Sebenta Direito Bancario
Sebenta Direito Bancario
Sebenta Direito Bancario
Começaremos o programa com uma breve introdução. Como está bom de ver, o
Direito Bancário versa sobre o dinheiro. O dinheiro é importante para desenvolver
diversos tipos de atividade. Sem dinheiro não se pode comprar casa para habitação
própria, uma empresa não pode investir no respetivo desempenho... Portanto, sem
dinheiro há muitas atividades que não se podem empreender. Isto implica a
intervenção dos bancos. Implica a intervenção de um particular que queira adquirir
uma casa para habitação própria, em que muitas vezes tem que recorrer a um banco
para contrair um mútuo para a aquisição dessa mesma habitação. Do mesmo modo,
uma empresa que tenha em vista melhorar o respetivo desempenho, muitas vezes, vai
obter um financiamento junto de um banco e esse financiamento pode ser obtido de
diversas formas, mútuo, abertura de crédito, etc., mas tem que recorrer a um banco
para realizar esse objetivo. Os bancos vão emprestar o dinheiro para a satisfação
desses objetivos. O comércio do dinheiro é efetivamente o cerne do direito bancário.
Está em causa, fundamentalmente, o comércio do dinheiro, que é o âmago do direito
bancário.
Nós temos aqui o sector das instituições de crédito e das sociedades financeiras.
Portanto, o fulcro em sentido amplo, globalmente considerado, consiste precisamente
no sector das instituições de crédito e das sociedades financeiras. Mas em sentido
amplo nós podemos referir as instituições de crédito e as sociedades financeiras, mas
podemos referir também o sector dos valores mobiliários, podemos referir o sector
dos serviços de investimento, o sector dos seguros e o sector dos bens financeiros que
são objeto das respetivas operações. Podemos dizer que a atividade financeira cobre
todas estas diversas atividades. A atividade financeira globalmente considerada cobre
no fundo a tripartição da finança e da finança privada. Ou seja, a tripartição em
crédito, em seguro e em investimento. Então o que é que fica de fora? Fica de fora
precisamente o orçamento do estado e ficam de fora as finanças públicas. Nós temos
aqui uma summa divisio em três partes e nesta summa divisio temos o crédito, o
seguro e o investimento, ou seja, termos o mercado bancário, o mercado dos seguros
e o mercado de capitais. Nesta tripartição nós temos a atividade creditícia, a atividade
do crédito que é reservada aos bancos. Esta última é uma atividade que se encontra
reservada à banca. Os bancos são intermediários financeiros que recolhem do público,
das famílias - do sector doméstico - as poupanças. Portanto, recolhem disponibilidades
monetárias, o aforro do público e recolhem esse aforro sob a forma de depósitos ou
sobre a forma de outros fundos reembolsáveis. Não têm necessariamente de ser
depósitos, pode ser sob a forma de outros fundos reembolsáveis, aliás na própria
definição da lei. E recolhem estas poupanças para quê? Com vista precisamente à
concessão de crédito. Recolhem o aforro de uns, aqueles que têm excedentes, para
conceder créditos a terceiros, a outros que precisam de financiamento.1 Só que, e isto
é muito importante, os bancos agem, fazem esta transferência no fundo de fundos
1
daqueles que têm excedente, para aqueles que têm défice, por conta própria. Os
bancos agem por conta própria. Esta atividade é exercida por conta própria. Esta
atividade de intermediação creditícia que é exercida pela banca é exercida por conta
própria e este financiamento é essencialmente concedido pelos bancos a empresas, a
empresas da administração pública. Deste modo, os bancos são grandes financiadores
da administração publica, através da concessão de empréstimos ou ao recurso a outras
modalidades de financiamento. Nós temos aqui um mercado de crédito que se
caracteriza pela interposição da banca, pela intermediação da banca. Temos a
intermediação da banca entre os depositantes e aqueles que precisam de
financiamento e isto é a atividade característica da banca desde sempre. Temos o
banco, temos X que deposita as suas economias no banco e temos Y que precisa de
financiamento. Temos, assim, a interposição da banca precisamente na circulação das
disponibilidades monetárias, a intermediação creditícia da banca. A banca age por
conta própria no exercício desta mesma atividade. Ora e isto, esta atividade, assenta
em quê? Para que a banca possa exercer esta atividade tem que haver uma relação de
confiança do público com a banca. Ou seja, o público tem que confiar na solvabilidade
da banca porque se não confiar na solvabilidade da banca não deposita as suas
disponibilidades na banca. (Deixa-as debaixo do colchão.) Tem que confiar na liquidez
e rendibilidade da banca, ou seja, tem que confiar na estabilidade do sistema bancário
porque sem essa confiança naturalmente que não há intermediação creditícia
suscetível de ser levada a cabo com êxito. Assim, essa intermediação baseia-se numa
relação de confiança do público com a banca. Temos aqui uma captação do aforro por
parte da banca. A banca capta as disponibilidades monetárias do público, das famílias
sob a forma de depósitos ou de outros fundos reembolsáveis. A nova noção de
instituição de crédito está no art.2.º da lei bancária. O art.2.º transformou-se no art.2.
- A /g). A banca capta sob a forma de depósitos ou de outros fundos reembolsáveis,
com vista à concessão de crédito. Isto é precisamente o monopólio da banca. Esta é a
atividade que constitui o monopólio da banca, em sentido estrito, conforma consta do
art.8º da Lei bancária. É o monopólio dos bancos. Isto decorre claramente da lei.
grande reforma teve lugar agora em Outubro de 2014. Normalmente chama-se lei
bancária por simplicidade de linguagem. Costuma dizer-se que diz respeito aos
O direito bancário é um direito das atividades porque a lei estabelece quais são as
atividades que as instituições de crédito e que as sociedades financeiras podem
desenvolver. E estas atividades são principalmente as operações de banca e no que
toca aos bancos já vimos que estas atividades compreendem a receção de depósitos
ou de outros fundos reembolsáveis, em vista da concessão de crédito por conta
própria. Claro que isto não exclui o exercício de outras atividades na medida em que os
bancos podem exercer outras atividades para além desta. Nós temos um modelo de
banca universal consagrado no art.4º. da lei bancaria que é o modelo europeu,
contrariamente ao sistema norte-americano. O nosso modelo de banca é um modelo
de banca universal e não de banca especializada Os bancos podem exercer outras
atividades, mas
Relativamente a algumas das atividades desenvolvidas pela banca existe, como vimos,
o monopólio. Portanto, a banca goza de um determinado monopólio, o que quer dizer
que os bancos são as únicas entidades a poder exercer essas actividades. Logo, essas
actividades estão vedadas a quaisquer outras entidades porquanto este monopólio
existe relativamente a
Por outro lado, também se pode dizer que o direito bancário tem uma dupla acessão.
Por um lado, o direito bancário é compreendido como um conjunto de princípios e de
normas jurídicas nos quais se encontra o adjetivo bancário e por outro lado, é
entendido como a disciplina, já não como o conjunto de normas e de princípios
jurídicos nos quais se encontra esse predicativo de bancário, mas como a disciplina
jurídico-cientifica que tem por objeto o estudo dessas normas e desses princípios
jurídicos. O que nos importa é a primeira acessão de direito bancário enquanto
compreendendo o conjunto de normas e de princípios jurídicos que dizem respeito às
instituições de crédito e às sociedades financeiras, que têm o tal adjetivo ou
predicativo bancário. Temos aqui as duas grandes áreas, os tais dois grandes sectores.
Por um lado, a organização do sistema bancário e por outro lado, a atividade das
instituições de crédito e das sociedades financeiras. No primeiro caso, ou seja, quando
está em causa a organização do sistema bancário, nós estamos a tratar do direito
bancário institucional, estamos a estudar os bancos e as outras instituições de crédito
assim como, as sociedades financeiras. Estamos a estudar as condições de acesso e de
exercício da atividade bancária, a supervisão prudencial e comportamental desta
atividade. Quando nos referimos ao segundo sector, à atividade das instituições de
crédito e das sociedades financeiras, já estamos a falar das relações que se
estabelecem entre estas entidades e os particulares, designadamente as relações de
natureza contratual que se estabelecem entre os bancos e os seus clientes, os
contratos de depósito, os contratos de mútuo, os contratos de garantia, etc. que se
estabelecem entre os bancos e os seus clientes. Estamos já a falar do direito bancário
material. Portanto, são duas áreas diferentes a
O Banco de Portugal tem funções e competências latas, como podem ver se lerem a lei
orgânica no capítulo das competências do Banco de Portugal. O Banco de Ortugal
ainda hoje apesar da sua integração no sistema europeu de bancos centrais, mantém
competências latas. (... período inaudível...) Tem competência e atribuições latas que
são efetivamente concedidas por lei, que é a lei orgânica. O que é que comete
fundamentalmente ao Banco de Portugal, que é o nosso banco central, o banco dos
bancos ? Compete-lhe definir e executar a política monetária e cambial, gerir as
disponibiidades, e isto está na lei orgânica, externas e outras disponibilidades, gerir as
relações monetárias internacionais, o refinanciamento, em última instância, do
sistema financeiro nacional, etc. Agora com algumas nuances, a partir de Novembro de
2014, também, o Banco de Portugal é a autoridade supervisora e fiscalizadora do
sistema financeiro, com algumas nuances se disse porque temos o BCE com
Por seu lado, o direito das atividades bancárias, ou o direito dos atos bancários, que é
o direito bancário material, ou o direito material dos bancos corresponde
fundamentalmente, ou é tendencialmente, direito privado e dentro do direito privado
é tendencialmente direito obrigacional e dentro do direito obrigacional é
tendencialmente de natureza contratual. Portanto, trata-se das relações que estas
entidades quer os bancos, instituições de crédito, quer sociedades financeiras,
estabelecem com os particulares, clientes. Temos aqui fundamentalmente direito das
obrigações que aqui se reveste de algumas especificidades que são ditadas pela
natureza comercial dos atos bancários e por outro lado pelas especificidades
propriamente bancárias, pelo facto de termos de um dos lados da relação jurídica um
banco e isso vai ditar algumas particularidades e daí a disciplina do direito bancário. De
outra forma não se justificaria pois já temos o direito comercial e o direito das
obrigações. Essas especificidades decorrem da natureza bancária de um dos sujeitos
da relação jurídica. Assim sendo, temos aqui fundamentalmente contratos bancários e
aqui como é típico do direito das obrigações ao abrigo do princípio da autonomia
privada, temos uma regra do numeros apertus, pode ser celebrado em princípio
qualquer negocio jurídico que melhor satisfaça os interesses das partes desde que
sejam respeitados os limites estabelecidos no art.280.º do CC. Temos aqui um direito
fundamentalmente privado: o direito bancário material.
absoluta. Mas a razão dessa qualificação de acordo com a doutrina deve ser
encontrada não apenas no elemento objetivo, não apenas no elemento subjetivo,
individualmente considerados cada um deles, mas precisamente na simbiose de ambos
os elementos, no entendimento de que cada um desses elementos é configurado, é
regulamentado em função do outro. Portanto, o elemento objetivo é
Aqui importa realçar que a reforma da lei bancária de outubro de 2014 é coerente
nesta matéria. Antes de 2014, nós tínhamos uma definição de instituição de crédito no
art.2.º e depois uma enunciação dos diversos tipos de instituição de crédito no art.3.º
que não se subsumiam à definição do art.2.º. Hoje não é assim. Há uma maior
coerência entre a noção que nos é apresentada pelo legislador na noção de instituição
de crédito e os diversos tipos de instituição de crédito que constam da lei bancária.
Havia uma enorme inconsistência entre a definição de instituição de crédito antes de
outubro de 2014 e os diversos tipos de instituição de crédito que eram enumerados no
art.3.º da lei bancária. Não se subsumiam à definição. Muitas instituições de crédito
eram insubsumíveis à noção de instituição de crédito o que hoje não acontece, após a
reforma de outubro de 2014. E porque é que isto acontecia? Acontecia porque o
legislador antes pretendendo atribuir o passaporte comunitário a determinadas
entidades qualificou-as como instituições de crédito, inseriu-as na enumeração do
art.3.º da lei bancária, considerou-as como instituições de crédito, para que estas
pudessem beneficiar do passaporte comunitário, tornando incoerente a enumeração
tal como era definido o conceito no art.2.º. Verão que agora há uma maior coerência,
o tipo que nos é definido pelo legislador na alínea b) do art. 2.º- A da ei bancária
reformada, o que é efetivamente muito importante porque durante muito tempo
vigorou entre nós uma noção distorcida de instituição de credito. Tudo isto, a
propósito das operações que são intrinsecamente bancárias, aquele núcleo duro e
irredutível da atividade bancária e do qual se pode extrair a materialidade bancária da
atividade desenvolvida pelos bancos que reside precisamente nesta tal intermediação
bancária: a receção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis do público para por
conta própria conceder crédito. Esta é a atividade considerada fundamental e é a
partir daqui que se retira a essencialidade das operações que assumam um papel
estruturante dessa mesma intermediação creditícia para o desenvolvimento desta
intermediação como operações ou atos intrinsecamente bancários.
Portanto, de acordo com esta perspetiva funcional que é proposta por uma doutrina
relativamente recente de direito bancário, interessa também salientar a ligação íntima,
aliás que sempre existiu, entre a ideia de banco e a ideia de dinheiro. A origem
histórica dos bancos está
precisamente na ideia do dinheiro, mas esta perspetiva funcional salienta essa ligação,
essa associação entre a ideia de banco e a ideia de dinheiro, pois que sem essa ligação
íntima não existe banco, nem existe direito bancário. Há aqui esta interligação
funcional entre estas duas ideias e nesta perspetiva também se afirma que o
aparecimento dos bancos no fundo traduz uma resposta que as sociedades humanas
encontraram para satisfazer uma determinada necessidade e essa necessidade foi
precisamente a necessidade de assegurar uma gestão profissionalizada do dinheiro.
Temos aqui no sistema bancário uma resposta para satisfazer essa necessidade de
organização do dinheiro, de organização da ideia do dinheiro e isto não é ignorado
pelo direito bancário, pela própria definição do direito bancário. Portanto, no direito
bancário reúnem-se as regras também necessárias para cumprir esse objetivo, que é
precisamente organizar a própria ideia do dinheiro. Para concretizar essa mesma ideia,
profissionalizou-se a criação do dinheiro, a circulação do dinheiro está
profissionalizada e a conservação do dinheiro também e deste modo, os bancos foram
criados para satisfazer este tipo de necessidade. Uma definição ampla do direito
bancário naturalmente tem em conta esta ideia do dinheiro e, portanto, há quem fale
em direito do dinheiro, direito bancário enquanto direito do dinheiro, enquanto direito
de tudo o que diga respeito ao dinheiro, direito que regule tudo o que se relacione
com o mesmo, nomeadamente, a criação do dinheiro, a circulação do dinheiro, a
guarda do dinheiro, o investimento do dinheiro e a própria destruição do dinheiro. Há
aqui uma grande profissionalização em todas estas áreas e isto naturalmente diz
respeito ao direito bancário.
Temos depois a questão da autonomia do direito bancário, que é outra questão que
se coloca a este propósito. Fará ou não sentido autonomizar o direito bancário
enquanto ramo do direito? Não é uma questão consensual. Aliás, como poderão
verificar, sobretudo no âmbito do direito bancário material, quem não souber direito
das obrigações tem grande dificuldade nesta matéria. O direito das obrigações é
fundamental, poder-se-á falar num direito das obrigações um pouco especializado no
âmbito do direito bancário material, mas é fundamentalmente direito das obrigações
que está em causa no âmbito do direito bancário material com algumas
especificidades. É muito importante o conhecimento do direito das obrigações e do
direito dos contratos. Portanto, não é unânime a doutrina acerca desta questão. Há
quem negue a autonomia do direito bancário e há quem afirme a necessidade da sua
autonomia, o direito bancário considerado na sua área institucional e na sua área
material. De acordo com parte da doutrina, esta autonomia é hoje um dado adquirido
e é um dado adquirido quer no plano legislativo, quer no plano substancial, quer no
plano científico. Em todos estes planos para parte da doutrina hoje esta autonomia é
um dado adquirido. Não haverá nada a objetar a esta autonomia, há efetivamente
autonomia do direito bancário. E aqui diz-se que quando se considera uma qualquer
disciplina jurídica com pretensões de autonomia, que se tem em vista não é apenas
um somatório de normas, um somatório de princípios. Tem-se em vista um sistema
considerado enquanto conjunto de normas, de princípios ordenados em função de
determinados pontos de vista considerados em si mesmo unitários. Portanto, este
sector da doutrina que é o que nos interessa, estamos na disciplina de direito bancário,
partimos do pressuposto de que a sua autonomia é um dado adquirido, podemos
considerar que de facto foi possível confecionar um sistema de normas e de principio
jurídicos, precisamente em função da realidade bancária e isto de acordo com os tais
dois vetores ou eixos fundamentais, o vetor da organização bancária (tal direito
institucional da banca) e o vetor das relações da banca com os seus clientes (o vetor do
direito material dos bancos). Depois considerou-se que estes dois vetores ou dois eixos
fundamentais, direito institucional dos bancos e o direito material dos bancos
exerceram eles mesmos um papel centrípeto, no sentido de formarem um sistema,
constituíram eles próprios um sistema. Para a autonomia do direito bancário terá sido
também determinante, de acordo com esta perspetiva, o papel da ciência jurídica, na
medida em que terá apontado normas e princípios específicos que serão próprios
desta disciplina do direito bancário, que apontariam funções diferenciadas de outros
11
ramos do direito, das soluções apresentas ou sugeridas por outros ramos do direito,
soluções que seriam mais adequadas para os problemas surgidos no seio do mundo
bancário, problemas particulares que mereciam um novo sector normativo. Normas e
princípios específicos precisamente para este sector da realidade económico social.
Portanto, o direito bancário também de acordo com esta perspetiva terá visto o seu
crescimento dever-se a uma certa impotência do direito privado em geral e do direito
civil em especial para acompanhar o desenvolvimento económico, designadamente o
desenvolvimento económico do
Nós temos um direito bancário privado no que toca ao segundo vetor do direito
bancário (o direito material dos bancos), temos aqui um direito bancário que é
dominado por um princípio muito importante, que é o princípio da simplicidade. Lá
está, os tais princípios e normas que permitem afirmar a autonomia de um
determinado ramo do direito e que permitem afirmar uma determinada autonomia de
uma determinada disciplina. Um desses princípios terá sido o princípio da simplicidade
e este principio da simplicidade é um principio que resulta de vários subprincípios. Em
primeiro lugar, o principio da simplicidade resulta do subprincípio da desformalização,
ou seja, os atos bancários surgem e são praticados sem especiais formalidades.
12
toca por seu turno à regulamentação, o direito bancário encaminha-se no fundo para
um modo próprio de gerir as próprias realidades sociais e alguns autores a este
propósito falam ou referem que este modo de regulamentação do direito bancário fica
algures entre a materialidade subjacente e a tutela da aparência. Situa-se algures entre
estes dois polos. E este propósito falase num principio de ponderação bancária. Este
principio resulta com alguma clareza precisamente no vetor da prevalência das
realidades, ou seja, o banqueiro ou o banco não vai atender tanto ou não vai
considerar tanto a regularidade formal dos atos, pois não é isso que tanto importa
neste sector. O que vai é ter em conta fundamentalmente, sobretudo quando está em
causa o dever de informar, é a substancia económica da questão em causa. Não tanto
a regularidade formal, mas a substância económica. Este principio da ponderação
bancária também resulta do vetor da abrangência e o que é que isto quer dizer? Quer
dizer, isto é extremamente interessante também, que o direito bancário tende a gerar
atos em cadeia. Raramente se fica por atos irregulares porque o que normalmente se
verifica nesses casos são casos de uniões de contratos. Há muitas uniões de contratos.
Diversos tipos mas muitas uniões de contratos. Este X (caso anterior) não se limita a
celebrar em contrato de depósito, antes de disso celebrou um contrato de abertura de
conta, depois temos o contrato de depósito de disponibilidades monetárias e depois
vem um contrato de mútuo e depois vem um contrato de gestão de património... são
atos em cadeia. O que se verifica muitas vezes é que haverá uma conexão entre os
diversos contratos celebrados entre a pessoa e a entidade bancária que não está
expressamente estabelecida pelas partes, mas que resulta da interpretação dos
diversos negócios jurídicos. Através deste principio da abrangência, que manifesta o
principio da ponderação bancária, nós vemos que raramente se praticam um ato
isolado. Este principio da ponderação bancária também se manifesta no vetor da
flexibilidade, isto significa que o direito bancário é fortemente responsivo, ou seja, o
direito bancário enfrenta problemas novos com soluções diferentes, com soluções
também elas novas. Portanto, o direito bancário promove a criação de figuras novas, é
fortemente inovador. Depois o principio da ponderação bancária também se manifesta
ou expressa no vetor do primeiro entendimento, isto quer dizer que perante atos
jurídicos quotidianos, correntes, o direito bancário dá primazia ao primeiro
entendimento que resulte desses mesmos atos. Há como que uma tutela da aparência,
13
Ao dizermos que o direito bancário, no fundo acaba por não ser auto suficiente. O
direito bancário é composto por uma parte institucional e por outra material. A parte
institucional é fundamentalmente de natureza pública, tendencialmente direito
administrativo, mas não só: direito das sociedades comerciais, direitos registrais,
direitos contraordenacionais, direito civil ... diversos direitos integram o direito
bancário. Já vimos que as fontes do direito bancário são múltiplas e fragmentadas.
Temos, desde logo, normas constitucionais, com fontes de direito bancário. Ora, por
imperativo constitucional a estruturação por lei e decreto-lei, a estruturação dos
sistema financeiro, deve ser feita de forma a garantir precisamente a formação, a
captação e a segurança das poupanças, bem como a aplicação dos meios financeiros
necessários ao desenvolvimento económico e social, art.101.º da CRP. Este é o texto
do art.101.º da CRP. Por outro lado, ainda nos termos da Constituição, o espaço
financeiro é enformado pela iniciativa privada, pela iniciativa económica privada que é
exercida livremente, como sabem, nos limites constitucionais e nos limites legais e
tendo em conta o interesse geral. Temos a liberdade de escolha de profissão também,
nos limites legais impostos pelo interesse coletivo e temos naturalmente os limites
inerentes à capacidade do agente económico, temos o direito de propriedade privada,
que também é aqui relevante, etc. Temos ainda como relevante nesta matéria o
principio de uma economia de mercado aberto e de livre concorrência e temos o
objetivo de integração na economia internacional da economia portuguesa. O que
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não se explicita essa noção de sistema financeiro. Uma noção que é dotada de um
sentido amplo, esta noção de sistema financeiro e atribui-se a esta disposição do
art.101.º uma dimensão dupla, ou seja, uma dimensão formal e uma dimensão
teleológica. A dimensão formal resulta da referência do art.101.º, expressa aliás ao ato
normativo que se afigura idóneo à estruturação do sistema financeiro, uma referência
expressa à lei. Todavia, esta expressão "lei" deve aqui ser interpretada no sentido de
ato legislativo porque se trata de uma matéria de competência legislativa
concorrencial, suscetível de ser tratada quer pela AR quer pelo Governo. Quanto à
dimensão teleológica da norma do art.101.º, que também se encontra na base da
estruturação do sistema financeiro, decorre dos objetivos que lhe estão subjacentes. A
formação e a formação em sentido amplo do capital, ou seja, do capital financeiro. O
que é o capital financeiro? é o capital que não é destinado ao consumo. A formação do
capital financeiro que é destinado à realização de um investimento económico e
socialmente produtivo. Um investimento que seja gerador de utilidades e de níveis de
bem-estar acrescidos.
Depois temos a lei material e aqui interessa sobretudo a lei bancária. A lei bancária
naturalmente que ao lado da lei bancária há muitas outras, o CCom, o CSocCom, e
vária legislação avulsa que cai nesta categoria de lei material. No direito bancário
material, a fonte mais antiga está precisamente no CCom de1888, embora sejam
muitas poucas as disposições do CCom que versam sobre esta matéria das operações
bancárias, mas temos as normas dos artigos 362.º a 365.º do CCom. Algumas das
matérias que encontravam originariamente codificadas, como sabem, passaram a ser
reguladas em legislação especial, em diplomas especiais. Isto aconteceu quanto aos
cheques, quanto às letras e quanto às livranças, no âmbito das leis uniformes que
formam adotadas no século passado, nos anos 30. Temos imensa legislação avulsa e
extravagante que é aplicável à atividade bancária. Já vimos alguns exemplos, a locação
financeira, a cessão financeira, etc. Toda esta regulamentação se encontra em
legislação avulsa. Regulamentação que está dispersa, daí que se diga que as fontes do
direito bancário estão fragmentadas. Por outro lado, também há muitas operações
15
que não se encontram reguladas e que são regidas pelo principio da autonomia
privada de acordo com o art.405.º do CC.
A que interessa ter em conta, a lei material como referi, o DL 298/92, o regime geral
das instituições de credito e sociedades financeiras, a lei bancária. No âmbito do
direito da família, interessa ter em conta o art.1680.º do CC, que é uma norma de
direito bancário. Também é uma lei material, fonte de direito bancário.
16
membros da UE. Tinha que haver uma harmonização mínima, designadamente no que
tocas aos requisitos de acesso à atividade bancária. Esses requisitos não podiam ser
levíssimos num país e pesadíssimos noutro país, por exemplo. Portanto, tinha que
haver uma harmonização mínima para que pudesse haver um reconhecimento mútuo
da autorização concedida num estado por parte dos outros estados-membros. De
facto, isto só foi possível a partir do momento do passaporte comunitário, a partir do
momento em que houve essa harmonização mínima no espaço europeu. Portanto, o
passaporte comunitário assenta fundamentalmente nestes 2 princípios: princípio da
unicidade da autorização e do controlo ou supervisão e princípio do reconhecimento
mútuo, que resulta precisamente da harmonização mínima que teve lugar no âmbito
da UE. Para além das diretivas, existe também, no âmbito do direito bancário, o direito
comunitário que é diretamente aplicável, que não carece de transposição, ainda que
nalguns casos este direito comunitário que é diretamente aplicavel seja
complementado por legislação nacional, mesmo que necessite ou que seja
voluntariamente por parte dos estados complementado por legislação nacional. Assim,
no plano do direito originário, a disposição sobre acesso privilegiado das entidades do
setor público a operações financeiras, que é o art. 104º-A do TUE e também, na esfera
do direito derivado, o regime dos encargos bancários por pagamentos intra-
comunitários em euros, de modo a homogeneizar estes encargos com encargos por
pagamentos domésticos, por pagamentos internos são exemplos deste direito
diretamente aplicável ainda que complementado por legislação nacional. Estamos a
falar naturalmente dos regulamentos comunitários que têm caráter geral, que são
obrigatórios em todos os seus elementos e que são diretamente aplicáveis em todos
os estados-membros da UE, sem necessidade de qualquer diploma nacional e de
qualquer publicação no Diário da República. E aqui interessa também referir o Sistema
Europeu de Bancos Centrais1 e também dentro do SEBC, o Banco Central Europeu2. O
SEBC e o BCE foram instituídos em Julho de 1998 e isto precisamente em vista da
passagem para a moeda única, prevista para 1 de Janeiro de 1999. A partir daí, esta
matéria, a matéria da moeda única, passou a ser tratada por regulamento,
regulamento este imediatamente aplicável, portanto à margem do sistema de fontes
de cada estado-membro da UE, à margem do sistema de fontes nacional. Cada vez
mais se assistiu, exemplo disto é o mecanismo/medida de resolução (aqui através de
transposição de diretivas e já não de regulamento) que foi aplicado ao BES, que resulta
de direito comunitário3. Portanto, a relevância, a influência, a grande importância que
efetivamente o direito comunitário teve no direito bancário dos países membros da
UE. A consecução do mercado bancário único europeu estava efetivamente entravada
por barreiras jurídicas nacionais que se procuraram paulatinamente diluir, ultrapassar.
