Tribunal Do Juri e A Influencia Da Mídia

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 35

10

1. INTRODUÇÃO

O Direito Penal, que define normas de caráter material e tem por escopo à proteção de
alguns dos mais sagrados bens do homem, como, por exemplo, a vida, ao trazer as "regras do
jogo" determinadas, o Direito Penal busca não só apenas elencar a pena para quem infringir
suas determinações, antes disso, o Direito Penal e o Direito em si, tem a função preventiva e
inibidora de tais condutas, estabelecendo que ao crime cometido lhe caberá uma pena,
freando, naturalmente, ações delituosas.
Ademais, o Estado, agindo em nome do dever-punir, estabelece normas instrumentais
que visam assegurar a efetivação do direito material que, em cede de crimes, são
vislumbradas no Processo Penal.
Contudo, existem garantias arraigadas ao homem que nem mesmo o direito material
penal ou o processual podem se desvencilhar. Muitas dessas garantias estão previstas nas
Cartas Magnas de cada nação, sendo que, a nossa, de 1988, é extremamente assecuratória
quanto aos direitos e deveres dos cidadãos, mesmo quanto ao sofrimento de sanções penais.
Neste viés, sublinha-se que ao poder-dever do Estado de punir aqueles que
transgridem as leis penais não é dado caráter absoluto, visto que nossa Constituição Federal, a
mãe das leis, estabelece que os direitos mínimos do homem devem ser observados, sendo que
o direto à vida e a liberdade se traduzem nas suas principais proteções.
Objetivando essa proteção, a Constituição trouxe em seu bojo princípios de direito que
devem ser respeitados para o desenrolar legal de um processo criminal, como por exemplo, o
direito do réu ao devido processo legal, onde lhe será concedido o direito a resistir à pretensão
punitiva do estado, lhe garantindo o direito à ampla defesa, ao contraditório e à presunção de
inocência, tendo, o órgão acusar, o ônus de provar sua culpabilidade, em face do réu
encontrar-se num estado de inocência presumida, segundo os ditames do art.5°, LVII da
Constituição Brasileira, que assim determina: "ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória".
Não obstante o tratamento legal dado ao réu objetivando protegê-lo de qualquer tipo
de pré-julgamento, nota-se que a exploração midiática, principalmente de casos que chocam a
opinião pública, muitas vezes pode contribuir para que a efetividade do princípio da
presunção de inocência seja reduzida. Aliás, não é raro conhecermos o resultado final da
sentença que será produzida por um tribunal do Júri diante do suntuoso espaço que é dado nos
veículos de comunicação à discussão, por vezes imprópria, do crime, que acaba coadunando
11

com a propagação da informação viciada na opinião pública e por fim nos jurados, que são
partes da sociedade.
Assim, o presente trabalho tem por objetivo analisar e estudar o fenômeno da
efetividade social do princípio da presunção de inocência em casos de grande repercussão em
Júris Populares, trazendo alguns exemplos práticos para ilustrar o tema.
A idéia do tema nasceu da minha observância de casos onde os réus que, seriam
julgados pelo conselho de sentença popular, eram colocados como condenados, antes mesmo
de julgados, pela mídia e opinião pública, como por exemplo, o caso do casal Nardoni,
Daniela Peres e internacionalmente o caso do astro pop Michael Jackson. Pude observar que
de fato não há uma preocupação do judiciário e do legislativo com a efetivação desse direito
tão importante para o desenvolvimento do devido processo legal, o que gera julgamentos
duvidosos e muitas vezes distantes do verdadeiro sentido de justiça.
Aprofundando mais o tema, constatei que algumas medidas poderiam ser tomadas para
que o princípio da presunção de inocência pudesse ter maior efetividade, como a adoção de
proibição da divulgação dos nomes dos réus em casos em que a opinião pública é comovida
emocionalmente pelo crime praticado, a exemplo do que já faz o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Deste modo, pretendo levantar a discussão sobre o que de fato é ter o direito a ser
presumido inocente. Qual o papel da mídia e da opinião pública e as formas de amenizar os
impactos das possíveis influências advindas da pressão popular sobre os jurados, tendo como
luz a busca da efetivação à presunção de inocência.
Inicialmente iremos trazer as informações para a compreensão do tema, o histórico do
princípio da presunção de inocência e dos júris populares, para posteriormente podermos
analisar mais a fundo os institutos, culminando com o estudo da possibilidade da influência da
mídia e da opinião publica nos jurados, comprometendo os direitos basilares do réu, e,
finalmente, ilustrar através de casos práticos como acontecem tais influências e finalmente e
mitigação do princípio.
12

II - CAPÍTULO

2. OS ASPECTOS HISTÓRICOS RELEVANTES

2.1 BREVE HISTÓRICO DO TRIBUNAL DO JÚRI

As origens históricas do Tribunal Popular, apesar de incertas em data específica,


remontam a épocas antiguíssimas, podendo-se visualizar a sua feição já nas comunidades
hebraicas e judaicas, muito tempo antes de Cristo.
Na Grécia antiga, a figura do Júri Popular era extremamente presente, através dos
institutos da Heliéia e Areópago, cidadãos gregos eram postos a julgar crimes em reuniões em
praça pública, sem qualquer tipo de sigilo, de acordo com a sua convicção. O cidadão gregos
que votariam eram escolhidos dentre 6.000 outros, sempre chamados em número ímpar,
inclusive, vale destacar, que um dos mais famosos julgamentos pelo tribunal popular a essa
época foi o do filosofo Sócrates (469-399 a.C), que fora citado em obras de Platão, condenado
por maioria de votos, e, assim, mesmo com a oportunidade de exilar-se, reconheceu a
legitimidade da instituição.
Não diferente da comunidade Grega, na Roma Antiga também existia a figura do Júri
Popular. Nesta, era representada pelas Quaeostines, que foram o marco inicial da jurisdição
penal em Roma. Cidadãos comuns, sorteados em listas que continham cerca de mil nomes,
com idoneidade moral, eram postos ao julgamento de crimes em moldes muito parecidos ao
que conhecemos hoje no em nosso país.
Algumas dessas características comuns podem ser assim descritas: a) idêntica forma
de recrutamento; b) mesma denominação dos membros órgão julgador – jurados; c) formação
mediante sorteio; d) recusa de certo número de jurados sem qualquer motivação; e)
juramento; f) idêntica forma de julgamento com respostas objetivas: sim ou não.
Sabe-se, de fato, que a feição atual do Tribunal Popular tem origem na carta magna da
Inglaterra de 1.215, mas, é na Revolução Francesa do século XVIII, que a instituição toma um
banho de novos ideais democráticos que, a partir de então, seriam espalhados pelo mundo
inteiro. Não parecia razoável que, à luz dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, o
julgamento de certos tipos de crime continuasse sendo competência do Juiz comum, que ainda
era ligado à figura do soberano, o que retirava o caráter imparcial das decisões.
13

Em Portugal a origem do Tribunal do Júri remonta ao ano de 1.826, previsão esta da


segunda Constituição do País, porém, o instituto só firmou-se como hoje é conhecido na
quinta versão da Constituição de 1976, sendo atualmente o Tribunal do Júri português do
modelo escabinado, como aduz Mário Rocha (2008), ou seja, juízes e cidadãos decidem
juntos tanto o veredicto como a aplicação da sentença, modelo semelhante ao Francês e
Alemão.
Já em terras Tupiniquins, conhecemos o conselho formado por jurados escolhidos
entre cidadãos comuns a partir da declaração de independência do Brasil de 1.822, época em
que o instituto se disseminava por toda a Europa, sendo que à época, só foi estabelecida a sua
competência para o julgamento dos crimes de imprensa. A partir de então, começaria uma
verdadeira jornada do instituto nas constituições brasileiras que se sucederiam e viria a
consolidar-se, definitivamente, com a promulgação da Constituição Federal de 1.988,
prevendo dentro dos direitos e garantias individuais, art. 5°, XXXVIII, o seguinte:

Ar.t 5°.
...
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe
der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

2.2 O PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Coincidentemente ao surgimento positivado do Tribunal Popular, o princípio da


presunção de inocência tem sua origem legal na Constituição inglesa de 1.215, que àquela
época já previu o direito do cidadão a ser julgado segundo normas processuais estabelecidas,
não podendo ter sua prisão decretada sem antes exercer o seu direito de defesa. No entanto, a
difusão do pensamento ligado a tal princípio também só aconteceria após a Revolução
Francesa do século XVIII.
O doutrinador Tourinho Filho (2010, p. 71-72), nos ensina:

O princípio remonta ao art. 9° da Declaração dos Direitos do Homem e do


Cidadão proclamada em Paris em 26-8-1789 e que, por sua vez, deita raízes
no movimento filosófico-humanístico chamado “Iluminismo”, ou Século das
Luzes, que teve à frente, dentre outros, o Marque de Beccaria, Voltaire,
14

Montesquieu, Rousseau. Foi um movimento de ruptura com a mentalidade


da época, em que, além das acusações secretas e das torturas, o acusado era
tido como objeto do processo e não tinha nenhuma garantia.

