Monografia-Custódio 2018
Monografia-Custódio 2018
Monografia-Custódio 2018
CURSO DE GRADUAÇÃO EM
MATEMÁTICA
SEROPÉDICA
JULHO, 2018
CLEBER DE BARROS CUSTÓDIO
SEROPÉDICA
JULHO, 2018
A Deus,
À minha orientadora Gisela Maria da Fonseca Pinto, que muito contribuiu para
este trabalho, dando clara direção e facilitando o desenvolvimento do mesmo
com suas palavras sempre sábias e amáveis.
E, por fim, a todos os amigos e amigas de turma que juntos trilharem este
caminho, dividindo as responsabilidades nos trabalhos em grupo ou nas muitas
horas de estudo.
RESUMO
O ser humano é um ser racional e essa já seria, por si só uma razão suficiente,
ainda que romântica, para ensinar e aprender matemática. Entretanto desejo
destacar alguns motivos práticos que revelam essa necessidade
Dessa forma, elaboramos esta monografia que pretende discutir e refletir sobre
o ensino do raciocínio proporcional no ensino básico, mais especificamente o 6º
ano do ensino fundamental onde o tema é inserido de forma definitiva no
currículo escolar.
1- A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DE PROPORCIONALIDADE
Muitos conteúdos nos programas de matemática são essenciais para o
entendimento de questões do nosso dia a dia. O conceito de proporcionalidade
se destaca entre estes; na escola é abordado nas séries iniciais e depois com
mais profundidade no sexto ano do ensino fundamental.
Outro caso é quando percebemos que, ao fazer uma viagem de trem, o tempo
gasto varia de acordo com a velocidade média: se a velocidade média aumenta
o tempo de viagem diminui e, ao contrário disso, se a velocidade média diminui,
o tempo de viagem aumenta. Neste caso dizemos que velocidade média e tempo
são grandezas inversamente proporcionais.
Freudenthal (1981, apud FLORIANI, 2004, p.15) chama atenção para possíveis
problemas com o ensino da matemática quando seu foco está nos algoritmos,
ele afirma que o exagero nas técnicas pode contribuir para a formação de muitas
pessoas operando abaixo de seu potencial. Segundo Freudenthal, é importante
que o ensino vise prioritariamente o entendimento do aluno e não apenas a
memorização que geralmente é alcançada após inúmeras repetições de
exercícios.
1
http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1933/decreto-5884-21.04.1933.html
2
http://www.matematica.projetofundao.ufrj.br/
que resolvem por redução à unidade. Este pensamento está em harmonia com
a Base Nacional Comum Curricular onde encontramos, que as noções de
proporcionalidade, tão importantes para o desenvolvimento do aluno no estudo
da noção de função, devem ser desenvolvidas e aprofundadas por intermédio de
problemas de contextos ligados a situações do cotidiano dos alunos, e ainda
afirma categoricamente que se deve evitar a sistematização precoce (BRASIL,
2016, p.433). Ainda de acordo com esse documento, o entendimento é de que o
uso precoce de algoritmos pode inibir o raciocínio lógico e o desenvolvimento
crítico dos alunos.
Fica evidente que uma das preocupações do corpo docente deve ser a
necessidade de ensinar e aprender matemática de novas formas,
contextualizadas e integradas ao cotidiano do aluno. OS PCN+ Ensino médio,
(Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares
Nacionais) apontam para o fato de que “aprender matemática de uma forma
contextualizada, integrada e relacionada a outros conhecimentos traz em si o
desenvolvimento de competências e habilidades que são essencialmente
formadoras”. (BRASIL, 2002, p.113)
Também é preciso considerar que ensinar matemática para os anos iniciais será
uma atribuição profissional dos futuros pedagogos. A resolução de problemas
ocupa um papel fundamental para a formação desse profissional e por isso
tomamos como ponto inicial deste projeto a ideia de que explorar o raciocínio
proporcional por meio de resolução de problemas exigirá do futuro professor uma
gama expressiva de conhecimento que lhe dê condições de fazer mais do que
só indicar procedimentos de cálculos ou o uso do algoritmo de regra de três.
Este tema tem sido solicitado em diversos concursos e tem marcado presença
certa em todas as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Em geral
o aluno sabe resolver problemas envolvendo duas grandezas proporcionais pelo
emprego da regra de três, mas aplica a regra de três em situações inadequadas,
para as quais ela não é válida. Muitas vezes o aluno não avalia corretamente se
as grandezas envolvidas são ou não proporcionais, ou se essa
proporcionalidade é direta ou inversa. Mais complicado ainda para o aluno é a
situação onde a grandeza é proporcional a várias grandezas ao mesmo tempo.