Este mercado de serviços foi paulatinamente transformado num mercado único, no
mercado bancário europeu. Para além disso, o BCE tem poderes normativos expressos,
1
Doravante designado SEBC
2
Doravante designado BCE
3
A frase não faz muito sentido mas efetivamente foram estas as palavras utilizadas pela professora.
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também quais são os requisitos que efetivamente têm que cumprir para seja
concedida a autorização ou para que se mantenha a autorização de uma instituição de
crédito.5 Têm de cumprir o requisito da idoneidade para que seja concedida
autorização e para que se mantenha a autorização. Tudo isto está sujeito a um
processo constitutivo. É necessário que se cumpram rigorosos requisitos. A empresa
bancária naturalmente não é uma empresa qualquer, precisamente pelas
consequências que uma empresa que não tenha sustentabilidade possa produzir no
sistema bancário, financeiro e económico nacional. Está sujeita ao cumprimento de
requisitos estritos. Abrir uma empresa bancária não é o mesmo que abrir uma
empresa de artigos de desporto ou de artigos de restauração. Portanto, a um
complexo processo de constituição. Diferentemento do que por vezes se diz a
propósito de uma liberalização da constituição de estabelecimentos bancários, que
terá sido introduzida pela disciplina comunitária, designdamanete pela 2ª diretiva de
coordenação bancária, a propósito da expansão territorial dos bancos, o
desenvolvimento da atividade bancária para além fronteiras, isto não é rigorosamente
assim. No fundo, as únicas hipóteses, por exemplo no que toca aos bancos
portugueses, em que não subsiste um poder de autorização do BP são os casos
relativos à abertura em Portugal de sucursais por parte de bancos comunitários. São os
únicos casos em que não há necessidade de autorização a conceder por parte do BP. E
isto não se verifica em virtude de uma opção de liberalização que tenha sido feita a
propósito da 2ª diretiva de coordenação bancária. Sucede precisamente em virtude
daquilo que já foi referido, de haver uma autorização que procede da autoridade do
país de origem desse mesmo país. Isto é uma decorrência da aplicação do príncipio do
home country control. Portanto, não tem nada a ver com uma opção deliberada de
uma liberalização do exercício da atividade bancária. Tem a ver com a tal
harmonização minima dos requisitos do acesso à atividade bancária no espaço
europeu e do reconhecimento mútuo que foi consentido por essa harmonização
mínima adoptada nos vários países membros da UE. Se se recursar, se houver uma
recusa da autorização requerida para o exercício da atividade bancária, naturalmente
que há possibilidade de recurso para os Tribunais Administrativos. Se por qualquer
motivo houver uma disputa acerca de uma recusa de autorização, há sempre
possibilidade de recurso para os Tribunais Administrativos. Portanto, perante a recusa
do BP entre nós, recorre-se para os Tribunais Administrativos. O banco virtual também
se encontra sujeito à disciplina ordinária da autorização a conceder caso a caso por
parte do BP. A constituição dos chamados bancos virtuais também está sujeita a
autorização do BP. São bancos cuja operatividade se desenvolve quase ou
exclusivamente por via telefónica ou informática. Bancos em que os serviços bancários
são prestados à distância, sem necessidade de o cliente se deslocar às estruturas
tradicionais, às estruturas materiais bancárias, portanto à empresa prestadora destes
5
A este propósito podem consultar os pareceres, designadamente a carta do governardor o BP a
propósito do caso BES no site do BP, em novembro de 2013 quando se pensou retirar a idoneidade ao
presidente do conselho de administração do BES.
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bastante tempo atrás, fonte de querela, a chamada questão dos avisos do BP. Temos
aqui regras e este era o problema: a legitimidade do BP para emitir regras gerais e
abstratas. Portanto, temos aqui no fundo (isto tornou-se uma questão mais ou menos
pacífica com o decurso do tempo) regras gerais e abstratas que são aprovadas pelo BP.
Que são consideradas leis materiais, porque são gerais e abstratas. Têm as
características da generalidade e da abstração. E a positividade jurídica destas normas
que são emanadas pelo BP resulta do poder regulamentar desta entidade que é o BP,
resulta precisamente das normas jurídicas que instituem ou consagram o poder
regulamentar do BP. Portanto, a positividade das normas emanadas pelo BP, contidas
nos avisos, é uma positividade que resulta daquelas normas que instituem o poder
regulamentar, que conferem poder regulamentar ao BP. Naturalmente que estas
normas emanadas pelo BP, os avisos, as normas contidas nos avisos, são normas que
não podem contrariar as leis emanadas pelos órgãos de soberania. Se contrariarem as
leis fixadas pela Assembleia da República ou os Decretos-Lei emanados pelo governo,
padecem de ilegalidade. Por outro lado, estas normas emitidas pelo BP através de
avisos, dos chamados avisos, não se aplicam a entidades que não estejam submetidas
à supervisão do BP. Só têm como destinatários as entidades que estão sujeitas à
supervisão do BP. Não se aplicam a qualquer outro terceiro, apenas àquelas entidades
sujeitas à supervisão do BP. Por outro lado, estas normas constantes dos avisos
naturalmente que não devem ultrapassar, transcender o âmbito dos poderes de
supervisão do BP. Devem conter-se dentro dos limites dos poderes de supervisão do
BP. Ou seja, o âmbito subjetivo de aplicação são os destintários da supervisão. O
âmbito objetivo são os limites dos poderes de supervisão, no que toca a estas normas
regulamentares, às normas constantes dos avisos.
22
outros. Portanto, como sabem, para haver um direito para uma determinada pessoa, a
um direito de uma determinada pessoa, corresponde a obrigação de uma outra
pessoa. Portanto, não é possível constituir direitos para uns sem constituir obrigações
para outros. Não é possível fazê-lo através destes avisos. Ou seja, para este efeito têm
de exigir-se leis formais, leis dotadas de cobertura constitucional. Não bastam leis
materiais, têm de ser leis formais. A violação destas regras, destes avisos, destas
normas regulamentares emitidas pelo BP apenas poderão ou poderiam dar origem à
responsabilidade disciplinar do tal banco que violou esse mesmo aviso. Essa instituição
de crédito estaria sujeita à responsabilidade disciplinar, a sanções disciplinares. A
entidade prevaricadora seria sujeito de responsabilidade disciplinar. Todavia, como
vimos, pode acontecer que efetivamente da violação dessas regras, resulte
verdadeiramente um prejuízo ou um dano para um particular. E portanto, pode surgir
efetivamente um dever de indeminizar por parte do banco. E qual seria o fundamento
legal desta obrigação de indeminizar por parte da instituição de crédito que violou o
aviso do BP de cuja violação resultou um prejuízo para o seu cliente ? Negou-se a
titularidade de um direito ao particular, a possibilidade de estas normas serem
constitutivas de direitos para o particular. O que é que diz a 2ª parte do nº 1 do art.
483º do CC? “Violar normas destinadas a proteger interesses allheios”. Portanto, não é
violar direitos mas normas destinadas a proteger interesses alheios, segundo a
modalidade de ilicitude. Estaria em causa a segunda modalidade de ilicitude, prevista
na 2ª parte do nº1 do art. 483º do CC. Ou seja, considerar-se-ia que a violação das
normas aprovadas pelo BP, a violação dos avisos do BP, consubstanciaria a violação
das normas precisamente que conferem ao BP os poderes exercidos pelo próprio BP,
os poderes que ele próprio exerceu. Ora, estas regras visam a proteção de interesses
alheios. Portanto, tratar-se-ia das clássicas normas de proteção. Teria de se ver, caso a
caso, se se trataria, perante o aviso em apreço, de uma verdadeira norma de proteção
naturalmente, se se verificariam os requisistos de uma verdadeira e própria norma de
proteção, para saber se estavamos perante a 2ª modalidade de ilicitude do nº1 do art.
483º, cuja violação conduz à responsabilidade civil. Então estaríamos perante normas
de fonte legal. Porquê normas de fonte legal ? Precisamente porque, para que uma
norma possa ser qualificada como norma de proteção e logo ser subsumível à 2º
modalidade de ilicitude do nº1 do art. 483, exige-se normalmente que seja uma norma
de fonte legal. Só que se interpreta este legal em sentido lato. Aqui estariam em causa
por exemplo, o art. 59º da Lei Organica do BP, que institui o poder regulamentar do
BP. Considera-se que, ao violar um aviso, a instituição de crédito estaria a violar a
própria norma que confere o poder regulamentar ao BP. Portanto, este é o 1º
requisito, que se trate de uma norma de fonte legal. Em 2º lugar, que proteja
interesses particulares. E em 3º lugar, uma norma que se insira no sistema de
responsabilidade civil, que justifique pretensões indeminizatórias por parte do tal
particular, cliente do banco. São os requisitos cuja verificação é necessária para que
possamos falar de uma norma de proteção.
23
24
sejam muito similares entre os vários bancos. Mas no ambito do art. 407º são os usos
de cada banco que estão em causa. E aqui vale a pena referir, a propósito deste usos
particulares a que se refere a norma do art. 407º do Código Comercial, um acórdão do
Tribunal Constitucional (Ac. de 22 de maio de 1996), a propósito de um depósito
bancário de disponibilidades monetárias poder ser movimentado por uma pessoa
analfabeta, através de impressão digital, aposta precisamente no respetivo
documento. E uma assinatura precisamente a rogo de terceiro. Portanto, para assim
essa pessoa analfabeta poder movimentar o depósito de disponibilidades monetárias.
Segundo esse entendimento do Tribunal da Relação (que não foi censurado pelo
Tribunal Constitucional), o uso da Caixa Geral de Depósitos era precisamente um uso
que se deveria assimiliar a um uso da banca, no sentido de uso da praça ou de uso ou
prática bancária, nos termos e para os efeitos do art. 407º do Código Comercial. E os
usos bancários podem também relevar no domínio da legislação da concorrência,
designadamente no âmbito do art. 78º da Lei Bancária, na aplicação do regime da
concorrência às instituições de crédito e às respetivas associações empresariais. Outro
caso de relevância dos usos, que todos conhecem, é o do art. 560º nº3 do CC, que
deixa de opôr restrições ao anatocismo, aos juros de juros, se houver regras ou usos
particulares do comércio em sentido contrário. É precisamente o que se verifica no
âmbito dos depósitos bancários. Não há restrições ao anatocismo.
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26
27
28
29
30
retira um estímulo para a sua própria expansão, a atividade creditícia expande-se com
o próprio desenvolvimento económico. De acordo com uma visão clássica, o principal
contributo da atividade bancária para a economia tem sido precisamente a articulação
que a atividade bancária permite entre aforradores e investidores, ou seja, a atividade
bancária permite ou conduz à recepção de fundos do setor doméstico da economia,
permite a manutenção desses fundos sob a forma de depósitos ou de outros fundos
reembolsáveis e permite a sua reciclagem, a reciclagem desses fundos em capital de
investimento. Temos aqui uma função de intermediação que têm sido o elemento
verdadeiramente identificador da atividade dos bancos. E é no âmago desta
intermediação que se apreende também o desempenho de muitas outras funções ou
retira-se do âmago da intermediação o desempenho de muitas outras funções por
parte dos bancos, funções que estão necessariamente associadas à intermediação
creditícia. Desde logo, os bancos vão assegurar a necessária transformação de
maturidade que permite relacionar as operações passivas, ou seja, depósitos, as
operações em que a banca assume a posição devedora (nos depósitos, a banca fica
devedora do depositante - é isso que caracteriza uma operação bancária passiva: a
posição devedora que o banco assume), que têm naturalmente um prazo mais curto,
com as operações ativas, que são as operações em que a banca assume uma posição
de credora: as operações de financiamento, as operações de concessão de crédito,
quando a banca celebra um contrato de mútuo com um cliente. Normalmente as
operações ativas são de prazo mais longo do que as operações passivas. Portanto, é
preciso saber coordenar, em termos de prazo, as operações passivas com as operações
ativas. Os bancos têm que observar as regras prudenciais sob pena de uma gestão não
sã e imprudente, sob pena, em último recurso, de insolvência, porque concedem
crédito com as disponibilidades monetárias oriundas de depósitos e outros fundos
reembolsáveis. Ora se os depósitos, imaginem, são de 3 anos e os contratos de
abertura de crédito são de 5 anos, há um desfasamento de 2 anos. Logo, é preciso
saber coordenar as operações passivas com as operações ativas, saber relacionar a
maturidade das operações passivas com as operações ativas. Os bancos oferecem,
asseguram, a transformação de maturidade que permite relacionar as operações
passivas com as operações ativas. Através precisamente das leis dos grandes números,
os bancos diversificam e acrescentam valor, através da observância de normas
prudenciais que são elaboradas em leis de grandes números. É precisamente a
demonstração dessas leis de grandes números que permite aos bancos arriscar a
disponibilização das somas recebidas do público, dos aforradores, recebidas em
depósitos para conceder créditos a terceiros. Ao emprestar a empresas dinheiro que
receberam em depósitos, os bancos estão a arriscar porque a qualquer momento os
depositantes podem ir ao banco e exigir a restituição daqueles montantes. Estão a
arriscar porque os bancos não têm a certeza de que no dia seguinte os depositantes
não se desloquem ao banco a exigir a restituição dos montantes e os bancos não têm
esses montantes. Seriam, com certeza, declarados insolventes. Correm o risco mas é
31
com base na demonstração dessas leis dos grandes números que arriscam a
disponibilização desses montantes na concessão de crédito. E isso permite-lhes, em
princípio, respeitar sempre as expectativas dos aforradores que depositam as suas
disponbilidades monetárias. Essas leis dos grandes números permitem-lhes, em
princípio respeitar, essas expectativas. A análise da realidade social e económica,
permite concluir que, em condições normais, nem todos os depositantes dispõem dos
seus fundos ao mesmo tempo, a não ser que haja, por exemplo, uma catástrofe, haja
rumores grandes e sérios de que há graves problemas acerca de um banco e haja o
contágio desse banco a outros bancos: então, os depositantes correm aos bancos para
exigir a restituição dos respetivos depósitos. Aí sim, há um gravíssimo problema dos
bancos em particular e do sistema bancário em geral. Em princípio, é possível
satisfazer os levantamentos regulares dos fundos por parte dos aforradores, com base
numa reserva mínima de liquidez por parte dos bancos. Os bancos apenas precisam de
ter uma reserva mínima de liquidez, com base nas tais leis dos grandes números.
Tendo essa reserva mínima, observando essas regras prudenciais feitas com base nas
leis dos grandes numeros, é suficiente para que acudam aos pedidos dos depositantes.
Não precisam de mais do que isso. Em condições normais, não há efetivamente que
temer.
A atividade creditícia surge reservada aos bancos, é uma atividade por excelência dos
bancos, que são intermediários creditícios, que recebem ou recolhem do público,
especialmente das famílias, do setor doméstico da economia, as poupanças, as
disponibilidades monetárias aforradas sob a forma de depósitos ou de outros fundos
reembolsáveis, com vista à sua transferência por conta própria para quem precise de
crédito de financiamento, para outros operadores económicos, designadamente para
empresas e para a administração pública (para conceder crédito sob a forma de
empréstimos ou outras modalidades). Temos aqui a interposição da banca entre
depositantes e pessoas carecidas de financiamento. Uma interposição que é baseada
na tal relação de confiança do público na solvabilidade, na liquidez e na rendibilidade
da atividade bancária e do sistema bancário em geral. Ora, vimos também, ao falar da
distinção entre direito bancário, direito dos seguros e de fundos de pensões e direito
dos valores mobiliários que o investimento direto do aforro das famílias em valores
mobiliários em alternativa à intermediação bancária, por parte do público/das famílias
que tem excedentes monetários, e que estão dispostos a correr de per si o risco dos
emitentes dos valores mobiliários, os respetivos riscos económicos, designadamente o
risco de insolvência do emitente dos valores adquiridos, naturalmente que têm em
vista a obtenção de rendimentos superiores àqueles que obteria num depósito
bancário. Correm um risco maior mas poderão obter rendimentos superiores àqueles
de um depósito bancário. É uma alternativa ao depósito bancário. O investimento
32
7
Não tenho a certeza absoluta de ter sido esta a palavra utilizada pela professora. De facto, na gravação
é o que entendo e, dado o contexto em que ela surge, fará sentido que tenha sido efetivamente esta a
palavra proferida.
33
No exercício das funções típicas que competem aos bancos (e nós já sabemos
quais são), no âmbito do quadro tradicional da actividade dos bancos, já sabemos que
os bancos, ao longo das últimas décadas, têm sofrido a concorrência de outros
intermediários financeiros. E esta concorrência foi muito grande, foi especialmente
acérrima nas últimas duas décadas. Trata-se de intermediários financeiros (estes que
concorreram com os bancos) que apresentavam estruturas mais leves e, também,
intermediários financeiros mais especializados em determinados tipos de operações e
que por isso desenvolveram um tipo de concorrência muito acérrima com os bancos.
34
9
Aliás, muito curioso. Como todos sabem, a nossa jurisprudência tem sido extraordinariamente
conservadora, cum grano salis, a propósito da aplicação do instituto da alteração das circunstâncias do
art. 437.º do Código Civil, mas, curiosamente, a propósito dos contratos de swap, permitiu a alteração
desses contratos precisamente ao abrigo da alteração das circunstâncias que terá ocorrido,
precisamente, pela crise do subprime e pela crise da dívida soberana. Isto a propósito destes contratos
que são contratos aleatórios, aplicou-lhes o instituto da alteração das circunstâncias, quando no
passado foi extraordinariamente conservadora na aplicação deste instituto. Isto a propósito da inovação
financeira, o contrato de swap é precisamente um desses exemplos, de um produto financeiro novo,
que decorre deste fenómeno da inovação financeiras. Os contratos de swap, que são um derivado
financeiro. Os derivados financeiros são, de facto, produto da inovação financeira. E temos também,
como exemplo disto, os empréstimos sindicados, temos a titularização de créditos, etc., portanto,
imensos produtos financeiros novos que resultam deste fenómeno da inovação financeira.
10
Isto, naturalmente, também se deve entender cum grano salis porque sabemos que nos países
da europa em geral a economia sempre dependeu mais dos bancos e do Estado do que por exemplo em
países como os Estados Unidos, em que a economia sempre dependeu mais do mercado de capitais.
35
pelos aforradores para depósitos nos bancos. Essas poupanças passaram a ser
alternativamente direccionadas para a aquisição de títulos emitidos e comercializados
directamente pelas empresas no mercado de capitais. A esta desintermediação, ou à
redução da relevância da desintermediação creditícia, têm sido associadas duas
manifestações fundamentais: por um lado, o alargamento do mercado monetário,
onde se negoceia dinheiro a curto prazo, e, por outro lado, o desenvolvimento do
mercado financeiro, que tratado dinheiro a médio e longo prazo. Temos aqui o
desenvolvimento do mercado monetário, onde se negoceia dinheiro a curto prazo, e o
desenvolvimento, também, do mercado de capitais, do mercado financeiro, onde se
trata de negociar dinheiro a médio e longo prazo. O mercado monetário deixou de ser
exclusivo das entidades bancárias, passou a ser permitido o relacionamento directo,
neste mercado monetário, entre agentes económicos de [natureza não bancária]. No
mercado financeiro, [no mercado de capitais,] que é a sede de operações sobre valores
mobiliários, neste mercado passaram a ser acolhidos os fundos que eram
classicamente, tradicionalmente, destinados a depósitos bancários. Desenvolveu-se o
mercado de capitais, um desenvolvimento proporcional à [involução] do mercado
bancário tradicional. Tudo isto apresenta, ou implica, como consequência directa a
emergência do modelo que é denominado como modelo de mercado, em que este
passa a consubstanciar um veículo privilegiado de circulação de capitais destinados às
empresas ou às entidades públicas que precisam desses mesmos capitais. E este
processo apenas se concebe numa situação de abertura e de modernização dos
mercados financeiros. O que no caso da europa acontece e é reforçado,
designadamente, por força da integração dos mercados, esses mercados foram
integrados e, portanto, hoje existe um mercado financeiro único, europeu. Esta
desintermediação é uma medalha de duas faces. Numa dessas faces da medalha, esta
desintermediação representa ou significa a aproximação dos agentes económicos, ou
seja, a aproximação entre os agentes económicos que necessitam de liquidez e os
agentes económicos que têm liquidez em excesso. Há aqui uma aproximação directa
entre essas duas categorias de agentes em virtude dessa desintermediação: por um
lado os agentes que precisam dessa liquidez, e, por outro, os agentes que têm, em
excesso, liquidez. Portanto, temos aqui uma relação directa, mais directa, uma relação
que não é intermediada, portanto, sem qualquer intermediação pelos agentes
tradicionais (os bancos) – é uma face dessa desintermediação. A outra face da
medalha desta desintermediação traduz-se na diversificação dos agentes que actuam
no sistema financeiro, e até na assunção de actividades financeiras por agentes
económicos que tradicionalmente não estavam vocacionados para o desenvolvimento
dessas mesmas actividades. Estas são as duas faces da medalha deste fenómeno, que
é a desintermediação. Desintermediação que, como referi, representa, de alguma
forma, um corolário da inovação financeira e da desburocratização.
36
37
12
[A professora saltou a al. j): “consultoria das empresas em matéria de estrutura do capital, de
estratégia empresarial e de questões conexas, bem como consultoria e serviços no domínio da fusão e
compra de empresas”].
13
De que depois falaremos.
38
14
[Deu-se uma tertúlia sobre as alterações de trânsito na Foz].
15
Aliás, já falamos disso na aula anterior.
39
Como referi, ([e] isto não está na base da alteração desse quadro tradicional do
exercício da actividade bancária, mas), desde o verão de 2007 assistiu-se ao fenómeno
inverso: o da “re-regulamentação” do acesso e do exercício da actividade bancária. E a
produção de normas, a este respeito, a nível comunitário como a nível interno, tem
sido grande. Em Outubro, todos nos deparamos com a transposição da Directiva CRD
IV que alterou profundamente a nossa Lei Bancária, no que toca a matérias
extraordinariamente importantes de acesso e de exercício de actividade bancária.
Assistiu-se ao fenómeno inverso a partir dessa grande crise global e das crises
nacionais de determinados países. O fenómeno passou a ser o inverso, passou a ser o
da “re-regulamentação”. E a vários níveis, a nível da autorização a conceder para o
exercício da actividade, a nível da supervisão da actividade bancária, etc., aspectos
muitíssimo importantes do sector bancário. Portanto, “re-regulamentação” desta
actividade, implicada pela grande crise. Uma grande alteração a que se assistiu, o
fenómeno inverso ao da desregulamentação 17. E esta nova Lei Bancária entrou em
vigor em Janeiro de 2015.
40
Depois, temos como factor que determinou essa alteração de todo o quadro de
actividade do sector bancário a própria União Europeia. Lá está o tal âmbito
geográfico mais restrito, o âmbito da União Europeia. Também determinou a alteração
desse enquadramento da actividade bancária.
41
Surge, então, por força de todos estes factores, uma nova perspectiva dos
serviços de intermediação. E essa perspectiva, agora, vai focar-se na avaliação de
projectos, no acompanhamento de clientes e na gestão e no controlo de sistemas de
pagamentos. Há aqui uma nova perspectiva de exercício da actividade bancária, uma
deslocalização da intermediação creditícia, como actividade primordial dos bancos,
para outros sectores de actividade. Há aqui uma alteração do pano de fundo da
actividade dos bancos. Procuraram uma nova área para prestarem os serviços de
intermediação. Serviços que são cada vez mais abrangentes, como se pode ver ou
retirar da leitura do art. 4.º da Lei Bancária, ao abrigo do modelo da banca universal.
22
Naturalmente que teve vantagens, tudo tem vantagens e desvantagens. Mas também teve
desvantagens.
23
Agora só, praticamente, para o Reino Unido, que conseguiu manter essa protecção natural,
mantém a libra. Mas nos outros Países-Membros da União Europeia acabou essa barreira natural.
24
[para?]
42
informação que tem quem procura esses mesmos fundos. Os bancos acabam por
estabilizar essa mesma informação.
[Intervalo]
43
precisamente isso: manter ou preservar esses custos dentro de limites aceitáveis mas
que sejam, também, lucrativos para eles mesmos, bancos. É isso que está em causa.
Temos, então, agora, esta transição. Convém ter em conta que esta transição é
a transição da banca especializada para a banca universal. Aqui estão em causa os
fenómenos designados no direito comparado de “Allfinanz”26, na doutrina alemã, e por
“bancassurance”27, na doutrina francesa. Portanto, a banca universal. São os conceitos
de banca universal utilizados no direito comparado. Isto corresponde àquilo que já
vimos no que respeita à banca, na comercialização de seguros pela banca (lá está a
penetração da banca no mercado segurador), e, por outro lado, a prestação de
serviços de investimento pela banca (portanto, a penetração da banca no mercado de
capitais). Portanto, lá está, estes conceitos resultam do alargamento ou da penetração
dos bancos nestas áreas de actividade. Temos aqui uma diversidade funcional que
resulta, como vimos, da leitura do art. 4.ª da Lei Bancária, resulta com toda a clareza
da nossa Lei Bancária.
26
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27
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44
Para alguns autores, este fenómeno ou este conceito, a ênfase deste conceito
deve ser colocada na diversidade de actividades que são susceptíveis de integrar esse
mesmo conceito. Para alguns autores, para parte da doutrina, a ênfase deve ser
colocada, precisamente, na diversidade do conjunto de actividades passível de integrar
esse mesmo conceito. Designadamente a produção, a distribuição, o marketing e a
procura, pelo consumidor, e o consumo.
Para outros autores, a ênfase do conceito deve ser colocada nos aspectos
organizacionais. O conceito seria, então, definido como a integração ou a combinação
do fornecimento de serviços que vêm ou provêm de três sectores distintos, três grupos
distintos de organizações económicas, portanto na organização, na integração
organizada ou na organização integrada de serviços que vêm de três grupos distintos
de organizações económicas.
45
28
O que também é questionável…
29
Como sabem: BPN, BPP e BES.
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00:27:10
46
nos Estados Unidos, no verão de 2007, e não na Europa. E isso levou, como sabem, à
insolvência de um dos grandes bancos, que teve consequências desastrosas a nível
mundial. Portanto, talvez não seja imputável ao modelo de banca universal o que
aconteceu nos últimos anos. Mas, isto para dizer que, de alguma forma, a
consideração deste modelo de organização como um dos contributos para a
organização bancária a nível global, tem sido questionado nos últimos tempos, em
virtude de acontecimentos recentes.
47
Sem prejuízo da numerosa legislação avulsa que existe nesta matéria 31, as
instituições de crédito e as sociedades de investimento têm a base do seu regime
jurídico na Lei Bancária, a base do seu regime jurídico encontra-se na Lei Bancária. Na
Lei Bancária, para além de se prever o regime jurídico das instituições de crédito e das
sociedades financeiras, a base do regime jurídico 32, mas também encontramos a figura
das empresas de investimento. E as empresas de investimento são simultaneamente
qualificadas como sociedades financeiras e como intermediários financeiros. Têm esta
dupla qualificação jurídica33. No que se refere aos intermediários financeiros, no que se
refere às empresas de seguros e às sociedades gestoras de fundos de pensões, a
respectiva regulamentação encontra-se noutra sede, naturalmente que não na Lei
Bancária (não é aqui que nós encontramos a regulamentação destas entidades). E em
31
Encontram muita legislação avulsa no âmbito do Direito Bancário institucional.
32
Naturalmente que não está aqui o regime jurídico de todas as instituições de crédito nem de
todas as sociedades financeiras.
33
O que é relevante, como vamos ver mais tarde.
48
função dos diversos tipos de instituições e em função dos diversos tipos de actividades
desenvolvidas por essas instituições, com referência aos bens e aos serviços
transaccionados, podemos distinguir entre os vários mercados existentes. Então,
podemos distinguir entre mercados de bens e mercados de serviços financeiros.
Apesar de nem sempre ser fácil uma separação clara entre o que é bem e/ou bem e
serviço prestado, nem sempre é fácil esta distinção: o que é exactamente um bem e
/ou um serviço financeiro prestado. E podemos, no âmbito do mercado de serviços
financeiros, em geral, distinguir entre o mercado bancário, o mercado segurador e o
mercado de intermediação financeira.
