Leandro Borges Salgado Teixeira
Leandro Borges Salgado Teixeira
Leandro Borges Salgado Teixeira
O Infinito Matemático
Rio de Janeiro
2016
Leandro Borges Salgado Teixeira
O Infinito Matemático
Rio de Janeiro
2016
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC-A
CDU 510.21(815.3)
______________________________ ________________________
Assinatura Data
Leandro Borges Salgado Teixeira
O Infinito Matemático
Rio de Janeiro
2016
AGRADECIMENTOS
Meu especial agradecimento à minha famı́lia por todo o apoio, em especial minha
filha, Maria Fernanda, que sempre me inspira a algo bom e a minha esposa Priscila Bor-
ges, sem a qual os desafios e obstáculos teriam sido ainda maiores.
The aim of this work is the development of educational tools that can provide
theoretical support to the math teacher in relation to the concept of infinity, as well
as in the development of activities aimed at facilitating student understanding in the
subject. Therefore, the work focuses on the systematization of the infinite concept, seeking
theoretical support the authors Boyer (1996), Aczel (2003) and Eves (2004) which allowed
to build the trajectory of mathematicians exponents in the above concept, showing its
main contributions. Thus, it was possible to develop a theoretical material for teachers
in order to settle their main doubts on the subject. In addition, were developed two
questionnaires and two activities to meet the demands of both, students and teachers.
For students, the activity facilitates the understanding of the subject. For teachers, it is
not only an educational tool to assist your work, but also allows the diagnosis of possible
deficiencies in the student’s learning, which might be concluded from the analysis of the
results obtained from the application of these instruments into four groups of two public
schools, one in Rio de Janeiro and another in Duque de Caxias, in the year 2015.
Keywords: Cantor. Mathematics. Infinity. Educational Tools.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1 MATEMÁTICOS E FILÓSOFOS ENVOLVIDOS NO ESTUDO
DO INFINITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.1 Pitágoras e a descoberta dos números irracionais . . . . . . . . . . 12
1.2 Zenão e os paradoxos sobre o infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3 Arquimedes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4 Galileu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.5 Bolzano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.6 Cantor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.7 Russell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.8 Kurt Gödel e Paul Cohen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2 CONCEITOS MATEMÁTICOS RELATIVOS AO ESTUDO DO
INFINITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.1 Um pouco de teoria dos conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2 O infinito potencial e o infinito atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.3 Os números transfinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.3.1 A aritmética dos números transfinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4 A hipótese do continuum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3 FERRAMENTAS PEDAGÓGICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.1 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.1.1 Atividade 1: A parte é igual ao todo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1.2 Atividade 2: Infinitos em um intervalo finito . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.2 Aplicação das atividades, análise e discussão dos resultados . . . 47
3.2.1 Aplicação das atividades - E. M. Roberto Weguelin de Abreu . . . . . . . 47
3.2.1.1 Turma 801 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2.1.2 Turma 802 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.2.2 Aplicação das atividades - E. M. Jenny Gomes . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.2.2.1 Turma 1801 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.2.2.2 Turma 1802 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
ANEXO A – Questionário 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
ANEXO B – Questionário 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
10
INTRODUÇÃO
tionário, procuro saber qual a percepção dos alunos em relação aos enfoques associados
ao infinito matemático abordados nas atividades. No segundo questionário, busco avaliar
o que foi compreendido pelos alunos após a aplicação das atividades, em comparação às
percepções identificadas no primeiro questionário. Estas atividades, juntamente com os
questionários, foram aplicadas em duas escolas municipais, para quatro turmas do oitavo
ano, duas em Duque de Caxias e duas no Rio de Janeiro. Noventa e um alunos partici-
param das atividades, que ocorreram em dezembro de 2015. Por ser professor das duas
redes e atuar como docente nas 4 turmas citadas, não encontrei dificuldade para realizar
as atividades com os alunos.
A dissertação foi organizada em três capı́tulos que serão descritos a seguir:
No capı́tulo 1 são apresentados alguns matemáticos e filósofos que, de certa forma,
contribuı́ram para o desenvolvimento do conceito de infinito matemático, na elaboração
de novas teorias, propondo reflexões por meio de paradoxos ou solucionando problemas.
Ademais, também são explorados aspectos da vida desses personagens históricos.
O capı́tulo 2 é voltado ao embasamento da teoria que é abordada no capı́tulo 1.
São vistos alguns teoremas e definições ligados à teoria de conjuntos, mais precisamente
conjuntos infinitos, cardinalidade e conjuntos enumeráveis. Neste capı́tulo também apre-
sento ao leitor uma introdução à aritmética dos números transfinitos, esclarecendo os
conceitos de infinito potencial e atual e a hipótese do continuum.
No capı́tulo 3 são apresentadas e aplicadas as duas atividades, que têm como
objetivo facilitar a compreensão dos alunos a determinados aspectos relacionados à noção
de infinito matemático. As atividades são detalhadas em todas as suas etapas, bem
como sua aplicação é descrita em cada turma. Este capı́tulo se encerra com uma análise
minuciosa dos resultados verificados durante a aplicação das atividades em cada turma
das escolas municipais do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias, confrontados com dados
obtidos a partir de questionários respondidos pelos alunos antes e depois da aplicação das
mesmas.
Nas considerações finais, são ressaltados os resultados obtidos nas turmas para
as quais foram desenvolvidas as atividades, constatando que as atividades tanto podem
funcionar como um instrumento pedagógico para facilitar a compreensão dos alunos no
que diz respeito ao conceito de infinito, quanto podem servir como uma ferramenta de
diagnóstico para ação docente.
É possı́vel encontra parte do material utilizado como referência, bem como a apre-
sentação desta pesquisa à banca examinadora, anexados ao texto escrito em formato
digital (ANEXO DIGITAL).
12
Para dissertar sobre Pitágoras, buscou-se suporte teórico em Boyer (1996), Aczel
(2003) e Eves (2004).
Pitágoras foi um matemático e filósofo grego que teria nascido por volta de 572
a.C. na ilha de Samos. Seu nome sempre esteve envolto em lendas e misticismos, por
isso pouco se sabe a seu respeito com um grau elevado de certeza. É provável que tenha
morado um perı́odo no Egito e viajado a Babilônia e também a Índia. Nestas viagens
teria acumulado grande conhecimento nas áreas de matemática e astronomia. Além disso,
13
qualquer descoberta ao seu mestre. A filosofia pitagórica era baseada na premissa de que
os números inteiros eram a base de tudo. Eles exaltavam as propriedades, os padrões e
a aritmética dos números e sequências, chegando à conclusão de que o universo é regido
por uma inteligência superior, de essência matemática. Para os pitagóricos Deus seria o
grande arquiteto do universo.
Mesmo não sendo responsáveis pela sua origem, os pitagóricos levaram a adoração
dos números a outro nı́vel. Números como 1, 2, 3, 4 e 10 tinham significados especiais.
O número 1, por exemplo, era tido como o gerador de todos os números. Alias, é por
este motivo que podemos imaginar que os pitagóricos possuı́am a noção de infinito, pois
sempre é possı́vel gerar um número maior apenas adicionando um. O número 2, além de
primeiro número par, representava a opinião. O número 3, considerado o primeiro número
ı́mpar verdadeiro representava a harmonia. O número 4, primeiro quadrado, representava
a justiça. Porém o mais importante deles era o número 10. O 10 é um número triangular,
é a soma dos números de 1 a 4, além de possuir o mesmo número de primos e não primos
contidos nele e de ser o número de dedos das mãos. Conhecido por tetractys, o número
10 representava a perfeição, o número do universo.
Entretanto uma descoberta abalou toda a estrutura da escola pitagórica: os números
irracionais. A descoberta dos números irracionais foi perturbadora para os pitagóricos,
pois estes acreditavam que tudo dependia de números inteiros. Um número racional é o
quociente pq , q 6= 0, de dois números inteiros, o que não ocorre com os números irracionais.
