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Direito Constitucional II

Período pré-liberal (anterior a 1820)

- A constituição histórica começa no século XII com a formação da nacionalidade.

Principais momentos políticos:

1. Fundação de Portugal em 1143 ou 1179;


2. Curia de Coimbra, com a edificação do estado por Afonso II;
3. Deposição de Sancho II;
4. Cortes de Leiria com representantes dos concelhos em 1254;
5. Tratado de Alcanizes com a definição das fronteiras em 1297;
6. Sucessão de D. Fernando e a solução jurídica de João das Regras nas Cortes de
Coimbra (poder pertence ao rei por intermédio do povo);
7. Expansão ultramarina – conquista de Ceuta em 1415;
8. Regimento do reino para resolver o problema de sucessão (Marim de Albuquerque
considera como primeira constituição);
9. Inquisição a partir de D. João III;
10. Sucessão do cardeal D. Henrique e as cortes de Tomar (tendo Filipe I se comprometido
a respeitar o direito português);
11. Restauração da independência;
12. Deposição de Afonso VI;
13. Novo código e discussão pela constituição (1778);
14. Deslocação da família real para o Brasil em consequência das invasões francesas;
15. Súplica pela constituição.

Normas que enformavam a constituição histórica e material:

1. Leis fundamentais da convenção expressa ou tácita entre o povo e o príncipe – atas


das cortes de Lamego – garantiam os direitos invioláveis.
 Limitação do poder dos governantes;
 A rigidificação compromissória do processo modificativo das normas
constitucionais;
 A existência de matérias reservadas ou dependentes da intervenção das
Cortes;
 Centralidade da vida política pelo órgão de topo do poder executivo;

Era constitucional (posterior a 1820)

1. Constitucionalismo liberal;
2. Constitucionalismo antiliberal;
3. Constitucionalismo para-democráticos e democráticos.

Constituição de 1822 (23 de setembro):

 Vigência teórica de 8 meses e prática durante a ditadura de Passos Manuel (1836 3


1838);
Foi a primeira constituição formal. No momento estava desatualizada pela proclamação de
independência do Brasil. O rei perde os seus poderes pois está subordinado á constituição –
“jura” sobre a constituição. O rei não detém veto absoluto e não pode dissolver as cortes.

O parlamento era, nesta altura, unicameral e a constituição foi a primeira a consagrar os


designados direitos sociais.

A revolução em vila franca (designada por vila francada) em 1823 impôs a cessação de vigência
da constituição. E um ano depois na Abrilada, D. Miguel é levado ao exílio.

Em 1826 é elaborada a carta constitucional, inspirada pela carta francesa de 1914 e do


pensamento de Benjamim Constan. Na carta constitucional são consagrados os três poderes: o
executivo, o legislativo e o judicial.

Poder legislativo:

 Pertence às cortes;
 Os diplomas das cortes precisam da aprovação do rei – sanção régia;
 Os ministros eram da confiança do rei – o poder executivo pertencia ao rei;
 Sistema de monarquia limitada, mas quem assumia a responsabilidade dos atos do rei
era o ministro que fazia a referenda desses atos;

No governo de D. Miguel são repostas as leis fundamentais e em 1834 é reposta a carta


constitucional que dura até 1836.

Setembrismo – é reposta a constituição de 1822. O governo pode alterar o seu texto.

Em 1837 elegem-se novas cortes constituintes que aprovam uma nova constituição em 1838 –
permite ao rei dissolver as cortes. Baseia-se no modelo orleanista.

Em 1842 repõe-se a 3ª vigência da carta constitucional

Em 1910 dá-se a proclamação da república e publica-se uma nova constituição em 1911. No


entanto, existiram três ruturas importantes perpetradas por Pimenta de Castro e por Sidónio
Pais.

Mais tarde é derrubada a primeira república e instala-se a ditadura militar entre os anos 26 e
33. A partir de 33 Portugal é governado pelo Estado Novo.

 A constituição de 1933 defendia um estado intervencionista. Era profundamente


antiliberal e que tinha como modelo uma república corporativa baseada na doutrina
social da igreja católica. É antiparlamentarista, contrária á constituição de 1911;
 O presidente do concelho de ministros era o eixo da vida política portuguesa;
 Em termos de direitos sociais a constituição era generosa;

Entre os anos de 74 e 76 Portugal viveu mais um interregnum constitucional. Havia um conflito


entre duas legitimidades: a militar e a democrática que era enfatizada pelos partidos políticos.

A constituição de 1976 consagra os seguintes órgãos de soberania:

 O presidente da república;
 A assembleia da república;
 O governo;
 Os tribunais;
 O concelho da revolução

A constituição inicialmente apontava para o modelo económico de matriz marxista.

Ocorreram importantes revisões constitucionais nos anos 82 e 89.

Entre os anos 1976 e 1989 não existe uma única nacionalização aliás, durante este período
assistiu-se a um processo de privatização de empresas estatais.

A constituição pode ser vista:

 Identidade de valores/axiológica;
 Identidade estrutural;
 A relação da CRP com os seus antecedentes nacionais e a influência que outras
constituições estrangeiras tiveram nas normas da constituição.

Todas as constituições transmitidas uma ordem de valores, não há constituições neutras. É


uma síntese de valores de uma sociedade.

A constituição dá unidade ao sistema jurídico. A ordem de valores da constituição vai estar


presente em todo o sistema jurídico. O SJ tem de estar em conformidade com a ordem de
valores da constituição.

Identidade axiológica da CRP

 A constituição consagra um estado de direitos humanos – ideia de direito;


 A constituição consagra um estado de direito democrático – os critérios
teleológicos do projeto político;
 A constituição na sua projeção organizativa afirma-se como um estado de
soberania internacionalizado e europeizado – o modelo de inserção externa do
estado;
 A organização interna dos elementos do estado conduz a um estado unitário e
descentralizado;

Portugal é um estado unitário e descentralizado. Os tribunais e órgãos de soberania devem


agir em conformidade com esta ordem de valores. O direito ordinário deve ser interpretado
em conformidade com a constituição.

E quando há conflitos de valores?

 A nossa constituição e outras estrangeiras são plurais e compromissórias, com uma


ordem de valores heterogénea e aberta.
 Ou os valores em conflito são ambos tomados em consideração ou prefere-se um ao
invés do outro.
 Existe uma hierarquia de valores, um valor é superior aos outros.
 Se os valores são ambos da mesma hierarquia, ou seja, são ambos de igual valor há
que ponderar ambos os valores, á luz do princípio da proporcionalidade.
 O tribunal constitucional é quem decidirá nos casos que lhe são apresentados, sobre
esta hierarquia.

Dimensão temporal da ordem de valores da CRP

Quanto maior é o tempo de vigência de uma constituição, mais provável é a alteração


da sua ordem de valores;

Também um ato de vontade ou um costume contrário á lei podem alterar uma ordem;
a mudança pode conduzir a uma outra constituição material. Na transição constitucional
muda-se a identidade material da constituição.

Alteração do texto constitucional de Portugal

 A eliminação do princípio socialista;


 Mitigação/ reconfiguração da soberania, pois Portugal integra a EU;
 Alteração do sistema de governo;
 Constituição económica (a CE de Portugal está presente na constituição da EU).

Vertentes da identidade axiológica

 Estado de direitos humanos, mas em Portugal é incompleto;


 A dignidade da pessoa humana precede a vontade popular;
 Há direitos fundamentais que não podem ser suprimidos;
 Proteção internacional dos direitos humanos;
 Eficácia reforçada dos direitos fundamentais;
 Máxima efetividade das normas sobre direitos;
 Poder político democrático;
 Ordem axiológica justa;

O estado de direitos humanos é o estado que se alicerça na pessoa humana e tem como
valores principais a liberdade, a dignidade e a justiça – que também funcionam como limites
ao poder. O estado de direitos humanos é um estado de direitos fundamentais e é constituído
sobre a dignidade da pessoa humana como a pedra angular e o respeito por essa mesma
dignidade. O que caracteriza o estado de direitos humanos?

- A garantia e a defesa da cultura da vida: a inviolabilidade e irrenunciabilidade da vida


humana; princípio da solidariedade;

- Vinculação internacional á tutela dos direitos fundamentais: a constituição internacional tem


primado sobre as constituições de cada estado, estão, portanto, subordinadas;

- Normas constitucionais têm uma ética reforçada, uma força jurídica própria: as normas são
dotadas de aplicabilidade direta e vinculam todas as entidades públicas e privadas (art.18º,
nº1, CRP);

- A existência de um poder político democrático: assenta em democracia humana, uma


democracia empenhada numa ordem de valores, ao serviço da pessoa humana;

- A existência de uma ordem jurídica axiologicamente justa.


