Matemtica Pre Escola
Matemtica Pre Escola
Matemtica Pre Escola
1 Pedagoga, Diretora de Escola, Técnica em Educação no Núcleo de Ação Educativa-6 da Prefeitura Municipal de São
Paulo, ministra cursos no Programa de Capacitação Profissional da FDE.
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modelos mecânicos e estereotipados. Pretende-se trabalhar posturas diante do
conhecimento, da construção do conhecimento individual e coletivo, e de sua prática
pedagógica, levando os educadores a uma busca de autonomia de pensamento, a um
resgate de seu conhecer e a uma ação consciente e competente.
Ainda em épocas mais recentes, em depoimentos dados pelos professores nos cursos,
encontramos no Estado de São Paulo, no meio rural, peões que contam o gado fazendo
relação com as pedras, um a um, ou ainda fazendo risquinhos no chão ou no mourão
da cerca. Em um dos depoimentos a professora relatava que na época de seu avô os
peões contavam o gado, relacionando-o com pedras - eram utilizadas pedras diferentes
para a contagem dos bois e das vacas. Isto evidencia a permanência do homem na
relação um a um, quando não há estímulo da complexidade do meio.
Para que o ser humano se relacione bem com a Matemática é necessário que faça
todas as relações possíveis entre os objetos: é igual, é diferente, é maior, é menor etc.
Do ponto de vista pedagógico, acreditamos ser importante que o professor leve a
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criança a construir todas as relações possíveis entre os objetos, nas construções do
seu próprio brincar: agrupar objetos por suas semelhanças; fazer classificações
simples e em série; comparar tamanhos: maior, menor, igual etc.
Historicamente, vamos encontrar há cerca de 3500 anos a.C., na Mesopotâmia, onde
hoje estão o Irã e o Iraque, duas cidades, Sumer e Elam, que já possuíam
necessidades próprias advindas da convivência social urbana. A enumeração de
objetos se fez presente e passou a ser uma necessidade. A memória humana
revelou-se insuficiente para guardar as quantidades e então se fizeram necessários os
registros; para isso foi criado um sistema de numeração com contas de barro,
utilizando a base sessenta e tendo a base dez como unidade auxiliar.
Os sumérios, habitantes de Sumer, criaram o sistema:
Ora, vejamos. A criança está trabalhando com dois conjuntos - um de crianças e outro
de folhas - e entre esses dois conjuntos é preciso que seja feita a correspondência
biunívoca. Cremos que antes de enfocar o sentido da palavra é preciso observar os
dois conjuntos com os quais a criança trabalha e saber a qual deles está se referindo -
se ao conjunto de crianças "faltou", isto é, faltaram crianças para serem dadas folhas,
ou se ao conjunto de folhas "sobrou", isto é, há mais folhas do que crianças.
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É importante, em matemática, como em todas as situações da vida, o uso do
referencial. O que se situa como verdade para um referencial pode não o ser para outro.
O desenho da ave significa ave mesmo e peixe significa peixe mesmo. Os risquinhos ou
pontinhos que são feitos aparecem como uma representação do objeto. Uma fase
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A estrutura multiplicativa forma as potências crescentes 4°, 4', 4², 4³ etc(3) e para
sabermos a quantidade total usamos a estrutura aditiva do sistema - cada grupo é
somado com o da potência vizinha, por exemplo:
1.16+3.4+3=16+12+3=31
Criar estas estruturas básicas de grupos na mente da criança passa a ser um dos
trabalhos didáticos necessários para a fundamentação do conhecimento matemático;
pode-se, então, levá-la, a partir da Pré-escola, a fazer o trabalho com agrupamentos
em diferentes bases de contagem. A estrutura mental da formação de grupos tem
como um de seus primeiros movimentos a regra de trocas: muitos elementos que
passam a ser um grupo. Subseqüente ao movimento da regra de trocas, virá também a
construção mental do valor de posição.
Para trabalhar a "regra de trocas" com a criança da Pré-escola, podem ser usados
diversos tipos de jogos estabelecendo-se a base de troca que pode ser cinco, três, seis,
quatro, sete ou qualquer outra base que se queira jogar.
A partir da 5°- série do 1°- Grau a criança passa a trabalhar com potenciação: 5², 4³,
2² etc. O que é isto senão a estrutura do sistema de numeração em todas as bases?
É pensando nesta retomada que propomos, desde a Pré-escola, brincadeiras com
agrupamentos em diferentes quantidades.
Encontram-se pessoas que classificam a Matemática como algo que provoca medo e
ansiedade, chegando mesmo a ser colocado que para a estudar é necessário nascer
com dons especiais para tal aprendizagem. As vezes, as pessoas gostam e se saem
bem na parte elementar da Matemática, aritmética, mas, quando começam a estudar
a álgebra ou conceitos de geometria, começam a sentir-se incapazes e excluídos do
universo dos "nascidos com dons para a Matemática".
' Sistema russo, extraído do livro Sistemas de numeração, de S. FORMIN, Moscou, Ed. Mir, 1980.
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É necessário, também, levar em consideração outro fator, que dificulta a
aprendizagem, citado por John Allen PAULOS, professor de Matemática na
Universidade de Filadélfia. Trata-se do caráter impessoal da Matemática. Segundo este
autor, as pessoas gostam de personalizar os fatos, mas não gostam muito de
objetivá-los e de olhá-los de uma perspectiva teórica. Os números estão ligados a uma
concepção conceituai do mundo e, assim, esta resistência levaria as pessoas a um
anumerismo" quase deliberado.
Conclusão
Este fazer histórico não tem sido parte integrante do ritual escolar que faz o discurso
ideológico dos modelos prontos, do imobilismo e da estagnação, que forma educadores
para o reforço dessas fórmulas acabadas e sem espaço para a criação. E o ensino da
Matemática tem cumprido brilhantemente este papel reforçados de modelos prontos.
A mesma lógica que nos faz perceber a Matemática desligada da vida leva o professor
de Pré-escola a não querer enxergar sua prática além de seu cotidiano. Essa lógica o
faz buscar insistentemente receitas para seu trabalho e o afasta da fundamentação,
faz com que ele próprio queira manter-se limitado, pois é levado a crer que para
trabalhar com crianças basta gostar delas.
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É fácil, então, inferir o porquê de as pessoas não aprenderem a Matemática.
Começaremos questionando: vale a pena mesmo conseguir aprender o simulacro de
ciência que se apresenta na Escola? O que fazer da criatividade, das hipóteses que o
pensamento insiste em elaborar apesar das armadilhas impostas pelos modelos?
Bibliografia
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes,
1988.
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