A descoberta teria ocorrido quando os pitagóricos não encontraram nenhum ponto P da
reta que correspondesse a um número racional, quando o segmento OP é igual a diagonal
15
√
de um quadrado de lado 1. O valor encontrado 2 não pode ser representado como o
√
quociente pq , q 6= 0, de dois números inteiros. Por não ser racional, 2 foi chamado de
irracional, que significa não racional (Fig. 2).
Os números irracionais possuem uma representação decimal infinita e não periódica.
Segundo a lenda, Hipaso de Mataponto teria sido o responsável por revelar a estranhos
a existência dos números irracionais. Ainda existem algumas lendas que relatam as con-
sequências deste ato. Em uma delas Hipaso teria sido expulso da sociedade. Em outra
Hipaso teria sido morto pelo próprio Pitágoras estrangulado ou afogado. Em uma ter-
ceira, Hipaso teria sido deixado à deriva em um barco que posteriormente foi afundado
pelos próprios pitagóricos. Ainda existe outra versão onde Hipaso teria morrido de forma
misteriosa e seu corpo enterrado em uma cova, escavada enquanto ainda estava vivo.
Outro fato interessante é que os pitagóricos portavam um sı́mbolo: um pentágono
regular com suas diagonais traçadas, formando uma estrela de cinco pontas, que continha
outro pentágono regular, que com suas diagonais traçadas formava outra estrela de cinco
pontas e assim por diante (Fig. 3). Em cada pentágono, uma diagonal divide outras
duas em dois segmentos desiguais. A razão entre o comprimento do segmento maior e o
comprimento do segmento menor é a razão aurea, um número irracional que corresponde
ao limite infinito da razão de dois termos consecutivos da série de Fibonacci.
16
Autores como Boyer (1996), Aczel (2003) e Eves (2004) foram referências bibli-
ográficas para elaboração desta seção que destaca o Zenão.
Zenão de Eléia viveu por volta de 450 a.C.. Discı́pulo de Parmênides, ele e seu
mestre defendiam a ideia de unicidade e imutabilidade do indivı́duo. Para eles apenas
o ser imutável era real. Estas ideias contrastavam com o pensamento de multiplicidade
e mudança defendido por outra corrente filosófica, da qual fazia parte Heráclito. Para
Heráclito tudo estava em contı́nuo movimento. Possivelmente para mostrar que os con-
ceitos de multiplicidade e mudança, defendidos por Heráclito, eram inconsistentes Zenão
propôs alguns paradoxos. Dentre eles, podemos destacar o de Aquiles.
O paradoxo de Aquiles (Fig. 4) refere-se a uma corrida entre Aquiles e uma
tartaruga. Como Aquiles é sabidamente mais rápido que a tartaruga, é permitido que
ela inicie a corrida com vantagem. Segundo Zenão, quando Aquiles alcançar o ponto de
largada da tartaruga, a mesma não estará mais lá, pois terá avançado. Aquiles então
irá percorrer essa nova distância e quando terminar a tartaruga terá avançado um pouco
mais. Repetindo este processo infinitamente, Zenão conclui que Aquiles jamais conseguirá
alcançar a tartaruga, argumentando que o movimento é uma ilusão e torna-se impossı́vel
quando admitimos que espaço e tempo possam ser subdivididos infinitamente.
Outros dois paradoxos enunciados por Zenão são o paradoxo da dicotomia e o
paradoxo da flecha:
1.3 Arquimedes
Arquimedes teria morrido por volta de 212 a.C.. Após dois anos de cerco, final-
mente os romanos conseguiram passar pelas defesas de Siracusa. Nesta época, por conta
de seus inventos para defender Siracusa, Arquimedes já era conhecido e até gozava de
certo prestı́gio. Foi este prestı́gio que levou o general romano Marco Claudio Marcelo,
responsável por liderar o cerco em Siracusa, a ordenar que se encontrado, o geômetra
fosse levado até ele vivo. Segundo alguns relatos históricos, Arquimedes estaria sentado
à praia, contemplando um diagrama, quando um soldado romano o viu e ordenou que
se apresentasse ao general, o que foi prontamente recusado. O soldado teria ficado ex-
tremamente irritado com tal recusa, que na mesma hora atravessou Arquimedes com sua
espada.
1.4 Galileu
1
Nicolau Copérnico foi um astrônomo polonês que viveu durante o século XVI. Sua teoria sobre corpos
celestes defendia que o Sol era o centro do Universo e que todos os astros celestes, inclusive a Terra,
orbitavam-no. Suas ideias se contrapunham ao pensamento da Igreja Católica, que defendia a Terra
como centro do Universo.
21
Pouco tempo depois, Galileu retornou para Florença, onde foi nomeado filósofo e
matemático do Grão-duque pelo próprio Grão-duque, Cosme II de Medéa.
Em 1629 Galileu lançou o livro: Diálogo Sobre os Dois Maiores Sistemas do Mundo.
Nele Galileu defendia as teorias de Copérnico por meio do diálogo entre três pessoas. Uma
delas se chamava Salvati, que defendia as ideias de Copérnico e apresentava a opinião de
Galileu, outra se chamava Sagredo, um leigo que buscava a verdade e a última se chamava
Simplı́cio, o simplório, que defendia as ideias da Igreja. Logo após lançar Diálogo Sobre os
Dois Maiores Sistemas do Mundo, Galileu foi intimado a comparecer perante a inquisição.
Lá, foi forçado, sob ameaça de tortura, a repudiar suas descobertas cientı́ficas. Com isso,
sua pena, que seria a morte, foi convertida em prisão domiciliar pelo resto da vida.
Foi justamente durante o perı́odo que ficou em prisão domiciliar que Galileu de-
senvolveu importantes ideias em relação ao infinito. Em seu tratado Diálogos Sobre Duas
Novas Ciências, publicado em 1638, Galileu aborda diversos aspectos do infinito, nova-
mente através do diálogo entre Salvati e Simplı́cio, o simplório. Galileu, por meio de
Salvati, usa algumas vezes o infinito e o infinitesimal. Em uma passagem de Diálogos
Sobre Duas Novas Ciências, Salvati afirma a Simplı́cio que tão fácil quanto decompor um
segmento de reta numa quantidade finita de partes é decompô-lo numa quantidade infi-
nita. Em seu exemplo, Salvati diz que dobrando um segmento de reta em quatro ou oito
partes iguais, formamos um quadrado ou um octógono regular. Logo, curvando-se o seg-
mento em forma de cı́rcunferência, estarı́amos trazendo à realidade os infinitos números
de partes contidas no segmento. Salvati ainda argumenta que a circunferência nada mais
é que um polı́gono regular com uma quantidade infinita de lados. Mas foi quando abordou
o infinito em aritmética que Galileu chegou a um lugar onde seus antecessores não con-
seguiram: o infinito atual. Através de Salvati, Galileu estabelece uma correspondência
biunı́voca entre os números inteiros positivos e seus quadrados (Figura 8), chegando à
conclusão que existem tantos números inteiros positivos quanto quadrados perfeitos.
Infelizmente Galileu não chegou a afirmar que o números de quadrados perfeitos e
o número de inteiros positivos são iguais:
1.5 Bolzano
Ao elaborar esta seção que fala sobre Bolzano, buscou-se suporte teórico em Aczel
(2003), Eves (2004) e Flood e Wilson (2013).
Bernhard Bolzano (Fig. 9), nasceu em 1781, na cidade de Praga, Tchecoslováquia.
Filho de um comerciante de artes, Bolzano ingressou na Universidade de Praga em 1796.
Sempre demonstrou aptidão para matemática e lógica. Na Universidade de Praga se
interessou pela matemática Grega, estudando os trabalhos de alguns de seus matemáticos,
se mostrou atraı́do pelo estudo do infinito.
Em 1805, Bolzano foi ordenado padre, e acabou nomeado para uma cadeira no
departamento de filosofia da religião na Universidade de Praga. Porém, após se envolver
em um atrito com a Igreja Católica, que se iniciou quando Bolzano rejeitou adotar em
sua cadeira o livro escrito por um importante funcionário, acabou destituı́do do cargo na
universidade e das funções sacerdotais, em um processo que se arrastou por mais de 10
anos. Em 1824, numa cerimônia formal Bolzano teve sua demissão sacramentada.
