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in various segments, and the sample selection criteria biggest sales of the year 2009. The
initial sample had 88 companies, excluding those companies that have disclosed information
or have irrelevant effects of adjustment to present value, remaining 24 companies. After the
Balance Sheet content analysis, Exercise and Explanatory Notes Income Statement of these
companies was concluded that there was effect of the adjustment to present value in the need
for working capital ratio as well as the financial result and profit, also signaling that the
impact was more significant in the retail segment.
1 INTRODUÇÃO
Em estudo realizado pela Ernest & Young (2009) sobre 40 empresas listadas na
BM&FBovespa, foram analisados cinco segmentos distintos: telecomunicações, energia,
mercado imobiliário, varejo e bens de consumo. Os resultados demonstraram que 21 das 40
empresas estudadas tiveram impacto no resultado, correspondendo a 1% do lucro com a
adoção do Pronunciamento Técnico CPC 12, o setor de maior impacto foi o varejo com um
impacto negativo, -9%, na Demonstração de Resultado do Exercício - DRE, seguido pela
indústria de bens de capital com 4% de impacto positivo.
Diante das mudanças ocorridas na legislação societária, cabe a investigação do seu
impacto nos indicadores econômico-financeiros das organizações. Desta forma, surge o
seguinte problema de pesquisa: Qual o impacto no índice de necessidade de capital de giro,
quando da adoção do Pronunciamento Técnico CPC 12 – Ajuste a Valor Presente, em
empresas de diferentes segmentos, com ações negociadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e
Futuros - BM&FBovespa?
O objetivo central deste estudo é identificar o impacto no índice de necessidade de
capital de giro, quando da adoção do Pronunciamento Técnico CPC 12 – Ajuste a Valor
Presente, em empresas de diferentes segmentos, com ações negociadas na Bolsa de Valores,
Mercadorias e Futuros - BM&FBovespa.
Este estudo justifica a sua realização pela relevância dos temas abordados. Conforme
Geron (2008), as práticas contábeis afetam e são afetadas pelo ambiente, dentre os motivos
para alteração dessas práticas se incluem as características dos usuários da contabilidade que
buscam informações confiáveis e de melhor qualidade. Nesse sentido, se inserem as
alterações na legislação, ou seja, no ambiente em que as empresas atuam, e a adoção do
Pronunciamento Técnico CPC 12, como parte dessas alterações. Este estudo contribui para o
entendimento das mudanças provocadas nas informações geradas pela contabilidade, mais
especificamente, sobre a necessidade de capital de giro.
2 REVISÃO DE LITERATURA
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Segundo Iudícibus et al. (2010, p. 104), com o advento da Lei nº 11.638/07, “[...] foi
introduzido expressamente na lei o desconto a valor presente para contas a receber e a pagar
de longo prazo e, dependendo da materialidade, para as contas de curto prazo”. Conforme os
autores, esse desconto ou redução ao valor presente deve ser efetivado mediante aplicação de
uma taxa de desconto.
A Deliberação CVM nº 564/08 aprovou o Pronunciamento Técnico CPC 12 que trata
do ajuste a valor presente. De acordo com o CPC 12, o valor presente representa “[...] a
estimativa do valor corrente de um fluxo de caixa futuro.” Este pronunciamento trata
essencialmente de questões de mensuração, envolvendo a decisão de “por quanto registrar”.
De acordo Hendriksen e Van Breda (1999, p. 311), sobre valores descontados de caixa
no âmbito da avaliação de ativos a valores de saída, “quando há um período de espera até que
ocorram os recebimentos esperados, o valor presente desses recebimentos é inferior ao
montante efetivo que se espera receber. Quanto mais longo o período, menor o valor
presente”. Sobre a avaliação de passivos a valores de saída, Hendriksen e Van Breda (1999, p.
413) destacam que “[...] a avaliação corrente da dívida é o valor presente das quantias a serem
pagas no futuro”. Barbosa, Carlin e Vitor (2009) complementam este raciocínio, destacando
que existe uma premissa fundamental do valor presente que reside no fato de existir um valor
do dinheiro no tempo que reflete tanto no ativo, quanto no passivo, mais especificamente, nas
contas a pagar e a receber de longo prazo.
