Revista Tolstoi
Revista Tolstoi
Revista Tolstoi
Conselho Editorial:
Maria de Lourdes Alves Borges (Presi-
dente)
Carmen Sílvia Rial
João Pedro Assumpção Bastos
José Rubens Morato Leite
Maria Cristina Marino Calvo
Lucídio Bianchetti
Rosana Kamita
Sérgio Luiz Rodrigues Medeiros
Florianópolis, 2013.
A revista FRAGMENTOS é uma publicação do Departamento de Língua e Literatura Es-
trangeiras, Centro de Comunicação e Expressão, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Com periodicidade semestral e circulação nacional e internacional, publica, desde 1986, vol-
umes mistos e monográficos, com artigos e resenhas em alemão, espanhol, francês, inglês,
italiano e português. Tem como objetivo divulgar a produção acadêmica recente nas áreas de
estudos de línguas e literaturas estrangeiras.
Contatos: revistafragmentos@gmail.com
Contact Fone: 55 (48) 3721-6587
Conselho consultivo Carlos Daghlian, UNESP (São José do Rio Preto) · Henryk
Siewierski, UnB · Jerzy Brzozowski, Universidade Jag-
uelônica de Cracóvia · Júlio César Pimentel Pinto Filho, USP
· Julio Ramos, University of California, Berkeley · Lawrence
Flores Pereira, UFSM · Lúcia Pacheco de Oliveira, PUC-Rio
· Maria Betânia Amoroso, UNICAMP · Michael Korfmann,
UFRGS · Paulo Astor Soethe, UFPR · Theo Harden, Univer-
sity of Dublin/UnB
Apresentação_____________________________________________ 9
Bruno Barretto Gomide
Artigos
Tolstói e a metáfora_______________________________________ 17
Aurora Bernardini
Tolstoi gauchiste__________________________________________ 25
Georges Nivat
8
Bruno Barretto Gomide
Universidade de São Paulo
bgomide@hotmail.com
Tolstói em Fragmentos
Notas
1. Leão Tolstói, Guerra e Paz, Parte IV, Cap. 12.
2. Cf. V. Chklovski, “A arte como procedimento”, in Dionísio de Oliveira Toledo (org.),
Teoria da literatura – Formalistas russos, Porto Alegre: Globo, 1971, pp. 39-56.
3. Leão Tolstói, Guerra e Paz, Parte VII, Capítulos 4 a 6.
Referências
Gourfinkel, Nina. Tolstoï sans tolstoïsme. Paris: Seuil, 1946.
Schnaiderman, Boris. Tolstói – Antiarte e rebeldia. São Paulo: Brasiliense, 1983.
Tolstói e a metáfora
Abstract: This article discusses the complex relationship between Tolstoy the
artist and Tolstoy the thinker, through the prism of metaphor.
Keywords: Metaphor, prose fiction, estrangement.
Além disso, a sua linguagem é uma coisa muito violenta, com truques, isto
não serve. É necessário escrever mais simples, o povo fala simplesmente, até
como se fosse sem nexo, mas é bom. O mujique nunca pergunta: ‘Por que um
Uma mulher magra, amarela, à antiga, de uns 30 anos de idade, com uma
roupa jogada de qualquer jeito, estava fazendo qualquer coisa rápida com as
mãos e com os dedos em cima da mesa, com estremecimentos nervosos, como
se estivesse tendo um ataque. Ao lado, estava sentada uma moça fazendo
exatamente a mesma coisa, com os mesmos estremecimentos.
Notas
1. B. Schnaiderman. Leão Tolstói (cit.) pp. 57-58: “Jakobson escreve: ‘...ainda não se compre-
endeu suficientemente que é a predominância da metonímia que governa efetivamente
a corrente literária chamada “realista”, que pertence a um período intermediário entre o
declínio do romantismo e o aparecimento do simbolismo e que se opõe a ambos. Seguin-
do a linha das relações de contigüidade, o autor realista realiza digressões metonímicas,
indo da intriga à atmosfera e das personagens ao quadro espacio-temporal. Mostra-se
ávido de pormenores sinedóquicos. ... A sinédoque ... está realmente na base de um pro-
cedimento muito comum em Tolstói’. Jakobson lembra que, na cena do suicídio de A.
Kariênina a descrição de Tolstói se concentra na bolsa da heroína. Acompanhando o ra-
ciocínio de Jakobson, podemos também pensar como essencial na cena a parte de baixo
do primeiro vagão, com “as rodas de ferro fundido”. Deste modo temos também uma
evidência da oscilação entre metáfora e metonímia, assinalada por Jakobson, a “interação
desses dois elementos.” Realmente, no caso das rodas, temos metonímia que tende para
a metáfora e mesmo para o símbolo”.
2. B. Eichenbaum “Sobre as crises de Leão Tolstói” in M. Gorki. Leão Tolstói (op. cit. p. 85):
“A arte para Tolstói, não era uma profissão nem um consolo, mas uma ocupação orgâ-
nica. Ele se tornou ‘moralista’ somente porque era um artista. Ele não sofreu uma crise,
mas a própria arte. O mesmo problema se colocou para Nekrassov, para Dostoiévski.
Era preciso sobrepujar o princípio turgueneviano. Era preciso solucionar novamente o
problema complexo da relação entre a vida e a arte. Era preciso criar uma nova forma de
apreensão artística”.
Referências
Chklóvski, V. Lev Tolstói. Moscou: Jovem Guarda, 1967.
Gorki, M. Leão Tolstói – Reminiscências de Górki sobre Tolstói, (trad. Rubens Pereira dos Santos).