49
Instituições de Crédito
Vamos agora ver a noção de instituição de crédito que nos é dada pela Lei
Bancária.
A Lei Bancária, no art. 2.º, n.º 1, dizia-nos que as instituições de crédito são
definidas como empresas cuja actividade consiste em receber do público depósitos ou
outros fundos reembolsáveis a fim de os aplicarem, por conta própria, mediante a
concessão de crédito. Era a definição que nos dava a Lei Bancária antes da reforma de
Outubro de 2014. Na lei agora em vigor, o art. 2.º, al. p), diz-nos que “instituição de
crédito” é a empresa cuja actividade consiste em receber do público depósitos ou
outros fundos reembolsáveis e em conceder crédito por conta própria. Como podem
verificar, em termos gramaticais, as definições não se sobrepõem - a definição de
instituição de crédito, antes e de pois de Outubro de 2014 36. Em termos gramaticais,
36
Este até era um tema de trabalho extraordinariamente relevante: saber que conclusões se
podem retirar da diferente redacção do conceito de instituição de crédito.
50
não há uma sobreposição das duas noções legais de instituição de crédito, por força da
nova Directiva. Há aqui uma alteração. Saber-se, concretamente, que conclusões se
podem retirar desta alteração terminológica 37. O que é significativo é que o legislador
retirou “a fim de os aplicarem”, esta parte foi eliminada do conceito de instituição de
crédito. Portanto, terá ou não alguma relevância a eliminação desta parte da
definição? É uma questão que se coloca a propósito desta alteração de redacção. Esta
é a noção ou definição que o art. 2.º, p), nos dá de “instituição de crédito”.
Por outro lado, o art. 9.º da Lei Bancária tem uma delimitação negativa da
definição de “instituição de crédito”, porque vem dizer-nos que, para os efeitos do
presente regime geral, não são considerados como fundos reembolsáveis recebidos do
público os fundos obtidos mediante emissão de obrigações, nos termos e limites do
Código das Sociedades Comerciais, ou da legislação aplicável, nem os fundos obtidos
através da emissão de papel comercial, nos termos e limites da legislação aplicável.
Para efeitos dos artigos anteriores, não são considerados como concessão de crédito
os suprimentos e outras formas de empréstimos e adiantamentos entre uma
sociedade e os respectivos sócios, a concessão de crédito por empresas aos seus
trabalhadores por razões de ordem social, as dilações ou antecipações de pagamento
acordadas entre as partes em contratos de aquisição de bens ou serviços, etc..
Portanto, no art. 9.º, temos uma delimitação negativa da definição de “instituição de
crédito” que nos é dada na al. p) do art. 2.º da Lei Bancária.
É evidente que a definição que nos é dada nesta al. p) do art. 2.º da Lei
Bancária é uma definição que quadra muitíssimo bem à noção de “banco”, esta
definição legal quadra melhor à noção de “banco”, quando o legislador nos diz que
“instituição de crédito” é a empresa cuja actividade consiste em receber do público
depósitos ou outros fundos reembolsáveis e em conceder crédito por conta própria. Cá
temos a materialidade da actividade bancária, [tal?] conexão íntima entre aforro e
crédito. Esta é a materialidade bancária. Isto quadra à noção de “banco”.
37
Reparem, a antiga lei dizia-nos “empresas cuja actividade consiste em receber do público
depósitos ou outros fundos reembolsáveis a fim de os aplicarem, por conta própria, mediante a
concessão de crédito”, a al. p) diz-nos “a empresa cuja actividade consiste em receber do público
depósitos ou outros [fins?] reembolsáveis e em conceder crédito por conta própria”.
51
Ora, nos termos do art. 3.º da Lei Bancária, são “instituições de crédito” os
bancos, as caixas económicas, a caixa central de crédito agrícola mútuo e as caixas de
crédito agrícola mútuo, as instituições financeiras de crédito, as instituições de crédito
hipotecário, e outras empresas que, correspondendo à definição do artigo anterior,
como tal sejam qualificadas pela lei. Como vamos ver, e se virmos este artigo, temos
uma data de alíneas revogadas, precisamente pelo DL 157/2014, há aqui muitas
instituições que deixaram de ser consideradas como instituições de crédito, que eram
instituições de crédito até Janeiro de [2015?], que foi quando o DL da Lei Bancária
entrou em vigor. Foram desqualificadas como instituições de crédito. Muitas outras
instituições, que eram consideradas instituições de crédito (e mal), deixaram de o ser,
deixaram de ser qualificadas como instituições de crédito. E deixaram de o ser, por
exemplo, as sociedades de investimento. As sociedades de investimento eram
instituições de crédito, deixaram de o ser. As sociedades de locação financeira ou de
leasing eram também instituições de crédito, deixaram de o ser. As sociedades de
cessão financeira ou de factoring eram também instituições de crédito, deixaram de o
ser. As sociedades para aquisições a crédito também eram instituições de crédito,
deixaram de o ser. As sociedades de garantia mútua também deixaram de ser
instituições de crédito. Etc., portanto, houve aqui várias instituições financeiras que
foram desqualificadas como instituições de crédito com esta reforma da Lei Bancária.
A noção de instituição de crédito que nos é dada na al. p) do art. 2.º é uma
noção in genere, portanto, engloba diversas espécies ou diversas categorias de
instituições que exercem a profissão bancária. Engloba as instituições referidas no art.
3.º, que são as instituições que exercem a profissão bancária, exercem a profissão
permitida pela Lei Bancária. Portanto, esta é a noção dada pelo art. 2.º, al. p) da Lei
Bancária. Temos aqui uma noção que se traduz num prolongamento da antiga
definição de “banca comercial”. São dois os elementos que fundamentalmente
integram esta noção, tal como anteriormente (portanto, antes da reforma). Temos o
elemento empresa e temos o elemento da actividade financeira exercida – são estes
os dois elementos que compõem a noção de instituição de crédito. Em primeiro lugar,
empresa, em segundo lugar, a actividade financeira exercida.
52
não são sociedades anónimas, são cooperativas, é a “banca cooperativa” entre nós 40.
São excepções, não revestem a forma de sociedade anónima. Mas, por via de regra, as
instituições de crédito são sociedades anónimas. Isto no que toca ao primeiro
elemento da noção: empresa.
39
A natureza jurídica das caixas económicas é bastante controvertida, considera-se que
têm um substrato [fundacional?], como vamos ver.
40
Que aliás tem alguma relevância, alguma expressão económica. O sistema integrado do crédito
agrícola mútuo, entre nós, tem alguma expressão. Como noutros países da União Europeia.
41
E pode aceitar esses fundos para os aplicar por sua conta e risco, é isso que vai fazer o Banco
de Portugal, tal como fazem os bancos. Não vai agir na qualidade de mandatário das instituições de
crédito, vai agir por sua conta, por conta própria, designadamente mediante a concessão de crédito,
pode proceder à concessão de crédito.
53
banco fica obrigado à sua restituição, tem a obrigação de restituir esse dinheiro ou o
equivalente a dinheiro à sua contraparte.
Já vimos que o art. 9.º, n.º 1, da Lei Bancária afasta do universo dos fundos
reembolsáveis determinados fundos que enumera nos respectivos números. Ora, estas
regras permitem destacar o elemento do dinheiro que o banco recebe, não na
qualidade de sujeito ou agente que recorre ao crédito (não é nessa qualidade que o
banco recebe o dinheiro, portanto, o banco não se endivida nessa qualidade), mas o
banco recebe esse dinheiro, precisamente, para prosseguir a sua actividade na
qualidade de especialista, de perito, no manuseio do dinheiro. É essa a perícia do
banco. Portanto, recebe o dinheiro junto do público para fazer produzir esse dinheiro
enquanto dinheiro, uma vez que o banco é especialista no manuseio do dinheiro. E é
nessa qualidade que recebe os depósitos ou outros fundos reembolsáveis do público.
A Lei Bancária não se preocupa com a fórmula jurídica da recepção do dinheiro,
preocupa-se apenas com o resultado, que é a recepção em si mesma do dinheiro por
parte do banco. Não se preocupa minimamente com o meio ou mecanismo que
permite ao banco receber esse dinheiro do público, dos aforradores. A Lei apenas
previu o resultado, que é a percepção em si mesma considerada. Não se preocupa com
o meio de lá chegar, a esse resultado. Esses meios, mecanismos, podem ser os mais
diversos. Ora esses fundos reembolsáveis serão aplicados por conta própria mediante
a concessão de crédito. É esta a materialidade da actividade bancária. E aqui temos,
naturalmente, uma noção muito ampla de concessão de crédito, a Lei Bancária
também não se preocupou com o mecanismo jurídico que permite conceder crédito.
Há uma multiplicidade de meios para alcançar esse resultado de financiamento, de
concessão de crédito. Portanto, temos aqui imensos mecanismos, como os contratos
reais (tradicionalmente, como o mútuo 42 e o desconto bancário), temos os contratos
consensuais (como o contrato de abertura de crédito, que permitem também,
naturalmente, esse resultado), temos a prestação de garantias, a locação financeira, a
cessão financeira, a aquisição de obrigações e outros títulos de dívida, etc., toda uma
multiplicidade de mecanismos que se traduzem, depois, na obtenção desse mesmo
resultado que é a concessão de crédito. Portanto, que compõem este segundo
elemento da definição de instituição de crédito.
54
Não se entende muito bem esta numeração porque o artigo 2º foi revogado,
depois acrescentou-se o artigo 2º-A, pelo que deveria ter ficado apenas artigo 2º, mas
é a numeração que está.
Esta noção é delimitada por outras normas da Lei Bancária e complementada pelo
artigo 3º da mesma Lei.
O cerne da atividade bancária consiste, de acordo com a própria noção do
artigo analisado, na prática habitual da receção de disponibilidades monetárias do
público e na concessão de crédito por conta própria, e neste sentido se fala de
monopólio bancário (artigo 8º Lei Bancária).
55
Naturalmente que neste caso há uma distinção que se impõe que é a de entre
entidades com sede na União Europeia e entidades com sede em país terceiro em
relação à União Europeia, pois o respetivo regime é distinto.
56
Nós já vimos que desde 1993 vigora entre nós o modelo de banca universal, e
que este modelo de banca permite aos bancos exercer ou praticar quase todas as
operações financeiras, ao contrário de outras IC que apenas podem desenvolver as
actividades que a lei expressamente lhes permita, de acordo com o artigo 4º/2 da Lei
Bancária (“2 - As restantes instituições de crédito só podem efetuar as operações
permitidas pelas normas legais e regulamentares que regem a sua actividade”).
Conforme podemos constatar, isto é diferente do que se passa com os Bancos que, de
acordo com o artigo 4º/1, s) Lei Bancária, podem praticar todas as operações referidas
nas alíneas anteriores e “Outras operações análogas e que a lei lhes não proíba”.
Entre as operações passiveis de realização por parte dos bancos, destacam-se,
precisamente, nos termos do artigo 4º da Lei Bancária, aquelas que se encontram
entre as alíneas a) e d), pois representam o núcleo da actividade bancária (receção de
depósitos e concessão de crédito por conta própria).
Enquanto os Bancos podem praticar quaisquer operações constantes do artigo
4º da Lei Bancária, bem como operações análogas que a lei lhes não proíba nos termos
da alínea s) do mesmo artigo, já as outras IC podem apenas praticar aquelas operações
que a lei, expressamente, lhes consinta.
57
No artigo 3º/c) da Lei Bancária são referidas a Caixa Central de Crédito Agrícola
Mútuo e as caixas de crédito agrícola mútuo, sendo, portanto, o terceiro tipo de IC
referido pela nossa lei.
Por qualquer motivo que a Professora desconhece (ou porque não houve
lobbying, ou porque as caixas de crédito agrícola mútuo nacionais não o quiseram para
não ficarem de fora do sector bancário relevante nacional, ou por qualquer outro
motivo que se desconhece), as caixas de crédito agrícola mútuo não foram
excecionadas do âmbito de aplicação da Diretiva CRD4, ao contrário do que se
verificou em outros países da União Europeia, em que as caixas ou os Bancos de base
cooperativa foram excluídos do âmbito da referida Diretiva.
Temos aqui, portanto, entidades sob forma cooperativa, ou seja a Banca
Cooperativa Nacional que são as caixas de crédito agrícola mútuo, estando sujeitas à
Lei Bancária e à legislação especial (a Professora acha que a legislação é de 1991, mas
não se recorda), para além de se sujeitarem, subsidiariamente, ao código cooperativo
e aos seus princípios.
As caixas de crédito agrícola mútuo têm por actividade fundamental a
concessão de crédito agrícola aos seus associados (é de reparar que esta terminologia
que se usa não é, em rigor, a mais correta, porque se se tratam de cooperativas
deveriam ser designados de cooperadores e não de associados), e as operações com
não associados encontram-se sujeitas a restrições estabelecidas pelo BP e ainda essas
operações (com os tais não associados) encontram-se sujeitas à observância em base
individual de regras prudenciais aplicáveis.
58
Nota: quanto a este aspeto do âmbito territorial limitado, esta especifidade destas IC
quer dizer, desde logo, que as diversas caixas de crédito agrícola mútuo não são
sucursais ou agências da Caixa Central do Crédito Agrícola mútuo, ao contrário do que
se verifica na organização dos Bancos em geral (que estão territorialmente
estruturados com base na sua sede, tendo agências distribuídas pelo território
nacional, sem personalidade jurídica).
Assim sendo, estamos perante IC autónomas, pelo que cada uma das caixas
tem personalidade jurídica, tendo, em regra, um único estabelecimento num
determinado município.
Este sistema integrado do crédito agrícola mútuo apresenta, desde logo, uma
grande vantagem representada no âmbito da regulação e da supervisão com base
consolidada. Isto, naturalmente, sem prejuízo a que haja lugar à supervisão individual,
ou seja, “caixa a caixa”. Esta regulação e supervisão e regulação competem, em
primeiro lugar, à Caixa Central do Crédito Agrícola Mútuo, sem prejuízo, naturalmente,
dos poderes do BP. Temos aqui, portanto, uma participação das diversas caixas de
crédito agrícola mútuo na Caixa Central do Crédito Agrícola Mútuo, e daqui não resulta
apenas a sujeição das diversas caixas à Caixa Central (claro que há sujeição, mas esta
deve ser entendida cum grano salis, porque estamos a falar de cooperativas, sendo a
Caixa Central ela própria uma cooperativa). Portanto, temos aqui a vantagem que é
propiciada pela aferição das exigências prudenciais em termos consolidados,
agregando IC independentes, sendo tal permitido pela integração das diversas caixas
num sistema único.
Este sistema permite, também, uma certa compensação em situações de
desequilíbrio que se verifiquem individualmente em determinadas caixas,
compensando excedentes verificados numa caixa com situações deficitárias verificadas
noutras caixas de crédito agrícola mútuo.
59
60
61
Por outro lado, permite-se que até 20% dos activos subjacentes não sejam
constituídos por créditos hipotecários, o que cria alguma perplexidade no âmbito das
obrigações hipotecárias, tornando menos enganosa a designação de obrigações
hipotecárias. Já vimos que o legislador cria, neste diploma, as obrigações sob o sector
público sujeitas ao regime das obrigações hipotecárias, equiparando as obrigações sob
o sector público às obrigações hipotecárias. Temos aqui um produto que nada tem a
ver com um crédito garantido por uma hipoteca, nem sequer com a existência de bens
imóveis, o que também gera aqui alguma perplexidade portanto a introdução desta
figura no mesmo diploma das obrigações hipotecárias. Trata-se de activos constituídos
a 100% por créditos sob administrações centrais, regionais, ou locais. As obrigações
hipotecárias são títulos de divida, que traduzem a obrigação do emitente de pagar o
62
capital e os juros, nas condições constantes do título. E deste ponto de vista, são
obrigações clássicas.
Temos, depois, as sociedades financeiras, para além disso nos termos da aliena
k) do artigo 3.º, temos ainda como instituições de credito outras empresas que
correspondendo à definição do artigo como tal sejam qualificadas pela lei. Nos termos
do artigo 2 - A alínea z) são sociedades financeiras: as empresas, com a excepção das
instituições de crédito, cuja actividade principal consista em exercer pelo menos uma
das actividades permitidas aos bancos, com a excepção da recepção de depósitos ou
outros fundos reembolsáveis do público, incluindo as empresas de investimento e as
instituições financeiras referidas na subalínea ii) da alínea s). E no artigo 6.º, a lei diz-
nos que são sociedades financeiras, as empresas de investimento referidas no art. 4.º
A, as instituições financeiras referidas na alínea tal, as sociedades financeiras de
crédito, as sociedades de investimento, as sociedades de locação financeira, etc. E, no
art. 7.º diz-nos que as sociedades financeiras só podem efectuar as operações
permitidas pelas normas legais e regulamentares que regem a respectiva actividade.
De facto, a lei limita-se a definir as sociedades financeiras de forma negativa na alínea
z) do artigo 2ª A da Lei.
63
64
Depois, vamos passar agora para a alínea d), temos as sociedades mediadoras
dos mercados monetários e/ou de câmbios, que são também empresas de
investimento e sociedades financeiras. Aqui temos simples intermediários que actuam
nesses mercados: monetário e de câmbios. Se são simples intermediários, isto significa
que só podem agir por conta de outrem, é lhes vedado efectuar transacções por conta
própria, não podem também receber depósitos, conceder crédito, prestar garantias,
não podem deter participações de capital em sociedades. No exercício das respectivas
actividades, estas entidades, encontram-se sujeitas a normas de conduta semelhantes
àquelas que regem os intermediários financeiros. Estas sociedades não se confundem
com as agências de câmbios, estas agências de câmbios são outro tipo de sociedade
financeira, que vem referida na alínea viii) da alínea b) do número 1 do artigo 6.º, não
se confundem com as agências de câmbios. O que são as agências de câmbios? Isto é
uma numeração muito complexa desta lei bancária. As agências de câmbios são
65
sociedades financeiras, são sociedades que têm por objecto principal a realização de
operações de compra e venda de notas e de moedas estrangeiras ou então de cheques
de viagem. Este é o principal objecto das agências de câmbios, e estas compras e
vendas são feitas contra moeda nacional. Acessoriamente, as agências de câmbios
podem comprar ouro e prata e podem também comprar moedas para fins de
numismática e, também ser autorizadas a prestar serviços de transferência de dinheiro
para o exterior. Ora, enquanto estas operações podem ter de lidar directamente com o
público, as operações feitas pelas agências de câmbios referidas no artigo 6.º, as
operações nos mercados monetário e de câmbios, praticadas pelas sociedades
mediadoras dos mercados monetário ou de câmbios, do artigo 4.º A, são mercados por
via de regra organizados, são operações que têm lugar entre os respectivos
intermediários, que são entidades devidamente credenciadas para poderem actuar
nesse mercado e não têm lugar directamente com o público.
66
E este património sob gestão pode incluir uma enorme diversidade de bens.
Pode incluir os mais diversos instrumentos financeiros, pode incluir valores
mobiliários, naturalmente, pode incluir bens imóveis, os mais diversos bens móveis,
metais preciosos, etc., um leque vastíssimo de bens que podem integrar uma carteira
ou um conjunto sob administração. Os valores mobiliários que sejam dados em
administração a uma sociedade gestora, que os vai administrar, estas operações sob
valores mobiliários por conta dos clientes, quando for exercida em termos agregados,
naturalmente, sem prejuízo da posterior locação destes valores mobiliários ou dos
valores transaccionados às respectivas carteiras de cada um dos clientes
individualmente considerados, isto numa perspectiva financeira apresenta algumas
semelhanças com a gestão de organismos de investimento colectivo em valores
mobiliários. Portanto, em termos materiais podemos estar aqui precisamente fundos
de investimento, se a sociedade gestora de patrimónios age desta forma, se gere de
forma agregada estes valores mobiliários, materialmente temos um fundo de
investimento. Agora não se chama fundo mas organismo de investimento colectivo
em valores mobiliários, é precisamente disso que do ponto de vista material se trata.
Gere financeiramente estas carteiras como se tratasse de um fundo de investimento,
todavia sem obedecer às respectivas regras, regras fixadas para a gestão dos
organismos de investimento colectivo, que, naturalmente, são mais restritivas e têm
preocupações prudenciais que aqui não estarão presentes. Há aqui regras específicas
em matéria de organismo de investimento colectivo que não são observadas por esta
67
sociedade gestora de patrimónios, que não age de forma correcta ao gerir de forma
agregada as várias carteiras de valores mobiliários. Temos aqui as sociedades gestoras
de patrimónios que são simultaneamente empresas de investimento e sociedades
financeiras. Já vimos que é aplicável, tal como às sociedades financeiras de corretagem
e às sociedades correctoras, o CVM e a Lei Bancária e estão sujeitas a dois
supervisores: a CMVM e o Banco de Portugal.
68
Temos, depois, passamos agora para o artigo 6.º alínea viii) da aliena b), as
sociedades de desenvolvimento regional. Estas sociedades de desenvolvimento
regional adquiriram relevância com a integração de Portugal na União Europeia, ou
pelo menos pretendiam ter relevância com a adesão de Portugal à Comunidade
Económica Europeia. As sociedades de desenvolvimento regional são entidades cuja
actividade se encontra estritamente relacionada com as políticas de desenvolvimento
regional, contribuem para a prossecução do objectivo da coesão económica e social,
em articulação com a aplicação dos respectivos fundos públicos nacionais e
comunitários. Nós temos aqui entidades, as sociedades de desenvolvimento regional,
que são qualificadas como sociedades financeiras que têm objecto a promoção do
investimento produtivo na respectiva área regional, na área da respectiva região, e
têm por finalidade o apoio ao desenvolvimento económico e social dessa mesma
região.
69
não vamos falar do capital de risco mas das sociedades de garantia mútua, portanto
muito próximo da garantia mútua).
70
71
à lei bancária como resulta do artigo 4º-A, nº2 (não estão sujeitas ao regime geral das
instituições de crédito e sociedades financeiras mas sim ao código dos valores
mobiliários e a um regime especial que o legislador para elas criou). Sociedades de
consultoria para investimento foram sociedades que, de alguma forma, já existiam
entre nós sob outra designação e sob uma figura jurídica um pouco diferente desta. A
introdução deste tipo de sociedade, agora considerada como sociedade financeira, não
interferiu com a existência dos anteriores consultores para investimento que já
existiam entre nós. Nós temos aqui sociedades que têm precisamente por objecto
social exclusivo a prestação de serviços de consultoria para investimento em
instrumentos financeiros, portanto, prestam consultoria para esse tipo de
investimento e recebem e transmitem ordens por conta de outrem relativamente
àqueles instrumentos financeiros. A consultoria para investimento em instrumentos
financeiros, que é o que está aqui em jogo, é uma das actividades de intermediação
financeira. Passou a ser considerada como uma das actividades de intermediação
financeira que integram o conjunto de serviços e de actividades principais de
investimento. Por outro lado, só as empresas de investimento que é o caso e as
instituições de crédito, de que falamos na aula anterior, que sejam devidamente
autorizadas podem efectivamente desenvolver numa base transfronteiriça estas
actividades e prestar este tipo de serviços. Afigurou-se necessário ao legislador
garantir que estas entidades reunissem os requisitos mínimos necessários que
permitissem qualificar-se como empresas de investimento e beneficiar do passaporte
comunitário. Permite-se às empresas de investimento e, logo permite-se às sociedades
de consultoria para investimento, que operem em todo o espaço da UE, com base na
autorização única que lhes é concedida no Estado membro em que se situa a sua sede.
Essa autorização é suficiente para que possam desenvolver a sua actividade em todos
os restantes países da UE- é o que se chama de passaporte comunitário.
Sociedades de locação financeira: referidas no artigo 6º, nº1, al. b) III. Estas sociedades
foram desqualificadas porque antes da reforma de Outubro de 2014 eram
consideradas instituições de crédito, erradamente mas eram. Agora são sociedades
financeiras. Sociedades de locação financeira, têm como objecto principal o exercício
da actividade de locação financeira. O que é o contrato de locação financeira? Este
consiste no contrato através do qual uma das partes se obriga perante a outra,
mediante retribuição, a ceder-lhe o gozo temporário de uma coisa móvel ou imóvel,
adquirida (pela sociedade de locação) a terceiro ou mandada construir a terceiro por
indicação da sua contraparte- o locatário financeiro. O locatário poderá vir a adquirir
essa coisa, decorrido o prazo acordado pelas partes, por um preço determinado no
contrato ou por um preço determinável mediante a aplicação dos critérios para esse
efeito estabelecidos no contrato de locação financeira. Temos aqui estas sociedades
que se dedicam exclusivamente ao exercício da locação financeira. Sem tipificação da
lei, a par da locação financeira temos uma outra actividade gerada pela prática
comercial que gerou contratos um pouco diferentes como o ALD- aluguer de longa
72
duração. A prática comercial também gerou outros contratos que se designam por
locação operacional ou renting, que passaram a poder ser celebrados também pelas
locadoras financeiras, a partir de 2001. O ALD, consiste num aluguer de determinado
bem em que as partes não têm porque estipular uma opção de compra relativamente
a esse mesmo bem. Teoricamente, trata-se de uma mera operação de aluguer sem
qualquer componente de financiamento. A locação financeira tem claramente uma
componente de financiamento, a locadora financeira está a financiar a utilização de
um determinado bem pelo locatário. O ALD, teoricamente tratando-se de uma mera
operação de aluguer, está despojado ou estaria despojado de qualquer componente
de financiamento. Este tipo contratual, teve particular relevância enquanto a legislação
só permitia a locação financeira de bens móveis de equipamento e não de outros bens
móveis, daqui que se desenvolveu exponencialmente, paralelamente, este contrato na
prática comercial que era o ALD. Só que, simultaneamente ao ALD, o que as partes
faziam era celebrarem também uma promessa de compra e venda que teria um preço
no fundo equivalente àquele que seria o valor residual num contrato de locação
financeira. As partes celebravam o contrato normal de ALD e anexavam esta promessa
de compra e venda, em que o preço era efectivamente correspondente ao valor
residual que aquele bem teria se tivesse sido celebrado um contrato de locação
financeira e não um contrato de ALD. Isto foi um expediente muitíssimo utilizado na
prática comercial que permitia financiamento para a aquisição de bens de consumo.
De alguma forma em fraude à lei mas que permitia o financiamento de bens de
consumo. Fraude à lei porquê? Porque as entidades que se dedicam à locação
financeira a título profissional têm de obter a devida autorização do Banco de Portugal
enquanto quem se dedicasse a título profissional à celebração de ALD a que anexavam
a promessa de venda não tinham de ter autorização do Banco de Portugal, portanto
isto contornava a lei daí ser um mecanismo em fraude à lei. Obtia-se o mesmo
resultado que na locação financeira por vias não legalmente admitidas (entidades não
estavam sujeitas a todas as regras prudenciais que a lei estabelece para as outras
entidades que desenvolvem actividades materialmente análogas). Quanto ao renting
ou locação operacional, esta faculta ao locatário a utilização de um determinado bem
a longo prazo mediante o pagamento de uma determinada prestação. Para além do
preço do uso do bem, vai incluir-se aqui o preço ou o custo de todos os serviços de
manutenção desse bem, todos os custos de assistência técnica desse bem, todos os
seguros e todas outras despesas que possam correr. Em 2001, o legislador abriu a
porta às locadoras financeiras para celebrarem este tipo de contratos de locação
operacional, criou-se com isto uma reserva de mercado (mais uma) a favor das
locadoras financeiras mas de alguma forma também de terceiros, porque estes
serviços (de assistência técnica, de manutenção, etc ) não podem ser prestados pelas
locadoras financeiras mas sim por terceiros cujos serviços são contratados para esse
efeito pelas locadoras financeiras. Nós temos nas locadoras financeiras, entidades que
têm por actividade principal a aquisição de bens, que podem ser móveis ou imóveis,
73
74
Sociedades financeiras de crédito: referidas no artigo 6º, nº1, al. b), I. Estas sociedades
ainda não foram dotadas de um regime jurídico próprio. Vão ter um regime
aparentemente recortado daquele que é actualmente aplicável às instituições
financeiras de crédito. As sociedades financeiras de crédito são sociedades financeiras.
