Apontamentos Definitivos DR
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2007/2008
1º Ano – 1º Semestre
Introdução
Ius Romanum (stricto sensu)
a) Critério político:
Períodos da história politica de Roma.
b) Critério normativo:
Modos de formação das normas jurídicas (costume; lei; iurisprudentia;
constituições imperiais).
Critica Não pode ser adoptado como principal porque não indica de forma
directa a evolução do dto privado de Roma, apenas a de dto público.
Mas pode ser utilizado para estabelecer a periodificação.
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c) Critério jurídico:
Vida do Ius Romanum e suas manifestações
Jurídico externo:
Fixa a periodificação atendendo a certas características do Dto.
CRITÉRIO ADOPTADO
Jurídico interno:
Atende ao valor do Dto Romano, examina como nasce, cresce, atinge o
apogeu e se codifica.
A) Época arcaica
B) Época clássica
C) Época post-clássica
D) Época justinianeia
Características:
- Imprecisão;
- Não se nota o limite do jurídico, religioso e moral (são um só mundo).
- Instituições politicas surgem sem contornos bem definidos
Subdivisão:
1ª Desde o início até 242 a.C. (criação do pretor peregrino); período do ius
civile1 exclusivo; O Dto Romano desta época é fechado e privativo; só prevê
regulamentação na relação entre cives; os non cives que habitam Roma estão
fora do Dto Romano.
1
Ius próprio dos cives; ius quiritium; não é dto civil nem privado.
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Características:
- Exactidão;
- Precisão;
- Serve de modelo;
- Grandeza do Dto Romano;
- Jurisconsultos muito intuitivos, capazes de adequar as normas a cada
situação e criar novas se não estivessem previstas – iurisprudentia
fecunda e criadora.
Subdivisão:
Pré-clássica 130 a.C. a 30 a.C.; intenso desenvolvimento do Dto para um
estado de grandeza.
Clássica central até 130; período de esplendor e de maior perfeição do Dto
Romano; figura central Iulianus.
Clássica tardia até 230; nota-se o início de uma certa decadência pela falta do
génio criador; os jurisconsultos limitam-se a repetir e coordenar o que os grandes
mestres disseram.
Características:
- Confusão de terminologia, conceitos, instituições, textos;
- Verifica-se no Oriente e no Ocidente.
- No Ocidente:
o Confusão a partir de 395 mais acentuada.
o Corrupção do Dto Clássico pelos dtos locais dos povos dominados e
dos bárbaros que iniciavam a invasão do império = Dto Romano
Vulgar.
o A confusão concretiza-se numa vulgarização do Dto Romano.
- No Oriente:
o A partir de 395, confusão manifesta-se numa reacção contra certas
manifestações vulgaristas isoladas = Classicismo – tendência
intelectual para valorizar o clássico e combater as deturpações.
o Progresso do Dto Romano através da filosofia e dtos gregos =
Helenização do Dto Romano.
Características:
- Desejo de Justiniano de estabelecer a unidade na diversidade com base no
Dto Romano.
- Tendência para a generalização.
- Actualização e compilação do Dto Romano na forma clássica.
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a) Ius e auctoritas
A conexão de Dto Romano e império radica na noção-fundamento de ius, é
uma força que necessita de auctoritas para ser eficiente, e essa tem de se
verificar na criação do ius por uma entidade publica e por juristas. Estes precisam
de autoridade social para que as suas doutrinas se imponham e triunfem.
A princípio, os juristas tinha autoridade de origem aristocrática, pela sua
linhagem; depois, Augusto chamou pessoas da classe média para cargos
importantes, tinham autoridade de origem politica; Adriano concedeu aos juristas
autoridade de carácter burocrático = triunfo do funcionalismo sobre a
aristocracia; por último, surge o imperador como fonte única de leis, só há leges,
desaparece o ius, Direito = Lei.
Rei:
- Sumo sacerdote, chefe do exército, juiz supremo = director da civitas.
- Cargo vitalício, não hereditário
o Rei podia designar o seu sucessor e este só era rei quando
proclamado no comício das cúrias = Lex curiata de império.
Os romanos tinham a convicção de que o poder residia no
povo e que era este que o transmitia ao chefe.
Senado:
- Assistente do rei.