A França, no ano de 1.789, vivia sobre uma intensa injustiça social no reinado de Luiz
XVI. A sociedade era estratificada, podendo-se observar no topo da pirâmide o clero, seguido
pela nobreza, onde encontrava-se o rei e toda sua família, os condes, duques, marqueses e os
demais nobres que vivam sobre a voluptuosidade da corte, em quanto o terceiro seguimento,
formado pelos trabalhadores, camponeses e a burguesia eram obrigados a pagar impostos
exorbitantes para sustentar o luxo das outras duas classes.
Com uma vida de extrema miséria, crescia o desejo das classes baixas por melhores
condições de vida e na burguesia o desejo de maior participação na vida do estado, o que
motivou a revolução que teria como início a queda da prisão de Bastilha em 14/07/1789,
utilizada pela coroa para aprisionar quem fosse considerado uma ameaça ao sistema. Assim,
sobre os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade os revolucionários enraizaram o
pensamento que não se poderiam admitir condenações sem antes haver um julgamento justo,
onde eram dadas garantias básicas ao réu, em outras palavras, o respeito ao princípio do
devido processo legal, do qual é o princípio da presunção de inocência reflexo imediato, em
contraposição a arbitrariedade da coroa que antes era exercida.
Banhado por estes novos ideias e por esta nova forma de pensar é que então surgiria
no séc. XVIII a Declaração dos Direitos do Homem de 1.791, que previa no art. 9° o seguinte:

Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, caso seja
considerado indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da
sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.

Posteriormente, em 1.948 o princípio foi ratificado na Declaração dos Direitos


Humanos da Organização das Nações Unidas que assim o descreveu:

Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência,
enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com a lei e em processo
público no qual se assegurem todas as garantias necessárias para sua defesa.

O que se abstrai dos dispositivos supracitados naturalmente é que a Revolução


Francesa foi um divisor de águas quando se trata da presunção de inocência. Da timidez
15

advinda, ainda que de forma positivada, da publicação da Carta Magna inglesa e do princípio
da presunção de inocência ainda no séc. XIII, após a Revolução do séc. XVIII este ideal seria
difundido por toda Europa e para o mundo, chegando até as terras brasileiras em pouco menos
de 200 anos, como se abstrai dos argumentos utilizados por Paulo Roberto Gonçalves (2009).
No Brasil, porém, observou-se um grande atraso em relação à positivação do direito da
pessoa a ter sua inocência presumida se levarmos em conta o histórico de nossas
Constituições. Só na Constituição Federal de 1.988 é que realmente veríamos que o
ordenamento jurídico pátrio efetivamente traria em seu texto a proteção contra o pré-
julgamento, estabelecendo a máxima In dubio pro reo como núcleo central de interpretação
do tipo que assegura o direito a inocência presumida.
No entanto, vislumbra-se que a doutrina e a jurisprudência brasileira já tratavam do
tema desde a ratificação pelo Brasil da Declaração dos Direitos do Homem, assinada em
1.948, mesmo que de forma esparsa e muitas vezes apenas teórica.
Hodiernamente, a jurisprudência é rica no sentido de que ao réu é dado o direito a
ser presumido inocente, bem como as doutrinas que se escalonam aos montes tratando
dos direitos e deveres dos acusados.

III-CAPÍTULO
16

3. O PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E SUAS NUANCES

3.1 PREVISÃO LEGAL DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

A principal previsão legal do princípio da presunção de inocência na legislação


brasileira encontra-se no art. 5°, LVII, da Constituição Federal. Não obstante terem
constituições brasileiras anteriores tratando mesmo que de forma tímida sobre o direito do réu
a ser presumido inocente, através de garantias tangentes ao princípio, foi apenas com a Carta
de 1988 que o mesmo passou a integrar, literalmente, a lei.
Fora à Constituição Federal, encontramos o Pacto de São José da Costa Rica, que em
seu art. 8°, I, assim prevê:

Art. 8° [...]
I - Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua
inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa.

Saliente-se, pois, que foi a própria Constituição Federal brasileira que no art. 5°, § 2 e
§ 3, que positivou que os tratados internacionais assinados pelo Brasil teriam força de
emendas constitucionais, ipse literis:

Art. 5° [...]

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não


excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos


que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.

Segundo Antonio Magalhães Filho citado por Adriano Almeida Fonseca (FONSECA,
1999), "as duas redações se completam, expressando os dois aspectos fundamentais da
garantia." Argumenta, ainda, Magalhães Filho, que no Brasil, devido às garantias legais
previstas, o direito a presunção de inocência está completamente protegido, não existindo
motivo qualquer para desculpas de não aplicabilidade sobre interpretações meramente literais.
17

Portanto, a amplitude das garantias previstas em nosso ordenamento jurídico


ultrapassa a mera literalidade e passam a engajar o sentido social da norma, não se admitindo
a sua inaplicabilidade por desculpas de interpretações literais.

3.2 O SENTIDO DA NORMA CONSTITUCIONAL AO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE


INOCÊNCIA

A Constituição Federal brasileira, no art. 5°, LVII, prevê, expressamente, o direito à


presunção de inocência de um acusado criminalmente. O legislador procurou assim proteger
alguns dos bens maiores do cidadão, através do princípio da dignidade da pessoa humana,
previsto no art. 1°, inciso III e art. 5°, inciso III da Constituição Federal que assim asseguram:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou


degradante;

Sem sombra de dúvida a liberdade é o segundo bem maior de todo ser humano,
ficando apenas atrás do direito à vida que pode ser traduzido como o principal bem jurídico e
imaterial do homem, sendo uma cláusula pétrea praticante imodificável na Carta Magna.
Desta forma a constituição arraigou um pensamento jurídico-social de que as normas
devem atender a esses fins precípuos, não se admitindo, em tese, qualquer vedação ou
limitação a esses direitos. Assim é que o processo penal fincou em suas bases o direito do réu
a um julgamento justo, com direito ao contraditório, ampla defesa e à presunção de inocência,
pensamento que é reflexo da constituição que estabelece que o único meio de obter uma
condenação de um acusado de forma legal e justa é através do devido processo legal.
Na visão de Alexandre de Morais (2007, p. 107), “há a necessidade do Estado
comprovar a culpabilidade do individuo, que é constitucionalmente presumido inocente, sob
pena de voltarmos ao total arbítrio estatal”. Sabia dicção do doutrinador, pois, com a
18

evolução da sociedade o direito caminha à sua luz, e voltar a aplicar medidas não condizentes
com o atual modelo de estado e de cultura do povo seria regredir ao totalitarismo e descaso do
Estado. A lição do Egrégio Supremo Tribunal federal vem ilustrar bem esse pensamento:

A persecução penal rege-se, enquanto atividade estatal juridicamente


vinculada, por padrões normativos, que, consagrados pela Constituição e
pelas leis, traduzem limitações significativas ao poder do Estado. Por isso
mesmo, o processo penal só pode ser concebido – e assim deve ser visto –
como instrumento de salvaguarda da liberdade do réu.
O processo penal condenatório não é um instrumento de arbítrio do
Estado. Ele representa, antes, um poderoso meio de contenção e de
delimitação dos poderes que dispõem os órgãos incumbidos da persecução
penal. Ao delinear um círculo de proteção em torno da pessoa do réu – que
jamais se presume culpado, até que sobrevenha irrecorrível sentença
condenatória – o processo penal revela-se instrumento que inibe a opressão
judicial e que, condicionado por parâmetros ético-jurídicos, impõe ao órgão
acusador o ônus integral da prova, ao mesmo tempo em que faculta ao
acusado, que jamais necessita demonstrar a sua inocência, o direito de
defender-se e de questionar, criticamente, sob a égide do contraditório, todos
os elementos probatórios produzidos pelo Ministério Público. (S.T.F. – HC
nº 73.338-7 – RS, 1ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, j. 7/11/89, DJU de
14/8/92, p. 12.225. ementa parcial.)

Ocorre que, diante dos fatos supra, uma questão é consequentemente levantada: Teria
o direito constitucional à presunção de inocência a eficácia esperada em Julgamentos pelo
Tribunal do Júri?
O Júri Popular brasileiro tem a competência precípua de julgar crimes dolosos contra a
vida. Segundo Mirabete (2003, p. 303) , in verbis:

Por força da Constituição Federal, os crimes dolosos contra a vida são


sempre da competência do Tribunal do Júri. Assim, além dos mencionados
no art. 74, que se referem apenas ao Código Penal, estão abrangidos os
demais delitos dolosos contra a vida, como o crime de genocídio (art. 1°, a,
da Lei n° 2.889, de 1°-10-56, art. 401 do Código Penal Militar, art. 29 da Lei
de Segurança Nacional.