A Lei nº 6.404/76, quanto aos critérios de avaliação do ativo, em seu art. 183, inciso
VIII determina que “os elementos do ativo decorrentes de operações de longo prazo serão
ajustados a valor presente.” Quanto aos critérios de avaliação do passivo, a Lei nº 6.404/76,
em seu artigo 184, inciso III orienta que “as obrigações, os encargos e os riscos classificados
no passivo não circulante serão ajustados ao seu valor presente”. Também quando o ajuste nos
ativos e passivos de curto prazo forem relevantes. Ambas as alterações foram promovidas
pela Lei nº 11.638/07.
Para Iudícibus et al. (2010, p. 105) “essa mudança tem o objetivo de determinar as
parcelas de ativo e passivo que não correspondem a preço efetivo da transação, mas sim a
ajuste por conta do valor do dinheiro no tempo.” Os autores esclarecem que a intenção é que
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ADOÇÃO DO PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 12 – AJUSTE A VALOR PRESENTE: UM ESTUDO DO IMPACTO...
os juros embutidos nas transações a prazo tenham tratamento contábil conforme a sua
natureza efetiva, ou seja, a de resultado financeiro.
Sobre este mesmo fato, Braga e Almeida (2008, p. 120) complementam que “[...]
quanto maior for a taxa de juros embutida e o prazo de vencimento da operação, maior
tenderia a ser a distorção causada pela falta do ajuste a valor presente”. Sendo assim, fica
reforçada a relevância do ajuste em termos de valoração dos ativos e passivos.
Em relação aos procedimentos para a utilização do ajuste a valor presente, Iudícibus et
al. (2010, p. 104) observam que
[...] a mensuração contábil a valor presente deve ser aplicada no
reconhecimento de ativos e passivos e a quantificação do ajuste a valor
presente deve ser realizada em base exponencial pro rata, a partir da origem
de cada transação, sendo os seus efeitos apropriados nas contas a que se
vinculam. O ajuste será feito mediante criação de conta retificadora (juros a
apropriar ou encargos financeiros a transcorrer) para que não se percam os
valores originais. O método a ser utilizado é o da taxa efetiva de juros, sendo
que a taxa aplicada não deve ser líquida de efeitos fiscais, mas antes dos
impostos.
Destaca-se, conforme a exposição dos autores, que se faz necessário um rigoroso
controle acerca do cálculo do ajuste, a partir da origem de cada transação, bem como dos
lançamentos a serem realizados envolvendo contas retificadoras dos valores originais.
Como vantagem da contabilização do ajuste a valor presente, Iudícibus et al. (2010, p.
105) defendem que “tal procedimento contribui para a elaboração de demonstrações contábeis
com maior valor preditivo e, se tais informações são registradas de modo oportuno, também
contribuirão para o aumento do grau de relevância das demonstrações contábeis.” Desta forma
prevalece a essência sobre a forma.
Quanto às informações necessárias ao cálculo do ajuste ao valor presente, Iudícibus et
al. (2010, p. 105) destacam que “para determinação do valor do ajuste, e, portanto, do valor
presente de um fluxo de caixa futuro, são requeridas basicamente três informações: (i) o valor
do fluxo futuro; (ii) a data em que esse fluxo ocorrerá, e (iii) a taxa de desconto que deve ser
utilizada.” Ou seja, se faz necessário o valor a ser recebido ou pago na data futura e a taxa de
desconto que deve ser aplicada para descontar esse fluxo futuro para a data atual.
Quanto à divulgação do ajuste ao valor presente nas demonstrações contábeis das
empresas, sinteticamente, o Pronunciamento Técnico CPC 12 determina que sejam
divulgados: a) a descrição pormenorizada do item objeto do Ajuste a Valor Presente - AVP;
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b) as premissas utilizadas: taxas de juros decompostas por prêmios e risco, montante dos
fluxos de caixa estimados ou séries de montantes de fluxos de caixa estimados, horizonte
temporal estimado ou esperado, expectativas em termos de montante e temporalidade dos
fluxos; c) modelos utilizados para cálculos de riscos e inputs dos modelos; d) breve descrição
do método de alocação dos descontos e do procedimento adotado para acomodar mudanças de
premissas da administração; e) propósito da mensuração a valor presente, se para
reconhecimento inicial ou nova medição, e motivação da administração para levar a efeito tal
procedimento; e f) outras informações relevantes.