O modelo perfeito de um estado de direitos humanos, reúne estas 6 características. Se não
existirem os dois primeiros requisitos, não existe estado de direitos humanos. Um estado que
consagra a pena de morte, nunca será um estado de direitos humanos.

Estado de direito democrático (2º e 108º): estado subordinado ao direito nacional e


supranacional. Tem como pressupostos:

 A soberania popular;
 O pluralismo de expressão e organização política: revela a natureza aberta e
participada dos projetos de concretização do modelo constitucional, segundo um
princípio de tolerância e, perante a diversidade e o relativismo de diferentes visões e
opiniões concorrentes que a democracia sempre envolve, á luz de uma metodologia
expressa na ideia de consenso de sobreposição, tudo sem prejuízo da prevalência da
ordem de valores decorrente do respeito pela dignidade humana e por uma cultura de
vida;
 O respeito dos direitos e liberdades fundamentais;
 Separação e interdependência de poderes.

O estado de direito democrático é um tipo de estado social: trata-se de uma manifestação


mais exigente do estado social de Direito dotado de uma componente político democrática,
pois visa implementar uma democracia política, económica, social e cultural, tendo como
objetivo último, nos termos do artigo 1º da Constituição a “construção de uma sociedade livre,
justa e solidária”. O estado de direito democrático é um estado ativo e envolve um modelo
político dinâmico, teleologicamente orientado para a prossecução de tais valores. A
Constituição de 1933 foi a primeira a consagrar um modelo de Estado social: os poderes
públicos passam a ter como tarefa a realização do bem-estar e da justiça social.

Instrumentos necessários para o aperfeiçoamento do estado de direito democrático:

- Realização do modelo de bem-estar da democracia económica, social e cultural;

- Aprofundamento da democracia participativa.

O estado de direito democrático desdobra-se em:

 Princípio do pluralismo – ligado ao princípio democrático;


 Princípio da juridicidade;
 Princípio do bem-estar

Modelos de democracia:

 Vontade orgânica da maioria do povo - Positivismo legalista – o direito só é a lei;


 Vontade inorgânica da nação – espírito do povo (10º) - Escola histórica do Direito –
costume como fonte de direito (78º);

O que é mais democrático?

- Revisão constitucional;

- Costume contrário á constituição

Pluralismo

O princípio democrático postula:


- Tolerância recíproca;

- Igualdade de oportunidades;

- Consenso estrutural (apesar do resultado final, concordo com as regras de jogo)

Não há pluralismo sem o respeito dos direitos fundamentais e vice-versa. Liga-se á legitimação
democrática de poder que depende dos partidos. O pluralismo está subjacente na organização
do poder e na organização participativa. Estado e cultura ao serviço da pessoa humana.

Limites ao pluralismo: 46º/nº4

Juridicidade

 Subordinação do estado ao Direito;


 O problema da obediência ao direito inválido;
 Reversibilidade das decisões – nada é eterno;
 Segurança e tutela da confiança – mas não pode haver mudanças bruscas;
 Subordinação de todo o poder político ao princípio do 266º/nº2;
 Direito á tutela jurisdicional efetiva (20º);

O Estado de juridicidade tece um apelo á consciência jurídica geral fazendo da natureza


sagrada e inalienável da dignidade de cada pessoa humana viva e concreta o cerne da ideia de
Direito justo, subordinando o próprio texto constitucional, determina que o estado de direito
material se funde na efetividade de cinco postulados estruturantes:

1. O respeito e o dever de proteção da vida humana e de uma existência condigna de


cada ser humano;
2. A proibição de utilização da pessoa humana como meio;
3. O direito ao livre desenvolvimento da personalidade de todos os seres humanos;
4. A proibição do arbítrio;
5. O direito de recusar cometer uma injustiça e de recusar participar na prática de uma
injustiça.

Bem-estar

 Fiscalização da constitucionalidade e da legalidade das normas;


 Controlo da legalidade da atuação administrativa;
 Responsabilidade civil dos poderes públicos, e criminal dos titulares de cargos
políticos;
 Direito de resistência, de obediência e de insurreição.

Componentes axiológicas da constituição:

Portugal é um estado com uma soberania internacionalizada e europeizada. A soberania


articula-se com a independência nacional. Portugal é titular de soberania e esta divide-se em:

- Soberania no plano político;

- Soberania no plano territorial;

- Soberania no plano social


Mas tem uma soberania limitada:

- Portugal insere-se no contexto internacional (carta das nações unidas; DUDH; DIPúblico
comum imperativo para todos os estados – ius Cogens).

- Portugal é um dos estados livres que integram a EU; é uma heterovinculação mas de base
autovinculativa pois existia uma vontade de Portugal em fazer parte da EU. No plano
internacional não existe essa autovinculação. O Direito internacional é aplicado mesmo contra
a vontade das nações.

- Europeização:

- Cláusula constitucional (art.7º e 8º);

- Soberania deslizante entre Lisboa e Bruxelas

Portugal é um estado unitário e descentralizado (art.3º, nº1 e 6º da CRP). A constituição afirma


a natureza soberana da república e reconhece a unidade e a indivisibilidade da soberania,
fazendo-as projetar na configuração dos poderes internos do Estado, criando, deste modo,
uma interdependência entre a soberania e a unidade do poder estadual que justifica a
natureza unitária do estado.

Portugal tem o poder de definir a competência das competências dentro dos seus limites
territoriais; o estado é quem define a competência das competências inferiores;

- O estado tem uma competência residual;

- A CRP é a garantia última da unidade do estado;

- A lei fundamental do estado;

- Fiscalização da constitucionalidade e da legalidade por parte dos tribunais que são do Estado.

Mas existem outras entidades públicas (art.6º)

A descentralização significa sobretudo:

- A autonomia regional;

- O princípio da subsidiariedade (as competências pertencem às entidades públicas menores


salvo exceções; nestes casos pode-se então atribuir tais competências ao Estado);

- O princípio da autonomia autárquica/poder local;

- Descentralização ao nível de outras entidades públicas. Ex: autonomia universitária (art.76º).

Como é que a unidade da nação se afirma?

- Há interesses gerais da coletividade que justificam o protagonismo do estado, protagonismo


esse que é manifestado através de duas figuras:

1. O princípio da prevalência do direito do estado;


2. O princípio da supletividade do direito do estado;

O primeiro dos dois princípios significa que o direito do estado tem primado nos direitos e
normas de outras entidades públicas (art.205º, nº2 CRP). Também, os estatutos das regiões
autónomas são uma lei da AR. As leis de bases (diplomas legislativos da república que definem
princípios estruturantes das regiões). E ainda existem igualmente os regulamentos do governo
(241º CRP).

O segundo destes princípios está consagrado no art.228º, nº2 da CRP e diz-nos que mesmo nas
matérias atribuídas aos entes infra-estaduais públicos, caso estes não elaborem normas sobre
essas matérias ou se essas matérias forem elaboradas e possuírem lacunas ou a solução por
elas elaborada é ilegal, aplica-se o direito do estado.

IDENTIDADE ESTRUTURAL

- A constituição é compromissória, aberta e transfigurada!

A constituição é compromissória:

- Em termos genéticos;

- Em termos normativos;

- Em termos aplicativos;

- Em termos político-procedimentais;

A constituição é também uma constituição aberta:

- Ela é aberta pois a sociedade é aberta;

- A abertura da CRP é estrutural e não é definitiva, devido às revisões constitucionais;

- Tem ainda uma abertura normativa, pois a constituição pode atribuir valor constitucional a
outras normas. Ex: art.8º, nº1; art.29º, nº2; art.8º, nº4; art.33º, nº5; art.16º, nº1.

- A constituição é aberta a normas costumeiras (constituição não oficial);

- Existe também uma abertura política á alternância democrática. Uma maioria pode ser
substituída por outra; a participação dos cidadãos na vida política contribui para esta abertura;
e frisa-se também a liberdade conformadora do legislador – art.209º/nº2 CRP;

- Abertura interpretativa: a CRP de uma sociedade aberta é aberta a uma pluralidade de


interpretações e de pré-compreensões interpretativas - o tribunal constitucional é o intérprete
último da CRP; mas será realmente o tribunal constitucional esse intérprete último ou será
antes a AR? Quem faz a interpretação autêntica é a AR e corrige certas interpretações do
tribunal constitucional – 205º/nº2;

- A constituição encerra uma grande complexidade na interpretação dos seus conceitos, pois
há princípios gerais que postulam conceitos indeterminados e vagos – existem conceitos
pressupostos pelo legislador constituinte: a CRP serviu-se da linguagem existente que revela
conceitos anteriores á CRP. Ex: capacidade jurídica, menor e casamento.