O tribunal elege, para isso, sete cidadãos do povo que terão o papel de decidir o futuro
dos acusados. O conselho de sentença, como também pode ser chamado o conjunto de jurados
incumbidos de tal missão, após ser sorteado ouvirá a seguinte exortação lida pelo presidente,
prevista no art. 472 da Lei 11.689 de 2008: “Em nome da lei, concito-vos a examinar esta
causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e
os ditames da justiça”.
19

Após todo o desenrolar do julgamento e chegado o momento do proferimento da


decisão, os jurados serão perguntados sobre materialidade e culpabilidade, devendo responder
os seguintes requisitos: I – a materialidade do fato; II – a autoria ou participação; III – se o
acusado deve ser absolvido; IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecida na
pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, pois, de acordo
com o que nos relata Mirabete (2003, p. 1228) “o questionário é o conjunto de quesitos
destinados a ser respondido pelos jurados, acerca do fato delituoso, suas circunstancias e
defesa apresentada, a fim de que possam eles, respondendo-os, julgar a causa”.
Para que não se quebre o sigilo das votações após a negativa dos requisitos da
materialidade do fato ou autoria e participação, é encerrada a votação e o réu será considerado
inocente. Vê-se na lei que não há obrigatoriedade do jurado justificar o seu julgamento,
atendo-se apenas a dizer “SIM” ou “NÃO” aos quesitos que lhes são apresentados.
E assim, a falta de motivação – entenda-se motivação como a justificativa do voto – dá
mais importância ainda ao sentimento de justiça e ao comprometimento que o jurado deve
estar vestido ao sentenciar sobre a culpa de alguém no Júri Popular, evitando-se ao máximo
julgar de forma descompromissada e tendenciosa para que de fato a sociedade sinta que todos
os direitos do réu foram lhe oportunizada, inclusive a sua presunção de inocência.

3.3 CONTEÚDO MATERIAL DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Existe uma grande discussão doutrinária acerca do princípio da presunção de


inocência, pois, afinal, trata-se de uma verdadeira presunção de inocência ou de uma não-
culpabilidade?
Mário Rocha (2008) aduz que uma vertente da doutrina entende a diferença
sustentando que o réu não pode ser presumido inocente se contra ele existe um processo
criminal instaurado com um mínimo de prova, mas na verdade se presume a sua não
culpabilidade até que haja um julgamento efetivo. Já Para o autor L.G. Grandinetti (2006, p.
157): “Não se pode limitar o princípio constitucional, de natureza política, a uma noção
semântica do termo técnico presunção”, até porque, para o autor, “trata-se de uma regra-
chave do processo penal, verdadeira diretriz que concretiza a ponderação dos bens
segurança jurídica social e direito à liberdade”.
Ora, muito justa a conclusão de Grandinetti, que não amiúda o espírito do princípio
constitucional da presunção de inocência, o entendendo como uma garantia maior dada ao réu
20

pela Constituição, incumbindo ao acusador o dever de demonstrar a culpabilidade do acusado,


lhe cabendo, portanto, o onus probandi da sua alegação e, de outro lado, garantir ao réu que
em caso de dúvida acerca da autoria do crime ou de sua participação lhe será presumida a
inocência, se desvencilhando de qualquer desvirtuação terminológica.
Para Nucci (2008, p. 81), o princípio da presunção de inocência tem o objetivo de:

[...] garantir, primordialmente, que o ônus da prova cabe à acusação e não a


defesa. As pessoas nascem inocentes, sendo esse o seu estado natural, razão
pela qual, para quebrar tal regra, torna-se indispensável que o Estado-
acusação evidencie, com provas suficientes, ao Estado-juiz a culpa do réu.

No entanto, nos parece mais que isso o estado de inocência ou a inocência presumida.
O certo é que a vinculação do princípio a estes dois vieses – in dúbio pro reo e o ônus da
prova - não se traduz totalmente na realidade, haja vista serem apenas repercussões no campo
probatório, devendo ser bem mais abrangente a sua observância.
Tal princípio desdobra-se, antes de tudo, em um direito-dever do Estado e de seus
cidadãos ao tratamento do réu como um sujeito de direito na relação processual, devendo ter
suas garantias constitucionais respeitadas e a ser punido apenas na medida da sua
culpabilidade, sem julgamentos arbitrários e infundados, além de ter a sua honra e imagem
protegida, pois ainda encontra-se em estado de inocência antes de sentença penal condenatória
transitada em julgado, sendo desmedida qualquer posição jurisdicional que tenda a retirar-lhe
esses direitos.
Assim, como o processo criminal, especialmente o Tribunal do Júri, já tem um caráter
acusatório, na medida em que o órgão acusador do estado presume, através de um mínimo de
provas, a culpabilidade do réu, surge à necessidade de contrabalancear o procedimento, dando
garantias ao acusado que sua liberdade não seria retirada de maneira discricionária pelo
Estado, pensamento que, como já analisado, teve origens ainda na Revolução Francesa e que
viria a garantir ao réu, diversos diretos que hoje concebemos como sagrados.
Do exposto, extrai-se que a presunção de inocência não repercute apenas na inversão
do ônus da prova ou o direito do réu a ser declarado inocente em caso de dúvida. Ser
presumido inocente é ter a sua dignidade respeitada, com os direitos a ampla defesa e ao
julgamento de forma justa, pois, o contrário não poderia ser verdade, já que a presunção de
inocência teve difusão através do movimento Iluminista.
21

3.4 OS EFEITOS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA NO JÚRI POPULAR

Consoante a garantia trazida pela Constituição Federal de que o réu será presumido
inocente até sentença penal condenatória transitada em julgado, respingou na legislação
infraconstitucional, especialmente no Processo Penal, o estado de inocência do réu, o que
acabou abrindo outros aspectos importantes da repercussão principiológica. Primeiro que
devido a esta garantia inverte-se o ônus da prova, tendo o acusador o dever de provar suas
alegações, seja um particular ou o estado representado pelo Ministério Público; Segundo que,
no caso de dúvida quando do proferimento da sentença, deve-se entender-se favoravelmente
ao réu – In dúbio pro reo; Terceiro, o acusado deve ser tratado durante o desenrolar do
julgamento como sujeito processual e não como objeto do processo, lhe sendo garantido o
direito à dignidade da pessoa humana e seus desdobramentos e, por último, a cautela na
determinação de prisões acautelatórias cerceadoras de sua liberdade.
Insta destacar que nem todos esses requisitos nos interessam no momento, vamos nos
ater basicamente a análise dos três primeiros pontos citados por serem mais ligados ao tema
em estudo.

3.4.1 O Ônus da Prova

A prova é o meio através do qual se terá certeza do cometimento de um crime e, por


conseguinte, da culpabilidade do réu. Sem prova não há que se falar em condenação, ou, se do
seu conjunto arraigar dúvida capaz de por o réu em situação perigosa quanto ao seu direito
constitucional à liberdade, inocente deverá ser o resultado da sentença penal. Este pensamento
é corroborado pela tese defendida por Capez (2005, p. 260), que aduz: “Sem dúvida alguma, o
tema referente a prova é o mais importante de toda a ciência processual, já que as provas constituem
os olhos do processo, o alicerce sobre o qual se constrói toda a dialética processual”.
Ainda no pensamento do ínclito escritor, sem provas idôneas e válidas de nada adianta
desenvolverem-se aprofundados debates doutrinários e variadas linhas jurisprudências sobre
temas jurídicos já que essas discussões não teriam objeto. Para Capez (2005, p. 273): “A
prova é induvidosamente um ônus processual, na medida em que as partes provam em seu
benefício, visando dar ao juiz os meios próprios e idôneos para formas sua convicção”
Contudo, Capez(2005) ressalta que o ônus da prova é diferente de uma obrigação,
aduzindo, resumidamente, ser a obrigação um dever sob pena de violação da lei, enquanto o
22

ônus tem adimplemento facultativo, sendo que o seu não cumprimento não caracteriza
atuação contrária ao direito.
Deste modo, fincado na máxima jurídica actori onus probandi incumbit (cabe ao autor
o ônus de provar suas alegações), no Processo Penal e, especialmente no caso, no Tribunal do
Júri, é dado ao réu a garantia de que não lhe será gravado o direito de provar sua inocência e
sim ao acusador, que no caso de crimes dolosos contra a vida, dar se na figura do Ministério
Público por se tratar de crime de Ação Pública Incondicionada.
O motivo não poderia ser outro senão a presunção de inocência do réu. O réu
encontra-se num estado processual de inocência, antes de sentença penal condenatória
transitada em julgado, e sendo assim seria ilógico exigir-lhe a prova da sua não culpabilidade,
pois em estado de inocência o mesmo já se encontra. Segundo o doutrinador Grandinetti
(2006), é inegável que há repercussão do instituto presunção de inocência no instituto
liberdade, entretanto, assevera que os desdobramentos na ceara do ônus da prova também são
de importante relevância. Para o autor é intuitivo que o ônus probatório seja da outra parte
quando a Constituição assegura a uma delas a presunção de inocência. Nas suas palavras
(GRANDINETTI; 2006, P. 166) o autor consubstancia:

Não teria qualquer sentido que a parte constitucionalmente declarada


presumidamente inocente tivesse que demonstrar o que a Constituição
proclama com todas as letras. Além dessa interpretação literal, pode-se
concluir que esse entendimento é da essência do regime democrático,
cabendo àquele que acusa comprovar cabalmente a acusação.