- Constituído por patres das gentes fundadoras da civitas e depois pelos
homens experimentados na vida, escolhidos entre patrícios.
- Assembleia aristocrática.
o Inicialmente os plebeus não podia fazer parte do senado, depois
abrira-se excepções e por fim alcançaram a entrada definitiva com
a Lex Ovinia; foram designados conscripti.
o Patres conscripti era o senado na sua totalidade.
- Posteriormente, nomeava o interrex.
- E concedia a auctoritas patrum (consentimento) às leis votadas nos
comícios para que fossem válidas.
- A resposta do senado nas suas consultas chamava-se senatusconsultum.
Povo:
- Inicialmente formado por patrícios e plebeus.
- Patrícios detinham todos os direitos.
o Luta entre classes.
o Desejo de igualdade pelos plebeus.
- Plebeus eram tão cidadãos como os patrícios.
- A luta acabou por favorecer os plebeus.
- O povo tinha uma parcela do poder politico.
o Exercia os seus direitos manifestando a sua vontade nos comícios,
que se celebravam obrigatoriamente em determinados ou se
convocados.
+ Antigos e + importantes = Comício das cúrias.
• Investidura do rei no poder (Lex curiata de imperio)
De início, constituídos só por patrícios e mais tarde também
por plebeus.
Não se contam os votos por cabeça, mas por cúrias,
centúrias ou tribos, cada um possuía um voto.
Magistrados:
- Todos os detentores de cargos políticos de consulado para baixo.
- De início, são detentores do imperium, que anteriormente era do rei.
o Imperium é um poder absoluto, de soberania.
o Os cidadãos não se podem opor.
- Magistraturas ordinárias:
o Questor
o Edil Curul
o Pretor
o Cônsul
o Censor – grau supremo do cursus honorum
- Poderes dos magistrados:
o Potestas – poder de representar o povo; era comum a todos os
magistrados mas cada um o tinha com maior ou menor grau,
conforme as suas atribuições, dentro das quais podia vincular, com
a sua vontade, a vontade do povo, criando direitos e deveres.
o Imperium – era o poder de soberania; tinha as faculdades de
comandar o exército, de convocar o senado, de convocar as
assembleias populares, de administrar a justiça; é próprio dos
cônsules e dos pretores.
o Iurisdictio – poder de administrar a justiça duma forma normal ou
corrente; poder principal dos pretores, mas também competia ao
edis curúis (processos aos quais podiam atender) e aos questores
(causas criminais).
- Pretor
o Era a magistratura mais importante, seguida dos edis curúis e a dos
questores.
o Tinha os 3 poderes.
o A princípio era uma designação genérica para indicar o chefe de
qualquer organização; por isso os cônsules de início se intitularam
praetores (chefes militares, dirigentes da rebelião que derrubou a
monarquia).
o Depois da criação da questura e da censura, a palavra pretor ainda
conservou um carácter genérico (era nome comum de qualquer
magistrado).
o Em 367 a.C. foi criada a magistratura dos pretores, agora tem um
significado individual de um magistrado que administra a justiça
nas causas civis.
1ª fase do processo “fase in iuri” era analisado o aspecto
jurídico da causa; verificava-se um “ius-dicere” (afirmação
solene de existência ou não de direito) e concretizava-se
numa ordem dada pelo pretor ao juiz para proferir sentença.
2ª fase “apud iudicem” apreciava-se a questão, o
problema da prova e dava-se a sentença; decorria perante
um iudex (era um particular), distinto do pretor; em vez de
ius-dicere havia um ius-dicare, julgar conforme uma ordem
jurídica já fixada.
o De início só havia um pretor, depois a administração da justiça é
dividida por 2:
Pretor urbano – organizava os processos civis em que só
interviessem cidadãos romanos; ius civile.
Pretor peregrino – organizava os processos em que, pelo
menos, uma das partes era um non cives; ius gentium.
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o O pretor é o protótipo do homem preocupado e totalmente
dominado pelo espírito de justiça, sempre com o intuito de atribuir
a cada um o que é seu.
o É o intérprete da lex e defensor do ius.
Senado:
- Órgão politico por excelência.
- Carácter aristocrático.
- Encontravam-se reunidas a autoridade, a riqueza e o saber técnico.