Há conceitos constitucionais que remetem para as leis (art.4º; art.41º, nº6 – há conceitos que
remetem para normas extrajurídicas. Ex: vida humana (art.24º); método de Hond;

- Existe também uma abertura implementadora: normas constitucionais que não são
exequíveis por si mesmas. Ex: objeção de consciência nos termos previstos na lei.
Limites á abertura da constituição:

- Limites decorrentes da revisão constitucional; da cláusula de estado de direito democrático;


da liberdade de associação; …

- Sistema de fiscalização da constitucionalidade;

- Cláusula constitucional do estado de direito democrático;

- Limitação da liberdade de associação;

- Intervenção jurídico-criminal: o direito penal político.

Constituição transfigurada

É um organismo vivo, vai modificando a sua imagem:

- Sofreu várias revisões constitucionais;

- Ao longo de 47 anos de vigência da constituição, ela pode ter sofrido uma transição
constitucional;

- Simples decurso do tempo: o desenvolvimento constitucional (mudança por via interpretativa


das normas constitucionais) – o decurso do tempo gerou uma constituição universal.

Fatores que levam á transfiguração:

- O decurso do tempo e a gestação de uma normatividade “não-oficial” subversiva;

- O peso da herança histórica do estado novo;

- A intervenção dos partidos políticos;

- A integração europeia e o seu aprofundamento;

- A erosão do domínio reservado do estado e o constitucionalismo transnacional.

Manifestações de transfiguração:

- Desatualização da constituição económica oficial;

- Subversão do significado das eleições parlamentares e o sistema de governo “não-oficial”: o


presidencialismo de PM;

- Preponderância funcional do GOV sobre a AR;

- Metamorfose degenerativa do “Estado de partidos” em “Estado do partido governamental”;

- Diluição do poder constituinte formal da AR.

IDENTIDADE RELACIONAL

- Todos nós temos um apelido que nos liga aos nossos pais. Também nas constituições se passa
o mesmo (tem fontes e influências históricas).

- Todas as constituições portuguesas anteriores, influenciaram a constituição vigente;


- Também as constituições estrangeiras influenciaram a nossa (França, Itália, Alemanha,
Jugoslávia).

Há também influência portuguesa noutros textos constitucionais (Constituições espanhola,


brasileira, PALOP, e a de Timor-Leste).

Há certos casos de plágio constitucional. Ex: a carta constitucional de 1826 é um plágio da


constituição brasileira de 1824.

Há limites para esta identidade relacional:

- Inserção teleológica;

- Localização sistemática das normas dentro texto constitucional;

- A vivência institucional a que as normas estão sujeitas;

- Sujeição da normatividade constitucional a diferentes processos de interpretação ou


densificação do seu conteúdo.

ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO

O poder é uma disponibilidade de meios para atingir um certo fim. A ideia de poder
está ligada a uma imposição bilateral, pode impor aos outros um comportamento. Envolve
imposição, autoridade e o pressuposto de dever e de obediência.

O poder político é uma atividade humana que pertence aos seres humanos e tem o propósito
de conquistar, manter e exercer esse mesmo poder. Ao poder político compete a definição das
opções essenciais da coletividade.

A organização do poder político está estruturada em torno dos princípios fundamentais da


OPP.

Princípios materiais da regulação constitucional da organização do poder político

Princípios da organização e funcionamento do poder político

 Princípio da separação e interdependência de poderes

Há uma pluralidade de estruturas decisórias e núcleos essenciais da função que são


atribuídos a certos órgãos. Não obstante há interdependência na sequência do entendimento
de Montesquieu. O poder tem a faculdade de estatuir e de impedir.

Limitar o poder é a garantia da liberdade – mas há também o afloramento da ideia de


poder moderador. Também existe a garantia dos cidadãos no seu relacionamento com o poder
– provedor de justiça.

Temos assim uma tripla aceção da separação de poderes. A violação deste princípio
gera inconstitucionalidade orgânica – viola o funcionamento dos órgãos.

 Princípio da equiordenação dos órgãos de soberania


Todos os órgãos constitucionais estão no mesmo plano – paridade e igualdade entre as
estruturas orgânicas previstas na CRP – resulta do art.108º CRP. Mas existem alguns limites:

- As decisões dos tribunais gozam sempre de prevalência sobre todos os demais órgãos –
205º/2º - resultado evidente do estado de direito democrático e da independência do sistema
judicial;

- A competência autorizada legislativa do GOV deve respeitar as leis da AR (112º/2º);

- Casos previstos na CRP de vínculo hierárquico:

- Agentes do MP obedecem ao procurador-geral da república;

- Chefias militares em relação ao poder civil;

- Dentro das próprias forças armadas, que tem como comandante supremo o PR.

 Princípio da pluralidade de vinculações constitucionais

Os órgãos constitucionais relacionam-se entre si e devem obedecer a:

- Solidariedade – pressupõe a confiança no governo;

- Cooperação – os órgãos detentores do poder político devem cooperar entre si;

- Respeito institucional – é o mínimo ético comum entre o relacionamento de todos os


órgãos constitucionais. Há uma pós-eficácia no dever do respeito institucional.

 Princípio da continuidade dos serviços públicos

Os membros do governo demitido mantenham-se em funções até á tomada de posse


do novo governo. Não podem existir zonas de vazio no exercício do poder. Mas há limites:

- O caso em que o próprio titular do poder político morre em funções;

- Circunstância de escândalo público.

PODEM OS MEBROS DO GOVERNO FAZER GREVE??

 Princípio da auto-organização interna

Todos os órgãos têm sempre uma autonomia para definir como se organizam (198º/2º
e 175º/ al.c)).

 Princípio da responsabilidade

- Política;

- Civil;

- Disciplinar;

- Financeira;

- Criminal

Limites:

- Não há responsabilidade disciplinar dos titulares de cargos políticos;


- Art.157º/nº1.

- Art.216º/nº2.

 Princípio maioritário

Relaciona-se com a ideia de democracia: a força da maioria está pelo respeito da


minoria. É um critério de decisão e não um critério de verdade. Mas qual a sua importância?

- Expressa-se nos atos eleitorais;

- Expressa-se no funcionamento dos órgãos colegiais (art.116º);

- Relaciona-se com o princípio da solidariedade.

 Princípio da imodificabilidade da competência

A competência não é modificável a não ser:

- Com base em expressa disposição constitucional (168º???);

- Só se a lei o permitir, caso a competência esteja prevista na lei.

Uma competência implícita está subjacente a uma norma de competência explícita/expressa


ou a que resulta da definição de fins (art.9º).

 Princípio da competência dispositiva

Quando a CRP atribui competência, o seu destinatário pode exercê-la ou não. Quem
tem competência para praticar um ato, tem competência para revogá-lo e para não o praticar.

Mas há limites:

- Há casos em que a CRP analisa(fixa???) determinados pressupostos para o exercício da


competência;

- Há casos em que a competência é vinculada.

 Princípio do autocontrolo da validade

Cada órgão público tem a obrigação de fiscalizar a sua própria conduta.

- Coloca-se ao nível da competência;

- Um órgão incompetente tem competência para revogar os atos que emanou;

- Esta revogação deve ser retroativa;

- O princípio da confiança é um limite á retroatividade.

Princípio da responsabilidade – princípios de organização e funcionamento do pp.

O princípio democrático traduz a ideia de que o princípio da responsabilidade é sempre um


serviço, um mandato, sujeito a prestação de contas, e não um privilégio outorgado em
benefício do seu titular: responsabilizar quem exerce o poder pelo modo como esse poder é
exercido revela também uma forma de interdependência limitativa do poder.
Art.271º CRP: todos os intervenientes no exercício do poder, exerçam ou não cargos políticos,
são responsáveis pelas respetivas condutas. Este artigo é bastante mais abrangente que o
art.117, nº1 CRP.

Todo o exercício do poder encontra-se sujeito aos princípios da responsabilidade civil e da


responsabilidade criminal; os titulares de cargos políticos encontram-se ainda sujeitos a
responsabilidade política; os funcionários e agentes públicos estão ainda sujeitos a
responsabilidade disciplinar.

