada de cartas e
bilhetes em alemão, necessitando, desse modo, da tradução do narrador para que possamos
entender, em uma busca desenfreada, criando-se, desse modo, também, uma história cujas
vozes não sabemos de quem são, pois, a cada página a pergunta que nos fazemos é "até onde é
verdade ou invenção?". Ao final do livro é acrescentada uma nota, assinada por Chico
Buarque, afirmando ter tomado "[...] conhecimento do destino do meu irmão Sergio Günther
graças ao empenho do historiador João Klung e do museólogo Dieter Lange. Seus trabalhos de
pesquisa em Berlim basearam-se nos documentos constantes neste livro, preservados por
minha mãe, Maria Amelia Buarque de Holanda." (BUARQUE, 2014, p. 229). Em reportagem
na edição de janeiro de 2015 da revista piauí, Chico Buarque conta sua viagem, verdadeira, à
Alemanha para encontrar vestígios de seu irmão, colocando, assim, mais lenha no debate sobre
a veracidade, ou não, do relato produzido em O Irmão Alemão.
92! !
____________________
73
Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque de. O bom dragão. In: _______. Poesia completa de Raul
Bopp. Augusto Massi (Org.). 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013. p. 57.
74
Ibid, p. 57.
! 93!
____________________
75
STIGGER, op. cit., p. 30.
94! !
____________________
76
HOLANDA, op. cit., p. 58.
77
Cf. MASSI, Augusto. A forma elástica de Bopp. In: _______. Poesia completa de Raul
Bopp. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013. p. 31.
! 95!
____________________
80
Cf. BOPP, Raul. Coisas do Oriente: viagens. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy Ltda. Editora,
1971. p. 11.
81
O texto fora resgatado pelo professor Raúl Antelo e incluído, por Augusto Massi, na segunda
edição das Poesias Completas de Raul Bopp.
! 97!
____________________
82
Não estamos muito longe do grupo Acéphale de Bataille, Klossowski e Masson, cuja
aparição se deu em 1936 e que já propunha a laceração da cabeça - da racionalidade, da razão -
como uma forma de leitura deslocada da normalidade. Tal corte será relido em chave
esquizoanalítica por Gilles Deleuze em sua teoria da rostidade ao propor que todo o corpo é
uma máquina de rostidade, ou seja, qualquer parte do corpo pode vir a ser esse olho e esse
rosto, fragmentando e desunificando a leitura - por isso, talvez, o intuito de colocar na capa da
revista Acéphale não um corpo sem cabeça, mas uma cabeça deslocada de seu local de origem,
colocada no lugar do falo, em uma espécie de substituição deste. Como o título da revista é
lido como "sem cabeça", mas também, na língua portuguesa, como "sem falo", o prefixo "a"
como negador do "phale", o que daria uma releitura dos textos acefálicos.
83
Cf. BOPP, Raul. El rostro lacerado del África. In: _______. Poesia completa de Raul Bopp.
2. ed. Augusto Massi (Org.). Rio de Janeiro: José Olympio, 2013. p. 264.
98! !
____________________
85
Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995. p. 31.
86
BOPP, op. cit., p. 264.
100!!
____________________
87
Cf. ANTELO, Raúl. A catástrofe do turista e o rosto lacerado do modernismo. Cóloquio
Pós-crítica, da Universidade Federal de Santa Catarina. Dezembro de 2006, p. 1.
! 101!
____________________
88
Ibid, p. 1.
102!!
____________________
89
Cf. ANTELO, Raúl. Apostilla antropofágica. In: MÉTRAUX, Alfred. Antropofagia y
cultura. Trad. de Silvio Mattoni. Buenos Aires: El Cuenco de Plata, 2011. p. 58.
90
Cf. ANDRADE, Oswald. Manifesto Antropófago. In: _______. A Utopia Antropofágica. 4.
ed. São Paulo: Globo, 2011. p. 67.