As instituições financeiras de crédito, não as sociedades financeiras de crédito, que são
actualmente qualificadas como instituições de crédito que optarem por se converter
em sociedades financeiras de crédito dispõem do prazo de um ano e dispõem de um
procedimento simplificado junto do Banco de Portugal para o fazerem- para se
converterem em sociedades financeiras de crédito.
Sociedades gestoras de fundos de investimento: previstas no artigo 6º, nº1, al. b) VI.
São sociedades financeiras, já o eram antes da reforma de Outubro de 2014. São
sociedades que têm por objecto a gestão de organismos de investimento colectivo sob
a forma de fundos de investimento (fundos de investimento mobiliário ou fundos de
investimento imobiliário). O regime jurídico dos organismos de investimento colectivo,
agora chama-se regime geral, a lei bancária foi alterada em Fevereiro de 2015 apesar
de só ter entrado em vigor em Janeiro e foi alterada por esse regime geral. O regime
geral dos organismos de investimento colectivo é de Fevereiro de 2015 e altera a lei
75
46
Professora vai inserir este diploma no campus.
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Tema interessante para trabalho.
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No início da 2ª parte a professora avisou que a lei bancária vai ser alterada outra vez e para o exame
temos de ter em conta todas as alterações, mas ela insere no campus as alterações relevantes.
50
Código dos Valores Mobiliários.
79
Podemos ainda ter outras empresas que não constam do elenco do artigo 6º mas que
correspondam à definição de sociedades financeiras e sejam como tal qualificadas por
lei.
51
São obrigadas a prestar contas, garantias não -isto no seguimento de uma pergunta que não consegui
perceber.
52
Montante muito baixo, daí não ter de haver garantias. As partes havendo possibilidade podem prestar
garantias mas em princípio não, no microcrédito são negócios visados de forma a acompanhar o
desenvolvimento do projecto de forma a que gere rendimento para cumprir e pagar o contrato de
concessão de crédito que foi celebrado, daí que há uma fiscalização por parte da sociedade financeira de
microcrédito, o que não acontece com um banco quando concede um empréstimo- no seguimento da
mesma pergunta, a professora reiterou a ideia.
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Pergunta colocada pela professora: a câmara municipal do porto pode ser qualificada
como instituição de crédito quando procede ao financiamento do restauro de edifícios
antigos? Outra: A pede a B que lhe conceda vinte mil euros de empréstimo; B
responde que não o pode fazer porque não tem autorização do Banco de Portugal.
81
Quanto à primeira, a resposta de B não faz sentido 53. Com a nova lei bancária há uma
redução do número das instituições de crédito e portanto passaram para o elenco das
sociedades financeiras. Limpou-se a lista de instituições de crédito para as fazer
subsumir à alínea p) do artigo 2º, mas manteve como tal uma que não recebe
depósitos, qual? Fala-se aqui das sociedades financeiras em geral e não das empresas
de investimento que gozam do passaporte- são as instituições de crédito hipotecário
(talvez para que goze do passaporte comunitário, pois as que foram desqualificadas já
não gozam). Quanto à Câmara, não se reúnem os pressupostos da noção de instituição
de crédito, que são três: ser uma empresa;... 54
53
Não consegui perceber o resto da resposta dada por uma aluna, se é que houve resposta certa.
54
Não foram dados mais nenhuns.
55
Penso ter sido esta a designação.
82
pagamento, temos de ter uma autorização do Banco de Portugal sob pena de não se
poder constituir qualquer uma destas entidades. Há situações excecionais em que esta
competência é atribuída ao ministro das finanças, mas a regra é que é da competência
do Banco de Portugal. Os elementos que devem ser apresentados ao Banco de
Portugal, junto com o pedido de constituição de uma instituição de crédito são: a
caracterização do tipo de instituição a constituir; apresentar o projecto do contrato de
sociedade; apresentar um programa de actividades; tem de ser referir a implantação
geográfica dessa instituição; descrever a sua estrutura orgânica; descrever os meios
humanos, técnicos e materiais; referir contas previsionais; identificar os accionistas,
exposição acerca do sistema de governo dessa instituição- tem de ter uma estrutura
organizativa clara, com linhas de responsabilidade bem definidas e transparentes.
Quanto às sociedades financeiras, os elementos a juntar ao pedido de autorização são
diferentes. O Banco de Portugal, para além destes elementos, pode solicitar
informações adicionais, complementares e fazer as averiguações que considerar
necessárias para decidir se autoriza ou não a constituição da entidade em vista. Estas
entidades não podem iniciar a sua actividade enquanto não se encontrarem inscritas
em registo especial no Banco de Portugal- consta no artigo 66º da lei bancária e todos
esses elementos têm de constar do registo. Nos termos dos artigos 30º ss, os membros
dos órgãos de administração e fiscalização e também os titulares de funções essenciais
nas instituições de crédito têm de cumprir esse critério da adequação, estão sujeitos a
requisitos de idoneidade, qualificação profissional, independência e disponibilidade
conforme os artigos subsequentes. Há aqui um controlo desta adequação destas
pessoas para o exercício das respectivas funções, há critérios e procedimentos
aplicáveis ao controlo desta adequação- tudo isto foi alterado em Outubro de 2014. A
finalidade deste controlo é assegurar uma gestão sã e prudente das instituições em
causa porque estão em causa interesses muito vastos, públicos, de terceiros, está em
causa o sistema económico em geral e não só o bancário com a fragilidade que uma
instituição possa ter. Este controlo, hoje mais rigoroso do que antes, é feito em
primeiro lugar pela própria instituição de crédito e depois pelo Banco de Portugal. Este
último, feito pelo banco, não desresponsaliza as instituições supervisionadas pelo
próprio banco nem os accionistas dessas instituições que têm como obrigação aplicar
os critérios de adequação previstos nos artigos 30º ss da lei bancária, relativamente às
pessoas que vão integrar os seus órgãos sociais, designadamente os de administração
e fiscalização e têm essa obrigação durante todo o mandato. Temos de ter em conta
todas estas normas que estão em vigor em matéria de controlo da adequação destes
órgãos. Há necessidade de autorização e depois de registo e sem ele não se pode
iniciar actividade. A autorização do Banco de Portugal concede-se caso a caso, de
acordo com critérios técnico- prudenciais, ou seja, não decide em função das
necessidades económicas do mercado. Por outro lado, esta autorização é
obrigatoriamente comunicada à Autoridade Bancária Europeia que vai inscrever as
instituições de crédito numa lista pública que actualiza no Jornal Oficial de
83
Comunidade Europeia- artigo 16º da lei bancária. Esta autorização, seja qual for a
forma que assuma, é um acto emanado pela autoridade competente, que entre nós é
o Banco de Portugal e confere o direito de exercer a actividade de instituição de
crédito, de sociedade financeira, etc, precisamente nos termos do artigo 14º 56.
Portanto é uma autorização administrativa, que se prende com as particularidades da
actividade desenvolvida que é a actividade bancária, porque está em causa um
fortíssimo interesse público na estabilidade do sistema financeiro. Função muito
importante desempenhada pelos bancos e que influencia toda a actividade económica,
daí que há o interessa também na segurança dos clientes dos bancos e é por isso que
se condiciona o acesso à profissão bancária, em virtude deste tipo de interesses.
Temos depois os requisitos dessa autorização e a harmonização mínima deles no
âmbito da UE, que foi necessário consagrar em virtude do passaporte comunitário das
instituições de crédito em geral e dos bancos em especial, que têm toda a liberdade de
prestar serviços e desenvolver as suas actividades no espaço comunitário.
Estas instituições de moeda eletrónica são uma novidade relativamente recente entre
nós. O seu regime jurídico teve em vista estender a estas entidades o benefício do
passaporte comunitário. Foram consideradas qualificadas como instituições de crédito,
inicialmente. Enquanto instituições de crédito beneficiaram do passaporte
comunitário. Hoje, não são qualificadas como instituições de crédito, o que não quer
dizer que não beneficiem do passaporte comunitário, em determinada medida, em
determinados moldes. Mas não são qualificadas como instituições de crédito. Teem
56
Professora não diz ao certo qual o artigo, falou no artigo 15º e 14º mas este último adequa-se mais.
84
por objeto a emissão de moeda eletrónica. De alguma forma, pode dizer-se que é uma
designação imprópria através da qual se pretendem abranger valores
desmaterializados, ou seja, valores não mobiliários. Valores desmaterializados com a
natureza de meios de pagamento com poder liberatório, suscetíveis de serem aceites
por terceiros, como meio de pagamento.
Não estamos aqui perante um novo tipo de moeda, na é isto que está em causa.
Estamos perante formas diversas de circulação da verdadeira moeda. São formas
diferentes de circulação da moeda formalmente emitida, com base no meio de
pagamento em que esta figura da moeda eletrónica se caracteriza. São formas
diferentes de circulação da moeda formalmente emitida. Esta expressão, valor
monetário, que se utiliza na própria definição de moeda eletrónica é uma expressão
que deve ser entendida com as reservas necessárias. Portanto, enquanto meio de
pagamento totalmente líquido, pagável á vista, representativo de um direito de crédito
junto da entidade emitente da moeda eletrónica. Um direito de crédito a quê? Um
direito de crédito à receção de moedas ou notas de banco. Quem recebe um
pagamento em moeda eletrónica tem junto do emitente da moeda eletrónica, um
direito de crédito de receber moedas de metal ou notas de papel, moedas ou notas de
banco. É este o direito de crédito que tem sobre a entidade emitente.
Portanto, isto quer dizer que tanto em operações entre empresas integradas no
mesmo grupo, como entre empresas de grupos diferentes, ou então mesmo junto do
público em geral, a moeda eletrónica pode circular no âmbito de específicos
subsistemas de pagamentos de forma a que o último beneficiário possa, junto da
entidade emitente da moeda eletrónica, proceder ao levantamento dos fundos, das
notas de papel ou da moeda metálica, da moeda formalmente emitida pelo banco
precisamente é que tem direito como contrapartida do direito de crédito de que é
efetivamente titular, em virtude do débito da moeda eletrónica.
85
Por outro lado, os fundos recebidos pelas instituições de moeda eletrónica não podem
ser inferiores ao meio de pagamento que elas próprias emitem, sob pena de
duplicação monetária ou de criação artificial de moeda. Isto em desrespeito à
proibição de conceção de crédito. Estas instituições não podem, naturalmente,
conceder crédito. E por isso só podem emitir moeda eletrónica na medida dos fundos
que tenham recebido e nunca em medida superior aos fundos que efetivamente hajam
recebido. Essa moeda tem que ser totalmente representativa dos fundos que essas
instituições tenham recebido.
86
Para além disso podem ainda exercer um leque de atividades que a lei lhes consente
ao abrigo desse diploma legal de 2012. Embora este seja o seu objeto principal, podem
ainda desenvolver outras atividades que a lei lhes concede.
Processo de autorização
87
Foi ainda criada, neste tópico, nesta matéria, a modalidade da sociedade financeira de
crédito, que não existia. Surge em outubro de 2014 com um regime jurídico que
aparentemente é recortado das instituições financeiras de crédito que inexistiam até
outubro de 2014. Surge este novo tipo de sociedade financeira.
Por outro lado, são clarificados os critérios pela apreciação pelo banco de Portugal, da
adequação, em especial, da idoneidade dos membros dos órgãos de fiscalização e
administração das instituições de crédito e sociedades financeiras. E também os
titulares de funções essenciais poderão passar a estar sujeito por parte do banco de
Portugal a um processo de avaliação semelhante àquele que vigora para os membros
de administração e fiscalização.
Por outro lado, ainda nesta matéria, impõe-se limites à acumulação de cargos por
parte dos membros dos órgãos de administração e fiscalização das instituições de
crédito e das sociedades financeiras. Prevê-se, designadamente na lei, que é vedado
aos membros dos órgãos de administração e fiscalização acumular mais do que um
cargo executivo. A lei estabelece limites à acumulação de cargos, o que não acontecia
anteriormente. Houve, no passado, titulares de órgãos de administração
simultaneamente em diversas e instituições de créditos, independentemente dos
conflitos de interesses que poderiam surgir. Hoje isso não é possível, a lei proibi isso
expressamente, desde outubro de 2014, em transposição da diretiva CRD IV.
88
remuneração. Isto tendo em vista que estas remunerações sejam consentâneas com
uma gestão eficaz dos riscos. Reparem que nem sempre assim foi. Muitas vezes a
componente variável da remuneração dos administradores não era consentânea com
uma gestão eficaz dos riscos. Muitas vezes quanto
Por outro lado, em quarto lugar, também se adotaram novas regras em matéria de
gestão de riscos, no que toca à organização interna e às políticas e procedimentos que
devem ser implementados pelas instituições de crédito e pelas sociedades financeiras.
Em sexto lugar, há regras aplicáveis à base de contas do sistema bancário. Isto quer
dizer que o sistema bancário, ou que essa base de contas do sistema bancário, passa a
incluir as contas de depósito, as contas de pagamento, as contas de crédito e as contas
de instrumentos financeiros. E as sociedades financeiras e as instituições de crédito
devem enviar ao banco de Portugal todas as informações sobre essas contas.
Por último, há também várias alterações no regime sancionatório com vista a tornar
mais eficaz o regime ou o processo contraordenacional.
Quanto à política interna de seleção e de avaliação dos membros dos órgãos sociais
(órgãos de administração e de fiscalização) e dos titulares de funções essenciais. Já em
abril de 2013, a autoridade bancária europeia tinha divulgado estas orientações acerca
desta matéria, sobre a avaliação da aptidão dos membros destes órgãos sociais e dos
titulares de funções essenciais. Aqui já se incluía a necessidade de uma política de
seleção e de uma política de avaliação e, portanto, já se impunha a necessidade das
instituições de crédito adotarem e elaborarem internamente essa política. Isso veio a
ser tornado obrigatório entre nós, como vimos, pelo DL 157/2014. Consta do artigo
89
Ainda nos termos do artigo 30º-A da lei bancaria, verifica-se a exigência de que os
resultados de qualquer avaliação ou reavaliação constarem de um relatório. Relatório
este que, no caso de avaliação de pessoas de cargos eletivos, deve ser colocado à
disposição da assembleia geral, no âmbito das respetivas informações preparatórias. E
naturalmente que este relatório deve acompanhar o requerimento de autorização
para o exercício de funções que é dirigido ao banco de Portugal.
Por outro lado, nos termos do artigo 33º-A da lei bancária, esta política interna deve
abranger os titulares de funções essenciais.
1. Em primeiro lugar, deve atender, naturalmente, a esses critérios dos artigos 30º e
seguintes: deve promover a diversidade de qualificações e competências necessárias
para o exercício das funções, fixando objetivos para a representação de homens e
mulheres e concedendo uma política destinada a aumentar o número de pessoas do
género sub-representado com vista a atingir os respetivos objetivos (artigo 30º/6). Isto
não existia antes de outubro de 2014, está aqui a igualdade de género como critério de
política interna. Um dos critérios que deve ser adotado na política interna de cada
instituição de crédito. 2. Artigos 30º-A/2 e 33º/9 da lei bancária. São elementos que
devem constar obrigatoriamente da política interna de cada uma das instituições de
crédito e depois também de cada uma das sociedades financeiras, por remissão na
respetiva secção para este mesmo regime jurídico.
Tínhamos visto que há uma necessidade de autorização e de registo para que cada
instituição possa efetivamente começar a laborar. Necessidade de autorização e de
registo junto do Banco de Portugal.
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E assim aconteceu com a nossa lei bancária, que adotou também esses requisitos
mínimos.
Quanto à forma jurídica, também já sabemos que só pode ser autorizada instituição de
crédito que corresponda a um dos tipos previstos na lei portuguesa. Que adote a
forma de sociedade anónima, salvo quanto às caixas económicas que não são
sociedades anónimas, e quanto às caixas de crédito agrícola mútuo que também não
são sociedades anónimas. Em princípio terá que ter a forma de sociedade anónima e
tem que ter por objeto exclusivo o exercício da atividade permitida pelo artigo 4º da lei
bancária, que estabelece o modelo da banca universal. Isto de acordo com o artigo 14º
da lei bancária e artigo 4º alíneas a), b) e c).
Por outro lado, ainda de acordo com o artigo 14º/1/d), tem que ter um capital social
não inferior ao mínimo legal e representado por ações nominativas. Portanto, é outro
dos requisitos. Porque é que tem que ser representado por ações nominativas e não
pode ser representado também por ações ao portador? Já pode, no passado. Porque é
que, diferentemente de outras sociedades anónimas, aqui o capital social não pode ser
representado também por ações ao portador? Para facilitar o controlo dos acionistas,
não é permitido que o capital seja representado por ações ao portador. Tem que ter
um capital social não inferior ao mínimo legal, e a ratio legis desta norma é evidente: é
garantir que desde a sua constituição, desde a origem, as instituições de crédito
tenham liquidez. Tenham liquidez e tenha solidez financeira, para que com viabilidade
iniciarem o exercício da sua atividade e, portanto, assegurarem à sua clientela um nível
de segurança satisfatório. Para que também não ponham em risco a segurança do
sistema financeiro. A violação deste requisito constituiu um ilícito de mera ordenação
social punível com coima.
Depois temos requisitos quanto à administração. Nos termos do artigo 15º, o órgão de
administração das instituições de crédito deve ser constituído por um mínimo de três
membros com poderes de orientação efetiva da atividade da instituição. A gestão
corrente da instituição deverá ser confiada a pelo menos dois dos membros do órgão
de administração. Estas pessoas teem que cumprir aqueles requisitos de que falei, os
requisitos da adequação, dos artigos 30º e seguintes. Teem que dar garantias,
91
Aqui vai ser tida em conta a sua experiencia profissional, vão ser tidos em conta
aspetos, como por exemplo, aqueles que revelem alguma incapacidade da parte
destas pessoas para decidir de forma ponderada e de forma criteriosa, aspetos que
revelem alguma incapacidade para cumprir pontualmente as suas obrigações, vai
haver aqui um escrutínio de determinadas dimensões da sua vida, determinadas
dimensões da sua atividade profissional e até da sua personalidade. Tem que haver
aqui alguma preservação da confiança do mercado, nos termos dos artigos 30º e
seguintes. Esse rigor aumentou após a reforma de outubro de 2014.
Por outro lado, nos termos do artigo 14º/1/e), as instituições de crédito, com sede em
Portugal, deve ter a sede principal e efetiva da administração situada em Portugal. É
outro requisito que a lei aqui estabelece. A sede efetiva em Portugal. A exigência de
que a administração central de uma instituição de crédito se situe no estado da
respetiva sede estatutária. É o que está aqui em jogo, que a sede que a administração
central se situe no estado da respetiva sede estatutária. É esse o pressuposto que está
subjacente ou prevista na alínea e), do nº1, do artigo 14º.
Por outro lado, está também em jogo a consideração da idoneidade dos grandes
acionistas, portanto, dos detentores de participações qualificadas. Naturalmente que a
credibilidade de uma instituição de crédito repousa ainda na idoneidade dos grandes
acionistas, nos acionistas de referência, dos acionistas detentores de participações
qualificadas. Há também que apreciar a idoneidade desses grandes acionistas.
Por outro lado, há que ter em conta a estrutura do grupo. Apreciar a estrutura do
grupo a que pertence a instituição de crédito. O Banco de Portugal vai ter que ter em
conta também a estrutura do grupo em que se integra a instituição de crédito a
constituir. Para quê? Para verificar se essa estrutura em que se vai integrar essa
instituição de crédito permite ou dificulta um exercício da supervisão por parte do
Banco de Portugal. Há também que ter em conta essa estrutura de grupo.
Por outro lado, está também em jogo o programa de atividades. O Banco de Portugal
vai apreciar igualmente o plano de atividades. O plano de atividades é um dos
elementos que deve ser junto ao pedido de autorização, nos termos do artigo 17º da
lei bancária. É necessário que se junte esse programa de atividades. O Banco de
Portugal vai ter em conta se a instituição dispõe ou não dos meios técnicos e dos
recursos financeiros suficientes para a prossecução das operações que pretende
realizar. Se chegar à conclusão que não dispõe dos meios técnicos nem dos recursos
financeiros idóneos para o desenvolvimento das atividades ou das operações que se
propõe recusa a respetiva autorização.
92
Por outro lado, é necessário que a autorização não seja revogada, nos termos do artigo
22º da lei bancária. A autorização pode ser revogada se: 1) tiver ser obtido por meio de
falsas declarações ou outros expedientes; 2) se deixar de se verificar algum dos
requisitos estabelecidos no artigo 14º; 3) se a atividade da instituição de crédito não
corresponder ao objeto; etc.. É necessário que não seja revogada a autorização, é uma
93
De que é que se fala tanto quando se fala destes desastres como o BPN, o BPP, o BES?
Segurança dos depositantes, segurança do sistema bancário.
Nós temos aqui que o cumprimento permanente das condições de acesso ao exercício
da atividade bancária é necessário mas não é suficiente para garantir o êxito ou o
sucesso contínuo da respetiva atividade.
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Também aqui não se entendeu bem de onde surgiu esta afirmação. Os alunos estavam
a falar, não se percebia o que diziam, e a professora disse isto.
Muitas vezes a lei e a doutrina utilizam como sinónimos estes termos, regulação e
supervisão prudenciais. O termo regulação é utilizado em sentido amplo, abrangendo
a supervisão. Todavia, em termos teóricos, seja rigorosa separar a regulação da
supervisão. A emanação de normas em si mesmas da própria supervisão, do controlo
da observância dessas mesmas normas. Na prática, usam-se indistintamente os dois
termos como sinónimos, a supervisão e a regulação prudenciais. A própria lei utiliza os
dois termos como sinónimos, até porque, muitas vezes, a lei bancária não é feita por
juristas.
95
Mas não falando agora nisso, a supervisão compete ao Banco de Portugal. Estas
instituições devem observar as regras prudenciais. A observância destas regras visam
controlar os riscos inerentes ao exercício da atividade bancária. Por outro lado, como
se viu, tem-se em vista garantir a solvabilidade e a solidez financeira destas instituições
e, portanto, manter a estabilidade e manter a confiança nessa estabilidade no sistema
financeiro. Por outro lado, tem-se também em vista proteger os utilizadores, ou seja,
os depositantes, os investidores, protegê-los contra perdas resultantes de uma má
gestão, de uma gestão que não seja sã e prudente, protege-los contra fraudes,
protege-los contra insolvências de fornecedores de serviços financeiros. Tem que se
proteger os utilizadores do sistema bancário e do sistema financeiro.
Outro princípio muito importante no controlo dos riscos de uma instituição, consiste
na imposição de limites à concentração das posições credoras assumidas perante um
cliente ou grupo de clientes, grupo de clientes ligados entre si. Portanto, também é
outro princípio muito importante em sede prudencial.
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Existem ainda outras regras prudenciais. Por exemplo, as instituições de crédito podem
deter imóveis que sejam indispensáveis à sua instalação mas é-lhes limitado o
exercício de atividades não financeiras.
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Portanto, a supervisão, como vimos, tem por objetivo último a estabilidade financeira
das instituições e a segurança dos fundos que foram confiados a essas instituições.
Essa atividade de supervisão sendo, sobretudo, preventiva, daí a designação de
supervisão prudencial, sendo sobretudo preventiva, não substitui a gestão competente
dessas mesmas instituições e também não substitui o controlo interno, eficaz, das
instituições de crédito e sociedades financeiras. E não substitui também o papel
desempenhado pelos auditores, que é um papel fundamental, auditores internos e
auditores externos dessas instituições.
Como vimos a lei a prevê regras de acesso à atividade bancária e com essas regras
pretende evitar-se que atuem no mercado bancário entidades de reputação duvidosa
que ponham em risco a estabilidade do mercado bancário por não terem solidez
financeira suficiente para o exercício da respetiva atividade.
Já vimos quais são essas regras de acesso, os requisitos essenciais para que se conceda
autorização ao exercício da atividade bancária e, uma vez conseguida autorização para
o exercício, o Banco de Portugal acompanha sistematicamente e continuadamente a
atividade dessas atividades. Velando pela observância das regras prudenciais e
adotando todo um conjunto de procedimento de supervisão. Adota ações de inspeção
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às diversas instituições de crédito, sociedades financeiras, etc., pode adotar esse tipo
de procedimento, ações de inspeção. Como vimos também, analisa todos os reportes
que lhe são feitos numa base regular. Para além de outros procedimentos que possa
adotar.
Temos aqui todo um conjunto de regras prudenciais que é necessário observar para
que se respeite a estabilidade do sistema financeiro. 4
Temos várias faculdades, vários poderes que o Banco de Portugal tem. Desde logo
pode revogar a própria autorização que concedeu à instituição de crédito
supervisionada.
Como é que é composto este MUS? É composto pelo Banco Central Europeu (BCE) e
pelas autoridades nacionais competentes dos estados-membros da área euro, da zona
do euro. Entre nós, é o Banco de Portugal.
Este MUS é considerado o primeiro passo para a criação de uma união bancária. É
considerado também uma etapa fundamental na concretização de uma verdadeira e
própria união económica e monetária na europa.
A prazo, a união bancária vai assentar em três pilares que são complementares:
Estes serão os três pilares da união bancária. Para já temos o primeiro apenas.
Fez-se uma pausa porque uma colega fez uma questão, a qual não ouvi. Contudo, a
resposta da professora foi a seguinte: “Não há supervisores no Banco de Portugal.”.
99
Este MUS é composto pelo BCE e pelas autoridades nacionais competentes dos
estados-membros da área europa. Já vimos que podem participar aqui também outros
estados-membros.
A união bancária vai ter esses três pilares a médio ou longo prazo.
É preciso ter em conta que este mecanismo único de resolução ainda não existe. Mas
para já temos um mecanismo único de resolução nacional que é relativamente
recente. Reparem que ele não existe desde outubro de 2014, ele já tinha sido imposto
pela Troika, pelo memorando da Troika. Ele resulta da diretiva mas já resultava de uma
imposição da troika.
Este mecanismo único de resolução dos bancos, tal como foi adotada a propósito do
BES, vai permitir a resolução das instituições sem afetar a estabilidade sistémica e a
situação financeira dos países onde essas instituições atuam.
Ora, nós também sabemos que vigora o princípio da competência dos estadomembros
de origem e o princípio do reconhecimento mútuo.
100
Vamos ver na próxima aula em que é que consiste essa supervisão em sentido amplo.
A supervisão comportamental e a supervisão prudencial.
101
102
Temos aqui o exercício da supervisão pelo Banco Central, uma supervisão em sentido
amplo, no sentido de que o Banco de Portugal acompanha a atividade desenvolvida
pelas entidades supervisionadas. Vai controlar, vigiar o cumprimento, por parte de
todas estas entidades, das obrigações a que estas entidades se encontram vinculadas,
dos constrangimentos a que se encontram adstritas, que lhes são impostas por
normas, legais, regulamentares ou de outra natureza (designadamente administrativa)
e que estas entidades terão de observar, designadamente no que toca às normas
prudenciais.
O que se visa com isto? Naturalmente que se visa, com o exercício desta supervisão,
assegurar o equilíbrio financeiro, com níveis adequados de liquidez e solvabilidades
dessas entidades. Mas esta supervisão, como vimos, não esgota as competências de
supervisão atribuídas ao Banco de Portugal. A supervisão prudencial é a fatia mais
importante desta competência conferida ao Banco Central, da supervisão em sentido
amplo que a lei atribui ao banco de Portugal, mas não é a única; temos também a
supervisão comportamental, que compete ao Banco de Portugal.
Temos uma atuação pública; Muitas vezes, usa-se indistintamente os termos regulação
e supervisão (regulação e supervisão prudencial e regulação ou supervisão
comportamental), tanto em temos de doutrina como de jurisprudência muitas vezes
não se estabelece a distinção entre regulação e supervisão, usam-se os termos
indistintamente, se consultarem vários trabalhos doutrinais de direito bancário
confrontam-se com esta utilização indistinta dos dosi termos: regulação e supervisão.