São Paulo: Perspectiva, 1983.
Gourfinkel, N. Tolstoï sans Tolstoïsme. Paris: Seuil, 1946.
Lavrin, J. Tolstói: an approach. N. York: The MacMillan Company, 1946.
Tolstoï gauchiste
Abstract: The article tries to define the position of the novel Resurrection in
contrast with the two novels written earlier by Liev Tolstoy, War and Peace
and Anna Karienina, and looks for evidences that the creation process and the
internal constitution of Resurrection have some connection with a sharpenning
in the author critical view about the prospects of the russian society.
Keywords: Tolstoy, Resurrection, russian novel.
Abstract: This article presents the female images found in Tolstoy’s last great
novel, relating them to the writer’s morality.
Keywords: Russian novel, women, Christianity.
Tudo era festivo, solene, alegre e belo: os sacerdotes de casulas com cruzes de
prata e ouro, o diácono, os sacristãos de estolas de prata e ouro de gala, os ele-
gantes cantores voluntários de cabelos untados, as alegres melodias de dançar
dos cantos festivos, a ininterrupta bênção do povo pelos sacerdotes com as
três velas ornadas de flores e as repetidas exclamações: “Cristo ressuscitou!
Cristo ressuscitou!” Tudo era belo, mas mais linda do que tudo era Katiucha de
vestido branco e cinto azul celeste, de lacinho encarnado na cabeça negra e os
olhos cintilantes de enlevo (1, XIV).
“No terreiro, estava escuro (...), e a neblina branca, que, na Primavera, ex-
pulsa a última neve ou se dissemina dela, quando esta começa a derreter, ia
enchendo todo o ar. Do rio, que ficava a cem passos, aos pés de uma escarpa
abrupta, em frente à casa, ouviam-se sons estranhos: rompia-se o gelo. (...) Ele
olhava para ela e escutava involuntariamente, a par da batida do coração, os
sons estranhos, que vinham do rio. Neste, em meio à neblina, realizava-se um
trabalho incansável, lento, e algo ora resfolegava, ora estalava, ora se abatia
abaixo, ora eram os finos blocos de gelo, que retiniam qual vidro” (1, XVII).
É possível que Tolstói, com a sua moral vitoriana, também não ti-
vesse as mulheres em alto conceito e que a sua pregação da abstinência
sexual derivasse de uma eventual misoginia. A mulher, em obras do
escritor, somente não é um ser perigoso, se totalmente adstrita ao lar,
dependente do homem, impossibilitada de desenvolvimento próprio
e dotada apenas das qualidades de boa mãe e de algumas habilida-
des práticas (gastar bem o dinheiro da casa, gerir o trabalho dos em-
pregados, saber entreter hóspedes). Atinge-se o ideal de matrimónio
na união de uma mulher absorvida pelos deveres da maternidade e
um homem já com pouca energia sexual (“A felicidade conjugal”). A
mulher constitui, assim, propriedade do homem e é necessária, neste
mundo, apenas para a manutenção da população em patamar estável.
O homem não lhe abre de bom grado as portas da tão encomiada vida
espiritual; não se deve permitir à esposa aprender a tocar piano ou a
cantar, pois a Arte representa um meio agradável mas temerário de
excitar os sentidos; a Música, em particular, é um perigoso afrodisíaco,
a gaita do Diabo (“Sonata a Kreutzer”).
Nós deixamos de parte o aspecto político-ideológico da obra, que
discutimos em outro trabalho, para atermo-nos à questão feminina,
e queremos, sem abusar da paciência do leitor e da leitora, tratar de
raspão uma outra, suscitada na apresentação dela: a alegada oposição
corpo-espírito.
Como toda a pessoa religiosa, Tolstói nutria o prejuízo de que to-
dos provêm do pecado e já com o pecado nas costas, à guisa de capote,
tal como o filhote de tartaruga nasce já com a sua carapaça; interpreta-
-se o choro do recém-nascido, espasmo dos pulmões enchidos de ar
pela primeiríssima vez, não como o brado de um ser a quando da sua
passagem brusca do seu meio original a outro bem diferente, mas como
a ventríloqua confirmação de que a mãe o concebera em pecado e, por-
tanto, devia pari-lo com dor; ou seja, o mais inofensivo nenê entra já na
Nota
1. É conhecida a reação do monarca à sugestão do seu ministro do Interior acerca da neces-
sidade de tomarem alguma atitude contra o escritor. “Não quero transformar o conde Tolstói
num mártir”.
Resumo: Este ensaio examina a tensão entre arte e moral na obra Senhor e
servo, de Liev Tolstói.
Palavras-chave: arte, literatura russa, idealismo, consciência moral.
Abstract: This essay examines the tension between art and moral on the work
Master and man by Liev Tolstoi.
Keywords: art, russian literature, idealism, moral consciousness.
Referências
Berlin, Isaiah. Pensadores russos. Tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Pau-
lo: Companhia das Letras, 1988.
Bloom, Harold. O cânone ocidental. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva,
1995.
Tolstói, L. O que é arte? Tradução de Bete Torii. São Paulo: Ediouro, 2002.
_____. Senhor e servo. São Paulo: Clube do Livro, 1953.
Abstract: This article seeks to analyze the weight and effects of the Western
gaze (France’s in particular) in Tolstoy’s own life experience, and how it
affected his literary production. The psychology of stigma provides some
interesting insights as to how French opinions about Russia may have
affected Tolstoy’s identity as a Russian, thus conditioning his choice of
“identities” for the characters of some of his novels (for example, that of
Pierre Bezukhov in War and Peace).