Durante a elaboração deste estudo pesquisemos alguns3 livros com o objetivo
de analisar e comparar suas definições sobre proporcionalidade e pude
constatar que nos livros didáticos pesquisados cujas edições compreendem
entre 1994 e 2010, a definição apresentada para proporcionalidade é
praticamente a mesma, ou seja, os livros didáticos não apresentam nenhuma
mudança na definição do tema, algumas alterações aparecem nos exemplos
citados nos livros mais recentes, entretanto não foi verificado nenhuma mudança
na ênfase dada ao assunto e o tema está sempre “espremido” entre outros
assuntos do mesmo capítulo, tanto nos livros mais antigos pesquisados como
também nas últimas edições dos livros aprovados pelo Programa Nacional do
Livro Didático – PNLD (SOARES E NEHRING, 2013, p.1). Em síntese os
conceitos relacionados ao tema que aparecem mais frequentemente são,
definição de razão e definição de proporção como igualdade de razões; em
seguida são listadas as propriedades das proporções (alguns livros apresentam
uma prova das propriedades apropriada ao nível do alunos, outros somente às
enunciam), as grandezas diretamente e inversamente proporcionais também
fazem parte deste estudo, entretanto suas aplicações na maioria das vezes
aparecem relacionadas ao uso da regra de três, o que não privilegia uma
abordagem mais intuitiva da proporcionalidade.
3
Razões e proporções, (TINOCO 1997) A Matemática do Ensino Médio (LIMA et al 2006); Praticando a
Aritmética, (LACERDA 2010); Matemática: Pensar & Descobrir (GIOVANNI E JUNIOR, 2005); Matemática
e realidade (IEZZI et al, 1996); Fundamentos da Matemática (reis, 1996),
Matemática atual (LOPES, 1994); Matemática… você constrói (LIMA, 1997); Matemática (SILVEIRA E
MARQUES, 1995)
Não é intenção deste estudo minimizar a importância do algoritmo da regra de
três, muito menos não reconhecer sua eficácia, entretanto vale registrar que
segundo Post, Behr e Lesh:
[...] os métodos mais eficientes são, com frequência, aqueles menos
significativos, que devem, portanto, ser evitados nas fases de ensino
iniciais. Infelizmente, muitas vezes confundimos eficiência com
significação e, por descuido, embora com a melhor das intenções,
introduzimos um conceito da maneira mais eficiente, porém menos
significativa. (1995, p. 93, apud SOARES, 2013, p.5)
Uma proporcionalidade é uma função f:R-R tal que para quaisquer números
reais c, x tem-se f (cx)= c.f(x) (proporcionalidade direta) ou f (cx) = f(x)/c, se
c é diferente de zero, (proporcionalidade inversa) (LIMA, et al, 2006, p.92-
93)
2- METODOLOGIA
A partir do objetivo de relatar as estratégias utilizadas por um grupo de 24 alunos
dos cursos de pedagogia e matemática da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ) durante seu processo formativo, um questionário foi aplicado
na turma de Fundamentos Teóricos e Metodológicos de Matemática, com 16
alunos do 3º período de pedagogia e 8 alunos que estão cursando licenciatura
em matemática entre o 5º e 7º período.
Questionário A
- Uma questão de proporção direta com números inteiros e mesma unidade
de medida.
- Uma questão de proporção inversa com números inteiros e mesma
unidade. (Três quantidades são fornecidas, e a quarta quantidade está
faltando. Lamon (2005, p.102) a denomina “valor em falta”).
- Uma questão de razões equivalente. Este exercício foi escolhido por ser
um problema comum de comparação, em que são apresentadas duas
relações, envolvendo duas grandezas diferentes, que precisam ser
analisadas e comparadas. Lamon (2005, p.101), relata que essa é uma
situação típica de comparação envolvendo raciocínio proporcional, em
que, segundo a autora, é dado um problema com quatro quantidades,
formando duas razões. A tarefa é descobrir se os dois índices são
equivalentes ou não.
- E por último uma questão que não envolve o tema de proporcionalidade.
O objetivos deste exercício foi verificar a capacidade dos alunos de
analisar criticamente os dados matemáticos sem desprendê-los do
contexto real apresentado.
Questionário B
- Uma questão de proporção inversa com números inteiros e mesma
unidade.
- Uma questão de proporção direta com números decimais e a necessidade
de conversão de medidas.
- Uma questão de valor em falta, proporção direta com unidades diferente.
(três quantidades são fornecidas, e a quarta quantidade está faltando.