Temos aqui efetivamente uma atuação pública, agora no que toca à supervisão
comportamental, uma atuação publica de regulação e uma atuação publica de
supervisão da atuação das instituições nos mercados financeiros a retalho. Esta
atuação publica designa-se precisamente por supervisão comportamental; está
consagrada no Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedade Financeiras.
103
Isto quer dizer que se visa com isto assegurar a transparência da informação; estamos
no âmbito da regulação e supervisão comportamental. Transparência da informação
tanto na fase pré-contratual, como contratual. Falamos fundamentalmente das
relações que se encetam entre estas entidades e os seus clientes, entre um banco e os
particulares. Trata-se de assegurar a transparência da informação na fase pré-
contratual e contratual, destas entidades e dos seus clientes -isto diz respeito
sobretudo ao domínio da publicidade, mas também se visa assegurar a equidade das
transações celebradas pelas partes; também está em jogo a equidade das transações
de produtos e instrumentos financeiros que estas entidades prestem aos respetivos
clientes. Consagra-se neste âmbito o direito dos clientes reclamarem diretamente para
o Banco de Portugal. Os clientes podem apresentar diretamente uma reclamação ao
Banco de Portugal por falta de transparência na informação ou por falta de equidade
nas transações de produtos e serviços financeiros.
104
Quanto à tutela dos depositantes e dos investidores não institucionais, a tutela dos
consumidores de serviços financeiros:
Isto quer dizer que a pedra angular do sistema bancário reside nos aforradores que
depositam as suas economias, as suas poupanças, nos bancos/ instituições de crédito.
Esta é a pedra-de-toque, o “canto de cisne” de qualquer sistema bancário: os
aforradores que depositam as suas economias nos bancos. Naturalmente que sem
estes depósitos não seria possível aos bancos desenvolverem a sua atividade
fundamental: a concessão de crédito. É precisamente com base nesta captação de
poupanças que os bancos, por conta própria, concedem crédito a quem desse crédito
necessita.
Temos aqui uma pessoa coletiva de direito público, que tem autonomia administrativa
e financeira, encontrando-se sediada no banco de Portugal.
105
Nem todos os depósitos são reembolsáveis por estes fundo de garantia de depósitos
- Os depósitos que sejam captados em Portugal, ou então que sejam captados por
sucursais de Bancos Portugueses noutros estados, que são garantidos por depositante
e não por conta - A garantia tem por referência o depositante e não a conta.
Pergunta de colega: Uma situação em que eu tenha, por exemplo, 10 000 euros no
BPI, 10 000 euros na Caixa Geral de Depósitos, 10 000 euros no Millenium BCP, se
houver uma situação de risco sistémico, este fundo garante-me o que eu tenho em
cada banco?
O Fundo de Garantia de Depósitos naturalmente vai ficar sub-rogado nos direitos dos
depositantes, por exemplo reembolsa um depositante no tal de 100 000 euros e fica
sub-rogado no direito desse depositante; no âmbito do processo de liquidação da
instituição de crédito, o fundo de garantia de depósitos fica sub-rogado no direito dos
depositantes, precisamente na medida do reembolso do depositante que tenha
efetuado. Se o reembolsou no montante de 100 000 euros no caso BPP, o FGD, no
106
Também se financia através dos rendimentos de aplicações dos recursos, pode fazer
aplicações financeiras dos meios que dispõe, e os rendimentos são, naturalmente, um
meio de financiamento do Fundo de Garantia de Depósitos.
Também se financia através de liberalidades que eventualmente lhe sejam feitas, bem
como com o produto das coimas aplicadas às instituições de crédito pelo Banco de
Portugal, que revertem em grande parte para o Fundo de Garantia de Depósitos. É
outra forma de financiamento deste fundo.
Sabemos que tudo isto tende a evoluir, uma vez que um dos pilares da união bancária
é, precisamente, a constituição de um fundo de garantia de depósitos à escala
europeia – está para breve a constituição de um fundo desta natureza.
107
imediatas, nos termos da sua Lei Orgânica. Aqui não está em causa a atribuição ao
Fundo de Garantia de competências em sede de resolução de crises sistémicas, o
fundo não tem essa competência; atribui-se apenas a possibilidade de ser financiado
junto do Banco de Portugal, em vista da resolução de problemas individuais, que são
potencialmente geradores de instabilidade sistémica –têm in germen essa
possibilidade de garra crises sistémicas. Mas o que se visa com este mecanismo de
financiamento direto junto do Banco de Portugal é resolver problemas individuais,
embora tenham potencialidade de dar origem a crises sistémicas.
Temos depois o Fundo de Garantia do Crédito Agrícola Mútuo; quando falamos das
caixas de crédito agrícola mutuo, referi a possibilidade que está em cima da mesa (e
com certeza, se vai realizar) de toda a reforma destes sistema do crédito agrícola
mutuo, que abrange naturalmente o fundo de garantia do crédito agrícola mutuo.
Este, em termos grosseiros, provavelmente vai fundir-se comos Fundos de Garantia de
Depósitos.
Temos uma garantia dos depósitos captados pelas caixas do sistema integrado de
crédito agrícola mútuo. Temos aqui um instrumento de garantia dos depositantes em
caso de insolvência de uma dessas caixas de crédito agrícola mútuo, que pertençam ao
tal sistema integrado. É um mecanismo de apoio as caixas com dificuldades
financeiras.
É também uma pessoa coletiva de direito Público, que se encontra sediada no Banco
de Portugal. Os seus recursos financeiros do Fundo de Garantia de Crédito Agrícola
Mútuo provém de participações iniciais, periódicas e especiais das entidades que
participam no Fundo. Provém também de empréstimos que se possam contrair, de
rendimentos de aplicações financeiros que o Fundo faça, de liberalidades que possam
ser feitas ao Fundo e de coimas que sejam aplicadas às caixas de crédito agrícola
mutuo.
Temos aqui um aspeto tradicional de assistência que é desempenhada por este Fundo,
em situação de crise de um dos seus participantes- de uma caixa de crédito agrícola
mútuo que seja integrada no Fundo de Garantia do Crédito Agrícola Mútuo. Para o
restabelecimento da sua situação patrimonial da Caixa de crédito agrícola, quando se
considere que esteja em perigo o seu funcionamento normal ou solvabilidade, o fundo
poderá conceder a essa mesma caixa subsídio ou empréstimos, tendo essa faculdade
no desenvolvimento tradicional da função de assistência. Este fundo pode ainda
prestar a essas caixas garantias a favor dessas mesmas caixas, adquirir-lhes créditos ou
outros valores que integrem os respetivos ativos – competências acabam por se
afastar um bocado das atribuídas aos Fundos de Garantia de Depósitos.
108
Já sabemos que entro nós vigora o sistema da Banca Universal, de acordo com o artigo
4º da Lei Bancária, determinando que os bancos podem prestar serviços de
investimento sobre valores mobiliários e outros instrumentos financeiros aos seus
clientes. Já vimos, quando estudamos o fenómeno da banca universal, que se
desvaneceu a separação entre investment banking (bancos de investimento) e
comercial banking (bancos comerciais);
Isto quer dizer que a insolvabilidade ou liquidação de um banco põe em causa não
apenas os depositantes, mas também os investidores que recorrem a essa instituição
na qualidade de intermediário financeiro, de prestador de serviços financeiros. Assim,
paralelamente à proteção conferida pelo Fundo de Garantia de Depósitos aos
depositantes, existe também a proteção dos pequenos investidores não
institucionais/qualificados que investem as suas poupanças no mercado de capitais,
quando estes não possam ver satisfeitos os seus direitos em virtude da situação em
que se encontra a instituição de crédito que lhe prestou os serviços. Esta tutela
justifica-se também em nome da confiança que é importante preservar no mercado
financeiro.
Ao lado desta proteção direta do pequeno investidor, temos uma proteção indireta
que resulta da supervisão e regulação do mercado de valores mobiliários; esta
regulação e supervisão dos mercados tem sobretudo em vista a transparência e
eficiência do mercado de capitais, tutelando indiretamente os investidores, impondo a
livre formação de preços e igualdade de oportunidades dos investidores, mediante,
precisamente, a proibição de informação privilegiada. Esta regulação e supervisão do
mercado de capitais tem em vista ainda a difusão da informação sobre os valores
mobiliários oferecidos nos mercados de capitais.
109
depósitos, uma vez que tem âmbitos de aplicação subjetiva e objetiva diferentes: o
mesmo crédito não pode ser objeto de uma dupla tutela/dupla indemnização, não
pode ser duplamente coberto (tanto pelo fundo de depósitos, como pelo sistema de
indemnização aos investidores) – ou cai na competência de um fundo ou de outro, mas
não na competência de ambos os sistemas de tutela.
Esta foi uma questão que se suscitou com muita acuidade no colapso do BPP, a de
saber se determinados contratos, celebrados entre o BPP e os seus clientes, eram
qualificados como contratos de depósito ou antes como contratos de gestão de
carteira; na prática, a distinção nem sempre é fácil porque os contratos podem ter
uma aparência formal e corresponder, materialmente, a outro tipo contratual.
Uma das primeiras coisas a fazer era a qualificação destes contratos, saber se o BPP
tinha celebrado com os seus clientes contratos de depósito ou contratos de gestão de
carteira. A qualificação destes contratos é um dos primeiros passos, para se saber a
que sistema recorrer (Fundo de Garantia de Depósitos ou Sistema de Indemnização
dos Investidores). Esta qualificação importa não só devido a este problema, mas
também porque o regime não é o mesmo nos dois contratos, por exemplo, no que
toca ao regime da distribuição do risco contratual.
110
Ora, a crise financeira que se desencadeou o Verão de 2007 (crise do subprime) veio
confirmar a existência de deficiências sérias no sistema europeu de supervisão
financeira; essas deficiências manifestaram-se tanto a nível nacional, no que toca à
111
supervisão efetuada pelas autoridades nacionais, que são por via de regra os bancos
centrais, mas também a nível europeu. Tornou-se claríssima uma falta de cooperação
e coordenação entre as diversas autoridades competentes para o exercício da
supervisão. Havia, efetivamente, uma falta de capacidade das estruturas de supervisão
nacionais para acompanhar a globalização progressiva dos mercados financeiros; esse
processo de globalização é naturalmente potenciador de risco de contágio ou risco
sistémicos, que foi o que se verificou com a crise do subprime em 2007. Tornou-se,
assim claro, que a cooperação e comunicação das informações entre as diversas
autoridades era extraordinariamente lacunosa. Contribuía para estas deficiências a
disparidade que se verificava ao nível da interpretação das normas, o que dificultava a
integração.
Temos aqui, a criação do objetivo de assegurar uma aplicação adequada das regras
respeitantes ao sector, em vista da preservação da estabilidade e confiança no sistema
financeiro, de modo a proteger os consumidores de produtos e serviços financeiros.
A autoridade bancária europeia é uma autoridade que foi constituída com o objetivo
de proteger o interesse público de contribuir para a estabilidade e eficiência do
sistema financeira, quer a curto, médio ou longo prazo, em benefício da economia da
EU, das empresas e cidadão da EU.
Importa aqui o acordo de Basileia III, de que muito se tem falado, porque o quadro que
resultou deste acordo foi integrado na reforma da Lei Bancária, de Outubro de 2014.
Desenvolveu um programa de reforma, que abordou as lições da crise e promoveu um
esforço de solvência dos bancos e de estabilidade do sistema bancário internacional.
Teve-se em vista, em termos amplos, o reforço dos requisitos mínimos de capital para
os bancos, com o Acordo de Basileia III, e os padrões mínimos internacionais de
liquidez.
112
Quais as funções do Banco de Portugal? Tem de registar o novo valor do Capital Social,
não estando prevista qualquer possibilidade de o Banco de Portugal poder recusar um
aumento de capital, o que iria contra a função de autoridade responsável pela
supervisão prudencial das instituições de crédito. Se as circunstâncias o permitirem, o
que nem sempre acontece (temos um exemplo recente em que tal não terá sido
possível) esta é a melhor solução para resolver um problema de insuficiência de fundos
próprios de uma instituição de crédito, porque mantém a instituição de crédito em
funcionamento, sem qualquer constrangimento dessa instituição de crédito e sem
recurso ao investimento público. Aparentemente, é a melhor solução.
Quem são as pessoas afetadas pela solução da capitalização com recurso a fundos
privados? Há uma diluição das participações sociais de todos os accionistas (decorre
naturalmente do aumento do capital social)
113
114
Qual a extensão das medidas? Depende de decisão do Banco de Portugal, sendo certo
que a diferença entre ativos e passivos da instituição de crédito devera ser
compensada pelo fundo de resolução, fundo de garantia de depósitos e de garantia do
crédito mutuo.
Isto quer dizer que quanto menor a extensão das perdas imputadas aos accionistas e
credores da instituição objeto da resolução, maior será a medida do apoio financeiro
concedido pelo fundo de resolução.
Temos aqui um reforço dos fundos próprios de uma instituição de crédito através de
operações de capitalização com recurso a esse investimento público. Isto pode ser
feito através de aquisição de ações próprias que sejam detidas pela instituição de
crédito, pelo amento do CS da instituição de crédito (emissão de ações especiais), e
pela aquisição de outros instrumentos que sejam elegíveis para os fundos próprios da
instituição de crédito. Estas operações podem ser da iniciativa da instituição de crédito
ou por Proposta do Banco de Portugal ao membro do governo responsável pelas
finanças.
Por outro lado, a injeção de fundos do Estado numa instituição de crédito depende de
uma aprovação por parte da Comissão Europeia (aprovação do plano de
reestruturação do banco)
Medida que só pode ser aplicada a instituições de crédito que possam demonstrar a
sua viabilidade a longo prazo.
115
5 – Nacionalização
Os custos inerentes a esta medida, bem como perdas atuais ou futuras a que a
instituição seja exposta, são suportados na totalidade pelo erário público
(contribuintes); a gestão da instituição compete, naturalmente, ao Estado.
116
Então o Banco de Portugal não pode ordenar que sejam feitos testes de stress aos
bancos nacionais?
O Banco de Portugal pode fazê-lo, tem competência para o fazer. O que está é
conformado pelas normas que ditam a elaboração desses testes, os objetivos desses
testes; mas tem competência para o fazer.
Eu usei o termo diretrizes, mas não no termo de Diretiva Comunitária, não há
nenhuma Diretiva comunitária quanto aos testes de stress; trata-se de decisões
tomadas a nível do sistema europeu de bancos centrais não tem nada a ver com
Diretivas Comunitárias.
117
Naturalmente que este mecanismo único de supervisão (em vigor entre nós desde
Novembro de 2014) é o primeiro passo fundamental para a criação de uma verdadeira
união bancária. Mais tarde, está prevista também a criação de um mecanismo único de
resolução e de um sistema comum de garantia de depósitos – estes são os três pilares
da União Bancária.
118
proteção, apesar de ser uma norma que não é uma lei formal; desde logo, não é
emanada por um órgão estadual.
O que é necessário para que uma norma seja qualificável como norma de proteção?
Gostava que vissem se concordam ou não com a posição do professor Menezes
Cordeiro a esta propósito, que está no manual.
Em primeiro legal, quais são os requisitos para que uma norma seja suscetível de ser
qualificável como norma de proteção? A norma em causa, que tipo de interesses deve
tutelar?
Estamos, no fundo, numa parte do Direito Bancário que vai ser fundamentalmente de
Direito Privado. Terminamos essencialmente uma parte de Direito Público, e
começamos agora o Direito Bancário Material, o direito das atividades bancárias, dos
atos bancários, é isso que está em jogo: operações bancárias de natureza contratual.
Releva aqui o princípio da autonomia privada. Em que se traduz o princípio da
autonomia privada?
Livre conformação das relações jurídicas pelos particulares, de acordo com a sua
vontade; o princípio da liberdade contratual é um dos desenvolvimentos da autonomia
privada. Esta autonomia privada também pode ser cumprida a partir do direito
subjetivo, fora da liberdade contratual. A que mais nos interessa agora é a do 405º CC,
a liberdade contratual, para efeito do Direito Bancário.
119
Temos, a propósito dos grandes temas do direito bancário material, um grande recurso
às cláusulas contratuais gerais. Os contratos por adesão assumem uma importância
assinalável; permitem ao banco uma redução de custos e, por outro lado, uma maior
segurança jurídica. Temos assim uma grande massificação dos negócios bancários.
Importância dos usos e costume no direito bancário material – juros podem ser
juridicizados por uma de 3 vias: através do exercício da autonomia privada, através da
lei, ou através da convicção de obrigatoriedade; a autonomia privada juridifica os usos
quando remete para eles – os usos não valem enquanto meros usos, mas valem em
virtude da positividade jurídica que lhes e insuflada pela vontade das partes (através
do exercício da sua autonomia privada). Materialmente, os usos consubstanciam
verdadeiras cláusulas contratuais.
Os usos podem também valer como fonte mediata, quando a lei para eles remete, nos
termos art. 3º do CC; quando acompanhados pela convicção de obrigatoriedade,
adquirem positividade jurídica – Direito consuetudinário
Constituem operações bancarias ativas aquelas em que a banca assume uma posição
credora, aquelas em que concede crédito. Tendo em conta a atividade tradicional da
banca (intermediação creditícia), a banca recebe dinheiro do público em operações
passivas (assume posição devedora) e oferece dinheiro ao público em posições ativas
(assume posição credora).
Há quem refira uma terceira categoria de operações bancarias, que não seriam nem
ativas nem passivas, mas operações neutras -não implicam concessão de crédito por
nenhuma das partes.
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Temos aqui esta adstrição, uma adstrição geral à conta, das remessas
pecuniárias entre o banco e o seu cliente que se inscrevem como artigos de deve e
haver no tal quadro. Isto vem traduzir-se na afetação de determinados créditos à
satisfação de débitos de cada uma das partes. Temos aqui um afetação recíproca, e
isto não afeta minimamente a validade ou a eficácia das operações subjacentes à
conta corrente - dos vários contratos celebrados entre as partes, as várias operações
que vão sendo praticadas, e que vão sendo inscritas em conta corrente. Isto quer dizer
que não há qualquer novação com a inscrição destes créditos e débitos em conta
corrente. Não há qualquer novação dessas relações jurídicas subjacentes ao contrato
de conta corrente, ou seja, a conta corrente é algo que acresce a essas relações
jurídicas. Algo que não substitui as relações subjacentes, que não se substitui às
relações substanciais, mas algo que lhes acresce e, portanto, algo que se considera
representar uma grande mais-valia para ambas as partes.
Portanto, a compensação é efetivamente um mecanismo muitíssimo
importante. A compensação, tal como nós a conhecemos dos artigos supracitados.
Como sabem, tem como efeito a extinção dos créditos ou dos débitos a favor,
precisamente, da parte em cujo favor são inscritos os créditos (perante a outra parte):
nos moldes do art.º 847/1 do CC. Mas aqui a compensação opera automaticamente,
diferentemente do que se passa com a compensação tal como nós a conhecemos, aqui
não é necessária uma declaração de compensação. Aqui esta compensação, no âmbito
da conta corrente, atua automaticamente. Não há qualquer declaração de qualquer
compensante à sua contraparte. É uma compensação automática, continuada,
sucessiva, corrente. Naturalmente que isto é permitido e potenciado pelo
desenvolvimento da informática e da tecnologia. Há aqui uma informatização de toda
a contabilidade que permite também o funcionamento dessa compensação
continuada.
Em função do saldo disponível, que se revele a final do termo de cada período
da conta corrente, determina-se a faculdade de reembolso do cliente bancário. Aqui a
determinação de um saldo final, no âmbito do contrato de conta corrente, produz, de
acordo com a doutrina dominante, uma verdadeira novação. Uma verdadeira novação
de acordo com a doutrina maioritária nesta matéria. Ou seja, o saldo (ou crédito único)
que venha a ser fixado no termo convencionado para a conta corrente vai substituir-se
por novação ao saldo apurado em resultado da compensação. Aqui a doutrina
considera que há novação.
Em geral, é assumida atualmente a autonomia do contrato de conta corrente
bancária. A conta corrente surgiu como acessória, como um mecanismo acessório do
depósito bancário. Depois evoluiu para uma figura contratual autónoma que cobre
praticamente todas as operações bancárias, todos os contratos bancários de execução
continuada.
Há quem considere que o contrato de conta corrente bancária é um contrato
sui generis. Quer dizer, nem é bem um mecanismo acessório do depósito bancário
123
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Há quem considere, também, que se trata de uma coligação funcional - que não
é propriamente um contrato misto que está em jogo, mas sim uma união intrínseca de
contratos. Portanto, uma coligação de contratos. Embora esta posição seja minoritária,
efetivamente, no âmbito da conta corrente, nós não podemos descortinar ou
identificar contratos formalmente autónomos. O que temos é a fusão de elementos
típicos de diferentes contratos num único contrato. Não temos diferentes contratos
formalmente autónomos, mas com uma relação de dependência unilateral ou bilateral
entre eles. Essa posição da coligação é hoje uma posição minoritária.
Considera-se, tendencialmente, que se trata aqui de um contrato misto com
uma causa única. Isto funda-se, aliás, no princípio da liberdade contratual. Funda-se na
própria vontade das partes, dos contraentes, que não querem a celebração de
negócios jurídicos isolados, querem um acordo negocial único/unitário, em que haja
uma conexão objetiva entre as várias prestações que resultam da conjugação dos
elementos típicos de diferente contratos.
Quando qualquer cliente bancário inicia ou enceta uma relação bancária, o
primeiro ato que pratica, ou o primeiro contrato que celebra com o Banco é
precisamente o contrato de conta corrente. Este é o primeiro ato bancário que se
pratica quando se inicia uma relação bancária. É uma matriz, uma matriz que tanto o
banco como o cliente pretendem ter como base de todas as operações que vão
realizar, a matriz onde vão confluir todas as relações jurídicas que entre si vão
estabelecer. Temos aqui um contexto único (que é o da conta corrente), um contexto
elástico que varia segundo a evolução natural do relacionamento que se venha a
estabelecer entre as partes. Naturalmente que o contexto, o conteúdo da conta
corrente varia em conformidade com o número e tipo de operações que venham a ser
prestados, a ser celebrados pelas partes.
Ora, nós temos aqui uma relação de confiança. Tudo isto assenta numa relação
de confiança entre o banco e o seu cliente. Associada, como disse, desde a origem, a
conta corrente ao depósito bancário - hoje com reconhecimento de autonomia
dogmática perante as operações subjacentes.
125
A própria lei, de alguma forma, regula com maior ou menos pormenor estas
várias formas de depósito. Desde logo o aluguer de cofres juntamente com a guarda
de valores é uma operação que está especificamente prevista na Lei Bancária. É uma
operação própria das IC e que se encontra prevista nos art.º 4º da Lei Bancária (na tal
norma que consagra o Modelo da Banca Universal). Aqui o depósito em cofre forte é
uma operação que se encontra expressamente prevista neste artigo da lei bancária
(LB).
Também as contas de depósito que são abertas no âmbito do mercado de
capitais, no âmbito do mercado de valores mobiliários por intermediários financeiros
(que podem não ser bancos; mas os bancos são-no - ao abrigo do CVM, a
intermediação é obrigatória, salvo raríssimas exceções, e os bancos são um dos tipos
de intermediários financeiros). A intermediação financeira, como já vimos, visa
essencialmente corrigir as assimetrias de informação que existem no mercado, as
deficiências inerentes ao próprio mercado. O mercado não se autocorrige, é necessária
uma intermediação forçosa/obrigatória. A figura do intermediário financeiro surge,
precisamente, para a retificação dessa assimetria no mercado de capitais e portanto
arca com deveres de informação para com os seus clientes. Celebra com os seus
clientes contratos de intermediação financeira, contratos que os obrigam a deveres de
informação, diligência, lealdade, etc, perante os clientes. Deveres estes que se
encontram previstos no CVM e que integram o conteúdo obrigatório de um contrato
de gestão de carteiras (de um contrato de intermediação financeira). Isto é muito
importante porque no caso de incumprimento haverá uma responsabilidade
contratual, porque se trata de deveres de prestar (e não de deveres laterais de
conduta). Estes deveres de informação a cargo dos intermediários financeiros, que se
encontram legalmente previstos, porque integram obrigatoriamente o conteúdo do
contrato, nos termos do CVM, consubstanciam verdadeiros deveres de prestas. O seu
incumprimento origina responsabilidade contratual perante o cliente.
Aqui, estas contas de depósito têm características especiais. Têm características
diferenciadas. Desde logo, a da segregação patrimonial. Tem de haver uma fortíssima
segregação patrimonial. Por seu turno, a guarda, a administração e a gestão de valores
mobiliários são previsto pelo legislador também como atividade bancária no artigo 4.º
da LB. Há aqui, de facto, uma atividade profissionalmente exercida pela Banca. Não é
uma atividade exclusiva dos bancos, mas é uma atividade que os bancos também
desenvolvem ao lado de outras instituições (designadamente, empresas de
investimento). Temos aqui outro tipo de depósito.
126
depósito em cofre forte. Alguém que pretende guardar documentos ou joias e que se
dirige a um banco para salvaguardar a integridade desses objetos no cofre forte dessa
instituição.
A qualificação deste contrato como um contrato de depósito é muito discutível.
Porquê? Desde logo, porque o banco pode não saber ( e nem tem por que saber) quais
são os objetos que o cliente deposita no cofre forte. O cofre até pode estar vazio. O
banco não tem por que conhecer os objetos que são efetivamente guardados no cofre
que alberga. Há quem fale, a este propósito, de um contrato de aluguer. Um contrato
de aluguer que se celebra entre o o banco e o respetivo cliente. Mas mais rigoroso será
falar de um contrato de locação porque a qualificação como aluguer ou arrendamento
depende da tipologia do cofre. Se é considerado móvel ou imóvel - há diversos tipos
de cofre e serão qualificáveis como móveis em inúmeras circunstâncias e qualificados
como imóveis noutras circunstâncias. Portanto, há quem fale na celebração num
contrato de locação.
Todavia, o acesso ao cofre pressupõe a colaboração ou a cooperação do banco.
O cliente não pode pura e simplesmente entrar no banco e dirigir-se, sem mais, ao
cofre que pretensamente locou, que tomou em locação. Precisa da colaboração do
banco para ter acesso ao cofre. Há um condicionamento no acesso ao cofre porque o
cliente precisa dessa cooperação por parte do banco. Há um condicionamento e um
controlo por parte do banco. Um controlo à utilização do espaço que é dado em
locação.
Por outro lado, sobre o locador, incidem outras obrigações. Quais são as outras
obrigações que impendem sobre o banco num contrato desta natureza? Um dever de
vigilância, de segurança. São obrigações que recaem sobre o banco. Poderá falar-se
aqui de um contrato de um contrato misto. Talvez um contrato misto de locação e de
depósito. Mas não só, como vamos ver. Muitas vezes o cofre apenas pode ser aberto,
aliás na esmagadora maioria dos casos, o cofre de um banco apenas pode ser aberto
com duas chaves. Uma chave que o próprio cliente tem e outra chave que está na
posse da instituição de crédito. Apenas as duas chaves, em conjunto, permitem o
acesso ao banco. Isto também significa que, de alguma forma, a IC vai responder
perante o seu cliente pela própria integridade do cofre. E responde por essa
integridade e pela vigilância do local. Não responde é pelo conteúdo do cofre -
depende, naturalmente, do que as partes tenham concretamente acordado, mas, por
via de regra, o banco não responde pelo conteúdo do cofre. Poderá ser
responsabilizado pela integridade e pela segurança, mas nunca pelo conteúdo do cofre
(as joias, os documentos, os valores, etc, que se inseriram no interior do cofre).
Temos indiscutivelmente uma combinação de elementos da locação com
elementos do depósito, mas há também uma prestação de serviço. Aos elementos da
locação e aos elementos do depósito acrescem elementos do contrato de prestação de
serviço. Há aqui uma conjugação de elementos típicos de vários contratos.
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obrigações de tutela dos direitos inerentes ao título. O banco vai ter que cumprir ou
realizar as operações necessárias para salvaguardar, por exemplo, a função
instrumental do documento - do título.
