Análise Do Poema Tabacaria de Álvaro de Campos
Análise Do Poema Tabacaria de Álvaro de Campos
Análise Do Poema Tabacaria de Álvaro de Campos
Astúcias do texto
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Vemos como esse sujeito não nomeado se sente um fracassado, um vencido, sem
energias e sem ambições para lutar na vida. Se no presente ele lê a sua história pessoal como
uma derrota, é porque ele olha para o passado e vê que não alcançou nenhuma espécie de
realização amorosa ou profissional.
No princípio ele observa que falhou em tudo, o que, de certa forma, ainda pode ser
encarado com um breve olhar positivo: afinal ele tinha um plano, mas acabou não conseguindo
ser bem-sucedido. Mas logo no verso a seguir Álvaro de Campos destrói a própria ideia de que
tinha um plano: tudo, afinal, é nada, porque ele nem sequer tinha um propósito na vida.
Fica claro nesse trecho de Tabacaria o sintoma de cansaço e o tédio, como se tudo fosse
repetitivo e o sujeito fosse incapaz de viver a vida ou de ter projetos.
Ele até tenta fugir desse estado de espírito, mas rapidamente percebe que não há saída
possível, nem sequer no campo encontra um propósito.
Ao longo dos versos vamos observando que o sujeito busca uma verdade, mas uma
verdade que seja uma espécie de âncora: não temporária, mas permanente e eterna, algo que o
norteie e que encha a sua vida de sentido.
Há um excesso de consciência da sua condição pessoal e o sujeito vê a felicidade como
uma hipótese impossível.
A sensação de desamparo é ainda maior porque o sujeito não sabe aquilo que deseja e
também não sabe propriamente aquilo que é. Nessa passagem importante de Tabacaria,
Álvaro de Campos fala da presença de uma máscara levantando a questão da procura da
identidade, um tema frequente na poética de Fernando Pessoa.
Aqui fica evidenciada a necessidade humana de querermos parecer aquilo que não somos
para nos enquadrarmos socialmente, para agradarmos os outros.
Depois de tanto tempo usando a sua máscara - o personagem que escolheu representar
na vida coletiva - Álvaro de Campos enfrenta a dificuldade ao ter que retirá-la. Quando consegue,
percebe como o tempo passou e como envelheceu enquanto aparentava ser outra coisa.
O sonho é apresentado por Álvaro de Campos em alguns trechos de Tabacaria como uma
possibilidade de fugir da realidade concreta e dura - que ao longo do poema é representada por
elementos físicos: as janelas, as pedras, as ruas, as casas.
O poeta reveza momentos de extrema lucidez, fazendo menção a esse mundo concreto,
exterior, com imagens do seu inconsciente, fantasias e sonhos. Há uma mistura intencional no
poema, portanto, desses elementos reais, com passagens reflexivas, interiores (versos onde
vemos filosofias, pensamentos, devaneios, sonhos).
Álvaro de Campos analisa as profundezas do seu ser, as emoções que o movem, a apatia
que se aloja dentro dele e aponta o sonho como um espaço de descanso, uma espécie de
abrigo em meio a um temporal.
Contexto histórico
Escrito no dia 15 de janeiro 1928 e publicado pela primeira vez em julho de 1933, na
Revista Presença (edição 39), Tabacaria é um dos mais importantes exemplares poéticos do
Modernismo em Portugal.
O poema, que faz parte da terceira fase da produção poética do heterônimo Álvaro de
Campos, faz um retrato do seu tempo e traz à tona sentimentos característicos da sua geração
como a fragmentação e a efemeridade.
O poeta nessa terceira fase da sua poesia, que durou entre 1923 e 1930, investiu numa
abordagem mais intimista e pessimista. Eduardo Lourenço, um grande estudioso português
contemporâneo da obra de Álvaro de Campos, destaca que Tabacaria é das criações mais
importantes do heterônimo porque, segundo ele, “Todo o Álvaro de Campos nele se concentra”,
ou seja, em Tabacaria encontramos um resumo, uma síntese, de todas as principais
questões levantadas pelo heterônimo.
Álvaro de Campos testemunhou um Portugal que vivia profundas transformações sociais e
econômicas e deu vida, através dos seus versos, à poemas nervosos, que transmitiam a
incerteza e o sentimento de estar perdido num período em que a sociedade mudava de modo tão
rápido.
O heterônimo Álvaro de Campos, criado por Fernando Pessoa, teria nascido no dia 15 de
outubro de 1890, na região de Tavira (Algarve) e se formou em engenharia mecânica e naval. Ele
foi testemunha e assistiu ruir uma ordem política e social, convém lembrar a Primeira Guerra
Mundial (1914) e a Revolução Russa (1919).
In: https://www.culturagenial.com/poema-tabacaria-alvaro-de-campos-fernando-pessoa-analisado/
Tem outro:
https://comofazerumpoema.com/tabacaria-fernando-pessoa-todos-sonhos-mundo/
https://www.google.com/search?q=analise+do+poema+tabacaria+de+
%C3%A1lvaro+de+campos&rlz=1CAXXPU_enBR1051&oq=An
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