Universidade Alberto Chipande (ISCTAC) : Nome: Hermínio Alberto Lucas

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Universidade Alberto Chipande (ISCTAC)

Faculdade de Ciências Políticas e Sociais Curso de Licenciatura em Ciências Juridicas

Nome: Hermínio Alberto Lucas

Tema: Regime Moçambicano de concorrência

Cadeira: Direito Economico

Ano: 2°, 2022

Docente:

Beira aos, Maio de 2022


Índice
Constituição Económica e a protecção da concorrência em Moçambique..................................4
Aspectos gerais............................................................................................................................4
Protecção da concorrência na Constituição da República Popular de Moçambique de 1975......5
Protecção da concorrência na Constituição da República de Moçambique de 1990...................6
Protecção da concorrência na Constituição da República de Moçambique de 2004...................7
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................................9
INTRODUÇÃO

O regime jurídico da Concorrência em Moçambique constitui o tema. Constitui tema de


grande relevância para actualidade, na medida em que com a liberalização do comércio,
quer ao âmbito nacional, regional assim como mundial regista-se o crescimento maior
da procura e oferta nos mercados, afigurando-se importante que os Estados adoptem
normas que defendam e protejam a concorrência com vista a torna-la leal, justa e eficaz.
E é neste âmbito, em virtude de Moçambique comportar uma lacuna legislativa e
institucional que protege e defende a concorrência que colocamos a nossa questão que
se resume-se em procurar saber, quais os problemas ou práticas anticoncorrenciais que
daí resultam? Portanto, terá como objectivo geral discutir a questão do regime jurídico
da concorrência em Moçambique a partir de doutrinas próprias, passando pela resenha
histórica das constituições económicas moçambicanas. Especificamente consistirá em
identificar os problemas ou práticas restritivas da concorrência resultantes do vazio
legal e institucional que protege e defenda a concorrência em Moçambique, analisar a
manifestação da concorrência em alguns sectores do mercado Moçambique, entre
outros. O trabalho está dividido em três (3) capítulos, onde: O primeiro capítulo
debruça-se sobre conceitos e concepções doutrinárias de concorrência; no segundo,
sobre a protecção constitucional da concorrência e no terceiro e último sobre os
problemas ou práticas resultantes do vazio legal e institucional da defesa e protecção da
concorrência em Moçambique. No que tange à metodologia usada, o trabalho tem por
base a consulta de meios bibliográficos
Constituição Económica e a protecção da concorrência em Moçambique

Aspectos gerais
A regulamentação da concorrência tendo surgido num contexto económico bastante
específico, sec. XIX com as Leis Anti-trust dos EUA, é nos dias de hoje uma temática
central para os Estados na prossecução das suas políticas económicas. A sua não
regulamentação nos dias que correm é tida como um mal que pode enfermar o mercado
e até a economia numa perspectiva global. Isto significa que a protecção e defesa da
concorrência é uma opção fundamental do Estado e, como tal, deve estar plasmada na
Constituição entendida como a “mater legis”, “Lex fundamentalis” da organização do
Estado. Pois da sua desprotecção podem resultar graves violações dos direitos
fundamentais dos cidadãos, colocando assim em causa o Estado de Direito democrático
que assenta no reconhecimento e valorização daqueles e demais princípios ou valores
fundamentais.

Em sede da protecção constitucional da concorrência, Moçambique trilhou um


importante percurso histórico que entendemos relevante fazer a sua resenha histórica e
se divide em três fases, quais sejam:

De 1975-1990, fase correspondente à Primeira Constituição da República de


Moçambique;

De 1990-2004, fase correspondente à Segunda Constituição da República de


Moçambique e a De 2004, até os dias de hoje.

Tomando posicionamento sobre a discussão da corrente que tem defendido a existência


de uma Constituição Económica intercalar (correspondente ao período de 1984-1990),
entendemos conveniente incluir no nosso trabalho, no âmbito da resenha histórica a que
nos propomos fazerde seguida. Trata-se de um período histórico marcado pela
implementação do Programa de Reabilitação Económica e ou Social, doravante PRE/S.