Por outro lado, o banco vai ter que praticar os atos de conservação substancial
dos direitos incorporados no próprio título. Por exemplo, a declaração de interrupção
da prescrição do direito incorporado no título, se for caso disso.
A quem compete a iniciativa processual? Por via de regra, quando a estes
direitos incorporados nos títulos, é suficiente que o banco despolete a intervenção
direta do cliente e fá-lo através do cumprimento de obrigações de aviso. Cumpre as
suas obrigações de aviso perante o cliente e este age então diretamente.
Todavia, se o cliente não estiver em condições de agir tempestivamente, essa
iniciativa é da competência do banco. Essa iniciativa processual a que haja lugar.
Há aqui obrigações de cooperação no exercício dos direitos e no cumprimento
das obrigações por parte do cliente. Obrigações de cooperação que recaem sobre o
cliente bancário.
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Temos depois o depósito com pré aviso. Aqui não há um prazo estipulado, mas
a quantia depositada só pode ser levantada na sua totalidade ou em parte depois de o
banco ter sido avisado com determinada antecedência.
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respetiva ação por outro credor cujo crédito se haja vencido. Isto é o que nos diz o
art.º 528º no âmbito da solidariedade ativa.
Qualquer dos credores, portanto qualquer dos titulares da conta, ou A ou B,
apesar da indivisibilidade da prestação que está em causa, qualquer um deles tem a
faculdade de exigir do banco, por si só, a prestação integral. Ou seja, A ou B,
isoladamente, podem exigir do banco o reembolso da totalidade da quantia
depositada. Naturalmente, acrescida dos respetivos juros, quando e se os houver.
Portanto, A ou B podem exigir isoladamente esse montante.
O banco, realizando/cumprindo essa prestação de reembolso perante A ou
perante B, fica liberado. O banco depositário fica liberado para com o outro, ou outros,
credor(es) solidário(s), nos termos do art.º 512 do CC.
Portanto, qualquer dos titulares pode, na conta solidária, por si só, livremente,
realizar qualquer tipo de operação.
Mas podemos ter ainda, quanto ao número de titulares, uma conta mista. Uma
conta que vai combinar características da conjunção com características da
solidariedade. Por exemplo, uma conta que seja movimentada necessariamente por A
(uma conta titulada por A, B e C). Essa conta será sempre movimentada forçosamente
por A em conjunto com outro dos titulares. Esse outro titular poderá ser,
indiferenciadamente, B ou C. E aqui nós temos características da conjunção e da
solidariedade. Temos aqui uma conta denominada conta mista. Não é nem puramente
conjunta nem solidária. No fundo, é uma combinação das características das
anteriores.
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[INTERVALO]
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Todavia, a dívida do banco ainda não está vencida, como vimos. A dívida
corrente deste contrato de depósito. Ora o banco pode renunciar ao benefício do
prazo. Portanto o banco pode, para exercer a compensação, renunciar ao benefício do
prazo. Se quiser extinguir, por compensação, a sua dívida com o crédito que já é
exigível (o crédito oriundo do contrato de mútuo) o banco pode renunciar ao benefício
do prazo para si decorrente do contrato de depósito a prazo. Não há nenhuma razão
que o impeça de renunciar ao benefício do prazo.
No entanto, o prazo nos contratos de depósito a prazo é estabelecido, não
apenas em benefício do banco, mas também em benefício do depositante. Em
benefício de A, de acordo com art.º 1147 do CC. O prazo é estabelecido em benefício
de ambas as partes.
Sendo assim, há autores que consideram que não é viável a compensação
nestes casos, nestas hipóteses. Não é viável na hipótese em apreço, uma vez que o
prazo não é estabelecido em benefício exclusivo do banco que é o devedor no contrato
de depósito bancário.
136
Mas, outra tese (que parece ser a mais correta), num caso destes, como
resolveria o problema? Ninguém tem o Código Civil? [não…].
Esta tese, que tende a ganhar foros de cidadania, permite ao banco lançar mão
da compensação mas pagando antecipadamente os juros, uma vez que o prazo é
estabelecido também em benefício do depositante. Antes do vencimento vai exercer a
compensação e portanto vai pagar antecipadamente os juros, por força dos artigos
1147.º e 1206.º do CC.
137
Todavia, poder-se-ia dizer que desta forma uma conta conjunta ou um depósito
conjunto tornar-se-ia indisponível. Tornar-se-ia impenhorável. Tornar-se-ia inatingível,
por força das dívidas de apenas um dos seus contitulares. A é devedor do banco e é
contitular desta conta bancária em conjunto com B e por força dos termos do contrato
de depósito que celebraram com X o credor ficaria definitivamente insatisfeito. Porque
esta conta se tornava, por força da pluralidade de titulares e do regime da conjunção,
totalmente inatingível por parte do credor. Também é um resultado que não se
pretende, tornar essa conta totalmente à margem da satisfação do crédito do banco X.
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O que se diz, ou o que se pode dizer nestes casos é então que o banco poderá
lançar mão da compensação. Poderá lançar mão da compensação, mas em que moldes
é que o banco poderá proceder a essa compensação? Atendendo às particularidades
do caso em apreço? (um depósito plural conjunto, ainda que se trate de um depósito à
ordem).
O que aqui se diz é que se pode aplicar a norma do art.º 1403º nº 2, 2.ª parte.
Ou seja, as quotas presumem-se todavia quantitativamente iguais na falta de indicação
em contrário do título constitutivo. Portanto, nos termos deste artigo, aplicam-se as
regras da compropriedade a outras formas de comunhão ou contitularidade; portanto
vai aplicar-se a norma do art.º 1403/2/2ªpt, por força do art.º 1404, e vão presumir-se
iguais as quotas de A e B. É uma presunção iuris tantum, naturalmente que pode ser
ilidida mediante prova do contrário. Não se fazendo essa prova, o banco poderia
compensar até 50% do saldo da conta bancária.
Aqui interessa terem em conta que há uma querela (tal como no caso anterior).
As soluções não são pacíficas. Há uma querela que não é recente, mas que se mantém.
Uma querela a propósito da compensação no âmbito dos depósitos, sobretudo plurais
quer conjuntos quer solidárias. Não há unanimidade, a querela subsiste. Há
argumentos favoráveis e desfavoráveis em qualquer das teses invocadas ou
preconizadas neste contexto. Num caso destes, se forem advogados, terão de
defender aquela ["que der mais jeito", diz um aluno; *risos*]. Não, então se forem
juízos, aquela que considerem mais adequada [*mais risos, mais prolongados*].
Sabendo que existe a querela, conhecendo de facto essas divergências, optam
por aquela que considerem mais correta. Ou até por uma terceira via, não tem de ser
uma delas. Pode ser uma outra.
Esta questão agora, do depósito solidário - já sabemos que qualquer dos
titulares da conta pode, por si só, esgotar o saldo da conta bancária. É essa umas das
características da solidariedade: tanto A como B podem, disjuntivamente, exigir do
banco X a restituição/o reembolso total da quantia que foi depositada. Podem
proceder a essa movimentação.
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Há quem diga que não pode ser reconhecido ao banco o poder de debitar esta
conta co-titulada por A e B. Não pode ser debitada num montante de um crédito de
que o banco é titular contra apenas um dos depositantes, portanto contra A. Não
poderia fazê-lo. Trata-se de uma RJ estranha ao contrato de depósito. O contrato de
mútuo que foi celebrado entre A e X é uma relação estranha, alheia, ao contrato de
depósito que foi celebrado entre o banco, por um lado, e A e B, por outro lado.
Ora, o art.º 532º do CC estabelece que a satisfação de um dos credores por
compensação produz a extinção relativamente a todos os credores da obrigação do
devedor. É o que nos diz a norma do art.º 532º. Este preceito, no âmbito da
solidariedade ativa, estabelece que a satisfação de um dos credores por compensação
produz efetivamente a extinção relativamente a todos os credores da obrigação do
devedor. Portanto, este preceito permitiria que um crédito com titularidade solidária
(que é o caso) se extinga por compensação com um débito de um dos seus titulares
( que é o débito de A perante o banco X).
Todavia, naturalmente, há que saber em que casos é que essa extinção pode
ocorrer. Esta norma do art.º 532º do CC abrange os casos em que é um dos credores
solidários, portanto A ou B (no nosso exemplo), a invocar a compensação de um
crédito que tem sobre o devedor - com o crédito que o banco tem sobre ele,
depositante. Ao que parece, o cliente bancário só pode, para que a compensação
proceda, invocar um débito seu. Não pode invocar um débito que não seja seu. Não
pode invocar um débito de outro dos titulares da conta bancária. Ou seja, de outro
cocredor solidário. Só pode invocar um débito seu.
A hipótese que nós estamos a ver é a da invocação da compensação por parte
do banco. Não por parte de um dos cocredores solidários, que são os casos abrangidos
pela norma do art.º 532º, mas um caso de compensação invocada unilateralmente
pelo banco (o devedor no depósito bancário).
Resta saber se a solução, ou as soluções adotadas no âmbito da norma do art.º
532º do CC são aplicáveis ou não a esta situação. Aqui é necessário saber se existem,
140
141
Se o banco não pode extinguir aquela relação jurídica, não pode ele próprio
escolher o credor a quem realizar a prestação ( e portanto, cumprir a sua obrigação),
também não pode extinguir a sua obrigação por uma via diferente do cumprimento -
que seria através da compensação.
Será assim?
[… pausa…]
Ou não?
[… pausa…]
142
Bom, aqui a norma em jogo seria norma do art.º 516º: "Nas relações entre si,
presume-se que os devedores ou credores solidários comparticipam em partes iguais
na dívida ou no crédito sempre que da relação jurídica entre eles existente não resulte
que são diferentes as suas partes ou que um só deles deve suportar o encargo da
dívida ou obter o benefício do crédito". Isto significa que, de acordo com a posição
hoje maioritária, vamos ter uma solução muito próxima que foi adotada, ou que pode
ser adotada, no âmbito dos depósitos conjuntos.
Esta é uma das teses. Talvez a maioritária do ponto de vista doutrinal e
jurisprudencial, nos depósitos solidários. Relativamente à compensação nos depósitos
solidários. Que conduz a uma solução muito próxima daquela que foi referida a
propósito dos depósitos conjuntos.
143
da compensação legal, que não convencionada. Esta é uma solução, talvez a mais
razoável, mas que não deixa de ser discutida e discutível, não é uma posição
consensual, nem no âmbito das contas conjuntas nem das solidárias, é discutida pela
doutrina e pela jurisprudência. Contra isto, desde logo, invoca-se o argumento do
princípio da relatividade dos contratos, ou seja, o banco não poderia por força deste
princípio, reclamar de terceiros, do outro co-titular da conta que não é o devedor do
banco, terceiros estes que são alheios em relação ao facto que origina o crédito a favor
do banco, p.ex. o tal contrato de crédito à habitação que tinha sido celebrado entre o
banco e os co-titulares, o outro co-titular é totalmente alheio a esta relação jurídico-
contratual da qual decorre esse crédito para o banco e o débito para um dos co-
titulares da conta bancária, portanto não bastaria para se proceder à compensação
legal nesta matéria, o facto de um dos co-titulares de uma conta conjunta ou solidária
ser devedor dessa mesma instituição de crédito. Portanto, é uma questão que não tem
ainda uma resposta consensual.
Nesta sede temos três posições: uma não permite o recurso à compensação, mas uma
outra posição em que é o C co-titular da conta solidária que se dirige ao banco e nessa
situação admite-se a compensação, nunca se admite se fosse A a dirigir-se ao banco. A
outra posição admite a aplicação do art.526º.
Quanto a alínea b), aqui não é a reciprocidade, temos uma conta solidária, temos um
depósito a prazo celebrado entre o banco X e C, o co-titular da conta é C. O banco X é
devedor de C e C é devedor do banco X e vice-versa, logo o requisito da reciprocidade
está preenchido. A exigibilidade deve-se ao crédito que o banco X tem perante C, não
tem a ver com o crédito de que C é titular perante o banco X. Aqui o problema é outro.
Quer compensar o crédito de que C é titular, que reporta a um depósito a prazo. Aqui
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a) Depósitos à ordem;
c) Depósitos a prazo;
4 - Os depósitos a prazo são exigíveis no fim do prazo por que foram constituídos,
podendo, todavia, as instituições de crédito conceder aos seus depositantes, nas
condições acordadas, a sua mobilização antecipada.
Desta norma salta a vista que a distinção dos diversos tipos de depósito que o
legislador estabelece no art.1º, é feita em função das condições de exigibilidade das
quantias depositadas. Toda a distinção neste art. estabelecida tem por base esse
critério da exigibilidade por parte do depositante dos valores depositados na
instituição de crédito. Com base nisto pode-se retirar alguns traços típicos deste tipo
de contrato, ou seja, o primeiro traço fundamental que se pode retirar da norma do
art.1º é desde logo que o depósito bancário é uma operação bancária passiva, isto
porque o banco assume uma posição devedora. A lei ao regular o depósito, que é uma
operação característica e fundamental da atividade bancária, no âmbito da
intermediação creditícia que é o âmago irredutível da atividade bancaria, acentua este
aspeto de o banco enquanto devedor do seu cliente, o seu cliente é credor nesta
relação jurídica. Este aspeto é importante, pois se o devedor é aquele sujeito que se
encontra vinculado à realização de uma prestação, esta prestação encontra-se
enquanto tal orientada para a prossecução do interesse do credor, se o banco é o
sujeito que se encontra vinculado à realização dessa prestação, e constituindo a
obrigação típica um traço identificador deste tipo contratual de o banco restituir ou
reembolsar os fundos depositados. O facto de o DL 430/91 imputar
caracteristicamente a alguém, uma posição devedora, uma posição jurídica passiva,
146
indicia que está em causa o primeiro e principal interesse subjacente a esta relação
contratual de depósito bancário, e esse é o interesse do cliente que está subjacente ao
depósito bancário. É este interesse que vai configurar o contrato que a lei denomina
como depósito. Efetivamente, em qualquer relação creditícia, a prestação do devedor
está orientada para a realização de um interesse do credor. A lei ao vincar a posição
passiva do banco no depósito bancário está a dizer-nos que o interesse subjacente a
esta relação é o interesse do credor que é o depositante.
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operação que mantém esta definição por analogia com operações de depósito que
tradicionalmente se fazem com os bancos, como as referidas na aula anterior que se
celebram com os bancos e que são também contratos de depósito. A doutrina não tem
ignorado um traço comum a todas estas operações bancárias que são de depósito e
também ao depósito de disponibilidades monetárias. Esse traço comum, transversal a
todas as operações de depósito praticadas pelos bancos é a segurança que a clientela
procura junto das instituições de crédito, uma segurança para as respetivas
poupanças, para os seus valores, para a sua fortuna, tendo em conta a estabilidade do
sistema financeiro. Esta segurança pode ser uma segurança física, p.ex. quando se
trata de um cofre-forte, a introdução de determinados valores num cofre-forte, isso
proporciona uma segurança física aqueles valores. Mas pode também ser uma
segurança psicológica dos clientes do banco e essa segurança ou confiança psicológica
traduz-se na confiança que a clientela tem na solvibilidade do banco depositário, da
instituição depositária. Ou então pode ser uma segurança que se traduz na confiança
psicológica que se traduz na confiança que os clientes têm na honorabilidade e na
competência dos gestores da instituição de crédito, nos gestores e empregados desta.
Mas o que em todo o caso, qualquer que seja a modalidade do depósito bancário em
jogo, motiva quem se dirija a um banco é confiar a esse banco, depositar nas suas
mãos dinheiro ou outros valores que desejam por a recato.
De acordo com uma tese acerca desta querela sobre a natureza jurídica do
depósito de disponibilidades monetárias temos aqui um depósito, o banco tem sempre
de restituir ao depositante a quantia que lhe foi entregue e essa quantia poderá ou
não ser acrescida de uma certa remuneração. O banco tem de conservar o montante
que lhe foi depositado, isto é, tem de cumprir uma obrigação de guarda ou de
custódia, teríamos um verdadeiro contrato de depósito e esta é a caracterização mais
tradicional na doutrina jurídica, a qualificação do depósito pecuniário como um
contrato verdadeiro e próprio de depósito. À luz das normas gerais do CC, a obrigação
assumida pelo banco que realmente se caracteriza o depósito é a obrigação de
custódia, é o que resulta do art.1185ºCC. De acordo com esta tese, qualifica esta
operação bancária como verdadeiro depósito, não deveria atribuir-se qualquer
relevância ao facto da restituição se fazer em género e não em espécie como no
depósito regular em que a restituição se faz em espécie, não acontece em mesmo no
depósito pecuniário em que a restituição é feita em género e não em espécie
precisamente porque o depósito de disponibilidades monetárias tem por objeto coisa
fungível, que por sinal é a coisa mais fungível de todas que é o dinheiro e é isso o
objeto do depósito bancário. Isto quer dizer que pela sua própria natureza só pode ser
restituído em equivalente do mesmo género e quantidade. Por outro lado, de acordo
com esta mesma posição doutrinal e jurisprudencial, será irrelevante que o banco
depositário, ao abrigo do art.2º da LB, possa dispor por conta própria do dinheiro cuja
guarda lhe foi confiada, isso seria irrelevante para a qualificação jurídica desta
operação bancária. Bastaria atender precisamente à especificidade ou particularidade
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do objeto mediato do negócio jurídico que é o dinheiro, a coisa mais fungível de todas,
que mais não exige de que o contrato seja qualificado como depósito irregular, é uma
figura prevista no art.1205ºCC. Como tem por objeto a coisa mais fungível de todas
seria um depósito irregular. Daqui resultaria outras consequências designadamente, o
que não se verifica no âmbito do depósito regular, mas que se verifica no irregular que
é a transferência da propriedade para o depositário da coisa depositada, se se
transfere para o depositário a propriedade também se transfere para este o risco.
Todavia, por isso a matriz do contrato de depósito seria a abalada, perturbada por
estas duas vicissitudes. Onde melhor se veria a natureza jurídica do depósito do
contrato de depósito de disponibilidades monetárias seria no caso de se tratar de um
depósito à ordem, tanto mais se for gratuita. A ausência de prazo no depósito à ordem
opera a favor do depositante. Por sua vez, o carácter gratuito do depósito faz presumir
que é ainda efetivamente um interesse do depositante que prevalece a favor do
depositário, não corre um prazo cujo benefício se tenha de remunerar, ou seja, se o
contrato de depósito de disponibilidades monetárias se consubstancia-se num
empréstimo, não obstante a denominação depósito, se essa operação fosse
empréstimo que não de depósito, este carácter gratuito seria racionalmente
incompreensível, não se compreenderia a estipulação das partes, quer fosse explicita
ou implícita, do prazo a favor do depositante, será sempre de qualificar esta operação
como depósito irregular de acordo com esta tese.
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bancos têm um dever legal de constituir reservas mínimas, estão obrigados, e estas
reservas são-no precisamente em quantidade presumidamente bastante suficiente
para satisfazer os pedidos normais de levantamento de fundos por parte dos clientes.
Por via de regra as autoridades monetárias, entre nós o Banco de Portugal e também o
BCE, definem em termos percentuais o valor a manter em caixa pelos bancos. Hoje
esta é uma competência do BCE, dantes era do banco central português. Isto significa
também que no depósito bancário contém em si mesmo uma obrigação de custódia ou
uma obrigação de guarda, muito semelhante à do depósito regular. Se bem que seja
um dever de guarda atenuado ou alterado na sua essência embora exista no depósito
regular, pois é um dever de guarda que no fundo se traduz numa simples técnica de
cálculo por parte das autoridades monetárias, das tais reservas mínimas que os bancos
têm de ter para acorrer aos pedidos de levantamento normais dos depositantes. É com
base na regra das probabilidades que essas reservas mínimas são estabelecidas. E por
outro lado, traduz-se também no dever de uma gestão sã e prudente que as
instituições de crédito têm de fazer dos fundos depositados, por força a assegurar a
restituição dos montantes que lhe foram confiados. Se é verdade que o contrato de
depósito bancário pode ser visto como um contrato de guarda ou de custódia, e aqui
difere do contrato de mútuo no plano funcional, também é verdade que o contrato de
depósito bancário e o de mútuo são semelhantes no plano estrutural, pois em ambos
os contratos existe uma transferência de uma soma pecuniária que conduz à sua
aquisição por parte do outro contraente e conduz à constituição de um direito de
crédito à restituição. É por isto que justifica que aos depósitos bancários e aos
irregulares, seja aplicável a disciplina jurídica consagrada para o contrato de mútuo, na
medida em que esta não seja incompatível com a função de custódia inerente ao
contrato de depósito bancário e ao contrato de depósito irregular.
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relação fiduciária que existe entre as partes. Naturalmente, também deve ser feita
uma referência aos limites e à natureza da titularidade, ou seja, da propriedade detida
pelo depositário escrow, que naturalmente será um tipo de propriedade fiduciária.
Isto quer dizer que o escrow passa a ser oponível a terceiros, portanto, passa a
ser oponível quer aos credores do depositante quer aos credores do depositário. Isto
quer dizer que os bens depositados não integram, naturalmente, a massa insolvente
em caso de declaração de insolvência, quer do depositante, quer do depositário. E o
depositário é responsável pela guarda e pela administração desses mesmos bens.
160
uma substituição do devedor. O devedor deixaria de ser uma dos contraentes para ser
o tal terceiro, que ficaria vinculado a proceder à tal entrega do objeto à outra parte do
contrato subjacente.
161
qualquer das partes tem a faculdade de por termo a esse contrato, denunciando com
uma antecedência mínima de 30 dias, nos termos do art. 1148º/2. As partes podem
não estabelecer ou acordar qualquer prazo, e estabelecerem, quanto ao vencimento
da obrigação, que esta se vencerá segundo ou após a solicitação do mutuante e
portanto retoma-se o que está consagrado no art. 777º/1 CC. Quanto à taxa de juro, já
conhecem o regime do art. 559º a 561º CC.
O mútuo comercial, por seu turno, encontra a sua noção no art. 362º e 394º
CCOM e o regime nos art. 395º e 396º também do CCOM. A retribuição do
empréstimo comercial é naturalmente a sua razão de ser. Temos aqui o princípio da
especialidade do fim, temos um fim lucrativo e portanto, no art. 6 CSC e também no
art. 160º CC. Quanto às taxas de juro, já conhecem o art. 102º do CCOM e as portarias
que são estabelecidas anualmente também nesse contexto.
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ou a uma determinada finalidade legal. Temos aqui a essencialidade do fim para que o
mútuo foi concedido, para que foi concedido o dinheiro mutuado ao cliente bancário.
Isto justifica o direito de resolução do contrato por incumprimento desse dever, um
dever que se encontra previsto em cláusula contratual ou então numa norma legal e,
portanto, com o vencimento antecipado, imediato, da obrigação de restituição,
cumulado com indemnização, e isto com a perda de vantagens que tenham sido
eventualmente previstas para este mútuo de escopo, designadamente vantagens de
natureza fiscal ou então juros bonificados (quando a quantia mutuada não é afectada
pelo cliente bancário a essa finalidade, a esse escopo contratualmente previsto ou
legalmente previsto). Um exemplo típico é o crédito à habitação, se no âmbito de um
contrato de mútuo para a aquisição de habitação própria, a quantia mutuada não é
afectada à aquisição de habitação mas a um outro fim, tem lugar à perda da
bonificação dos juros e pode ter lugar também a resolução do contrato e o vencimento
antecipado da obrigação de restituição do capital por parte do mutuário. Há aqui, no
mútuo bancário, essa especificidade de a lei e as partes também poderem fazer, que é
a previsão de mútuos de escopo.
Temos aqui uma situação que se gera quando, numa conta corrente subjacente
a uma abertura de conta, o banco admite um saldo a seu favor, ou seja, um saldo
negativo para o cliente. Fala-se aqui de um negócio jurídico bilateral. Ou seja, tem-se
reconhecido que o descoberto em conta pode resultar de um acordo prévio entre o
banco com o titular da conta ou então também pode resultar à margem ou
independentemente desse acordo prévio entre o banco e o seu cliente.
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cheque sem provisão, um cheque emitido pelo seu cliente sobre uma conta que não
está devidamente provisionada, portanto, quando o banco aceita proceder ao
respetivo pagamento, tendo o banco conhecimento dessa situação, que a conta sobre
a qual é emitido o cheque não se encontra provisionada, pode considerar-se nesta
hipótese que o comportamento do titular da conta, ou seja, a emissão de um cheque
sem provisão, corresponde a um pedido tácito de concessão de crédito. Portanto,
quando um cliente emite um cheque sem provisão, está tacitamente a fazer um
pedido de concessão de crédito ao banco e o banco, podendo recusar esse pedido de
concessão de crédito, ao proceder ao pagamento desse mesmo cheque, o banco esta a
aceitar esse pedido de concessão de crédito. Portanto, há aqui também uma aceitação
tácita por parte do banco no ato de pagamento desse mesmo cheque. Temos aqui
também um acordo do banco, que já não é um acordo prévio mas que não deixa de ser
um acordo, um contrato de concessão de crédito que e celebrado ente o banco e o seu
cliente. Podemos dizer que em qualquer caso o descoberto em conta vem a traduzir-se
precisamente numa concessão de crédito ao cliente bancário. E se é uma concessão de
crédito que o banco faz ao seu cliente, vai cobrar-lhe os juros correspondentes às
operações ativas, às operações em que assume uma posição credora. Também se pode
dizer que a técnica do descoberto em conta se distingue do empréstimo porque no
descoberto em conta o cliente bancário não goza do benefício de qualquer prazo e,
portanto, isto quer dizer que no descoberto em conta, o banco pode exigir ou tem o
direito de exigir do seu cliente a restituição imediata do montante que creditou ao seu
cliente, uma vez que este, ao contrário do que acontece por via de regra no mútuo, no
empréstimo, não goza do benefício de qualquer prazo.
Pode ser definido como o contrato mediante o qual o banco antecipa ao seu
cliente, depois de deduzida a remuneração, portanto, depois de deduzidos os juros e
encargos que forem devidos ao banco, o banco antecipa o produto de um crédito
sobre um terceiro, um crédito de que o cliente seja titular perante um terceiro. E a
titularidade desse crédito é efectivamente transmitida ao banco por esse mesmo
cliente. É uma operação mediante a qual o banco coloca fundos monetários à
disposição do seu cliente. Sendo assim, o contrato de desconto bancário é uma
operação de crédito, nos termos do art. 4º/1/b) da Lei Bancária.
164
É um contrato nominado, desde logo é mencionado nos art. 362º e 363º CCOM
e no art. 24º/1/a) da Lei Orgânica do Banco de Portugal. Mas é um contrato
legalmente atípico, não se encontra dotado de um regime jurídico, o legislador não o
dotou de um regime jurídico completo ou suficiente. Uma das caraterísticas deste
contrato de desconto é o depósito da soma descontada em conta do cliente. Portanto,
poder-se-á dizer que de facto não é um contrato real quanto à constituição, ou então
que há uma alteração dessa característica, da nota de realidade deste contrato. Para
além disso, é um contrato oneroso e é também um contrato socialmente típico (é
legalmente atípico mas é socialmente típico), existe uma tipicidade bancária e uma
tipicidade em função de liquidez, é uma tipicidade que radica precisamente nas duas
prestações típicas imediatamente trocadas pelas partes, ou seja, temos a troca de
moeda atual por moeda futura, que é representada precisamente por um crédito e
temos uma cessão, salvo boa cobrança, do crédito contra terceiro, e esta cessão tem
relevância causal, i. é, se o crédito cedido pelo cliente ao banco for inexistente
considera-se que o contrato de desconto é nulo por falta de causa. Há uma pré
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fisiológico, no fundo, que o devedor cedido pague. O banco deve exigir o pagamento
ao devedor cedido mas não deve fazer nada mais do que isso. Portanto, para que o
banco possa retroceder o crédito ao descontário, ao seu cliente, não se exige que o
banco inicie ou adopte qualquer ação de natureza executiva contra o devedor cedido.
O banco pode optar por não retroceder e pode, nesse caso, executar o devedor cedido
se este for patrimonialmente mais seguro do que o seu cliente, do que o descontário,
mas não tem porque o fazer.