Pensamento que é corroborado por Guilerme de Sousa Nucci (2008, p. 82), que ao
discorrer sobre o princípio da presunção de inocência assegura que este “Reforça, ainda, o
princípio da prevalência do interesse do réu (in dúbio pro reo), garantindo que, em caso de
dúvida, deve sempre prevalecer o estado de inocência, absolvendo-se o acusado”.
Sublinhe-se que do ônus da acusação provar suas alegações nascem outros deveres,
como: acusação formal e utilização de provas lícitas, sob pena de livrar o réu da condenação
baseado no princípio do devido processo legal e da presunção de inocência.
Observa-se de modo límpido que para que haja condenação de um acusado é
necessário prova constitutiva e irrefutável da sua culpa, pois, de modo diverso, estaria o
estado agindo de modo discricionário em situação que não lhe é permitia. Exigir do réu a
prova de sua inocência seria presumir sua culpa, confrontando o direito constitucional à
presunção de inocência, o que é inadmissível na atual fase evolutiva do Direito brasileiro,
23

resguardada, claro, a relativização do princípio, que para Tourinho Filho (2010) não pode ser
levado ao pé da letra, pois, se fosse assim, e se inocente se presume a pessoa, contra ela não
poderia existir um processo, já que a sua inocência já seria presumida.

3.4.2 In dubio pro reo

O princípio que mais se entrelaça com a presunção de inocência é, com certeza, o in


dúbio pro reo (em caso de dúvida, a favor do réu). Para que seja o acusado condenado é
necessário que a sentença esteja respaldada em prova inequívoca de sua culpabilidade e,
ainda, lícita.
A prova é o meio através do qual os juízes, ou no caso do tribunal do júri, os jurados,
fazem a constituição da sua convicção acerca da culpa do acusado, ou pelo menos, o deveria
ser. Sem prova não há condenação, e com prova incapaz de dar certeza de autoria e que
coloque dúvida na cabeça de quem julga, o réu deve ser considerado inocente.
É clara a intenção do legislador em proteger a liberdade, só podendo esta ser retirada
através de clara constituição da culpa do réu, sem espaço para opiniões sem base probatória
ou fática, pois, se permitidas, estaria deixando um dos principais direitos do homem a mercê
da pura e simples convicção da mente humana. Aliás, o entendimento sobre o tema é pacifico
nos julgados nacionais, como se pode extrair da ementa dos acórdãos que seguem:

PROCESSUAL PENAL. ARTIGO 171, § 3º, DO CÓDIGO PENAL.


ESTELIONATO CONTRA O INSS. MUTATIO LIBELLI. AUSÊNCIA DE
PROVAS. IN DUBIO PRO REO.
1. Caracteriza-se estelionato contra a Previdência Social a concessão
irregular de benefício previdenciário.
2. Sendo as provas dos autos inconsistentes e frágeis em relação ao
beneficiário, deve ele ser absolvido, em homenagem ao princípio da
presunção de inocência e do in dubio pro
reo. (ACR 2002.39.00.008660-7/PA; APELAÇÃO CRIMINAL,
DESEMBARGADOR FEDERAL TOURINHO NETO, TERCEIRA
TURMA, TRF 1° Região).

RECURSO. Especial. Matéria criminal. Interposição contra acórdão


denegatório de pedido de habeas corpus. Julgamento pelo Tribunal Superior
de Justiça. Empate na votação. Convocação de Ministro de outra Turma para
voto de desempate. Inadmissibilidade. Previsão regimental, ademais, de
decisão favorável ao réu em sede de habeas corpus. Art. 41-A, § único, da
Lei nº 8.038/90. Aplicação analógica ao caso. Presunção constitucional de
não culpabilidade. Regra decisória do in dubio pro reo. HC concedido para
proclamar a decisão favorável ao réu. Precedentes. Inteligência do art. 5º,
LVII, da CF. Verificando-se empate no julgamento de recurso interposto
pelo réu em habeas corpus, proclama-se-lhe como resultado a decisão mais
24

favorável ao paciente. (HC 89974, Relator (a):  Min. CEZAR PELUSO,


Segunda Turma, julgado em 18/11/2008, DJe-232 DIVULG 04-12-2008
PUBLIC 05-12-2008 EMENT VOL-02344-01 PP-00217 RTJ VOL-00208-
01 PP-00243)

É, portanto, o princípio do in dubio pro reo um desdobramento da presunção de


inocência com vistas a assegurar que aquele que ainda encontra-se em estado de inocência
presumida por falta de prova cabal de culpa, continue com sua liberdade protegida.

3.4.3 O Direito à Dignidade do Acusado

Ter o condenado direito à dignidade não é o mesmo que o defender contra os atos
possíveis praticados. Ao contrário, o direito à dignidade da pessoa humana, previsto no art.
1°, III, da Carta magna, é estendido a todos os homens, que, antes de serem potenciais sujeitos
em relações processuais são sujeitos de direitos constituídos e constitucionalmente protegidos.
Entenda-se que o réu não é objeto do processo. O réu é sujeito da relação processual,
e, por isso, como sujeito deve ser tratado. Como pessoa humana que é, deve ter sua intimidade
e privacidade respeitadas, bem como o direito a imagem e a moral. Na lição de Alexandre de
Morais (2007, p. 16):

A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se


manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da
própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais
pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto
jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam
ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem
menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto
seres humanos.

Como bem dito pelo respeitável doutrinador, não se trata a dignidade apenas de um
direito positivado, antes disso, é uma questão moral e espiritual, ou seja, subjetiva, que, não
obstante a excepcionalidade da sua limitação deve ser respeitada amplamente por todas as
pessoas e pelo Estado, por tratar-se de garantia constitucional à que toda pessoa no estado
democrático de direito faz jus.
25

IV- CAPÍTULO

4. EFETIVIDADE DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA EM JÚRI


POPULAR, MÍDIA E OPINIÃO PÚBLICA

4.1 EFETIVIDADE DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA NO JÚRI


POPULAR

O Tribunal do Júri e sua origem histórica já tratada em tópicos anteriores demonstram


em sua natureza, o objetivo de democratizar o julgamento de cidadãos comuns, utilizando,
para tal, pessoas escolhidas dentre esses, que serão postas diante o caso concreto e emitirão
um julgamento de valor.
Não é novidade que a instituição do Júri Popular divide opiniões dos grandes
doutrinadores brasileiros à cerca de sua legitimidade e idoneidade. Muitos são os fatores que
levam ao questionamento da instituição, sendo que o principal, sem medo de errar, trata-se da
capacidade dos jurados de entender o real sentido de um julgamento, dos princípios
constitucionais e de seu papel como julgador.
Doutrinadores catedráticos têm posições diversas sobre o tema. Rui Barbosa, por
exemplo, citado por Mario Rocha Lopes Filho (1976 apud FILHO, 2008, p. 76), aduz:

“Coroas, aristocratas, igrejas, tradições imemoriais, formas venerandas tem


caído, ao tumultuar das revoluções; mas a justiça dos jurados passa ilesa das
catástrofes políticas, como se uma dessas necessidades inconscientes e
irresistíveis de nossa consciência, agulha fiel do delírio das tempestades, não
cessasse de lembrar às nações que perdido esse direito, como se perderiam
todos os outros”.

Diferentemente do defendido por Evandro Lins e Silva e outros, há autores que, ao


contrário, acreditam ser o júri uma forma equivocada de julgamento. Acrescenta Eugênio
Florian, citado por Mario Rocha Lopes Filho (1998 apud FILHO, 2008, p. 77-78), que o juízo
penal deva ser cada dia mais técnico, pois os jurados facilmente tendem para um ou outro
entendimento. Ainda segundo Florian, assim como a democracia, o Júri trata-se de uma
falácia, um simulacro, onde cidadãos que muitas vezes são analfabetos cometem erros
terríveis pela falta de preparo, por pressão, em nome da soberania do veredicto popular.
Duras são as críticas feitas pelos signatários da tese que o Júri popular pode
comprometer um julgamento justo e, portanto, causar sérios danos aos direitos e garantias
individuais do réu.
26

É indiscutível, entretanto, a importância do tribunal popular e a sua legitimidade. Mário


Rocha (2008, p. 76) conclui discorrendo que:

[...] todo e qualquer argumento utilizado pelos autores favoráveis ao Júri


popular, vincula instituição aos ideais de Justiça, Democracia e Liberdade,
palavras mágicas e requisitos ao Estado de Direito, sendo importante, por
isso e para alguns, permaneça o júri no universo jurídico brasileiro para a
alegria daqueles que reconhecem os inúmeros e relevantes serviços prestados
à sociedade brasileira que, no entanto, não aplacou a inconformidade de seus
detratores.