Alguns itens merecem destaque, conforme orientação do Pronunciamento Técnico
CPC 12, de forma sintética: a) deverão estar sujeitos ao ajuste a valor presente todos os
realizáveis e exigíveis que tenham sido determinados sem a previsão de encargos ou
rendimentos financeiros; b) os realizáveis e exigíveis sem possibilidade ou com extrema
dificuldade de determinação da data de seu vencimento, não deverão estar sujeitos ao ajuste
ao valor presente; c) as taxas de desconto devem ser as que mais se combinam com o risco da
entidade envolvida na data inicial do contrato; d) o valor presente de uma obrigação deverá
corresponder ao valor justo do ativo na data inicial, salvo quando da aquisição de um bem sob
taxa de financiamento fora das condições de mercado; e) serão consideradas reduções de
ativos os ajustes a valor presente de obrigações vinculadas a ativos não monetários e; f) os
valores de ajuste deverão ser revertidos no decorrer do tempo, com base na taxa efetiva de
juros.
Conforme Assaf Neto e Silva (2002, p. 24) “o entendimento de capital de giro insere-
se no contexto das decisões financeiras de curto prazo, envolvendo a administração de ativos
e passivos circulantes. Toda a empresa precisa buscar um nível satisfatório de capital de giro
de maneira a garantir a sustentação de sua atividade operacional.”
Sobre a origem do termo, Brigham e Ehrhardt (2006, p. 837) expõem que “o termo
capital de giro originou-se do velho vendedor ambulante ianque que carregava a sua carroça
para, então, sair vendendo as suas mercadorias. A mercadoria era chamada capital de giro
porque era exatamente isso o que ele vendia, ou “fazia girar”, para produzir seus lucros.”
As contas caixa, estoques e contas a receber estão atreladas ao capital de giro e,
segundo Gitman (2004, p. 510),
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de giro é uma tarefa com sensíveis repercussões sobre o sucesso dos negócios, exercendo
evidentes influências sobre a liquidez e a rentabilidade das empresas.”
Conforme Matarazzo (2003, p. 337), a Necessidade de Capital de Giro - NCG “[...] é a
chave para a administração financeira de uma empresa.” O autor acrescenta que, em termos
de estratégia de financiamento, crescimento e lucratividade, é um conceito fundamental, além
do ponto de vista financeiro, que vem em primeiro lugar. Para determinar a NCG, segundo
Matarazzo (2003), é utilizada a fórmula:
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Pesquisas que abrangem a gestão do capital de giro têm sido realizadas, como é o caso
de Gentry et al. (1979) ao efetivarem um estudo internacional sobre as percepções do
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processo de gestão do capital de giro. Tanto Gentry et al. (1979), quanto Mól e Souza (2007),
apontaram as dificuldades de compreensão pelos acadêmicos sobre a literatura de gestão do
capital de giro. Os primeiros autores, ainda destacaram que, embora os gestores de empresas
estejam continuamente envolvidos no processo de tomada de decisão referente ao capital de
giro, possuem uma perspectiva limitada quanto às práticas dentro da empresa. Assim, Gentry
et al. (1979) aplicaram um questionário para coletar informações de uma amostra de pessoal
de marketing, de produção e dos executivos financeiros de grandes empresas na Bélgica,
França, Índia e Estados Unidos. O estudo interpretou as prioridades da gestão de capital de
giro e indicou a necessidade de melhorar os modelos de planejamento financeiro para incluir,
explicitamente, os objetivos de curto prazo, ainda, a previsibilidade das entradas e saídas de
caixa foi examinada e os fatores potenciais que afetam a previsibilidade foram avaliados.
Finalmente, o estudo analisou a percepção da gestão das metas de longo prazo a fim de
proporcionar uma boa perspectiva para o planejamento financeiro.