Em primeiro lugar, temos uma antecipação feita pelo banco ao seu cliente da
importância de um crédito de que o cliente é titular perante terceiro. Em segundo
lugar, temos a dação daquele crédito que é feita pelo cliente ao banco. Em terceiro
lugar, temos que essa antecipação feita pelo banco o é tendo em conta a solvabilidade
do cliente e o facto de o cliente ter ou vir a ter um crédito em que o banco venha a
estar investido como titular e cuja cobrança futura lhe vai assegurar o reembolso dessa
antecipação, portanto, um crédito ainda não vencido, um crédito pecuniário e
expresso em moeda determinada, portanto, em quantia e moeda determinada. O
banco não paga o crédito em lugar do devedor do cliente, portanto, quando procede a
essa antecipação, não está a pagar o crédito em lugar do devedor do seu cliente. O
banco está a fazer essa antecipação, esse pagamento, em seu nome e por sua conta,
sem qualquer intenção de liberar o devedor, o devedor do crédito. Isto quer dizer que
a obrigação não se extingue entre o primitivo credor (entre o cliente do banco) e o
devedor, ou seja, também não vai surgir um direito de regresso sobre o devedor do
cliente por parte do banco, ou seja, a obrigação sofre apenas uma substituição do
credor originário, que passa a ser o banco.
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empréstimo e de dação pro solvendo, há quem diga que se trata da venda de um título
de crédito, e há quem diga que se trata de um contrato autónomo e sui generis. Temos
estas quatro posições acerca da natureza jurídica do contrato de desconto bancário.
Parece que, à primeira vista, a posição mais correta será aquela que, se não se
enveredar pela consideração ou qualificação do desconto bancário como autónomo e
sui generis mas que também não ajuda na determinação do regime jurídico, será a da
qualificação como um contrato misto de mútuo retribuído e de dação pro solvendo. O
contrato teria uma única função socioeconómica que seria uma antecipação da
importância dos créditos ou do crédito não vencido mediante a dação pro solvendo do
mesmo crédito. O art. 840º CC diz-nos que se o devedor efetuar uma prestação
diferente da devida, para que o credor obtenha mais facilmente, pela realização do
valor dela, a satisfação do seu crédito, este só se extingue quando for satisfeito e na
medida respetiva e o nº 2 diz-nos que se a dação tiver por objeto a cessão de um
crédito ou a a assunção de uma dívida, presume-se feita nos termos do nº anterior.
Ora, com a dação o que se pretende é apenas facilitar ao credor a satisfação de seu
crédito, mediante a atribuição de um direito, como a cedência de um crédito, um
crédito que ainda se não venceu, para que o banco o venha a cobrar (o credor venha a
cobrar) oportunamente e se pague da sua obrigação. Não se pretende extinguir
imediatamente a obrigação. Portando, a obrigação subsiste e só vai extinguir-se com a
satisfação do credor na medida em que este for efetivamente satisfeito. E por isso se
diz que a dação em função do cumprimento é, no fundo, um mandato conferido pelo
devedor ao credor para liquidar o crédito dado pro solvendo. Ora, nem sempre é fácil
averiguar ou concluir do contrato se houve intenção de extinguir o crédito mediante
uma dação em cumprimento ou se houve intenção de protelar a extinção mediante
uma dação pro solvendo, dai a redação do nº 2 do art. 840º CC, que estabelece certas
presunções em relação à cessão de um crédito ou à assunção de uma dívida. No
primeiro caso, não é, na verdade, de presumir que, de acordo com o art. 840º/2, que o
credor, ao ficar investido na posição de cessionário pretenda privar-se do seu crédito.
O mais natural é que o devedor pretenda conferir ao credor o direito de receber e de
se pagar, e é precisamente o caso do desconto bancário. Portanto, aplica-se o art. 840º
CC.
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Por outro lado, o desconto bancário, por via de regra, é uma operação isolada,
enquanto que a cessão financeira se integra numa operação muito mais ampla, sendo
de facto um momento de execução do programa que se encontra inscrito no contrato-
quadro que é celebrado entre as partes, portanto, uma operação negocial muito mais
vasta que o desconto bancário.
(INTERVALO)
169
Se se optar pelo tal pacto com eficácia meramente obrigacional, o banco tem a
vantagem de ter o dinheiro à mão (dinheiro depositado na tal conta) mas tem a
desvantagem de a garantia de que é beneficiário não ser uma garantia real, ou seja,
não é uma garantia que lhe dá prioridade na satisfação do seu crédito em caso de
concurso de credores.
170
Outra doutrina considera o penhor de créditos como um direito real que tem
por objeto um crédito. Admite a doutrina dos direitos sobre direitos.
A maioria da doutrina, todavia, não admite esta doutrina dos direitos sobre
direitos e considera que no penhor de créditos está em causa uma garantia especial
sobre direitos mas que não é de natureza real. Aliás diz que o penhor de créditos não é
nem direito real nem penhor. Todavia, diz que a semelhança económica que o penhor
de créditos apresenta com o penhor em sentido próprio justifica que se fale em
penhor de créditos, mas que não é um verdadeiro penhor.
Nos termos do artigo 680º CC, não podem ser empenhados os créditos relativos
à entrega de bens imóveis ou a prestações de facto, mas parece que nada obsta a que
possa haver penhor de créditos futuros.
171
Também o penhor irregular tem uma natureza jurídica controvertida. Há, mais
uma vez, uma querela sobre a sua natureza jurídica. Todavia, o enquadramento do
penhor irregular no âmbito dos contratos de garantia permite reconstruir, de forma
satisfatória, o mecanismo de atribuição que tem lugar ao credor e, por outro lado,
também impõe a coordenação desta figura com a proibição do pacto comissório.
Portanto, de facto transfere-se, como no pacto comissório, a propriedade para o
credor, mas há aqui uma conciliação em que não se pode falar de pacto comissório.
Em primeiro lugar, mas isto é um argumento formal, a atribuição não tem lugar
com o incumprimento do devedor no âmbito do penhor irregular. Portanto, essa
172
Este depósito pode ser à ordem ou a prazo. Se for à ordem o que se faz é
bloquear a sua movimentação, precisamente para que não haja um esvaziamento da
garantia que o senhor A prestou ao banco. Mas isso pode não suceder, pode não haver
um bloqueio, ou seja, pode o penhor incidir sobre o saldo da conta, como sucede no
âmbito do penhor financeiro. Isto significa que o saldo terá de se apurar na data do
incumprimento da obrigação garantida. Se o depósito for à ordem, não há assim
173
Ora aqui nós temos de ter presente o objeto do direito empenhado, a sua
própria natureza que é um crédito pecuniário. Temos aqui o direito à restituição de
outro tanto, do mesmo género e qualidade. Portanto, um crédito pecuniário em que o
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seu valor nominal coincide com o seu valor de transação no mercado. Logo, do ponto
vista substancial, será totalmente irrelevante se a satisfação se faz por débito em conta
ou por alienação do crédito que vai originar esse valor. Por outro lado, se a
intervenção do tribunal é relevante para se fixar de forma objetiva o valor da coisa
empenhada, para ser adjudicada por esse valor ao credor pignoratício, aqui atendendo
a natureza do bem empenhado, essa avaliação é naturalmente desnecessária. Ou seja,
se essa avaliação se fizesse teria lugar exatamente ao mesmo valor. E mesmo que
desse lugar a ação executiva, neste caso, dado que o bem penhorado devia ser o bem
empenhado, portanto uma vez que a penhora tem de se iniciar pelos bens pelos quais
incide a garantia, naturalmente que o pagamento não se faria pela venda do crédito,
mas fazer-se-ia pelo dinheiro que ai existisse.
Portanto tendo em conta tudo isto e atendendo aos juízos de valor que
permitem a satisfação pelo valor do bem sem ter de recorrer efetivamente ao
processo executivo, parece que esta modalidade de execução do penhor, esta forma
de satisfação do banco pelo débito em conta será admissível, portanto, totalmente
admissível.
Ora nos casos em que é dada em penhor o saldo de conta bancária, nos casos
em que o depósito irregular existe antes da constituição do penhor, há quem fale aqui
de uma união de contratos. Quando se constitui em penhor o saldo de conta bancária
e quando o depósito pré existe à constituição da garantia, portanto, fala se ou há
quem fale em união de contratos. Portanto, há um contrato de penhor que se justapõe
a um contrato de depósito.
175
Temos também o penhor rotativo, ou seja, este existe quando. por acordo
entre o credor pignoratício e o autor do penhor, o autor do penhor pode substituir os
bens objeto da garantia, sem que o penhor se extinga, sem que o penhor cesse.
Portanto celebra um pacto de rotatividade ou seja mantém-se a garantia mas o objeto
sobre o que o penhor incide vai-se alterando, sendo substituído por outro objeto que
tenha valor igual, não há constituição de um novo penhor. Para todos os efeitos, em
particular, para a data de constituição da garantia, é o mesmo penhor. O que varia é o
seu objeto. Portanto, o que se permite é que o autor do penhor vá utilizando os bens
empenhados na sua atividade económica sem que estes bens estejam onerados. Caso
contrário, dificilmente o poderia fazer. E ao mesmo tempo a garantia mantém-se, pois
o que se altera é apenas o seu objeto. Logo, a garantia passa a incidir sobre outro bem
nos termos acordados pelas partes.
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penhor mantém-se mas com substituição do respetivo objeto e portanto com a data
inicial de constituição, é isto que acontece, tendo em conta que o interesse do credor
não é identidade do objeto, logo, não interessa ao credor a identidade do objeto sobre
o aqui incide a garantia, sobre o qual incide o penhor, o que interessa é o valor do
objeto, a identidade do valor do objeto, porque é precisamente sobre o valor do
objeto que o credor se vai satisfazer em caso de incumprimento do devedor e, por
isso, é exigível que o bem substitutivo, o novo objeto do penhor, tenha um valor
idêntico ao objeto substituído, ao valor do objeto substituído. É isso que esta aí em
causa.
Vamos ver agora a GARANTIA AUTÓNOMA. Esta pode ser prestada ao abrigo
princípio da autonomia privada, em princípio por qualquer terceiro, não tem que ser
necessariamente por um banco ou por uma companhia de seguros, por uma
instituição financeira. Ao abrigo do princípio autonomia privada, naturalmente desde
que se respeitem as normas imperativas do ordenamento jurídico, pode ser prestada
por qualquer terceiro.
(Também podia ser uma empreitada e pode ficar B obrigado a construir esse
material, ou compra e venda ou empreitada, é indiferente.)
177
obrigação perante B. Então A vai imediatamente ao seu banco, com quem tem o seu
relacionamento mais estreito, no sentido de saber se o banco Y lhe presta esta
garantia, com estas caraterísticas. Naturalmente que o banco vai analisar essa
proposta que é feita e tem de o fazer rapidamente, porque como A está vinculada
(tem uma obrigação) a B neste caso, se o banco Y recusa, o A tem de procurar outro
banco que lhe preste a garantia que procura.
Entre A e B nós temos um contrato de compra e venda. Por outro lado, entre
A,Lda e o banco Y temos um mandato sem representação. O banco Y fica incumbido,
por conta de A, em nome próprio, de celebrar um contrato de garantia autónoma com
B. Entre o banco Y e B temos um contrato de garantia autónoma.
Nós temos uma garantia autónoma, o que quer dizer que não é acessória. É
autónoma pela obrigação de garantia, isto significa que o banco tem de pagar, ou seja,
não interessa se o material tinha ou não defeitos. A garantia prestada pelo banco é
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E tem de pagar à primeira solicitação, o que significa que basta que B invoque
ao banco o não cumprimento da obrigação de A, ou seja, B nem sequer tem de provar
ao banco que A não cumpriu porque se trata de uma garantia à primeira solicitação,
por isso basta a mera indicação de não cumprimento, sem necessidade de prova desse
incumprimento. O banco paga de “olhos fechados” e depois naturalmente que o banco
vai exigir este montante, os cem milhões de euros, a A. O banco paga a B e exige de A.
O banco vai pagar de olhos fechos a B e vai exigir também de olhos fechados a
A o respetivo montante em via de direito regresso.
Repare-se que não há aqui uma sub-rogação porque o banco não está a
cumprir uma obrigação de A mas sim uma obrigação própria, uma obrigação que
assumiu perante B e por isso há um direito de regresso, não há sub-rogação.
Agora que o banco Y vem exigir de A os 100 milhões de euros, este (A) diz-lhe
que não vai pagar porque ele avisou que os bens tinham defeito e o banco não devia
ter pagado. No entanto, tem de pagar visto que foi o próprio A que, ao abrigo do
contrato de mandato sem representação, acordou a prestação de uma garantia
bancária autónoma, à primeira solicitação, no valor de 100 milhões de euros. O A tem
de pagar ao banco de olhos fechados e depois, naturalmente, trata-se de relações
entre A e B para ver se os bens têm efetivamente defeitos, aliás, nem o banco tem a
vocação para discutir com B se os bens tinham ou não defeitos, o banco tem uma
posição de total neutralidade em relação ao contrato que se celebra entre A e B.
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Ou, pelo menos, já foi totalmente autónoma, claro que se estabeleceram depois doutrinalmente e
jurisprudencialmente alguns limites a esta autonomia.
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Pode fazê-lo? Também não pode fazê-lo porque a garantia é autónoma tanto
em relação à obrigação garantida, como em relação ao contrato de mandato sem
representação, no que toca à relação estabelecida entre o banco e o seu cliente. A
autonomia neste preâmbulo diz respeito quer à compra e venda, quer ao mandato
sem representação, portanto, o banco tem de pagar.
Iremos terminar a matéria da garantia autónoma. Temos aqui, como vimos, uma
“relação” estabelecida, triangular. Vamos supor que há um contrato de compra e
venda com B, um contrato de mandato sem representação e um contrato unilateral,
que é o contrato de garantia autónoma.
180
o seu direito de crédito ao preço, isto é o direito de crédito de que B é titular perante
A, ao preço dos equipamentos que vendeu a A, se a garantia autónoma acompanha
esse crédito.
Nós sabemos que a cessão de créditos é o contrato pelo qual o credor, portanto B,
transmite a terceiro, ou seja a C, independentemente do consentimento do devedor,
ou seja independentemente do consentimento de A, a totalidade ou uma parte do seu
crédito ao preço. Interessa aqui precisamente reter a desnecessidade da obtenção do
consentimento do devedor para que a cessão de um determinado crédito produza os
seus efeitos. Há aqui uma querela ou debate doutrinal em torno da transmissão
automática da garantia bancária, precisamente em conjunto com o direito de crédito
garantido, isto é, com o direito ao preço: saber se se aplica ou não o princípio segundo
o qual, na falta de convenção em contrário, a cessão de crédito importa a transmissão
para o cessionário das garantias e outros acessórios do direito transmitido que não
sejam inseparáveis da pessoa do cedente. É um princípio que se encontra consagrado
no artigo 582º /1 do CC.
A consagração deste princípio, 582º CC, visa garantir que o crédito se transmita nas
exatas circunstâncias, ou seja, com todas as vantagens e com todos os defeitos em que
se encontrava à data da cessão. Ora, quais são as posições desfavoráveis à transmissão
automática da garantia bancária em caso de cessão do crédito garantido, Em caso de
cessão do crédito ao preço de B a C?
Diz-se que a garantia bancária não podia ser considerada ou não pode ser considerada
um direito relacionado com o crédito, pelo que não deve considerar-se transmitida
automaticamente com o crédito garantido. Partindo do princípio de que a garantia
está ligada a um preço do credor, conclui-se que a transmissão da garantia não deixa
de ter consequências para o garante, Banco, pelo que implicaria sempre justamente a
celebração de um negócio de cessão autónomo, ou seja de cessão da garantia. A
possibilidade de cessão automática da garantia bancária, juntamente com o crédito
garantido, é uma solução que seria de rejeitar, com base no facto de o crédito do
contrato de garantia ser um contrato autónomo relativamente ao contrato base. Este
contrato de garantia autónomo relativamente ao contrato de compra e venda
(contrato base), não é um contrato acessório do contrato de compra e venda. É um
contrato autónomo do contrato de compra e venda. Por outro lado, o beneficiário de
uma garantia bancária, ou seja B, não é indiferente ao Banco garante. Porquê? Porque
uma garantia desta natureza permite exigir, precisamente, do Banco, permite ao
beneficiário exigir do Banco o pagamento da quantia segurada com base no
pressuposto de que se paga primeiro e se discute depois. Diz-se que a capacidade
patrimonial do beneficiário, ou seja de B, o beneficiário de uma garantia bancária, tem
especial relevância para o garante na medida em que este, o banco garante, se pode
ressarcir no caso de ter lugar uma solicitação injustificada da garantia, isto é, uma
solicitação injustificada da quantia garantida. Isto quer dizer que lhe causa, ao Banco
181
garante, um agravamento dos riscos assumidos e, para isso, basta o ocorrer uma
situação em que o banco garante não tenha o direito de exigir de A, do ordenante da
garantia, do mandante, o reembolso dessa garantia. Neste caso, estariam agravados os
riscos assumidos pelo banco garante. A mudança de credor, a substituição de B por C,
pode comportar um agravamento dos riscos assumidos pelo Banco garante. Isto
também significa que o garante só se encontrará vinculado a realizar a prestação a
outro sujeito que não o sujeito originário, que não a B, se tiver aceitado que esse
terceiro, que C, passasse a ser o novo titular da garantia. Afirma-se uma
impossibilidade de cessão automática da garantia bancária com o crédito garantido.
Afirma-se a inaplicabilidade do artigo 582/1 CC.
Há aqui a tal incoerência daqueles que afirmam a autonomia desta garantia para
determinados efeitos, mas que ignoram esta autonomia para efeitos de circulação
desta mesma garantia. Pode dizer-se ou poderia dizer-se que é de rejeitar a
transmissão automática da garantia bancária em caso de cessão do crédito garantido.
Porquê? Porque não se pode deixar de considerar, precisamente, que a obrigação do
garante estabelecida numa determinada garantia bancária não constitui uma
obrigação secundária ou uma obrigação subsidiaria relativamente à obrigação não
cumprida pelo devedor no contrato de compra e venda, no contrato base, ou seja a
obrigação que resulta de uma garantia bancária para o respetivo garante, para o Banco
X, é uma obrigação principal. Para o garante trata-se de uma obrigação principal. Esta
garantia não e abrangida pelo artigo 582º/1 CC. Não é um acessório do crédito para
estes efeitos. Não é uma garantia ou acessório do crédito para efeitos do artigo 582º/1
CC.
Talvez seja preferível a posição segundo a qual a garantia bancária não se transmite
automaticamente com o crédito cedido.
Outro aspeto relevante que resulta desta qualificação respeita à circulação do crédito
e da garantia que acabamos de ver, no sentido precisamente de que a cessão do
crédito principal implica a transferência automática da garantia acessória, mas não da
garantia autónoma.
Todavia há exceções. Se o Banco X não pode invocar exceções, por via de regra
respeitantes ao contrato de compra e venda ou nem ao contrato de mandato para se
eximir ao cumprimento do contrato de garantia autonomia, há exceções de que pode
lançar mão para não cumprir.
E essas exceções são desde logo, não é um contrato legalmente típico, portanto estas
exceções ou limitações foram sendo estabelecidas doutrinal e jurisprudencialmente.
183
Há desde logo exceções literais, ou seja, exceções de que decorrem do próprio texto
de que consta a garantia do texto, em que se exprime o próprio contrato de garantia.
Por exemplo, a falta da declaração do beneficiário de que segundo o texto da garantia,
condiciona a sua operatividade; Ou então falta por parte do beneficiário, a indicação
dos motivos que segundo o texto da garantia, condicionam a sua operatividade; Ou
então falta, por parte do beneficiário a apresentação de um documento, que ainda
segundo o texto da garantia, condiciona a respetiva operatividade; Ou então o
beneficiário executa a garantia fora dos termos temporais indicados na própria
garantia, isto é, já caducou.
Por outro lado a exceção geral de dolo ou de abuso do direito, ou de fraude também
são invocáveis embora com cautela; trata-se de conceitos indeterminados que é
preciso implementar com muita cautela para esvaziar a autonomia desta garantia. Para
não lhe retirar utilidade pratica mas em casos limite é preciso aplicar. Por exemplo, no
caso de B já ter recebido o preço de A e mesmo assim acionar a garantia autónoma.
Aqui o Banco X pode lançar mão de uma dessas exceções para se furtar ao pagamento
da quantia garantida. Afinal de contas o contrato foi cumprido pelo devedor. Apesar da
autonomia desta relação perante esta, há que limitar esta autonomia. Estão em causa
princípios meta jurídicos e, por isso, há que permitir ao banco eximir-se ao pagamento.
Com recurso a essas cláusulas gerais e conceitos indeterminados, que só devem ser
acionados em casos limites, para não se retirar utilidade a esta autonomia.
Quanto a fiança:
Outra garantia do crédito bancário. Temos aqui uma garantia pessoal típica, inominada
das obrigações que se encontra regulada nos artigos 627º e ss CC.
184
À prestação de fiança não obsta o facto de a obrigação garantida ser condicional ou ser
futura, conforme o artigo 628º/2. Com a constituição da fiança passa a existir duas
obrigações: como vimos. Passa a haver uma relação de dependência entre estas duas
obrigações, entre a obrigação de garantia e a obrigação garantida. Esta dependência é
desde logo genética, ou seja a fiança não é valida, a obrigação de garantia não é valida
se a obrigação principal não for valida – 632º/1.
Para além desta dependência genética, há também uma dependência funcional entra a
obrigação de garantia e a obrigação garantida. Portanto isto quer dizer que o fiador
pode opor ao credor, os meios de defesa que competem ao devedor 637º/1 CC.
Depois há uma dependência extintiva entra a obrigação de garantia e a obrigação
garantida, ou seja a extinta a obrigação garantida extingue-se a obrigação de garantia.
A fiança bancaria, do artigo 623º/1 CC é uma autêntica fiança. Essa figura prevista
nesse artigo, é uma autêntica fiança caracterizada pela assesoriedade, o que apresenta
185
Depois temos a fiança como negócio de risco. Outro vetor ou pilar precisamente do
regime jurídica da fiança. A fiança é um tipo contratual que recebe o seu sentido
específico do elemento de risco. Nós sabemos que qualquer negócio jurídico envolve
risco, mas o risco na fiança não é um risco normal, é considerado um risco anormal.
Porquê? Porque o fiador pode ser chamado a ter de suportar o esforço de satisfação
do credor, sem que possa exigir qualquer contraprestação ao credor. E depois o fiador
corre por sua conta o esforço de obter, junto do devedor, a reintegração daquilo que
186
satisfez ao credor. E não tem qualquer certeza de obter este montante junto do
devedor (de obter aquilo que satisfez ao credor junto do devedor). Não há qualquer
certeza quanto a essa realização. O risco que corre o devedor ou o fiador de ter de
cumprir não é substancialmente diferente do risco que corre uma seguradora num
seguro de créditos. Isto é o mesmo que falar em negócio de perigo, ou seja, quem
garante um crédito alheio vive perigosamente.
Depois deve aqui dizer-se que a fiança civil tem como característica a subsidiariedade
virtual, isto é, o benefício da excussão previsto no artigo 638º/1 CC (a característica da
subsidiariedade virtual). Quando a lei se refere a responsabilidade patrimonial
subsidiária, tem em vista precisamente o facto de haver responsabilidade patrimonial
de um sujeito diverso do devedor primário (do devedor principal). Uma
responsabilidade que só pode ser atuada após o esgotamento da responsabilidade
patrimonial do devedor principal. A responsabilidade ou a expressão prévia do
património do devedor primário funciona como um pressuposto da responsabilização
do devedor subsidiário, ou seja, o devedor subsidiário pode opor ao credor, se for
acionado intempestivamente, a exceção da inexigibilidade do crédito. Naturalmente
que pode não o fazer e, por isso, a subsidiariedade é virtual porque o fiador pode ser
acionado e não opor ao credor essa inexigibilidade.
Quanto à subfiança:
187
de satisfação do seu credito, isto é, do mesmo credito, mas através de uma via
indireta, (através da garantia do credito fidejussório). Se em primeira linha o subfiador
garante o cumprimento pelo fiador, substancialmente o subfiador garante o
cumprimento pelo devedor principal. E a prestação do subfiador é moldada pela
prestação do devedor, ainda que seja mediada pela prestação do devedor.
Retrofiança:
Quanto a retro fiança o que interessa ter em conta é que esta é normalmente uma
garantia prestada por profissionais. Maxime por bancos.
Imaginem que o banco X tinha prestado uma fiança, ou seja, tinha prestado uma fiança
a favor de B e tinha exigido a prestação de uma retrofiança, Retro fiança esta que terá
sido prestada pelo Banco Y (também poderia ser a favor da propósito da garantia
autónoma). Esta retrofiança para garantir o crédito eventual do banco X perante A. O
banco x terá sido forçado a cumprir a obrigação principal, A perante B, subroga-se, no
crédito de B, no crédito ao preço, e vai agora exercer o seu direito perante o banco Y,
ao abrigo desta retrofiança.
188
Temos aqui uma garantia que tem ou surge com uma fisionomia mista que apresenta
as características de uma garantia forte e as características de uma garantia mais fraca.
Temos aqui uma garantia em que o fiador não renúncia de forma definitiva, mas
apenas temporária, aos meios de defesa, ou seja, uma fiança em que o devedor deve
pagar e só depois deve ou pode exigir o que pagou fazendo atuar os meios de defesa.
Uma fiança à primeira solicitação.
Num segundo momento acorda essa assessoriedade, então o banco pode fazer valer
esses meios de defesa, ou seja, os defeitos do equipamento e vir exigir de B a quantia
que indevidamente lhe pagou, ou seja trata-se de um pagamento provisório, m
pagamento que não impede uma ação futura. Esta é a posição partilhada pela maioria
da doutrina, ou seja, uma posição segundo a qual a assessoriedade da fiança não é
removida, é só provisoriamente colocada fora de ação.
Não está naturalmente em causa a validade de uma cláusula ao primeiro pedido, como
esta, ou seja à primeira solicitação. O que está em causa é saber se esta cláusula é
compatível com a fiança, com esta garantia que é a fiança. Se se considerar que esta
cláusula de pagamento à primeira solicitação não é compatível com a fiança,
189
naturalmente que este negócio não é inválido. Então teremos que ver se não estará
em causa uma garantia autónoma à primeira solicitação ou se não estará em causa
uma garantia atípica. Se considerarmos que esta cláusula é contraditória com a fiança
e que as partes efetivamente configuraram a garantia como uma fiança, quiseram uma
fiança mas essa clausula e contraditória até com a própria fiança essa garantia/
negocio será espojado de eficácia. Essa cláusula será espojada de eficácia e aplica-se o
regime da assessoriedade, na sua plenitude conforme configurado no CC.
Tudo depende da posição que se adotar a este respeito. Se se considerar ou não que a
clausula de pagamento ao primeiro pedido ou à primeira solicitação é compatível com
a figura da fiança. Se se considerar que é compatível com a figura da fiança, então em
princípio, temos um regime misto de garantia autónoma e de fiança. No primeiro
momento aplica-se o regime da garantia autónoma e no segundo momento o regime
da fiança.
Fiador e credor acordam numa fiança ao primeiro pedido, uma vez realizado o
pagamento ao primeiro pedido, já vimos, o credor pode exigir a devolução ou a
restituição daquilo que pagou ao credor na lógica de um pagamento sob reserva de
uma ulterior evidência de exceções, ou seja, a ação de condenação do credor encontra
um fundamento contratual, o contrato de fiança. Coloca-se a questão na fiança ao
primeiro pedido, a questão da compatibilização entre a admissibilidade de uma fiança
ao primeiro pedido e a previsão legal de uma subrogaçao nos direitos do credor,
quando fiador cumpre a obrigação, conforme o artigo 644º CC. Se por força do
cumprimento realizado o fiador fica sub-rogado nos direitos do credor como é que ele
190
pode agir contra o ex credor? Com base no acordar da assessoriedade, com base na
invocação dos meios de defesa que estavam adormecidos, mas que agora feito o
pagamento poderá invocar?
