Qual A Possível Relação Entre A Decadência Da Função Paterna Na Infância Com O Desrespeito Do Indivíduo Às Leis de Trânsito Quando Adulto?
Qual A Possível Relação Entre A Decadência Da Função Paterna Na Infância Com O Desrespeito Do Indivíduo Às Leis de Trânsito Quando Adulto?
Qual A Possível Relação Entre A Decadência Da Função Paterna Na Infância Com O Desrespeito Do Indivíduo Às Leis de Trânsito Quando Adulto?
Brasília
2018
ROSIANE RODRIGUES BERNARDO
Brasília
2018
ROSIANE RODRIGUES BERNARDO
Banca Examinadora
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Brasília
2018
RESUMO
INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------------------7
Introdução
O respeito por leis em geral, e a moral, são conceitos que deveriam ser
aprendidos e introduzidos à consciência do indivíduo durante a infância.
De acordo com a abordagem psicanalítica, entende-se que a função paterna
tem como principal papel, introduzir tais conceitos na infância, principalmente o
respeito às leis da sociedade.
É importante ressaltar que, de acordo com as discussões psicanalíticas
atuais, o papel deste “pai”, conceito bastante citado acima, hoje é compreendido
como uma “função paterna”, podendo ser feita na vida da criança por outra pessoa
que não seja efetivamente o pai biológico. O importante é que esta função seja
exercida por alguém, pois é através dela que o indivíduo é preparado para viver em
sociedade.
É somente por meio de uma função paterna presente e bem exercida na
infância do indivíduo, que ele quando adulto, poderá se lançar ao mundo e enfrentá-
lo com segurança e responsabilidade.
Mas o que se percebe nos dias atuais, é um declínio desta função. A
interdição não tem prevalecido na educação e no desenvolvimento psicológico e
emocional das crianças. Tem prevalecido a cultura do “tudo é permitido”.
A criança acaba crescendo num ambiente de insegurança e instabilidade,
fazendo com que a mesma se sinta “solta” no mundo, sem amparo e referencial
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moral. Crescem adultos que não aceitam limites e imposições da sociedade. Há uma
generalizada crise de autoridade, o pai que interdita, que dá limites, não prevalece.
A discussão realizada acima, permite e ressalta a importância de uma
reflexão entre este possível declínio da função paterna na infância do indivíduo,
permitindo que o mesmo, quando adulto, não respeite as leis da sociedade.
Leis estas, como as de trânsito, as quais são o alvo deste presente estudo.
5. Objetivos Específicos:
Este estudo teve como base a pesquisa qualitativa que é “um estudo não
estatístico, que identifica e analisa em profundidade dados de difícil mensuração de
um determinado grupo de indivíduos em relação a um problema específico. Entre
eles estão sentimentos, sensações e motivações que podem explicar determinados
comportamentos, apreendidos com o foco no significado que adquirem para os
indivíduos”, conforme a Pólis Pesquisa (2015).
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O mais importante é que esta função seja exercida por alguém, pois é através
dela que o indivíduo é preparado para viver em sociedade.
Neste sentido, Freud em Totem e tabu (1913/1980b), enfatiza que a lei é
imprescindível para se viver em sociedade, pois impõe que o indivíduo faça
renúncias. Para ele, esta relação do sujeito com este pai presente em sua infância,
introduz o sentimento de culpa, possibilitando que o indivíduo respeite às leis e viva
em sociedade, enxergando “o outro.”
Mas nos dias atuais, a sociedade tem se deparado com indivíduos totalmente
intolerantes a frustrações, que desrespeitam as leis, e não percebem que vivem em
sociedade. Percebe-se uma fraqueza estrutural e generalizada da metáfora
paterna/função paterna/limites.
Há um fechamento do sujeito, uma refutação do outro, uma era em que o
Outro não existe. Havendo uma ação coletiva do princípio do prazer (PP), em que
rege o discurso do prazer, do “tudo é permitido”, do desrespeito generalizado pelas
leis.
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- Trânsito:
- Comportamento:
- Moral:
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“A moral, é eminentemente prática, voltada para a ação concreta e real, para
um certo saber fazer prático-moral e para a aplicação de normas morais
consideradas válidas por todos os membros de um determinado grupo social”,
afirma Pedro (PEDRO, A. P., 2013).
Já Goldim (2003), define que, “A moral estabelece regras que são assumidas
pela pessoa, como uma forma de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das
fronteiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se
conhecem, mas utilizam este mesmo referencial moral comum”. (GOLDIM, J. R.,
2000-2003)
- Leis:
2.3 Estatísticas:
- Ministério da Saúde:
- Portal do Trânsito:
“Cerca de 95% dos acidentes são causados por falha humana ou falha
mecânica por falta de manutenção, o que também não deixa de ser uma falha
humana do condutor. É preciso mudar, de fato, a cultura no trânsito”, afirma
Campestrini, do Observatório de Segurança Viária. Segundo o especialista, além de
reforçar a fiscalização no trânsito, com a realização de um maior número de
fiscalizações, o país precisa avançar na formação dos seus condutores.”
O Portal do Trânsito (2018) alerta que, “esse número de 37 mil vidas perdidas
em acidentes por ano é superior à população de muitas cidades brasileiras.
Infelizmente, quando boa parte da população pensa em trânsito, o que vem à mente
são os congestionamentos e chamada indústria da multa, mas o que temos é uma
indústria da dor e da morte”, afirma Renato Campestrini, advogado, especialista em
trânsito e gerente técnico do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV).