Antes disso, Bolzano já havia feito importantes progressos dentro da matemática.
Em 1817, por exemplo, ele enunciou o teorema hoje denominado de Teorema do Valor
Intermediário.
23
Infelizmente, muitas das descobertas de Bolzano acabaram ignoradas por seus con-
temporâneos e só chegaram ao conhecimento geral após sua morte. Em 1843 descobriu
uma função contı́nua real definida num intervalo, mas que não tinha derivada em nenhum
ponto. Porém essa descoberta foi creditada a Weierstrass cerca de 40 anos depois.
Bolzano se interessou pela descoberta de Galileu que é possı́vel fazer uma corres-
pondência biunı́voca entre os inteiros positivos e seus quadrados, e se questionou sobre
a possibilidade de estendê-la ao continuum. Examinando a função y = 2x, com domı́nio
entre 0 e 1, Bolzano verificou que a mesma determinava um único número entre 0 e 2,
chegando à conclusão que existiam tantos números entre 0 e 1 quanto entre 0 e 2, apesar
do intervalo entre 0 e 2 ter o dobro do comprimento do intervalo entre 0 e 1.
Bolzano descobriu importantes propriedades dos conjuntos infinitos e parece ter
percebido que o infinito dos números inteiros e o infinito dos números reais são de tipos
diferentes.
Bolzano morreu em 1848. Após sua morte, em 1850, um de seus amigos reuniu suas
descobertas sobre o infinito e publicou-as no livro Paradoxos do Infinito, onde importantes
propriedades foram mostradas.
1.6 Cantor
Para dissertar sobre Cantor, buscou-se suporte teórico em Boyer (1996), Aczel
(2003), Eves (2004) e Flood e Wilson (2013).
Georg Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (figura 10) nasceu em 3 de março de
1845, em São Petersburgo, na Rússia. Filho de Georg Woldemar e Maria Bohm, foi o
primeiro dos seis filhos do casal. Em 1856 a famı́lia Cantor se mudou para Frankfurt,
na Alemanha. Lá Cantor frequentou escolas particulares. No perı́odo da adolescência,
Cantor já apresentava interesse pela matemática. Aos quinze anos procurou ajuda do
pai para dedicar-se ao seu estudo. Em 1862, após prestar exames, Cantor foi aceito para
estudar ciências na universidade. Cantor iniciou seu estudo de matemática no Instituto
Politécnico de Zurique, mas pouco tempo depois conseguiu se transferir para a Universi-
dade de Berlim. Lá, Cantor teve a oportunidade de aprender com grandes mestres, como
Karl Weistrass, Ernst Eduard Kummer e Leopold Kronecker. Mais tarde, este último se
tornaria um de seus maiores opositores. Logo após terminar o doutorado, Cantor aceitou
um emprego na Universidade de Halle.
25
Logo, como não era possı́vel listar todos os números contidos entre 0 e 1, o mesmo se
aplicava para qualquer outro intervalo real. Com este resultado, Cantor também concluiu
que existiam diferentes ordens de infinito.
Em 1877 Cantor chegou a outra conclusão impressionante. Numa carta enviada
ao amigo Dedekind, Cantor escreveu: “estou vendo, mas não acredito”. Ele se referia
à descoberta de que linhas, planos ou superfı́cies, independente da dimensão, tinham a
mesma ordem de infinito.
Quando tentou publicar sua descoberta, Cantor enfrentou grande resistência de
Leopolde Kronecker, seu ex-professor. Kronecker, que era contrário às ideias de Cantor,
fez de tudo para que seu artigo não fosse publicado. Porém, o máximo que Kronecker
conseguiu foi adiá-la. O artigo foi publicado no ano seguinte.
Diferente de muitos matemáticos que o antecederam e que lhe foram contem-
porâneos, Cantor aceitava com naturalidade o conceito de infinito atual e a possibili-
dade de existirem diferentes “tipos” de infinitos. Logo, Cantor percebeu que precisava de
uma linguagem para caracterizar as cardinalidades de seus infinitos. Assim, chamou-as
de números transfinitos. Como consequência direta, tornou-se necessária a adoção de
uma notação para representar os números transfinitos. Depois de tentar utilizar algumas
notações já existentes, Cantor decidiu utilizar uma nova notação para representar os seus
números transfinitos. A notação escolhida foi a primeira letra do alfabeto hebraico ℵ ,
o alef. Cantor sabia que a menor ordem de infinito era a dos números naturais, inteiros
e racionais, a qual denominou ℵ0 . Ele acreditava que existissem ordens mais altas de
infinito, isto é, que existiam alefs cada vez maiores, porém sem saber sua posição exata.
Já era de seu conhecimento que o conjunto dos números reais é de uma ordem de
infinito maior que a do conjunto dos números racionais. Cantor sabia que para qualquer
conjunto não vazio, é sempre possı́vel obter um conjunto maior, o conjunto potência, que
é o conjunto dos subconjuntos do conjunto original. Ele também sabia que o número
cardinal do conjunto potência é obtido elevando-se 2 ao número cardinal do conjunto
original. Como todo número inteiro poderia pertencer ou não à representação decimal de
um número real, o conjunto dos números reais compreendia todos os subconjuntos dos
números inteiros, isto é, o conjunto potência dos números inteiros, cuja cardinalidade é
2ℵ0 . Logo, Cantor chegou à conclusão de que o número cardinal do continuum é c = 2ℵ0
e que existem infinitos números transfinitos.
A dúvida agora era: existe algum número transfinito entre ℵ0 e c? Seria c = ℵ1 ?
Esta conjectura é conhecida como a hipótese do continuum. Durante muitos anos Cantor
28
trabalhou sobre a hipótese do continuum. Por diversas vezes mudou de ideia, uma hora
achava que tinha descoberto que c = ℵ1 outra hora achava que a hipótese do continuum
era falsa e que existiam vários alefs entre ℵ0 e c.
O árduo trabalho tentando provar a hipótese de continuum e os sucessivos ataques
de Leopold Kronecker deixaram a saúde mental de Cantor muito frágil. Varias vezes
Cantor foi internado na clı́nica mental da Universidade de Halle, a Halle Nervenklinik.
Sua última internação aconteceu em junho de 1917. Aproximadamente seis meses depois,
em 6 de janeiro de 1918 Cantor foi encontrado morto em seu quarto vı́tima de um ataque
cardı́aco.
O que Cantor não sabia é que estava trabalhando em um problema sem solução. A
hipótese do continuum é verdadeira e seu oposto também. Porém, apenas após sua morte
foi provado ser impossı́vel dizer, utilizando a nossa matemática, se 2ℵ0 é igual ou não a
c = ℵ1 .
1.7 Russell
contradição, já que ele não barbeia quem se barbeia e se o barbeiro não se barbear, temos
uma contradição, já que ele barbeia quem não se barbeia. Logo, não há solução para o
problema.
Entre os anos de 1910 e 1913, Russell juntamente com seu colega e ex-professor na
Trinity College, Alfred North Whitehead, escreveram uma obra composta de três volumes
chamada Principia Mathematica. Nela eles tinham como objetivo deduzir a matemática
através de conceitos primitivos. A obra era parcialmente baseada nas ideias de Cantor.
Russell foi ganhador de alguns prêmios importantes como as medalhas Sylvester
e De Morgan, a Ordem do Mérito e o Prêmio Nobel de Literatura. Russell morreu em
1970, aos noventa e oito anos de idade, ainda lúcido.
Para a elaboração desta seção que destaca Gödel e Cohen, buscou-se suporte teórico
em Aczel (2003), Eves (2004) e Flood e Wilson (2013).
Kurt Gödel (Fig. 12) nasceu em 1906, na cidade de Viena, na Áustria. Seu pai
foi um bem sucedido homem de negócios, o que proporcionou à famı́lia Gödel uma vida
confortável. Aos 6 anos de idade, Kurt teve febre reumática, o que deixou-o paranóico
com relação à saúde.