Para Deloof (2003), a maioria das empresas tem uma grande quantidade de dinheiro
investido em capital de giro. Portanto, pode-se esperar que a maneira pela qual o capital de
giro é administrado tenha um impacto significativo sobre a rentabilidade das empresas. Shin e
Soenen (1998) citado por Deloof (2003) encontraram uma forte relação negativa entre o ciclo
de conversão de caixa e a rentabilidade de uma grande amostra de empresas americanas que
negociam ações em bolsa, no período 1975-1994. Já Deloof (2003) encontrou uma relação
negativa significativa entre a receita operacional bruta e o número de dias de contas a receber,
período de estocagem e contas a pagar de empresas belgas. Estes resultados, segundo o autor,
sugerem que os gestores podem criar valor para seus acionistas através da redução do número
de dias de contas a receber e estoques a um mínimo razoável. A relação negativa entre contas
a pagar e a rentabilidade é consistente com a visão de que empresas menos rentáveis esperam
mais tempo para pagar suas contas.
Silva e Frezatti (2004) procuraram verificar se a contabilidade, enquanto instrumento
de geração de informações úteis, estava sendo utilizada na gestão do capital de giro das
médias e grandes indústrias de confecções de artigos de vestuário e acessórios do Estado do
Paraná. A pesquisa focalizou 25 indústrias de confecções de médio e grande porte, situadas
em dez municípios paranaenses. Os resultados obtidos revelaram que a tendência de se
utilizar a contabilidade apenas como instrumento de atendimento ao fisco estava sendo, aos
poucos, revertida, pois, na época, 64% das empresas visitadas já possuíam contabilidade
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voltada para a gestão dos negócios, produzida dentro da própria empresa, com contador ou
controller exclusivos.
Machado, Machado e Callado (2006) analisaram como as pequenas e médias empresas
têm financiado suas necessidades de capital de giro. O estudo se utilizou do modelo dinâmico
de análise financeira, sendo aplicado em 20 empresas, possibilitando mensurar as variáveis
necessidade de capital de giro, saldo de tesouraria, capital circulante líquido, capital de giro
próprio, exigível a longo prazo e termômetro da situação financeira, no período de 2001 a
2003. Os autores constataram que a maior parte das empresas não foi capaz de financiar suas
necessidades de capital de giro pelo autofinanciamento. As empresas utilizaram, em maior
proporção, recursos de terceiros de curto prazo, normalmente de maior custo e de menor
prazo. Assim, foi possível notar que os recursos de curto prazo, financiados por terceiros eram
relevantes na gestão destas empresas.
Quanto à conceituação de capital de giro e seus derivados, Mól e Souza (2007)
buscaram apresentar as divergências e similaridades existentes em torno da conceituação
destes temas, por meio de uma análise empírica do entendimento dos alunos do curso de
graduação em Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Os autores demonstraram, primeiramente, que havia falta de uniformização dos
conceitos apresentados na literatura contábil-financeira contemporânea. Em um segundo
momento, identificaram a multiplicidade de conceitos apresentados pelos estudantes e grande
desarticulação que os mesmos apresentavam sobre a gestão financeira do capital de giro.
Conforme os autores, estas questões remetem à falta de uniformização na literatura e à
relativa dificuldade dos alunos de racionalização sobre estes conceitos.
O estudo de Nuitin et al. (2007) propôs uma ferramenta para calcular a previsão da
necessidade de capital de giro, na qual os componentes podiam ser obtidos das demonstrações
financeiras, utilizando o modelo de entrada-saída para projeção dessas demonstrações. O
referencial teórico pesquisado, pelos autores, inclui o modelo Fleuriet, de análise financeira, e
o modelo de entrada-saída, utilizado para projetar as demonstrações financeiras. Nos
resultados, os autores salientaram que o modelo possibilitou, dada uma previsão de demanda,
considerar alterações: no volume de negócios, nos níveis de estoques, nos saldos das contas
de clientes e fornecedores e em outras contas operacionais. Tais alterações foram
consideradas no cálculo da previsão da necessidade de capital de giro.