Protecção da concorrência na Constituição da República Popular de Moçambique


de 1975
A economia moçambicana conheceu a sua evolução com a independência do país a 25
de Junho de 1975, iniciando assim um ciclo organizado e coerente de um sistema
económico na sua grande parte, comum a todos os outros sistemas económicos, dos
Estados modernos. Assumiu-se Moçambique desde cedo, como um país do sistema
económico socialista ou centralmente planificado46, tendo expressamente consagrado
na Constituição de 1975 como um dos seus objectivos fundamentais a edificação de
uma economia independente (vide art. 4º da CRPM de 1975). Cabia ao Estado
promover a planificação da Economia47 (vide art. 9º da CRPM de 1975), decidir sobre
as três questões fundamentais da economia, quais sejam: o que produzir, como produzir
e para quem produzir? O sector económico do Estado era dominante e determinante,
pois que era o elemento dirigente e impulsionador da economia nacional (vide art. 10º
da CRPM de 1975). Por esta razão, este sector gozava de protecção especial, sendo que
todos os sectores considerados como não estratégicos, poderiam estar sob o controlo de
propriedade privada, que na altura era tolerada, mas mediante condições que de certa
forma desencorajavam-na A CRPM de 1975, a de Tófo49 consagrava a subordinação do
poder económico ao poder político (o art. 3º reza: “A República Popular de
Moçambique é orientada pela política definida pela FRELIMO que é força dirigente do
Estado e da sociedade”), apropriação dos principais meios de produção, a planificação
central da economia e a intervenção democrática dos trabalhadores. O Estado visava a
construção de um mercado ideal em que os bens produzidos pelo sector estatal seriam
homogéneo haveria uma perfeita informação sobre os produtos e o preço dos mesmos
seria estabelecido em perfeita consonância entre as unidades produtivas e as
necessidades do mercado. O Estado moçambicano visava, por um lado, promover o
robustecimento económico do sector estatal, apostando sobretudo em empresas estatais
para a satisfação dos interesses da colectividade e, por outro lado, restringir o sector
privado fazendo com que muitas áreas de desenvolvimento económico fossem da sua
exclusiva exploração, a título de exemplo podemos apontar as instituições de ensino, a
banca, os hospitais, etc. Estes verdadeiros monopólios instalados nesta época
constitucional, constituíram um grande obstáculo à concorrência que traz consigo a
ideia de luta contra o monopólio. Portanto, nestes termos podemos afirmar seguramente
que na CRPM de 1975 não se encontravam consagradas normas de protecção e defesa
da concorrência, sendo que não estavam reunidos os pressupostos para se falar da
concorrência: Independência dos agentes económicos Rivalidades entre os agentes
económicos e Ausência de limitações legislativas nocivas à actuação dos particulares
em certos sectores da economia

O período de 1984-1990 e a Implementação do Programa de Reabilitação Económica –


PRE
Em meados da década 80, Moçambique lançou um programa de ajuste estrutural com o
apoio do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, denominado Programa de
Reabilitação Económica, doravante PRE. 50 O PRE teria como objectivo debelar a
grave crise económica e social que o país atravessava, resultado do fracasso das
estratégias de desenvolvimento socialistas adoptadas após a independência e da guerra
civil que também assolava o país até então. Face à necessidade de dar respostas urgentes
às necessidades da população, a partir de 1983 o Estado começou a reconhecer o papel
fundamental da iniciativa privada. Em Setembro de 1987, através da Resolução nº
15/87, a Assembleia Popular reunida na sua II sessão determinou: Aprovar o Relatório
do Governo sobre o Programa de Reabilitação Económica e o Programa de Emergência
para acorrer as deficiências económicas que caracterizavam o Estado moçambicano.
Fazendo jus a essa situação e consciente das falhas e o perigo que o centralismo
económico representava, o Estado moçambicano propôs uma reforma em todos os
níveis. Reconhece-se que o objectivo fundamental naquele momento era da eliminação
drástica da intervenção pontual do Estado em todos os níveis, principalmente nas
empresas estatais ou privadas. Assim, as decisões relativas à gestão e direcção da
economia deveriam ser tomadas pelos agentes económicos, empresas, cooperativas e
famílias visto que era impossível gerir a economia pela via administrativa