- Não tinha imperium mas tinha auctoritas (prestígio); aparentemente não
tinha funções prepotentes, mas gozava de uma influência social
extraordinária.
- As suas decisões tinham forma de conselho, mas na prática eram
verdadeiras ordens.
- A atribuição mais importante era a auctoritas patrum, que passa depois a
ser concedida antes de a lei ser votada pelos comícios (o povo limita-se a
sancionar aquilo que na verdade é a vontade dos senadores).
Povo:
- Reúne-se em assembleias ou comícios.
- Poderes de eleger certos magistrados e o de votar as leis propostas por
aqueles magistrados.
- Comícios funcionavam como tribunal de última instância.
- 3 espécies de comícios:
o Comitia curiata (entra em decadência).
o Comitia centuriata – intervêm na eleição dos cônsules, dos
pretores, ditador e censores; e na votação das leis propostas por
estes magistrados.
o Comitia plebis – decisões = plebiscita; a princípio sem carácter
vinculativo, depois é-lhe reconhecida a força obrigatória em relação
à plebe e depois passam a obrigar todo o povo romano; plebiscitos
são equiparados às leis comiciais.
Princeps:
- Figura central
- Tem uma série de títulos e faculdades que lhe são outorgadas pelos
órgãos republicanos sobreviventes.
- Em 23 a.C. Augusto recebe carácter vitalício tribunícia potestas.
- É-lhe também concedido o imperium proconsulare maius, por 10 anos
(devido às sempre renovadas prorrogações, transforma-se em vitalício); é
tão pessoal que este o transfere para o seu herdeiro forçoso, Tibério.
- O princeps não é um magistrado, é considerado um novo órgão politico,
permanente, com um imperium especial e com tribunícia potestas.
- Augusto vai pouco a pouco concentrando o imperium das magistraturas e
a auctoritas do senado.
o As antigas magistraturas mantêm-se mas o seu poder é quase
irrelevante, estão subordinadas ao princeps (funcionários
executivos).
- Com a sua morte, está a porta aberta para o despotismo e absolutismo,
monocracia, que se instaura constitucionalmente em 284.
Senado:
- A princípio, ganha importância.
o Senatusconsulta têm carácter legislativo.
- Mas depois perde grande parte da sua velha autoridade politica, que vai
passando gradualmente para o princeps.
- No final do principado, os senatusconsulta são meros discursos do
imperador.
Povo:
- Os comitia não foram abolidos, mas pouco a pouco, deixam de funcionar e
vêm a morrer por inactividade.
- As suas atribuições passam para o senado e para um novo elemento – o
Exército.
- Característica do principado: criação dum corpo burocrático de
funcionários, que fiscalizam tudo.
o Dependem unicamente do imperador.
o Respondem perante ele.
o Administram o império segundo uma directriz burocrática.
a) No Oriente
Depois da morte de Justiniano até à queda de Constantinopla, o Dto
Romano continuou a ser o dto do Império Oriental.
Até ao séc. VIII, o Dto Romano vigente era só o da compilação justinianeia
(C.IC.), depois começaram a surgir várias colecções de Ius Romanum, privadas e
autênticas, que adaptavam-no aos novos tempos Direito Bizantino, mais tarde,
Direito Greco-Romano.
Depois da queda de Constantinopla, o Dto Romano continuou vigente e
influenciou Dtos dos vários países orientais.
b) No Ocidente
O Dto Romano esteve presente em todos os países da Europa, duma ou
doutra forma (ou direito justinianeu, ou direito romano-bárbaro, ou direito
comum, ou direito pandectístico) até à publicação dos respectivos códigos civis.
Conceito: é tudo aquilo onde nos aparece algo para o DR produção, modos de
formação, mero conhecimento.