Não por coincidência o Júri foi difundido com maior força a partir da Revolução
Francesa do século XVIII que tinha por fundamento a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
Além disso, o Júri popular é uma das instituições da justiça mais antigas que
conhecemos. Um dos mais célebres casos da história dos Júris é o de Jesus Cristo. Acusado de
blasfêmia, pois alegava ser o filho de Deus (O Messias), a verdade e a vida, Jesus foi levado
por Pilatos à julgamento que, para não “sujar suas mãos” pela condenação de Jesus, o colocou
sob a responsabilidade da população judaica que o condenou à crucificação. Mais
emblemático caso na história para ilustrar o julgamento popular não há, e, de mesma sorte, a
repercussão da não utilização dos direitos ao devido processo legal.
Do exemplo prático de Cristo exsurge um dado interessante: Cristo não foi levado a
julgamento popular apenas por ter supostamente cometido um crime, mas sim por necessidade
que houvesse uma resposta aos Judeus diante de tais "heresias" que eram proferidas por Jesus,
pois estes acreditavam que o filho de Deus viria a terra com as características de rei e
sacerdote e, na sua visão, tais características não eram preenchidas por Jesus, por mais que
este afirmasse ser o “Salvador”. Em outras palavras, Cristo foi levado a julgamento e
condenado por seus concidadãos para servir de exemplo de punição à conduta praticada, sem
direito ao devido processo legal e conseguintemente à presunção de inocência, com o
resultado totalmente previsível da condenação.
Apesar de séculos passados, o caso de Jesus Cristo é bem verossímil com nossa atual
realidade. A comoção populacional de crimes com grande repercussão tem levado a
julgamentos eivados de vicitudes que podem ferir de morte qualquer condenação, pois, a
partir das garantias previstas em nosso ordenamento jurídico não se pode mais admitir um
verdadeiro linchamento do acusado, onde os réus não têm o direito à presunção de inocência
respeitada e entram já condenados no procedimento do julgamento pelo Júri Popular.
27

Não obstante a constatação de julgamentos antecipados do réu, o direito à presunção


de inocência do acusado no júri tem sido mitigado ao passar dos anos pelo sistema judiciário,
legislativo e pelos sistemas de informação do país que fazem vistas grossas ao processo de
escárnio popular dos réus, principalmente em casos de grande repercussão, dando a entender
que a Constituição foi de certa maneira esquecida, apesar de Nucci (2008) asseverar que o
Tribunal Popular busca além de uma defesa ampla, uma defesa plena e completa, próxima à
perfeição, consoante os preceitos do art. 5°, XXXVIII, a, da Carta Magna.
A Constituição Federal do Brasil é uma norma de amparo social, patrimonial, e
pessoal dos cidadãos, e quando elenca como um de seus direitos fundamentais a presunção de
inocência do réu ela não quer dar garantias processuais apenas, pois, isso seria matéria a ser 
tratada de forma mais ampla pelo Processo Penal,  ela quer dar ao acusado o direito a um
mínimo de dignidade, procurando proteger, antes de qualquer coisa, a pessoa humana,
entretanto, não é o que observamos acontecer na prática.
Basta observarmos notícias que rondam os meios de comunicação que facilmente se
percebe que o réu é colocado em posição de culpabilidade presumida e não o contrário, como
deveria ser. Não se trata, pois, de desmerecer a importância no cerne probatório do princípio
em questão, que, aliás, também são formas de dar efetividade à presunção de inocência, mas
sim de se crer que não é apenas dentro do processo que existe esse direito, mas fora dele
também existem suas repercussões. Vale lembrar, de mesmo modo, que além de proteger o
réu através do princípio da presunção de inocência, a Constituição protege a intimidade, a
vida privada e a honra das pessoas, conforme se pode abstrair do inciso X, art. 5°.
O argumento ainda pode ser reforçado se pensarmos que os futuros julgadores no
Tribunal do Júri são convocados do seio social. Até antes de serem efetivamente convocados
como jurados eles fazem parte da opinião pública, e se os direitos basilares dos réus são
rasgados antes mesmo do desenvolvimento do devido processo legal, há grande possibilidade
de que o princípio da presunção de inocência não alcance qualquer efetividade social, que,
segundo Kelsen (1998), deve ser entendida como a aplicação de uma norma no cotidiano
social, diante do bombardeio de informações tendenciosas a que esses julgadores foram
submetidos.
O cuidado com o julgamento, nesse caso, deve ser redobrado para cercar o réu de
garantias que os seus direitos serão respeitados, pois, no momento em que a sociedade é posta
a julgar alguém que cometeu ou tentou um crime doloso contra a vida de um de seus cidadãos
e será essa própria sociedade a responsável por julgar esse criminoso, determinando, ao final,
se este voltará ou não ao seu seio, é necessário que de fato o princípio da presunção de
28

inocência tenha força para que não se tenha resultados certos de condenações mesmo antes do
desenvolvimento processual.
Segundo o jurista Mauro Otávio Nacif, que trabalhou no caso Suzane Von Richtofen,
condenada em 2006 pelo assassinato dos pais, em entrevista concedida à edição 280 da
Revista Super Interessante (2010, p. 83), “os jurados analisam o caso por consciência e não
por ciência”. A verdade é que por não ter o preparo técnico cientifico os jurados enveredam
mais para o seu sentimento de justiça do que para a análise cabal das provas que lhes são
apresentadas, contudo, isso não é o mesmo que dizer ser isto uma conduta totalmente errada.
A conjunção dos dois fatores, provas e convicção é que deve pesar na hora da condenação.
Apesar destes questionamentos, é inegável o caráter democrático que baliza a
instituição e sua importância em um estado democrático de direito que deve prezar a
participação efetiva da população na técnica jurídica da qual são atores formadores,
diminuindo a distância entre as normas e o povo, contudo, não podemos olvidar que os
jurados são pessoas comuns e que estão suscetíveis à influência de variados fatores sociais
que devem ser ao máximo diminuído. Aliás, não só os jurados estão submetidos a qualquer
tipo de influência, o homem por sua própria natureza tem seus valores éticos e morais que são
passados em sua formação ao longo da vida. A diferença entre um jurado e um juiz togado
resiste em que o último foi preparado para passar exatamente por esse tipo de situação sem
deixar que suas paixões tomem de conta do seu julgamento - apesar de ser impossível alguém
se livrar completamente dos seus valores ético/morais vestindo-se de completa neutralidade -
que, na visão do Promotor do caso Suzana Richthofen, Roberto Tardeli (2007, p. 10):

[...] é um dos mais perigosos mitos à mente humana, porque retira a


humanidade. Bem se vê que à neutralidade se reserva missão impossível
desumanizar pessoas. Ninguém que respire, ande e se alimente é neutro. A
neutralidade não é condição humana.

Realmente, assiste razão ao ínclito promotor. Inimaginável é conceber que alguém,


após toda uma experiência de vida, todo um derramamento de paixões, chegue ao tribunal do
júri completamente neutro. Os Jurados são pessoas com experiências de vida ímpares, que
podem ou não despejar seu amargor do dia-a-dia sobre o réu, por assim agir se tratar da
própria natureza humana. Entretanto, o que não pode é intenção, a má fé, o animus de
condenar alguém antecipadamente, entrar com juízo formado. É exatamente por este motivo
(a impossibilidade de completa neutralidade) que as leis brasileiras propugnaram proteger da
forma mais eficaz possível o réu de julgamentos antecipados através do amplo direito a defesa
29

e de garantias da manutenção de sua liberdade até condenação irrecorrível, porém, na prática,


se vê que a real efetivação dos desejos da lei não existe, pelo menos, em número razoável de
casos.
No Brasil são milhares os julgamentos feitos pelo questionado Tribunal do Júri,
inclusive com alguns tendo repercussão nacional e até internacional. Pesquisa divulgada na
edição de n° 280 da Revista Super Interessante (2010, p.82) revela que no Brasil são levados
anualmente dez mil casos de crime dolosos contra a vida ao tribunal popular, e ainda, mostra
que segundo estudos da Universidade de Chicago, 22% dos resultados proferidos pelo Júri
nos EUA teriam resultado diverso nas mãos de juízes.
Diante destes dados, é cada vez mais necessário que se tome cuidado com a
banalização do instituto no sentido de tornar os julgamentos palco para detração dos réus,
pois, como se assinala na pesquisa, o resultado de julgamentos pelo tribunal do júri pode ser
bastante controverso.
Os casos no Brasil onde os acusados foram postos em situações que afrontam os
direitos e garantias individuais afloram diariamente. A presunção de inocência, o direito a
imagem e a dignidade da pessoa humana de certo são os bens mais afetados em exemplos
como o caso Isabela Nardoni que acabam se tornando, tristemente, corriqueiros.
Claramente um cenário perigoso se desenha ao passar dos anos com a evolução da
informação que não é acompanhada com a mesma rapidez de uma evolução jurídica para
proteger o direito constitucional do réu a ser presumido inocente. A efetividade, ou seja, a
realização das leis no mundo dos fatos, do princípio constitucional da presunção de inocência
tem sido diminuída.
Pensando no Processo Penal e especialmente no rito do júri, nota-se fatalmente o
afastamento da materialização do previsto em lei da realidade dos fatos quando se trata de
casos em que um grande contingente emocional é deslocado no interior da população.
Inclusive há certa complacência, aceite ou vistas grossas social ao que acontece com a
punição antecipada de um réu. Lembrando da excelente lição do promotor Tardeli (2007),
conclui-se que o afastamento da efetividade da norma constitucional pode ter em um dos seus
vieses causadores a própria mazela de impunidade que vive atualmente o país. Buscando
esvair-se ou ter uma resposta concreta diante de casos chocantes de crimes dolosos contra a
vida a população é inconscientemente induzida, pela falta de punição de criminosos e falta de
efetividade no cumprimento da lei, a aclamar a condenação do réu que é visto, mesmo antes
da condenação, como um detrator da conduta social pacífica e harmoniosa. É como se fosse
uma válvula de escape da população ao sistema falho da punibilidade e ressocialização do
30

criminoso, e, junte-se a isso a busca da imprensa por tentativas insanas de lucro que todos os
meios mais perigosos para a não concretização das garantias constitucionais dadas ao réu,
entre eles a presunção de inocência, estarão reunidos, somando grande força.
Conclui-se, pois, que os meios existentes para efetivação do princípio da presunção
de inocência (Constituição, Pacto São José da Costa Rica...) e os aplicadores do direito
atualmente estão enfrentando um grande dilema que pode ser traduzido em limitar a
liberdade de imprensa no tratamento de casos de comoção nacional em Tribunais do Júri, com
o objetivo de minimizar os prejuízos morais e processuais causados ao réu, o que é
praticamente impensável na atual democracia, ou rever seus próprios meios de efetivação
desses direitos, através do Processo Penal e da adoção de novas medidas protetoras para dar
ao preterido a garantia de que não será pré-julgado antes do final do processo legal, com  a
defesa ampla, o contraditório e o direito a ser presumido inocente tratados como verdadeiras
garantias de uma sociedade verdadeiramente democrática e defensora da humanização da
pena.