PRINCÍPIOS RESPEITANTES AOS TITULARES DO PODER POLÍTICO

1. Princípio da legitimação democrática

Todos os titulares do pp. Tem legitimidade democrática. Esta legitimação encontra o


seu fundamento no art.108º da CRP, sendo definido que o poder político pertence ao povo. No
art.21º/nº3 da DUDH refere-se o seguinte: “a vontade do povo é o fundamento da autoridade
dos poderes públicos; e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar
periodicamente por sufrágio universal, igual, com voto secreto ou segundo processo
equivalente que salvaguarde a liberdade de voto”.

2. Princípio da renovação

Ninguém é titular vitalício do poder. Há limites á renovação dos mandatos. Uma única
exceção é o caso dos membros do conselho de estado. A realização periódica de eleições
decorrente da exigência da legitimidade democrática imprime um limite á renovação dos
mandatos – resulta do 118º/1º. Os detentores da soberania não são os titulares de cargos
políticos, mas o povo, razão pela qual a autoridade daqueles é sempre efémera.

3. Princípio da fidelidade á constituição

Tem como afloramento máximo o juramento do PR (127º/3º) – dever de fidelidade á


CRP. Esta fidelidade deve entender-se como comum a todos os titulares de cargos públicos.
Primeiramente significa o dever de não violar a CRP – o dever de agir em conformidade. Não é
necessário o juramento de todos os titulares de cargos políticos, mas todos estão vinculados a
cumprir a CRP. O exercício do poder político far-se-á nos termos da constituição (108º).
Também a existência de um mecanismo de fiscalização da constituição traduz precisamente a
ideia de um dever de fidelidade á constituição.

4. Princípio da responsabilidade pessoal

A pessoa (titular do poder político) é a responsável. Importa sublinhar a


responsabilidade civil do titular do órgão consagra a existência de uma responsabilidade
solidária, o que significa que aquele que está lesado tanto pode pedir indemnização á PC como
ao próprio titular.

5. Princípio da titularidade de situações funcionais

Quem exerce poder, para além de poder ter prerrogativas próprias para o exercício
desse poder, pode também estar sujeito a um conjunto de deveres e onerações. As situações
funcionais são limitadas por:
- A proporcionalidade;

- A igualdade;

- A imparcialidade;

- A existência de uma pós-eficácia de deveres funcionais;

Estas situações são inerentes á dignidade do cargo. Logo não são renunciáveis.

6. Princípio da proibição da acumulação de funções

Art.269º/4º - os titulares de cargos políticos não podem acumular funções (políticas,


públicas, privadas). Ex: o Presidente da AR (ou o deputado que o substitua) que exerça as
funções de presidente da república interino terá o respetivo mandato parlamentar
automaticamente suspenso, isto durante o período de tempo que durar o exercício de tais
funções a título substitutivo (art.132º/nº2). De tudo isto deve extrair-se á luz do princípio da
separação de poderes, que o exercício de funções como deputado é incompatível com o
exercício de funções como PR…

7. Princípio da proibição do abandono de funções

Quem exerce funções públicas não pode abandonar o exercício dessas mesmas
funções. Quem assume uma responsabilidade de assumir uma função tem dever de diligência.
Tem sempre que existir a continuidade das funções governativas. Mesmo perante um pedido
de demissão jamais o PM demissionário pode deixar de executar o seu dever institucional. O
interesse coletivo goza de imperatividade e prevalência sobre o interesse demissionário
privado.

8. O princípio da renunciabilidade ao cargo

Podem existir renúncias aos cargos políticos. A renúncia exige uma aceitação (art.195º,
nº1, al. b)) e, isto deve-se ao facto de se garantir a continuidade dos serviços públicos.
Ninguém pode ser obrigado a exercer funções quanto ao próprio cargo – envolve uma
declaração expressa.

Princípios sobre as fontes reguladoras da organização do Poder Político

Princípio da não exclusividade da configuração formal do pp.

O poder político formal

As fontes que são elaboradas pelo pp são intencionais. O exercício do pp faz-se sempre
“segundo as formas previstas” ou “nos termos” da CRP – a atribuição ao povo da sede da
soberania (art.3º/nº1) e da titularidade do pp., não envolve a sua disposição de forma
anárquica ou ajurídica.

A soberania popular encontra-se, deste modo, conformada e organizada por uma ordem de
direito constitucional: não há relevância jurídica da soberania popular fora dos quadros
definidos pela CRP, razão pela qual, em vez de uma democracia popular sem lei, o pp se
fundamenta numa democracia constitucional. O pp está subordinado á lei (art.3º/nº1).
Manifestações do pp formal – a vinculação do pp á CRP:

 O exercício do pp supremo é confiado a órgãos de soberania que, tipificados pela CRP


– 110º/nº1 – que nela encontram a sua definição, formação, composição,
competências e funcionamento;
 Os restantes órgãos constitucionais encarregues do exercício do pp encontram na CRP
a norma definidora da sua configuração institucional e dos seus poderes ou, pelo
menos, a habilitação que permite á lei proceder á definição complementar das regras
sobre a sua composição, competência e funcionamento;
 Os procedimentos de legitimação democrática dos titulares eletivos do pp encontram-
se fixados pela CRP.

Observa-se então a subordinação dos termos de exercício do pp ao quadro normativo


constitucional. O poder político é, segundo a CRP, única e exclusivamente, o poder por ela
criado, moldado e conforme: só o poder formalizado e formatado pela CRP é poder legítimo.

Também encontramos uma manifestação do pp formal através da regulação de um estado de


exceção constitucional – a CRP delimita e regula o estado de sítio e de guerra, estado de
absoluta exceção constitucional. Há uma preocupação de formalizar e normatizar a exceção
(art.19º).

Uma outra manifestação do propósito constitucional de garantir o monopólio regulador das


formas de exercício do pp. Consiste em definir os termos de intervenção da vontade do
eleitorado: a CRP tem o firme propósito de, limitando as formas de intervenção decisória do
povo, “domesticar” o titular último da soberania. Formalmente sempre se poderá dizer, que o
exercício do pp. Pelo povo se faz “nos termos da constituição”.

Há, todavia, contestações teóricas dos pressupostos constitucionais tradicionais:

- Existe um pp informal. Há uma norma não escrita pela qual é o poder constituinte soberano
do povo “que não só cria a constituição positiva como a sustenta e lhe confere validade, e não
ela que sustenta e confere competência ao poder constituinte e lhe fixa quaisquer limitações”.
Sieyes: a nação identificada com o povo e dotada de uma vontade comum, existe antes de
tudo e é a origem de tudo: a nação tem o direito exclusivo de fazer a Constituição e a sua
vontade “é sempre legal”, pois personifica a própria lei. A nação, sendo “sempre senhora de
reformar a Constituição”, pode exercer esse direito independentemente de qualquer forma ou
condição, nunca lhe sendo possível renunciar á qualidade de nação, nem se vincular a ser de
determinada maneira: “a vontade comum não pode autodestruir-se”;

- É um equívoco que a CRP tenha uma força normativa ilimitada; depende do grau de
obediência dos seus destinatários;

- É hoje um mito a “omnipotência” da CRP – a CRP nacional não é a única fonte de Direito (o
costume e o DInternacional e o DUE regulam também o pp.);

- Há princípios jurídicos fundamentais que se impõem ao texto escrito constitucional;

- Por outro lado há um poder político não regulado na CRP, um pp constituinte informal que
acompanha a constituição, e um poder de exteriorização informal dos titulares de cargos
políticos – um poder de expressar a sua vontade através de discursos políticos e entrevistas.
Este é um poder que condiciona.
Limites ao poder informal de exteriorização dos titulares de cargos políticos:

- A competência constitucional do órgão;

- Um dever de fidelidade ao quadro de valores da CRP – um dever de contenção;

- Princípio da prudência e do autocontrolo – regras de cortesia constitucionais;

- O exercício do poder de exteriorização nunca pode envolver desrespeito pela vinculação que,
sendo aplicável ao caso concreto, resulta do princípio da solidariedade, cooperação e respeito
institucional.

NOTA: Se a soberania reside no povo e a ele pertence o pp., negar á coletividade a expressão
informal de uma vontade geradora de direito, conferindo às fontes formais o monopólio ou o
exclusivo na definição do direito, será a negação do próprio princípio democrático.