Espécies de fontes:
Fontes exsistendi são os órgãos produtores das normas jurídicas (populus,
comícios, senado, magistrados, imperador, iurisprudentes)
Fontes manifestandi são os modos de produção/formação das normas jurídicas
(costume, lei, iurisprudentia)
Fontes cognoscendi são os textos onde se encontram as normas jurídicas; 3
secções:
- Fontes provenientes do mundo romano
o Jurídicas
Justinianeias
• CIC
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Extra-justinianeias
• Restos de obras de juristas
• Colectâneas post-clássicas
• Material arqueológico-jurídico diverso
o Extra-jurídicas
Historiadores
Gramáticos e etimologistas
Escritores dramáticos
Filósofos, retóricos e oradores
Padres da Igreja
- Fontes elaboradas no Ocidente depois da queda do imperio em 476
o Codex Euricianus
o Leges Romanae Barborum
- Fontes elaboradas no Oriente depois do CIC.
o Escólios do Anónimo
o Paráfrase Grega de Teófilo
o Écloga de Leão Isaurico
o Obras de Basílio Macedónico
o Várias sinopses dos Basílicos
o Vários manuais de Dto
A lex é uma das fontes de dto, mas não a única nem a mais importante. A
lex precisa sempre de um correctivo. Até à época post-clássica, esse correctivo
foi desempenhado pelo ius praetorium e pela iurisprudentia; a partir do Baixo-
Império a lex tornou-se oficialmente a única fonte de direito.
Em contraposição surgiu a consuetudo, como correctivo.
Critica:
- As leges regiae existiram.
- Leges regiae não são verdadeiras leis (votadas pelos comícios).
Razões:
- Essas leis são por iniciativa dos primeiros 6 reis, de foro lendário.
- Os fragmentos que chegaram até nós são preceitos de carácter sagrado e
bastante antigos – os comícios não tinham qualidade para criar preceitos
rituais sagrados.
- Escritores antigos, anteriores a Augusto, afirmam que a Lei das XII Tábuas
foi a primeira lei, até aí só existiam mores maiorum.
o Por serem mais antigos, têm mais legitimidade para anunciar o que
realmente se passou na monarquia.
o Esse testemunho está de harmonia com as graves reacções
provocadas com a publicação da Lei das XII Tábuas – se tivessem
existido leis anteriores não teria causado reacções de surpresa que
originaram convulsões sociais.
Conclusões:
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- As pseudo-leis régias são preceitos consuetudinários, compilados pela
jurisprudência pontifícia.
- São também passos de alguns edictos religiosos de pontífices e até de
reis.
Noção real de lex é toda a declaração solene com valor normativo, baseada
num acordo entre quem a emite e o destinatário. A lex vincula num duplo sentido:
quem a declara e a quem se destina; espécies:
Privata = declaração solene com valor normativo que tem por base um
negócio jurídico privado; verifica-se quando alguém faz um acto de disposição
solene acerca de algo seu; cria direito privado.
Publica / Rogata = depois da lex privata surge a lex publica; deriva de
uma promessa solene da comunidade social, num negócio público; esta, por
antonomásia, é a lex rogata; é uma declaração solene com valor normativo, feita
pelo povo, pelo facto de aprovar em comum nos comícios, com uma autorização
responsável, a proposta apresentada por um magistrado; pressupõe um acordo
entre magistrado (que propõe a norma) e o povo (que a aprova), vinculando os
dois.
- Sistema de designação:
o Citam-se pelo nomen adjectivado pelo magistrado proponente.
o Se houvesse mais que um magistrado com nomem igual na mesma
gens, para o distinguir acrescentava-se o cognomen ou praenomen.
o Se o projecto for apresentado por um cônsul, figuram os nomes dos
dois colegas.
o As leges costumam levar uma indicação sumaria do seu conteúdo.
o Partes duma lex rogata:
Praescriptio espécie de prefácio; nome do magistrado
proponente, assembleia que a votou e a data, nome do
primeiro agrupamento que abriu a votação e o nome do
cidadão que foi o primeiro a votar.
Rogatio Parte dispositiva.
Sanctio Parte final; estabelece os termos da sua eficácia e
da sua relação com outras normas, afirmando respeito:
• Pelos mores maiorum
• Pelas velhas leis ditas inderrogáveis (ao contrário do
que se vê actualmente)
• Segundo a sanctio, podiam ser:
o Perfectae se declaram nulos os actos
contra as suas disposições.
o Minus quam perfectae se apenas impõe
multas aos transgressores.
o Imperfectae – nem anulam os actos contrários
nem impõem sanção. (se a lei não se
impunha, impunha-se o pretor)
o Além das leges rogata, existem outras leges publicae depois do
séc. III a.C.:
Leges rogatae
• Lex rogata ou comicial até 242 a.C. foi a única forma
de lex publica e uma fonte de direito de certa
importância.