Lamon (2005, p.102) a denomina “valor em falta”)
- e por último uma questão que não envolve o tema de proporcionalidade,
o objetivo deste exercício foi verificar a capacidade dos alunos de analisar
criticamente os dados matemáticos sem desprendê-los do contexto real
apresentado.
Durante a elaboração dos questionários tomamos o devido cuidado para que
ambos tivessem o mesmo grau de dificuldade, pudessem ser resolvidos em curto
espaço de tempo e que não fosse necessário o uso de calculadora. Como nosso
objetivo principal é verificar o raciocínio proporcional utilizado e as estratégias
espontâneas que os alunos são capazes de desenvolver e não apenas o índice
de acertos, todos os problemas selecionados contém apenas cálculos simples
de serem realizados.
Após alguns testes, concluímos que esta primeira balança ficou grande e
inapropriada para manipulação em sala de aula.
4
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=2404
Figura 2 - balança interativa
http://www.proativa.virtual.ufc.br/objetos_aprendizagem/gangorra/Guia_do_professor_Gangorra_Fina
l.pdf
6
RIVED - Rede Interativa Virtual de educação, disponível em http://rived.mec.gov.br/
7
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=2404
adaptações feitas a partir das instruções do plano de aula do prof. Oliveira, citado
anteriormente e colocamos em teste primeiramente com membros da própria
família e em seguida as atividades foram propostas a um grupo de alunos do
ensino fundamental de uma escola pública do município de Seropédica,
participantes do evento dia da matemática na Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro. Descrevemos a seguir a experimentação realizada com esse recurso
junto aos alunos visitantes.
Fase 1
Fase 2
Essa avaliação é qualitativa, logo neste momento não nos preocupamos com
aspectos quantitativos. O importante era perceber se os alunos se apropriaram
dos conceitos relacionados a grandezas inversamente proporcionais e se eram
capazes de utilizar esses conceitos em outras situações problema quando
solicitados.
(a) Estratégia aditiva, (b) Busca do valor unitário, (c) Estratégia escalar, (d)
Estratégia funcional, (e) Estratégia linear e (f) Grandeza intermediária.
Faremos a seguir uma breve descrição de cada uma das estratégias citadas. A
relação das estratégias mais utilizadas segundo Oliveira (2009), nos guiará na
análise das estratégias utilizadas pelos alunos participantes da pesquisa. É
importante ressaltar que, considerando a natureza própria de cada estratégia,
não poderemos usar sempre o mesmo exemplo, visto que algumas estratégias
funcionam localmente e tendem a ser escolhidas de acordo com os números
presentes no problema.
3 Kg = R$ 5,50
6 Kg = R$ 11,00
9 Kg = R$ 16,50
1200 km : 15 h = 80 km/h
Com essa estratégia o aluno pode responder também de forma mais discursiva,
como veremos a seguir:
Agora mostraremos como este mesmo exemplo pode ser resolvido utilizando a
estratégia funcional.
Veja também como este mesmo exemplo pode ser resolvido com a estratégia da
regra de três.
15 h ⇒ 1200 Km
30 h ⇒ x Km
15 h . x = 30 h . 1200 Km
30ℎ .1200𝐾𝑚
x= 15ℎ
Portanto, x = 2400 Km
Exemplo: Três ganhadores vão dividir o prêmio da loteria e cada um ficará com
500 mil reais. Se apenas duas pessoas tivessem ganho o prêmio, quanto cada
uma receberia?
Como três pessoas receberão R$ 500.000,00 cada uma, então a premiação total
é de R$ 1.500.000,00 que se fosse dividida para apenas duas pessoas daria R$
750.000,00 para casa uma.
Questionário A
Dez alunos do curso de pedagogia resolveram esta questão com nove acertos e
um erro, enquanto três alunos do curso de matemática resolveram esta questão
com três acertos, ou seja, todos acertaram.
Quatro alunos usaram regra de três, sendo que um deles chegou a valores
errados por um erro na conta de multiplicação.
P2 - Três ganhadores vão dividir o prêmio da loteria e cada um ficará com 500
mil reais. Se apenas duas pessoas tivessem ganho o prêmio, quanto cada uma
receberia?
Dez alunos do curso de pedagogia resolveram esta questão com oito acertos e
dois erros, enquanto os três alunos de matemática resolveram esta questão
corretamente.
Figura 13 - Dois alunos usaram uma estratégia não identificada e erraram a resposta.