- Existe também um quarto poder – depois dos poderes legislativo, executivo e judicial – o
poder dos meios de comunicação social e redes sociais. Não estranha, por isso, que os
governantes temam mais os efeitos eleitorais motivados pelas denúncias das manchetes que
encontram nos meios de comunicação social do que as moções de censura: nos meios de
comunicação social reside hoje a principal garantia política da democracia. Mussolini: “tudo
nos mass-media, nada fora dos mass-media, nada contra os mass-media”;

- Existe por fim um poder oculto – o poder dos bastidores – que se encontra sobretudo nos
lobbies ou grupos de pressão. A democracia por vezes afigura-se como uma democracia de
bastidores. É um poder irregulado e com impactos superiores ao expectável e detetável.

Princípio da não exclusividade das fontes normativas formais na regulação do pp

Nem todo o direito é produto do Estado ou oriundo da sua vontade (Kelsen) da mesma
forma que nem todo o direito regulador do pp é oriundo de normas da Constituição escrita – a
juridicidade de um estado (vinculatividade deste ao Direito) não se esgota na legalidade
normativa democrática – há assim um princípio da não exclusividade das fontes normativas
formais de regulação do pp – tal deriva dos seguintes factos:

 Existe uma ordem de valores suprapositiva, traduzida na chamada “Consciência Geral


Jurídica Geral” que heterovincula o pp de cada estado – tramitando-se em princípios
jurídicos fundamentais constantes das normas do ius cogens que podem ser
instrumentais na configuração formal do pp – no que concerne á obrigação de
separação de poderes; á vinculação do pp. aos direitos fundamentais, etc;
 A existência de uma permeabilidade do sistema jurídico á factualidade. A factualidade
pode gerar direito. Ex: falta de normatividade de uma norma, ou uma norma
desprovida de efeitos práticos – pode surgir uma normatividade não oficial. Os factos
com força normativa são o costume, as praxes constitucionais, as convenções
constitucionais e precedentes constitucionais;
 Os precedentes constitucionais, que correspondem a um instituto admitido pelo
paradigma constitucional e pela OJ, são instrumentais na regulação do pp – em termos
genéricos um precedente traduz o simples registo de um comportamento ou de uma
conduta decisória num determinado momento e face a um quadro específico de
circunstâncias de facto e de direito – uma prática atual na resolução de casos mostra-
se passível de criar uma vinculação factual ao seu órgão constitucional o que pode
determinar a ação da mesma conduta no caso futuro ( princípio da igualdade e tutela
da confiança);
 Também o estado de necessidade se traduz num marco de normatização de uma
situação inobservante dos princípios formais;
 Existe ainda uma normatividade não incorporada – baseada na circunstância do estado
de sítio, por exemplo – todas as circunstâncias que tenham que ver com paradigmas
excecionais de legalidade e de constitucionalidade – há uma ampla permeabilidade
adaptacional da CRP;
 A relevância dos fenómenos revolucionários. Sempre se observam processos ajurídicos
e violentos de alteração da ordem constitucional vigente. Mas a revolução, no
entanto, nunca é isenta de efeitos ao nível do ordenamento jurídico que a não prevê
ou do sistema jurídico que formalmente a desconhece. Nenhum facto se revela mais
gerador de direito do que uma revolução.

Princípio da não exclusividade das fontes jurídico-políticas reguladoras do pp.

Nem sempre a regulação e a disciplina da vida constitucional são pautadas por regras
jurídicas, decorre de uma normatividade extrajurídica, baseada e fundada na circunstância de
fontes não jurídicas:

- Art.169º;

- Art240º;

Normatividade técnico-científica: observando a CRP verificam-se seis principais setores da


normatividade técnico-científica que exercem uma função reguladora do poder político:

 Regras matemáticas;
 Regras de contabilidade;
 Regras económicas e financeiras;
 Regras de biomedicina;
 Regras de engenharia;
 Regras de informática (art.35º).

Normatividade moral e ética: não sofre hoje qualquer tipo de contestação que a moral exerce
uma influência sobre o Direito – incluindo sobre a normatividade constitucional – a dois níveis:

- A moral e a sua inerente ordem axiológica exercem uma influência direta na


formação e no conteúdo de certas normas constitucionais (art.266º/nº2 e 26º/nº1);

- As valorações de conteúdo ético encontram-se sempre presentes na influência que


exercem ao nível das pré-compreensões interpretativas e decisórias das normas
constitucionais.

Será que a moral é objeto de receção constitucional, exercendo uma função reguladora do
poder político?

- Art.29º/nº2 da DUDH;
- Observa-se também a existência de uma dimensão “eticizante” ou “moralizante” na
subordinação da atividade administrativa aos princípios da justiça e da boa-fé.

- A garantia do direito á objeção de consciência (art.46º/nº1)

Normatividade de trato social: são normas de cortesia constitucional

- Normas de boa educação;

- Normas de urbanidade;

- Normas de etiqueta

Mas qual a jurisdição destas normas? Devem ser hoje, algumas destas normas, pensadas á luz
da CRP?

ESTRUTURAS CONSTITUCIONAIS DA REPÚBLICA

ÓRGÃOS DE SOBERANIA

Presidente da república

O PR é o único órgão de soberania unipessoal, composto por um único titular. É um


órgão autónomo em relação á AR e ao GOV. Tem algumas funções nucleares, nomeadas no
art.120º:

 O PR representa a república;
 O PR pode dissolver a AR;
 O PR tem representação externa;
 O PR é o garante público da CRP; é a chave dos demais poderes e possui o poder
moderador – fiscaliza o GOV, resolve conflitos entre GOV e sindicatos e ainda tem o
poder moderador de exceção;
 O PR é o comandante supremo das FA.

Qual é o estatuto do PR?

- É eleito por sufrágio direto;

- Tem um mandato de 5 anos;

Em que situações se pode determinar a antecipação do mandato de 5 anos do PR?

- Em caso de morte ou incapacidade física permanente;

- Ausência do território nacional não autorizada;

- Destituição do cargo por crimes praticados no exercício das funções;

- O abandono das funções permanecendo no território nacional;

- A renúncia;

E quando pode o PR ser substituído?

- Pode haver substituição em caso de vagatura do cargo;

- Pode haver substituição em caso de impedimentos temporários.


Por crimes praticados no exercício das funções ver o 130º e por outros crimes ver o 134º/nº4.

O PR tem 3 tipos de competências:

- Quanto a outros órgãos;

- No âmbito das relações internacionais;

- Para a prática de atos próprios.

Existem poderes que pode exercer livremente e poderes que dependem da intervenção de
outros órgãos constitucionais.

1) Poderes de exercício vinculado: são poderes obrigatórios; o PR não dispõe de qualquer


liberdade, quer de decisão sobre a celebração do ato, quer de decisão sobre o seu
conteúdo – 136º/nº2 e 286/nº2;
2) Poderes de exercício condicionado: o PR não dispõe de liberdade de decisão; mas só
pode exercer sob a condição da participação ou da intervenção de outros órgãos;
modelo de distribuição e separação de poderes – o PR só pode declarar estado de
emergência se tiver autorização da AR; o PR só pode demitir o GOV para assegurar o
regular funcionamento das instituições democráticas; o PR só pode nomear o PM e o
GOV, tendo em conta os resultados eleitorais; se um dos poderes se opuser, a vontade
final poderá não se manifestar, e isso é resultado da opção por um sistema de
separação e interdependência de poderes;
3) Poderes de exercício livre: são todos aqueles que o PR pode exercer com uma
substancial margem de liberdade conformadora, quer quanto á escolha do momento
do exercício do ato quer quanto ao conteúdo desse mesmo ato. Ex: o PR decide
quando e como vetar as leis propostas pela AR e pelo GOV; o PR decide como e
quando pedir a fiscalização preventiva dos diplomas.

Competências administrativas internas do PR: atribuem ao PR a faculdade de escolher, demitir


e nomear livremente os membros dos órgãos dos seus serviços internos – exprime um poder
de auto-organização interna.

Poder de promulgação:

- Art.136º e ss;

- Qualificação de um determinado ato como sendo de certo tipo, por parte do PR;

- Conhecimento qualificado do ato por parte do PR sobre o conteúdo do ato;

- Correspondente declaração solene do PR.

A falta de promulgação determina a inexistência jurídica daquele ato. E esta pode ser:

- Livre;

- Obrigatória;

- Vedada (o PR não pode, temporariamente, promulgar);

- Art.248º/nº4.

A promulgação é um poder de controlo, não é um poder de decisão, na medida em que,


quando o presidente promulga uma lei, não se corresponsabiliza com essa lei, pois não está a/
não tem de concordar necessariamente com esse ato, apenas considera que não existem
obstáculos para que esse diploma seja objeto de promulgação. A prática política tem vindo a
dar conhecer algumas situações curiosas, uma delas é a promulgação com reservas. São as
promulgações do PR em que promulga as leis, mas escreve reservas que retiram alguma da sua
credibilidade.