4.2 A MÍDIA

Aspecto extremamente importante quando tratamos do princípio da presunção de


inocência no Tribunal do Júri é a participação da mídia. É visto diariamente pela população
brasileira que casos de repercussão nacional são amplamente explorados pelos meios de
comunicação, por vezes, de modo impróprio.
Não nos cabe aqui tecer juízo de valor quanto à função primordial da imprensa em
geral, mas sim questionar sobre a possibilidade trazida pela difusão de modo
descompromissado de informação que pode causar sérios danos aos direitos constitucionais
do acusado.
A priori, a população, em regra, enxerga a mídia como o meio mais eficiente para ficar
inteirada de algum assunto – não poderia ser diferente na sociedade de consumo atual -
contudo, esquecem que a informação deve ser filtrada na medida em que nem tudo que é
repassado é imbuído da cautela necessária e da responsabilidade social ao qual deveria.
São inúmeros os casos que podem servir de exemplo à exploração de casos criminais
pela imprensa de forma capitalista apenas visando audiência/lucro. O caso Richthofen,
Nardoni e, mais recentemente, o caso de Eliza Samudio e o goleiro Bruno, atestam que a
imprensa tem um papel importante no presente e no futuro de um acusado, apesar de não se
ter meios de mensurar a possível influência que causaria nos futuros julgadores.
31

A população é bombardeada diariamente por coberturas de casos que chocam a


opinião pública, e, é a partir de então, que começa o perigo entre os direitos constitucionais do
acusado e o seu prejulgamento em rede nacional, minorando a efetividade da presunção de
inocência.
Muitos dos veículos de informação chegam a estipular o quantum da condenação do
réu, através de analises infundadas de meios lógicos e probatórios, que só podem ser colhidos
por quem efetivamente participa da relação processual, e, como se não bastasse, fazendo
julgamentos de valor sobre a conduta social do réu antes do Tribunal Popular, como meio de
induzir quem lê, vê ou escuta a notícia a tirar suas conclusões de maneira antecipada.
O escritor Bráulio Marques (FILHO; BARTOLOSS, 1995, p.169), aduz que “esta
efetiva ingerência da mídia, no dia-a-dia da sociedade, é conhecida pela expressão agenda
settings, pois,

as pessoas agendam seus assuntos e suas conversas em função


do que a mídia veicula. É o que sustenta a hipótese da agenda
settings. Trata-se de uma das formas possíveis de incidência da
mídia sobre o público. É a hipótese, segundo a qual, a mídia,
pela seleção, disposição e incidência de suas notícias, vem
determinar os termos os quais o público falará e discutirá.

Tanto é verdade a lição do ilustre professor que, após a primeira divulgação dos três
casos antes citados, não se falava em outra coisa em todo o Brasil senão dos crimes
cometidos.
É exatamente por entender o importante papel da imprensa em casos de competência
do Tribunal do Júri, onde pessoas comuns serão postas a julgar seus concidadãos, muitas
vezes após terem acompanhado por meses o linchamento público dos acusados, que a cautela
deve balizar os noticiários. No entanto o que se observa na prática é o inverso do processo, em
outras palavras, a falta de cautela com os direitos fundamentais do réu. O que dá a entender é
que por um determinado período de tempo há uma inversão das funções do Estado, passando
a imprensa a julgar o réu e não o judiciário.
Um dos maiores exemplos do escárnio público do réu pela mídia é o famoso programa
da Rede Globo de televisão intitulado Linha Direita, onde casos verídicos são relatados,
muitos deles antes mesmos de serem julgados, a população é induzida a ligar para determinar
a inocência ou a culpa do acusado.
Sublinhe-se que não é exclusividade da rede Globo de Televisão ter em suas grades
programas de tal estirpe, sendo notados em praticamente todas as redes de televisão formatos
32

parecidos de programas, como na TV Bandeirantes o programa Brasil Urgente, apresentado


pelo jornalista Datena. Sem sombra de dúvida são programas com grande apelo popular,
vistos por milhões de pessoas e que diariamente prestam um desserviço à população, na
medida em que rasgam direitos primordiais dos acusados de serem presumidos inocentes até
sentença penal condenatória transitada em julgado, fazendo com que diariamente se
enfraqueça mais o instituto. Para Mário Rocha (2008), trata-se do problema do repórter
investigador, que é um dos fatores mais preocupantes, pois, devido a inatividade da policia
acaba indo atrás da informação e desvendando crimes antes do Estado, os divulgando em
programas televisivos.
Não é opção, entretanto, tirar o direito a liberdade de imprensa e de informação que foi
conquistado à base de muita luta e sangue derramado no período militar, mas sim de achar um
ponto onde seja dada ao réu a garantia de ter seus direitos constitucionais respeitados,
especialmente o da presunção de inocência, sem ter que coibir a imprensa da possibilidade de
noticiar um fato criminoso. A base para tal raciocínio é a própria observância do Processo
Penal como hoje é concebido em se tratando das garantias do réu, que não pode ser colocado
em situação desvantajosa durante o desenrolar do feito muito menos na fase de inquérito
policial, pois o objetivo é a busca da verdade real.
Pode-se pensar em algumas possibilidades para tentar minimizar o embate liberdade de
imprensa versus processo penal e direitos constitucionais do réu. Um dos meios mais comuns
é a utilização da lei civil no instituto da responsabilidade civil pelo cometimento de atos
ilícitos, ou seja, determinar a reparação do dano causado a alguém por meio ilícito através do
pagamento de indenizações que sirvam como meio compensatório e punitivo, no entanto esta
alternativa peca por ser apenas remediadora e pouco inibidora. Outra maneira é criar
mecanismos que visarão preservar os bens jurídicos que possam ser atingidos pela divulgação
de notícia, idéia do autor Shecaria e Corrêa Junior (2002, p. 338-9), que discrimina:

Assim, a não-divulgação dos nomes de meros suspeitos – à semelhança do


que faz o Estatuto da Criança e do Adolescente – poderia servir para
preservar não só a honra, mas principalmente, garantir-lhes o devido
processo legal e o não-atingimento do principio da presunção de inocência.

A priori tal idéia parece simplória, mas se analisada com mais afinco, vê-se que ter
como exemplo o Estatuto da Criança e do Adolescente, que, para a proteção da intimidade dos
menores, proíbe a divulgação do seu nome e dados pessoais, nestes casos do Tribunal do Júri
33

de grande repercussão midiática, no Processo Penal, poderia ajudar a reforçar muito o direito
à presunção de inocência do réu sem limitar o direito da imprensa a divulgar a informação.

4.3 A OPINIÃO PÚBLICA

Darcy Azambuja (1955, p. 265-6), assim conceitua Opinião Pública:

Um juízo, sentimento, convicção, mas de caráter especial. Aliás, opinião é


um julgamento suscetível de controvérsia. A opinião é um estado de espírito
que consiste em julgar um verdadeiro fato ou uma afirmação, mas admitindo
que talvez estejamos enganados. É uma afirmação, mas admitindo que talvez
estejamos enganados. É uma convicção mais ou menos profunda, que nos
leva a afirmar uma coisa e proceder de certo modo; mas é uma convicção
que não tem infabilidade, a certeza de uma verdade científica. Público que
dizer ‘do povo, de uma sociedade, comum, geral’, afirmam os dicionários.
Então, opinião pública é a opinião do povo, a opinião geral, a opinião
comum.