Além das mortes, 600 mil pessoas ficam com sequelas permanentes todos os anos
em decorrência de acidentes de trânsito”.
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Ainda segue ressaltando que, “no Brasil, mais de 60% dos leitos hospitalares
do Sistema Único de Saúde (SUS) são ocupados por vítimas por acidente de
trânsito. Nos centros cirúrgicos do país, 50% da ocupação também são por vítimas
de acidentes rodoviários. Segundo o Observatório de Segurança Viária, os acidentes
no trânsito resultam em custos anuais de R$ 52 bilhões,” Portal do Trânsito (2018).
- Portal Brasil:
mil habitantes, seguido pelo estado do Tocantins, com uma taxa de 36,10,
e o de Roraima, com uma taxa de 32,83 por 100 mil habitantes.”
Relatam que, “os gastos com óbitos e feridos por acidentes de
trânsito no Brasil, em 2015, foi de R$ 19 bilhões, o que representa um
valor superior à arrecadação do estado do Mato Grosso em 2016 (R$ 16
bilhões), por exemplo. De acordo com relatório do Ipea, publicado em
2015, o impacto econômico causado pelos acidentes de trânsito, apenas
em rodovias federais, no Sistema Único de Saúde foi perto de R$ 1 bilhão
para o ano de 2014.”
Capítulo 3. Relacionando a função paterna e a possível
interferência da mesma, na formação moral do condutor de trânsito
quando adulto:
fazendo com que a mesma se sinta “solta” no mundo, sem amparo e referencial
moral. Crescem adultos que não aceitam limites e imposições da sociedade.
Há uma generalizada crise de autoridade, o pai que interdita, que dá limites,
não prevalece.
Na atualidade está prevalecendo as satisfações pulsionais e inconscientes do
sujeito, sobre o Superego. Pois o Superego, que impõe ao indivíduo o que é ou não
moralmente aceito, e que advém de uma função paterna presente e eficaz, está
“falhando”. Como se estivesse havendo um “afrouxamento generalizado de
Superego” na sociedade.
Tentar reintroduzir no sujeito contemporâneo a possibilidade do diálogo, a
existência de um Outro, que lhe impõe barreiras.
Este Outro (função paterna) que lhe faltou durante a infância (período do
Complexo de Édipo).
Seria dizer então, quando adulto, o sujeito dizer “sim” ao Pacto Civilizatório,
proposto por Freud em seu artigo Mal-Estar na Civilização (1930).
Sobre este tema, o escritor Hélio Pellegrino (2010), cita que, “para Freud, este
processo implica, necessariamente, uma renúncia pulsional tanto erótica quanto
agressiva. Civilizar é, portanto - e por um lado -, reprimir ou suprimir.
Tal conceito fica expresso, com clareza, no livro O Mal-estar da Civilização e,
através dele é possível compreender a presença, em cada ser humano, de um certo
- e inevitável - rancor contra a cultura.”
E para concluir este raciocínio, o escritor Pellegrino (2010), prossegue:
Esta imposição de limites feita através da função paterna, faz com que a
criança se sinta segura e se organize internamente para enfrentar o mundo externo.
E ao internalizar tais cuidados, ela aprende como cuidar de si mesma quando adulta.
Então de acordo com a psicanálise, é somente por meio de uma função
paterna presente e bem exercida na infância do indivíduo, que ele quando adulto,
poderá se lançar ao mundo e enfrentá-lo com segurança e responsabilidade.
Mas nos dias atuais, a sociedade tem se deparado com indivíduos totalmente
intolerantes a frustrações, que desrespeitam as leis, e não percebem que vivem em
sociedade.
E como foi o assunto central desta presente pesquisa, no trânsito houve um
significativo aumento do desrespeito às leis, faltando uma conduta moral por grande
parte dos condutores e pedestres. O que rege é o discurso do “tudo é permitido”, do
desrespeito generalizado pelas leis.
É importante ressaltar que o trânsito, por ser um espaço de relações sociais,
é um sistema, que é constituído e regido por leis e normas a serem seguidas e
respeitadas por todos os indivíduos que o compõem, mas na realidade sabe-se que
isto não ocorre.
Como consequência destes comportamentos de indivíduos infratores,
atualmente o Brasil é o quinto país com vítimas fatais no trânsito.
Através desta pesquisa, concluiu-se que, a maioria dos acidentes são
causados por desrespeito às leis de trânsito, por “falha” humana.
Há um elevado número de vítimas fatais e de pessoas que ficam “inválidas”
decorrentes destes acidentes nas vias brasileiras.
Ao optar por comportamentos tão desafiadores da lei, com consequências tão
preocupantes, percebeu-se através desta pesquisa que, estes indivíduos têm uma
grande dificuldade com algo que lhe imponha limites, que barre suas satisfações
pulsionais (desejos inconscientes).
Na contemporaneidade o que se percebe é que há uma necessidade de
regular no psiquismo do sujeito a realização destes “gozos pulsionais”, com a
ausência ou o declínio desta função paterna.
É uma ruptura do sujeito com os laços sociais, uma ideologia narcisista e um
fechamento sobre si mesmo e seus gozos pulsionais. São comportamentos com
práticas puramente pulsionais (inconscientes), sem limites.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SCHMITZ, A.R.; SILVA, P.V.; O trânsito depende de todos nós. C.A. Mariuza &
L.F. Garcia (Orgs.) Trânsito e mobilidade humana: Psicologia, Educação e
Cidadania. – Porto Alegre: Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul,
2010.