Regime da promulgação:

- O PR dispõe de 20 dias (caso a proposta de lei seja feita por parte da AR) para promulgar ou
vetar;

- Se o diploma vier do GOV, o prazo é de 40 dias (136º/nº1 e nº4)

O PR não pode fazer o chamado “veto de bolso”, ou seja, nem promulgar nem vetar, tem de
obrigatoriamente decidir-se sobre uma das duas possibilidades ou então envia a proposta para
a fiscalização da sua constitucionalidade por parte do TC.

Veto político:

- O PR obsta á produção de efeitos jurídicos de um dado diploma; é um poder do PR;

- É exercido através de uma declaração do próprio PR e devolve o diploma ao órgão que o


aprovou. O veto pode ser suspensivo (136º/nº2) ou absoluto – caso provenha do GOV;

Exercido o veto político a AR pode:

- Desistir do diploma;

- Confirmar o diploma – não é extensível ao GOV pois o veto é absoluto;

- Reformular o diploma;

Prática das devoluções informais do diploma – o PR não veta nem pede a fiscalização
preventiva, mas levanta dúvidas sobre o diploma.

Veto jurídico

- Recebido o diploma para promulgação o PR pode suscitar a fiscalização preventiva da


Constitucionalidade num prazo de 8 dias. Se o diploma vier do GOV, o GOV pode:

- Expurgar as normas julgadas inconstitucionais;

- Resignar e abandonar o diploma legislativo.

Se vier da AR, esta pode:

- Também fazer expurgar o diploma;

- Abandonar a proposta legislativa;

- Aprovar a medida por maioria de 2/3 no parlamento

O PR pode funcionar como árbitro e moderar os conflitos entre o TC e a AR, entre democracia
e CRP. Para Paulo Otero, o PR não poderá promulgar caso haja violação dos direitos, liberdades
e garantias.
SITUAÇÕES ESPECIAIS DO PR

O presidente eleito)

É o candidato que, tendo ganho as eleições, ainda não tomou posse como PR e ainda não
exerce funções como tal. É um período de transição entre dois presidentes. O presidente eleito
pode ser aquele que pela primeira vez, se candidatou e foi eleito, como pode ser o presidente
que, já estando a exercer poderes foi reeleito. Este presidente eleito não tem poderes
jurídicos, e estes poderes jurídicos estão na mão daquele que ainda é, dentro do seu mandato,
o PR.

O presidente interino)

É aquele que substitui nas suas ausências ou impedimentos o PR eleito. É o Presidente da AR,
quando está em substituição do PR. Duas observações importantes:

- O Presidente interino pode ser interino existindo PR, quando o PR está impedido, por
exemplo, quando o PR está doente;

- Um outro cenário é aquele em que há PR interino quando não há PR, porque o PR morreu no
exercício das suas funções, ou praticou um crime no exercício das suas funções, foi condenado
e demitido, ou se ausentou do território nacional sem autorização do parlamento.

O PR interino não tem exatamente os mesmos poderes que o PR, tendo uma competência
jurídica diminuída, tendo poderes que não os pode exercer e poderes que só pode exercer
conforme a prévia audição do conselho de estado – art.139º CRP.

O presidente substituído)

Aquele que, sendo PR, está impedido de exercer essas funções. Por exemplo, porque está
numa situação de doença e de incapacidade. O PR continua a ser PR, mas com uma
competência vazia, não podendo exercer poderes.

O ex-PR)

É aquele que cessou as suas funções, mas cumpre distinguir duas situações:

- Cessou funções, mas não permanece membro do conselho de estado – se, por exemplo, é
condenado por prática de crimes no exercício das suas funções, será destituído e excluído do
conselho de estado;

- Cessou funções, mas permanece membro do conselho de estado.

A AR

A AR é a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses, a representação


concentrada da sociedade. Esta representação é efetuada através dos partidos políticos. Quais
os princípios que constam da constituição em matéria da AR?

- Unicameralismo – a AR é constituída por uma única camara;

- Flexibilidade configurativa quanto ao número – o número de deputados varia entre 180 e


230, conforme fixação da lei ordinária;
- Flexibilidade configurativa quanto aos círculos eleitorais – a CRP permite que possa haver
círculos uninominais e plurinominais, isto é, um regime misto. Todavia, hoje só existem
círculos plurinominais. A CRP permite a existência de círculos eleitorais locais, isto é, para além
dos círculos eleitorais dos distritos X e Y que possa existir um círculo eleitoral nacional.

Auto-organização interna

O parlamento tem competência para elaborar o seu próprio regimento. Existe também uma
dependência do parlamento face ao PR:

- Ao PR compete marcar as eleições;

- Ao PR compete, se for o caso, dissolver o Parlamento;

- Todas as leis provenientes do parlamento estão sujeitas a promulgação por parte do PR – ou


seja, parlamento não pode expressar uma vontade legislativa sem a intervenção do PR;

- As propostas de referendo aprovadas pelo parlamento estão dependentes da intervenção


concomitante do presidente – ou seja, a AR não pode convocar referendo contra a vontade do
PR.

- Permeabilidade do parlamento á instrumentalização governamental - O parlamento pode ser


instrumentalizado pelo governo? Como? Quando há um GOV maioritário, assente numa
maioria absoluta o parlamento funciona ao abrigo da seguinte regra: “O GOV, quer, o
parlamento aprova. O GOV não quer, o parlamento rejeita”

A maioria política determina o voto do parlamento. Os deputados são coisas fungíveis, estar lá
A ou B é irrelevante, porque aquilo que importa é a disciplina partidária. Isto ocorre, porque
em Portugal, como no RU, o líder da maioria é o PM, e, portanto, o líder da maioria
parlamentar é líder do GOV.

Todavia existe um limite á instrumentalização governamental do Parlamento, o limite dos


direitos da oposição. A maioria não pode suprimir os direitos que a CRP consagra á oposição.
Daí que se diga a essência da democracia hoje reside no respeito pelos direitos da oposição.

- Princípio da complexidade da organização interna do parlamento: o parlamento pode


funcionar em plenário (230 deputados), em comissões que são um órgão restrito, podendo
existir comissões criadas ad hoc, comissões institucionalizadas pelo regimento da AR; para
além do plenário e das comissões, há também a comissão permanente – assegura em caso de
ausência ou de férias, a continuidade do funcionamento da AR; sublinhar a importância do PAR
e do PMAR;

- Princípio da permanência de funcionamento;

- Princípio da imunidade da sede parlamentar – as forças armadas ou as forças policiais não


podem entrar no parlamento sem autorização ou sem um pedido formulado pela autoridade
parlamentar competente.

Quanto aos deputados:

Eleição – art.151º

Respeita às candidaturas – com a particularidade de só poderem ser deputados quem aparece


em lista do partido político ou de coligação partidária, ainda que sejam independentes, mas
tem de estar dentro de uma lista, não sendo possível a existência autónoma de candidatos
independentes. Método de Hondt como critério. O mandato parlamentar é de quatro anos
com duas particularidades:

- O mandato só começa com a posse dos deputados. Nas últimas eleições parlamentares,
realizadas a 30 de janeiro de 2022, como houve uma vicissitude que levou á obrigatoriedade
de repetir eleições parlamentares no círculo eleitoral da europa, só tomaram posse em março;

- O mandato é de quatro anos, mas pode ser abreviado, pode ser abreviado por um conjunto
de razões:

- Quando há dissolução do parlamento;

- Por renúncia do próprio titular;

- Quando o deputado é sancionado com a perda do mandato – por exemplo, se faltou


demasiadas vezes á AR, ou se mudou de partido durante a legislatura. Um deputado pode
desfilar-se do partido pelo qual foi eleito, manter-se como independente e manter o assento,
mas se ele se desfilar do partido X e se juntar ao partido Y, perde o assento como deputado, e
entra imediatamente o candidato subsequente na lista de candidatos á AR.

Organização dos deputados em grupos parlamentares

Os deputados estão organizados em grupos parlamentares, associações de direito público sem


personalidade jurídica e dotado de poderes internos de atuação parlamentar. Cada legislatura
tem quatro anos, e divide-se em quatro sessões legislativas. Naturalmente que a legislatura
pode ser interrompida pela dissolução do parlamento.

Limites á dissolução do parlamento:

- Não pode ocorrer nos primeiros 6 meses após a eleição do parlamento, de modo algum;

- O parlamento não pode ser dissolvido nos últimos 6 meses do mandato do PR, o que significa
que o PR nos seus últimos 6 meses do seu último mandato tem uma força jurídica diminuída,
tendo perdido o poder de dissolver o parlamento;

- Não é possível dissolver o parlamento em estado de sítio ou em estado de exceção.