Tema: Este exercício foi escolhido por ser um problema comum de comparação,
em que são apresentadas duas relações, envolvendo duas grandezas
diferentes, que precisam ser analisadas e comparadas. Lamon (2005, p.101)
relata que essa é uma situação típica de comparação envolvendo raciocínio
proporcional, em que, segundo a autora, é dado um problema com quatro
quantidades, formando duas razões. A tarefa é descobrir se os dois índices são
equivalentes ou não.
Dez alunos do curso de pedagogia resolveram esta questão com cinco acertos
e cinco erros, enquanto os três alunos de matemática acertaram.
As estratégias usadas pelos alunos de pedagogia para solucionar este problema
foram as seguintes:
Sete alunos usaram a estratégia de redução ao valor unitário com cinco acertos
e dois erros.
Além disso outros três alunos usaram estratégia não identificada com resultados
errados.
Questionário B
Seis alunos do curso de pedagogia resolveram esta questão com dois acertos e
quatro erros, enquanto os cinco alunos de matemática resolveram esta questão
corretamente.
Quatro alunos tentaram resolver usando o método da regra de três, porém não
perceberam a relação inversa exigida pelo problema e por isso erraram a
questão.
Figura 19 - resolução de alunos
Seis alunos do curso de pedagogia resolveram esta questão com cinco acertos
e um erro, enquanto os cinco alunos de matemática acertaram.
Nesta outra resposta o aluno escolhe a hora completa como seu valor unitário,
acha a distância percorrida para cada hora inteira e multiplica por 20 horas, após
isso soma a esse resultado a distância percorrida em 1/2 hora, chegando assim
ao resultado correto. Da mesma forma que o aluno do exemplo acima, este aluno
de pedagogia não recorreu ao algoritmo da regra de três e sim ao raciocínio
lógico fazendo a redução ao valor unitário para achar a velocidade média e
depois multiplicando pelo novo tempo gasto para achar a resposta correta.
Figura 25 - resolução de alunos
Um outro aluno acertou a questão porém não foi possível identificar o método
utilizado, visto que ele preencheu somente o resultado. Somente um aluno de
pedagogia errou esta questão e também não foi possível identificar o método por
ele utilizado.
Q3 –
Tema: Problema do valor em falta, proporção direta com unidades diferente. Três
quantidades são fornecidas, e a quarta quantidade está faltando. Lamon (2005,
p.102) a denomina “valor em falta”.
Seis alunos do curso de pedagogia resolveram esta questão com cinco acertos
e um erro, enquanto todos os cinco alunos de matemática resolveram esta
questão corretamente.
As estratégias usadas pelos alunos de pedagogia para solucionar este problema
foram as seguintes:
Apenas um aluno de pedagogia errou esta questão e não foi possível identificar
a estratégia por ele utilizada.
P4- Se João Pedro tem 1,50 metros de altura aos 15 anos. Qual será sua altura
aos 30 anos?
A resposta esperada seria o aluno dizer que não possui dados suficientes para
responder o problema.
Nestes três primeiros casos os alunos argumentam que embora achem estranho
um ser humano crescer até três metros de altura, resolveram manter a resposta
confiando na “lógica matemática” ou “lógica da proporcionalidade”. Verificamos
assim que estes alunos estão desassociando a matemática das outras ciências,
particularmente a biologia para este caso. Além disso fica evidente a dificuldade
por parte de alguns alunos em perceber quais as situações cujo solução não
envolvem a proporcionalidade.
Nestas duas respostas a seguir a palavra escolhida pelos alunos para justificar
sua resposta é “na vida real”, desta forma eles também demonstram certa
estranheza com o resultado encontrado pelos cálculos matemáticos e ainda
assim decidem manter a resposta como se a matemática fosse um resultado
meramente teórico e desconectado de contextos de realidade.
Este ponto de vista é ratificado nas respostas dadas pelos alunos de pedagogia
e matemática para a pergunta de nº 4 dos questionários A e B. Nela constava
uma situação onde não se aplicava o tema da proporcionalidade, entretanto a
grande maioria os alunos não nos entregou a resposta esperada, apenas 4 dos
24 alunos participantes da pesquisa responderam que não se tratava de um caso
de proporcionalidade. Os outros 20 alunos, mesmo desconfiando do resultado
de seus cálculos, entregaram uma resposta baseados unicamente nas “regras
matemáticas” sem observar que elas não deveriam ser desassociadas das leis
que regem o mundo que vivemos.
GIOVANNI, J.R. Matemática, pensar & descobrir, Nova Edição. São Paulo
2005. 304p.
LIMA, M.A.B. et. al. Matemática...você constrói. RJ. Ediouro, 1997, 352p.