Keywords: Russian national identity, stigma, Tolstoy, France, civilization.
favorite and principal division of people was into those who were comme
il faut and those who were comme il ne faut pas. The latter I subdivided into
those not comme il faut, per se, and the common people. I respected those
who were comme il faut and considered them worthy of consorting with me
as my equals; the second category I pretended to scorn, though in reality
I detested them, nourishing a feeling of personal injury against them, as
it were; the third did not exist for me at all: I despised them utterly. My
own comme il faut consisted, first and foremost, in being fluent in French,
particularly in having an impeccable pronunciation. A person who spoke
French with an accent at once inspired in me a feeling of hatred. “Why do
you wish to speak as we do when you cannot?” I would mentally inquire of
him with biting irony.
The other conditions of being comme il faut, for the young Tolstoy,
were “the appearance of one’s fingernails” (these had to be “long,
well-kept and clean”), to know “how to bow, dance and converse
properly”, to show “indifference to everything and a perpetual air of
elegant and supercilious ennui”, and also other exterior signs such
as furniture, carriages, or clothing. As Tolstoy sadly recognizes, this
stratification of people meant that he felt “hatred and contempt”
towards “nine-tenths of the human race”, and believed in the idea
that the comme il faut were “superior to the greater part of humanity”.
A subtle observer of human behavior, Tolstoy remembers the
permanent, daily pains he would go through in trying to be comme il
faut, and concludes by saying:
How odd that I, who was positively incapable of being comme il faut, should
have been so obsessed by this conception. But perhaps it took such strong
hold of me for the very reason that it demanded a tremendous effort on my
part to acquire this same comme il faut.19
Abstract: This article deals with issues regarding the psychological represen-
tation of the inner worlds of the characters in Tolstoy’s and Rousseau’s no-
vels. The possibility of entering another person’s thoughts and interior space
has long been the subject of intense discussion. In 16th and 17th century French
philosophy this issue is linked directly to the notion of the infinite, touching
not only on metaphysics but also on anthropology. Scientific and philoso-
phic concepts were not literally reproduced in literary fiction, but echoed and
reverberated, causing ripples to emerge. This is the case with Rousseau and
Tolstoy.
Keywords: Tolstoy, Rousseau, War and Peace, literary autofiction, interpretation.
Si cette empreinte échappe à ceux qui n’ont aucune notion de cette manière
d’être, elle ne peut échapper à ceux qui la connaissent et qui en sont affectés
eux-meme. C’est un signe caractéristique auque les initiés se reconnaissent
entre eux, et ce qui donne un grand prix à ce signe si peu connu et encore
un soir Mme d’Epinay se trouvant un peu incommode dit qu’on lui porta un
morceau dans sa chambre et monta pour souper au coin de son feu. Elle me
proposa de monter avec elle; je le fit. Grimm vint aussi. La petite table était
déjà mise; il n’y avait que deux couverts. On sert: Mme d’Epinay prend sa
place à l’un des coins de feu. M. Grimm prend un fauteuil, s’établit à l’autre
coin, tire la petite table entre eux deux, déplie sa serviette et se met en devoir
de manger sans me dire un seul mot. 20
Notes
1. P.ex. Gustafson, R. F. Leo Tolstoy: Resident and Stranger. A study in Fiction and Theology.
Princeton: Princeton University Press, 1986. Melzer , Arthur M. The Natural Goodness
of Men: on the system of Rousseau’s thought. Chicago: the university of Chicago Press,
1990. Silpajoris, R. Tolstoi´s Aesthetics and His Art. Columbus, Ohio: Slavica Publishers,
1990,1991. Tussing Orwin, D. Tolstoi’s Art and Thought (1847-1880). Princeton, New Jer-
sey, 1993: Princeton Unversity Press .
Abstract: Inspired by Tolstoy’s work, N. Sarraute casts her expert eye over
the issue of the literary character, convinced that he/she only serves as a pre-
text for the expression of tropisms. Is it really necessary to devote time to
detailed physical descriptions when a simple transmission of the expression
of a look would suffice to clarify not only a person’s physical aspect, whi-
ch is reflected by skilled writing, but also the inner world that they inhabit?
Harmonious, perfectly homogenous, L. Tolstoy’s universe brings unknown
realities to the French novel, in which individuals seem like their shadows, in
which moments and sensations dominate human thoughts. An antipode to
the Tolstoyan world, N. Sarraute’s reality is committed to tearing off masks,
to unveiling the real self which dominates us.
Keywords: L. Tolstoy, N. Sarraute, Guerre et Paix, Portrait d’un inconnu.
Notes
1. Foucault M. Les mots et les choses : une archéologie des sciences humaines. Paris : N.R.F, 1966.
2. Rykner A. Nathalie Sarraute. Paris : Les Contemporains, Seuil, 2002.
Abstract: Tolstoy was always interested in other religions and was attracted
to the ancient religions of the East. He wished to relinquish worldly pleasures
and seek seclusion like a true Brahman, who in his old age gives up family and
material benefits to devote himself completely to go in search of inner peace
and achieve salvation. Tolstoy himself sees a correspondence between his life
and Hindu way of life. In my article, I show that this quest was not isolated
or applied only to his life, but existed through out Tolstoy’s writing career, as
many of his heroes in his novels and short stories also resolved issues concer-
ning morality, duty, life, and death as prescribed in Hindu scriptures, espe-
cially the Bhaghawat Gita.