! 103!
___________________
ção pelos jornais. Na falta de uma consciência crítica autônoma, o apoio e o reconhecimento de
pessoas influentes como ele serviam de referencial estético para o restante da sociedade. Foi
esse seu papel no caso de Segall: obrigados a conter-se, e sem condições de compreender o que
sua obra representava, alguns críticos creditaram à extrema juventude do artista os 'defeitos' de
sua pintura - no fundo, os elementos revolucionários nela contidos. Sua passagem, portanto,
não abalou o marasmo artístico da cidade, ficando na memória como a visita de mais um
pintor-viajante." (p. 46). Cf. CAMARGOS, Marcia. Villa Kyrial: crônica da Belle Époque
paulistana. São Paulo: Editora SENAC, 2001.
! 105!
____________________
92
Cf. STIGGER, Veronica. Ano Novo. In: _______. Opisanie Swiata. São Paulo: Cosac Naify,
2013. p. 39-40.
106!!
____________________
93
STIGGER, op. cit., p. 40.
94
Cf. BOPP, Raul. Cobra Norato. In: _______. Poesia completa de Raul Bopp. Augusto Massi
(Org.). 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013. p. 167.
! 107!
____________________
95
BOPP, op. cit., p. 170-171.
96
Cf. ANDRADE, Oswald de. Manifesto Pau-Brasil. In: _______. A Utopia Antropofágica. 4.
ed. São Paulo: Globo, 2011. p. 66.
108!!
____________________
97
O que não é de todo verdade, pois, com o início do século XXI, as crises ambientais se
tornaram cada vez mais frequentes e dizimaram com força total milhares de pessoas. O Brasil,
p. ex., passa por uma grande crise hídrica cujo “início”, em meados de 2014, promete parar
São Paulo em 2015; início das consequências da falta d’água, pois a origem da crise remonta
há bastante tempo. Discussão essa aprofundada no quarto capítulo quando trato da relação do
até então Novo Mundo, tendo a Amazônia como sonho primevo, e o cenário atual de
devastação – por ironia é a tradução de Pogrom – cujo reflexo, de certa maneira, está presente
na narrativa de Veronica Stigger.
98
BOPP, op. cit., p. 172.
! 109!
____________________
99
Ibid, p. 174.
110!!
____________________
100
STIGGER, op. cit., p. 41-42.
! 111!
____________________
101
STIGGER, op. cit., p. 42.
102
Ibid, p. 43.
112!!
- Boa-noite
- Bua-noite
____________________
103
BOPP, op. cit., p. 196.
! 113!
- Vamos!
- Compadre,
escuite uma coisa aqui no ouvido:
Joaninha Vintém quer vim junto
____________________
104
Ibid, p. 198.
114!!
____________________
105
Cf. CAILLOIS, Roger. L'homme et le sacré. Paris: Gallimard, 1950. p. 23-24.
! 115!
esquerda do Amazonas, pois esta terra não pode ser definida, está
sempre em transformação, nunca é a mesma, é a terra do Sem-fim,
entendido aqui não como uma terra sem final, mas como uma terra em
constante vir a se finalizar, vir a ser algo que ainda não o é, vir a ser,
talvez, o fim depois do fim - é sempre bom lembrar da chamada
descrição de mundo proposta por Veronica Stigger ser justamente essa
terra sem definição da Amazônia e ser dentro do navio onde estão
pessoas das mais diversas partes do mundo - entendido aqui no sentido
territorial da palavra, ou seja, pessoas pertencentes à Itália, p. ex., como
a personagem Priscila -, mas que não se enquadram e por isso precisam
sempre descobrir novas experiências e terem novos contatos com o
diferente e com o novo. Eles vivenciam, então, uma eterna profanação
de seus corpos e de suas origens, visto que renegam sua imagem
concreta no espelho e se aventuram dentro de um navio à procura do
chamado Novo Mundo, de uma terra que atualmente - talvez sempre
tenha sido - está em processo de devastação. Voltando, entretanto, à
questão da festa e às teorias de Roger Caillois, o autor nos afirma, na
parte relativa ao sagrado da transgressão, sobre
Se a prisão nos ronda a todo instante fazendo com que não mais a
percebamos, significa que ela pode estar, ou não, em todo e qualquer
lugar ao mesmo tempo, transformando-se na nulle part contemporânea.