Oliveira e Melo Sobrinho (2009) avaliaram o desempenho de empresas da construção
civil brasileira quanto à gestão de capital de giro e quanto à capacidade de geração de caixa,
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por meio de um estudo multicaso, com seis empresas listadas na BM&FBovespa. O estudo
centrou-se na análise de 40 relatórios contábeis trimestrais por empresa, foi utilizada
estatística descritiva, teste não-paramétrico de Mann-Whitney, regressão múltipla e simulação
de Monte Carlo. Os resultados sinalizaram que a maioria das empresas analisadas foi
classificada como insatisfatória, ou seja, em situação de inadimplência, quanto à gestão do
capital de giro, mesmo sabendo que a elas possuíam recursos de longo prazo para o
financiamento dos ativos circulantes. Quanto à capacidade de geração de caixa, os autores
salientaram que, embora a maioria das empresas estudadas tenha superado a expectativa de
50% de chances de ter fluxos de caixa finais maiores que zero, havia o elevado risco
associado a não ocorrência destes.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este estudo se caracteriza quanto aos objetivos como pesquisa descritiva, que segundo
Vergara (2007, p. 47) “[...] expõe características de determinada população ou de determinado
fenômeno. Pode também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza. Não
tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal
explicação.” Busca-se, por meio deste, descrever o impacto no índice de necessidade de
capital de giro, quando da adoção do Pronunciamento Técnico CPC 12 – Ajuste a Valor
Presente nos exercícios findos em 2008 e 2009, em empresas de diferentes segmentos de
atuação listadas na BM&FBovespa.
Quanto aos procedimentos se enquadra no tipo documental, conforme Fachin (2003) a
pesquisa documental corresponde a toda informação de forma oral, escrita ou visualizada e
consiste na coleta, classificação e utilização de toda espécie de informações, compreendendo
também as técnicas e os métodos que facilitam a sua busca e identificação. Este
enquadramento para este estudo se deve ao fato de as informações, objeto de interesse,
estarem contidas em documentos, precisamente nas Demonstrações Contábeis: Balanço
Patrimonial e Demonstração de Resultado do Exercício, bem como em Notas Explicativas às
Demonstrações das empresas.
Também se classifica quanto à abordagem do problema como pesquisa quantitativa.
Para Richardson (1999, p. 70),
Amplamente utilizado na condução da pesquisa, o método quantitativo
representa, em princípio, a intenção de garantir a precisão dos resultados,
evitar distorções de análise e interpretação, possibilitando,
consequentemente, uma margem de segurança quanto às inferências. É
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Empresa setor
Profarma Distrib. de Prod. Farmacêuticos S/A Atacado
Weg Equipamentos Elétricos S/A Bens de Capital
Hypermarcas S/A Bens de Consumo
Whirlpool S.A Eletroeletrônico
Bandeirante Energia S.A. Energia
Centrais Elet de Santa Catarina S.A. Energia
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Energia
Cia Eletricidade Est. da Bahia - COELBA Energia
Cia Gas de São Paulo - COMGAS Energia
Espírito Santo Center. Eletr. S.A.-ESCELSA Energia
Tractebel Energia S.A. Energia
Fibria Celulose S/A Papel e Celulose
Klabin S.A. Papel e Celulose
Fertilizantes Heringer S.A. Química e Petroquímica
Cielo S/A Serviços
Usinas Sid.de Minas Gerais S/A - Usiminas Siderurgia e Metalurgia
Tim Participações S.A. Telecomunicações
Grendene S.A. Têxteis
B2W- Companhia Global do Varejo Varejo
Companhia Brasileira de Distribuição Varejo
Globex Utilidades S.A. Varejo
Lojas Americanas S.A. Varejo
Lojas Renner S.A. Varejo
Marisa Lojas S/A Varejo
Quadro 1 – Amostra da pesquisa
Fonte: Dados da pesquisa
O Quadro 1 apresenta a listagem que compreende a amostra desta pesquisa,
constituída por 24 empresas atuantes em 12 segmentos distintos. A amostra inicial era
composta por 88 empresas, classificadas em 20 segmentos pela Revista Exame Melhores e
Maiores (2010). No entanto, 46 empresas não divulgaram em notas explicativas os efeitos do
ajuste a valor presente, 9 consideraram o efeito do AVP irrelevante, por esse motivo não
realizaram o ajuste, e 9 não continham dados adequados para análise. Sendo assim, a análise
foi realizada para as 24 empresas que divulgaram informações nas demonstrações contábeis e
notas explicativas.