Keywords: Hinduism; Indian Philosophy; Bhaghawat Gita
Death is Awakening
Tolstoy’s War and Peace and the Bhaghawat Gita concern themsel-
ves with the will of individuals. Both of them elect to depict a war and
describe individuals’ psyche during a crisis enveloping life and death.
The Gita is placed in the battlefield where two armies, constituted by
two sets of warring cousins, are drawn up in preparation for a fight.
The commander of the righteous brothers is Arjuna. He becomes dis-
tressed at the thought of destruction. In front of Arjuna is his friend,
Lord Krishna, who is a non-combatant driving Arjuna’s chariot. Hea-
ring Arjuna’s despondency and bewilderment, Krishna in 18 chapters
of verses powerfully advises him to face his situation as it comes with
actions that are proper, because through the right action one can puri-
fy one’s mind, and find the spiritual divinity. To assert his argument
Krishna says that the “Real Self” within can never be destroyed. Even
in death one loses only the body, and not the soul.20 Tolstoy shows in
Prince Andrei’s death how the body dies while the soul remains libe-
rated. For example,
Not only did Prince Andrew know he would die, but he felt that he was dying
and was already half dead. He was conscious of an aloofness from everything
earthly and a strange and joyous lightness of existence. Without haste or agi-
tation he awaited what was coming.21
Andrei is calm and expecting to die without any fear or anxiety. Gita
says that death for those who understand its implications and working
causes no pain.22 Prince Andrei Bolkonskij who was afraid of death be-
fore, had to give up his narrow attachments to earthly tangible things
and move on to grasping and loving the intangible. Tolstoy describes
this through Andrei’s interior monolog just before his death experien-
ce: “Love hinders death. Love is life. All, everything that I understand,
I understand only because I love. Everything is, everything exists, only
False Identification
In the story, Death of Ivan Il’ich, we encounter the death of an or-
dinary human being, Ivan Il’ich. The story opens with his imminent
death and the subsequent changes it brings into his life and the life of
people around the hero. The story retraces the life of Ivan Il’ich, who
begins to re-examine his life when faced with the inevitability of death.
He understands that the pomp, show, wealth, pride, and position in
his life had deceived him and given him a false sense of security. He
had lived his life terribly: “’Just as the pain went on getting worse and
worse, so my life grew worse and worse,’ he thought..”26 It becomes
clear to him that while he thought he was going uphill in his life, he
was actually going downhill. He had begun to identify himself with
his image in society, which was always changing and provoking him
to strive for more fame and more fortune. The Gita says this about false
identification with ones external image: “The body is changing from
moment to moment, and even in the few minutes you have been rea-
ding these few words, the body has moved closer to the great change
called death. The mind is subject to even more rapid changes. We only
have to look at our desires and moods to see how much the mind is
subject to change.... Whenever we cling to anything that is continually
changing, we will become more and more insecure with the passage of
time.”27 Ivan Il’ich who faces death, contemplates about his past mis-
taken happiness and observes his young assistant, Gerasim, who lives
his life naturally and freely without any preoccupations. Ivan unders-
tands that his identification of himself was wrongly placed. Such a mis-
taken identity is described in the Gita as: “when we cling to the body,
it loses its beauty, but when we do not cling to it, and use the body as
an instrument given to us to serve others, even on the physical level it
glows with health and beauty....”28 That is, if we use our body in service
Desireless Action
Pierre in War and Peace recognizes the spirituality of Karataev,
when he sees that it is present in Karataev’s relationship to earthly life.
“Suddenly in Karataev the possibility of complete harmony is sugges-
ted—a harmony consisting in a union of individual consciousness with
the world surrounding it.”40
Platon Karataev acts with singleness of purpose, without self inte-
rest and unconcerned with the fruits of his labor. His “insight is firm”
and he is “sufficient unto himself,” for Karataev had no attachments,
friendships, or love, as Pierre understood them, but loved and lived
affectionately with everything life brought him into contact with.41
But his life, as he regarded it, had no meaning as a separate thing. It had
meaning only as a part of a whole of which he was always conscious. His
The longer Levin went on mowing, the oftener he experienced those mo-
ments of oblivion when his arms no longer seemed to swing the scythe, but
the scythe itself his whole body, so conscious and full of life; sand as if by
magic, regularly and definitely without a thought being given to it, the work
accomplished itself of its own accord. These were blessed moments.45
In the Gita, Krishna calls for Arjuna to give himself up to the work and
become inspired in the work performed:
In all such activities, when the worker has gained almost a self-forgetfulness,
he will not care for the success or failure of the activity because, to worry for
the results is to live in the future, and to live in the future is not to live in the
present. Inspiration is the joyous content of thrilled ecstasy of each immediate
moment. It is said that this content of a moment in itself is “the entire Infinite
Bliss.”46
Levin’s search for happiness, like in the Gita ended with his unders-
tanding that he should do his duty without expecting a reward. He
took care of his responsibilities—work with the peasants, caring for his
neighbors, managing his house and his sister’s and brother’s affairs,
and of his wife’s relatives, caring for the baby, and beekeeping—very
conscientiously. Then, one day in a dialogue with peasants he unders-
tands that the right way to live is live “in a godly way.”47 That is, he
realizes that truth and goodness cannot be explained, but only realized
It seems that Tolstoy, like some of his heroes, was trying to attain such
a state through out his life.