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• Depois, até ao séc. I ela entra em declínio devido ao
aparecimento do edicto do pretor, que ganha
primazia entre as fontes de direito.
• A lei das XII tábuas é um exemplo de uma lex rogata.
Leges datae
• São leis proferidas por um magistrado em virtude de
um poder especial que o povo lhe deu
• Recentemente, parece que não existiu de facto;
trata-se de normas jurídicas dadas pelo governo
central a comunidades locais.
Leges dictae
• São leis proferidas por um magistrado em virtude dos
seus próprios poderes.
• É proferida em virtude dos poderes gerais e próprios
do magistrado, embora os tenha recebido do povo,
quando este o elegeu para determinada
magistratura.
o A partir do séc. II, as leges rogatae começam a desaparecer para
darem lugar aos senatusconsultos e às constituições imperiais
Leges rogatae diminuem com a decadência dos comícios,
que se verificou mais depois de Augusto.
No séc. I o senado começa a sua actividade legislativa e no
séc. II inicia-se a afirmação e a consagração do poder
imperial.
Perante isto, desaparecem antes do séc. III.
A partir dos fins do séc. II tudo se prepara para triunfar um
novo tipo de lei – a vontade absoluta do imperador, as
constituições imperiais.
o A partir do séc. IV-V, a palavra “leges” (= constituições imperais)
significa “ius novum” e contrapõe-se a “ius” ou “ius vetus”.
Nova terminologia – leges = constituições imperiais.
CIC = leges = colectânea de constituições imperiais.
São a única fonte de direito.
O imperador é o único criador de ius novum e o seu único
intérprete.
O ius é todo o direito antigo ou tradicional (leges rogatae,
datae, dictae; senatusconsultos; iurisprudentia; edictos dos
magistrados; constituições imperiais anteriores)
CIC é uma colectânea de literatura jurídica clássica.
Exemplos de senatusconsultum:
- Senatusconsultum Velleianum
o Foi proposto ao senado por Velleus.
o Proibiu a todas as mulheres a prática de actos de intercessio a
favor de qualquer homem, proibiu que se responsabilizassem pelas
dívidas contraídas por um homem.
o A justificação oficial baseou-se nos velhos princípios romanos do
sexismo, mas foi invocada para incobrir a verdadeira finalidade,
que era proteger as mulheres contra o risco em que ficavam sendo
intercedentes dos homens, que abusavam da sua ingenuidade ou
falta de experiência.
- Senatusconsultum Neronianum
o Imperador Nero foi o autor.
o Trata da conversão de certo tipo de legados nulos em legados
damnatórios.
- Senatusconsultum Macedonianum
o Proibiu o empréstimo de dinheiro a todo o filiusfamilias mesmo que
ele ocupasse um alto cargo.
o Designa-se assim devido a um Macedónio que escandalosamente,
principalmente devido ao dinheiro de que dispunha através de
empréstimos, se entrava às maiores imoralidades e à prática de
crimes gravíssimos, chegando mesmo a assassinar o seu pater para
mais depressa ficar sui iuris e receber a herança.
o Tinha o fim de evitar a devassidão dos filiifamilias e protegê-los
contra esse perigo.
o Tinha um carácter público; não pode renunciar-se à exceptio por
ele concedida nem mesmo apresentando um garante.
c) Iurisprudentia
É a ciência do justo e do injusto; para isso tem de pressupor o
reconhecimento de certas verdades divinas e humanas.
A palavra “notitia”, em Direito, tem o significado técnico de ciência, um
conhecimento seguro. Porém, notitia também adquire outro significado não
jurídico e clássico de ideia inata, pressuposto, aí notitia contrapõe-se a scientia.
Portanto, o Direito parte de certos pressupostos metajurídicos
indiscutíveis: uns de ordem teológica, outros filosófica. Tendo por bases esses
princípios é que o Direito vem dizer o que é justo ou injusto e como alcançar um e
como evitar o outro.