Protecção da concorrência na Constituição da República de Moçambique de 1990


O processo de transição iniciado em meados da década 80 teve a sua concretização nos
anos 90 quando o povo moçambicano adoptou e proclamou uma nova constituição,
designada Constituição da República de Moçambique de 1990, volvidos 15 anos após a
Independência e Aprovação da primeira Constituição de Moçambique. Trata-se de
Constituição simpática à propriedade privada e mista e encorajadora das iniciativas
económicas de mercado segundo se infere do art. 41º da respectiva Constituição de
1990. Assim, podemos firmemente dizer que o nosso legislador Constituinte de 1990,
despertou para uma necessidade de estabelecimento de um conjunto de normas
constitucionais de organização económica52 visando certos objectivos, considerados só
alcançáveis no quadro institucional de um mercado aberto na maior medida possível a
todos os agentes económicos e consumidores, tendo se apercebido que a concorrência
não se desenvolve espontaneamente entre as empresas participantes no mercado.
Reconhece-se a iniciativa privada (vide o nº 1 do art. 41º da CRM 1990) e o papel do
Estado como impulsionador da participação activa do empresário nacional no
desenvolvimento económico do país (vide art. 43º da CRM 1990).

Protecção da concorrência na Constituição da República de Moçambique de 2004


A CRM de 2004 reforça abertura do mercado para a solidificação de uma economia
livre, uma economia do mercado, em que os agentes económicos são incentivados e
respeitados nas suas iniciativas. O art. 9754 da CRM de 2004 assumiu-se como pedra
angular sobre a consagração da Concorrência. Esta, à semelhança da anterior
Constituição de Tófo reconheceu o princípio da coexistência e da complementaridade
entre os vários sectores de actividade, o público, privado e o cooperativo (vide art. 99º
da CRM 2004). Ela não ficou alheia à questão do Direito dos Consumidores (vide art.
92º da CRM de 2004). Este facto vai revestir importância na medida em que ficam
salvaguardados constitucionalmente

CONCLUSÕES

A não protecção da concorrência é hoje tida como um mal que pode enfermar o
mercado e até a economia numa perspectiva global. Quer isto dizer que a defesa da
concorrência é uma opção fundamental do Estado e, como tal, deve estar plasmada a
nível da constituição já que da sua desprotecção podem resultar graves violações dos
direitos fundamentais dos cidadãos. É com a constituição económica que o Estado vai
definir e assegurar uma equilibrada concorrência entre os agentes económicos, cabendo
ulteriormente ao legislador ordinário concretizar e estabelecer a garantia desse direito.
Feita a resenha histórica, notabilizou-se que nem sempre o Estado moçambicano
protegeu a concorrência nas suas constituições. A CRPM de 1975, caracterizou-se pela
consagração do modelo económico socialista, onde o Estado detinha monopólio sobre
quase todos sectores da economia e a propriedade privada era limitadamente
reconhecida. Estes monopólios são contrários à ideia da liberdade da concorrência. É
com o PRE que foram lançadas as sementes que possibilitaram o despontar da
concorrência empresarial em Moçambique. Configurou-se como primeira evidência,
ainda que precária, o desenvolvimento do mercado comercial moçambicano. As
constituições de 1990 e 2004 vêm reforçar a abertura do mercado, solidificando uma
economia livre e de mercado em que os agentes económicos são incentivados e
respeitados nas suas iniciativas. Portanto, podemos afirmar que a concorrência em
Moçambique foi primordialmente consagrada ano nível constitucional, cumprindo ao
nosso legislador ordinário regular sobre todas as práticas consideradas anti-
concorrenciais que são bastantes nefasta para uma concorrência sã, leal e justa. É
imprescindível defender a concorrência, não somente por razões económicas, mas
também por razões políticas e sociológicas, ou seja, a concorrência é indispensável
numa sociedade que se pretende democrática, onde haja uma liberdade de escolha dos
consumidores e que a mesma não seja viciada pela pressão de empresas e, onde o
Estado exerce o seu poder de fiscalizador imparcial da economia
BIBLIOGRAFIA
ALFREDO, Benjamim, Noções Gerais do Direito Económico, Maputo, 2010;

 AMATO Giuliano, Antitrust and the Bounds of Power, Oxford: hart publishing
1997,

 BANGY, Azeen, R, Defesa da Concorrência em Portugal, 1998;

 DE SOUSA, A. “Análise Económica”, Lisboa: Universidade Nova, 1988;

 DE MOURA, F. P, “Lições de Economia”, Lisboa: Clássica, 1969;

 DE MONCADA, Luís S. Cabral, “Direito Económico”, Coimbra editora, 2000;

 EIRO, Pedro, noções elementares de Direito, Editorial Verbo, 1999;

 ESTEFANIA, Joaquim, “A Nova Economia”, editorial presença, 1ª edição, Lisboa,


1996;

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