Como Bataille afirmou em seu verbete de 1929, o homem se confunde
com o animal e é somente nesse sentido que podemos enxergá-lo como
uma prisão. Trazendo essa afirmação para a análise empreendida nesta
dissertação, pode-se perceber que se a prisão permeia nossas vidas sem
nos darmos conta de tal feito e, se ela se confunde com o próprio
homem, temos como resultado disso a transformação da vida humana
em uma completa nulidade, em um completo vazio de significados,
restando-nos apenas os significantes partidos, fragmentados, não tendo
mais relação alguma entre uma coisa e outra. Em outras palavras: a vida
humana, nesse sentido, é uma nulle part. E sendo assim, o sagrado já
ficou para trás e foi ultrapassado pelos momentos de festividade, pela
exceção. Como nos lembra Roger Caillois, partindo dos preceitos da
religião católica, Deus construiu o mundo em 6 dias e descansou no
sétimo. A virada contemporânea se dá quando este único dia de
descanso se tornou a regra diária na medida em que
____________________
108
Ibid, p. 131.
118!!
____________________
109
Ibid, p. 134-135.
120!!
____________________
110
Ibid, p. 138-139.
! 121!
____________________
111
Para ler mais sobre o conceito de subterrâneo no mundo artístico brasileiro, ver a tese de
Flávia Cera sobre Hélio Oiticica, autor este que se debruçou sobre o mundo subterrâneo
trazendo o espectador de sua posição segura e transformando-o em participador. Cf. CERA,
Flávia. Arte-vida-corpo-mundo, segundo Hélio Oiticica. Tese de doutorado, Universidade
Federal de Santa Catarina, 2012.
112
Cf. ANDRADE. Oswald de. Cobra Norato. In: _______. Estética e política. 2. ed. revista e
ampliada. Maria Eugenia Boaventura (Org.). São Paulo: Globo, 2011. p. 64.
! 123!
____________________
113
MABILLE, op. cit., p. 18.
124!!
____________________
114
STIGGER, op. cit., p. 100-101.
! 125!
____________________
115
Ibid, p. 102-103.
126!!
____________________
116
Logo mais adiante iremos falar sobre a personagem Priscila.
! 127!
____________________
117
Ibid, p. 105-106.
118
Cf. HUIZINGA, 1951 apud CAILLOIS, 1967, p. 32-33.
! 129!
____________________
119
ANTELO, op. cit., p. 1.
130!!
____________________
121
STIGGER, op. cit., p. 106-107.
! 133!
____________________
123
STIGGER, op. cit., p. 107-108.
136!!
____________________
124
CAILLOIS, op. cit., p. 61-67.
! 137!
____________________
125
STIGGER, op. cit., p. 108-110.
140!!
____________________
126
Ibid, p. 111-113.
! 143!
____________________
129
Cf. ANDRADE, Oswald de. Serafim ponte grande. 9. ed. São Paulo: Globo, 2007. p. 54.
130
Ibid, p. 58.
146!!
____________________
131
Ibid, p. 204-206.
148!!
abertura ou não da janela: para um estava emperrada, para outro, ela não
abriria de qualquer maneira – quando
____________________
134
STIGGER, op. cit., p. 49-50.
152!!
____________________
137
Cf. MARTINO, Ernesto de. Sud e magia. 8. ed. Milano: Saggi Universale Economica
Feltrinelli, 2008. p. 7.