Ainda no ginásio surgiu o interesse de Gödel pela matemática. Este interesse
30
acabou se intensificando nos últimos três anos do ginásio. Ao concluı́-lo com ótimo apro-
veitamento em 1924, Gödel estava pronto para ingressar na universidade. Mesmo podendo
escolher qualquer outra, preferiu estudar na Universidade de Viena, pois ficaria próximo
de sua famı́lia. Lá estudou matemática, concluiu o doutorado em lógica e passou a fazer
parte do corpo docente.
Em 1931, Gödel publicou um de seus mais importantes trabalhos, o Teorema da
Incompletude. Nele Gödel mostrava que se uma teoria aritmética formal, envolvendo
inteiros, for consistente, haverá alguma proposição que não poderá ser provada, o que
faz a teoria incompleta. Na prática, Gödel mostrou que existem teoremas que nunca
poderiam ser provados. Após este importante resultado Gödel passou a se dedicar ao
estudo do Axioma da Escolha e da hipótese do continuum.
Logo ganhou reconhecimento e foi convidado a passar um tempo no Instituto de
Estudos Avançados, em Princeton. Depois de algumas recusas, em 1933 Gödel aceitou o
convite e embarcou para os Estados Unidos. Lá conheceu grandes mentes da época, entre
elas Albert Einstein, de que se tornou amigo.
Em 1937, Gödel conseguiu provar a consistência da hipótese do continuum. Quando
tomada como verdadeira, não criava contradições ou conflitos com os axiomas da teoria dos
conjuntos. Se conseguisse provar a recı́proca, este resultado implicaria na independência
da hipótese do continuum, em relação à matemática baseada nos atuais axiomas da teoria
dos conjuntos. Sendo assim, conjecturou que a negação da hipótese do continuum é
consistente com os postulados da teoria dos conjuntos. Por muitos anos tentou prová-
31
la, e acabou pagando um preço caro por isso. Assim como Cantor, Gödel começou a
apresentar sinais de desgaste mental, deixando-o paranoico. Em 1978, deixou de comer,
achando que estava sendo envenenado e acabou morrendo de desnutrição.
Em 1963, quando Gödel parecia ter desistido de provar a consistência da negação
da hipótese do continuum, o matemático Paul J. Cohen (Fig. 13), da Universidade de
Stanford, conseguiu provar utilizando o resultado obtido por Gödel anteriormente, que a
hipótese do continuum é independente da matemática baseada nos atuais axiomas da te-
oria dos conjuntos. Isto significa dizer que, com os atuais axiomas da teoria dos conjuntos
não se pode provar que a hipótese do continuum seja verdadeira ou falsa.
32
Autores como Birkhoff e MacLane (1941), Alencar Filho (1980), Hrbacek e Jeck
(1999) e Leão (2014) foram referências bibliográficas para a elaboração desta seção.
Para Cantor, segundo Alencar Filho (1980), chama-se conjunto o grupamento num
todo de objetos, bem definidos e discernı́veis, de nossa percepção ou de nosso entendi-
mento, chamados os elementos do conjunto.
Teorema 2.1.4:
i) A é equipotente a A.
ii) Se A é equipontente a B, então B é equipotente a A.
iii) Se A é equipotente a B e B é equipotente a C, então A é equipotente a C.
Prova:
i) IdA : A 7−→ A é uma bijeção de A em A.
33
Logo, g é bijetiva.
Definição 2.1.7: Um conjunto A é dito finito se for vazio ou se seu número car-
dinal é um número natural. Um conjunto que não é finito é dito infinito.
R
Teorema 2.1.13: O conjunto , dos números reais não é enumerável.
Prova: Vamos supor que é possı́vel listar todos os números do intervalo (0, 1),
escrevendo-os em sucessão.
R Q
Teorema 2.1.14: O conjunto dos números irracionais − não é enumerável.
Prova: Se − R Q R
fosse enumerável, o conjunto , seria enumerável pois é Q
enumerável. Uma contradição. Logo o conjunto dos números irracionais não é enumerável.
Autores como Aczel (2003), Sena (2011) e Borges (2015), foram referências bibli-
ográficas para a elaboração desta seção.
Inevitavelmente, quando se estuda matemática, o conceito de infinito em grande
parte das vezes está presente, o que torna sua compreensão extremamente importante.
Como visto, ao longo da história da humanidade, o infinito foi motivo de debates e muitas
vezes de discórdia. Estes conceitos de infinito distinguem-se entre infinito potencial, de-
fendido pelas ideias de Aristóteles1 (384-322 a.C.) e infinito atual, que a partir de Cantor
veio se destacando e ganhando espaço na matemática até se tornar o que é hoje.
O conceito de infinito potencial está ligado a ideia de algo que não pode ser al-
cançado, inatingı́vel, seja infinitamente pequeno ou infinitamente grande. Na visão de
Aristóteles, o infinito é algo que cresce indefinidamente, sem final, como por exemplo
os números naturais, onde pode-se sempre escrever um número natural, mas nunca es-
crevê-los todos. Para ele o infinito é uma construção da mente que tem como objetivo
nos auxiliar na resolução de problemas. Este infinito aristotélico é dito potencial. Os
conceitos de infinito abordados por Zenão em seus paradoxos (Seção 1.2) e utilizado por
Arquimedes como estratégia para calcular a área do cı́rculo (Seção 1.3) ou para chegar a
uma aproximação de pi (Seção 1.3) são conceitos de infinito potencial.
O conceito de infinito atual traz uma visão de infinito onde conseguimos enxergá-lo
como um todo, admitindo o infinito como algo acabado. Se no infinito potencial analisa-
mos uma sequência onde sempre podemos acrescentar mais um elemento, no infinito atual
olhamos o todo. Nessa interpretação do conceito de infinito, tem-se um ente definido. Por
exemplo, ao considerarmos os pontos de um intervalo estamos lidando com algo infinito
1
Aristóteles foi um importante filósofo grego, discı́pulo de Platão (427-347 a.C.) e seus estudos se
estendem por diversas áreas.
36
mas olhando-o como um todo. O conceito de infinito atual foi abordado inicialmente
por Galileu (Seção 1.4) mas teve como principal desenvolvedor Cantor (Seção 1.6). Seus
números transfinitos são os maiores exemplos de infinito atual, pois neles, considera-se o
infinito como algo que pode ser alcançado, um objeto, um número.
Serviram como suporte teórico para dissertar sobre esta seção os autores Hrbacek
e Jeck (1999) e Aczel (2003).
Como visto na Seção 1.6, Cantor se interessou e dedicou boa parte de sua vida ao
estudo dos conjuntos infinitos e suas propriedades. Ao estudar o conjunto dos números
inteiros, mostrou que é possı́vel fazer uma bijeção entre o conjunto dos números inteiros
positivos e seus quadrados, concluindo que ambos os conjuntos possuem a mesma car-
dinalidade. Cantor estendeu esse estudo a todos os números inteiros, e percebeu que o
conjunto dos números inteiros e seus subconjuntos infinitos possuem a mesma cardina-
lidade. Cantor também demonstrou que o conjunto dos números inteiros e o conjunto
dos números racionais possuem a mesma cardinalidade. Para isso, utilizou um engenhoso
argumento chamado, atualmente, de prova da diagonalização de Cantor da enumerabili-
dade dos números racionais, com o qual demonstrou que existem tantos números inteiros
quanto números racionais.
Mais tarde, Cantor provou que os números reais não são enumeráveis, não sendo
possı́vel fazer uma bijeção entre o conjunto dos números inteiros e o conjunto dos números
reais. Logo, concluiu que estes dois conjuntos possuı́am “tipos” diferentes de infinito.
Mais ainda, ele descobriu que existem infinitos “tipos” de infinito, isto é, existem infinitos
conjuntos infinitos com diferentes cardinalidades. Para chegar a essa conclusão, Cantor
utilizou um importante teorema o qual havia provado. Este teorema diz que a cardina-
lidade de todo conjunto não nulo é menor que a cardinalidade do seu conjunto potência.