Por se tratar de uma valoração sobre algo que acontece, aconteceu ou acontecerá na
sociedade, guarda a opinião pública intima ligação com o que é divulgado pelos meios de
comunicação, pois, como já dito, é através deles que a massa populacional toma
conhecimento do que está acontecendo no país, e, a partir de então, passa a julgar o que é
certo ou errado.
Já em relação ao Tribunal Popular, o que se pergunta é se tem a opinião pública
capacidade para oferecer influência ao conselho de sentença e assim por em riste o direito do
réu a presunção de inocência. Ainda, pergunta-se qual a repercussão no direito da presunção
de inocência do réu quando a opinião pública toma partido para sua condenação ou sua
absolvição.
É salutar lembrar que se levarmos em conta os julgamentos de repercussão nacional
que de fato comovem toda a população brasileira diante da sua expressa divulgação e da
atrocidade do crime, com certeza estaremos diante de um percentual muito pequeno dos
julgamentos que acontecem no país, mas, são exatamente esses casos, que servem de espelho
para a análise do fenômeno da não observância dos direitos do réu e que podem acabar por
modificar o cenário jurídico do país.
O cidadão, antes de ser jurado, é integrante da opinião pública, que acompanha todo o
desenrolar da investigação do processo do crime doloso contra a vida posto em destaque.
Deste modo, é preciso ter em mente que, a partir do momento que uma pessoa comum é
escolhida para ser jurado ela leva consigo as informações que obteve antes do fechamento do
34

pleno, assim, caso os meios de comunicação tomem partido para a absolvição ou a


condenação do réu, podem influenciar o jurado a pender para uma ou outra decisão antes
mesmo de se começar os debates no Tribunal, caracterizando um meio praticamente
imperceptível, mais de importante relevância, de julgamento tendencioso, afrontando a
presunção de inocência e também contribuindo para a sua não observância e inefetividade.
Já sabemos que a opinião pública, desde a concepção mais naturalística do Júri, vê o
julgamento como uma forma de “fazer justiça com as próprias mãos” e é exatamente por isso
que a imprensa tem um papel substancial.
A partir do momento que há uma cobertura tendenciosa, a divulgação de informações
na fase do inquérito policial, que muitas vezes são errôneas, a exploração da imagem dos
acusados ligada ao seu possível passado delituoso ou à sua maneira de ser como pessoa na
sociedade, tentando desqualificá-lo, pode gerar na opinião pública o anseio de um julgamento
rápido para que o sentimento de impunidade não aconteça, o que vai interferir profundamente
na vida do réu, mitigando o seu direito á presunção de inocência, que também pode ser
traduzido no direito de ter sua imagem preservada e sua honra, além do desenvolvimento do
devido processo legal.
A população, em tese, não está preparada para conceber que a vida passada de um
acusado em face de crimes cometidos e penas cumpridas ou simplesmente o seu
comportamento frio na sociedade – excetuando casos de desvios psicológicos - não pode
servir como motivação ou repercutir na condenação de alguém. Não no sentido de sua
inocência ou culpabilidade.
É por isso que a imprensa tem papel fundamental, pois é ela quem divulga a
informação, é ela quem causa o clamor popular na opinião pública e é ela que acaba
mitigando e colaborando para que o princípio da presunção de inocência se torne além de
ineficaz, inaplicável, e, diante da inércia do judiciário e do legislativo na adoção de medidas
protetivas quanto a essa mitigação, ou, por assim dizer, desuso do princípio, acabe, por fim,
de forma temerosa, correndo o risco de não mais existir na prática.
35

V-CAPÍTULO

5. ESTUDO DE CASOS PRÁTICOS

5.1 O CASO ISABELLA NARDONI

Dia 29 de Março de 2008, uma criança de cinco anos de idade é morta após ser
lançada do sexto andar do Edifício London na cidade de São Paulo. O nome dela: Isabella de
Oliveira Nardoni. Os principais suspeitos são seu pai, Alexandre Nardoni e sua madrasta,
Anna Carolina Jatobá, que negam veementemente a autoria do crime.
A partir daí uma saga com horrendos fatos seria exposta diariamente em todos os
veículos de comunicação do país, tendo, inclusive, sido noticiada internacionalmente. Diante
das circunstâncias do caso um grande contingente policial foi movimentando para a
investigação profunda do crime. A imprensa e opinião pública acompanharam todo o
desenrolar investigativo de perto.
O que mais chama atenção no caso Isabella, além da crueldade do crime cometido,
aqui escapando a qualquer julgamento de valor, é sem dúvida a massificação das informações
de forma quase que simultâneas na mídia. Durante alguns meses não se ouvia falar outra coisa
nas esquinas do Brasil a fora que não o hediondo crime praticado contra a criança.
Debates se tornaram comuns nas televisões e rádios a cerca da culpabilidade ou
inocência do então, ainda suspeito, casal Nardoni. Advogados, jornalistas, sociólogos e
profissionais de todas as espécies eram perguntados se acreditavam ou não da culpabilidade
do casal. Note-se que não era questão de se respeitar a presunção de inocência dos acusados,
mas sim de tratar a possibilidade da culpabilidade dos réus.
A vida do casal foi dilacerada pela imprensa que literalmente “puxou a ficha” de todo
o passado e presente dos acusados, tentando, de certa forma, concluir sobre suas condutas
perante a sociedade a fim de determinar um julgamento parcial sobre as suas predisposições
criminosas.
O caso é um dos mais recentes e famosos quando tratamos da não observância aos
direitos do acusado e de Júri Popular. A Constituição brasileira e o Pacto São Jose da Costa
Rica do qual o Brasil é signatário, esclarece que não há que se falar em culpa antes que esta
seja provada e sentenciada em último grau de jurisdição. A luz do direito da dignidade da
pessoa humana o raciocínio é lógico: o suspeito ainda não é o criminoso, ali se pode ter um
inocente, e se seus mínimos direitos não fossem respeitados estaríamos ilicitamente
36

deturpando o sentido da norma causando um grande prejuízo ao espírito das leis e dos
princípios constitucionais.
Há um brocardo jurídico que admite a seguinte ideia: é terrível soltar um culpado, mas
é inadmissível deixar um inocente preso. Foi com tal espírito que o legislador constituinte
procurou cercar o réu das mínimas condições da presunção de inocência, o que, no caso
Isabella, não andou perto de acontecer com os réus, pois, como estudado, o princípio não trata
apenas de efetividade processual, mas de efetividade material no seio social.
Alexandra Nardoni e Anna Carolina Jatobá tiveram sua imagem veiculada desde a
instauração do inquérito policial como os verdadeiros autores do crime por grandes meios de
comunicação. A opinião pública clamou por justiça e condenava os acusados mesmo antes do
trâmite do processo. A palavra “monstros” era ouvida sem nenhum pudor, até em forma de
coro por quem acompanhou a seção do julgamento. Uma boa ilustração do escárnio público
do casal é vista na Revista Veja edição n° 16 do ano de 2008, que traz na capa os seguintes
dizeres: FORAM ELES, em letras garrafais. Lembre-se que até então o casal não havia sido
sentenciado.
Advogados, cientistas sociais e por assim dizer, a população em geral, sabia, mesmo
que de maneira inconsciente, que o casal seria condenado. Qual o porquê da certeza? A
resposta pode ser encontrada na condenação antecipada veiculada no meio social, este de
onde os jurados foram escolhidos e que podem, ou não, terem sido influenciados no momento
das respostas sobre a culpabilidade do casal, ainda que não tivessem consciência disso.
Finalmente, no mês de Março de 2010 o Júri profere a sua decisão: Culpados!
Alexandre Nardoni é condenado a 31 anos, 3 meses e 10 dias de prisão e Anna Carolina
Jatobá a 26 anos e 8 meses. Na sentença de Alexandre constatou-se a seguinte síntese que
cominou na pena citada:

3. Por esta razão, os réus foram então submetidos a julgamento perante este
Egrégio 2º Tribunal do Júri da Capital do Fórum Regional de Santana, após
cinco dias de trabalhos, acabando este Conselho Popular, de acordo com o
termo de votação anexo, reconhecendo que os acusados praticaram, em
concurso, um crime de homicídio contra a vítima Isabella Oliveira Nardoni,
pessoa menor de 14 anos, triplamente qualificado pelo meio cruel, pela
utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima e para garantir a
ocultação de delito anterior, ficando assim afastada a tese única sustentada
pela Defesa dos réus em Plenário de negativa de autoria.
37

Os jurados acolheram totalmente a tese da acusação “de homicídio triplamente


qualificado pelo meio cruel (asfixia mecânica e sofrimento intenso), utilização de recurso que
impossibilitou a defesa da ofendida (surpresa na esganadura e lançamento inconsciente pela
janela) e com o objetivo de ocultar crime anteriormente cometido (esganadura e ferimentos
praticados anteriormente contra a mesma vítima) contra a menina ISABELLA OLIVEIRA
NARDONI”, conforme consta no relatório da sentença.
É importante frisar que não cabe afirmação peremptória de Júri corrompido pela mídia
ou opinião pública no caso Isabela pelo simples fato da condenação, mas sim de observar que
o grande aparato midiático em torno do caso e a exposição dos réus sem qualquer tipo de
filtro jurisdicional a cerca das suas garantias constitucionais da presunção de inocência e da
dignidade da pessoa humana, de fato, podem ter influenciado aqueles que tiveram que decidir
sobre o seu futuro, corroborando a tese de que a permissão total de coberturas de casos de
grande repercussão no Tribunal do júri de forma escrachada tem sim tornado o princípio da
presunção de inocência uma fantasia.