! 155!
ro, fazem uso "consciente" dos recursos apresentados porque ali é a sua
terra, seu local de origem, é talvez por isso que não vimos até o
momento nenhum animal devastando e desmatando o local onde vivem.
O movimento provocado pelo homem, o ser "racional", acontece
quando ele, ao sair da floresta, deseja retornar ao seu local familiar-
-estranho, mas os seus sentidos estão presos ao mundo deixado para
trás, estão presos pela máscara criada para se viver no mundo
"humano", pela imagem refletida no espelho; ele não consegue mais
manter uma relação de igualdade com a natureza, pois se sente superior
a esta. A nação moderna está, portanto, baseada neste aspecto, sob a
instância da razão e com a perda da identidade e o ganho de uma nova,
postiça, e que pode ser trocada quantas vezes forem necessárias. No
episódio da tarântula de Opisanie Swiata, Priscila faz o gesto oposto a
essa diferenciação, ao se juntar e se transformar em uma humana-
animal, ao continuar com o seu corpo de humana, mas agir como um
animal, andando de quatro pelos vagões do trem. De alguma forma ela
reúne os dois mundos em seu corpo, dando-nos a possibilidade de um
outro mundo, onde a melancolia perante a técnica ganhe outro sentido.
A crise do tarantolismo, p. ex., pode ser uma das saídas, pois faz o
sujeito agir de modo completamente diferente da normalidade, e o faz
dançar freneticamente passos desconjuntados, saindo novamente do uso
comum das pernas - o de caminhar levando-nos a um lugar e retornando
a outro -, pois elas se transformam também.
____________________
138
Ibid, p. 188-189.
! 157!
Qual será este mundo finito que desenhamos com o nosso corpo?
Será o mundo da infância, aquele momento da vida cuja história recebe
toda uma imagem de invenção e cuja experiência ainda é uma forma de
provocação perante a vida, como se a criança soubesse da existência
desses outros mundos, mas, por ainda não possuir fala, daí o in-fans,
sem fala, esse conhecimento não pode ser externalizado e organizado
para vir ao mundo. Talvez resida aí a beleza do poema Crônica de
Oswald de Andrade quando este afirma "Era uma vez/ O mundo"140,
trazendo a invenção infantil das histórias iniciadas com o "era uma
vez", uma narrativa incompleta e ainda por se construir, dando a cada
um a possibilidade de criar uma nova vida, uma nova história e um novo
mundo. Na ilustração do livro de poesias de 1927, o mundo aparece
girando, sem parar, mas ainda permanece sustentado por algo que o
deixa se movimentar, para não sair de órbita. Se o mundo é aquele cuja
terra pertence às crianças e se elas, por ainda não terem falar, não
podem transmitir essa experiência, resta, quem sabe, a essas criaturas
sem fala a interpretação de um mundo, talvez de um fim de um mundo,
que ainda está por acontecer, mas nunca poderá ser completado e
transmitido - por aí se pode ler o título "crônica" dado por Oswald a essa
invenção, pois crônica é ficção e escrita, não está no tempo cronológico,
mas no tempo da ficção. Essa impossibilidade do dizer é central para um
autor como Giorgio Agamben, cuja teoria do Homo Sacer tem como
cerne o não credenciamento da fala, não mais às crianças, mas aos
criminosos aos olhos do poder soberano. Para que falar ainda se nada
adiantará para a mudança do futuro?
____________________
139
Cf. ANGELINI, Pietro. Gli ultimi tempi. In: _______. Ernesto De Martino. Roma: Carocci
editore, 2008. p. 122.
140
Cf. ANDRADE, Oswald de. Crônica. In: _______. Primeiro caderno de poesia do aluno
Oswald de Andrade. 4. ed. revista. São Paulo: Globo, 2006.
158!!
____________________
141
Cf. AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da experiência e origem da
história. Trad. de Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. p. 21.
! 159!
____________________
142
STIGGER, op. cit., p. 54-55.