Assim, a cardinalidade do conjunto potência dos números inteiros é maior que a car-
dinalidade do conjunto dos números inteiros e a cardinalidade do conjunto potência do
conjunto potência dos números inteiros é maior que a cardinalidade do conjunto potência
dos números inteiros. Repetindo este processo indefinidamente é sempre possı́vel obter
um conjunto infinito com cardinalidade maior.
Cantor chamou os números cardinais dos conjuntos infinitos de números transfini-
tos e usou como notação a primeira letra do alfabeto hebraico, o alef (ℵ).
O menor dos números transfinitos é o número cardinal dos conjuntos dos números
N Z Q
naturais ( ), inteiros ( ) e racionais ( ), o qual Cantor definiu como ℵ0 .
Os números transfinitos são infinitos, pois sempre é possı́vel obter um número
transfinito maior:
37
Para a elaboração desta seção autores como Birkhoff e MacLane (1941), Levy
(1979), Alencar Filho (1980), Hrbacek e Jeck (1999) e Leão (2014) foram referências bi-
bliográficas.
Adição Multiplicação
ℵ0 + n = ℵ0 n · ℵ 0 = ℵ0
ℵ0 + ℵ0 = ℵ0 ℵ0 · ℵ 0 = ℵ0
ℵα + n = ℵ0 n · ℵα = ℵα
ℵα + ℵα = ℵα ℵα · ℵ α = ℵα
ℵα + ℵβ = ℵmax(α,β) ℵα · ℵβ = ℵmax(α,β)
Teorema 2.3.1: ℵ0 + ℵ0 = ℵ0 .
Prova: A união de dois conjuntos infinitos enumeráveis é enumerável. Por exem-
Z
plo, o conjunto dos números inteiros ( ) é formado pela união de dois conjuntos disjuntos,
Z
o conjunto dos números inteiros negativos ( ∗− ) e o conjuntos dos números inteiros não
Z
negativos ( + ). Logo ℵ0 + ℵ0 = ℵ0 .
Teorema 2.3.2: ℵα + ℵα = ℵα .
A demonstração deste teorema pode ser vista em (LEVY, 1979).
Prova: ℵα ≤ ℵα + n ≤ ℵα + ℵα = ℵα . Logo ℵα + n = ℵα .
Teorema 2.3.6: ℵ0 · ℵ0 = ℵ0 .
Prova: O produto cartesiano de dois conjuntos enumeráveis também é enumerável.
Logo ℵ0 · ℵ0 = ℵ0 . Por exemplo, o conjunto formado por todos os pares ordenados de
números naturais é enumerável.
Teorema 2.3.7: ℵα · ℵα = ℵα .
A demonstração deste teorema pode ser vista em (LEVY, 1979) ou (HRBACEK;
JECK, 1999).
R N Z
| | > ℵ0 = | | = | | = | |.Q
Mais do que isso, Cantor percebeu que a cardinalidade do continuum dos números
reais, a qual ele chamou de c, era igual a cardinalidade do conjunto potência dos números
39
inteiros (2ℵ0 ). Como visto na Seção 1.6, todo número inteiro poderia pertencer ou não à
representação decimal de um número real, logo o conjunto dos números reais compreendia
todos os subconjuntos dos números inteiros, cuja cardinalidade é 2ℵ0 .
c = 2ℵ0
Cantor então se viu mergulhado em várias questões: Em que posição entre os alefs
estaria c? Existe algum cardinal transfinito entre ℵ0 e c? Seria c = ℵ1 ? Isto é, seria
2ℵ0 = ℵ1 ? Esta conjectura proposta por Cantor ficou conhecida como a hipótese do
continuum.
2ℵ0 = ℵ1
Cantor acreditava que a hipótese do continuum era verdadeira, mas nunca foi capaz
de prová-la.
Em 1937, o matemático Kurt Gödel conseguiu provar a consistência da hipótese do
continuum, o que significava dizer que, se tomada como verdadeira, não criava conflitos
com os axiomas da teoria dos conjuntos. Por muitos anos Gödel tentou provar que a
negação da hipótese do continuum é consistente com os axiomas da teoria dos conjuntos.
Se conseguisse prová-la, isto implicaria na independência da hipótese do continuum, da
matemática baseada nos atuais axiomas da teoria dos conjuntos. Porém, apenas em
1963, o matemático Paul Cohen conseguiu provar ser impossı́vel afirmar se a hipótese do
continuum é verdadeira ou falsa, utilizando os atuais axiomas da teoria dos conjuntos.
40
3 FERRAMENTAS PEDAGÓGICAS
Autores como Brito (1996), Gómez-Granell (1997), Correa e MacLean (1999), Mi-
cotti (1999) desenvolveram pesquisas buscando identificar quais as principais dificuldades
encontradas pelos alunos em relação à matemática ensinada nas escolas. De acordo com
Brito,
Corroborando com Brito (1996), nota-se que uma parcela dos alunos do ensino fun-
damental apresenta grande dificuldade em lidar com alguns conceitos matemáticos mais
abstratos, e o conceito de infinito é um deles. Essa dificuldade acaba prejudicando o edu-
cando na formalização dos conhecimentos dependentes da compreensão desses conceitos.
Assim, torna-se importante a utilização de métodos que facilitem seu entendimento e a
consequente assimilação de tais conhecimentos. Sendo assim, o autor desenvolveu duas
atividades com esse propósito, as quais são apresentadas na Seções 3.1 e 3.2.
3.1 Atividades
Foram elaboradas duas atividades com o tema infinito matemático. A primeira ati-
vidade aborda conjuntos infinitos e sua propriedade fundamental (que o todo não é maior
que algumas de suas partes). Na segunda atividade, os alunos investigam os números re-
ais e a infinidade deles existentes em um intervalo finito. Também foram elaborados dois
questionários para serem aplicados, um antes das atividades e outro após . O primeiro
questionário busca identificar qual a percepção dos alunos em relação a alguns aspectos
relativos ao infinito e que são abordados nas atividades. O segundo questionário foi ela-
borado com o objetivo de analisar o quanto foi assimilado pelos alunos acerca dos temas
trabalhados durante as atividades. A análise é feita, comparando os dois questionários.
41
Roteiro da Atividade 1
Etapas:
1) Apresentar aos alunos, por meio de exposição oral, de forma superficial, os
conceitos de correspondência biunı́voca e cardinalidade.
2) Relembrar o conjunto dos números naturais e seu subconjunto, dos números
naturais pares.
3) Questionar: qual conjunto tem mais elementos, o conjunto dos números naturais
pares ou o conjunto dos números naturais?
4) Explicar que os dois conjuntos têm a mesma cardinalidade.
5) Relembrar o conjunto dos números inteiros.
6) Dividir os alunos em grupos de no máximo 4 alunos.
7) Questionar: qual conjunto tem mais elementos, o conjunto dos números naturais
ou o conjunto dos números inteiros? É possı́vel estabelecer uma correspondência um a
um entre os elementos dos dois conjuntos por meio de alguma regra?
8) Mostrar que os dois conjuntos têm a mesma cardinalidade e relacionar seus
elementos.
O objetivo desta atividade é fazer com que os alunos percebam que o conjunto dos
números naturais, o conjunto dos números naturais pares e o conjunto dos números intei-
ros têm a mesma cardinalidade. As etapas da atividade podem ser exibidas com auxilio
de recursos computacionais. Como sugestão, o roteiro da atividade pode ser exibido para
a turma, ou reproduzido e entregue aos alunos para que possam acompanhá-la. O tempo
sugerido para a atividade é entre 40 e 50 minutos.
Desenvolvimento
Como esta atividade é voltada para turmas do 8o ano do ensino fundamental, é
necessária uma pequena introdução do que é cardinalidade e correspondência biunı́voca
(ou um a um, para facilitar o entendimento do aluno do ensino fundamental). Após essa
42
pequena introdução, os alunos são questionados sobre qual conjunto tem mais elementos,
o conjunto dos números naturais ou o conjunto dos números naturais pares (figura 14).
Logo após eles responderem, independente das respostas, eles são informados que os
dois conjuntos possuem a mesma cardinalidade. Além disso, eles também são informados
da descoberta de Galileu, que é possı́vel fazer uma correspondência um a um entre o
conjunto dos números naturais e seus quadrados (Figura 15).