Ao finalizar a coleta de dados e a análise de conteúdo das demonstrações financeiras,
foi possível reconstituir o saldo original das contas contábeis sem o ajuste a valor presente e, a
partir deste momento, calcular o impacto causado pelo AVP nestas demonstrações e no índice
de necessidade de capital de giro.
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Efeito no Ativo %
Empresas
2009 2008
B2W- Companhia Global do Varejo -1,94 -6,03
Bandeirante Energia S.A. 0,00 0,00
Centrais Elet de Santa Catarina S.A. 0,00 0,00
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. 0,03 0,02
Cia Eletricidade Est. da Bahia - COELBA 0,00 0,00
Cia Gas de São Paulo - COMGAS -0,07 -0,13
Cielo S/A 0,36 0,15
Companhia Brasileira de Distribuição -0,28 0,01
Espírito Santo Center. Eletr. S.A.-ESCELSA 0,00 0,00
Fertilizantes Heringer S.A. -0,14 -0,32
Fibria Celulose S. A. 0,00 0,00
Globex Utilidades S.A. -0,25 -0,15
Grendene S.A. 0,33 0,55
Hypermarcas S.A. 0,00 0,00
Klabin S.A. 0,00 0,02
Lojas Americanas S.A. -1,37 -2,08
Lojas Renner S.A. -0,26 -0,40
Marisa Lojas S. A. -0,18 -0,34
Profarma Distrib. de Prod. Farmacêuticos S/A -0,18 -0,16
Tim Participações S.A. 0,15 0,18
Tractebel Energia S.A. 0,07 0,09
Usinas Sid.de Minas Gerais S/A - Usiminas 0,00 0,00
Weg Equipamentos Elétricos S/A -0,13 0,00
Whirlpool S.A -0,71 -1,44
Efeito no Passivo %
Empresas
2009 2008
Profarma Distrib. de Prod. Farmacêuticos S/A 0,00 0,00
Hypermarcas S/A -0,02 -0,03
Fertilizantes Heringer S.A. 0,01 0,00
Lojas Renner S.A. 0,00 0,00
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Efeito no RF %
Empresas
2009 2008
Centrais Elet de Santa Catarina S.A. 53,67 -258,59
Cielo S/A -13,36 0,00
Companhia Brasileira de Distribuição -0,06 -1,39
Fertilizantes Heringer S.A. -29,16 0,00
Grendene S.A. 248,08 -186,60
Hypermarcas S/A -83,01 5,80
Lojas Americanas S.A. 5,22 17,41
Lojas Renner S.A. 5,01 -27,41
Marisa Lojas S/A -508,86 23,29
Profarma Distrib. de Prod. Farmacêuticos S/A 20,12 3,82
Usinas Sid.de Minas Gerais S/A - Usiminas -3,36 0,00
Ciências Sociais em Perspectiva v.14 – nº. 26: p. 263 – 286; 1º sem. 2015 280
ADOÇÃO DO PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 12 – AJUSTE A VALOR PRESENTE: UM ESTUDO DO IMPACTO...