160!!
____________________
143
A enumeração excessiva se dá logo no começo quando o narrador diz: "Josefina não gostava
de teatro. Nem de circo. Ela gostava de novelas, de crianças, de bichos, de banana amassada,
de espirrar, de arrumar o cabelo no salão da esquina, de passear no conversível de seu
namorado rico e feioso, de cornear seu namorado rico e feioso com o bonitão do jipe velho, de
dar banho no seu cocker-spaniel, de fazer tricô e sexo anal, de ouvir pagode e confissões das
amigas, de ler Jane Austen e bula de remédio, de comer quiabo ensopado e pizza de tomate
seco, de se embebedar com coquetéis de frutas sem álcool, de dançar tango, de comprar roupas
de grife, de roer o esmalte vermelho das unhas, de pentear macacos, de arrotar em sala de aula,
de ser sempre o centro das atenções, de implicar com sua irmã paraplégica, de beijar com
língua, de cozinhar língua com batatas, de plantar bananeira na sala, de andar nua pela casa, de
seduzir o primo com síndrome de Down, de usar saias curtíssimas, de mostrar os peitos na
janela, de peidar em elevador, de visitar velhinhos em asilos, de catar coquinhos na estrada, de
contar histórias, de escrever poemas idiotas, enfim, Josefina gostava de um monte de coisas.
Mas não gostava de teatro. Nem de circo." (STIGGER, 2007, p. 20)
! 161!
____________________
144
STIGGER, op. cit., p. 57.
162!!
! 163!
Mesmo sabendo ser o fim uma categoria imaginária e ser todo ele
sempre um recomeço para uma nova criação e uma nova possibilidade
de vida, vamos nos reportar, então, a uma autora argentina cujas
viagens, feitas ao longo da vida, só recentemente, em fins do ano de
2014, foram publicadas. Beatriz Sarlo no livro de memórias de viagens
intitulado Viajes - De la Amazonia a las Malvinas, o qual recebe uma
construção a partir das rememorações e reconsiderações feitas après-
-coup, faz um percurso entre alguns países da América Latina e, anos
depois de vivenciá-los, parece ter a impressão de estar novamente em
deslocamento espacial; não sabemos se o relato contado no livro retrata
de maneira fiel a realidade das viagens, pois, como Sarlo afirma no final
de sua análise, os pequenos cadernos de anotações já se perderam com o
tempo. De uma certa maneira, então, a autora refaz as viagens ao
retomá-las na memória para a escrita do livro, mas não é um retorno
idêntico ao ocorrido, mas diferido; Sarlo cria uma nova viagem, pois
seus sentidos foram desconjuntados, a partir da perda de posição
provocada pelos deslocamentos - da mesma forma como Ricardo Lísias
precisou rever sua vida depois do suicídio de seu melhor amigo, André;
ou, como Henrique ao escrever cartas ao seu amigo em coma tentando
construir, assim, uma memória para quando Gabriel acordar e não
perder nada do que acontecera; ou ainda como Gombrowicz passando
por um julgamento devido a sua não adequação corporal ao aparecer de
pés nus e isso servir como um elemento diferenciador para sua família.
Essa fuga e desconstrução da normalidade é encarada por Beatriz Sarlo
como um encontro inesperado com o acaso, com algum elemento
exterior vindo desarticular a completude, em uma espécie de loucura. É
justamente no contato com um louco que Sarlo dará início ao elemento
fuera de programa, ou seja, o que não se espera, mas de alguma forma
já fora realizado anteriormente - em uma releitura em chave
contemporânea da teoria freudiana do Unheimliche. Ao final de uma
visita à igreja de São Leopoldo, em Viena, a autora afirma
dentro do baú
dobrado ao meio
em posição fetal
cabeça inclinada
olhos fechados
boca aberta
O homem se ajoelhará
ao lado do baú
abraçando o chimpanzé com toda a sua força
____________________
149
Ibid, p. 141-143.