5.2 O CASO DANIELA PERES

O dia 28 de Dezembro de 1992 entraria para a história do Brasil com o assassinato


cruel da atriz da Rede Globo de Televisão, morta pelo ator Guilherme de Pádua e sua esposa,
Paula Thomaz, que contracenava com Daniela na novela “De Corpo e Alma”, de autoria de
sua mãe, Glória Peres.
A atriz foi morta com 18 golpes de instrumento perfuro-cortante por Guilherme e com
auxílio da sua companheira em uma rua deserta na Barra da Tijuca no estado do Rio de
Janeiro. Segundo instrução processual o crime havia sido cometido por ambição de Guilherme
que acreditava que por Daniela ser filha da autora da novela tinha alguma influência sobre a
diminuição das suas aparições nos capítulos do drama.
O casal foi levado à Júri popular após a pronúncia e libelo acusatório com incurso nas
penas do art. 121, §2º, inciso I e inciso IV do Código Penal Brasileiro, sendo a tese da
acusação totalmente acolhida pelo conselho de sentença. Na sentença proferida então pelo
Meritíssimo Juiz José Geraldo Antônio, lia-se:

A conduta do réu exteriorizou uma personalidade violenta, perversa e


covarde quando destruiu a vida e uma pessoa indefesa, sem nenhuma
chance de escapar ao ataque de seu algoz, pois, além da desvantagem
38

na força física o fato se desenrolou em local onde jamais se ouviria o


grito desesperador e agonizante da vítima. (A sentença..., 2011)

Por cinco votos a dois o Juiz presidente leu a sentença que condenou Guilherme de
Pádua a 19 anos de prisão no mês de Janeiro de 1997, e, no dia 16 de Maio do mesmo ano, foi
a vez de sua esposa, Paula Thomaz, ser condenada, por 4 votos a 3, a 18 anos e 6 meses de
prisão.
O caso foi notícia não apenas no Brasil, mas em redes do mundo inteiro como a CNN
e a BBC de Londres, diante da atrocidade do crime cometido que chocou a opinião pública da
época.
O sentimento de revolta populacional foi tão grande que a mãe de Daniela, Glória
Perez, resolveu juntar assinaturas que acabariam por modificar a lei dos crimes hediondos. A
autora conseguiu mais de um milhão de assinaturas, quantidade suficiente para modificar a
lei, que, a partir de então, incluiria o crime de homicídio qualificado (praticado por motivo
torpe ou fútil, ou cometido com crueldade) entre o rol dos crimes hediondos que não permitia
o pagamento de fiança e exigia um maior tempo de cumprimento da pena em regime fechado.
Tanto é verdade a comoção da opinião pública nestes casos que o crime de homicídio
contra a atriz da Rede Globo foi motivador da alteração da lei dos crimes hediondos que, no
ano de 2006, viria a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (Habeas Corpus n° 87.452-
MG e 87.623-SP) como inconstitucional na parte que proibia a progressão de regime, o que
corrobora que àquela época o desejo de justiça muito a aflorado na opinião pública levou a
uma não ponderação correta dos ditames constitucionais, servido como prova de que a
condenação antecipada ou o desejo desesperado por resultado não são de forma alguma
benéficos.
O caso em epigrafe é mais um exemplo de contradição ao princípio da presunção de
inocência, que em crimes de grande repercussão nacional é de fato ferido.
39

VI-CONCLUSÃO

. O processo é o meio que a sociedade desenvolveu para de forma mais ampla e


límpida poder julgar alguém, contudo, não se deve tratar o acusado como objeto daquele, mais
sim como sujeito de direito, tendo a consciência de que o réu é portador do direito a imagem,
a honra e a defesa plena. É para reforçar esses institutos que reside a importância do princípio
da presunção de inocência.
O presente trabalho não buscou, de forma alguma, defender criminosos, mas, ao
contrário, buscou de forma imparcial promover o que se acha atualmente de mais esplêndido
na legislação brasileira: os direitos humanos e a liberdade.
O direito a presunção de inocência é requisito necessário para que a dignidade da
pessoa humana seja respeitada quando a pessoa é colocada como réu em um processo
criminal e uma das maiores garantias da manutenção da sua liberdade.
Insta ao poder judiciário, legislativo e as redes de informação do nosso país terem em
mente que perder este direito (presunção de inocência) seria ameaçar se perderem todos os
outros, e assim procurarem maneiras de fortificar e de dar efetividade ao princípio em todos
os casos processuais criminais, e, especialmente, nos de grande repercussão em Tribunais do
Júri, por ser a população, representada pelos jurados, que emitirá uma decisão sobre a
culpabilidade do réu, procurando proteger não apenas o desenvolvimento do devido processo
legal, mas, também, a esfera moral do acusado, pois este é o verdadeiro sentido e objetivo do
princípio estudado, que tem sido cada vez mais posto em desuso e que tem deixado os réus a
mercê da liberalidade e falta de sensibilidade dos veículos de comunicação e das práticas
jurídicas desonradas.
40

BIBLIOGRAFIA

A sentença de Guilherme de Pádua. Disponível em:< http://www.gloriafperez.net/?


p=51>. Acesso em, 17 de jan de 2011.

AZAMBUJA, Darci. Teoria geral do Estado. 4 ed. Porto Alegre: Globo 1955.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

BRASIl. Decreto n° 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção


Americana Sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de
novembro de 1969.

BRASIL. Decreto-lei n° 3.689, de 3 de outubro 1941. Código de Processo Penal.

BRASIL. Lei 11.689 de 9 de junho de 2008.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n° 89974, Relator(a):  Min.


CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 18/11/2008.

BRASIL. Tribunal Regional Federal (1° Região). Processual Penal. Artigo 171, § 3º, do
Código Penal. Estelionato Contra o INSS. Mutatio Libelli. Ausência de Provas. In
Dubio Pro Reo. ACR 2002.39.00.008660-7/PA. Apelação Criminal, Desembargador
Federal Tourinho Neto, Terceira Turma.

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal / Fernando Capez. – 12. Ed. Ver. E atual.
– São Paulo: Saraiva, 2005.

CRUZ, Paulo Márcio. Princípio Constitucionais e Direito Fundamentais:


Contribuição ao Debate. Paul Márcio Cruz e Rogério Zuel Gomes, Curitiba: Juruá,
2006.

CARVALHO, L.G Grandinetti Castonho de. Processo Penal e Constituição:


princípios constitucionais do Processo Penal. 4° Ed – Lumen Juris Editora, Rio de
Janeiro, 2006.

FONSECA, Adriano Almeida. O princípio da presunção de inocência e sua


repercussão infraconstitucional, 1999. Disponível em
41

<http://jus.uol.com.br/revista/texto/162/o-principio-da-presuncao-de-inocencia-e-sua-
repercussao-infraconstitucional> Acesso em: 17 jan 2011.

LINHARES, Juliana. Frios e Dissimulados. Pai e madrasta mataram Isabella, numa


seqüência de agressões que começaram ainda no carro, concluí a polícia. Revista
Veja, São Paulo-SP, ed. 2057, n° 16, p.84-91, 23 de Abril de 2008.

FILHO, Mario Rocha Lopes. Tribunal do júri e algumas variáveis potenciais de


influência / Mario Rocha Lopes Filho. – Porto Alegre: Núria Fabris, Ed., 2008.

KELSEN, Hans, 1881-1973. Teoria pura do direito / Hans Kelsen ; [tradução João
Baptista Machado]. 6ª ed. - São Paulo : Martins Fontes, 1998. – (Ensino Superior)

MARQUES, Dorval Bráulio. Mídia, criminalidade e sistema judicial. Porto Alegre:


PUCRS, 201. Dissertação (Mestrado em Ciências Criminais), Faculdade de Direito,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2001.

MIRABETE, Juliano Fabbrini. Código de processo penal interpretado: referências


doutrinárias, indicações legais, resenha jurisprudência : atualizado até julho de 2003/
Julio Fabbrini Mirabete. – 11. ed. – 11. reimpr. – São Paulo : Atlas, 2003.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional / Alexandre de Moraes. – 21. Ed. –


São Paulo: Atlas,2007.

NETO, Alfredo. A Ciência do Júri. É impossível controlar a mente de um jurado?


Advogados estão usando ciência e tecnologia para descobrir a resposta. O resultado já
está aparecendo nos tribunais – e envolve até capacete de realidade virtual e pesquisa
com fãs de CSI. Revista Super Interessante, São Paulo-SP, ed. 280, p. 82-85, julho.
2010.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal /


Guilherme de Souza Nucci. – 5. ed. rev., atual. e ampl. tir. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2008.

PAULO, Roberto Gonçalves. O Direito de defesa a todo acusado e o princípio da


presunção de inocência, 2009. Disponível em: http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?
id_dh=1137> Acesso em: 26 jan 2011.

REIS, Fernando Antonio Calmo. Júri: as observações históricas sobre um instituto


ainda não compreendido, 2010. Disponível em:<
42

http://jus.uol.com.br/revista/texto/17652/juri-pequenas-observacoes-historicas-sobre-
um-instituto-ainda-nao-compreendido> Acesso em: 17 jan 2011.

TARDELLI, Roberto. Tribunal do Júri: a arte de julgar o próximo / Roberto


Tardelli. – Niterói, RJ: Nahgash, 2007.
43

ANEXO A – HABEAS CORPUS 87.452-5 MINAS GERAIS


44

ANEXO B – HABEAS CORPUS 87.623-4 SÃO PAULO

Você também pode gostar

pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy