Barbosa Moreira - Motivação
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Barbosa Moreira - Motivação
civis na atual centúria: para apenas reco.rdarmos alguns dos mais te!
importantes códigos surgidos nos últimos quarenta anos, vejam-se o a
novo estatuto italiano de 1940 (artigo 132), o português de 1967 en
(artigo 659), o belga de 1967 (artigo 780), o argentino de 1970 me
(artigos 34, 161, 163), o. francês de 1975 (artigo 455). xa
2. Dado relevante é a atribuição de dignidade constitucional, ca
em mais de um país, ao dever, imposto aos juízes, de motivar as de- zõ
cisões. O fenômeno não esgota sua significação no acréscimo de
estabilidade que assim se imprime à norma, colocada ao abrigo das
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ou
vicissitudes legislativas em nível ordinário; sugere, ademais, visua- ex
lização diversa da matéria, pela adequada valoração de seu enqua-
dramento num sistema articulado. de garantias fundamentais. O exem..
pio mais conhecido é o da Itália, onde o artigo 111 da Constituição
de 1948 reza na primeira alínea: IITuttii p.rovvedimenti giurisdizionali
devono essere motivati"; podem citar-se ainda a Constituição Belga
de 1831 (artigo 97), as Constituições Gregas de 1952 (artigo; 93) e
de 1968 (artigo 117) e as de vários países latino-americanos: Colôm-
bia, Haiti, México, Peru C) çã,
do
Importa, aliás, registrar a ponderável tendência que se mani-
festa, mesmo onde não existe regra constitucional expressa, a pro-
curar na sistemática da Lei Maior um suporte para o preceito da
motivação obrigatória. Assim é que, na República Federal da Alema-
nha, doutrina autorizada enxerga na obrigatoriedade da fundamenta-
ção reflexo direto de princípios constitucionais, notadamente da ga-
rantia do rechtliches Gehor (direito de ser ouvido em Juízo) e da
subordinação do juiz à lei, consagrada aquela no, artigo 103, primei-
ra alínea, esta no artigo 20, terceira alínea, da Grundgesetz. e)
3. Consideração à parte merecem os ordenamentos de com-
mon law. Não se depara neles norma escrita de alcance genérico que
obrigue os órgãos judiciais a motivar seus prcnunciamentos. Todavia,
ao menos no que concerne ao direito inglês, seria errôneo interpretar
o fato como sinal de que a. idéia é estranha à concepção dominante. be
Muito ao ccntrário, os estudiosos da matéria assinalam que a moti- in1
vação constitui procedimento constante, incorporado à tradição, prin- dê
cipalmente nas Cortes Superiores (3). Se não se tratou de editar regra trc
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01Para a indicação e a transcrição (em língua francesa) dos dispositivos, vide FIX.ZAMUDIO,
Les garanties constitutionelles des parties dans le preces civil en América Latine, no vo!u-
me Fundamental gua.rantees of the parties in civil litigation, editado por CAPPEllETTI e 73
TAllON, Milão - Dobbs Ferry, 1973, pág. 90 e, aí, notas 205 a 208. o
02 leia-se, ao propósito, BRUGGEMAN, Die richterliche Begründungsspflicht, Berlim, 1971,
págs. 108, 125 e segs. 152 e segs. to
03 VARANO, Organiz:zazione e garanzie deUa giustizia civile nell Inghilterra moderna, --
Milão, 1973, págs. 502 e segS.i TARUFFO, La motivazione della sentenza civile, pádua,. 04
1975, p~gs. 363 e segs.j JOlOWICZ, Fundamental guarantees in civil litigation: England,,,-, OS
no vol. cit em a nota 1, págs. 168/9. ' 06
JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA
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Mas a atuação eficaz da garantia jurisdicional exige que os ór- Ia
gãos incumbidos ds prestá-Ia igualmente se submetam - e até a me
foriiori - ao princípio da justificação necessária, no seu duplo mo- mt..
mento, material e formal. É preciso que o pronunciamento da Justiça, dei
d~stinado a assegurar a inteireza da ordem jurídica, realmente se há
funde na lei; e é preciso que esse fundamento se manifeste, para que mo
se possa saber se o império da lei foi na verdade assegurado. A não
qUi
ser assim, a garantia torna-se ilusória: caso se reconheça ao garante
órç;
a facu'ldade de silenciar os motivos por que concede ou rejeitq a pro- dec
teção na forma pleiteada, nenhuma certeza pode haver de que o
mecanismo assecuratório está funcionando corretamente, está deveras
preenchendo a finalidade para a qual foi criado.
8. Poderia talvez objetar-se que a exigência da justificação
formal, no tocante aos pronunciamentos judiciais, só é praticamente
útil na medida em que eles compo,rtem revisão a cargo de órgãos
siuperiores. A objeção prende-se à idéia, a que já se aludiu, de que
a necessidade de motivação precipuamente se explica pelo propósito' se
de facilitar à parte a tarefa de impugnar a decisão, e ao juízo revisor intE
a de investigar a ocorrência de erros ou vícios que porventura a tor- gri1
nem injusta eu ilegal. Corresponde,assim, a uma visualização do lon
problema através de prisma exclusivamente técnico. são
- dência.
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14 TARUFFO,La motivo delta sento civ., cit.. p~gs. 406/7.
15 Conforme sucede, V.g., na ação popular do direit:">brasileiro, com a decisão que julgue
procedente o pedido, ou que o julgue improcedente por motivo diverso da simples
deficiência de provas (Lei n.o 7.711, de 29.06.1965, artigo 18).
290 A MOTIVAÇÃO DA SENTENÇA COMO. . .