Notes
1. Шифман, А.И. Лев Толстой и восток. –M.: Nauka, 1971. Birukoff Р. Tolstoi und der
Orient. Briefe und sonstige Zeugnisse übеr Tolstois Beziehungen zu den Vertretern
orientalischen Religionen.- Z���������������������������������������������������������
ü��������������������������������������������������������
rich����������������������������������������������������
, Leipzig�������������������������������������������
��������������������������������������������������
, 1925. Роллан Р. Героические жизни. Бетхо-
вен. Микеланджело. Толстой. // Роллан Р. Собрание сочинений. – Л.: Кооператив-
ное издательство “Время”, 1933. Т. 14. Маковицкий, Д. П. У Толстого (1904-1910). М.,
1979. Гусев Н.Н. Два года с Толстым, М.: Художественная литература, 1973. Гольден-
вейзер А.Б. Вблизи Толстого.: В 2 т. - М.: Кооперативное издательство, 1922-1923. Би-
рюков П.И. Биография Л.Н. Толстого.: В 4 т. – Москва, Петроград: Государственное
издательство, 1923. A. Syrkin, “The Indian in Tolstoy (Part One).” Wiener slavistischer
Almanach 23: 85-114 and , “The Indian in Tolstoy (Part Two).” Wiener slavistischer Al-
manach 24: 65-86. Milivojevic, Dragan, Leo Tolstoy (New York: Boulder, 1998). Leo Tols-
Bibliography
Belyi, A. “Teacher of Consciousness,” translated and introduced by Olga Cooke, Tolstoy Stu-
dies Journal, 2, 1989.
Bunin, I. The Liberation of Tolstoy, edited, translated by Thomas Gaiton Marullo and Vladimir
T. Khmelkov. Evanston, Illinois: Northwestern University Press, 2001.
Christian, R. F. “Tolstoy and the First Step,” Scottish Slavonic Review, issue 20, pp.7-16, 1993
(spring).
Неизвестный Толстой в архивах России и США, М: АО Техна-2,: p. 397, 1994.
Spence, G. W. Tolstoy, the Ascetic. New York: Barnes and Nobles Inc, 1968.
Swami Vivekananda. Vedanta Philosophy. New York: The Baker and Taylor Company, 1899.
Syrkin, A. “The Indian in Tolstoy (Part One).” Wiener slavistischer Almanach 23: pp. 85-114
and, “The Indian in Tolstoy (Part Two).” Wiener slavistischer Almanach 24: pp. 65-86.
The Bhaghavad Gita for Daily Living. Commentary, translation and Sanskrit Text by Eknath
Easwaran. The Blue Mountain Center of Meditation: Nilgiri Press, 3 volumes, 1988.
The Holy Geeta. Commentary by Swami Chinmayananda. Mumbai: Central Chinmaya Mis-
sion Trust, 1996.
Tolstoy, L. The Wisdom of Humankind. Translated, condensed and introduced by Guy de
Mallac. New York: Boulder, CoNexus Press, 1999.
Tolstoy, L. War and Peace. New York: W.W. Norton and Co., 1966.
Tolstoy, L. The Great Short Stories. New York: Harper and Row Publishers, 1967.
Tolstoy, L. Anna Karenina. New York: W. W. Norton and Company, 1995.
Шифман, А.И. Лев Толстой и восток. Moscow: Nauka, 1971.
Abstract: This text presents elements of the thought of Leo Tolstoy in the
formation of two Brazilian writers, Lima Barreto and João Antônio. Both the
authors had longed for, by means of literary making, to collaborate for the for-
mation of a man and a better world. It can be affirmed that the Carioca writer
directly discloses the relation of its ideas with the ones of Tolstói. In turn, João
Antônio does not position itself about the tolstoísmo, but aspects of this phi-
losophy can be verified in its vision of world and literature. This meeting of
ideals between three authors of different times, spaces and historical contexts
contributes for the agreement on the importance and the present time of the
tolstoyism thought.
Keywords: João Antônio, Lima Barreto, Tolstoy, Russian literature; Brazilian
literature.
[...] que os jovens fundadores da revista Floreal [da qual Lima Barreto foi ide-
alizador]: “intitulavam-se ‘discípulos de Tolstói’ e ‘seguidores de Kropotki-
ne’. E todos se declaravam dispostos a combater os mandarins da literatura,
encastelados nos grandes jornais, escritores que pontificavam na Confeitaria
Colombo e na Academia, exigindo à sua aproximação ‘vis curvaturas’ e ‘ini-
ciações humilhantes’. É este o tema do Recordações do Escrivão Isaías Caminha,
cujos primeiros capítulos são publicados na Floreal (Barbosa, 1981, p.13).
[...] Porque para Lima, a função do escritor é ‘tentar reformar certas usanças,
sugerir dúvidas, levantar julgamentos adormecidos, difundir as nossas gran-
des e altas emoções em face do mundo e do sofrimento dos homens, para sol-
dar, ligar a humanidade em uma maior, em que caibam todas, pela revelação
de almas individuais e do que elas têm de comum e dependente entre si’[...]”.
(Antônio, 1975).
O caminho é claro e, também por isso, difícil – sem grandes mistérios e esco-
las. Um corpo-a-corpo com a vida brasileira. Uma literatura que se rale nos
fatos e não que rele neles. Nisso, a sua principal missão – ser a estratificação
da vida de um povo e participar da melhoria e da modificação desse povo.