As votações obedecem ao estabelecido no art.116º que se desdobra em 2 regras:

- O parlamento só pode votar na presença do quórum (50% + 1 = 116 deputados);

- Normalmente o parlamento delibera por maioria simples, mas em casos excecionais o


parlamento pode ter de deliberar por maioria absoluta, ou maioria de 2/3, ou até maioria de
4/5, nos termos do art.136;

Quais as competências da AR?

Competência normativa: a AR pode aprovar certas normas, pode aprovar: leis de revisão
constitucional, leis ordinárias, convenções internacionais, atos de auto-organização interna;

Competência política: A AR tem uma competência de orientação política – exemplo:


aprovando ou rejeitando o programa do GOV; fiscalização dos atos do GOV e da adm. Pública
em geral – porque o GOV é politicamente responsável perante o parlamento; fiscalização dos
atos do PR; fiscalização dos atos das assembleias legislativas regionais.
A AR pode:

- Formular perguntas ao GOV;

- Requerer informações ao GOV;

- Interpelar o GOV sobre as suas medidas;

- Desencadear inquéritos parlamentares, através das comissões parlamentares de inquérito.

Quais os efeitos da fiscalização?

- Pode terminar em moção de censura ao GOV;

- Cessação de vigência de decretos-leis;

- Pedido ao TC que fiscalize a constitucionalidade de certas normas, ou do Parlamento, ou do


GOV;

- Intervenção junto do MP, para que o MP verifique se há elementos para colocar em causa a
responsabilidade criminal ou para desencadear ações administrativas.

Paradoxo da fiscalização: em governos maioritários é mais necessária a fiscalização do


parlamento, mas é mesmo nesses governos nos quais a fiscalização é menos eficaz.

Competência administrativa interna: Esta competência abrange a aprovação do regimento da


AR, mas também abrange poderes do parlamento em relação aos deputados, em relação aos
órgãos parlamentares, aos órgãos da assembleia, e também relativos aos serviços da
assembleia

Competência legislativa do parlamento: sobre esta matéria a CRP fala em:

- Matérias da reserva absoluta da AR;

- Matérias da reserva absoluta do GOV;

- Matérias da reserva relativa da competência relativa da AR.

Duas particularidades:

- Durante o período de autorização legislativa, o Parlamento não perde o poder de legislar


sobre aquela matéria;

- Durante o período de autorização legislativa, são competentes sobre aquela matéria a AR,
que nunca perdeu esses poderes, e o GOV, que passou a tê-los também.

O GOV ao elaborar o decreto-lei autorizado, tem de respeitar os termos da autorização


legislativa. A assembleia na autorização legislativa fixa o sentido, a extensão e a duração
temporal dessa autorização. Significando que o DL autorizado tem de respeitar os termos da
lei autorizativa, e se a violar então o DL é inconstitucional.

Matéria/competência concorrencial
A regra no ordenamento jurídico português é a competência legislativa concorrencial. Sobre
estas matérias, podem o GOV e o parlamento legislar em pé de igualdade. Só sabemos o que é
a competência legislativa concorrencial depois de verificarmos os artigos que tratam da
reserva absoluta e relativa da AR, e o artigo que trata da reserva absoluta do GOV. A
competência legislativa concorrencial obtém-se por exclusão de partes, é residual. Qual é o
fundamento para a AR legislar sobre essas matérias? – art.161º/al. c); qual é o fundamento
para o GOV legislar sobre essas matérias? – art.198º/nº1/al. a).

Sobre a competência legislativa concorrencial, são matérias nas quais a AR e GOV podem em
pé de igualdade legislar: a fonte histórica desta competência legislativa concorrencial reside na
constituição de 1933, no período da ditadura militar entre 1926 e 1933, onde o GOV era o
único com competência legislativa. O princípio da matéria concorrencial está previso no
art.112º/nº2 da CRP. Existem 2 limites á competência jurídica concorrencial:

- Princípio da separação de poderes: a competência legislativa não pode invadir a reserva


jurisdicional dos tribunais nem a reserva de administração da administração (com a
particularidade que o GOV é simultaneamente órgão legislativo e órgão administrativo).

Competência da AR

- Tanto o GOV como a AR podem legislar – princípio da paridade hierárquica normativa entre
Lei e DL (112º/nº2).

As leis podem ser:

- Leis de regime geral;

- Leis que se limitam a fixar os grandes princípios a que deve obedecer o regime jurídico (leis
de base);

- Leis de desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos contidos em
leis que a eles se circunscrevem. Leis de base + leis de desenvolvimento = leis de regime geral

GOVERNO

É um órgão autónomo de soberania – é uma consequência da constituição de 1933. Apesar de


autónomo depende da AR. O GOV é constituído tendo em conta os resultados eleitorais. O
GOV é o órgão de condução da política geral do país (externa e interna). O GOV tem de ter em
consideração o PR, a AR e a EU.

O programa do GOV é uma síntese daquilo que o GOV pretende implementar, é o anúncio dos
fins e objetivos do GOV; É a expressão da auto-vinculação do GOV; É a expressão da
heterovinculação á AR (povo); é condição do GOV passar á plenitude de funções: antes de o
programa ser apresentado e discutido, o GOV é um GOV de gestão (capacidade jurídica
diminuída) – o programa do GOV permite a plenitude de funções.

O programa só não pode ser rejeitado, caso o GOV pretenda exercer funções, mas pode não
ser aprovado (186º/nº5). Pode existir uma alteração de circunstâncias, como fundamento,
para não se cumprir o programa.

O GOV é o órgão superior da administração pública:


- Poder de administração;

- O GOV é o guardião da administração do estado de direito democrático do estado do bem


comum;

- É o titular de competência administrativa.

Princípios que regem a atuação do GOV:

- Princípio da complexidade organizativa e do funcionamento interno do GOV: o GOV é


constituído por outros órgãos (colegiais); O GOV pode funcionar em termos individuais; o PM e
o MF têm poderes funcionais;

Regulação da disciplina da organização e funcionamento do GOV:

- A CRP;

- O DL;

- Regimento do conselho de ministros;

- Normas informais

Princípio da unidade política intragovernamental: o conselho de ministros não obedece ao


princípio maioritário; o programa do GOV confere unidade política intragovernamental;

Princípio da solidariedade: para com o programa do GOV; para com as deliberações no CM;

Princípio da responsabilidade política, tripla e imperfeita:

- Responsabilidade perante a AR, perfeita;

- Responsabilidade perante o PR, imperfeita;

- Responsabilidade perante a opinião pública.

Princípio da residualidade da competência: ao GOV compete tomar todas as providências


necessárias para a realização do bem-estar da nação.

Regras sobre a composição e formação do GOV:

. Há membros do GOV que são obrigatórios, mas outros não o são;

. A nomeação do PM tem em conta os resultados eleitorais; depois de ouvidos os partidos


políticos com assento parlamentar;

. Quando não há maioria absoluta, o PR nomeia como PM, o líder do partido mais votado;

. O PR pode formar governos de iniciativa presidencial – a prática política tem-nos dito que o
PR faz a indigitação do PM; a amplitude dos poderes do PR em união com o PM; o PR
condiciona a atuação do PM.

Funções do PM

- O PM faz gerar os restantes membros do GOV (casamento sem divórcio) – o PR e o PM tem


um poder partilhado entre quem tem a iniciativa e quem tem a decisão.
- O PM tem competências de chefiar a adm.;

- Representação governamental;

- Controlo da atuação dos membros do GOV;

- Direção política do GOV;

O PM tem dupla responsabilidade

Termo do mandato

Os ministros têm uma competência de execução; coordenar e orientar os serviços


independentes do próprio ministro; representar o GOV; substituir o PM (185º/nº4);

Como funciona o GOV?

O início de funções do GOV começa com a tomada de posse (186º)

Cessa funções:

- Com a intervenção da AR;

- Rejeição do programa;

- Ato voluntário do PM;

- Intervenção do PR;

- Termo da legislatura;

- O PM pode ter sido condenado;

- Suspensão temporária do GOV

Competências do GOV: arts.197º, 198º e 199º

O GOV tem estatutos especiais:

- GOV de gestão;

- GOV demissionário;

- GOV com a AR dissolvida

SISTEMA DE GOVERNO

Quais são os princípios gerais a que obedece a configuração do sistema de governo


português?