168!!
____________________
150
Para uma leitura mais detida sobre o conceito de máquina desejante, ver em DELEUZE,
Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. Trad. de Luiz B. L.
Orlandi. São Paulo: Ed. 34, 2010.
151
Cf. ANDRADE, Carlos Drummond de. A máquina do mundo. In: Poesia 1930-62: de
Alguma Poesia a Lição de Coisas. Júlio Castañon Guimarães (Org.). São Paulo: Cosac Naify,
2012. p. 679.
! 169!
____________________
152
Ibid, p. 680-681.
153
Ibid, p. 681.
170!!
____________________
154
No livro Caderno de um ausente, de João Anzanello Carrascoza, o narrador é um pai cuja
filha acaba de nascer e o livro inteiro é composto de cartas dele, o ausente do título, para
alertá-la sobre a finitude da vida a partir do nascimento, uma forma de ele criar uma memória
visual e sentimental a partir da escrita das cartas endereçadas a filha. Diz ele: "[...] por isso, eu
te peço perdão, filha, por não ser o anfitrião ideal, por te recepcionar com estas palavras
rascantes, mas não há como esconder a morte ante a estreia de uma vida." (CARRASCOZA,
2014, p. 14) Além da relação entre o livro de Luisa Geisler, analisado anteriormente, João
Anzanello permeia suas cartas com espaços em branco, mostrando, desse modo, as faltas e as
falhas durante o percurso da vida (e da viagem), os links a que se referia Boris Groys. No livro
Aos 7 e aos 40, Carrascoza promove um diálogo com a passagem inerente do tempo na vida de
um sujeito ao escrever uma narrativa dupla, sobre a origem e sobre o fim da vida, mostrando
no que nos transformamos e as perdas sentidas. Os capítulos são divididos entre esses dois
espaços temporais - como "depressa" e "devagar", "dia" e "noite", "silêncio" e "som", e nos
dois últimos capítulos, o "fim" está no começo mesmo da origem e o "recomeço" (ou um
eterno retorno) se dá já para o final da vida. Diz o autor na parte infantil - aquela dedicada aos
7 anos - sobre o fim: "Eu vivia entre as pessoas, as árvores, as casas. Não tinha aprendido
ainda a viver na sua raiz, só saltava sobre seus galhos, no espaço entre uma e outra. Ignorava o
que era voltar, eu só ia às coisas - era o meu tempo de começos. Pra mim, havia o dia (a escola,
os amigos, as brincadeiras) e a noite; mas a noite não era o fim do dia, a noite (o medo, o
cansaço, o sono, era apenas uma longa e escura hora antes de um novo dia." (CARRASCOZA,
2013, p. 117)
! 171!
____________________
155
DRUMMOND, op. cit., p. 683-684.
172!!
____________________
156
No livro O inventário das coisas ausentes, de Carola Saavedra, o narrador sofre a perda de
sua amiga Nina. Esta deixa dezessete diários escritos durante o tempo em que estiveram juntos
e ele precisa, a partir da escrita, refazer os trajetos, caminhos e sentimentos dele por Nina.
Talvez até para construir a imagem dela, pois tudo que pensara ao longo do tempo, vai se
mostrando diferente. Ele precisa, então, inventar uma Nina para si, construir uma máscara para
ela - e para ele também. Com isso, quem sabe, ele possa juntar os cacos dessa escrita para
refazer sua vida.
! 173!
____________________
157
STIGGER, op. cit., p. 150.
174!!
BOPP.
romance.
____________________
158
Ibid, p. 150-151.
! 175!
Referências
1. De Veronica Stigger:
2. Geral:
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
JARRY, Alfred. Ubu Rei. Trad. de Sergio Flaksman. São Paulo: Peixoto
Neto, 2007.
LIMA, Jorge de. Poesia completa. Alexei Bueno (Org.). Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1997.
A ÓPERA