Iurisdictio
Posição do pretor na organização dos processos; carácter das
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legis actiones (antes da lex Aebutia de formulis)
O sistema jurídico romano primitivo de processar denominava-se sistema
das legis actiones; eram orais; estava dividido em duas fases: in iure e apud
iudicem; o pretor presidia à fase in iure; a sua posição no processo era simples e
apagada, conceder ou não conceder a actio.
Posição do pretor na organização dos processos; carácter do
processar per formulas (depois da lex Aebutia de formulis)
A lex Aebutis de formulis introduziu uma nova forma de processar – a
forma escrita; o sistema agere per formulas, a princípio, existia a par do sistema
das legis actiones; depois estas desapareceram.
O agere per formulas é o sistema próprio da época clássica.
A fórmula é uma ordem por escrito, dada pelo pretor ao juiz, para
condenar ou absolver:
- Encabeça pela nomeação de um juiz, seguido das partes da fórmula:
- Partes ordinárias
- intentio – estado da questão.
- condemnatio – cláusula que manda condenar ou absolver o
demandado.
- Partes eventuais
- demonstratio – se a intentio é incerta.
- adiudicatio – objecto de discussão.
- Partes extraordinárias
- exceptio – cláusula a favor do demandado.
- praescriptio – cláusula a favor do demandante.
- Para neutralizar uma actio civilis, cuja aplicação redundaria numa injustiça,
agora o pretor tem à sua disposição (além da restitutio in integrum):
o Uma denegatio actionis se ele nega a concessão da actio civilis,
pois verifica que essa concessão em determinado caso concreto
seria uma evidente injustiça.
o Uma exceptio cláusula concedida a favor do demandado, que
inutiliza a pretensão do demandante; aqui acrescentam-se factos
tão relevantes que exoneram o demandado da obrigação ou
responsabilidade.
- Actiones praetoriae – depois da lex Aebutia, cria leis directamente (ius
praetorium); ≠ actiones civile.
o Actiones in factum conceptae o pretor, vendo que determinada
situação social merece protecção e não a tem, concede uma actio
baseada nesse facto para que se faça justiça.
o Actiones ficticiae se o pretor para aplicar a justiça finge como
existente uma coisa ou um facto que se sabe não existir, ou finge
como não-existente uma coisa ou um facto ou até um negócio que
se sabe que existe; imposição de uma irrealidade, inexactidão; tudo
isto fazia o pretor, não por arbitrariedade mas para administrar
bem a justiça.
o Actiones utiles se o pretor aplica, por analogia, actiones civiles a
casos diferentes mas semelhantes dos que o ius civile protege.
o Actiones adiecticiae qualitatis são actiones que responsabilizam
também o paterfamilias pelas dívidas dum seu filius ou servus,
provenientes de contratos celebrados por estes.
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Edictum do pretor
Missão, actividade, controle e expediente do pretor
A missão do pretor era administrar a justiça nas causas civis; exercia-a
através de uma tríplice actividade (interpretar; integrar, corrigir – adiuvandi,
supplendi, corrigendi – o ius civile); esta actividade, motivada pela utilidade
pública, era orientada por princípios jurídicos:
- Não abusar do seu poder.
- Não prejudicar ninguém.
- Atribuir a cada um o que é seu.
A sua actividade era controlada (se por acaso agisse arbitrariamente
punha o seu cursus honorum em causa):
- pelos cônsules.
- por quem detivesse a tribunícia potestas.
- por uma provocatio do povo.
- pelas reacções da opinião pública.
- pela critica dos iurisprudentes.
Formas utilizadas pelo pretor na concessão dos seus expedientes:
decreta e edicta
Decretum quando resolvia imperativamente um caso particular;
Edictum quando anunciava ao público a concessão de certos
expedientes integrada num programa geral das suas actividades; era a forma
normal de se proceder, pois assim todo o público sabia todas as hipóteses
previstas pelos ius civile ou pelo pretor, nas quais este prometia ou não protecção
jurídica.
O ius praetorium a todos inspirava confiança.
Forma interna do edictum do pretor; carácter vinculativo do
edictum em relação ao pretor. Espécies de edicta do pretor
O pretor tinha o ius edicendi (faculdade de fazer comunicações ao povo);
essas comunicações eram orais feitas perante as assembleias do populus e em
voz alta; quando tinham conteúdo era programático denominavam-se edicta.