191
Depois temos as fianças em que o fiador diz responder por todas as obrigações do
devedor face ao credor, resultantes de um número determinado de operações, que
aparecem identificadas. São os casos, por exemplo, em que o fiador responde por
todas e quaisquer obrigações, decorrentes de contratos de abertura de crédito,
celebrados entre o banco e o cliente. Por exemplo, aqui parece que o fiador ao tempo
da celebração do contrato de fiança não está em condições de fazer contas, ou seja,
desconhece o fluxo de crédito que irá ser concedido. À partida haverá uma
indeterminabilidade do objeto do contrato de fiança. Portanto será nulo. Há que
analisar caso a caso.
192
É uma garantia pessoal e a sua especificidade consiste no facto de ser prestada por
uma seguradora. Uma seguradora que encara o seguro de crédito como um negócio de
risco. O seguro de crédito tem uma função equiparável à da garantia autónoma e da
fiança. Mais próximo de um ou outro, conforme o que seja concretamente estipulado
pelas partes. As partes podem estipular que o seguro seja prestado acessoriamente à
obrigação principal e então será mais próximo da fiança, ou podem estipular que o
seguro seja prestado com autonomia, em relação a obrigação principal, inclusivamente
à primeira solicitação então será mais próximo da garantia autónoma e da garantia
autónoma à primeira solicitação.
A cessão de créditos em garantia integra normalmente, um negócio pelo qual uma das
partes, no âmbito de um negócio muito mais amplo, cede a outra um crédito
pecuniário sob um terceiro, seu devedor. Cede-o com vista a garantir uma obrigação
principal, obrigação esta que decorre por via de regra de um empréstimo pecuniário.
Há aqui uma estrutura fiduciária, ou seja, a transmissão plena de um direito a um
sujeito que está obrigado a exercê-lo de determinada forma e, mais tarde, verificadas
193
Reporte bancário:
O reporte é definido no artigo 477º CCom como sendo o contrato constituído pela
compra e venda a dinheiro de decontado de títulos de créditos negociáveis e pela
revenda simultânea de títulos da mesma espécie a termo, mas por preço determinado,
sendo a compra e a revenda feitas à mesma pessoa. Acrescentando o paragrafo único
da mesma norma, ser condição essencial à validade do reporte, a entrega real dos
títulos. O CVM consagra algumas especificidades para o reportes realizados em bolsa
de valores. O reporte é um contrato que se celebra entre o reportador, o reportador é
aquele que compra os títulos, que paga o respetivo preço e que revende
concomitantemente a termo, títulos da mesma espécie. A outra parte do contrato é o
reportado que é a parte que vende os títulos, recebe o preço e recompra
simultaneamente, mas também a termo, títulos da mesma espécie. Temos aqui
efetivamente um contrato que desempenha uma função muito semelhante ao mútuo
garantido com penhor ou à antecipação bancaria, mas que estruturalmente é
diferente destes contratos. No reporte temos duas vendas de sinal contrário; isto não
se verifica no mutuo com penhor de títulos de credito, nem na antecipação bancária e
por outro lado, no reporte a propriedade dos títulos é transmitida para o reportador,
enquanto que isso não se verifica nem no mútuo garantido por penhor, nem na
antecipação bancária. São figuras diferentes. É um negócio fiduciário
194
No que respeita ao objeto da garantia financeira, de acordo com o artigo 5º, este deve
consistir em instrumentos financeiros ou em numerário, ou seja, o numerário tal como
se prevê na própria lei, consiste no saldo disponível de uma conta bancaria em
qualquer moeda ou em créditos semelhantes que confiram direito a restituição de
dinheiro. O objeto da garantia financeira deve consistir em instrumentos financeiros
ou numerário ou créditos sobre terceiros. O que se entende por créditos sobre
terceiros?
Tudo isto foi muito importante no caso do BPP. Revelou-se inoperante porque os
acordos de garantia financeira estavam mal feitos e a introdução legislativa que surge
e acrescente aos créditos sob terceiros surge porque o estado estava mal acautelado.
196
Portanto, por outro lado, perante o artigo 20º do DL 105/2004, admite-se que o
cumprimento da obrigação de restituição do benefício da garantia, possa ser feito por
compensação. Isto não é afetado por um processo de insolvência. Fala-se aqui numa
irretroatividade dos processos de insolvência, relativamente a estas garantias
financeiras. Estas garantias financeiras não são afetadas, ainda que sejam celebradas
naquele período suspeito, dentro do qual os atos podem ser, em princípio ser
destruídos, em benefício da massa ao abrigo do direito comum da insolvência.
Naturalmente a ratio legis de todas estas vantagens, que são conferidas aos
beneficiários destas garantias, só são abrangidos aqueles beneficiários que não
tenham tido não devessem ter tido conhecimento das medidas insolvenciais já
desencadeadas. Caso contrário, não merecem também a proteção especial perante os
demais credores, a proteção especial que a lei lhes confere, ou seja não seria justo
nem seria proporcionado que por vontade exclusivamente privativa do prestador da
garantia e do beneficiário da garantia financeira, os outros credores ficassem
197
postergados numa altura em que todos já soubessem que pairava a ameaça de uma
insolvência. É necessário para beneficiar de todas as vantagens que o beneficiário
prove que não tinha conhecimento nem devia ter tido conhecimento de medidas
insolvenciais - nos termos do artigo 18º/2. De outro modo, as garantias não produzem
efeitos em relação aos restantes credores. É isso que a lei exige. Isto no que toca ao DL
105/2004, quanto aos contratos de garantia financeira.
198
garantias reais, pois todo o projeto assenta numa garantia básica que é o fluxo de caixa
auto-gerado pelo próprio projeto.
Quem são os sujeitos? Temos desde logo os promotores, que assumem a iniciativa,
que têm a ideia, o projeto, que fornecem o capital de risco e que fornecem também
outros recursos necessários, oferecendo garantias à banca.
199
O project finance encontra-se portanto centrado no risco e não no crédito, pelo que as
garantias se centram aqui em minimizar os riscos envolvidos nesta operação, por isso
project finance permite evoluir dos esquemas de garantias tradicionais para uma
estrutura de garantias alternativas, as chamadas garantias contratuais, como se diz na
gíria.
De modo geral o reembolso e a remuneração do capital externo deve ser feito
fundamentalmente com recurso como vimos aos fluxos de caixa auto-gerados pelo
próprio projeto e tem como garantia precisamente os ativos do próprio projeto e um
conjunto de medidas de origem contratual, tudo isto com vista a minimizar ou a
amortizar os riscos e a evolução e a perda desses mesmos ativos.
200
O cheque – esta é uma ordem escrita de pagamento a um banco para que pague uma
certa importância em dinheiro ao emitente ou precisamente à pessoa inscrita no
cheque como ultimo beneficiário, com base em fundos que se encontram para esse
efeito disponíveis.
Constitui um meio de pagamento que foi criado precisamente com vista a substituir o
uso de notas ou moedas metálicas, para substituir uso de número da execução de
pagamentos.
Apesar do desuso atual, é ainda um meio de pagamento atual, havendo também
diversas modalidades de cheque, pressupondo a existência de um contrato
estabelecido entre o banco, o sacado, e o cliente, que é o sacador. Este contrato
chama-se convenção de cheque, pressupõe-se sempre a existência desta convenção,
permitindo ao sacados ir sacando os cheques, procedendo a pagamentos com base em
fundos disponíveis. Há uma provisão que corresponde ao crédito que o cliente, o
sacador, tem sobre o banco, um crédito que o banco lhe concede qualquer que seja a
forma que este crédito reveste.
Temos várias modalidades de cheques:
a) Nominativo – em que se indica o nome do beneficiário.
b) Ao portador – que não indica o nome do beneficiário
c) O visado – é aquele que a pedido do sacador, cliente, ou a pedido de um
portador do cheque, o banco sacado insere uma menção de visto, assegurado
que o sacador tem fundos disponíveis em depósito à quantia visada. Os bancos
quando visam um cheque devem imediatamente cativar na conta do sacado a
quantia correspondente, eventualmente devem transferir essa quantia para
uma conta especial, uma vez que os bancos são responsáveis pelo pagamento
desse cheque pelo prazo legalmente estabelecido para esse efeito.
d) Cruzado – este é um cheque que tem de ser pago a um banqueiro ou a um
cliente de um banqueiro se o cruzamento for geral, conforme o artigo 38º nº1
da LUC. Se o cruzamento for especial tem que ser pago ao banqueiro designado
e a um cliente dele apenas se o sacado for designado, conforme o 38º nº2 da
LUC.
e) Cheque para depositar em conta – conforme o 39º da LUC
f) Cheque de viagem – título emitido por uma instituição de crédito, ou por uma
entidade autorizada a criar instrumentos de natureza financeira, indica uma
determinada quantia em dinheiro à ordem do respetivo beneficiário, o qual
pode obter a quantia nela inscrita, nesse cheque, noutro local do planeta,
sendo disponibilizada por um correspondente da instituição sacada, que é
também o emitente desse instrumento financeira.
201
Quando se fala de cheques são títulos de crédito, que incorporam uma ordem de
pagamento dirigida ao banco sacado, uma ordem de pagamento feita pelo cliente, a
favor do próprio cliente, ou a favor de terceiro. Para lá da disciplina que se encontra na
LUC e de outros diplomas legais (há muitos a propósito dos cheques em especial os
aplicáveis à emissão de cheques sem coberturas e à restrição do uso de cheques por
parte de utilizadores de risco) temos a regulação contratual que é a tal convenção de
cheque que se falou, tanto podendo ser tácita como expressa. E, na maioria dos casos,
a convenção do cheque é constituída por cláusulas gerais predispostas pelos bancos,
sendo o contrato a que se refere o artigo 3º, 1ª parte da LUC. O cheque é sacado sobre
um banqueiro que tenha fundos à disposição do sacador e é precisamente em
harmonia com uma convenção de cheque, expressa ou tácita, segundo a qual o sacado
tem o direito de dispor desses fundos, através do cheque. Tanto a doutrina, como a
jurisprudência, classificam esta convenção do cheque, como sendo constitutiva de uma
relação de mandato, sem representação, um mandato para pagar. Os cheques
concretamente sacados, representam para uns uma autorização, para outros uma
delegação de pagamento e para a doutrina dominante os cheques concretamente
sacados representam uma ordem em sentido técnico. Quanto à primeira das relações
jurídicas que o cheque faz surgir temos a relação de cobertura, a relação de coberturas
é a relação que se estabelece entre o cliente do banco, entre o sacador e o sacado. É
claro que o pagamento do cheque pelo banco pressupõe a existência de fundos de
provisão na conta, enquanto simples intermediário nos pagamentos, o banco por meio
do cheque, compreende-se que o banco não atue salvo convenção em contrario
assumindo o risco do pagamento. Perante um não pagamento pelos cheques sacados,
designadamente por falta de provisão do cliente, e uma vez que não sejam
regularizada a situação nos termos legal e regulamentarmente previstos, os bancos são
obrigados a rescindir a convenção de cheque, ou então mesmo a não celebrar a
convenção de cheque. Existe para este efeito uma lista negra denominada lista de
utilizadores que oferecem risco, uma lista que o banco de Portugal faz circular
eletronicamente pelo sistema bancário. Depois temos a relação de valuta que é a
relação que se estabelece entre o sacador e o tomador do cheque, portanto nós temos
um titulo de credito, o cheque, que é vocacionado para circular, portanto o portador do
cheque pode ser o primitivo credor e o secador ou pode ser um terceiro a quem o
cheque foi endossado. A aceitação por alguém por um credor através de um cheque, é
uma aceitação naturalmente condicionada, há aqui uma condição suspensiva, à
cobrança, do valor inscrito no cheque. Seja em dinheiro, por exemplo, ao balcão do
202
banco sacado, seja por crédito definitivo na conta bancária do beneficiário desse título
ode crédito. Através do mesmo pagamento feito pelo banco sacado, extinguem-se as
duas relações jurídicas a relação de cobertura e a relação de valuta. Falta analisar se
esse estabelece ou não uma relação jurídica e se sim analisar de que espécie é essa
relação jurídica entre o banco sacado e o tomador do cheque.
O tomador do cheque, é por via de regra um terceiro, e não o cliente secador. Segundo
a doutrina dominante nesta matéria, o portador ou beneficiário do cheque não tem
direito de ação contra o banco sacado, porquê? Porque a convenção de cheque se
constitui ou se celebra entre o banco sacado e o sacador, o seu cliente. O que quer
dizer que o pagamento, que a principio pode ser legitimamente recusado pelo banco
sacado, desde logo se o cliente, o sacador, tiver revogado a ordem de pagamento
inscrita no cheque. Todavia deve-se ter em conta a circunstância que encontro decorrer
o período de apresentação do cheque a pagamento, que são 8 dias após a data
constante do cheque nos termos do artigo 29º da LUC. O sacador não pode revogar a
ordem de pagar que deu ao seu banco, o artigo 32º da lei uniforme sobre cheques diz-
nos que a revogação do cheque só produz efeito depois de findo o prazo de
apresentação, que é de oito dias após a data inscrita no cheque.
Para a opinião dominante entre nós são decisivas duas razões: em primeiro lugar o
artigo 40º da LUC atribui ao portador do cheque, a quem o cheque não for pago, o
direito de ação apenas contra os endossantes, o sacador e outros coobrigados, ou seja
o artigo 40º não atribui o direito de ação contra o banco sacado. Em segundo lugar, o
banco sacado deve fundamentalmente acatar as ordens e as contraordens do seu
cliente, portanto do sacador. Porque? Porque o banco sacado é mandatário do sacador
e se do acatamento dessas ordens e contra ordens do seu cliente, do seu mandante,
resultar a lesão de direitos de terceiro naturalmente que o banco será considerado rés
inter alio (?) e portanto apenas será o seu cliente responsável. Por outro lado, afirma-
se também que ao banco mandatário, não é exigível, nem o pode ser exigível, que
ajuíze do bem ou mal fundado da revogação da ordem de pagamento contida no
cheque, precisamente portanto são estes os fundamentos que conduzem a opinião
dominante a negar qualquer direito de ação ao portador do cheque contra o banco
sacado que recuse o pagamento a esse mesmo beneficiário da ordem de pagamento.
Este é o sentido de um acórdão uniformizador de jurisprudência de 2008, vai
exatamente nesse mesmo sentido. Todavia existe quem afirme que ao negar eficácia à
revogação do cheque a lei protege diretamente o interesse daquele a cujo favor o
mesmo é sacado. No contrato de cheque não é parte o respetivo beneficiário, nem tao
pouco poderá se lançar mão do efeito externo da convenção de cheque, que é
dogmaticamente muito discutível, assim não é concebível uma relação contratual,
entre o banco sacado e o terceiro portador do cheque; todavia existe quem afirme que
no artigo 32º da LUC conste uma obrigação legal, uma obrigação ex lege, do sacado
para com o beneficiário, e essa obrigação portanto que é uma obrigação
temporalmente circunscrita, que é a obrigação de pagar o valor do cheque. Entende-se
203
Temos depois a ordem de transferência bancária – hoje é mais usada que o cheque,
devido aos progressos da tecnologia e informática, há uma interconexão crescente do
204
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207
pode acatar a contra ordem, a revogação dessa mesma instrução. Ora se o cliente
instruir o banco para pagar a outro banco à ordem do beneficiário naturalmente que o
cliente deixa de poder revogar essas mesmas instruções a partir do momento em que o
seu banco tiver transmitido a ordem de pagãmente ao outro banco, a partir desse
momento o banco mandatário deixa de poder executar a contra ordem do seu
mandante.
Intervalo !
Quanto aos cartões [de débito]. Os cartões de débito (que são também
chamados “cartões de pagamento”) são hoje muito comuns para liquidar o valor de
transacções de bens e de serviços. São utilizados especialmente em balcões de
estabelecimentos comerciais e através deles efectuam-se, em terminais de pagamento
automático, transferências bancárias a favor de vendedores de bens ou a favor de
prestadores de serviços. Portanto, através dos cartões de débito têm lugar
transferências bancárias.
208
emitente ou gestora do cartão de crédito. E esta entidade vai, por sua vez, recuperar o
montante despendido, mas vai recuperá-lo diferidamente junto do titular do cartão.
Ora a concretização e a conformação da posição jurídica da entidade emitente (gestora
do cartão de crédito) encontra-se dependente dos termos da utilização do cartão pelo
respectivo titular, que é o beneficiário do crédito concedido. Temos aqui uma
atribuição patrimonial genérica feita ao beneficiário do cartão. E, portanto, se há uma
atribuição patrimonial genérica feita pela entidade emitente/gestora ao titular do
cartão, isto quer dizer que depende de concentração, depende de determinação pelo
próprio beneficiário, pelo próprio titular do cartão de crédito.
A natureza financeira desta actividade consiste, precisamente, no
financiamento geral das aquisições que são efectuadas por terceiros. Aquisições que
não pressupõem, por via de regra, qualquer ligação ou qualquer limitação a uma
especial actividade ou a qualquer empresa não financeira. Temos um meio que
globalmente simplifica as trocas e que facilita os actos de consumo. Portanto, num
contrato de compra e venda substitui-se o crédito de um comprador desconhecido (e
de solvibilidade duvidosa) pelo crédito de um sujeito conhecido e financeiramente
sólido. O emitente do cartão (portanto, o gestor do cartão) serve de intermediário na
fase executiva nas relações entre o titular do cartão de crédito e as empresas que
aderem ao respectivo programa, portanto, as empresas que se obrigaram a onerar,
naquela data, o cartão de crédito. Estas empresas renunciam a um pagamento a
contado pelos bens que vendem, ou pelos serviços que prestam, e têm perante o
emitente do cartão de crédito um direito à recuperação do crédito pelos bens vendidos
ou pelos serviços efectuados ao titular do cartão de crédito. Temos aqui uma função de
intermediação nos pagamentos, esta é a função primária do emitente e gestor do
cartão de crédito trilateral. Temos aqui, que efectivamente não se pode negar, senão
em virtude dos tempos técnicos que ocorrem entre o pagamento pelas aquisições do
titular do cartão, no exercício convencionado, e na recuperação do montante junto do
próprio titular, temos aqui que o emitente/gestor do cartão de crédito exerce
sistematicamente o crédito. Mais exactamente, exerce o crédito ao consumo. Não se
trata, naturalmente, da intermediação do crédito, não é isso que faz o emitente e
gestor do cartão, não recolhe o aforro para conceder crédito, não há uma
intermediação creditícia. Mas há uma intermediação nos pagamentos, há o exercício
do crédito ao consumo, e portanto verificam-se os pressupostos para a aplicação do
controlo publicístico organizado pela Lei Bancária, a que estas entidades se encontram
sujeitas.
Temos, desde logo, um contrato. Um contrato que é celebrado entre o emitente
e/ou gestor dos cartões de crédito e o titular do cartão de crédito. É o chamado
contrato de emissão ou contrato de utilização do cartão de crédito, que
consubstancia um contrato crédito ao consumo. Este crédito, o crédito que é
concedido, é autónomo da relação existente entre o titular do cartão e o vendedor ou
o prestador de serviços. Ou seja, a entidade emitente do cartão de crédito coloca à
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disposição do titular do cartão uma linha de crédito que não tem em vista um negócio
específico. E o comerciante aceita o cartão apenas como meio de pagamento. E
desconhece a forma pela qual o titular do cartão reembolsa a entidade emitente do
cartão. Nos termos do contrato celebrado com o titular do cartão, o emitente do cartão
compromete-se a pagar todas as despesas efectuadas pelo titular mediante a utilização
do cartão junto dos comerciantes associados. Faz esse pagamento recorrendo aos seus
próprios meios e desde que lhe sejam apresentados os correspondentes
comprovativos de pagamento regularmente preenchidos.
Os termos da obrigação assumida pelo emitente do cartão perante o respectivo
titular permitem identificar os elementos de um contrato de mandato comercial. A
entidade emitente actua por conta do titular mas em nome próprio. Portanto, a
entidade emitente assume as dívidas do titular e procede ao respectivo pagamento
mediante a antecipação das respectivas quantias e depois é reembolsada desses
mesmos montantes pelo respectivo titular. Temos aqui um mandato para o pagamento
de determinadas dívidas do titular do cartão. E o seu cumprimento vai assentar, antes
de mais, para parte da doutrina, na assunção dessas dívidas pela entidade emitente do
cartão. E esta assunção de dívidas tem lugar, desde logo, ao abrigo do art. 595.º, n.º 1,
al. b) do CCivil, portanto, mediante um contrato celebrado entre o novo devedor e o
credor com ou sem consentimento do antigo devedor. A utilização pelo titular do
cartão opera pro solvendo, ou seja, não só não extingue o crédito ao preço (o crédito
do comerciante) como também não libera o titular do cartão de crédito. O titular do
cartão de crédito permanece obrigado embora a título subsidiário, permanece
obrigado perante o comerciante. O pagamento feito pelo emitente do cartão de crédito
(o pagamento das despesas feitas pelo titular do cartão) determina a obrigação para o
titular do cartão de proceder ao reembolso deste montante perante a entidade
emitente. Esta obrigação de reembolso perante o mandatário, que decorre já dos
termos gerais (ou seja, do art. 1167.º, al. c) do CCivil), obedece, neste caso, a uma
disciplina própria. Portanto, em virtude da sua particular configuração e da sua
finalidade específica. O incumprimento pela entidade gestora da obrigação que assume
perante o titula, designadamente a recusa injustificada do pagamento (portanto, de
proceder ao pagamento ao comerciante), pode fazer incorrer essa entidade na
obrigação de reparar os danos que daí resultem para o titular do cartão de crédito. A
ordem de pagamento é, em princípio, irrevogável. E com isto pretende-se,
normalmente, garantir a segurança e a celeridade de um esquema de pagamento a
muito curto prazo.
Depois temos o contrato celebrado entre a entidade emitente/gestora do
cartão de crédito e o comerciante. O funcionamento deste sistema pressupõe também
a prévia celebração deste contrato, que se denomina como “contrato de associação”. É
um contrato, também, por adesão, como é o contrato de utilização celebrado com o
titular do cartão. O comerciante obriga-se a onerar todos os cartões de crédito que lhe
forem exibidos, ou seja, obriga-se a fornecer bens ou serviços aos titulares dos cartões
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“Isto a propósito, também, do direito bancário institucional”.
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“Passando para outro ponto”.
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Banco de Portugal tem vindo a acompanhar a prática das instituições de crédito nesta
matéria. Aqui interessa a Instrução do Banco de Portugal n.º 24/2010 de 14 de
Outubro – uma instrução que veio impor às instituições de crédito o reporte ao Banco
de Portugal das minutas de contratos de crédito à habitação e de crédito aos
consumidores, bem como das suas posteriores alterações. Com esta exigência de
prestação de informações o Banco de Portugal passou a dispor de mecanismos que lhe
permitem, no âmbito das atribuições legais que tem, de realizar acções de fiscalização
dessas minutas. O Banco de Portugal pode concluir pela frequente inclusão de
cláusulas de ius variandi nestes modelos contratuais, quer nos contratos de crédito à
habitação, quer nos contratos de crédito aos consumidores. O Banco de Portugal
resolveu divulgar orientações sobre as boas práticas que as instituições de crédito
devem acolher e seguir sempre que decidam incluir nos contratos de crédito cláusulas
de ius variandi. E estas orientações têm em vista promover a transparência, promover
a objectividade, promover a proporcionalidade da atuação das instituições de crédito
nesta matéria do crédito ao consumo. Fixam-se boas práticas no que toca à redacção
destas cláusulas de ius variandi e estabelecem-se princípios a observar pelas
instituições de crédito no âmbito do exercício deste ius variandi que lhe é conferido
contratualmente. O Banco de Portugal entende, em primeiro lugar, que apenas os
factos externos ou alheios à instituição de crédito que sejam relevantes, excepcionais e
tenham subjacente um motivo ponderoso fundado em juízo ou critério objectivo
devem ser considerados razão atendível, portanto, para efeitos da al. c) do n.º 1 e da
al. a) do art. 22.º do DL 446/85. Em segundo lugar, entende o Banco de Portugal que os
consumidores devem dispor de pelo menos 90 dias para, após comunicação das
alterações por parte da instituição de crédito, ponderar o exercício do direito de
resolução do contrato. Em terceiro lugar, entende o Banco de Portugal que deve ser
especificado o momento a partir do qual as alterações introduzidas unilateralmente
pela instituição de crédito produzem efeitos. E entende o Banco de Portugal que essas
alterações apenas deverão produzir efeitos no período de contagem de juro
imediatamente seguinte ao termo do exercício do direito de resolução do consumidor.
Em quarto lugar, entende o Banco de Portugal que deve ser prevista a reversão das
alterações introduzidas quando e na medida em que os factos que as tenham
justificado deixem de se verificar e, portanto, devem ser estabelecidos os
procedimentos necessários para a respectiva produção de efeitos. Por outro lado,
sempre que de acordo com a lei e com o contrato de crédito as instituições de crédito
tenham legitimidade para alterar unilateralmente a taxa de juro ou outros encargos do
contrato de crédito, o exercício dessa faculdade deve obedecer ao princípio da
proporcionalidade. E deve assentar numa relação de causalidade: causalidade entre,
por um lado, o evento invocado, e, por outro lado, o teor e o alcance da alteração
contratual que se pretende introduzir. Por outro lado, o exercício do direito de
alteração unilateral deve ser precedido de comunicação escrita ao consumidor em que
sejam elencados os motivos subjacentes a essa alteração, etc. O Banco de Portugal
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Nas suas relações com os clientes, os bancos são obrigados aos deveres de
informação, aos deveres de diligência, aos deveres de lealdade, aos deveres de sigilo.
Portanto, subjaz à relação bancária a fidúcia. Há aqui uma relação fiduciária que se
estabelece entre a banca e a clientela. Está também em causa a condição profissional
da banca. Naturalmente que do estatuto de empresa bancária decorrem para os
bancos obrigações especiais cuja violação é fundamento de responsabilidade. Desde
logo, obrigações de protecção que decorrem, precisamente, desse status profissional
da banca. E, portanto, aqui leva-se em conta a Lei Bancária, decorrem da própria Lei
Bancária obrigações legais de protecção da clientela, cuja violação dá origem a
responsabilidade contratual. Há obrigações de comportamento que são impostas à
banca no exercício da actividade por normas internas primárias ou secundárias,
normas de natureza publicística, normas que podem ter reflexos nos negócios que a
banca celebra com os respectivos clientes. E, portanto, assim também se enriquece o
conteúdo das respectivas relações obrigacionais. Ou então essas normas podem
constituir fontes de obrigações não negociais para tutela de interesses merecedores de
tutela do ordenamento jurídico, com base, precisamente, nos valores expressos na
ordem jurídica. Portanto, interesses esses que não se encontram suficientemente
protegidos pelo princípio geral subjacente à responsabilidade aquiliana. Temos normas
de comportamento enquanto fonte de particulares obrigações negociais e de
obrigações não negociais que encontram expressão em alguns casos de
responsabilidade da banca por violação de obrigações de conduta que não são
recondutíveis nem a normas específicas que regulam os negócios jurídicos que a banca
celebra com os clientes, nem tão-pouco às regras gerais que impõem à banca uma
conduta diligente e de boa fé. Portanto, as regras da responsabilidade civil aquiliana ou
extra-obrigacional. Portanto, temos aqui obrigações que decorrem de regras internas
do sector bancário, e cuja violação dá origem à responsabilidade contratual 62.
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“Aconselhava-os a consultar o Decreto-Lei n.º 227/2012 de 25 de Outubro a propósito do
dever de renegociação dos contratos. Não tivemos tempo de dar esta matéria em virtude […] houve
aqui um lapso qualquer nas aulas […] que não sei a que é que se deve, e, portanto, esta matéria não
pôde ser dada. Esta matéria, extremamente interessante, não pôde ser leccionada. Mas a este
propósito, por curiosidade, consultem este diploma. Não é uma matéria que lhes vai ser exigida para
efeitos de avaliação, é só por curiosidade”.
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