Corpo-a-corpo. A briga é essa. Ou nenhuma. (Antônio, 1975b, p. 146)
Este [o povo] apenas sabe de verdade certa que, emquanto um leva o esterco
para o campo ou geme curvado na officina, o outro, sábio, artista ou philo-
sopho, repousa agasalhado e repleto, quando não anda pelos bailes e pelas
tabernas, jogando e bebendo entre raparigas. (Lima, 1892, p. XVI)
[...] não pode deixar de se infiltrar nesta luta [representar a realidade centran-
do-se no homem], porque no fundo, ela procura um dos objetivos fundamen-
tais da literatura ou de qualquer arte ou meio de expressão que possa merecer
esse nome – substituição de falsos valores, por valores mais verdadeiros; a
busca da justiça e da igualdade, num mundo dividido pelas injustiças e pelas
desigualdades; a substituição de posições saturadas e perniciosas por outras,
novas e mais condizentes com a dignidade humana. Não fosse assim, toda
a história da literatura estaria equivocada, pois, o ponto central de preocu-
pações da arte literária é o homem e não os ismos, as escolas, as modas, os
brilharecos e os embelecos mentais. (Antônio, 1975)
Notas
1. Trecho de carta de Tolstói à sua prima Alexandra In: GILLÈS, Daniel. A vida de Tolstói.
Trad. João Pedro de Andrade. Lisboa: Estúdios Cor, 1962. (p. 137)
2. Metzel, Boris. Tolstoï. Paris: Éd. Jules Tallandier, 1950.
3. Fala do personagem padre Sérgio, no Filme Noites com sol, baseado na obra homônima de
Tolstói. Irmãos Taviani. Versátil Home Vídeo, 1990.
4. Pesquisa de pós-doutorado em desenvolvimento na UNESP/Assis, sob incentivo da FA-
PESP.
5. A biblioteca pessoal de João Antônio está alocada no Acervo João Antônio, UNESP/
Assis.
6. Antologia do conto russo - vol. IV. Trad. Ana Weinberg e outros. Rio de Janeiro: Lux, 1961.
A morte de Ivan Ilitch e Amo e servidor. Trad. Gulnara Lobato M. Pereira. São Paulo: Sa-
raiva, 1963. TOLSTOI; PUSHKIN e TURGUENIEV. Três novelas russas. Trad. Marques
Rebelo. Rio de Janeiro: Pongetti, 1961.
7. Não há referências completas sobre as fontes. Informações obtidas na obra A vida de Lima
Barreto, de Francisco de Assis Barbosa, 1952, p. 348-370.
8. Segundo João Antônio, “[...] Todo mundo tem que ser doutor tem que ser bonito, elegan-
te. Não é nada disso. Há pessoas que detestam o estudo, este estudo livresco, gostam de
lidar com mecânica, e daí? Que essas pessoas façam sua mecânica, elas não ficam melho-
res ou piores por causa disto. O homem tem que fazer a sua coisa, e a nossa educação não
está liberando isso”. (SEM AUTOR. “João Antônio” Oráculo. São Paulo: Oráculo, s.d. ).
Referências
AGUIAR, Flávio. “Um escritor na República das Bruzundangas”. São Paulo: Movimento, 14
de julho de 1975a.
ANTÔNIO, João. “Corpo-a-corpo com a vida” In: Malhação do Judas Carioca. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1975b.
Abstract: This article considers the theme of death in Tolstoy’s novella, through
a comparison with Dostoevsky’s The Idiot and the theories of the sociologist
Norbert Elias.
Keywords: Russian fiction, death, sociology.
(...) sua mulher adotara certa atitude a respeito de sua doença e observava-a
independentemente do que ele dissesse ou fizesse.
– Sabem que Ivan Ilitch não pode submeter-se rigorosamente a um tratamen-
to, como qualquer outra pessoa o faria? – dizia ela a seus conhecidos. – Hoje
toma as gotas, como o que lhe foi determinado e deita-se à hora certa; mas
amanhã, se eu não estiver alerta, esquecer-se-á de tomar o remédio, comerá
esturjão, que lhe foi proibido, e ficará jogando whist até à uma da madrugada.
“Naquele mesmo mês foi consultar outro médico eminente. Este lhe disse
quase a mesma coisa que o primeiro, embora colocasse a questão de outro
modo. Seu pronunciamento não fez mais do que aumentar as dúvidas e o te-
mor de Ivan Ilitch. Um amigo de um colega seu – bom médico – diagnosticou
sua enfermidade de forma completamente diferente. Embora fosse de opinião
que se curaria, só conseguiu conduzi-lo a confusão e dúvidas maiores do que
antes, por meio de suas perguntas e de suas hipóteses. Já o médico homeopata
se manifestou de maneira diversa; deu a Ivan um remédio, que este tomava às
escondidas, fazia já uma semana. Mas, não sentindo alívio algum, veio Ilitch
a perder a confiança tanto nos medicamentos anteriores como no novo e caiu
em grande prostração7.
Parece que a adesão a crenças no outro mundo que prometem proteção me-
tafísica contra os golpes do destino, e acima de tudo contra a transitoriedade
pessoal, é mais apaixonada naquelas classes e grupos cujas vidas são mais
incertas e menos controláveis. Mas, em termos gerais, nas sociedades desen-
volvidas os perigos que ameaçam as pessoas, particularmente o da morte, são
mais previsíveis, ao mesmo tempo em que diminui a necessidade de poderes
protetores supra-humanos9.
Ivan Ilitch sabia perfeitamente que tudo aquilo não passava de absurdos e de en-
ganos, mas, quando o médico se pôs de joelhos e, aplicando-lhe o ouvido
sobre o peito, ora mais em cima, ora mais abaixo, adotou um ar importantís-
simo e realizou por cima dele uma série de movimentos ginásticos, o doente
submeteu-se a isso da mesma forma pela qual se submetia aos discursos dos
advogados, mesmo quando sabia que mentiam e conhecia as razões de suas menti-
ras11. (grifo meu)
A Mentira Social
Esta “mentira”, cuja consciência foi responsável por tirar Ivan Ili-
tch do sentimento de alívio para lhe despertar para o ódio e desespero
final da sua vida, não foi algo repentino mas, sim, uma descoberta gra-
dual que ele foi realizando ao longo de sua doença.
A mentira, aquela mentira adotada por todos, de que ele apenas estava do-
ente, mas não para morrer, e de que bastava que ficasse tranqüilo e se cui-
dasse para que tudo se arranjasse bem, constituía o tormento principal de
Ivan Ilitch. Sabia que, por mais coisas que fizesse, nada se obteria além de
sofrimentos ainda maiores e da morte. Atormentava-o o fato de ninguém que-
rer reconhecer o que todos sabiam, até ele mesmo; de quererem continuar
mentindo a respeito de sua terrível situação e de o obrigarem a tomar parte
em tal mentira.15
Aqui encontramos, sob forma extrema, um dos problemas mais gerais de nos-
sa época – nossa incapacidade de dar aos moribundos a ajuda e afeição de
que mais que nunca precisam quando se despedem dos outros homens, exa-
tamente porque a morte do outro é uma lembrança de nossa própria morte. A
visão de uma pessoa moribunda abala as fantasias defensivas que as pessoas constróem
como uma muralha contra a idéia de sua própria morte.17” (grifo meu)
Norbert Elias diz ainda que, por trás dessa necessidade opressiva
de acreditar na própria imortalidade, e da negação da inevitável mor-
te de cada um, encontram-se fortes sentimentos de culpa recalcados
– como, por exemplo, o desejo de morte por outrem e o medo de que
os outros lhe desejem a própria morte. Esta, inclusive, seria uma teoria
razoável para explicar por que os colegas de trabalho e profissão tanto
negaram o contato com Ivan Ilitch mas que, ao receber a notícia de sua
morte, logo começaram a pensar no reflexo positivo daquele fato para
suas próprias carreiras:
Alguma coisa horrível, nova, importante como nunca lhe havia acontecido,
estava-se realizando dentro de seu ser. E era ele o único a saber disso; os que
o rodeavam não o compreendiam, nem queriam compreendê-lo, e pensavam que
tudo continuava como sempre. Era isso o que mais fazia Ivan Ilitch sofrer. Sua
família, principalmente a mulher e a filha, que se entregavam por inteiro à
vida social, não entendiam nada e se irritavam porque Ivan Ilitch estava sem-
pre de mau humor e se mostrava exigente, como se fosse culpado por isso20.
(grifo meu)
Ecos de Dostoiévski
Quando, em minha tese de mestrado, fiz a análise do romance O
Idiota de Dostoiévski, pude verificar a centralidade do sentimento de
compaixão na proposta que o autor fazia para o seu tempo: a de uma
ética do amor-compaixão (guiada pela convicção na importância des-
te valor moral) em oposição à proposta ética que era defendida por
Tchernichévski e os niilistas (guiada pelos fins a serem alcançados) e
que recebeu o nome de “egoísmo utilitário”.
Além daquela mentira, ou talvez por causa dela, o mais doloroso para Ivan Ilitch
era que ninguém se compadecesse dele tanto quanto quisera. Em certos momentos,
depois de haver sofrido prolongadas dores, desejava – embora se envergonhas-
se em reconhecê-lo – que se apiedassem dele como de uma criança doente29.
(...) O único que não mentia era Guerássim. Por todos os sinais, era evidente
que só ele compreendia o que se passava, que não considerava necessário
escondê-lo e que sentia compaixão pelo amo, esgotado e débil.30 (grifo meu)
Notas
1. TOLSTÓI, Leão. A Morte de Ivan Ilitch in “Leão Tolstói: Obra Completa em três volumes”.
(tradução de Milton Amado). Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, terceira edição, 1993.
(primeira edição, 1961). Página 929.
2. FAUSTINO, Jean Carlo. “A Ética do Amor em Dostoiévski: análise sociológica do romance “O
Idiota”. Tese de Mestrado. FFLCH/UNICAMP, 2004.
3. ELIAS, Norbert. “A Solidão dos Moribundos”in “A Solidão dos Moribundos seguido de “Enve-
lhecer e morrer””. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. Página 11
4. ELIAS, op. cit., página 13.
5. ELIAS, op. cit., página 14.
6. TOLSTOI, op. cit., página 924.
7. TOLSTÓI, op. cit., página 927.
8. TOLSTÓI, op. cit., página 927.
9. ELIAS, op. cit., páginas 14 e 15.
10. “Mas, em geral, sua existência decorria de acordo com sua crenças: era fácil, agradável e
correta.” TOLSTÓI, op. cit., página 922.
11. TOLSTÓI, op. cit., página 939.
12. TOLSTÓI, op. cit., página 940. Texto original: “Знаменитый доктор простился с
серьезным, но не с безнадежным видом. И на робкий вопрос, который с поднятыми
к нему блестящими страхом и надеждой глазами обратил Иван Ильич, есть ли
возможность выздоровления, отвечал, что ручаться нельзя, но возможность есть.