Na segunda parte da atividade os alunos são separados em grupos de, no máximo,
quatro integrantes para refletirem sobre as seguintes perguntas: O conjunto dos números
naturais e o conjunto dos números inteiros possuem a mesma cardinalidade? É possı́vel
estabelecer uma regra que relacione um a um os elementos do conjunto dos números
naturais e os elemento do conjunto dos números inteiros? (Figura 16)
Vale esclarecer que esta segunda pergunta, dada a sua complexidade, aparece na
atividade como um desafio, já que o público alvo são turmas do 8o ano do ensino funda-
mental que não conhecem o assunto.
Após refletirem sobre o tema, os grupos são convidados a exporem suas conclusões
a respeito dos questionamentos. Depois de ouvir as conclusões de cada grupo, o professor
encerra a atividade mostrando que os dois conjuntos têm a mesma cardinalidade por meio
de uma correspondência um a um entre os seus elementos.
43
Roteiro da Atividade 2
Objetivo: Verificar que entre dois números reais existem infinitos números reais.
Etapas:
1) Apresentar aos alunos, alguns comandos básicos do GeoGebra e as ferramentas
“ponto” e “ponto médio ou centro”.
2) Pedir aos alunos que, utilizando a ferramenta “ponto” do GeoGebra, marquem
dois pontos quaisquer no eixo x.
3) Pedir aos alunos que marquem o ponto médio entre os dois pontos marcados no
item anterior, utilizando a ferramenta “ponto médio ou centro”.
4) Pedir aos alunos que marquem o ponto médio entre o primeiro ponto e o ponto
médio marcado no item anterior.
5) Pedir aos alunos que repitam este processo e sempre que necessário aproximem
a tela.
6) Questionar: se vocês tivessem um software tão potente que sempre fosse possı́vel
aproximar mais a tela, em algum momento não conseguiriam marcar o ponto médio entre
os dois pontos? A qual conclusão vocês chegam a respeito da quantidade de números reais
entre dois outros números reais?
7) Explicar que entre dois números reais existem infinitos números reais.
Esta atividade tem como objetivo fazer com que os alunos descubram que entre
dois números reais quaisquer existe uma infinidade de números reais. Para a realização
da atividade é necessário que os alunos utilizem computadores. A atividade foi realizada
com o auxı́lio do software GeoGebra, previamenteo instalado nos computadores que fo-
ram utilizados (software GeoGebra é livre e está disponibilizado na internet, por exemplo,
em http://www.baixaki.com.br/download/geogebra.htm). O tempo sugerido para a ati-
vidade é entre 30 e 40 minutos.
Desenvolvimento
Com o software aberto, o aluno deve marcar dois pontos quaisquer no eixo x. Para
isso, deverá selecionar a opção “ponto” e marcá-los no eixo x (Figuras 17 e 18).
45
Em seguida o aluno marca o ponto médio entre estes dois pontos. Para isso, deve
selecionar a opção “ponto médio ou centro” e clicar sobre os pontos marcados anterior-
mente (Figuras 19 e 20).
Este processo deverá ser repetido mais algumas vezes, sempre marcando o ponto
médio entre os dois pontos mais próximos. Depois de algumas repetições, o aluno será
questionado: se caso tivéssemos um software tão potente que sempre fosse possı́vel aumen-
tar o zoom, será que em algum momento não conseguirı́amos marcar o ponto médio entre
os dois pontos? Depois de respondido o questionamento, o professor deverá perguntar:
Podemos concluir então que existem quantos números reais entre dois outros números
reais?
1
As atividades foram aplicadas pelo pesquisador que é o professor regente das turmas.
48
A turma 801 se caracteriza por ser um pouco agitada, porém a aplicação das
atividades ocorreu satisfatoriamente. No dia estavam presentes 30 alunos. Assim como
explicado anteriormente, os alunos responderam ao Questionário 1 antes do inı́cio da aula.
As atividades seguiram os roteiros apresentados nas Seções 3.1.1 e 3.1.2. Ao término das
atividades, os alunos responderam ao Questionário 2.
Ao analisar a primeira pergunta do Questionário 1, onde os alunos responderam
sobre o que é infinito e também foi pedido que dessem alguns exemplos, verificou-se que
80% (Tabela 1) dos alunos citaram os números como exemplo de algo infinito. Além
disso, aproximadamente 6, 67% dos alunos mencionaram o Universo como exemplo de
algo infinito.
Respostas Porcentagem
Números 80,00%
Universo 6,67%
Outros 16,67%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Números Naturais 80,00%
Números Naturais Ímpares 20,00%
Fonte: O autor, 2016.
49
Respostas Porcentagem
Números Inteiros 70,00%
Números Naturais 26,67%
Possuem a mesma cardinalidade 3,33%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Números Naturais 16,67%
Potências de 10 0,00%
Possuem a mesma cardinalidade 80,00%
Outras respostas 3,33%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Infinitos 3,33%
9 números 6,67%
7 números 23,33%
4 números 10,00%
3 números 20,00%
Não souberam responder 6,67%
Outras respostas 30,00%
Fonte: O autor, 2016.
tifique. 43, 33% dos alunos responderam “não” e 46, 67% responderam “sim” (Tabela
7), mas em nenhum dos casos analisados foi indicado algo que sugerisse uma quantidade
infinita.
Verificando as respostas para a questão 4 do Questionário 2 (Existe algum número
real entre 3 e 3, 1? Justifique) observa-se que aproximadamente 33, 33% foram “sim”, sem
justificativa (Tabela 8), aproximadamente 23, 33% foram “sim”, com a justificativa que
entre 3 e 3, 1 exitem infinitos números reais e aproximadamente 36, 67% das respostas
foram “não”.
Ao comparar as respostas dadas à questão 6 do Questionário 1 e à questão 4 do
Questionário 2 é possı́vel observar uma diminuição de respostas “não” e “não souberam
responder”, e um aumento de respostas “sim” ou “sim, infinitos”, com destaque para as
respostas “sim, infinitos”, que não apareceram na questão 6 do Questionário 1.
A análise das respostas para as questões 5 e 6 do Questionário 1 e para as questões
3 e 4 do Questionário 2 sugerem que a aplicação da atividade na turma 801 foi bem
sucedida, reforçando o que ja havia sido observado durante a aula.
Enfim, a análise das respostas dadas pelos alunos durante a aplicação das atividades
e os dados obtidos dos questionários sugerem que os objetivos das atividades 1 e 2 foram
atingidos na turma 801. Em sua maioria os alunos compreendem que no caso de conjuntos
infinitos, um conjunto e seu subconjunto podem ter a mesma cardinalidade, e ainda que
entre dois números reais quaisquer existem infinitos números reais.
52
Respostas Porcentagem
Infinitos 63,33%
3 números 6,67%
1 números 6,67%
Não souberam responder 3,33%
Outras respostas 20,00%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Sim 46,67%
Sim, infinitos 0,00%
Não 43,33%
Não souberam responder 10,00%
Fonte: O autor, 2016.
A turma 802 se caracteriza por ser calma e de certa forma até um pouco apática.
A turma é pequena e os alunos são bastante faltosos. Uma parcela considerável dos
alunos apresenta dificuldades em conteúdos de anos anteriores, o que acaba prejudicando-
os na compreensão de alguns conceitos e na resolução de situações problema. No dia da
aplicação das atividades estavam presentes apenas 8 alunos, o que é comum nesta turma.
Antes do inı́cio das atividades, os alunos responderam ao Questionário 1. Assim como
na turma 801, a aula transcorreu de forma tranquila e a aplicação das atividades ocorreu
satisfatoriamente. As atividades seguiram os roteiros apresentados nas Seções 3.1.1 e
3.1.2. Ao término os alunos responderam ao Questionário 2.
Ao analisar a primeira pergunta do Questionário 1, onde os alunos responderam
sobre o que é infinito e ainda foi solicitado que dessem alguns exemplos, verificou-se que
87, 5% (Tabela 9) dos alunos descreveram o infinito como algo que não tem fim ou que
nunca acaba e apenas 37, 5% dos alunos mencionaram os números como exemplo de algo
infinito.