Efeito no Resultado %
Empresas
2009 2008
Bandeirante Energia S.A. -1,14 0,64
Centrais Elet de Santa Catarina S.A. 14,42 -7,48
Cia Eletricidade Est. da Bahia - COELBA 0,00 -1,13
Cia Gas de São Paulo - COMGAS 0,00 -0,39
Cielo S/A -2,25 0,00
Companhia Brasileira de Distribuição 0,03 -2,02
Espírito Santo Center. Eletr. S.A.-ESCELSA 1,36 4,22
Fertilizantes Heringer S.A. -43,63 0,00
Fibria Celulose S/A -19,14 0,00
Globex Utilidades S.A. 22,35 -102,11
Grendene S.A. 15,30 17,48
Hypermarcas S/A -18,53 7,67
Lojas Americanas S.A. -15,18 -40,49
Lojas Renner S.A. -49,37 -62,16
Marisa Lojas S/A -6,53 -14,46
Profarma Distrib. de Prod. Farmacêuticos S/A -7,77 -3,68
Usinas Sid.de Minas Gerais S/A - Usiminas 1,39 0,00
Efeito na NCG %
Empresas
2009 2008
B2W- Companhia Global do Varejo -0,57 -1,20
Bandeirante Energia S.A. 0,00 0,00
Centrais Elet de Santa Catarina S.A. 0,00 0,00
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. 0,00 -0,38
Cia Eletricidade Est. da Bahia - COELBA 0,00 0,00
Cia Gas de São Paulo - COMGAS -99,74 -3,30
Cielo S/A 64,02 -0,07
Companhia Brasileira de Distribuição -0,72 -0,41
Espírito Santo Center. Eletr. S.A.-ESCELSA 0,00 0,00
Fertilizantes Heringer S.A. -3,17 10,09
Fibria Celulose S/A -1,52 0,48
Globex Utilidades S.A. 0,00 0,00
Grendene S.A. -7,69 -23,39
Hypermarcas S/A 24,84 16,26
Klabin S.A. -0,41 -0,54
Lojas Americanas S.A. -1,03 -1,59
Lojas Renner S.A. 1,03 1,10
Marisa Lojas S/A 0,00 0,00
Profarma Distrib. de Prod. Farmacêuticos S/A -0,06 0,25
Tim Participações S.A. -19,17 -19,98
Tractebel Energia S.A. -0,98 -1,05
Usinas Sid.de Minas Gerais S/A - Usiminas -1,93 -2,40
Weg Equipamentos Elétricos S/A -0,74 0,00
Whirlpool S.A 12,95 5,80
Total -34,90 -20,32
µ -1,45 -0,85
Ao visualizar a Tabela 6, nota-se que houve efeito no capital de giro das empresas
analisadas, pois em apenas seis empresas o impacto foi zero. O maior impacto positivo
ocorreu na empresa Cielo S.A. no ano de 2009 com 64,02% e o maior impacto negativo
ocorreu na empresa Cia Gas de São Paulo – COMGAS, no mesmo ano, com 99,74%.
Ao finalizar a análise dos resultados desta pesquisa pode-se concluir que o impacto no
índice de necessidade de capital de giro, para as empresas estudadas, quando da adoção do
Pronunciamento Técnico CPC 12 – Ajuste a Valor Presente, foi de -0,85% em 2008 e de -
1,45% em 2009, conforme média apresentada na Tabela 6.
A Ernest & Young (2009) constatou, em sua pesquisa, que as divulgações realizadas
pelas empresas para atender o exigido pelo Pronunciamento Técnico CPC 12 não estavam em
conformidade com as requeridas pela norma. De forma geral, ficou a percepção, ao coletar os
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ADOÇÃO DO PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 12 – AJUSTE A VALOR PRESENTE: UM ESTUDO DO IMPACTO...
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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DEBORA GOMES MACHADO - VALMOR RECKZIEGEL - PATRICIA SIQUEIRA VARELA
REFERÊNCIAS
Ciências Sociais em Perspectiva v.14 – nº. 26: p. 263 – 286; 1º sem. 2015 284
ADOÇÃO DO PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 12 – AJUSTE A VALOR PRESENTE: UM ESTUDO DO IMPACTO...
NOTAS
1
FURGS – Universidade Federal do Rio Grande. Doutor em Administração pela
Universidade Nove de Julho, Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos, professor e pesquisador da Universidade Estadual do Oeste do Parana, Centro
de Ciências Sociais e Aplicadas. E-mail: debora_furg@yahoo.com.br
2
UNIOESTE – Universidade estadual do Oeste do Paraná. Possui graduação em Ciencias
Contabeis pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2001), mestrado em Ciências
Contábeis pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2005) e doutorado em Administração
pela Universidade Nove de Julho (2013). Endereço profissional: Rua Universitária, 2069 –
Jardim Universitário, cep: 858-110, Cascavel, Paraná. E-mail: vreckziegel@yahoo.com.br
3
USP – Universidade de São Paulo. Doutora em Controladoria em Contabilidade na
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade na Universidade de São Paulo,
professora e pesquisadora da FEA/USP. E-mail: psvarela@usp.br
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