 Princípio do pluralismo orgânico-funcional: o sistema de governo assenta numa tríade


entre a assembleia da república, o PR e o PM. A maioria da doutrina portuguesa
interpreta o equilíbrio de poderes estabelecido na constituição entre o PR, a AR e o
GOV como traduzindo a vigência de um sistema de governo semipresidencial. Porém,
não se mostra cientificamente correto integrar no mesmo tipo de sistema de governo
a V república francesa e o sistema emergente da constituição portuguesa de 1976 pois
há um abismo colossal entre o modo de funcionamento dos dois sistemas:
 Em França o eixo da vida política é o PR enquanto em Portugal é o PM;
 Em França, o PR tem poderes autónomos da condução da vida governativa;
 Em França, o PR representa uma amálgama entre as vantagens que usufrui
tanto o PR americano como o PM britânico;

O sistema de governo português é um sistema de parlamentarismo monista racionalizado:

 A racionalização do sistema parlamentar, partindo da natural responsabilidade política


do Governo pretende obviar os inconvenientes de um excesso de protagonismo do
parlamento que coloque em causa a estabilidade governativa. O parlamento pode
demitir o Governo através da rejeição do programa de governo, da aprovação de uma
moção de censura ou da rejeição de uma moção de confiança;
 O PM é nomeado tendo em conta os resultados eleitorais;
 O Governo é um órgão autónomo em relação aos outros órgãos com o PM no seu
centro;
 O Governo possui um forte poder legislativo;

 Princípio da permeabilidade factual: o sistema de governo não nos é transmitido


apenas pela constituição oficial sendo que a constituição não oficial também nos pode
transmitir certas ideias sobre o mesmo. O sistema de governo pode mudar consoante
os factos. Há dois fatores extrajurídicos determinantes:
 O sistema partidário: os partidos políticos condicionam o sistema de governo.
Se há maioria absoluta na AR, há um ascendente da maioria e do líder da
maioria que é simultaneamente o PM;
Podem existir coligações de partidos pré-eleitorais e pós-eleitorais;
A maioria absoluta condiciona a nomeação do PM;
Dependendo da maioria existe uma menor ou uma maior amplitude das ações
do governo.
 A prática institucional: revela-nos a conduta dos protagonistas do sistema
partidário:
O líder da maioria parlamentar nunca foi o PR, ao invés da solução normal em
França.
A liderança da maioria parlamentar sempre pertenceu ao PM;
Apesar da maioria absoluta o PR pode dissolver o parlamento;
Quem preside ao conselho de ministros é o PM. O PM, no entanto, pode
convidar o PR a presidir.

 Princípio da flexibilidade do equilíbrio orgânico-funcional: o sistema de governo é um


sistema flexível:
A história ilustra-nos que o parlamentarismo racionalizado se transforma em
presidencialismo de PM;
A nossa constituição é uma constituição aberta.

TRIBUNAIS
Cada tribunal é um órgão de soberania. Os tribunais administram a justiça. Os tribunais
também participam na vida política.

A função dos tribunais tem como objetivo último dirimir os litígios; alcançar a paz jurídica é o
objetivo último da função dos tribunais; existe uma certa reserva da competência dos
tribunais; os tribunais são terceiros em relação aos litígios.

Categorias de tribunais:

 Tribunais do estado;
 Tribunais arbitrais;
 Tribunais de existência obrigatória;
 Tribunais facultativos;
 Tribunais ordinários;
 Tribunais especiais

Princípios gerais subjacentes á ação dos tribunais:

 Princípio da independência: os tribunais não estão sujeitos hierarquicamente a


terceiros;
 Princípio da obrigatoriedade das decisões;
 Princípio da prevalência das decisões;
 Princípio do controle da validade do fundamento normativo das decisões.

ORGÃOS DA REPÚBLICA DE AMBITO NACIONAL

 O conselho de estado;
 O conselho superior de defesa nacional;
 O provedor de justiça;
 O conselho superior da magistratura;
 O conselho superior dos tribunais administrativos;
 A procuradoria-Geral da república;
 O conselho económico social;
 Autoridades administrativas independentes.
Casos práticos

4.

I.

Art.197º al d) compete ao governo no exercício de funções políticas apresentar propostas de


lei e de resolução á AR.

Nenhuma lei pode ser aprovada sem intervenção do plenário, reservando a constituição para
todos os projetos e propostas de lei um debate e uma votação na generalidade e, caso exista
aprovação, uma votação final global (168º).

O PR pode exercer o veto político do diploma, mas não pode desencadear, por sua vez, a
fiscalização preventiva da constitucionalidade. O veto político pode ter uma natureza absoluta
ou suspensiva

Art.163º/al.e) e art.194º/nº1: a AR pode votar as moções de censura apenas contra o governo


no geral e não contra um único membro do governo.

Art.191º/nº2. Os vice-primeiros-ministros e os ministros são responsáveis perante o primeiro-


ministro e, no âmbito da responsabilidade política do governo, perante a AR.

Órgãos constitucionais de âmbito local

Representante da república nas RA (230º): é um órgão político do estado que


representa o PR e a própria república. Tem um estatuto constitucional próximo do PR. É
nomeado pelo PR e termina o seu mandato quando o PR também o termina ou quando o PRE
retira a confiança política. Diz-nos também o 230º/nº3 que em caso de vagatura do cargo, bem
como nas suas ausências e impedimentos, o RR é substituído pelo presidente da assembleia
legislativa.

O RR nas RA tem poderes idênticos ao PR na república. O RR “nomeia” o Governo regional. O


RR tem poderes de assinatura, e de veto relativamente a diplomas regionais. Os decretos
legislativos regionais são atos legislativos produzidos nas RA, são leis regionais. As RA têm
funções regulamentares no âmbito da função legislativa. O RR não promulga, assina os DL das
RA. O diploma é enviado para o RR assinar. Quando o RR assina é publicado o diploma.

Veto político

O RR pode discordar do diploma: a ALR pode aceitar a discordância e modifica o


diploma; a ALR reaprova o diploma por maioria absoluta (não há maioria de 2/3); a ALR pode
também desistir do diploma.

O RR tem dúvidas sobre a constitucionalidade do diploma: pode pedir ao TC a


fiscalização preventiva da constitucionalidade do diploma e este por sua vez entende que o
diploma não é inconstitucional ou que é inconstitucional. Se for este último o caso, então o RR
é obrigado a vetar (juridicamente) o diploma (não o assina); a ALR pode modificar o diploma
no sentido de integrar a constitucionalidade que dantes não havia – se o “DLRegional” tem
uma inconstitucionalidade orgânica a ALR nada pode fazer. A ALR pode conformar-se com o
veto do TC (prevalece a vontade deste e do RR). A ALR não pode fazer o que a AR pode, a ALR
não pode confirmar o diploma por maioria de 2/3.

Decretos regulamentares das RA

Não há fiscalização preventiva destes. Os decretos regulamentares que sejam objeto


de veto político do RR, são sempre suspensivos se vier da ALR, mas se vier do GOV regional são
absolutos. O GOV pode, no entanto, fazer passar a norma através da ALR se tiver maioria
absoluta na assembleia. A ALR nunca pode aprovar matérias sobre a organização e
funcionamento do GOV regional (231º/nº6).

O RR tem poderes de defesa da juridicidade (231º/nº2/al g)); quem tem competência para
executar o estado de sítio e de emergência nas RA é o RR.

O Presidente da Assembleia Legislativa das RA

O PALRA pode exercer funções substitutivas do RR (230º/nº3);

Art.229º/nº4 – o GOV da república pode delegar poderes no GOV regional – quando o GOV
regional age como delegado do GOV da república, ele está a comportar-se como órgão da
república no âmbito local.

ESTRUTURAS POLÍTICAS INFRA-ESTADUAIS

A génese das RA portuguesas está na CRP de 1933 – é a criação do Professor Marcello


Caetano. O fundamento da autonomia está presente no art.225º: as circunstâncias
geográficas; o princípio da subsidiariedade; o princípio democrático; princípio da unidade
nacional; históricas aspirações dos cidadãos á autonomia.

Objetivos da autonomia regional (225º/nº2): reforçar a participação democrática; defesa de


interesses regionais; …

Limites á autonomia (225º/nº3): A CRP; A natureza unitária do estado; a reserva de


competência dos órgãos de soberania; interesse nacional; compromissos internacionais;
estatutos político-administrativos – os estatutos regionais são uma lei da AR e são leis com um
estatuto especial, pois são as mais importantes leis ordinárias e que mais perto estão da CRP
(subordinam todas as demais leis).

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