Na primeira parte da atividade 1, quando os alunos são questionados sobre qual
dos dois conjuntos possui mais elementos, o conjunto dos números naturais ou o conjunto
dos números naturais pares, assim como observado na turma 801, a maioria dos alunos da
turma 802 respondeu que era o conjunto do números naturais. Comparando as respostas
obtidas durante a atividade, com o que foi respondido na questão 2 do Questionário
1: para você, qual destes dois conjuntos têm mais elementos, o conjunto dos números
naturais ({0, 1, 2, 3, 4, 5, . . . }) ou o conjunto dos números naturais ı́mpares ({1, 3, 5, 7,
53
Respostas Porcentagem
Sim 33,33%
Sim, infinitos 23,33%
Não 36,67%
Não souberam responder 6,67%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Algo que nunca acaba 87,50%
Números 37,50%
Fonte: O autor, 2016.
9, . . . })?, observa-se que há coerência, pois no questionário 75% (Tabela 10) dos alunos
optaram pelo conjunto dos números naturais, enquanto 12, 5% optaram pelo conjunto
dos números naturais ı́mpares. Além disso, 12, 5% responderam que os dois conjuntos são
infinitos. Neste caso também verifica-se que os alunos têm a tendência de “transportar”
o que já sabem sobre subconjuntos de conjuntos finitos para subconjuntos infinitos de
conjuntos infinitos, interpretando, como na turma 801, que o subconjunto deve sempre
possuir menos elementos do que o conjunto no qual ele está contido.
Respostas Porcentagem
Números Naturais 74,00%
Números Naturais Ímpares 12,50%
Nenhum, ambos são infinitos 12,50%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Números Inteiros 75,00%
Números Naturais 25,00%
Possuem a mesma cardinalidade 0,00%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Números Naturais 75,00%
Potências de 10 12,50%
Possuem a mesma quantidade de elementos 12,50%
Fonte: O autor, 2016.
Este resultado destoa totalmente do que foi verificado durante a aplicação desta
atividade, onde um dos grupos chegou a conclusão de que o conjunto dos números natu-
rais e o conjunto dos números inteiros têm a mesma cardinalidade. É possı́vel concluir
que a aplicação da atividade 1, na turma 802 não atingiu seu objetivo, pelo menos em
parte, visto que pode ter havido alguma dificuldade de interpretação da questão 2 do
Questionário 1 por parte de alguns alunos ou, como durante a aplicação um dos grupos
verificou que o conjunto dos números naturais e o conjunto dos números inteiros têm a
mesma cardinalidade, é possı́vel que seus integrantes tenham concordado com algum dos
membros sem estarem convictos disto.
Analisando as respostas dadas às questões 3 do Questionário 1 (Se retirarmos todos
os números naturais ı́mpares do conjunto dos números naturais, ele ainda será infinito?)
55
1
Por serem poucos questionários e todos com respostas diferentes, não foi necessário organizá-las em
uma tabela. Cada resposta corresponde a 12, 50% do total.
56
Respostas Porcentagem
Infinitos 50,00%
4 números 12,50%
2 números 12,50%
Número 1,6 25,00%
Fonte: O autor, 2016.
em nenhuma das repostas foi mencionado algo em relação a uma quantidade infinita.
Respostas Porcentagem
Sim 62,50%
Não 25,00%
Não souberam responder 12,50%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Sim (apenas) 50,00%
Sim, infinitos 12,50%
Não 25,00%
Não souberam responder 12,50%
Fonte: O autor, 2016.
e 2 não foram plenamente atingidos na turma 802. Não é possı́vel afirmar que a maioria
dos alunos compreende que no caso de conjuntos infinitos, um conjunto e seu subconjunto
podem ter a mesma cardinalidade, e ainda que entre dois números reais quaisquer existem
infinitos números reais.
A turma 1801 se carateriza por ser bastante agitada. Os alunos geralmente são
dispersos e se interessam por brincadeiras e conversas paralelas durante as aulas. No
decorrer da aplicação das atividades a turma se mostrou inquieta, sendo necessário que
o professor chamasse os alunos a prestar atenção e a retomar o raciocı́nio. No dia da
aplicação das atividades estavam presentes na turma 29 alunos.
Ao analisar a primeira pergunta do Questionário 1, onde os alunos responderam
sobre o que é infinito e ainda foi pedido que dessem alguns exemplos, verificou-se que
aproximadamente 68, 97% dos alunos citaram os números como exemplo de algo infinito
(Tabela 16). Além disso, aproximadamente 13, 79% dos alunos mencionaram o espaço ou
o Universo como exemplo de algo infinito.
No decorrer da primeira parte da atividade 1, quando os alunos são questionados
sobre qual dos dois conjuntos possui mais elementos, o conjunto dos números naturais
ou o conjunto dos números naturais pares, a maioria da turma decidiu pelo conjunto do
números naturais. Analisando as respostas dadas à questão 2 do Questionário 1 (Para
você, qual destes dois conjuntos têm mais elementos, o conjunto dos números naturais
58
Respostas Porcentagem
Números 68,97%
Universo ou espaço 13,79%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Números Naturais 65,52%
Números Naturais Ímpares 20,69%
Possuem a mesma cardinalidade 10,34%
Outras respostas 3,45%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Números Inteiros 58,62%
Números Naturais 24,14%
Possuem a mesma cardinalidade 13,79%
Não souberam responder 3,45%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Números Naturais 31,03%
Potências de 10 10,34%
Possuem a mesma cardinalidade 55,17%
Não souberam responder 3,45%
Fonte: O autor, 2016.
É possı́vel concluir com os dados obtidos ao se comparar as respostas dos dois ques-
tionários e com o que foi apontado durante a aplicação da atividade que os alunos, em sua
maioria, conseguiram compreender que um conjunto infinito e um de seus subconjuntos
infinitos podem possuir a mesma cardinalidade.
Ao comparar as respostas dadas às questões 3 do Questionário 1 (Se retirarmos
todos os números naturais ı́mpares do conjunto dos números naturais, ele ainda será infi-
nito?) e 2 do Questionário 2 (Se retirarmos todos os números naturais pares do conjunto
dos números naturais, ele ainda será infinito?), observa-se que na questão 3 do Ques-
tionário 1 aproximadamente 75, 86% dos alunos responderam “sim”, entendendo que o
conjunto formado pelos elementos restantes ainda será infinito e aproximadamente 79, 31%
dos alunos responderam “sim” na questão 2 do Questionário 2, reforçando a conclusão
descrita no parágrafo anterior.
Ao começarem a atividade 2, os alunos foram divididos em grupos para que pu-
dessem utilizar os computadores, num total de 5 notebooks. Foram ensinados alguns
comandos básicos do GeoGebra e como utilizar as ferramentas “ponto” e “ponto médio
60
ou centro”. Em seguida, foi solicitado ao aluno responsável de cada grupo que marcasse
dois pontos quaisquer no eixo x e depois o ponto médio entre eles. Nesse momento a
turma ficou um pouco mais agitada e algumas dificuldades para a utilização das ferra-
mentas surgiram, mas prontamente foram sanadas e a aplicação da atividade transcorreu
sem maiores problemas. Em seguida, foi pedido que eles marcassem outro ponto médio,
desta vez entre o primeiro ponto e ponto médio marcado anteriormente e ainda que conti-
nuassem o processo, aproximando a tela sempre que fosse necessário. Após repetirem este
processo algumas vezes, os alunos foram questionados se caso tivessem um software tão
potente que sempre fosse possı́vel aproximar mais, se em algum momento não consegui-
riam marcar o ponto médio entre os dois pontos e depois sobre qual conclusão chegaram de
quantos números reais existem entre dois outros números reais. Assim como observados
em outras turmas, a maioria dos alunos da turma 1801 concluiu que entre dois números
reais existem infinitos números reais. É possı́vel verificar este resultado ao comparar as
respostas dadas às questões 5 e 6 do Questionário 1 e 3 e 4 do Questionário 2.