Взгляд надежды, с которым Иван Ильич проводил доктора, был так жалок, что,
увидав его, Прасковья Федоровна даже заплакала, выходя из дверей кабинета,
чтобы передать гонорар знаменитому доктору.” http://www.magister.msk.ru/li-
brary/tolstoy/prosa/tolsl020.htm
13. TOLSTÓI, op. cit., página 947.
Alienação a auto-imolação em
A morte de Ivan Ilitch
As relações intraburocráticas
Tolstói já inicia a novela introduzindo o leitor no ciclo da morte
de Ivan Ilitch, com um dado sintomático: a despeito do elevado cargo
exercido por Ivan Ilitch no Ministério da Justiça, seus colegas de Cor-
te de Justiça tomam conhecimento de sua morte através de um jornal.
Este dado é sumamente relevante, pois traduz com perfeição o siste-
ma de relações afetivas e sociais que impera naquela repartição públi-
ca: a surpresa de que são tomados os colegas revela a fria indiferença
burocrática pelo destino do colega durante sua prolongada doença.
No fundo, acontecia o mesmo que acontece com todas as pessoas não intei-
ramente ricas mas que são daqueles que querem se parecer com os ricos e
por isso só se parecem umas com as outras” (Ibidem). E acrescenta, depois
de enumerar o mobiliário e a decoração da casa de Ivan Ilitch: era “tudo o
que certo tipo de pessoas faz para se parecer com todas as pessoas de certa
estirpe. E na casa dele tudo era tão parecido que não conseguia sequer cha-
mar a atenção; mas isso lhe parecia algo peculiar (Ibidem).
A desreificação na morte
Cabe aqui reiterar as palavras de Tolstói, citadas no início deste
trabalho: “essa ou aquela atitude do homem em face da morte define
a qualidade de sua vida e a possibilidade de encontrar um sentido
para ela”. Entretanto, para que nosso herói encontre esse “sentido”,
impõe-se que deixe de coincidir com aquela imagem passiva em que
o vemos entrando no sistema e herdando mecanicamente do pai os
valores e a ideologia desse sistema. Para tanto, terá de cortar as raízes
familiares de sua formação, metonímia da estrutura social dominan-
te, colocar-se fora e acima do sistema de relações culturais e burocrá-
tico-deológicas que o reduzira à condição de “coisa”, à mera peça de
sua engrenagem, e conquistar sua condição de sujeito consciente da
própria vontade. Em suma, terá de desreificar-se.
Ivan Ilitch se vê doente, com um mal incurável, e recorre aos mé-
dicos. As atitudes dos médicos em relação a ele são exatamente iguais
ao tratamento que ele, como procurador e juiz, dispensava aos réus
Atualidade chocante
O tema da morte como tema filosófico é tão importante em A morte
de Ivan Ilitch que a vida da personagem ocupa apenas dois capítulos
entre os doze e quatorze páginas entre as cinquenta e quatro que com-
põem a novela. Se compararmos o consumismo desenfreado e alienante
Referências bibliográficas
Guriêvitch, Aaron. A síntese histórica e a Escola dos Anais. Tradução de Paulo Bezerra, São
Paulo: Editora Perspectiva, 2003.
Marcuse, Herbert. Eros e civilização. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1978,
7ª edição.
Tolstói, L. Smiert Ivana Ilitchá (A morte de Ivan Ilitch). Moscou: Ed. Khudójestvennaya Li-
teratura, 1974.
Aliocha, o Pote
Aliochka (1) era o mais novo dos irmãos. Apelidaram-no Pote por-
que, certa vez, sua mãe o mandara levar um pote de leite à mulher do
diácono, mas ele tropeçou e quebrou-o. Sua mãe deu-lhe uma surra
e as crianças começaram a provocá-lo, chamando-o de “Aliochka, o
Pote”. Esse passou a ser o seu apelido.
Aliochka era um menino mirrado, com orelhas de abano (suas
orelhas pareciam asas), e seu nariz era grande. As crianças provoca-
vam-no: “O nariz do Aliochka parece um pau entre duas corcundas”.
Na aldeia havia uma escola, mas Aliocha não conseguiu aprender e
tampouco tinha tempo para se educar. Seu irmão mais velho vivia na
cidade, na casa de um comerciante, e Aliochka começou a ajudar o pai
desde criança. Com apenas seis anos de idade, ele pastoreava ovelhas
e vacas com sua pequena irmã pelos campos e, depois de crescer um
pouco, começou a pastorear cavalos dia e noite. A partir dos doze anos,
ele já arava a terra e guiava uma carroça. Faltava-lhe força, mas não
lhe faltava habilidade. Estava sempre alegre. As crianças riam dele, ele
calava-se ou ria. Se o pai o repreendia, ele calava-se e escutava. Mal
terminavam de repreendê-lo, ele sorria e começava a fazer o trabalho
que estivesse à sua frente.
Aliocha tinha dezenove anos de idade quando seu irmão foi re-
crutado como soldado. E o pai mandou-o para a casa do comerciante,
no lugar do irmão, como caseiro. Deram a Aliocha as botas velhas do
irmão, uma chapka (2) do pai e uma podiovka (3), e o levaram à cidade.
Aliocha mal se continha de felicidade naquela roupinha, mas sua apa-
rência não agradou ao comerciante.
− Eu pensei que você traria um homem de verdade para ocupar o
lugar de Semion – disse o comerciante, lançando um olhar para Aliocha.
− E você chega aqui com um fedelho desses. Para que ele presta?
− Ele pode fazer tudo: atrelar cavalos, ir para um lado e outro e tra-
balhar duro. Apenas sua aparência é a de um galho seco, mas ele é forte.
− Se é assim, então, logo veremos.