Na questão 5 do Questionário 1 (Quantos números reais existem entre 0, 1 e 0, 9?
Justifique.) nenhuma resposta indicou a existência de infinitos números reais entre 0, 1 e
0, 9 (Tabela 20).
Respostas Porcentagem
Infinitos 0,00%
9 números 17,24%
7 números 24,14%
3 números 6,90%
2 números 13,79%
Nenhum 6,90%
Não souberam responder 6,90%
Outras respostas 24,14%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Infinitos 58,62%
2 números 10,34%
1 números 10,34%
Não souberam responder 13,79%
Outras respostas 6,90%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Sim 62,07%
Sim, infinitos 0,00%
Não 20,69%
Não souberam responder 17,24%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Sim 44,83%
Sim, infinitos 24,14%
Não 17,24%
Não souberam responder 13,79%
Fonte: O autor, 2016.
que, no caso de conjuntos infinitos, um conjunto e seu subconjunto podem ter a mesma
cardinalidade, e ainda que entre dois números reais quaisquer existem infinitos números
reais.
Respostas Porcentagem
Números 66,67%
Algo sem fim (sem exemplos) 16,67%
Outros 16,67%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Números Naturais 75,00%
Números Naturais Ímpares 20,83%
Possuem a mesma cardinalidade 0,00%
Outras respostas 4,17%
Fonte: O autor, 2016.
mais elementos, o conjunto dos números naturais ou o conjunto dos números inteiros? É
possı́vel estabelecer uma correspondência um a um entre os elementos dos dois conjuntos
por meio de alguma regra? A maior parte dos grupos, aproximadamente 66, 67%, res-
pondeu que os dois conjuntos têm a mesma cardinalidade, mas nenhum grupo conseguiu
esboçar uma regra que relacionasse os elementos dos dois conjuntos, o que já havia sido
verificado nas demais turmas analisadas. Como a turma analisada é do 8o ano do ensino
fundamental, esta dificuldade já era esperada.
Os resultados obtidos durante a aplicação da segunda parte da atividade 1 podem
ser confrontados com os dados apurados ao se comparar as respostas das questões 4 do
Questionário 1 e 1 do Questionário 2.
Investigando as respostas dadas à questão 4 do Questionário 1 (Para você qual des-
Z
tes conjuntos têm mais elementos, o conjunto dos números inteiros ( ={...−4, −3, −2, −1,
N
0, 1, 2, 3, 4, . . .}) ou o conjunto dos números naturais ( ={0, 1, 2, 3, 4, 5, . . .})?) é possı́vel
constatar que antes do inı́cio da aplicação das atividades, aproximadamente 70, 83% dos
alunos consideravam que o conjunto dos números inteiros possuı́a mais elementos que
o conjunto dos números naturais (Tabela 26), escolhido por aproximadamente 29, 17%
dos alunos. Nessa turma nenhuma resposta sugeriu a possibilidade dos dois conjuntos
possuı́rem a mesma cardinalidade.
Respostas Porcentagem
Números Inteiros 70,83%
Números Naturais 29,17%
Possuem a mesma cardinalidade 0,00%
Fonte: O autor, 2016.
Porém, o que chama a atenção é a quantidade de alunos que responderam indicando o con-
junto dos números naturais que são potências de 10 como sendo o de maior cardinalidade,
37, 5%.
Respostas Porcentagem
Números Naturais 16,67%
Potências de 10 37,50%
Possuem a mesma cardinalidade 45,83%
Fonte: O autor, 2016.
potente que sempre fosse possı́vel aproximar mais, se em algum momento não consegui-
riam marcar o ponto médio entre os dois pontos e depois sobre qual conclusão chegaram
de quantos números reais existem entre dois outros números reais. Os alunos da turma
1802, em sua maioria, concluı́ram que poderiam continuar esse processo indefinidamente
e que entre dois números reais existem infinitos números reais. Comparando as respostas
das questões 5 e 6 do Questionário 1 e 3 e 4 do Questionário 2, é possı́vel confrontar com
o que foi verificado após a aplicação da atividade 2.
Na questão 5 do Questionário 1 (Quantos números reais existem entre 0, 1 e 0, 9?
Justifique.) aproximadamente 16, 67% indicaram a existência de infinitos números reais
entre 0, 1 e 0, 9 (Tabela 28).
Respostas Porcentagem
Infinitos 16,67%
9 números 8,33%
7 números 25,00%
3 números 4,17%
2 números 4,17%
Nenhum 4,17%
Deixou em branco 8,33%
Outras respostas 29,17%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Infinitos 29,17%
3 números 12,50%
2 números 16,67%
1 números 25,00%
Outras respostas 16,67%
Fonte: O autor, 2016.
infinita.
Respostas Porcentagem
Sim 33,33%
Sim, infinitos 4,17%
Não 20,83%
Não souberam responder 4,17%
Outros 37,50%
Fonte: O autor, 2016.
Respostas Porcentagem
Sim 25,00%
Sim, infinitos 16,67%
Não 25,00%
Não souberam responder 33,33%
Fonte: O autor, 2016.
CONCLUSÃO
não tão abstratas. Talvez uma atividade introdutória como o cálculo da área do cı́rculo
utilizando a mesma técnica de Arquimedes seja uma opção.
69
REFERÊNCIAS
ALENCAR FILHO, Edgard de. Teoria Elementar dos Conjuntos. 19. ed. São Paulo:
Nobel, 1980. 328 p.
BOYER, Carl B. História da Matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1996. 496 p.
BRITO, Maria Regina F. de. Tese de livre docência não publicada, Um estudo sobre as
atitudes em relação à matemática em estudantes de 1o e 2o graus. Campinas: UNICAMP,
1996.
CORREA, Jane; MACLEAN, Morag. Era uma vez... um vilão chamado matemática:
um estudo intercultural da dificuldade atribuı́da à matemática. Psicologia: Reflexão e
Crı́tica, Porto Alegre, v. 12, n. 1, 1999. Disponı́vel em: hhttp://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci arttext&pid=S0102-79721999000100012&lng=en&nrm=iso&tlng=pti.
HRBACEK, Karel; JECK, Thomas. Introduction to set theory. 3. ed. New York: Marcel
Dekker, 1999. 291 p.
KLAJMAN, Débora de Queiroz Gadelha. O real por detrás das aparências. 2007. 90 f.
Dissertação (Mestrado em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia) —
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
LEVY, Azriel. Basic Set Theory. 1. ed. New York: Dover Publications, Inc, 1979. 391 p.
NETZ, Reviel; NOEL, Willian. Códex Arquimedes. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2009.
318 p.
ANEXO A – Questionário 1
QUESTIONÁRIO 1
ESCOLA:___________________________________________ TURMA:_________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
2 – Para você, qual destes dois conjuntos têm mais elementos, o conjunto dos números
naturais ( {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...} ) ou o conjunto dos números naturais ímpares ( {1, 3, 5, 7, 9, ...} )?
_____________________________________________________________________________
3 – Se retirarmos todos os números naturais ímpares do conjunto dos números naturais, ele
ainda será infinito?
_____________________________________________________________________________
4 – Para você, qual destes conjuntos têm mais elementos, o conjunto dos números inteiros ( Z
= {... -4, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, 4, ...} ) ou o conjunto dos números naturais ( IN = {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...}
)?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
72
ANEXO B – Questionário 2
QUESTIONÁRIO 2
ESCOLA:___________________________________________ TURMA:_________
1 – Para você, qual destes dois conjuntos têm mais elementos, o conjunto dos números
naturais ( {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...} ) ou o conjunto dos números naturais que são potências de 10 (
{1, 10, 100, 1000, 10000, ...} )?
_____________________________________________________________________________
2 – Se retirarmos todos os números naturais pares do conjunto dos números naturais, ele
ainda será infinito?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
5 – Existe algum número real que seja antecessor de 2, isto é, que esteja imediatamente antes
de 2? Justifique.
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
6 – Existe algum número real que seja sucessor de 2, isto é, que esteja imediatamente depois
de 2? Justifique.
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________